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. DE
PERSEVERANCA .)
II.
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. .
•
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UA.TEUIS~IO
DE
' <
PEBSIVIB!NÇ!. ou
EXPOSIÇÃO HISTORICA, DOGMATICA, MORAI., LITURGICA, APOLOGETICA,,
PHILOSOPHICA E SOCIAL.
DA. RELIGii.-0 9
De11cle a orlgem do mundo até nossos dia•
.TOMO II.
I•ORTO:
TYP. DE FRANClSCO PEUEIRA D'AZEVEDO
Rua ·,las llortas 11.º 9:>.
1853.
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CATECISMO
DB
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aau~-~·"' V>.~
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i1 ~ ~Cl:
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PRIMEIRA PARTE.
,
XIX.ª LIÇÃO.
UOl'WDEVIJtlENTO DA RELIGIÃO.
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6 CATECJSMO
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DI PERSEVERANÇ.\. 7
l'em-sc to<las as cabeças, moverem-se todos os labios, para responder:
Sim, existem relações necessarias entre o pai e o filho, · a mãi e a
1ilha, os progenitores e a prole. Farei segunda pergunta : acaso .
nasceo o homem de si mesmo como um cogumelo debaixo d'uma ar-
vore, ou foi elle cl'eado por Deus ? O riso irQnico, qúe acolhe a
primeira parle da pergunta, responde á segunda. affirmativamente : o
l1omem não nascco de si mesmo, foi creado po1· Deus. Continuarei
a perguntar : se existem relações necessal"ias de superioridade e in-
ferioridade entre o pai e o filho, por isso que um é pai do outro,
logo existem com igual necessidade entre Deus Creador e Pai do ho-
mem, e o home~ creatura e filho de Deus? E toda a assemblea
se levanta para me responder : isso é evidente, tanto como a lnz do
sol. E tanto mais quanto as relações entre Deus e o homem são
mais intimas, sagradas e nobres que as relações entre pais e filhos;
porque os pais não são creadores, nem conservadores, nem ultime>
tim de seus Hlhos, titulos que convem a Deus e não ao homem.
Ou vidas estas respostas, deixo este auditorio immenso, e digo C(}mi-
go : vejamos se todos estes homens c1ue acabo d'interrogar m:e fat-
iaram verdade, e se os factos confirmam suas palavras~ viagemos
pela redondeza da__lerra_; _e,__por toda a parte e em todos os tempos,
vejo que os poYos li veram uma Religião, que professaram uma Re-
ligiã9, que tiveram templos, altares, sacerdotes, festas, sacrificios.
Não cnconh'o um só povo, por selvágem que seja, sem algum éul-
lo, e termi~o a ·viagem l'epetindo estas palavi:as d'um philosopbo
Pagão : « Se percorrerdes a terra, diz Plutarcho, podereis encontrar
cidades sem muros, nem letras, nem leis, nem palacios, nem l'ique-
1.as, nem moeda, nem escholas, nem theatros. Quanto a uma cida-
de que não lenha templos nem deuses~ que não faça uso d'orações
nem juramenlos, que não consulLe os Oraculos, que não offereça sa-
crificios para obter os bens do Ceo, ou desviar os males que lhe es-
tam imminelites, isso é o que ningttem jamais vio. Seria mais facil
achar uma cidade fundada nas nuvens que um povo sem Reli~
gião. )) (1)
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8 éAftCISMU
lo novo.
Se a palavra Religião exprime admiravelmente a união que exis-
tia entre o homem e Deus no estado de innocencia, eom muito mais
rasão eonvem esta pala-vra para designar a união que existe entre
Deus e o homem depois do peccado original. Com effeito, tendo o
peccado de nossos ·primeiros pais rompido o laço sobrenatural que
existia antes da sua revolta, o Filho d.e Deus como já sabeis, dio!
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DE PERSEVERANÇA .
. {1} Religet ergo nos Rcligio uni omnipoleoli Deo. De vera llelíg.
n. 113. - e e-m outra· parle: Ad unum Deum tendentes, ioquam, cl cí
uni religantes ~mimas nostras, undc Rcligio dieta crc<.litnr, omni supcrs·
titione careamus. lo his verbis mcis ralio c1uro rcddila cst, uodc sit
~icla Religio, pios mihi placnit. Retrace. lib. 1, e. 13, n. 9. -- Vin-
culo pictalis obstricti Deo et rcligati ?mmus: uodc ipsa Religio nomcn
accepit Lact. Di·v. lnstif, lib. IV . ·
2 l[
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10 CATECIS.'10
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DE PERSF.,'ERANÇA. 11
mel como um impostor. » (1) Se eu vos perguntasse ainda : o que
e hoje verdadeiro podm·á ser falso ámanhã, depois d'ámanhã, daqui
a cem ou a mil annos? Da m~sma sorte o que era verdadeiro hon-
lem poderia ser falso antes d'honlem, ha cem ou mil annos? Res-
ponderíeis ainda : a verdade é uma, e não muda com os annos. O
que era verdade no primeiro dia do mundo t.ambem o será no ul-
timo.
Tal seria a· vossa resposta, lal a de qualquer menino que ti-
,· esse a inslrucção necessaria para ligar duas ideas ; e esta resposta
n.'io soffre replica. Vêdes PQÍS com a maior ·evidencia possi vel que
não pode haver duas Religiões verdadeiras. Com effeilo, ou estas
Religiõe ensinam todas a mesma cousa, nem mais nem menos, e
neste caso seria uma e a mesm~ Religião ; ou não ensinam a mes-
ma cousa, e neste caso não seriam todas verdadeiras; seriam até
mesmo todas falsas em alguma cousa, exccpluando uma só. togo
lambem vedes claramente que nem todas as Religiões são boas, e
que aqualles que usam de tal linguagem não sabem mesmo o que
tlizem.
Antes tl'acabar cumpre-me fallar aqui d'uma difficnldade que se
terá _:ipresenlado ou poderá apresenlar-sa ao vosso espirito. Falia-
se rnuilas vezes da Religião Natural, ou primitiva ; da Religião Jfo-
snica, e , da Religião Ckristã, e com rasão se diz que Deus é o au-
thor dellas : eis aqui pois lrcs Religiões igualmente verdadeiras. A
conscquencia é falsa, porque estes tres nomes exprimem uma e a
mesma Religião em lres estados differentes : mais simples no tempo
<los Palriarchas, mais desenvolvida no de Moisés, e completa em o
Evangelho, como nas lições seguintes leremonle ver.
4. º De quem vem a Reli'gião? - Evidentemente vem de Deus
ou do homem : aqui não ha meio lermo. Vejamos se pode vir do
homem. A Religiãd é fundada nas relações necessarias que existem,
pelo só facto da creação, entre Deus Creador do hom~rn, e o ho ..
mem crealura de Deus. Elia ·comprehende verdades para crer, de.-
l' eres para cumprir, um culto para dar. Supponhamos que o ho ..
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.-
CATECmm
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DE PERSEVERANÇA. 13
o mumlo inteiro, que todas as verdades se to1·naram obscuras ; e,
como disse Bossuel, tudo era Deus, exceplo o mesmo Deus. Ain-
da nos nossos dias, os philosophos, os sabios, os scienlificos irreli-
giosos, andam tam pouco d'accordo, qae Rousseau, que bem os co-
nhecia, dizia com applauso de todo o mundo: (< Ao ouvir os phi-
losophos, quem os não tomaria por um bando de chal'lalães a grilar
cada um para a sua banda, em uma praça publica : vinde cá, vinde
cá; eu só é que não engano? Um pretende que não ha corpos, e que
tudo é em l'eprcsentação ; outro diz que não ha substancia senão a
maleria ; esle declara c1ue não ha vicio nem ''irlude, e que o bem
e o mal são chimeras ; aquelle teima que os homens são lobos, e
que se .podem trincar sem escrupulo de consciencia. » (1)
Em fim é tam imposs•vel ao homem interpretar infallivelmente a
Religião, que sem a· revelação não pode responder cousa certa ás
mais elementares questões r~Jigiosas: por exemplo, devo eu tribu-
tar ao soberano Ser que ú1e creou um culto de 1·espeito e submis-
são ? De que modo e maneira poderei cumprir es_te dever ? Quem
me assegura que lhe é agradavel a minha homenagem? A que sa-
crificio dará a preferencia? Se me tornar culpado, poderei obter o
perdão? Que meio devo empregar para desarmar sua justiça? So
uma vez perdoado o lornar a ultrajar, deverei esperar ainda mise-
ricordia ou entregar-me á desesperação? Quaes são os meus de-
veres para comigo mesmo '! Se eu for justo que tenho a espe-
rar·? Se morro criminoso, que heide temei·? Por estas simplices
perguntas bem vedes como Deus devia, por sua bondade, dar a co·
nhecer ao homem a maneira como queria ser servido. E lá está a
historia para nos informar de que Deus, por sua infinita misericor..
dia, nos. deu. este precioso conhecimento. ('!)
Foi elle communicado ao homem pela revelação. Chama-se re-
velaç.ão a _manifestação exterior e sobrenatural, feita pelo mcsn~º Deus,
d'alguma verdade concernente á Religião. Já vimos que a revela...
ção é nccessaria ; perguntar agora se é possivel é perguntar se
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C\ TECIS:uo
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nos ensina que os , pais do genero humano receberam de Deus não
só a inlelligencia e o senlimcnlo do bem e do mal, senão lambem
inslrucções, lições, regras de~ proc'edimento ; qne lhes ensinou sua
lei ;- que ouvil'am sua voz e viram a magestade de seu roslo; que
e ta Ueligião primitivamente revelada se. perpetuou nas familias dos
Pa.triarchas ; que ao depois, quando os Judeos se juntaram em cor-
J)O de- nação, Deus fallou de novo a .Moisés; desenvolveu os primi-
Li vos ensinos, ajuntou novos preceitos, e elle mesmo regulou as mi-
nuciosidades do culto que exigia, a fim de que, na plenitude dos
Lcmpos, viesse o mesmo Filho de. Deus falla1· aos homens, comple-
tar todas as instruções dadas a Adam e a_Moisés, e meller o gene-
ro humano de posse de todas as verdades Religiosas que neslc mun-
do deve conhece.r, para servir a Deus como elle quer que o sirvam,
e obter a recompensa que promette a seus fieis. Daqui vem as ln~s
revelações principaes : a i·evelação primitiva feita a Adam ; a Judai-
ca, feita a l\Ioisés ; . a Ckristã, feita pelo Filho de Deus em pessoa a
lodas as naçõPs. Ora, eslas lres revelações, posto que não fossem
igualmente desenvolvidas, lodavía não ensinavam mais que uma e
a mesma Religião, bem como o sol que é sempre o mesmo, tanlo ao
alvorecer como de manhfi~ e ao meio· dia.
5.º Qual é a verdadeira -Religião? - A verdadeira Religião é
· aqueJla que Yem de Deus. Ora, desde. a origem do mundo, muitas
preten<lidas r~ligiões teem apparccido na terra, e todas dizendo : eu
venho de Deus. E' evidente que todas ~entiram, exceplo uma, pois
fJUe já provamos que deve existir uma Religião verdadeira.. Qual é
pois a Religião verdadeira? De que modo reconhecel-a entre tantas
differentes seitas? Não é islo diflicil ; porque a verdade tras comsigo
caracteres que o eno não pode jamais usurpar. Estes caractei·es são
numerosos ; delles citarei ll~s somente : o milagre, a prophecia, a
anliguidade.
1 ~º O milagre. Só Deus pode fazer milagres ; Deus ; sendo a
verdade mesma, não pode fazer milagres para confirmar a menlira :
logo a Religião em abono da qual se ti verem feilo milagres é a ver- '
dadeira llcligião. << Venlm al9·uem, diz Rousseau, fallar-nos deste
modo : mortaes, eu vos annuncio a vonlade do Allissimo ; reconhe-
cei por a minha voz a11uclle que me envia. Eu ortleno ao sol qui~
, .
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16 ·cATECISHO
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DE PERSEVERA~ÇA.
uma ca<lea d'ouro; que suspende a terra ao Ceo; cujo primeiro elo
(~slá nos mãos do mesmo Deus, e o ultimo nas do Vigario fie Jesu-
Christo, actualmente sentado no throno immortal dos Pontificcs.
6. º Pode mudar a verdadeira Religião? - Já vimos que a Re-
ligião se funda em a natureza de Deus e a natureza do homem : da
parte de Deus, nas qualidades de Creador, Pai e ullimo fim do ho-
mem ; da parle do homem, nas qualidades de creatura e- filho, in-
dige.nte, mas avido do infinito; não podendo contentar-se senão com
o Ser por excellencia, origem de toda a verdade, de todo o amor e
de todo ·o bem ; a Religião é pois immudaYel, não obstante seus con-
linuos desenvolvimentos.
De facto, quem a poderia mudar? Deus ou o homem? Mas,
d)uma parle, Deus é o mesmo pelos seculos dos scculos ; elle não
muda. (2)
(' .
(1) De Prmscript. p. ~16.
(:2) Ego Dominos et nou mutor. Malach. IH, 6. .
3 li
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18 CATECIS~IO
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DE PtRSR,~ERANÇA. 19
Pai, e com elJe será louvado, adorado e glorificado, para todo sem-
pre. Assim é por Jesu-Christ.o, e para Jesu-Chrislo, que todos os
seculos foram feitos; os da Lei antiga, para prepararem os da
Lei da Graça ; e estes, para se irem perder na ELernidade da Glo-
ria. ll
Daqui resulta que o Antigo e Novo Testamento tiveram ambos
o mesmo designio e o mesmo progresso; um prepara a perfeição
com que o outro se .nos mostra ; o antecedente lança o fundamen-
to, o seguinte põe o remate ao edilicio; em summa, um prediz o
que o outro vê cumpri1;-se. Por onde todos os tempos estam uni-
dos, a lradicção do povo Judaico e a do povo Christão não fazem
mais que um mesmo progresso de Religião, e as Escripturas dos
dous Testamentos .não são -que um mesmo corpo, e mesmo livro.
A nossa fé é por lan to a mesma <los Prophetas ; os dogmas que
são object.o della não somente foram nas antigas Escripturas figura-
dos e preditos, senão que lambem estas Escripluras os promettem
e delles. faliam expressamente. E' pois não conhecer o Chrislianis...
mo o consideral-o coino uma Religião nova, que não tenha a raiz. e
o tronco nos seculos· anteriores ao Messias..
A Religião que . professamos subsistio sempre ; pois que do prin-
cipio do mundo a espectativa de Jesu-Christo foi sempre () seu es-
pirilo. « A mesma luz, diz ainda o grande Bossuet, se nos offerece
por toda a parte desde a origem do mundo ; vemol-a nascer com os
Patriarchas, augmentar-se com Moisés e os Prophetas. Jesu-Christo,
maior que os Patriarchas, mais auctorisado que Moisés, emais (!S-
·clarecido que os Prophetas, a faz brilhar a nossos olhos em toda a
sua plenitude. Jesu-Chrislo enlaça todos os tempos, é o centro pa-
·ra onde correm todas as cousas ; a Lei, os Prophetas, o Evange-
lho, e· os Apostolos; a fé em Jesu-Christo t.em sido a fé constante
de todos os seculos. Desde o princ!pio do mundo, o fiel devia crer
em . Jcsu-Christo prometlido, como hoje o Christão em Jesu-Christo
vindo. » ,
· Em uma palana, os antigos Patriarchas não tinham outra Re-
ligião que a nossa, pois se basca,'am nas mesmas promessas ; sus-
piravam pelo mesmo Redemplor. Eram homens evange1icos antes do
EYangelho ; Christflos d'espirito, antes que o fossem de nome.
*
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20 ()ATECISMO
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DE PERSE\"F.RANÇA.
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CATECISMO .
a1oa ...
ORAC~O.
'
O' meu Deus ! que sois todo amor, eu vos dou graças por nos
terdes dado a Religião, que nos ensina a conhecer-vos e amar-vos ;
fazei, Senhor, que sempre conformemos as nossas acções com a nos-
sa fé.
· Eu proteslo amar a Deus sobre todas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus; e, em testemunho deste amor,
tomarei todos os dias alguma lwra de meditação.
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OE PERSEVERANÇA.
xx. 2
LIÇÁO.
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CATECISMO
(1) Lex nihil allud est qnam qaffidam rationís ordinatio ad bonum
commune ab eo qui curam commumtalis habct promulgata. S. Th. 1 p.
q. 90, arl. {.
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DE PERSEVERANÇA. 25
A Religião é pois uma lei , por isso que é um· prnceilo geJ"al
e permanente: e, ·sobre todas; a· mais veneranda lei, porque é a
mais antiga, geral e permanente.
Em segnntlo lugar, a lei , dizem os jurisconsultos, é um pre-
ceito fusto, publicado a bem d'uma sociedade. Aqui lambem vemos
· a preeminencia da Religião cnlre todas as leis humanas. Quando
comp~lsamos a immensa conceção das leis que os homens fizeram;
leis do'S antigos Egypcios , leis dos antigos Gregos, leis dos anti-
gos Romanos , leis dos Gaulezes , leis dos Lombardos , leis dos Tar. .
taros , leis dos Chinezes·, teremos acaso a certeza d'achar todos es·
tcs preceitos humanos marcados , sem excepção , com o sinete da
justiça e equidade? Não vemos muitas 'rezes a crueldade , a im-
moralidade ,· a· mentira , a violencia , transformadas em regras d'ac·
ções ? não profanam ellas ·o sagrado nome de lei , com qu~· se· ·au..
ctorisam ? Qual é o· povo que se não envergonha de certos rtigos
de seus Codigos? E' bem differ :nta cousa a Religião : ella, como diz
um Prophela, é a Lei immaculada. (1) Tudo o que nos ensina é ver""
dad iro ; tudo ·qoe manda é bom , justo , amavel e moral; tudo quo
prohibe é máo. Não ha virtude que não aconselhe; vicio, que nã
condemn_e; injustiça, ou maldade, que não proscreva. Toda e 1e'-
duz a estes · dous preceitos:· amarás a Deus sob1·e todas as cousas·;
_e ao proximo , isto é a todos os homens , amda os inimigos , como
a ti mesmo , por · amor de Deus. Se amais soment~ aos que vos amam,
que merito tereis nisso? Os Pagãos tambem o fazem. E se apenas
saudacs os quo vos saudam , que merilo ha ~eis ainda 'l Outro tanto
fuzem os publicanos. Amareis pois aos que vos · fazem mal, mor-
rereis por aquelles que vos perseguem, afim que sejaes os filhos <lc
vosso Pai · celeste, que manda o sol para alumiar aos bons e aos maos.
(2) Depois desta simples exposição, sabeis d'alguma cousa mais
·usta que a Religião ? mais capaz de melhorar o homem e ~ egu-
rar a folicidatle do mundo ? Logo é uma lei r ·a mais augusta das
leis.
Finalmente a lei e uma regra ll'acções, da<la a uma sociedade por
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26 CATECISllO
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DE PERSE~ERANÇA. 27
e a moral dos homens fica sendo a moral dos 1obos. Está logo bem
provado que no sentido mais elevado da palavra , a Religião é uma
lei. Por consequencia, está igualmente provado, que os -homens dos
nossos dias , ·que fallam incessantemente em legalidade , que exal-
tam e guindam a legalidade a 'Qma especie d'idolat1·ia , e que , ao
mesmo têmpo , desprezam a lei religiosa , são os mais parvos, ab-
surdos, bem coiqo os mais perigosos, por não dizer os mais cri-
minosos de todos os homens.
2. º A Religião é a mais sagrada de todas as leis. A santidade
d'uma lei nasce da pessoa do legislador de quem dimana , da im-
portancia dos deveres que impõe , da sancção que a confirma. Ora,
estas tres condições reunem-se para alçar esta proposição ao mais
alto gráo d'evidencia ; a Religião é a mais sagrada de todas as leis.
Em primeiro lugar , pela pessoa do legislador. Percorrendo o
mundo , encontro no ro&to dos differentes_ codigos, que teem regido
as nações , os .nomes d'homens mais ou menos respeitaveis : l\linos,
Rhadamante , Licurgo , Solon , Numa , Confucio, Mabomet; os fun-
uadores dos reinos, dos imperios e republicas modernas. Inclino-
me com reverencia a estes nomes que te.em respeitado e ainda res-
peitam milhões de meus similhantes. l\fas no frontispicio do Codigo
sagrado , vejo brilhar um nome que não é o d'um homem , nem
u'um Anjo , nem d'um Archanjo ; um nome superior a todos os no-
ines , diante do qual todo o joelho se dobra no Ceo , na terra e nos
infernos : é o nome de Deus. Ora , se as leis elaboradas por bo..
mens celebres leem direito, em rasão da sua mesma origem, ao nosso
respeito e submissão , quanto nos não deve ser mais respeitavel e
sagrada a lei que dimana de Deus, Legislador supremo, Origem de
toda a justiça , sabedoria e poder ! ?
A importancia dos deveres que impõe. Sem duvida que são
imp-0rlantes os deveres impostos pelas leis humanas. Da fidelidade
em os cumprir dependem , ao menos em parte , a ordem , a paz ~
a prosperidade das nações, a fortuna dos particulares, a sua saude,
e bem estar material. Todavia estas vantagens somente se referem ao
tempo, e acabam com o tempo : só ao corpo aproveitam, em quanto
a alma lhes fica estranha. Que diremos agora dos deveres prescn-
plos pela Religião ? deveres que abrangem assim o corpo como a
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2.8 CATECISMO
tudo se avilta, }Jercce tudo , logo que não são respeitados. Ora , o
primeiro dever, que a Religião nos impõe, é crel' ; pois está escriplo:
aquelle que não crer será condemnado. (1) Sim, condeltlnado neste
mundo, e no outro. De facto , infringi o primeiro artigo sagrado,
tirai á Religião o Symbolo, que vos fica'? Par a o individuo, o infer-
no da duvida ; para a sociedade , o cabos. Pcnettai em uma destas
jntelligencias aonde se extinguio a luz da fé. As verdades mais in-
contestavcis , que constituiam a sua mesma vida , desabam uma3 so-
bre outras , como os paineis d'um sanctuario mettido a sacco. De-
pois, vêde surgfr as incertezas , as contradicções , os vãos phan-
tasmas , as hesitações. Todos os delirios d'um ccrebro febril succe-
~lem-se , guerream-se , destroem-se uns aos oulros ; e, em suas in-
terminaveis luctas, fatigam, cançam esta intelHgepcia, e arremessam~
na por fim ao charco immundo d'um materialismo ignobil, ou lal vez
a uma tumba , ensanguentada pelo - suicidio. Tudo islo pertence á
historia. Poqemos hoje contar entre nós , na lnglalerra , Alie-
manha-, França , t~es Apostat~s da fé que sustentam, á cerca de
Deus , da Religião , da sociedade , da familia , thcorias não menos
extravagantes e gmlescas qqe QS systemas vagos, OU informes DO-
ções dos selvagens. Eis-aqui no que pára o cspil'ilo do homem in-
fiel. E será seu coração menos digno de lastima? W o que ':amos
ver.
O segundo dever, que a Religião nos impõe , é pensar, ou an7" .
tes conformar nossos pensamentos, desejos e acções com a grande
regra de proceder que se chama o Decalogo. Que fica sendo o ho~
mem que ousa atropellar esle segundo artigo do Codigo sagrado ? No
fundo de ~eu coraç,ão cêv~-se tres grandes paixões: o orgulho, a
a;vareza, a voluptuosidade. Sollicitam-no noute e dia estas tres fu'"'.'
rias , apertam com elle , esforçam-se por lhe impôr seu vergonhosq
jugo. A unica voz capaz de quebrar o encanto de tam Ielhiferas
sereas, é a grande voz da Religião, com a sua duplice eternidade de
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DE PERSEVERANÇA. 29
~asligos e recompensas. O freio unico, para c~nter estes crueis mons
tros , é a magcsLosa Yonlade de Deus~ Suffocai esta voz, quebra..
este freio , que Yereis ~ Para logo o c01·ação humano se torna esi
cravo destas hycnas ; o homem enlouquece; gozar, gozar muito, go-
iar a todo trance , eis-aqui a sua lei. Honra , -probidade, saude ,
fortuna , consciencia, ludo vende , tudo põe em almoecla, para sa'.T
tisfazer-se. Eu, eu. só e nada mais : esta a sua divisa. Elle a ser~
Nirá a lodo custo , estai certos disto , embora devesse .custar-vos a
;vós a 1wnra e a vida. Todo o genero de baixezas, envenenamentos,
fraudes , crimes os mais atrozes e inauditos, que possam denegrir a
face da terra , são a prova desgraçadamente muito peremptoria desta
verwmhosa verdade: o co1·aç.ão do irnpio é o inferno aberto. .
A sociedade da mesma sorte se definha pelo despr~zo da Reli.,
gião. Não ha sociedade possivel sem o respeito á auctoridade. Ora,
quando os homens chegam a já não respeitar a primeira de todas as
auctoridades , aquella de que todas derivam ; quando chegam a já
·se não importar com Deus, nem com suas leis, não tardam a eles..
prezar as aucloridades inferiores, e violai· todas as leis humanas.
A noção do poder e do dever extinguem-se , os laços sociaes re~
laxam-se. Com rasão se disse : onde Deus não tem altar, não teem
-0s reis Lhrono ; e , rei quer dizer auctoridade , seja qual for seu-
.nome e jerarchia: I>ontifice, rei , magislràdo , pai de familia, an:-
çião. Um odio sm·do, um espírito d~insubordinação fermenta inces-
santemente nos subditos ; ameaçados em seu podei· e pessoas, veem..
se forçados os chefes da sociedade a apertar o jugo, a· usar violen~
ª
cias, isto é, a accelerar e augmentar for~ com que a rebellião
estala.
Não ha sociedade sem crenças communs, admittidas como re.i.
gras immudavei s dos pensamentos e ·acções de todos os cidadãos,
Dra, lira i a Religião , acabaram as crenças divinas , e, por conse..
c1uencia, as crenças communs e sagradas. Tudo fica problematico ;
to.das as verdades se tornam relativas ~ por consequencia muda"'.'
veis, incertas ; adoradas hoje , amaqhã serão açoutadas na praça pu-
blica. A' força de decepções , chega a ~ociedade a duvidar de tudo
e de si mesma. Esla duvida fatal a corroe, enerva, deshonra, tor-
na incapaz de 1udo que e grande; ora lhe Jlroduz o abaHmcnlo, ora
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30 . ~ CATECIS~IO
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DE PERSEVERANÇA. 31
se linutasse á região das sciencias , que força teria ella, se as ins~
lituições religiosas a não fizessem descer d'ahi' para a incarnar no
povo ? A moral sem preceitos positivos deixaria a rasão sem regra ;
sem dogmas religiosos, seria uma justiça sem tribunaes. O dogma e
a moral seriam méras abstrações, se lhes faltassem os rilos, as ce-
remonias , as praticas que lhes dão corpo e consistencia . . Quando
se trata da Religião, mais importa obrar do que saber. Ora, as ac-
ções boas não podem preparar-se e manter-se senão por hab_itos bons.
E' praticando as acções que conduzem á vi~t ude , ou pelo menos lhe
despertam a idea , que aprendemos a amar e praticar a virtude
mesma.
cc A verdadeira philosophia respeita f'S formas tanto, quanto as
despreza o orgulho. Carecem tanto as acções d'uma disciplina , como
as ideas de coordenação. Negar a utilidade dos ritos e pratic~s re-
ligiosas em materia de moral, é negar o imperio das noções sensi-
Yeis sobre os entes que não são puros espiritos ... Uma Religião -sem
culto publico, definhasse, conduz infallivelmenle a multidão á idolatria ..
Se não houvesse um meio para unir aquellcs que professam a mesma
crença, não seriam lautos os systemas religiosos quantos os indivi-
duos? ...
«_Sustentar qúe a Religião nenhuma desordem evita nos paizes
onde é mais honrada , por isso que não impede os crimes e escan-
dalos de que somos testemunhas , é propor uma objecção que fere
da mesma sorte a moral e as leis , pois que a moral e as leis não
podem prevenfr todos os crimes e escandalos ... venios sim os cr~
mes que a Religião não impede, mas vemos por ventura os que ella
evita? Acaso podemos prescrular as consciencias ! para descubrir
os negros projectos que a Religião suffoca ? todos os salutares pen-
samentos que suScita? D'onde vem que os homens que nos pare-
cem tam máos separadamente são no todo tam honestos ? Não será
porque as inspirações., os remorsos , a que os máos resistem , mas
os bons cedem, bastam para regei· a genel'alidade dos homens no
maior llumero de casos, e manter no decurso or<linario da vida esta
direcção universal e uniforme, sem a qual toda a sociedade dura-
doura seria impossivel? ... Crê-se que são as leis que governam ,
e em toda a parte são os coslumes. Os costm)les são o resultado
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32 CATECTS~IO
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DE PERSEVERANÇA.
grimas. Alem disso, em quanto as leis humanas limitam suas 1womes-
sas aos curtos annos do tempo , a Religião realiza~ as suas por toda
a eternidade. Estas as recompensas como sancção da lei. Quanto
ás penas impostas contra os violadores das leis humanas , que são
e1las ? Por mais graves que sejam apenas alcançam o homem por
uma parte do seu ser , o corpo , a liberdade 1 a fortuna , a reputa-
ção, a vida; ainda assim acabam logo com o tempo. Sã0 outra cousa
as penas que sanccionam a lei divina. Ferem o homem na alma
e no corpo. D'aqui vem ·a sentença do divino legislador : Não te-
mais os que só podem matar o corpo ; mas temei antes aquelle que
11ode matar o corpo e a alma : sim, em verdade vos digo qu.e o te-
mais. (1) Ha outra difTerença : em tanto que os castigos que fazem
respeitar as leis humanas acabam, como as recompensas , com o tem-
po , as penas impostas aos infractores da lei divina alcançam o ho-
mem em toda a duração <le sua existeucia presente e futura : a mes-
ma eternidade não as verá terminar. Finalmente, o que muitas ve-
zes diminue a sancção penal das leis humanas, é a possibilidade
d'escapar aos golpes e.la justiça. Conspirastes contra um rei , sois
condemnado á morte; mas. não vos será impossi vel fugir ainda de
seu reino, subLrahir-vos ao castigo; pois vede se podereis sahir do
reino de Deus 1 Attentastes contra a vida d'outrem; prejudicastes sua
fortuna , sua repuLação ; não vos será sempre impossivel negar o
facto , aniquilar as provas mat.eriaes do crime ; e passar por ínno-
cente ; pois ide lá negar no tribunal d'aquelle que sabe tudo 1 Tra-
zido perante os tribunaes humanos, ainda podeis peitar os juizes e
comprar a absolvição ; pois ide tambem peitar a Deus e fa.zel-o con-
nivente, para ficardes impune. Logo fica demonstrado que a Rel!-
gião é a mais sagrada d·e todas as leis.
3.º A Religião é uma lei universal, da qual nenhum homem
pode isentar-se. Ide, ensinaí todas as nações, disse o divino Legisla-
dor, e ensinai-lhes todos os meus preceitos. Todo aquelle que vio-
lar um s6 é violador de toda a lei. (1) D'est'arte abrange a Reli·
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34 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 35
curidade. E de tudo ísto concluo que devo passar todos os dias da
villa sem cuidar no que me virá a acontecer , e que não devo fa-
zer mais que seguir as minhas inclinações, sem reflectir, nem me in-
quíelar; fazendo tudo o que devo para c.ahir na de~graça eterna ,
no caso de ser verdade o que dizem. Pode ser que eu achasse al-
gum esclarecimento para as minhas duvidas; mas- não estou para
ter trabalho , nem dar um passo para esse fim ; e , -desprezando os
que tanto se afadigam com isto , quero ir sem previdencias nem te-
mores lentar este grande successo, e deixar-me conduzir á - morte
perguiçosamenle, na incerteza da eternidade da minha condição.>l
« Na verdade, é glorioso para a R~igião ter por inill!igos tam
dcsarrasoada gente.» (1)
A indifferença -pratica é aquella que crê u'uma Religião, mas
não cumpre os seus deveres. Para confuridil-a , basta ainda mostrar
como raciocina : <( Creio que ha um Deus , Creadôr e Senhor abso-
luto do mundo e do homem. Creio que este Deus manifestou suas
adorarnis vontades, as quaes reunidas formam uma Religião , que
devo aceitar tal como é , ~cm que me seja permittido ajuntar--lhe
ou tirar-lhe cousa alguma. Creio -que esta Religião não só me im-
põe actos interiores de · fé e adoração, mas lambem actos exterio-
res e positivos de culto externo e publico. Conheço estes aclos , e
sei que · negligenciando cumpril-os constituo-me em estado perma-
nente de revolta contra Deus. Conheço que , para punir meu in-
solente desprezo , abre-se debaixo de meus pés um abysmo de fogo
eterno. Conheço que não estou separado delle senão pela vida pre~
sente. Sei que esta vida presente não é mais que. um fio ; e que
este fio .está nas mãos de Deus , que o pode cortar quando quizer;
e que o fará sem me avisar, talvez esta noute ou este mesmo ins...
tante. E de ludo isto concluo que devo continuai· a vive.r tranquil-
Iamente no meu indifferenlisrno , na certeza de cahir, mais cedo
ou mais tarde, nessa desgraça ete.ma.
Na ''erdatle , tornamos a dizer , é glorioso para a Religião ter
por inimigos ~m desarrasoarla gente.
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36 CATECISMO
par a attenção d'um homem serio .:__ que ainda será um brilhanle
systema para alhnenLar imaginações ardentes e espiritos ociosos ;
mas cujo vacuo e falsidade não embaºa os homens positivos ; que
será tainbem umas andadeiras proprias para ter mão no povo e nas
mulheres que não caiam , pois são umas creanças ; mas completa,
mente inutil quando já um rapaz veste sua niza e lhe assoma no
rosto sua penugemsinha. Ora recordai-vos do que deixamos uemons-
t~ado, a saber : que ha uma Religião, que não ha mais que uma,
que vem de Deus , que obriga a todos os homens sem excepção ,
e dizei-nos se pode haver maxima tam impia como esla que acaba-
mos d' explicar l
· E' uma tolice. Por quanto, oú a Religião é verdadeira ou não.
Se é verdadeira, é boa e necessaria para todos, tanto homens e ri-
cos, como povo, mulheres e creanças ; se não é verdadeira, não é
boa para ninguem·; porque o erro nunca foi util. Demais, se, co-
mo dizeis, a Religião é boa, muito mais o é para os ricos que os
pobres, muito mais,. para os homens que para as muJheres e crean-
ças. Bem vedes que a Religião é um freio imposto ãs paixões. Ora,
quem precisa mais de freio ~ Aquelle que tem mais meios de sa"!'
tisfazer com impunidade as suas paixões ; ou aquelle que não pod11
contar nem· com os mesmos meios, nem com a mesma impunidade?
Evidentemente é o primeiro, isto é, o homem, o rico, o forl.e, _ o
poderoso. Por isso disse com tanta rasão :Montesquieu : « quando
fosse · inutil que os subditos tivessem uma Religião, não o seria que
a tivessem os principes ; estes que não tcem a temer as leis huma~
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DE PERSEVERANÇA. 37
nas, mais importava que este freio lhes domasse a boca. » {1) · t Não
quizera eu, accrescenla Voltaire, ter e ontratos com um prmc1pe
alheo ; se lhe conviesse moer-me n'uma atafona, estava eu logo feito
em farinha. » (2)
Em fim, vós todos que vos julgaes superiores ao povo por vos..
sa posiç.ão, fortuna, ou saber, e que folgaes achar na Religião do
povo a garantia de sua obediencia e respeito para comvosco , cre-
<les por ventura que o povo não gosta lambem de· ter na Religião -
de seus amos a garantia de s~a justiça, moderação e egualdade
para com elle? Nfa te.m o homem mais paixões a domar, por isso
que possue grossas rendas? Dar-se-ha e.aso que debaixo da farda
agaloada do funccionario publico ou da toga do juiz, palpila infalli·
velmenle o coração d'um anjo?
Por ventura a classe elevada, a classe but'g11eza está hoje mui-
to acima da ralé em materia de probidade, lealdade; desint"resse,-
virtudes publicas e privadas? Os motivos do povo para exigir que
scjaes religiosos não são acaso mil vezes mais fortes e bem funda~
dos do que aquelles eom que vós exigis a .religiosidade ·_do povo?
« Não é no seio das mais elevadas condições que a voluptuosidade
é mais refinada, a ambição mais ardente, mais implacavel a vin..
gança, mais indomitas todas as paixões; por isso· mesmo que melhor
podem satisfazer-se? E quereis quebrar, nestas classes da socieda..
de, o freio salutar da Religião ? D' est'arte não pretendeis outra cou:..
sa senão romper o dique pelo lado em que as aguas pesam com
maior violencia ; tirar o remedio d'aquelles lugares aonde o conta-
gio produz maiores estragos ; por outras pálavras, quereís tirar os·
sentimentos religiosos precisamente áquelles qu~ mais · carecem del-
les. Primeiro que tudo, tirai o orgulho ao homem instruido, o egois-
mo ao rico, a cubiça ao negociante e industrios~, a pusillanimida..
de ao magistrado, · a ambi~ão aos grandes ; e depois talvez vos será:
permittido deixar a Religião ao povo. >> (3)
' .
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38 CATECISllO
do povo. Crneis ! que mal vos fez elle ? Sem nenhuma duvida,
só os inimigos do povo, aquelles que o querem aviltar para melhor
o poderem opprimir e explorar, sem temor de Deus, nem vergonha
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DE PERSEVERANÇA. 39
tio mundo, só esses vis traficantes, esses crueis misantropos, dão vo-
ga a esta criminosa maxima: que a Religião é boa par,a o povo.'.
(( Fugi pois daquelles que, por sua indifferença e impias maximas,-
semeam no coração dos homens desoladoras doutrinas. Derribando,
destruindo, calcando aos pés, ludo o que elles respeilam, tiram aos
afilictos a derradeira consolação da sua miseria, aós poderosos e ri-
cos o unico freio das suas paixões; arrancam do coração o remorso
do crime, a esperança da virtude, e ainda por cima gabam-se de
serem os bel!lfeitores do genero humano ! Nunca, _dizem elles, pode
a venlade ser nociva aos homens ; tambem assim o creio ; e no meu
entender, esta é uma grande prova de . que o que elles ensinam não
é a verdade, mas a mentira. >) (1)
4.º A Religião é uma lei que se não pode substituir. Destrui
a Religião, que poreis em seu lugar para tornar o homem virtuoso ?
A honra e o interesse: não vos resta outro incentivo das acções hu-
mana9.
De todas as bases que se pretendem dar á virtude, esta é in-
contestavelmente a mais fraca. Que é a honra? Um sentimento de
dignidade pessoal que, fora da Religião, degenera em orgulho e fa-
tuidade ; um principio mudavel , que inspira alternadamente as a~
ç.ões mais conlrarias e immoraes: a dedicação ao padre, a integri-
dade ao magistrado, a audacia ao assassino, a astucia ao ladrão, o
duelo ao soldado, o suicidio ao fraco - eis o egoismo encapotado,
mostrando fóra o que não é por dentro. E' uma ostentação publi-
ca, que se paga de si, no segredo da solidão , col'rendo pela estrada
das mais vis inclinações. E' um fumo, que turva a cabeça sem pu-
rHlcar o coração. E' um vão ruido, que o sabio menospreza, e o.
uão COD§Ola d'um só infortunio da vida. E' um não sei que, tam.
inconstante como as vertigens das turbas ; uma divindade impolente ,
que uns adoram sem proveito, outros desprezam sem castigo ; por--
que ella muitas vezes dá gloria ao vicio, e á virtude o insulto, o
odio, o desprezo, a'perseguição. Serei eu o primeiro mortal que do _
fiel desempenho de meus arduos dernres tenha colhido este triste
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. CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 4_1
existir sempre entre clles uma opposição ·invcnci vcl a todos· os···Ta:-
ciocinios~ Mil circumstancias ha em que o interesse commum eü-
ge que eu desfaleça na indigencia, que use . e gaste as forças e a
sande em arduos trabalhos, de que outros hão de colher o. fructo ;
que suIToque meus desejos, inclinações e affectos ; que soffra em fim,
e morra. Ora, em quanlo se não ciescubrir que a ~iseria., o sof-
frimento, a morte, são de si mesmas cerlos bens preferi veis ás ri-
quezas; aos prazeres, á vida; sera falso, evidenlemenl(} fals(), que 6
interesse particular; separado do temor do$ casligos ·e esperança da
recompensas · futura~, seja a regra do <léver e fundamento da moral.
(1) « Façam embora todos os outros homens o meu bem á custa
do seu 1 refira..:se tudo só a mim, morra todo o genero humano, se
lauto e preciso, na penuria e miseria, parn me poupai· um momen-
to de soffrimento e de fome : tal ó- a voz interio1· de todo o incre ..
dulo que raciocina. >> (2) .
Fallais do interesse privado~ Responder-vos-hei ainda qlie o
homem, que não espera por outra vida. não tem mais ·q11e um · só
interesse; o de se tornar, pouco imporl.am os meios; feliz na ida
presente. Ora, que extravagante felicidade para propor a· mn tal
homem o combater incessantemente seus desejos,. incUnações, e ale
as necessidades da natureza, sem esperança de recompensa! Que !
t)Ois o interesse do pobre é carecer do necessario, inda q1:1e possa
apoderar-se d'uma parle do que sobeja ao rico 'I E'. que e enfor-
cam se furlar. Entendo : o inleresse de viver deve supperar o de
matai· a fome. logo, podendo elle evilar o supplicio, o segundo in-
teresse, como fica só, detel'minará o dever confrario. · tirai o al-
goz, muda a motal : este é pois 6 pai de todas ás virtudes. Toda-
\! ia, por mais que façam, esle possante moralista não poderia acu-
für a ludo. A maior parle d<>& vicros que minam surdamente a so-
c.iedade, ou lhe perturbam a harmonia : a avareza, a cubiça, o
egoismo, a íngralidão, a dureza do coração, a foveja, o odio, a ca-
luumia, a licenciosidade, todas estas e muitas maist não são de sua
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CATECISMO
·alçada. (1) Ainda mesmo entre os crimes que lhe pertencem, quanfos
lhe não escapam ! Não ha hoje, graças a(} progresso da sciencia ,
mil meios de roubar, enganar, viver á custa alheia, e illudir a lei?
Não é verdade poder-se dizer hoje, mais que nunca, o que um an-
tigo disse, que as leis humanas são teas d'aranha; que só caçam
moscas?
