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Na abordagem apresentada por Paulo Freire dentro deste quadro da educação e massificação, seu
ponto de partida é a educação vigente no seu tempo cuja característica principal, de acordo com
Aranha (1996), era a narração. Sobre este modelo educativo vigente no seu tempo Paulo Freire
escreve na sua obra Pedagogia do Oprimido “quanto mais analisamos as relações educador-
educandos na escola, em qualquer dos seus níveis, ou fora dela, parece que mais nos podemos
convencer de que estas relações apresentam um carácter especial e marcante – o de serem
relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras” (FREIRE, 1975: 81).
Isto vislumbra a aquilo que é a visão tradicional da educação como sendo processo de
socialização em que o indivíduo é concebido como uma simples tabua rasa da qual o ambiente
externo se encarrega por cravar as suas impressões. Esta constitui a visão de educação
desenvolvida a partir de uma perspectiva empirista que concebe o homem como um balde vazio
e que a sociedade o preenche.
Assim, a eduacção no contexto brasileiro de paulo Freire tendia a ser uma “narração de
conteúdos que, por isto mesmo, tendiam a petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto (…).
Narração ou dissertação que implica num sujeito – o narrador – e um objecto paciente, ouvintes
– os educandos” (FREIRE, 1975: 81).
Esta concepção da educação caracterizada pela transmissão acrítica da realidade, dos valores,
dos hábitos, dos custumes, da visão do mundo, em uma só palavra; da cultural, tende a colocar a
realidade social como algo estático, parado, sem desdobramento, sem dialéctica, sem movimento
ulterior. A própria visão do mundo é a mesma que é transmitida em todas as gerações o que
simplesmente permite a perpetração das práticas existentes.
Segundo Aranha (1996), as práticas derivadas dessa concepção são verbalistas, voltadas para a
transmissão e avaliação de conhecimentos abstractos. O professor deposita o saber no seu aluno
que aparece como sendo vazio.
Neste sentido, “define-se ai uma relação de verticalidade (o saber é doado de cima para baixo) e
do autoritarismo (quem sabe, manda” (ARANHA, 1996: 208).
De acordo com Paulo Freire (1975), neste tipo de educação, o educador apresenta-se como sendo
o seu principal agente e o ensino encontra-se assente do professor; o real sujeito desta educação é
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o educador, e sua tarefa indeclinável é encher os educandos dos conteúdos que ele apresenta.
Assim,
Entretanto, convém salientar que esta constatação crítica da educação clássica não inicia com
paulo Freire, pois a Escola de Frankfurt, mais exactamente Theodor Adorno 1, ao analisar as
causas que haviam levado a alemanha hitleriana a cometer os actos de Auschwitz 2, concluiu que
1
Theodor Ludwig Wiesengrund Adorno, ou simplesmente Theodor Adorno, filósofo alemão de origem Judaica,
nasceu em 1903 em Frankfurt, Alemanha, e morreu em 1953 em Visp na Suíça. Estudou filosofia, sociologia,
psicologia e música na Universidade de Frankfurt e depois foi para Viena, na Áustria, em 1925 aprender a arte de
composição. De volta à Alemanha, trabalhou no Instituto de pesquisa social de Frankfurt, instituição dirigida por
Marx Horkheimer.
2
a educação estava totalmente virada para a dominação dai que propôs uma educação virada para
a autonomia com vista a convivência social.
Na perspectiva de Adorno, a educação não pode somente estar voltada para a socialização do
indivíduo, pois isso significaria uma automática identificação do indivíduo com a sociedade, mas
deve estar voltada também para a reflexão crítica do que é considerado como sustento da
sociedade tendo como objectivo final a autonomia do indivíduo, ou seja, a educação deve estar
voltada para a não dominação do indivíduo pela sociedade.
