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Módulo 01.

Filosofia do Direito I – Pensadores Clássicos

26.03

Unidade 3 - Platão: discípulo de Sócrates

1. Platão e as hierarquias sociais

1.1. Idealismo, virtude e transcendência ética

Platão aprende diretamente com Sócrates e se torna seu discípulos favorito.

Platão é oriundo de uma família tradicional, que são grandes latifundiários, e com
grande inserção na polis. E não perde a oportunidade de se mostrar um adversário da
dinâmica politica democrática; não aceitando um governo do povo, para o povo e pelo
povo (democracia direta), porque a própria dinâmica da sociedade se caracteriza por
uma hierarquia.

OBS: quando falamos da filosofia de contenção, fortemente voltada para o


funcionamento da polis, percebe-se que ela é largamente compartilhada por pessoas
que compõe uma elite social.

Platão se utiliza metáfora do corpo humano para analisara sociedade ateniense,


fazendo uma distinção entre as almas racionais, que consiste na cabeça do ser humano
(seria a elite intelectual), já as pessoas que tem a alma marcada pela ira são
comparadas com o tronco (que evoca a ideia de força, de luta – seria a classe de
guardiões, guerreiros), por fim, há o povo – que seria a alma sensível, refém do poder
sensual – na metáfora do corpo seria a região do baixo ventre.

Platão parte do pressuposto de há pessoas racionais, iradas e pessoas vitimas da


sensualidade. As pessoas marcadas ela ira não tem a ampla virtude de controlar as
suas paixões, mas já seriam mais razoáveis do que a massa refém do seu sentimento
efêmero de prazer.

De qualquer forma, tanto as pessoas iradas, quanto as pessoas vitimas da sensualidade


jamais seriam capazes de fazer um governo racional, virtuoso E Platão considera que é
por isso que a Atenas do seu tempo vive um contexto de decadência, defendo um
governo de um filosofo rei, que é a representação da alma racional.

Quando ele faz esta descrição da sociedade, Platão acaba por ser idealista, no sentido
de completamente metafísico – é dizer, as pessoas não teriam esse tipo de escolha,
não teriam a capacidade de controlar os sentimentos, de organizar e disciplinar a vida,
de modo a superar os níveis, é como se virtude fosse um presente dos deuses e fora
do alcance das pessoas.
Neste sentido a filosofia idealista de Platão retoma os elementos da mística, o que é
um paradoxo, pois ele como um filosófico socrático toma a postura de um pensador
racional por excelência.

O mundo das ideias somente pode ser alcançado através da racionalidade, e só


consegue isto quem já nasceu privilegiado.

2. O idealismo metafísico da alegoria da caverna

Na obra República, Platão traz a alegoria da caverna, e ele mostra essa alegoria de uma
forma sugestiva: um determinado sujeito que está vivendo no mundo das sobras
(caverna) com várias outras pessoas, consegue fugir dali e chega à superfície solar, e ao
enxergar o seu entorno, fica perplexo, dando-se conta de que vivia em um mundo de
sobras e ilusões, mas agora aquele sujeito que consegue ver as coisas como
verdadeiramente são, atinge a verdade, a plenitude.

Metaforicamente essa alegoria mostra que o sujeito é premido porque ele tinha uma
postura ética e virtuosa e se esforça para não se deixar levar pelo sentimento imediato
de prazer e que procurava com a busca da felicidade. Ele tem méritos, mas não teria
condições de escapar daquele ambiente, por isso ele foi premiado, tendo a função de
retornar a caverna para a mostrar a verdade ao demais.

Esta alegoria é fantástica e filtrado isso pela visão da filosofia politica, tem-se a figura
do filósofo rei, do sujeito ilustrado, racional, pleno. E que por ser pleno deve governar
a vida em sociedade, deve governar a polis. É uma construção que tem impacto
definitivo em todo o mundo ocidental.

