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1 Music Business

T é c n i c a s d e M a r k e t i n g P e s s oa l
pa r a B a n d a s & A rt i s ta s
sumário

1. O Autor 03

2. Introdução 06
2

3. O início do seu planejamento 10

4. Marketing Pessoal 17

5. Quem você quer ser daqui a 10 anos? 26

6. O sucesso e o público 28
1. o autor
3

Kiko Loureiro nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado em São Paulo, a
maior cidade metropolitana da América do Sul.

O seu amor pela música surgiu naturalmente e, desde


cedo, ele foi um ouvinte curioso, que passava horas
e horas na biblioteca da escola consumindo a vasta
coleção musical que esta possuía.

Aos 11 anos de idade, iniciou os estudos no violão clássico, mas somente


alguns anos mais tarde, após adentrar o mundo do rock progressivo, do
heavy metal, do jazz e do fusion, ele descobriria sua verdadeira vocação.
Kiko ficou fascinado por diversos ícones da música como Jeff Beck, Jimmy
Page, Paco de Lucia, Herbie Hancock, Pat Metheny, Astor Piazzola, Hermeto
Pascoal e bandas como o Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Iron
Maiden e Van Halen.

Tais influências, somadas a infinitas horas de treino


e dedicação, o fizeram embarcar numa jornada que o
tornaria um músico incrivelmente versátil e de estilo
único.

Aos 21 anos, Kiko Loureiro, juntamente com o Angra, lançou o seu primeiro
álbum de estúdio em 1993, denominado “Angels Cry”. Gravado na Alemanha
e lançado no mundo todo, o disco atingiu a marca de mais 100.000 cópias
vendidas e recebeu o disco de ouro no Japão.
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Desde então o Angra já lançou outros sete álbuns de estúdio, três CD’s
e dois DVD’s ao vivo, seis EP’s, recebeu mais um disco de ouro pelo
lançamento de “Rebirth” (2001) e fez uma série de turnês pelo mundo todo,
se tornando uma das principais bandas do Brasil de todos os tempos.

Em 2004, Kiko Loureiro deu início à sua carreira solo com o álbum
instrumental “No Gravity”. Outros três álbuns solo foram lançados nos
anos subsequentes: Universo Inverso (2006), Fullblast (2009) e Sounds of
Innocence (2012).

Além da música, Kiko também tem se dedicado ao ensino e estudo do


music business, marketing musical e desenvolvimento de carreira,
palestrando para músicos e corporações em diversos lugares do Brasil e
realizando cursos presenciais e online sobre os temas.
O ano de 2015 já se inicia com grandes notícias para os fãs de música: Kiko
Loureiro é convidado para integrar o Megadeth, uma das maiores bandas
de todos os tempos e parte do Big Four do thrash metal, juntamente com o
Metallica, Anthrax e Slayer.

Em parceria com Dave Mustaine, David Ellefson e o baterista Chris Adler,


Kiko gravou o décimo quinto álbum de estúdio da banda em Nashville, no
Tennessee. Dystopia foi lançado no dia 22 de Janeiro de 2016 e atualmente o
Megadeth excursiona ao redor do globo a todo o vapor.

Pelo mundo todo, Kiko esteve entre as melhores


posições em incontáveis rankings de melhores
guitarristas e foi capa das maiores e mais importantes
revistas relacionadas à guitarra, como as japonesas
5 Burn! e Young Guitar e as americanas Guitar Player e
Guitar World.

Mas foi no início de 2017 quando surgiu o maior reconhecimento e Kiko


se tornou o primeiro músico brasileiro de rock e heavy metal a receber um
Grammy pela Recording Academy.

Na premiação, que ocorre anualmente e une os maiores nomes da


indústria musical, o Megadeth recebeu o gramofone na categoria “Melhor
Performance de Metal” de 2016 com o single “Dystopia”.

Após uma carreira de quase 25 anos, Kiko Loureiro se mostra como um


músico completo e incansável, que constantemente testa seus limites e está
sempre de peito aberto para o novo.
2. introdução
6

Você precisa mesmo abrir mão de fazer aquilo que gosta pelo resto
da vida? E ao longo dos anos, dia após dia, semana após semana, ir
perdendo sua motivação e acreditando que sonhar não vale à pena?

