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Carlos RSA, Silva MM, Albuquerque AROL. Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia e Alergologia Veterinária; 2012; 2(4); 1-637.
Resumo
A dermatose responsiva ao zinco é uma doença descamativa rara e nutricionalmente responsiva. É dividida
em duas síndromes distintas. As lesões dermatológicas mais comuns são eritema, descamação e formação
de crostas que envolvem face, cabeça, escroto e pernas. O diagnóstico presuntivo é realizado por dosagens
de zinco, histopatologia, porém o diagnóstico definitivo se dá através da resposta positiva ao tratamento. O
diagnóstico diferencial deve ser realizado principalmente com a acrodermatite letal. O tratamento se baseia
em melhora nutricional e administração do zinco.
Abstract
Zinc responsive dermatosis is a rare desquamative disease with nutritional response. It is divided in two dis-
tinct syndromes. The most common dermatologic lesions are erythema, desquamation and crusts at face, head,
scrotum and legs. The presumptive diagnosis can be obtained by zinc measurements and histopathology, but
definitive diagnosis is based on the positive response to treatment. The differential diagnosis must be done
mainly with lethal acrodermatitis. The treatment is based on nutritional improvement and zinc administration.
1
Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia
e Alergologia Veterinária (2012); 2(3); 1-637.
Revista de Educação Continuada em
Dermatologia e Alergologia Veterinária
Dermatose Responsiva ao Zinco – revisão de literatura
Malamutes do Alasca, podendo ocorrer também em ou- supõe-se que as lesões cutâneas estejam relacionadas a
tras raças como Dobermans e Dogues Alemães (3,4,6,7). estresse oxidativo nesta doença (10).
Essa síndrome pode ser desencadeada por estresse, estro
e distúrbios gastrointestinais que afetam a absorção do
mineral. Dietas ricas em cálcio e fitato (proteína deriva-
da de vegetais encontrada principalmente em rações que
contenham soja) também podem desencadear o distúrbio
através do bloqueio do zinco no trato gastrointestinal. Os
cães da raça Malamute do Alasca apresentam um defeito
genético que afeta a absorção de zinco no intestino, assim
sendo a afecção pode ocorrer a despeito de uma dieta ba-
seada em ração comercial bem-balanceada (3,4).
A síndrome II ocorre geralmente em cães de cres-
cimento rápido, comumente nos primeiros meses de
vida,alimentados com dietas deficientes em zinco, com
muito cálcio ou fitato, ou com excesso de suplementação de
vitaminas e minerais. As raças onde há maior casuística in-
cluem Dogues Alemães, Dobermans, Beagles, Pastores Ale-
mães, Pointers de Pêlo Curto Alemães, Retrievers do Labra-
dor e Rhodesian Ridge backs (1,3,4,8). Segundo Watson (1),
a relação com raças gigantes provavelmente ocorre devido
a uma alta demanda metabólica de zinco nesses animais.
Sinais Clínicos
Nos animais adultos os sinais de deficiência de zin-
co estão geralmente restritos a pele, já em filhotes estes
sinais podem vir acompanhados de problemas de cresci-
mento e outras anormalidades. Devido a uma diminuição
no paladar e no olfato em animais com deficiência desse
mineral, pode ocorrer uma diminuição do apetite. A de-
ficiência prolongada do zinco pode resultar em perda de
peso, demora na cicatrização de feridas, conjuntivites e
Figura 1 - Husky Siberiano, macho, castrado, dez anos de idade,
ceratites (1). As lesões dermatológicas mais comuns são com dermatose responsiva ao zinco, apresentando crosta unilate-
eritema, descamação e formação de crostas que envolvem ral na região periocular. Fonte: WHITE et al., 2001.
face, cabeça, escroto e pernas. As lesões que acometem os
cães aparecem ao redor dos olhos (figura 1), boca (figu-
ra 2), do queixo, das orelhas (figura 3), do prepúcio, da
vulva, no focinho e no plano nasal. Podem haver cros-
tas espessas nos cotovelos e em outros pontos de pres-
são do corpo. Os pêlos geralmente ficam opacos e secos e
os coxins podais podem ficar hiperqueratóticos (3,4,6,9).
Associada a esses sinais, os animais acometidos podem
apresentar infecção secundária das lesões, linfadenopa-
tia, depressão, anorexia e diarréia (3,4,7).
Em estudos recentes observou-se que nos animais
com lesões dermatológicas por dermatose responsiva
ao zinco ocorre ausência de metalotioneína (MT) na epi-
derme. Isto pode ser indicativo de níveis locais baixos de
zinco, uma vez que a função da MT é estocagem e trans-
porte de zinco e sua concentração tecidual é altamente
dependente da disponibilidade do íon zinco. Devido ao Figura 2 - O mesmo animal da figura 2 apresentando crosta ao
importante papel antioxidante do zinco e da MT na pele, redor da boca e eritema. Fonte: WHITE et al., 2001.
