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GENÉTICA
LEIS DE MENDEL
Gregor Mendel, o pai da genética, utilizou principalmente ervilhas ao longo de seus
estudos sobre hereditariedade. Ele queria entender como as características eram
transmitidas ao longo das gerações. Inicialmente obteve variedades “puras” para alguma
característica, como a cor das ervilhas, por exemplo, que podiam ser amarelas ou verdes.
Essa geração foi chamada de parental. A partir disso realizou cruzamentos entre essas
variedades. Ao cruzar plantas puras amarelas com puras verdes, obteve uma geração,
chamada de F1, que contava apenas com ervilhas amarelas. Após isso, cruzando os
indivíduos da F1 entre eles, obteve tanto plantas amarelas como verdes, mas com uma
proporção de 3:1 na F2 (3 amarelas para cada verde). Veja os desenhos abaixo:
Figura 01: Representação do cruzamento dos parentais e resultado da F1.
Figura 02: Cruzamento da F1 com os possíveis resultados.
Nos desenhos você também pode ver a explicação que Mendel utilizou para o padrão
observado. Segundo suas ideias, para cada característica existe um par de fatores,
representados no esquema como V e v. O par de fatores de cada indivíduo é formado por
um fator recebido do “pai” e outro da “mãe”. No momento de formação dos gametas, o
par de fatores é separado e por isso cada gameta possui apenas um fator. Indivíduos com
dois fatores diferentes, como os da F1 (Vv) podem ser chamados de híbridos. Essa é a
primeira lei de Mendel, resumida como: cada característica de um organismos está
relacionada com um par de fatores que se separam no momento da formação dos
gametas. Essa lei pode ser chamada de Lei da Segregação. O fator relacionado com a
característica que se manifestou na F1 (no exemplo cor amarela) foi chamado de
dominante, já o fator que não teve a característica manifestada na F1 (cor verde) e só
voltou a surgir a F2, foi chamado de recessivo. Perceba que na F1 os indivíduos são
sempre amarelos porque o pai “puro” (VV) amarelo só pode mandar o fator dominante (V)
para os filhos. Já na F2, é possível o surgimento de ervilhas verdes (vv) porque os
indivíduos da F1 (Vv) podem formar gametas tanto com o fator dominante (V) como o
recessivo (v). O quadro de Punnett é uma ferramenta ótima para descobrir as possíveis
combinações genéticas de um determinado cruzamento. Abaixo você pode ver o quadro
de Punnett para o cruzamento dos indivíduos da F1. Na linha superior estão os fatores de
um genitor (V ou v) e na coluna da esquerda os do outro (V ou v). As quatro possibilidades
possíveis do encontro de cada gameta ficam claras. Também fica mais fácil entender a
base da proporção de 3:1.
Figura 03: Quadro de Punnett para o cruzamento de indivíduos da F1 com os resultados
possíveis para a F2.
Lembre-se que a característica observável, como a cor da ervilha no exemplo, é chamada
de fenótipo, enquanto a composição genética (os fatores) é chamado de genótipo. Logo,
a proporção clássica de 3:1 encontrada a partir do cruzamento da F1 diz respeito à
proporção fenotípica (3 amarelas para uma verde). Pensando em proporção genotípica,
seria 1:2:1 (1 VV; 2 Vv; 1 vv). Dois organismos geneticamente iguais possuem o mesmo
genótipo, entretanto, como o fenótipo é uma consequência da interação do genótipo com
características ambientais, eles podem possuir fenótipos distintos. Se formos pensar em
termos atuais, os fatores de Mendel são na verdade os diferentes alelos de um gene. Os
indivíduos puros são na verdade homozigotos para uma determinada característica,
sendo o VV um exemplo de homozigoto dominante e o vv um homozigoto recessivo. Já
os híbridos são exemplos de heterozigotos. Depois de realizar experimentos levando em
consideração apenas uma característica, Mendel começou a estudar como ocorre a
transmissão de duas. Vamos pegar o exemplo da cor e da textura. Cruzando plantas
puras dominantes para a cor das ervilhas (VV - amarelas) e também para a textura (RR -
lisas) com plantas puras recessivas para a cor das ervilhas (vv - verdes) e para a textura
(rr - rugosas), ele obteve uma F1 formada totalmente por ervilhas amarelas e lisas. Após
isso realizou o cruzamento dos indivíduos da F1. Veja o esquema abaixo:
Figura 04: esquema representando os cruzamentos controlados analisando a transmissão
de duas características.
