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Alexandria

I. Introdução à Alexandria
A cidade de Alexandre, o Grande

Após conquistar o Egito em 331 a.C., Alexandre, o Grande decidiu construir uma nova
cidade, a qual, como era seu hábito, nomeou em homenagem a si.

Após sua morte, Alexandria rapidamente se tornou a capital do reino ptolomaico e a


cidade mais importante do mundo grego.

[Mosaico, batalha de Issus, detalhe de Alexandre]

Alexandria em uma casca de noz


A cidade foi construída entre o mar Mediterrâneo e o lago Mareotis, o que resultou em
Alexandria se tornar um centro cultural e comercial crucial.

[Alexandria, Jean-Claude Golvin]

Uma rica capital


Edifícios suntuosos podiam ser visto por toda parte: os palácios reais, os vários templos, o
ginásio, jardins públicos luxuriosos e avenidas largas

[Palácio cabo Lochias]

Uma cidade lendária


Com sua beleza incomparável e localização geográfica vantajosa, Alexandria atraia
estrangeiros, intelectuais e comerciantes.

Uma das cidades mais cosmopolitas do mundo antigo, Alexandria superou Atenas como a
cidade grega mais importante da história.

[Mapa de Alexandria]

Obeliscos
Obeliscos egípcios eram muito valorizados por arquitetos romanos. Enquanto os projetos
romanos tendiam ao uso de um único monumento, os obeliscos egípcios geralmente eram
colocados em pares na entrada de templos.

Diversos obeliscos egípcios antigos ainda existem, apesar de espalhados ao redor do


mundo, como em Paris, Roma, Nova York e Londres.

Tudo isso mostra o quanto Alexandria foi significativamente influenciada pelo rico passado
egípcio
[Obelisco, Praça da Concórdia]

A via canópica
Alexandria possuía diversas ruas. Sua avenida mais famosa era a via Canópica.

Era ladeada por construções, casas e templos suntuosos e media cerca de 8 quilômetros
de extensão.

Esta via era uma das entradas de produtos mais importantes de Alexandria e geralmente
recebia procissões e festivais.

[Via Canópica]

Uma avenida especialmente larga


A largura da rua, 30 metros, era anormalmente grande para os padrões gregos.

Isso se deve, provavelmente, à sua construção em pouco tempo e baseado em um projeto


urbano, ao invés de ter sido lentamente construída ao longo do tempo como era comum
no período.

[Via Canópica, Canopo]

A porta Canópica
A via Canópica tinha origem nos cemitérios ocidentais, ladeava o ginásio e saía da cidade
pelo leste por enormes portais em direção a Canopo.

Esta estrutura era conhecida como porta Canópica.

II. Alexandria: planejamento da cidade

Sítio lendário
O plano de Alexandre de criar sua grande cidade começou com um verso da Odisseia de
Homero.

“Há, defronte ao Egito, no mar de muitas ondas, uma ilha de nome Faros”.

Guiado por estas evidências, Alexandre, o Grande, fundou sua futura cidade no final da
porção ocidental do delta do Nilo.

[Mosaico da batalha de Issus, detalhe de Alexandre]

Escolhendo o local
Apesar de Alexandre considerar a área ideal para sua grande cidade, o local apresentou
desafios consideráveis.

Muito difícil de acessar durante tempestades, os pântanos vizinhos prometiam doenças e


o solo calcário evitava o crescimento de safras saudáveis.

Entretanto, devido a influência de seu mentor, Aristóteles, Alexandre, o Grande


reconheceu o verdadeiro valor de sua localização estratégica.

Alexandre sabia que controlando Pelúsio ao leste, Mênfis ao sul e, sua glória régia,
Alexandria a oeste, poderia criar um bastião triangular que permitiria o domínio de todo o
delta enquanto garantiria o acesso ao Mediterrâneo.

[Mapa de satélite do delta do Nilo, 2004, Jacques Descloitres]

As muralhas de Alexandria
As grandes muralhas de Alexandria tiveram um começo modesto. Na falta de fiz para
delinear as fundações da cidade, arquitetos foram forçados a usar farinha.

Revoadas de pássaros migratórios imergiram e comeram a farinha, apagando os planos.


Isso levou Alexandre a buscar conselhos dos oráculos, os quais tranquilizaram-no dizendo
que sua futura cidade estava destinada a alimentar uma grande população.