Diagnóstico
O Diagnóstico da dermatose responsiva a zinco é ba-
seado nos achados do exame físico, no histórico do ani-
mal (incluindo histórico dietético e racial), na exclusão de
outros diagnósticos diferenciais e nos achados de histo-
patologia das biopsias cutâneas (3,4,6,7,9,11,12,13,14).
Em cães com dermatose responsiva a zinco, as con-
centrações de zinco no soro, no plasma e nos pelos dos
animais podem apresentar níveis mais baixos que em cães
normais. Deve-se ter cuidado com os resultados relacio-
nados ao nível de zinco no soro e no plasma dos animais,
pois as coletas estão sujeitas a contaminação pelo zinco
encontrado no tubo de ensaio, nas tampas de borracha
dos tubos de ensaio, em anti-coagulantes contendo zin-
co, e no zinco proveniente de hemólise, podendo haver
uma superestimação do valor nas amostras do mineral
nos animais. Além disso, os níveis plasmáticos sorológi-
cos de zinco estão sujeitos a variações de acordo com a Figura 4 - Microfotografia da epiderme do cão da figura 04 apre-
sentando paraqueratose típica de cães com dermatose responsiva
idade, sexo, temperatura ambiental, estresse, infecções ao zinco. (H & E 400´). Fonte: WHITE et al., 2001.
crônicas e agudas, problemas hepáticos, hipotireoidismo,
administração de glicocorticóides, gestação em cadelas e
neoplasias (7,11,15,16). Portanto, devido às dificuldades Apesar da necessidade indispensável de todos os exa-
de se obter o nível exato dos níveis de zinco nos animais, mes supracitados, somente uma resposta positivados ani-
os resultados abaixo do normal nas amostras podem ser mais acometidos pela doença ao tratamento com suple-
considerados apenas como tendo valor corroborativo mentação de zinco dietético pode confirmar o diagnóstico
para o diagnóstico da doença (16). definitivo (4,6,7,9,11,13).
Na avaliação histopatológica observa-se paraquerato-
se (figura 4), hiperqueratose ortoqueratótica, paraquera- Diagnóstico Diferencial
tose folicular e acantose. Também pode haver infiltração Os principais diagnósticos diferenciais para a dermato-
inflamatória perifolicular, difusa e/ou perivascular, po- se responsiva ao zinco são: dermatite necrolítica superficial,
dendo variar o grau da inflamação e o tipo de célula infil- demodicose, pênfigo foliáceo, dermatofitose, dermatose ali-
trativa, incluindo infiltração perivascular mononuclear e mentar canina, lúpus eritematoso sistêmico, piodermamuco-
infiltração linfocítica-plasmocítica difusa (6,9). São encon- cutâneo, seborréia primária, paraqueratose nasal hereditária
(HNP) e acrodermatite letal (LAD) (4,13,14,18,19,20). ao zinco, nas duas síndromes, é recomendável primeira-
De todos os possíveis diagnósticos diferenciais vale a mente corrigir a inadequação na alimentação – fornecen-
pena ressaltar a acrodermatite letal, pois essa é uma doen- do apenas ração de boa qualidade – e suspender qualquer
ça aparentemente relacionada à deficiência de zinco. A LAD suplementação nutricional inadequada. Na síndrome II,
é uma doença genética rara que acomete cachorros da raça apenas com a correção da dieta pode-se resolver o pro-
Bull Terrier. A sua causa exata ainda não foi identificada. blema entre duas a seis semanas. Entretanto, para uma
Entretanto,há indícios que esteja baseada em defeitos gené- melhora mais rápida, é interessante a suplementação do
ticos no mecanismo do metabolismo de zinco no fígado que animal com zinco,podendo suspendê-lo quando a pele
afeta as respostas inflamatórias dos animais afetados,e não voltar ao normal, sendo que em alguns casos faz-se ne-
ocorre apenas por um simples defeito na absorção intestinal cessária a administração do mineral até a maturidade dos
de zinco, o que explica a não resposta ao tratamento com su- animais. Já na síndrome I, deve-se fazer a suplementa-
plementação do mineral (20). O problema ocorre inicialmente ção e geralmente necessita-se de uma terapia pela vida
no primeiro/segundo mês de vida e tem como características toda, podendo ser necessários ajustes na dose do mineral
eritema inicial progredindo rapidamente para uma dermatite (3,4,7,14).Para a suplementação é recomendável o trata-
supurativa acompanhada de crostas, caspas e alopecia (acha- mento com 2-3 mg/kg/dia do elemento zinco (6). O uso
dos principalmente observados na cabeça (figura 5), cotove- de sulfato de zinco (10mg/kg/dia) ou zinco-metionina
los, coxins plantares e em torno das articulações). Ocorre tam- (1,7mg/kg/dia), ambos por via oral, é adequado para a
bém retardo de crescimento, pelagem sem viço, seborreia, maioria dos casos (figura 6). Alternativamente pode-se
depressão, distúrbios intestinais e infecções sistêmicas múl- administrar gluconato de zinco (10-15mg/kg/dia, VO).