Concluamos pois com este dito de Rosseau : « Não ententlo co-
mo se possa ser· virtuoso sem Religião ; muito tempo nutri eu esla
falsa opinião, de que hoje estou betQ desenganado. » (2)
ORAÇÃO.
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DE PERSEVERANÇA.
XXI.ª LIÇÃO.
(1) Jugum meum suave cst et onus memu leve. )fath. XI, 30.
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U.- . CATECISMO
(1) Eis aqui d,e que maneira o doutor angelico distingue a diffcren..
~3 ~a necessi~ade que o homen1 tem da graça antes e depois do pecca-
'10: « o homem depois do peccado não -tem mais necessidade d~ graça
de Deus qtie a~tes, · mas somente a precisa para mais cousas: para se
curar e merecer; quando cotão não carecia deHa senão para uma destas cou-
sas, isto é, para merecer. Antes do peccado, podia, sem o dom sobrenatural
<la graça, conhecer as verdades naturaes, fazer todo o bem natural, amar
a Deus naturalmente sobre lo<las as cousas; mas não podia, sem a gra~a ..
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DE PERSEVERANÇA.
-
merecer a vi1la eterna, que é cousa sup eríor á força natural do homem.
Depois do peccado, sem a graça, não pode conhecer senão algum(ls ver-
<ladcs oaturaes, fazer apenas algum bem parlicular da mc~ma _ordem. E
para que possa conhecer e obrnr o hem inteiramente, como antes podia,
r,eleva que a graça cure a enfermidade e corrupção <Ja nature~a. .Em fim,
depois como antes, carece da graca pára merecer a \'ida eterna, par4
~rcr cm Deus, esperar cm Deus, amar a Deus d'um modo sobrenatural,
como obJecto da visãp beatifica. Summa p. 1, q. 95, art. ll, ad 1 ; q!
109, art. II, IH, IV. - D'est'artc, segundo o doutor aogeJico, o ho-
mem antes da sua queda carecia da graça para se elevar acima de si
mesmo até Deus ; mas, depois da queda, ·carece aioda da grnça para se
tilevar primeiro ao nível de si mesmo.
(1) Só !aliamos aqui da graça em geral ; tralaremos da graça em
parl1cular na segunda parle do Catecismo.
A palana sobrenatural é aqui importante, e significa o que e supc~
rior á natureza. Segundo a explicação de S. Thomaz, que é a explica-
flão cathoJica, a graça é um dom so.breQ.atural, não só ao homem. dcca-
hido da perfeição de sua Q.aturcza, mas ao homem na sua natprcza inte...
gra; e não só ao homem, mas a toda a crcatura. Porque a gra~a con~
~luz-nos á visão beatifica; ora, naturalmente entre Deus e a crcatura
h~ urna distancia infinita. Logo é naturalmente impossivcl a uma crca- ~
lura, qualquer que seJa, ver a Deus tal c9mo cllc é, tal como elle mes-
11~0 ~e vê. Cum vita retema ornncm facµllatem cxcedat, non polest homo:
ncque io stalu naturre integr~, nequo in statu naturre corruplre, ipsam
absque gratia et divina rcconciliationc a Deo promereri.-EL in<le est quod
nulla natura crcata cst sufficiens principium actus meritorii \'ilre reternro,
nisi supcraddatur aliquod superuallJr~lo donuw quod gratia dicitur~ P. 1,
~· 114, art. II. ·
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CATECISMO
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DE PEfiSEVEfü\NÇA.
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CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 19
e
ples natureza : Nosso Senhor tomou-nos pela mão, ele\'ou-nos a· uni
cslado · mais perfeito e sublime do que aquelle em que Adam forá
ereado.
Feitos ·á imagem de Deus, fez-nos Adam perder esta augusta
similhança, e ficamos similhantes aos brutos : Nosso Senhor restabe-
lece a nossa similhança com Deus, e, nelle e em Maria Santíssima,
é realçada a nossa natureza acima de todas· as jerarchias celestes.
. Creadôs em justiça original, esbulba-uos Adam ~esta justiça :
Nosso Senhor ·dá-nos em compensação uma abundancia incalculavel
de graças e virtlides. Em primeiro lugar, dá-nos virtudes qüe já-
mais existiriam no estado da innocencia : a paciencia, a penitencia,
o martirio, a virgindade, o apostolado, e uma infinidade d'oulras,
que fazem _da náturcza humana um ·objecto digno da admiração dos •
Anjos. Em segundo lugar communica-nos as graças que elevam es-
tas ·virtudes a uma força que jamais teriam conseguido no estado
d'innocencia. (1) · ·
A Religião é pois o mais bello presente e magnifica esniola que
Deus possa fazer-nos. Dernremos logo adrnil•ar-nos que~s santos de
todos os tempos a tenham preferido a tudo, soffrendo com alegria os
mais horrendos supplicios, antes que• renunciar a este precioso the-
souro 1 Nó momento que escrevemos estas linhas temos um exem-
plo tam 11eroico deste amor da Religião, que nos julgarial11os culpa-
dos se lhe não dessemos toda a publicidade que de nós depende.
Eis-aqui o que escreve um Missionario da China : (< Durante a
perseguição de 1805, deseseis pessoas, das quaes tres éram mulhe-
res, ll'es Tartaros da familia imperial, e um Mandarim, foram des_.,
terrados. Todos supportaram generosamente a perseguição e perse...
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50 CATECISl\IO
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DE PERSEVERANÇA. 51
d-0 Ceo. em comparação da Religião e da posse eterna de Deus, que
é a fugitiva · posse de todas as creaturas existentes ou possiveis?
Nada, absolutamente nada ! Oh, como é inorivel a impiedade, a in..
differença, o desleixo !
Nada ha, desde OSl primeiros rudimentos e mais leves pr_eceilos
da Religiã.o, até o seu mais profundo .conhecimento e os mais graves
deveres que nos impõe, que não deva excitar nossa gratidão e de.. ·
terminar nossa fidelidade. Com effeito, a Religião consiste, da par-
te de Deus, nas· verdades ·que revela ao homem, nos· d_everes que
Jhe impõe, e que são as leis e condições de sua sociedat1e com e11e;
da parte do homem, esta manifestação consiste no cumprimento de
seus deveres para com Deus, para com seus similhantes e para com-
sigo mesmo. Tal é a natureza desta nobre sociedade. Os meios são
os auxilios ou graças que Deus dá ao homem, e a cooperação que o
homem, auxiliado por Deus, dá á graça; seu fim é, para Deus, a glo-
ria ; para o homem, a felici'dade, isto é, á inteira satisfação de to-
das as suas faculdades ; a sancção são as penas e recompensas do tem-
po e da eternidade. Que cousa mais gloriosa, facil e ftnlajos'! que
esta divina sociedade !
Mas é tempo d'e!;fudarmos sua historia. Já vimos que o Filho ~
de Deus, Nosso Senhor Jesu-Christo , fazendo-se nosso l\ledeador , e
Fiador , rcstabeleceo o vinoulo sobrenatural, rompido pela revolta de
nossos primeiros pais. (t) D' onde evidentemente resulta que· não ha mais
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ü2 CATECISMO
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DE PERSEYERANÇA.
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5í CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. rrn
a pl'lDCIJHO mais que OS clarões d'alva , isto é, não dá aos homens
maiores conhecimentos do mislerio da ltedempção do que elles são
capazes de receber. Assim desde Adam até Moisés é o alvorecer da
Redempç.ão ; é a Religião no tempo dos Patriarchas , ou da lei na-
tural ; lei simples em seus dogmas , moral e culto ; é o esboço do
quadro.
Segue-se depois o brilhante raiar da aurora; é a Religião desde
Moisés até o :Messias, ou a Religião debaixo da Lei. l\lais desenvol-
l7ida em seus dogmas e preceilos , revestida de mais complicado e
magestoso cullo , dá aos homens um conhecimento mais daro do Li-
bertador : é o desenho do quadro.
Emfim , na plenitude dos tempos, estando os homens assaz pre-
parados para supportar a fulgorosa manifestação do grande mistedo
da Redempção , faz Deus appareccr o me.smo sol. Nosso Senhor Jesu-
Christo rodeado de lotlo o esplendor do dia: é a perfeição do qua~
dro.
Estava por lauto resolvido em os conselhos da eterna sabedoria
que o l\lessias não viria immediatamenle apoz <lo peccado original.
Vejamos pois o que devia Deus á sua bondade para consolar o bo-
mem n'uma especlaliva de quatro mil annos.
Sem custo se concebe que Deus· devia : 1. º prometter ao homem
e~te Redemptor ; 2. º dar os signaes delle, afim que, quando chegasse,
o reconhecessem e se unissem a elle; 3.º preparar o mundo para a
sua recepção e estabelecimento de seu reino.
Eis-aqui pois o que Deus fez d>um modo digno da sua infinita
bondade e profunda sabedoria. Demos uma idea deste plano divino,
o qual nos cumpre desenvolver nesta primeira parte do Catecismo.
1.º O JJJessias promettido. Para que o homem não cahisse em
desesperação, e esperasse com paciencia por .espaço de qnai·enta se-
culos 1 prometleu-lhe Deus logo um Redemptor. A mulher · esmagará
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56 CATEGlS:&fO
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DE PERSEVERANÇA. ü7
que nada valiam de si, senão pelo merito que o verdadeiro sacrificio
d'antemão lhes prestava; e esle misterio permanente todo o povo o
entendia. (1)
Todavia , devemos confessar que esLes differenles signaes não bas-
tam : o esboço não é bem o retrato que precisamos. Lançados aqui
e alli, envolvidos eiff sombras mais ou menos espessas, apenas pro_
cJuzem um crepusculo estes luminosos raios, que não o conheci.;.
rnento exaclo uo Libertador futuro. Quiz Deus pois que este retrato
não ficasse só em csboç.o , como bem lhe chamamos , mas que se
aperfeiçoasse e chegasse a um tal grao de similhança , de tal _sorte
caracterislica e circumslanciada , que fosse impossivel ao homem en-
ganar-se e desconhecer o seu Redemplor , salvo o caso que quizesse
cegar-se voluntariamente.
Ora, para dissipar touas as sombras, determinar todas as fi-
guras, fixar todos os signaes , que fez Deus?
Suscita os Propbetas. Associando a inlelligeucia delles á sua ín.-
lelligencia infinita, communica.;.lhes os segredos do futuro.: eis um
rasgo da eterna sabedoria. Elle lhes põe diante dos olhos o Deseja-
do das nações, ordena..:.lhcs que o retratem com tal fidelidade que
seja bem difficil não distinguir, entre todos os outros, csle filb.o
de David, que ha de salvar o mundo. Que são pois as prophecias?
é o retrato completo do Redemptor, promeltido desde a origem dos
tempos, e repr~sentado por mil formas diversas.
Com este retrato nas mãos, procuramos entre os filhos de Da-
vid que viveram antes da ruina do segundo templo , no qual, como
disseram os mesmos Prophetas, devia entrar o Messias; procuramos
digo , qual delles é o retratado, a qual convem a pintura exclusiva
e absolutamente. Nem longo , nem difficil é o inquerito ; ,qual o na;.
"Vegante que , ao avistar a desejada praia, grila com enlhusiasmo :
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58 CATECISMO
terra ! terra ! em breve lhe cahimos aos pés, e com os mais vívos
transportes d'admil'ação , respeito e amor, pronunciamos o adoravel
nome do Menino de Bethlem.
3.º O J/essfos preparado. Deus acaba d'emp regar mais de qui-
nhenl.os annos em dar:nos , pelo orgão dos Prophelas , a descripção
completa do Messias , o lugar do seu nascimento, o tempo da sua
vinda , n'uma palavra , todos os pormenores de suas acç.õs. Que
mais falta ? Vós o adevinhaes : quando um grande rei, ternamente
amado de seu povo , impacientemente esperado , tem de fazer sua
entrada na capital do seu reino , todos se afadigam em lhe aplanar
os caminhos , abrir todas as portas , preparar emfim todos os es-
piritos par~ o receber. Da mesma sorle , o Verbo elerno, o Rei
immortal dos seculos , o Desejado das nações , estando prestes a fa-
zei· sua entrada no mundo , seu Eterno Pai aplana-lhe todos os ca-
minhos , abre-lhe todas as porlas , prepara-lhe os animos para o
receber, e faz convergir todos os successos ao estabelecimento -do
seu reino elernó. Admiravel preparação , grande e mageslosa , que
começa a fazer-se sentir desde a vocação d' Abraham , mas que sH
toma evidente quinhentos annos antes da chegada do grande Rei !
Aqui desenvolvemos o plano divino mostrando, com a auctoridade.
dos Prophetas , . que todos os successos politicos anteriores ao Mes~
sias , e mormente os quatro grandes imperios que , segundo Daniel ,
deviam preceder a sua vinda, concorrem , cada um por seu modo_,
a preparar o reino d'este Desejado das nações, por quem e para
quem tudo foi feito. ·
Ora, se cousiderarmos que estas quatro grandes monarchias não se
levantaram senão pelo decurso dos seculos , que foram preparadas
por uma alluvião de successos , guerras , victorias e allianças , de
que o oriente e occidente foi·am theatro, desde a mais alta anligui":'
dade; e que estas monarchias se desenvolveram absorvendo lodos
os outros imperios ; claramente vemos que ellas conduziram o mun-
do inteiro aos pés de Jesu-Cristo, como os grandes rios conduzem
ao oceano, não só as aguas de suas fontes, mas lambem as de to-
dos os ribeiros seus tributario~. Desta sorte a historia sagrada e
profana eslam d~accordo em dar-nos a prova palpavel destas pala-
vras sublimes : Jesu-Cliristo é o herdeiro de todas as cousas; todos
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DE PERSEVERANÇA. 59
os seculos se referem a elle ; (1) e que não somente a na~ão judaica,
mas todas as nações do globo , eslavam , para assim dizer , gravi.;
das delle. (2)
Com a auctoritlade <los Prophetas mostramos ,. que o primeiro
dos quatro grantles imperios preditos por Daniel , que é o de Babi-
lonia ou dos Assyrios, tinha por fim providencial forçar os Judeos
a conservar inlacto o deposito sagrado da promessa· do Libertador,
sua expectativa e seu culto. Que o segundo , isto é, o elos Persas ·,
tinha por fim attender ao nascimento do Messias na Jutlea, e ope-
rar o cumprimento· das prophecias, segundo as quaes elle devia ·ser
reconhecido como filho de David , e entrar no segundo· templo.
Que o terceiro, que é o dos Gregos , tinha por fim preparar
os espiritos para o reino do Messias, e facilitar-lhe o eslabelecimento,
já vulgarisando, do oriente ao occidente, a lingua ·em que o Evan-
gelho devia ser annunciado ; já dísseminando os Judeos por todas
.as partes do mundo ; já fazendo conhecer universalmente os Livros
Santos , pela traducção d' Alexandria, que ao mesmo tempo os apre-
goa, e os põe a coberto das alterações judaicas.
Mostramos emfim, que o quarto imperio, que vem a ser o
dos Romanos , tinha por fim aplanar todos os caminhos para a pre..
gação do Evangelho , removendo todos os obstaculos que ainda se...
paravam os diversos povos , e nivellando o solo e o pavimento de
longas e espaçosas estradas, d'uma a outra extremidade do mundo;
cnmp1·ir -a celebre prophccia de Jacob moribundo, e dar a ultima de-
mão á preparação Evangelica, fazendo nascer o Messias em Bethlem.
Admiravel philosophia da Religião ! que resume em tres palavras a
historia uni versai de quarenta seculos : Tudo para o Christo, o Christo
Jl~H'a o homem • o homem para Deus. Tal é o magnifico plano que
passamos a explicar.
Enlrnmos com profundo respeito no santuario dos concelhos di-
vinos , e discorramos por esta não interrompida serie de promessas,
figuras, prophecías, e preparações que nos conduzem passo a passo
(1) Hebr. I; 2.
(2) ToLa lex gravida ca·at Christo. - Veja-se a nota da Introducção
p. xxx.
*
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60 ÇAT ECTSMO
(1) Ilroc aulem omnía in figura facta sunt nostri. 1.ª Cor. X, 1, - 6.
- Hroc autem omnia in figura contingebant illis. IhicJ. 11. - Corno nos
Jcy<,tria longe citar as passagep.~ dos a"Qctores inspirados, veja-se a Biuli(l.
cJe Yc~ce, prefacio geral sobre o Antigo testamento, t. I, ~M8.
(2) De Calcch. Uudih. - OS. Doutor repete cem vezes esta idca
em suas diO:ercntcs obras; e parlicuhtrmente nos livros contra o Mani-
chco Fausto; Veja~sc lamb~m a Bibliothcca escolhida dos Padres da Igreja,
Origencs, t. II, p. tH; Tcrlulliano id. p. ~74; Ch•ysost. t. XIII, ~29 !
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DE PERSEVERANÇA. 61
cenle, virgem e marlir em Abel; reparadol' do univel'so em Noé ;
bemdito em Abraham; Soberano Pontilice em l\lelchisedech ; ' 'olun..
lal'iamente offere~ido em Isaac ; Chefe dos eleitos em Jacob ; ' endido
1
(1) Eusch. Dcm.onst. Evang. 1. IV, 17l e scg. Veja-se lambem Bos-
suct fazendo um quadro similhante cm um Sermão sobre · os caracleres
<las duas alliancas t. III, p. ~37.
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- - - -- - -·------- - '-.....
62 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 63
poderiam supportar maior força de luz. Nesta obscuriade mesma
tinha sua f~ mais subido merito e sua culpa um principio d'expia-.
ção.
Para obstar a que o homem não perdesse , um só instante , a
consoladora idea de seu Libertador, apressou-se Deus a confirmar
esla primeira promessa, ou antes a traduzil-a em outra linguagem
não menos eloquente, queremos dizer, a linguagem figurativa. O
proprio Adam foi a primeira figura do seu Redemptor : comprehen-
dendo-se , podia comprehendel-o. Vejamos as tocantes relações que
existem entre estes dous troncos da ·humanidade. Adam é -pai de
lodos os homens segundo a carne. Nosso Senhor é pai de todos . os
homens segundo o espírito : é o filho de Deus que nos ereou e nos
regenerou. Adam é o rei do universo ; é para elle que todas as
creaturas foram feitas. Nosso Senhor é o rei do universo ; é por
clle e para elle que todas as creaturas foram feitas. Adam é o pon-
lifice do universo; é elle que deve offerecer a Deus . a homenagem
de todas as creaturas. Nosso Senhor é o Ponlifice do universo , o
sacerdote calholico do Padre Eterno; é elle que offerece a Deus as nos-
sas homenagens e as de todas as creaturas. (1) Adam está a .prin-
cipio só , cercado d'animaes que não podem ser sociedade sua. Nos-
so Senhor está a principio só sobre a terra, rodeado d'homens escra-
vos das paixões sensuaes ; e, por suas inclinações, simiJhantes aos
brutos.
Adormece Adam ; lira-lhe o Senhor uína costella de que for-
ma sua companheira. Nosso Senhor adormece no somno da morte,
sobre a arvore da Cruz. Durante seu somno, rasgam-lhe o peito ;
da chaga que lhe abriram sahio a Igreja , sua esposa, figurada pelo
sangue e agua. Eva, esposa d'Adam, é sua imagem viva, será
sua companhoil'a e lhe dará numorosos filhos. A Igreja , esposa de
nosso Senhor, é sua imagem viva; será stta companheira e lhe dará
numerosos filhos. Entre . Adam e Eva ha um vinoulo indissoluvel.
Entre Nosso Senhor e a Igreja ha um vinculo , uma sociedade que
não acabará jámais : Jesu-Christo estará com clla todos os dias alé
á consummação dos seculos e depois pof totla a Eternidade. ·
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'CATECISMO
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DE PERSEVEnANÇ.A. · 65
Noé.
2.º Aquelles que viveram desde o Diluvio até á vocação d'Abra~
ham , a saber : Sem , Arphaxad ,, Sale , Heber, Phaleg, llehu , Sa-
ru0· Nachor Thare Abraham
º' ' ' . ,
3. º Emtim aquelles que appareceram desde a voe ação d' Abraham até
o captiveiro do Egypto, a saber: Isaaç, Jacob e seus doze fiJhos, que foram
os chefes das tloze tribus d'lsrael. Digamos alguma cousa de suas vidas.
Os Patriarchas eram perfeitamente livres ~ e sua familia cons-
titma um pequeno Estado , onde o pai era como que o rei. Suas ri-
queza.s consistiam principalmente em gado. Por isso estimavam
tanto os poços e cisternas ; pois tinham d'apascentar numerosos re~
banhos , em um paiz onde não ha tnais rios que o Jordão , e- onde
tam raramente chove. Com todas estas riquezas eram não- obstante
mui laboriosos ; estavam sempre no campo, alojavam-se em lendas,
mudando dabitação segundo a commodidade dos pastos; e por isso .
gastavam muito tempo em acampar, e desacampar, porque não po-
diam com tam grande bagagem fazer. jornadas longas. ·
Esta maneira de viver foi sempre lida pela mais perfeita ; por
quanto prende menos o homem ás cousas da terra. Por isso desi-
gnava Lambem melhor o estado dos Pá.triarchas, que a não habitavam
senão como ' iajantes , aguardando as promessas de Deus , que só
1
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66 CAl'ECJSMO
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DE PERSEVERANÇA. , 67
Tal foi em geral a existencia dos Palriarcbas : uma gran<le li-
berdade, sem outro governo que o do pai que imperava com poder ab-
soluto em sua familia : era um modo de vi ver mui naiural e commodo ;·
temunlias dão a um facto desta ordem tal ou tal duração, d~vemos erer
110 qnc dizem ou provar que são falsas. Estabelecida assim a questão,
rccahc sobre nossos advcrsarios: nós estamos de posse, e segundo as re·
gras de direito, ao contestante é q,ue pertence provar as suas pretenções.
Por isso podiamos ficar aqui, esperando que o façam ; ·mas seguros que
nunca o poderão fazer, queremos comtudo mostrar sobre que auctorida-
des se fundam os factos da longevidade primitiva. A primeira é de Moi-
sés. Ora, prescindindo da inspiração e gravidade da testemunha tem ei-
la a seu favor, por consenso unanime, ser o mais antigo historiador, e
por consequencia mais grave e auctorisado que todos os posteriores, sen-
do qne o testemunho negativo destes não bastaria em boa critica para
contrabalançar o seu. Demais, cumpre notar que os outros historiadores,
Jogo que perderam o fio da serie humanitaria, como não podem remon-
tar-se alem do D.iluvio, épocha em que, segundo a Biblia, rednzio Deus a
rnla humana, .o testemunho delles não seria mais que de minima impor·
tancia.. Todavia como a vida dos · Patriarchas posteriores ao diluvio ain-
da ex~edia muito a um século, seria muiLo nalmal descubrir Lra~os des·
te facto nas lradicções profanas.
Assim o testemunho dos Pagãos é a nossa segunda auctoridadc. Ho-
mero queixava-se que em seu tempo a vida dos mortaes estava muíto di-
minuida: .• Joseph cita aos Gregos os seus historiadores Hesiodo, e Heca-
tco, llcllanico, Arccsilao, Ephoro o Nicolau de Damasco, -para lhes pro-
var que os primeiros homens viviam muitos seculos. A mesma crença
vigora entre os Egypcios, e entre os Chioczes.
Que é o qu_e se oppõe a isto? Os factos actuacs com os quaes ar-
gumentam assim: os homens d'hoje não vivem mais de setenta a oiten-
ta ~mnos : logo o mesmo succedia ha cincocnta scculos. O homem rara-
mente chega aos cem annos: logo nunca exislio um systema de consti-
tuição humana, que podesse resistir ao peso de sele ou oi lo seculos.
Nesta como . em todas as ma is ohjccções contra os factos religiosos, é
sempre a sequela estourada do espírito forte: o que não vi nüo existe,
nem cxistio nem deve cxislir·. Vejam-se Tardes de 1'Jontll1ery 1 por Des-
<louits, JII.:i tarde .
•
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&8 CAT F.CISMO
lhe uma parte dos bens que por sua bondade recebiam. Um dia,
offereccu-lhe Caim as primicias de sua colheita , e Abel immolou-
lhe os primogenilos de seus rebanhos , e offereceu-lbe a gordura de
~u~s viclimas. Mas a.. piedade de Caim era tam escassa COJUO a de
Abel sincera e generosa. Testemunhou o Senhor cl'um modo sen-
sivel .a distincç~o que fazia dos dotJS , sacrificios. A.ceitou o d' Abel
e desprezou o de C~i~.
A inveja não sabe fazer justiça. Em vez de tornar a si a culpa,
quiz vinga1·-se Caim em -seu innocente irmão. Logo que no co-:
ração se concebeu o crime , mostrou-se no rosto. O Senhor , que-
rendo salvar Caim e fazei-o tornar em si , faltou-lhe dizendo : Por~
que é que estás irritado? Como perdeste a serenidade do rosto ?
'Acaso se tizeres bem não terás a recompensa ? se m~l , não· pro-
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DE PE'RSEVERA.NÇA. 69
vocará-s logo a minha vioganç.a? }las aind.a é tempo de a evitáres:
por violenta que seja a tua paixão podes resistir-lhe. .
As divinas reprehenções d'um Senhor que procura prevenir os
crimes de seus ser\'os nada puderam no irritado Caim. Alteudendo
só á sanguinaria inveja : vamos ao campo , disse para seu - irmão.
Consentio Abel de bom grado. Até pode ser procurava mitigar a
melancolia que parecia consumir Caim. Mas sem lhe responder,
im·estio com elle e o matou.
Parn logo o Senhor se fez ouvir ao homicida , ainda com uma
suavidade que o fratricida não merecia , e de que não quiz apro-
yeitar-se ; a p1·incipio só lbe tlisse estas pala.vras : Caim , onde está
leu irmão Abel? Eu não sei , respondeu o malvado. Acaso sou ei1
o guarda de meu irmão? Convideis em que tam ins-olenle resposla
mereeia o desferir d>um raio ; mas o Senhor que , .com suas repre-
Jiensõcs , tentara prevenir o crime, ainda queria procuar-lbe o ·m·..
repe.ndimenlo. Que fizeste tu, Caim? tornou elle; o sangue de' teu
irmão clama vingança ·co1)lra tí. Serás maldito sobre a terra , que
forçaste a abrir o seío para beber o sangue de teu irmão. Tu a
cullivarás com grandes fadigas e não corresponderá ás tuas espe- r
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70 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 7f
provação foi impresso no povo judaico , para im-pedir que o não ex-
terminem ; e , de todos os povos antigos , é élle só que ·sobrevive;
elle só que existe no meio de todos, sem se confundir com nenhum
delles. Adam consola-se ela morte d' Abel pelo nascimento de Seth ,
filho de benção, que perpetua a posteridade dos justos. Consola-se Deus,
para assim dizer, da morte tle Nosso Senhor pelo nascimento de uma
innumeravel multidão de Chrislãos , que são os filhos de Deus po1·
adopção.
ORAÇÃ.O.
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos dou graças por ha-
verdes multiplicado as promessas e figuras do Messias. Fazei , Se-
nhor, que excitem cada vez mais em meu coração -O desejo de vos
conhecer e amar. Dai-me a innocencia d' Abel, o seu zelo pela vossa
glotia , e a sua charidade para com meus irmãos. ,- ,
Eu protesto amar a Deus sobre lodas as cousas , e ao proximo
como- a mim mesmo po1· amor de Deus ; e , em testemunho deste
amor, saudarei aquelles quo me fazem_ mal e orarei por elles.
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72 CATECISMO
XXII.ª LIÇÃO.
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DE PERSEVERANÇA. 73
lias. Deste consorcio nasceram os Gigantes, isto é, homens d'cx-
traordinaria força e estatura. Estes ho!Jlens, cujo nome é celebre
ha l3ntos seculos , espalharam por toda a parle a desordem e a
impiedade. (1) D'aqui se vê que a causa do mal foi desde logo o
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_CATECISMO
que sempre depois tem sido, a mistura dos bons com os máos.
Brevemente a corrupção foi geral , e a terra s~ ''io coberta ue
crimes : chegou a tanto a iniquidade , que fez dizer a Dous , que é
a bondade mesma , qu~ se arrependia de os ter creado ! E' espan-
•
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DE PERSEVERANÇA, 75
tosa esta expressão da Bíblia. Deus, penetrado do llor até ao fundo,
do coraçcio, disse: Eu destruirei o lwmem qne creei'. (1)
Mas no meio da - depravaç,ão geral , achou-se um justo que se
conservava puro no meio do contagio ; este era Noé , que tinha en-
tão 480 annos. O Senhor o chamou e lhe disse : Os homens leem
corrompidos todos os seus caminhos , estou arrependido de os tei:
creado , e resolvido a destruil-os ; e com elles aos animaes, e reptis,.
e aves, e todas as creaturas infectas dos crimes da ~specie hu-
mana·. Destruirei o mundo pelo diluvio. Tu porem , achaste graça
diante de mim ; faze pois uma arca de madeira solida e liza ,
divide-a em differentes repartimentos , e betuma-é! por dentro e
por fora ; tu a farás de trezentos çovados de compride>, cincoenta
de largo , e trinta d'altura ; farás nella uma abertura' para servir
de janella ; collocarás uma porta em um dos Ja<los, e destribuirás
LocJa a capacidade da arca em tres andares. Logo que a arca es-
tiver acabada, entrarás nella, tu e teus filhos; e farás lambem en".",
trar comtigo animaes de toda a especie, a fim de os perpetuar nâ-
lerra ; metlcrás den lro d:f arca todas as necessa rias pm~isões para
ti e para esses animaes.
Eram justas as medidas do Senhor , e quando , pelos calculos
mais exactos, se não liv~sse verificado , como já se fez , a sua justa
proporção ; pocleriamos deixar o nr.gocio á pericia do grande mestre
qne quiz ser elle mesmo o supel'inlendente e architeclo deste maravilho-
so edificio. (2)
Noé obedeceu ao Senhor, e gastou 120 annos a construir a arca.
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76 CA TF.CIS~IO
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DE PERSEVERANÇA. 77
das. Sele dias de.pois deixou ir uma pomba, para o mesmo fim
com que já havia mandado o corvo, porem esta ave como não achasse
onde pouzar tornou para a Arca , apresentou-se a Noé, que a
tomou e recolheu de novo. Esperou o Patriarcha sete dias mais, e
tornou a soltar a pomba , a qual voltou á tarde , trazendo no bico
um rama d'oliveira. cujas foJhas estavam verdes. A este signal
enlendeu Noé que já as aguas se haviam inteiramente retirado. Mas
tomou a delibera~~ão tl'.esperar e om paciencia ainda mais sete dias ,
e pela terceira vez mandou a pomba ; a qual não voltou mais. To-
davia , para saber o que fizesse, esperou as ordens do Senhor ; e ·
estas com effeito lhe foram communicadas no dia 393. 0 depois que
entrou na Arca.
Apenas Noé se vio em libenlade , seu primeiro impulso o levou
a um acto de reconhecimento. Offcreceu 11m sacrificio ao Senhor ;
e o Senhor lhe promettcu de não lornar a fazer perecer o- mundo
pelo diluvio. « Eis-aqui o signal da alliança que para sempre esta~
beleço r.ntre mim e vós, lhe disse o Senhor : qu&ndo eu tiver agglo-
merado as nuvens no ceo, apparecerá no meio dellas o meu arco ,
e me recordarei , ao vel-o ; da promessa que fiz de não tomar a
submergir o mundo por uma inundação geral. )) D'esL'arle toda a
yez que vemos o arco iris , devemos ter animo , e crer que Deus
não tornara a ·fazer perecer o genero humano pelas aguas. Desta
promessa ~ivina , perpetuada pela tradicção , nasceu sem duvida a
veneração que os Peruvianos pareciam ler conservado, ha tanto tem.
po , para éom o arco iris , signal en lre elles manifesto da perpetua.
ce sação daquellas inundaçõe5 lerriveis que produziram o dilu-
\'ÍO. (1)
Se a memoria desta particular circumstaneia se acha entre os
Pagãos, com muita mais rasão devemos achar enlre elles á me-
moria cFaquclla terri vel inundação , que fez perecer o genero
humano. Com effeito a realidade do diluvio eslá escripla com cara-
cleres inde1cveis em dous grandes livros , onde todos podem . ler: a
memoria dos p.ovos, e a superficie do globe. Para nos convencer ,
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78 CATEClSl\IO
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DE PERSEVERANÇA. 79
Japonezes nos ultimos dias do mez d' Agosto; tinha o mesmo fim como
a mesma origem. (1)
Iguaes crenças predominam entre os Arabes, Turcos , l\fongóes
e Chal<leos. Béroso , que escrevia em Babylonia no tempo d' Alexan-
dre, fa~la do diluvio com circumstancias tam similhanles ás. de Moisés,
que parece uma narração bebida na me ma origem ; e a -epocha cm
que o colloca , isto é, logo antes de Belo , pai de Nino, concorda
com a que lhe dá <l Genesi . (2)
Se da Asia passarmos a Africa, os Egypcios nos dizem, que
na epocha em que Osiris se occupava a insl.ruir os homens na Elhi-
opia , tresbordou o Nilo e inundou inteiramente as vastas planícies
que percorre. Todos os homens pereceriam por cffeito deste dilu-
vio , a não ser o possante braço d'Hercules, unico que pôde susle.r
a furia das aguas levantando diques, e sahando assim nma parle
do genero hum ano. (3)
Entrando pelo coração d' A.frica acharemos as mesmas tradicções
entre os Abyssinios.
. Na Europa temos os Scandinavos, que nos dizem que tendo sido mor-
to o gigante Ymus, escoou de suas largas e profundas feridas tam
grande porção de sangue, que submergio a especie humana. Um cer-
to homem , que designam pelo nome de Delgémer , foi com sua
familia o unico que se salvou ; e isto porque, obedecendo á ordens
da divindade, havia-se abrigado em um grande navio. As lradic-
ções dos Celtas ainda são mais explicitas. Segundo elles, como d'ac-
cordo com os mais antigos povos, o diluvio destruio todo o genero hu-
mano, exce1lto Dwvan e Dwz'vach. Estes sós escaparam ao perigo, haven-
do d' antemão construido um navio sem velas, no qual tinham reco-
lhido, de lodos os animaes que exisliam, um macho e fcmea. Alé os
pobres Laponios possuem lambem suas tradicções do diluvio. (4)
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•
80 CATECISMO
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DE Pf~nsEVERA~ÇA. 81
A' rírnsma epocha do diluvio indicada por .l\luisés, ·rendem ho-
menagem os factos gc1Jlogicos. Se examinarmos nos Alpes os re-
sultados das acções que deveram começar quando estas montanhas
tomaram suas formas actuaes, taes como a formação dos ~lesabes
tntindo an'ligo devêra espargir estas rcliqiiias aqui · e nl1i por toda a su-
pt!rficie rerolvida das aguas. Demais, segundo o Genesis, as aguas do
mar deviam reunir-se às da chuva, para produzir a innnda~ão ; não é
preciso mais para explicar certos raclos, que reciprocamenlo sorvem de
ponto d'apoio ás inducçõcs, pelas quacs dcscubnntos suas causas. Isto
posto, dizemos : Primeiro facto diluviano, ou, segundo a bclla expressão
ele Bucklaod , o Cuvicr da Inglaterra • J>rimcim medallla do diluvio:
« a existcncia d'arcas marinhas· e conchas, !JOS terrenos d'alluvião dos
nossos continentes actuaes. » Estas immcnsas camadas cl'al'ea e conchas
existem até no cimo das montanluis Se estas conchas e silex sé achassem
cm camadas pedreg-0sas, não tcriarµ rclàção cóm o diluvio;_ mas é nos
terrenos móvcdiços, nos terrenos d'allU\·ião, precisamente n•aqncllcs que
os gco1ogos chamam terrenos diluvianos, que encontramos esta arca e
estas conchas. , Supposlo que, segundo certos gcologos , os dcpositos di-
luvianos não se encontrem no cimo das mais altas montanhas. esta nu-
scncia , se é exacla, nada prova contra a universa-lidadc do diluvio. Com
effeito , os dopositos resultantes da acção impetuosa das conentes bem
podem não apparcccr cm seus pontos de pal'tida e cobrirem somente os
pontos mais baixos da supcrficie <lemudada do globo; da mcsnHt sorte,
no tempo presente , observamos muitas vezes uão ficarem vestigios das
mais violentas inunda~ões sobre aqnellas mesmas montanhas donde par~
tiram.
Segunda meclal!ia do diluvio : « Os vallcs de desnudação. >l Na falta
das conchas o arca do mar no cimo das mais nllas montanhas , og vallcs
de dcsnud,1ção vem alleslar a passagem do terrível flagcllo sobre estes
acrios pincaros. Chamam-se vallcs de desnudação aquelles que foram ex-
cavados na mesma· massa dos mais elevados plainos. Facilmente se 1·cco-
nhcccm por/lue, sobre cada declive das collinas ve-sc uma cxacla co1TC$(>0n-
1
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82 CAIECISMO
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DE PERSEYERANÇA. 83
que hoje , deveremos concluir com· Deluc , Cnv1er , Buckland , que
as revoluções , que deram ás nossas montanhas as suas formas actu-
aes , e aos nossos rios as correntes 'que hoje teem , não sobem
.á epochas excessivamente remotas; de sorte que a distancia de qua-
rinhos, estes ult1mos não resultam d'uma precipitacão lenta, feita no seio
do liquido, que houvesse occupado tranquillaruente a superfiicic dos con- .
tinentes acluacs. Os nnimaes terrestres não podiam lambem ajuntar seus
despojos aos dos habitantes do mar senão por etfeito da invasão deste
cm os continentes: é isLo prccisamenlé o que diz a Biblia.
2. 0 Que o tamanho e proporções de certas especies enterradas con-
corda perfeitamente com as ideas qoe nos dá Moisés elo vigor da natu-
reza orgaoica na epocha do diluvio.
3-. Que a di\·crsidade dos climas, aonde vivem as espccies petrifica-
11
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84 CATECISMO
tro mil annos da era aclual , que o Genesis dá aó di h1vio ,- pode rnµi
bem concordar com as consequcncias lir~das dos chronometro!:I na-
lnraes. (1)
Todavia o Senho1· não s~ contentou com salvar Noé, fez del10
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DE PERSEYERANÇ,A. gf,
a terceira figura do l\Icssias. Noé quer dizer Consolador. Jesus quer
uizer ·Salvador. Entre todos os homens, só Noé achou graça diante
de Deus. Só Nosso Senhor achou graça diante de Deus seu Pai. Noé
foi escolhido para de novo povoar a terra. Nosso Senhor foi esco-
lhido para povoar a terra de justos. e o Ceo de santos. Noé rece-
beu ordem de construir uma arca. Nosso Senhor recebeu ordem de
restabelecer a Igreja. Trabalhou Noé, por espaço de cento e vinte
annos , na conslrucção da arca , e não cessou de prégar a peniten-
cja aos homens , que .o não escutaram. Nos~o Seahp1· lrabalhou lo-
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8G· CATECISMO
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos dou graças pela
paciencia com que esperaes os pecca<lores ; e com que me tendes·
esperado a mim mesmo tanto tempo para .a penitencia. Eu torno
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DE PERSEVERANÇA. 87
para YÓ3, recebei-me pela v9ssa infinita misericordia. Tambem vos
dou graças por me fazerdes nascer no gremio da vossa Igreja, fora
da qual não ha salvação ; concedei-me pois , Senhor , que eu cum-
pra os seus preceitos, e persevere até o fim em tudo o que ella me
ensina.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho deste
amor, renovarei todos os mezes as promessas- do ba11ti'smo. .
XXIII.1' LIÇÃO.
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88 CATECISMO
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DE l'ERSEVElUNÇA. 89
Tenivel maldição que se verificou depois, quando os Chananeos fo-
ram exterminados e reduzidos á servidão pelos Israelitas , descen..;
dentes de Sem. Maldição sempre subsistente na descendencia de Cham,
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90 CATECISMO
que ensina aos filhos o respeito e veneração que <kvem ler a seus
pais. (1)
Por um admiravel conselho da Providencia ~ viYetl ainda Noé
vc1ação, que lhe mostra os tres filhos de Noé, pais destas Lr.cs rnçns. A
sciencia inclina-se diante deste facto,. e por cllc possuo a solucuo do
seu ullim~o problema, sobre esta matcria: Assim se torna complel; por-
que é religiosa.
Segundo facto. A superioridade das duas raças sobre a tcrcciri~.
Aqui lambem a historia e o profundo exame da conformação fisica attcs-
tam que a raça caucasica· e mongol leem uma superioridade incontestan~i
~ob re a elh iopica. Com effcito, é nas primeiras que se tecm realizado o
se realizam ainda toe.las os grandes successos. A raça cLhiopira niio faz
mais que um papel muito secundario ; apparece ella em toda a du_ração
de sua existcncia como a serva ; digamos tudo, como a escrava <las duns
outras. Elia tem, como diz Cuvicr, todos os signaes <l'nm aviltamento or-
gaoico e moral. Eis aqui ainda um facto. Se iutcrrognrdcs a sricncia
puramente Ttumana ácerca desta extravagancia natural , di r- vos-ha que nns-
ce do clima, do ar, da natureza da terra e das aguns, da duraç<iú e
inLensidade do frio e do calor. Mas todas estas circumslanci as ntmos-
phericas, gcolog1cas, e outras taes, não satisfazem um espirilo posili voe
sincero ; porque se as admittinles como causas desta <lcca<lcncia organica
e moral, deveria a raça ethiopica estar hoje muito mais arruinada do que
o estava ha mil annos, ha dois mil annos, que digo? deveria estar d es~
truida. Por quanto, suppondo uma causa permanente e setnpre acliva,
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DE PERSEVERANÇA. 91
350 annos depois do diluvio. Assim lhe prolongou Deus a vida, que-
rendo que seus descendentes , durante este longo intervallo , tives--
sem diante dos olhos a seu pai commum , a fim que aprendessem
circumslanciadamente , e conservassem entre os homens , as vercla-
des fundamentaes da Religião , e os factos antigos , de que só Noé
estava por si mesmo informado.
Todavia os filhos desle Patriarclla eram já tam numerosos , que
se lembraram de ·separar-se. Porem , antes desta dispersão , qui-
zeram levar a cabo um projeeto que proclamasse bem alto a sua
loucura e vaidade. « Vinde , disseram uns aos outros. Façamos uma
cidade e uma torre , cuja altura chegue até o Ceo. )) Este louco de-
signio tinha duas causas igualmente vãs : era uma eternizar seu no-
me por um monumento soberbo ; outra , defender-se conLra o roes..
mo Deus , se outra vez quizesse punir a terra por um diluvio. Nisto
se faziam culpados, não tanto de loucura como de incredulidade ;
porque o Senhor promettera não tornar a submergir o mundo por
uma inundação geral. Metteram logo mão á obra ; mas quando tra-
balhavam com maior afinco, lançou Deus entre os obreiros uma tal
diversidade e confusão de linguas , que se não entenderam mais.
