Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Inês Lopes
07/03/2022
Transmissão de caraterísticas hereditárias
Ao iniciar o seu trabalho, Mendel teve o cuidado de utilizar linhas puras, isto é, plantas
que, quando são autopolinizadas, originam uma descendência igual entre si e igual
aos progenitores (relativamente a uma determinada característica).
Mendel começou por cruzar indivíduos de uma geração parental (vulgarmente conhecida por
geração P), que eram linhas puras, mas detentoras de características distintas (sementes
lisas VS sementes rugosas) - cruzamentos parentais.
Todas as sementes resultantes deste primeiro cruzamento apresentavam o aspeto liso, tendo
desparecido por completo o carácter rugoso. Esta primeira geração filial é, geralmente,
designada F1, geração F1, ou híbridos de primeira geração.
L L
l Ll Ll
l Ll Ll
L- Liso
l- Rugoso
L l
L LL Ll
l Ll ll
3
- Sementes lisas
4
1
- Sementes rugosas
4
Página 1
Para todas as características estudadas, Mendel verificou que:
Perante estes resultados, Mendel desenvolveu uma hipótese que pode ser resumida da
seguinte forma:
→ Existem dois fatores alternativos (ou variantes) que informam para cada carácter.
→ Para cada carácter, um organismo herda dois fatores, um de cada progenitor.
→ Se os dois fatores são antagónicos, um é dominante e é totalmente responsável pelo
aspeto manifestado, enquanto que o outro, chamado recessivo, não interfere na
aparência do indivíduo.
→ Durante a formção dos gâmetas, os fatores separam-se, de tal forma que cada gâmeta
contém apenas um fator de cada par- Lei da segregação fatorial ou lei da pureza
dos gâmetas ou, por vezes, designada primeira lei de Mendel.
Página 2
Os genes responsáveis por um determinado carácter constituem o genótipo do indivíduo
para esse carácter.
Página 3
Di-hibridismo
Cada indivíduo da geração parental possui dois pares de alelos AALL ou aall, sendo um par
(AA ou aa) responsável pela cor da semente e o outro par (LL ou ll) responsável pela forma
da semente. Por serem linhas pura, cada indivíduo da geração parental só pode produzir um
tipo de gâmetas (AL no caso dos indivíduos com sementes amarelas e lisas ou al no caso
dos indivíduos com sementes verdes e rugosas).
AALL aall
AL al
AaLl
1ª hipótese
Os alelos responsáveis pelos dois caracteres em estudo são transmitidos em bloco para os
gâmetas, isto é, considerando que os dois caracteres são recebidos dos pais e transmitidos
para a descendência sempre juntos (por exemplo, A com L e a com l)- segregação
dependente
Página 4
AL al
AL AALL AaLl
al AaLl aall
2ª hipótese
AL Al aL al
AL AALL AALl AaLL AaLl
Al AALl AAll AaLl Aall
Página 5
“Leis” de Mendel e teoria cromossómica da hereditariedade
A autopolinização de F1 originou 25% de plantas com flores vermelhas, 50% de plantas com
flores cor de rosa e 25% de plantas com flores brancas, resultantes da expressão dos
genótipos VV, VB e BB, respetivamente.
Página 6
Os resultados obtidos podem ter interpretados à luz do modelo de transmissão proposto por
Mendel para os casos de monoibridismo, excetuando o facto de os híbridos da primeira
geração não apresentarem o fenótipo de um dos progenitores, mas sim um fenótipo
intermédio entre os dois progenitores. Este facto resulta da inexistência de uma verdadeira
relação dominância/recessividade entre os alelos responsáveis pela cor das flores, ou seja,
não há dominância total do alelo vermelho sobre o alelo branco. Diz-se, por isso, que existe
uma dominância incompleta.
O cruzamento entre indivíduos de linhas puras de cor vermelha com indivíduos de linhas
puras de cor branca origina descendentes que possuem uma mistura de pelos vermelhos e
pelos brancos, cujo o efeito é um coloração cinzento-avermelhada. Cada um dos alelos
expressa-se de forma independente, pelo a pelo. Diz-se que existe uma situação de
codominância.
❖ Alelos múltiplos
Nas situações anteriormente apresentadas, cada locus apresentava apenas dois alelos que
o poderiam ocupar. De facto, cada indivíduo diploide apenas pode possuir duas formas
alélicas para ocuparem os loci correspondentes nos cromossomas homólogos e um gâmeta
haploide apenas possui um alelo em cada locus.
