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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Metodologia para dimensionamento de drenos de fundo de pilhas


de estéril
Aloysio Portugal Maia Saliba
Golder Associates Brasil, Belo Horizonte, Brasil, asaliba@golder.com.br

Evandro de Avila Gimenes


Consultor Geotécnico, Vancouver, Canada, evandro_gimenes@yahoo.com

José Mário Queiroga Mafra


Golder Associates Brasil, Belo Horizonte, Brasil, jmafra@golder.com.br

Márcio Figueiredo de Resende


Golder Associates Brasil, Belo Horizonte, Brasil, mresende@golder.com.br

RESUMO: O sistema de drenagem interna de pilhas de estéril vem sendo dimensionado segundo
aplicação da lei de Darcy, válida para regime de escoamento laminar, a partir de vazões medidas ou
determinadas empiricamente. Este trabalho apresenta uma abordagem alternativa para o
dimensionamento de drenos de fundo de pilhas de estéril em que se observa a validade das
equações de fluxo, aplicadas conforme o regime de escoamento, a partir de vazões de projeto
determinadas por meio de balanço hídrico aplicado nas áreas de pilha e de montante, de forma a
quantificar as contribuições de escoamento provenientes da recarga das áreas de pilha e de descarga
pela fundação.

PALAVRAS-CHAVE: Drenos de fundo, Pilhas de Estéril, Balanço Hídrico.

1 INTRODUÇÃO aplicado nas áreas de contribuição, e


observando a validade das equações de fluxo
No Brasil, o sistema de drenagem interna de utilizadas conforme o regime de escoamento
pilhas de estéril vem sendo dimensionado resultante.
segundo aplicação da lei de Darcy, válida para Os resultados obtidos indicam que esta
regime de escoamento laminar (Darcy, 1856; Li diferenciação de regimes de escoamento
et al. 1998), a partir de vazões de projeto produz seções tranversais maiores em regime
pontualmente medidas ou empiricamente turbulento, para as mesmas condições de
determinadas. dimensionamento (vazões e fatores de
No entanto, essa metodologia de segurança).
dimensionamento enfrenta restrições em Além disso, o método de balanço hídrico
situações de escoamento em regime turbulento. empregado permite determinar o valor mínimo
Além disso, o desconhecimento da faixa de aceitável para o fator de segurança, sem a
vazões de trabalho dos drenos resulta na necessidade de fixação prévia em uma ordem de
aplicação de fatores de segurança elevados no grandeza, como frequentemente observado na
dimensionamento, em geral iguais a 10. prática. Em pilhas de estéril que têm se
Este trabalho tem como objetivo apresentar mostrado progressivamente maiores nos últimos
uma abordagem metodológica para anos em termos de áreas ocupadas, esta
dimensionamento de drenos de fundo de pilhas consideração permite determinar dimensões
de estéril em que as vazões de projeto são mais econômicas para o dreno de fundo, sem
determinadas por meio de balanço hídrico prescindir da segurança da obra.

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2 PRINCIPAIS LEIS DE FLUXO Cruz (2009) conclui que o fluxo é ainda