Planejar seu futuro pensando só no dinheiro que você precisa ganhar e nas
coisas que você precisa comprar pode até ser um plano para sobreviver.

Mas, eu acredito que viver é mais importante.


A escolha é sua!

Não ponha a culpa nas circunstâncias se não estiver disposto a fazer aquilo
que você pode, no lugar onde você está, com os recursos que você tem.
Infelizmente, tenho presenciado vários músicos talentosos abrindo mão de
ter uma carreira de sucesso.

O que me faz lamentar é o fato de que eles afirmam coisas assim porque
não conseguem enxergar de maneira clara como é possível sobreviver
exclusivamente de música, ganhando igual ou até melhor do que se paga
nos empregos tradicionais.

Se você tiver medo da profissão e não se dedicar à música o quanto poderia,


vai se deparar sempre com isso. Ajudando a firmar na cabeça das pessoas
esse conceito de que música é apenas um hobby.

Precisamos superar essa cultura que foi estabelecida de não valorizar a


música. A questão da tecnologia afetou muito esse mercado: surgiram
novas mídias e o acesso se tornou mais barato e abundante.
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Hoje, de certa forma, a música é vista como se fosse água da torneira, que as
pessoas consomem, mas não enxergam o devido valor naquilo.

Essa valorização tem que começar em nós mesmos, adotando uma postura
mais profissional diante do mercado. E quando negociamos, é preciso ter
um posicionamento que realmente valorize nosso trabalho.

Para mim, um mundo com mais e melhores músicos


é um mundo no qual as pessoas exercitam um olhar
mais humano. Se importam mais com as emoçõese se
relacionam melhor.

Posso garantir que não existe caminho fácil. Embora quando você
conquistar seus objetivos, sempre alguém vai dizer que você teve sorte
e tudo estevea seu favor.
Você talvez conheça bem o meu trabalho, mas com certeza ainda não
conhece os bastidores. Acho pouco provável que saiba exatamente como
eu administrei a minha carreira. Muito menos, conhece os segredos que
me tiraram lá do quarto onde eu comecei a tocar guitarra quando era
adolescente e me levaram até os principais palcos do mundo.

E te confesso que eu jamais iria acreditar, se quando comecei alguém me


contasse que eu chegaria tão longe. Talvez eu até poderia rir e dizer: “esse
cara está louco”. Ainda bem que a vida me provou o contrário.

Posso garantir que não existe caminho fácil. Embora, quando você
conquistar seus objetivos, sempre alguém vai dizer que você teve sorte
e tudo esteve a seu favor.

Você e eu estamos conectados. Foi com o propósito de


8 colaborar em sua evolução na carreira e na vida como
um todo, que criei este e-book.

Preparei um material reunindo lições importantes que aprendi ao longo dos


anos no mercado da música.

Imagino que se eu tivesse algo parecido quando estava começando, evitaria


de dar uma séria de cabeçadas e erros que passaram por minha vida.

Vou te mostrar o que deu certo comigo, e que também vi acontecer com
vários músicos amigos meus:

Vocalista Guitarrista Baterista Baixistas

Tecladistas Produtores Empresários Professores


de Música
Os desafios e soluções são bem parecidos, independente do estilo musical,
seja no rock, metal, pop ou sertanejo, por exemplo. E independente também
da cidade de onde vieram.

Em certa medida, isso pode ajudar ou atrapalhar, mas não é o fator


determinante para a sua carreira.

Por isso, preste muita atenção no que eu vou contar


agora: O que faz a diferença não é só você tocar bem,
mas sim conhecer esse outro lado da indústria musical,
o Music Business.

Esse conhecimento com certeza te ajudará a enfim viver de música, sendo


reconhecido pela família, pelos amigos e, claro, pelo público. E também
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a tocar em palcos onde você sempre sonhou tocar, conseguir gravar suas
músicas, acompanhar algum artista grande como sideman ou ter seu
próprio estúdio, por exemplo. Resumindo: é preciso empreender na música
corretamente.