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CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 93
m1nal-as. Deixai-o fazer ; que bem de pressa o vereis, prostrado
pelo cançasso dos vicios, deshonrado , abje.cto, não ter já fé senãe
na fatalidade, na morte, na desesperação. Grande e terrivel exem-
plo de que os povos chrislãos nem sempre sabem aproveitar-se!
Apenas se encontrava uma familia ainda fiel ao Deus d' Abraham
e de Noé , e foi preciso que o Altissimo, cançado d'amea~ar, espe-
n1r e punir, reprovasse de novo a especie humana, abandonando~a
á sua mesma perversidade ..No meio desle diluvio de crimes , aonde
irá parar a verdadeira Religião? Acaso resolveu Deus privar della
aos homens criminosos e indignos ? Não , a palavra do Eterno é
irrevogavel ; se elle houvesse consultado os crimes de nossos pais·, .1
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9í CATECISMO
sias; esta nol-o indica expressamente: elle nascerá da familia d' Abra-
ham. Eis-aqui todas as nações postas <le parte ; já não é entre ellas
que deveremos procurar o Redemptor. A primeira dizia-nos, que elle
esmagaria a cabeça da serpente ; a segunda explica-nos o sentido
destas palavras dizendo : Que o Messias destruirá o imperio do de-
monio; trazendo todas as nações ao conhecimento do verdadeiro Deus,
no qual se acha a verdadeira benção. Assim que , 1. º o germen
bemdito, promettido a Eva, será lambem o germen e vergontea de
Abraham ; 2. º esta victoria; que hade ter sobre o demonio, consis-
tirá em trazer os homens ao conhecimento e culto do Creador ; 3. º
este filho d'Eva e Abraham fará baquear por todo o mundo o im-
perio do demonio 1 destruindo a idolatria , que não é outra cousa
se.não o reino do demonio; e restabelecendo o culto do verdadeiro
Deus. A conversão dos Gentios, isto é , dos Pagãos , é :sempre no-
tada nas divinas Escripturas como a obra distinctiva do Messias.
Cheio de fé , sahio Abraham da sua provincia, acompanhado
de Sara sua esposa , e Lot seu sobrinho , .e chegou á terra de Cha-
naan. Seus rebanhos e os de Lot eram lam numerosos, que não ca-
biam na terra que enlão occupavam. Propoz o Santo Patriarcha a
seu sobrinho o separarem-se ; e com em~ilo Lot se retirou para So-
doma. Est~ separação não esfriou a charidade d' Abraham , do que
logo deu uma estrondosa prova. O rei de Sodoma, e mais quall'o
reis seus alliados, foram batidos e desfeitos por um 1n·incipe de quem
tinliam sido tributarios ; e o mesmo Lot ficou prisioneiro. Abraham,
mal que o soube, poz-se á testa de trezentos e desoilo <lc seus mais
bravos servos , e cheio de confiança no Deus que o protegia, com
este punhado de guerreiros, vai o Patriarcha em seguimento das ''i-
ctoriosas tropas , e dando nellas de subito as desbarata , retoma-lhe
o roubo , livra seu sobrinho , e com elle a todos os companheiros
do seu captiveiro. Cheio de gratidão , veio o rei de Sodoma ao
encontro de seu libertador , e o conjurou a que ~aceitasse, cm re-
compensa de seu beneficio, os ricos despojos dos iniínigos. Porem
Abrahamªnada quiz 1~eceber , e tam somente deu o dizimo dos des-
pojos a l\lelcbisedech , rei de Salem , Sacerdote do Senhor , que
~bençoou Abral1am , depois de ler offerecido um misterioso sacri ...
Hcio de pão e vinho.
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DE PERSEVERANÇA. 9ü
Abraham, na pessoa deste rei ponlifice, honrou o l\lessias íutul'O ~
a quem este sacerdote representava; porque e do Messias que está
escripto. Tu és eternamente o Sacerdote, segundo a ordem de Mel-
chisedech.
Por isso Melchisedech é a quarta figura do Messias. Com effeilo,
Mclchisedech significa rei de justiça. Nosso Senhor é a justiça mesma.
:Melchisedech é rei e ponlifice. Nosso Senhor é rei e pontifice. Mel-
chisedech é sacerdote do Altíssimo ; nosso Senhor e o sacerdote por
excellencia. l\Ielchisedech apparece só. Não se lhe conhece pai nem
mãi, nem genealogia , nem predecessor, nem successor no sacer-
docio. Nosso Senhor não tem pai na terra, nem mãi no Ceo, nem
predecessor , nem successor no sacerdocio : os padres não são mais
que seus ministros. Melchisedech abençoa a Abraham. Nosso Se-
nhor abei~çoa a Igreja, representada .por Abraham. Melcbisedech
offernce em sacrificio pão e vinho. Nosso Senhor offerece-se todos
os dias cm sacrificio sob as especies de pão' e vmho.
Esta figura accrescenta novos traços ao retrato do Messias. As
primeiras nol-o represenlarn. 1.º Como pai do mundo novo. 2.º Co-
mo um justo padecendo e soffrendo perseguiç,ões. 3. ºSalvando o mun-
do do diluvio. Aqui nos apparece elle como sacerdote por toda a
eternidade , offerecendo o pão e o vinho em sacrificio~ As figuras
seguintes virão successivamente animar o quadro com novos toques;
pois que o mesmo succede com estas prophecias vivas , como com
as promessas e predições, desenvolvem-se continua e successiva-
mente.
O' meu Deus! que sois todo amor, eu vos dou graças por J:!âo
terdes abandonado os homens depois do diluvio ; mas antes, apezar
<le lanta ingratidão , lhes conservastes o beneficio da Religião. Bem-
clito sejaes por terdes escolhido um povo , para cpnservar a grande
promessa do Libertador. Livrai-me , Senhor , da soberba ; dai-me J
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96 CATECISMO
XXIV .ª LIÇÃO.
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- -
DE PEllSEVERANÇ,\. 91
lavar os pés. Assentai-vos á sombra destas arvores ; tomareis· al-
guma refeição comigo , e depois continuareis a jornada. Aceila-
1·am os viajantes ; e depois de receberem· esta generosa hosnjlali-
dade, um delles disse a Abraham : dentro d'um anlio, a contar 'deste
dia, tornarei a vu· ver~te, e então Sara , tua esposa 1 terá dado á
luz um filho. Ht1manamente faltando , a promessa do viajante era
·tota1menle destituída de verosimilhança. Sara era já muito idosa, e
Abraham tinha a este tempo 99 annos. Todavia o Santo Palriarcha
não hesitou , não teve a menor duvida !
Desta sorte preparava Deus os homens para crer um dia na fe-
cundidade d'uma virgem, fazendo conceber a uma mulher esteril e
nonagenaria ; e lambem os dispunha de longe a c.rer no mislcrio da
Sanlissima Trindade , mostrando-lhes urna imagem deste mislerio nesta
appariç.ão a Abraham. Tres Anjos se apresentam ao santo PaJ.riarcha,
e a Escripturn lhes dá ., no singular, o grande nome de Deus, o
nome incommunicavel de Jeliovah. Abraham , vendo lres , adm·ou
um só , não fal1ou senão como a um só. Este grande misterio , que
depois se descobtio no Evangelho , não se mostrava no Antigo Tes-
lanwnto senão debaixo de véos; e não podia ser visto senão d)a-
quelles que já desde então tinham o espirilo do Christianismo.
Emfim despediram-se os ires viajantes do seu hospede; o qual por.
Jhes fazer honra foi acompanhal-os. Este novo rasgo de charidade
mereceu-lhe um novo favor, pelo qual o Senhor seu Deus, abrindo-
se com elle com uma familiaridade incrivel ; o fez _confidente de seus
ruais occultos desígnios. Caminhavam de companhia pela estrada·
que conduzia a Sodoma , quando o Senhor , sob a· figura d'um dos
lres Anjos , disse para Abraham : o clamor dos peccados de &Jcloma
e de Gomorrha · tem chegado ate mim, e clama vingança. Vou ver
se está cumulada a medida ; e se é tempo de punir os culpados.
Aproximou-se Abraham res1lectuosamente delle; tanto a charida.de e
o zelo prestam confiança , e disse-lhe : ~las que, Senhor ! Querereis
confunclir na mesma punição o innocente e o culpado? Se uma
deslas criminosas cidades tiver cincoenta justos, acaso os fareis pe-
recer a todos, ou antes perdoareis á cidade toda cm altcnção aos
cincoenla justos? A candura e simplicidade desta oração acharam
graça diante de Deus. Se Sodoma offerecer a meus olhos ciucoenta
13 li
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,
!)8 CATECIS~IO
--
justos, disse o Senhor, não destruirei a cidade, e os ciricoenta jusl.os
alcançarão graça para lodos os criminosos. Pois já que comecei a
vos fallar , tornou Abrahnm , eu que não sou mais que cinza e pó,
accrcscentarei ainda uma palavra : se houver quarenta e cinco jus-
tos, querereis perder uma cidade, da qual quarenta e cinco de
vossos servos sollicitarem o perdão? Não te quero affligir , tornou
o Senhor; perdoarei a todos em favor dos quarenta e cinco. Mas ,
ó meu Deus l continuou Abraham , se por desgraça não houver
mais que quarenta que fareis? ainda perdoarei, disse o Senhor.
:Muito tinha já feito Abraham, porem a innocencia e valimento
dos amigos de Deus dá-lhes direitos que os outros nem mesmo co-
nhecem. Assim Abraham, que a principio não fazia com Deus os
seus argumentos condicionaes senão de cinco em cinco, passou logo
a dez , e diminuindo este numero ao ele quarenta : Peço-vos Senhor.
lhe diz, que vos não enfadeis se vos fallar inda : Se houver só quarenta
justos? Perdoarei a todos, respoudeu o Senhor. Pois que tenho con-
seguido tanto, tornou o Santo Patriarcha, ainda irei mais longe : so
houver vinte somente? Esses vinte me desarmarão , respondeu o
Senhor. Conjuro-vos , meu Deus, accrescentou Abraham, que vos
não indigneis se vos fallar outra vez ; se houver apenas dez , que
fareis ? Em altenção a esses dez justos, perdoarei a locla a cidade.
Aqui termina este admiravel dialogo que nos revela ao mesmo tem-
po a infinita bondade de Deus , que tanto a seu pezar nos castiga;
e o poder da oração e i_ntcrcessão dos santos. Não se acharam os
dez justos , e cinco cidades inteiras foram devoradas pelo fogo do
Cco. No lugar onde estiveram vê-se hoje um lago immundo , cha-
mado o Mar Morto. Lo-t e sua familia foram os unicos que esca-
param desta catastrophe , e ainda. assim a mulher de Lot; como se
voltasse para ver a conflagração , foi transformada em estatua de sal,
que ainda se via no tempo dos Apostolos. (1)
Todavia Abraham voltou para a sua tenda ; e, na hora mar-
cada pelO Senhor, nasceu Isaac. Nada mais tinha que desejar o
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DE PERSEVERANÇA. 99
Santo Patriarcha ; mas quiz Deus pôr a fé de seu servo a uma der-
radeira e lerrivel prova. Não contente com lhe haver promettido
que o Rcdemptor do mundo sahiria da sua progenic, quer ainda pôr-
Jhe diante dos olhos o mesmo drama da Redempção. No meio da
noute , fallou elle ao sanfo Patriarcha: Abraham ! Eis-me aqui, lhe
respondeu o venerando velho : Toma teu filho unico , lbe dfa o Se-
nhor, este filho que te é tam charo, Isaac, e vai offerecer-m'o em
holocausto sobre a montanha que te mostrarei.
A esta ordem tam repugnante , não respondeu Abraham senão
com uma prompta obedieneia. Em tres dias dispõe elle tudo para _
este grande sacrificio , e parte com seu charo filho para cumprir a
orflem do Senhor. Depois d'andarem tres dias , chegaram ao pé da
montanha do sacrificio : esta montanha, era o Calvario. Ficai ahi ,
meus filhos , disse Abraham a seus domesticos ; meu filho e eu va
mos subir ao alto para offerecer um sacrificio ao Senhor . .Não trans-
pareceu no rosto do santo velho nem a mais leve perturbação·. Com
a mesma lranquillidade , põe aos hombros de seu filho a Jenha pre-
parada para o holocausto , arma-se da espada ·com que devia atra-
vessar o coração d'Isaac , e toma o fogo destinado a consumir esta
chara victima.
As~im hiam o pai e o filho , absertos em pensamentos bem dif-
ferentes , mas ambos com ar contente e passo füme; quando Deus ,
que procurava a seu servo todos os graos de merito , permittio um
desles pequenos incidentos que, sendo tidos em quasi nenhuma conta
nas grandes provas, todavia poem em apertos o mais dedicado amor,
se o não supporta uma total abnegação, um heroismo exlreJl1o. l\leu
pai? Disse Isaac com amavel simplicid~de. Que queres, ·meu filho?
Tornou Abraham. Vejo em vossas mãos, continuou Isaac , o fogo
do holocausto , e eu mesmo levo o lenha ; mas aonde está a victi-
ma? Meu filho , tornou Abraham ,. sem que urna só pala\Ta o tra-
hisse , a victima , o Senhor nol-a deparará. Isaac não perguntou
mais nada. -
Chegados ao alto da montànha , levanta Abraham o altar, pre-
))ara a lenha , tira o ferro , era preciso cmfim explicar-se. Um
olhar , um aceno, um suspiro , bastaram para mostrar a Isaac a vic-
tima : rcconheceo-a elle, e sem hesitar um momento, adora a vontade de
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100 CATECISMO
Deus, sobe á pyra, e deixa-se prender pela mão de seu pai. Abraham
setnpre cheio de ·fé e obediencia , toma o gladio , leyanla-o sobre· a
oabeça da victim~, ·vai ~ descarregar o golpe... mas a prova estava
terminada; .chegara. o tempo da recompensa - «Suspende, Abrabam l
disse o Senhor ; agora conheço a tua fé. Por isso que obêdecesla
á minha voz. te ·aben. oarei ; multiplicarei a tua descend~ncia ; ella
triumphará de seus inimigos, e todos os povos <la terra serão bem-
djtos em Aquelle que hade nascer de ti. » Ao mesmo tempo, vollando-
se o sal)to Patriarcha, vio um cordeiro embaraçado pelas pontas na
rama d'um espinheiro, pegou delle e o immolou em lugar <le seu
filho. O' Jesus, co1·oado d' espinhos! Eu yos reconheço nesta ima-
gem.
De facto, este sacrificio d'lsaac é uma viva imagem do sacrí-
ficjo futuro 4e Jesu-Christo. A figura e a realidade por tal arle e
parecem, que é impossivel ver uma sem se recordar da outra. As-
sim é Isaac a quinta figura do Messias, Isaac é o filho predilecto
tlc seu pai. Nosso Senhor é o filho predileclo de Deus Padre, que
põe nelle todas a.s suas complacencias. Isaac , innocenle , é con-
oo'mnado ~ moa·rer. Nosso Senhor , a innocencia mesma , é oondem-
nado a morrer. Abraha~ , pai d' Isaac, é quem deve e ecular a sen-
tença. O IJ1.esmo Deus Padre ~ pela IQ.ão dos Judeos , é qu.em exe-
cuta as ntença de morte contra seu filho. Isaac, carregado com a
1 .ha , que- o deve consumir , sobe a monJanha 4Q calvario. No~ Q
Senhor, carregado oom o lenho da cruz, sobe, ou antes arrasla.,.se,
sob o peso e a facJiga, ao aHo dQ calvario. Isaac -deixa-se ligar so~
~re a pyra, e otrerece ternamente o pescoço ao cutello que o ha-de
jmmolar. Nosso Se~hor oft'erece as mãos e os pés para o encrava~
rem na cruz ; e co~o um tenro cordeiro, deixa-se i~mQlar selQ
i·esislencia. Isaac não é morto, por<1ue não era mais que uma figura :
Nosso Senhor 1 que era a realidade, soffreu realmente a morte. lsaao
desce da montanha ~heio de vida e cumulado de bençãos : uma nu-
merosa posteridade lhe é promettida! Nosso Se~bor sahe do tumulo
cheio de vida, cumutaqo de gloria; e , em recompensa d~ sua obe":'
dicncia recebe em he~·ança ~odas as nações.
Esta figura accrnscenta duas circumstancias ás precedentes : diz-
nos 1. º e1~1 que lugar ~erá ill)mQlado o Salvador ; 2. º <~ue ~a-de mor-
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DE PERSEVERANÇA. 101
rcr por ordem de seu Pai. D'est'arte se desenha progressivamente o
Redemptor. Eslas duas scenas tam ternas e sim ilhantes , o sacrifi,..
cio crtsaac e o de Nosso Senho1·, não teern entre si uma relação
manifesta? Pode duvitlar-se , lendo-as , que .a primeira não fosse
-0rdenada para preparar a segunda? ·Será possivel recusar esta no-
toria verdade: que o Antigo Testamento não é sénão a predicção
do Novo? E' certo que esta predição está a principio incoberta;
mas o véo se levanta a peuco e pouco , e o objeclo manifesta-se
logo que é eh egado o tempo da manifestação.
O" meu Deus ! que sois todo amor , eu yos dou graças por ter-
des conceditlo a Abraham, vosso fiel servo , as bençãos que lhe con-
cedestes em 1·ecompensa da sua fé e charidade. Concedei-me tarnbem
que eu tenha charidade co~ o meu proximo , ·confiança na oração~
e uma perfeita obediencia á vontade de meus superlotes.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas, e ao pro.1im0-
oomo a mim mesmo por amor de Deus ; e, em teste1RDDho deste
amot, entregar-me.-hei flit1Jiramente ás disposições da P,-ovidençi'a.
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102 CATECISMO
xxv. 2
LIÇÃO.
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DE PERSEVERANÇA. 103
Tendo desc.arregado os camellos, os fez descançar ao redor d'um
poço, aonde costumavam vir dar de beber aos rebanhos e bestas
· tle carga : era pela tarde, na hora que as moças da cidade, sem
dislincção de nascimento, ·vinham tirar agua ao poço. Eliezer fez
esta humilde e fervorosa oração ao Deus de seu amo : Senhor Deus
d' Abraham, vinde nesta hora, eu vos conjuro, em meu auxilio, e
mostrai vossa miscricordia para com meu senhor Abraham. Eis-me
aqui junto ao poço onde vem tirar agua as moças da cidade ; não
posso eu discernir entre tantas qual é a que dcstinaes para Isaac.
Considerarei pois como escolhida por vós aquella: que em eu lhe
dizendo : Toma a tna cantara e da-me de beber ; me responda lo-
go : Bebe, e vou lambem dar de beber aos teus camellos.
Em algum homem menos cheio d'aquella fé simples que opéra
os- milagres, e menos costumado a prodigios, um tal procedimento
poderia passar por temeridade ; mas, que não poderá alcançar de
Deus a confiança de SiiUS Santos !
Ainda bem não tinha Eliezer acabado a sua oração, quando vio
,.ir uma donzella, cuja belleza sem duvida se realçava pela modes-
tia, lrazendo ao hombro sua cantara: era Rebecca, filha de Bathuel,
sobrinha d'Abraham. Tirou agua, encheu sua cantara e tornava
embora. O velho servo reparou nella com attenção ; e encantado
de suas maneiras e ar ·de innocencia! disse-lhe com respeito e cor-
tezia : far-rne-hieis a graça de me dar uma gota d'agua da vossa
cantara para me apagar a sêde ? Bebei, meu senhor, lhe disse el-
la ; e logo. abaixando a cantara, offereceo-lh'a em posição commo-
da, e o deixou beber quanto qtiiz; depois acrescentou: vou tambem
lira_r agua para os vossos camellos, até que todos tenham bebido:
Sem esperai· resposla, entornou a agua da cantara nos canos, e vol-
tou ao poço a tirar outra para dar de beber a todos os camellos.
O Servo d' Abraham estav!l considerando-a em silencio, e logo
que os camellos cessaram de beber, endereçou-se á joven desconhe-
cida, offereceu-lhe braceletes, e arrecadas d'ouro, dizendo-lhe : de
quem sois filha? Haverá alojamento na casa de vosso pai? Elia
respondeu : sou filha de Bathuel, filho de Nachor; temos em nossa
casa muito feno e palha, e ha lá muito lugat· para ficardes. Elie-
zer inclinou-se profundamente e adorou ao Senhor. Rebecca, pela
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-
104 CATECISMO
sua pade, foi a correr· annunciar ·a sua mãi tudo o que se passava.
Labão irmão de Rebecca; veio· pedir áque1lc homem que aceilass-e
pousada em casa de seu pai. O , enviado de Abraham ·não se foz
rogar muito. Mas antes <le comer do que lhe offereceram, pedin
Rebecca para Isaac : concederam-lh'a. Então Eliezer fez magnificos
prnsentes a toda a familia, e logo de manhã alcançou licénça de
partir.
Pondo-se a caminho com sua numerosa comitiva, chegoà feliz-
mente á casa d' Abraham. Esposa perfeita, só Rebecca pôde mit.i-
gar a dor que causava a Isaac a perda de sua mãi Sara, por quem
hàvia lres annos que chorava.
Abraham, por outra parte, cheio d'annos e meritos, havia che-
gado á mais bella e honrosa velhice : tinha elle então 175 aunos.
Chegava o t.empo de terminar esta longa vida, assigaalada pelo con~
stante exercicio ·de todas· as virtudes, que convinham a um homem
escolhido por Deus, para ser o chefe d'um n.vo povo, fundador da
Nação santa, e pai do Messias ; digno por sua fé que lhe· chamas-
sem o pai dos crentes, e que o soberano de todos os homens sé'
gloriasse de sei· conhecido entre elles pelo nome de Deus d Abra-
1
ham.
Seus dous filhos mais velhos Isaac~ e Ismael prestaram-lhe seus
uHimos deveres. Foi enterrado como era sua vontade junto de Sa-
ra, sua esposa, na caverna do campo de Ephl'On, filhó de Séor, o
Hclheo. Trinta e oito annos antes, Abraham o tinha comprado, es:.;,
colhendo-o para seu jazigo, porque eslava em o vatle, junto da
montanha onde tinha levantado uni altar ao Senhor seu Deus, de
quem 'esperava a resurreição gloriósa e a consummação da sua fe-
licidade. Tinha o Senhor promellido a Abraham, como já disse-
mos, que da sua posteridade nasceria o Messias; e que os desceu..:
dentes do santo Patriarcha possuiriam um dia a terra de Chanaan ;
por consequencia que o Messias nasceria neste paiz. · Es.ta· pt•omessa
dispensa-nos de procurar o Messias, 1. º em alguma outra tei-ra ; !. º
em outro povo que não seja da descendencia d' Abraham. Mas · esta:
Juz parete ob~curecer-se ; ou antes, esta promessa dem~nda .uma ex._.
plicação nova. - - ,
Tem Abraham sete filhos, dos quaes Isaàc e Ismael são os maís
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DE PERSEVEJUN(jA.
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106 CHECISM-0
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I'
DE PERSEVERANÇ.A. 107
Rebecca não ignorava a importancia deste acto ; e não tencio-
nava deixar escapar o momento de o tornar favoravel.a Jacob~
1~ambem não ignorava a vontade de Deus, que queria fazer recahir
sobre o mais novo os privilegios do primogenito. Estava o negocio
começado pela cessão de Esaú ; mas relevava que fosse confirma~
do pela benção do pai. -
Mandou pois Isaac a Esau que fosse á caça e lhe trouxesse al--
guma cousa que comer ; para que, tendo tomado sua refeição , o
abençoasse : Esaú partiu. Por sua desgraça, houve alguem que ou-
viu esta conversação entre elle e seu pai ; Rebecca tinha . escutado
tud-o , e ~isto se ap1·oveilou sem perda de tempo. Chamou Jacob
e lhe disse : meu filho , ~orre depressa ao rebanho , traze-me dous
dos melhores anhos, eu prepararei um prato para teu pai como sei
c.1ue elle gosla, e tu lh'o apresentaras , para que depois que tiver
comido te abençoe. Pareceu islo cousa facil a Rebecca ; mas não o
par~ceu assim a Jacob. Não sabeis, disse a sua mãi , que meu
irmão é todo cabclludo, e eu sou todo liso ? Se meu pai me vier
apalpar , para certificar-se de quem eu sou, não deixará de me re-
conhecér ; cuidará que eu quiz zombar d'etle, e em lugar de sua
benção , attrahirei sobi:e mim a sua maldiç.ão. Não , meu fi-
lho, respÓndeu Rebecca, não tenhas medo disso ; eu .fico por tudo :
Jacob obedeceu.
Apenas se preparou o prato, vestiu-lhe a mãi os habitos de
Esaú, cobriu-lhe as mãos e o pescoço com a pelle dos cabritos , de
geilo que , fingindo um pouco a lOz, Jacob estava de todo similhan-
te a Esaú. Neste estado , levou Jacob a seu pai o prato que esta-
va preparado. A principio, disfarç.ando-se o melhor que pôde , só
lhe tlisse estas duas palavras : Meu pai. Bem ouço, disse Isaac ,
é um de meus filhos; mas qual dos dous? E' o vosso filho mais
veJho Esaú , respondeu Jacob ; comei da caça que vos trouxe. Pa-
rece que Isaac desconfiou do negocio. Aproxima-tet disse eHe, pa-
Ta que te apalpe e me cerlitique se és com etTeilo meu filho Esaú.
Este era o momento critico ; e se o Senhor não abrevias.se o tempo
da prova, certo que Jacob - não escaparia. Comludo aproximou-se ;
Isaac o apalpou. Na voz , disse o santo velho, é a voz ue Jacob ;
mas as mãos, é Esaú. Es tu na verdade o meu filho Esaú? Sim ,
*
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CATECTSMO
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DE PERSEVERANÇA. 109·
Fo uma pedra ; e desle modo adormeceu e dormiu tranquillaniente.
Foi este o momento que o Senhor escolheu para lhe dar tl'alguma
sol'te a inveslidura da sua dignidade de Patriarcha , do medo que o
linha feito com seu pai Isaac e seu Avô Abraham. De repente te-
ve um sonho misterioso , e da mais consoladora revelação. Via el-
le uma escada que pousava na terra e chegava até o Ceo. Por el-
1-tl subiam e desciam Anjos ; o Deus dos Anjos e dos homens pare-
t'.ia-lhe pouzar no- alto da escada. Jacob, lhe disse o Seubor, eu sou
o Deus de teus pais, o Deus d'Abraham e d'lsaac. A terra onde
1·eponsas , cu a darei a ti e a teus descendentes.
Bem vêdes que é sempre no momento em que os Patriarc'bas
se affaslam <.la terra de Chanaan que o Senhor lhes promctte de os
estabelecer alli, a elle.s e__a seus descendentes. Com effeito ,- é n'a-
<1uella terra que ~deviam habitar os pais do Messias ; porque é nel-
la que o Messias devia nascer. A multidão de teus descendentes
sera tam innumeravcl como os grãos de poeira, . que éobrem a
terra, accrescentou o Senhor. ToLlas. as nações do universo serão
bemditas em ti, e no Filho que ha de nascer de li. Tu estás a
caminho para u·ma terra estranha ; mas eu tomarei a conduzir-te
para a terra que promelli a teus pais , e reservo para teus filhos.
Tal foi a .quarta promessa do Messias ; a qual nos indica q-ue
na familia de Jacob devemos procurai-o. Assim ficam de parte E-
sau e os povos que delle descenderem ; por onde o inqucrito do
~lessias cada vez mais se facilita. Levanta-se a pouco e pouco o
-veo que encobre este grande mislerio ; e d'esl'arte caminhamos gra-
dualmente ao fim a que Deus quer conduzir-nos.
Despertou Jacob , e cheio de gratidão e temor , prosternou~
se com a face em terra dizendo : Como este lugar é terrivel ! .Não
é menos que a morada de Deus e a porta do Coo ; depois toman-.
do outra. vez o seu cajado conl.inuou seu caminho.
Chegado a l\fosopotamia , encaminhoü-se para a eidade de Ha'.'"
ran, morada de seu tio tabão, e da familia deste. Os costumes dos
habitantes d'Haran ainda se não tinham mudado desde que Rebecca
sahiu d'alli, havia cem annos, para ser esposa d'Isaae. As moças,
filhas -das mais eonsideraveis familias da cidade' ainda pastoreavam
os rebanhos _; :e como a condição de pasto1·a era totalmente innocen-
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...
110 CATECISrtlO
te entre esles povos 1 por isso era officio hom~oso. Jacob pois, cbe..:;
gando muito perto d'Haran , avist.ou um poço no meio do campo, ao
pé do qual descançavam durante o calor do dia tres rebanhos d'o-
velba~. Era este poço uma especie de grande cisterna, aonde a a-
goa se conduzia por canos, e o bocal do poço estava cuitladosamen..,
te coberto com uma grande pedra. Aproximou-se Jacob dos paslo-
r~s e disse-lhes: Irmãos, donde sois? - Somos d'Haran, lhe disse-
ram elles. - Conheceis Labão filho de Nachor ? - Conheceniol-o
perfeitamente; - Está elle bom ? - Sim, está bom; e eis aqui Ra-
cliel-sua filha , que anda com o seu rebanho.
Continuava a conversação , quando chegou Rachel com o reba-
nho de seu pai. Jacob, como sabia que clla era sua prima , a-
pressou-se a levantar a pedra do poço. Logo que as ovelhas se far-
taram de beber ·., Jacob saudou Rachel, e as Jagrirnas lhe -rebenta-
ram dos olhos. Eu sou, lhe disse, o filho de Rebecca, irmã de vos-
so pai. Não e.sperou mais Rachel ; mas correndo a casa de seu pai
annunciou-lhe, quasi esbaforida, o encontro que tivera. Labão, ao
ouvir o nome de Jacob , filho de sua irmã , foi ao encontro do
hospede , abraçou-o ternamente , teve-o muito tempo· estreitado nos
braços , e depois o conduziu para sua casa. Seg\mdo a ordem de
seu pai Isaac, pediu Jacob sua prima em casamento. Foi acceile
a proposta, e Rachel prometlü1a. ~Ias só depois de quatorze ànnos
de penosos trabalhos; passados no serviço de Labão, é que Jacob a
obteve. Então tornou ·, para onde. Isaac , condúzindo comsigo sua
numerosa e rica familia. E' nesta -fornaãa, por occasião d'um com-
bate misterioso que teve com um A~jo, que Jacob recebeu o nome
de Israel , que quer dizer : forte contra Deus. D'aqui veio a seus
descendentes o nome de Israelitas , ou filhos de Israel. Isaac mor-
reu logo depois ; e seus dous filhos, Jacob e Esaú, o enterraram na
caverna do Valle de Mambre, junto de Rebecca sua esposa , de Sa-
ra sua mãi, e de seu pai Abraham.
Fez Deus passar a Jacob por muitas condições , a fim de re-
presentar minuciosamente a vida do l\lessias , de quem este Patriar.:.
cha é uma .das ~ais bellas figuras. Com effeito, por ordem de sea
pai , vai Jacob para uma -lerra muito <listante a buscar uma esposa.
Por ordem de seu Pai, atraye~sa - Nosso_Senhor o immenso espaço,.
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DE PERSEVEftANÇA.. Ut .
que separa o Ceo da terra , para vir formar a Igreja , sua esposa:
- Jacob , filho cl'um pai muito rico, e elle mesmo muito rico, põe-
se só a caminho e a pé. Nosso Senhor, filho de Deus, Deus elle
mesmo, e Senhor de todas as cousas, desce do Ceo, sem mais com-
panhia que sua completa nudez. - Jacob ; alcançado pela noute,
é obrigado a dormir no meio do deseito , e pôr uma pedra debai-
xo da cabeça para lhe servir de travesseiro. Nosso Senhor é tam
pobre, que nem uma pedra tem onde reclinar a cabeça. - Esta
terra, não obstante, pertencia a Jacob. O mundo todo pertencia
tambeni a Nosso Senhor. - Jacob, chegado a casa de seus paren-
tes, é obrigado, para oble1· sua esposa, a sujeitar-se a prolongados e
duros trabalhos. Nosso Senhor, chegando ao meio dos seus, não o
reconhecem ; passa a vitla nos mais duros trabalhos, para formar a
Igreja, sua esposa. - Jacob vê sua união abençoada do Senhor ;
Rachel lhe dá filhos , pais futuros d'um grande povo. Nosso Se-
nhor vê sua união com a Igreja abençoada de Deus , seu Pai ; e
ella mesma lhe dá innumeraveis filhos. - Jacob , vencedor de to-
das as difficuldades, regres_sa á patria, ao seio de seu pai , levando
comsigo suas riquezas e filhos. Nosso Senhor, vencedor de todos os
_seus inimigos, e carregado de seus despojos, volve ~o Ceo , ao seio
de seu eterno Pai, levando comsigo todos os santos da Lei antiga, e
abrindo seu reino a todos os Christãos seus filhos. - Jacob , che-
gando aonde Isaac, recebe de novo sua benção. Nosso Senhor, tor-
nando para o Ceo, é cumulado por seu Pai de toda a sorte de glo-
ria e benç.ãos.
O' meu Deus ! que sois todo amor, eu _vos dou graças por nos
terdes dado, em os Patriarchas, modêlos perfeitos de todas_ as virtu-
des ; e pelas promessas e figuras, com que annunciaes tam antici-
padamcnte o Reclemptor do mundo. Mais felizes que Isaac e Jacob,
possuimos nós o que elles esperavam,; permitli pois , Senhor , que
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lti CA'fECISMo -
JACOB teve doze filhos que foram os pais das rloze tribus d'fs..._
·rael. Eis aqui seus nomes : Rubens , Simeão, Levi, Juda, Issachar,
Zabulão, Gad, Azer, Dan, Nephthali, Joseph, e· Benjamin. A vida de
Jacob , como a de seus pais , fui a vida pastoril. Para comp.lelal·
as noções que ja deixamos expostas, digamos ainda uma palavra á-
cerca desta vida tam bella , e cuja narração tantos encanlos tinha
em a nossa infancia. Eram os Patriarcbas perfeitamente livres , e
sua familia pode considerar-se como um pequeno Estado , onde o
pai era o soberano, ou como uma pequena Igreja onde o pai era o
Pontífice. Vemos, com effeito, que os Patriarchas offereciam sacri·
ficios · ao Senhor. Suas propriedades consistiam especialmente em
rebanhos de cabras, oveJhas, camellos, bois e jumentos; não tinham
cavallos nem porcos : suas ricruezas eram grandes ; e iodavia , nõ
meio desta opulencia, eram muito laboriosos. Como ainda eram es-
tranhos na lena· de Chanaan, a · qual Deus reservava para seus_.des·
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DE PERSEVERANÇA. 113
cenJentes , não eJifieavam casas. Ilabila vam em lendas, que 1lla~1-
t.a vam no lugar onde achavam pastos para os gados; e que, no 1M-:
mento de partir, arrancavam , para de novo planlal' em outras pas-
tagens. Bem poderam edificar cidades , como os outros porns , mas
preferiam a_ vitla pa.sloril corno majs sim-pies, e mais capaz de ter o ho-
mem t.Iesapegado da terra , fazendo-Ih.e allendcl' a um patria mais
perfeita. Por clles lambem nos qu eria Deus ensinar que a ,·ida do
Chrislão não é outrn cousa no mundo que uma peregrinação.
Seu alimento era frugal, como o prova o prato de Jenlilhas que
Jacob linha preparado, e que pôde tanto para tentar Esaú ; ou ain-
da aquella refeição que Abraham serviu aos Anjos , a qual consta-
va d' um cordeiro assado t pão fresco, mas cosido d.ehaixo da cinza,
e mauLciga e leite, Uma de suas grandes virtudes era a hospitali-
dade. Algumas vezes chegavam a ser importunos com os passagei-
ros, que tal vez eram como forçatlos a aceitar seus con viles. Nestas
occas1ões alvoro ta vu-sc a casa toda, J>ara tesLemunbar seu zelo em
obsequiar os hospedes, que tinham por enviados do Ceo. O Senhor
da casa lavava-lhes os pós, dava suas ordens, escolhia as rezes, e
vinha elle mesmo servir á mesa. Nestas occasiões não appareciam
as mulheres, ou se o faziam occultavam.:se com seu veo; lanla era
a modestia nestes ditosos tempos ! E quaes as bençãos desta ' 'ida
tam differente dos voluptuosos gostos , e enervados costumes dos
nossos . dias? Alli era ver o desapego do mundo, a união fra-
ternal, a sã e larga vida, _que terminava por um simples . a<lormeei-
mento, porque em fim nada é eterno neste mundo Tal era o vi-
ver de Jacob e de sua familia : isto vemos parlict1larmente ua his-
toria de Joseph.
Este filho querido, e tam digno de o ser , era o mai& lll6ÇO, á
6xcep.ção de Benjamin. A modcslia, candura , ingenmdade e inno-
cencia, pareciam innatas neste menino. Impossível foi a Jacob uão
lhe dai' a preferencia em seu coração. l\las, p<>r mais cuidado que
t~uha um pai em dissimular a sua predilecção , logo lh'a devassam
os olhos atlcnlos de ~eus outros filhos. Jacob, sem o qtterer, acen-·
deu contra Joseph .o ciume de todos seus frmãos. Grande e lerri-
vel lição, que jamais os pais não devem esquecer ! Uma tunica de
diversas · córcs , que füe mandou f~tzer, foi .quanto . bastou para os ir-
15 11
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1U CATECISl\IO'
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DE PERSEVERANÇA.
Tornaram o parecer de Rubens. Em quanto dispunham assim da yb·
da do innocenle Joseph, este amavel menino, cheio d'alegria por ve~
seus irmãos , aproximava-se com alvoroço, e corria , sem o saber, a
metter-se nas mãos de seus algozes. Apenas . chegou, agari·aram del..
le, despiram-lhe sua linda tunica, objeclo da antiga inveja, e o de -
ceram ao fundo da cisterna , que haviam escolhido para ali o dei~
xar morrer.
Depois sentando-se friamente a comer, viram chegar uma cara-;
vana de me;·cadores Ismaelitas, que vinham de Galaad , trazendo
seus camellos carregados d'aromas para vendEtr no Egypto.- Então
Juda disse para seus irmãos : Que lucramos nós em deixar perecer
este menino? Em fim, é nosso irmão e nosso sangue. Vendamo!-
º antes a estes mercadores. App1·ovaram os outros · a lembrança .;
tiraram Joseph da cisterna , ·e o venderam , por vinte moedas d~
prata, áqaellcs mercadores, que o levaram comsigo para o Egypto.
Depois disto, ,toma1·am a tunica, e, embebendo-a no sangue d'nm cor-
deiro, a enviaram a Jacob dizendo-lhe : Eis aqui uma tunica que en ..
eontramos ; vêde se sera a de vosso filho. Ao vêl-a, Ja~ob excla-
mou chorando : é a tunica de' meu filho, uma fera cruel o tragou , u-
ma besta feroz devorou Joseph. E dizendo isto, rasgou seus ves-
tidos, tomou o cilicio , e e-horou largo tempo por seu eh aro Joseph .
.Não ignoravam seus .filhos que o tinham ferido no mais melindroso
do seu coração. Chegaram-se para elle, a fim de lhe mitigar a dor;
mas não quiz receber consolação alguma : Chorarei sempre, lhes dis-
se, até que va no tumulo juntar-me com meu filho.
Entretanto os Ismaelitas , tendo chegado ao Egypto , venderam
Joseph a um nobre senhor d'aquelle paiz, 'chamado Putiphar gene-
1
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116 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇ·A. 117
ni~lro lerá ás suas ordens officiacs subalternos , que eslabelecerão
cellei1·os em todas as citlades do 1;eino ; para onde mándarão con-
duzir o trigo que houverem comprado por auctori dade do rei, que
deverá ser a quinta parte de todos os pães , que se colherem em
tempo d'abundanci_a. Isto será um seguro recurso para os sete an;..
nos d'esterilidade, que depois causarão desolação no paiz. Se não
houver esta precaução, quando chegar a calamidade, vossos subditos
perecerão de fome, por antes se haver _dissipado, e Yendido o pão
a vossos visinhos.
Onde acharemos um homem mais habil e prudente? exclamou
Pharaó -- Es tu nrnsmo que terás auctoridade em todos os meus
Estados ; obedecer-te-hão todos os meus subditos ; em todo o reino
sú eu te serei superior. Ditas estas palavras ; tirou o principe n
seu annel , e o metteu na mão de Jos~ph ; mandou-lhe dar um
m~nlo de fino linho , lançou-lhe ao pescoço um collar d'ouro , e o
fez montar no carro que seguia immediatamente o coche real. A-
diante dclle caminhava um arauto, e gritava em alta '\"OZ : Dobrem
todos o joelho diante <le Joseph , e saibam que Pharaó o constituiu,
abaixo de si, Governador de toda a terra llo Egypto. Pharaó mu-
dou lambem o nome de Joseph , e lhe poz outro que signilicava
Salvador do mundo. Não linha Joseph mais d~ trinta annas , quan-
do foi apresentado a Pharaó, e passou de miseravel escravo a vali-
do do rei e senhor ·do reino. Apenas toqiou posse da sua digni-
dade , proveu-se d'equipagens e ·officiaes convenientes, correu todas
as provincias, e estabeleceu celleiros em todas as cidades. Por es~
ta sabia e maravilhosa economia, tornou-se depois o Egypto o refu-
gio cl'uma infinidade d'infelizes que, a não ser isso, teriam morrido
de fome.
Entre as muitas familias, que soffriam pc1a esterilidade, merece
particular menção a de Jacob. Habitavam ainda na terra de Chana-
an, aonde a pennria, logo no primeiro anno, foi tam grande , que
o Santo Patriarchã teve de mandar seus filhos ao Egypto para
se prover de pão. Parlit'am elles, excepto Benjamin, o mais novC>,
qne ficou na companhia de seu pai.