laminar para areais na faixa de permeabilidade
2.1 Equação de Darcy de 10-4 m/s sujeitas a gradientes da ordem de 47
m/m, enquanto fluxos análogos em materiais de
Um dos principais marcos de engenharia transição escoam em regime turbulento sob
sobre o assunto se deu a partir dos experimentos gradientes da ordem de apenas 0,03 m/m.
realizados por Darcy em estudo para
dimensionamento de filtros para tratamento de 2.2 Escoamento Turbulento
água.
Darcy (1856) realizou uma série de ensaios Para o dimensionamento de drenos de fundo
em amostras de areias naturais dispostas em em pilhas de estéril, a equação de Darcy não é
colunas com diâmetro igual a 0,35 m e mais válida, pois são formados por blocos de
comprimento entre 0,58 m e 1,71 m. Os testes rocha angulosos ou cascalhos de granulometria
foram realizados em fluxo descendente, a carga aberta, de ordem decimétrica, que em geral
constante, medindo-se a velocidade média de levam a condições de escoamento turbulentas.
fluxo sob gradientes hidráulicos constantes, que A velocidade média de fluxo turbulento (vT)
variaram entre 1,50 m/m e 18,70 m/m. assume a forma:
Em cada um destes experimentos, Darcy
obteve uma constante de proporcionalidade vT = k T i n (3)
entre velocidade média de fluxo (v, em m/s) e o
gradiente hidráulico (i, adimensional), na qual i é o gradiente hidráulico
denominada condutividade hidráulica do meio (adimensional), kT é a condutividade no fluxo
poroso (k, em m/s): turbulento (L/T) e n é um expoente que tende a
0,5.
v=ki (1) Conforme apontam Li et al. (1998), são
inúmeras as formulações para determinação da
Esta equação mantém-se válida nos meios velocidade efetiva, que ocorre através dos
porosos para fluxo em regime laminar, com a vazios formados entre blocos.
permeabilidade podendo ser estimada pela As equações existentes variam de acordo
relação de Hazen: com a abordagem adotada, relacionando
parâmetros fisicos, como o diâmetro dos blocos,
2
k = c d10 (2) ou coeficientes empíricos determinados em
ensaios de laboratório.
na qual k é a condutividade hidráulica (m/s), d10 Li et al. (1998) comparam dez relações entre
é o diâmetro equivalente à largura da malha da a velocidade efetiva de escoamento,
peneira na qual apenas 10% do material do determinada na área de vazios do meio poroso,
meio poroso passa (m) e c é uma constante de e o gradiente hidráulico, incluindo a equação de
proporcionalidade (s-1m-1). Wilkins, largamente utilizada em
Em trabalhos posteriores foi possível dimensionamento de drenos e enrocamentos,
relacionar o fator de atrito (f, que expressa as dada por:
perdas de carga hidráulica ao longo do
escoamento no meio poroso, e o número de v v = W R 0,5
h i
0,54 (4)
Reynolds (Re), a partir de resultados de ensaios
de laboratório. na qual vv é a velocidade efetiva do escoamento
Em um trabalho extenso sobre areias, (m/s), W é uma constante igual a 5,25 m0,5/s, Rh
Fancher (1933 apud Cruz, 1979) demonstrou é raio hidráulico médio (m), definido como
que a linearidade entre f e Re (regime laminar) é razão entre o volume dos vazios e área
alterada quando Re se situa no intervalo de 1 a superficial das partículas, valor aproximado a
100. Vale lembrar que o valor de Re depende de D50/8 (Leps, 1973). O produto WRh0,5, quando
como se define o raio hidraulico do meio em multiplicado pela porosidade do meio, pode ser
que o fluxo ocorre.

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definido como a “permeabilidade” intrínseca do esférica, indicando a acentuação da turbulência


enrocamento, como na equação (3). decorrente da geometria irregular neste caso.
Para material granular e uniforme, valores de
porosidade variando entre 0,35 e 0,50 e de 3 MODELO ADOTADO
gradiente hidráulico variando entre 0 e 0,7, Li et
al. (1998) estimam valores muito próximos de Neste trabalho, utiliza-se a equação (4) (de
velocidade efetiva a partir das formulações de Wilkins) para cálculo da seção drenante. Com a
fluxo analisadas. finalidade de ilustrar os conceitos, apresentam-
Observa-se também, na comparação da se na Tabela 1 os resultados obtidos para D50
relação fator de atrito e número de Reynolds entre 19 mm e 1,2 m e porosidade entre 0,20 e
realizada nestes estudos que o regime de fluxo é 0,25.
turbulento para Re > 200. Os valores de porosidade são necessários
Conforme apontam Li et al. (1998), o para “corrigir” as velocidades para o valor
número de Reynolds do escoamento que ocorre médio de fluxo. As “permeabilidades” kT
nos vazios do dreno é definido por: estimadas variam entre 0,25 m/s a 2,13 m/s.

