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http://dx.doi.org/10.

1590/2175-35392019018467

Linguagem oral e escrita na Educação Infantil:


relação com variáveis ambientais

Natália Martins Dias1; https://orcid.org/0000-0003-1144-5657

Josenilda Oliveira dos Santos Bueno2; https://orcid.org/0000-0002-4096-6761

Juliana Martins Pontes2; https://orcid.org/0000-0002-2159-1060

Tatiana Pontrelli Mecca3; https://orcid.org/0000-0002-2009-6228

Resumo
O estudo investigou a relação de variáveis ambientais (nível socioeconômico, ambiente familiar e frequência à pré-escola) com vocabulário
em pré-escolares e desempenho posterior em leitura/escrita. Participaram 68 crianças (Idade média = 4,4 anos) de uma escola pública de
Educação Infantil e suas respectivas famílias. Utilizou-se o Teste de Vocabulário Auditivo; pais responderam a um questionário de identificação e
à escala ABEP. O inventário HOME foi utilizado para a coleta de informação sobre o ambiente familiar. Seis meses depois, o Teste de Leitura e
Escrita foi aplicado. Houve melhor desempenho em vocabulário e em leitura/escrita com a progressão escolar e relação moderada entre essas
variáveis. Escolaridade materna relacionou-se ao vocabulário e o tempo de frequência à pré-escola com a escrita. Aspectos específicos do
ambiente familiar, como os estilos de interação e variedade de estimulação, associaram-se com vocabulário receptivo. O estudo colabora com a
investigação sobre como variáveis do meio podem associar-se ao desenvolvimento linguístico infantil.
Palavras-chave: Desenvolvimento humano; avaliação; cognição.

Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables
Abstract
The study investigated the relationship between environmental variables (socioeconomic level, family environment and attendance at preschool)
with pre-school vocabulary and post-reading reading performance. Participants included 68 children (mean age = 4.4 years) from a public school
of Early Childhood Education and their respective families. The Auditory Vocabulary Test used; parents answered an identification questionnaire
and the ABEP scale. The HOME inventory used to collect information about the family environment. Six months later, the Reading and Writing
Test applied. There was better performance in vocabulary and reading / writing with school progression and moderate relation between these
variables. Maternal education related to the vocabulary and the time of attendance to the preschool with the writing. Specific aspects of the family
environment, such as the styles of interaction and variety of stimulation, were associated with receptive vocabulary. The study supports the
investigation of how environmental variables can be associated with children’s linguistic development.
Keywords: Human development; assessment; cognition.

Lenguaje oral y escrita en la educación infantil: relación con variables ambientales


Resumen
En el estudio se investigó la relación de variables ambientales (nivel socioeconómico, ambiente familiar y frecuencia al jardín de infancia) con
vocabulario en pre-escolares y rendimiento posterior en lectura/escritura. Participaron 68 niños (Promedio de edad =4,4 años) de una escuela
pública de Educación Infantil y sus respectivas familias. Se utilizó el Test de Vocabulario Auditivo; padres contestaron a un cuestionario de
identificación a la escala ABEP. El inventario HOME fue utilizado para recolecta de información sobre el ambiente familiar. Seis meses después,
el Test de Lectura y Escritura fue aplicado. Hubo mejor rendimiento en vocabulario y en lectura/escritura con la progresión escolar y relación
moderada entre esas variables. Escolaridad materna se relacionó al vocabulario y el tiempo de frecuencia al jardín de infancia con la escritura.
Aspectos específicos del ambiente familiar, como los estilos de interacción y variedad de estimulación, se asociaron con vocabulario receptivo. El
estudio colabora a la investigación de como variables del medio pueden asociarse al rendimiento lingüístico infantil.
Palabras clave: Desarrollo humano; evaluación; cognición.

1 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – Florianópolis – Santa Catarina – Brasil; natalia.m.dias@ufsc.br - bolsista de produtividade CNPq
2 Centro Universitário FIEO – Osasco – São Paulo – Brasil; jo_sbueno@hotmail.com; ju.j_martins@hotmail.com; ju.j_martins@hotmail.com
3 Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – São Paulo – Brasil; tatiana.mecca@fcmsantacasasp.edu.br