A palavra autonomia, de acordo com Mora (1978), refere-se ao facto de uma realidade se reger
por uma lei própria, distinta de outras leis mas não forçosamente incompatível com elas. Em
sentido ético, afirma-se que uma lei é autónoma quando tem em si mesma o seu fundamento e a
razão própria da sua legalidade. Este sentido foi elaborado especialmente por Kant. De acordo
com Japiassú e Marcondes (2001),
Entretanto, o processo social de dominação retirou do homem a capacidade de pensar por conta
própria, retirou dele a capacidade de autonomia das suas acções, de falar e de agir por si mesmo.
Esse processo social tornou o homem tutelado por entidades externas a si próprio, e um sujeito
que precisa de tutela, é um indivíduo sem capacidade de autonomia, ele precisa de alguém para
conduzi-lo.
Assim, a Educação para autonomia significa necessariamente uma educação com vista a não
dominação do sujeito por forças exteriores, ou seja, a educação, pensada por Adorno, “seria a
2
Uma rede de campos de concentração e de extermínio de Judeus localizados na Polónia. É o maior símbolo de
Holocaustos perpetrados pelas tropas nazis durante a segunda guerra Mundial.
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educação para promover a capacidade do sujeito para libertar-se dessa condição de tutela, para
torná-lo autónomo” (VILELA, 200: 49).
Voltando ao pensamento de Paulo Freire, encontramos esta sua visão crítica da educação
bancária em que o educador e educando se arquivam uma vez que, nesta visão distorcida da
educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. “Só existe saber na invenção,
na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo e
com outros, busca esperançosa também” (FREIRE, 1975: 83).
Na visão bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam
nada sabe. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão
– absolutização da ignorância, que constitui o que se chama de alienação da ignorância, segundo
a qual esta se encontra sempre no outro. Assim, para Zatti, “a massificação transforma os
homens em seres passivos, acomodados, ajustados, incapazes de decidir, sem liberdade e,
portanto, heterónomos. Por isso, o homem não deve acomodar-se no mundo, e sim integrar-se no
e com o mundo” (ZATTI, 2007: 41).
O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o
que sabe, enquanto os educandos serão sempre o que não sabem. Assim, a rigidez destas
posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca pelo saber.
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latina “qui duci, ducet”3. Isto significa que é educando, ao mesmo tempo que se dialoga, que
também vai se aprendendo.
Ao mesmo tempo, paulo Freire concebe a educação bancária como sendo irracional por
aprisionar tanto o educador, assim como os educandos, na medida em que aquele se cinge
somente naquilo que sabe e convencido da sua sabedoria, ao passo que os educandos ignorantes
do seu potencial, somente retêm e repetem o que o educdor os apresenta.
Neste sentido, há necessidade de reverter este tipo de educação que não possibilita um ulterior
desdobramento por meio de uma reforma para uma educação problematizante, crítica, dialogante
com vista a atingir um patamar de uma “educação para a decisão, para a responsabilidade social
e política” (FREIRE, 1967: 86).
Paulo Freire propõe uma educação para o desenvolvimento e para a democracia, capaz de
oferecer ao educando instrumentos com que resistisse aos poderes do desenraizamento, da
dominação, da massificação, do acúmulo de conhecimentos da qual a civilização industrial
sempre se apresentava como apologista.
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Quem ensina aprende
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Numa última instância podemos destacar que Paulo Freire apresentava uma proposta educativa
O factor acrítico e massificador dos meios de comunicação já havia sido denunciado igualmente
pelos teóricos da Escola da Frankfurt na Alemanha, principalmente por Adorno e Horkheimer ao
cunharem o termo indústria cultural para contrariar a ideia de consumo de massas avançado na
sua época. O desejo dos teóricos da Escola de Frankfurt era de contestar a ideia de que a
indústria cultural é uma expressão que surge de maneira espontânea da alma do povo. As
mercadorias culturais da indústria embora adequadas à clientela, distanciam-se delas ao máximo
de ponto de vista do processo produtivo e dos interesses que representam.
De acordo com Reale e Antiseri (2006), a indústria cultural é constituida pela mídia: cinema,
televisão, rádio, discos, publicidade etc., é por meio destes órgãos de comunicação que o poder
impõe valores e modelos de comportamento, cria necessidades e estabelece a linguagem. e esses
valores, necessidades, comportamentos e linguagem são uniformes porque devem alcançar a
todos; são amórfos, assépticos; não emancipam, nem estimulam a criatividade; pelo contrário,
bloqueam-na, porque habituam a receber passivamente as mensagens.
