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Plásticos: Comestíveis ou não?

Uma sequência didática aplicada em


colégios estaduais do Rio de Janeiro

Tiago Carvalho¹, Luana Dias¹, Angela Sanches².

¹ Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Química, Rio de


Janeiro/RJ – Brasil

² Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Química,


Departamento de Físico-Química, Rio de Janeiro/RJ – Brasil

Resumo

Neste estudo visando à dificuldade de alunos da terceira série de ensino médio em


consolidar o conceito de polímeros bem como reconhecê-los sendo esses de origem
não sintética, é proposto uma Sequência Didática (SD) com o tema plástico como
tema gerador. A metodologia utilizada empregou uma abordagem interdisciplinar
com a biologia e história.

Palavras-chave: polímeros; biopolímeros; síntese caseira; bioplástico; bala Fini


caseira; aprendizagem significativa, afetividade; sequência didática.

1. Introdução

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio


PCNEM (BRASIL, 2002), ensinar química na perspectiva da educação básica é criar
possibilidades que contribuam para a compreensão do conteúdo e a construção do
conhecimento científico, fortalecendo a relação entre eles, levando em consideração
seu impacto na sociedade. Portanto, é compreensível que haja a necessidade de
utilizar métodos educacionais que possibilitem aos alunos desenvolver suas
habilidades críticas, criativas e investigativas. Ensinar a relevância dos fenômenos
químicos a partir de métodos científicos, práticas de ensino experimental, ou
simulando as atividades relevantes do fenômeno em questão, tem mais implicações
para o aprendizado do que atividades mecânicas (AMARAL, 1996).
Ao considerar a aplicação prática desses materiais em diversos campos da
atividade humana, o assunto, polímeros, pode ser visto como um conteúdo
abrangente da química. Quando alguns desses aplicativos são trazidos para os
ambientes escolares, eles podem servir como uma ferramenta rica para as ações
dos professores para lidar com esse conteúdo em sala de aula. Ao lidar com esse
conteúdo, por exemplo, pode-se destacar a origem dos polímeros e suas aplicações,
reações poliméricas e reciclagem de polímeros.

Ao abordar esse tema neste artigo, procuramos levar em conta que, de


acordo com as diretrizes curriculares, o ensino médio visa garantir que os alunos
sejam formados para o exercício da cidadania (BRASIL, 2006), o que ressalta a
importância de articular o eixo de química com conhecimento de temas sociais. Isso
vai ao encontro da crença dos PCN de que os conhecimentos abordados no ensino
de química devem contribuir para uma visão de mundo clara e menos fragmentada.
Nessa perspectiva, o objetivo principal deste estudo é propor uma Sequência de
Ensino (SD) para abordar conceitos químicos e aplicações de tópicos de polímeros e
apresentar um experimento caseiro usando polímeros não sintéticos como
referência como facilitador para alunos da terceira série o aprendizado processo. Um
tema gerado a partir de uma escola de ensino médio de uma escola pública.

2. Aprendizagem significativa no ensino de química

Nas escolas primárias, o ensino de química deve estar próximo da vida diária
e dos interesses dos alunos. Tendo em vista que todos precisam aprender um
mínimo de conceitos científicos (MILARÉ et al, 2009), esse tipo de ensino que
produz letramento científico possibilita aprender ciências para o exercício da
cidadania. Muitas críticas ao ensino tradicional referem-se ao comportamento
passivo dos alunos, muitas vezes visto como uma audiência para os professores
fornecerem informações. Essas informações quase sempre não têm relação com as
informações conhecidas acumuladas pelo aluno ao longo de sua vida. Esse tipo de
aprendizado é definido por Ausubel como aprendizado de máquina, quando o
conhecimento é reconhecido, mas não absorvido (GUIMARÃES, 2009; PELIZZARI,
2002).

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A aprendizagem significativa, diferentemente da mecânica, é quando um
indivíduo consegue relacionar de maneira substantiva e não literal uma nova
informação, que soma um conhecimento prévio que o próprio aprendente já possui,
porém agora com o seu conhecimento acumulado associado construtivamente ao
significado científico (VALADARES, 2011).

