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Cições CNP”
O caminho para ser discípulo(a) de Jesus
e viver o Reino de Deus
12 Edição - 2015
C748c Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il - Ano B
São Marcos- setembro/outubro/novembro 2015. Brasília, Edições CNBB. 2015.
96 p.:14x21 cm
ISSN: 2359-1935
CDU: 264.041.1
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO... mestre
INTRODUÇÃO...
23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
6 de setembro de 2015 ...........eiieeecerererecensasererereranaasereaa
COMEMORAÇÃO DE TODOS
OS FIÉIS DEFUNTOS
2 de novembro de 2015..........eeerereereeresereessrersseesserenso
15 de novembro de 2015...........ceceeesrerseresrerreereersreado
1 EG,n.24.
' O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Situando-nos brevemente no
Evangelho de Marcos
Dando continuidade à vivência do mistério de Cristo no tempo
comum deste ano, seria bom situarmo-nos brevemente no que diz
respeito ao Evangelho.
Continuamos ouvindo a Palavra segundo o relato de Marcos,
que tem um dinamismo todo próprio em relação aos outros sinóti-
cos (Mateus e Lucas). É bom que o pregador (homiliasta) o tenha
presente como pano de fundo, e até o traga à luz, vez por outra, nos
diversos momentos do ano.
Ter presente o início do ministério de Jesus acolhido com grande
entusiasmo (do 3º ao 4º Domingo), mas também com oposições e
fortes resistências que não tardam a chegar (10º Domingo). Até os
discípulos de Jesus têm dificuldade de entendê-lo, pois neles está
profundamente arraigado o padrão mental de um Messias terreno.
E o nó da questão sobre o ministério público de Jesus aparece com a
profissão de fé feita por Pedro, com o primeiro anúncio que Cristo
faz de sua Paixão, e com a terminante recusa de Pedro a tal pro-
jeto (24º e 25º Domingo). Os mal-entendidos que se seguem neste
Evangelho — pois a fala e o modo de Jesus se comportar confundem
e até escandalizam seus ouvintes — têm muito a ensinar à assembleia
litúrgica reunida para ouvir a Palavra de Deus, a saber: “o mistério de
Cristo sempre desafia as nossas expectativas”:
4 EG,n. 135-144.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum —- Ano B — São Marcos RB
o Senhor quis chegar aos outros por meio também da nossa palavra
(cf. Rm 10, 14-17). Coma palavra, Nosso Senhor conquistou o coração
da gente. De todas as partes, vinham para O ouvir (cf. Mc 1,45).
Ficavam maravilhados, “bebendo” os seus ensinamentos (cf. Mc 6,2).
Sentiam que lhes falava como quem tem autoridade (cf. Mc 1,27).
E os Apóstolos, que Jesus estabelecera “para estarem com Ele e para
os enviar a pregar” (Mc 3,14), atraíram para o seio da Igreja todos os
povos com a palavra (cf. Mc 16,15.20) (EG, n. 136).
O contexto litúrgico
Agora é oportuno recordar que “a proclamação litúrgica da Palavra
de Deus, principalmente no contexto da assembleia eucarística, não
é tanto um momento de meditação e de catequese, como sobretudo o
diálogo de Deus com o seu povo, no qual se proclamam as maravilhas
da salvação e se propõem continuamente as exigências da Aliança”.
Reveste-se de um valor especial a homilia, derivado do seu contexto
eucarístico, que supera toda a catequese por ser o momento mais alto
do diálogo entre Deus e o seu povo, antes da comunhão sacramental.
À homilia é um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o
Senhor e o seu povo. Aquele que prega deve conhecer o coração da
sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de
Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não
pôde dar fruto (EG, n. 137).
À homilia não pode ser um espetáculo de divertimento, não
corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e
significado à celebração. É um gênero peculiar, já que se trata de uma
pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve
ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma aula.
O pregador pode até ser capaz de manter vivo o interesse das pes-
soas por uma hora, mas assim a sua palavra torna-se mais importante
A conversa da mãe
Dissemos que o povo de Deus, pela ação constante do Espírito nele,
se evangeliza continuamente a si mesmo. Que implicações tem esta
convicção para o pregador? Lembra-nos que a Igreja é mãe e prega
ao povo como uma mãe fala ao seu filho, sabendo que o filho tem
confiança de que tudo o que se lhe ensina é para seu bem, porque se
sente amado. Além disso, a boa mãe sabe reconhecer tudo o que Deus
semeou no seu filho, escuta as suas preocupações e aprende com ele.
O espírito de amor que reina numa família guia tanto a mãe como
o filho nos seus diálogos, nos quais se ensina e aprende, se corrige e
valoriza o que é bom; assim deve acontecer também na homilia. O
Espírito que inspirou os Evangelhos e atua no povo de Deus, inspira
também como se deve escutar a fé do povo e como se deve pregar em
cada Eucaristia. Portanto a pregação cristã encontra, no coração da
cultura do povo, um manancial de água viva tanto para saber o que
se deve dizer como para encontrar o modo mais apropriado para o
dizer. Assim como todos gostamos que nos falem na nossa língua
materna, assim também, na fé, gostamos que nos falem em termos da
“cultura materna”, em termos do idioma materno (cf. 2Mc 7,21.27),
e o coração dispõe-se a ouvir melhor. Esta linguagem é uma tonali-
dade que transmite coragem, inspiração, força, impulso (EG, n. 139).
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B - São Marcos R
6 de setembro de 2015
Situando-nos
Mais uma vez vivemos a graça de estar aqui reunidos e ouvirmos
o nosso Deus falando conosco. E continuamos a ouvir sua Palavra
conforme o relato de Marcos.
Domingo passado, frente aos fariseus e mestres da lei fana-
ticamente agarrados a padrões religiosos meramente humanos,
dando-se até o luxo de criticar Jesus por quebrar tais padrões em
favor de algo mais essencial, o nosso Mestre, servindo-se de uma
observação crítica do profeta Isaías, responde-lhes: “Vós abando-
nais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição humana”
(Mc 7,8). Mesmo com todas as críticas e resistências da parte das
autoridades religiosas, Jesus continua seu caminho, atraindo mul-
tidões de deserdados e atendendo-as amorosamente em seus cla-
mores e necessidades. E Ele o faz sem discriminar ninguém, se
é pagão ou judeu, ou quem quer que seja, tanto faz. Desta forma,
como Filho de Deus que é, Ele vai nos mostrando qual é mesmo a
“política” do Reino de Deus para nós.
Lembremo-nos também que amanhã, 7 de setembro, é o dia da
nossa Pátria.
Colocamos diante de Deus todo o povo brasileiro, lideranças
eclesiais, governantes e governados, sobretudo os mais pobres deste
n O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Recordando a Palavra
Hoje a liturgia coloca diante de nós Jesus atravessando uma região
povoada por não judeus, isto é, pagãos. Muita gente ao seu redor.
Trazem-Lhe um surdo e com problema de fala. Pedem para Jesus
curá-lo pela imposição das mãos. Jesus retira-se a sós com o moço.
Coloca os dedos nos ouvidos dele. Com saliva toca a língua dele.
Olhando para céu, dá um gemido e ordena: “Effata”, isto é, “Abre-te”,
Na hora o moço começou a ouvir, sua língua se soltou e começou
a falar normalmente. E não adiantou Jesus proibir a divulgação do
acontecido. Todo o povo ali maravilhado sai proclamando em alto e
bom som: Ele tem feito tudo bem; faz tanto os surdos ouvirem como
os mudos falarem (cf. Mc 7,37).
Bem como profetizou Isaías, cerca de 500 anos antes, intuindo
a futura restauração messiânica projetada por Deus: Ânimo, pessoal!
Não tenham medo! Deus virá um dia para salvar... Os ouvidos dos
surdos vão se abrir e a boca do mudo vai gritar de alegria (cf. Is 35,5).
E esse Deus de fato agora veio: na pessoa de Jesus!
Por isso que hoje cantamos o Salmo 146, exaltando o Deus
libertador do ser humano sofrido (oprimidos, famintos, prisionei-
ros, cegos, caídos, estrangeiros, órfãos, viúvas...) “Louva o Senhor,
4 ' 2 mas “4 €
tem fé em Jesus, também age como ele agiu, a saber: Jamais discri-
mina os pobres (cf. Tg 2,1-4).
Atualizando a Palavra
Voltemos ao Evangelho. E o que vemos? Um judeu no meio de
uma multidão de sofridos: Jesus. Com uma atenção toda persona-
lizada, Ele “toca” o surdo-mudo, coloca-lhe os dedos nos ouvidos,
aplica-lhe saliva na língua, eleva os olhos para o alto, dá um
gemido, diz “Effata”, “abre-te”. Total proximidade do humano
concreto. Total sintonia com o divino. Assim é esse judeu Filho
de Deus. Deus na forma humana de um judeu toca e cura um
pagão. O Reino de Deus aí acontece. À era messiânica sonhada
pelos profetas se concretiza.
