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Fisiologia Geral

e Humana
Material Teórico
Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Martina Navarro

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Fisiologia do Sistema Cardiovascular

• Introdução ao Sistema Cardiovascular

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Este módulo tem por objetivo que o aluno compreenda o
funcionamento fisiológico básico do sistema cardiovascular. Além
disso, o aluno deve ser capaz de entender as principais respostas
desse sistema diante das exigências físicas.

ORIENTAÇÕES
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Fisiologia Geral e Humana!

Saiba que esta Disciplina tem como propósito [fornecer conhecimento sobre a
fisiologia humana e suas respostas em decorrência do treinamento e exercício
físico], oferecendo-lhe contato com as discussões mais recentes dessa área;
além de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e
reflexão sobre os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com sua
formação continuada e trajetória profissional.

Esta Disciplina está organizada em 6 unidades, cujo eixo principal será


nominar o eixo, ou seja, que dê conta [de discutir o funcionamento dos
sistemas orgânicos (nervoso, muscular, cardiovascular, respiratório,
endócrino, digestivo e renal) e as alterações e adaptações desses sistemas
diante das demandas impostas pela prática de atividades físicas, é o que você
encontrará nas próximas unidades.
UNIDADE Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Contextualização
A Fisiologia do Sistema Cardiovascular, tópico abordado nesta unidade, se
dedica a estudar como, no corpo humano, o coração e os vasos sanguíneos
conseguem transportar e distribuir oxigênio e nutrientes para todos os tecidos e
órgãos. O entendimento desse sistema em repouso, e principalmente sob situação
de exercício físico, é relevante, pois a prática cardiovascular é de suma importância
para o profissional da Educação Física, uma vez que o exercício físico tem sido
empregado regularmente na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares,
como, por exemplo, a hipertensão arterial.

As adaptações cardiovasculares ao exercício físico envolvem respostas


precoces e tardias, com origens diversas e afetando múltiplas variáveis que, em
conjunto, determinam uma resposta final que varia com o indivíduo e o tipo de
treino realizado (intensidade, volume e duração). Entender as alterações agudas
e crônicas da atividade física no sistema cardiovascular auxiliará o profissional de
saúde em prescrever atividades condizentes com as necessidades do indivíduo,
obtendo máximo resultado na prevenção de doenças e melhora da capacidade
cardiovascular. Portanto, ao final desta unidade, entenderemos como coração
e vasos funcionam, e quais tipos de exercícios causam que tipos de alterações,
orientando, assim, futuras prescrições de atividades físicas.

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Introdução ao Sistema Cardiovascular
O corpo humano foi fisiologicamente dividido em diferentes sistemas (nervoso,
muscular, cardíaco, respiratório, renal e endócrino). Cada um desses sistemas tem
uma função específica e essencial para a sobrevivência humana.

Importante! Importante!

O Sistema cardiovascular tem como função primordial o transporte e a distribuição de


oxigênio e nutrientes para tecidos e órgãos.

A compreensão dos mecanismos que controlam a função do sistema cardiovascular


é de suma importância para o profissional da Educação Física, uma vez que o
exercício físico tem sido empregado regularmente na prevenção e tratamento de
doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial.
O sistema cardiovascular é organizado em uma bomba (coração), uma série de
tubos para distribuição e coleta (circulação arteriovenosa), e uma rede de vasos
finos que permite trocas rápidas entre os tecidos, os capilares (microcirculação). O
sistema circulatório é dividido em (Fig.1):
· Circulação Pulmonar (pequena circulação): ventrículo direito -> artéria
pulmonar -> arteríolas -> capilares pulmonares (pulmão) -> vênulas ->
veia pulmonar -> átrio esquerdo
· Circulação Sistêmica (grande circulação): ventrículo esquerdo -> aorta ->
arteríolas -> capilares (tecidos e órgãos) -> vênulas -> veia cava -> átrio direito

Figura 1. Esquematização da Circulação pulmonar (pequena circulação)


e Circulação Sistêmica (grande circulação)
Fonte: Silverthorn, 2010

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UNIDADE Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Nas artérias pulmonares, circula sangue venoso (rico em CO2); na aorta, circula
sangue arterial (rico em O2). Já nas veias acontece o contrário: nas veias pulmonares,
circula sangue arterial; nas veias cavas, circula sangue venoso (Fig.2).