É comum haver uma interpolação entre aprendizado de máquina e


aprendizado significativo, no entanto, o aprendizado literal difere do aprendizado
associativo por já enxergar significado. Portanto, pode-se supor que a aprendizagem
significativa ocorre quando os dois fatores estão correlacionados. Primeiro, se os
alunos querem justificar os resultados, eles precisam entender os meios, não
apenas entender superficialmente como o conteúdo é apresentado. Segundo a
natureza do conteúdo e a experiência que cada indivíduo tem para absorvê-los e
filtrá-los (PELIZZARI, 2002). A partir desses dois fatores, já é possível mensurar a
dificuldade de não deixar o conhecimento oscilar entre aprendizado significativo e
aprendizado mecânico (GUIMARÃES, 2009).

3. Afetividade no processo educacional

O sociólogo francês Émilie Durkheim (1858-1917), a sociedade seria mais


beneficiada pelo processo educativo: "a educação é uma socialização da jovem
geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o
desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida. Nesse contexto
conhecido como concepção durkheimiana ou de funcionalista as o ambiente em que
o indivíduo está inserido impacta em seu processo de construção social.

No contexto educacional social o professor não atua somente como


explicador, mas também agente responsável pela formação do indivíduo como um
todo. Portanto, ele quanto indivíduo bem como sua relação com o a classe pode
contribuir tanto de forma positiva quanto negativa no desenvolvimento educacional
do cidadão já que um educador que respeita e entende tanto as características
sociais que rodeiam os alunos quanto à individualidade dos mesmos consegue
estreitar a barreira hierárquica que existe entre o professor e o aluno.

“A aprendizagem é um processo, isto é, uma atividade interior que tem início,


desenvolvimento e fim. Nesse sentido, a aprendizagem é algo muito pessoal, mas que pode

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ser influenciada, com êxito, por pessoas habilitadas e através de estímulos e técnicas”
(Xavier, 2003, p. 124)

Durante os anos 12 anos de processo educacional o aluno passa duas fases


de sua vida, infância e adolescência no âmbito escolar, nesse período, as relações
afetivas construídas impactam nesse processo. “O desenvolvimento humano, só se
torna possível através da integração das três dimensões psíquicas: a motora, a
afetiva e a cognitiva, exigindo uma conexão entre o equipamento orgânico do
indivíduo, o corpo, e o ambiente e meio social em que vive.”(Henri Wallon, 1879-
1962).

Logo, o professor como representante das técnicas educativas, ao ter um olhar


diferenciado sobre a realidade social do seu aluno poderá entender que a mesma
deve ser considerada ao se propor uma aula, visto que o aluno de acordo com sua
classe social pode ou não possuir o recurso necessário sua inserção na proposta
didática. Nesse ponto o professor ao preparar uma proposta de aula necessita
assumir a responsabilidade de fornecer os recursos ou adaptá-la.

4. Metodologia

Escolhemos o ensino de forma interdisciplinar, considerando que os


referenciais teóricos abordados e as práticas possam simplificar o aprendizado, a
partir de substâncias comuns a realidade do público alvo produzidas com materiais
de baixo custo. Enquanto experiência de ensino, uma Sequência Didática (SD) é
definida como um procedimento que pode ser discutido e modificado de forma ativa
por seus personagens. A SD proposta aqui foi construída a partir de situações
baseadas nos conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema em questão. Uma
SD pode sofrer algumas alterações a partir da sua prática em sala de aula, para que
se alcance uma promoção da aprendizagem significativa dos alunos. A partir da
vivência de uma SD, espera-se um maior grau de abstração sobre os conteúdos por
parte dos alunos, já que vivenciam etapas, partindo das mais simples para mais
complexas, que permitem explorar seus conhecimentos prévios, aprimorando-os.