[Papyrus Marsh, Dinastia XVIII, Metropolitan Museum of Art, NY]

Proporções imensas
Escavações lideradas por Mahmoud bey El-Falaki no século XIX revelaram que o contorno
da muralha media aproximadamente 5,2 quilômetros em comprimento, 2,2 quilômetros
em largura e cerca de 9 metros de altura.

[View of the Obelisk of Thutmosis III Seen from the Walls of Alexandria, século XVIII,
Metropolitan Museum of Art, NY]

Defesa inexpugnável
Estas muralhas antigas formidáveis resitiriam a vários ataques, incluindo a defesa contra o
rei da Síria em 169 a.C.

Em 295 d.C., Alexandria caiu sob o imperador romano Diocleciano após oito meses de
ataques incansáveis.

Plano da cidade
O principal arquiteto de Alexandria, Dinócrates, escolheu um plano hipodâmico para a
construção.
A grade maximizava a funcionalidade com ruas retas e largas com canais subterrâneos.

Alexandre reconheceu o valor militar do projeto da cidade. As largas ruas paralelas


forneciam a melhor vigilância enquanto permitia o fluxo desobstruído de tropas.

[Alexandria Center, Jean-Claude Golvin]

Funcionalidade e beleza
Um corredor central se estendia dos portos mediterrâneos ao lago Mareotis ao sul. Essa
passagem funcionava como um caminho aberto para o comércio e o transporte entre os
dois portos.

Muitas das ruas eram ladeadas por grandes parques e construções, incluindo a via
Canópica com seu portão impressionante margeando o lado leste.

[Overview of Alexandria, Jean-Claude Golvin]

Uma cidade grega


Alexandria foi provavelmente construída sobre uma vila egípcia pré-existente.

Após sua finalização, os egípcios desprezavam e desdenhavam da cidade, recusando-se a


chamá-la pelo nome de seu fundador, chamando-na ra-qed, “o edifício”, posteriorimente
helenizada como “Racótis”.

Apesar disso, o nome “Alexandria” permaneceria.

III. Alexandria: um centro comercial

Um grande centro comercial


Os portos de Alexandria funcionavam como grandes centros comerciais, conectando o
Egito com regiões do Mediterrâneo e além.

Diariamente, uma quantidade tremenda de materiais e produtos fluíam pela cidade. O


grande mercado do porto era chamado Emporion. Era ali que a mercadoria era
comercializada pelos donos dos navios, chamados naukleroi.

[Overview of Alexandria, Jean-Claude Golvin

Centro de trocas
Alimentos e peças de artesanado fluíam do Egito; cerâmica, vidro, aneis de ouro e moedas
cunhadas. Os ceramistas locais, usando técnicas egípcias tradicionais, competiam com os
estrangeiros e a indústria têxtil florescia.
O que o Egito não produzia era adquirido pelo comércio em troca de recursos locais como
o trigo e o papiro. Os produtos mais desejados eram a madeira de pinho da Síria, ferro e
mármore das ilhas gregas, ouro da Espanha e frutas exóticas da Europa.

Toda essa atividade comercial contribuía para a riqueza da cidade, à essa altura já
decadente.

Estaleiros
A madeira importada para o porto Mareotis através dos portos alexandrinos era usada
nos estaleiros próximos, onde a maioria dos navios egípcios era construída.

Empregando dezenas de milhares de construtores de navios, os estaleiros contribuíam


para estabelecer as frotas egípcias como uma das mais poderosas da época.

A madeira não utilizada na construção de navios era disseminada pelo Egito para vários
propósitos.

[Thalamegos (palace catamaran of the Ptolomies), Jean-Claude Golvin]

Porto Mareotis
O porto ao sul, no lago Mareotis, era o maior em Alexandria.

Exceto por um braço ocidental, o tamanho do lago na era ptolomaica era de


aproximadamente 40 a 50 quilômetros, de norte a sul. Suas águas eram mantidas por um
canal contínuo vindo do Nilo.

Além do lago, um canal artificial foi criado para auxiliar na transferência de produtos da
cidade para o porto usando balsas.

[Overview of Alexandria, Jean-Claude Golvin]

Bancos
A atividade bancária foi uma das inovações mais notáveis dos gregos no Egito.

