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Unidade II
5 SISTEMA CARDIOVASCULAR
O coração representa, no sistema cardiovascular, a bomba propulsora de sangue que flui dentro
deste compartimento. A circulação do sangue ocorre pela geração de diferença de pressões entre dois
ou mais pontos do sistema cardiovascular, a estrutura responsável por gerar esse gradiente de pressões
é o coração (figura 34) (DOUGLAS,2006).
Miocárdio Pericárdio
(músculo cardíaco)
O coração é uma bomba, porque é formado pelo miocárdio (músculo cardíaco) (figuras 34 e 35).
Trata‑se de um músculo estriado devido à organização molecular de suas proteínas contráteis. O coração
é dividido em quatro cavidades (ou câmaras cardíacas) (figura 35): átrio direito, átrio esquerdo,
ventrículo direito e ventrículo esquerdo. Os átrios direito e esquerdo são separados entre si pelo
septo interatrial, assim como os ventrículos direito e esquerdo estão separados entre si pelo septo
interventricular. Dessas quatro câmaras cardíacas, os ventrículos são fundamentais como bombas
propulsoras do fluxo de sangue, e sua massa muscular é muito maior que a dos átrios. Os átrios, como
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Unidade II
o nome indica, representam realmente os vestíbulos dos ventrículos que, de fato, constituem o coração
propriamente dito. Contudo, o átrio desempenha outra função, além de agir como vestíbulo da função
ventricular: é a de atuar como ponto de geração dos impulsos que excitam o coração a contrair‑se.
As paredes internas das cavidades cardíacas são recobertas por uma fina membrana endotelial – o
endocárdio –, formando conjuntos de pregas nos orifícios: as válvulas cardíacas (figura 35), que
desempenham uma função orientadora do fluxo sanguíneo, dentro do coração, e sua participação é
exclusivamente passiva, uma vez que se abrem ou fecham de acordo com as mudanças de pressão a
cada lado da válvula (DOUGLAS, 2006).
As válvulas que separam os átrios dos ventrículos são chamadas atrioventriculares. A válvula
atrioventricular, que separa o átrio direito do ventrículo direito, é chamada válvula tricúspide, e a válvula
atrioventricular, que separa o átrio esquerdo do ventrículo esquerdo, é denominada válvula bicúspide ou mitral.
Elas se abrem no sentido átrio‑ventrículo e fecham‑se no sentido ventrículo‑átrio. As válvulas arteriais,
também chamadas semilunares, localizam‑se entre os ventrículos e as artérias. A válvula pulmonar separa
o ventrículo direito da artéria pulmonar, que leva o sangue venoso (pobre em oxigênio) até os pulmões. A
válvula aórtica separa o ventrículo esquerdo da artéria aorta, que leva o sangue arterial (rico em oxigênio)
para o restante do corpo. O sangue possui um trajeto unidirecional, tanto ao passar pelo coração como pelos
vasos sanguíneos. No coração, o fluxo é direcionado pela presença de válvulas entre os átrios e os ventrículos
e entre os ventrículos e as grandes artérias (DOUGLAS, 2006; CURI; PROCOPIO, 2009).
Crossa da aorta
Veia cava superior
Artéria pulmonar
Valva semilunar
Valva semilunar fechada
Valva bicúspide
Ventrículo esquerdo
Ventrículo direito
Cone muscular cardíaco Endocárdio
Miocárdio
Veia cava inferior
Pericárdio
Septo interventricular
o atrito do miocárdio com outras estruturas do mediastino. O pericárdio possui duas folhas, a visceral
e a parietal, que deslizam entre si pela existência de uma tênue camada de líquido pericárdico (fluido
transcelular) (DOUGLAS, 2006).
Lembrete
O sangue venoso retorna ao coração por meio das duas grandes veias cavas (superior e inferior),
que desembocam no átrio direito. A partir dessa câmara, o sangue passa ao ventrículo direito por meio
da abertura da válvula tricúspide. A pequena circulação, ou circulação pulmonar, inicia‑se com a
ejeção do sangue venoso contido no ventrículo direito para a artéria pulmonar por meio da abertura da
válvula pulmonar, que, por sua vez, divide‑se nas artérias pulmonares direita e esquerda, distribuindo
o sangue venoso para os pulmões direito e esquerdo, para ser oxigenado. Ao chegar aos pulmões, o
sangue é oxigenado em um processo denominado hematose (processo de troca gasosa nos alvéolos
pulmonares). Após ser oxigenado, o sangue arterial retorna ao átrio esquerdo do coração por meio das
quatro veias pulmonares, finalizando assim a circulação pulmonar.
É importante ressaltar que, nas artérias, normalmente circula sangue arterial (rico em oxigênio)
e, nas veias, sangue venoso (pobre em oxigênio). Entretanto, na circulação pulmonar, acontece o
contrário, ou seja, nas artérias pulmonares, circula sangue venoso e, nas veias pulmonares, arterial
(CURI; PROCOPIO, 2009).
O sangue arterial que está contido no átrio esquerdo passa ao ventrículo esquerdo por meio
da abertura da válvula mitral (bicúspide). Após o aumento da pressão nessa câmara, o sangue é
bombeado para a artéria aorta por via da válvula aórtica, dando início à grande circulação ou
circulação sistêmica. Da artéria aorta, o sangue é distribuído para todos os tecidos (com exceção dos
pulmões). A partir da artéria aorta, os vasos vão tornando‑se cada vez menos calibrosos à medida que
se aproximam da intimidade dos tecidos, em que formam uma extensa rede de capilares sanguíneos.
É neste último segmento vascular que ocorrem as trocas de nutrientes e gases entre o sangue e
os tecidos. Uma vez que os nutrientes e o oxigênio são difundidos para os tecidos e os produtos
do metabolismo celular, como o dióxido de carbono (CO2), são recolhidos pelos capilares, o sangue
torna‑se venoso. Esses delicados vasos formam as vênulas que se unem, dando origem a vasos cada
vez mais calibrosos. Por fim, são formadas duas grandes veias: a veia cava superior e veia cava
inferior, que conduzem o sangue venoso de volta ao coração (átrio direito), encerrando, desta feita,
o trajeto da grande circulação.
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Unidade II
Circulação pulmonar
Pulmão
Veia
pulmonar
Artéria pulmonar
Circulação sistêmica
Aorta
Átrio
esquerdo
Átrio direito
Ventrículo
Ventrículo esquerdo
direito
Coração
Vasos
capilares
Sangue + CO2
Acabamos de ver que, por meio da pequena circulação, o dióxido de carbono (CO2) produzido pelo
metabolismo celular é retirado do sangue venoso e, ao mesmo tempo, as hemácias do sangue são
saturadas com oxigênio por meio da hematose. Durante o trajeto do sangue pela circulação sistêmica,
ele passa por vários territórios, nos quais são adicionadas ou retiradas várias substâncias do sangue.
Assim, ao passar pelos intestinos, os produtos da digestão são reabsorvidos; enquanto atravessam
os órgãos hematopoiéticos, novas células sanguíneas são repostas, em um processo de contínua
renovação dos elementos figurados do sangue; e, transcorrendo pelas glândulas endócrinas, o sangue
recolhe os produtos dessas glândulas e leva‑os aos diferentes órgãos‑alvo. Por outro lado, durante
sua passagem pelos rins, os metabólitos gerados pelas células são eliminados na forma de urina e,
em seu decurso pelo baço, as células sanguíneas debilitadas são removidas. Finalmente, é por meio
da circulação sistêmica que todas as células do organismo são supridas de elementos necessários
para que exerçam suas funções, além de recolher os produtos tóxicos produzidos pelo seu próprio
funcionamento (CURI; PROCOPIO, 2009).
