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a arquitetura
Seus elementos,
história e significado
Leland M. Roth
CAPÍTULOll
Arquitetura grega
O arquiteto grego [... ]lidava tanto co1n formas naturais como com formas
construídas. Com elas, celebrava seus t rês temas imortais: a santidade da
terra, a estatura t rágica da vida morta l sobre a terra, e a natureza plena do
reconhecimento dos fatos da existência que são os deuses.
Vincent Scully, Tire Eartlr, t!Je Temp/e, and t!Je Gods, 1962
A geografia da Gr écia
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Asia Menor
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O caráter grego
A pólis grega
A mais importante contribuição política da civilização grega foi
a invenção da democracia em Atenas, difundida com fervor
particular por atenienses nas ddades sobre as quais tinham
influência. Como ocorre com outras palavras gregas, não temos
um equivalente apropriado para pólú, afora traduzir como
"cidade-estado", que diz, ao mesmo tempo, muito e não o
suficiente. A pólis era uma comunidade de famílias
relacionadas por ancestrais comuns; uma pessoa não se mudava
para ou passava a fazer parte de uma cidade - a pessoa nascia
como membro dela. Aqueles que viajavam e viviam em cidades
diferentes daquelas onde haviam nascido eram considerados
estrangeiros residentes; apenas em raras ocasiões se tornavam
cidadãos plenos, com o direito e a responsabilidade de
participar no governo. A pólis abarcava as fazendas de seu
entorno, pois os gregos preferiam viver na cidade e andar para
suas fazendas em vez de viverem isolados no campo. Como
H.D.F. Kitto sintetizou, a p6lis abrangia "toda a vida
comunitária, política, cultural, moral e econômica das
pessoas".~
Dizer que a pólis era uma cidade sugere um tamanho grande
demais, pois os gregos sentiam que uma pessoa deveria ser
capaz de cruzar toda a extensão da pólis a pé em dois dias. Em
sua República, Platão descreve a pólis ideal como tendo 5 mil
cidadãos, e Aristóteles escreveu na Politica que uma pessoa
deveria ser capaz de conhecer d-e vista todos os cidadãos da sua
pólis. A maior parte delas tinha aproximadamente esse
tamanho, embora Atenas, Siracusa e Acragas tivessem
populações de mais de 20 mil. Em 430 a.C., a população total da
região da Ática, incluindo Atenas, era de cerca de 330 mil, da
qual cerca de 15 mil eram residentes estrangeiros e cerca de
115 mil eram escravos em se:rvtço doméstico. Dos 200 mil
restantes, aproximadamente 3 5 mil eram cidadãos masculinos
com mais de dezoito anos, os outros sendo mulheres e crianças.
Em certos lugares, durante épocas de transtornos sociais,
um único indivíduo podia impor comando autocrático sobre a
pólis, resultando numa tirania; em outros lugares, algumas
famílias aristocráticas exerciam o governo em uma oligarquia.
Em Atenas, originalmente, havia uma oligarquia de are/tons
aristocráticos, mas, após uma série de reformas durante os
séculos VI e v a.C., a governança da cidade mudou para
democracia, o governo de todos os cidadãos masculinos. Toda a
comunidade de cidadãos, não apenas seus representantes,
reunia-se mensalmente em uma assembleia a céu aberto em
uma colina chamada Pnyx. Ali, tudo o que tinha a ver com o
bem-estar de Atenas era discutido e votado, e mesmo os
generais e almirantes que lutavam em nome da pólis eram
eleitos para seus cargos. Nisso o clima benigno da Grécia
ajudava significativamente, pois os gregos tinham meios
limitados para cobrir um volume capaz de abrigar diversos
milhares de pessoas. Embora comitês menores fossem
escolhidos por sorteio para lidar com as questões cotidianas, a
liderança política geral era dada aos que fossem mais
persuasivos e inspirassem respeito. De 461 a.C. a 429 a C., esse
líder, em Atenas, foi Péricles; que foi eleito general por quinze
anos seguidos, trinta vezes no total. Foi ele quem levou a pólis a
erguer os principais edifícios da Acrópole ateniense.