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“A cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. O cinema, o rádio
e as revistas constituem um sistema, cada sector é coerente em si mesmo e todos o
são em conjunto (…). Sob o poder do monopólio, toda cultura de massa é
idêntica, e seu esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se
delinear. Os dirigentes não estão mais sequer muito interessados em encobrí-lo,
seu poder se fortalece quanto mais brutalmente ele se confessa de público. A
verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia
destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles definem-se a si
mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus
directores gerais suprimem toda dúvida quanto á necessidade social de seus
produtos” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985: 113-114).
A tecnologia da montagem e do efeito e o realismo exagerado faz com que o cinema ande muito
rápido para permitir reflexão do seu espectador, fazendo com que o indivíduo passe a se integrar
à multidão, ou seja, “a unidade evidente do macrocosmo e o microcosmo demonstra para os
homens o modelo de sua cultura: a falsa identidade do universal e do particular” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985: 113 – 114).
Por outro lado, o rádio enquanto comando aberto e de longo alcance passou a ser o instrumento
que coloca o discurso como verdadeiro e absoluto às massas. O que acontece na sociedade, por
meio da indústria cultural, é a imposição de valores e formas de vida altamente padronizada dos
fabricantes da cultura aos meros consumidores.
Nesta ordem de ideias, as mercadorias culturais deixam de ser sinónimos de criações artísticas e
literárias, englobando a partir de então o conjunto de actividade económica. O movimento da
indústria cultural passa a processar um conceito que os bens de consumo adquirem no mercado.
Automóveis e calçados começam a ser consumidos como veículos de determinados valores
comuns, promovidos publicamente através dos meios de comunicação. Os produtos da indústria
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passam a ser produzidos e vendidos como bens simbólicos e, pouco a pouco, assumem o carácter
de mercadorias culturais e tecnologicas.
Para paulo Freire, esta atitude da educação massificadora faz com que o homem se encontre
totalmente desenraizado, pela aceitação acrítica e quase mítica da realidade de uma forma
pacional e a identificação passiva constitui a única característica deste modelo de educação.
Nisto configra-se “identificação com formas míticas de explicação do seu mundo. Seu
comportamento é o do homem que perde dolorosamente o seu endereço. É o homem
desenraizado” (FREIRE, 1967: 91).
A ideia geral desenvolvida por Paulo Freire na sua concepção da educação em busca do
esclarecimento compreende-se dentro do contexto do seu pensamento e da constatação crítica
que ele faz da educação vigente, em que o adormecimento das massas aparecia como uma
necessidade para a manutenção da sociedade de então. Na sua visão de que a “educação das
massas se faz, assim, algo de absolutamente fundamental” (FREIRE, 1976: 36), parece espelhar
que a educação bancária, massificadora e acrítica aparecia como uma preferência das elites
dominantes como forma de manter as massas adormecidas.
Convém destacar que esta visão de uma educação alienante já havia sido adiantada por Karl
Marx na sua crítica geral ao sistema capitalista. De facto, de acordo com Recama (2009), a
revolução industrial no século XVIII alterou a fisionomia do mundo do trabalho, caracterizou-se
pelo uso de máquinas, alterações nas relações de produção e desenvolvimento do sistema fabril.
Isto criou o advento do capitalismo, ou seja, o incremento da industrialização na Europa foi
acompanhado por um forte crescimento dos centros urbanos; emigração para outros continentes
e interesse de exploração de novas terras. O crescimento demográfico permitiu o surgimento das
estruturas sócio-economicas do capitalismo.
Do ponto de vista social, o Homem passou a estar ao serviço da fábrica como operário, com a
função principal de controlar as máquinas, levando a desqualificação do seu trabalho; a
revolução industrial obrigou os camponeses, artesãos e pequenos rendeiros a migrarem do campo
para as cidades para se empregarem nas fábricas em troca de um salário miserável.