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FISIOLOGIA
As válvulas cardíacas são fundamentais para o funcionamento do coração como uma bomba. Tanto
as válvulas atrioventriculares (tricúspide e mitral) quanto as semilunares (pulmonar e aórtica) são
retificadoras, ou seja, permitem o fluxo de sangue em uma só direção. Quando as válvulas tricúspide e
mitral estão abertas, o sangue irá fluir para o interior dos ventrículos, que se encontrarão em diástole
(relaxados); no entanto, quando as válvulas pulmonar e aórtica estão abertas, o sangue fluirá dos
ventrículos direito e esquerdo, que se encontrarão em sístole (contraídos), para os pulmões e o restante
do corpo, respectivamente.
É importante notar que o controle de abertura e fechamento das válvulas se dá por diferenças de
pressão no interior das câmaras cardíacas, não havendo outro mecanismo envolvido. Acreditava‑se que os
músculos papilares tinham algum papel na abertura das válvulas atrioventriculares; hoje se sabe que a
contração desses músculos tem a função de impedir a eversão das cúspides, evitando, assim, que a válvula
como um todo projete‑se para o interior dos átrios com a força da sístole.
Uma válvula que não se feche ou abra no momento adequado compromete o ciclo cardíaco inteiro.
Se a válvula mitral não se abre na diástole, compromete o enchimento do ventrículo esquerdo; se não se
fecha durante a sístole, permite que o sangue ejetado pelo ventrículo esquerdo retorne ao átrio esquerdo,
podendo adentrar os pulmões, causando a hipertensão pulmonar. No caso da válvula aórtica, se ela não se
fecha adequadamente, o sangue reflui durante a diástole; se não se abre na sístole, o coração tem de fazer
mais força para movimentar o sangue e acaba hipertrofiando‑se (CURI; PROCOPIO, 2009).
Tanto a sístole quanto a diástole podem ser divididas em diferentes fases, ao longo do tempo, de
acordo com o comportamento dos ventrículos e das válvulas submetidas às pressões que eles geram
durante sua atividade cíclica. Esses eventos determinam o ciclo cardíaco (CURI; PROCOPIO, 2009).
graças à energia cinética da massa de sangue ejetada. A esse fenômeno, dá‑se o nome de inertância.
Em seguida, fecham‑se as válvulas aórtica e pulmonar.
Nónó
SASA Válvulas
Nó abertas
AV
Válvulas
abertas
Contração
Contração
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FISIOLOGIA
As bulhas cardíacas são os sons produzidos pela atividade cardíaca. Quando se contraem, os
ventrículos produzem sons característicos, vibrados essencialmente pelo fechamento das válvulas
atrioventriculares e semilunares. O primeiro som cardíaco é chamado “primeira bulha cardíaca”,
ele coincide com o início da sístole e é representado pelo fechamento das válvulas tricúspide e
mitral. O segundo som cardíaco é a “segunda bulha cardíaca”, ele coincide com o início da diástole
e representa o fechamento das válvulas pulmonar e aórtica. Por se situarem estrategicamente
ao início da sístole e ao início da diástole, o som produzido pelo fechamento das válvulas pode
fornecer informações importantes acerca do funcionamento do coração. Todos os sons anormais
emitidos entre a primeira e segunda bulha cardíaca são causados por fenômenos disparados
durante a sístole, já todos os sons anormais produzidos entre a segunda e a primeira bulha cardíaca
são causados por fenômenos que ocorrem durante a diástole. A detecção dos sons cardíacos faz
parte do exame clínico cardiológico e muitas patologias cardíacas podem ser diagnosticadas pela
ausculta do coração (CURI; PROCOPIO, 2009).
Chamamos débito cardíaco (DC) ou volume cardíaco minuto (VCM) o volume de sangue que o
coração bombeia em um dado intervalo de tempo na pequena ou na grande circulação. É comumente
expresso em litros por minuto (l/min). Podemos definir DC como o volume ejetado pelo coração (dos
ventrículos esquerdo e direito), em um intervalo de tempo; no caso, um minuto.
Para calcularmos o DC, antes, precisamos saber qual é o volume ejetado pelo coração, e a esse
parâmetro damos o nome de volume sistólico (VS). Portanto, o VS é o volume de sangue ejetado em
cada batimento cardíaco, ou seja, a cada sístole. É necessário saber também a quantidade de vezes que
o coração bate em um minuto – esta segunda variável é definida como frequência cardíaca (FC).
Podemos assumir, então, o DC como o volume de sangue ejetado pelo coração em cada sístole (VS) pela
quantidade de batimentos cardíacos em um minuto (FC). A partir disso, chega‑se à seguinte equação
(CURI; PROCOPIO, 2009):
DC = FC x VS
É importante definir e considerar também o conceito de retorno venoso (RV). Trata‑se ele do
fluxo de sangue que retorna ao coração e entra na câmara ventricular. O retorno venoso influencia
diretamente o volume sistólico e, consequentemente, o débito cardíaco. Dentro de determinados limites,
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Unidade II
o coração transfere o que recebe pelo RV em DC. Isso quer dizer que, se mais sangue retornar ao coração,
em um dado intervalo de tempo, causando maior enchimento do ventrículo durante a diástole e, por
conseguinte, aumento da pré‑carga, o mecanismo de Frank‑Starling, pelo maior estiramento das fibras
do músculo cardíaco, garantirá um volume sistólico (VS) maior na sístole seguinte. Portanto, se houver
aumento no RV, também o haverá no VS (CURI; PROCOPIO, 2009).
Observação
Devemos considerar também que as variações da frequência cardíaca não significam necessariamente
variações do débito cardíaco. Uma leitura desatenta da equação
DC = FC x VS
No homem, uma alteração na FC pode ou não alterar o DC. Isso dependerá do VS e, como já discutimos,
do retorno venoso. Uma situação em que o DC é afetado pela FC é o exercício físico. Variações importantes
do DC são conquistadas com a variação da FC, enquanto o VS permanece constante. O DC pode chegar a
valores de 21 l/min, e o trabalho cardíaco quase quadruplica seu valor, permanecendo o VS em 120 ml. É a
frequência da ordem de 175 bpm que garante esse débito. Nesses casos, é bom lembrar que a duração da
diástole pode ser reduzida em cinco vezes, e a sístole mal chega a uma redução pela metade. Em exercícios
cardíacos muito intensos, nos quais o DC chega a 40 l/min, há a necessidade de aumento também do VS,
porque mesmo frequências da ordem de 200 bpm não conseguem dar conta desse valor de débito.
A FC pode ser verificada pelos batimentos de veias no pescoço, mas, normalmente, a palpação
do pulso é uma das primeiras fontes de informação da ação cardíaca. Por estar sincronizado com o
ciclo cardíaco (embora defasado), o pulso periférico permite‑nos saber a frequência cardíaca (CURI;
PROCOPIO, 2009).
As contrações rítmicas e coordenadas das câmaras cardíacas produzem o fluxo sanguíneo que supre
os órgãos do corpo com nutrientes e oxigênio. Essas contrações são ativadas por impulsos elétricos
gerados espontaneamente por células marca‑passo, localizadas no átrio direito, mais precisamente no nó
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FISIOLOGIA
sinoatrial (NSA). Os impulsos elétricos gerados no NSA são transmitidos sequencialmente ao miocárdio
atrial, ou seja, espalham‑se pelo átrio. Em seguida, o impulso elétrico chega ao nó atrioventricular,
localizado entre os átrios e os ventrículos, sofrendo um pequeno retardo. Ao chegar ao feixe de His,
o impulso elétrico desce entre os ventrículos direito e esquerdo, e espalha‑se completamente pelo
miocárdio ventricular por meio das fibras de Purkinje (figura 38). A origem e propagação dos impulsos
elétricos pelas células cardíacas dependem da existência de gradientes iônicos por meio da membrana
plasmática e de mudanças transitórias rápidas na permeabilidade da membrana, que permitam fluxos
de íons de acordo com seus gradientes eletroquímicos (CURI; PROCOPIO, 2009).