vvR h Tabela 1. “Permeabilidades” em regime turbulento


Re = (5) estimadas pela Equação de Wilkins, (4).
 D50 Rh kT
e n
(mm) (mm) (m/s)
na qual vv é a velocidade efetiva (m/s) e  é a 19,1 0,20 0,17 2,3 0,25
viscosidade cinemática da água (1x10-6 m²/s a 50,8 0,20 0,17 6,1 0,41
152,4 0,23 0,19 19,1 0,71
20ºC). 203,2 0,23 0,19 24,4 0,81
O raio hidráulico é uma propriedade que está 609,6 0,24 0,19 79,0 1,47
associada à geometria dos vazios e, portanto, 1219,2 0,25 0,20 163,3 2,13
associada ao tamanho dos blocos. Considerando Fonte: Leps, 1973.
que a massa de blocos seja igual a um conjunto
de esferas (Taylor, 1948 apud Li et al., 1998): Penman (1971 apud Cruz, 2009) assinala que
quando a permeabilidade do material drenante é
e D 50 menor ou igual a 10-5 m/s, deve-se analisar o
Rh = (6) fluxo pela equação de Darcy.
6rE
Para que a permeabilidade seja desta ordem,
a fração fina do material do dreno, composta de
na qual e é o índice de vazios do maciço pó de pedra, alteração de rocha com dimensão
formado pelos blocos de rocha ou cascalho, D50 de areia ou mesmo solo deve estar preenchendo
é o diâmetro representativo do enrocamento, rE os vazios e controlando o fluxo.
é o fator de forma, igual a 1 para enrocamento Segundo Leps (1973), se o material drenante
composto por esferas. possuir mais de 30% de partículas passantes na
No caso de enrocamento anguloso como o peneira de 1”, deve ser tratado como solo e o
resultante de britagem, o fator de forma (rE) fluxo através dos vazios estimado pela
pode ser calculado por: expressão (1).
d A sup 4 CÁLCULO DA SEÇÃO DO DRENO
rE = (7)
6Vbloco
A vazão nominal a escoar pelo dreno é
na qual d é o diâmetro da esfera (m), Asup é a composta por uma parcela proveniente da
área superficial do bloco de rocha (d2 para recarga aplicada sobre a estrutura em questão
esfera, em m²) e Vbloco é o volume do bloco de (pilha, maciço, dique etc) e da recarga aplicada
rocha área superficial do bloco (d3/6 para à bacia de contribuição a montante, que se
esfera, em m³). Este fator é superior à unidade mostra no desaguamento em nascentes e na
quando aplicado a blocos de geometria não vazão de base de córregos em condições
permanentes.

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A determinação destas parcelas pode ser R  P - ES - ETP (9)


feita por meio de monitoramento de vazões ou
por balanço hídrico aplicado a estas áreas, No balanço hídrico adota-se o intervalo de
situação mais comum na prática. tempo mensal visto que em intervalos inferiores
a premissa de que o balanço hídrico é nulo não
4.1 Vazão Específica é necessariamente válida.
Estima-se o escoamento superficial
Nos casos em que há monitoramento extenso conforme a tipologia de uso do solo, como uma
das vazões em cursos de água na região, pode- parcela da precipitação mensal. No caso de
se obter a parcela correspondente à infiltração pilhas de estéril e áreas naturais em Minas
da água de chuva, também denominada recarga, Gerais estimam-se estas parcelas em 45% da
que vai constituir a vazão nominal do dreno. precipitação mensal nas áreas de pilha e de 20%
A recarga é estimada através do balanço a 30% nas áreas cobertas por vegetação natural
hídrico da pilha, de forma como indicado a (mata nativa, campos etc).
seguir: No caso da evapotranspiração, esta variável
é função da cobertura vegetal presente, mas
R  P - DAM - ETP (8) raras são as ocasiões em que se têm esses
valores determinados para a cobertura da bacia
na qual R é a infiltração ou recarga média anual hidrográfica em análise.
(mm), P é a precipitação média anual (mm), Analogamente às perdas por evaporação em
DAM é o deflúvio anual médio (mm), ETP é a superfície líquida de reservatórios, estima-se a
evapotranspiração anual média (mm). evapotranspiração potencial (ETPpot) como o
Este valor aplicado às áreas de contribuição produto entre a evaporação medida em tanque
naturais ou de pilha permitem obter a vazão classe A (E) e um fator de correlação (k) igual a
nominal do dreno de fundo. 0,8 para áreas naturais e 0,7 para áreas de pilha
(Reichardt & Timm, 2004).
4.2 Balanco Hídrico É importante ressaltar que caso os dados de
evaporação tenham sido obtidos por aparelhos
É mais frequente a situação em que não há de membrana, tais como evaporímetros de
monitoramento extenso ou suficientemente Piché, não há necessidade de aplicar o fator de
representativo do local em que será implantado correlação aos valores observados.
o dreno de fundo. Nestes casos, as vazões Quando o balanço dado pela expressão
nominais podem ser determinadas por meio de acima resulta em um valor negativo, significa
balanço hídrico, conforme demonstrado a que a evapotranspiração real ocorrida (ETR) foi
seguir. inferior à evapotranspiração potencial, sendo
A vazão de projeto adotada no nula a recarga para aquele intervalo de tempo.
dimensionamento dos drenos corresponde à Na prática, o balanço hídrico segue uma
soma da percolação gerada pela recarga sequência, representada pelo modelo conceitual
aplicada sobre a pilha e do aporte do apresentado na Figura 1, imaginando que as
escoamento subterrâneo gerado pela recarga nas suas parcelas possam ser representadas por
áreas de montante. reservatórios encadeados.
Define-se por recarga a parcela da infiltração
P
que efetivamente atinge o aquífero ou o interior
do aterro, já fora da área de atuação da
evapotranspiração.
ES
Em geral, a recarga deve ser determinada por
meio de um balanço hídrico no qual se ETP
considera que o sistema está em equilíbrio, ou
seja, o balanço hídrico é nulo, qual seja: R

