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Problematização na Formulação de
Cosméticos
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RESUMO
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Open Science Research II - ISBN 978-65-5360-080-5 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
INTRODUÇÃO
O ensino nas ciências exatas, principalmente no ensino de química, para muitos alu-
nos é vinculado à memorização de fórmulas, deduções matemáticas e modelos abstratos.
Esse modelo de ensino caracteriza-se por uma abordagem metodológica tradicional onde
os alunos são interpretados como sendo objetos e passivos, recebendo o conhecimento
transmitido pelo professor (FREIRE, 2011). Nesse mesmo sentido, Franco afirma:
Segundo a concepção de Freire (2011), o ensino tradicional conhecido por ensino ban-
cário, supervaloriza a quantidade de conteúdo transmitido, sendo base fundamentadora para
a dicotomia entre o ensino que se produz na escola e a realidade do aluno. Nessa relação
fica clara a hierarquia entre o educador e o educando, o primeiro possui todo o saber, é o
sujeito da aprendizagem, aquele que deposita o conhecimento e o segundo, o objeto que
recebe o conhecimento. A educação nessa concepção forma indivíduos pouco questiona-
dores e submetidos à estrutura do poder vigente, que para nossa realidade, visa reproduzir
um ensino que leve a capacitar os alunos para o mercado de trabalho.
Neste contexto, o ensino bancário vem sendo utilizado por muitos professores que
tentam realizar a contextualização dos conteúdos de forma superficial, que mais se asseme-
lham a uma abordagem do cotidiano sem o compromisso com o real significado de assumir
tal postura. Nessa prática, há apenas a transmissão do conteúdo do professor (sujeito)
para o aluno (objeto) com exemplos que envolvem aplicações do cotidiano dos alunos, sem
envolvê-los de forma problematizadora no contexto em que se encontram. Dessa forma o
conhecimento científico ensinado é desvinculado do conhecimento sociocultural, induzindo
o aluno a não associar o que é abordado na sala de aula com o mundo que o cerca. Assim
como afirma Chassot (200, p. 126), “o conhecimento químico, tal como é usualmente trans-
mitido, desvinculado da realidade do aluno, significa muito pouco para ele”.
Nesse sentido, frente à situação delicada da educação no Brasil, é nítida a necessi-
dade de ferramentas e ações que busquem uma melhora do atual cenário. Nesse aspecto
a experimentação tem apresentado um importante papel para o envolvimento dos alunos,
uma vez que esta apresenta um método dinâmico de apresentação do ensino de química e
imprime significado ao que lhes é apresentado na escola. Segundo Giordan (1999), os pro-
fessores de ciências conhecem que a experimentação tem o importante papel de despertar
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o interesse e aumentar a capacidade de aprendizado dos alunos, em todos os níveis de
escolarização, desde que esta seja utilizada como ferramenta para que o aluno desenvolva
seu conhecimento, atuando ativamente, não como um roteiro pronto, onde o aluno mantém
sua postura passiva frente às atividades propostas. Nesse contexto, a experimentação pro-
blematizadora vem a ser utilizada para impulsionar uma postura mais participativa, a qual
possibilita o questionamento dos alunos frente às situações vivenciadas, criando e analisando
hipóteses e discutindo-as com o professor.
Dentre as diversas direções pesquisadas e discutidas, Bach (2011) menciona a proble-
matização como sendo uma possibilidade envolvente para levar o professor a assumir um
papel diretivo necessário para educar e transformar. Para Freire (1979), a problematização
pretende superar o modelo de ensino transmissão-recepção, buscando a relação entre o
conteúdo específico e a realidade vivenciada pelos alunos, considerando a relação entre
sujeitos: “conhecer é tarefa de sujeitos, e não de objetos. E é como sujeito somente enquanto
sujeito, que o homem pode realmente conhecer” (FREIRE, 1979, p. 28).