Ocorre que o grande problema é o elemento metafisico: quem são essas pessoas? A
forma como ele coloca há uma certa tendência aristocrática. O perigo dessa situação é
que esse sujeito pretensamente iluminado está agora legitimado, autorizado a voltar a
esse mundo de sombras.

Traduzindo isso no campo politico e jurídico, tem-se que o sujeito iluminado a partir de
sua lembrança de mundo de plenitude estaria autorizado a positivar o direito, pois o
mundo carece de um direito positivado. Aquela pessoa que é movida a interesses
pessoais se mostra intoxicada, envenenada, marcada pela ibris (contraponto da
virtude) – esse sujeito no seu individualismo acaba comprometendo a harmonia a
ordem a polis, por isso a necessidade do direito positivado - direito posto que tem a
função de um medicamento ou um antidoto contra o veneno. Ou seja, dentro dessa
logica o direito vai ser exatamente uma terapêutica, uma dietética que vai fazer do
individuo um sujeito apto para convívio em sociedade.

Não deixa de ser engenhosa a construção de Platão, mas não tem como não
considerar que temos um esquema de construção politico-jurídico exatamente
funcional no sentido de manter o exercício do poder, uma dominação de um
determinado grupo em relação ao demais grupos.
A construção de Platão acaba dando o respaldo aquilo que os sofistas disseram
gerações antes.

A adversariedade que Platão encampa, compromissada em combater os sofistas é


interessante, porque se os sofistas diziam que o direito enquanto nomos é
fundamentalmente uma ferramenta de poder; Platão, por sua vez, busca inverter essa
visão, há a necessidade do direito positivo, mas não como uma ferramenta de poder,
de privilegio, mas sim como uma ferramenta de equilíbrio da sociedade, ainda que seja
necessário sacrificar determinados indivíduos (idealismo metafisico).

O sujeito está em uma condição de submissão muito forte no ideal de Platão, pois há
fortes elementos da mística, da mitologia.

3. O idealismo platônico e as tragédias clássicas

3.1. A retroalimentação entre a ética platônica e as tragédias de Édipo e de Antígona

Quando falamos das tragédias um nome ganha muita repercussão, que é Sófocles, um
dramaturgo grego, cujas peças foram encenadas em Atenas, e eram um sucesso
absoluto.

Duas das peças de Sófocles são importantes para problematizar a filosofia do direito
ateniense e de uma forma mais estrita a filosofia metafisica e idealista de Platão.

3.1.1. Édipo

A primeira dessas tragédias é a estória de Édipo, que foi um sujeito extraordinário, pois
seus pais eram reis de uma cidade estado (Reino de Tebas) que naquele contexto,
muito marcado pelo pensamento mitológico, vão até o oráculo de delfos (a palavra do
oráculo era lei, aquilo que foi predito sempre iria acontecer) e descobre que o filho a
nascer será a maldição das pessoas. O tempo passa, e a criança nasce, dessa forma os
reis determinam o assassinato da criança, o subalterno, por sua vez sempre fora leal,
contudo ele não consegue cumprir a missão (peso do destino). Apesar de não a
criança, o servo perfura os pés da criança para que atraia algum animal.

Entretanto, pouco tempo depois, passa outra pessoa e presta os primeiros socorros à
Édipo. Essa pessoa seria um estrangeiro e leva essa criança para a sua cidade (Corinto),
assim que ele chega lá, procura os rei e a rainha do local. Destaca-se que eles foram
incapazes de gerar filhos e o destino, mais uma vez, se incumbiu de levar até eles
Édipo, que o adota (e o sujeito que levou Édipo nunca deverá revelar o fato ocorrido).