A partir dos resultados, foi possível perceber que as duas características eram
transmitidas de forma independente. Dos cruzamentos da F1 resultaram plantas amarelas
e lisas (V_R_); amarelas e rugosas (V_rr); verdes e lisas (vvR_) e verdes e rugosas (vvrr).
Daí podemos resumir a segunda lei de Mendel ou Lei da Segregação Independente:
quando analisadas duas ou mais características, os fatores relacionados com cada uma
se separam de forma independente durante a formação dos gametas. Perceba que a
proporção fenotípica da F2 para a segunda lei é 9:3:3:1. Isso porque de 16 possibilidades,
9 são amarelas e lisas, 3 amarelas e rugosas, 3 verdes e lisas e 1 verde e rugosa.
Lembre-se que as características analisadas por Mendel são exemplos de dominância
completa, mas sabemos que existem outros padrões de herança, como os de
codominância, dominância incompleta e alelos letais que alteram as proporções
fenotípicas. Além disso, a segunda lei de Mendel só é válida para genes/alelos que estão
em cromossomos diferentes. Obviamente uma característica pode ser afetada por mais
de um gene, e nesse caso falamos de interação gênica, como nos casos de epistasia. Por
outra lado, um único gene pode afetar mais de uma característica e chamamos isso de
pleiotropia.
SANGUE
É muito comum as questões de genética abordarem os sistemas sanguíneos. O mais
conhecido é o sistema ABO, e para esse sistema uma pessoa pode ser: A, B, AB ou O. O
tipo sanguíneo de uma pessoa é resultante de glicoproteínas presentes na membrana das
hemácias. Essas moléculas chamadas de aglutinogênios, podem ser reconhecidas como
algo estranho (antígeno) quando no corpo de uma pessoa com um sistema sanguíneo
diferente e resultar na produção de anticorpos, nesse caso chamados de aglutininas. Veja
o quadro abaixo:
Figura 05: tipos sanguíneos e suas características.
Perceba que uma pessoa do tipo sanguíneo A possui aglutinogênios A (bolas azuis). Já
uma pessoa do tipo B possui aglutinogênios B (quadrados laranjas). Uma pessoa AB
possui ambos os tipos de aglutinogênios. Uma pessoa do tipo O não possui nenhum,
entretanto, no seu plasma sanguíneo estão presentes tanto aglutininas anti-a como anti-b.
A partir disso podemos entender as regras de compatibilidade sanguínea, muito
importantes para transfusões. Veja o esquema abaixo:
Figura 06: quem pode doar pra quem?
O tipo O é considerado o doador universal por não apresentar aglutinogênios que seriam
reconhecidos como estranhos pelo corpo do receptor. O tipo AB é considerado o receptor
universal porque pode receber de todos os tipos, uma vez que não apresenta aglutininas
em seu plasma. A genética relacionada com o sistema ABO é muito interessante, e se
trata de uma caso de alelos múltiplos, uma vez que existem mais de dois alelos desse
gene que influenciam a característica. Abaixo você pode visualizar os possíveis fenótipos
(os tipos sanguíneos) e os genótipos relacionados com cada um.
Figura 07: os tipos sanguíneos do sistema ABO e os genótipos possíveis para cada um.