Espero que este ebook possa te incentivar ainda mais a viver da música a
fazer o que você gosta, transformando a sua vida e realizando sonhos.

Leia este e-book até o fim, e, se sentir que valeu a pena, tenha ele sempre a
seu alcance para novas consultas.

Boa leitura!
Kiko.
3. o ínicio do seu
planejamento
10

“Gnōthi seauton”

Onde você quer chegar? Qual o melhor caminho a seguir?


A resposta para estas perguntas é conhecida pela humanidade há vários
séculos. E você está diante dela, escrita em grego no início do parágrafo.

Não precisa correr para o Google em busca de um


tradutor, aqui está o significado:
“Conhece-te a ti mesmo”.

Você com certeza já ouviu essa antiga expressão em muitos lugares. Talvez
o que ainda não saiba é como ela vai te ajudar a ter sucesso na música.
Eu explico: o eixo central do planejamento de qualquer
carreira deve ser o próprio artista.

É do universo empresarial que eu pego emprestada uma ferramenta muito


simples e poderosa que pode ser utilizada por qualquer um que deseja
transformar uma idéia em ação: a matriz SWOT.

A sigla vem do inglês e é constituída por dois fatores: os internos


Strengths (Forças) e Weakness (Fraquezas), e o externos:
Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças).

Esse tipo de análise é muito utilizado para traçar estratégias para novos
projetos e pode oferecer um panorama geral sobre a ideia e o ambiente em
volta, permitindo que as decisões sejam mais certeiras.

11 No caso de uma banda, se todos os integrantes estiverem envolvidos no


processo, essa análise será muito mais completa e ajudará também a
distribuir melhor as funções de cada um na equipe.

O processo estratégico desenvolvido juntamente à todos os componentes


também incentiva o senso de pertencimento e a busca por um objetivo em
comum.

Visualizando claramente os elementos internos e externos, você terá mais


segurança em decisões importantes, portanto será capaz de traçar seu plano
de ação para reverter aspectos negativos e reforçar aspectos positivos.

Para citar alguns exemplos de cada componente da matriz:

Forças - São os fatores chave do sucesso e dependem,


exclusivamente, de você e das suas habilidades.
. Habilidade técnica (instrumento);
. Boa aparência;
. Recursos;
. Conhecimentos.

Pense também em conhecimentos que estão além do âmbito musical, mas


que podem ser incorporados na sua estratégia e no seu produto. Você é bom
com finanças, administração ou design, por exemplo?

Ou, assim como eu, que estudei Biologia por um tempo, você tem um
conhecimento que talvez não seja tão prático de aplicar na música, mas que
pode servir como fonte de inspiração para a arte ou conceito de um álbum,
por exemplo, ou mesmo para o nome da sua banda (Como os Engenheiros
do Hawaii)?

12 Fraquezas - Assim como as forças, é preciso investir


em autoconhecimento para detectar quais os pontos
negativos em você enquanto empreendedor musical.
Quais são as características que você gostaria de
possuir ou que já possui, mas poderia melhorar? Você
reconhece suas fraquezas e busca uma solução efetiva
para elas?

. Inexperiência;
. Falta de recursos;
. Pouca habilidade;
. Falta de parceiros;
. Falta de um mindset profissional;
. Registros malfeitos de marca e composições;
. Contratos assinados sem a devida atenção e que possam conter
desvantagens bruscas para os artistas envolvidos;
. Falta de conhecimentos relacionados ao music business.

Oportunidades - Situações externas que podem


acontecer e afetar positivamente sua carreira, mas não
estão sob seu controle:

. Um determinado gênero musical no qual você se encaixa pode ficar em alta


de repente;
. Aceitação social;
. Relacionamentos estratégicos;
. Um evento onde você pode ter a oportunidade de expandir a sua network;

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Ameaças - Assim como as oportunidades, são situações
externas que estão além do seu controle e podem
influenciar diretamente a sua carreira, como uma crise
econômica, a perda de poder aquisitivo do consumidor
(que interfere no consumo de merchandising, álbuns
físicos e shows) ou um acontecimento natural que
interfira na realização de um evento ou prejudique
seus equipamentos, por exemplo. Apesar de não poder
controlá-los, devemos sempre possuir um plano B e
estar preparado para soluções alternativas.