Com a Teoria da Aprendizagem Significativa, podemos definir vários níveis


de análise, uma vez que uma SD é avaliada durante a execução em situações de
ensino em sala, o que possibilita experimentar toda a sua funcionalidade. No

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desenvolvimento da SD aqui apresentada, procuramos organizar um conjunto de
conhecimentos de maneira a facilitar o aprendizado durante a experiência de
ensino, tendo como base o que está estabelecido nos referenciais teóricos e os
sujeitos da pesquisa, considerando seus conhecimentos prévios e demais
atividades desenvolvidas na SD.

A SD foi desenvolvida para turmas de terceira série do ensino médio, que


tenham em média 30 alunos com 50% de cada sexo, composta por alunos de
classe média baixa, que possuam um telefone com câmera ou câmera fotográfico e
não necessariamente tenha acesso a internet.

Para isso, foi desenvolvido um conjunto de quatro aulas, uma por semana
com dois tempos de 50 minutos, para que seja possível trabalhar a teoria da
aprendizagem significativa, contextualizando com objetos do dia a dia dos alunos e
fazendo uso da interdisciplinaridade com a biologia e história com a temática de
polímeros.

A primeira aula é a introdução do objeto gerador levantando questões que


irão repercutir em todas as quatro aulas, fazendo com que os alunos despertem
interesse e possam discutir sobre. Os recursos necessários são: projetor, quadro
branco e pilot. Inicialmente será reproduzido um vídeo curto relembrando o assunto
DNA (link: https://www.youtube.com/watch?v=YH1aqjBvYiY), posteriormente será
feito um debate verbal afim de explorar os conhecimentos deles sobre as
semelhanças entre dois tipos de polímeros através da pergunta: “Quais as
semelhanças e diferenças entre uma sacola plástica e um pneu?” e “Dentre os
citados, quem polui mais?” e foram pensadas nas habilidades que a BNCC traz:
(EM13CNT104) Avaliar os benefícios e os riscos à saúde e ao ambiente,
considerando a composição, a toxicidade e a reatividade de diferentes materiais e
produtos, como também o nível de exposição a eles, posicionando-se criticamente e
propondo soluções individuais e/ou coletivas para seus usos e descartes
responsáveis. Após será feita uma apresentação histórica listando os principais
nomes, datas e marcos no processo de síntese polimérica, essa será a etapa mais
longa da aula, pois será explicado em forma de linha do tempo com imagens de
alguns materiais e pessoas. Terminado a contextualização histórica, utilizando o
quadro, o conceito químico de polímero será definido e através dos exemplos:
Polímero – monômero, DNA – nucleotídeos, Celulose – β_glicose será comparado

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com os termos científicos usados para materiais orgânicos sempre frisando que
todos se tratam da mesma coisa e por último também em quadro será explicado as
classificações dos polímeros.

A aula dois tratará das reações de polimerização e será de caráter expositivo


utilizando somente o quadro branco e pilot. Nos primeiros trinta minutos será
explicada a partir de exemplos a polimerização de adição, seguidos por 50 minutos
de reações de polimerização de condensação e por fim 20 minutos tratando sobre a
polimerização por rearranjo.

A aula três durante o primeiro tempo iniciará com uma recapitulação sobre o
os tipos de polimerização aprendidos na aula passada, com foco explicativo na
molécula de cisteína que é o monômero da queratina. Será escrita no quadro
branco a molécula, sua reação e o polímero produto. Depois através da pergunta: O
que falta na reação? Serão relembrados os conceitos de temperatura, pressão e
catalisador sendo esses comparados com o organismo biológico e essas
informações que o aluno fornecerá completaram no quadro a polimerização da
queratina.

