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Acho que Paulo Guedes enlouqueceu’,

diz ex-ministra de Dilma sobre


privatizações
Publicado por
 Diario do Centro do Mundo
 -
 6 de julho de 2020

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Miriam Belchior e Dilma Roussef. Foto: Reprodução

Publicado originalmente pela Rede Brasil Atual:

Por Eduardo Mareti

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Indiferente à pandemia de coronavírus e atento a sua agenda


ultraliberal, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse
neste domingo que o governo deve anunciar em breve as
privatizações de quatro grandes estatais. Ele não citou
expressamente quais, mas confirmou que os Correios estão na
mira. “Está na lista seguramente, só não vou falar quando. Eu
gostaria de privatizar todas as estatais.”

A Eletrobras é outra estatal a ser vendida.

“Acho que ele enlouqueceu”, afirma a ex-ministra do


Planejamento Miriam Belchior. “Enquanto todos os países
estão montando planos de reconstrução nacional, por causa
da crise provocada pela pandemia de coronavírus, ele
continua no samba de uma nota só de falar de privatização.”

Para ela, ao contrário do que Guedes defende, o país, para


crescer e criar empregos, precisa de investimento público.
“Não tem plano B. Ele não consegue sair da caixinha
ultraneoliberal em que se enfiou”, critica Miriam.

De mão beijada

Segundo Guedes, o Planalto vai anunciar planos para as


grandes privatizações em “30, 60 a 90 dias”. Essa não é a
primeira vez que ele afirma querer privatizar “todas as
estatais”. A mesma frase foi dita ao jornal Valor
Econômico em setembro de 2019.

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“Assim como o presidente da República nega a pandemia, o


ministro da Economia nega que o país vai entrar em uma
pindaíba gigante e não vai ser com privatização, muito menos
privatização de patrimônio nacional, a área de energia, que
vai solucionar o problema de necessidade de crescimento e de
criação de empregos”, observa Miriam. “Quero saber o que
essa privatização (da Eletrobras) vai gerar de emprego.”

O resultado, na visão da ex-ministra de Dilma Rousseff, será


“jogar fora” o patrimônio. Inclusive, dado o quadro de crise
mundial, eventuais compradores vão querer pagar preço
muito abaixo do valor real. “Vamos entregar de mão beijada.
É uma insanidade.”

Risco à segurança

Para a eventual privatização da Eletrobras, os governistas


dependem da boa vontade do Congresso, mas o tema é
delicado e encontra resistências na Câmara.

A ex-ministra acredita que é preciso haver mobilização dos


partidos de centro-esquerda no Congresso Nacional, por parte
dos funcionários das empresas, dos parlamentares que
consideram a energia estratégica e também de movimentos
sociais.

“O suprimento de energia não ser controlado de forma pública


é um risco gigante para a segurança do país. Segurança
econômica e mesmo física. Se alguém quiser nos atacar, se
controlar a energia, tem um grande trunfo na mão”, alerta
Miriam Belchior.

A privatização da Eletrobras e dos Correios teria


consequências semelhantes. “Quero saber quem vai entregar
produtos nas periferias, porque hoje as empresas privadas
que fazem entrega de mercadorias vendem o serviço para
alguém postar no correio, para o correio entregar. Como as
mercadorias vão chegar nos lugares mais distantes e também
nas periferias dos grandes centros urbanos?”, questiona. Da
mesma maneira, o fornecimento de energia a locais não
rentáveis para empresas pode ser seriamente comprometido.

Em janeiro, em entrevista à TV Record, o secretário especial


de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, do Ministério
da Economia, Salim Mattar, justificou por que os Correios têm
de ser privatizados. “Não faz sentido mais ter uma empresa
para entregar cartas se ninguém mais escreve cartas”, disse.

Saneamento

No caso do saneamento, o problema seria semelhante. “Os


pequenos municípios vão ser prejudicados, porque são o osso,
e tem município que é a carne. As  empresas só vão querer os
municípios rentáveis, só vão querer a carne”, diz Miriam. “E o
país vai ficar sem saneamento? É isso que vai acontecer com
essa privatização do setor de saneamento do país. Esse é o
debate que precisa ser feito sobre os efeitos dessas medidas.”

Na quarta-feira (24), o Senado aprovou o novo marco legal do


saneamento básico. O Projeto de Lei (PL) 4.162/2019 facilita
a privatização da água por meio da concessão de serviços de
estatais do setor para empresas que visam ao lucro.