. Instabilidade no relacionamento da banda;


. Leis relacionadas à indústria musical no geral, produção de eventos,
criação de estabelecimentos de ensino, entre outros;
. Concorrentes;
. Novas tecnologias/processos operacionais/modernização - o que requer a
substituição de equipamentos, estudo e prática para dominá-los;
. Crenças, costumes, hábitos de consumo e valores.

Resumindo:
A análise SWOT pode ajudar o seu empreendimento na música como artista
ou em qualquer outra área do mercado através das seguintes maneiras:

. Expansão do conhecimento sobre o cenário em que você se encontra e


sobre você mesmo;
. Criação de planos primários e alternativos;
. Localização da sua posição no mercado em relação aos seus concorrentes
diretos e indiretos;
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. Percepção de tendências do mercado, antecipando-se aos movimentos
externos;
. Maior segurança no processo de tomada de decisão.

Análise SWOT aplicada ao universo da música:

Como desenvolver sua habilidade musical, ou seja,


sua força?

Um músico precisa dominar a técnica do seu instrumento. Comecei a tocar


guitarra ainda na adolescência e desde então venho praticando de forma
consistente.

E para conseguir fazer bem as coisas com constância e excelência, seja


tocando um instrumento ou não, devemos manter foco naquilo e executar
repetidamente. Aquela velha história de que a prática leva à perfeição.
Quando eu comecei, era tudo muito diferente. Havia escassez de
informações. Vez ou outra eu comprava algum livro de partituras nas bancas
e me esforçava ao máximo até aprender aquelas músicas.
Nem sempre as músicas mostradas no livro eram do meu gosto, é claro.
Apenas quando eu finalizava um livro e me sentia confortável para tocar
todas as músicas contidas nele é que eu partia para outro novo.

Hoje em dia o acesso é tão grande que um efeito um pouco contrário acaba
acontecendo e ficamos, na verdade, perdidos entre tantas informações. Sem
saber necessariamente por onde devemos começar, qual é o caminho melhor
ou mais prático, por exemplo.

São tantos vídeos, cursos, manuais, podcasts, entre outros tipos de coisas
nas mais diversas mídias, veículos e dispositivos disponíveis. Você inicia
uma leitura e logo em seguida se perde em algo que parece ser mais
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interessante.

Mas ao interromper seu aprendizado, você não


consegue internalizar aquilo. Então, se quer um
simples e bom conselho para evoluir em sua
habilidade, lá vai: tenha foco.

Eu sei que, em meio à tantas informações por aí, tantos sons e distrações
crescentes através do smartphone, principalmente, parece difícil ter
concentração e viver a vida de um jeito mais “offline”.

A questão é apenas de criar um novo hábito. Modificar suas crenças para


que você aprenda a deixar o atraente mundo online de lado por um tempo
para estudar seu instrumento, por exemplo, ou mesmo ter a disciplina de
aprender algo no completamente online sem cair na tentação de dar apenas
“uma olhadinha” nas redes sociais abertas nas abas ao lado no navegador.

Como construir relacionamentos estratégicos?

A medida em que você mantém um posicionamento e trabalha com ética,


vai estabelecendo relações no ambiente profissional. Falando assim até
parece bem simples, mas não se engane.

O universo musical (e posso falar mais especificamente do rock’n’roll), se


desenvolve ao redor de mitos e figuras controversas.

Você pode até optar por ser um cara polêmico.


Sem dúvida isso gera algumas manchetes e entrevistas,
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mas o desafio é se equilibrar nessa corda bamba
por um longo prazo.

A mídia se alimenta do inusitado e tudo que gera reações do público é muito


bem vindo. Mas é a você quem cabe o dever de preservar sua carreira, por
isso desenvolver relações sólidas e boas parcerias é fundamental.

Aqui entra muito do networking. Você se promovendo de uma forma


legítima, estando presente nos lugares, mostrando seu trabalho bem feito.
E, assim, conseguir realmente gerar essa percepção de valor naquilo que
está falando.