Édipo cresce para ser o futuro rei, sendo marcado pela virtuosidade, bonito, lutador.
Ele, em um determinado momento, já jovem, procura o oráculo de delfos e nesse
momento ele ouve que ele será a destruição dos seus pais, e que ele vai assinar o seu
pai e desposar a própria mãe. E ele se desespera porque ele sempre achou que seus
pais fossem aqueles que o criou.
Irresignado ele decide ir de encontro ao oráculo e se torna um peregrino sem destino e
se depara com um comitiva (oriunda de Tebas, que buscava uma solução para as
mazelas causadas pela dominação esfinge) e naquele momento este encontro se dá de
uma forma tumultuada, pois acha que foi lesado pela comitiva e desafia o chefe, que
aceita o desafio e ambos lutam – Édipo ganha a luta e assassina o adversário, que era
justamente o seu pai biológico. Por consequência, ele se torna o chefe da comitiva e
segue até Tebas.

Nos portais de Tebas ele é recebido pela esfinge que lança um desafio pera Édipo: ou
ele respondia o mistério proposto, ou ele seria devorado pela esfinge. Édipo aceita o
desafio e responde corretamente, a esfinge se lança do precipício e o feitiço na cidade
se desfaz.

Após isso, ele é recepcionado pela rainha, que se atrai por ele e passam a viver juntos
como marido e mulher. É a predição do oráculo se realizando.

Ambos vão governar virtuosamente por muitos anos, até que um momento Édipo
começa a se intrigar com determinadas coisas ditas pela suas esposa: ela conta que
teve um filho, mas que ele foi levado para ser morto, tendo em vista a profecia do.
Édipo, por sua vez, vai cruzando testemunho, até que um determinado momento ele
descobre que ele é o filho da sua esposa (Jocasta).

Quando isso fica claro para os dois o caos é instalado, levando a Jocasta tirar a sua
própria vida e Édipo se considera o pior dos seres, arrancando seus olhos com a
próprias mãos, até ser engolido pela própria terra, sumindo como se não tivesse
existido (na Grécia o ritual do sepultamento é extremamente importante e a ausência
desse ritual para Édipo demonstra que ele não foi um ser humano digno, apesar de ter
sido virtuoso).

A moral da estória é de que coisas ruins acontecem com que não se submete à força
do destino. O destino volta com muita força no contexto clássico, platônico.

3.1.2. Antígona

Antígona já se faz presente na estória de Édipo, ela foi a sua filha e também irmã. Da
relação entre Édipo e Jocasta tiveram quatro filhos, dois moços e duas moças.
Antígona é uma das moças e ela se solidariza, é comovida por um sentimento de
justiça.

Quando seu pai sai da cidade, ela segue seu pai e fica em sua companhia até o
momento em que ele é tragado pela terra.

O que se percebe é que ela é uma personagem muito extraordinária, por e mulher
nesta sociedade é totalmente submissa, pois a sociedade é muito patriarcal.
Desta forma, apesar, de ser uma moça, ela assume a posição uma protagonista, o que
já mostra ela também está, segundo a leitura de Platão, intoxicada, assim como édipo,
pois ele colocou tudo aquilo em desordem.

Com Antígona temos algo muito parecido. Em Tebas a rainha está morta e os rei
sumido, sobrando apenas os quatro filhos muito jovens. E pela tradição paternalista,
não se verifica como estes jovens poderiam ser os reis de Tebas, se instaurando uma
disputa sobre quem vai ser o novo rei de Tebas.

Por isso, surge Creonte, um irmão de Jocasta, que estaria apto a ser Rei, mas uma
parcela da sociedade não apoia seu reino, devendo, portanto ser o novo rei o filho
homem mais velho de Édipo e Jocasta.

Por conta disso, uma guerra civil é instaurada, e, curiosamente, o filho mais velho, que
poderia ser, portanto, o novo rei, acaba por virar inimigo de ser próprio irmão homem
(pois o irmão mais velho queria ser o novo Rei, e o outro irmão defendia Creonte). Eles
lutam entre si e se matam.

Apesar de toda confusão, Creonte disfruta da condição de rei e ele emite um decreto,
dizendo que aquele que lutou em seu favor será sepultado, o outro, por sua vez, será
insepulto, se tornaria um banquete para as aves de rapina (sob pena de morte).