A problematização valoriza a relação ação/reflexão/ação, ao permitir que através de prá-
ticas e desafios os alunos consigam entender a sociedade e por meio desses conhecimentos
intervir na sua realidade. E como menciona Mortimer (2010), vincular os saberes escolares
através da linguagem científica com os saberes da experiência expressa na linguagem co-
tidiana, para então transpor em ação na forma de uma síntese do conhecimento construído.
Essa abordagem é referida por Azevedo (2003), como sendo atividades questionadoras e
de diálogo, em que através da resolução de situações-problema, os alunos passam a cons-
truir seu conhecimento. Essa proposta segundo o autor deve ser fundamentada na ação do
aluno, ou seja, os mesmos devem ter a oportunidade de agir sem se limitar ao trabalho de
manipulação ou observação.
Dessa forma a problematização conduz o aluno a observar a realidade de modo crítico,
fazendo com que possa relacioná-la com o que está estudando. Tais observações permi-
tem que o estudante perceba os aspectos interessantes de forma que o intriga e desperte
a curiosidade. A partir dos conhecimentos prévios os alunos e professores são capazes de
perceberem os aspectos problemáticos da realidade analisada (ROMERO, 2001).
Segundo Saviani (1983), um método que partindo da visão sincrética da realidade,
fazendo a análise a partir da teoria e chegando à síntese, leva a uma compreensão mais
elaborada da realidade. Nesse sentido, Freire (1979, pg. 30) afirma que, “quando o homem
compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio desta realidade e procu-
rar soluções”. Sendo fundamental nesse aspecto o papel do professor que segundo Santos
e Schnetzler (2003):
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[...] o professor necessita trazer problemas e estimular o debate, afim de que
os alunos possam discutir os diferentes tipos de soluções. Consequentemente
precisamos valorizar as respostas dos alunos, ao invés de se admitir apenas
um tipo de resposta estereotipada, dentro do modelo apresentado pelo pro-
fessor. (SANTOS, 2003, p. 33).
A educação, refletida pela estrutura do poder, ou seja, uma estrutura que dificulta o
diálogo, uma estrutura bancária, necessita de educadores que não esperam por melhoras
e sim as buscam, guiando-se no sentido da humanização de ambos. A educação bancária
caminha no sentido contrário deste companheirismo, já que nesta nova concepção não são
feitos mais os depósitos e sim educadores e educandos trabalhando a serviço da liberta-
ção (FREIRE, 2011).
Assim o presente artigo propõe abordar a problematização como ferramenta para a
compreensão de conteúdos de química contextualizados, relacionando-os com questões
sociais e culturais que fazem parte do cotidiano dos alunos do ensino médio.
MÉTODO DA PESQUISA
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A partir da análise do questionário aplicado, foi construído um planejamento para a
realização da aula experimental problematizadora, a qual foi realizada no laboratório de quí-
mica do Instituto Federal de Goiás (IFG - Câmpus Anápolis) a pedido da professora regente
e dos alunos do ensino médio. Os alunos sempre pediam aulas práticas, e devido ao fato do
colégio não possuir laboratório, as aulas práticas não ocorriam. Para a elaboração da aula
experimental problematizadora o tema gerador “Cosméticos no cotidiano” foi escolhido pelo
fato de estar integrado ao contexto social e cultural dos alunos.
Na aula experimental, os alunos recorreram a conhecimentos de funções orgânicas,
emulsões e realizaram cálculos matemáticos para solucionar as situações- problemas. A his-
tória dos cosméticos e como atualmente as indústrias vêm investindo nesse setor, bem como
a formação da acne, comedões, e outros assuntos ligados a cremes hidratantes, foram
discutidos com os alunos.