Encontre parceiros estratégicos que possam te ajudar: alguém da casa de


shows que você toca, do estúdio, o produtor, uma marca de instrumentos
que te patrocina. Participar de eventos, feiras e jantares é fundamental
para a sua marca pessoal.
4. marketing
pessoal
17

Para iniciar esse capítulo, vou te contar um pouco mais dos bastidores de
minha carreira. Antes de entrar no Megadeth, eu tinha diferentes projetos.
Além do Angra, gravei quatro discos solo entre 2004 e 2012 e cada um deles
é muito diferente entre si, mostrando diversos lados que eu gostaria de
abordar enquanto músico, incluindo inúmeros gêneros distintos daquele
pelo qual eu fiquei conhecido principalmente: o metal.

Sempre me interessei muito por outros estilos e, em


um certo ponto, quis também me mostrar como um
músico versátil que pode caminhar por diferentes
gêneros musicais com consistência.
Desde então, participei de inúmeros festivais de jazz e MPB pelo Brasil. Em
2013, quis arriscar um pouco mais e gravei o meu primeiro DVD solo, o “The
White Balance”.

Com esse registro, quis propor algo diferente e mais conceitual, ou seja,
proporcionar uma experiência diferenciada ao público. O lugar escolhido
foi o Auditório Ibirapuera em São Paulo. Neste show, abordei aspectos
importantes para mim na música, através de 3 sets diferentes:
um voltado para o rock/metal, outro para o jazz/mpb e outro momento
completamente acústico.

Ainda que eu tenha experimentado outros caminhos, minha identidade


como músico sempre esteve ali, sólida. Tudo isso é questão de
posicionamento, ter o chamado “self-awareness” para saber como criar sua
identidade, seja como músico, intérprete, sideman ou como um produtor.
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A sua área dentro da música não importa agora, saber


como se posicionar e determinar como você quer ser
visto é fundamental, independente de qual nível você
está agora ou qual a sua área de atuação. O mais
importante é interagir em vários ambientes e, ainda
assim, aprender a manter sua essência.

Ao ingressar no Megadeth algum tempo mais tarde, novamente mergulhei


no mundo do heavy metal e assumi essa identidade. Mas o principal desafio,
na verdade, foi o de passar a ser um membro efetivo de uma banda já
conhecida e que possui um grande repertório, do qual eu não fiz parte, com
exceção pelo último álbum, lançado em 2016.
Ou seja, eu não apenas deveria aprender a tocar as
músicas. Eu deveria aprendê-las e executá-las com
excelência, como se tivesse feito isso a vida toda,
mas com algo diferente, que não me fizesse parecer
apenas um intérprete.

Eu precisava de alguma coisa nova, que realmente fizesse parte da minha


identidade enquanto músico e que atuaria como um diferencial. Algo que
talvez fizesse o pessoal dizer: “O Kiko está ali”. Quando você entra em um
momento novo assim, tem que abraçar e ir com tudo.

Então refleti sobre a gravação do disco e a própria performance no palco


em si e me veio o insight de trazer a minha brasilidade para a banda, sem
descaracterizá-la. A ideia foi fazer a introdução de uma música com violão
19 de nylon, que é um diferencial brasileiro e soaria mais ousado em um disco
de metal.

A música se tornou “Conquer or Die”, presente no último disco do


Megadeth. Tive a honra de gravar um clipe da faixa e, de repente, se
tornou um momento meu no álbum e nos shows da banda em que eu
tinha acabado de entrar.

Vamos então para algumas dicas que podem ajudar a fortalecer a sua
identidade e o seu marketing pessoal como um todo:

Que cuidados um músico deve ter com sua imagem?

Qualquer artista se expõe para avaliação do público e do mercado. É


importante então ter cuidado com a embalagem na qual você apresenta seu
trabalho. Para todo artista, ainda mais aquele que está começando, estar
bem posicionado principalmente no meio online faz uma diferença enorme.

Você está se preocupando como deveria com a roupa que você veste e com
a qualidade das fotos que você posta? Como está o seu site? Seu Facebook?
Seu Instagram?