O centro da riqueza de Alexandria estava na sistematização real de taxas sobre quase


tudo. Itens básicos como sal, óleo, cerveja, trigo e linho eram pesadamente taxados.

Como resultado, o tesouro real de Alexandria era capaz de garantir estabilidade


econômica para a maior parte das áreas administrativas do Egito.

[Gold oktadrachm of Ptolemy IV Philopator/ 221-204 a.C./ Metropolitan Museum of Art]


Redução do lago Mareotis
Ao final do século XII, o canal alimentando o lago vindo do Nilo havia assoreado. O lago
Mareotis perdeu sua conexão com o Mediterrâneo, assim como sua água, conforme
evaporava lentamente até atingir uma fração de seu tamanho original.

Em tempos modernos, o lago Mareotis está sendo mantido através da irrigação.


Entretanto, apenas 17% de seu tamanho original permanece.

[Imagem de satélite de Alexandria, 1998]

IV. Os faraós gregos


O faraó divino
Faraós eram considerados encarnações divinas dos deuses. Como uma forma dos deuses
na terra, o papel do faraó era de preservar valores fundamentais e a harmonia universal,
removendo o caos, isfet, e garantindo a prevalência da justiça, maat.

O faraó, por ancestralidade divina e através de muitas oferendas, era o elo que unia o
mundo dos homens e o mundo dos deuses, permitindo a manutenção da ordem cósmica.

[Relief: Ptolemy VIII making na offering of maat to Amun, Louvre]

A dinastia ptolomaica
A dinastia ptolomaica reinou sobre o Egito de 305 a 30 a.C.

A dinastia era chamada de Ptolomeus de Lagides em reconhecimento ao fundador da


dinastia, Ptolomeu Lagos, um general macedônico e amigo íntimo de Alexandre, o Grande.

Por ser macedônio, Ptolomeu Lagos entendia a necessidade de ser aceito pelos egípcios,
assim, adotou algumas de suas tradições. Assumindo o título de faraó, mudou seu nome
para Ptolomeu I Sóter, “Salvador”.

[Row of “dynastic potraits” in the corridor of Pan/ 2010/ Louvre]

Alexandre, o Grande
Nascido em 356 a.C., Alexandre, o Grande teve uma educação ligeira nos assuntos de
Estado antes de integrar o exército macedônio, onde ascendeu rapidamente pelas
patentes.

Após o assassinato de seu pai em 336 a.C., o qual acredita-se ter sido orquestrado pelo
próprio Alexandre, ele tornou-se rei da Macedônia.

Governante de um reino unificado e líder de um grande exército, Alexandre passou à


conquista como objetivo. Ávido para anexar as cidade gregas da Ásia Menor, ele atacou as
forças persas, conquistando vitórias sucessivas.
[Batalha de Issus, detalhe]

Filho de Amon
Alexandre, o Grande, vitorioso, marchou e tomou cidades até chegar ao Egito, onde os
persas foram derrotados novamente.

Visto como libertador pelos egípcios, Alexandre decidiu tornar-se faraó segundo a
tradição. Viajou para Tebas para fazer um sacrifício a Ápis, depois ao oásis de Siuá, onde
foi proclamado filho de Amon.

Oficialmente faraó, Alexandre passou a maior parte do inverno no Egito e fundou a cidade
de Alexandria.

Não coincidente, talvez, tornar-se faraó permitiu-lhe espalhar propaganda para preparar
novas conquistas. Ele terminou suas campanhas militares em 331 a.C.

[Block with cartouche of Alexander the Great or his son Alexander IV of Macedon,
Metropolitan Museum of Art]

Ptolomeu I Sóter
Em seu leito de morte, em 323 a.C., Alexandre doou a satrapia do Egito a Ptolomeu Lagos.

Perfeitamente consciente do valor do Egito, Ptolomeu garantiu tanto a estabilidade das


fronteiras, quanto seu desenvolvimento econômico e militar. Ao mesmo tempo, trabalhou
com a elite egípcia para manter a ordem interna do país.

Em 305 a.C., Ptolomeu, respeitado tanto no Egito quanto no Mediterrâneo, era


comandante da maior frota do mundo helênico.

Ptolomeu tomou o título oficial de faraó em janeiro de 304 a.C., no aniversário de morte
de Alexandre, o Grande.

