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Geografia Humanistica Yi Fu Tuan PDF
Geografia Humanistica Yi Fu Tuan PDF
Yi-Fu Tuan
1. Humanismo
2. Perspectiva Humanística
3. Temas da Geografia Humanística
3.1-conhecimento Geográfico
3.2-Território e Lugar
3.3-Aglomeração humana e privacidade
3.4-Modo de vida e Economia
3.5-Religião
4. Histórico e Regional
5. Riscos e Oportunidades
5.1-Propósitos do projeto
5.2-Intelecto e Comportamento
5.3-Iniciativas
6. Relações para com a Ciência
7. Treinamento
8. Utilidade
Apêndice: Wilhelm Von Humboldt
1. HUMANISMO
O humanismo parece ter diferentes significados. Erasmo (1466-1536) foi um
humanista, mas também o zoólogo Sir Julian Huxley (1887-1975) o foi. O que
um pensador da Renascença e um cientista moderno têm em comum? Ambos
procuraram alargar o conceito do indivíduo humano. Os pensadores da
Renascença voltaram-se aos estudos clássicos, aos ideais gregos e à ciência
em reação contra as estreitas doutrinas estabelecidas pelo clero. Erasmo, um
padre ordenado pela igreja romana, deplorava a intolerância religiosa do seu
tempo; sua tolerância e vasto conhecimento foram evidência do seu desejo de
expandir o conceito do homem além dos ensinamentos da sua igreja. Isto pode
parecer estranho, mas mesmo no Século XX, um humanista-cientista como
Julian Huxley viu uma necessidade de lutar contra as restrições impostas pelos
dogmas religiosos. Mesmo agora, em algumas escolas, o Gênesis tem maior
peso do que a teoria da evolução biológica.
O uso histórico, então, permite-nos definir o humanismo como uma visão ampla
do que a pessoa humana é e do que ela pode fazer. Uma visão restritiva ainda
existe. Nas universidades é a ciência dogmática ao invés da religião que agora
tende a circunscrever a linguagem apropriada das dissertações concernentes
ao homem. Os humanistas surpreendem-se com esta inversão dos fatos, onde,
o antes liberador torna-se agora censor. O humanismo luta por uma visão mais
abrangente. Os pensadores da Renascença, como Erasmo e Sir Thomas More,
não negavam a doutrina religiosa; eles a achavam insuficiente. O humanista
hoje não nega as perspectivas cientificas sobre o homem; trabalha sobre elas.
2. PERSPECTIVA HUMANÍSTICA
Qual é a perspectiva humanística? De que maneira a concepção humanística
do homem é mais compreensiva do que a da ciência? Uma resposta é sugerida
verificando as disciplinas acadêmicas que agora estão no cerne das
humanidades. Tais disciplinas são História, Literatura, Artes e Filosofia. Todas
focalizam sobre pensamentos e atos que são unicamente humanos. No
coração da História, por exemplo, estão os eventos. Os eventos humanos
diferem em caráter e finalidade, mas são similares quando mostram a
capacidade humana de iniciar, isto é, de começar novamente. Se é admitido
que o povo pode verdadeiramente iniciar, então eventos tais como a ascensão
meteórica do Islão, a Revolução Francesa, a descoberta da América ou o
materialismo dialético, são largamente impredizíveis.
3.5. Religião
A religião está presente em vários graus em todas as culturas. Parece ser um
traço humano universal. Na religião, os seres humanos são claramente
diferenciados dos outros animais. De que maneira pode uma perspectiva
humanística contribuir para a geografia da religião? O campo não está
ordenado por falta de uma definição coerente do fenômeno que procura
compreender. A pesquisa sobre tipos de celeiros e de casas é geografia
cultural, mas a pesquisa sobre igrejas e templos parece pertencer é geografia
da religião. Por que não é a feng-shui uma técnica para a localização de
sepulturas e de casas, tratada como um ramo da geografia aplicada, ou mesmo
de um levantamento? É considerada religiosa porque algumas práticas na
geomancia3 parecem sobrenaturais ou mágicas para o erudito ocidental? Um
campo tão carente de focalização e tão arbitrário em sua seleção de temas não
pode esperar alcançar a maturidade intelectual.
4. HISTÓRICO E REGIONAL
As tarefas na Geografia Humanística assim esboçadas são todas passíveis de
um tratamento sistemático; na verdade, convidam a uma abordagem
sistemática, conceitual e comparativa. Qual é o lugar da Geografia Histórica e
Regional no empreendimento humanístico?
Se a História é um pilar das humanidades, então a Geografia Histórica deveria
ser um pilar da Geografia Humanística. O paralelo é, contudo, enganador, pois
"histórico” não é simplesmente uma forma adjetival de "história". As duas
palavras diferem no significado. A História está preocupada com os eventos;
sem eventos não há História. O histórico, por outro lado, refere-se a um tempo
passado; é um conceito estático. A Geografia Histórica pode ser geografia do
povoamento e do uso da terra de uma área no passado, ou ela pode rever uma
sucessão de tais passados. Os próprios eventos são importantes, visto que
afetam direta ou claramente a superfície da terra. Considerando esse critério,
uma Geografia Histórica da Califórnia deve incluir a Corrida do Ouro.