Planejamento urbano
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11.8. Planta dePriene, Ásia .Menor, c. 450 a.C. Pnime, constru/da em címa do
monte Jl1ic:ale, mostra como uma planta .ortogonalpodia ser adaptada ao terreno
de uma colina.
Arquitetura doméstica
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11. 10. Casa~ Prienc~ Ásia~fenor, c. 450 a.C. Er!l cidades planejadas cotno J>riene~
as casas particulares tli1.ham plantas mais regulares. Ao sul do pátio central
aberto ficava a êxedra (e) e, ao norte,jicava a sala pública, c ol'kos (o).
Edifícios públicos
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11.1ó.liixm (orquiteto) , temp!o.d eZeus, 0 /irnpia, Crida, r. 469·46 0 a.C. P/anttibatXa. O umplode2eus
incorpora os demenco~· bd.sicos du temp/(I,.J?rt',ftl d() pe-rli.Jdo dtü~·tCo, c·o1n Nis colutu~:r dóriCas ltaf rente e
110.,/'úndoe lre!.te na...· laterais. Atrd.:.· daJ c.~o/ur;as;iálO naos, abrlg ttndoaintt{fe!n de Zeus.
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O atual Propileu substituiu um portão menor e mais antigo que era voltado
para sudoeste; destruído pelo incêndio causado pelos persas em 480 a.C., foi
substituído por uma entrada maior e 3nais cerimonial de mármore em 4 37 -
432 a.C., projetada pelo arquiteto Mnesiclas [1 1.19]. Além do portão em si, o
edifício incluía duas câmaras para peregrinos, uma de cada lado. Do lado
esquerdo· da entrada, ficava uma galeria para descans.o dacorada com
pinturas (daí o nome pínakotheke, "pi11acoteca", ou "galeria de pinturas"); a
galeria menor e inacabada do lado direito pode ter sido planejada como uma
g/yptoth ek ("galeria de escultur.as"), mas, apesar de sua forma inacabada, a
frente foi construída de tal maneira qtte a sensação de equilíbrio é preservada
quando se sobe em direçao ao Propileu. Ao reconstruí-lo, em 4 37 a.C.,
Mnesicles realinhou o edifício, deixando-o quase paralelo ao maior templo do
platô, o Partenon, voltado assim para a. baía de Sala mina. Então, ao virar para
t rás e olhar através do pórtico, o peregrino via, emoldurado por suas colunas,
o local onde os persas foram repelidos.
11.19. M!Jesidtt.s. Propiieu. Atenas. 4..1?-4:12 n.C. Aptb· passarpeloba!tiríode.fensi vo, o vh·itanteeiJUtWO
IIOCon;imtu :;t{f!l'ddo daAcrdpoleturavéS do Propileu.
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1/. 211~ /ctinorCalkrnus~ Parli'non. Atenas. 4474~9 a.C. P!anta /xJb:a. .l!:i!etrmp!opossui doisnaos, u111
para u tesourô c outroparrl ttbr/ga.r.a il!u{fel!l de ouro tr 111arjii11 de Atelw.Parrenos, deu~,·n d(lsuerra. A
planta /Jnixu e tJ ratão tias colunas rim aproporplu x: 2 x "'1.
11.24. Partenon. Vista dafaâUida oeste a partir doptifi(l inferior; recon:m·ali;ãu daGorham Pki!iip:.·
Stevé'tJ.:.'.