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Introdução Por exemplo, Pazeto et al. (2014) encontraram progressão
nos desempenhos em vocabulário e habilidades iniciais de
O papel das habilidades da linguagem oral (LO) so- LE, como conhecimento de letras e seus sons, codificação
bre a competência futura em leitura está bem estabelecido e decodificação de palavras isoladas, no curso do Jardim I
na literatura (Melby-Lervåg, Lyster, & Hulme, 2012; Pazeto, ao Jardim II. Na mesma amostra, as autoras encontraram
2016; Seabra & Dias, 2012; Song et al., 2015). Outros estu- relações consistentes entre as medidas de vocabulário e
dos também sugerem que habilidades emergentes de leitura habilidades emergentes de LE.
e escrita (LE) figuram como preditores relevantes para a Para autores como Scopel et al. (2012), o desenvol-
competência leitora posterior (Costa et al., 2013; Pazeto, vimento da linguagem depende não somente das condições
2016)teachers\u2019 reports of behavioral problems, and biológicas, mas sofre influência importante de fatores am-
word reading achievement in a community sample of French bientais, como os associados à família e à escola. De fato,
students. Family background was investigated and included evidências apontam que fatores associados à família, entre
familial antecedents of reading difficulties (Fa/Rd. Por exem- eles o NSE, são preditores da extensão de vocabulário da
plo, estudo nacional recente mostrou que habilidades de LO criança já aos 2 anos; no entanto, o crescimento do vocabu-
e emergentes de LE, avaliadas em crianças pré-escolares, lário até os 4 anos também é influenciado por fatores asso-
podem predizer desempenhos em leitura, escrita e mesmo ciados à pré-escola (como nível de educação do professor e
em matemática dois anos depois (Pazeto, 2016). Dessa qualidade da pré-escola). Achados como este sugerem uma
forma, entendendo a importância destas habilidades predi- interação entre as variáveis da família e da pré-escola no de-
toras, mapear variáveis que podem estar associadas a elas senvolvimento linguístico (van Druten-Frietman et al., 2015).
pode ser uma área profícua de investigação, com potencial No que tange aos aspectos associados à família, esta
para prover conhecimento que oriente pesquisas futuras é responsável por assegurar à criança seu bem-estar e segu-
acerca de variáveis que podem ser objeto de intervenção vi- rança, promover sua adaptação, desenvolvimento e integra-
sando ampliar o desenvolvimento infantil, além de contribuir ção social, além de oferecer estimulação e um ambiente de
com programas voltados para atendimento de pré-escolares apoio socioemocional (Caldwell & Bradley, 2003). Um estudo
e orientação escolar e familiar. conduzido em 2011 mostrou que baixa qualidade do ambiente
A literatura já tem apontado algumas variáveis asso- familiar (mensurada em termos de oferta de estímulos, como
ciadas ao desenvolvimento cognitivo infantil e, mais especifi- baixa, média ou alta, no Inventário Home _ Home Observa-
camente, ao desenvolvimento da linguagem, oral ou escrita. tion for Measurement of the Environment), associou-se a risco
Dentre essas variáveis, destaca-se o nível socioeconômico aumentado de atraso no desenvolvimento infantil, que incluía
(NSE) (Engel de Abreu et al., 2015; Fernald, Marchman, & linguagem. Para além da qualidade do ambiente familiar, a
Weisleder, 2013; Piccolo et al., 2016), havendo até mesmo pesquisa também apontou outros fatores ambientais asso-
evidências de uma relação entre variáveis de NSE e medi- ciados a risco de atraso no desenvolvimento, entre os quais
das estruturais, como superfície cortical, sobretudo em áreas baixa renda familiar, baixa escolaridade dos pais e grande
cerebrais associadas, entre outras habilidades, à linguagem número de irmãos (Lamy Filho, Medeiros, Lamy, & Moreira,
(Noble et al., 2015). Menor número de estudos tem focado 2011). Outra evidência também apontou que mudanças no
outras variáveis, a exemplo do ambiente familiar (em termos ambiente familiar (mensuradas a partir de subescalas do
estruturais/materiais e das relações que se dão nesse meio), Inventário Home: Materiais de aprendizagem, Estimulação
qualidade ou mesmo frequência à pré-escola (Pinto, Pes- de linguagem, Estimulação acadêmica e Variedade de expe-
sanha, & Aguiar, 2013; Scopel, Souza, & Lemos, 2012; van riências) ocorridas no período entre 36 e 54 meses de idade
Druten-Frietman, Denessen, Gijsel, & Verhoeven, 2015). da criança podem predizer o desenvolvimento da linguagem
Neste âmbito, este estudo incluiu variáveis ambientais tais nestas crianças (Son & Morrison, 2010).
como o NSE, medida do ambiente familiar e tempo de fre- É fato que, já aos 18 meses, a classificação da família
quência à pré-escola (tempo de escolarização da criança), quanto ao NSE associa-se ao desempenho linguístico das
além do desempenho de pré-escolares em vocabulário e, crianças (Fernald et al., 2013). Um estudo nacional sobre
seis meses depois, em habilidades emergentes de LE. essa temática, com crianças no 1º e 2º anos, também eviden-
O vocabulário associa-se ao componente semânti- ciou que o NSE está fortemente associado às habilidades de
co da linguagem. Refere-se à habilidade do indivíduo em linguagem (capaz de explicar até 50% da variância em lingua-
compreender (vocabulário receptivo) e produzir (vocabulário gem, considerando medidas expressiva e receptiva) (Engel
expressivo) itens lexicais que fazem parte do seu sistema de Abreu et al., 2015). Neste estudo, NSE foi verificado a
linguístico (Capovilla, Negrão, & Damásio, 2011). As habili- partir de dados de renda e também da escolaridade dos pais.
dades iniciais ou emergentes de LE se referem, por exem- Também considerando os diversos ambientes em que
plo, ao conhecimento das letras, escrita do próprio nome ou a criança está inserida, um estudo longitudinal, conduzido
à habilidade de codificar e/ou decodificar palavras isoladas em Portugal, evidenciou que ambiente familiar e a qualidade
(Costa et al., 2013; Pazeto, Seabra, & Dias, 2014; Puranik & da pré-escola estiveram associados com desempenhos em
Lonigan, 2012). Evidências apontam que habilidades de lin- linguagem e habilidades emergentes de LE durante os anos
guagem parecem se desenvolver rapidamente no curso dos pré-escolares. Dentre esses resultados, qualidade da pré-es-
anos pré-escolares (Pazeto et al., 2014; Song et al., 2015). cola teve impacto maior sobre as habilidades emergentes de