A - Circulção Sistêmica
Coração

Sangue + O2 Sangue + CO2

Tecidos

B - Circulção Pulmonar
Coração

Sangue + CO2 Sangue + O2

Pulmões
Figura 2 - Esquematização da circulação sistêmica e pulmonar
em relação aos componentes gasosos O2 e CO2
As artérias são vasos que saem do coração, ou seja, leva sangue do coração
para outros órgãos do corpo. As veias são vasos que chegam ao coração, ou seja,
trazem sangue dos outros órgãos para o coração.

Nos capilares pulmonares, ocorre a hematose, que é o processo de troca gasosa


entre o sangue venoso e arterial nos alvéolos pulmonares.

Nos capilares do sistema sistêmico, ocorrem as trocas de nutrientes e gases


entre o sangue e os tecidos.

Importante! Importante!

É por meio da circulação sistêmica que as células do organismo são supridas de


elementos necessários para que exerçam todas suas funções, além de recolher todos
produtos tóxicos produzidos pelo seu próprio funcionamento.

O coração é o órgão responsável por bombear o sangue através de toda essa


rede de vasos. Ele é um órgão oco com paredes constituídas por músculo estriado
esquelético. Essa musculatura se contrai de maneira automática (involuntária),
diferente do restante de nossa musculatura estriada esquelética, a qual contraímos

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voluntariamente. O coração é dividido em quatro câmaras – dois átrios e dois
ventrículos – pelos quais o sangue circula de maneira unidirecional (sempre dos
átrios para os ventrículos) (Fig. 3). Esse retorno do sangue, pelo caminho contrário,
não ocorre, porque existem as válvulas cardíacas atrioventriculares e as semilunares.
Aorta

Veia Cava Superior

Artérias Pulmonares Artérias Pulmonares


Direitas Esquerda

Veias Pulmonares
Veias Pulmonares Esquerdas
vDireitas

Átrio
Esquerdo

Átrio
Direito Válvula
Mitral

Válvula Válvula
Pulmonar Aórtica

Válvula
Tricúspide Ventrículo
Esquerdo

Veia Cava
Inferior

Ventrículo Direito Septo

Figura 3 - Estrutura do coração, indicando câmaras cardíacas e as válvulas


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Ciclo Cardíaco
É o ciclo de contração-relaxamento do coração que ocorre a cada batimento
cardíaco. Ele possui duas fases: a diástole, e a sístole.
A diástole é fase em que o sangue chega ao coração, preenchendo os átrios.
Nesse momento, as válvulas atrioventriculares estão abertas, e as válvulas
semilunares, fechadas.
A sístole é a fase em que ocorre a contração dos ventrículos e o sangue é
bombeado para fora do coração.
Nesse momento, as válvulas atrioventriculares estão fechadas (para evitar o
retorno do sangue para os átrios), e as válvulas semilunares estão abertas.

Débito Cardíaco
Débito cardíaco, ou Volume Minuto Cardíaco (VMC), é a quantidade de
sangue ejetada pelo ventrículo esquerdo por minuto. Ele depende da quantidade
de sangue ejetada por batimento cardíaco (volume sistólico) e do número de
batimentos por minuto (frequência cardíaca). Logo, o VMC pode ser calculado
pela seguinte equação:
VMC = FC x VS

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UNIDADE Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Por exemplo, em um homem adulto em repouso, com cerca de 70 kg, com


VS de 80mL e uma FC de 65 bpm (batimentos por minuto), terá um VMC de
5200mL/min, que é um valor representativo da média da população. Devemos
levar em consideração, para o cálculo do VMC, fatores como sexo, peso e altura do
indivíduo em questão. Entenderemos o controle do VMC e as alterações observados
durante o exercício, mais para frente nesta unidade.

Sons Cardíacos
O que são os sons que escutamos quando escutamos o batimento cardíaco
com um estetoscópio? Esses sons representam o momento de fechamento das
válvulas no coração. Quando ocorre a contração ventricular, começo da sístole,
ocorre o fechamento das válvulas atrioventriculares. Esse som é baixo e de maior
duração (primeira bulha). Já no final da sístole, ocorre o fechamento das válvulas
semilunares aórtica e pulmonar, o que faz com que gere outro som, porém, desta
vez, mais agudo e de curta duração (segunda bulha).