Nó sinoatrial
(marcapasso) Átrio esquerdo
Átrio direito
Septo
interatrial
Feixe de His
Nó (fascículo
atrioventricular átrioventricular)
Ventrículo
direito
Ventrículo
Septo esquerdo
interventricular
Rede de Purkinje
(miócito condutor
cardíaco)
As células musculares cardíacas são células excitáveis e, assim como sucede a outras células excitáveis,
o citoplasma é eletricamente negativo em relação ao meio extracelular. Por essa razão, a inserção
de um eletródio no citoplasma detecta uma diferença de potencial elétrico por meio da membrana,
comumente denominado potencial de membrana. O potencial de membranas das células cardíacas
(atriais e ventriculares) em repouso é de aproximadamente ‑80 mV. Como já abordado anteriormente, no
capítulo em que estudamos o sistema nervoso, o potencial de membrana em repouso é determinado
basicamente pela existência de gradientes de concentração de íons por meio da membrana plasmática,
que é determinada basicamente por dois fatores:
No coração, os potenciais de ação diferem em forma e duração de uma região para outra. Podem ser
classificados como rápidos ou lentos, de acordo com a velocidade da fase ascendente de despolarização,
na transição entre o potencial limiar e o pico. Os rápidos efetivam‑se nas células musculares atriais e
ventriculares, bem como nas células do sistema de condução feixe de Hiss e fibras Purkinje; já os lentos,
nas células nodais do NSA e do NAV.
A base iônica do potencial de ação reside nas correntes elétricas que fluem por meio da membrana
plasmática, e cujas características dependem das propriedades biofísicas de canais iônicos, tais como:
seletividade iônica, condutância, dependência de voltagem e cinética de abertura e fechamento.
Os canais iônicos são a base molecular dos processos de gênese e condução da atividade elétrica
da membrana celular. Eles são proteínas integrais de membrana, inseridas na bicamada lipídica,
formando poros seletivos aos íons específicos. O poro do canal pode abrir ou fechar em resposta a
determinados estímulos. Os canais que abrem em resposta a mudanças no potencial de membrana
são chamados canais dependentes de voltagem. Quando os canais iônicos abrem, íons seletivos
podem fluir passivamente por meio do poro, de um lado para o outro da membrana, de acordo com
seus gradientes eletroquímicos, gerando correntes iônicas que irão mudar o potencial da membrana
(CURI; PROCOPIO, 2009).
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FISIOLOGIA
Após despolarização e ascensão até o pico do potencial de ação, ocorre um breve período de
repolarização. Essa repolarização é originada devido à ativação de uma corrente transitória de efluxo
(saída) de K+, que é ativada e inativada muito rapidamente. Em seguida, ocorre o platô de longa‑duração
causado essencialmente pelo influxo de Ca2+ através de canais de Ca2+ tipo L, que sustenta a despolarização
da membrana contra a ação repolarizante das correntes de efluxo de K+, cujos canais iniciam a lenta
ativação nesta fase e atingem máxima condutância na etapa seguinte. A repolarização da célula se dá
com a inativação dos canais de Ca2+ e a ativação máxima dos canais de K+ que leva ao efluxo deste íon e
gera correntes repolarizantes que deslocam o potencial de membrana de volta ao potencial de repouso
(figura 39).
1
2
0
K+ K–
K –
Saída
Entrada
Ca2+
Na+
K+ retificadores de efluxo retardados, que são ativados pela despolarização. Quando o potencial de
membrana se torna hiperpolarizado, um canal de Na+ é aberto, gerando uma corrente de influxo de Na+
que despolariza lentamente a membrana. Quando a despolarização induzida por esse influxo Na+ atinge
potenciais de aproximadamente ‑50 mV, ocorre ativação dos canais de Ca2+ gerando um influxo de Ca2+,
que resultará um próximo potencial de ação (CURI; PROCOPIO, 2009).
Em condições normais, o estímulo para a ativação elétrica das câmaras cardíacas origina‑se no
NSA, sendo este considerado o marca‑passo cardíaco. As células do marca‑passo têm a capacidade de
iniciar um potencial de ação na ausência de qualquer estímulo externo. Essa propriedade é denominada
automatismo e está presente nas células do NSA, NAV, feixe de His e fibras de Purkinje (figura 40).
Portanto, além das células do NSA, as células desses outros locais do eixo de excito‑condução são
potencialmente marca‑passos cardíacos. Essas células não apresentam um potencial de repouso fixo,
e sim uma despolarização basal lenta, causada pelo influxo de Na+ nas células, que, ao atingir um
determinado potencial limiar, desencadeia a despolarização mais rápida, causada pela entrada de Ca2+
nas células e, em seguida, um potencial de ação.
Em condições normais, as células cardíacas estão acopladas eletricamente, de forma que a excitação
de uma única célula resulta na excitação de todas as células do tecido; o miocárdio é considerado
um sincício funcional, pois suas células estão unidas entre si por estruturas chamadas de discos
intercalares. Nesses discos, existem áreas de íntima aposição das membranas das duas células, as
junções comunicantes. As junções comunicantes são canais que comunicam diretamente o citoplasma
das células adjacentes, e são formados por proteínas denominadas conexinas. Esses canais permitem a
condução rápida do potencial de ação entre as células, facilitando o espalhamento da atividade elétrica
pelo miocárdio e o batimento sincronizado do coração. As junções comunicantes são essenciais para a
propagação do potencial de ação cardíaco.
O impulso elétrico formado no NSA, localizado na parede do átrio direito, é transmitido inicialmente
para o átrio direito adjacente e daí para o átrio esquerdo e NAV. No miocárdio atrial, em que o potencial
de ação é do tipo rápido, a velocidade de condução é de 0,8‑1,0 m/s. As câmaras atriais e ventriculares
estão isoladas eletricamente pelo tecido conjuntivo fibroso que separa os átrios e os ventrículos. O
impulso proveniente do NSA para chegar aos ventrículos precisa antes passar pelo NAV. O NAV tem
potencial de ação do tipo lento, com velocidade de condução de 0,02‑0,05 m/s, o que retarda a
transmissão do impulso elétrico dos átrios para os ventrículos. Esse retardo assegura que no momento
da contração atrial os ventrículos estejam relaxados, favorecendo maior enchimento ventricular. Após
trafegar pelo NAV o impulso elétrico atinge o feixe de His, de onde é conduzido para os ventrículos, em
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FISIOLOGIA
alta velocidade, pelo sistema de condução His‑Purkinje. As células do feixe de His e fibras de Purkinje são
especializadas para a condução rápida. Elas têm o diâmetro três vezes maior do que os cardiomiócitos
atriais e ventriculares, menor resistência interna, maior quantidade de junções comunicantes nos discos
intercalares e potenciais de ação do tipo rápido. A velocidade de condução neste sistema é de 1,0‑1,5
m/s no feixe de His e de 3,0‑3,5 m/s nas fibras de Purkinje.
A atividade elétrica dos ventrículos, ativada por impulsos transmitidos pelas fibras de Purkinje,
tem início no septo e ápice ventricular, depois progride para a base ventricular e em cada região
ventricular, progride do endocárdio para o epicárdio. A velocidade de condução dos potenciais de
ação rápidos no miocárdio é de 0,3‑1,0 m/s. A presença de uma extensa rede de fibras de Purkinje na
superfície endocárdica favorece a sincronia das contrações de ambas as câmaras ventriculares (CURI;
PROCOPIO, 2009).
Para entender o princípio desse registro, devemos lembrar que a célula cardíaca em repouso tem
a membrana polarizada (superfície interna carregada negativamente em relação à externa). Quando
excitada, a célula cardíaca gera um potencial de ação e o potencial da membrana atinge valores positivos,
havendo inversão local da polaridade da membrana. Portanto, na superfície da célula, haverá separação
de cargas entre a área ativada (local onde está ocorrendo a despolarização) e a área inativa, ainda não
atingida pelo potencial de ação, formando dipolos. Consideram‑se dipolo dois pontos próximos com
cargas elétricas opostas e de mesmo módulo. Um dipolo, em um meio condutor, cria um campo elétrico.