[Ptolomeu I, British Museum]

A tumba de Alexandre, o Grande


Alexandre morreu na Babilônia em 323 a.C. Primeiramente, seus restos mortais foram
colocados em um sarcófago de ouro, dentro de outro.

O ataúde foi carregado em uma carruagem ornamentada com outro e pedras preciosas e
puxada por sessenta e quatro mulas coroadas de ouro. A procissão funerária foi
encaminhada para um templo grandioso em Alexandria, construído em honra ao
conquistador, sob as ordens de Ptolomeu I
[Alexander’s Tomb/ Jean-Claude Golvin]

O último heroi da antiguidade


Júlio César visitou a tumba de Alexandre durante a captura de Alexandria e,
supostamente, o imperador romano Augusto depositou flores no sepulcro.

Entretanto, apesar de muitos líderes poderosos afirmarem terem-na visitado, a localização


da tumba perdeu-se para a história.

Alguns relatos afirmam que o ataúde de ouro foi substituído por um sarcófago de vidro,
provavelmente por Ptolomeu X. Foi sugerido, também, que Cleópatra tenha saqueado a
tumba em tempos de crise financeira.

[Augustus at the Tomb of Alexandre, século XIX, Hervé Lewandowski.]

V. Alexandria: Cidade de celebração

Entretenimento grego
Como a maioria das cidades gregas, Alexandria oferecia muitas formas de entretenimento.
Grande parte relacionada a cultos, práticas religiosas e festividades ligadas a essas
práticas.

Entre essas festividades, a mais importante eram as celebrações dinásticas instituídas em


honra aos reis e rainhas ptolomaicos divinizados.

Essas celebrações podiam acontecer por dias seguidos e incluíam sacrifícios, oferendas,
procissões e banquetes públicos.

[Wrestlers, ptolomaic era, Louvre]

Jogos e competições
Jogos e competições eram organizados sempre que possível em locais como o estádio, o
hipódromo e o ginásio.

Os residentes de Alexandria tinham preferência por tais eventos, nos quais atletas, poetas
e músicos do Egito e de outras cidades do mundo grego competiam.

[Vase with figures in red/ 5th century a.C./ Louvre]

O Misantropo
No teatro era possível assistir a peças de autores contemporâneos, tanto cômicos quanto
trágicos.
A peça que você está presenciando é O díscolo, mais conhecida como O misantropo, de
Menandro, uma peça tardia e popular entre as comédias gregas.
[Ostrakon with Menander’s “Sentences”, c. 580 – 440 a.C., MET, NY]

VI. Educação em Alexandria

Conhecimento essencial
A educação dos jovens alexandrinos não diferia de outros lugares na Grécia antiga.

Aos sete anos, a criança recebia um tutor, responsável por instilar uma educação
elementar, assim como bons princípios morais.

[Bowl, 5th century, Berlin, Antikensammlung]

E esportes também
O ensino era geralmente dado do lado de fora, ao ar livre. No ginásio, os estudantes
aprendiam esportes, mas também tópicos como retórica, filosofia, música e poesia –
conhecimentos considerados essenciais para a educação de um jovem à época.

[Vase depicting a dance lesson, 5th century, the British Museum]


[Olympia, Greece, Archeological Site]

VII. A Grande Biblioteca de Alexandria

Introdução
Próximo ao distrito dos palácios reais e dentro do Mouseion ficava a biblioteca mais
famosa da antiguidade.

A Biblioteca de Alexandria foi construída para abrigar todo o conhecimento humano.

No seu auge, acredita-se que a biblioteca armazenava mais de 700 mil pergaminhos.

[Alexandria Center (with library) Jean-Claude Golvin

Montando uma coleção


Apesar de grande parte da coleção ter sido comprada com dinheiro público, a biblioteca
também obtinha volumes através de outros meios.

Qualquer livro possuído por viajantes passando pela cidade era capturado para ser
copiado para a biblioteca. A cópia retornaria para o dono e o original entrava na coleção
permanentemente.

Grandes mentes de Alexandria


Alexandria oferecia atrações intelectuais e culturais incomparáveis. Estudiosos eminentes
de Atenas, Rodes e outros centros gregos viajavam para a cidade para aprender e interagir
com outros pensadores livres.

Tanto o Mouseion e a Biblioteca eram centros de ideias inovadoras e expressão artística.