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alfabetização do que o ambiente familiar. Por fim, os autores (52,9%) das crianças eram meninas. No primeiro ano do es-
sugerem efeito cumulativo e interação destes dois ambientes tudo (Ano 1), 29 eram alunos de classes de Jardim I (idade
sobre o desenvolvimento destas habilidades da criança. Tais média = 3,79; DP = 0,41) e 39 de Jardim-II (idade média =
efeitos sugerem que maior qualidade da pré-escola poderia 4,85; DP = 0,37) de uma escola municipal de Educação In-
potencializar o impacto positivo do ambiente familiar sobre lin- fantil de uma cidade da região metropolitana de São Paulo. A
guagem e habilidades emergentes de LE (Pinto et al., 2013). escola atende a um total de 110 crianças da Educação Infan-
No presente estudo, embora a qualidade do ambiente til, em dois períodos. Como critérios de exclusão adotaram-se
pré-escolar não tenha sido considerada, reconhece-se que indicador de deficiência intelectual (aferido pela Escala de
a escola pode ter uma relação com o desempenho infantil e, Maturidade Mental Colúmbia), deficiências sensoriais ou
perante isso, será considerado como dado o tempo de es- motoras que impedissem a avaliação e presença de síndro-
colarização da criança (medido em meses), que se refere a mes ou transtornos neurológicos/psiquiátricos (a partir do
quantos meses a criança tem de escolarização total, desde Questionário de Identificação para os Pais). Nenhuma crian-
sua primeira matrícula em creche. Esse dado será utilizado ça apresentou essas características, não havendo, portanto,
frente ao possível impacto da frequência à pré-escola no nenhum participante excluído. Seis meses após finalização
desempenho das crianças, tal como observado em estudos da primeira etapa do estudo, no ano seguinte ao início da
prévios (Pereira, Marturano, Gardinal-Pizato, & Fontaine, pesquisa (Ano 2), houve a segunda etapa da avaliação:
2011; Shah et al., 2017). Por exemplo, Shah et al. (2017) dos 68 participantes iniciais, 45 crianças foram reavaliadas,
encontraram que crianças no 2º ano do Ensino Fundamental sendo que 22 originalmente do Jd-I estavam, nesta ocasião,
que cursaram a pré-escola por dois anos tinham, em relação matriculadas no Jd-II; e 23 originalmente do Jd-II, estavam
aos pares que frequentaram por apenas um ano, melhores no 1º ano do Ensino Fundamental da mesma escola.
desempenhos em medidas cognitivas, acadêmicas (incluin-
do vocabulário e leitura) e de ajustamento. Em conjunto,
esses achados sugerem um importante papel da Educação Instrumentos
Infantil no desenvolvimento e preparação das crianças para
a aprendizagem formal posterior. - Questionário de Identificação para os Pais (Qp):
Por fim, uma revisão na área (Scopel et al., 2012) contém perguntas sobre aspectos de saúde da criança e seu
apresentou achados que corroboram a relevância da estimu- desenvolvimento, escolaridade dos pais, além do tempo de
lação no âmbito familiar e de variáveis de NSE, a exemplo escolarização da própria criança. Tempo de preenchimento
da escolaridade dos pais, para o desenvolvimento linguístico aproximado de 5 minutos.
infantil. Os autores, porém, destacaram a carência de estu-
dos que relacionem o desenvolvimento infantil com variáveis - Escala ABEP _ Associação Brasileira de Empresas
do ambiente escolar. Elencaram, ainda, algumas limitações de Pesquisa_ de nível socioeconômico(ABEP, 2014): escala
da área, como a falta de estudos que investiguem a relação com perguntas sobre itens do domicílio e escolaridade do
do vocabulário com variáveis escolares e familiares e o uso chefe da família, por exemplo. Baseia-se no Critério de Clas-
ainda limitado de protocolos padronizados nas avaliações. sificação Econômica Brasil. A pontuação obtida permite a
De modo a minimizar tais dificuldades, uma das habilidades verificação da classificação de NSE familiar (entre A e D-E).
investigadas no presente estudo é o vocabulário e, para Preenchimento aproximado em 5 minutos.
todas as medidas, utilizaram-se instrumentos padronizados
e com propriedades psicométricas satisfatórias obtidas em - Home Observation for Measurement of the Environ-
pesquisas com amostras brasileiras. Neste contexto, este ment–Early Childhood (Home; Caldwell & Bradley, 2003):
estudo investigou a relação de variáveis do ambiente fa- medida padronizada de observação do ambiente familiar.
miliar, incluídas variáveis de NSE, e tempo de frequência Possui diferentes versões, sendo a versão Early Childhood
à pré-escola com desempenho em medidas de linguagem, (EC) destinada para crianças entre três e seis anos de idade.
especificamente vocabulário (relação concorrente) e ha- A versão utilizada neste estudo foi traduzida e adaptada para
bilidades iniciais de leitura e escrita (avaliadas seis meses o português brasileiro. Dias et al. (2017)relataram boas carac-
depois), em crianças pré-escolares e em transição para o terísticas psicométricas para esta versão em crianças brasilei-
Ensino Fundamental. ras, incluindo alta concordância entre avaliadores (ICC=0,94)
e consistência interna satisfatória (Alpha de Cronbach = 0,84)
para a escala total. As análises também mostraram que os
Método domínios do HOME contemplam conteúdos relativamente
independentes do contexto familiar e proveram evidências de
validade ao inventário por correlação com outras variáveis a
Participantes partir de associações com variáveis de NSE e desempenho
das crianças em tarefas de funções executivas.
Participaram desta pesquisa 68 crianças, com ida-
des entre 3 e 5 anos ao início do estudo, (M= 4,4 anos; DP O Home versão EC é dividido em oito subscalas, com
= 0,65), e suas respectivas famílias. Da amostra total, 36 um total de 55 itens. Desses, 21 são baseados em observa-