O que tomou o Partemon especial desde a época de sua criação foi a
p recisão de sua constru~ão assim como as SJ.Itilezas e refinamentos do p rojeto
[1L2 5]. Desprezando o uso de argamassa, os construtores empregaram uma
técnica de alven aria seca chamada an athyrosis. Os blocos de mármore eram
cortados perfeitamente quadrados, e a.s superfícies, deixadas absolutamente
lisas. Para as ju n ções verticais, as super fícies internas eram cortadas de modo
que apenas as bordas dos blocos encostassem umas nas outr as •. de maneira
p recisa. Nessa região p ropensa a terre-motos, os blocos eram p resos entre si
com grampos de ferros s~lados em. chumbo fundido par a p roteger da
oxidação. Como uma materialização do logos, todo o p rojeto foi determinado
por um sistema de p roporções de x para (2x + 1) ou 4 para 9. Assim , se havia
oito colunas na frente de cada fachad.a, usando os tambores já cortados, as
laterais teriam que ter dezessete colul'!las (2 x 8 + 1 ). Tanto as proporções do
pódio quanto do naos são de 4 para 9, ou 1 para 2,25. A mesma relação de
p roporções foi usada na razão ent:re a altura da ordem (incluindo o
entablamento) e a largura das fachadas e na razão· entre o d iâmetro das
colunas e o espaçamento entre elas, de eixo a eixo.
Arquitetura helenística
A estimada independãncia das cidades-estado gregas, amea.çada pela
confederação de Péricles, foi completamente extinta quando as muitas pólis
gregas foram fundidas em um verdadeiro Império por Felipe u da Ma cedônia e
seu filho, Alexandre, o Grande, entre 36-0 a.C. e 323 a.C. A paz relativa que essa
sujeição política t rouxe acabou por fomentar o florescimento da filosofia e da
ciência gregas, pois foi durante esse período que Aristóteles, Zênon e Epicuro
escreveram. e ensinaram, que Arquimedes e Euclides desenvolveram seus
teoremas e que escultores como Praxite.les e Lísipo t rabalharam.
Alexandre, aluno de Aristóteles, era wn apaixonado pela cultura grega e
exportou sua arte e pensamento para ·todas as terras que subsequentemente
conquistou, incluindo a Pérsia., o Egito. a Síria, a Palestina, a Babilônia, o Irã e
o Norte da Índia. Ele também expandiu o comércio internacional e a troca de
ideias. As artes visuai s, não'mais refreadas pelo austero ideal gregc· clássico,
tomaram-se mais elaboradas e ornamentais, e essas arte e arquitetura mais
adornadas hoje são chatnadas de helenísticas. O natura.lista romano Plínio
chegou a dizer que depois de Lísipo a "arte parou".
A arquitetura hele1ústica passou por algumas mudanças. As elegantes
ordens jônica e coríntia ficavam cada vez mais elaboradas, enquanto a ordem
dórica, a mais simples e austera do continente grego, caiu gradat ivamente em
desfavor, para ser redescoberta somente em meados do séculoc XVlll. A nova
elaboração espacial e dimensional do templo grego é bem ilustrada pelo novo
templo de Apolo em Dídima, perto de Mileto, na Ásia Menor, iniciado por volta
de 330 a.C. e atribuído aos arquitetos Paionios de Éfeso e Dáfnis de Mileto
[1 L2 7 , 11.28]. Uin dos maiores tempbs gregos jamais construídos. elevava-
se sobre um estereóbata de sete degraus imensos, medindo quase sessenta por
120 metr:Js na base. A estrutura do nacsera cercada por uma dupla fileira das
mais altas e finas colunas jô1úcas de qualquer templo grego, com 19 ,7 metros
de altura. Essa colw1ata períptera dupla t inha dez colunas na frente e no
fundo e 2 1 nas laterais. O naos, de 2 3 metros de largura, não era cobHto, mas
a céu aberto; as pilastras jônicas ao longo das paredes internas mediam 1,8
metro por noventa centímetros. O visitante, sem dúvida dominado pelo
tamanho descem una! do vasto edifíciq,.de~cia para o "pátio" do nao.< por uma
escadaria de quinze metros de largura. Dentro do naos aberto, por ~ntre um
bosque de loureiros, ficava um santuálio jô1úco do taman ho dos templos
jônicos do período clássico (cerca de 8 ,5 por 14,5 metros). Todas as partes do
templo típico do período de Péri eles foram aumentadas em escala e alongadas
e se tornaram mais elaboradas e adornadas. A sobriedade deliberada do
período clássico estava cedendo lugar à celebração das riquezas m undanas, e o
equilíbrio ent re virtude cívica e exibição pública caracterizado pela Atenas de
Péricles foi substituído por wn gosto pelo detalhe sw1tuoso.