5. RISCOS E OPORTUNIDADES
A Geografia Humanística, com sua focalização sobre a conscientização e o
saber, corre certos riscos. Estes incluem ver propósitos e deliberação onde
nada existe, presumindo concordância entre o intelecto e o comportamento,
emprestando atenção excessiva aos inícios quando objetivos
conscienciosamente mantidos guiam a ação.
5.3. Iniciativas
O planejamento ativo é necessário quando uma pessoa encontra novos
desafios, tais como entrando para um novo trabalho ou tendo uma nova
vizinhança. Ela tem que decidir onde morar, onde ir às compras, e de quanto
tempo pode dispor para gastar no deslocamento para o trabalho. Em uma
grande escala, a migração de um povo, de um país para outro, exige
pensamento deliberativo tanto antes da viagem como ao final dela, quando os
migrantes têm de adaptar-se a um novo país. O humanista corre o risco de dar
excessiva atenção às iniciativas quando a consciência do objetivo e o
planejamento exercem um grande papel no comportamento. É provável que ele
esqueça que o hábito governa a vida das pessoas, e uma vez que um modelo
satisfatório de deslocamento seja estabelecido, este tende a permanecer. Sob
um ponto de vista objetivo, o modelo de deslocamento pode parecer
complicado e altamente deliberativo; de fato, é executado com um mínimo de
pausas para tomadas de decisão." O hábito é biologicamente adaptativo. As
tarefas, uma vez aprendidas, podem ser desempenhadas inconscientemente de
forma que o pensamento é liberado para explorar e para reagir a novos
desafios. Um humanista que reconhece a força do hábito em todas as esferas
da atividade humana está mais bem capacitado para avaliar a importância da
iniciativa, da habilidade para romper os modos habituais sob a orientação de
um pensamento consciencioso.
7. TREINAMENTO
O treinamento básico de um climatólogo pode ser especificado com clareza e
lógica. Qual é a educação ideal para um geógrafo humanista? Um
conhecimento básico da Geografia Física, da etologia animal e dos conceitos
nas Ciências Sociais, é útil. Os fatos provenientes desses campos são, para
ele, um ponto de partida e uma lembrança das muitas restrições que as forças
impessoais colocam sobre o homem. A partir da etologia, além do mais,
aprende as técnicas de observação. O geógrafo humanista deve obviamente ter
habilidades lingüisticas e não somente no sentido de escrever bem; deve estar
ciente das nuanças de linguagem, do significado ambíguo de palavras-chave
como natureza e natural, fazer e conhecer, equilíbrio e desenvolvimento, a
qualidade de vida; deve desenvolver uma sensibilidade para com a linguagem
de modo que possa ler, por assim dizer, as entrelinhas de um texto e ouvir o
que não foi dito em uma conversação. Deveria ser bem versado na História e
na literatura imaginativa.
Um climatólogo não precisa ser bem versado na filosofia científica para ser
competente em seu trabalho científico. Ao contrário, um geógrafo humanista
deve ter um interesse penetrante na Filosofia, pois esta levanta questões
fundamentais de epistemologia4 para ás quais podemos buscar
exemplificações no mundo real. A Filosofia proporciona também um ponto de
vista unificado a partir do qual toda uma gama de fenômenos humanos pode
ser sistematicamente avaliada. O cientista não tem necessidade de adquirir
deliberadamente um ponto de vista ou uma estrutura filosófica. A metodologia
científica é uma tal perspectiva e estrutura; é universalmente aceita e tem
amplamente demonstrado sua utilidade no domínio dos objetos materiais e dos
relacionamentos abstratos. Ao contrário, o humanista deve procurar uma
Filosofia adequada ao seu objetivo. Sem um ponto de vista fundamental, seu
trabalho tende a tornar-se uma esotérica desarticulada. Ter um tal ponto de
vista é confessar as limitações, mais do que as tendências. Estas ocorrem
quando ignoramos as nossas pressuposições filosóficas ou quando insistimos
que uma perspectiva é um sistema totalmente inclusivo.
8. UTILIDADE
A Geografia proporciona um conhecimento útil. Ela "serve às necessidades dos
Estados", proclamou Estrabão. Os tipos de informação que os geógrafos
coletam e mapeiam podem, na verdade, ter servido às grandes organizações
senão a partir da época de Estrabão, então a partir das grandes explorações
européias e da fundação de impérios. Qualquer grande organização deve
indagar do "quanto” e do "onde”. Os governos estabelecem departamentos com
a finalidade expressa de coleta e arquivamento de dados. Os geógrafos,
quando mapeiam o uso da terra e a população, contribuem para esta vasta
tarefa sisífica.
Pequeno glossário:
1 Etologista: 1 - Tratado dos costumes, usos e caracteres humanos. 2 -
Estudo dos hábitos dos animais e da sua acomodação às condições do
ambiente. 3 – Parte da Botânica que estuda as adaptações observadas
nos vegetais.
2 Térmitas: Designação comum ao insetos da ordem dos isópteros.
Cupim.
3 Geomancia: Adivinhação que se faz deitando pó de terra sobre a mesa
e examinando as figuras que se formam.
4 Epistemologia: Estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados da
Ciências já constituídas, e que visa a determinar os fundamentos lógicos,
o valor e o alcance objetivo delas; teoria das ciências.
http://sites.uol.com.br/ivairr - Jul/02