[Plato’s Academy moisaic, 1st century BCE, Museo Nazionale Archeologico, Naples, Italy]

Escolas de pensamento
Geralmente, as grandes mentes da antiguidade eram versadas em muitas disciplinas, as
quais eram associadas a escolas de pensamento específicas. Os peripatéticos, os estóicos
e os cínicos eram as escolas mais conhecidas da época.

Claramente, Alexandria viveu seu papel fundamental como cidade para intelectuais,
alimentando grandes mentes cujos impactos reverberaram pelo nosso mundo moderno.

Hipátia (c. 350/370 – 415 d.C.)


Hipátia de Alexandria foi uma matemática, filósofa, astrônoma e inventora grega.

Nascida na Grécia, eventualmente migrou para Alexandria, como muitas das grandes
mentes da época. Foi ali que se tornou chefe da Escola Neoplatônica de Alexandria.

Por grande parte da documentação, ela era grandemente respeitada por seus colegas
alexandrinos, tanto quanto professora quanto filósofa.

Com sua morte, a era de grandes descobertas científicas antigas terminou.

[Draped woman, statuette found in Alexandria, 3rd century, Louvre]

Calímaco (c.310 – 240 a.C.)


Calímaco nasceu em Cirene e foi educado em Atenas. Após seus estudos, mudou-se para
Alexandria para trabalhar na Grande Biblioteca.

Um poeta e crítico, rejeitava fortemente o formato épico dos poemas homéricos e


defendia ardentemente um estilo de poesia mais curto e judicioso.

Seus epigramas e poemas elegíacos foram emulados por poetas posteriores. Seu trabalho
era extremamente popular, perdendo apenas para as obras de Homero.

[marble statue of a draped seated man (possibly Kallimachos), 1st century BCE, MET]

Euclídes (c. século IV – século III a.C.)


Foi em Alexandria que o matemático Euclides, pai da geometria, escreveu Os Elementos,
elaborando a obra fundacional que se tornariam a álgebra moderna e a teoria dos
números.

A geometria euclidiana se tornaria um dos sistemas mais influentes na evolução da


matemática.

[Euclid, founder of geometry, 300 a.C., 18th century, Muséum national d’Histoire naturelle]

Eratóstenes (c. 276 – 195 a.C.)


Como calcular a circunferência da Terra? Com um camelo, duas varas e sobram projetadas
pelo sol.

Foi isso que Eratóstenes de Cirene descreveu em sua obra principal, Geografia, enquanto
era diretor da Grande Biblioteca de Alexandria.

Credita-se a ele a invenção da esfera armilar, por volta de 250 a.C.

[Map of the World by Eratosthenes of Cyrene, circa 240 BCE, 1803, Belin]

Meteoroskopion
A esfera armilar mais antiga e mais completa era o meteroskopion de Alexandria,
composto de nove anéis, comparado aos três ou quatro anéis da maioria dos outros
astrolábios.

O meteoroskopion era usado para determinar a localização de corpos celestes ao redor da


Terra.

Qualquer astrônomo respeitável da antiguidade teria usado essa ferramenta para


entender melhor os movimentos celestes.

[Armillary sphere made by Jean-Baptiste Delure & Jean Pigeon, Versailles]

Pitágoras (c. 570 – 494 a.C.)


Pitágoras de Samos foi um filósofo e matemático conhecido e respeitado. É mais
conhecido pelo teorema de Pitágoras.

Entretanto, há evidências de que o teorema existia na Babilônia e Índia muito antes do


nascimento de Pitágoras, lançando algumas dúvidas quem exatamente originou o
teorema.

[The philosopher Pythagoras, shown teaching, 1463, BnF]

VIII. O Mouseion de Alexandria


O Mouseion
O Mouseion era um setor da cidade comissionado por Ptolomeu I para rivalizar com a
Academia de Platão como um instituto de busca intelectual.

Dedicado às nove Musas inspiradoras, o Mouseion se tornou um grande centro de


iluminação filosófica e científica. Recebia estudiosos de vários reinos, convidando-os para
compartilhar conhecimentos em literatura, ciência e geografia.

[Sarcophagus of the Muses, circa 150, Louvre]

Universidade da Antiguidade
O Mouseion foi projetado para que seus edifícios e terrenos pudessem acomodar o
pensamento livre, debate e apresentações.

Espaços de congressos e teatros rodeavam o pátio principal.