Contudo, numa população podem existir mais do que duas formas alélicas concorrentes para
um determinado locus. Se existirem três ou mais alelos que podem ocupar os dois loci
correspondentes de um par de homólogos, diz-se que esse locus tem alelos múltiplos (ou
polialelos). Note-se que, mesmo nesta situação, cada indivíduo possui apenas dois dos alelos
possíveis. De facto, a maioria dos genes existentes nas populações apresenta mais do que
duas formas alélicas.
Nos coelhos podem existir quatro alelos para o locus da cor do pelo. Entre eles existe uma
sequência de dominância que pode ser representada da seguinte forma:
𝐶 ℎ - alelo responsável por pelo branco, exceto nas patas, na cauda e nas orelhas, onde é
escuro
Página 7
Pelo facto de existir uma relação de dominância em sequência entre estes quatro alelos, a
sua combinação, dois a dois, permite gerar quatro fenótipos diferentes. Para cada um desses
fenótipos existe mais do que um genótipo possível, exceto para o cado do fenótipo “albino”,
em que apenas a presença do alelo c em homozigotia (por ser recessivo em relação aos três
restantes) determina esse fenótipo.
Sangue
Estes quatro grupos sanguíneos resultam de diferentes combinações dos três tipos de alelos
(𝐼 𝐴 , 𝐼 𝐵 𝑒 𝑖). Neste grupo polialélico existe uma relação de dominância/recessividade e uma
relação de codominância que poderiam ser representadas da seguinte forma:
(𝐼 𝐴 = 𝐼 𝐵 ) > 𝑖
Grupo A: 𝐼 𝐴 𝐼 𝐴 𝑜𝑢 𝐼 𝐴 𝑖
Grupo AB: 𝐼 𝐴 𝐼 𝐵
Grupo O: 𝑖𝑖
Os genes que se encontram num mesmo cromossoma designam-se por genes ligados
fatorialmente (linked genes ou genes em linkage). O conjunto dos genes de um determinado
cromossoma constitui um grupo de ligação fatorial (linkage group).
Página 8
Locus responsável pela cor do corpo Locus responsável pelo tamanho das
asas
B- alelo responsável pelo corpo cinzento V- alelo responsável por asas normais
(longas)
b- alelo responsável pelo corpo negro v- alelo responsável por asas vestigiais.
Cruzamento parental:
BBVV X bbvv
BV BV
bv BVbv BVbv
Geração F1:
BbVv X bbvv
BV bv Bv bV
bv BbVv bvbv Bbvv bbVv
BV bv
bv BbVv bbvv
Página 9
Por outro lado, se se admitir que os genes em estudo se localizam no mesmo cromossoma,
constituindo um grupo de ligação fatorial, então seriam transmitidos à descendência em
conjunto, não se verificando a segregação independente postulada por Mendel. Nesta
situação, os indivíduos de F1 com o genótipo BbVv deveriam produzir apenas dois tipos de
gâmetas (BV e bv) correspondentes aos gâmetas parentais. Assim, a geração F2 deveria ser
constituída por 50% de indivíduos de corpo cinzento e asas normais (BbVv) e 50% de
indivíduos de corpo negro e asas vestigiais (bbvv).
Contudo, os genes presentes no mesmo cromossoma não se comportam sempre como uma
unidade indissociável. De facto, ao serem produzidos os gâmetas, durante a meiose,
ocorrem, frequentemente, fenómenos de crossing-over, permitindo deslocação de alguns
genes entre cromossomas homólogos. Desta forma, podem produzir-se gâmetas com
combinações de genes que só seriam esperadas se se admitisse que esses genes estavam
localizados em diferentes cromossomas.
Página 10
variações fenotípicas são frequentemente designadas formas alternativas ou fenótipos
mutantes, pelo facto de resultarem de uma mutação. Em oposição, o fenótipo mais comum
de um determinado carácter toma a designação de forma ou tipo selvagem (como, por
exemplo, os olhos vermelhos em Drosophila).
Normalmente, representa-se o genótipo das formas alternativas pela inicial da palavra inglesa
que determina essa característica. No caso da cor dos olhos, o alelo mutante responsável
pela cor branca é representado por W, enquanto que o alelo responsável pela forma selvagem
(olhos vermelhos) é representado pela mesma letra associado a um + (𝑤 + ).