 I -  O = 0  P - ES - ETP - R  0 
Figura 1. Modelo conceitual de balanço hídrico.

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Na Figura 1 percebe-se que, apenas após estruturas geotécnicas e, portanto, devem ser
completos os reservatórios de escoamento projetados, calculados e construídos em
superficial e de evapotranspiração, ocorrerá a conformidade aos requisitos de um projeto de
recarga. engenharia.
Para definição dos valores mensais de A experiência demonstra que o método
precipitação utilizados no balanço hídrico, em construtivo é fator determinante da geometria
geral são estudados dados de monitoramento de da seção do dreno. Em qualquer caso, o dreno
estações pluviométricas regionais, monitoradas deve ser executado no sentido de montante para
pela Agência Nacional de Águas, ou dados de jusante, protegendo-se a saída exposta ao final
monitoramento obtidos na área em questão. do período de trabalho de forma que eventuais
Os valores mensais de evaporação podem ser eventos pluviométricos não provoquem a
obtidos a partir das normais climatológicas, contaminação do núcleo no período de
correspondentes aos valores médios observados descanso.
em período de 30 anos, mas de preferência Na ampla maioria dos casos, a seção
devem ser obtidos a partir de dados de transversal dos drenos segue geometria
monitoramento da área em questão. trapezoidal, com ângulos de taludes 1V:1,3H
(enrocamento), conforme apresentado na Figura
4.3 Considerações sobre Fator de Seguranca 2 a seguir.

É bastante difundida no meio técnico a


utilização de um fator de segurança para o
dimensionamento dos drenos de fundo, em
geral adotado igual a 10 (uma ordem de
grandeza), para incorporar imprecisões relativas
a variações de condutividade hidráulica, recarga
anual média, área de contribuição etc.
Em geral, para estruturas com pequena área
de contribuição esta prática é viável, e muitas Figura 2. Seção esquemática de dreno de fundo
vezes resulta da aplicação de dimensões
construtivas ao dreno, comparando-se as vazões Além disso, devem atender a um conjunto de
admissível e de projeto. requisitos práticos, listados a seguir:
Porém, fixar o valor de fator de segurança • o dreno deve ser instalado em áreas com
mínimo igual a 10 pode levar a dimensões fundação estável e não erodível. No caso de
excessivamente conservadoras para o dreno de drenos fundados em solo, deverão ser
fundo à medida que as áreas contribuintes interpostas camadas de filtro e transição entre o
aumentam, como vem se verificando nos solo e o material de dreno (blocos de rocha ou
projetos de pilhas de disposição de estéril cascalho);
recentes, cujas áreas de contribuição têm se • o material do dreno deve ser durável.
mostrado superiores a 100 ha. Em geral, os materiais adequados à construção
Nestas situações, pode-se aceitar a redução de rip-rap são adequados à construção de
dos fatores de segurança para valores entre 2,5 e drenos;
5. Neste trabalho sugere-se que o valor mínimo • o dreno deverá ser coberto com
deste fator de segurança deva ser tal que materiais de transição e filtro para evitar a
possibilite o dreno escoar vazões resultantes da colmatação por materiais finos provenientes do
recarga associada a condições de escoamento estéril, de forma a garantir o funcionamento a
superficial nulo nas áreas de pilha e naturais. longo prazo;
• a fundação da pilha de estéril, nas
5 REQUISITOS PRÁTICOS DE laterais do dreno, também deve apresentar boa
PROJETO E CONSTRUÇÃO DE DRENOS estabilidade, de modo a evitar que o dreno tenha
seção interrompida por deformação excessiva,
Os drenos compostos por enrocamento são ou mesmo ruptura, e tal acontecimento venha a