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Uma arquitetura de excelência
A arquitetura grega, talvez mais bem repr~sentada pelo templo, é a
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extremos. Em termos arquitetônicos, isso se mostra no equilíbrio entre os
elementos verticais de suporte (as colunas) e seus elem entos horizonta:,s
carregados (as vigas do entablamento), ent re ação e repouso. Cada bloco ou
t~mbor de ·c oluna, cada peça de baixo relevo narrativo, era executado à
perfeição, com os melhores materiais disponíveis, não como uma exibição C.e
riqueza, mas porque era corret o honrar os deuses e a pólis dessa maneira. O
objetivo sempre foi a excelência da forma, do detalhe, do t rabalho artesanal
porque - como os· gregos acreditavam - essa é a única maneira de um ser
humano alcançar o seu potencial pleno. A arquitetura do templo grego
r~presenta uma síntese ú nica da essência e da substância, da forma ideal e da
estr utura be1n articulada. Os gregos se preocupava1n pouco com a
i:nortalidade em um plano espiritual, mas buscavam assegurar sua
i:nortalidade na memória humana, por meio de sua excelência intelectual e
artíst ica. O Partenon é a prova de que tiveram suGesso em se tornarem
eternos.
NOTAS
1. Citado em Ft:az(:r, j.G. Pau,s Mias' Descriptitm ofGrttece. Londrcs, 1 897, xliii, n. 1.
1 . Platão. Cpinomis.. 9S7d. Londres, 1927, p. 4 ?3.
1 . Platão. Critias, § 111. Edição em tngti:s: Kitto, H.O.f . TluGreeks; ed. rev. Baltimore, 1957, p. ~4 .
i . BakcwcU, C.M.SourceOookinA!ldi!wrPitilosoplt)'. NovaYork, 1939, pp. 8·9.
2. Sophokles. Antigtme. Baltimore, MD_. 194 7, p . 115. (S:dlção em português: Sófodes. Ant(fO!Ia.
Sio Paulo, Clãssicosjackson XXU).
§:. Essa relação elementar foi percebida pela primeira V €'2 por Vincent Scully; ver Tke liârth.- fi~e
remple, and the Gods. New Haven, Conn., 1962; ê um conceito ainda considerado extr.cmamen:e
C·:mtroverso por estudiosos clássicos.
1. [mbora osateniense.s tivessem diversos noo'!es para Ate na, eles realizavam rituais para Ate na
Polias apcna.s no antigo templo ao norte da Acrópole (depois substim{do p-elo Erccteton): o templo ao
suL. maior,-o Partenon, parece ter sido construido para incorporar ideais c.lvlcos. Ver Herington, C.J.
Ar.ltetJtl Parilumos and Atltena Poiias: A Study in tlte keligion of Peridean Athnu. Manchcstcr,
Inglaterra, t95S.
-ª· Kltto. TheGreekl·, p. 7 5. (Edição em pormgu~s: Oj'pegos. Coimbra, Armenio Amado, 1980}.
2,. A ma.r atona oümpka rnoderna honra essa famosa batalha e o soldado grego, Fidipides, qtte
C•Jrreu os ~6. 2 quilômetros de Maratona até Atenas·corn as notídasda vitória, quandocaiu morto.