Chrgados á capital , a primeirª cousa que fizeram foi apresen-
tar-se ao vice-rei; porque nada se fazia sem a sua sn1)erinten-
~
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CA TECIS~JO·
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DE PERSEVERANÇA. 119
serias reflexões sobre a c!lusa de seu mal. Nós merecemos hem,
disseram elles, os males que soffrcmos ; são o justo castigo da cru~
eldade com que tratamos nosso irmão. Pobre menino ! que chora-
va a nossos pés, implorava nossa clemencia ' e não o quizemos es-
cutar; agora o Ceo se vinga. Bem vul-o disse eu, ajuntou Rubens,
não vos avisei que não fizesseis mal áquelle innocente ? Não quizes-
tes attender-mc, e eis que o Ceo nos reclama o seu sangue.
Todos estes discursos se passavam em presença de Joseph. Co-
mo lhes tinha sempre fallado por interprete, -não cuidavam que os
entendia. Partiram em fim , e chegaram a casa_ de Jacob , a que"!
inforn1aram de tudo que se passava. O primeiro ministro , accres~
centaram elles, mandou-nos que lhe levassernos Ilenjam in , sob pena
de nos tomar por traidores, mandar matar Simeão, e não nos dar
mais trigo. Sou bem desgraçado, respondeu o santo velho ; se vos
hei de dar credito, em brele ficarei sem. filhos. Já perdi Joseph ,
Sjmeão eslá prezo no Egypto, e ainda agora quereis que vos en~
Lrcgue Benjamin ! ?
· Entre tanto continuava a fome , foi forçoso , para não morrer,
~eixar ir Benjamin ; mas Juda empenhou sua vida por elle. Pnze-
ram-sc pois a caminho com este menino, e chegaram ao Egyplo. Seu
primeiro cuidado foi pedir audiencia, e apresentar-se ao ministro.
Concedeu-lh'a Jo_seph, e mandou tirar Simeão da prizão, a fim que
todos fossem testemunhas da scena que se hia passar. Na hora mar-
cada, entrou Joseph na sala , e foram admillidos os estrangeiros.
Saudou-os e disse-lhes : Vosso pai , de quem me fallasles , está em
boa saude? ainda vive? Nosso pai vive ainda , lhe responderam
elles , e goza de boa saude. Proferintlo estas palavras, inclinaram...
se profundamente , e esperavam nova pergunta. Joseph procurava
com os olhos a Benjamin, porque· era este charo menino filho de
Rachel como elle, e seu irmão predilecto. Havendo-o discernido no
meio dos outros : Não é· este, lhes diz ,. aquelle irmão mais novo
<le quem me linheis faltado? E, sem esperar 1·esposta, accrescen-
lou : Deus te abençoe, meu filho. Nem pôde conter-se por mais
tempo : commoveram-se-lhe as entranhas, rebentaram-lhe ás lagrimas
dos olhos, e pouco faltou que o seu segredo lhe não escapasse com
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120 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 1·2.1
A estas palavras ficaram e.lles assombrados e cheios ele terror;
mas Joseph accrnscentou cheio de ternura : Abraçai-me , eu sou
, Joseph vosso irmão , a quem vendestes, e fizestes trazer ao Egyplo;
não temaes nada. Foi para vosso bem que o Senhor me enviou a-
qui adiante de vós. Voltai a toda a pressa para meu pai, e dizei-
lhe : Eis o que vos ~anda dizer vosso filho . Joseph : Deus me foz
senhor de todo o Egypto. Vinde ter comigo , não tatdeis. Apenas
pronunciou estas palavras.,· tançou-se uos braços do seu charo Ben~
jamin, e abraçados e_stiveram por muito tempo , derramando um e
outro ternissimas lagrimas . . Abraçou depois a lodos os mais ; e lhes
mandou .dar carros e vi veres para a viagem , com ricos presentes
para elles e para Jaoob.
'Chegaram felizmente aonde o santo velho, e 1hedisseram: Voss&
filho Joseph não morreu ; é elle quem governa todo o Egyplo. Ja-
cob, ao ouvir isto., ficou como fora de si , parecia-lhe despertar de
um profundo somno : não podia crer o que lhe diziam. Todavia
quando viu os carros que trnuxeram, e os magnilicos presentes que
lhe ' apresentavam , ·então exclamou: Eia pois ! se é que meu filho
1oseph ainda vive, irei vêl-o antes de descer ao lumulo.
Joseph tem sido sempre considerado , e com rasão, como uma
tlas mais bellas figuras do Messias. De facto, Joseph é o filho pre-
dileclo de seu pai ; Nosso Senhor é o Filho predilecto de Deus -seu
Pai. - Joseph traja uma tunica de ditferentes côres: tem sonhos que
presagiam sua grandeza futura ; e por isto é objecto da inveja de
seus irmãos. Nosso Senhor é adornado de todas as vit-tudes ; an-
nuncia aos Judeos, seus irmãos, a sua grandeza fntura ; e por isto
é Óbjccto d'odio, inveja e perseguição. _:. Joseph é enviado a seus
irmãos. Nosso Senhor é enviado aos homens seus irmãos. - Joseph,
chegando ao pé de seus irmãos, é maltratado por elles ; tomam a
l'esolução de lhe tirar a vida ; vendem-no a mercadores estrangei-
ros. Nosso Senhor~ chegando ao meio dos Judeos, seus irmãos , é
por elles maltratado; Judas o vende ; os Judeos o entregam aos
Romanos , e estes lhe dão a morte. - Joseph, vendido , é levado
ao Egyplo, e yem a fazer-se senho1· deste reino. Nosso Senhor,
vendido e humilhado, oblem em recompensa um poder illimilatlo no
Ceo, e na terra. - Joseph, condemnado por um crime que não com-
16 II
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C..\ TECISMO
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• DE PERSEVERANÇA. 123
ü> meu Deus ~ que sois todo amor, eu vos dou graças de to..
do o meu coração, por terdes revelado ao mundo o seu Redemplol'
em uma figura lam terna e amavel. Eu adoro a infinita sabedoria
que, segundo os tempos e as precisões , ajunlava luminosos traços
ao divino quadro, de que o Salvador é o rnodêlo. Dai-me, ó meu
Deus ! a innocencia de Joseph, a sua doçura, humildade e chari-
tlade para com meus irmãos , ainda aquelles que me tiverem fei-
to mal.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas e ao proximo
como a mim mesmo pelo amor de Deus ; e , em testemunho deste
amor , expulsarei de mim todo o sentúnento cNnveja.
XXVII.ª LIÇÃO.
Jacob vai ao Egypto. - Quinta promessa do Messias feita a Juua. _..: Se-
pullura <lc Jacob no jazigo d' Abraham. - Morte de Joseph.- Nascimento
de Moisés. - E' salvo e criado pela filha de Pharaó. - Retira-se para
o deserto de l\fadiao. - Apparecc-lhc Deus o man<la·lhc livrar o seu po-
vo. - Vocnção d'Arão. - Pragas do Egyplo. - O Cordeiro Pascal,
oitava figura do Messias.
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12' CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 125
que o Senhor tenha "jamais inspirado. Tendo reunido seus doze filhos
em redor <lo seu leito , annmiciou:-lhes Q que de, ia acontecer a seus
1
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126 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 127 .
rem · Jacob lem doze filhos; qual delles será o pai do Redemplor?
A prophecia do :;anto velho tira-nos todas as duvidas , põe de parle
onze lribus , e adverte-nos que procuremos o Messias na tribu de
Juua. Jacob não parou aqui. Para provar a seus filhos · a verdade
·desta grande prop_hecia, accrescentou segunda prediç,ão, que de\·ia
cumprir-se muito antes da primeira.. O' Juda, accrescentou elle, ó
meu filho 1 como será fertil e bem escolhida a tua parte na Terra
ela promissão ! As vinhas serão a sua riqueza , e com o vinho ,
tum abundante como a agua, poderás lavar os teus vestidos. Tudo se
verificou ao pé da letra. Pelo tempo adiante, a lribu de Juda, ainda mes-
mo antes de dar reis ao seu povo , foi sempre a mais polente ;
numerosa, e rica de todas as tribus.
Apos de ter instruido a seus filhos , morreu Jacob ·lranquil-
lamente no - meio delles, todo enlevado no pensamento e desejo d'a-
quelle Redcmptor, que Deus lhe havia promeltido , e de quem elle
mesmo foi , não só figura , mas famoso propheta ; por isso excla-
mou morrendo: Eu esperarei, Senhor, o Jlessias qtte deveis enviar.
Mandou Joseph embalsamar o coi·po do santo Palriarcha , e trans-
portai-o , com grande pompa , ao paiz de Canaan , onde foi sepul-
tado ao lado d' Ahraam e Isaac.
Não tai·dou o mesmo Joseph a seguir seu pai ao tumulo. Os.
relevantes serviços , que tinha prestado ao Egypto , foram prompla-
menle esquecidos; taro pouco devemos -contar com a gralidão dos
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128 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA.
Aproximava-se, quando o Senhor, que lhe queria fazer consitle~
i'ar esta apparição com o profundo respeito , que demanda a sua:
tremenda magestade, fez-lhe ouvir a sua voz , e disse-lhe : « ~foi-_
sés ! Moisés ! não te aproximes mais desta sarça. Tira as tuas sau-.
dalhas , porque a terra que pizas é uma t~rra santa. Eu ·sou o
Deus d' Abraham e de Jacob.· Moisés tremendo , cobrio o rosto. · Eu
vi a aftlição do meu povo , continuou o Senhor ; chegou o tempo de
o tirar da escravidão , e introduzil-o na terra de benção, que pro-
melli a seus pais. Prepará-te, porque és tu aquelle a quem escolhi para
libertar o meu povo do captiveiro do Egypto.
Moisés se escusou por muito tempo ; a modestia e ·a humildade
foram sempre as virtudes distinclivas dos maiores homens, como lambem
dos maiores Santos. Os Ifebreos não me darão credito , accrescen-
tou eUe ; mas dirão : Não é verdade; o Senhor não te appareceu·. ·
Pois bem! Disse o Senhor, eu te vou dar com que convenças os
incredulos. Que tens tu agora na mão~ E' um cajado , respondeu
Moisés. Lança-o á terra , disse o Senhor : :Moisés obedeceu , e a
vara no mesmo instante se converteu em tam horrivel serpente, que
lhe poz medo , e o obrigou a fugir. Nada receies , disse Deus
a seu servo , toma esta serpente pela cauda. Elle o fez , e achou
que linha na mão a sua vara · como d'antes. O que acaba d'operar-
se diante de ti , accrescentou o Senhor, tu o fa1·ás na presença dos
Ilebreos·, e conhecerão por este signal que o Deus que te appare-
ceu é o Deus de seus pais , o Deus d' Abraha1n , d'lsaac e de Ja-
cob. Se este prodigio não bastar, eis-aqui outro que os persuadirá . .
Tomarás em sua presença agua do rio; e elles a verão subitamente
mudada em sangue. Teu irmão Arão te coadjuvará no ministerio
que te encarrego.
Fe~ pois o Senhor ouvir a sua voz a Arão, que eslava no Egypto,
e. disse-lhe ·: Parte sem demora ; vai ao deserto encontrar-te com teu
irmão Moisés ; elle te informará quaes são os meus designios á cer-
ca de ti e delle. Partio logo Arão; e se reunio a seu irmão~: A
uniã-0 destes dous grandes homens foi a salvação d'Israe1. Vieram
á terra de Gessen , aondé estavam os Israelitas. Fez Moisés cm sua
presença os milagres que deviam auctoi'isar a sua missão. O povo :·
reconheceu a verdade d'ella , e bem disse ao Senhor, que se linha
17 11
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130 CATECISl\10
recordado do seu povo. D'alli foram os dous irmãos ter com Pha-
raó, e lhe disseram, com a auctoridade que convinha ao seu ca-
racter : Eis-aqui o que vos diz o Senhor Deus _cl'Israel : Dai ao meu
p~vo a liberdade de me ir offe~ece1· um sacrificio no deserto. O ti-
ranno, irritado por uma linguagem que não costumava ouvir, respon-
deu-lhes aspera e severamente, mas foi viclima da sua resistencia.
O Senhor ferio o Egypto com dez grandes pragas. (1) A ca<la
(1) Eis-aqui algumas das pragas ou flagellos· com que o Senhor fc ...
rio o Egypto, pelo minislcrio de Moisés: 1. A agua d~ Nilo mudada
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DE PERSEVERANÇA. 191
cafamidade promettia Pharaó deixar ir os fi1hos d'lsrael; mas ape-
nas cessava o castigo , retractava-se o obstinado principe. Em fim,
a decima }lJ'aga foi tam cruel, que Pharaó se deu pressa a conjurar
õs Hebreos, que ·se ausentassem quanto antes. Eis qual foi a decima
praga : No meio da noute, quando tudo estava em socego e silencio,
enviou Deus o seu Anjo exterminador, que ferio de morte, sem escapar
nenhum, os primogenitos dos Egypcios, desde o fllho do soberbo Pha-
raó , até o do obscuro escravo , condemnado de dia a duros tra-
balhos , e de noute aos rigores da prisão. Da mesma sorte perece-
ram os prímogenitos dos anímaes. Pela manhã retumbavam por todo
o Egypto os clamores , e gritos de desolação ; não havia casa que
não tivesse um morto. Pharaó manda immediatemente chamar l\foi-
s~s e Arão : Parti , lhes disse , retirai-vos de meus Estados , vós e
Jod9s os filhos d' Israel.
A1guns. dias antes desta sanguinolenta exterminação, tinha Moisés
pre~nido os Hebreos. Para vos resguardar dos golpes do Anjo exter-
minador , eis-aqui, lhes disse elle , o que vos ordena o Senhor Deus
de nossos pais : No decimo dia dest~ mez, cada pai de familia porá
de parle u·m cordeiro sem macula , macho e d'um anno. Se. a fa-
Jnilia não for assás numerosa para comer o cordeiro, em um sô ban-
quete , convidará a algum de seus visinhos. O cordeiro, posto as-
$im de parte no decimo dia , será guardado até o decimo quarto.
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CATECISMO
N~, tarde desl~ dia todos os filhos d'lsrael immolarão o seu cordeiro~
guardarão o sangue da victima ; e com elle ungirão as duas um-
hreiras e a verga da po1~ta de cada casa , onde se fizer o banquole.
O Cordeiro será assado inteiro; vós o comereis com pães asmos e lei~
tugas bravas. Agora eis-aqui em que estado deveis est~r par~
o, comer tereis os rins cingidos , os pés calçados , e um bordão
na ~ão ; co~ereis de pé e á pressa, como passageiros; porque é
esta a Pascoa , isto é, a passagem do Senhor. O sangue da victima,
com que se tiverem ungido as portas, será o escudo dos filhos cl'Is-
r~l. Eu verei este sangue , diz o Senhor , e não entrarei armado
com a espada da minha vingança .em as casas que estiverem mar-
cadas com elle. Ainda Deus prohibio, não sem alguma rasão mis..
teriosa , que se não quebrasse osso ao Cordeiro ; porque o Cordeiro
Pascal é a oila va figura do Messias.
O Cordeiro Pascal devia ser immaculado. Nosso .Senhor é o
Cordeiro de Deus, o Cordeiro immaculado, a pureza mesma. Q\Sor-
deiro Pascal devia ser comido em a. mesma casa. Nosso Senhor não
pode $er comido-senão em a mesma casa , a lg reja Catholica. Não
se devia q~ebrar osso ao Cordeiro Pascal. Na cruz , não se que-
brou osso a Nosso Senhor, supposto quebrassem as pernas aos dous
ladrões. O Cordeiro Pascal devia ser comido com pães asmos , ou
sem fermento. Nosso Senhor deve ser comido com a maior pureza
do coração , e sem fermento de peccado. O Cordeiro Pascal devia
ser comido com hervas azedas. Nosso Senhor deve ser comido com
as bervas azedas da mortificação e penitencia. Aquelles que comiam
o Cordeiro· Pascal deviam ter os lombos cingidos , um bordão nas
mãos, e os pés calçados, como passageiros promptos a partir. Aquel-
les que comem a Nosso Senhor devem ter os lombos cingidos, ima-
gem da castidade ; um bordão nas mãos, imagem da força, para re-
sistir ao demonio ; e os pés calçados , como passageiros que já não
tocam na terra , e caminham para -0 Ceo. Foi no momento de dei-
xar o Egypto , e por-se a caminho para a Terra prom ettida , que
os Hebreos comera1n o Cordeiro Pascal~ E' quando estamos. resol-
vidos a deixar o pr.ccado, e caminh_ar _para o Ceo, verdadeira Terra
promellida , que noa é permiUido com.er a Nosso Senhor, O san~
guc do ConJciro Pascal foi derra1uc,ld~ sobre as po rtas das casas ,
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DE PERSEVERANÇA. 133
e todas as casas marcadas com este signal foram respeitadas pelo
Anjo exterminador. O sangue de Nosso Senhor ó derramado em nos-
sas almas, e todas as almas marcadas com este sig.nal divino, quan..
do o tiverem recebido dignamente, serão perdoadas pelo Senhor, quan..
do vier a exterminar os máos.
Esta figura faz-nos conhecer demais que as precedentas. 1. º um
dos mais brilhantes caraoleres do Messias , sua 3llmiravel doçura ;
será como um Cordeiro. 2. º revela-nos que o Messias se unirá aos
homens como a comida se une ao corpo. 3. º que se não salvarãG
senão aquelles que se unirem a este novo Adam, por algum dos
diffcrenles modos porque o exige.
ORAÇXO.
O' meu Deus l que sois todo amor , eu vos dou g_raças . por me
ao
terdes livrado da servidão do peccado, como ·livrasl.es vosso povo
da servidão do Egypto ; eu vos dou graças so~retudo por me ter-
des nutrido com a carne adoravel de vosso Filho, verdadeiro Cor ..·
deiro , do qual o dos Hebreos não era mais que a figura. . Dai-me
todas as disposições de pureza 1 santidade , força, ·e desapêgo do
mundo , que são necessarias para o receber· dignamente. .
Eu protesto amar a Deus· sobre todas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus; e; em testemunho de~te amo1·
farei qiianto puder para commungar frequentemente". · · ·
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CATECISMO
XXVlll.ª LIÇÃO.
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DE PERSEVERANÇA. 13a
d'uma formosa nuvem ; mas de noute parecia de fogo , e alumiava
como o sol. Um Anjo estava encarregado de conduzir a columna,
que protegia e guiava os Hcbreos. Quando era para marchar , le-
vantava-se e collocava-se sobre o pavilhão da tribu que devia par-
tir primeiro. Marchavam. pois em quanto ella se movia, seguindo
exactamente a sua direcção. Qnando deviam parar, parava a co-
lumna , e então descançavam até que o Senhor a fizesse mover de
novo , para advertir. o povo que a seguiss.e. O cimo da columna ,
elevando-se , inclinava-se para o lado do sol , e , estendida como um
grande toldo sobre lodo o povo, protegia-o dos ardores do sol, que,
a não ser isto, seriam insupportaveis nas ardentes areas do deserto.
Depois d'alguns acampamentos, chegaram á beira do l\Iar Ver-
melho. Estavam os Israelitas cercados por todos os lados: .tinham
na frente o mar, nas costas o inimigo ; porque Pharaó , arrependido
de ter deixado sahir os Ilebreos , reunira o seu exercito , e vinha
em seu alcance. Moisés porem, cheio de confiança no Senhor, ani-
mou os Hebreos dizendo-lhes · «Não temais nada , esperai somente
o milagre que o Senhor vai fazer por vossa causa. >> Immediata-
mente mudou de lugar a columna , que ia na frente dos Israelitas ,
e foi collocar-se entre elles e os Egypcios. Esta nuvem estava lu-
minosa do lado dos lsraelilas ; mas do lado dos inimigos, fazia uma
sombra tam escura que os cegava. Neste momento, estendendo Moi-
sés a mão para o mar, dividaram-se as a·guas, e os Israelitas
entraram pelo meio deltas a pé enxuto , tendo as ondas á direita e
esquerda , como se foram altas muralhas. Assim etfeituaram , du-
rante a noute (1), a milagrosa passagem. Aos primeiros raios d'au-
rora , perceberam os Egypcios que lhes escapam a sua preza; pelo
que se arremessaram precipitadamente por aquelle novo caminho .,
que não tinha sido aberto para elles. Alli é que o Senhor os es-
perava. De repente sobrevem no exercito uma confusão horrivel ;
quebram-se os carros , e atropellam-se uns aos outros, e não se ouve
mais que este grito : Fujamos dos Hebreos , o Senhor combate por
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136 _ J CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. t37
Para se alimenlar <lestes grãosinhos reduziam-nos a uma massa branca 1
pizando-os com uma pedra, e depois, cozidos em agua , ficava um -
pão delicioso. Aquellcs que , por sua fé, se tornavam agradaveis a
Deus, achavam de mais, neste alimento, a exquisila propriec.lade de
produzir todos os gostos que desejavam. Cumpria colher o manná
ao ai vorecer , porque se derretia aos raios do sol.
Este é um dos maiores milagres que o Senhor fez por amor d<J.
seu povo ; e , como -ides ver , é ellc uma das mais admiraveis fi.;.
guras ,do :Messias. O manná era um alimento que descia do Ceo.
Nosso Senhor, na Santissima Eucharislia , é o rão vivo, que des-
ceu do Ceo.. O manná cahia todos os dias. A Santa Eucharislia
é o pão do cada dia. O mnnná era só para os Israelitas. A San-
tissima Eucharistia não é senão para os Chrislãos. O . manná não.
se deu aos Israelitas senão depois da passagem do Mar Vermelho. A
Sanlissima Eucharistia não se dá aos Christão~ senão depois do ba-
plismo , figurado . pela passagem do Mar Vermelho. O manná suppre
todos os a1imcntos. A Santissima Eucharistia é o pão .por exccllen-
~ia. pão que supprc todas as necessidades. O manná linha todos os
gostos. A Santissima Eucharistia tem todos os gostos ; fortifica os
fracos, consola os affliclos , illumina o espirito , abraza o coração.
O manná comtudo não evitava a morte. A Santissima Euchari:)lia é
o penhor <la vida eterna~ O manná cahio sempre em quanto o povo
esteve no deserto. A Sanlissima Eucharislia será sempre dada aos
lwmens em quanto estiverem na terra. O manná cessou quando os
Ilcbreos entraram na terra promeltida. A Sanlissima Eucharislia ces-
sará, quando entrarmos no Ceo; isto é, quando virmos sem nuvens
o Deus, que 1·ecebemos sob as cspecies do sacramento.
Esta figura accrescenta ·novos traços ao quadro do Messias : 1. ºem
quanto que o Cordeiro Pascal só se devia comer uma vez por anno,
o manná, figura da Sanlissima Eucharistia, deve comei·-se lodos os
dias : 2. º annuncia-nos que o alimento , que o Salvador dará ás .nos-
sas almas , será um alimento celeste : 3. º que este alimento nos será
dado em quanto peregrinarmos na terra.
Os Israelitas , nutridos d'um pão milagroso , continuaram sua
jornada p~o deserto ; mas, como se esgotassem as provisões d'agua,
o povo , segundo o seu costume , começou outra vez a murmurar.
18 li
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13.8 ºCATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 139
resposta decisiva ; e toda ·a nação respondeu a uma voz unanime:
Faremos tudo o que disse o Senhor.
Vollou Moisés, a levar a resposta ao seu Deus, o qual Jhe disse:
Purifica os teus Hebreos , estejam promplos para o terceiro dia ;
enlão descerei eu diante de todo o povo á montanha do Sinai. Po-
rás uma barreira em torno da montanha ; será prohibido passai-a
sob pena de· morte. Todos estes preparativos eram necessarios para
a solemnidade da publicação da tei, e para dispor os corações a
recebei-a com sentimentos de reJigiosa veneração. Na manhã do ter-
ceiro dia toda a montanha estava em fogo, bramiam os trovões, fu-
zilavam os raios ; uma espessa nuvem a cobria toda ; do seio da
, {jual se ouvia o estrepitoso som d'uma trombela, que ·convocava o
povo. Mas elles, temerosos e cheios de pavor, conservavam-se abri-
gados em suas tendas. Moisés porem os animava ; e obrigando-os
a sahir ,. coordenou-os no espaço que ficava entre o acampamento e
a barreira que circumva1lava a fralda da montanha. Então fez Deus
ouvir a sua voz <lo meio da nuvem inflammada, e publicou os dez
mandamentos da sua Lei , escriptos em duas taboas de pedra. Esta
Lei é o que se chama o Decalogo.
I..ogo que o Senhor acabou de fallar , tornou a ouvir-se o bra-
mir dos trovões e o resoar das trombetas, como tinha sido antes.
A montanha, sempre fumeganle , cobe1·ta de nuvens , e chammejando
rnios , tremeu alé os alicerces. Os Hebreos , cheios d'um inexpri-
mível terror, retiraa.:am-se tremendo, para as suas tendas, e Moi-
sés os seguio. Os anctãos disseram pois a l\Ioisés : Fallai-nos d'a-
qui em diante vós mesmo ; e não nos torne o Senhor a fallar dfre-
cL.amente , aliás não poderemos supportar a vida. Qae é um homem
de carne para escutar a voz do Deus vivo , quando elle falla do
meio das chammas ? l\foisés partio ; e entranhando~se pelas tremen-
das trevas, que cobriam a montanha, representou ao Senhor os
sustos do seu povo. Eu ouvi o seu pedido, respondeu o Senhor;
e não me desaprou\re.
Escolheu Deus este momenlo, para renovar a toda a nação, e da
maneira mais tocante, a grande promessa do :Messias. Voltarás para
o povo , disse elle a .Moisés , e lhe dirás : O Senhor promelle dar-
vos um Prophela da vossa nação, cxlrahido d'ent.rc vossos irmãos,
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HO CATECTSl\IO
ã:ãlGOGZ
ORA.Çi.O.
O' meu Deus ! que .sois todo amor , eu vos dou graças por
terdes confirmado com tam estrondosos milagres as verdades da mi-
nha fé. Con<luza.-me a vossa luz no caminho da vida, como a co-
lumna conduzia o vosso povo na peregrinação do deserto. Eu vos
·dou graças por me haverdes tantas vezes alimentado com o verda-
. deiro pão descido do Ceo, e dado-me, por Nosso Senhor Jesu-Chrislo,
a Lei ·da graça, tam supe1·ior á lei antiga. Fazei pois que eu
diga,
com majs sinceridade que os Is1·aelitas ~Eu farei tudo o que o Se-
nhor me ordenar. ·
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas , e ao proximo
eome a mim mesmo por amor de Deus ; e , em ·testemunho deste
_amor , buscare.i oceasiã.Q <l' ensinar os ignorantes.
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DE PERSEVERANç.,\.. l't 1
XXIX. LIÇÃO.
3
•
Confirmação da alliançn. - Sangue das \'ictímas derramado sol1re o llº"º·
- Sacrificíos, <lecima figura do Messias. - Idolatria dos Israelita!':.
- O.hezerro d'ouro. - O Senhor desarmado por Moisés. - Descripção
da Arca e do tabernaculo. - Marcha do povo em o dcscrt0-.. - Re-
volta de Calicsbarnc. - A serpente du bronze, uodecima figura do
Alessias.
ALEM das duas taboas de pech'a, nas quaes estava gravado o De-
calogo, deu o Senhor a :Moisés muitas outras leis iufinitamente sa-
bias, e r.elaLivas já ás ceremonias da Religião, já ás acções da vi-
<la. (1) Escreveu-as Moisés, e logo ao outro dia <le manhã mandou
erigir uµi allar ao pé da montanha, que era como o throno de
Deus. Ao redor do a1Lar estavam doze columnas que representa-
.vam as doze tribus d'Israel. Concluída e~ta obra , convocou Moisés
.o povo para a· ceremonia da confirmação da alliança.
Alli se juntaram todos, e estando coordenados em re<lor do al-
tar, immolaram-se as victinias. Mojsés tornou a ler o livro da Lei.
Todo o povo respondeu : Nós faremos t.udo o que o Senhor ordena.
Então Moisés, estando em pé djante do Altar, mandou que lhe trou-
(t) Veja-se, ácerca das leis dos Hebrcos, entre outras obras, a de
M. Frere; o Homem conhecicló pela revelação, e sobre tudo a Critica dos
legislado1·es Pagãos, e defeza da legislação mosaica, por J. Bruna li, prof.
-n9 Seminario de Brescia, em 8.º; Dissertação sobre o Deuteronomio, · Di-
blfa de Vence. t. IV, p. 8 e seguintes.
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1U CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA, U3
lhos de Deus, que prometle p.roteger-nos no deserto da vida e' con-
d nzir-nos ao Ceo, figurado pela Terra da promissão. Depois que a
alliança se confirmou, não houve entre os Hebreos senão duas espe-
cies de sacrificios, sacrificios cruentos e incruentos. (1) Depois que
Nosso Senhor confirmou a sua nova alliança, ha entre os Christãos
o sacrifício cruento do Cal-Vario , e o sacrifício incruento de nossos
altares. - Nos sacrificios cruentos da Lei antiga , a victima era
deslruida. No sacrificio cru~nto da nova Lei, a viclima foi destrui-
t.la. - Nos sacrificios incruentos da lei antiga , não se destruia a
.victima. No sacrificío incruento da nova lei, a victima não é mor-
ta co.mo no Calvario , mas só misticamente immolada , porque Nosso
Senhor, havendo resuscitado, não pode tornar a morrer. - A ma-
teria do sacrificio incru~nto da Lei an"tiga era farinha e vinho. A
materia do sacrificio incruenlo da Lei nova , é o pão e o vinho,
que se convertem no corpo e sangue de Nosso Senhor. -- Todos os
diversos sacrificios da lei antiga eram offerecidos para quatro fins
princi paes : adorar, louvar, pedir , e expiar. O. sacrificio da · no-va
Lei encerra em si todas estas vantagens : é o sacrificio d'adoração,
eucharistico, deprecalorio, e expiatorio. Na Lei antiga, para supprir
a estes sacrificios, immolava-se cada dia, pela manhã e á tarde, um
cord~iro sem macula. Para perpetuar o sacrificio do Calvario, que
suppre a todos os sacrificios anligos, o Cordeiro de Deus é immola-
do cada dia, e a cada hora do dia e da noute, em nossos altares;
porqu~, ha dezoito seculos, em alguma parte do mundo, eslam sem-
pre Padres ao altar, que celebram o Santo Sacrific10 da l\lissa.
D' aqui se vê que · todos os sacrificios da Lei antiga não eram
mais que a figura do Sacrificio de Nosso Senhor, assim como a Lei
antiga não era outra cousa que a figura da Lei nova. Dest'arte conta-
mo~ os sacrificios antigos pela decima figura de Nosso Senhor.
Ditando a lei aos Israelitas , e fazendo alliança com elles , ti-
nha:.Jhes . dado Deus uma grande prova da sua bondade · mas ainda
' .
lhes deu outra maior, perdoando-lhes o incrivel peccado de que se
tornaram culpados mesmo ao pé do Sinai. Depois da confirmação
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tu qATECISVO
da alliança, tornara Moisés a subir a montanha, envolta sêmpt'e eüt
fumegantes nuvens. Julgou o povo que sua auscncia apenas seiia de
alguns dias, quando muito d'aÍgnmas semanas ; mas, havendo-se pas-
sado um mez, sem terem noticia do que se passava no al Lo , co..
meçaram a murmurar. O Senhor sem duvida nos abandonou,
disseram clles; façamos deuse~, para caminharem adiante de nós, e
nos tirarem do deserto onde estamos mettidos. Quem o poderia crer,
se não soubessemos quanto é inconstante _o coração humano ! Estes
perversos discursos agradaram ás turbas. Fizeram um bezerro d'ou-
ro ; offereceram-lhe abominaveis sacrificios ; e pozeram-se depois a
comer , e a beber, e a dançar em redor do idolo.
A eslc espectaculo disse o Senhor a Moisés: Vai, desce; o
leu povo -, que tiraste da terra do Egypto, peccou contra mim ; fi-
zeram um bezerro d'ouro, que adoram em meu lugar. Deixa~me, a
fim que a minha colcra se inflamme contra este povo, e eu o ex-
termine. 1\foisés conhecia bem o coração de seu Senhor, não desco-
roçoou, nem Jargou a- preza. Càhiu de joelhos e orou nestes termos:
Não, meu Senhor! não ferireis o vosso povo que tirastes da servi-
dão do Egyplo. Quereis que os Egypcios insultem o vosso Santo
Nome, dizendo que maliciosamente o conduzistes a estas solidões ,
para o fazer perecer? Lembrai-vos das promessas que fizestes a
Abraham, a Isaac e a Jacob. Vós jurastes multiplicar seus descen-
dentes como as eslrellas do Ceo , e estabeleccl..os na torra de
Chanaan.
Prodigioso poder da oração ! A' ·voz de l\loisés , ficou o Se-
uhor desarmado; revogou-se o decreto d'exterminio. Sómente os
mais culpados foram punidos como mereciam.
Ordenou depois o Senhor a l\loisés que construisse a Arca da
alliança. Era um cofre destinado a guardar, entre outras cousas,
o livro da Lei, e as duas taboas de pedra, nas qnaes estava grava-
do o Decalogo. Era a Arca feita de pao incorruptível , tendo dous
covados e meio de comprimento , e covado -e meio de largnra
e .altura. Era toda forrada do mais fino ouro por dentro e por
fóra. Uma corôa d'ouro a cingia em volla, e sobre a tampa que a
fechava pousavam dou~ cherubins d'ouro massiço: Era d'alli que o
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DE PEUEVERANÇA. H!j
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H.6 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 147
earregavam <lous homens aos hombros. (t) Durou a excursão qua-
renla dias , no fim dos quaes chegaram os deputados ao cat'npo de
Ca<lesbarne.
Logo que os avistaram, todos se agrupavam ao redor de .Moi-
sés e Arão, a quem os doze viajantes vieram publicamente dar
conta de slia commissão. Primeiramente fizeram fallar por si os_
frnclos que traziam. Julgai, disseram eJles ao povo, por estes mons-
truosos fructos, qual seja a fertilidade da terra que fomos reco-
nhecer ; não vos enganaram em dizer-vos que alli corriam arroios
de leite ·e de mel. Estava Moisés encantado deste primeiro resul-
tado ; mas qual foi seu espanto e afflicção, quando ouviu os depu-
tados continuar nestes termos : l\las este paiz está cheio de grandes
cidades bem muradas ; é habitado por homens de exlraordinarià
força e estatura ; alli vimos até enormes gigantes ; ao pé dos quaes,
nós outros, apenas somos gafanhotos. A mesma terra , apezar de
ser fertil , devora os _seus habitantes; e não nos seria possível habi-
tar nella.
Podeis julgar . das estranhas impressões que uma tal narraç,ão,
atleslada pelo grande numero dos enviados, fez no povo·, já mal
contente e disposto á revolta. Apparec.ia o desalento em todos os_
rostos, e o murmurio começava em todas as fileiras. Todavia, dous
<lcputados fieis, Caleb e Josué, esforçaram-se por desenganar o po-
vo. Iltudem-vos grosseiramente, exclamaram elles, tenhamos sómen-
te a coragem de nos apresentar ;l nossos inimigos , e vêl-os-hemos
desappareccr diante de nós.
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' CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA.
Ira elles uma raça de serpentes , cuja mordedura , ardente como
fogo, ·lhes causava a morte. Neste iníminenle perigo , correram á
tenda de Moisés : Peccamos, lhe disseram elles , fallando contra o
Se.nhor, e contra ti ; pedi-lhe que nos livre destas serpentes.
Deus escolheu esle momento para nos dar uma nova figura do
l\lcssias. Moisés orou por elles , e o Senhor Ih~ disse. : Faze uma
serpente de bronze, e levanta-a em lugar alto ; aquelle que olha~
para clla será curado da sua ferida. l\Ioisés obedeceu ; e o veneno
desapparecia logo que os moribundos volviam os olhos para a ser·
pente, que pendia d'um madeiro. Esta é pois a ·undecima figura
do l\fessias. - Os Hebreos são mordidos por serpentes , que lhes
causam a morte. O genero humano, na pessoa d' Adam, foi mordi-
do pela serpente infernal, que lhe deu a morte. - O Senho~ com-
padece-se dos males que as serpentes causam a seu povo. O mes-
mo Senhor se compadece dos males que a serpente infernal faz aos
homens. - Deus man<la fazer uma serpente de bronze, e collocal-a
cm um lugar elevado. Nosso Senhor se faz homem , e por ordem
de seu pai é levantado na cruz. - Todos aquelles que olhavam pa-
ra a serpente de bronze eram curados de suas mordeduras. Todos
aquelles que olham com fé e amor para Nosso Senhor crucificado,
são curados das mordeduras da serpente infernal. - A serpente de
bronze não esteve exposta senão á vista d'um só povo. Nosso Se-
nhor está exposto á ,·isla do mundo inteiro. - A serpente de bron-
ze não esteve longo tempo á vista do povo. Nosso Senhor estará
sempre exposto na cruz, para curai· as mordeduras, que a serpen-
te infernal fizer aos homens , até o fim do mundo. - As mordedu-
ras não podem ser curadas senão pela vista da serpente de, bronze.
As chagas feitas em nossa alma pelo demonio não podem ser cura-
das senão pela fé em nosso Senhor.
Esta figura nos diz demais que a IJrecedente : 1. º que · o l\Ies-
sias curará ·os males da nossa alma; 2.º que para ser . curado será
·preciso olhar pata elle; islo é, amal-o e crer nelle ; 3.º que elle
será o unico medico da humanidade.
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CATECISMO
O' meu Deus I que sois lodo amor , eu vos dou graças por lo-
dos os prodígios que fizesles em favor do vosso· povo ; permilli que
eu seja grato por todos os que vos dignastes fazer em meu favor •
immolando-vos na cruz como um tenro cordeiro. Dai-me a fé e
charidade necessaria para tirar proveito da vossa morlo.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho deslo
·amor, trarei sempre comigo um crucifixo.
xxx.~ LIÇÁO.
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DE PERSEVERANÇA. 151
tros , que viram morrer no deserto. Cumpre que o digamos, para
vergonha do coração humano , era esta a linguagem familiar d'ls-
rael: a sua maneira ordinal'ia de peuir_uma graça era insultar aquel-
les de quem a deviam obter. Moisés e Arão foram ao Tabemaculo.
Alli se prosternaram com a face em terra : Senhor Deus d'lsrael,
ex-clamaram elles, escutai os gritos do vosso povo -, dai-lhes um ma-
nancial abundanle d'agua viva,' a fim que apaguem a sede.
Commo\T~u-se Dous pelas supplicas de sens servos: Tomarás a
tua vara , disse elle a Moisés ; reunirás o povo ao redor do roche-
do; tu e Leu irmão vos aptoximareis da pedra, não f~r~is mais que
ordenar-lhe em meu nome que produza agua. A ped:a obedecerá;
as aguas correrão , a muHidãiJ terá abundancia para apagar a sede,
·e haverá igualmente para saciar os rebanhos. Fez Moisés o que o
Senhor lhe ordenára. Mandou reunir o povo em redor do rochedo;
mas um ligeiro movimento de duvida passou em seu coração. Não
duvidou que o Senhor podessc; nias sim que quizesse · fazer o mi-
" Jagre. Ai·ão participou das suspeitas de seu irmão; ambos treme-
ram pelo exilo ; e foi neste momento d'anciedade que Moises ferio ·
a pedra. Não obedeceu ella : l\foisés reconneceu a sua culpa ; fe-
rio segunda vez , mas com aquella · viva fé e humilde arrependi-
mento, que oper:'l os prodigios . . A agua correu em tam grande
abundancia , que todo o povo e lodos os animaes beberam sem custo.
Offendeu-se o Senhor da heitação de ~loisés e de seu irmão. Tal
é o nosso Deus , que não pode soffrer desconfiemos · da sua bondade;
mormente se temos recebido delle assignalados favores. Antes deste
funesto acontecimento , Moisés e Arão não tinham sido condemna-
dos a morrer no deserto como os murmuradores. A sua culpa, supposto
pcrdoavel em homens menos dislinctos, os fez comprehender na sen-
tença da proscripção geral ; e o Senhor seu Deus não quiz que o
ignorassem. Pois crue duvidastes de mim , lhes 'lisse elle, e me
não honrastes em presença dos filhos d'Israel , não introduzireis o
meu povo na terra que lhe destin.ei.
Esta exclusão tam admiravel contem em si um mislerio. EIJa ~
nos mostra que não é Moisés nem a sua Lei que ha-de conduzir-nos
á perfeição ; ftue , não podendo dar:.nos o cumprimento <!_as pro·
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1H CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA.
rava , submisso , e humilde .á vontade do seu Deus , sempre cheio
da mesma ternura para com o povo que lhe fôra confiado , ende.;
reçou-se ao Senhor , e lhe disse : Senhor Deus, que conheceis o co-
ração de todos os homens, dignai-Yos dar um chefe aos filhos d ' fs~
rael , -para que não sejam · como um rebanho sem pastor; mas te-
nham um guia , que os conduza por terras inimigas, e os comman-
tle nos combates , que hão de combater. Tomarás lhe disse o Se-
nhor, a Josué , filho de Nun ; é ·a eile que tenho communicado t
como a ti, a plenitude do .meu espiriio; tu o apresentarás ao sum...
mo pontifice Eleazar , em presença da . mullidão ; e impo1·ás sobre
elle as mãos em ~ignal da escolha que lenho feita.
Nenhuma eleição podia ser mais conforme ás inclinações de ·
~loisés ; nenhum chefe mais conveniente á nação santa, _que o bravo
Josué. Depois de quarenta annos era cite o discípulo e amigo do ·
santo legislador. Elle mesmo tinha já no-venta e tres annos d'idade,
sutf1Ciente espaço para estudar na eschola d'aquelle grande homem.
Sua idade, probidade, bravura, ludo o r~commendava aos filhos
d'Israel. Cumpriu Moisés as ordens do Senhor, impoz as mãos a
Josué , e o associou ao governo do povo, que breve lhe devia con..
fiar inteiramente.
Similhante ao pai moribundo , terrto amante d'uma familia que-
t·ida , a quem está proximo a deixar , quiz :Moisés , por derradeira
consolação ,· assegurar aos filhos d'lsrael um longo porvir de pros:.
peridades. Para isto , féz .que o povo renovasse a promessa , tan-
tas vezes reiterada , de serem fieis ao Senhor: Convocou pois a to-
do o povo, e lhe fallou nestes termos: Excutai-me, filhos d'lsrael, ·.
escolhei entre estes dous partidos _que o Senhor me ordena que vos
proponha. Se guardardes a Lei de vosso -Deus , sereis o maior , o
mais glorioso e feliz <le todos os povos da terra ; ver-vos-heis cheios
de todas as bençãos ; todas as nações tremerão diante. de vós ; os
!besouros du . Ceo vos serão abertos; os orvalhos .e chuvas cahirão
a , seu tempo para-fortilisar vossos campos; vossas prosperidades an ..
nuncial'ão a todos os povos .que sois os mimosos do Todo P.odernso.