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ção do ambiente familiar, 10 em observação ou entrevista e pontuação total no TVAud. O tempo de aplicação é de apro-
24 em entrevista. As subscalas compreendem: 1) Materiais ximadamente 15 minutos.
de Aprendizagem - trata da disponibilidade para a criança,
de brinquedos, livros, jogos que facilitam sua aprendizagem, - Teste de Leitura e Escrita (TLE; Pazeto, 2016): ava-
por exemplo, de cores, tamanhos ou formas; 2) Estimulação lia habilidades iniciais de leitura e de escrita de palavras sob
da Linguagem - referência às tentativas dos pais no incen- ditado. O teste está dividido em duas partes: 1) Subteste de
tivo ao desenvolvimento da linguagem dos filhos por meio Escrita, composto por 10 itens, sendo 8 palavras e 2 pseu-
da conversação, modelagem ou ensino direto; 3) Ambiente dopalavras: o aplicador dita 10 itens para a criança escrever
Físico - descreve o ambiente físico, considerando o espaço (cada palavra pode ser repetida apenas uma vez); e Sub-
interno e externo, bem como sua organização e segurança; teste de Leitura, também composto por 10 itens, sendo 8
4) Responsividade– refere-se à responsividade emocional palavras e 2 pseudopalavras: o aplicador apresenta os itens
e verbal de quem cuida da criança, por exemplo, se os pais individualmente para que a criança faça a leitura. A correção
são atenciosos aos questionamentos dos filhos e como se é feita considerando o total de letras lidas e escritas correta-
dão as interações entre adultos e criança; 5) Estimulação mente, convertido em porcentagem, em cada parte do teste.
Acadêmica – descreve o envolvimento direto do cuidador Evidências de validade constam em Pazeto et al. (2014). A
com a aprendizagem da criança, por exemplo incentivando-a aplicação tem duração aproximada de 20 minutos.
a aprender os números; 6) Modelagem – refere-se à mode-
lagem dos pais de comportamentos desejáveis e aceitáveis,
comunicando assim, suas expectativas às crianças; 7) Varie- Procedimento
dade - descreve o estilo de vida familiar que oferece experi-
ências variadas e ricas à criança; e 8) Aceitação –refere-se à O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
capacidade dos pais para aceitar o comportamento negativo Pesquisa (CAAE 41550315.0.0000.5435). Foi feito contato
da criança, observando a ocorrência de punições físicas e com a escola participante e solicitada autorização para re-
repreensão. alização do estudo. Após autorização da direção da escola,
no primeiro ano de realização do estudo, foi feito contato
A aplicação é realizada por meio de visita domiciliar, com com os responsáveis pelas crianças e assinado o Termo
duração aproximada de 1 hora. Durante a visita, é necessária de Consentimento Livre e Esclarecido. Na mesma ocasião,
a presença da criança e de seu principal cuidador. Cada item houve preenchimento do Qp e ABEP. O TVAud foi aplicado
do protocolo é pontuado com 0 (denotando aspecto negativo, em sessão coletiva, de aproximadamente 15 minutos, com
e.g. ambiente pouco seguro, ausência de estimulação, grupos de 5 crianças. O EMMC foi aplicado em uma sessão
ocorrência de punição) ou 1 (denotando aspecto positivo, individual de 20 minutos. Ambos foram aplicados em uma
e.g. ambiente seguro, presença de estimulação, ausência de sala disponibilizada, na própria escola e no período regular.
punição) e, a partir da soma dos itens, tem-se a pontuação Para aplicação do HOME, houve contato telefônico
nas oito subescalas e escala total. com as famílias e agendamento de visita domiciliar. A famí-
lia foi informada que se desejava agendar uma visita e que
- Escala de Maturidade Mental Colúmbia (EMMC; Al- esta teria duração aproximada de 1 hora, necessitando a
ves & Duarte, 2001): avalia o raciocínio não-verbal de crian- presença da criança e seu principal cuidador. Do total de
ças entre 3 anos e 6 meses e 9 anos e 11 meses de idade. 68 participantes, 62 visitas foram autorizadas pelas famílias
São apresentadas pranchas com três a cinco desenhos cada, e, assim, realizadas (houve 91,2% de adesão). Em 63,9%
sendo a tarefa da criança escolher qual desenho é diferente das visitas, apenas a mãe estava presente; em 18%, o casal
dos demais. Há dados de precisão e validade para a popu- estava presente na casa; em 14,8% das visitas, somente o
lação brasileira, com normas disponíveis em Alves e Duarte pai estava presente; e em 3,3% dos casos a pesquisadora
(2001). A medida foi utilizada para eventual identificação de foi recebida pela avó. Em todas as ocasiões as crianças
crianças com indicativos de deficiência intelectual (RPI < 70). estavam presentes. O instrumento foi preenchido durante a
O tempo estimado de aplicação é de 20 minutos. realização de cada visita.
No segundo ano do estudo, seis meses após finali-
- Teste de Vocabulário Auditivo USP – forma A reor- zação das avaliações da primeira parte da pesquisa, houve
denada de 33 itens (TVAud; Capovilla et al., 2011): avalia o aplicação do TLE às crianças, em uma sessão individual de
vocabulário receptivo, i. é., a compreensão de palavras ouvi- aproximadamente 20 minutos, realizada em uma sala reser-
das, a partir da escolha de figuras. É composto por 33 itens, vada da escola e durante período regular. Das 68 crianças
cada qual composto por uma palavra (pronunciada pelo avaliadas inicialmente, 45 participaram desta etapa da ava-
examinador) e cinco figuras como alternativas de escolha. A liação (retenção de 66,18% da amostra). A perda deve-se ao
tarefa consiste em assinalar a figura que melhor representa a fato de que, nesse novo ano letivo, muitas crianças foram
palavra pronunciada pelo examinador. O instrumento possui transferidas para outras unidades pelos seus responsáveis
evidências de validade e dados normativos para crianças dos e uma não frequentou as aulas no mês de aplicação do TLE.
18 meses aos 6 anos (Capovilla et al., 2011). Utilizou-se a