Após a realização da aula experimental problematizadora foi aplicado um questionário
(Quadro 2), para permitir que os alunos expressem a sua opinião a partir da aula problema-
tizador desenvolvida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na oitava pergunta, verificou-se que 27,03% gostariam de fazer algum curso de enge-
nharia, 18,75% preferem a área da saúde e somente 8,33 % dos alunos responderam que
não gostariam de fazer uma graduação, como mostra a Figura 2:
Figura 2. Respostas dos alunos quando perguntados se pensam em fazer um curso superior.
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conhecimento faltaram cerca de 246 mil professores, principalmente para as áreas de física,
química e matemática (BRASIL, 2008).
Ao questionar os alunos sobre as aulas de química, se essas os ajudavam a responder
tudo aquilo que eles não sabiam em seu cotidiano (terceira questão), 60,42 % responderam
que sim, sendo que 39,58 % responderam que não. Através destas respostas, verifica-se o
quanto os alunos ainda não vêem a química como uma ciência capaz de explicar fatos do
cotidiano. Conforme Chassot (2004) a formação química é importante para a formação dos
cidadãos, e para isso não basta apenas que se tenha a transição do conhecimento químico,
mas sim que este deve ser discutido e refletido pelo indivíduo, e só quando ele tiver uma
posição crítica sobre este assunto é que será um cidadão formado, e se o estudante ainda
não consegue relacionar o conhecimento que foi oferecido com situações de seu cotidiano,
ele ainda não possui uma posição de cidadão perante a sociedade. Nesse contexto, Del
Pino (1993) explica como a química deve ser compreendida pelo aluno:
Uma química contextualizada e útil para o aluno [...] deve ser uma química do
cotidiano, que pode ser caracterizada como uma aplicação do conhecimento
químico estruturado na busca de explicações para a facilitação de leitura dos
fenômenos químicos presentes em diversas situações na vida diária (DEL
PINO, 1993, p. 47).
Figura 3. Respostas dos alunos quando perguntados quais dos itens que eles consideram mais importante para que o
professor melhore suas aulas.
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Através dessas respostas, mostra-se a necessidade de atividades diferenciadas no ensi-
no de química, como a experimentação envolvendo situações-problema. Segundo Francisco
Júnior (2008), ela deve estimular nos alunos a possibilidade de realizar, discutir, refletir,
levantar hipóteses e explicações sobre o experimento, sendo que a experimentação com
situações problemas deve ser utilizada adequadamente, transformando os estudantes em
seres reflexivos e críticos.
O desenvolvimento da aula problematizadora foi acompanhado de perto, os alunos
foram orientados sem fornecer respostas prontas. Através do diálogo, percebemos que
os estudantes possuem dificuldades em participar da aula a partir dos questionamentos
levantados, confirmando que a Química atual é concebida como uma ciência distante de
suas realidades. Esse fato reflete o desinteresse dos alunos durante as aulas de química da
maioria dos professores, como discute Chassot (2004, p. 146) ao afirmar que “os conteúdos
de Química ensinados só assumem significado e se tornam relevantes à medida que se
estruturam e se inserem na realidade da escola”.
Constatou-se também a necessidade de aulas participativas, aulas que levem ao senso
crítico, incentivando a busca da aprendizagem pelos alunos. A partir da análise dos ques-
tionários e do acompanhamento em sala, desenvolveu-se a aula problematizadora com o
tema gerador “Cosméticos e o cotidiano”, abordando o conteúdo de funções orgânicas e o
sistema de emulsão.
Em um primeiro momento a aula ficou envolvida na dinâmica do diálogo que segundo
Freire (1979) é capaz de transformar o mundo, pois não se fundamenta na ação de um
homem só, mas na comunicação entre vários, e com isso, os saberes são compartilhados.
Foram apresentadas aos grupos as situações-problemas, e em seguida, a história dos
cosméticos, os tipos de pele, algumas doenças de pele e o conteúdo de funções orgâni-
cas. O conteúdo foi explicado utilizando como exemplos de funções orgânicas, substâncias
presentes em cosméticos em geral (Figura 4).
Quadro 3. Situações-problemas.