Se ao contrario) não fordes fieis ás vossas promessas, sereis o opp_ro-
, ·brio e maldição do universo; o Ceo que volve sobre _vossas_. ~abeças
se vos tornará de bronze ; ·a terra onde tendes os :·pós se .Yos _fará
20 Il
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~------~--
CATECISMO
ele ferro ; em vez d'orvalho e chuva , não ·cahirá em vossos campos
senão esteril e ardente poeira ; sereis expatriados , e andareis bani-
dos por todos os reinos do mundo. Se não quizerdes servir o Deus
de vossos pais no seio da prosperidade e da paz, servireis aos seus
e vossos inimigos; mas vós os servireis ..com fome, sede e nudez.
Se sacudirdes o jugo suave , que vos honra e felicita , curvareis a
cerviz a um jugo de ferro, que vos avilte e esmague. Eu lomo agora
por testemunha o Ceo e a terra : nada vos dissimulo ; offereço-vos
a vida , ou a morte ; não hesiteis na escolha , ó Israelitas ! escolhei
as bençãos e a vida para vós, para vossos filhos, e para os filhos de
vossos filhos. - Tal foi a despedida que Moisés deu a seu povo.
Em quanto que os Israelitas ficaram em silencio e consterna-
ção , separou-se delles o santo homem , acompanhado somente d'Elea-
zar e Josué, para serem testemunhas da sua morte , como elle. mes-
mo o havia sido da de seu il'mão , e subio- ao alto da montanha
de Nebo. Alli , no mais elevado pincaro , chamado Phasga , man-
dou-lhe o Senhor que percorresse com os olhos a terra de Chanaan.
Considerou-a elle toda, áquem e alem do Jordão , e então o Se-
nhor lhe disse : Eis ahi a terra que jurei a Abraham , a Isaac e a
Jacob , de dar á sua posteridade : vou cumprir as minhas promes-
sas. Tu viste esta terra com teus olhos , mas não entrarás nella.
Quando o Senhor acabou estas palavras, Moisés , na ida.de de
cento e vinte annos, mas tam vigoroso ainda que n.ão sentia en-
fermidades , nem sua vista ·enfraquecida , nem abalado nenhum d~
seus dentes , entregou a Deu~ o espirilo , e deixou seu corpo n;is
mãos de seus dous fieis amigos Eleazar e Josué. Este grande ho...
mem é uma das mais perfeitas figuras do Messias.
Com effeito , quando Moisés nasceu , um rei cruel mandava ma...
tar tQdos os filhos dos Hebreos. Quando Nosso Senhor nasceu , He-
rodes mandou matar todos os meninos em Bethleem e seus arredores .
Moisés escapa á furia de Pharaó. Nosso Senhor .escapa á furia d'He-
rodes. l\loisés é criado fora de sua familia, na corte do Rei do Egy-
pto, em terra estranha. Nosso Senhor é 'criado por aJgum tempo no
·Egypto, em terra estranha~ ~Ioi.sés, chegando a maior idade tornou para
o Egypto , juntar-se aos Israelita~ seus irmãos. Nosso Senhor tornou .
para a Palestina, juntar-se aos Judeos seus irmãos. Moisés é esco-
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DE PERSEVEl\ANÇA. tã5
lhido por Deus para livrar os Israelitas da servidão de Pharaó. Nosso
Senhor é escolhido por Deus seu Pai para livrar todos os homens
da servidão do demonio. Antes tle se dar a conhecer aos Hebreos,
passa Moisés quarenta annos no deserto. Antes de se manifestar
ao mundo , passou Nosso Senhor trinta annos em vida obscura , e
quarenta dias no d:eserto. Moisés faz grandes milagres para provar
que é enviado de Deus. Nosso Senbor faz grandes milagres para pro~
var que é enviado e Filho de Deus. Moisés manda immolar o Cor-
deiro Pascal. Nosso Senhor , verdadeiro Cordeiro Pascal , a si mes ...
mo se immola , e manda a seus Apostolos e successores que conti-
nuem o seu sacrifiéio. Moisés faz passar o l\Iar Vermelho aos He-
breos , e assim os separa dos Egypcios. Nosso Senhor faz passar o
seu povo pelas aguas salutares do Baptismo, que separam os Chris-
tãos dos infieis. Moisés conduz os Ilebreos a travez d'um grande de-
serto , para um paiz onde correm arrois de leite e de mel. Nosso
Senhor conduz os Christãos pelo deserto da vida para o Ceo, que
é a verdadeira Terra de promissão. :Moisés nutre o seu povo com
um .alimento descido do Ceo. Nosso Senhor nutre os Christãos com
um pão vjvo descido do Ceo. Moisés dá uma lei a seu povo. Nosso
Senhor dá aos Christãos uma lei mais perfeita. Tremendos prodi-
gios acompanham a promulgação da Lei de Moisés. Prodigios de
bondade e charidade acompanham a publicação da Lei christã .. Moi-
sés tlesarma muitas vezes a justiça de Deus , irritado contra sett
povo. Nosso Senhor desarma incessantemente a justiça de Deus ,
1rritadô contra os peccados dos homens. l\Ioisés offerece o sangue
das victimas para confirmar a antiga alliança. Nosso Senhor offe-
rece seu proprio sangue , para confirmar a nova alliança. A Lei de
Moisés era só temporaria. A Lei de Nosso Senhor é perpetua. Moi-
sés não teve a consolação d'introduzir os Hebreos na Terra pro-
mettida. Maio1; que Moisés, Nosso Senhor abrio o Ceo aos homens,
conduzindo comsigo todos os justos da Lei antiga , e preparando o
luga1· a todos os que h"ão ·de vir até o fim dos tempos.
Esta decima segunda figura do Messias não deixa nada a de·
sejar : é inteira e completamente a imagem de Nosso Senhor Jesu·
Christo.
•
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186 1
CATECIS1'f0
O' meu Deus! que sois todo amor , eu vos dou graças por me
terdes pei~oado tantas vezes as minhas desobediencias , com muit&
maior misericordia do que usastes com os Israelitas. Dai-me d'orá~ .
vante maior fidefülade na guarda de vossos santos Mandamentos.
En pro lesto amar a Deus sobre todas as cousas .e ao proxim(}
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho desle
amor ~ .fámaJs commetterei peccado venial com deliberado proposito ..
. .
Noção da Terra promeLtida. - omes qoe tem tido. - Passagem do Jordão'.
Tomada de Jericó - Punição d'Achan - Renovação da alHança. - As-
tucia dos Gabaonitas. - Victoria de Josué. -Sua .morte. - Josué, deci-
ma lerceira figura do Messias.
Mon~o Moisés ' chorou o pºovo por elle trinta dias. No fim àesto
tempo, Josué, successor de Moisés, emprehendeu, por ordem de Deus,
a admiravel revolução, que_ fez mudar de senhores a Terra p]'(}mettida
a Abraham e á sua posteridade , quinhentos annos antes. Eara en·
trarmos na historia deste grande successo , convem que primeiro
tenhamos algumas noções deste ]laiz Jlara sempre celebre que lhe
scrvio de theutro.
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DE PERSEVERANÇA. tp7
·A terra aonde lnam entrar os Israelitas está ~jtua<la na Asia e
tem tido varios nomes. Chamaram-lhe 1.º Terra de Clwnaan, por-
que foi occupada pelos descendentes de Chanaan , neto de Noé. Nella
habitavam sete differentes povos , quando a conquislat·am os Judeos
couduzidos por Josué; 2.º Terra 71romettida, porque Deus tinha pro-
meltido a Abraham , Isaac e Jacob, que a daria á sua posteridade."
3.º Teve o nome de Judea, depois do Captiveiro de Babylonia; por-
que a maior .parte dos que voltaram e a habitaram de novo , eram da
tribu de Juda. 4. ºChamaram-lhe Palestina dos Palestinos ou Pbilisteus,
que os·Gregos e Romanos conheceram antes <los Israelitas por trato de
commercio. ã.º Os Christãos em fim chamaram-lhe Terra Santa,
nome que ainda hoje tem , em rasão dos misterios que alli operou
Nosso Senhor, para Redempção do genero humano. Tem este paiz
perto de sessenta legoas de Norte a Sul, e oitenta do Oriente ao
Occidente. O unico rio que o banha é o Jordão.
Os Israelitas , em- numero de perto de s~iscentos mil combaten-
tes , estavam acampados nas margens deste rio. D'alli ·avistavam as
muralhas da primeira cidade inimiga , chamada Jericó; Josué esco-
Jheu entre os seus bravos dous homens d'intelligencia e coragem ,
a quem -Ordenou que passassem occullamente o Jordão , e fossem a
Jericó , examinar com diligencia o terreno e a cidade-, e tornassem
o mais breve possivel a informal-o da situação dos lugares e disposi-
ção dos animos.. Acharam · os enviados um váo por onde atravessaram,
e pela tarde estavam á porta da cidade. Entraram; e a difficuldade foi
achar onde pousar aquella noute. Dirigiram-se porem a casa de certa
mulher, chamada Rahab, a qual os recebeu. · Por importante que fosse
o seu segredo , julgaram ·poder-lh'o confiar ; e confiaram-se bem ;
porque Rahab satisfez ás suas perguntas , e deo-lhes todas as infor-
mações que desejavam. l\Ias em quanto conversavam, eis que se
feébam as portas da cidade. Não tarda que se ouça um grande al-
voroto de gente , que se aproxima da casa de Rahab. Eram homens
enviados pelo rei , para prender os dous Israelitas, que não pode-
l'am entrar na cidade tam occultamente, nem hospedar-se com tanta
precauç.ão, que não constasse ao principe o que se passava. Apres-
iOU-se Rahab a os fazer subir ao telhado da casa. aonde os cobrio ·
com arestas. Depois, faltando ·aos Commissarios do ·rei, disse-lhes, ._que
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138 CATECISMO
era verdade terem estado dous estrangeiros em sua casa , mas que
fora só 9e passagem. (1) Creram no que dizia. Ao outro dia lle
manhã foi Rahab ter com êlles , e pedio-lhes, em premio do serviço
que lhes .tinha prestado, ~ que lhe salvassem a vida, e á sua fanii...
lia, quando os Israelitas tomassem Jericó. Assim lh'o promelteram ..
Então prendeu ella umas cordas a uma janella de sua casa , que
dava para o campo , e os dous Israelitas desceram · sem custo até
abas.e e.lo muro. ·Dous dias depois estavam de volta no campo, onde
deram conta a Josué de tudo o que passaram , e o povo recebeu
ordem para se abalar de madrugada. Santificai-vos, clisse Josué, por
que ámanhã fará o Senhor por vós grandes cousas.
De madrugada abalou-se o povo. Os sacerdotes, levando a
arca da alliança t marchavam na frente. O exercito, formado em
duas columnas , seguia em boa ordem. Chegando ás margens do J or...
dão , os sacerdotes assustados da fundura do abysmo, avançaram e
poseram pé nas aguas. Deus tinha fallado, o rio obedeceu. Em
um instante vio-se retrocedei· a corrente, e formar alli como uma
alta montanha-, em quanto as aguas inferiores se escuaram. Ficou ,
secco um grande espaço. A arca parou no meio do rio e todo o
exercito passou á margem opposta. Então o Senh()r disse a Josué:
1\fanda doze homens escolhidos das doze tribus d'Israel, e-dize-lhes : Ide
tomar debàixo dos pés dos sacerdotes , ao meio do leito do rio, doze
grandes pedras ; as quaes leyareis ao primeiro acampamento do Exer·
cito. Alli as disporeis em um altar; e quando vossos filhos vos p·er...
gtmtarem um dia o que significa este monumento no meio de vossos
campos, i·esponder-lhes-heis : Quando passavamos o Jordão para tomar
posse da terra que habitamos , a Arca do Senhor , levada pelos sa..
cerdotos , parou no meio do rio ; e as aguas , suspensas por sua
:virtude, nos deixaram o caminho livre.
Executou-se a ordem do Senhor, a Arca sahio do rio, que vol~
veu á sua corrente ordinaria. Breve chegaram á vista de Jericó.
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DE PERSEVERANÇA. 139
Era uma das maiores e mais fortes cidades de· Chanaan. O Senhor
disse a Josué : Eu te entreguei Jericó e o seu rei , e todos os seus
habitantes. Para os vencer bastar-vos-ha obedecer-me ; e eis-aqui o
qur. fareis : poreis vossos soldados em som de guerra ; mandal-os-heis
marchar diante da A1·ca da minha alliança , tfUe será levada por
quatro sacerdotes da tribu de Levi ; outros sete sacerdotes, tendo
cada um uma trombeta , precederão· _a Arca , que será seguida -
pela multidão do povo. Com esla ordem , por sete dias succes-
-sivos ; dareis uma volta em redor das muralhas de Jericó : toda a
genle guardará silencio durante a marcha ; nem se ha-de ouvir ou-
tro ruido senão o soar das trombetas.- Na selima e ultima vez ,
que derdes vt>Ha ao redor da cidade , .no momento em que as trom-
betas soarão com um tom mais demorado e agudo , toda a multidão
dos filhos d'Israel dará grandes vozes; e no mesmo instante , os
muros da cidade cahirão até os fundamentos , e cada um entrará
pelo lado diante do qual estiver collocado. Josué eommunicou ao exer-
cito as ordens do Omnipotente. Lembrai-vos, aecrescentou elle, que
esta ·cidade está votada ao anathema : ninguem dele reservar para
si cousa nenhuma della : a menor prevaricação . neste ponto nos tor-
naria a todos desgraçados. Tomadas estas precauções , começa-
ram a obra , e no/ se.timo dia, como o Senhor tinha predito , as
muralhas de Jericó desabaram em terra; a cidade foi tomada, sa-
queada .e destruida até os fundamentos ; ninguem escapou senão a
charidosa Rahab e sua familia.
,Passados alguns dias em descanso, resolveo Josué marchar a
uma nova conquista. Enviou tres mil homens para pôr cerco á pe-
quena cidade chamada Hai. Os Israelitas foram derrotados. O santo
general entendeu por isto que o Senhor estava irritado ; foi logo pros-
trar-se diante da Arca da alliança e alli ficou o dia inteiro;• Em
fim o Senhor ouvio a sua oração e disse-lhe : Israel peccou ; violou
as condições da minha alliança. Conservou parte dos despojos de
Jericó, e os tem escondidos em sua bagagem. Reune o povo : a sorte
te fará conhecer o culpado ; tu o condemnatas a ser queimado , e
tudo que lhe pertence será consumido com elle no fogo. Fez Josué
como o Senhor lhe ordenara, e a sorte cahio em um homem da
tribu de Juda, chamado Achan. Meu filho , lhe disse Josué com
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1GO CATECISMO
muiia brandura , que fizeste tu '? Pequei lhe respohdeu Achan ; p '
gue ten lo visto entre os de pojos um manto de purpura, que me
pareceu magoifico, e .duzentos siclos de prata , e uma barra d'out·o
de pe o de cincoenla siclos : eslas riquezas tentaram a minha ,cu ..
biça ; Jcvei-as occuUamenle , e as enterrei n'uma cova que· fiz no
chão díl minba tenda.
Josué intimou-lhe a· sentenç.a que o Senhor -tinha pronunciado
contra elle, e logo foi executada. Eis um exemplo que nos mostra
orno somos todos solidarios uns dos outros ; se as boas obras dos
J.ust,os são omnipotentes para chamar as bençãos do Ceo e fazel-as
participar a lodos , os crimes dos máos não o são menos para pi;o. .
..vocar os castigos , e fazel-os cair em todos. Satisfeita a gloria do
Senhol', Josué não receiou mais dos inimigos. A pequena ci lade
.d'IIai foi tomada e trnlada como Jericó. Então o Santo General fez
renovar a alliança de seu povo com Deus. Esta renovação fez-se
com ceremonias proprias para impressionar . toda a multidão, e tor-
nal-a para sempre fiel.
Dividiram o povo em duas partes iguaes ; uma ficou poslada
na montanha de Garizim, a outra na montanha de Ilebal. Na pla-
nici~ que _ as separava estavam os sacer<lotes com a arca da alliança.
As tribus collocadas nas duas montanhas pronunciaram em. alta voz
~.loze formulas de benção em favor dos fieis observadores <la Lei , e
outras tantas formulas de maldição contra os infractores. As tribus
collocadas na montanha opposta respondiam: Amen : isto é, assim
sejam recompensados os observadores da Lei; assim punidos o.s re-
b.eldes ao Senhor. As primeiras tribus, levantan<lo a voz, pro-:- -
nunciaram esta. -imprecação. l\laldito seja aquelle que fizer idolo.s e os
adorai· em sua tenda. E as outras seis tribus , respondendo , dis-
seram: Amen, assim seja. Continuaram deste modo até o fim das
doze formulas de benção e maldição. O Senhor, representado pela
Arca, collocada no meio dos dous campos , estava alli p~ra ouvir
~ ~.ontirmar estes· tremendos juramenlos.
. :Entre tanto os r.ei e o povo · de Chanaan assustados do pro-
gress.o dQs Jsra~lilas, ligaram-se para os combater çom forças jun~
\a . Os habitantes da cidade de Gabaon foram os unicos que
tQ1;wram o.utr.a rcsoluç.ão. Como e não "ulgas em .eguros p.ela
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DE PlRSEVERANÇA. 161
·força , usaram de mànha. Enviaram embaixadores à Josué ; mas
eom uma equipagem que desse a entender que vinham de muit<J
longe. Levavam jumenlos carregados de provisões, metteram pães duros
e esmigalhados em saccos velhos , e os odres do vinho eram rotos e
recozidos; os mesmos çapatos que calçavam estavam remendados e
cheios de tombas. Neste estado se pozeram a caminho os embai-
xadores • que em poucas horas chegaram ao campo d'lsrael ·, e fo...
ram admitlidos á audiencia do General. ·Nós ' ri mos, disseram ellcs,
eom ar de muita simplicidade, d'uma terra muito remota, para fa-
zermos alliança comvosco. Aqui ·viemos buscar-vos em nome do
vosso Deus, pois que a fama das maravilhas de sua Omnipotencia
e das grandes cousas que por vós obrou no Egypto , tem ~hegado
alé nós. Po1· isso, os anciãos que nos govemam nos · enviaram a
buscar-vos. Tomai viveres e provisões , nos disseram elles , porque
a jornada é longa. Julgai. do caminho que temos andado pela · equi-
pagem que trazemos. Quando sahimos de nossas casas lomainos · pães
frescos e ainda quentes do forno , vêcle como estam esmigalhados ·e
duros como .pedras. Estes odres do vinho eram novos, e agora es-
tam acabados; nossos vestidos e oapatos fazem-nos vergonha diante
tio vós , por ~afados que estam do caminhe.
Pareciam tam fogcnuos e sinceros estes discu·rsos dos ·Gabaoni-
tas que se teria escrupulo de suspéitar deJles: · Por -isso não ·con-
sultaram o Senhor : nem mesmo creram que nisto bou·vesse mat~
ria . de deliberação. O general lhes concedeu a paz. Estipulou-se
expressamente no tratarlo que lhes não dariam ·a morte. Os Gaba-
. enitas não quizeram mais ; tornaram-se muito contentes , a partiéi-
par aos seus aquella feliz ·negociação; ·
O pedido dos habitantes de Gabaon irritou os ·reis de Cha-
naan ,· que resolveram fazei-os arrepender-se deste procedimento. Po ...
zeram ·cerco á cidade; e Josué, supposto descubriase o engano ; cor-
reu em soccorro dos seus ·amados· e ganhou uma grande victor1a
dos cinco reis que faziam o cerco : · o Senhor combatia por elle , e
fez cahir sobrn os inimigos uma chuva de peckas que inató'u grande
quantidade delles: Todavia ·-aproximava-se a noute; e muito pezava à
Iosné por ver quo tantos inimigos lhe escapavam. Por uma repen-·
1lna inspiração , orou ao Senhor em presénça de seus soldados;
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162 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 163
ao mundo, e a seus discipulos as mais admiraveis lições. Em· quanto
os filhos d' Israel são fieis. aos conselhos de Josué, vivem feJizes.
Em quanto os Christãos são fieis ás lições de Nosso Senhor , são
tambem felizes. Logo que os IsraeJitas desprezam os conselhos de
Josué, tornam-se escravos de seus inimigos. l.ogo que somos in-
fleis aos preceitos de Nosso Senhor , tornamo-nos escravos do demo-
nio e de nossas paixões. Esta figura descobre-nos um novo cara-
cter do Messias ; pois nos ensina que elle inlroduzlfá o genero hu-
mano no Ceo , representado pela Terra promellida.
O' meu Deus 1 que sois todo amor, eu vos dou graças por ha~
verdes estabelecido o vosso povo na terra de Chanaan , e me terdes
feito nascer no- gremio da Igreja Catholica. Conduzi-me ao Ceo ,
verdadeira Terra promettida , onde vos louvarei e amarei sem re-
ceio de vos perder por toda a eternidade.
. Eu · protesto amar a Deus sobre todas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho deste
amor , nada jamais farei por um motii•o purametlte humano.
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CATECfSMO
XXXII.ª LIÇÃO.
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DE PERSEVERANÇA. 165
:l'enlos em as nossas proprias resistencias contra as luzes da fé e as
mais fortes impressões da graça ; consideremos as scenas já extra-
vagantes, já ridiculas, já escandalosas, que a contumacia ou a fra_.
queza nos mostram ainda hoje; e não teremos que admirar-nos se-
não da profunda ingratidão e depravada indocilidade do coração
humano.
Não tinha Josué destruido todos os Chananeos , antes .poupou a
grande numero delles, que ainda habitaram por muito _tempo em.
differentes partes da Terra promettida. Assim o permiltiu Deus , ou
fosse para ter Israel exercitado e fazei..o merecer , por sua fidelida-
de no meio dos idolatras, os beneficios que resolvera prodigalizaã·-
lhes; ou · para servir-se destes mesmos Chananeos, como d'um açou-
te contra o seu povo , quando se tornasse culpado ; pois é certo
que nos permitte Deus as tentaçõe~, para provar nossa virtude , e
<lar-nos occasião d'augmentar nossos meritos.
Não se tiveram muilo tempo os Israelitas· no meio desta prova.
Cahiram em mil prevaricações , e até chegaram a submergir-se na
idolatria. Desta delesta,·el infidelidade deu o pnmeiro exemplo uma
certa mulher da tribu de Ephraim , d'idade- avançada, viuva, su-
persticiosa, e ao que parece senhora sua e do seus gostos. Esta
mulher, pois, dispoz d'uma consideravel somma de dinheiro para
mandar fazet· deuses estranhos , simi1hantes aos dos Chananeos. Ti-
nha ella um filho chamado l\Hcbas, tam supersticioso como sua mãi,
e ambos de commum accordo ajustaram com um obreiro de lhes fa-
zer idolos, e os collocaram em sua casa. Faltava procurar o sa~
cerdote qQe -queimasse o incenso e offerecesse os sacrifícios. Michas
não achou nisto difficuldade. Quem ·faz deuses de sua feição, lam-
bem . lhes pode dar ministros seus ; e assim este lhes deu seu
filho mais velho, que se fez sacerdote dos idolos.
Era já um grande mal para Israel , que uma familia particular
ousasse- alçar o estandarte da idolatria i mas o peor é que foi uma
faisca, que apegon, um grande incendi_o ; e , atiçado pelas paixões
e pelos crimes, abrazou, em poucos annos, quasi que a nação to-
da. . Para castigar tam grande malicia, chamou pois o Senhor aquel-
1es reis Chananeos, que ainda restavam na Terra promellida; e. ora
um, ora outro , iam escravisando a · todo Israel; Nada pode tanto
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166 CATECISMO
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DE PIRSEVEl\iNÇA. 167
meu ministerio resolvestes salvar Israel, ·dai-me a prova, que eu es-
colhi, <la verdade da minha missão : vou estender no campo um
Vello ele lã, o qual, se ficar só , molhado do orvalho, e toda a
terra em derredor enxuta , conhecerei que me tendes escolhido.
Assim o fez. Estenderam o Vello sobre a terra , e Gedeão, le-
vantando-se de madrugada, ·achou a terra perfeitamente secca, mas
a lã tam molhada que d' ena ex premeu grande quantidade d' agua~
Gedeão não se contentou com este pri~eiro prodigio. Senhor , dis-
se elle, não se acenda contra mim a vossa ira, se ainda vos pe-
dir que façaes , com o mesmo Vello, um prodigio em ludo contra-
rio d.O primeiro : quizera que a terra ficasse coberta d'orvalho , e
o Vello perfeitamente secco. Condescendeu o Senhor com os dese-
jos e supplicas do seu general. .() VeUo ficou enxuto 7 e" toda a
terra ao redor coberta d' orvalho.
Mas o Senhor, que concedera a Gedeão prodígios da sua Omni-
potencia , logo depois exigiu delle prodígios de confiança. Por sua
ordem partiu Gedeão de noute e foi acampar-se, á lesta de seus
trinta e dous mil homens, no alto do valle de Jezrael. Estavam os
l\fadianitas estendidos pelo valle, em numero de cento e trinta mil.
Já o partido era bem desigual ; mas ainda o Senhor julgou que Ge•
deão tinha gente de mais.
E' muito numeroso o teu exercito , lhe disse o Senhor ; não
entregarei Madian em tuas mãos, por medo que Israel, em menos·
cabo de minha gloria, atlribua a si mesmo a honra do seu livra•
mento. Ajunta o teu exercito, e, segundo a determinação da Lei ,
manda publicai· em alta voz por todas as fileiras, que não so per-
mittes mas até ordenas a todos os soldados , que tiverem medo,
que se . retirem para suas casas. Mais de dous terços deixaram o
campo, ficando só Gedeão com dez mil homens de tropas. Ainda
é muito, lhe disse o Senhor, conduze os teus .dez mil homens ás
margens d'um ribeiro, ahi os quero eu provar. Obedeceu o gene·
ral, e pozeram-se em marcl1a durante uma parte do dia, de geito
que os soldados deviam estar fatigados e cheios de· sêde ,. quande
chegassem á beira d~ agua. (1 Senhor tinha dito a .Gedeão : Alguns
de teus soldados se deitarão sobre as bordas· do ribeiro para á sua
tonta de apagarem a sêde; outros, . pelo contrario , nã-0 farão mais
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CATECISMO
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DE l>EMEVEltANÇA. 169
Senltor e a espada de Gedeão. Pozeram-se pois cm marcha, e chc,
garam por tres differentes lugares ao campo inimigo. Dado o si-
gnal, soam todas as trombetas, _quebram-se as cantaras, levanlam-
se as lanternas, e ·por toda a parte resoa o grito de guerra: A (lS-
pada do Senhor e a espada de Gedeão. Não se moveram d'onde
estavam, mas só continuaram a Locar e a grilar : A espada do Se-
nhor e a espada de Gedeão.
Um repentino terror se apodera do campo. inimígo. Cada um
foge por onde pode, em confusão e tumulto. Atropellam-se, matam-
sc uns aos outros na obscuridade da noutc. O sangue do Madian
inunda em poucas horas o valle de Jezrael , sem que os soldados do
Gedeão descarreguem um só golpe. Os que escaparam da matança
tomaram a fuga e repassarão o Jordão.
Depois de ter livrado o · seu povo dos inimigos , cuidou Gedeão
em destruir a idolatria, que tantas calamidades trouxera a Israél.
Se não conseguiu extinguil-a inteiramente , alcançou fazer temer es-
te crime , e circumscrevel-o em limites que ninguem ousou ·ultra-
passar, em quanto elle viveu, com aquella escandalosa liberdade que
provocava infallivelmenle a vingança do Senhor. Gedeão governou
o povo por quarenta annos, no fim dos quaes morreu cheio de dias
e de meritos , glorioso por seus feitos , e ainda mais por sua simi-
lhança com o Messias, de quem é a figura decima quarta.
Com cffeito, Gedeão é o derradeiro d'entre seus irmãos.Nosso Se-
nhor dignou-se parecer o ultimQ dos homens. - <;iedeão, apezar de
sua fraqueza, é escolhido por Deus para livrar o povo da tirannia
dos l\Iadianitas. Nosso Senhor, apezar da sua fraqueza apparente,
ó escolhido por Deus para livrar o mundo da tirannia do demonio.
_..... Get1eã0; antes de livrar o povo, offerece um sacrificio. Depois
<le se ter offerecido em sacrificio na cruz, é que Nosso Senl1ot· livra
o mundo. - Dous grandes milagres proYam que o Senhor escolheu
a· Gedeão. Dous milagr~s maiores provam lambem que Nosso Se-
nhor é o Libertador dos homens. - Pelo primeiro milagre, feito· em
favor de Ge<leão , só o Vello se cobriu d'orvalho , em quanto ficou ,
sccca a terra toda em redor. A graça _de Nosso Senhor , o vcrda- ·
deiro rocio do ceo cahiu primeiro sobre o povo Judaico sómente.
1
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170 CATECISMO
O' meu Deus 1 que sois todo amor , eu vos dou graças pefa
g~ande misericordia que tantas vezes tivestes com o vosso povo,
não obstante as suas infidelidades. O' Senhor ! e quam misericor-
dioso haveis sido comigo t Quantas vezes me haveis tambem per. .
doado ! D'or' avante farei todos os sacrificios para vos ser fiel , co-
mo os soldados de Gedeão o foram , apezar · da sêde ~ da fa·
diga.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas , e ao proxímo
como a mim mesmo por amor <le Deus ; e , . em testemunho deste
amor , todos os dias me pri·varei d~alguma cousa vor expiafãO dos
meui peccados. .
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DE PÊRSEVERANÇA. 171
XXXTII.ª LIÇÃO.
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CATECISMO
novo juiz , para lhe mitigar o rigor ; o qual , não só cm sua vida,
mais sobretudo na sua morte , alterrou de geito os inimigos tlc
seu povo , que o jugo dos Philistheos pareceu totalmente quebrado , .
e recuperada a liberdade d'lsracl.
Este novo juiz , tam differente dos outros salvadores (l'lsracl ,
este guerreiro que , sem companheiros , nem armas , nem soldados ,
lucla só contra um povo inteiro , é o celebre Samsão, tam faÍnoso _
na historia do povo de Deus. Foi elle milagrosamente concedido aos
, rogos e orações ele seu pai e ~ãi. O Senhor o abençoou dando-
lhe uma prodigiosa força , revelando-lhe as grandes acções que de-
vj3 obrar , .em qualidade de libertador d' Israel , contra os Philis-
tbeos. Conheceo elle que tinha nascido para seu flagello ; que lhe
assistiám os direitos do grande Deus que o enviava ; que não era
obrigado a formalidades e declarações de guerra ; que tudo quanto .
fizesse para ruina (Paquelles · idolatras seria do agrado do Senhor.
Penetrado destas duas grandes ideas , ainda bem não tinha chegado
á idade de trinta annos quando se poz em campo.
Fez uma jor~da á Terra dos Philistheos, e, para ter occasiao
de lhes fezer todo o mal que mereciam, resolveo ele se casar alli. A
muito custo consentiram seu pai e mãi ; pois ignoravam que Deus é que
dispunha todas estas cousas. Acompanharam porem a seu filho ,
para ajustar as condições do casamento: Quando se aproximavam á
cidade", entraram em. uma vinha, onde Samsão insensivelmente se
apartou delles. Foi alli que ellc fez o primeiro ensaio de suas prodi-
giosas forças.
Avislou um leão que, chamejantes os olhos, corria para elle com
b,orriveis- ru.gidos. Samsão não tinha alli armas nem páo ; mas am-
mado do espirito do Senhor , agarrou o animal e o despedaçou com
tanta facilidade como s,e fosse um ca,briti.nho. Disto não ~isse Pª"
1~ vra. a seu p9.i e mãi.
. . .Concluido o c,asamento, tornou Sa~são para a su'll tem1, e pas-
sando pel~ vinha, teve a curiosidade de vei· o cadaver d'aquelle aui~
~al ; mas qual foi seu espanto, q\Iando vio na boca do leão morto
um .enxame d'abelhas e um favo de mel ! Em breve chegou o dia.
(~ suas nupcias : assistiram a ellas trintajovens Philislbeos. Qnero,
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DE PERSEVERANÇA. 173 .
ihes disse elle, segundo o costume d'aquelles tempos, (1) propor~vos
um enigma, e dou-vos sete dias para o explicardes. Se o adevinhar-
. dcs , eu vos darei trinta vestidos ; aliás dar-me-heis vós tantos como
vos promelto. Os Philistbeos tomaram o caso em brio, e acei-
taram a aposta. Eis-aqui pois o- enigma,. tornou Samsão : aquelle
qzie devora forneceu o alimento ; e da força sahio a doçura. O eni-
gma era -facil para quem soubesse o caso do leão despedaçado por
Samsão , e . do mel achado em sua boca ; mas isto era o que nin-
guem sabia. ·
Os Philistheos _por tanto deram tractos á imaginação, mas de-
balde ; nada acharam que os satisfizesse. Recorreram á esposa de
Samsão , a qual a principio não pôde resolver seu marido a que lhe
dissesse o segredo. Chegava o setimo dia , e a Philislhina tanto
o apertou , que Samsão fatig.ado por suas importunações .se dei-
xou vencer e lhe explicou o mislerio , que a infiel correu a com-
rnunicar aos Philistheos. Vieram elles ter çom Sams ão , e com ar.
de triumpho lhe deram a explicação do enigma. Tendes rasão disse
elle , per<li a aposta , eu a pagarei. No mesmo ponto o espirito
de Deus se apoderou delle , corre fora da cidade , mata trinta Phi-
listheos e lhes tras os despojos. Feita esta terrivcl execução, deixa brus-
camente sua esposa e retira-se para casa de seu pai. Passado algum
tempo consta-lhe que esta mulher, crendo-se desprezada, esposara
um moço Philislheo dos que assistiram ás nupcias. Não era Samsão
para · deixar impune uma tal affronla : declarou guerra a todos os
Philistheos.
Era no tempo da colheita , e as searas aguardavam só a fouce
dos segadores~ foi occasião para Samsão meditar uma vingança de
que ninguem talvez se poderia leinbrár. A terra d'Israel era in-
festada por immenso numero de raposas, e hoje mesmo certificam
os viajantes que muitas vezes os habitantes são obrigados a reunir-
se. para as montea1·, sob pena d'assolarem e destruirem tudo. Sam-
são lhes deo caça, e ajuntou até trezentas. Amarrou-as duas a duas
pelo rabo , ao qual atou um facho aceso , e assim as soltou nas bel-
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CA TECIS:BIO
las· planicies dos Philistheos, que se preparavam para segar os tri-
gos. As rapozas corriam furiosas e abrasavam tudo , sem que fosse
possivel atalhar o incendio , que rompia por tantas parles <lifferen-
tes. Arderam os tdgos sem remedio; o fogo apegou.;.se ás vinhas
e oliveiras. Foi irreparavel a perda, e inevitavel a fome.
Feito isto , retirou-se Samsão a uma caverna no territorio da
tribu de Juda. Não tardou muito que os Philistheos não soubessem
quem tinha sido o author da sua desgraça e descobrissem o seu es-
conderijo. Ajuntaram um exercito , e vieram acampar a algu-
ma distancia da caverna. Uniram-se .a elles os ·habitantes da tribu
de Juda em numero de tres mil homens , com ordem de capturar e
prender Samsão. Acharam-no em a caverna, e começaram por
lhe exprobtar suas temerarias vinganças. De que se queixam os Phi-
listheos ? Responde elle friamente. Não lhes faÇo mais do que me-
recení. Pois seja co·mo for , tomaram os soldados, nos vimos para
te agal'l'ar e entregar-te em suas mãos. Jurai-me que me não ma-
tareis, disse Samsão , e eu. me deixarei prender por vós. Deram-
lhe a sua palavra , e Samsão se deixou amarrar com duas cordas
novas, e conduzir preso {\ vista do campo inimigo.
Apenas os Philistheos. o viram n'aquelle estado tudo foram
acclamações e vivas. Correram a apoderar-se do prisioneiro ; mas
Samsão se bem que Jigado não estava preso. .O espirito _do Senhor
se apodera delle , despedaça as cordas , agarra n'uma queixada de
burro que jazia em lerl'a, e <la primeira investida mata mil Phi-.
listheos somente , porque os mais fugiram.
~ Assim vencedor de seus inimigos, deita,-se Samsão · tranquilla..
mente sub as azas do Senhor; mas apenas· se refez de forças , cui-
dou em continuar suas façanfias contra os inimigos do seu povo.
E' de crer que , nos vinte annos que foi juiz em Israel, muitas fez ·
elle que nos não são conhecidas. O certo é que ensinou os Philistheos
a serem mais comedidos., e os fazia __tremer só com o terror do seu
nome.
Um clia . entrou elle . em uma de suas cidades chamada Gaza ,
e foi descoberto e trahido pela dona _da casa onde se alojava , a
qual o denunciou aos seus concidadãos. Ficaram muito contentes ,
cuidando que desta vez tinham segura a preza. Tomaram pois suas
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DE PERSEVERANÇA. • 175-
ínedidas , mas sem fazer motim , por medo que não acordasse o
Leão 'e inundasse de sangue a cidade , antes que o podessem do-
mar. Contentaram-se com fechar muito bem as portas da cidade ,
e pôr-se de guarda mui ·calados , a fim de o matar quando de ma-·
nhã quizesse sahir. Samsão dormio até meia noute; a esta hora
levantou-se e veio á porta da cidade. Foi nesta occasião que mais
excedeu a prodigiosa força do heroe d'Israel : arrancou ambas as
ametades da porta com os seus postes e fechaduras, e carregando..
as ás costas levou-as ao alto d'uma _montanha. Acordaram as sen-
linellas ao ruido , mas não se atreveram a perseguil-o.
Estas acções parecem-nos muito exlraorc}inarias , mas assim cum-
pria que fossem , para impressionar os espiritos d'um povo grosseiro.
Para confundir o orgulho Madianita, já Deus tinha vencido seu exercito
de cento e trinta e · muco mil homens com os trezentos soldados de Ge-
deão , armados somente de trombetas e lanternas ; agóra , para hu-
milhar o orgulho dos Philistheos entendeu guerrear um povo inteiro
com um só homem ; um dia ainda será tnaior o prodigio , quando
doze pobres pescadores conquistarem o mundo inteiro.
Demais , se considerarmos estas cousas maduramente, veremog
que eram essenciaes no plano da Providencia. Perservar da idola-
tria a um povo que vivia no meio de nações idolatras , tendendo
por suas inclinações ao culto seductor dos idolos ; recordar o co-
nhecimento d'um Deus unico aos Pagãos ; tal foi , desde o Diluvio
até o Messias, o desígnio d'aquelle Deus Creador e-·Pai, que cura
de todos os filhos dos homens. Ora , para alcançar este fim , que
outro meio mais efficaz que o dos milagres? e que milagres mais aptos
a fazer impressão n'aquelles povos grosseiros e ignorantes, que apenas
viviam pelos sentidos, do que estes prodigios d'uma ordem natural,
que provavam taro· evidentemente que todas as creaturas, adoradas
como deuses , eram um mero brinco na mão do Deus- ·d'Israel ,
. do Deus verdadeiro?
Os Philistheos pois desespera9os de vencer Samsão pela força, re-
correr~m ao ardil. Ajustaram com certa _mulher ·de sua ·nação, cha-
mada· Dalila, em casa de quem Samsão pousava muitas vez-es , que
fizesse. por saber delle d'onde é que lhe vinha' ,aquella prodi-
giosa força. Se o consegu~res, lhe disseram elles, cada um ·de
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17 6 CATECISMO
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DE PDSEVEl\ANÇA. 117
Algum tempo depois , os príncipes dos Philistheos fizeralif \lma
ftista solemne , para agradecer ao seu deus , · chamado Dagão, por .
lhes ler entregue o tlagello do seu povo. Apres~ntaram-se em Gaza
os príncipes e grandes da n!lção, foram ao templo e immolaram gran.-
de quantidade de victimas. Acabados os sacrificios, começaram os
ban1yuetes por toda a extenção do templo , que retumbava com lou..
vores a Dagão. Só ·faltava uma cousa para que a festa terminasse
a gosto e -satisfação .de todos : era Samsão , carregado de ferros , e
exposto aos insultos dos Philislheos. :Mandaram-no vir.
Uma criança conduzia o pobre cego, tirando-o pelos ferros ; e
o fo{ collocar entre duas columnas no meio do edificio , onde fi-
cou exposto á zombaria e passatempo da multidão. Entretanto
Samsão, cujos cabellos tinham começado a crescer, sentio que as
suas forças lhe tornavaJD ; não se· mostrou porem offendido de -nada;
durou Jargo tempo este agl'adavel entretenimento de seus especla..
dot·es ; e até foi attrahindo outros que se apinhavam nos vestibulos
e ainda· sobre o telhado , para tomar parte na barbara comedia que
se representava. O numero dos que vie·ram de novo , sem compre-
hender os principes e grandes , e os que tinham .assistido aos ban..
qucles no templo do idolo , subia a perto de tres mil pessoas , ho.-
mens e mulheres.
A occasião era propicia para livrar Israel dos reis, seus per-
seguidores , e acabar uma façanha· de tal estrepito , que atterrasss
toda a- Palestina.
O Senhor· inspirou a Samsão o designio, depois de lhe te1· dado
a
o poder; e supposto lhe custaria vida, o generoso heroe não he-
sitou na execução. O teclo do templo era sustentado por duas co-
lumnas principaes. Samsão , que conhecia a estructura do edificio ,
disse ao rapasmho qU:e lhe servia de guia: deixa-me que eu apalpe
as duas grossas columnas , que sustentam o templo , a fim de me
encostar e desca nçar um pouco. Então invocou elle o Senhor seu
Deus , dizendo : Lembrai-vos de mim , ó meu Deus ! Dai-me ·a mi-
nha ·força , para que eu -vingue de um só golpe as· duas chagas
que me fizeram, arrancando-me os olhos : é tempo ·que eu - puna a
sua crueldade exaltando a vossa gloria; e abraçando-se com as <luas
columna~ : Morra Samsão, continuou em voz alta ; mas morra · com
23 II
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178 cAn:cmro
os .Philislheos. No mesmo instante sacode rijamente · as duas eolum--
nas ; desaba o templo sobre ·lodos os princip.es dos Philistheos, e
sobre todo 'o povo que eslava nelle ; .e Samsão matou mais inimi-
gos de Deus morrendo, do que antes matara, em quanto foi vivo. Assim
acabou Samsão por sua morte o livramento d.'lsrael, obra tam feliz-
mente começada em sua vida ; nías foi propriamente no dia que se-
pultou comsigo os tirannos de seu povo , que mereceu os bellos no-
mes do Salvador de seus irmãos, e Restaurador da sua liberdade. Por
isso é que Samsão tem sido sempre considerado como uma figura
do l\Jessias.
