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A conquista do voto feminino

Na próxima segunda feira, dia 24 de fevereiro de 2014, as mulheres brasileiras tem


motivos para comemorar, são 82 anos da conquista do voto feminino. Esta conquista não só
representa o direito das mulheres em votar e serem votadas, mas também a garantia de um
espaço que era somente ocupado pelos homens. De certo modo, também representa um avanço
na emancipação civil, política, econômica e social das mulheres.
Foi no dia 24 de fevereiro de 1932, através do Decreto 21.076, do Código Eleitoral
Provisório, que o voto feminino passou a ser assegurado no Brasil, fruto de uma longa luta e
campanhas nacionais que tiveram seu início antes mesmo da Proclamação da República e da
organização do Movimento Feminista Brasileiro, porém, na ocasião, o voto feminino foi
aprovado parcialmente, permitido somente às mulheres casadas, às viúvas e às solteiras que
tivessem renda própria. Somente em 1946 é que esta situação foi regulamentada.
A luta pela igualdade de gênero progrediu significativamente de lá para cá, porém,
ainda se expressa muito tímida. Teve sua gênese na Revolução Sexual do final de século XIX e
início do século XX, juntamente com as novas descobertas e concepções teórico-científicas que
provocaram uma mutação no comportamento sexual até então aceito pela sociedade.
Leon Richier, jornalista e defensor das causas feministas na França, foi pioneira na luta
pela emancipação feminina. Em 1869, fundou a Associação para o Direito das Mulheres, em
1878 organizou o Congresso Internacional dos Direitos das Mulheres e em 1882 fundou a Liga
Francesa dos Direitos da Mulher, abrindo espaço para as primeiras manifestações das mulheres
a nível internacional na defesa pelos direitos das mulheres.
No Brasil, Bertha Maria Julia Lutz (1894-1976) foi a principal responsável pela
organização do Movimento Sufragista e, em 1919, ajudou a criar a Liga para a Emancipação
Intelectual da Mulher. Em 1922, Bertha Lutz foi uma das grandes responsáveis pela criação da
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, embrião para a conquista do voto feminino.
Até 1998 as mulheres ainda eram minoria no eleitorado nacional. Em 2000, passaram a
ocupar um lugar significativo nas eleições e em 2010 já superavam os homens nas urnas. Sem
sombra de dúvidas, o momento mais significativo na luta das mulheres brasileiras foi a eleição
da Presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher a ocupar o cargo máximo do país.
Infelizmente, no campo das Políticas Públicas para as mulheres brasileiras, o seu
desenvolvimento ocorreu tardiamente, tendo como marco a criação do Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher, em 1985. Anteriormente as políticas estavam voltadas somente à
amamentação, ao cuidado das crianças e do lar.
No final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, criou-se a Secretaria de
Estado dos Direitos da Mulher, vinculada ao Ministério da Justiça e, dentre suas prioridades,
estava na pauta do dia o combate à violência contra a mulher, a participação da mulher no
cenário político do país e a sua inserção no mercado de trabalho.
Em 2005, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República, lançou o Plano Nacional de Políticas para Mulheres, resultante das deliberações da
1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em 2004. Esta conferência foi
um marco na história das lutas políticas das mulheres no Brasil, reunindo cerca de 120 mil
mulheres que participaram ativamente das propostas para a elaboração deste plano.
Em agosto de 2007 foi realizada a 2ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres,
tendo como deliberação o 2º Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, ampliando o debate
e as políticas no que diz respeito à autonomia econômica, igualdade no mundo do trabalho,
inclusão social, educação inclusiva, não-sexista, não-racista, não-homofóbica e não-lesbofóbica;
saúde das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos; enfrentamento de todas as formas de
violência; participação das mulheres nos espaços de poder e decisão; desenvolvimento
sustentável, garantia de justiça ambiental, soberania e segurança alimentar, direito à terra,
moradia digna e infra-estrutura social; direito igualitário à cultura, comunicação e mídia, de
modo democrático e não discriminatório; enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia;
enfrentamento das desigualdades geracionais que atingem as mulheres, com especial atenção às
jovens e idosas e a gestão e monitoramento do plano.
Estas deliberações foram os subsídios da 3ª Conferência Nacional de Políticas para
Mulheres que aconteceu em Brasília, em 2011. Nessa conferência foram discutidas as
perspectivas para o fortalecimento da autonomia econômica, cultural e política das mulheres, a
erradicação da extrema pobreza e o exercício da cidadania das mulheres brasileiras.
Como se vê, a conquista do voto feminino ampliou o espaço de participação das
mulheres nas decisões políticas do país e na conquista de um espaço nas principais discussões
políticas, econômicas, sociais e culturais, bem como nas lutas desse segmento na construção e
articulação de organizações próprias, na ampliação da agenda política, na superação das
desigualdades e discriminações de gênero, na afirmação da identidade feminina e na igualdade
perante a lei. Tais premissas são a consonância do protagonismo das mulheres enquanto
“sujeitos políticos” no cenário nacional.
A importância da participação das mulheres nos espaços de decisões, tais como
conselhos, fóruns de debates, conferências, manifestações, escolas, dentre outros, é condição
sine qua non para maior visibilidade das lutas encabeçadas pelas mulheres. Subjulgadas por
milênios, as mulheres vem assumindo destaque no cenário nacional e internacional.
Em Guaxupé, a organização das mulheres tem como destaque a criação do Conselho
Municipal dos Direitos das Mulheres, uma conquista que necessita criar forças para que as
mulheres guaxupeanas tenham espaço garantido na agenda das discussões e decisões do
município. A participação política não implica tão somente em participação partidária, mas sim
na consciência política, de agentes de mudanças e na construção de uma nova sociabilidade.
Não podemos deixar que este espaço tão importante seja menosprezado.
Historicamente, as lutas sociais tiveram como protagonistas mulheres que estavam à
frente de sua época, assumiram o seu papel e tiveram coragem para enfrentar o machismo e
prepotência de uma sociedade regida pelos homens. As mulheres devem buscar sempre o seu
espaço nas decisões, impondo-se como verdadeiras guerreiras na luta contra qualquer
desigualdade social e de gênero.
Como se vê, há uma longa jornada para que estas iniciativas se façam presente em nossa
sociedade. É preciso ter grande mobilização e vontade política para que tenhamos uma
sociedade mais justa e igualitária.

Renato Tadeu Veroneze


Assistente Social

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