Embora o corpo seja um meio condutor não homogêneo, ele pode conduzir correntes até a superfície da
pele. Portanto, estando o coração imerso no volume condutor do corpo, podemos detectar na superfície
corporal os potenciais gerados por uma série de dipolos que se deslocam na superfície do coração
durante a propagação do potencial de ação. Assim, o ECG registra a variação temporal do potencial
dipolo entre dois pontos na superfície do corpo.
A sequência de ativação cardíaca é iniciada pela onda P, que representa a despolarização do átrio.
Em seguida, há um seguimento isoelétrico denominado PR, que representa o período de condução do
impulso elétrico no NAV, feixe de His e fibras de Purkinje. Como essas estruturas são muito pequenas
em relação à massa dos músculos atrial e ventricular, o campo elétrico gerado pela propagação dos
potenciais de ação nelas não é captado pelos eletródios colocados na superfície corporal, por esse
motivo o segmento PR é isoelétrico. Após o segmento PR, há um conjunto de ondas Q, R e S, denominado
complexo QRS, que representa a despolarização ventricular. Em seguida, ocorre um segundo segmento
isoelétrico chamado ST, que não registra diferença de potencial na superfície corporal, pois todas as
células estão com um mesmo valor de potencial transmembrana. A onda T final representa a repolarização
ventricular. Podemos identificar, ainda, no traçado do ECG, os intervalos PR e QT. O intervalo PR é o
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Unidade II
+0,5
voltagem
T
P
0
Q S
–0,5 segmento
segmento intervalo ST
PR QRS
intervalo
PR intervalo QT
tempo
A pressão arterial (PA) é uma das variáveis hemodinâmicas de medida mais comum, pois, além de
ser aferida de modo fácil, pode fornecer informações importantes sobre a homeostase cardiovascular. A
pressão arterial, como o próprio nome indica, representa a pressão existente dentro das grandes artérias.
O valor da PA é muito diferente em diversos locais da circulação. Quando medimos a PA de uma pessoa,
em geral, aferimos essa medida no braço, pois a artéria braquial fica, aproximadamente, na altura da raiz
da aorta. Portanto, ao aferirmos a pressão na artéria braquial estamos, na verdade, aferindo a pressão
que o sangue exerce sobre as paredes da artéria aorta torácica. Como ao longo das grandes artérias a
pressão é relativamente constante, a PA medida na artéria braquial passou a ser considerada a medida
padrão da pressão nas grandes artérias (CURI; PROCOPIO, 2009).
A PA é a medida da força exercida pelo sangue contra as paredes das grandes artérias. A pressão
estática, em um vaso de paredes elásticas (como as artérias), aumenta diretamente com o volume de
líquido no interior do vaso, e esse aumento depende das características elásticas da parede. A pressão
dinâmica, em um vaso cilíndrico, depende de outros fatores, dos quais o mais importante é a energia
cinética da massa líquida contida no vaso. Uma massa líquida impulsionada com certa velocidade
tem energia cinética. Ao encontrar uma região de resistência em que a velocidade tende a diminuir,
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FISIOLOGIA
aumenta‑se a pressão. A quantidade de sangue dentro das artérias depende do fluxo de entrada (débito
cardíaco) e de saída (migração do sangue das artérias de maior calibre para a microcirculação), ou seja,
depende do fluxo de sangue que o ventrículo esquerdo ejeta para dentro do sistema arterial e do ritmo
de esvaziamento do sangue dos grandes vasos arteriais para a circulação periférica. O efluxo de sangue
do sistema arterial para a microcirculação depende, em larga escala, da resistência vascular periférica,
a qual se localiza principalmente nas arteríolas.
Como a quantidade de sangue dentro das artérias não é constante, e varia com os fluxos de
entrada e saída do sangue para a microcirculação, a pressão arterial também adquire um caráter
pulsátil, isto é, varia continuamente durante o ciclo cardíaco desde um valor máximo, chamada
pressão arterial sistólica, pois coincide com a sístole ventricular, até um valor mínimo, a pressão
arterial diastólica, que consiste no menor valor da pressão dentro das artérias, fato que ocorre no
final da diástole ventricular.
As grandes artérias são vasos essencialmente elásticos, e a complacência das artérias também
influi na capacidade do sistema arterial de acomodar a massa sanguínea ejetada a cada sístole. Como
a complacência vascular sofre pequenas variações ao longo da vida (há uma redução de complacência
com o envelhecimento), os mecanismos que afetam/regulam a pressão arterial, em curto e médio prazo,
são aqueles capazes de modular primordialmente a mecânica de contração. Consequentemente, esses
mecanismos também modulam o débito cardíaco e/ou a resistência vascular periférica, que depende
basicamente das modificações no diâmetro das arteríolas (quanto menor o diâmetro, maior a resistência
imposta ao fluxo e, inversamente, quanto maior o diâmetro, menor a resistência imposta ao fluxo). O principal
papel do sistema circulatório é fazer o sangue chegar a todos os capilares do organismo em quantidade e
pressão suficientes para manter a boa perfusão de todos os tecidos; para que isso ocorra adequadamente,
é necessário que exista uma diferença de pressão entre as grandes artérias e a microcirculação, suficiente
para deslocar o sangue em direção aos tecidos periféricos.
O coração, como bomba circulatória, é capaz, por meio da contração ventricular, de fornecer essa diferença
de pressão para a perfusão adequada dos tecidos. No entanto, a pressão arterial depende do funcionamento
cardíaco, ou seja, do débito sistólico (DS) e da frequência cardíaca (FC), assim como do grau de contração da
musculatura lisa presente nas arteríolas, responsável pelo maior componente da resistência periférica total
(RPT). Dessa forma, podemos representar a PA com a seguinte equação:
A PA pode ser modificada por alterações do DS, FC e RPT. Esses três parâmetros são fatores modulados
tanto por mecanismos neurais como por mecanismos humorais. O controle neural é determinado, em
grande parte, pela ação do sistema nervoso simpático no coração e arteríolas. O controle humoral, por
sua vez, é assegurado por um grande conjunto de substâncias químicas lançadas na corrente sanguínea
(atuam como hormônios) ou por agentes químicos de ação local (parácrinos ou autócrinos). Pode‑se
dizer que o controle neural é mais eficiente para produzir os ajustes rápidos da pressão arterial, isto é,
aqueles que ocorrem a cada momento, como, por exemplo, nas mudanças posturais, no esforço físico
executado no trabalho ou no exercício, bem como no ciclo sono‑vigília. Para a regulação em longo
prazo, tanto os mecanismos neurais como os humorais estão envolvidos (CURI; PROCOPIO, 2009).
93
Unidade II
Saiba mais
A regulação neural é feita pelo sistema nervoso autonômico, que atua modulando tanto a frequência
e a força dos batimentos cardíacos no coração quanto a resistência periférica total nos vasos periféricos,
principalmente nas arteríolas. Os sistemas nervosos simpático e parassimpático agem intensamente no
DS, FC e RPT. O papel do parassimpático no controle da PA é mais restrito, pois ele é capaz de controlar
apenas a frequência cardíaca. Os vasos sanguíneos, salvo algumas exceções, como na genitália, são
desprovidos de inervação parassimpática; já o simpático, dada a grande distribuição das suas fibras no
sistema cardiovascular, possui elevada capacidade de ajuste pressórico por ser capaz de modular as três
variáveis diretamente envolvidas na regulação da PA.
O sistema nervoso parassimpático atua no coração por meio das fibras do nervo vago. Os neurônios
pré‑ganglionares vagais localizam‑se no bulbo em dois grandes núcleos:
• o núcleo ambíguo.