tiplas. Os animais acometidos não respondem à suplementa- Se o sulfato de zinco for utilizado, os comprimidos devem
ção de zinco, seja parenteral ou oral, e praticamente todos os ser esmagados e misturados à ração para melhorar a ab-
animais morrem antes dos 15 meses de idade em decorrência sorção e diminuir possíveis irritações gástricas (3,4,6,14).
de uma broncopneumonia grave e da incompetência imuno-
lógica (12,20).Recentemente foi relatado em cães da raça Cão
do Faraó uma apresentação clínica severa de dermatose res-
ponsiva ao zinco com sintomas similares à LAD. Neste relato
foi observada uma resposta ao tratamento de suplementação
com zinco variável, como observado na acrodermatite ente-
ropática, que se trata de uma afecção congênita que acomete
seres humanos e tem sintomas semelhantes à LAD (21).
cessidade diária de zinco ou até mesmo não precisaram 9. Hall J. Diagnostic Dermatology. Zinc-responsive dermatosis.Can
ser mais suplementadas, sem que houvesse reapareci- Vet J 2005; 46(6):555-557.
mento dos sintomas. Isto pode ter ocorrido devido ao 10. Romanucci M, Bongiovanni L, Russo A, Capuccini S, Mechelli
fato do zinco competir com o estrogênio pela proteína L, Ordeix L, Salda LD. Oxidative stress in the pathogenesis
of canine zinc-responsive dermatosis. Vet Dermatol2011; 22:
do soro sanguíneo, ou devido ao provável incremento 31-38.
na demanda por zinco, principalmente pelo ovário, du-
11. Thoday KL. Diet-related zinc-responsive skin disease in dogs:
rante o período do estro (6). a dying dermatosis? .J Small Anim Pract 1989; 30: 213-215.
Para melhorar os efeitos terapêuticos pode-se admi-
12. Willemse T. Dermatologia Clínica de Cães e Gatos. 2nd ed. Ba-
nistrar corticosteróide aos animais afetados. Teoricamen- rueri: Manole;1998.
te, esta droga pode melhorar os sintomas devido a sua
13. Colombini S. Canine zinc-responsive dermatosis.Vet Clin North
ação anti-inflamatória na pele ou pela influência exercida Am Small Anim Pract 1999; 29(6):1373-1383.
na absorção intestinal do zinco (6). Outra alternativa é a
14. Mendleau L, Hnilica KA. Dermatologia de Pequenos Animais:
suplementação do animal afetado com ácidos graxos es- atlas colorido e guia terapêutico. 1st ed. São Paulo: Roca; 2003.
senciais, devido a sua atuação no incremento da absorção
15. Broek AHM Van Den, Thoday KL. Skin disease in dogs associated
intestinal do zinco (6,13). with zinc deficiency: a report of five cases. J Small AnimPract1986;
Paralelamente recomenda-se tratar qualquer infecção 27: 313-323.
cutânea bacteriana ou por Malassezia sp. com medicação 16. Broek AHM Van Den, Stafford WL. Diagnostic of zinc concentra-
adequada por no mínimo três a quatro semanas e realizar tions in serum, leucocytes and hair of dogs with zinc-responsive
dermatosis. Res Vet Sci 1988; 44: 41-44.
tratamento sintomático das lesões com banhos de água
morna, xampu anti-seborréico e aplicação tópica de vase- 17. Mc Gavin MD, Carlton WW. In: Carlton WW, editor. Sistema Te-
gumentar. In:Patologia Veterinária Especial de Thompson. 2ª
lina ou unguento (14). Ed. Porto Alegre: Artmed; 1998.
18. Page n, Paradis M, Lapointe JM, Dunstan RM. Case report He-
reditary nasal parakeratosis in Labrador Retrievers. Vet Derma-
tol2003; 14:103-110.
Considerações Finais 19. Peters J, Scott DW, Erb HN, Miller WH. Hereditary nasal parake-
ratosis in Labrador retrievers: 11new cases and a retrospective
study on the presence of accumulations of serum (‘serum lakes’)
A dermatose responsiva ao zinco em cães, apesar de in the epidermis of parakeratotic dermatosis and inflamed nasal
ser uma doença de diagnóstico relativamente complica- plana of dogs. Vet Dermatol2003; 14:197-203.
do, possui um tratamento simples, preciso e com baixa 20. Grider A, Mouat MF, Mauldin EA, Casal ML. Analysis of the liver
taxa de recidiva. soluble proteome from bull terriers affected with inherited lethal
acrodermatitis. Mol Genet Metab 2007; 92:249-257.