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Tabela 1. Variáveis socioeconômicas das famílias participantes.

Variáveis de NSE N Min Máx M DP

Anos de estudo da mãe 63 6 16 10,81 1,740

Anos de estudo do pai 60 7 16 10,72 1,658

Tempo de escolarização da criança


65 3 60 23,29 15,805
(meses)

Classificação Socioeconômica ABEP F %

Não responderam 3 4,4

A 2 2,9

B1 10 14,7

B2 19 27,9

C1 23 33,8

C2 7 10,3

D-E 4 5,9

Total 68 100,0

Análise de dados são apresentados na Tabela 1. As médias obtidas em cada


subescala e no total do Home constam na Tabela 2. Não
Foram conduzidas estatísticas descritivas das va- houve efeito do nível escolar sobre as pontuações do HOME
riáveis de NSE (média e desvio padrão para variáveis de (todas as comparações com p>0,05).
escolaridade de pai e mãe e tempo de escolarização da Com relação aos testes de vocabulário e de habili-
criança; frequência para categoria socioeconômica), assim dades iniciais de LE, houve diferença significativa e grande
como para as pontuações no Home e desempenhos em tamanho de efeito do nível escolar para todas as medidas,
vocabulário, leitura e escrita. Teste t de student foi realizado com desempenho crescente conforme a progressão do nível
para verificar efeito do nível escolar sobre pontuações no escolar. Estes resultados são sumariados na Tabela 2. Hou-
Home e desempenhos em vocabulário, leitura e escrita. O ve relação positiva, significativa e de magnitude moderada
tamanho de efeito das diferenças foi investigado a partir do entre desempenho em vocabulário no Ano 1 do estudo e de-
d de Cohen. A relação entre as medidas de vocabulário e sempenhos em leitura (r = 0,56; p< 0,001) e escrita (r = 0,47;
de leitura e escrita foi verificada por meio de correlação de p = 0,001), ambos avaliados no ano 2 desta investigação.
Pearson. Para investigar a relação entre variáveis de NSE Dado o impacto do nível escolar/idade das crianças
e desempenhos das crianças nas medidas de linguagem, sobre seu desempenho nas medidas de linguagem, optou-se
tanto quanto a relação entre subescalas do Home e as medi- pelo controle da idade (em meses) na análise de relação en-
das de linguagem, foram conduzidas análises de correlação tre as variáveis ambientais e os resultados dos testes de vo-
parcial, controlando a idade (em meses) das crianças. cabulário e LE. A Tabela 3 apresenta esses achados. Houve
relação baixa, porém significativa entre escolaridade materna
e desempenho da criança em vocabulário, assim como entre
Resultados o tempo de escolarização da criança e seu desempenho pos-
terior na tarefa de escrita. Duas tendências não significativas
Estatísticas descritivas das variáveis socioeconômi- foram observadas, sendo uma entre escolaridade materna e
cas, incluindo anos de escolaridade da mãe e do pai, tempo desempenho da criança em escrita, e a outra entre pontua-
de escolarização da criança (em meses) e frequência de ção na ABEP e desempenho em vocabulário.
cada categoria socioeconômica das famílias participantes,

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Tabela 2. Estatística descritivas das pontuações no Home e desempenhos das crianças nas tarefas de vocabulário (Ano 1) e de habilidades
iniciais de leitura e escrita (Ano 2), com valores de t e p.