Grandes bancos privados deixam


pequenas e médias empresas à míngua
na crise do coronavírus
Publicado por
 Diario do Centro do Mundo
 -
 10 de julho de 2020

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Banco Itaú. Foto: Wikimedia Commons

Publicado no site da Rede Brasil Atual (RBA)

Enquanto o Banco do Brasil e a Caixa já emprestaram R$ 6,9


bilhões para micro e pequenas empresas, obancos privados
demonstram resistência para aderir ao Programa Nacional de
Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
(Pronampe). Nesta quinta-feira (9), as duas instituições
públicas anunciaram mais R$ 2,3 bi para esta linha de crédito.
Os recursos emprestados pelo programa são garantidos pelo
Fundo Garantidor de Operações (FGO), do Tesouro Nacional.
O governo se dispõe a cobrir até 85% das perdas totais em
casos de inadimplência.

Ainda assim, os bancos privados utilizam o argumento da falta


de garantias das empresas como justificativa para não
disponibilizar o crédito pelo Pronampe.

O Itaú Unibanco e o Banco de Desenvolvimento de Minas


Gerais (BDMG) já foram habilitados para oferecer crédito pelo
Pronamp, mas ainda não formalizaram nenhuma operação.

O Santander afirmou que deve aderir ao programa a partir do


mês que vem. Já o Bradesco disse que também deve
participar, mas ainda sem data definida para começar a
operar. Outras 20 instituições manifestaram interesse, mas
ainda analisam as condições.

Para a coordenadora de pesquisas do Dieese, Patrícia Pelatieri,


os bancos privados não cumprem o papel esperado no
enfrentamento da crise econômica decorrente da pandemia.
Em vez de contribuírem para o financiamento das atividades
produtivas, “concentram renda, registram lucros enormes e
selecionam para quem vão emprestar”.

Lados da moeda

Em entrevista a Glauco Faria no Jornal Brasil Atual, nesta


sexta-feira (10), Patrícia destaca que os cinco maiores bancos
do país (dois públicos e três privados), registraram lucro
recorde de R$ 108 bilhões em 2019. No primeiro trimestre
deste ano, com a economia estagnada e ainda antes da
pandemia, o lucro somado foi de 18 bilhões. Apesar da crise,
as taxas de inadimplência seguem em torno de 3%, dentro da
média mundial.

Enquanto isso, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, para o trimestre
encerrado em maio, apontam que o número de trabalhadores
por conta própria teve redução de 8,4%. Ao todo, 2,062
milhões de pessoas que deixaram de empreender, a maioria
formada por microempreendedores individuais (MEIs). Nesse
período, também houve a redução de 377 mil empregadores.
Em grande medida, são pequenas empresas que já fecharam
seus negócios, em função da queda nas vendas e das
dificuldades no acesso ao crédito.

Edir Macedo atribui a dois ex-bispos


brasileiros um “golpe” em Angola. Por
Gilberto Nascimento
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 Diario do Centro do Mundo
 -
 6 de julho de 2020

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Edir Macedo

Publicado originalmente na Agência Pública

POR GILBERTO NASCIMENTO

Em uma live anunciada como “meditação com pastores”


publicada nas redes sociais no sábado, 27 de junho, o líder
máximo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Edir
Macedo, culpou os ex-bispos brasileiros João Leite e Alfredo
Paulo por um “golpe” em Angola, que teria levado, há 15 dias,
religiosos africanos a se rebelar e assumir o controle de 220
dos cerca de 300 templos da instituição no país. Os bispos e
pastores locais romperam com a direção da IURD, expulsaram
os colegas brasileiros e querem que eles deixem o país.

O então bispo João Leite foi responsável pela IURD em Angola


até 2017 e, no ano seguinte, foi afastado depois de ter
assumido que cometeu adultério. Leite fundou recentemente,
no Rio de Janeiro, a própria denominação, a Igreja do
Tratamento Espiritual. Alfredo Paulo, ex-bispo responsável
pela IURD em Portugal, deixou a instituição em 2013, também
por suposta infidelidade conjugal. No início do ano passado,
ele exibiu em um canal que mantém no YouTube um vídeo em
que João Leite anunciava os seus planos para disputar
espaços com Edir Macedo em busca de fiéis na África. Nas
últimas semanas, Alfredo Paulo, que vive em Portugal,
divulgou nas redes sociais informações sobre os protestos dos
bispos e pastores da IURD em Angola. Por conta disso, Edir
Macedo vinculou os ex-bispos à revolta no país.