Diante deste fenómeno, houve um excedente de mão-de-obra que a indústria não conseguiu
absorver e, com ele, o desemprego. Assim, a fome e a promiscuidade, a falta de condições
higiénicas, tomaram contas das populações. E com a preocupação cada vez maior de obtenção de
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fabulosos lucros, os industriais passaram a recrutar crianças e mulheres (mão de obra mais
rentável) para trabalharem nas fábricas em condições desumanas. Isto levou à produção e a
acumulação de grandes capitais em poucas mãos. (RECAMA, 2009: 125).
De acordo com Libâneo (2004), as relações sociais no capitalismo são fortemente marcadas pela
divisão da sociedade em classes, onde capitalistas e trabalhadores ocupam lugares opostos e
antagónicos no processo de produção. Esta nova realidade marcada pela desigualdade entre os
homens determinou não apenas as condiçoes materiais de vida e de trabalho dos indivíduos, mas
também à diferenciação no acesso à educação. Isto impunha novos desafios à educação de
formas a adequá-la ao novo modo de produção.
Como afirma Libâneo, no sistema capitalista, “a educação que os trabalhadores recebem visa
principalmente prepará-los para o trabalho físico, para atitudes conformistas, devendo contentar-
se com uma escolarização deficiente” (LIBÂNEO, 2004: 20).
Foi neste contexto que Marx adiantou as suas críticas ao sistema capitalistas. Na educação, Marx
propõe uma união entre ensino e trabalho. Ele acha que o processo educativo deve ser igual para
todos, não havendo separação entre escolas ou educação para a classe dos trabalhadores e escolas
ou educação para a classe burguesa.
Todos deviam ter as mesmas oportunidades, surgindo assim a escola única que iria unificar as
ciências sociais e as práticas, assim escreve Marx na obra O Manifesto do Partido Comunista:
“que haja educação pública e gratuíta de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas
fábricas e combinação da educação com a produção material” (MARX; ENGELS, 1848: 14).
Assim, para Marx, a educação deve ser aquela que desenvolva o indivíduo de forma totalizadora,
integral: mental e física; teórica e prática; associada ao trabalho produtivo. Ao unir o ensino e o
trabalho, Marx tinha como preocupação fundamental edificar uma educação que visa a
transformação da sociedade, assim escreve Marx na sua obra Teses sobre Feuerbach: “a
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consciência da modificação das circunstâncias e da actividade humana só pode ser apreendida e
racionalmente compreendida como prática transformadora” (MARX, 1888: 01).
De acordo com Aranha (1996), o ponto de partida de Paulo Freire é a sua constatação que a
então sociedade brasileira vivia dividida, assim como em todas as sociedades capitalistas, entre
os poucos que possuem muito e os muitos que pouco ou nada possuem. Nestas sociedades “os
privilégios de uns impedem a maioria de usufruir os bens produzidos” (ARANHA, 1996: 207).
Estes privilegiados fazem de tudo para manter as massas alienadas de formas a manter o status
quo4 da então sociedade.
Assim, “expulsar esta sombra pela conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma
educação realmente libertadora e, por isto, respeitadora do homem como pessoa” (FREIRE,
1967: 37).
Se a vocação humana de ser mais só se concretiza pelo acesso aos bens culturais, este acesso à
cultura é negado ao homem na injustiça, na exploração, na opressão, na violência dos opressores,
mas afirmada no anseio de liberdade, de justiça, de luta dos oprimidos, pela recuperação de sua
humanidade roubada. E“um desses bens necessários é a educação, da qual é excluida grande
parte da população do terceiro mundo” (ARANHA, 1996: 207).
Neste sentido, quando Paulo Freire fala da educação se refere à dois tipos de pedagogia:
pedagogia dos dominantes – na qual a educação existe como prática da dominação, e a
pedagogia do oprimido – que é uma tarefa a ser realizada, na qual a educação aparece como
libertação, ou seja, uma educação emancipadora, que forma as mentes humanas de uma forma
crítica de modo a tirá.lo da sua opressão pela qual o processo de educação massificadora o
submete.