Funções do Sistema Cardiovascular


O sistema cardiovascular tem papel central no funcionamento e na manutenção
de células e órgãos. Sua função principal é a de levar nutrientes, oxigênio e água para
todas as células do organismo e remover CO2, ureia, e lactato. O sistema circulatório
também possui outras funções como, auxiliar na manutenção da temperatura corporal
constante; participar do controle hormonal (distribuindo e secretando hormônios
para os tecidos); manutenção dos líquidos corporais; e participar do sistema de defesa
imunológica do organismo através transporte de anticorpos.

A hemodinâmica estuda o funcionamento da circulação sanguínea, cuja função


primordial é atender aos diferentes órgãos quanto às suas necessidades metabólicas
em repouso e, também, em situações nas quais a demanda metabólica aumenta.

Por exemplo, durante um exercício físico, diversos órgãos mudam sua atuação, aumentando
Explor

ou reduzindo sua atuação e isso vai demandar maior ou menor fluxo sanguíneo.

Por exemplo, os músculos demandam maior quantidade de oxigênio para poder


efetuar as contrações musculares.

O sistema cardiocirculatório mantém um território vascular com “alta pressão”,


que é o sistema arterial, e um território com “baixa pressão”, que é o sistema
venoso, o qual exibe menor pressão em relação ao sistema arterial. Para entender
melhor como funciona esse mecanismo, precisamos conhecer as características
dos diferentes vasos sanguíneos que compõem o sistema circulatório:
·· Artérias: possuem fortes paredes porque têm como função transportar sangue
em alta pressão e alta velocidade para os tecidos;

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· Arteríolas: são os ramos finais do sistema arterial. Elas controlam o sangue
que será liberado para os capilares. Possuem fortes paredes que podem
sofrer vasoconstrição (diminuindo o diâmetro do vaso), ou vasodilatação
(aumentando o diâmetro do vaso).
· Veias: são os vasos mais distensíveis do sistema circulatório. Possuem
paredes com alta distensibilidade. Dessa forma, conseguem armazenar
uma grande quantidade de sangue que pode ser utilizado por qualquer
outra parte do organismo, quando necessário. Ou seja, elas funcionam
como um reservatório.
· Vênulas: coletam o sangue dos capilares e vão gradualmente aumentando
seu calibre e formando as veias progressivamente.
· Capilares: é onde ocorrem todas as trocas (gases, nutrientes etc.) entre o
sangue e os demais órgãos e tecidos. Possuem paredes finas que facilitam
essas trocas.

Relação entre Fluxo, Pressão e Resistência


A relação entre fluxo sanguíneo (VMC), pressão arterial (PAM) e resistência ao
fluxo sanguíneo (RP) é dada pela equação:

PAM = VMC x RP

Ou seja, o aumento da PAM é diretamente proporcional ao aumento do VMC


e da RP. Se o VMC aumenta, ou se a RP também aumenta, a PAM irá aumentar.
Como vimos anteriormente nesta unidade, o VMC corresponde à quantidade de
sangue ejetada pelo ventrículo esquerdo por minuto.

Já a pressão arterial corresponde à força que o sangue exerce sobre as paredes


do vaso em determinada área. A medida da pressão arterial ainda é o recurso mais
utilizado para diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial. Dessa forma, a
hipertensão arterial é definida basicamente como elevação dos valores de pressão
arterial. A compreensão dos mecanismos que controlam a pressão arterial é de suma
importância para o profissional da Educação Física, uma vez que o exercício físico tem
sido empregado regularmente na prevenção e no tratamento do quadro hipertensivo.

A resistência periférica é definida como qualquer impedimento proporcionado


pelo vaso à corrente sanguínea. Ou seja, é a oposição dos vasos sanguíneos, que
podem estar mais ou menos contraídos ou dilatados, à circulação do sangue.