Essa cura é bem um sinal que nos revela a missão de Jesus neste
mundo. Ele não veio como um “político poderoso” destacado (sepa-
rado) da plebe, mas como um humilde conviva e servo dos pobres.
Esse é o verdadeiro e divino Messias salvador! E dessa forma des-
mascara-se todo um padrão de triunfalismo messiânico instalado
como parasita na mente dos adeptos da religião judaica.
O fato de Jesus recomendar “insistentemente” para não contar
nada a ninguém sobre o milagre acontecido, mostra de que jeito
Deus é e como, consequentemente, o Filho de Deus age. Ele não
gosta de “aparecer”, esnobar-se. Detesta a autorreferência espetacu-
lar. Importa apenas que os excluídos sejam transformados em filhos
do Reino, participantes do banquete da vida. “A glória de Deus é a
vida do ser humano”, dirá Santo Irineu no século II.
Nessa linha, o Evangelho de hoje vem mostrar que o entusiasmo
popular sobre o milagre acontecido não tem a ver com uma espécie
de triunfalismo político-messiânico, mas com um alegre reconheci-
mento — e precisamente dos pagãos! —, sobre a eficácia da presença do
Reino de Deus entre nós.
O caminho para ser discfpulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
6 KONINGS, J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis (anos A —- B— €).
Petrópolis: Vozes, 2003, p. 321.
7 Ibidem.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B - São Marcos R
13 de setembro de 2015
Situando-nos
O povo de Israel cultivava no tempo de Jesus a ideia de um messias
salvador, mas segundo critérios dos poderosos reinos deste mundo.
E muita gente desconfia ser Jesus o tal. Mas as opiniões também
se dividem. Afinal de contas, quem é Jesus? No pensamento
de Deus, quem é Ele? Eis a grande pergunta que aguarda uma
correta resposta para os que buscam um mundo em que todos
tenham qualidade de vida plenamente saudável. Quem é Jesus e
como nós o entendemos? Se confessamos ser Ele o Filho de Deus
e nosso Mestre, então, qual é o ensinamento deste Mestre para
que todos tenham vida? Ele mesmo, feito um de nós, vem hoje nos
dizer que seu exemplo e seu destino são a chave e o segredo para
a construção desse mundo novo. Mas que destino é este? Vejamos
mais de perto.
Recordando a Palavra
À conversa se trava entre Jesus e seus discípulos a caminho. Fazendo
um caminho. E discípulos, somos também nós agora, aqui reunidos,
também fazendo um caminho de vida cristã com Jesus.
N O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Atualizando a Palavra
Nós cristãos seguimos um Messias diferente. Acreditar em Jesus é
aderir ao Servo, líder rejeitado e morto, mas que é também ressusci-
tado por Deus. “Ser cristão é seguir Jesus pelo caminho do sofrimento.
Não existe fé cristã sem via-sacra. É isso, não pelo prazer de sofrer,
mas porque é preciso enfrentar a injustiça e tudo quanto se opõe a
Deus no próprio campo de batalha. Ser cristão não é compatível com
sempre ter sucesso no mundo; quem não é perseguido provavelmente
não está trilhando os passos de Jesus”.!!
E aqui tocamos direto na missão da Igreja e dos movimen-
tos eclesiais: “A Igreja não é para torcedores que pagam para ver o
time ganhar; é para jogadores dispostos a enfrentar sacrifícios. Mas
esta comparação esportiva é perigosa: pode sugerir autoafirmação,
e então estaríamos novamente pensando nas coisas dos homens e
não nas de Deus. Não se trata de autoafirmação, nem de heroísmo
para glória própria, mas antes, de ter um ouvido aberto à voz de
11 KONINGS,J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis...Op. cit., p. 324.
No O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Deus, que nos mostra o caminho que por nós mesmos não sus-
peitávamos ser o caminho de Deus. Trata-se de ter o coração de
discípulo, que saiba escutar Deus nos seus planos mais misterio-
sos. Será que Deus não está mostrando um caminho de “mais vida'
quando sugere cuidar de uma criança doente, de pessoas excluídas,
do silêncio de quem não pode falar, do esquecimento de si? (..)
tenhamos o ouvido aberto!
Cristo nos deu o exemplo.
Pp Nele confiamos. Tendo em vista sua
“vitória”, não importa que “perdemos nossa vida' segundo os critérios
deste mundo. Ganharemos Deus”.
20 de setembro de 2015
Situando-nos
Jesus caminha conosco. Por isso que, seguidamente, proclamamos na
Liturgia que “ele está no meio de nós”. E nós caminhamos com Ele
e nEle. Pois Ele é o nosso caminho. Com Ele fazemos uma parada
para ouvi-Lo: faz parte também do caminho. É o que está aconte-
cendo aqui e agora, novamente. Estamos reunidos para um diálogo
franco com o Senhor. Ele fala, nós ouvimos e também reagimos à sua
fala com nossa reflexão, nossa profissão de fé, nossos pedidos, nosso
louvor e nossa participação na sua Ceia.
Domingo passado, Jesus nos mostrou em que consiste seu ser
Messias-salvador. Não tem nada a ver com o messianismo político-
“imperialista e triunfalista pensado e esperado pelos adeptos da reli-
gião judaica de então. Deus tem outro pensamento: o messianismo
salvador de Jesus, seu Filho, passa pelo sofrimento, pela cruz e pela
ressurreição. Jesus se faz Servo de todos: este é o Messias pensado por
Deus em vista da salvação da humanidade.
Para os discípulos de Jesus, no entanto, isso estava sendo muito difi-
cil de ser entendido, com certeza. Pois eles pertenciam à tradição reli-
giosa judaica, que cultivava outra ideia de Messias. Por isso, hoje Jesus
retorna com eles ao assunto, como acabamos de ouvir no Evangelho.
No O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Recordando a Palavra
Atravessando a Galileia, e exigindo silêncio a seu respeito, Jesus
ensinava a seus discípulos. E qual era o seu ensinamento? Antes
de tudo, que Ele “vai ser entregue às mãos dos homens, e eles o
matarão. Morto, porém, três dias depois ressuscitará” (Mc 9,31).
Palavras “loucas” que não cabiam na cabeça dos discípulos! Não
entenderam nada. E tinham até medo de perguntar, pois qualquer
resposta do Mestre poderia provocar neles uma profunda “crise de
fé” e mergulhá-los numa tremenda insegurança existencial. É que
sua incompreensão tinha raízes religiosas e culturais profundas.
De fato, a mente dos discípulos estava em outra vibração. Tanto
que, depois, no caminho, travaram entre eles uma discussão sobre quem
era o maior. Na cabeça deles vibrava ainda o “jogo” do prestígio e poder.
Mas não era esse o “jogo” do Mestre a quem seguiam. Eles têm
que desconstruir essa perigosa “teologia”. Pois o “jogo” de Jesus, em
. e € s º co »
Atualizando a Palavra
Ambição ou humildade: eis a questão. Na liturgia de hoje, Deus
nos convoca a mergulhar mais fundo no mistério de Cristo e de nós
mesmos. Vimos como os pensamentos dos discípulos estavam longe
do sentido da fala de Jesus sobre seu sofrimento. Não entenderam.
Tanto é que, depois, ainda ficavam discutindo entre si sobre quem
deles era o maior. Foi quando Jesus trouxe uma criança para o meio
deles, dizendo que a criança estava ali como sendo ele mesmo, e até
mais do que isso. Ele se identifica com ela, pois tem muito presente
o amor paterno de Deus.
Vimos na primeira leitura como o justo que confia plenamente
neste Deus Pai é considerado insuportável pelos poderosos que só
dão importância à força e à arrogância. E na segunda leitura vimos
o tanto de mal que a ambição pode fazer dentro de uma comuni-
dade cristã. “Na lógica do mundo, o que importa é a prepotência, a
ambição. Mas Deus é pai do justo, sobretudo do justo oprimido. Na
criança desprotegida, ele mesmo se torna presente”.
Para o humilde “justo filho de Deus”, perseguido pelos prepo-
tentes, a grandeza mundana não importa. Daí que “uma criança sem
15 KONINGS,)J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis...Op. cit., p. 326.
N O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
16 Ibidem.
17 Ibidem.
18 Oração do dia.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B — São Marcos n
27 de setembro de 2015
QUEM NÃO É CONTRA NÓS É A NOSSO FAVOR... SE TUA MÃO TE LEVA A PECAR,
CORIA-A! (Cr. MC 40,43)
Situando-nos
Houve uma época em que no cristianismo, especialmente na Igreja
católica, nos afastamos demais da maneira de Jesus pensar e agir.
Houve uma época, por exemplo, em que a cristandade tradicional
se caracterizava por atitudes fortemente exclusivistas. Só a Igreja
Católica estava certa. Chegava-se a dizer que quem morresse fora da
Igreja Católica ia para o inferno. Tentação muito forte também em
outras religiões: achar que temos direitos autorais exclusivos sobre a
salvação das pessoas!