Os axônios desses neurônios fazem sinapse com corpos celulares de gânglios situados na parede
do coração, na região dos átrios e em regiões próximas aos nódulos cardíacos, os chamados gânglios
intramurais. As fibras pós‑ganglionares vão inervar, principalmente, o nó sinoatrial, a musculatura atrial
e o nó atrioventricular. A inervação parassimpática direcionada para as fibras cardíacas ventriculares
é bastante escassa. Quando as fibras parassimpáticas são estimuladas, libera‑se a membrana ao K+ e
diminui a condutância ao Ca2+, determinando uma hiperpolarização nas células do NSA, do NAV e da
musculatura atrial. Essa hiperpolarização produz bradicardia, ou seja, diminuição da FC, por aumentar
o tempo de condução do impulso elétrico por meio do NAV e reduzir a força de contração. Portanto,
durante uma descarga vagal, tanto a FC cai quanto diminui o débito cardíaco e, de acordo com a equação
da PA, a alteração desses fatores determina a queda da PA. É importante ressaltar que a participação do
nervo vago no controle usual da PA é bastante restrita, somente se dando em situações excepcionais,
como durante a distensão de vísceras abdominais e na ativação de reflexos que ativam a via eferente
vagal (CURI; PROCOPIO, 2009).
94
FISIOLOGIA
O sistema nervoso simpático tem ampla atuação no controle da pressão arterial. Os gânglios
simpáticos, que constituem a cadeia paravertebral do simpático, recebem inervações de neurônios
pré‑ganglionares simpáticos situados na coluna intermédio‑lateral nos segmentos torácico e lombar da
medula espinal. Desses gânglios, axônios de neurônios pós‑ganglionares simpáticos projetam‑se para o
coração e os vasos sanguíneos, nos quais inervam a musculatura lisa das artérias, arteríolas, vênulas e
veias, controlando o tônus desses vasos.
O tônus simpático é dado pela frequência de descarga de potenciais de ação nessas fibras simpáticas.
O grau do tônus, isto é, o nível em que ele é ajustado, determina‑se por uma complexa rede de informações
oriundas de receptores periféricos que monitoram continuamente a PA (barorreceptores), o volume
sanguíneo (receptores de volume nos átrios) e os níveis de O2, CO2 e pH do sangue (quimiorreceptores).
Essas informações são integradas em grupos neuronais do bulbo que, de acordo com as informações
recebidas, aumentam ou diminuem a atividade simpática dirigida para as arteríolas, o que irá ou diminuir
o tônus vasomotor e a resistência periférica. A atividade simpática dirigida para o coração irá influenciar
a FC e a força de contração ventricular, já que uma extensa rede de fibras pós‑ganglionares simpáticas
distribui‑se por todo o coração, incluindo os nódulos e a musculatura atrial e ventricular. Portanto, o
aumento da atividade eferente simpática determina:
• o aumento do tônus nas vênulas, facilitando o retorno venoso e deslocando sangue do lado
venoso, que possui alta capacitância e baixa pressão, para o lado arterial da circulação.
A modulação da atividade simpática exercida pelo sistema nervoso é capaz de ajustar a PA para valores
desejáveis e necessários para as condições do organismo naquele momento (por exemplo, repouso,
atividade física e sono), mediante alteração dos principais componentes que controlam a pressão. Dada
a amplitude dos efeitos simpáticos sobre as variáveis que controlam a pressão arterial, o nível de tônus
simpático passa a ser um componente da mais alta importância para os ajustes pressóricos, tanto de
curto como de longo prazo.
Os neurônios do bulbo que modulam a atividade simpática dirigida para o coração, vasos sanguíneos
e medula da adrenal, e estão localizados no bulbo ventrolateral rostral e no bulbo ventrolateral
caudal. Os núcleos bulbares de regulação simpática recebem uma enorme gama de aferências
provenientes da periferia, aquelas originadas nos barorreceptores, que informam o valor da PA, bem
como de quimiorreceptores que informam a concentração de O2 no sangue arterial, e de regiões mais
altas do sistema nervoso, como do córtex cerebral e hipotálamo. As informações provenientes do córtex,
que fazem sinapse no hipotálamo, são responsáveis pela taquicardia e o aumento da pressão arterial
durante várias situações comportamentais, incluindo raiva, excitação sexual e atividade física. Existem,
também, aferências provenientes da formação reticular mesencefálica, que determinam o aumento da
atividade simpática na ocorrência de dor, resultando em taquicardia e aumento da pressão característicos
dessa condição (CURI; PROCOPIO, 2009).
95
Unidade II
O inverso ocorre quando a pressão arterial diminui. A redução da distensão dos barorreceptores
diminui a frequência de disparos de potenciais de ação nas fibras aferentes dos nervos glossofaríngeo
e vago que se dirigem para o NTS, ocorrendo, então, aumento da atividade simpática, o que
determina taquicardia e aumento da resistência arteriolar, com consequente aumento da PA.
Vê‑se, portanto, que os barorreceptores produzem inibição tônica, via NTS, de núcleos do tronco
cerebral responsáveis por originar a atividade simpática dirigida ao coração e vasos sanguíneos.
Assim, o aumento da atividade barorreceptora faz a pressão cair e a diminuição dessa atividade faz
a pressão elevar‑se.
O controle humoral é feito por uma enorme variedade de substâncias (hormônios e mediadores
químicos de produção e ação local) que interferem, principalmente, na modulação do tônus arteriolar.
Um componente importante que exerce um papel de grande significância na regulação da PA é o
Sistema Renina‑Angiotensina‑Aldosterona – SRAA –, o qual está mais diretamente envolvido
no controle do sódio total no organismo e, consequentemente, do volume extracelular. Esse sistema
também interfere na resistência vascular periférica, uma vez que a angiotensina II (Ang II), o principal
efetor do SRAA, é também capaz de aumentar a atividade simpática dirigida para o coração e os vasos
96
FISIOLOGIA
sanguíneos. O efeito vasoconstritor direto da Ang II no músculo liso vascular e a ação indireta via
sistema simpático determinam o aumento da resistência vascular periférica e, consequentemente, da
pressão arterial (CURI; PROCOPIO, 2009).
As células justaglomerulares presentes no rim são responsáveis pela produção e liberação de uma
enzima denominada renina. O perfil de produção e liberação dessa enzima para a corrente sanguínea é
determinada por três fatores principais:
• a diminuição da volemia;
A Ang II tem efeito direto nas fibras musculares lisas dos vasos sanguíneos, aumentando
o tônus arteriolar, causando a vasoconstrição. Ela facilita a liberação de noradrenalina nos
terminais adrenérgicos, potencializando os efeitos da descarga simpática sobre os vasos
sanguíneos e atua na camada glomerular do córtex da glândula adrenal estimulando a
produção de aldosterona, que, por sua vez, atua nos túbulos renais e determina o aumento
tanto da reabsorção de sódio e água quanto da excreção de potássio. A ativação crônica do SRAA
leva à retenção de sódio e água (aumentando o conteúdo total de sódio e água no organismo),
determinando um aumento do volume extracelular, o que também leva ao aumento da PA. A
ativação do SRAA não produz uma elevação imediata e grande da PA, como ocorre, por exemplo,
mediante a ativação do simpático. Ao contrário, a ativação da produção da renina determina o
aumento lento e progressivo do sódio total do organismo e, consequentemente, um aumento
pequeno, mas mantido e progressivo, da pressão arterial. O SRAA constitui o principal sistema de
regulação em longo prazo da PA.
A Ang II é um dos mais potentes vasoconstritores endógenos – vale ressaltar que a ECA, além
de converter Ang I em Ang II, também é responsável pela degradação da bradicinina, um potente
vasodilatador, o que contribui ainda mais para o efeito vasoconstritor do SRAA. Devido à função dupla
dessa enzima, muitos remédios que tratam a hipertensão são inibidores de ECA, pois, quando se inibe a
ECA, ao mesmo tempo, há a diminuição da produção de Ang II e aumento da vida média da bradicinina,
causando uma redução da pressão arterial (CURI; PROCOPIO, 2009).