Jardins extensos eram repletos de plantas exóticas que auxiliavam o estudo e o


suprimento de ervas e remédios. Um zoológico oferecia o estudo do comportamento
animal e sua fisiologia.

Entre as principais atrações do Mouseion estava o observatório astronômico.


[Alexandria Center, Jean-Claude Golvin]

Herófilo
Herófilo foi um médico que viveu grande parte de sua vida em Alexandria. Ele era capaz
de realizar dissecações de cadáveres humanos em larga escala devido a permissividade da
cidade nestes assuntos.

Entre outras descobertas, percebeu que o cérebro é central para o sistema nervoso
humano. Também mapeou extensivamente o sistema circulatório e mediu o pulso com a
ajuda de uma clepsidra, um relógio de água.

Foi relatado que, em sua ânsia em entender a anatomia humana, ele realizou vivissecções
em 600 prisioneiros vivos.

[Water clock (Clepsydra), c. 320 a.C., British Museum]

Ancestral do museu moderno


Para dedicarem-se à pesquisa, os estudiosos eram alimentados e hospedados no
Mouseion às custas do governo.

Essa liberdade forneceu aos acadêmicos alexandrinos um espaço de encontro para a


busca intelectual e um paraíso para a paz espiritual.
Apesar de nada restar do Mouseion original, permaneceu vivo no legado dos nossos
museus modernos.
[Market gate at Miletus, Agyptisches Museum und Papyrusammlung]

IX. O Serapeu de Alexandria

O Serapeu
Em uma cidade de numerosas atrações magníficas, o Serapeu era considerado o templo
mais belo de Alexandria.

Localizado a sudeste da cidade em uma pequena colina chamada de acrópole, o santuário


foi construído durante o reinado de Ptolomeu III, sobre as fundações existentes desde o
reinado de Ptolomeu I Sóter..

[Lageion e Serapeum, Jean-Claude Golvin]

Um rico complexo
Visitantes do Serapeu subiam cem degraus para chegar ao pátio.

Bibliotecas estavam instaladas nos pórticos ao redor do edifício quadrangular, seu telhado
e colunas adornadas com ouro e bronze dourado. Faraós eram generosos ao templo,
assim como vários imperadores romanos após a conquista do Egito.

Um templo interior abrigava a estátua de Serápis, dedicada à cura dos doentes.


[Foundation plaque from the Serapeum in Alexandria, Graeco-Roman Museum,
Alexandria]

A criação de Serápis
Desde a XXVI Dinastia, os gregos no Egito gradualmente integraram o culto a Ápis a seus
próprios rituais.

Com o estabelecimento da dinastia ptolomaica, o culto de Ápis foi aprofundado dentro da


religião grega.

Durante seu reinado, Ptolomeu I escolheu combinar deuses egípcios e helênicos em uma
divindade sincrética chamada Serápis. O nome era resultado da amálgama entre os nomes
de Osíris e Ápis.

Com essa nova divindade, a dinastia ptolomaica conseguiu acomodar sistemas de crenças
semelhantes para duas culturas, criando um novo culto dinástico.

[Serapis bust with kalathos from Alexandria, from the Serapeum, Graeco-Roman Musem,
Alexandria]
Um santuário
Serápis era associado a outras divindades, incluindo Asclépio, deus grego da cura.

É possível que, assim como no templo de Serápis em Canopo, os doentes visitassem este
santuário, pernoitando ali na esperança de serem curados dentro de seus salões sagrados.

[Pendant with a scene with Serapis, Isis, a snake and Harpocrates, Louvre]

X. O Paneion

Em honra a Pã
O Paneion era um templo construído em homenagem ao deus Pã, divindade da natureza.

Este deus grego, geralmente representado como semi-humano, semi-cabra com uma
barba, chifre e cascos, era considerado protetor dos pastores e dos rebanhos.

[Pan, seated, Louvre]

O deus de cascos fendidos


O atributo de Pã era seu instrumento musical homônimo: a flauta de Pã. Seus templos
eram geralmente localizados em cavernas ou montanhas altas e frequentados por
pastores.

É possível que cultos mediterrâneos tenham adotado a imagem de Pã para simbolizar o


demônio cristão.

[Plaque: Temptation of Christ, 15th century, Musée de Cluny]

Um colina artificial
Para honrar propriamente o deus, os alexandrinos construíram uma colina artificial sobre
a qual edificaram seu templo, para compensar o relevo plano da cidade.