Entendendo a equação apresentada, quanto maior o fluxo sanguíneo (débito


cardíaco) e quanto maior a resistência periférica, maior será a pressão arterial. Se
compararmos a circulação sanguínea com o funcionamento de uma mangueira
de jardim, a pressão é determinada pela proporção de água que entra e aquela
que sai da mangueira. Para se aumentar a pressão dentro desse sistema, de forma
aguda, diminui-se o diâmetro de abertura da mangueira (RP), aumentando, assim,
a resistência. Outra forma de aumentar a pressão também seria aumentar o fluxo
total de água dentro da mangueira (VMC).

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UNIDADE Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Regulação da Pressão Arterial


A pressão arterial, como já vimos anteriormente, é uma das variáveis
hemodinâmicas de medida mais comuns, pois ela é aferida de modo relativamente
fácil. É necessário, porém, compreender em que consiste a pressão arterial e de
que fatores ela depende, para entender adequadamente os mecanismos neurais e
humorais envolvidos na sua regulação.

A pressão arterial é diferente em diversos locais da circulação. No geral, quando


se deseja obter o valor da PA, faz-se a medida no braço, pois a artéria braquial fica,
aproximadamente, na altura da raiz da aorta. Ou seja, quando aferimos a pressão
na artéria braquial estamos, na verdade, aferindo a pressão que o sangue exerce
sobre as paredes da aorta torácica.

Regulação Neural da Pressão Arterial


Como vimos, a pressão arterial pode ser modificada por alterações da frequência
cardíaca, débito sistólico e resistência periférica. Essas três variáveis são fortemente
influenciadas pelo sistema nervoso neurovegetativo, tanto pela divisão simpática
como pela parassimpática, que, a partir de neurotransmissores chamados de
catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), estimulam ou inibem ações do músculo
cardíaco e vasos sanguíneos.

O papel do parassimpático no controle da pressão arterial é mais restrito.


O simpático, por sua vez, dada a grande distribuição de suas fibras no sistema
cardiovascular, possui elevada capacidade de ajuste pressórico por ser capaz de
modular essas três variáveis citadas anteriormente. O parassimpático é capaz de
controlar, com maior precisão, apenas a frequência cardíaca, atuando através das
fibras do nervo vago que se dirigem para o coração.

A modulação da atividade simpática exercida pelo sistema nervoso é capaz de


ajustar a PA para valores desejáveis e necessários para as condições do organismo
naquele momento (repouso, atividade física, sono etc.), mediante interferência
nos principais componentes que controlam a pressão. A participação do controle
parassimpático na pressão arterial só ocorre em situações excepcionais. O controle
é feito através das fibras no nervo vago que se dirigem diretamente para o coração.
As fibras vagais estão dispersas, principalmente, nos átrios e atuam diretamente na
redução da FC. Os vasos sanguíneos, salvo algumas exceções, como na genitália,
são desprovidos de inervação parassimpática. Resumindo (Fig. 4):
·· Controle Simpático: o aumento da atividade eferente simpática aumenta a
FC e a força de contração, aumentando, assim, o débito cardíaco (VMC).
Aumenta também a resistência circular periférica.
·· Controle Parassimpático: redução da FC e não a força de contração.

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Figura 4 - Atuação do sistema nervoso neurovegetativo na regulação da pressão arterial a partir
dos efeitos dos sistemas parassimpático e simpático no músculo cardíaco e nos vasos sanguíneos

Regulação Humoral
O controle humoral da pressão arterial é feito por um grande conjunto de
substâncias químicas lançadas na circulação e que atuam como hormônios ou por
agentes químicos de ação local.

Ao compararmos a regulação neural e a humoral vemos que a regulação neural,


em um ponto de vista mais geral, é mais eficiente para produzir os ajustes rápidos da
pressão arterial, isto é, aqueles que ocorrem a cada momento (exemplos: mudanças
posturais, esforço físico executado no trabalho, no exercício). Para a regulação de
longo prazo, tanto os mecanismos neurais, como os humorais, estão envolvidos.