Os rebelados na ex-colônia portuguesa dizem reunir 362


pastores dos 464 da IURD em atividade no país. Rejeitam o
rótulo de dissidentes ou ex-seguidores. Em nota oficial, a
igreja no Brasil os definiu como um grupo de religiosos
“desvinculados da instituição por práticas e desvio de
condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias
aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto”. Os
pastores angolanos, por outro lado, acusam o comando
brasileiro da IURD de supostos crimes como evasão de
divisas, expatriação ilícita de capital, racismo, discriminação,
abuso de autoridade, imposição da prática de vasectomia aos
pastores e intromissão na vida conjugal dos religiosos. Os
religiosos locais reclamavam também de privilégios dados aos
bispos e pastores brasileiros e pediam maior valorização do
episcopado angolano. Um manifesto com a assinatura de 320
bispos, pastores e obreiros foi divulgado em novembro do ano
passado. O documento foi encaminhado à cúpula da IURD,
mas não obteve resposta. A igreja tem 500 mil fiéis em
Angola.
Ao responsabilizar os ex-bispos brasileiros pelos conflitos, Edir
Macedo exibiu, em sua live, trechos do programa no YouTube
do ano passado no qual João Leite anunciava que, em um
mês, estaria em Angola “só com os cabeças” da igreja. O ex-
bispo afirmava que uma pessoa estava encarregada de reunir
essas lideranças. Supostamente, elas lhe dariam apoio para se
instalar no país.

Com boas relações com o governo angolano no período em


que comandava a IURD, João Leite chegou a batizar filhos de
poderosos políticos locais, mas não instalou templos em
Angola e Moçambique, como pretendia. Virou alvo de Macedo
por ter feito o anúncio no canal do ex-colega Alfredo Paulo na
rede social.

“Olhe para os semblantes deles”, disse o bispo Edir Macedo


em sua live, apontando para as imagens de João Leite e
Alfredo Paulo. “São semblantes satânicos, malditos,
amaldiçoados. Nunca tinha visto o João Leite com esse
semblante. A voz dos dois é acusatória. Uma voz que diz: ‘Eu
vou desgraçar alguém’. Que homens de Deus eram eles? É
porque houve uma maldição do pecado. Que Deus tenha
compaixão de vocês, João Leite e Alfredo. Vocês já são
malditos, estão alijados. São malditos pelo que estão fazendo
com as pessoas que estamos resgatando do inferno”, atacou o
líder da IURD. Acompanhado do bispo Gonçalves e de outros
três pastores africanos em sua live, Macedo conclamou os fiéis
em Angola a se afastarem dos opositores. “Você que está
dividido, inseguro, fuja dos rebeldes. Fique longe deles. Tire
os seus entes queridos de perto. O que vai acontecer com
eles, meus caros, já está determinado. E não há quem possa
mudar essa realidade”, ameaçou.

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O ex-bispo Alfredo Paulo disse ter visto semelhanças entre o


protesto dos bispos e pastores angolanos e o seu discurso
difundido nos últimos anos nas redes sociais. “Me identifiquei
com o manifesto deles porque eles dizem o que eu já vinha
denunciando há muito tempo”, justificou, em entrevista à
Agência Pública. E rebateu as críticas de Macedo. “Ele quer
tirar o foco do que está acontecendo. É mentira o que ele diz
sobre mim e o João Leite.”

Alfredo Paulo decidiu, após as críticas de Macedo, tornar


pública a íntegra de sua conversa com João Leite gravada do
ano passado. Num longo bate-papo, João Leite faz outras
duras acusações a atuais membros da IURD. Principalmente
ao bispo Honorilton Gonçalves. Diz, por exemplo, que ele teria
sido flagrado por um colega com material pornográfico em seu
computador e tido conduta pessoal inadequada no período em
que administrou a TV Record, o que teria motivado sua
transferência para a Bahia e, em seguida, para a África. Na
conversa, outro religioso é citado num suposto caso de
superfaturamento envolvendo uma construtora contratada
pela igreja para executar obras na África e em Portugal. Para
demonstrar o poder e a força da IURD na África, João Leite diz
que só de Moçambique teriam saído, em 2017, US$ 4 milhões
para a África do Sul.