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Expressão latina que designa o estado em que as coisas se encontram.
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A ideia de emencipação remonta à Kant que na sua obra Em Resposta à Pergunta: o que é o
Iluminismo? define o esclarecimento como sendo sinónimo de emancipação. Nesta obra Kant
define o esclarecimento como sendo
Por seu turno, Theodor Adorno, partindo do conceito de esclarecimento adiantado por Kant e a
sua constatação de que os indivíduos não eram suficientemente emancipados na sua época
propõe que a educação deve estar virada à emencipação dos indivíduos em vista à sua
autonomia. Entretanto, a educação proporcionada pela então sociedade era simplesmente uma
reprodução de conhecimentos produzidos do lado de fora da escola, do mesmo modo que deixou
fora dos muros da escola, o mundo da vida.
A pedagogia vigente era simplesmente ineficaz frente às aspirações da sociedade porque valoriza
a transmissão do saber, contribuindo na perpetuação dos padrões culturais dominantes que
ofuscam a liberdade e autonomia do indivíduo.
Outra observação que Adorno constacta é que a educação havia se transformando num bem a ser
comercializado e vendido. Assim, a escola deixa de ser instituição social para ser uma empresa e
os alunos seus clientes. Neste sentido, a escola de massa acaba por deformar a consciência dos
indivíduos. Entretanto, para Adorno, o ideal é que a escola deve criar condições para
experiências individuais de autonomia de pensamento e acção para serem desenvolvidos no
intuíto de uma colectividade.
É dentro desta linha de pensamento de uma educação virada para a emancipação dos indivíduos
convista á saida da sua menoridade que Paulo Freire situa a educação neste desafio de uma
“educação que, desvestida da roupagem alienada e alienante, seja uma força de mudança e de
libertação” (FREIRE, 1967: 36). Nisto situa-se a opção a ser tomada entre uma educação para a
domesticação, para a alienação, e uma educação para a liberdade. Uma Educação para o homem-
objecto ou educação para o homem-sujeito.
Todo o empenho de Paulo Freire fixou-se na busca desse homem-sujeito que, necessariamente,
implicaria em uma sociedade também sujeito. Sempre lhe pareceu, dentro das condições
históricas de sua sociedade, inadiável e indispensável uma ampla consciencialização das massas,
através de uma educação que as colocasse numa postura de auto-reflexão e de reflexão sobre seu
tempo e seu espaço.
Paulo Freire estava convencido de que a elevação do pensamento das massas por meio do seu
esclarecimento emancipatório constituia uma forma de se ser responsável nos países
subdesenvolvidos como era o caso do Brasil, e começava efectivamente por esta auto-reflexão,
auto-reflexão que levaria os indivíduos ao aprofundamento consequente de sua tomada de
consciência e de que resultará sua inserção na História, não mais como espectadoras e objectos,
mas como figurantes e sujeitos reais.
De acordo com Paulo Freire (1981), o ponto de partida para uma análise da consciecialização
deve ser uma compreensão crítica dos seres humanos como existentes no mundo e com o mundo.
Na medida em que a condição básica para a consciecialização é que seu agente seja sujeito, ou
seja, um ser consciente, a consciecialização, assim como a educação, é um processo específico e
exclusivamente humano.
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Se formos a reparar somente os seres humanos, como seres abertos, são capazes de realizar a
complexa operação simultânea de transformar o mundo através da sua acção e captar a realidade
e expressá-la por meio da sua linguagem criadora.
Na sua obra Educação como Prática da Liberdade Paulo Freire fala da possibilidade de pensar
uma educação que ultrapassa os ditames de repetição contínuo dos conteúdos, para uma
educação com vista à conscientização do homem, do seu ser e da sua existência.
De acordo com Paulo Freire, o domínio próprio da existência é o âmbito do trabalho, da cultura,
da história, dos valores. Este é o domínio em que os seres humanos experimentam a dialéctica
entre determinismo, próprio da natureza, e a liberdade humana de criar e inventar.