O controle humoral é feito por uma enorme variedade de substâncias (hormônios


e mediadores químicos de produção e ação local), que interferem, principalmente,
na dilatação ou contração das artérias. São eles:
· Agentes vasoconstritores: aumento dos íons de cálcio, ação da angiotensina
II (leva a vasoconstrição, aumentando a resistência periférica → aumento da
PA), e ação da serotonina (após uma lesão vascular, ela é liberada causando
vasoconstrição e reduzindo o sangramento).
· Agentes vasodilatadores: bradicinina (vasodilatação arteriolar e aumento
da permeabilidade dos capilares) e histamina (liberada em tecidos lesionados,
inflamados ou em reações alérgicas).

Reflexos Barorreceptores
Os barorreceptores, ou receptores de pressão, são estruturas sensíveis ao
estiramento vascular e estão localizados ao longo dos vasos sanguíneos. Eles
conseguem detectar variações da pressão no interior das cavidades preenchidas
com sangue, funcionando como sensores da pressão arterial.

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UNIDADE Fisiologia do Sistema Cardiovascular

O reflexo barorreceptor é bastante rápido e sensível, é capaz de monitorar os


valores de PA momento a momento e, desta forma, ajustar os níveis de atividade
nos sistemas simpático e parassimpático, seja para diminuir ou aumentar a PA.
Assim, podemos concluir que os barorreceptores participam dos ajustes rápidos e
de curto prazo da PA, como ocorre nas mudanças posturais, por exemplo. Outro
exemplo interessante é quando um indivíduo está deitado e põe-se rapidamente
de pé, isso faz com que ocorra uma rápida redução do retorno venoso e do débito
sistólico e, consequentemente, da pressão arterial e do fluxo sanguíneo cerebral.
Através do reflexo barorreceptor, ocorre uma descarga simpática que produz
taquicardia e vasoconstrição, elevando assim a PA.

Eletrofisiologia do Coração
A eletrofisiologia é o estudo da atividade elétrica do coração.

Trocando ideias...Importante!
Por que é importante entendermos a eletrofisiologia? A eletrofisiologia é utilizada para
observar arritmias complexas, elucidar sintomas, avaliar eletrocardiogramas anormais,
estimar risco de desenvolvimento de arritmias etc.

É muito importante sabermos desses dados ao fazer uma avaliação física de um


aluno, antes de prescrevermos um programa de treinamento.

Ritmicidade do Coração
O coração apresenta uma ritmicidade em suas contrações. Essas contrações
rítmicas e coordenadas das câmaras cardíacas produzem o fluxo sanguíneo que
suprem órgãos do corpo com nutrientes e oxigênio. Essas contrações são ativadas
por impulsos elétricos gerados espontaneamente por células do nódulo sinoatrial
(marcapasso normal do coração; fig. 5).
Nodo
sinoatrial

AD
Nodo
AE
atrioventricular

Feixe
atrioventricular
VD VE
Ramo direito Ramo esquerdo

Fibras de
Purkinje

Figura 5 - Sistema de condução elétrica do coração. O estímulo inicia-se no nodo sinoatrial,


que se propaga pelos átrios e o no atrioventricular, e chega até os ventrículos.

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A origem e a propagação dos impulsos elétricos cardíacos dependem da
existência de gradientes iônicos através da membrana plasmática e das mudanças
transitórias rápidas de permeabilidade seletiva da membrana das células cardíacas.
Sob condições normais, as células miocárdicas (células do coração) estão acopladas
eletricamente, de forma que a excitação de uma única célula resulta na excitação
de todas as células do tecido. As extremidades das células miocárdicas adjacentes
estão unidas entre si por discos intercalares. Nesses discos, existem áreas de íntimo
contato das membranas das duas células que formam as junções comunicantes.

As junções comunicantes são constituídas por proteínas denominadas


conexinas que permitem a condução rápida do potencial de ação entre as células,
facilitando o espalhamento da atividade elétrica pelo miocárdio e o batimento
síncrono do coração. Portanto, após a geração espontânea do comando de bater o
coração a partir do nodo sinoatrial, o restante do coração, ligado intimamente com
esse primeiro nodo, continua o comando de bater, e isso continua a ocorrer a cada
momento, gerando a ritmicidade nos batimentos cardíacos.

Eletrocardiograma
O eletrocardiograma (ECG) é um registro indireto da atividade elétrica do
coração, obtida por meio de eletrodos colocados em diferentes pontos da superfície
do corpo (Fig. 6). Essa medida é importante no detectar alterações de ritmicidade
nos batimentos, indicando um potencial problema cardíaco.