O monte artificial tinha uma forma espiralada ou de pinha, o qual era acessado por uma
escada em espiral. O topo fornecia uma visão panorâmica de toda a cidade.

Somente tais alturas eram adequadas a um deus da montanha.

XI. O Hipódromo de Alexandria

O Lageion
O hipódromo principal da cidade era chamado Lageion, em homenagem a Lagos, o
ancestral dos Ptolomeus.
Alexandrinos eram grandes amantes das corridas de cavalos. Eram fascinados pela
rivalidade destas corridas, personificada na forma do Agon.

Era uma batalha pela glória.


[Lageion Serapeum, Jean-Claude Golvin]

O tethrippon
A mais importante das corridas de bigas era o tethrippon. Usando quatro cavalos, com
com arreios mais ágeis na frente, o piloto corria por doze voltas, com curvas fechadas em
cada ponta do hipódromo.

Os vitoriosos eram coroados com guirlandas de oliveira e recebiam prêmios em dinheiro,


mas a recompensa mais almejada era ser aclamado por obras poéticas como as de
Calímaco e Píndaro.

[Relief known as a campana; circus scenes, quadriga race, Roman Empire, Louvre]

Drama e glória
Hinos soberanos da lira,
que deus, que heroi, que homem celebraremos?
Na verdade, Pisa é de Zeus; os Jogos Olímpicos
instituiu-os Héracles
como primícias da guerra.
Mas Terão, graças a sua vitória na quadriga,
deve ser celebrado, ele que é o observador justo dos hóspedes
o baluarte de Agrigento,
o melhor condutor da cidade de ilustres ancestrais
os quais, tendo suportado muitas dores em seu coração,
obtiveram uma sagrada morada à beira do rio, e foram
o olho da Sicília; e o tempo seguia marcado pelo destino,
concedendo riqueza e glória
às virtudes inatas.
(Píndaro, II Odes Olímpicas)

[The winner of a chariot race, British Museum]

XII. As ilhas de Faros

O Heptastadion
O Heptastadion era uma ponte conectando a ilha de Faros à Alexandria continental.

Seu nome é baseado nos termos gregos de medida: hepta significa “sete” e stadion, uma
medida de comprimento que correspondia a aproximadamente 180 metros.
[Alexandria, detail of Pharos, Jean-Claude Golvin]

Separação de portos
Como sua construção separaria o Grande Porto a leste e o Porto de Eunostos à oeste, foi
projetado com canais em cada extremidade.

Essas aberturas permitiam a passagem de um porto a outro.

[Canopic way, detail of heptastadium, Jean-Claude Golvin]

Protetor e aqueduto
Além de criar portos separados para uso comercial e militar, a ponte servia como o
principal aqueduto para os habitantes da ilha.

Sua presença ajudou a proteger a ilha e seus portos de ventos turbulentos e correntes
marítimas.

Ao final da antiguidade, o Heptastadium desapareceu sob camadas de lodo e solo, sobre o


qual se formou um depósito sedimentar importante.

[Map of Alexandria, 1575, MET]

Templos gregos
Apesar do Serapeu ser o templo mais celebrado de Alexandria, muitos outros templos
foram construídos na cidade.

Grande parte dessas estruturas foram apagadas pelo tempo e não há maneira de discernir
quantas existiam.

Entretanto, pesquisas em papiros antigos oferecem algumas pistas para possíveis


localizações de alguns dos templos.

[Alexandria and its environs. View of the obelisk known as the Needle of Cleópatra & The
Tower of the Romans, 19th century, Saint-Dinis.]

XIII. Cleópatra, rainha do Egito

Introdução
Cleópatra VII Tea Filopator ascendeu ao trono em 51 a.C., aos 18 anos. Apesar dos
desafios à manutenção do poder, eventualmente prevaleceu e tornou-se a única
governante do Egito.

De acordo com Plutarco, ela foi a única faraó ptolomaica a falar a língua egípcia. Sua
inteligência, excelente educação e grande mente política permitiram-na fazer as alianças
necessárias para manter a independência do Egito enquanto Roma tornava-se um império
mediterrânico.