São tentações vividas pelas comunidades cristãs primitivas,
certamente. São tentações que viveram os discípulos de Jesus. São
tentações que viveram companheiros de Moisés, lá no Antigo Tes-
tamento. E, quem sabe, são tentações também nossas, quando por
ciúme atrapalhamos ou até impedimos que alguém tenha sucesso no
bem que faz. |
Aquele que de Deus procede, o Filho de Deus, portanto, vem
nos iluminar e colocar em xeque tais padrões humanos de apegos
exclusivistas que se alojam em nossos corpos pessoais e comunitários.
Ouvimos sua Palavra. Coloquemo-nos agora melhor à sua escuta,
refletindo sobre ela.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos
Recordando a Palavra
Os discípulos de Jesus proibiram um homem de expulsar demônios
em seu nome. Motivo da proibição: não era do grupo dos seguidores
diretos de Jesus.
Diante da notícia, Jesus reagiu dizendo: “Não o proibais, pois
ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois falar mal
de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor” (Mc 9,39-40).
Em outras palavras, se é no “nome” de Jesus que fazem o bem,
é sinal que realizam precisamente o que Jesus significa e deseja: o
bem das pessoas. O bem das pessoas tem tudo a ver com o “nome” de
Jesus! Isso é que importa!
Querem ver? Um simples copo de água dado a alguém — em
“nome” de Jesus, portanto! — já tem a sua recompensa; não importa
quem o faça. O contrário também: “Se alguém escandalizar um des-
tes pequeninos que creem” — isto é, se age contra o “nome” de Jesus,
fazendo o mal, portanto —, melhor que fosse jogado no mar com uma
pedra ao pescoço. Não importa também quem o faça.
Portanto, se um dos membros do teu corpo te leva a fazer o mal
em vez do bem, corta-o fora, arranca-o fora. Em outras palavras, o
“nome” de Jesus — isto é, o bem a ser feito acima de tudo! —, exige
que a gente corte pela raiz tudo o que leva a fazer o mal a quem quer
que seja. Caso contrário, a gente mesmo acaba se arruinando radical-
mente. Desapego de tudo, portanto, também de ciúmes e exclusivis-
mos na arte de fazer o bem.
Atualizando a Palavra
À pessoa de Jesus, seu pensamento, sua palavra e seu agir, é o Reino
de Deus presente entre nós: “O nome de Jesus representa o Reino
do Pai. O nome de Jesus se liga a uma realidade nova, a vontade
de Deus. “Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo
depois sair falando mal de mim” (Mc 9,39). Por tudo aquilo que Ele
disse e fez, pelo dom da própria vida, Jesus ligou a seu nome a nova
realidade que se chama o “Reino de Deus”. Quem consegue usar o
nome de Jesus como força positiva certamente colabora de alguma
maneira com o Reino”.?
E é um Reino que também está espalhado pela sociedade
humana toda, em todo lugar e em todos os tempos, lá onde se pra-
tica a justiça e se promove qualidade de vida saudável para todos,
salvação, sobretudo para os mais sofridos. “Não é preciso ser católico
batizado para colaborar com os valores do Evangelho. Os primeiros
missionários no Brasil ficaram cheios de admiração, porque os índios
22 KONINGS,)J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis...Op. cit., p. 329.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B - São Marcos RB
23 Ibidem.
N O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
26 Como complemento, leia a esplêndida reflexão sobre “a voz do leitor”, em: BOSELLI,
Goffredo. O sentido espiritual da liturgia. Brasília, 2014, p. 69-74. (Coleção “Vida e Liturgia
da Igreja”, volume 1).
27 Formação lifiúrgica nos seminários e nas casas de formação. Op. cit., p. 30.
27º DOMINGO DO TEMPO COMUM
4 de outubro de 2015
Situando-nos
“Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”, foi o que
todos vocês disseram em alto e bom som logo no início desta
celebração. Em outras palavras, proclamamos que o que está
acontecendo aqui é obra de Deus. Ele nos reuniu. Ele nos fala
pela sua Palavra. Ele nos prepara e oferece gratuitamente um
banquete, o seu banquete nupcial para todos nós. Em outras
palavras, ele nos mostra e traz para nossos corpos toda a amorosa
paixão que tem por nós.
Ouvindo a Palavra e celebrando a paixão-morte-ressurreição
de Jesus e o dom do seu Espírito, acontece aqui, por obra de Deus, a
renovação da eterna e definitiva aliança entre Deus e a humanidade
no mistério da Páscoa do Senhor Jesus. Aliança esta biblicamente
representada pela realidade simbólico-sacramental do casamento
entre um homem e uma mulher; realidade sagrada, portanto, mas
nem sempre entendida nem respeitada, principalmente por quem
baseia seu viver exclusivamente em leis forjadas por padrões da
mente humana.
A Palavra de Deus vem hoje nos trazer uma luz neste sentido.
Retomemo-la. Deixemo-nos conduz por seu espírito.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos
Recordando a Palavra
Já vimos nos domingos anteriores como Jesus vem enfrentando
resistências, principalmente por parte das autoridades religiosas de
então. Não viam a hora de poder pegar Jesus em alguma armadilha
por eles bem arquitetada. Tão escravos e dependentes viviam de
padrões legais meramente humanos que não conseguiam ver, e muito
menos admitir, na pessoa daquele humilde Jesus de Nazaré o próprio
Deus se “casando” com a humanidade.
Daí a pergunta capciosa de alguns fariseus, baseando-se numa
lei do tempo de Moisés: é permitido ao homem divorciar-se de sua
mulher? Pode ou não pode? À lei diz que pode! (cf. Mc 10,2-4).
Jesus, sabiamente, não se deixa envolver pela questão meramente
legal. Ele vai à raiz das questões: Se a lei permitiu tal tipo de procedi-
mento, foi para atender à “dureza do coração de vocês”, resultante do
afastamento do coração de Deus. Foi porque vocês se desconectaram
do projeto original de Deus em relação ao ser humano (cf. primeira
leitura)! Como lembra Jesus: Desde o começo da criação Deus os fez
homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os
dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe! (v. 6-9).
Aos discípulos,
pulos, depois,
depois, Jesus explica
Pp em Pp particular q que o divór-
cio significa “adulteração” de uma relação e, por isso mesmo, fora do
. . . « = 3) no “
Atualizando a Palavra
Nos domingos passados vimos Jesus ensinando qual é o caminho
do Filho do Homem: sofrimento, cruz e ressurreição. Ao mesmo
tempo, Ele veio nos explicando em que consiste ser discípulo
e seguir Jesus. E, nesse contexto, hoje Ele vem nos mostrar que
“também um casamento fiel faz parte do seguimento de Jesus, do
discipulado”.
E quem é este Jesus? É o Messias que vem restaurar as coisas
conforme o projeto mais original de Deus. Também no que diz res-
peito ao matrimônio. Tinha que ser assim mesmo. Assim Deus o
quis desde a criação... “Outra coisa é quando um governo civil admite
o divórcio: o governo não é o Messias... Tem de fazer como Moisés:
dar uma legislação para a fraqueza, para a “dureza de coração”, para
limitar o estrago...”.?
28 KONINGS)]. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis... Op. cit., p. 331.
29 Ibidem, p. 331-332.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum -— Ano B — São Marcos R
30 Ibidem, p. 332.
31 Antífona de entrada.
32 Oração do dia.
O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
33 CNBB. Hinário litúrgico. 3º Fascículo. Domingos do Tempo Comum, Anos À, Be C. Op. cit.
34 BOSELLI, Goffredo. O sentido espiritual da liturgia. Op. cit., p. 150. Aconselhamos ainda a
leitura atenta das p. 148-152 desta obra, sob o título “A primazia da Palavra de Deus”.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B - São Marcos RB
35 Formação litúrgica nos seminários e nas casas de formação. Op. cit., p. 31.
coa Det E q IN PE º apa 5 ER PRETO Pigs vd ,
o .
11 de outubro de 2015
Situando-nos
Todos nós reunidos formamos o corpo de Cristo. Ele é a cabeça e
nós os membros deste corpo. Isso significa que Ele é nós e nós somos
Ele: um só corpo eclesial. Por isso, podemos senti-Lo coladinho
também a cada um dos nossos corpos. E é bem ao pé do ouvido e ao
nosso coração que ele hoje de novo nos fala. Acabamos de ouvi-lo,
mediante a Palavra de Deus proclamada neste instante. Será que deu
para sentir que era Ele mesmo estava nos falando?
Desde já podemos dizer que a Palavra vem hoje bem provocativa.
Se queremos mesmo ser discípulos do grande Mestre Jesus, devemos
optar; não existe neutralidade. Que bom que Ele vem nos provocar,
para que nossa opção cristã seja cada vez mais amadurecida.