A compreensão na leitura de um ECG por profissionais da área da saúde é de suma


Explor

importância. Saber se um indivíduo está apto à prática de exercício ou não e indicá-lo para
consulta com profissionais da área previnem mortes súbitas, enfartos e outras patologias
cardíacas que podem resultar em morte.

Na figura 6, podemos ver as ondas e suas características em um ECG normal e,


na figura 7, o ECG relacionado aos eventos cardíacos.

Figura 6. Diferentes fases de um eletrocardiograma normal. A onda P representa a despolarização dos átrios, o
complexo QRS representa as alterações elétricas provenientes da despolarização ventricular e a onda T representa
a repolarização ventricular. Qualquer alteração observada em uma das curvas pode indicar algum sintoma de
uma patologia cardíaca
Fonte: Phiton-Curi, 2013

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Figura 7 - Relação entre um ECG e os eventos elétricos no coração


Fonte: Silverthorn, 2010

Adaptações Cardiovasculares Agudas ao Exercício


O exercício físico caracteriza-se por uma situação que retira o organismo de
sua homeostase, pois implica o aumento instantâneo da demanda energética da
musculatura exercitada e, consequentemente, do organismo como um todo. Desta
forma, para suprir a nova demanda metabólica, várias adaptações fisiológicas são
necessárias e, dentre elas, as referentes à função cardiovascular.

*A homeostasia é a propriedade que o corpo humano tem de regular/adaptar


seu ambiente interno, mediante as mudanças tanto internas quanto externas, de
modo a mantê-lo estável.

As adaptações cardiovasculares ao exercício físico envolvem respostas precoces


e tardias, com origens diversas, afetando múltiplas variáveis que, em conjunto,
determinam uma resposta final que varia com o indivíduo e o tipo de treino realizado
(intensidade, volume e duração).

Em relação ao tipo de exercício, podemos caracterizar dois tipos principais:


exercícios dinâmicos ou isotônicos (ocorre contração muscular, seguida de
movimento articular) e estáticos ou isométricos (ocorre contração muscular,
sem movimento articular). Cada um desses exercícios implica respostas
cardiovasculares distintas.

Nos exercícios estáticos, observa-se aumento da frequência cardíaca, com


manutenção ou até redução do volume sistólico e pequeno acréscimo do débito
cardíaco. Em compensação, observa-se aumento da resistência vascular periférica,
que resulta na elevação exacerbada da PA. Esses efeitos ocorrem porque a contração
muscular mantida durante a contração isométrica promove obstrução mecânica do
fluxo sanguíneo muscular, o que faz com que os metabólitos produzidos durante a
contração se acumulem, ativando quimiorreceptores musculares, que promovem
aumento expressivo da atividade nervosa simpática.

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Por outro lado, nos exercícios dinâmicos, não existe obstrução mecânica
do fluxo sanguíneo, de modo que, nesse tipo de exercício, também se observa
aumento da atividade simpática, desencadeada pela ativação do comando central,
mecanorreceptores musculares. Em resposta do aumento da atividade simpática,
observa-se aumento da FC, do volume sistólico e do débito cardíaco. Além disso, a
produção de metabólitos musculares promove vasodilatação na musculatura ativa,
gerando redução da resistência periférica. Ou seja, ocorre aumento da pressão
arterial sistólica e manutenção ou redução da pressão diastólica.

Embora as respostas cardiovasculares aos exercícios dinâmicos e estáticos


sejam bem características, na prática diária, os exercícios executados apresentam
componentes dinâmicos e estáticos, de modo que a resposta cardiovascular a
esses exercícios depende da contribuição de cada um desses componentes.
Nesse sentido, os exercícios resistidos ou exercícios de musculação possuem
papel de destaque, pois quando executados em alta intensidade, apesar de
serem feitos de forma dinâmica, apresentam componente isométrico bastante
elevado, fazendo com que a resposta cardiovascular durante sua execução
assemelhe-se àquela observada com exercícios estáticos, ou seja, aumento da
FC e, principalmente, aumento exacerbado da PA, que se amplia à medida que
o exercício vai sendo repetido.