Variáveis do Home Nível Variáveis do Home


N M DP Nível N M DP
(Ano 1) escolar (Ano 1)

JD I 27 6,63 2,323 JD I 27 3,00 0,784


Materiais de Modelagem
Aprendizagem JD II 35 6,63 1,911 JD II 35 3,34 0,591

Estimulação da JD I 27 6,44 0,801 Variedade JD I 27 6,30 1,514


Linguagem JD II 35 6,31 0,832 JD II 35 5,91 1,463

JD I 27 6,00 1,901 Aceitação JD I 27 4,00 0,000


Ambiente Físico
JD II 35 5,14 1,927 JD II 35 3,94 0,236

JD I 27 5,59 1,366 Home total JD I 27 42,56 6,314


Responsividade
JD II 35 5,29 1,601 JD II 35 41,34 6,193

JD I 27 4,59 0,888
Estimulação
Acadêmica
JD II 35 4,77 0,547

Nível
Desempenhos LO e LE N M DP t p d
escolar

JD I 29 27,31 2,977 -4,327 < 0,001 1,06


TVAud (Ano 1)
JD II 39 29,95 2,051

JD II 22 4,12 6,719 -5,970 < 0,001 1,74


TLE-Leitura (Ano 2)
1º ano 23 54,43 39,82

-7,047 < 2,06


JD II 22 12,15 7,27
TLE-Escrita (Ano 2) 0,001

1º ano 23 58,96 30,98

Análise de correlação parcial também foi conduzida de crianças pré-escolares e desempenho posterior em habi-
entre pontuações no HOME e os desempenhos das crianças lidades emergentes de LE, avaliadas seis meses depois da
nas medidas de vocabulário e de LE, controlando a idade primeira parte do estudo. De forma geral, algumas relações
das crianças (em meses). A Tabela 3 sumaria as relações foram encontradas, mostrando que algumas destas variá-
encontradas. As pontuações nas subescalas do Home veis ambientais figuram associadas ao desempenho das
relacionaram-se apenas com a medida de vocabulário. Ne- crianças nesta faixa de escolaridade.
nhuma associação foi observada com as medidas de LE. Com relação à classe socioeconômica, maior número
Especificamente, houve associação de magnitude baixa, de famílias concentrou-se nas classes B1 a C1, representan-
significativa, entre desempenho em vocabulário e subesca- do 76,4% das famílias participantes. Foi verificado também
las Modelagem e Variedade do Home. que pais e mães das crianças participantes apresentaram
tempo médio de escolarização próximo de 10 anos, enquanto
que o tempo médio de escolarização das crianças foi próxi-
Discussão mo de 23 meses. O estudo também descreveu característica
do ambiente familiar da amostra, não tendo sido observada
O estudo investigou a relação entre variáveis do diferença nessa variável em função da idade/escolaridade
ambiente familiar, inclusas variáveis de NSE e tempo de das crianças. Verificou-se aumento do desempenho nas me-
escolarização da criança, e o desempenho em vocabulário didas de vocabulário e de habilidades iniciais de LE com a

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Tabela 3. Matriz de relações entre as variáveis de NSE, do Home e as pontuações nos testes de
vocabulário e de leitura e escrita, com controle de idade.

TVAud TLE-Leit TLE-Esc

Variáveis de NSE*

r 0,29 0,23 0,28


Anos de estudo da mãe
p 0,031 0,173 0,090
r 0,04 -0,11 -0,12
Anos de estudo do pai
p 0,791 0,530 0,494
Tempo de escolarização da criança r 0,17 0,25 0,38
(meses) p 0,221 0,129 0,019
r 0,24 -0,01 0,10
Pontuação total ABEP (NSE)
p 0,074 0,944 0,546
Variáveis do Home**
r -0,01 0,10 0,80
Materiais de Aprendizagem
p 0,988 0,524 0,611
r -0,06 0,08 0,12
Estimulação da Linguagem
p 0,641 0,619 0,464
r 0,11 -0,03 -0,08
Ambiente Físico
p 0,393 0,831 0,587
r 0,16 0,06 0,10
Responsividade
p 0,209 0,712 0,511
r 0,03 0,02 0,11
Estimulação Acadêmica
p 0,797 0,923 0,470
r 0,27 0,15 0,09
Modelagem
p 0,037 0,319 0,555
r 0,30 -0,05 -0,06
Variedade
p 0,017 0,753 0,686
r 0,11 -0,23 -0,25
Aceitação
p 0,418 0,131 0,108
r 0,17 0,05 0,04
HOME Total
p 0,179 0,760 0,783

*gl = 55 (TVAud); 36 (TLE)