“Somente os seres que podem reflectir sobre a sua própria limitação são capazes
de libertar-se desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade
descomprometida, mas se dê no exercício da acção transformadora da realidade
condicionante. Desta forma, consciência de e acção sobre a realidade são
inseparáveis constituintes do acto de transformador pelo qual homens e mulheres
se fazem seres de relação. A aprática consciente dos seres humanos, envolvendo
reflexão, intencionalidade, temporalidade e transcendência, é difernte dos meros
contactos dos animais com o mundo” (FREIRE, 1981: 53 – 54).
Paulo Freire afirma a existência de três tipos de consciência: a consciência ingênua, a
consciência mágica e a consciência crítica. A consciência ingênua é aquela que se apresenta
como superior os factos empíricos. Por isso, tenta dominá-los de fora e se julga adequada para
entender os factos empíricos de forma como ela quer. A consciência mágica, não se acredita
superior aos factos empíricos, mas, pelo contário, se acredita inferior à ela, por essa razão se
submete de forma benévola.
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Finalmente a consciência crítica, que á a mais adequada para uma mente bem educada constitui-
se de representação dos factos como eles mesmos se apresentam pela experiência apropriada.
Esta captação, segue-se de um exercício de compreensão e de acção para sua transformação caso
não se mostra adequada para o homem.
Paulo Freire escreve sobre os três tipos de consciência e a sua manifestação na sua obra
Educação como Prática da Liberdade:
De acordo com Paulo Freire (1981), a consciência crítica do homem, qua não é a fazedora
arbitrária da objectividade, com a qual constitui uma unidade dialéctica, não é também, por isso
mesmo, uma cópia, um simples reflexo da realidade. Dai que esta nota de criticidade não possa
ser compreendida nem, de um lado, por quem absolutiza a objectividade, nem de outro, por
quem absolutiza a consciência.
Paulo Freire pensava, assim, uma educação capaz de proporcionar aos homens “meios com os
quais fossem capazes de superar a captação mágica de sua realidade” (FREIRE, 1967: 106), uma
educação altamente instrumental, que deveria levar o homem a reflectir sobre a sua ontológica
vocação de homem sujeito activo.
Paulo Freire concebia, igualmente, num método activo que fosse capaz de criticizar o homem
através do debate de situações desafiadoras, colocadas diante do grupo e estas situações teriam
de ser necessariamente existenciais para os grupos. Sem este método, é evidente que se estaria a
repetir os mesmos erros da educação vigente que era alienante e, como tal, ininstrumental e não
apropriada para os fins de formação de uma consciência crítica da realidade.
Entretanto, que método seria apropriado para a formação de consciências críticas? Como
proporcionar meios ao homem para superar suas atitudes mágicas ou ingênuas, diante de sua
própria realidade envolvente? Como ajudar o homem a criar, a inserir-se e a transformar a sua
realidade?
A resposta que Paulo Freire encontra para estas perguntas encontra-se na sua obra Educação
como Prática da Liberdade, onde adianta que uma educação com vista à consciencializção deve
estar assente “num método activo, dialogal, crítico e criticizador. A modificação do conteúdo
programático da educação e o uso de técnicas como a da redução e da codificação” (FREIRE,
1967: 107).
Para Paulo Freire, somente um método activo, dialogal e participante pode ajudar na formação
crítica das consciências humanas. O diálogo constitui uma relação horizontal entre os indivíduos,
nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. O diálogo, para Paulo Freire (1967), nutre-se do
amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por essa razão, só o diálogo comunica.
E quando os dois polos do diálogo se ligam com o amor, com esperança, com fé um no outro, se
fazem críticos na busca de algo; isntala-se, então, uma relação de simpatia entre ambos. Só ai há
comunicação” (FREIRE, 1967: 107).
No seu todo, uma educação com vista à conciencialização implica não uma mera memorização
visual e mecánica dos conteúdos desgarrados de um universo existencial, mas numa atitude de
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criação e recriação. Implica uma autoformação de que possa resultar uma postura interferente do
homem sobre o seu contexto.
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BIBLIOGRAFIA
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