País pobre, igreja rica


Uma das principais razões do protesto dos bispos e pastores é
o fato de o dinheiro recolhido nos templos da IURD ser levado
para fora de Angola. Envolto em casos de corrupção, o país,
hoje com 30 milhões de habitantes – 60% católicos e 35%
evangélicos –, é controlado pelo mesmo partido político, o
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), desde
sua independência de Portugal, em 1975. Sessenta por cento
de seus habitantes vivem com apenas US$ 2 diários, segundo
relatório do Centro de Investigação da Universidade Católica
de Angola. A expectativa de vida é uma das menores do
planeta – 42 anos –, e a taxa de mortalidade infantil, uma das
dez maiores.

Em contraste, a IURD obtém no país uma de suas mais


exuberantes receitas: US$ 80 milhões ao ano, segundo o
bispo angolano Valente Bezerra Luiz. Antes do início dos
protestos, Bezerra Luiz já ocupava o cargo de vice-presidente
da IURD em Angola. Agora, é tido como o novo líder local da
instituição que deverá adotar o nome de igreja de Angola, de
acordo com os críticos da direção brasileira. O presidente
oficial, o angolano António Pedro Correia da Silva, se afastou,
em razão de problemas de saúde, no final do ano passado.
Casado com uma brasileira, no momento está no Rio de
Janeiro.

O bispo Bezerra Luiz revelou ao jornal angolano O País, em


fevereiro, que boa parte do dinheiro recolhido nos templos
sairia de Angola por estradas, via Namíbia, para a África do
Sul. E daí para o Brasil ou outras partes do mundo. Outros
meios triviais também seriam utilizados, conforme o bispo.
Convidados para visitar o Templo de Salomão no Brasil,
pastores angolanos e suas esposas costumavam trazer à
igreja US$ 15 mil cada um, denunciou.

“Uma igreja que tem a arrecadação como a da IURD em


Angola não conta com obras sociais de impacto. O país sofreu
30 anos de guerra e estamos em fase de reconstrução. Graças
a Deus cessaram as armas e o país está em paz. Mas fomos
observando que a gestão brasileira cometeu muitos erros.
Fizemos investigações e vimos que a igreja andou cometendo
muitos crimes, como branqueamento de capitais e evasão de
divisas. Por isso, estamos a reivindicar que a gestão passe
para os angolanos”, disse à Pública, por telefone, na terça-
feira, 30 de junho, o pastor da IURD em Angola Silva Matias,
há 16 anos na igreja e na ativa, como fez questão de
ressaltar.

Bispos e pastores acusados de racismo

No país de maioria negra, líderes da IURD são acusados de


racismo por Silva Matias. “Começamos a notar muito racismo
por parte dos líderes brasileiros. Principalmente aqueles de
tons claros, brancos, que chegavam e tratavam os negros
com desrespeito. Fomos aturando”, revelou. Antes, Silva
Matias havia denunciado, em entrevista à Rádio França
Internacional (RFI), que o bispo Honorilton Gonçalves teria
feito alusões à semelhanças entre africanos e macacos. O
brasileiro comentou, segundo Silva Matias, que os negros têm
essa aparência porque suas mães, “enquanto concebiam,
tinham muito contato com macacos”. Questionado se tem
como provar os atos de racismo praticado por brasileiros, o
pastor diz valerem os depoimentos dos religiosos angolanos.
“As provas somos nós. Podíamos ter áudios e vídeos
comprovando. Mas, como já havíamos feito nossas queixas
sobre racismo e apresentado a eles, ao irmos para as reuniões
de pastores, éramos submetidos à revista com detectores de
metal. Até os bispos. Nem a Bíblia, nossa principal ferramenta
para trabalhar, o Honorilton permitia que levássemos para a
reunião”, explicou.

A imposição da vasectomia, reclamação comum de pastores


da IURD no Brasil e em outros países, é outro problema
apontado pelos angolanos. Essa medida seria imposta para
facilitar maior dedicação dos pastores à igreja, já que não
teriam filhos para cuidar. “Algumas práticas não fazem parte
da nossa etnia. Na nossa cultura na África, só é considerado
um casamento estabelecido quando há a inclusão de um filho.
Senão, aquele casamento não é bem aceito. Na cultura
brasileira pode ser normal, mas aqui não. Não há esse
costume da vasectomia. A gestão brasileira trouxe essa
prática, não como sugestão, mas imposição”, reclamou o
pastor. “Há uma irregularidade aí. A igreja não impõe, nem
Deus impõe. Deus deu ao homem o direito do livre-arbítrio.
Mas a igreja brasileira, sob às ordens de Edir Macedo, vinha
impondo as coisas, não respeitando a posição dos africanos.”
A IURD nega a imposição da vasectomia. Em uma nota, a
igreja disse estimular apenas “o planejamento familiar,
debatido de forma responsável por cada casal”.