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comprometer a capacidade drenante a longo termos de recarga.


prazo; Nas Tabelas 2 e 3, percebe-se que estes
• deve-se garantir que a rocha utilizada na cenários correspondem ao mês de dezembro,
construção dos drenos seja isenta de minerais quando a intensidade da recarga é maior que a
potencialmente geradores de drenagem ácida, intensidade da recarga anual.
ou sujeitos à ciclagem;
• a construção de drenos deve ocorrer Tabela 2. Balanço hídrico aplicado nas áreas de pilha
durante o período de seca, de forma a evitar a (mm).
Mês P ETP ES Balanço ETP R
contaminação do dreno por materiais finos; pot real
• a fundação do dreno, seja constituída J 245 87 110 48 87 48
por solo fino ou granular, deverá ser F 162 85 73 4 85 4
compactada moderadamente, para apresentar M 149 95 67 -13 82 0
uma permeabilidade moderada; A 56 92 25 -62 31 0
• o material de dreno poderá ser colocado M 31 93 14 -76 17 0
J 8 92 4 -88 4 0
com retroescavadeira ou basculado diretamente J 7 106 3 -102 4 0
do próprio caminhão e espalhado com trator de A 16 132 7 -124 9 0
esteiras. Em geral, uma compactação executada S 46 137 21 -112 25 0
com passadas do trator de esteiras (tipo CAT O 89 118 40 -69 49 0
D8 ou similar) é suficiente; N 198 96 89 13 96 13
D 344 84 155 105 84 105
• a largura mínima do corpo do dreno Ano 1350 1217 608 572 170
deverá ser igual a 3,0 m para atender requisitos
construtivos, pois esta é a largura mínima Tabela 3. Balanço hídrico aplicado nas áreas naturais
necessária para o tráfego de escavadeira, (mm).
responsável pela disposição dos materiais de Mês P ETP ES Balanço ETP R
construção nas respectivas camadas de pot real
J 245 87 73 85 87 85
montante para jusante, usando o próprio dreno
F 162 85 48 28 85 28
como acesso. M 149 95 45 9 95 9
A 56 92 17 -54 39 0
6 EXEMPLO DE APLICAÇÃO M 31 93 9 -71 21 0
J 8 92 2 -87 6 0
J 7 106 2 -101 5 0
Como exemplo de aplicação da metodologia
A 16 132 5 -121 11 0
proposta, será analisado a seguir o caso de uma S 46 137 14 -105 32 0
pilha de estéril a ser instalada em uma bacia O 89 118 27 -55 62 0
hidrográfica ocupada por mata e pasto, com N 198 96 60 43 96 43
área de drenagem de 1,7 km², dos quais cerca D 344 84 103 157 84 157
Ano 1350 1217 405 624 321
de 1 km² serão ocupados pela pilha.
Para determinar as vazões de projeto do
dreno principal foi realizado o balanço hídrico, Ponderando-se em relação à área (105
a partir dos dados de precipitação média mensal mm/mês aplicados a 1,0 km² e 157 mm/mês
monitorados no local e evaporação observadas aplicados a 0,7 km²), obtém-se recarga máxima
em evaporímetro de membrana, considerando de 126 mm/mês. Este valor aplicado à área de
coeficientes de escoamento superficial iguais a contribuição (1,7 km²) resultará em uma vazão
0,45 e 0,30 para as áreas de pilha e naturais, nominal de projeto igual a 293 m³/h (0,082
respectivamente (Tabelas 2 e 3). m³/s).
O dimensionamento do dreno principal deve As declividades do talvegue em que se
ser realizado para o desaguamento da recarga pretende implantar o referido dreno na região
aplicada nas áreas de pilha (1 km²) e naturais varia entre 0,1% e 5%. Em condições de
(0,7 km²), ou seja, a recarga média ponderada a escoamento estacionárias, o gradiente
partir dos valores obtidos e das respectivas hidráulico será igual à declividade do terreno.
áreas de contribuição. Porém, o valor de recarga Partindo-se de enrocamento com D50 igual a
a utilizar deve considerar o pior cenário em 6 polegadas (152 mm) e gradiente hidráulico
máximo de 5%, obtém-se velocidade efetiva