Por isso, vale a pena ainda meditarmos um pouco sobre o que
acabamos de ouvir da boca de Deus. Comecemos pelo Evangelho
(Mc 10,17-30).
Recordando a Palavra
No percurso, alguém provavelmente entusiasmado pela figura de
Jesus, aproxima-se d'Ele “correndo” e até se “ajoelha” chamando-O
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos RB
Atualizando a Palavra
É bom lembrar que “o Reino de Deus não é propriamente o que
costumamos chamar de “Céu”, é o modo de viver que Jesus veio
instaurar, o reino de amor, de justiça e de paz, onde é feita a vontade
de nosso Pai Celeste. O rico não consegue entregar-se a essa nova
realidade”.*”
Então, de tudo o que ouvimos da Palavra de hoje, podemos tirar
esta grande lição de vida: “O rico não deve pensar que vai conseguir
a herança eterna com base em suas posses, poder, capacidade inte-
lectual ou coisa semelhante. Tem de pedir a Deus, como graça, algo
que não está incluído no pacote do poder: a capacidade de participar
36 KONINGS, J. Liturgia dominical. Mistério de Cristoe formação dos fiéis...Op. cit., p. 334.
37 Ibidem.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B -— São Marcos R
38 Ibidem.
39 Oração do dia.
' O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
43 Formação litúrgica nos seminários e nas casas de formação. Op. cit., p. 32.
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NOSSA SENHORA DA
APARECIDA, PADROEIRA DO
BRASIL, solenidade
12 de outubro de 2015
Situando-nos
Hoje, mais uma vez, Deus nos dá a graça de estarmos aqui reunidos para
ouvirmos sua Palavra e participarmos da Ceia do Senhor, memorial do
sacrifício pascal de Cristo. É o fazemos na solenidade da padroeira
do nosso Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Deus, por
intermédio de Maria, tem muito a nos dizer e oferecer neste dia.
“Aparecendo em 1717 a pobres pescadores, que trabalhavam
para fartar a mesa dos nobres, Nossa Senhora Aparecida assume —
como seu Filho Jesus — a opção preferencial pelos pobres marginali-
zados. Com ela identificam-se todos os que são oprimidos e postos
à margem em nosso país. Além do mais, ela quis aparecer negra,
identificando-se, assim, com os escravos de ontem e de hoje.
Celebrar, portanto, a festa da padroeira do Brasil, significa
redescobrir os valores libertadores aí contidos, em constante impulso
pastoral que visa a concretizar o projeto de Deus em nosso meio”,*!
Recordando a Palavra
O Evangelho nos fala de um casamento em Caná da Galileia
(Jo 2,1-11). Entre os convidados lá se fez presente a “mãe de Jesus”,
bem como “Jesus e seus discípulos”.
À certa altura da festa, vindo a faltar vinho, Jesus ouve de “sua
mãe” a observação: “Eles não têm vinho”. “Mulher, para que me
dizes isso? À minha hora ainda não chegou” (v. 4). E logo “sua
mãe” tomou a iniciativa de avisar o pessoal de serviço: “Fazei tudo
o que ele vos disser” (v. 5). De fato, eles obedeceram. À pedido de
Jesus, encheram de água seis enormes vasilhas de pedra, cada qual
com capacidade de mais ou menos cem litros. Em seguida, a mando
de Jesus, fizeram o mestre-sala provar desta água. Era vinho, e da
melhor qualidade (cf. v. 6-10)! E o escritor do Evangelho, João,
finaliza com esta observação: “Este início dos sinais, Jesus o reali-
zou em Caná da Galileia. Manifestou sua glória, e os seus discípu-
los creram nele” (v. 11).
À figura
B de Maria, P portanto, E»aparece aí como “Mulher” mulher
intercessora, “mãe de Jesus” expressando um pedido: “Fazei tudo o
que ele vos disser”,
Atualizando a Palavra
Esta “mulher” é sem dúvida Maria imaculada, mas unida a ela também
outra “mulher”, a saber, a jovem Igreja purificada no mistério pascal
de Cristo e coroada com o martírio (testemunho) dos doze apóstolos
(doze estrelas) da qual fazemos parte. Ambas com a mesma missão:
“Gerar e levar o Salvador ao mundo e presenciar sua vitória, eis o
que Maria e a Igreja têm em comum. Destacando a figura de Maria,
a Igreja assume, até certo grau, o que foi a obra de Maria. Isso vale
também com relação à proteção da Pátria, que não é algo mágico,
mas algo que se realiza mediante as nossas mãos, nosso empenho por
uma Pátria melhor, mais justa, mais conforme a vontade de Deus”.“
Nossa Senhora da Conceição Aparecida: esta é a Padroeira do
Brasil, cuja festa celebramos. Popularmente chamam-na de Nossa
Senhora Aparecida. Para a Igreja em geral, temos ainda outra festa
da “Imaculada Conceição”, no dia 8 de dezembro. Ambas celebram
no fundo o mesmo mistério de Maria, criada por Deus imaculada, a
saber, no estado original (paradisíaco!) do ser humano, sem mancha,
sem mácula, sem pecado, para que também nós, pela fé em Jesus e
engajamento em seu projeto messiânico, entremos no estado original
paradisíaco da graça que havíamos perdido!
Ter a “Imaculada Conceição” de Aparecida como nossa Padro-
eira significa uma vocação, um chamado e mesmo “chamada” ao
povo brasileiro no sentido de superar um “pecado original” enrai-
. . . « . .- 9 .
45 KONINGS,)J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis... Op. cit., p. 498.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos RB
46 Antífona de entrada.
47 Oração do dia.
No O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
51 Cf. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: Edições CNBB,
p. 217.
29º DOMINGO DO TEMPO COMUM
18 de outubro de 2015
“O FILHO DO HOMEM VEIO PARA DAR À VIDA EM RESGATE POR MUITOS”. (MC 10,45)
Situando-nos
Vivemos num mundo enlouquecido pela ambição de poder,
grandeza, privilégios. Como diz o ditado: “Quem pode mais chora
menos”. E aí entra a competitividade estressante e, na competi-
tividade os confrontos e, dos confrontos resultam as agressivi-
dades, as brigas, a guerra, a opressão, a tirania dos mais fortes, o
sofrimento e a morte. E quem leva a pior são os pobres e excluídos
do esquema e, pior ainda, quando, iludidos e adestrados pela
iniquidade do sistema, também estes acabam entrando no mesmo
jogo insano e degradante.
No tempo de Jesus não era diferente. O padrão mental de um
messianismo político imperialista era tão arraigado no incons-
ciente coletivo do povo religioso de então, que se tornava quase
impossível pensar em algo diferente. Nem os discípulos de Jesus
escapavam desta armadilha. Por mais que o Mestre tivesse já
falado, ensinado, insistido, que seu “ser Messias” era o do Servo
sofredor, da cruz, do ser “menor” e da ressurreição — como vimos
nos domingos passados —, estes continuavam a não entender a
lição. Lá dentro, na sua mente, continuavam ainda embalados por
outro jogo: o jogo do ser “maior”.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos B
Recordando a Palavra
Entende-se, pois, a ambição dos dois discípulos, Tiago e João, irmãos
entre si. Com jeitinho educado de político interesseiro, fizeram a
Jesus um pedido: sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda
quando ele estiver no auge de sua glória (cf. Mc 10,35-45). Sonho de
marajás! Ambição por altos escalões no Reino! Totalmente equivo-
cados no que pedem!
O caminho de Jesus, que deverá ser também o deles, é outro. Por
isso ele os incita à reflexão com uma pergunta: “Por acaso podem
vocês beber do cálice que eu vou beber, e serem batizados com o
batismo com que eu devo ser batizado?” (v. 38). Jesus falava de sua
paixão e morte: Cálice do seu sofrimento e mergulho (batismo) no
abismo da morte. Esse é o caminho, o destino do Mestre e, conse-
quentemente, do discípulo. Mas a ambição deles era tamanha que, de
imediato, espontaneamente, meio sem muito pensar, responderam:
“Podemos, sim”. É Jesus então avança na reflexão um pouco mais:
“Está bem, já que vocês estão a fim, vão passar por esse caminho,
sim. E digo mais: na mesma linha, também desistam do que vocês
me pediram. Isso não depende de mim. É para quem já foi reservado.
Apenas me sigam, entregues comigo nas mãos do Pai. Quanto ao
futuro, portanto, desapeguem-se, deixem acontecer” (cf. v. 39-40).
Os outros “dez discípulos”, ao ouvirem isso, indignaram-se com
Tiago e João. Jesus, por sua vez, aproveita a situação para avançar
ainda mais na reflexão: “Vocês sabem muito bem como os chefes
das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Entre vocês [dis-
cípulos meus que são], no entanto, não deve ser assim: quem quiser
ser grande, seja o servo de vocês; e quem quiser ser o primeiro, seja
o escravo de todos” (v. 41-44). Por quê? “Porque o Filho do Homem
não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por
muitos” (v. 45).