Silva Matias nega que os angolanos cometeram atos de


xenofobia ao expulsar brasileiros: “Não temos nada contra os
brasileiros. Brasil e Angola sempre tiveram uma relação muito
boa. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer nossa
independência. Sempre tivemos uma relação amigável. A
questão é que a gestão brasileira da igreja vinha se
excedendo”.

A TV Record exibiu imagens de um pastor brasileiro, Israel da


Silva Gonçalves, que teria sido atacado com um porrete, em
meio aos conflitos. Atingido na testa, sangrava. O pastor teria
ficado desacordado e levado chutes, caído no chão. A
emissora ligada à IURD mostrou também imagens de pastores
e suas esposas com malas nas calçadas, em frente aos
templos. A igreja afirmou que eles teriam sido agredidos com
violência por ex-seguidores “com objetivo de tomar de assalto
a igreja, com propósitos escusos”. A IURD reclamou de “falta
de ação” do Itamaraty.

Um processo-crime foi aberto no Serviço de Investigação


Criminal (SIC), órgão de polícia de Angola, em novembro de
2019, para investigar as denúncias de pastores angolanos.
Agora eles acusam a IURD até de contratar homens para
tomar os templos de volta e tentar matar os pastores
rebelados. Daí, o caso foi encaminhado à Procuradoria-Geral
da República angolana e, na sequência, irá para um tribunal.
As duas partes devem ser chamadas a depor.

Os pastores locais reivindicam que os bens da IURD – como


os templos, condomínios residenciais e carros – fiquem com
eles, em razão de a igreja no país, conforme determina a
legislação, estar em nome de angolanos. “A igreja é uma
instituição nacional de direito angolano. Os bens pertencem
aos angolanos, pois foram adquiridos com arrecadações do
povo”, ressalta Silva Matias. “Somos nativos e somos a
maioria. Então, eles não têm como nos tirar dos templos.”
Quem vai decidir, no entanto, é a Justiça local. A IURD foi
procurada para manifestar sua posição, mas não respondeu
até o fechamento da reportagem.

Como o Uruguai falhou na tentativa de


democratizar sua mídia? Por Igor
Carvalho
Publicado por
 Diario do Centro do Mundo
 -
 9 de julho de 2020

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Publicado originalmente no Brasil de Fato

Por Igor Carvalho

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Gustavo Gomez lamenta que a Lei de Meios não tenha alcançado os grandes
conglomerados de comunicação do Uruguai – Foto: Arquivo Pessoal

Aprovada em 2014, mas aplicada a partir de 2015, a Lei de


Meios uruguaia foi pensada após episódios seguidos de cenas
de violência na TV do país em nome da audiência. O que
começou como uma forma de poupar a infância de imagens
grotescas evoluiu para uma tentativa do governo do
presidente José “Pepe” Mujica (2010-15) de melhorar as
telecomunicações uruguaias como um todo, tornado-as mais
democráticas.
A Lei de 200 artigos previa, por exemplo, uma
descentralização dos meios, evitando monopólios – como os
que existem no Brasil onde poucas famílias controlam a
imensa maioria da nossa mídia. Em entrevista ao Brasil de
Fato, um dos responsáveis pela redação da lei uruguaia,
Gustavo Gomez, chefe da Diretoria Nacional de
Telecomunicações (Dinatel) no governo de Mujica, explica por
que o projeto não foi em frente e que a situação pode piorar
ainda mais.

É que o governo federal, agora comandado pelo


presidente Luis Alberto Lacalle Pou, enviou ao parlamento um
projeto para substituir a lei atual, um texto que agrada os
empresários do setor. Estes, há anos, reclamam das
limitações impostas pela legislação de Gomez e Mujica.

“Essa nova lei recupera o privilégio que tinham os grandes


meios como não pagar pelo sinal que recebem. Segundo,
permite que concentrem mais empresas. Atualmente eles
podem ter três licenças de televisão e a nova lei prevê até
oito”, explica Gomez.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: É verdade que os programas policiais


influenciaram o governo de Mujica a preparar a Lei de
Meios uruguaia?