97
Unidade II
Outro hormônio que também atua na regulação da pressão arterial é o hormônio antidiurético
(ADH) ou vasopressina. A vasopressina é um hormônio peptídico secretado por neurônios
magnocelulares localizados nos núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo. É um típico
neuro‑hormônio que, uma vez produzido, é armazenado na neurohipófise, e então liberado para a
corrente sanguínea mediante estímulos específicos. O principal estímulo, para que ocorra a liberação
da vasopressina, é o aumento da osmolaridade intracelular, responsável pela sensação de sede. O
aumento da osmolaridade intracelular é consequência imediata do aumento da osmolaridade
plasmática. Uma de suas principais ações é a retenção de água renal, independente da retenção de
eletrólitos. Em situações em que o indivíduo permanece por tempo prolongado sem ingerir água ou,
ainda, quando há perda excessiva de água sem que haja perda de solutos (por exemplo, respiração),
ocorrerá a liberação de vasopressina. Em resumo, a vasopressina é liberada quando há deficit de água
no organismo.
A vasopressina atua nos túbulos renais, mais precisamente nos túbulos coletores, induzindo
a abertura de aquaporinas, que são poros que permitem a passagem de água, por difusão, pela
membrana plasmática para o interstício hipertônico. A retenção renal de água promove aumento
de água total do organismo e diluição do meio extracelular e, em um segundo momento, tal efeito
estende‑se também para o meio intracelular. Sob o efeito desse hormônio, o indivíduo elimina urina
bastante concentrada e de pequeno volume. Tendo em vista que a vasopressina aumenta o volume
do meio extracelular, ele participa da regulação da pressão arterial. Do ponto de vista fisiológico,
entretanto, esse papel é bem menos importante do que a regulação determinada pelo sistema nervoso
simpático e pelo SRAA.
Saiba mais
98
FISIOLOGIA
6 SISTEMA SANGUÍNEO
Denomina‑se sangue o líquido que está contido e circula em um sistema fechado de vasos sanguíneos,
sendo bombeado pelo coração. A partir do ventrículo esquerdo, o sangue arterial é bombeado pelas
artérias e arteríolas até os capilares, quando entra em equilíbrio com o líquido intersticial. Os capilares
deságuam, por meio das vênulas, nas veias, e o sangue retorna ao átrio direito – esse fluxo constitui a
grande circulação (sistêmica). A partir do átrio direito, o sangue venoso flui para o ventrículo direito, que
bombeia o sangue para os pulmões – esse fluxo constitui a pequena circulação (pulmonar). Nos capilares
pulmonares, o sangue equilibra‑se com o O2 e o CO2 do ar alveolar. O sangue não está imóvel, mas circula
nos vasos sanguíneos e, ao mesmo tempo, está em ativa troca com o meio intersticial. Deve‑se levar em
consideração que os líquidos corporais formam com o sangue um sistema de líquidos de intercâmbio
permanente, banhando as células e permanecendo em troca com elas e com o meio externo. Desse
modo, o sangue e os líquidos corporais formam o meio interno (DOUGLAS, 2006; GANONG, 2006).
A volemia precisa estar dentro de valores muito estritos para que haja uma correta função respiratória.
Diversos mecanismos mantêm um equilíbrio entre os fatores que aumentam o volume, ou fatores de
produção de sangue, às vezes chamados fatores de transfusão, e os fatores que diminuem a volemia,
ou fatores de perda do sangue, às vezes chamados fatores de sangria.
Por outra parte, dentre os fatores de perda que tendem a diminuir a volemia, estão
• a destruição dos glóbulos vermelhos circulantes (hemólise, ação do baço e sistema macrofágico);
• a excreção de eletrólitos e de água no nível renal na formação de urina; outras excreções, como
ocorre no nível fecal, sudorese, vômitos ou sangramentos; e a passagem para o compartimento
intersticial, formando‑se edemas ou exsudatos (DOUGLAS, 2006).
99
Unidade II
Em condições fisiológicas os fatores de produção são iguais aos fatores de perda de sangue, a
volemia mantém‑se normal e é denominada normovolemia. Se a produção de sangue for maior
que a perda, há hipervolemia ou expansão do volume sanguíneo. A hipervolemia pode manter
a relação entre volume plasmático e volume corpuscular; nesse caso, trata‑se de hipervolemia
normocitêmica, como ocorre em uma transfusão total de sangue; no recém‑nascido, há hipervolemia
policitêmica já que o volume corpuscular está exagerado. A hipervolemia oligocitêmica acontece
na gravidez, quando o volume plasmático está exagerado em relação ao volume corpuscular.
Nem todo o volume sanguíneo circula com a mesma velocidade de maneira uniforme, ou seja,
em certos territórios, a velocidade circulatória é variável. Por exemplo, nos vasos sanguíneos
do baço, nas veias e sinusoides do fígado, no pulmão e na pele, o sangue circula com uma
velocidade bem reduzida, em relação ao sangue que circula por outros territórios. Os tecidos que
apresentam uma circulação lenta comportam‑se como reservatórios de sangue; isso porque
seriam de fato verdadeiros depósitos, ou reservas de sangue, que podem acelerar suas velocidades
de circulação e assim aumentar o volume de sangue que circula com velocidade maior.
O plasma constitui a parte líquida não celular do sangue, representando 55%‑60% da volemia,
medido pelo hematócrito. Trata‑se de uma solução aquosa, cujo conteúdo de água é de 90%‑92%; essa
água representa 5% do peso corporal e 25% do volume de água extracelular.
Desde modo, o plasma, junto ao líquido intersticial, formam o volume de líquido extracelular
(LEC). Os glóbulos vermelhos (45%) não fazem parte do compartimento extracelular, porque se
tratam de células sanguíneas. Dos solutos presentes no plasma, destacam‑se os íons Na+, Cl‑, K+,
Ca2+, PO4 2‑, Mg2+, e HCO3 ‑. Estes eletrólitos são importantes no controle do volume líquido em geral
e, em particular, do volume extracelular, mas não do volume plasmático, pois sua distribuição é
similar entre o plasma e o líquido intersticial. Em relação ao meio intracelular, a distribuição desses
eletrólitos é muito diferente, isso se deve às características funcionais da membrana plasmática
(DOUGLAS, 2006).
100
FISIOLOGIA
No sangue, também estão presentes substâncias orgânicas que são importantes e estão representadas
fundamentalmente pelas proteínas plasmáticas, pelo nitrogênio não proteico (como ureia e ácido
úrico), pela glicose e pelos lipídios, geralmente ligados a uma proteína, formando lipoproteínas.
Em concentrações muito baixas, porém fisiológicas, encontram‑se hormônios e outras substâncias
fisiologicamente ativas.
As proteínas plasmáticas constituem uma porcentagem importante dos solutos plasmáticos, porque
no adulto normal atingem uma concentração de 6,5%‑7%. Podem ser diferenciadas em três grandes
grupos: albumina, globulinas e fibrinogênio. A albumina é a proteína plasmática de menor peso molecular,
e está no limite do tamanho dos poros funcionais da membrana capilar. Desse modo, somente moléculas
menores que a albumina podem atravessar as paredes capilares e passar até o interstício; o resto (que é
a maior parte) é retido nos capilares e no sangue. São moléculas sintetizadas no fígado e são totalmente
destruídas e substituídas a cada duas semanas.
As globulinas constituem uma família de proteínas com peso molecular maior que o da albumina.
São moléculas formadas no fígado e no sistema macrofágico, sendo algumas liberadas na circulação
e outras permanecem ligadas às células, assim como aos linfócitos, dos quais podem ser liberadas por
estímulos como os corticosteroides. Nesse grupo de proteínas, figura a maior parte dos anticorpos ou
imunoglobulinas. Finalmente, o fibrinogênio é uma proteína de alto peso molecular que tem forma
alongada e diâmetro estreito, formando‑se também no fígado e desempenhando um papel muito
importante na coagulação do sangue. Durante o processo de coagulação sanguínea, o fibrinogênio
é hidrolisado, gerando a fibrina e sendo retirado totalmente do sangue. Quando o plasma sanguíneo
carece de fibrinogênio, passa a chamar‑se soro.