É o que já fora intuído pelo profeta Isaías (cf. Is 53,10-11), como
ouvimos na primeira leitura, especialmente quando afirma a respeito
n O caminho para ser discipulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Atualizando a Palavra
“O Evangelho de hoje é provocador. Os melhores alunos de Jesus
solicitaram uma coisa totalmente contrária ao que Ele tentou
ensinar. Pedem para sentar nos lugares de honra no seu reino, à sua
direita e à sua esquerda. Não compreenderam nem a pessoa, nem
o modo de agir de Jesus... Devemos situar esse episódio nos seu
contexto. Mc 8,31-10,45 é a grande instrução de Jesus a caminho,
balizada pelos três anúncios da Paixão. O Evangelho de hoje é a
continuação do 3º anúncio da Paixão, e parece que até os melhores
alunos ainda não aprenderam nada. De fato, só aprenderão depois
da morte e ressurreição de Jesus. Por enquanto, em contraste com
a incompreensão dos alunos, eleva-se a grandeza da lição final: o
dom da própria vida”.
À questão não está no nível das honras mundanas e do poder
opressor que, na verdade, hoje existem e amanhã viram pó. À ques-
tão é entender o que significa ser discípulo do verdadeiro Messias
que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate
por muitos” (Mc 10,45).
Ele veio para “servir e dar a vida em resgate por muitos”. Que
resgate? Resgate de uma escravidão. De que escravidão? Da escravi-
dão de um tipo de mentalidade diabólica dominante no inconsciente
coletivo, representado pela imagem do poder opressor como “salva-
ção”. Em vez disso, Jesus nos mostra que, no pensamento de Deus,
o que salva mesmo é uma “comunidade-sem-poder”, isto é, como
pura e simplesmente “poder-serviço”, inclusive pela doação da pró-
pria vida. Ser cristão e ser Igreja é por aí. Esta é a vacina libertadora
que o agir de Jesus veio injetar no corpo da sociedade humana. Feli-
zes os que se dispõe a se deixar curar por esta salvadora Boa-Nova de
liberdade e vida para todos.
53 Oração do dia.
54 Oração sobre as oferendas.
' O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
58 Formação litúrgica nos seminários e nas casas de formação. Op. cit., p. 32.
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25 de outubro de 2015
Situando-nos
Imaginemo-nos todos cegos à beira do caminho. Totalmente
dependentes de favores dos outros. Pobres mendigos.
Na verdade, o somos. Pensando bem, em certo sentido, somos
cegados por tantos padrões internos alienados do projeto messiânico
iluminador de Jesus. Ainda temos dificuldade de “ver” direito quem é
esse Jesus que passa pela nossa vida. Seguimos um Jesus ainda muito
“fabricado” por nós, segundo nossos interesses e conveniências. É
não nos damos conta de que somos cegos necessitados dos favores
de Deus. E, pior ainda, no nosso orgulho e autossuficiência, talvez
nem admitamos sê-lo. Mas, de repente, sentindo a solidão da “beira
do caminho”, ouvimos falar de um Jesus diferente e, com insistência,
começamos a lhe gritar: “Jesus, tem piedade de mim... Mestre, faça
que eu veja!”
Digamos que esta nossa celebração seja esta “beira do caminho”.
Nela sentimos a presença viva do Filho de Deus, Jesus, rodeado de
muita gente; nela ouvimos Jesus nos chamando para si, a fim de
nos curar da cegueira. Foi quando, há pouco, ouvimos a Palavra do
Senhor e o Evangelho da Salvação. Vamos conversar um pouco sobre
o que ouvimos. Muito temos a aprender.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos RB
Recordando a Palavra
Jesus, saindo de Jericó, e junto com ele “seus discípulos e uma
grande multidão”, se direciona a Jerusalém, onde deverá passar
pelo sofrimento e pela cruel morte de cruz, para depois ressuscitar.
Esse é o caminho do Messias Salvador, que os discípulos sempre
tiveram muita dificuldade de entender e admitir, como vimos nos
domingos passados. Jesus se encaminha para Jerusalém, onde mais
tarde, diante d'Ele recém-morto na cruz, um oficial romano — logo
quem! — vai proclamar: “Na verdade, este homem era Filho de
Deus!” (Mc 15,39).
À beira do caminho, um cego e mendigo, ouvindo dizer que
Jesus estava passando, se pôs a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem
piedade de mim!”. Mandaram-no calar a boca. Mas aí que ele gri-
tava mais ainda. Jesus mandou chamá-lo. “Coragem, levanta-te,
Jesus te chama!”, disseram-lhe. Na mesma hora, “o cego jogou o
manto, deu um pulo e foi até Jesus”. “Que queres que eu te faça?”,
perguntou Jesus. “Mestre, que eu veja!”, respondeu o cego. É Jesus
confirmou: “Vai, a tua fé te salvou”. No mesmo instante, diz o
Evangelho, o cego “recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho”
(cf. Mc 10,46-52).
Em Jesus se cumpre aquilo que o profeta Jeremias, lá no Antigo
Testamento, já intuía (cf. Jr 31,9): “Deus privilegia os cegos aleijados e
indefesos como seus filhos primogênitos, organizando-os, reunindo-
-os e reconduzindo-os à vida”. Por isso, com eles cantamos hoje o
Salmo 126, cujo refrão soa assim: “Maravilhas o Senhor fez por nós,
encheu-nos de alegria!” (v. 3).
Nesse sentido, podemos proclamar com a carta aos Hebreus,
como ouvimos na segunda leitura (cf. Hb 5,1-16), que Jesus é de fato
o verdadeiro sacerdote, a sumidade de sacerdote. Mas não no sentido
entendido pela religião de então, onde os sacerdotes sacrificavam
59 BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos. Anos À, B, C, Festas e Solenidades. Op. cit., p. 471.
No O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Atualizando a Palavra
No tempo de Jesus, os deficientes físicos não tinham nenhum tipo
de ajuda. Por isso eram mendigos, como é o caso de Bartimeu, um
“cego e mendigo” (v. 46).
Dois temas importantes aparecem neste relato de Marcos: a fé
(v. 52) e o seguimento de Jesus (v. 52). E podemos lembrar tam-
bém os vários personagens que aí aparecem: “Jesus”, os “discípulos”,
=
a “rrande multidão” e “Bartimeu”,
pelo seu grito orante: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim”
(v. 47 e 48). E, uma vez “recuperada a vista” — enxergando quem é
mesmo o Mestre! —, ele segue Jesus “pelo caminho”, o mesmo cami-
nho no qual os discípulos, mesmo assustados (cf. Mc 10,32), vêm
aprendendo a seguir Jesus, rumo a Jerusalém (cf. Mc 9,27-10,52).
O Evangelho é surpreendente. Mandaram o pobre cego se calar.
O mesmo que fizeram com as crianças, em outra ocasião (cf. Mc
10,13). Faz lembrar que “entre os que seguem Jesus sempre há alguém
disposto a fazer os pobres de calarem, sempre houve esta atitude,
mesclada com outras, de afastar Jesus dos pequenos, dos fracos, dos
marginalizados. É a tendência de converter o seguimento de Jesus
em uma religião. Religião na qual os que dominam se apresentam
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos R
como os eleitos e excluem os que não servem para nada e com sua
voz, estridente e molesta, estorvam o poder”.ºº
Outro detalhe interessante. Jesus, sempre sensível com os pobres,
. . « »
apesar de tentarem impedi-lo, “parou” e mandou chamar o cego (v.
49). Provoca o diálogo, permite ao cego expressar seu desejo (v. 51).
Fica claro que não acontecerá nada se não há relação pessoal. Não
há milagres sem relação com a pessoa de Jesus. É Jesus, por sua vez,
limita-se em constatar a força libertadora da “fé” (v. 52), capaz de
superar os obstáculos que sempre aparecem (v. 48). Pronto: sua Pala-
vra apresenta-se plenamente eficaz.*!
63 KONINGS)J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis...Op. cit., p. 339-340.
64 Oração Eucarística VI-D (Jesus que passa fazendo o bem).
65 Oração depois da comunhão.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos n
66 CNBB. Hinário litúrgico. 3º Fascículo. Domingos do Tempo Comum, Anos À, Be C. Op. cit.
67 Formação litúrgica nos seminários e nas casas de formação. Op. cit., p. 30-31.
Ce DER ED Y
Solenidade
1º de novembro de 2015
Situando-nos
Hoje, em nosso caminho de discernimento cristão a partir da Palavra
ouvida e celebrada, contemplamos o final do caminho empreendido
pelos discípulos e discípulas de Jesus: a glória do céu, na qual já vive
uma multidão de irmãos e irmãs nossos. É a festa de Todos os Santos,
que nos conforta e nos anima na caminhada.