Depois de ter encontrado este mutante relativamente à cor dos olhos, Morgan cruzou esse
macho com uma fêmea de olhos vermelhos, tendo obtido uma geração F1 com 100% de
indivíduos de olhos vermelhos. Concluiu então que o alelo responsável pela determinação da
cor vermelha era dominante sobre o alelo mutante que determinava a cor branca dos olhos.
Contudo, a realização de cruzamento recíproco, isto é, machos de olhos vermelhos com
fêmeas de olhos brancos, produziu resultados diferentes.
𝑥 𝑤+ 𝑥 𝑤+
𝑥𝑤 𝑥 𝑤+ 𝑥 𝑤 𝑥 𝑤+ 𝑥 𝑤
𝑦 𝑥 𝑤+ 𝑦 𝑥 𝑤+ 𝑦
A geração F1, resultante do primeiro cruzamento apresenta uma uniformidade do fenótipo,
relativamente à cor dos olhos (todos apresentam olhos vermelhos: 50% machos e 50%
fêmeas). Estes resultados estão de acordo com os previstos por Mendel, revelando-se a
forma selvagem como dominante sobre o alelo mutante.
Cruzamento recíproco
𝑥𝑤 𝑥𝑤
𝑥 𝑤+ 𝑥 𝑤 𝑥 𝑤+ 𝑥 𝑤 𝑥 𝑤+
𝑦 𝑥𝑤 𝑦 𝑥𝑤 𝑦
50% de indivíduos de olhos vermelhos (fêmeas)
Este tipo de resultados levou Morgan a concluir que o gene responsável pela cor dos olhos
estaria localizado num cromossoma para o qual não existia um verdadeiro homólogo. Esta
situação verifica-se no par de cromossomas sexuais. De facto, embora as fêmeas possuam
dois cromossomas X (verdadeiros homólogos), os machos possuem um cromossoma X e um
Y, que não possuem genes correspondentes (não são verdadeiros homólogos).
Página 11
No caso analisado, o alelo mutante (responsável pela cor branca dos olhos) é recessivo e,
por isso, uma fêmea apenas terá olhos brancos se possuir este alelo em ambos os
cromossomas X (o que não se verificou na experiência descrita). A presença do alelo
responsável pela cor vermelha, em homozigotia ou em heterozigotia, determinará o
aparecimento do fenótipo selvagem, uma vez que é dominante sobre a forma mutante.
Por outro lado, os machos possuem apenas um cromossoma X e, por isso, são portadores
apenas de um alelo para as características presentes neste cromossoma. Por esta razão, diz-
se que os machos são hemizigóticos para as características determinadas pelos genes
localizados no cromossoma X. Assim, a cor dos olhos é determinada apenas por um alelo e,
por isso, se os machos herdarem um cromossoma X portador do alelo mutante terão olhos
brancos, mas se herdarem um cromossoma X portador do gene normal terão olhos
vermelhos. Nas situações de hemizigotia há uma correspondência direta entre o fenótipo e o
genótipo, pois existe apenas um alelo para se manifestar.
➢ Hemofilia
A hemofilia é uma doença que resulta da presença de um gene mutante responsável pela
síntese de uma proteína necessária para que a coagulação sanguínea ocorra. A ausência
desta proteína leva a que uma pequena hemorragia possa levar várias horas até parar,
podendo, em alguns casos, conduzir à morte.
Atualmente, conhece-se mais do que um tipo de hemofilia. Contudo, as duas formas mais
frequentes resultam de genes recessivos localizados no cromossoma X. Considere-se a
seguinte simbologia: h- gene responsável pela hemofilia; H- gene normal. Dado que estão
localizados no cromossoma X, a representação deverá ser 𝑋 ℎ 𝑒 𝑋 𝐻 , respetivamente.
Página 12
➢ Daltonismo
Esta anomalia resulta da expressão de alelos recessivos. Nos indivíduos do sexo feminino, a
doença só ocorre quando ambos os cromossomas X possuem o alelo responsável pelo
daltonismo. Os indivíduos do sexo masculino manifestam diretamente o alelo que possuírem
no seu cromossoma X, dado que o Y não possui genes equivalentes.
Genótipo Fenótipo
𝑋𝐷 𝑋𝐷 Normal
Mulher 𝑋𝐷 𝑋𝑑 Normal
𝑋𝑑 𝑋𝑑 Daltónica
Homem 𝑋𝐷 𝑦 Normal
𝑋𝑑 𝑦 Daltónico
Página 13