Gustavo Gomez: Os jornais televisivos cobriam, também,


temas policiais. O problema surgiu exatamente dessa
cobertura, imagens de roubos com armas, de
violência, morte, tudo isso filmado com câmeras internas de
lojas. Ocorreu o caso de um trabalhador de uma pizzaria que
estava trabalhando e foi assassinado por jovens. Os jornais
televisivos passaram as imagens durante o dia e de maneira
excessiva. Isso gerou uma reação do governo, precisávamos
tomar alguma medida para proteger a infância da exposição
dessas imagens. Porém, essa discussão se prolongou e
ganhou mais profundidade, ficou mais ampla e se tornou a Lei
de Meios. Essa foi a origem da discussão, significou que o
governo convocou o Comitê Técnico Construtivo (CTC) com
ampla participação de organizações estatais, sociais e
empresários da televisão para discutir uma regulação
democrática.

Brasil de Fato: Houve um impacto na criminalidade?

Gustavo Gomez: A lei nunca teve como objetivo reduzir a


criminalidade, mas proteger crianças e adolescente de certas
imagens. Como a quantidade de informações policiais impacta
a percepção da população sobre a segurança. A criminalidade
aumentou e os programas seguiram noticiando temas
policiais, dando espaço para essas notícias, mas sem as
imagens. Em todo esse tempo, não vimos mais um braço
cortado, assassinatos. O que limitamos foram as imagens, das
6h até 22h.

Brasil de Fato: A Lei de Meios uruguaia fez cinco anos


agora. Acredita que ela cumpriu o que o senhor
desejava quando a implementou?

Gustavo Gomez: Não. O último governo da Frente


Ampla quase não aplicou a lei. Houve um trabalho de
educação, que não puniu, mas advertiu as televisões. Já os
outros aspectos da lei não foram aplicados. A lei buscava
reduzir a concentração, isso não ocorreu, temos a mesma
concentração que antes, porque o governo não obrigou esses
grupos a devolver um só dos meios que concentram.

A lei também obrigava esses meios a pagarem um imposto


para financiar um fundo de promoção do audiovisual, para
garantir uma maior diversidade de conteúdo, mas o governo
do Tabaré Vázquez (sucessor de Mujica, que governou entre
2015 e 20) não cobrou um só peso de canais de televisão ou
rádios em cinco anos.

Já um aspecto que foi aplicado e teve importância foi a


determinação de que 30% das músicas tocadas nas rádios
sejam de produção nacional, isso significou mais produção de
música e mais empregos nas produtoras.

Brasil de Fato: No Brasil, é comum que se confunda


regulação dos meios de comunicação com censura. É
possível regular os meios de comunicação sem censurá-
los? Como se deu esse debate no Uruguai?

Gustavo Gomez: É possível, mas há que discutir qual


regulação, esse foi o debate que se formou no Uruguai. Desde
o começo se plantou a dúvida e a crítica em relação a nossa
iniciativa, pois poderia ser uma censura. De fato, muitas vezes
a regulação termina em censura.

Para impedir que isso acontecesse, quando apresentamos a lei


consultamos os organismos internacionais para assegurar que
esse projeto cumprisse as determinações internacionais de
Direitos Humanos. Foi uma regulação e não uma censura.
Quando aprovamos, todos os organismos independentes,
como Humans Rights Watch ou Jornalistas Sem Fronteira,
opinaram que a lei uruguaia era um modelo a ser copiada.

Brasil de Fato: Agora, o governo de Lacalle Pou enviou


um projeto ao Parlamento, com uma nova proposta
para a regular o mercado de comunicações, que surge
após anos de reclamação dos setores privados. Como o
senhor vê essa proposta?

Gustavo Gomez: O setor privado nunca esteve de acordo com


a lei e apresentou 30 recursos de constitucionalidade com a
lei. Veja, é uma lei de quase 200 artigos e eles reclamaram
contra quase todos. Repare que a Suprema Corte declarou
inconstitucional apenas 8 artigos dos 200. Porém, claro,
ganha a direita, com quem os meios tem uma proximidade e
defendem sua agenda. Apresentaram então um projeto para
substituir a lei atual.

É uma proposta que está de acordo com os interesses das


grandes empresas de comunicação. Ela recupera o privilégio
que tinham os grandes meios e que a lei atual retirou, como
pagar algo pelo uso do sinal que recebem. Segundo, permite
que concentrem mais empresas, atualmente podem ter três
licenças de televisão e a nova lei prevê até oito.

Brasil de Fato: Como devemos lidar as notícias falsas? É


um problema que não venceremos?