Vaidade em excesso pode atrapalhar bastante, mas uma aparência


descuidada também não contribui para quem deseja crescer no universo da
música.

O importante é ter clareza do conceito que propõe


transmitir e tudo mais deve estar alinhado com isso.
Vai muito além da estética pura e simples.
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Faça um teste. Tentar imaginar 3 ou 5 pessoas no mundo que você admira
muito e pare para pensar: Por quê eu gosto dessa pessoa? Aí você começa
a achar esses valores para trazer para sua música e para a sua conduta. E
você descobre qual a sua verdade, seu propósito
e diferenciação.

Tenha sempre em mente a questão do propósito, o que


você quer mudar ou mostrar e qual a sua missão.

E quando aparecem as oportunidades, você tem que refletir se estão


alinhadas com o seu propósito. Se não estiverem de acordo com
seu propósito e objetivo, dinheiro nenhum paga. Entender isso é
fundamental.
O que você entrega?

Quando eu tinha 20 e poucos anos, eu era visto como um guitarrista que


tocava bem e era virtuoso, de uma banda brasileira de metal que alcançou
muita coisa dentro e fora do Brasil. Essa era a minha imagem com o público,
num tempo que só se sabia e tinha contato com o artista pessoalmente nos
shows, feiras e workshops, principalmente.

Agora que temos as redes sociais, é possível interagir muito mais com
quem gosta do seu trabalho, mostrar o seu dia a dia e compartilhar
outras coisas que você ache legal.

Hoje, por exemplo, gosto de escrever no meu blog, criar os monólogos e


vlogs no youtube e, acima de tudo, acredito que posso ajudar outros artistas
com esses conhecimentos que aprendi na minha carreira. Novamente a
21 questão de saber se posicionar é fundamental.

Além de ser um ótimo músico ou produtor, por exemplo. O que mais você
tem a oferecer e contribuir? Qual é a sua história de vida? Tem mente
a resposta para essas perguntas pode ser primordial na hora de fazer novas
parcerias, seja com artistas, patrocinadores ou outros profissionais do
mercado.

Foque em transmitir seus valores, compartilhar as experiências que


realmente importam e um pouco daquilo que aprendeu no caminho.
Apresente sua história em forma de uma narrativa que seja atraente para
quem ouve, utilizando algumas técnicas de storytelling ou do conceito que
chamamos de “jornada do herói”, que consiste em criar um linha do tempo
apresentando seus desafios, objeções, o que te levou a seguir determinado
caminho e, enfim, os principais desdobramentos que te levaram ao seu
momento atual da carreira.
Se você não se preocupar em construir sua própria narrativa, outros o farão
com o tempo, mas nem sempre com o mesmo cuidado. Portanto, seja você
mesmo o responsável por fundamentar os pilares da sua imagem.

Entenda o seu público:

Onde você quer trabalhar? Você Já possui alguma visibilidade na


região onde está situado? Você já cativou algum público na sua
área de atuação?

Para determinar suas estratégias, é fundamental compreender também


quem se encontra do outro lado. Imaginar quem seria o seu consumidor
ideal, ou seja, determinar um “avatar” para o seu produto.

Isso dependerá de observações e imersões constantes no seu próprio


22 público. No Megadeth, ainda estou formando esse entendimento, mas no
Angra é bem claro o público com o qual eu me comunico.

Hoje em dia o que eu vejo com o Angra, por exemplo, é aquele adolescente
que envelheceu e agora está entre seus 25 a 35 anos, predominantemente
masculino, que tinha relação com games, cultura geek e ia em festivais de
mangá e anime.

Alguns desenhos do Japão tinham e ainda tem a trilha repleta de músicas


mais pesadas, que viram ícones em aberturas e encerramentos, o que
influenciou muito essa geração.

Tendo esse tipo de informação mais focada no ambiente exterior, você


pode viajar e criar coisas voltadas para o que o seu público gosta, fazendo
suas capas voltadas para esse conceito e vendendo seus shows para
eventos desse universo, para citar apenas duas das muitas oportunidades
disponíveis.
Como já falei mais acima, para quem tem outra profissão, seja qual for
o ramo, sempre existe algo que pode agregar. Alguém que é do mundo
corporativo ou da área de TI, sempre pode usar esse conhecimento a seu
favor.