Hoje, “a Igreja prega o mistério pascal nos santos que sofreram
com Cristo e com ele são glorificados; propõe aos fiéis seus exem-
plos que atraem todos ao Pai por meio de Cristo, e implora por seus
merecimentos os benefícios de Deus (cf. SC, n. 104). Hoje, numa
só festa, celebram-se, junto com os santos canonizados, todos os
justos de toda raça e nação, cujos nomes estão inscritos no livro da
vida (cf. Ap 20,12)”.
Ouvimos a Palavra, riquíssima em conteúdo festivo, que vale a
pena ser retomada, comentada e meditada.
68 Missal Romano (Ed. Paulus, 15a ed., 2011), p. 691 (Explicação introdutória).
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum -— Ano B — São Marcos R
Recordando a Palavra
Comecemos pelo Evangelho. O Evangelho das Bem-aventuranças
(Mt 9,5-12a), que nos estimula a buscar o que de fato a elas nos
conduz, a saber: a Boa-Nova do amor misericordioso e fiel de Deus.
Nele “encontramos pistas sobre 'o Reino do céu” para o qual Jesus
nos encaminha e sobre quem é este Deus que faz de nós seus 'filhos'
(v. 9), a quem Jesus nos convida a chamar de “Pai”... (Mt 6,9-13)*.º
À cena inicial evoca a antiga aliança de Deus com Israel. A
“montanha” faz lembrar o monte Sinai, onde Moisés recebeu a Lei
(cf. Ex 24,12). Só que, aqui, Jesus é diferente de Moisés, que falava
como intermediário de Deus. Agora, Deus fala na pessoa de Jesus,
diretamente. Jesus fala com autoridade própria. Por isso “sentou-se”
(v. 1) e “começou a ensinar” (v. 2), como faz um Mestre com “discí-
pulos” ao redor (v. 1).
Vemos, pois, uma passagem do antigo para o novo, da antiga lei
para a nova. Jesus não vem dar mandamentos, à moda de Moisés,
mas anunciar “o Reino dos céus” e mostrar quem é que acolhe este
Reino como notícia que traz verdadeira “felicidade”: são os “pobres”,
“os mansos”, os “puros de coração”.
São os que,
que, longe
long do apego
pes às riquezas
q (v. 3), colocam sua con-
fiança só em Deus com um coração humilde (v. 5). Aos pobres é que
Deus dá seu Reino (cf. Mt 11,5-6).
São os que sofrem a injustiça e a opressão (v. 4), nos quais se
cumpre o anúncio dos profetas (cf. Is 61,2). Esses “aflitos” (v. 4) serão
com toda certeza consolados.
São os que se inclinam diante de Deus e, consequentemente,
como Jesus (cf. Mt 12,15-21), são pacientes, não se irritam, renun-
ciam a todo tipo de violência. Estes “mansos” (v. 5) possuirão a terra
renovada pelo dom do Reino.
69 ROMAGUERA,]J. M. E/evangelio en medio a la vida. Domingos y fiestas del ciclo B. Op. cit.,
p. 200.
à O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Atualizando a Palavra
Festa de todo os santos. A palavra “santo” tem a ver com puro,
sem defeito, sem corrupção, sem falsas intenções, verdadeiro, sem
mentira. Aprovado, portanto. Garantido! Plenamente confiável!
Neste sentido, só Deus é santo. Nele dá para confiar plenamente.
Por isso que o canto preferido dos anjos e dos santos no céu é precisa-
mente aquele que proclama santidade de Deus (cf. Is 6,1-3; Ap 4,8):
Santo, Santo, Santo... E, nós também com eles o cantamos na missa,
como parte da Oração Eucarística.
A santidade de Deus é um apelo permanente no sentido de nos
aproximarmos do seu jeito amoroso de ser: “Sede perfeitos como
vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). E entrar no jeito de ser de
Deus é fazer o caminho de Jesus para, enfim, mergulhar no oceano
de pura “felicidade”, “bem-aventurança” imensa no espaço do Reino
de Deus, “eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da san-
tidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. Perfazendo
o caminho pascal de Jesus, como discípulos e discípulas dele, vamos
lavando nossas vestes no sangue do Cordeiro, isto é, vamos nos puri-
ficando mais e mais e, no final, passada toda tribulação, participa-
remos com toda a incontável multidão dos “provados” e “aprovados”
— santos — da “festa que no céu nunca se acaba”.
“Santo significa ser de Deus. Não é preciso ser anjo para isso.
Santidade não é angelismo. Significa um cristianismo libertado e
esperançoso, acolhedor para com todos os que “procuram a Deus
com todo o coração” (Oração Eucarística IV). Mas significa também
um cristianismo exigente. Devemos viver mais expressamente a san-
tidade de nossas comunidades (a nossa pertença a Deus e a Jesus), por
uma prática da caridade digna dos santos e por uma vida espiritual
sólida e permanente. Sobretudo: santidade não é beatice, não é medo
de viver. É uma atitude dinâmica, uma busca de pertencer mais a
Deus e assemelhar-se sempre mais a Cristo. Não exige boa aparên-
cia! Desprezar os pobres é desprezar os santos! Mas exige disponibi-
lidade para se deixar atrair por Cristo e entrar na solidariedade dos
fiéis de todos os tempos, santificados e unidos por ele”.”
73 KONINGS, J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis... Op. cit., p. 501.
74 Oração do dia.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos RB
2 de novembro de 2015
Situando-nos
Hoje, à luz do mistério pascal de Cristo, representado pela nossa
assembleia reunida em comunhão com todos os fiéis vivos e falecidos
(todos juntos formamos e somos o Corpo eclesial de Cristo!), pela
Palavra que nos alimenta e pela Eucaristia que nos sustenta, nos
colocamos diante de uma realidade bem humana: o mistério da
morte. Realidade irreversível, da qual ninguém escapa. Lembrando-
-nos de todos os fiéis que já passaram pela experiência do morrer,
celebramos o pleno sentido da vida e da morte em Cristo morto e
ressuscitado.
Esta nossa celebração poderia se chamar de “liturgia da espe-
rança”. “Pois, como 'o último inimigo é a morte” (1Cor 15,26), a
vitória sobre a morte é o critério da esperança do cristão. À morte
é considerada, espontaneamente, como um ponto final: 'tudo aca-
bou'. À resposta cristã é: 'A vida não é tirada, mas transformada”
(Prefácio)”.º Olhemos de novo o que nos diz a Palavra de Deus e
reflitamos sobre ela.
Recordando a Palavra
O Evangelho nos fala da visita que Jesus faz a uma família enlutada
(cf. Jo 11,17-27). Família amiga de Jesus, por sinal. Duas irmãs, Marta e
Maria, choravam a morte do irmão Lázaro, já sepultado há quatro dias.
Marta, que já conhecia bem Jesus, desabafou e, ao mesmo tempo,
mostrou fé nele: “Senhor, tivesses estado aqui, meu irmão não teria
morrido. Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele te
concederá” (v. 22).
Jesus, então, a surpreende, garantindo-lhe que Lázaro vai res-
suscitar. Marta, sem entender ainda a afirmação de Jesus, confirma
expondo-lhe a sua crença na “ressurreição no último dia” (v. 24).
E Jesus, por sua vez, abre logo o jogo sobre que queria dizer, afir-
mando: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo
que morra, viverá... Você acredita no que estou dizendo?” (v. 26).
E ela confirma o messianismo de Jesus, dizendo: “Sim, Senhor, eu
creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir
ao mundo” (v. 2.7).
De fato, no Jesus morto e ressuscitado se confirma o que os
sábios antigos já intuíam: todos os justos — os que se “ajustaram” ao
modo de ser do Messias-servo — “foram aceitos como ofertas de holo-
causto” (cf. Sb 3,6). Em outras palavras, os que nEle confiam compre-
enderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão junto d'Ele,
porque a graça e a misericórdia são para seus eleitos (cf. Sb 3,6.9). Por
isso, com razão hoje podemos cantar o Salmo 23, cujo refrão pode res-
soar assim: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta” (v. 1); ou: “Se eu
tiver de andar por vale escuro, não temerei mal nenhum, pois comigo
estás” (v. 4a).
E muito maior ainda é nossa esperança porque, na Páscoa de
Jesus, “todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de
Deus” — isto é, que vivem como Jesus viveu — “são filhos de Deus”
(Rm 8,14). Podemos então chamar a Deus de Pai. Logo, segura-
mente somos também “herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo”
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B — São Marcos B
Atualizando a Palavra
Ontem celebramos a Solenidade de Todos os Santos. A impressão que
se tem é que o povo dá mais importância “à oração pelos familiares
falecidos do que à celebração dos santos gloriosos. Acha que os parentes
falecidos lhes estão mais próximos e precisam mais de oração... Por
isso, Finados ganha de Todos os Santos. Também, o povo sofrido é
mais sensível ao pensamento do sofrimento e da morte do que ao da
glória. Glória, nunca conheceu, sofrimento, sim. (Por isso, celebra
mais a Sexta-feira Santa que a Páscoa da Ressurreição)”.*!