Com effeito, Samsão nasce por um modo milagroso. Nosso Se-
nhor nasce tambem por um modo milagroso. Samsão passa vinte an- ·
11os com seu pai e mãi , sem se dar a conhecer por Salvador de
seu povo. Nosso Senhor passa trinta annos com Maria , sua mãi ,
e Joseph seu pai supposto, sem se dar a conhecer por Salvador dos
llo1pens. · Sarnsão recebe uma esposa d'enlre os Philislheos. Nosso
Senhor escolheu a Igreja , sua esposa , entre as nações pagãs. Sam-
são mata um leão que o vinha devorar. Nosso Senhor subjuga o
mundo pagão que , como um leão , procurou por tres seculos de-
vorar a Igreja ·nascente. Salnsão acha um favo de mel na boca do
1 leão. Nosso Senhor acha, entre os pagãos , outr'_ora inimigos dos
Christãos , homens d'uma docilidade e charidade celestial. Samsão
mala !llil Philistheos com a queixada d'um burro. Nosso Senhor vence
o mundo com um instrumenlo ao parecer o mais fraco : a sua cruz.
Samsão é cercado por seus inimigos na cidade de Gaza. Nosso Se-
nhor é encen~ado por seus inimigos no tumulo. Samsão desperta no
meio da noute, arranca as portas e os ferrolhos , e , a pezar d.os
guardas , sahe vencedor da cidade , onde estava prisioneiro. Nosso
Senhor , depois de ter descido ,ao Jirnbo , aonde quebrou as portas
do inferno e da morte , surge do. tumulo cheio de vida, a pezar
dos soldados que o guardavam. Sámsão, morrendo , faz cabir o tem-
plo de Dagão. Nosso Senhor; morrendo , derriba o templo do de-
monio , isto· é, .a idolatria. Samsão , morrendo, causa maior mal -
aos Philistheos do ·que em toda ·a _sua ''ida. Nosso Sonhor , mor-
rendo , causa maior mal ao demonio , e faz maior numero de Dis-
cipulos do que em toda . a sua vida.
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DE PEftSEVEIUMÇA. 179
Por esta figura vemos tres no''ªS feições no divino retrat<> do
Messias. Revela-nos 1. º que elle nascerá por um modo milagroso ;
2. º que escolherá a Igreja·, sua esposa, enlre os gentios ; 3. º que
por sua morte ganhará sobre o clemonio uma completa victoria, que
será como o rema~e de todas as suas obras.
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos dou graças por ter-·
des dado a Samsão o vosso êspirito de fortaleza , para destruir os
inimigos de vosso povo ; dai-me, Senhor, o mesmo espirito , para
vencer os inimigos da minha salvação.
Eti protesto amar a Deus sobre lodas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho desle
amor, fugirei com diligencia ás occasiões do peccal(o .
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1SO CATECJSJIO
XXXIV.ª LIÇÃO.
Heli, juiz d'lsracl. - Samuel lhe saccede. - Eleição dos reis. - Saul,
primeiro rei d'Israel. - E' rejeitado pelo Senhor. - David, joven
pastor, escolhido cm seu lugar. - David aplaca os furores de Saul.
- Combale com Galialh. - Morte de Saul. - David Loma a fortaleza de
Sião - TransporLe da Arca. - Oza ferido de morte. - David dan-
ra diante da Arca. - Sexta promessa do Messias feita a David.
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I
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182 • CATECISMO"-.
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DE PERSEVERANÇA. t83
Oolialh um gigante, feito desde a infancia no exercicio das armas !
Poren1 David insistiu · dizendo : Na protecçãQ de Deus confio ; não
nas minhas forças , nem no meu valor.
Tanta piedade e ousadia cm um mocinho·, persuadiram a Saul
que Deus o enviava. Vai pois , meu filho, lhe ilisse, e o Senhor
·seja comtigo. Então lho poz o seu mesmo capacete na cabeça ,
vestiu-lhe a sua couraça, e cingiu-lhe a sua espada. Começou Da-
vid a dar alguns passos , a ver se -estas arma~ o não vexavam; e
Jogo disse para Saul : Não posso caminhar assim veslido de ferro,
não estou acostumado a estas cousas : e largando logo a armadu-
ra, toma o seu cajado de Jlastor, esco]he no fundo da torrente cin-
co pedras das mais puiclas , mette-as no alforge, lança mão da sua
funda, uespede-se do rei, e marcha ao encontro do Philistheo. ·
Goliath o -viu avançar para elle ; mas quando conhceu que era
um rapaz , um menino de tez delicada , nada lendo de notavel se-
uão a belleia de seu rosto, julgou que o insultava; e cheio de de~
peitÔ e colera grita-Jhe cpm a sua voz açanhada e de Estentor : O'·
, lá! sou eu um cão, para me vires atacar armado de pao? Chega~
te, que te quero dar de pasto ás aves do Ceo , e ás bestas da
terra.
Eu venho em nome do Senhor dos exercitos , lhe respondeu
David, em nome do Deus das fileiras d'Israel, a quem não temeste
.insultar ; é eHe que te , vai entregar em minhas mãos , a fim que
toda a terra saiba que ha um füus em Israel.· Ainda bem David
não tinha acabado, o gigante avançava para o acommelter : lambem
David lhe sahia ao encontro. Os dous exercitos aguardavam em
silencio o successo deste famoso combate. Davi'1, sem perder tem-
po, leva a mão ao alforg.e, tira uma pedra, ageita-a na funda, des-
pede-a , e fere o inimigo no meio da testa com tal vigor , que lhe
enterrou a pedra pela cabeça dentro. O gigante baquéa, desaba em
terra com espantoso ruiqo. David lança-se sobre ellc , arranca-lhe
a espada , e decepa-lhe. a cabeça.
Ao ver isto, os Philistbeos não souberam mais que fugir : os
Israelitas os perseguiram com grandes grilos , e fizeram nelles hor~ ,
ri--vel matança. David , na volta do combaie , foi apresentado a
Saul. Trazia elle na mão a cabeç,a de Golialh, como um tropheo
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da sua vicloria. Saul, acompanhado de Da\·icl e de lodo o exer· .
eito, regressou para o interior do seu reino. Em todas as cidades
por onde passavam, sabiam as mulheres ao encontro do vencedor.,
e dançando ao som d'instrumenlos, diziam: Saul desbaratou mil Phi.:
lislheos , mas David matou dez mil. Este elogio excitou a inYeja
de Saul, que por isso buscou matar David, que se salvou pela fu-
ga. Alguns annos depois, Saul morreu n'uma batalha, e David foi
rec<>nhecido rei, primeiro pela Lribu de Juda, e depois pelas outras
onze lribus d'Israel. Começou elle o seu reinado por uma expedi-
ção mui gloriosa. - '
Jerusalem, a mais bella , grande e forte cida<le da Terra pro..
mellida, ha muito que estava em poder dos filhos d'Israel , que
tinham exterminado seus habitantes ; mas uma _p·arle delles havia-
se retirado para a cidade alta, situada sobre a monlanba de Sião,
de que tantas vezes se faz menção na Escriptura. Alli occupavam
uma ~ida deli a tam forte que se considerava inexpugnavel. Quatro-
cen los annos havia que os Hebreos em vão tentavam tomai-a. ·na..
vid pois lhe poz ce1·co e intimou os habitantes para que se' rendessem ;
as quaes responderam com chufas: David, diziam elles, tu não e.n-
lrarás na fortaleza de Sião ; tememos tam pouco os teus esforç.os,
que empregaremos os cegos e os · coxos para te resistir. Não se
espantou David da insolente resposta. l\landou publicar p_or todó
o exercito que aquelle que primeiro montasse á muralha de Sião ,
e matasse aquelles cegos e coxos que lhe ·resistiam, receberia em
recompensa o titulo de general dos seus exercitos. Joab , sobrinho
de David, foi o heroe que teve esta honra. Tomaram a fortaleza
d'assalto, e alli edificou David o seu palacio. Assim se tornou Je-
rusalem a capital do reino , residencia dos reis : e pouco depois a ·
séde da Religião , pelo transporte que para alli se fez da Arca · da
alliança. .
Darid, que tinha ainda mais Religião do que vàlor, formou o
designio de collocar a Arca do Senhor na fortaleza que a~~bava de ·
conquistar ; -e o povo acolheu a proposta com applauso. l\Iandou
pt·eparar no seu palacio um magnifico pavilhão para a receber. Con~
vidaram-se os póvos por toda a extensão da Palestina a que ' ies-1
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l>E PEllSEvERANÇA:. 1.sa
ram frmta m11 homens escolhidos. David poz-se á frente delles, se~
.guido por quasi toda a tribu de Juda , e subiram á collina onde
estava a casa de Abinadab, a quem fora confiado guardar a Arca.
Trouxeram um carro novo, tirado por bois que ainda não tinham
servido 1 e n'elle collocaram a Área santa.
Acompanhava o preslito um povo immenso. O mesmo rei, cer·
cado de musicos e tocadores de ioda a sorte · de instrumentos , vinha
adiante e fazia cantar os bellos Psalmos· que elie tinha composto ..
Chegaram perto de Jerusalem, com transportes d'alegria e senlimen-
Los de devoção, que mal se podem exprimir ; mas aqui occorreu
um accidente que perturbou este. jubilo" Começaram os bois a agi-
tar-se com violencia. Inclinou-se a Arca e pareceu em perig-0 de
cahir: um lelita chamado Oza alçou a mão para sustei-a. A lei
defendia; sob pena de morte, aos simples levitas., o iocar na Arca
do Senhor. Para hlspirar a este povo reunido o profundo s~nli ...
mento de respeito que a sua presença merece , feriu Deus de mor.te
o. lemeratio Oza. ,.
O rei, atletndo ao ver tal castigo, nâo ousou, como primeiro
ten~ionara; receber a Arca em seu palacio. Determinou deposilal-a
em casa d'um homem vfrtuoso que se .chamava Obededom ; onde fi..
cou por trcs mezes , e foi para o feliz Israelita um manancial de
bençãos. Então David, animado pelos favores que acompanhavam
a Arca, resolveu de novo transportai-a para o seu palacio; mas to ..
mou escrupulosamente todai as precauções que tam santo deposito
demandava.
No dia assignado veio o rei com os anciãos d'lsrael e os offi·
eiaes do exercito a casa d'Obededom. Tomaram os sacerdotes a Ar•
ca sobre os hombros, e quando tinham dado seis passos , immola-
vam uma victima. O rei tinha despido os seus ornamentos reaes ;
e vestido, como os levitas,. um habito de linho fino. Desta manei-
ra caminhava. á frente do cortejo, acompanhado de. sete coros de
:Qinsicas, tocando a sua harpa, e animando com seus canticos a a-
legria publica. Todas as vozes e instl'Umentos lhe respondfam • e
clle mesmo . dançava diante da Arca em signal d'alegria_ Cot...
locada . que foi uo lugat· que lhe estava preparado, terminou o
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186 CATECISMO
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DE .PERSEVERANÇA. 187
· magnificas ? E' Salomão ? Não, pois que Salomão não é Filho de
Deus, e filho de David ao mesmo tempo, e a eternidade nã-0 pode
convir a um puro homem, e a um reino temporal. .' Quem é pois
este filho de David, que o Senhor aqui prometle ? E> evidentemen..
te o Messias Nosso Senhor.. De facto, só Nosso Senhor é Filho de
Deus e filho de David ao mesmo tempo : só Nosso Senhor é eterno;
só elle consolidou para sempre o throno de David , pois que é na
qualidade d'Ilomem Deus , Filho de Deus e filho de David , que
t~lle reina e reinará sempre no Ceo e na terra.
Esta promessa ajuda-D-Os muito a reconhecer ·º l\lessias : a:pri-
meirn promessa feita a Adam annuncia-nos um Redemptor, sem nos
dizer o tempo nem o lugar do seu nascimento, nem o povo de que
ha de sahir ; a segunda, feita a Abraham, diz-nos que nascerá da
posteridade d' Abraham; a terceira, feita a Isaac, ensina-nos que nas·
cerá delle ; a quarta, que nascerá não d'Esaú, mas de Jacob; a
quinta, feita por Jacob moribundo, adverte-nos que sahirá da trib.u
de Juda ; em fim esta ultima revela"."nos que ~er4 da familia de
David. D'ora em diante, todas as nações d.o mundo, as demais tri-
bus d'Israel , e ainda as familias da tribu de Juda, não descenden- ,
tes <le David, são todas excluidas. Não teremos que buscar em ou...
tra parte o Salvador do mundo, senão só na familia deste santo
rei. E' assim que chegamos, de degrao em degrao, a pôr o dedo,
para ;\ssiiµ c.lizer, no menino de Bethlem.
o· meu Deus 1 que sois todo amor, eu vos dou graças por ter-
des enchido de beneficios o santo rei David ; e mais pela nova pro-
messa do l\lessias que vos dignastes faler-lhe. Permilli , Senhor,
que eu seja como David na humildade, piedade, e viva gratidão a
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18S CATECISMO
XXXV.º LIÇÃO.
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DE Pl!'RSEVEIANÇA. 189
David, commovido das reprehensões do Prophela, cabio eni sl, e
conheceu o seu crime. Esquecido da dignidade real e somente lem•
--- brado do seu peccado, a si mesmo se condemnou , sem procurar
desculpas. Pequei contra Deus , disse elle , penetrado de dor, -
e com humilde submissão aceitou todos os males que Nathan lhe
predisse cahiriam em sua familia. O Senhor, que jámais rejeita um
, coração contricto e humilhado , mandou-lhe dizer pelo mesmo Pro-
pheta, que o restituia á sua graça ; mas por amor da sua glo1·ia, e.
por interesse do mesmo penitente, lhe fez expiar os crimes que lhe ·
tinh~ perdoado. .
Absalom, um dos filhos de David , revo1tou..,se conlra seu pai.
Tinha elle grangeado a atfeição do povo, fazendo-se popular. To-
das as manhãs se punha á porta do palacio, e quando algum Israe-
lita vinha ll'atar negocios com David, Absalom se cbegava com mui-
ta urbanidade, e lhe fazia mil caricias. Contai-me , dizia elle , o
que vos traz á corte. Quando lhe satisfaziam a curiosidade :~ Na
verdade, acrescentava elle, na<la é mais justo e razoavel do que o
que pedis ; mas que vos vale ter justiça ! O rei a ninguem nomeou
para attender ás reclamações de seus subtlitos ! Se eu tivesse al-
guma aucloridade em Israel , para julgar os subdilos do rei ; te-
riam um facil accesso, eu ouviria a todos ; sacrificar-lhes-hia o
meu repouso:, e daria sentenças com equidade e justiça. Se alguem
o cortejava, estendia-lhe a mão ou abraçava:...o. Com todos conver-
sava e tratava familiarmente ; de sorte que ninguem se despedia d' el-
le que não fosse encantado do seU' caracter affavel , officioso e
meigo.
Com estas falias e. maneiras seductoras, grangeon Absalom um
grande numero de parlidarios ; e quando lhe pareceu ser occasião
opportuna, sahio de Jerusalein com pretex.Lo d'ir cumprir um voto.
Acompanharam-no seus parciaes , a elle se fe~ acclamar rei. A es-
ª
ta nova, veio o ·povo em multidão juntar-se eHe, e marcha1·am pa-
ra Jerusalem.
Para evitar maiores males , resolveu David tomar a fuga. Sa-
Jliu da-capital acompanhado de seus bravos soldad.os; tendo a este
tempo mais -de sessenta annos. Atravessou a torrente do Cedron, .e
subio a montanha das Oliveiras , com a cabeça cobel'la, e os
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CATECISMO
olhos alagados em lagrimas. Entretanto Absalom entrou trilimpl1ante
em Jerusalem. Tudo se prostrava diante delle. David da sua par-
te, cada vez se ausentava mais. Nesta triste jornada bebeu até ás
fozes o calis das humilhações. Um descendente de Saul , chamado
Semei, vendo David neste estado a que· o Senhor o reduzira, quiz
ter o cobar<le prazer de o insultará sua vontade-. Subio a uma col-
Iina , e seguindo David passo a passo , não houve improperio que
não soltasse contra elle ;e chegou a ponto a. insolencia de lhe
atirar pedras, e aos soldados que o acompanhavam. Um dos offi-
ciaes de David pedio ao rei lhe permitlisse ir castigar aquelle pe-
tulante ; o santo rei contentou-se com lhe responder: Deixai a esse
homem maldizer um criminoso que Deus pune, é o Senhor que se
serve contra mim da malicia de Semei , _e quem somos nós para
lhe pedir contas do seu procedimento?
Entre.tanto, a demora d' Absalom em Jerusalem deu tempo a Da..
vid de se apreslat· e engrossar o seu exercito. Os rebeldes por fim
pozeram-se em m.archa, e vieram acampar assaz perto das tropas
1·eaes. Dispozeram-se de parle a parte para dar batalha. David queria
eommandar o exercitopessoalmeule;mas representaram-lhe queeraneces..
sario pôr a sua vida em seguro. Uma nova, que a este tempo che..
gou ao campo de David, servio para animar a esperança do bom
successo. Achitophel, que tinha sido a alma da conspiração, o con-
selheiro d' Absalom , o traidor que entregara ao filho a corôa do
pai, cheio de despeito por se ·ver desprezado , enforcou-se em sua
propria casa.
David ehamou os seus lres generaes, antes de os enviar ao
eombale, e disse-lhes, na presença de todo o exercito : Sobre todas
as cousas conservai a meu filho Absalom. Vindo pois ás mãos, o exer·
cito rebelde foi derrotado: e o mesmo Absalom, d' envolta com os
que fugiam, embrenhou-se por uma floresta proxima : alli foi encon-
trado pelos soldados do exercito de David; os quaes, lembrados das
ordens do rei, o deixaram ir fugindo. l\lontava elle uma mula de
ext.rema velocidade, e corria a toda a brida , quando, ao passar por
baixo d'um frondoso carvalho, ficou travado , ou pelo pescoço entre
-dous galhos , ou -pelos cabellos na espessura dos ramos. A mula
• passou e o deixou suspenso entre o Çeo e a terra.
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DE PERSEVEWANÇA. 191
Neste estado foi descoberto pO'r uni soldado do exercito de Da-
vid, que foi a correr dizer a Joa_b : Eu vi o filho do rei no bos-
'Jue, suspenso d'um carvalho. Tu o viste, tornou este general , e
não lhe atravessaste o corpo com a tua espada? da·r-te-hia dez mQe-
das de prata, e um talabarte. l\Iil que me desseis , respondeu o
soldado, não levantaria mão contra o filho do rei; todos estavamos
presentes quando vos elle mandou que sobre todas as cousas con-
servasseis a seu filho Absalom. Pois já que não queres, tornou Joab,
eu mesmo o farei por minhas proprias mãos. Dito islo , tornou
tres dardos e roCao s1lio que lhe fora indicado. Alli achou o des-
graçado principe e lhe val'Ou o peito de tres golpes ; e co_mo ainda
latejava, suspenso sempre da mesma arvore • dez moços escudeiros
ou ajudantes de Joab foram-:;e a elle e o acabaram ás espaueira-
das : terrivel màs justo casligo d'um filho ittgrato e rebelde a
seu pai.
O general despediu logo um correio para levar a David a no:-
rn da vietoria ; o qual, em chegando, ajoelhou-se diante do mi, , e
lhe disse : Bemdilo seja o Senhor Deus de David, que confundio to-
dos os rebeldes. l\Ias o meu filho Absalom, tornou o 1·ei , o meu
filho, está elle vivo ? Em quanto o primeiro enviado procurava
1·esponder, chegou segundo a confirmar a nova da victoria. l\1as
vós não me fallaes d' Absalom , diz o rei , não lhe aconteceu mal ?
·Possam todos os inimigos do rei , meu Senhor! respondeu o correio,
sei· tratados como este filho rebelde! Da,·id comprehendeu o qu~
significavam estas palavra~. Insensível a ludo , e só pre~cupado
da morte de seu filho, nem inquiriu quaes foram as cfrcumstancias,
, nem os authores della, mas retirando-se á sua ca~ara : l\feu filho Absa-
1om, exclamava elle, Absalom meu filho, que não possa eu morrer
por ti ! Não dizia outra cousa, nem sabia outro nome de sua bo-
ca senão o de seu filho ; todo fóra de si, coberta a cabeça com o
seu manto, lornava a começar a mesma cousa : Absalom meu filho,
meu filho Absalom ! . O' alma cbristã ! Estas patheticas palavras
de David devem lembrar-te os ais muito mais sentidos de teu Salva-
dor, quando tens a desdita de perder a vida da graça pelo pecca-
do. Poderás ainda consentir em contristar o coração deste amoro-
so pai?
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192 C.\ TECISMO
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.
DE .
PERS.EYERANt~ A. 193
· Senbol' ! fui cu que pequei , fui eu que fiz o mal. Que mal
fizeram estas innocenles ovelhas? Descarregai em mim os gol-
pes, e na casa _de meu pai ; mas , eu ·vos conjuro, perdoai ao
vosso povo. ,
A oração de Davi<l era smcera : Deus não pôde resislir. . Jhc.
l\fandou ao seu Anjo que metlessc a espada na bainha. Eis como
peJo crime (fum só homem ó punido todo um povo; tanlo é ver-
. dade, como já_ dissemos, que, se os justos podem ludo para procu-
rar a seus irmãos as bençãos do Ceo, os máos não são menos po-
- derosos para attrahir maldições e castigos.
Chegava David aos seus setenta annos. Suas grandes fa-
digas o tinham em extremo enfraquecido ; entendeu que se a-
proximava a sua morte. Mandou pois chamar Salomão , seu
filho e succcssor , para lhe dar. suas ultimas inslrucçõcs. Es~
tou proximo a morrer , meu filho , lhe disse elle , tem animo e por-
ta-te como príncipe genocoso. Observa os mandamentos do ~c
nhor Leu Deus , a fim de mereceres as suas bençãos e consolida-
res a tua corôa.
Depois d'outros conselhos relativos ao governo , adormeceu
David nff seu ullimo somno , e descançou com seus pais ,
cheio de <lias e de meritos·, respeitado e querido de seu po-
vo , que mais governou como pai que como í·ei ; amado de seu
Deus , a quem teve a desgraça d'offender nos mais beJlos dias
da sua vida, não obstánle ter passado sua mocidade no tra:..
balho e innocencia , mas com quem se reconciliara pelo fervor
da sua penitencia e humildade de sua s~1bmissão. Rei segun-
do o espirilo de De_us , ao mesmo tempo foi o· pai ; o propheta.
e a figura do Messias .
. Com effeito , David nasceu em Bethlem. Nosso Senhor nasceu
cm Bethlem. - David é agradavel a Deus, que o escolhe para .set·
o rei e libertador de seu povo. No so Senhor é o objeclo das com-
p1acencias do Pai, que o escolhe para ser o Rei e Libertador dos
homens. - David e chamado para aplacar os furores de Saul 1 de
quem o cspirilo maligno se possuira. Nosso Senhor é chamado a
expulsar os demonios e aniquilar o seu imperio. - David , armado
.só d'um páo e urua funda , vai ao encontro de Golialh que : pór
25 II .
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CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. 195
nhor sabe lriumphante do tumulo, e recebe as homenagens do
mundo inleiro. _
- Esta figÚra mostra-nos dous novos caracteres do Messias : 1. º
será Rei , mas rei clemenlissimo ; 2. º não conseguirá fundar o seu
imperio senão á forç.a de trabalhos e _contraclicções.
OBA.Çl.O.
O' meu Deus ! que sois tooo amor , eu vos dou graças por
haverdes perdoado com tanta bondade ao santo rei David: dignai-
vos perdoar-me coin a mesma misericordia, e dar-me sempre um
coração conlricto e humilhado, com uma grande sinceridade na con-
fissão de minhas culpas.
Eu protesto amar a D~us sobre todas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor do Deus ; e , em t~stemunho deste
amor , ntio estarei jamai·s ocioso.
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19G CATECfSMO
XXXVLª UÇ.\O.
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DE PtRSEVElt4.NÇA, 197
appareceo-lhe em sonho e disse-lhe : Que queres tu de mim? Pede
e serás ouvido. O' Senhor! respondeu Salomão , vós me fizestes
. reinar no lhrono de David meu pai , mas eu não sou mais que uma
criança inexrerienle, que não sabe conduzir, nem governar um povo:
peço-vos um animo docil , um coração recto, em uma palavra, a
sabedoria necessaria para o governo.
Desejos tam puros não podiam deixar de ser ou,·idos de Deus.
Pois que me pedes isso, lhe disse o Senhor, e não todos esses bens
que lisongeam a ambição e cobiça dos reis , a dilalad a vida , as ri-
quezas, a gloria , , concedo-te o que desejas ; terás uma sabedoria
como nenhum homem ainda Leve, nem terá jamais depois de Li.
A este favor ajuntarei o que me não pediste , riquezas , prosperi-
dade , e gloria.
A estas palavras despertou Salomão. Cheio d'ti:n novo fervor ,
vai a Jer~salem, e offerece numerosos sacrificios, para Leslemunhar
ao Senhor o vivo reconhecimento de que estava penelratlo. Pouco
depois ~posou a filha do rei do Egyplo , e lhe mandou edificar um
magnifico palacio.
Entre tanto florecia sen reino· em paz e prosperidade. Os povos
visinhos procuravam sua amisade com tribulos, presentes, e embaixa-
dorns. Os Israelitas, ao abrigo de seus insultos, gozavam uma ditosa lran-
quillidade. Ajuntavam-se as familias sem inquietações nem receios á
sombra das vinhas ou das figueiras, para alegres colherem seus fru -
clos, e fazerem seus innocenles banquetes. D'uma a outra extre-
midade do reino , ·não se ouvia fallar de perturbações , nem cont('n-
das , ·nem esterilidade , nem indigeocia. Taes foram os fruclos de
benção , de que o novo rei achou as sementes no seu acc('sso ao
throno. Bastava-lhe só cullival-as em paz , e augmentar a magni-
ftcencia d'um Estado que lhe deixaram opufonto , parecendo ser a
sua principal missão o cmprehendcr e acabar a grande obra da edi-
ficação do templo.
Sabia elle com effeilo, que era para isso que o Senhor lhe po-
sera a coroa na cabeça , e ·não perdeu um momento em cuidar na
empreza. A primeira cousa que fez foi escrever ao rei de Tyro,
chamado Iliram , antigo amigo e atliado de David, dizendo-lhe : Tu
sabes qual foi o desígnio do rei meu pai , e q.ue lhe não fo i possi-
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198 CATECISMO
vel edificar um templo á gloria êlo seu Deus, pelas continuas guer-
ras·, que se vio precisado a sustentar de todas as parles· em todo
o tempo do seu reinado. Eu porem tenho agora o mesmo designio;
mas careço do teu auxilio nesta grande empreza. Preciso d' cxcel·
lentes obreiros, bem como d'uma grande quantidade de madeira de cedro
do Libano; tu só me podes prover d'ambas estas cousas. Não quero
1>0rem que este obsequio te seja penoso. Estabelece tu mesmo o
preço , e estarei pelo que estipulares. Hiram estimou muito a carta,
e apressou-se a enviai· a Salomão todos os cedros e obreiros de que
preciza'va. Immedialamente se começou a obra.
Trinta mil homens se occupavam em cortar as arvores e prn·
parar as madeiras, mdo por turnos dez mil cada mez para o monte
Libano ; oitenta mil trabalhavam .em tirar a pedra ; setenta mil ,
em fazer a~ conducções; e lres mil e seiscentos, em dirigir os tra. .
b;;ilhos. Todas as petlras e ma.deiras, quando as traziam , já vinham
apparelhadas para se collocarem em seu lugar ; de sorte que se não
ouvia no templo o baler do marleJlo , oQ. do machado em quanto
se edificava.
Lançaram-se os primeiros fundamentos deste grandioso edificio
no quarto anno do reinado de Salomão ; quatro cenlos e oitenta ,
depois da sabida do Egypto ; mil , antes do nascim ento de Nosso
Senhor. Foi construido segundo .o modelo do Tabernaculo~ que ~foi
sês tinha erigido no deserto, e do qual o Senhor mesmo tinha dado
a planta. Toda a differença consistia na magnitude das dimensões e
· riqueza dos ornatos.
O templo linha quatt·o pa~·tes.
1. 0 O atrio d' Israel. Era um vasto pateo cercado de galerias,
e edificios , que serviam para alojar os ·sacerdotes , e guardar os
thesouros do templo e os vasos destinados ao culto divino. Toclos
os Israelilas podiam entrar neste primeiro rednto.
2. º O atrio interior. Era um pateo menos amplo · que o pri-
meiro mas igualmente cercado de galerias e edificios. Ordinaria·
mente só entravam. nelle os sacerdotes. Tinha no centro o altar
dos holocaustos , e uma grande bacia ele bronze , onde os sacerdo-
tes se punficavam antes de exercer as suas funcções. Era alli que
·se queimava a carne e a go~dnra das vielimas.
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DE PtRSEVERANÇA. 199
3.º O Santo. Adiante do alrio interior, eslaYa a parle chama-
da o Santo ou o lugar santo. No meio deste novo recinto havia
um allar d'ouro, chamado altar dos perfumes, sobre o qual se quei-
mavam, de noule e de dia, a1·omas d'excellente fragrancia ; tinha dez
candieiros d'ouro , de muitas hastes , que sustentavam alampadas
d'ouro, que o mesmo Summo Sacerdote devia conservar constante-
mente acesas. Estàvam. tambem alli dez mezas d'ouro para receber
os pães de proposição. Eram doze pães sem fermento, que todas as
semanas se renovavam. Só aos sacerdotes s~ Jlermittia comer os que
se tiravam.
4.º O Santo dos Santos. Nesta parte do templo·, a mais sanla
e a mais tremenda, estava collocada a Arca da alliança. Era todo
forrado por dentro e por fora de finíssimo ouro. Ninguem alli po-
dia entrar senão o Summo Sacerdote , e esse mesmo só uma vez
cada anno. Todas estas· immensas fabricas, que formavam uma grande
fortaleza , tinham o nome de Templo.
A construcção deste augusto eclificio , uma das maravilhas do
mundo , durou sete annos. A dedicação fez-se com inaudita magni-
flceneia. Prestemos attenção á sua interessante historia. Todos os
anciãos de Israel, todos os chefes das tribus e um povo innumera-
vel, apresentaram-se em Jerusalem no dia que o rei linha indicado.
Foram buscar primeiro a Arca da alliança do lugar onde estaYa de-
positada :-era levada pelos sacerdotes. Vinha á frente delles o Sum-
mo Ponlifice Sadoc , precedido de mais cento e cincoenla sacerdo-
tes , filhos d' Arão , os quaes , ao som de suas sagradas trombetas ,
rompiam a marcha e apregoavam o triumpho do Deus d'lsrael. Se-
guia-se o rei acompanhado dos .chefes de familia , dos officiaes e de
toda a sua corte. Vinha. depois , mas na melhor ordem 1 a mul-
tidão immensa do povo.
Esta marcha. triumphal era interrompida por paradas regulares ,
durante as quaes reteniam os ares com o som das trombetas e de
todos os instrumentos musicos , aos quaes respondiam os córos que
cantavam uníssonos. Quanto é grande , quanto adoravel, mas sobre
tudo quanto é arnavel, quanto é bom, o Deus d' Israel? .A sua mi-
sericordia estende-se de secido a seculo, e perpetua-se até á consum-
mação dos tempos! Cada vez que a Arca parava, o que se fazia
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200 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA.
var e bemdizer ao Deus de seus pais, cantando canlicos em hônra
de sua infinita bondade eeterna misericordia.
Durou sete dias a solcmnidade da dedicação·, aos quaes se accres-
centaram outros sete por causa da festa dos Tabernaculos. No dia
decimo quinto retirou-se o povo cheio d'alegria e fervor.
A reputação <le Salomão em breve se divulgou por todo o Oriente.
Uma princeza celebre , maravilhada do que a fama apregoava delle,
quiz ~ertificar-se da verdade. Era a Rainha de Sabá. .J-\presentou-
se em Jerusalem com um cortejo digno da magestade real, de que
estava revestida ; e da grandeza do re.i a quem visitava. Salomão
a recebeu com uma sumptuosidade que a principio a deslumbrou.
l\Ias o que ella mais pretendia era averiguar as qualidades pessoacg
do rei d'Israet Fez-4he pois as mais tlifficeis perguntas , a que o
principe satisfez com prodigiosa facilidade. Tantas maravilhas , tanta
_ sabedoria , fizeram tal impressão na rainha estrangeira , que ficou
como fora de si, sem poder dizer palavra.
O auge de gloria a que Salomão se vio exaltado, por lam es..
plenuida e lisongeira visita, parece que foi o lermo da sua sabedoi·ia, é
o escolho da sua innocencia. Elogiado por toda a parte , e111 paz
com os antigos inimigos do seu povo, adorado no universo, respeitado
de seus subditos, sem cuidados no interior , depois que terminou suas
reaes emprezas, tudo isto o foi avisinhando a pouco e pouco do precipício
em que se despenhou emfim pela seducção do prazer , de que uma
\'irtuosa mocidade nem sempre põe a coberto os derradeiros annog
d'uma velhice vergonhosa. Salomão., o rei dos reis, o sabio por
excellencia , o favorecido do Ceo , é vencido por ignobeis paixões.
Depois de ter edificado o. primeiro templo ao verdadeiro Deus , ado-
rou tantos falsos deuses quantos lhe deram a conhecer mulheres es-
trangeiras. Espantosa queda , que nos faz gelat· de medo !
O Senhor , justamente irritado das desorcÍens deste principe ,
enviou-lhe um Propheta que lhe disse da sua parte : Por isso que
não guardaste a fidelidade que me devias , dividirei o teu reino e
darei uma parle delle a um de teus servos , não o fârei comtudo
em lua vida , em consideração de David; inas será no reinado de
teu filho , que cu verificarei esla ameaça. Não lhe tirarei o reino
inteiro ; por causa de David ,· meu servo ? lhe deixarei uma lribu ,
26 II
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202 CATECISMO
e a cidade ele Jerusalem, que escolhi para fazer adorar n~lla o meu
santo nome ; eu lh'a conservarei, a fim que o meu sel'vo David le-
nha sempre uma alampada, que brilhe diante dclle; isto é, uma fa-
isca da sua progenie.
Salomão morreu depois d'um reinado de quarenta annos , cujos
principios, sabios o gloriosos, prornelliam as mais felizes consequen-
cias. Ignora-se. se se arrependeu ·das suas culpas anles de appa-
recer no lribunal de Deus. Como quer que seja , Salomão é , como
David seu pai , uma das grandes figuras do l\Ie3sias ; mas do l\Ies-
sias glorioso e triumphante.
Com effeito, Salomão, gozando das viclorias de David seu pai ,
sobe ao throno e reina em paz sobre seus inimigos vencidos. Nosso
Senhor , gozando de suas victorias e de seus trabalhos , sobe ao
mais alto dos Ceos , ao throno de seu pai , e reina em paz sobre
seus m1m1gos. Salomão recebe por esposa a filha d'um monarcha
estrangeiro. Nosso Senhor escolhe a Igreja , sua esposa , entre os
genlios, estranhos ao povo Judaico e á vercladeil'a Religião. Salomão,
por esla alliança, encorpora com seu povo esta princeza estrang-0ira,
e a enche <l'bonras. Nosso Senhor , por sua alliança , purifica a
·Igreja ., faz della seu povo, e a enche de graças na terra e de
gloria no CeQ. Salomão edifica um tempo magnifico ao verdadeiro Deus.
Nosso Senhor transforma o mundo, que antes não era mais que um vasto
templo d'idolos, cm um templo do verdadeiro Deus. Os Judeos e os Tr-
rios unem-se para construir o templo de Salonião. Os J u·deos e os Gen-
tios unem-se para fundar a Igreja , templo do verdadeiro Deus. E'
Salomão quem convida os estrangeiros a tomar parte com seu povo
nesta grande obra. E' Nosso Senhor quem chama os Gentios , para
formar ~ com os Judeos , o grande edificio da Igreja. E' Salomão
que communica aos obreiros o . plano t.la obra. E' nosso Senhor que
revela aos J udeos e Gentios o plano da Igreja , o meio de a esla-
belecer, seus combates , suas .victorias, seu triumpho no Ceo. Salo-
mão emprega muitos mais estrangeiros do qne Judeos na constrnc-
ção do templo. Nosso Senhor emprega muitos mais Genlios do que
J udeos na edificaç.ão da Igreja. Salomão manda lançar no fu11da-
menlo do templo grandes pedras de consideravel preço. Nosso Se-
nhor chamou-se a si mesmo a pedra angular , a pedra fundamental
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DE PERSEVERANÇA. 2.03
da Igreja. Salomão manda apparelhar longe do templo todas as pe-
dras que devem servir na sua construcção. Nosso Senhor manda
purificar na terra todos os Fieis que devem um dia entrar; , como
outras tantas pedras espirituaes , na edificação da Igreja celestial.
o cinzel e o martello tiravam as pedras tudo o que tinham d'aspero
e superíluo. E' pelo cinzel da mortificação e o niartello da penitencia que
se tiram de nossas almas as asperezas e superfluidades, islo é, os affectos •
desregrados e a soberba. Ao ouvir a fama da sabedoria de Salomão, arai-
nha de Sabá, sahe de seu reino , Ao ouvil' o nome de Jesu-Christo Nosso
Senhor , as nações sahem do imperio do demonio. A rainha de Sabá
admira a sabedoria de Salomão e a felicidade de seus povos. O mun-
do aJmira lambem a sabedoria de Nosso Senhor e do seu Evangelho,
reconhece a felicidade d'aquelles que vivem como Christãos , sup-
. posto que nem sempre tenham os mundanos a coragem de os imitar.
A p inha de Sabá offcrece ricos presentes a Salomão. As nações
tcem offerecido a Nosso Senhor seus corações e riquezas.
Todas as figuras precedentes mostram-nos o Redemptor perse-
guido, padecente , eíferecendo um sacrifício, combatefülo contra seus
inimi()'os : esta nol-o representa ao contrario triumphante , lrai)quillo
e glorioso. D esl'arte, totlas as figuras -reunidas descrevem-nos a vida
completa· do Redemptor : vida de trabalhos na terra , de gloria e
bemavenlurança no· Ceo.
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos dou graças por ha-
verdes escolhido uma habitação entre os homens : inspirai-me um
profundo respeito pela vossa Igreja , e mais por mim mesmo , que
sou vosso templo vivo. · '
Eu protesto amar a _Deus sobre todas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho deste
amor , cont.ribufrei segundo as minhas posses para o ornamento das
Igrejas.
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20i CÃT&CISMO
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DE PERSEVERANÇA. 203
que se concedesse ao povo o que pedia. Roboam porem não gostou deste
_conselho , e convocou um bando de moços corlezãos , educados com
elle nas delicias da coi·Le, a quem propoz a mesma questão. Estes pois
lhe aconselharam que estabelecesse a sua auctoridade por um golpe
vigoroso, e o determinaram a 'responder asperamente , clizendo ao
povo : Meu pai ~os impoz um jugo pesado , e eu o farei ainda mais
insupportavel ; n,.eu pai vos castigou com varas, e eu vos castigarei
eom um azonague armado de pontas de ferro. Deus permiltiu q~e
este conselho prevalecesse.
A resposta do rei excitou uma geral sublevação ; $epararam-se
dez tribus de Reboam, ficando apenas em sua Õbediencja a tribu
de Juda e a de Benjamin. Assim se cumprio a aqieaça que o Se...
phor havia féito -a Salomão.
A nação judaica ficou pois dividida em dous Estados. O das
dez tribus tomou o nome de reino d'lsraeJ, o Qutro chamou-se reino
de Juda. J ernboam , chefe do reino d' Israel , estabeleceu sua resi- •
dencia n'uma cidade chamada Sichem. Sessenta annos depois, Anll'i,
um dos seus successore~; mandon edificar a cidade de Samaria ,
que foi a capital do rei_l}Q 4'1srael , como Jen1salem a do reino de
,Juda. · ~
Jeroboam , temendo que as dez tribus se reuníssem a seus if.,.
mãos de Juda , prohibio a seus subdilos de irem sacrificar ao tem-
plo de Jerusalem. Erigio pois dous bezerros d'ouro, a que deo o
nome de deuses d'lsrael, e os fez adorar. , Conservou comludo a lei
de Moisés , que interpretava segundo a sua phantasia.; porem man-
dava observar quasi todo o regimen exterior, de iiorte que o Pentateuco
foi sempre tido em veneração pelas tribos separadas. Do meio desle
reino scismatico permittio o Senhor , cuja misericordia é infinita,
que salusse um homem que foi uma das mais bellas figuras do Re-
dernptor, fallamos de Jonas : Propheta e figura do Messias simulta-
neamente , foi elle , para assim dizer , a transição das figura~ para
as prophecias .
..Depois de ter por muito tempo exhortado o reino d'lsrael a re-.
nunciar seus falsos deuses , foi enviado a prégar a penitencia aos
pabitanles da cidade de Ninive. Vai, Propheta, lhe diz o Senhor,
v~j ~ grande cidade de Ninive ; annuncia a se"us habitantes que o
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206 CATEClSl\fO
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DE PERSEVF.~ANÇA. 207
lavam. Pegai de mim, lhes disse Jonas, e lançai-me ao m&r: o
Senhor fará cessar a tempestade. O conselho de Jonas não lhes a-
gradou. Como se vissem todos em termos de morrer , não podiam
os passageiros resolver-se a tirar a vida a um estrangeiro , que se
Linha confiado nelles. Esforçaram-se por tomar terra á força de
remos ; mas nada conseguiram. Então tomaram o partido que o
mesmo culpado não cessa''ª de lhes suggerir. Lançaram Jonas ao
mar, e no mesm~ instante serenou a tempestade.
Não se esqueceu o Senhor do seu Propheta : conduziu para alli
um peixe de monstrnoso tamanho , que cngulio Jonas e o livrou do
naufragio. No ventre desta balea permaneceu o Propheta por tres
dias e lres noutes. (1) E' um milagre tal como o da conservação
dos trcs meninos na fornalha de Ilab1 l~nia ; mas os milagre nada
cust.am áquclle que creou o uni verso 1 e dispõe ele todas as ereatu-
ras a seu bel prazer. (2)
Supposlo nos não seja hcito prescrular os conselhos do Altissi-
(1) Crê-se que este peixe não era uma balea propriamente dita,
senão um uaquellcs grandes ,cclaccos, rujo esophago offrrecc livre pas-
sagem a um homem ~· ivo.