Na maior parte das bandas que ganham destaque do mercado, você vê que
há alguém com interesses e expertises além do universo musical e que está
atento ao perfil do seu público.

De onde você vem?

Recentemente, recebi uma pergunta bem inusitada sobre a carreira de


músico: “E se a pessoa morar no Acre, como é possível construir uma
carreira?”

23 Para começar, eu não sei o que as pessoas têm contra o Acre. Já estive lá
algumas vezes e achei muito bonito. Realmente é longe e talvez algumas
coisas sejam mais difíceis.

Porém, acredito que no nível que você estiver, ali você pode colocar a sua
meta de crescimento e sonhar.

Não sei se você mora no Acre, mas se acha que ali não
é o lugar para a música que você faz, tem a internet
que vai para o mundo inteiro.

E além disso, você pode mudar de cidade, de estado, de país. Eu cresci em


São Paulo e realmente isso foi muito bom para o networking na fase inicial
da minha carreira.
Mas houve o momento em que também fui pra fora do país para crescer.
Eu sei que não é uma decisão fácil ou barata, mas se você acha que mora
em um lugar em que há pouca chance de crescimento, se planeje e procure
por oportunidades para ir para um ambiente melhor para você e para a
sua carreira.

O lugar de onde você vem não pode ser um obstáculo.


Você pode ser um artista de sucesso independente
disso.

Os 4 P’s do Marketing:

Esses conceitos que abordamos neste segundo capítulo podem ser


sintetizado em outro conceito muito simples do marketing: Os 4 P’s, que
24
consistem de 4 fatores chave para o desenvolvimento das suas ideias: qual é
o produto, praça, preço e qual a promoção envolvida?

No mundo da música, podemos aplicá-los da seguinte forma, por


exemplo:

Produto - É você, sua música, seu estúdio ou seu evento. Como está
a sua embalagem? Sua imagem é condizente com o que sua música propõe?
Quais as principais qualidades do seu produto? Você está adequado ao
seu público? Seu público está adequado à você? Como você trabalhar sua
linguagem verbal e não verbal?

Praça - Onde você trabalha atualmente? No meio presencial, online ou


ambos? Onde de fato acontece o seu negócio? Ele pode ser itinerante,
como um músico em turnê, ou pode ser um lugar fixo como um estúdio, um
escritório ou uma casa de shows, por exemplo. Assim como pode também
ser virtual através das redes sociais e serviços de streaming. Em resumo, é a
sua localização e onde o seu público se encontra.

Preço - Quanto mais valor você oferece, mais caro você pode
cobrar por um produto ou serviço. Assim é também quando pensamos
no tamanho da responsabilidade exigida. Uma maior responsabilidade
demanda maior preço. Mas é importante também considerar a percepção de
valor. Muitas vezes, o tamanho do seu pagamento não será tão relevante.
Você poderá receber menos em algumas situações, mas o valor percebido
é muito mais gratificante e construtivo para a sua carreira. Vale a pena
ganhar mais em uma pequena turnê no interior de São Paulo, onde você já é
conhecido, ou receber menos, mas exibir sua música para um público novo
em outro país, por exemplo? Cada escolha é individual, mas é fundamental
compreender que diferentes situações, possuem diferentes valores,
independentemente do preço.
25

Promoção - É como e onde o seu trabalho é divulgado, ou seja,


como você atrai a atenção para você, para seu produto ou serviço.
Nessa etapa, a construção de uma boa network é fundamental. É importante
possuir consistência na sua mensagem e também constância. Mostrar-se
ativo nas redes sociais é uma boa forma de se comunicar com o seu público
já existente e também com o público em potencial.
Quem você
5. quer ser daqui
a 10 anos?
26

Em muitos lugares, tenho ouvido pessoas dizendo: “Não nasci com


talento pra isso”, “Não é pra mim”, “Não vou conseguir”. Essa forma
de pensar é muito ruim. São crenças limitantes, que, se repetidas por
muito tempo, você acaba se acostumando com elas.