[Head of Cleópatra VII (69-30 BCE)/ 1st century BCE/ Antikensammiung (SMPK), Berlim,
Alemanha]

Protetora das duas terras

É importante entender que o conhecimento de Cleópatra da língua egípcia e a


compreensão aguçada da cultura permitiram-na criar referências ideológicas poderosas
que ecoavam entre os antigos egípcios.

Associando-se com a deusa Iset, a mãe divina, poderosa em magia e repositório de


essência divina, Cleópatra estabeleceu-se firmemente como Protetora das Duas Terras e
legitimizou seu lugar no trono.

[Cleópatra VII/ Graeco-Roman Era/ Louvre]

Co-reinado com Ptolomeu XIII e exílio

Quando da sua morte em 51 a.C., Ptolomeu XII Auleta legou seu reino a sua filha e filho
mais velho: Cleópatra VII e Ptolomeu XIII.

Como era o costume, os irmãos foram casados. O novo faraó tinha 10 anos e sua irmã-
esposa, 17 anos.

Os anos iniciais de seu reinado não foram fáceis. Entre 50 e 48 a.C., secas e enchentes
agravaram os problemas egípcios. O general Áquila e o conselheiro real, Potino,
intervinham frequentemente nas decisões políticas dos jovens governantes e
eventualmente tramaram para tornar Ptolomeu XIII contrário a Cleópatra.

Em 48 a.C., Cleópatra estava no exílio.

[Tetradrachm of Ptolomy XIII/ Ptolomaic Era/ National Museum of Antiquities, Leiden]

O destino de Pompeu

Durante o exílio de Cleópatra, Roma passava por conflitos internos. César e Pompeu
estavam em guerra civil e, após sua derrota em 48 a.C., Pompeu fugiu para Alexandria na
esperança de encontrar refúgio.

Essa foi uma decisão imprudente. Ouvindo seus conselheiros, Ptolomeu XIII decidiu pelo
assassinato de Pompeu, mantendo sua cabeça como um presente no desejo de conseguir
o apoio de César.
Essa manobra falhou. Ao invés de receber sua aprovação, o assassinato de um romano
enfureceu César.

[Pompey/ Roman Empire Era/ Louvre]

O ardil de Cleópatra

Cleópatra, ciente da fúria de César contra Ptolomeu pela morte de Pompeu, decidiu tirar
vantagem da situação.

Ela retornou ao Egito em segredo, esperando estabelecer uma aliança com um dos
homens mais poderosos de sua época.

O que aconteceu exatamente nessa reunião permanece um mistério, apesar das lendas
nas quais ela conseguiu se contrabandear para seus aposentos enrolada em um tapete.
Entretanto, parece que César viu em Cleópatra uma governante melhor do que em seu
irmão jovem e influenciável.

Invocando o testamento de Ptolomeu XII, César tentou mediar uma paz entre os dois
irmãos.

Reivindicação do trono

Ptolomeu XIII irritou-se pela mudança dos acontecimentos e seus conselheiros não
estavam satisfeito pelo retorno de Cleópatra. Incentivado por Áquila e Potino, o jovem
faraó conspirou contra Cleópatra e César, resultando no cerco de Alexandria em 47 a.C.

Em março de 47 a.C., César derrotou as forças de Ptolomeu XIII. O jovem faraó afogou-se
no Nilo após a fuga do campo de batalha.

Com seus inimigos mortos ou impotentes, Cleópatra casou-se com seus outro irmão mais
novo, Ptolomeu XIV e reivindicou o trono egípcio permanentement.

[Coin, ruler, Cleópatra the Great/ Reign of Cleópatra/ British Museum]

Cleópatra em Roma

Em junho de 47 a.C., Cleópatra deu a luz a um filho, Cesárion. César não aceitou o garoto
como herdeiro, escolhendo seu sobrinho, Otaviano, ao invés.

Apesar disso, em seu retorno a Roma, César convidou a rainha e seu irmão-marido para se
hospedar na cidade. Sua presença gerou muita desaprovação pelo senado.
Estrategicamente, César deixou quatro legiões no Egito e um homem de confiança para
gerir os negócios egípcios, dando-lhe controle dos suprimentos de trigo essenciais a Roma.

Cleópatra e seu séquito permaneceram em Roma até março de 44 a.C., quando César foi
assassinado.

[Denderah, Tentyris, Templo of Athor, Cleópatra and Caesarion/ circa 1851/ Musée
d’Orsay]

Cleópatra e Antônio

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