E aí, então, vem a pergunta: “Mas os falecidos, não são santos tam-
bém? Se não fossem santos, isto é, pertencentes ao “Santo”, a Deus, que
sentido teria rezar por eles. Para aliviar as penas do purgatório? Mas isso
tem sentido apenas porque já estão encaminhados para Deus. Só lhes
falta o 'acabamento'! À segunda leitura de hoje diz que os batizados já
corressuscitaram com Cristo. Se já somos 'filhos de Deus' e ainda não se
manifestou o que seremos (segunda leitura de Todos os Santos), os que já
percorreram o caminho são santos, pertencem a Deus, mesmo se ainda
lhes falta alguma purificação. À festa de Todos os Santos e o Dia dos Fina-
dos são uma coisa só: inclui toda a Igreja militante, padecente e triunfante.
Se estamos convencidos disso, estes dias não se tornam dias tristes, mas
dias para curtirmos o pensamento da glória e da paz que recebem os que
procuram, durante sua caminhada na terra, o rosto amoroso do Pai”.
Enfim, à luz da Palavra de Deus podemos dizer: “Os san-
tos “acabados' — a Igreja triunfante — e os santos 'em fase de acaba-
mento' — as almas do purgatório — são solidários com os que ainda
estamos a caminho da santidade, a Igreja militante aqui na terra.
81 Ibidem, p. 504.
82 Ibidem.
Rn O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
83 Ibidem.
84 Oração do dia.
85 Prefácio dos fiéis defuntos, I.
86 Cf. Oração depois da comunhão.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B - São Marcos
87 Oração Eucarística I.
88 Cf. CNBB. Hinário Litúrgico, 4º Fascículo. Sacramentos. Comum dos Santos. Missas para
Diversas Necessidades. Op. cit., p. 360 (Celebração da morte cristã).
89 Cf. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Op. cit., p. 142.
x Ee ea: ecmpodey
8 de novembro de 2015
“ESTA VIÚVA POBRE DEU MAIS DO QUE TODOS OS OUTROS”. (MC 12,44)
Situando-nos
Longo caminho feito. Nele Jesus veio instruindo seus discípulos.
Padronizados segundo esquemas puramente humanos de pensar
a religião, eles sempre tiveram grande dificuldade em entender
a proposta messiânica do Filho de Deus, Jesus, como humilde
e obediente Servo que tem de passar pelo sofrimento, cruz e
ressurreição.
Hoje, já no ponto final do caminho, isto é, em Jerusalém, cora-
ção da religião judaica onde será humilhado e morto, Jesus se encon-
tra precisamente no templo, com uma grande multidão de pessoas a
ouvir seus ensinamentos (cf. Mc 12,38-44). Nós hoje, aqui reunidos,
fazemos também parte desta multidão à escuta do nosso Mestre.
Recordando a Palavra
Entre os ensinamentos, a partir de sua pessoal experiência de Deus
como discreto e ativo amor, Jesus nos alerta no sentido de tomar
cuidado com os “doutores da Lei”. Em outras palavras, quem quer
ser discípulo e discípula do Reino de Deus tem que superar dentro
de si todo espírito de poder, ostentação, vaidade, privilégios, piedade
hipócrita, exploração dos pobres, neles observáveis: Eles gostam
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos R
Atualizando a Palavra
Jesus critica três aspectos do comportamento dos “doutores da Lei”:
“Em primeiro lugar, a vaidade, que é a busca de reconhecimento dos
demais (v. 38-39). Em segundo lugar, a hipocrisia, pela qual usam a
religião para camuflar o egoísmo mais agudo: “fingindo fazer longas
orações! (v. 40). Finalmente uma conduta muito mais grave: abusam
dos pobres (v. 40)”.ºº
Por exemplo, caso uma mulher enviuvasse, principalmente se ela
não tivesse filho que a sustentasse, sucedia até que ela era induzida a
passar os bens do marido para o templo em troca de algum mínimo
benefício assistencial, e olha lá! E quem tirava proveito das riquezas
injustas do templo? Eram as autoridades religiosas, os “doutores da
Lei”! Por isso que Jesus os critica severamente dizendo: “Eles devo-
ram as casas das viúvas” (v. 40), deixando-as, portanto, literalmente
“depenadas”.
Por isso se entende também a especial admiração mostrada p por
Jesus pela “pobre viúva” do templo que, “na sua pobreza, ofere-
ceu tudo aquilo que possuía para viver” (v. 43-44). Diferentemente
dos ricaços que davam do seu supérfluo, ela deu tudo quanto tinha
. 4 « « . ma . »
para viver: as últimas “duas moedinhas que não valiam quase nada
(v. 42). Em outras palavras, ela deu toda sua vida. Confiou-se nas
mãos de Deus, todinha. Isso que é generosidade! Jesus mesmo se
viu nela, com certeza, e nos leva a refletir!
“A generosidade que Jesus preza é duplamente generosa. É radi-
cal, pois priva a gente do necessário. É gratuita, pois ocorre sob os
olhos de Deus, com quem não é possível fazer negócios escusos.
Dá-se tudo sem pedir nada de volta. 'Loucura, a vida não é assim”,
Mas na loucura está a felicidade de amar sem restrição nem cálculo,
como que para responder ao infinito amor de Deus para conosco.
Generosidade gratuita é imitação de Deus (cf. Mt 5,45-48). Mas, e o
90 ROMAGUERA,]J.M. E/evangelio en medio a la vida. Domingos y fiestas del ciclo B. Op. cit.,
p. 172.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B — São Marcos RB
15 de novembro de 2015
Situando-nos
Penúltimo domingo do ano litúrgico. Já estamos em meados de
novembro; e o ano civil de 2015 também já vai se aprontando para
dar lugar ao novo. É as pessoas a toda hora comentam: “O tempo
passa tão rápido, cada vez mais rápido”. É o tempo cronológico da
nossa cultura consumista assustando nossos corpos cada vez mais
afoitos com tantas coisas a fazer. Afoitos e distraídos. Tão distraídos
que deixamos de perceber e curtir o natural fluir da vida e do tempo;
temos dificuldade de perceber que o tempo traz sempre, dentro dele,
uma mensagem.
Ao mesmo tempo, pela instantaneidade das comunicações na
mídia, somos também “distraídos” por enxurradas de notícias inter-
nacionais referentes a sangrentos conflitos entre etnias, povos, países,
religiões, culturas. Guerras e guerrilhas brutais, desespero e fome,
migrações em massa, naufrágios, muita morte, tudo é notícia. Ter-
remotos, tsunamis, tufões e tornados devastadores, secas e enchentes,
milhares de vidas ceifadas ou desabrigadas. Também isso “entre-
tém”. Parece o fim do mundo a engolir o tempo até dos vivos. Sem
precisar ir muito longe: “mensalões” e petrolões”, corrupções e insa-
nas “camuflagens” (também midiáticas!), de longa data e todo tipo,
n O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
Recordando a Palavra
Jesus se dirige hoje aos seus discípulos com um discurso à primeira
vista apavorante (cf. Mc 13,24-32). Fala de grande tribulação seguida
do sol escurecendo, da lua perdendo seu brilho, das estrelas caindo
do céu, das forças do céu sendo abaladas. Verdadeira sensação de fim
de mundo! É diz que “então vocês verão o Filho do Homem vindo
nas nuvens com grande poder e glória” (v. 26); e os anjos serão por
ele enviados para reunir de todos os cantos da terra todos os “eleitos
de Deus” (v. 27). Já observaram o que se sente quando os ramos da
figueira ficam verdes e as suas folhas começam a brotar? Sente-se
que o verão está às portas. Mesma coisa — conclui Jesus — “quando
vocês virem essas coisas acontecendo, fiquem sabendo que o Filho
do Homem está próximo” (v. 28-29). “E digo mais” — afirma Jesus —,
“tudo isto vai acontecer” ainda nesta geração. O céu e a terra vão
passar, “mas as minhas palavras não passarão” (v. 30-31). E em que
dia e hora isso vai acontecer? “Ninguém sabe” — afirma o Mestre —,
“nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (v. 32).
Realiza-se, pois, a profecia de Daniel, como ouvimos na primeira
leitura (Dn 12,1-3), que anuncia “um tempo de angústia como nunca
houve” (v. 1), mas dentro do qual os justos serão salvos, despertarão
para a vida eterna; os sábios brilharão como o firmamento e os mes-
tres das virtudes “brilharão como as estrelas, por toda a eternidade”
(v. 2-3). Logo, o justo que se refugia totalmente em Deus pode se
sentir sempre seguro, confiante, inabalável, tranquilo, eternamente
feliz e alegre. Por isso que em meio às angústias da vida podemos
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum — Ano B - São Marcos
Atualizando a Palavra
Pelo fato de vivermos neste mundo, estamos sujeitos a passar por
assustadoras situações de todo tipo, até com cheiro de “fim do
mundo”, Foi a experiência vivida pelas comunidades cristãs primitivas.