Para pele seca esses componentes poderiam ser utilizados, visto que diminuem a
perda de água transepidérmica da pele, evitando o seu ressecamento, e devido as suas
características hidrofóbicas. A proporção de base a ser utilizada poderia ser maior do que
a recomendada anteriormente, cerca de 10 a 12%, além de ativos como extratos glicólicos
e óleo mineral. Para a pele mista, poderia ser utilizado ativos, óleos de forma moderada,
extratos glicólicos e uma proporção de base entre 6 a 10%. Para pele sensível, o aluno
deveria ser cuidadoso ao escolher os componentes da formulação, podendo deixar de usar
essência, corante, e utilizar somente extratos glicólicos que proporcionam a renovação ce-
lular e suaviza a pele, como no caso do extrato de morango. A proporção de base poderia
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ser de 6 a 10%. Estavam presentes na bancada para a formulação incompleta do creme
hidratante, extratos glicólicos de morango, cenoura, pepino, cânfora, óleo de amêndoas,
óleo mineral, óleo de argan, glicerina, uréia, mentol, corantes, essências, trietanolamina
(para ajustar o pH) e silicone.
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Já na última questão, os alunos afirmaram que a aula problematizadora despertou a
atenção, participação e o seu interesse. Todos os estudantes responderam que aulas des-
se tipo deveriam ser utilizadas em outras ocasiões, estimulando os alunos a estudarem a
química. Nesse sentido, Freire (1996) ressalta que o processo pedagógico problematizador
deve incentivar os alunos a serem seres mais curiosos e críticos. A1, A4 e A5 ressaltam que:
A1: “Sim, pois a aula é mais descontraída e aprendemos mais praticando”.
A4: “Sim, pelo fato da aula ser prática e não tão teórica”.
A5: “Sim. Se pudéssemos ter mais aulas assim, garanto que teria muito mais interesse
entre os alunos”.
A partir da análise das respostas dos alunos frente à abordagem utilizada, percebe-
mos a importância do diálogo na construção de uma educação humanizadora. Para Freire
(2011) o diálogo é um fenômeno essencialmente humano que abrange duas dimensões,
a ação e a reflexão. A reflexão possibilita que os alunos tenham uma posição crítica e não
sejam simplesmente serem alienados e passivos, já a ação possibilita que essas reflexões
sejam colocadas em prática possibilitando uma transformação. Através de uma relação
humana, dialógica e democrática é possível que o oprimido supere as injustiças cometidas
pelo opressor. Nesse sentido Freire (1996) ressalta que:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo da análise do que foi trabalhado com os alunos, percebe-se que a problematiza-
ção promove a conscientização crítica, que segundo Freire (2011) é uma etapa indispensável
à aprendizagem. A experimentação problematizadora é uma estratégia de ensino que leva
a reflexão crítica de professores e alunos, construindo assim o conhecimento transformador
e humanizado. A abordagem problematizadora a partir do tema “Cosméticos no cotidiano”
mostrou um grande interesse dos alunos em aprender, diferente das aulas tradicionais obser-
vadas no ensino médio. Ao abordar situações semelhantes ao contexto social dos alunos, foi
constatado que naturalmente as experiências do “saber feito” são levantadas com o objetivo
de articular juntamente com o conhecimento de química, facilitando o aprendizado. E ainda,
o professor exerce um papel fundamental, pois ao problematizar coordena os conhecimentos
químicos e as hipóteses dos alunos frentes as situações-problemas. É nesse sentido que
o professor assume o seu compromisso em oferecer ao aluno o suporte necessário para
elaborar e criar o seu raciocínio, ao invés de lhe transmitir a resposta pronta e incontestável,
Freire (1996) menciona:
Portanto, entende-se que tal abordagem contribui para formação do indivíduo como
ser transformador e crítico, possibilitando que este exerça sua cidadania, ao buscar a cons-
ciência de sua realidade.
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