101
Unidade II
Uma das principais funções das proteínas plasmáticas é o transporte de substâncias no sangue. Os
lipídios, por exemplo, formam lipoproteínas, já que são insolúveis em água e, portanto, não poderiam
ser dissolvidos diretamente no meio aquoso. Do mesmo modo, substâncias como o ferro, o cálcio, o
cobre, sais biliares, a bilirrubina, hormônios e drogas precisam de um carregador proteico. Isso não
significa que todas as substâncias devem ser transportadas por proteínas, porque muitas simplesmente
se dissolvem na água, como os aminoácidos. Muitos hormônios precisam de proteínas para circular
pelo sangue, como os hormônios da glândula tireoide, que precisam de vários transportadores
proteicos: uma albumina denominada pré‑albumina ligante de tiroxina (TBPA) e uma globulina
chamada TBG que se liga à tiroxina. Por outro lado, o iodo liga‑se também a proteínas plasmáticas,
denominadas PBI. As proteínas também transportam produtos do metabolismo, como o ácido lático,
ou enzimas.
A partir de proteínas plasmáticas que são degradadas por enzimas específicas, podem‑se formar
novos compostos com funções diferentes. Por exemplo, a partir de uma globulina pode‑se formar
bradicinina ou angiotensina, que são polipeptídios fisiologicamente ativos (DOUGLAS, 2006).
Figura 27 – Hemácias
Todos os elementos figurados são formados nos órgãos hematopoiéticos, que no adulto normal
estão representados pela medula óssea, localizada no interior dos ossos. A medula óssea produz todos
os tipos de células sanguíneas, mas alguns tipos de linfócitos são produzidos em outros órgãos, como
os gânglios linfáticos. Nas crianças, as células sanguíneas são produzidas ativamente das cavidades
medulares de todos os ossos. Em torno dos 20 anos de idade, a medula óssea das cavidades dos ossos
longos, à exceção da porção superior do úmero e do fêmur, torna‑se inativa. A medula ativa é denominada
medula vermelha, enquanto a medula inativa infiltrada por gordura é denominada medula amarela
(DOUGLAS, 2006; GANONG, 2006).
102
FISIOLOGIA
A medula óssea é, na realidade, um dos maiores órgãos do corpo, e seu tamanho e peso aproximam‑se
dos do fígado. Trata‑se também de um dos órgãos mais ativos. Em condições normais, 75% das células
presentes na medula óssea pertencem à série mieloide de células produtoras de leucócitos, e apenas
25% consistem em eritrócitos em processo de maturação, apesar de existirem 500 vezes mais eritrócitos
do que leucócitos na circulação. Essa diferença na medula reflete o fato de que a sobrevida média
dos leucócitos é curta, e a dos eritrócitos é longa. Em determinadas condições patológicas, pode‑se
estabelecer, como fenômeno compensador, atividade hematopoiética de todas as séries sanguíneas no
baço, e até em outros órgãos, como o fígado (DOUGLAS, 2006; GANONG, 2006).
Linfócito Monócito
Leucócitos mononucleados
Eosinófilo ou
Neutrófilo acidófilo Basófilo
Leucócitos polimorfonucleados
103
Unidade II
foi completamente destruída. O sangue de cordão umbilical constitui a melhor fonte atual dessas
células‑tronco hematopoiéticas (GANONG, 2006).
Estruturalmente, as diferenças mais importantes, entre as células circulantes, radicam no fato de que
as plaquetas são apenas fragmentos citoplasmáticos derivados de uma célula que se localiza na medula,
o megacariócito, de modo que seriam verdadeiras bolsas de enzimas, com um metabolismo ativo,
desempenhando um papel importante na hemostasia. Os megacariócitos, que são células gigantes,
formam as plaquetas por fragmentação de porções do citoplasma que logo são liberadas na circulação.
Cerca de 60%‑75% das plaquetas liberadas da medula óssea estão no sangue circulante, e o restante
é encontrado principalmente no baço. As plaquetas aderem ao colágeno exposto na área da lesão,
sendo as paredes vasculares constituídas por uma porcentagem apreciável de tecido conjuntivo e fibras
colágenas. Quando as plaquetas estão aderidas, apresentam modificações metabólicas importantes,
como a liberação de substâncias produzidas ou acumuladas por elas.
Os eritrócitos (hemácias) são células altamente especializadas, sem núcleo nem mitocôndrias,
contendo um alto teor de um pigmento respiratório, a hemoglobina, que lhes permite transportar O2
e CO2. Trata‑se de discos bicôncavos, produzidos na medula óssea. Como outras células os eritrócitos
sofrem contração quando colocados em soluções com pressão osmótica maior que a do plasma normal.
Em soluções com pressão osmótica menor, os eritrócitos intumescem, transformando‑se em células
esféricas, em lugar da forma em disco e perdem finalmente a sua hemoglobina (hemólise). A hemoglobina
dos eritrócitos hemolisados dissolve‑se no plasma, conferindo‑lhe cor vermelha (DOUGLAS, 2006;
GANONG, 2006).
O baço é um filtro importante para o sangue, visto que remove os esferócitos e outros eritrócitos
anormais. Além disso, contém muitas plaquetas e, também, desempenha um papel significativo no
sistema imune. Os eritrócitos anormais são removidos se não forem tão flexíveis quanto os normais, pois
não conseguem espremer‑se através das fendas existentes entre as células endoteliais que revestem os
seios esplênicos (GANONG, 2006).
O pigmento vermelho que transporta o oxigênio nos eritrócitos dos vertebrados é a hemoglobina,
uma molécula globular constituída por quatro subunidades. Cada subunidade comporta um grupo
heme (que contém ferro) conjugado a um polipeptídio. Os polipeptídios são descritos coletivamente
como a porção globina da molécula de hemoglobina. O O2 liga‑se ao Fe2+ presente no grupo heme da
hemoglobina, formando a oxihemoglobina. A afinidade da hemoglobina pelo O2 é afetada pelo pH, pela
temperatura e pela concentração de 2,3‑difosfoglicerato (2,3‑BPG) nos eritrócitos. O 2,3‑BPG e o H+
competem com o O2 pela ligação à hemoglobina desoxigenada, diminuindo a afinidade da hemoglobina
pelo O2 ao provocar uma mudança conformacional das quatro cadeias peptídicas, impedindo a ligação
do O2 ao grupo heme.
de transportar oxigênio, havendo palidez de pele e tecidos, fraqueza e fadiga, sensação de cansaço,
baixo rendimento, dor de cabeça, taquicardia e aumento da ventilação pulmonar (dispneia). A anemia
ferropriva ou ferropênica pode ser causada exclusivamente por insuficiência de ingestão de ferro na
dieta ou por alteração da absorção intestinal ou do transporte plasmático. Em resumo, existem várias
causas que determinam o quadro anêmico, por exemplo, por:
Os leucócitos não representam um tipo único de célula, mas uma família de elementos celulares,
agrupando propriedades comuns e diferentes, segundo o tipo de glóbulo branco. Em condições
normais, o sangue humano contém de 4 mil a 11 mil leucócitos por microlitro. Entre esses leucócitos,
os granulócitos (leucócitos polimorfofuncionales, PMN) são os mais numerosos. Os granulócitos
jovens têm núcleos em forma de ferradura, que se tornam multilobulados à medida que as células
amadurecem. A maioria contém grânulos neutrofílicos (neutrófilos), porém alguns contêm grânulos
que se tingem com corantes ácidos (eosinófilos), enquanto outros exibem grânulos basofílicos
(basófilos). Os outros dois grupos celulares normalmente encontrados no sangue periférico são os
linfócitos, que têm grandes núcleos redondos e citoplasma escasso, e os monócitos, que apresentam
citoplasma agranular abundante e núcleos em forma de rim. Ao atuar em conjunto, essas células
proporcionam ao corpo uma poderosa defesa contra tumores e infecções virais, bacterianas e
parasitárias.