**gl = 59 (TVAud); 42 (TLE)
Variável controlada: idade em meses.

progressão escolar, como esperado (Capovilla et al., 2011; moderada, ao desempenho posterior em LE, avaliado seis
Pazeto et al., 2014; Pazeto, 2016; Song et al., 2015). De fato, meses depois. De fato, o vocabulário tem se mostrado um im-
a habilidade de vocabulário tem um desenvolvimento impor- portante preditor da leitura, incluindo compreensão de leitura
tante nos anos pré-escolares (Song et al., 2015) e o aumento (Seabra & Dias, 2012; Song et al., 2015). Evidência recente,
nas pontuações da medida de habilidades iniciais de LE com por exemplo, mostrou que, dentre outras medidas, o vocabu-
a progressão do nível escolar era esperado dado o fato de lário na pré-escola pode predizer a leitura, escrita e mesmo a
as crianças mais velhas da amostra estarem já cursando o matemática no 1º ano (Pazeto, 2016). Estes achados corro-
primeiro ano de alfabetização, pois, de acordo com Pazeto boram a importância da linguagem, no período pré-escolar,
(2016), diferentemente da LO, a LE necessitam de instrução para o desenvolvimento posterior de habilidades escolares.
formal, a qual, é principalmente oferecida a partir do 1º ano. Com controle da idade das crianças, o estudo eviden-
Em caráter longitudinal, evidenciou-se que o voca- ciou relação entre anos de estudo da mãe e vocabulário, as-
bulário está significativamente relacionado, com magnitude sim como uma tendência não-significativa entre NSE (pontu-

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ação total na ABEP) também com vocabulário. Para a escrita, Não foram observadas relações entre as variáveis
houve relação com tempo de escolarização da criança. Esses do HOME e os desempenhos em LE, sugerindo que talvez
resultados sugerem que filhos de mães com maior escolari- outras variáveis, como aquelas associadas à escola, podem
dade ou oriundos de famílias de maior NSE tendem a possuir ter maior relevância ao desempenho em LE em crianças
maior extensão de vocabulário. De fato, a relação entre lin- neste nível escolar. De fato, como já discutido, foi observada
guagem e variáveis de NSE, incluída aqui a escolaridade dos relação entre tempo de escolarização da criança, em termos
pais, já é retratada na literatura (Engel de Abreu et al., 2015; de frequência à pré-escola, e seu desempenho em escrita
Fernald et al., 2013; Piccolo et al., 2016; Scopel et al., 2012). seis meses depois. Porém, o fato de não ter sido encontrada
Para Lamy Filho et al. (2011), baixa escolaridade dos pais, ao relação entre variáveis do ambiente familiar ou de NSE e de-
lado de outras variáveis de NSE, como baixa renda familiar, sempenhos em LE das crianças não necessariamente indica
constitui um dos fatores ambientais que mais podem influen- que tais variáveis não tenham impacto sobre o desempenho
ciar o desenvolvimento infantil. Esta relação pode ser devida acadêmico. Uma hipótese é que essa associação seja indi-
à qualidade da estimulação oferecida à criança. Por exemplo, reta, ou seja, escolaridade da mãe ou ambiente familiar teria
mães com maior nível de escolaridade podem se utilizar, relação com habilidades mais básicas, como por exemplo
entre outros, de linguagem mais complexa, vocabulário mais LO, e esta, por sua vez, pode associar-se à aquisição da LE
rico e diversificado, tendo impacto sobre o desenvolvimento (isso seria esperado de acordo com Pazeto, 2016; Seabra
dessa habilidade em suas crianças. & Dias, 2012; Song et al., 2015). Assim, apesar de não ter
A análise também mostrou que crianças que tiveram sido encontrada relação direta entre variáveis de NSE e do
maior tempo de frequência à pré-escola apresentaram me- ambiente familiar com os desempenhos em LE, é possível
lhor habilidade emergente de escrita. Esse resultado sugere que haja um impacto indireto, via estimulação da habilidade
o papel da Educação Infantil na estimulação e preparação de vocabulário. Novos delineamentos de pesquisa poderão
das crianças para a aprendizagem posterior de habilidades testar essa hipótese.
de LE (Pereira et al., 2011; Shah et al., 2017). Evidências têm apontado que tanto fatores associados
Já as associações observadas entre variáveis do am- ao ambiente familiar quanto ao da pré-escola associam-se ao
biente familiar e o desempenho das crianças em vocabulário desempenho linguístico das crianças (van Druten-Frietman et
sugerem que os modelos de interação que os pais mantêm al., 2015). Pinto et al. (2013), por exemplo, verificaram que,
com a criança (Modelagem), assim como as oportunidades associado à qualidade da pré-escola, o ambiente familiar rela-
de estimulação que lhe são ofertadas (Variedade) parecem cionou-se ao desenvolvimento da linguagem e alfabetização
relacionadas ao desenvolvimento desse componente lin- precoce. Com achados próximos, esse estudo sugere que o
guístico. De fato, estudos prévios já sugeriam associação ambiente familiar, incluindo variáveis de NSE, se associa ao
entre qualidade do ambiente familiar e desenvolvimento desempenho em linguagem, especificamente vocabulário, e o
infantil (Lamy Filho et al., 2011; Scopel et al., 2012). Ainda, tempo de frequência à pré-escola (tempo de escolarização), à
Son e Morrison (2010), pontuaram que mudanças positivas habilidade emergente de escrita da criança.
no ambiente familiar podem contribuir com o desenvolvi- Este estudo tem um recorte bem delimitado, como é
mento da linguagem. A especificidade de nosso estudo foi característico do método científico, porém, em conjunto com
em demonstrar quais aspectos específicos (em detrimento as evidências da área pode subsidiar novas investigações e
do termo genérico ‘qualidade do ambiente familiar’) estão ações com implicações práticas/sociais. Por exemplo, pro-
mais associados ao desempenho das crianças. gramas de orientações a pais poderiam ressaltar a impor-
Neste sentido, o estudo mostrou que ambientes tância da variedade de estimulação, como oferecer à criança
familiares mais positivos em termos de variedade de ex- oportunidades de escolha e estimular sua organização, e de
periências (como, por exemplo, o fato de a criança possuir modos de interação, incluindo aceitação da expressão de
um instrumento musical, mesmo se de brinquedo; oportuni- sentimentos negativos (acolhimento), estímulo ao estabele-
dade de passeios, visitas a lugares como museus, teatro, cimento e uso de regras, como no uso criterioso de TV, e
ou viagem com a família; estímulo para que a criança se incentivo à interação social.
responsabilize pela organização de suas coisas, como dos Esperava-se encontrar neste estudo, outras relações
seus brinquedos; participar ou poder fazer suas próprias entre as variáveis do ambiente familiar, NSE e o desempe-
escolhas, por exemplo, do que quer comer ou comprar no nho em vocabulário, leitura e escrita, o que não foi confir-
mercado; ter suas produções valorizadas, por exemplo, mado. Estudos futuros devem estender essa amostra, con-
seus desenhos nas paredes da casa) e estilo de interação templando escolas particulares e públicas e de localidades
(por exemplo, reação dos pais quando a criança expressa diferentes, na tentativa de confirmar, esclarecer ou mesmo
sentimentos negativos ou age com agressividade com re- ampliar esses achados. É possível também que relações
lação a eles; estímulo a seguir determinadas regras, como mais fortes entre ambiente familiar e vocabulário possam ser
horários adequados para suas refeições, e mesmo o fato encontradas em amostra de crianças mais jovens, uma vez
de os pais apresentarem o ‘visitante’ à criança na ocasião que entre 4 e 5 anos há outras influências ambientais (por
da coleta de dados da pesquisa, estimulando-a à interação exemplo, dos pares) que não podem ser facilmente controla-
social) associam-se a melhor vocabulário das crianças. das. Da mesma forma, considerando as habilidades iniciais
de LE, também é possível que relações mais robustas com o