(~) Quando atacaes um milagre da Escriptura, deveis atacar todos _
e a Escriptura mesma, ou receber todos com os Livros Sagrados que os
conlccm. Aut omnia divina miracula credenda sunt, aut hoc cur non crcdatur,
cansa nu lia cst. S. Agost. Epist. 102 in qurest. 6 de Jonas, n.º 31. Direis que
este milagre de Jonas ó mais extraordinarío que os outros'/ Responderei
\Himeiro que não é logico negar um facto por cllc ser cxtraordinario, S('Dão
porque não está bem provado. Perguntarei em segundo Jugar, se a
conservação de Jonas, no ventre d'um monstro marinho, é mais extraot-
dinario que a resurrcição ue Llzaro, morto de quatro dias, ou a de J.
C., trcs dias depois da sua crucifixão? Todavia uão podeis negar estes
factos, mil vezes mais hem provatlos que os de Socrates, dos quncs nin-
gncm duvida, nem pode duvidar sem rejeitar toda a certeza hislorira.
Nem tam pouco se diga que o milagre de Jonas é impossi\'cl, porque
então vos perguntaria quem vos deu o direito de _pôr assim limites ao poder
do Crcador, e ele dizer ao Allis5imo : Até aqui virás,· mas não passarás
adiante. A scicncia moderna nega todas estas pretcnditlas impossibili-
dades, e vos atira a luva para que proveis alguma no facto de Jonas. .
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!08 CATECISMO
mo, e o bom senso nos diga que Deus nada faz sem rasões dignas
da sua infinita sabedoria, embora nós as não conheçamos , todavia
parece natural ver no milagre de Jonas dous prinêipaes molivos. Q
Senhor envia O' P1·opheta a um povo pagão, ao meio d'uma cidade
immensa, entregue às criminosas distracções dos prazeres. Ora, como
receberiam seus voluptuosos habit~ntes este estrangeiro, cabido, para
assim dizer, do meio das nuvens, sem caracter nem missão? Comct
ouviriam, as duras palavras deste lugubre Propheta, que lhes vinha
impor 0' mais penoso de todos os sacrificios, qual é o das proprias
paixões ? Não tedam direito de lhe :pedir as- suas cartas· creden-
ciaes 'l E, em quanto as não mostrasse , seriam culpados em o con-
siderar conlo impostor~ Ao contrario , se· virem em Jonas , cuja
miraculosa hisCoria a fama divulgava,. um Propheta que , por lhes
annunc1ar a imminente ruina de sua cidade , quitera subtrahir-~e
pela fuga á poderosa vontad·e d·e Deus que o enviava , ·mas .a
quem as tempestades e os monstros mnrinhos forçaram a cumprir
sua missão ; qu·e effeito não deveria produzír em seus animos a
pregação ·d'um tal homem, conservado tam milagrosamente por tres di-
as e tres rroules no ventre d'um pefxe, e a qu~m Deus livrara des-
te horrendo carcere, unicamente para pregar a penitencia em Nini-
ve !~ D'est'arte nos quer parecer que o primeiro molivo do mila-
gre é auctorizar a divina missão de Jonas.
O segundo, é dar a Lodos os seculos uma eloquente propbecia
do artigo mais importante da nossa fé: a resurreição de Jesu-Chris-
to. Este segundo motivo, _viuculando· o facto de Jonas ao plano
geral da Providencia, que queria fossem figuradas e· preditas todas
as circumstancias da vida e morte do Messias, dá~·füe uma alta im-
portancia ; e, por assim dizer,. dem·onstra a sua necessidade.
Entretanto, do fundo deste. tumulo vivo , fez Jonas uma fervo-
rosa oração, a qual o Senhor ouvfo, mandando ao peixe que resli-
tmsse o deposito que lhe fôra confiado, o que assim foz, vonutan- "f.
do-o na praia. Vai, lh"e· disse eulão o Senhor, vai á grande cida-
de de Nin1ve, e annuncia aos habitanles. sua prox1ma rnma ,. em
punição de suas iniquidades. ~
Jonas parte sem replicar, e entra em Nimve. Era uma cida-
de a tres grandes jornadas de caminho. Reve5tido da aucLorida<le
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DE PERSEVERANÇA. ~09
·,
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210 CATECISMO
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DE PERSEVERANQA. Ht
vio confnndido. Jonas voltou para· a sua terra , e convencilto, por
um modo tam manifesto, de que Deus não ameaça senão para apla-
car-se , fez pu~lico o succéssó de Ninive, e não se esqueceu ct·e mencio-
m1r circumslancia alguma, que podesse produzir a conversão dos pecca-:
dores e alimentar sua esperança. ·
No dia de juizo , o exemplo dos· Ninivilas servirá de condemna..
ção a muitos Christãos ; porque aquelles, senuo infleis, converte..
·ram-se á voz de Jonas , que não era mais que um Propbeta ; e es-
tes; ouvindo o Senhor dos ·Prophelas, teem desprezado os seus con-
selhos e admoestações.
Finalmente, Jonas não é só o Propheta do Messias ; elle foi
sempre considerado como uma das suas figuras mais caracteristicas.
· Com effeito '~ Jonas era um Propheta , · encarregado de chamar os
homens á penitencia. Nosso Senhor é mais que Propheta, enviado
·por seu Pai , para chamar os homens a pe~itencia. - Jonas não é
escutado dos Israelitas, seus irmãos. Nosso Senhor não é escutado
dos Judeos, seus irmãos~ _;_- Jonas recebe ordem de prégar a peni-
tencia aos idolatras de Ninive·, e elles se convertem. Nosso Senhor,
pelo orgão de seus Apostolos, prega ,a penitencia ás nações idolatras,
e estas se convertem. ~ Jonas , culpado de desobediencia , susc'ita
uma violenta têmpestadê, e ·é lançado ao mar. Nosso ·s·enhor, inno-
cente, mas carregado dos peccados do · mundo, âltrahe sobrê si· toda
a ira de seu Pai, e é _votado á morte. - Jonas apenas é lançado-
ªº mar, serena o Ceo e acalma a tempestade. Nosso Senhor , ape-
nas morre, desarma a justiça de Deus, e a converte em misericor-
dia. - ·Jonas permanece tres dias e tres noutes no ventre da ba-
lea , d'onde sabe depois, cheio de vida·. Nosso Senhor permanece
tres dias e tres noutes no sepulchro, d'onde resurge cheio de vida.
- Jonas, sahindo do seu .tumulo , préga a penitencia em Ninive.
Nosso Senhor, resuscitando, ordena a seus Apostolos que annuncíem
o Evangelho ás nações.
Assim cumprio Nosso Senhor esta palavra, que repelia frequen-
tes vezes : Eu sou enviado a buscar as ovelhas perdidas da casa de
Israel, isto é, aos Judeos ; e é aos Judeos somente que elle pré-
gou o Evangelho durante a sua vida mortal. l\fas como era o Sal-
vador de todos os home1is , ordenou a seus Apostolos , depois da
*
..
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CATECISMO
O' meu Deus! que sois todo amor , eu vos dou graças por
,.nos terdes dado , perdoando aos Ninivitas , uma prova tam Locante
da vossa infinita misericordia. Permitti, pois, que eu espere sem-
pre em vós , seja qual for o numero e à enormidade de meus pec-
cados.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas, e ao prox.imo
como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho desle
amor, não desanimarei ·jamais, sejam quaes forem as minhas culpas.
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DE PF.RSEYEIUNÇA • i .13
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2.11 CATECISMO
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ao menino de Bethtem ; d'o1•de resulta que () l\lessias predito pelos
I>rophelas é ve1·dadeiramente Nosso Senhor Jesu- Cbristo.
Sim , todas as circumstancias do Nascimento, vida • morte, e
triumpho de Nosso Senhor, foraQl predita& por vaticínios mais claros
,que o sol. A historia exacta e completa do F·ilho de ~faria , foi
d'antemão escripta por home!lS que viveram , sete, ou quatro -secu-
los , ou mil annos antes dclle. ~
Ora , é certo 1. º que todas eslas prophecias precederam a vinda
do l\lessias , pois que as vemos nas mãos dos Judcos • nação mais
amiga que a vinda do :Messias, inimiga jurada dos Chrislãos; que
longe de ler recebido de nós estas prophecias , e1·a seu maior in·
teresse supprimil-as , pois que encerram a sua condemnação , dando
á nossa fé um testemunho iuvencivel.
E' certo , 2. º que as prophecias provam sem replica a verdade
da Religião, em favor da qual foram feitas. Por quanto , só Deus
conhece o fulul'O , o qual , dependendo do livre concurso das von-
tades e paixões humanas, escapa a todos os calculos. Logo só Deus
pode dar ao homem o conhecimento do futuro. O dom deste co-
nhecimento , que faz participar a intelligencia creada tlas -luzes da
intelligencia increada, é um ·dos maiores milagres que possam operar-
se. Mas Deus não pode fazer· milagres para auclol'isar a mentira :
logo Nosso Senhor é verdadêiramenle o Filho. de Deus; e a sua Re-
ligião, por consequencia, é a. Religião verdadeira; pois que Jesu-
Christo, e a sua Religião , são cousas annunciadas muiLo tempo
antes que existissem , por incontestaveis prophecias.
E' certo, 3. º (JUe todas as pr9phecias , que annunciam o Mes-
sias futuro , referem-se a Noss~ S.enho1· Jcsu-Cbristo; pois que todas
. lhe convem a eJle , e só a elle. ·
Por tanto, das duas cousas uma, ou as prophecias do Redem-
ptor nada significam, ou designam· a Jesu-Chl'isto ; porque sómente
nelle se cumpriram todas litteralmente. Antes de examinarmos esta
admiravel conformidade. entre as propbecias . e Nosso Senhor, diga..
mos ~Jgumas palavr.as do nume.ro e vida dos Prophetas~ ·
Chaµia-~e Prophcta o homem que prediz o futuro por inspiração
divina. Deus, que sa~e tudo, passado, presente e futuro, pode
communicar a quem lhe aprouver o conhecimento de certôs acon..
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!16 CATECISMO
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.·
DE PEl\SEVER!NÇ1. 217
abandonados , alfliclos , perseguidos ; elles , de quem o mundo não
em digno , passaram a vida nos desertos e montanh-as , escondidos
nas covas , e nas cavernas da terra. (1)
En1 meio destas perseguições e ludibrios, estavam sempre se-
nhores de si, desprezando a morte , os perigos e tormentos ; ful-
'ininando , com espantosa inLrepidez , tudo aquillo que se oppunha a
neus. Da\'am de mão ás riq~1ezas, ao favor , ás honras, com um
.desinteresse que maravilhava e confundia os que se esforçavam por
abalar sua constancia , ou lentar sua ambição.
As casas dos Prophetas e suas communidades eram azilos con-
tra a impiedade. Alli vinham os povos consultar o Senhor , alli se
j un1ava m para ou vir a- leitura da lei. Eram escholas da ''irlude ,
e refugios da innocenc1a.
Se bem que a prophec_ia não dependa da industria , estudo ou
vontade dos homens, o Senhor comtudo communicava ordmaria-
mente o seu espirilo aos filhós ou discipulos dos prophetas ; seja por
causa da pureza ele seus costumes , e santidade de sua vida ; seja
CJllC a· Yocação ao estudo da sabedoria, e companhia dos P1·ophetas,
fosse já da parte de Deus uma disposição proxima para a graç,a da
prophecia.
Quando o espírito do Senhor descia sobre elles , não eram de
ta1 sorte arrebatados_que lhe não podessem resistir. Nisto eram bem
differcnles dos sacerdotes dos ídolos , que se possuiam do máo es-
pirilo, do qual não podiam refrear os impetos, senão que per-
diam o uso dos sentidos , e até o da rasão. O espirito que ani-
mava os prophetas era-lhes submisso, diz S. Paulo , (2) e a Igreja
condcmnou · o erro dos ~lontanistas , que allribuiam aos Prophetas
do Antigo e Novo Testamento o que só convinha aos sacerdotes ido-
]alr'cls, que a seu pesar fallavam por inspiração do máo espirito.
Os Prophetas estavam serenos, e tranquillos, e senhores de si.
Não fallavam senão porque queriam obedecer ás ordens dÕ Senhor.
Sabiam o que diziam , e comprehendiam muito bem o sentido do
seus discursos. -
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!18 CAHCIS~fO
nome, que fará tal cousa ; que viverá· tantos an11os , que morrerá
de tal maneira ; sim , isto succcde:rá como vol-o digo; e para vos
provar que digo a verdàde , vou predizer-vos um successo que ve-
reis cumprir-se _dentro d'um mez, e que ninguem neste mundo pode
prever. Assim, dentro d'um mez, tal dia , choverá aqui , desde
tal minuto até outro _minuto , nem mais cedo nem mais tarde. Co-
meçará e acabará a chuva por um trovão , e não cahirá senão em
tal lugar. E' bem certo que depois de ler visto o· cumprimento do
successo que deve realizar-se dentro d'um mez , e que ninguem no
mundo pode prever, forçoso seria crer com certeza no nascimento
d'aquelle homem , que só d'ahi a cem annos devia realizar-se.
Outras vezes , para provar um facto remoto e menos notavel ,
annunciavam outro que devia cumprir-se mais cedo e ser tam es-
trondoso , que todos os po,·os o testemunhassem, sem poderem du-
vidar mais delle que da exislencia do sol. Por exemplo, Esaias pre-
diz , setecentos annos autes da vinda de Nosso Senhor , que os Ju-
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DE PERSEVERANÇA.
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~--
229 CATECISMO
1
nações llze serão sujez'tas; ne~2lwma ngüio, nenlium pm"- .i;e . ub-
t1·tiMrá ao seu poder. (1) Fói Nosso Senhor e seus Apostolos qne
converteram o mundo : logo Nosso Senhor é o ~Iessias annunciad
por David. Predisse que os reis estrangeiros viriam adorar o Nlcs-
sias , e offerecer-\hc presentes. Os ,reis de Tltarsis, os d'Arabia e
de Sabá , lhe tira~·ão preciosas offerendas. (2) osso . Senhor fui ado-
rado pelos Magos , dos quaes uma constante tradicção assevera que
erall?- reis ; elles lhe offernccram presentes: logo Nosso Senhor é o
Messias predito pQr David.
Annuociou que os Judeos desconheceriam o Messias, que dei-
x11riam_ de ser o seu povo, e os ·Gentios ficariam no lugar drl-
les. . . São estas palavras que elle põe na boca do :Mes ias , fallando
, com sêu Pai : Vos 'me livrareis das contradicções do meu povo , e
me estabelecereis entre as nações. Um 11ovo que eii não coiiliec·ia
se consrt,qrou ao men serviço; obedeceu-11ie ao ouvir a minha vo~ :
meu filltos , ao contrario , já estranhos a seu pai , cançar11m-se
tle me segui·r. (3) O .J udeos de conheceram a Nosso Senhor , e per-
deram a verdadeira Religião ; caj.o conbecimcnlo passou aos Gentios,
que o receberam pela 1uz do Evangelho : logo Nosso Senhor é o ?\[es-
sias annnnciado por David.
Predisse qué o l\f essias seria sacerdote segundo a ordem de Mel-
chisedech , isto é , que não teria predecessor , nerri succossor no
Saccrdocio , e que· offereceria o sacrilicio do pão e d~ vinho. O Se-
nhor , diz elle , o jnrou; e ncio .se retractai·á ; vós soi! sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Jfelcltisedech. (4) Nosso Senhor não leve •
predecessor , nem successor no Sacerdocio ; é sacerdote para: lodo
sempre , e offerecc , como Melchisedech, o sacrificio do pão e do
'?inho : logo Nosso Senhor é. e Messias predito por David.
Vio o Propheta os reis e os povos colligarem-se contra o l\{es-
sias. As nações bramiram, e os povos meditaram vaidades : os reis 1
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DE PERSEYF.RANÇA. , Ht.
Srnhor se ri de seus insensatos projrctos: ellP consolido1t apezar
deltcs o imperio llo seli Ch.n~slo ; e sobre elles mesmos o estabeleceu.
( l) Foi contra Nos5o Senhor que os reis e os povos se colligaram ;
nrns seus esfon;:.os leem sido baldados. Nosso Senhor lrinrnphon ;
forçou-os a snbmelter-se á sua Lei : logo Nosso Senhor é o Me~sias
predito por David.
Desereveu os ullrajrs, o gf'nero de morte , e todas as circums-
lancias do supplicio , a que o Messia·s seria r.ontlemnado. Eis-rtqui
as queixas quo ellc lhe ouve fazer: A. que/le que e.fitava sentado ú
minlw niesii assignalo1i a sua perfidia contra mim ; busquei'. alguem
que me consolasse. e a-niuguem acl1e1. (2) meus úu'nugos me i'nsul-
taram, acenaram cpm a cabeça, e dissc1:am: Já que elle confiou em /Jeus,
que l'ell!ia Dens lil'ral-o. Trespassaram-me os pés e as miio.ç, par-
tWwram qs meus vestidas, e lançaram. stJr/es s~bre 11dnha tunÚa:
quando tive sede, deram-me a beber 1;inngrr. (3) , Nosso Senhor foi
trahido por Judas, que estava sentado á sua mesa; abandonaram-no
todos os sens discipnlos ; cuspiram-lhe no rosl.o ; no C:ih-ario , are-
ua vam os Jutleos /con1 a cabeça , e diziam : fa que esperou em [)pus,
que venha Deus agora , e que o livre. Furaram-lhe os ·pés e as
mfos ; parlilha"ram os soldados seus veslidos , sortearam sua tu-
nica , e deram-lhe a beber vinagre. Tudo aquillo pois, que David pre-
disse , . cumpriu-se mais ·de mil annos depois em Nosso Senhor : logo
Nosso Senhor é o Messias predito por David.
Finalmente annunciou que o Messias resuscitaria, sem ter soffrido
a corrupç.ão do tumulo. Eis as palavras que lhe faz dizer : A mi-
nlza carne repousará em esperança : não deixareis a mw!w alma
tio inferno ; ntio permittireis que o vosso Santo veja a corrnpçao.
(.í) Nosso Senhor morreu ; desceu ao limbo ; mas não cxpel'imen-
lou - corrnpção, porque sahio triumphante do tumulõ, trcs dias dl"\pois
<la sua morte: logo Nosso Senhor é o l\lessias predito por Da,'id.
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- H! CATECISMO
ORA_C~ J.o.
'
O' meu D~us ! que- soi;;; todo amor, eu vos dou graça~ por lrr-
des feito annunciar, tantos secnlos antes , os mislerios do Messias ,
llando-nos assim uma prorn infallirel da \'Prdade da nossa fr.
_Eu prolPst.o amar a Deus sobre torl:Js as cousas , e ao proximo
como :\ mim mesmo por amor de Deus; e, cm testemunho deste
amor, lerei o vosso Evangelho com o mais profundo respeito.
xxx1x.~ uçio.
O 11ESSIAS PREDITO.
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DE PERSEVERANÇA.
divisão do povo Hebraico. O crime d'um só princ.ipe deu causa
ao primeiro scisma que dilacerou o seio da verdadeira Igreja. E'
assim que Deus mostra aos pais, que suas recompensas ou castigos
estendem-se alem da sua morte, e sobreYivem cm seus filhos. D'es-
l'arle quer sujeital-os ás suas ieis, pelo interesse que lhes é mais
charo, o interesse de familia.
O reino d'Israel durou .duzentos e cincoenta e quatro anuos.
Durante esle tempo, enviou o Senhor grande numero de Prophelas,
entre oulros Elias e' Eliseo, para tirar os Israelitas de sua idola-
tria. Poucos comludo foram doce.is a suas palavras. AHim , irrita-
do o Senhor, chamou Salmanaza.r , rei da Syria , que lomou Sama-
ria depois d'um cerco de tres annos, e levou as dez lribus captivas
para Ninive. Assim acabou o reino d'Isrnel.
Quanto ao reino de Juda, nada poupou o Senhor para o con-
servar na pratica da Yerdadeira Religião. ~Ja~ o exemplo das dez
lribus scismaticas em bre.ve os induzio á idolatria. Roboam foi o
primeiro que deu o exemplo. Para . vingar o ultraje feito ao seu
nome, suscitou o Senhor contra Jerusalem o rei do Egyplo Cesac,
'lllC se apoderou ' dos thesouros do templo. Ensinados os Judeos
por este revez, renunciaram as divindades de pedra e pao, que lhes
não valeram no perigo. :Mas passados poucos annos, este povo in·
constante tornou ao erro anli~o. Esta alternativa de conversões e
recabidas é todo o essencial da historia do reino de Juda , alé á sua
ruina, isto é, até ao capliveiro de llabylonia.
Todavia não lhe faHaram os ª''isos. · Por espaço de duzentos
annos, uma longa serie de Propbclas não cessaram de lhes annuu-
ciar os males que os ameaçavam, se persistissem na idolatria, bem
como as bençãos com que seriam recompensados , se perseverassem _
fieis ao Deus d' Abraham e de David. Estes Propbelas não tinham
somente por fim o manter a verdadeira Religião no l'eino de Juda ,
mas eram lambem encarregados d'annunciar o Messias e desenhar
successivamenle as feições caraclerislicas por onde dernriam reco-
nhecei-o. Foi Isaias o pí·imeiro e o mais admiravel destes homens
exlraQrdinarios.
-Era este Propheta filho d' Amos , da familia real de David. Pro-
phelizou durante os reinados de quatro reis de Juda, Osias,, Joatham,
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CATECIS1'IO
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DE PERSEVERANÇA.
menlo afílictivo que Isaias veio dizer ao rei , da parte tle Deus: So-
cega ; nada temas ; o projecto_do teus ·inimigos não irá por diante,
a casa de David subsistirá. Pelo conl~ario, cm poucos annos o rei
de lsrae será destruído , e Israel não será mais um povo. A pa-
lavra do Propheta cumprio-se ; ~s dous reis inimigos não poderam
tomar Jerusalem , e o reino d'ls1~ael foi destruido alguns annos
depois.
2.P Que Sennacherib não conseguiria os seus designios contra
gnal a Jehova teu Deus. » IJ. VH, 11. « Não pedirei signal algum ,
re~pondeu Achaz com sacrílego desprezo, não quero lenlar Jcliova. » ld.
VII, 12.
A estas palavras, o homem de Deus, cheio d•uma santa indignação•
deu as costas ao rei incredulo ' e endereçando-se a lodos os príncipes
da familia real, disse-lhes: ' Pois que assim é , escutai vós, casa de
Da,·id. O Senhor mesmo vos dará um signal, que será um penhor cel'lo
da conservação da linhagem real : eis que a \1irgcm conceberá e parirá .
um filho, que se chamará Emmanncl, Deus conmosco. Esle Deus co111-
nosco será ao mesmo tempo verdadeiro homem, porque sera nulrído co-
mo os outros meninos, com mnntciga e mel, até que chegue á idade cm
que saiba escolher o bem e rejeitar o mal. »
Corno este succcsso era remoto, cuidou o Propheta em o abonar
nnnunciando um facto proximo. Tinha eJle trazido comsigo seu joven fi-
lho chamado Schecr-Yaschub. Então dirigindo-se ao mesmo Achaz :
« E~te rapazinho, lhe disse, não saberá ainda distinguir o bem do mal ,
quando os dous reis leus inimigos desapparecerão de sua propria lena. •
Só pela idade de sete annos é que se distingue ·o bem do mal. O filho
d'Jsaias, sendo provarnlmeole mmto novo ainda, o lermo indicado podia
talvez parecer mui distante ao incredulo mooarcha. Isaías Lcm ainda o
cuidado de lhe dar uma nova segurança. Eu vou 1 disse elle ao rei ,
ser pai d'um filho, a quem chamarei: Apressa-te a trazer os despojos.
Pois bem ! Antes que este futuro menino cst~a em csLado de dizer :
meu pai, minha mãi (o que de onlinario succede pela idaJo de dou~
aunos, ) vossos inimigos já não existirão ! » lsa1as VIII, á.
De faclo, dous anoos, pouco mais ou menos, depois desta predição,
Theglatphnlasar mandou matar Uasin. Pelo mesmo tempo, Phar.éc pereceu
ás mãos de Oséc, filho d' Ela, que se tinha conspirado contra cllc. IV Reis, XV,
~9 1 XVI, 9.
29 II
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226 CATECJSMO
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DE· PERSEVERANÇA. 227
so Senhor nasceu <la gloriosa e sempre virgem Maria. Ninguem se-
não elle nasceu d'nma virgem : log.o Nosso Senhor é o RedemptC)f
predito por Isaias (1)
Vê elle- as qualidades deste precioso menino ; prediz que será
adorado pelos reis , que tera um precursor. Um menino nos é da-
do, diz elle, deu-se-nos urn filho. Elle levará em seu hombro o instru-
mento do seii poder. Elle se chamará o Admiravel, o. Forte, o Pai
do scculo futuro, o Prinâpe ·da paz. O Nome incommuni'cavel de
JJeus será seu .Nome. As8entar-se-ha ~o throno de JJavi'd; os reis
vfrfío honrar seu berço e offerecer-:l!ie presentes. Ouvir-se-ha no ·de-
serto a voz daquelle que clama : Preparai os caminhos do Sen!tor.
(2) osso Senhor levou sobre seu hombro a cruz , instrumento do
seu poder, porque é por ella que venceu o mundo ; Nosso Senhor
fo i aclarndo pelos Magos em seu berço, e delles recebeu presentes;
Nosso Senhor teve por precursor a S. João BaptisLa,~ que repetia a-
quellas m mas palaYra do propbeta lsaias : Eu sou a voz daquel-
1 que clama no deserto : Pr·eparai · os caminhos do Sen!tor : a
ningu m se podem applicar, senão a Nosso Senhor , todas es-
tas ci roumslanchls. Logo Nosso Senhor é o Messias predito por
Isa ias.
Annnnciou elle que o Messias será a doçura mesma ; que . fará
um sem numero de milagres em favor dos homens. O 11/essias se-
rá cheio de doçura, diz o Prophcta , conduzi'rá o seu povo como mn
pastor condtiz o sw rebanlto : ajuntará os cordcirúilws, e os levará
em sen seio; mio será turbulento; 1uio calcará aos pés a cana meia
1
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•
CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. !29
d'aquelle que o tosquia. JVão e tJe/os seus peccados qtte elle solfre; 'elle
tom.ou sobre si· as nossas fraquezas e as nossas iniquidades ; foi
trespassado de feridas, e nós fomos curados pelas suas pizaduras.
(1) Nosso Senhor, no dia da sua paixão, perdeu todo o seu esplen-
dor. Seu bello rosto eslava desfigurado ; era o 110mem de dores ;
compararam-no com o malfeitor Barrabas , e cruciílcaram-no entre
1Jous ladrões ; foi condcmnado por Pilalos, e morto no meio dos tor~
mentos; não abriu a boca para se queixar , mas para implorar o
perdão de seus algozes. Era innocente , mas encarregou-se d'expiar
os pP.ccados ·de todos os hom(\ns ; entregou-se por si mesmo á mor-
te , e os prodigios que acompanharam seu ultimo suspiro provaram
que so dependia delle o livrar-se de seus inimigos. Nosso Senhor é
pois <> Redemptor predilo por lsaias.
Annuncia elte que em recompensa de seus sotTrimentos , e de
sua morte, o Messias será v·encedor do demonio e do mundo , e que
seu sepulcbro será glorioso. JJJas por isso que soffreu a morte ,
conlinua o Propheta, uma dilatada posteridade nascera dei/e ; seu
sepulcltro sera' glorioso. Elle aáquirio o únperio, e repartvrá os
despojos dos fortes; ·verá o fructo do que sua alma solfreu, , e se-
ra saciado, e santificará por sua doutrina a mn grande tmrnero
d'homens. (2) Nosso Senhor ''io lodos os povos correr para elle
depois da sua morte. Seu sepulchro ha dezoito seculos é o objecttl
da veneração do mundo inteiro ; o Oriente e o Occidcnte se dis-
putaram a posse d'ellc ; para alli enviam ricos presentes , e
seus deputados velam noute e dia em sua conservação. Sua
doutrina grangeou a salvação a milhões d'homens de todas as na-
ções e idades. Log9 Nosso Senhor é o Redemptor predito por
)saias.
Vê elle em fim a prodigiosa fecundidadé da Igreja. Esta lgre-
Ja, formada a principio no Paraizo terrestre, por longo tempo es-
teril, não tinha dade a Deus senão alguns adoradores ; mas tornan-
.ào-s_e fecunda pelo sangue do Salvador, ella vai, diz o Prophet~
Cl ) Isaias, Lili, 5. 8. 9.
<.2> Isa ias, II, 10, etc. ..
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!30 CATECISMO
OR~Ç~O.
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos <lou-gráças por ler~
des envfatk.; tantos Propbetas ao vosso _povo , para os chamar á pe-
nitencia e almunciar-lhes o Messias. Tornai-me <locil á voz dos Pro-
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DE llEJlSEVERANÇA. 231
phelas da nova Lei, vossos Ministro.s, que ~m vosso Nome me cha-
mam á penilcncia, e· me annunciam o Ceo em recompensa da mi-
nha docilidade.
Eu pl'otesto amar a Deus sobre Lotlas . as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus; e , em testemunho desle
amor , assistirei com respeito á Catechesis.
XL.ª LIÇÃO.
O ~IESSIAS PREDITO.
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CATECISMO
(1 ) Oscas , U, t.
('!) Math. li, 1õ.
(3)' Oseas, II, 23, !õ, e 1, _10.
[4J O mesmo S. Paulo applica a Nosso Senhor as palana~ deste
Prophela ná sua Epistola aos Romanos <IX , 23.)
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DE PERSEVERANÇA. !33
medo diante do Senltor, recebendo os bens que clle lhes dar<* nos
ultimos dias. l 1)
Nosso Senhor- foi d~sconhecido dos Judeos ; os quaes anelam hoje
errantes, sem altar , nem sacrificio. Esta primeira pa1·te da pro-
phecia , cujo cumprimento vemos, assegura-=nos que a segunda parle
se cumprirá lambem , e .que no fim dos tempos os Judeos se con-
verterão. Por tanto :Nosso Senhor é o unico em quem se verificam
todos os caracleres desta prophecia. Logo é elle o Messias pre<lilo
, por Oseas.
Pelo mesmo· tempo appareceu oulro Prophela , que nos deixou
uma das mais notaveis predições tocantes ao Redemplo1· : Este Pro-
pheta é Michcas. Annuncia elle primeiro dous súccessos proximos, as
desgraças e a mina do reino d'Israel , as desgraças e a ruina do
reino de Juda. Depois , passando ao Messias, exprime-se nest.es ler-
mos : E tu Betklem, Ephrata (é o antigo nome de Bethlem) , tu és
pequena entre as. -cidades de Juda; todavia é de ti que sahirá Aquelle
qzte lia-de reinar em lsrael. Aqi1elle cuja geração é eterna. (2) Em
consequencia desta prophecia , os J udeos sabiam muito bem que o
:Messias devia nascer em Betblem. Quando os Mqgos chegaram a Je-
. rusalem , éonvocou Herodes todos os príncipes dos sacerdotes e os
. doutores do povo, e perguntou-lhes aonde havia de nascer o Chrislo,
o Messias. Responderam-lhe sem hesitar : em Bethlem de J uda, se-
gundo a predição· do Propheta; e citaram-lhe as palavras de Micheas.
·o l\lessiás devia por tanto nascer em .Bethlem. Ora, foi em Beth-
lem que nasceu Jesu-Christo·, no tempo e com as circumslancias as ..
signadas para a vinda do :Messias : logo é elle o Redemplor predito
por. Micheas.
Annuncia o Propheta que a geração do Redemptor é eterna, que
ellc converterá as nações, que será a nossa Paz , e que o seu im-
perio não tel'á fim. Seu imperio. subsistirá; elle apascentará o seu
rebanlio com a fortaleza do Senltor, e os povos se converterão ;
porque a sua grande.za. chegará até ás extremidades do mwulo : Elle
,,. .
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CATECISMO
é que será a nossa Paz. (1) Nosso Senhor, Deus e Homem simuf- ·
taneamente , é gerado no seio de seu Pai , desde toda a elernidade . .
Nasceu em Bethlem no tempo, da mais pura das Virgens; ene só
possue um imperio ·eterno; converteu as naç9es; tem um poder so..
berano ; e é a nossa Paz e reconciliação , pelo Sangue qu_e derra-
mou na Cruz. Bem vedes que só a NQsso Senhor conveem á letra .
os caracteres designados nesta prophecia ; logo é elle o Messias pre-
dito por Micheas. ·
Joel, outro Propheta , contemporaneo do precedente , descreveu
duas grandes feições do Redemptor : a descida do Espiri to Santo , e
o Juizo final. Para auctorisar a sua palavra, annuncia Joel um facto
que os Judeos seus contemporaneos viram cumprir-se : foi uma hor-
renda fome , que desolou todo o paiz. Eis-aqui de que modo elle
se e~prime : « Ouvi , velhos, e ·-vós- todos habitantes da terra, appli~
« cai o ouvido. Acaso succedeu cousa . igual no vosso tempo , ou.
« no de vossos pais? O gafanhoto comeu o qne ficou da lagarla;.
cc e o brugo-, o que ficou do gafanhoto ; e a ferrugem, o que ficou-
cc do brugo. Toda a terra está assolada;- toda em lagrimas; porque·
« está tudo estragado; a vinha perdeu-se, as oliveiras definham-se~
«- Porque uivam os animaes? Porque mugem os bois , senão porque
« não teem. onde pastar , e· õs mesmos rebanhos· d' ovelhas· perecem
« de fome ~ » (2) _
· Passando depois ao Messias , mostrou-o derramando seu espiriCo
na sua Igreja , e vindo a julgar o mundo , com formidavel mages-
tade. « Nos ulti.mos .tempos , disse o Senhor , derramarei o meu es-
ct pirilo sobre toda a· carne ; vossos filhos e filhas prophetizarão; vos-
« so·s meninos terão visões ; e os velhos sonharão sonhos : nestes dias-
« derramarei meu espirito sobre meus servos e servas , e elles pro.. -
« phetizarão. D (3) Nosso Senhor, segundo a sua promessa, envÍoll
o seu Santo Espirilo aos seus Apostolos , e elles propbetizaram ; e
este di vinõ espirilo commuuicou o do.m da prophecia a grande nu""'
(1) Mich. V, 4, 5.
{~) Joel, 1.
(3) ld. 11, 28.
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DE PERSEVERANÇA. 235
mero de fieis dos secnfos seguintes. -O mesmo S. Pedro nos dá a
·mtelligencia desta predição. Os que estavam no Cenaculo foram cheios
do Espiri1o Santo, e eis que os Judeos de Jerusalem perguntam es~
panlados uns aos outros : «Que quer dizer isto?» Outros zombavam
" dizendo: « Estam embriagados.> Então Pedro, sahindo com os onze
« Apostolos, disse-lhes : Estes não estão embriagados como cuidais,
« mas é o cumprimento d'aquillo que diz o Propheta Joel: Eu der-
« ramarei o meu Espirito ; (1) e cita-lhes a dita prophecia de Joel.
O Propheta annuncia em segundo lugar que o Messias virá jul-
gar o mundo com formidavel solemnidade. E' o mesmo Messias que
falla : « Farei apparecer prodigios no Ceo e na terra , sangue , fogo
<t e turbilhões de fumo. O sol se mudara em trevas , e a lua
« em sangue, antes que chegue o dia grande e terrível do Senhor. '
cr Eu ajuntarei todos os povo~, e -os conduzirei áo valle de Josa-
« phat, e lá entrarei em Juizo com elles. » (2) Nosso Senhor virá
·julgar o mundo ; elle mesmo nol-o diz no Evangelho , e descreve-
nos os signaes precursores deste dia terrivel , em termos similhan--
les aos do Propheta. Nosso Senhor enviou o Espirito Santo a seus
Aposlolos, como Joel havia predito; logo tambem virá j_ulgar o mun-
do no fim dos tempos : o cumprimento d~ primeira prophecia afi-
ança-nos o da segunda. Logo Nosso Senhor é verdadeiramente o Mes-
sias predito por Joel.
. Perto de cincoenta annos depois destes Prophetas, de que aca-
bamos de fallar , suscitou Deus Jeremias : é o Propheta das dores.
Largo tempo se escusou elle d'aceitar a lugubre missão que o Senhol'
queria confiar-lhe. «A , a, a, dizia elle, Senhor Deus , eu não sei
fallar ; não sou mais que uma criança. » O Senhor respondeu-lhe :
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,
"236 CATECISMO
Não digas : Não sou mais que ttma criança ; mas vai a toda a part·e
onde eu te enviar, e dize tudo o que eu le ordenar que digas.
' Não lemas apparecer diante delles , porque eu estou comtigo parn
le livrar. <1 Senhor estendeu sua mão , tocou a boca de Jeremias,
e disse-lhe : Agora ponho as minhas palavras em tua boca ; desde
hoje te estabeleço Propheta ; Jeremias obedeceu emfim. · ·
As desgraças com que ameaçou os Judeos, e a santa liberdade
com que exprobrava suas desordens, de tal sorte os irritou contra
elle, que o lançaram a uma cova cheia de lodo , d'onde o mandou
tirar u·m ministro do rei Sedecias. Depois da tomada de Jerusalem, _
uma parte dos Judeos, que ficaram na Judea, refugiaram-se no Egy-
to por medo do rei de Babylonia. Jeremias, oppoz-se quanto pôde
a este designio ; mas foi constrangido a seguil-os com Seu discipulo
Baruch.. Alli não cessou de· lhes reprehender seu crime com seu
ordinario zelo , e prophetizou contra elles e contra os Egypcios. A
Escriptura não falla da sua morte; mas crê-se que os Judeos, exas-
perados por suas continuas ameaças , q apedrejaram no anno 590
antes de Jesu-Chrislo. ·
Para auctorisar as suas prophecias concernentes ao Redemplor,
,e os successos i:emotos, annunciou --Jeremias outros factos proximos,
que a humana previdencia-não podia alcançar, e dos quaes não obs-
tante logo se vio o cumprimento. Citemos entre outros a espantosa
-l'llina de Jcrusalem, por Nabuchodonosor, e o captiveiro de Ba-
bylonia . Ouçamos de que modo predisse elle aquella terrivel calas-
trophe : <e Vai, lhe diz o Senhor, e toma um Yaso d'oleiro. >>O Pro-
pbela obedecendo, sahio da cidade e foi acompanhado dos anciãos
do povo, e dos mais antigos sacerdotes, a um valle situado ás
portas de Jerusalem. «Rei de fada, e habitantes de Jerusalem, lhes
(< diz elle, eis o que diz o Senhor dos exercitos : eu farei cahir esta
. « cidade em tam grande afflicç.ão que quem ouvir fallar della ficará
« como assombrado do raio.>) Levantando então o vaso á vista ele
todo o povo , accrescentou : « Eis o que diz o Senhor dos exer-
« citos: Eu quebrarei este pov~ e esta ci_dade Mmo um vaso d'o-
« leiro. )) A estas palavras , arremessou o vaso e o fez em pedaços ..
Alguns annos depois o soberbo Nabuchodonosor veio cumpri_r á
lelra a lrislo prophecia de ~eremias ; deslruiu a cidade até os fm~- ·
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DE PEILS.EVERANÇA. 237
amentos, e levou o povo caplivo para Babylonia. Passan o de·
pois aos successos remotos , Jeremias prediz que no nascimento -do
fessias mandarão matar os meninos de Bethlem, e que suas mãis
ficarão inconso1aveis. « Um grande clamor , exclam elle , se ouvio
« em Roma, de gemidos e gritos lastimosos ; é &lcbel chorando a
« morle de seus filhos , e não quernndo consolar-se, porque já não
{( existem. )) (1)
Nascendo em Bethlem Nosso Senhor , Herodes, com intento de
o perder , mandou matar os meninos de Ilethlem e dos arredores ,
d'idade de dous annos para baixo. Então se ouviram os -lastimosos _
prantos das mãis ; e S. :Matheus nos diz que era o cumprimento das
palavras de Jeremias, que acabamos de citar. Nosso Senhor é por
tanto o Re<lemplor predito por Jeremias.
Não se esqneceu o Prophcta do grande caracter do I;ibertador ;
diz que ellc ensinará a verdade ás nações,. e fará com os homens
uma nova alliança mais perfeita que a antiga : Eu te estabeleci Pr'o-
plrnta .para as nações , (2) lhe diz o Senhor ; e o mesmo Mes-sias
accrescenta , pelo orgão de Jeremias : -« Um tempo virá em. que farei
<< uma nova alliança -com a casa d'Israel e .a casa · de Judá ; então
O' meu Deus! que sois todo amor, eu vos don graças por nos
~erd0$ enviado o l\fessias tantas vezes predito pelos Prophétas; f~zei .
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238 CATECISMO
XLI.ª LIÇÃO
O MESSIAS -PREDITO.
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DE PERSEVERANÇA. !39
<1ue hão de verificar-se á vista d'elles ; e outros de que o mundo
inteiro é ainda hoje irrecusavel testemunha.
A primeira cousa que prediz a seus irmãos é a sua tornada pa·
ra a Judea; e a reedificação do templo de Jerusalem (1), dous fa-
ctos que se cumpriram á letra, quasi quarenta annos depois. A se:
gunda cousa que predisse, .e a qual nos prova com que penetração divina
lia Ezechiel no mais remoto futuro, é que desde Nabuchodonosor, con-
temporaneo do Propheta, o Egypto não teria mais reis de sangue
Egypcio ; eis aqui o texto desta admiravel predição: Vou dar a
Nabuchodanoso1·, rei de Bábylonia, a tei·ra do Egypto; elle tomarà
todo o povo, fará d' elle sua preza; e não haverá no futuro mais
princi'pes da terra do Egypto. (2) Quem se lembraria de que a
terra do Egypto , mãi <las sciencias , mestra das nações, seria pri-
vada para sempre de reis. da extracção indigena , e curv aiia eterna-
mente a cervis ao jugo estranho '! E todavia , ha já vinte e tres
seculos que se cumpre o oraculo d'Ezechiel ; e que, como notou um
impio dos .nossos dias (3) , o Egypto, arrebatad~ a seus naturaes
proprietarios , tem soffrido sem interrupção o jugo d"estranhos.