Gustavo Gomez: Sempre houve notícia falsa e vamos viver


com elas e agora com as mensagens instantâneas, o alcance é
maior. A primeira coisa que temos a fazer é diferenciar uma
notícia falsa da desinformação. Notícia falsa, a fake news,
pode ser coisas diferentes. Uma denúncia pode não ser exata,
ou algo que denunciamos e que depois de uma investigação
se mostra falso. Isso sempre existiu. Acho que o problema
para a democracia, o que temos que falar, é das estratégias
para desinformar, quando uma empresa, um partido político
ou o governo, sabendo que algo é falso, usa recursos para
promover essa desinformação. Com as notícias falsas, temos
que conviver, a desinformação nós combatemos. A notícia
falsa se combate com mais jornalismo e não com menos.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Demitida por Doria pela segunda vez,


Denise Abreu ficou famosa por fumar
charuto após tragédia com voo da Gol
Publicado por
 Mauro Donato
 -
 10 de julho de 2020

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Denise Abreu é um nome que os Doria tentam ajudar ao
mesmo tempo em que buscam mantê-lo debaixo do tapete.

O famoso vídeo do último dia 3, em que Bia Doria e Val


Marchiori desfilam ignorâncias sobre população em situação
de rua, despertou curiosidade sobre o Fundo Social, que fica
sob o comando da primeira-dama.

Ali descobriu-se que a presidência estava há alguns meses sob


responsabilidade de Denise Abreu, nomeação feita sem
alarde. Tão logo questionado sobre o assunto, o governador
Doria imediatamente nomeou outra pessoa para o cargo.

Denise Abreu é advogada, procuradora do Estado de São


Paulo, mas há décadas afastou-se da procuradoria para
ocupar cargos políticos. Na gestão tucana do governador
Mário Covas, ela era chefe de gabinete da Secretaria de Saúde
de São Paulo.
Conhecida por falar alto, bater na mesa e tratar de modo
ríspido seus subordinados, Denise Abreu veio para os
holofotes pela primeira vez durante sua passagem pela Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil).

Diante de dois graves acidentes aéreos ocorridos no período,


Denise Abreu revelou frieza e falta de empatia consideráveis.

Depois do acidente com o avião da Gol que colidiu com um


jato Legacy, em 2006 – que resultou em 154 mortos – Denise
deu a seguinte resposta a familiares das vítimas que estavam
cobrando informações e maior empenho na busca:

“Vocês são inteligentes, o avião caiu de 11.000 metros de


altura. O que vocês esperavam? Corpos?” Ela depois pediu
desculpas, não diretamente aos familiares, mas diante do
relator da comissão de investigação.

Poucos meses depois, em julho de 2007, uma nova tragédia.


O caso do Airbus da TAM que acidentou-se na aterrisagem em
Congonhas matando todas as 199 pessoas a bordo.

Em uma tensa reunião ocorrida menos de 24 horas do


acidente, Denise quis tirar o corpo fora e despejar toda a
responsabilidade na Infraero, acusando o órgão de ter
liberado a pista do aeroporto com defeitos sem consultar a
Anac.

O então presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira,


subiu o tom lembrando que os técnicos da Anac
acompanharam toda a reforma, deram o aval e deu um
recado para Denise:
“Não faça mais isso, senão eu abro sua caixa-preta e mostro
quantos passageiros a TAM leva em cada avião: gente
acomodada na cabine e até nos banheiros, sem que vocês
façam nada”.

O suposto favorecimento à TAM e depois a tentativa de livrar-


se da responsabilidade quando algo dá errado é similar ao
episódio relatado ontem neste DCM, ocorrido quando Denise
esteve à frente da Ilume e que causou a morte de um homem
eletrocutado.

Entre o acidente da Gol e o da TAM, Denise Abreu foi


fotografada fumando charuto numa festa na Bahia. À época, a
imprensa já buscava massacrar a “incompetência” da gestão
Lula e a foto caia como luva aos anseios de associar Denise ao
PT, à Cuba (charuto), à uma crise que afetava unicamente os
ricos, chamada de “caos aéreo”.

Desonestidade pura ou, se fosse hoje, poderíamos chamar


pelo termo em voga: fake news.

Como citado acima, Denise já estava na política pelas mãos


tucanas, é uma pessoa que se define como “genuína
anticomunista” que “defende a retirada de toda a esquerda do
poder”.

Tão logo perdeu o cargo de diretora da Anac, saiu atirando em


Dilma Rousseff.

Denise fez acusações de que a Casa Civil (então sob Dilma),


havia favorecido as vendas da Varig e VarigLog.
Era junho de 2008 e Denise Abreu declarou ter provas sobre o
favorecimento de um fundo americano pela Casa Civil na
negociação. Em entrevista a uma rádio, disse o seguinte:

“Nós estamos preparados para lidar com isso porque não


haveria cabimento eu me manifestar se não tivesse absoluta
convicção.”