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ambiente familiar possam ser encontradas em crianças mais in language processing skill and vocabulary are evident at
velhas, que apresentariam LE melhor desenvolvidas. 18 months. Developmental Science, 16(2), 234–248.

Lamy Filho, F. L.; Medeiros, S. M.; Lamy, Z. C.; Moreira, M. E. L.


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crianças de comunidade da periferia de São Luis - MA. Ciência e
De forma geral, observou-se que há relações entre Saúde Coletiva, 16(10), 4181–4187.
variáveis de NSE, sobretudo anos de estudo da mãe, e de
aspectos específicos do ambiente familiar (como Mode- Melby-Lervåg, M.; Lyster, S.-A. H.; Hulme, C. (2012). Phonological
lagem e Variedade) e o vocabulário das crianças. Escola- skills and their role in learning to read: A meta-analytic
ridade da mãe e nível socioeconômico parecem variáveis review. Psychological Bulletin, 138(2), 322–352.
relevantes ao desempenho em vocabulário receptivo. Ainda,
a forma de interação que os pais estabelecem com os filhos Noble, K. G.; Houston, S. M.; Brito, N. H.; Bartsch, H.; Kan, E.;
e a variedade de estímulos e oportunidades de aprendiza- Kuperman, J. M.; … Sowell, E. R. (2015). Family income, parental
gem relacionaram-se ao vocabulário das crianças. O tempo education and brain structure in children and adolescents. Nature
que a criança frequentou a Educação Infantil associou-se Neuroscience, 18(5), 773–778.
mais especificamente ao desempenho futuro em escrita. O
estudo colabora à investigação de como variáveis do meio Pazeto, T. C. B. (2016). Predição de leitura, escrita e matemática
podem associar-se ao desenvolvimento de habilidades da no ensino Fundamental por funções executivas, linguagem oral
linguagem e prove informações que poderão colaborar a e habilidades iniciais de linguagem escrita na educação infantil.
investigações futuras que tenham como foco, por exemplo, Tese de Doutorado, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
a orientação de pais. Paulo.

Pazeto, T. C. B.; Seabra, A. G.; Dias, N. M. (2014). Executive functions,


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Recebido em: 12 de abril de 2017


Aprovado em: 23 de janeiro de 2018

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