Além das alterações cardiovasculares observadas durante a execução do


exercício físico, algumas alterações ocorrem após a finalização do treino. Dentre
elas, a hipotensão pós-exercício. Ela se caracteriza pela redução da PA durante
o período de recuperação, fazendo com que valores pressóricos observados pós-
exercícios permaneçam inferiores àqueles medidos antes do exercício ou mesmo
àqueles medidos em dias sem a execução de exercícios.

Adaptações Cardiovasculares Crônicas ao Exercício


Dentre os efeitos e adaptações cardiovasculares em longo prazo do exercício
físico, um deles seria a diminuição da pressão arterial de repouso, porém, isso
é dependente da intensidade de exercício utilizada nas sessões de treinamento.
Essa intensidade de treinamento deve ser realizada na faixa de leve a moderada,
correspondente a 55% do VO² de pico. Essa redução de PA ocorre por conta de uma
redução que ocorre no débito cardíaco associada à bradicardia de repouso. Nesse
sentido, a prática regular de exercícios deve ser recomendada para a prevenção e
tratamento da hipertensão arterial. Outro efeito em longo prazo do treinamento
físico, especialmente o aeróbio, é a bradicardia de repouso, o mecanismo associado
a essa resposta é uma redução da FC.

Bradicardia é um termo utilizado na medicina para designar uma diminuição na


frequência cardíaca.

Outro importante efeito do exercício físico regular é a hipertrofia cardíaca, que


se caracteriza por aumento do tamanho das câmaras cardíacas ou da espessura
da parede muscular, sem elevação significativa do tamanho do órgão e sem perda
de funcionalidade. É importante ressaltar essa não perda de funcionalidade, pois

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algumas doenças também provocam essa hipertrofia, como a hipertensão arterial,


porém, esse aumento do tamanho do coração ocorre sem a elevação da sua
força de contração, tornando sua contração insuficiente para bombear sangue de
maneira adequada para os órgãos e tecidos do corpo. A hipertrofia cardíaca, seja
da câmara ou da espessura da parede muscular ventricular, também está ligada
ao tipo de exercício executado. Nesse caso, seria para exercícios de característica
predominantemente aeróbia. Por exemplo, durante uma corrida de longa distância,
o aumento do retorno venoso proporciona maior volume diastólico final. Esse
estresse mecânico de enchimento dos ventrículos com maior volume de sangue, se
repetido por algum tempo, leva ao aumento das câmaras cardíacas (Fig. 8).

Figura 8. Adaptações no tamanho da cavidade ventricular, da espessura do ventrículo esquerdo e do peso do


ventrículo esquerdo induzidas pela prática de exercício físico de resistência e exercício resistido (musculação)
Fonte: Phiton-Curi, 2013

A hipertrofia cardíaca induzida pelo exercício resistido (musculação) ocorre na


musculatura da parede do ventrículo esquerdo. Durante esse tipo de exercício,
ocorrem picos de pressão arterial. Assim, a força de contração do ventrículo
esquerdo deve ser grande o suficiente para vencer a pressão da aorta e ejetar
sangue para o sistema. Essa sobrecarga tensional leva ao espessamento do septo
entre os ventrículos e espessamento da parede do ventrículo esquerdo (Fig. 9).

Figura 9 - Ação da atividade muscular auxiliando o retorno venoso. O detalhe mostra a contração muscular que
comprime as veias e impulsiona o sangue em direção ao coração. O fluxo unidirecional é garantido pela presença
de válvulas no interior das veias
Fonte: Phiton-Curi, 2013

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
How I repaired my own heart
https://goo.gl/bnlVdB

Vídeos
O primeiro passo para entender o eletrocardiograma (ECG) (Vídeoaula)
https://goo.gl/t0OYNp
Sistema Cardiovascular - Superinteressante
https://goo.gl/CNvgJr
Coração de Atleta - Hipertrofia Fisiológica
https://goo.gl/ASBQF7

Leitura
Adaptações agudas e crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular
http://goo.gl/AJQOxO

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UNIDADE Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Referências
PITHON-CURI, T. C. Fisiologia do Exercício. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.

CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2009.

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