Isso me faz lembrar uma coisa muito característica de Londres. Se você


já teve a oportunidade de viajar para lá, já deve ter ouvido uma voz no
aeroporto ou no metrô dizer a seguinte frase: “Mind the gap”.

Existem até produtos de merchandising com essa frase e o símbolo utilizado


nas placas de sinalização. Esse alerta significa que você deve prestar atenção
em relação ao vão que existe quando você vai embarcar no trem ou avião.
Estou citando essa frase porque, na vida, funciona mais ou menos do mesmo jeito.
Você tem que saber que é capaz de aprender e
desenvolver qualquer coisa.

Mas existe sim esse vão, o buraco, a distância entre o que você faz
hoje e aquilo que você deseja fazer no futuro.

Algumas pessoas não olham pra esse buraco, têm receio. Elas têm medo do
futuro, dos sonhos e dos planos. Vivem o presente sem traçar suas metas.
O que será uma trava para você. Um belo dia você vai acordar e estará
frustrado por não ter feito planos a curto, médio e longo prazo.

Meu conselho é que precisa exercitar esse


pensamento do sonho possível, da meta.
E quanto maior esse buraco, essa distância, melhor!
27
Por que você deve pensar pequeno?
Pelo contrário, pense grande!

E você pode ter suas referências de pessoas extraordinárias e querer


alcançar o mesmo nível que essas pessoas alcançaram. Precisa criar os
degraus pra chegar lá, etapas na vida.

Você vai conseguir chegar lá se for capaz de desenhar direito esses


caminhos. E colocar uma série de esforço, nem sempre é só isso, mas
também perceber as oportunidades e ver se o caminho que você está
trilhando é o único caminho, o melhor caminho…
6. o sucesso
e o público
28

Para concluir esse e-book , quero propor uma reflexão.

Quando falamos de metas e objetivos, temos uma preocupação excessiva


com números e quantidade em geral.

E o que tenho a dizer sobre isso é que realização


pessoal e o sucesso, não estão diretamente
relacionados com quantos likes você tem, quantos
comentários você recebe na internet ou para quantas
pessoas você toca.
Digo isso porque tive oportunidade de tocar nos grandes festivais da
Europa, para 60, 80 mil pessoas. E, claro, isso é muito bom! Traz a sensação
de realização pessoal.

Mas algo que me trouxe uma sensação de realização ainda maior foi quando
tive a oportunidade de participar de um evento relativamente pequeno,
o Guitar Camp do Paul Gilbert, que é um ídolo meu. Passei 4 dias lá com
grandes músicos. Foi um evento fechado, nas montanhas da Califórnia, um
lugar ermo onde também fazia muito frio.

Naquela confraria, a plateia devia ter umas 70, 80 pessoas no máximo.


A minha sensação de sucesso e de atingir o que eu desejava foi irreal, pois
eu estava ali fazendo parte de um grupo seleto de guitarristas, ensinando
guitarra a uma galera que ama o instrumento, quer se desenvolver e tocar
melhor.
29
Eu estava tocando ao lado dos meus ídolos, aos quais eu cresci
estudando e prestando atenção ao que eles faziam. Então foi muito nítido
perceber que essa questão de sucesso e realização pessoal, nada tinha a ver
com quantidades naquele momento.

O mais importante é cultivar o entusiasmo de


realmente estar satisfeito com aquilo que você tem.
Se você está atingindo as pessoas certas e realmente
mostrando a sua arte do jeito que você gostaria.

Sinto a mesma coisa no meu curso de Music Business. Montamos um


auditório para 200 pessoas em 2016 e foi demais! Não é preciso ter 200 mil
pessoas em um evento. Todos lá presente estavam super engajadas com
aquilo, transformando suas carreiras. Isso para mim é o sucesso e, enfim,
a realização pessoal.
Deixo aqui essa reflexão para você também pensar,
pois nunca é demais repetir o velho clichê de que a
qualidade é infinitamente melhor que a quantidade.

Um forte abraço!
Valeu!

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