No segundo tempo da aula três, serão propostas duas atividades para a casa
que deverão ser realizadas até antes da aula quatro. A primeira é a produção de
bala de goma - bala Fini caseira (link:
https://www.youtube.com/watch?v=NRg6uef22Bk) e um pingente de bioplástico
(link: https://www.youtube.com/watch?v=EDSOoUt3NK0). Ambos os processos
serão explicados em 2 vídeos curtos e os respectivos links passados para os
alunos. Os matérias necessários, 2 gelatinas incolores e 1 gelatina colorida, serão
fornecidos aos alunos dada característica social dos mesmo ser de classe média
baixa e talvez alguns não possuírem recursos para adquirirem. Nessa atividade eles
deverão observar qualitativamente as semelhanças e diferenças entre os dois
produtos feitos partir do mesmo material e anotá-las em seu caderno. A segunda
atividade é a contribuição com foto ou vídeo de um polímero que o aluno encontre
no trajeto escola/casa. Ele deverá fazer a postagem do material no link do mural
que será passado contando seu nome e turma, tipo de polímero (sintético, natural),
nome comercial e científico. O aluno pode fazer um vídeo apresentando esse
polímero, mas não é obrigatório.

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Por último na aula quatro necessitará somente de projetor, serão realizadas as
atividades avaliativas. Nos primeiros cinquenta minutos, o padlet será apresentado
e a classe poderá ver o mural e discutir sobre os diversos tipos de polímeros
propostos pelos colegas. No segundo tempo, serão entregues balas Fini comerciais
aos alunos para que possam resgatar em sua memória a bala produzida em casa e
compará-la com o presente e aos que nunca experimentaram terem essa
experiência paliativa. Em seguida ocorrerá uma atividade escrita, com consulta ao
próprio material, onde os alunos deverão em uma folha responder a partir das
observações dos biopolímeros feitos em casa e todo o conteúdo das aulas
anteriores, responder a seguinte pergunta: Plásticos se come ou não se come?

5. Considerações finais

Este trabalho foi proposto como sugestão alternativa a uma aula de


polímeros para alunos do terceiro ano do ensino médio de uma instituição de ensino
pública que não possuí laboratório e que atende jovens pertencentes à classe
econômica social baixa, classe D e E segundo o IBGE. Sendo passiva de aplicação
a alunos de rede privada também.

A partir do público alvo, foram selecionados os referenciais teóricos que


forneciam suporte para aplicação metodológica no ensino de química.

Para o sucesso na conclusão do objetivo, foram propostas etapas que


contavam como recursos tecnológicos e produtos comestíveis, das quais se
destacam o resgate da ferramenta social blog através da ferramenta padlet, e a
degustação de uma guloseima produzida por eles que promove interação com a
família ao se questionarem se são o mesmo produto.

O respectivo artigo não conta com resultados e discussões, pois se trata de


uma sugestão que não pode ser aplicada. Logo sua eficácia baseada em dados
quantitativos não pode expressa.

6. Referências Bibliográficas

7
GUIMARÃES, Cleidson Carneiro. Experimentação no ensino de química: caminhos
e descaminhos rumo à aprendizagem significativa. Química nova na escola, v. 31, n.
3, p. 198-202, 2009.

PELIZZARI, Adriana et al. Teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel.


revista PEC, v. 2, n. 1, p. 37-42, 2002.

VALADARES, Jorge. A teoria da aprendizagem significativa como teoria


construtivista. Aprendizagem Significativa em Revista, v. 1, n. 1, p. 36-57, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação – MEC, Secretaria de Educação Média e


Tecnológica – Semtec. PCN + Ensino Médio: orientações educacionais
complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2002.

AMARAL, L. Trabalhos práticos de química. São Paulo: Nobel, 1996

BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Orientações


Curriculares para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias. Brasília, 2006.

MILARÉ, T.; RICHETTI, G. P.; ALVES FILHO, J. P. Alfabetização científica no


ensino médio: Uma análise dos temas da seção química e sociedade da revista
química nova na escola. Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, p. 165-171, 2009.

WALLON, Henri. Evolução psicológica da criança. SÃO PAULO: Martins Fontes,


2010. 208 p.

WALLON, Henri; WEREBE, Maria José; NADEL-BRULFERT, Jacqueline.


Psicologia. São Paulo: Ática, 1986.

BARBOSA, Eliane dos Santos. Afetividade no processo de aprendizagem. Revista


Educação Pública, v. 20, nº 41, 27 de outubro de 2020. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/41/afetividade-no-processo-de-
aprendizagem

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