Elas viviam em contextos sociais de tremendos conflitos políticos
e culturais, guerras e guerrilhas, massacres e, pior ainda, de cruéis
perseguições contra os próprios cristãos. Sem contar os contextos
amedrontadores de acidentes naturais, certamente conhecidos e até
vividos por muitos. E é dentro desse contexto que o Espírito faz ver
— também pelo evangelho de Marcos — uma mensagem de fé cristã.
Esta mensagem é passada pelo evangelista mediante um gênero
literário típico, herdado da tradição judaica, com a intenção de “for-
talecer a esperança do povo em tempos de crise”. Chamam-no de
gênero apocalíptico.
Com certeza, as situações conhecidas e vividas pelas primitivas
comunidades cristãs eram às vezes tão cruéis que muitos chegavam a
se questionar: será que, com tudo isso, vale a pena ser cristão, discí-
pulo e discípula de Jesus Cristo? Tem algum sentido? Era a tentação
do desânimo total no caminho cristão, pessoal e comunitário.
E é aí que entra o evangelista com a mensagem de fé: usando o
gênero apocalíptico, imagina a possibilidade real até dos mais assus-
tadores acontecimentos cósmicos, inclusive o fim de tudo. Como que
para dizer: mesmo assim, não se intimidem, não desanimem, tenham
coragem, pois o Filho do Homem que já passou pela tragédia do
O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
96 ROMÁAGUERA, J. M. E/ evangelio en medio a la vida. Domingos y fiestas del ciclo B. Op. cit.,
p. 175. Vale lembrar que as palavras de Jesus, da Liturgia de hoje, foram ditas precisamente
em Jerusalém; às portas da paixão, portanto.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B — São Marcos n
97 Ibidem.
98 CNBB. Hinário litúrgico. 3º Fascículo. Domingos do Tempo Comum, Anos À, Be C. Op. cit.
No O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
22 de novembro de 2015
Situando-nos
Na sociedade civil temos o ano civil, marcado pela contagem do
tempo cronológico. Na comunidade eclesial temos o ano litúrgico,
marcado pela vivência do tempo da salvação em Cristo vivido na
liturgia. Tem início no 1º domingo do Advento, em preparação
para o Natal do Senhor, e termina com o domingo de “Cristo, Rei
do Universo”. Portanto, hoje celebramos o último domingo do ano
litúrgico, no qual damos destaque especial à “realeza” de Jesus: “Ele
oferece o Reino de Deus e se oferece a si mesmo como referência,
como aquele que devemos seguir para fazer parte deste Reino”.º!
Fizemos todo um caminho com Jesus, nos domingos prece-
dentes, com Ele aprendendo qual é o projeto de Deus em relação
ao seu Reino de vida plena para todos, feliz e saudável. O modelo
deste projeto é o próprio Jesus de Nazaré, Filho de Deus, que,
desapegado de tudo, passa a vida só fazendo o bem e, depois, em
sua total entrega de amor por nós, tem que passar pelo sofrimento,
101 ROMAGUERA, J. M. El evangelio en medio a la vida. Domingos y fiestas del ciclo B. Op. cit.,
p. 176.
n O caminho para ser discipulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
pela dor, pela cruz, pela morte, culminando, enfim, com a ressur-
reição como vitória desse amor sobre toda maldade. Esse é o Mes-
sias verdadeiro, que não mente. Esse é o Caminho certo que nos
conduz a um fim feliz. Esse é o Reino de Deus. Entrar no jogo
dele é que torna o ser humano realizado e feliz. Nem todos enten-
dem isso. Outros, mesmo entendendo, não se arriscam e, con-
sequentemente, se vão “tristes” por aí, como foi o caso do moço
“rico” (cf. Mc 10,17-30).
Recordando a Palavra
Final do caminho. Jesus em Jerusalém, agora preso, humilhado.
É o momento do Messias verdadeiro. Acusado de se fazer de rei, é
interrogado por Pilatos (Jo 18,33b-37).
Então Jesus expõe claramente qual a dimensão do Reino ao qual
sempre se referiu em sua pregação: “O meu reino não é deste mundo.
Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para
que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino não é daqui”
(v. 36).
“Então, tu és rei?”, pergunta o governador. Jesus, certo de ser
Ele mesmo a verdade do Reino de Deus — pois de Deus Ele veio
—, não titubeia: “Ju dizes que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo
para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da
verdade escuta a minha voz” (v. 37). E qual é a verdade? À verdade
Reino de Deus, totalmente diferente dos limitados padrões dos rei-
nados deste mundo.
Trata-se de um Reino que está acima de todos os outros reinos.
E neste Jesus, pela sua Páscoa, se concretiza a visão do profeta Daniel,
como ouvimos na primeira leitura. Daniel viu “um como que filho
do homem”, a quem lhe foram dados “poder, glória e realeza, e todos
os povos, nações e línguas o serviam: e seu poder é um poder eterno
que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”
(cf. Dn 7,13-14). Por isso que, iluminados pela Páscoa de Jesus, é que
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B — São Marcos
hoje podemos cantar o Salmo 93, cujo refrão soa assim: “O Senhor
reina, de esplendor se veste!” (v. 1a).
Ou como proclama solenemente a Palavra de Deus no livro do
Apocalipse: “Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primogênito dentre
os mortos, o soberano dos reis da terra (...), e que fez de nós um reino
de sacerdotes para seu Deus e Pai” (Ap 1,5-6).
Atualizando a Palavra
Jesus diz abertamente diante de Pilatos que seu reinado não é deste
mundo. Em outras palavras, “não deve seu reinado a nenhuma
instância deste mundo. Ele não é como os reis locais, no Oriente, que
eram nomeados pelo Imperador de Roma; nem como o Imperador,
cujo poder dependia de seus generais, os quais por sua vez dependiam
do poder de quem? De uma estrutura que se chama “este mundo.
Como hoje. Os governantes deste mundo — estabelecidos por 'este
mundo" — dependem de toda uma constelação de poderes, influên-
cias e trâmites escusos. Devem pactuar, conchavar, corromper. E, no
fim, caem de podres. Pensam que são donos do mundo, enquanto, na
realidade, o mundo é dono deles”.!º2
Os reinos deste mundo são representados por uma visão do pro-
feta Daniel (cf. Dn 7,11-12): feras tomando conta deste mundo e se
digladiando entre si. É aí que, como vimos na primeira leitura, o
profeta vê “uma figura com rosto humano, um “como que filho do
homem, que desce do céu, de junto de Deus, e que representa o rei-
nado de Deus que domina as feras, os reinos deste mundo. Jesus na
sua pregação se autointitula “filho do homem” no sentido de ser ele
aquele que traz esse reinado de Deus ao mundo”!
102 KONINGS, J. Liturgia dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis... Op. cit.,
p. 350.
103 Ibidem.
Ho O caminho para ser discípulo(a) de Jesus e viver o Reino de Deus
É reinado de Deus. Deus é seu dono. Mas, embora não sendo deste
mundo, este reino não está fora do mundo. Está bem dentro do
mundo, mas não depende deste por uma relação de pertença, nem
procura impor-se ao mundo por aqueles laços que o prenderiam:
força bruta, astúcia, diplomacia, mentira... Jesus ganha o mundo para
Deus pela palavra da verdade”!
Jesus mesmo o disse, diante de Pilatos: “Eu nasci e vim ao
mundo para isto: para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37). De
que verdade se trata? “Jesus é a palavra da verdade em pessoa. Nele a
verdade é levada à fala. E que verdade? A verdade lógica, científica?
Não. Na Bíblia, a verdade significa firmeza, confiabilidade, fideli-
dade. Jesus é a palavra 'cheia de graça e verdade” (Jo 1,14), a palavra
em que o amor leal e fiel de Deus vem à tona e se dirige a nós: amor
e fidelidade em palavras e atos. É Deus se manifestando. Essa “ver-
dade”, Jesus a revela dando sua vida até o fim. Esse é o sentido desta
declaração, feita três horas antes de sua morte, ao ser interrogado por
Pilatos, que não entende”!
Jesus mesmo é a própria personificação do Reino de Deus. “Não o
reino da opressão, mas o reino do amor fiel, reino de rosto humano — o
humano de Deus por nós, manifestado no dom da vida de Jesus, que
reina desde a cruz. À opressão exercida pelos reinos deste mundo, Jesus
a venceu definitivamente pela veracidade do amor fiel de Deus. Ora,
quem faz existir o amor fiel de Deus no mundo de hoje somos nós.
Por isso Jesus nos convida: “Quem é da verdade escuta a minha voz”,!º6
104 Ibidem.
105 Ibidem.
106 Ibidem.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano B — São Marcos
110 Cf. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Op. cit., p. 213.