105
Unidade II
Os três tipos de elementos figurados do sangue passam por três etapas fisiológicas (figura 44):
• a circulação dos glóbulos na corrente sanguínea, etapa em que os elementos desempenham sua
função. As hemácias e as plaquetas desempenham seu papel no próprio sangue, e os leucócitos
passam do sangue para os tecidos em que cumprem sua função defensiva;
• finalmente, os elementos passam por uma etapa chamada hemocaterese ou eliminação dos
corpúsculos sanguíneos, função que ocorre em órgãos específicos, como o baço e o fígado para
todos os elementos, além dos gânglios linfáticos e dos tecidos, em geral, para os leucócitos.
(DOUGLAS, 2006).
Lembrete
Órgãos de
Órgãos produtores de armazenamento
células sanguíneas
Globina
Heme
Heme
Órgãos que destroem
células sanguíneas
Glóbulos brancos
Glóbulos vermelhos
Plaquetas
106
FISIOLOGIA
As membranas dos eritrócitos humanos contêm uma variedade de antígenos de grupos sanguíneos,
também denominados aglutinógenos. Os mais importantes e bem conhecidos são os antígenos A e B,
apesar da existência de muitos outros.
107
Unidade II
AB
Anti-A Anti-B
Os indivíduos com sangue do tipo AB são chamados “receptores universais”, visto que não possuem
aglutininas circulantes e, assim, podem receber sangue de qualquer tipo sem desenvolver uma reação
transfusional em decorrência de incompatibilidade ABO. Os indivíduos do tipo O são conhecidos
como “doadores universais”, visto que não tem os antígenos A e B, de modo que o sangue tipo O
pode ser dado a qualquer pessoa sem provocar reação transfusional devido à incompatibilidade ABO
(figura 46). Entretanto, isso não significa que o sangue deva ser transfundido sem antes de submeter
a uma prova cruzada, exceto nas emergências mais extremas, visto que sempre existe a possibilidade
de reações ou de sensibilização em decorrência de incompatibilidades em outros sistemas além do
sistema ABO. Na prova cruzada, os eritrócitos do doador são misturados com o plasma do receptor
em uma lâmina, e, a seguir, observa‑se se ocorre ou não aglutinação. É também aconselhável verificar
a ação do plasma do doador sobre os eritrócitos do receptor, embora isso raramente seja uma fonte
de problemas (GANONG, 2006).
108
FISIOLOGIA
A A B B
AB
AB
Além dos antígenos do sistema ABO, os do sistema Rh são os de maior importância clínica. O fator
Rh, assim denominado em razão do macaco rhesus, por ter sido estudado pela primeira vez utilizando‑se
o sangue desse animal, é um sistema composto principalmente pelos antígenos C, D e E, embora na
realidade contenha muitos mais antígenos. Ao contrário dos antígenos ABO, o sistema não tem sido
detectado em outros tecidos além dos eritrócitos. Sem dúvida alguma, o componente D é o mais
antigênico, e a designação Rh‑positivo, como é geralmente utilizada, significa que o indivíduo possui
aglutinógeno D. O indivíduo Rh‑negativo carece de antígeno D e, portanto, produz a aglutinina anti‑D
quando são injetadas células D‑positivas. O soro de tipagem Rh utilizado na tipificação sanguínea de
rotina é o anti‑D. Cerca de 85% dos caucasianos são D‑positivos e 15% são D‑negativos; mais de 99%
dos asiáticos são D‑positivos. Ao contrário dos anticorpos contra o sistema ABO, não há formação
de anticorpos anti‑D sem exposição do indivíduo D‑negativo a eritrócitos D‑positivos por meio de
transfusão ou da entrada de sangue fetal na circulação materna, figura 47 (GANONG, 2006).
Sangue Rh+ Sangue Rh–
Transfusão
não indicada
Transfusão
indicada
6.4 Hemostasia
A hemostasia é o processo de formação de coágulos nas paredes dos vasos sanguíneos lesados e
de prevenção da perda de sangue ao mantê‑lo em estado líquido dentro do sistema vascular. Existe
um conjunto de mecanismos sistêmicos inter‑relacionados complexos, que operam para manter esse
equilíbrio entre a coagulação e a anticoagulação (GANONG, 2006).
109
Unidade II
A constrição de uma arteríola ou de uma pequena artéria lesada pode ser tão pronunciada a ponto de
obliterar a sua luz. A vasoconstrição é produzida pela serotonina e por outros vasoconstritores liberados
pelas plaquetas que aderem às paredes dos vasos lesados.
A frouxa agregação das plaquetas no tampão temporário torna‑se mais firme, e ele é convertido
no coágulo definitivo pela fibrina. O mecanismo da coagulação responsável pela formação da fibrina
envolve uma cascata de reações em que ocorre a ativação das enzimas inativas, que, por sua vez, ativam
outras enzimas inativas.
110
FISIOLOGIA
A B
A conversão do fibrinogênio em fibrina é catalisada pela trombina. A trombina é uma serina protease
que é formada a partir de seu precursor circulante, a protrombina, pela ação do fator X ativado. Além
disso, exerce outras ações, incluindo ativação das plaquetas, das células endoteliais e dos leucócitos
mediante pelo menos um receptor acoplado à proteína.
A tendência do sangue de coagular é equilibrada in vivo por reações limitantes, que tendem a
impedir a coagulação no interior dos vasos sanguíneos e a degradar qualquer coágulo que possa se
formar. A antitrombina III é um inibidor da protease circulante, que se liga à serina protease do sistema
de coagulação, bloqueando sua atividade como fatores de coagulação. Essa ligação é facilitada pela
heparina, um anticoagulante de ocorrência natural.
O endotélio dos vasos sanguíneos também desempenha um papel ativo ao impedir a extensão dos
coágulos no interior dos vasos sanguíneos. Todas as células endoteliais, exceto as da microcirculação
cerebral, produzem trombomodulina, uma proteína de ligação da trombina, que expressam em
sua superfície. No sangue circulante, a trombina é um pró‑coagulante; entretanto, quando se liga à
trombomodulina, transforma‑se em um anticoagulante, visto que esse complexo ativa a proteína C.
A proteína C ativada, junto ao seu cofator, a proteína S, inativa fatores de coagulação, aumentando a
formação de plasmina.
111
Unidade II
Observação
Resumo
112
FISIOLOGIA
Exercícios
Questão 1. (Enade 2013) A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a
alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e
as alterações metabólicas, consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares. O enfermeiro,
como membro da equipe da Saúde, deve participar do processo de decisão da terapêutica a ser
utilizada e deve considerar os fatores de risco a que os indivíduos estão expostos, tais como: idade,
tabagismo, dislipidemias, diabetes e história familiar. A decisão terapêutica para HAS pode ser
observada no quadro abaixo.
ll – A instituição precoce do tratamento medicamentoso visa à proteção dos órgãos-alvo, que nunca
deverão sofrer alterações.
lll – O tratamento medicamentoso visa à reversão total das lesões causadas pela elevação da pressão
arterial.
IV – Os pacientes com alto risco adicional para doença cardiovascular devem ser tratados pela
associação de medicamentos e orientados para mudança de estilo de vida.
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FISIOLOGIA
A) l e lll.
B) l e lV.
C) ll e lll.
D) l, ll e lV.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: não se institui precocemente uma terapia medicamentosa sem que tenham ocorrido
danos ao organismo, pois o medicamento por ser uma droga já implica sobrecarga de alguns órgãos. Os
medicamentos para hipertensão não são capazes de reverter os danos já causados.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: uma terapia medicamentosa nunca deve ser iniciada em organismos sadios como meio
de prevenção, uma vez que não se tem certeza se a doença realmente irá se manifestar. Mesmo quando
já há sintomas, os medicamentos conseguem melhorar as condições de vida, mas não revertem os danos
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Unidade II
dos órgãos-alvo. Associada a terapia medicamentosa, é necessária a mudança de hábitos para eliminar
potenciais fatores de risco.
Porque
B) As duas afirmativas são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta
da primeira.
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