Fallando do Messias: annuncia Ezech.iel que elle sahirá -da des- ·
cendencia de David, que será pastor, mas pastor unico ; que sal-
vará o seu rebanho e reunirá todas as ovelhas no mesmo aprisco.
Ouçamos o Senhor mesmo, fazendo-nos, pela boca do Propheta, es·
ta consoladora promessa : Eu salvarei o mei~ rebanho ; que não fi-
cará mais exposto a perigos; julgarei entre ovelhas e ovelhas; sus-
citar-llies-hei, para as apascentar, o PASTOR UNICO, DAVID MEU SER-
VO. Elle mesmo terà cut"dado de as guardar; e estará no meio
d'ellas, como seu prz"ncipe. (4)
Nosso Senhor mesmo nos dá a conhecer o sentido desta predi-
ção, quando diz, fallando aos Judeos,: Eu é que sou o bom Pas-
tor. O bom pastor dá a vida por suas .ovelhas. Ainda tenho ou-
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CATECISMO
tras ovelhas que não são deste curral ; cumpre que eu as ·. ajunte
r
m Ezech. XXXVII.
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DE PERSEVERANÇA. 2U·
favor, mandou que lhes dessem de comer das suas mesmas igua-
rias ; e <le beber do mesmo vinho que elle bebia. Assim haviam de
ser mantidos por tres annos , no ·fim dos quaes passariam a sei·
officiaes do rei , para servirem sempre na sua presença.
Uma só cousa inquietava a estes virtuosos mancebos : era o
trazerem-1.hes de comer das iguarias, e do vinho da mesa do princi-
pe ; pois que facilmente podiam vir comidas prohibidas aos Judcos, ~
e até mesmo offerecidas aos idolos : pelo que se resolveram a não
se çujar com ellas. Daniel fallou nisto ao intendente do palacio ~
encarregado de os alimentar , o qual respondeu que, como o rei não
quel'ia em seu serviço senão mancebos formosos , elegantes e de boa
presença, tinha expressamente ordenado º.~-.modo como deviam sel'
trai.adas ; que se, por não usar do vinho e viandas da mesa do
principe, viessem a emmagrecei· ou desmerecer da.. sua fo1·mosura t
logo se saberia o motivo , e nisto perigava a sua fortuna , e talvez
mesmo a sua vida.
Daniel não desanimou. fürigio..,se a l\lalassar, official subalter-
no , encarregado especialmente deli e e de. seus tres companheiros , e
disse-lhe : Desejamos que nos dês legumes para comer, e agua para
beber. Só vos. pedimos dez dias d'experiencia. Depois examinai
nossos rostos, comparai-nos com os outros manceb.os que comem· da
mesa do rei. Se tiverdes de que vos arrepender da vossa condes-
cendcncia , sujeitar-nos-hem9s a tudo que quizerdes. Consentio l\fa..
lassar~ e deu a Daniel e a seus companheiros, por espaço de de?;
dias, somente legumes ; e· no fim esta~1 am ainda mais nuiridos e
formo3os que os outros mancebos que comiam da mesa do principe.
Malassar · continuou pois de muito boa vontade a tratai-os do mesmo
modo, e sempre com o mesmo resultado.
Acabados os Ires annos da sua criaç.ão, apresentaram ao rei os
quatro moços Israelitas. Ficou encantado Nabuchodonosor da graça
que brilhava em seus rostos , e em toda a sua presença, e mui to
mais ainda quando vio a sua habilidade e saber. Não t.enho no
meu reino, exclamou elle, doutores comparaveis aos quatro moços
hebreos. Não hcsiLou por tanto em os conservar junto de si ; e
deu-lhes empregos na corle , querendo que servissem sempre em sua
presença . . Assim come~ou a elevação do Propheta Daniel. O Sc-
31 Il
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• CATECIS~IO
nbor, sempre mfinitamente bom, _ia por este modo preparando fulu•
ros recursos aos caplivos Israelitas. '
Passados alguns annos , teve Nabuchodonosor um sonho, que o
inquietou extremamente. Quando despertou, mandou chamar todos
os encantadores, adivinhos e magicos de Babylonia: Tive esta nou-
te um sonho, lhes disse elle, que me -aterrou ; mas a, perturbação
que se· lhe seguiu , fez que eu o perdesse inteiramente da memoria.
Se conseguirdes recordar-me o meu sonho , e dar:me a explicação
d~lle, prometto-vos uma recompensa digna de mim ; mas se o não
fizerdes , mandar-vos-hei matar a todos.
O que exigis,. Senhor, responderam elles, não é possivel a ne-
nhum mortal. Ao ouvir isto, o rei , aceso em colera, mandou que
acabassem logo com aquelles impostores. Executava-se a ordem sem
piedade, quando Daniel, cheio de confiança em Deus, e subitamen-
te inspirado, foi ao palicio , onde achou o rei sepullado na mais
profunda melancholia ; supplicou-1he que lhe concedesse alguns mo-
mentos para lhe explicar o seu sonho. Vai, Danjel, lhe disse o rei,
toma o lempo que precisas.
Daniel retirou-se e passou a noute em oração. Logo que ama-
nheceu , um dos officiaes da corte o introduzio na camara do rei,
e disse-lhe, apresentando-o: Eis aqui, Senhor, um dos captivos de
Jerusalem, que dará ao rei, meu Senhor, o esclarecimento que de:.
seja. Parece-te, disse o príncipe a Daniel, tjue podes recordar-me
o meu sonhó, e dar-me a explicação d'elle? O so.qho que tivestes.,
·lhe respondeu modestamente Daniel , excede as luzes de todos os
magicos; mas ha um Deus no Ceo, que é o Deus unico ~ o Deus
que eu adoro, para quem nada é occullo; que revela , quando, e a
quem llle apraz, as cousas mais reconditas. Foi élle, grande princi-
pe, que vos mostrou, durante a obscuridade da noute, os successos
que devem cumprir-se nos ultimos tempos.
O príncipe e toda a sua corte tinham os olhos fitos no joven
Prophela , quando ellc começou desta sorte : Eis aqui , Senhor , _o
sonho que rivestes. Appareceu diante de vós uma grande esta lua,
a qual eslava em pé ~ e tinha um olhar tcrrivel. A sua cabe-
ça era d'um ouro finissimo ; o peito e os braços , de pra-
ta ; o ventre e as _coxas , de bronze ; as pernas , de ferro .; e os
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DE PERSEVERANÇA.
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2H CATECISMO
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DE Pll\SEVERANÇA.
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos dou graças por
terdes conservado no meio das chammas vossos fieis servos ; dai-
me a sua fidelidade para com vossa santa Lei, e o seu valor para.
arrostar C(}m os respeitos humanos, ·a fim de ser eu mesmo livre das
chammas eternas.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas ,, e ao proximo·
como a mim mesmo por amor de ·Deus ; e , em tesLe~unho deste
amor, -não comer~i jamai·s carne nos dias proMbidos.
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- 246" CATECISMO
XLil. LIÇÃO.
3
O MESSIAS PREDITO.
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DE PERSEVERANÇA.
de Jerusalem , a fim de beber por elles , e mais os senhores e mu-
lheres que se achavam no banquete. O rei deu o exemplo , e todos
quizeram ter a honra de o emitar. Pareciam apostados a qual pro-
fanaria com maior insolencia os sagrados vasos. Bebiam por elles o
vinho a largos tragos, cantando hymnos em honra de suas falsas di-
vindades: --o desgraçado Balthasar , punha d'est'arte o cumulo a seus
crimes , e enchia a medida fatal que Deus esperava , para destruir
a sua monarchia.
De repente viram-se como que os dedos da mão d'um 11omem, que
escrevia na parede, defronte do lustre que· alumiava a salla do bãn-
quefe , e o rei via distinctamenle , com seus olhos, o movimento
<la mão que escrevia. Enlão muda de cor , seu espi rito se perturba,
suas forças o abandonam , seus joelhos , tremendo , balem um no-
oulro ; apenas lhe fica força para gritar : chamem já os adivinhos,
os agoureiros, todos os magicos.
Obedeceram promptamente. Aquelle d' entre vós, lhes disse Balthazar,
que me lei· esta esc.riptura , e me explicai· o que diz , eu o manda-
rei vestir de purpura, e Jhe darei um collar d' ouro, e será a ter- .
ceira pessoa- do meu reino: Todos aquelles embusteiros metteram
mãos á obra , mas foram baldados seus esforços. Augmentava a de-
sesperação do rei, recabia em seu primeiro desmaio, e a corte, es-
pavorida, não sabia que partido tomasse: era o momento que Deus
aguardava. A rainha, informada do- que se passava, entra na salla
do banquete : Senhor, diz ella ao rei, tende animo ; ha um homem
no vosso remo , a quem os deuses santos conimunicam seu espirito,
chama-se Daniel. 1\landai-o vir, que elle vos tirará da vossa inquie-
la~ão. O rei mandou chamar Daniel , e apenas o avislou: E's tu
Daniel, lhe diz, um dos filhos de Juda, que meu pai trouxe ao
capliveiro? Se me explicares esta escript.ura , traçada na parede ,
por uma mão desconhecida , vestir-te-bas de púrpura , terás um
collar d'ouro, e serás, depois da rainha e de mim, o primeiro do
meu reino.
Daniel conheceu todo o perigo desta commissão ; mas havia já -
oilenta annos c1ue aprendia a não temer dos poderosos da terra.
Grande rei , disse elle a Balthazar, não aceitarei esses presentes ,
mas vou ler as palavras cscnplas na parede, e ·explicar-vol-as. Está
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U8 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. U9
01·ava , e adorava a sP.u Deus. Assim continuou a fazer , supposto
não ignorasse que o espreitavam. Apenas o apanharnm em oraç.ão,
correram seus triumphantes inimigos -a dar parte ao rei do desprezo
com que elle infringia as suas ordens. Daniel , lhe disseram elles ,
este escravo judeo , a quem fizestes vosso primeiro valido, é tam..
bem o primei~·o infractor do vosso decreto.
Quando o rei ouvio fallar em Daniel , ficou realmente afflicto ;
' porque amava este grande homem, respeitava suas virtudes, honrava
sua velhice, e apreciava os seus serviços. Nada respondeu aos ac·custt..
dores, e Ol'denotI que o deixassem só, até que declarasse suas intenções.
Sua vontade era salvar Daniel , e isto comprehenderam os seus·
inimigos , que, entrando brnscamente no palacio , disseram ao rei ,
com ar ameaçador: Não sabemos, Senhor , o que suspende a vossa
justiça ; mas sabei que não sois superior ás leis, e é lei funda-
mental entre os l\fedos e Persas , que o rei não pode revogar os
seus decretos. A isto o rei , intimidado , mandou chamar o Pro-
pheta ; e enternecido com a presença rlo venerando velho , não lho
disse maia que e.stas duas palavras : Vai Daniel, aonde te arraslam
os teus inimigos; o teu Deus, que uão cessaste d'adorar, te lin·ará
de suas mãos. Estava o rei lam persuadido disto, que quiz seg\1ir
de perto os executores da sua sentença. Acompanhado pois de toda
a sua corte, dfrigio-se á cova dos leões, e havendo sido precipitado
1iclla o Propheta, mandou tapar a entrada com uma pedra, que sel-
lou com o seu sinete , .e com o de todos os grandes senhores , que
assistiram á execução , a fim qne a malicia dos homens nada po-
dcssc ajuntar á crueldade das feras. ,
Vollou o rei para o palacio agitado por uma inquietação mor-
tal : não podia tomar alimento , nem repouso. Apenas rompeu o
dia Jevanlou-se e foi á cova dos leões. Aproximou-se a tremer ; e:
com os olhos cheios de lagrimas , gritou com voz lastimosa : Daniel:
fiel servo do Deus vivo , não pôde o teu Deus livrar-te do furo1·
dos leões? Sim , Senhor , responde tranquillamenle Daniel : o meu
Deus enviou o seu Anjo , que cerrou as fauces dos leões , e elles
me não leem feilo nenhum mal.
O rei , exultando d'alegria , mandou no mesmo inslànle lirar
Daniel da cova. Não se achou ferida em seu corpo. O monarcha
32 u
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!50 CAIECIS&JO
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DF. PF.RS&VRRANÇ,A. 2üt
Tiham feito , por baixo da mesa do altar , uma porta falsa , de que
ainguem sabia, e por· alli entravam todas as noutes , e levavam as ·
viandas, a farinha e o vinho : e ludo faziam com tal disfarce que
não temiam os descobrissem. .
Conjuraram pois o rei para que fosse ao templo com Daniel ·,
e disseram-lhe : Nós vamos sahir ; e vós, príncipe , mandai ll'azer as
viandas , a farinha , e o vinho costumado, e depoi~ fechai a porta ,
e sellai-a com o vosso sinete real. A'manhã voltareis ; e , se não
achardes que Bel consumio ' tudo durante a noute, mandar-nos-hei!l
tirar a. vida; mas ao contrario , se li\:ct comido tudo , mandareis
/ matar a Daniel , que blasphemou contra o nosso deus, e calumniou
os seus ministros. ·Logo que sahiram -pois, mandou o rei que poses-
sem diante de Bel sua costumada comida. Daniel , pela sua parte ,
ordenou a alguns de seus domesticos que lhe troo essem cinza e um
crivo ; e a peneirou por todo o po\·imenlo, em presença do rei ,
que estava muito admirado sem poder entender e le enretlo. Sa-
hiram por fim ambos do templo, e o rei, mandando fechar a
porta , a sellou com o seu annel.
Pelo meio da noule, vieram os sacerdotes de Bel, com suas
mulheres e filhos, pela porta ·falsa , levaram a comida , como cos-
tumavam, e juntando-se todos em um grande banquete, chasqueavam
da simplicidadé do principe , e insultavam , com amarga ironia,
o seu velho ministro. E' facil imaginar como estariam alegres: mas
a cousa não lhes sahio como esperavam.
O rei, levantando-se ao amanhecer, chamou Daniel , e ambos
se dirigiram ao templo. Apenas · chegaram, disse o rei para o seu
ministro : Não ha duvida , os sellos estam inteiros. Sim , príncipe,
r~spondeu Daniel , nos sellos ninguem bulio. Abrio-se a porta, e
o rei , vendo que nada estava sobre a mesa do altar, exclamou
com tr~n3porte : Tu és grande , ó Bel ! Justificas plenamente a
sincel'idade ·de teus ministros~ Daniel começou-se a rir , .e de-
tendo o rei , para que não entrasse : Examinai, lhe disse , o pavi-
mento do templo , e dizei-me de quem são estas pégadas ? Oh ! ex.-
clama o príncipe fora de si , isto são pégactas d'homens, e de mu-
lheres , e de crianças ! Como é isto ? e mandando logo trazer os
sacerdotes de Bel , e suas familias, intil!lou-lbes que lhe dissessem que
•
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CAH:CJSMO
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J>E PERSEVERANÇA. !53
« semanas, >) isto é 490 annos, ( foram fixados à respe.Ho de vosso
~ porn , e de vossa santa cidade. Então cessarão as prevaricações;
" o peccado lerá fim ; a iniquidade sel'á expiada, virá a justiça
' elerna., as visões e prophccias serão cumpridas. Aquelle que é
u: o Sanlo dos sanl.os receberá a unção ; o Chrislo sera morto , e o
" Pº"º que o .ba-de negar não será mais seu povo. Um Pº''º es-
a: tranho virá com seu chefe ; e destruirá a cidade e o santua-
" rio , que serão inlriramente arrazados. A guerra será seguida da
« desolação que se resolveo. O ·Chrislo confirmará a sua alliança
" com o mundo. Enlão os sacrificios serão abolidos. Haverá no
« templo a abominação da desolação , e a desolação não terá mais
" lermo. >) (1)
Por esta prophecia fica demonslra<1o á evidencia: 1.º que o Mes-
sias já vc~io. Por quanto , Daniel annuncia que a ruína do templo e
da cidade de Jerusalem deve seguir-se á morte de Christo. O Christo
1
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!5(. CATECIS~IO
·ORAÇi.O.
O' meu Deus l que sois lodo amor, eu vos dou graças por ler-
des annunciado com tanta exactidão o nascimento e caracteres do
Messias; é frans~ortado de jubilo ~que eu reconheço es.te divino Mes·
sias em Nosso Senhor Jesu-Christo, o qual só reunio em si .lodos
os caracteres do Messias predito por Daniel. _
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas , e ao proximo
como a mim mesmo por amor de ·Deus ; e , em testemunho deste
amor , orarei· pela conversão dos Judeos.
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nE PERSEVtRANÇA.
XLIII.ª LIÇA.O.
O :MESSIAS PREDITO.
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CATECISMO
na vo1ta para a patria, foi levantar um altar ao Senhor, em quan-
to não tinham recursos para edificar um templo. Passado um an-
no , lançaram os primeiros fundamenlos para elle ; mas JeYantaram·
se grandes difficultlades ; e , segundo a prophecia de Daniel , a
obra não conlinuon senão muitos annos depois. ·
Como Josu~, Zorobabcl, e sobre tudo os velhos, q·ue tinham
visto o templo <le Salomão, esla vam descoroçoados ao ver quanto o
novo templo seria inferior ao antigo , quiz o Senhor consolar a
uns e animar a oull·os.
Para este fim chamou o Prophela Aggeo, e disse-lhe : Fallà
a Zorobabel , cabcç.a de J uda , e a Josué , Summo Sacerdote , e a
todo o povo, e <l1ze-lhes: A'quelles d'enlre ,·ós, que viram o auligo templo
em toda a sua gloria, não está parecendo que este é nada em comparação
d'elle? Todavia, ó Zorobabel ! tem animo, diz o Senhor ; Josué , Sum-
mo Sacerdote, tem animo, e vós lodos, _restos do meu povo , ten-
de animo todos, e mellei mãos á obra. « Ainda um pouco , e cu
a: abalarei o- Ceo e a terr·a , o mar, e todo o universo ; eu abala-
« rei todos os povos, e o DESEJADO DE roo.\s ·As NAÇÕES vm ..\ , e eu
« encherei de gloria esta casa pela sua presença. A gloria deste
« segundo templo será muito maior que a do primeiro , porque é
« neste lugar que eu darei a Paz. » (1) Os Judeos e os Chris-
tãos arnrmam igualmente que esta predição se refere ao · Messias.
· Ora~ ella prova duas cousas : 1. º que o Messias ja . veio - porque
o ·Propheta diz, que o l\Iessias entrará pessoalmente no segundo
templo, e que por isso a gloria deste segundo templo será inlini-·
tamente superior á do primeiro. Como o segundo templo foi abra-
zado pelos Romanos, no anno selenla da era chrislã, o Messias,
por consequencia, já linha vindo anles desta epocha, e é muito em
vão que os Judeos continuam a esperar por ello. •
A segunda cousa é que osso Senhor Jesu-Chrislo é verdadei-
ramente o Messias predito por Aggeo - Por quanto , o Prophela
annuncia que á chegada do Messias , Deus abalará o ·Ceo e a ter-
ra ,. º. ma_r e todo o universo. Ora, ua vinda tle Nosso Senhor ,
-·
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DE PERSEVERANÇA.•
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CATECISMO
a paz, dizia elle, eu vos deixo a minha paz, não a paz que o mnn•
do dá. E não foi no mesmo templo de Jcrusalem que nol-a annun-
ciou este divino Salvador, Ministro desta paz ? Não foi neste mes-
mo templo que esta paz se concluio, quando o Salvador derra-
mou as primicias ele seu sangue , sob o cutello da circumci~
são~ Nosso Senhor é pOl' tant-0 o verdadeiro Messias predito
por Aggee>.
Para provar aos Judeos a verdade das suas predições concer-
nentes ao ~lessias , annuncia-lhes o Propheta dous factos de que
- eltes iam ser testemunhas. O '1. º é a cessação da longa esterili-
dade que já durava ha dez annos, e a volta da abundancia; .o 2.º
é a queda dos reinos estrangeiros, a destruição da monarchia dos
Persas pela dos Gregos, a dos Gregos pela dos Romanos , e sobre
tudo a conservação . <l3i casa real de Judá , até ao na~cimenlo d0
Messias que, pel-Os descendentes de Zorobabel, devia sahir de David,
Jacob, Isaac, e Abraham. Estes dous successos verificaram-se. Ag-
geo prophetizava cerca de quinhentos e vinte annos antes <la vinda
de Nosso Senhor.
· Apenas tinha Aggeo feito ao povo de Deus todas estas- conso..
)adoras promessas, quando Zacharias, outro Propheta do Senhor, as
' 1 cio confirmar e ajuntar-lhe novas. Segundo o indispensavel de-
ver de todos os Prophetas , começa elle p~r estabel~cer a sua
missão divina , predizendo acontecimentos proximos , cujo curo..
primento affiançasse a verdade de suas prndições tocantes ao
Messias.
Annuncia elle 1. º que Jerusalem, tantas vezes infiel, não reca ..
hirá mais na idolatria , e se chamará a cidade da verdade. Esta
prophecia verificou-se ; desde a volta do capliveiro, Jémsalem não se
deu mais ao culto dos ido los : 2. º que, apezar de todas as difílcul-
dades acluaes, Jerusalem seria reedificada e povoada. Ainda se ha
de ver , diz este Propheta , nas praças de Jerusalem, os velhos apc-
. gados a seus bordões , pot· causa de seus largos annos ; e as ruas _ ·
da cida(le cheias de meninos e mQninas, que brincarão nas praças
publicas : 3. º que a terra dos Philislheos, antigos inimigos do povo
e1colhido, ficaria deserta e desolada. Esta ultima· predição realisou..
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DE PERSEVERANÇA.
se por Alexandre o Grande (1) , como a precedente pelos reis
da Persia.
Passando ao :Messias , entra o Propheta em interessantes miou..
eiosidades., diz que elle apagará a iniquidade do mundo , que será
rei, justo, Salvador ; que será manso e humilde ; que entrará em
Jerusalem montado em uma burrinha e sobre um jumentinho; que
será ferido ; á vista do que fugirão seus discipulos ; que será ven•
uido por trinta dinheiros de prata i que este dinheiro será )evado ao
templo , e dado a ·um oleiro ; que lhe hão de trespassar as mãos ;
eni fim diz que ha. de converter as nações, que aquelles que o hão
de malar acabarão pelo reconhecer, e que haverá um grande pran·
to em Jerusalem. (2)
Nosso Senhor apagou a iniquidade do mundo ; declarou alta-
mente a Pilatos que era rei, e reina actualmente no mun<lo , do
qual mudou as ideas e costumes ; é justo , e tam justo , que seus
inimigos não poderam achar cou a que lhe lançar em rosto ; é o
Salvador por excellencia ; é manso e humilde : Aprendei de mim ,
diz elle, que sou manso e ltumi'lde de coração. (3) Entrou em Je-
rusalem montado em uma jumentinha, seguida do seu burrinho ; foi
preso no jardim das Oliveiras , e abandonado dos seus Apostolos ;
foi yendido por trinta dinheiros de prata , e este dinheiro , preço
d'um Deus , 1evou-o Judas aos sacerdotes , que compraram com elle
o campo d'um oleiro ; foi elle e só elle que converteu as nações ;
clle, e só elle que os Judeos choraram amargamente, quando reco-
nheceram, depois da sua resurreição, que tinham crucificado o Filho
de Deus : Nosso Senhor, por tanto, é realmente o Messias predito
llOr Zaeharias.
Animados pelas palavras d' Aggeo e de Zacharias , sobre a futu-
ra grandeza do templo, trabalharam os Ju<leos com ardor na cons-
trucção deste edificio. Nem as fadigas e difficuldades da obra, nem
os máos designios de seus inimigos, puderam fazei-os afrouxar.
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260 CATECISMO
1
D ahi a alguns annos, Esdras, que estava ainda em Bab-ylonia.·
occupando um fogar muito dislincto , obteve permissão do rei para
conduzir á Palestina uma segunda colonia dos Judeos que restavam
nos seus Estados. Tenclo. reunido todos estes pel'egrinos, foliou-lhes Esdras
deste . m-0do : ~leus irmãos, nós estamos sós, 8em armas , sem defe-
za, havendo de atravessar um vasto paiz , cercado d'inimigos , que
pl'ocurarão assaltar-nos. Pudera eu pe<lir ao rei soldados, que nos
acompanhassem, mas confesso-vos que teria vergonha de o fazer.
Sabeis o que tenho dito a este pl'incipe diante de vós , ácerca da
lloderosa protecção com que o Senhor Nosso Deus honra a lodos
aquelles que o procuram com simplicidade de coração, e que n'elle
poem sua confiança. Mas para nos tornarmos dignos da sua prolcc- ·
ção, passemos um dia em oração e em jejum ~ pedindo-lhe , com
fel'vQrosas. supplicas, que se digne ·ser o nosso guia e protector, du-
·ranle a nossa jornada.
Teve Esdras a consolação de ver que todos os Judeos partilha-
vam os seus sentimentos. Não houve um só que não considerasse
a oração e o jejum como uma defeza mais segura, que todas as cs-
col1tas, que lhes podessem dar. Não foi vã a sua esperança ; pois
chegaram felizmente á palria, ondµ se uniram a seus irmãos, e tra-
balharam incessantemente em erguer a cidade das ruínas, e acabar
a construcção do templo. Esdras leve a fortuna de concl~ir esta
augusta obra ; e o Senhor escolheu Nehcmias para reedificar os mu- · ·
r-0s de Jerusalem, e restabelecer a nação judaica em estado de se
fazer respeitar dos invejosos , e numerosos inimigos que a ro-
deavam.
Foi então que appareceu Malachias, o ultimo dos · Propbclas.
Auctorizado já por seus antecessores, sem carecer de provar sua
missão por aconlecimentos proximos (1) , foi elle enviado para
annunciar aos Judeos que os sacrificios que de novo começavam a
offerecer-se no templo de Jel'Usalem , nem sempre seriam agrada-
Yeis ~o Senhor ; que outro sacrificio mais santo dnvia suhslituil-os ;
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DE P!RSEVERANÇA. !61
que a .sua 1·cligião não era pois mais que a preparação e ·o esboço
._ruma alliança mais perfeita, .(fUe o Senhor resolvera celebrar, ·não
com um só povo , mas com todo o genero humano. · Transportado
ao porvir, vê elle já como cumprida a grande maravilha de que o
mundo é hoje testemunha, a augusta victima offerecida em· todos os
ponlos do globo em lugar dos antigos sacrificios. EndereÇando-se
aos sacerdotes da Lei, falla-lhes nestes termos : « Eis aqui o que
« diz o Senhor : A minha affeição não é para comvoseo ; e não re-
« ceberei mais a offerenda de vossas mãos, porque desde o Orien-
« le até o Occidente o meu nome é grande entre as nações, e em
« todos os lugares offerecem-mc um sacrificio, e apresentam-me uma
« oblação pura á gloria do meu nome ; porque o meu nome é gran-
« de enlre as nações, diz o Senhor dos exercilos. » (1-)
:Malac.hias annuncia tambem que 0 Messias terá, .nm. precursor,
que ha uc pn:parar os homens para o ouvirem. « Eu vou enviar
cc o meu Anjo (diz o Senhor) e elle p1·eparará o .caminho diante de
« mim ; e logo o Dominador que procuraes, o AnJo da alliança que
« dcsejaes, virá ao seu templo. ~)) Para fazer reconhecer este precur-
sor, diz o Prophela que elle sera um outro Elias , que unirá de
coração os pais com os filhos , e os filhos com os pais. (2)
Nosso. Senhor te,;e o pre~ursor João Baptista. O Anjo que an-
nuneiou o nascimento deste milagroso menino havia dito : Elle ca-
minhará diante do Senhor, no espirito e Yirtude de Elias , para unir
os corações dos pais com seus filhos , e pre.parar ao Senhor um
povo perfeito e disposto a o receber. (3) Logo João Baptista é o
precursor predito por Malachias. l\Ias João Baptista caminhou adi-
ante de Nosso Senhor; foi para elle e só para elle que o precursor
preparou o caminho : logo Nosso Senhor é aquelle Dominador , a-
quelle Anjo da alliança, aquelle Messias desejado pelos Ju<leos , que
l\Ialachias annunc.iou.
Qual é agora o grande sacrificio de que falla o mesmo Prophe-
tt) Malach. 1.
ld. IV.
('.2)
{3) Luc. 1, 16.
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!6! CATECISMO
O' meu Deus ! que sois todo amor, eu vos dou graças por ter-
des velªdo com tanta solliciLude o vosso povo , em quanto esteve
no meio das nações infleis; e pelo haverdes tirado do captiveiro e
restituido á terra de seus pais. Velai lambem sobre mim , ó :n:ieu
Senhor 1 em quanto estou no meio do mundo , que vos não conhece.
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DE PERSEVERANÇA. !63
Tirai-me deste exilio, e conduzi-me á minha patria cel~ste, aonde
- vós estaes.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas , e ao proxime
como a mim mesmo por -amor de Deus ; e , em testemunho deste
amor, assistirei com mtiita devoção ao santo sacrificio da missa.
XLIV.ª LICÃO.
•.
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26i CU'ECISMO
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DE PERSEVERANÇA. • !65
vezes annunciado. As figuras ·succedem-se em linha paralella ás pro-
messas. Em quanto as primeiras nos dão a genealogia do Messias,
e nos conduzem passo a passo , do genero humano a um povo par...
ticufar , deste povo a uma de suas tribns , desta lribu a uma fa-
milia , desta familia a uma casa ; as ultimas desenham o retrato do
filho de David, que ha-de salvar o mundo. Por el1as se nos re-
presenta elle em Adam , como pai d'um novo mundo , dando nas ...
cimento , durante o somno , a urna esposa , osso de seu osso, carne
de sua carne; em Abel, innocente·, morto por seus proprios irmãos;
em Noé, salvando o mundo da ruina unh·ersal e novamente povoando
- a terra de filhos de Deus; em Melchisedech, sem predecess()r, nem
successor no Sacerdocio , . offereccndo em sacrificio ao Altissimo o
pão e o vinho ; em Isaac , offerecendo um sacrificio na montanha
do Calvario , immolado pela mão de se\l Pai; em Jacob, trabalh<m-
clo largos annos , para obter uma esposa digna dellc ; em Jósepb,
vendo por seus irmãos , entregue a estranhos , condemnado por
um crime de que está innoce11te , collocado entre dous criminosos ,
a um dos quaes annuncia· a vida , a outro a morte ; e emfim en-
®endo generosamente de bens a seus deshumanos irmãos ; no Cor-·
deiro Pascal , offerecendo-se .em sacrificio, e preservando seu povo do
Anjo exlermrnador : no Manná, alimentando milagrosamente a na-
ção peregrina , com um pão descido do Ceo ; em os sacrificias , ex-
piando, adorando, deprecando e louvando ao Senhor ; na serpente
de bronzt, levantado na cruz , e curando , pot· sua presença , a
ardente mordedura das serpentes ; em Moisés , tirando o seu povo
do capli veiro , dando-lhe uma Lei , que o torna um povo querido
de Deus ; em Josué, introduzindo o seu povo em uma terra de ben-
çãos ; em Gedeão , lriumphando dos inimigos do seu povo, com um
punhado de soldados, e com os mais fracos meios ; em Samsão , . to-
mando uma esposa d'entre os gentios, e luctando só contra uma na-
Ção inteira ; em David, derribando o gigante, a pezar da desigualda-
de apparentc das forças ; mallratado por um envejoso príncipe , per- .
seguido por um desnaturado filho, arrastando-se, ·dcscalso e banhado
cm lag1'imas, ao alto da montanha das Oliveiras; insuflado por um
homem , a quem p1'ohibc que façam mal ; em Salomão, assentado cm
um magnifico lhrono, cercado de poder e de gloria ; dotado · de urna
. 31 11
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266 CATECISMO
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DE PERSEVERANÇA. !67
Entre tanto o seu povo o ha-de desconheéer, será perseguido,
contradito , calumniado ; enlra1·á em Jerusalcm , no meio elas accla-
mações , montado em um~ jumenla, seguida de seu burrinho ; virá
em pessoa ao novo templo, que por isso será mais glorioso que o
primeiro ; annunciará a reconciliação do Ceo com a terra , dos ho-
mens com Deus. Um de seus discipulos, que comia á sua mesa,
o lrahirá e venderá, por trinta dinheiros; este dinheiro será trazido
no templo ·' e dado a um oleit o, em pagamento de seu campo. Seu
inimigos se apoderarão de sua pessoa ; fugirão todos os seus disci-
pulos; e será açoutado , dilacer~do , coberto de escarros , tratado
como um verme da terra. Trespassar-lhe-hão os pés e as mãos ,
lle não abrirá a boca para se queixar, qual o cordeiro que levam
para o matadouro. Será collocado entre malfeitores; dar-lhe-Mo vi-
m1grc a beber , partilha ão- -seus vestido$ , e deilar.ão sortes sobre
sua tunica. Em fim, será morto; e isto , dizia Daniel , succedcrá
<l'aqui a quatrocentos e novenla annos.
_Por sua morte expiará totlas as iniquidades do mundo, as quaes
voluntariamenle tomou sobre si mesmo. Permanecerá tres dias no
tumulo ; d ahi surgirá cheio de vida, subirá ao Ceo , e enviará o
E pirilo Santo aos seus disc1pulos. Fará uma nova alliança mais per-
feita que a de Moisés. Converterá todas as nações , ttne por toda
a parle abandonarão seus ídolos , para o seguirem ; d'uma exlremi-
.dade do universo a outra , reunir-s"C-hão os poyos , os ma~s diffe-
-rentes em costumes e lingua, para o adorar. ..Estabelecerá um sa-
crificio novo , que substituirá todos os sacrilicios, que será offere-
'cido , não em um só paiz ou templo , mas em todos os paizes do
mundo , do Oriente ao Occidenle ; e este sacrificio será santo 1 e
tornará grande o nome do Senhor.
Quanto ao povo que o ha-de negar, cess·ará de ser seu povo;
e para o punir de Ler matado o l'tle ias , a cidade e o templo de
Jerusalem serão arrazados , incendiados por um povo cslranl)'ei1·0,
commanclado pessoalmente por seu principe , e os ftlltos d 1 rael ;
errante e desprezados , ficarão sem altares , n m sacrifi io , nem
padres , em um estado de desolação , que dur~rá até o fim dos
tempos. ·
Enlão Elias descerá do Ceo para os conycrter , e logo depois
*
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268 • CATECISMO
.
Con1eçai o vosso ifüruerito ; ah I o inquerito nem é longo nem diffi-
cil. Vós conheceis e conhecemos. todos um filho de David , a quem
' este rctralo convem completa e exclusivamente; e com a mais pro-
funda admiração , respeito, e amor, pronunciamos o adoravel nome .
-
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DE PERSEVERANÇA. !69,
depoimento: Se fossem todos exterminados, se acabasse este povo como
acabam os de.mais, nesse caso nãó teriamos nenhuma$.
Mas não succede assim ; ve-se ha desoito seculos este povo ,
o menos suspeito de nos favorecer, depondo em nosso favor , apre-
goando por todo o mundo, com insubornavel veracidade, a sua con-
. demnação e as nossas provas. Prodigio unico na historia l Aquelles
que guardam , como precioso thesouro, os livros que nos provam
que Jesu-Christo é o Messias, são os mesmos que o cruxificaram e
negaram; os mesmos de quem esses livros. diziam que o haviam de
ci-uxifrcar e negar ! Tanto é verdade que o povo judaico é visivel- ·
mente um povo creado de proposito, para dar eterno testemunho ao
Messias!
,
ORA.UÃ.O.
O' meu Deus ! que sois todo amor , eu vos dou graças não só
por nos lerdes promettido um Salvador, mas tambem pelo terdes re-
tratado tam claramente por esta longa serie 40 figuras e prophe-
cias. Eu me prostro perante vós , ó meu Senhor Jesus 1 Reconhe-
ço-vos pelo Filho de D~vid, Reclemptor do mundo. Tambem vos
dou graças por terdes escolhido um meio. tam admiravel de conser-
var as vossas santas Escripturas , e levai-as ao conhecimento de to-
dos os povos.
Eu protesto amar a Deus sobre todas as cousas , e ao- pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus ; e , em testemunho
deste amoi: , pronunâarei sempre com summo respei"to o ailoravel
?iome de Nosso Senhor .lesu-Chris·to.
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.,
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•
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!72 APPROVAÇÕES.
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1
Al>PROV AÇÕES. 273
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1 '
274 APPllOVAÇÕES.
.
o coração , e por um methodo claro , e proprio a gravar na me-
moria dos fieis as importanlissimas verdades, de que se acham abun-
tlantemenle enriquecidos. E' de esperar, que a juventude de ambos
os sexos , preservando-se de habitos maos, e viciosos , que corrom-
pem o coraç.ão , pela instrucção que receben , e que con vem con-
tinue a receber desta excellenle obra persevere até á morte nos
santos , e louva veis propositos , que formou perante os altares na
primefra communhão , e nos sentimentos religiosos , que ella ins-
pira. E porque nos cnmpre conduzir ao porto da salvação eterna
os fieis , que a Divina Providencia commetleu aos nossos cuidados
pastoraes , e a leitura do Catecismo é um meio apto , e acommo-
dado para conseguir tão desejado fim , não só approvamos para a
· nossa diocese o dito primeiro volume , traduzido em linguagem (os ·
ruais volumes traduzidos em Hngu_agem , impressos , e publicados ,
sejam consideradôs por nós appro\\ldos, senão ·declararmos o con:-
trario ,) mas recommendamos a leitura de tão excellente obra aos
reverendos parochos , e clero , aos paes de familia , e aos mestres
das escolas primarias. Aos parochos, ~ clero a fim de explicarem
aos povos os dogmas da religião , a sublimQ moral do Evangelho ,
os adroiraveis effeitos dos Sacramentos , e as ceremonias do Culto Di-
vino , aos paes de familia , e mestres das escolas primarias , para
ensinarem aquelles aos seus filhos ~ e d·omesticos , e estes aos seus
discipulos a doutrina christan, e fazerem-lhes conhecer pela 11islo-
ria , e provas do christianismo , que o Catecismo propõe em um ·
estylo agradavel, e ameno , que a egreja catholica, apostolica, ro-
mana , é a unica , em c1ue os homens podem preencher o fim da
sua creação , o qual é , andarmos na presente vida pelos caminhos
da piedade, e da justiça , como diz o Apostolo - ut sobrie, et jus-
te , et pie vivámus in hoc seculo - e gosarmos na outra do summo
bem por toda a eternidade.
O reverendo arcipreste de. . . . . . . . . . . . ; . . . . . . .
faça correr esta nossa circular por todos os parochos do seu dis-
tricto , ordenando-lhes, que a leiam á estação da missa conventual.
Draga 10 d'Agosto de 1833.
P. C. A. Primaz.
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INDEX
,.
DAS
.-
CONHECIMENTO DA RELIGIÃO.
_ Pag.
Existe uma Religião? - Que é a Religião? - Pode haver muitas Re-
ligiões? - De quem vem a Religião? - Qual é a verdadei~·a Reli-
gião'! Pode mudar a verdadeira Religião? - Palavras de Bossuet e
de S. Agostinho. - Trecho historico. • • . • . . õ
XX.ª LIÇÃO.
ANTIGUIDADE DA RELIGIÃO CHRISTÃ.
)
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276 INDEX
.
v1men l o succcss1vo
. da Re1·1g1ao.
.., - E
· xpos1çao 1 Pag,
. .. do p1ano gera l <a
Religião. - Primeira promessa do Messias. - Adam, primcir:a fi-
gura do Messias. - Patriarchas. - Abel, scgu~nda figura do Messias. ~3
XXII.ª LIÇÃO.
O l\IES.SIAS PROi'\IETTlDO E FJGURADQ.
XXV.ª LIÇÃO.
O MESSIAS P~OMETTIDO E FIGURADO.
XXVI.ª LIÇÃO.
O l\IESSIAS PROl\IETTIDO E FIGURADO.
,
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DAS . MAT~RlAS. .!77
. Paq.
pto. ~' Exallado em gloria. -- Reconhecido por seus irmãos. - Che·
gada de Jacob ao Egyplo. - Joseph, selima figura do Messias. · 112
.-
XXVII. ª LIÇÃO.
O MESSIAS PRO~IETTIDO E FIGURADO.
XXVII ta LIÇÃO.
O l\IESSIAS PRmlETTIDO E FIGURADO.
XXX.ª LIÇÃO.
O ~IESSIAS PROMETTIDO E FIGURADO.
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278 INDEX ·~
XXXI.ª LIÇÃO.
O MESSIAS PROMF.TTIDO E FIGURADO.
"" .da Terra promeU1'd a. - Nornes que tem -t1·d o.· - passagem doPag ·
Noçao
Jordão. - Tomada de. Jericó, . . :. Punição d'Achan. - Renovação da
alliança. - Astucia dos Gabaonitas.-Victoria de Josué. - Soa worle.
Josué, decima terceira figu~a do MQssias • . , . . . . 156
XXXII. ª LIÇÃO.
O l\IESSIAS PRO~i"ETTIDO E FIGURADO,
.
O MESSIAS PROMETTIDO E FlGURADO.
(
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DAS MUElllAS. !79
. .
· . . Pa.
sahc :de Jerusnlem. - Desfeita e morte d'Absalom. - Novo p'1ccàdó g
de Davi'd. - Sua mor&c. - David , decima sexta figura do Messias. 188
XXXVP LIÇÃO.
O MESSIAS PROMETTIDO E FIGURADO.
Sq,isma das dez tribus. - Sua- idolatri.a. loD4S os_ e_xhor_la a cônver-
'e:'
-XXXVIII. ª LIÇÃO .•
O MESSIAS PREDITO.
Estado do ~eino d' Israel. - Estado .do reino de Juda. - Isaías, Pro-
pheta. -- Acoutecimenlos proximos que prediz em prova da sua
nmsão. - O que amrqncia -.do Messias. • . . . . • . . . .. 22!
XL.ª LIÇÃO.
O MESSIAS PREDITO.
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280 . Í:iiDEX
• • y • • • Pág.
do Messias. - Machcas, Prophcta. - Aconlec1mentos prornnos que· -
prediz. - O que annuncia do Messias. - Joel, Prophcta. - Sua ~· ida.
Suas prophccias. • . . • , • . .. · . . 2:11
· · XU.ª LlÇÃO.
O l\IE~SIAS PREDITO.
XLll.ª LIÇÃO.
XLIII.ª LIÇÃO.
•O MESSIAS PREDITO.
XLIV.:i LICÃO
•
.
· Resumo ger.al , e applicação das promessas , figuras e prophecias , -
a Nosso Senhor 1esu-Chrislo • - • . • • . · . 263
l1 pprovaçõcs • • • • • • f • • • 62."/ l
·-
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