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Teologia do processo

Ao passo que a tradicional defesa do livre arbítrio explique a existência


do mal em termos éticos, argumentando que os seres humanos são livres para
desobedecer ou ignorar a Deus, a teologia do processo defende que os
elementos do universo são igualmente livres para ignorar as tentativas de Deus
no sentido de influenciá-los e persuadi-los. Eles não são obrigados a responder
à influência de Deus. Assim, segundo a Teologia do processo, Deus é absolvido
tanto da responsabilidade pelo mal na natureza quanto pelo mal em sentido
ético.
A teologia do processo foi influenciada pela teoria evolucionista da
biologia e Deus é tratado como uma “entidade” entre várias outras sendo
influenciado e influenciando mutuamente o homem como uma “queda de
braço”. Para isso a onipotência divina é redefinida no processo para se amoldar
à igualdade de condições do homem influenciar Deus. Assim, todo tipo de mal
existente é culpa unicamente do homem, a despeito de isso causar uma
necessária diminuição da pessoa de Deus, ficando totalmente alheio a certos
acontecimentos.
Embora essa compreensão do caráter persuasivo da atividade divina
tenha méritos evidentes, ao menos por proporcionar uma resposta ao problema
do mal (pois, de acordo com ela, como Deus não está no controle de tudo, ele
não pode ser culpado pelo modo como as coisas acontecem), os críticos desse
movimento sugeriram que esse era um preço muito alto a ser pago. Além disso,
a tradicional ideia da transcendência divina parece ter sido abandonada, ou
ainda radicalmente reinterpretada em termos da primazia e da manutenção de
Deus como uma entidade sujeita ao âmbito do processo. Em outras palavras,
entende-se a transcendência divina como pouco mais do que o fato de Deus
sobreviver e superar às demais entidades adaptando-se a elas.
Para defender-se da critica de que Deus muda como conclusão óbvia do
modelo, uma explicação é que por ser perfeito Deus é receptivo a mudanças,
não significando que mude, mas que é afetado pelos seres criados.
O paleontologista Teilhard de Chardin desenvolveu então a ideia de
“cosmos em evolução” cunhando o termo “ponto ômega” que seria o clímax e
consumação em Cristo da evolução humana. Basicamente, o quadro baixo é um
resumo da teologia do processo:
Visão Clássica Teologia do Processo (surge em 1929)
A criação acontece ex nihilo, por um Tanto Deus como a criação necessariamente
ato de livre vontade. Não há uma razão existem. A existência do mundo não depende
necessária para qualquer coisa além da de nenhuma ação de Deus, embora os
existência de Deus. A criação depende detalhes precisos da natureza de sua
da decisão de Deus no sentido de cria la; existência sejam uma questão de
Deus poderia ter decidido nada criar. contingência.

Deus tem o poder de fazer qualquer coisa Deus é um dentre muitos agentes existentes
conforme sua vontade, desde que isso não no mundo e tem tanto poder quanto qualquer
envolva uma contradição lógica (e.g. Deus outro. Esse poder não é absoluto, mas
não pode criar um triângulo quadrado). limitado.
Deus é incorpóreo, e radicalmente O mundo deve ser visto como o corpo
diferente da ordem natural por ele criada. de Deus.
Deus está fora do tempo e não faz parte Deus faz parte da ordem temporal. Por
da ordem temporal. Portanto, é meio desse envolvimento, ele está
inadequado pensar que Deus possa continuamente obtendo sínteses de
“mudar” ou ser afetado por qualquer experiências mais enriquecedoras.
envolvimento ou experiência no mundo.
Deus existe em um estado de absoluta Em qualquer tempo, Deus é mais perfeito
perfeição, e não é possível conceber sua de que qualquer outro agente que exista no
existência em um estágio de maior mundo. Entretanto, Deus é capaz de alcançar
perfeição. níveis maiores de perfeição, em um estágio
mais avançado de evolução, em virtude de
seu envolvimento com o mundo.

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