Curioso como esse pessoal sempre confunde “provas” com


“convicção”.

Em dezembro de 2009 a Comissão de Ética Pública da


Presidência da República arquivou o caso inocentando Dilma.

Já Denise Abreu é um nome que, sempre que revelado, causa


turbulência e correria para abafar.

SAIBA MAIS:

Amiga de Bia Doria é afastada pela segunda vez da gestão


tucana

Sleeping Giants mostra que Olavo de


Carvalho diz que ninguém morreu pela
covid-19 e que vacinas matam

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Publicado em 11 julho, 2020 12:04 pm


O movimento Sleeping Giants Brasil vêm denunciando as
condutas deliberadamente emburrecedoras de Olavo de
Carvalho, que afirma por exemplo, ‘que as vacinas matam ou
endoidam’ e que ‘o coronavírus não matou ninguém’.

O grupo cobra do PagSeguro e do PayPal uma postura para


que deixem de ter participar dos métodos de financiamento
que envolvem produtos e cursos ligados ao guru da Virgínia.

A economia de ponta cabeça:


Produtores dos EUA pagam para que
empresas comprem o petróleo
Publicado por
 Joaquim de Carvalho
 -
 20 de abril de 2020

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Petroleira americana

A aparente loucura que tomou conta do mercado de petróleo


hoje pode ser resumida em uma frase: chegou a hora da
verdade. Era uma crise que estava sendo adiada desde 2008,
quando o sistema financeiro americano quebrou, mas os
maiores bancos não fecharam porque foram salvos pelo
Estado.

“O governo injetou dinheiro nos bancos, que, por sua vez,


aumentaram o financiamento da produção de petróleo nos
Estados Unidos”, disse o  presidente da Associação dos
Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho, que
acompanhou o movimento nas bolsas de hoje.

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“O coronavírus precipitou uma crise que viria, em um sistema


que tem muito capital fictício e se alimenta de expectativa, de
situações ilusórias”, afirmou.
A crise é muito maior no universo dos produtores dos Estados
Unidos, organizados em torno do WTI  (West Texas
Intermediate) e com negociação na Bolsa de Nova York.

Esses produtores estão basicamente no Golfo Pérsico e no


Estado do Texas.

Hoje, quem tem petróleo comprado está pagando para que os


produtores não entreguem o produto. Isso porque não há
local para estocagem, já que o mundo — e principalmente os
Estados Unidos — estão consumindo muito menos petróleo.

“Hoje estamos vivendo uma situação em que os navios


petroleiros estão parados cheios de petróleo, à espera de que
o consumo volte a aumentar”, comentou Felipe.

Na hipótese de que alguém, a essa altura, quisesse comprar o


petróleo, em vez de pagar, receberia recursos, mas teria que
fazer investimento para estocar o produto, já que o consumo
foi drasticamente reduzido.

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Há quatro meses, o barril de petróleo era negociado a US$


65,9 dólares. Hoje, fechou pela primeira vez na história em
valor negativo: – 37,6.

Na Bolsa de Londres, por outro, que negocia o produto de


petroleiras em geral controladas por estados, a maioria do
Oriente Médio, conhecido como Brent, o tombo foi muito
menor e não chegou ao ponto do produtor, em tese, ter que
remunerar o comprador.
A queda foi de 6,27%, com o barril negociado a 26,32 dólares
o barril. Como o mercado lá fechou antes, é preciso aguardar
até amanhã para saber se não haverá queda mais expressiva.

O fato é que, se mantida a queda recorde no preço do


petróleo, há risco de contaminação do sistema financeiro e,
inclusive, do valor da moeda dos Estados Unidos.

É que bancos alavancaram a produção de petróleo, com juro


barato, mas não negativo. “Há o risco de contaminar o
sistema financeiro e haver quebra de bancos”, disse Felipe.

A situação é inédita e exigirá saídas igualmente fora do


padrão.

A ruína — pelo menos temporária — da indústria do petróleo é


apenas uma face do fracasso da economia ultraliberal, sem
regulação do Estado. É verdade que, em momentos de crise,
como a de 2008, o capital muda seu discurso e se socorre do
dinheiro público.

Desde o início da década de 80, a regra que funciona é: o


lucro é privado, mas o prejuízo é público.

No fundo, se a sociedade não se organizar, quem vai pagar


pelo fim dessa era é o mais pobre.

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