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igual a 0,037 m/s e número de Reynolds igual a resultou em grandes variações nas áreas de
759, para fator de forma (rE) igual a 1,67 seção transversal resultantes.
(blocos com arestas iguais à metade do Este aspecto reforça a importância da
comprimento), que indicam condições de fluxo consideração do regime de escoamento no
turbulento e validade da equação de Wilkins dimensionamento dos drenos de fundo de pilhas
(4). de estéril.
Já para declividades inferiores a 0,43%, o Além disso, o método de balanço hídrico
número de Reynolds torna-se inferior a 200 e, empregado permite determinar o valor mínimo
assim, nestes locais deve-se utilizar a equação aceitável para o fator de segurança, sem a
de Darcy (1) para o cálculo da seção drenante. necessidade de fixação prévia em uma ordem de
A aplicação indiscriminada da lei de Darcy grandeza, como frequentemente observado na
(1) levaria a drenos com seções transversais prática.
com áreas mínimas (fator de segurança unitário) Em pilhas de estéril que têm se mostrado
iguais a 1,6 m² e 81,5 m² em condições de progressivamente maiores nos últimos anos em
declividade longitudinal iguais a 5% e 0,1%, termos de áreas ocupadas, esta consideração
respectivamente. permite determinar dimensões mais econômicas
Por outro lado, o uso indiscriminado da para o dreno de fundo, sem prescindir da
equação de Wilkins (4) neste intervalo levaria a segurança da obra.
drenos com seções transversais com áreas
mínimas (fator de segurança unitário) iguais a REFERÊNCIAS
2,2 m² e 18,4 m² em condições de declividade
longitudinal iguais a 5% e 0,1%, Cruz, P.T. (1979). Fluxo de água em enrocamento :
respectivamente. contribuição ao estudo do fluxo em meios contínuos e
descontínuos. Relatório IPT-DMGA, cap. IX.
Comparando-se os resultados, percebe-se Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, SP,
que em regimes de escoamento acentuadamente Brasil.
turbulentos (Re>>200), o uso da equação de Cruz, P.T., Materon, B., Freitas, M. (2009). Barragens de
Darcy (1) subestimou a área de seção Enrocamento com Face de Concreto. Oficina de
transversal necessária ao dreno em até 30%. Textos, Belo Horizonte, MG, Brasil. 448 p.
Darcy, H. (1856). Les Fontaines publiques de la ville de
Por outro lado, em regime de escoamento Dijon (The Public Fountains of the City of Dijon),
acentuadamente laminar, o uso da equação de Tradução para o inglês de Patricia Bobeck,
Wilkins (4) subestimou a área de seção Kendall/Hunt Publishing Co., 2004. 598 p.
transversal necessária ao dreno em até 4,4 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Normais
vezes. Climatológicas. Instituto Nacional de Meteorologia,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 478 p.
Percebe-se, portanto, a importância da Leps, T. M. (1973). Flow through rockfill. In:
identificação correta do regime de escoamento Hirschfiled, R. C. Poulos, S. J. (ed.), Embankement
no dimensionamento dos drenos de fundo. Dam Engineering. Casagrande Volume. John Wiley
& Sons, New York, NY, USA. p. 87-105.
7 CONCLUSÕES Li, B. Garga, V. K. Davies, M. H. (1998). Relationships
for non-Darcy flow in Rockfill. Journal of Hydraulic
Engineering, Reston, v. 124, n. 2. p. 206-212.
Este artigo apresentou uma metodologia Reichardt, K. Timm, L. C. (2004) Solo, Planta e
alternativa para dimensionamento de dreno de Atmosfera. Conceitos, Processos e Aplicações, 1ª ed.,
fundo de pilhas de estéril, tendo em vista Ed. Manole, Barueri, SP, Brasil. 478 p.
aspectos geotécnicos, hidrológicos,
hidrogeológicos e hidráulicos, tais como o
regime de escoamento.
Em um estudo de caso hipotético, as
diferenças entre as abordagens utilizadas em
regime laminar (lei de Darcy (1)) e turbulento
(metodologia proposta por Wilkins (4)) foram
apresentadas, sendo que aplicação das
formulações fora de seu regime de validade

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