Só que a essa altura, Creonte, se torna uma espécie de guardião das filhas de Édipo e
Jocasta (Antígona e Ismênia) e é ai que temos a trama da segunda tragédia.

Antígona, ao ter notícia das normas do Rei, não a aceita, por considerar que é seu
dever, enquanto componente daquela família, zelar por um sepultamento justo de
todos os seus irmãos.

É ai que vem à tona uma espécie de ruptura, desmembramento daquilo que


chamamos de direito, porque quando falamos da ordem de Creonte assimilada ao
direito positivo, estaríamos falando do nomos.

Mas Antígona vai sustentar que existe um direito que é muito mais importante, mais
denso, um direito divino, que é eterno e que não decorre da vontade de nenhuma
pessoa. Um direito que decorre da vontade uma pessoa, seria, portanto, algo fugaz, e
é assim que ela se convence que deverá ser sepultar o seu irmão.

É muito curioso, pois Antígona na sua autenticidade, inquietação sabe muito bem que
não pode enfrentar o Rei, pois as coisas não vão ser tranquilas para ela, mas ela passa
a encarar isso, questionado a si mesma o sentido da vida: deveria ela se omitir e
preservar a visa, ou fazer algo que é necessário, mesmo que coloque a sua vida em
risco?

A sua irmã, Ismênia, por sua vez, acaba por fazer o papel da mulher média, da mulher
submissa, aconselhando-a a não enterrar o irmão. Entretanto, Antígona não se
contém, e cabe destacar que a estrutura de uma norma está completamente presente
na fala de Creonte (hipótese e consequente), e enterra o seu irmão, ainda que seja
simbólico.

Pois bem. No dia seguinte os guardas de Creonte o informam que a norma foi
transgredida e, muito embora ele seja soberano, ela não é estável, devendo Creonte
mostrar a sua força, devendo os guardas encontrar o culpado e matar essa pessoa.

Os guardas desfazem o sepultamento, e Antígona tem noticia do acontecido e, em


plena a luz do dia, faz um novo sepultamento. Os guardas a capturam e a levam ao Rei,
que fica perplexo, tentando dar um chance para que ela se desculpe, dizendo que não
sabia da ordem, mas ela afirma a todos que ela fez isso deliberadamente, o
enfrentando, afirmando que a ordem dele seria apenas uma vontade dele, pois ela
estaria submissa a ordem divina. Seu destino é selado à morte, mas se deve destacar
aqui que Antígona era noiva do filho de Creonte e, pela narrativa, se amavam
verdadeiramente e tudo que queriam era se casar.

OBS: Creonte tinha dois filhos homens, e um deles foi morto na guerra civil, restando
apenas um, que foi exatamente aquele que se casaria com Antígona.

Agora Antígona está condenada a morta pelo pai do seu noivo e Creonte percebe todo
o dilema, o problema é que se ele não der mostras de firmeza, o seu governo será
ainda mais contestado, indo por água abaixo.

Antígona é levada para uma prisão e acaba por tirar a sua própria vida. O noivo dela,
após ter ido ao próprio pai despejar a sua ira, tendo notícia da morte de sua noiva,
também tira a sua própria vida.

Creonte para se manter como Rei acaba perdendo o seu próprio filho e a sua esposa,
que, infeliz, também se mata.

A moral da estória é, pelo fato de Antígona não ter represado seu sentimento,
somente sobrou a ela a morte – essa pessoas que tem muita originalidade e que
sabem o que querem e não hesitam em transgredir, vão se dar muito mal, elas
encarnam os excessos e colocam a harmina da polis em risco.

4. A Filosofia do Direito de Platão como mecanismo de contenção

A filosofia de Platão determina uma submissão dos indivíduos como forma de


contenção, como forma de evitar que a harmonia da polis esteja e risco.

Todos devem se submeter irrestritamente às normas e é isso que as tragédias de Édipo


e Antígona mostram, as pessoas não devem agir por seu impulso, elas devem ser
comedidas.

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