Os fenótipos A e B podem ser definidos tanto por genótipos homozigotos (IA IA e IB IB)
como por genótipos heterozigotos (IA i e IB i). O fenótipo AB possui um genótipo
exclusivamente heterozigoto (IA IB) e o fenótipo O é homozigoto recessivo (ii). Sabendo
disso, o sistema ABO pode ser utilizado para indicar paternidade, ou pelo menos excluir
possíveis pais, uma vez que um indivíduo do tipo sanguíneo AB (IA IB), nunca poderia ter
um filho do tipo sanguíneo O (ii), por exemplo. Além do sistema ABO também é comum
encontrar questões que abordem o sistema Rh. O fenótipo Rh+ é dominante, pode ter
genótipo RR ou Rr, já o Rh- é recessivo, rr. Da mesma forma que no sistema ABO, o
sistema Rh também está relacionado com glicoproteínas de membrana, e uma pessoa
Rh+ possui moléculas que podem ser reconhecidas como estranhos por uma pessoa Rh-
que produz aglutininas anti-Rh. Pensando assim, podemos considerar O- como o doador
universal e AB+ como o receptor universal.
HERANÇA E SEXO
O sexo de um determinado organismo pode estar relacionado com fatores ambientais e
com genéticos. Entre os genéticos estão os sistemas cromossômicos de determinação
sexual, como o sistema XY presente em mamíferos incluindo os seres humanos. Os
humanos possuem 46 cromossomos (23 pares). Um desses pares é o de cromossomos
sexuais. Os outros 22 pares não sexuais são chamados de autossomos. Voltando aos
cromossomos sexuais, quando uma pessoa possui dois cromossomos X nesse par (XX),
é fêmea; quando possui um cromossomo X e outro Y (XY), é macho. Diferente do que
ocorre nos cromossomos autossomos, nos cromossomos sexuais existem regiões não
homólogas. Dessa forma, se uma característica está presente nessas regiões, pode afetar
de forma diferente os dois sexos. Os casos mais comuns são os relacionados com genes
da região não homóloga do cromossomo X, chamados de herança ligada ao sexo. Dois
exemplos de características desse tipo são o daltonismo e a hemofilia, ambas recessivas.
Vamos utilizar como exemplo a hemofilia, uma característica que afeta a capacidade de
coagulação sanguínea. Abaixo você pode analisar o quadro de Punnett para o cruzamento
de uma fêmea portadora (XHXh) com um macho não hemofílico (XHY).
Figura 08: representação dos resultados esperados para o cruzamento entre um macho
hemofílico e uma fêmea portadora.
Como as fêmeas possuem dois cromossomos X, para ser hemofílica precisaria ter ambos
os cromossomos com o alelo recessivo. Por isso, apesar de possuir o alelo X h , a mãe no
cruzamento acima é considerada apenas portadora. Já os machos possuem apenas um
X, de forma que, se a cópia que tiveram desse cromossomo possuir o alelo recessivo, ele
vai apresentar a característica (veja genótipo do filho hemofílico no desenho acima). É
mais fácil um macho apresentar as características recessivas ligadas ao sexo,
exatamente por só precisarem ter uma versão do alelo recessivo para possuir o traço.
Além disso, para que uma filha fêmea seja hemofílica, ela deveria receber o cromossomo
X h de ambos os pais; dessa forma, uma pai não hemofílico não poderia ter filhas fêmeas
com essa característica. Além disso, como filhos machos recebem o Y do pai, se eles
forem hemofílicos o alelo X h necessariamente foi transmitido pela mãe. Lembre-se que
os heredogramas que mostram esse tipo de herança usualmente apresentam mais
machos do que fêmeas afetados, e todos os filhos machos de uma fêmea afetada terão a
característica também. Não esqueça que heredogramas relacionados com outros
padrões de herança, como os autossômicos dominantes, recessivos e ligados ao sexo
dominantes também possuem características distintas.
Para finalizar, não esqueça das regras para os cálculos de probabilidade, em especial a
regra do e (multiplicação). Por exemplo: qual a chance de um casal de heterozigotos para
albinismo ter uma filha albina? Você precisa multiplicar a chance de ser albino (¼) pela
chance de ser fêmea (½). Nesse caso, seria ⅛
Espero que esse texto ajude a clarificar seus conhecimentos sobre genética. Bons
estudos!