1 O. Aristôtetes. Politiá; it. 8·. Oxtbrd,lngla[crra, 190S, p. 76. (Edição em português: A Polltica, São
Ptulo. Martins Fontes, 1991).
l l.Scully, Vinccot.Theratdt, !h~ Ttmple. and úteGod:;, p. 206
l l. O signitkado dasordeosclãss.icas, ao mcr\os nos tempos romanos. c de suasinúmcraspártes,
C tratadp em Hcrs-cy, George. tha lost Meaning o-fClas:ilàtl Arcititet:ufe: Specul(llioru on Ontamtru
from Vttrtlvllls to Ve/Jtun. c.:ambndge, t\\A, 1988. SOb(e a ordem c-onc.na em parncutar ver Rykwert,
}oseph. "The Corinthian Order". l>omus, 4 26, maio de 1965, reimpres;o na antotogi-ade Ryk\:vcrt. Tlta
Necessif)l o.fArtij'ice. Nova York. 1982, pp. 3 3--it 3. Sobre uma interpretação moderna das proporções
das ordcrts, gregas c r-omanas, ver Chitham, Robcrt. Tite C!a:;~·icnl Olders o/ArchiteCGite. iNova York,
1985.
J.1. A grande it'onia é q1,1c ~dominação que os persas não conseguiram obter pela força, Atenas
obteve fadlmemc s-obre a pequena pótis de Egina por meio da liga de Dclos. Mais tarde esse
"lrnpértoj) fOi a ra-zão da destrwção de Atenas, causando a tanga e dc~astrosa Guerra do Peloponeso,
435-404 a.C.
1!. O gado levado para o al:uda Acrópole para sacrifi.cionos-ternbra que não estamos tão perto
dos gregos como às vezes gostamos de imaginar. Em A Hil'tury o/ We.uern Ardtitettuu {Londres,
1 9S6), p. 38, D:wid W:ldr.in nos f~z lembr:u- "o fedor,~ csqu:ilide:z c c b~rulho de um:~. oc~tHo com o
essa, quando asmoscasinvadiam o sangue coagulam-c no c ator sufocante·'.
ll_. Embora muito esteja faltando hoje da Acrópole, assim como de Oümpta c de todos os outros
sltiosarqucológicosgregos, [Cmos um tcgisttodetálhadodo que havü na Acrópole c nos outros locais
no diário de viagem do geógrafo grego PausâniasJ que deu uma volta pela Gréda no sécul-o u d.C.;
CUide toGreeC'c. 2 vols. Harmor.dsworth c Nova Y.ork, 197 1. Ver também a descrição da Panaceneia
em Kostof, S.A HistotyufArchiletture. Nova York, 1985,pp. 149-158.
l§.. Vh:ruvius. Tdn Books 011 Ardtiteaure, ffi.4.5. e Ul.l .11 a 11 . VitrUvio indica um tratado de
Jctino c Cárpion (queria dizetCalicratcs?)que diz ter con-s uttadó.
11. Polli[t,J.j .Anand Exper:tmc-einCiaú·ica/Greece. Nova Y.ork, 191·2, p. 76.
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19 54. (Edição em português· Arquilea,rapejatruma)m. São Paulo,Ma(tins fontes, 2014 }.
CAPÍTUL012
Arquitetura romana
Em contraposição à arqu itetura grega, que pode ser descrita como m assas
escult.óricas dispostas e:m contraste:! equilibrado à paisagem, a arqtútetura
romana, como Heinz. Ka'hler observou, é uma arquitetura de espaços, espaço
interno fechado e espaço aberto público, tudo em gra:nde escala. Os egípcios e
os gregos c1iaram edi fícios poderosamente evocativos, mas raramente feitos
para conter grandes grupos de pessoas; a vida pública era conduzida do lado
de fora, em meio a esses objetos arquitetônicos esculpidos, e os interiores
fechados eram o domínio de uma elite especial. Apenas na arquitetura
helenística os espaços públicos começaram a ganhar forma de uma maneira
consciente e deliberada, e essa configuração do espaço foi a essência da
arquitetura romana. Não existe melhor C:!Xemplo da supremacia do espaço do
que o vasto interior do Panteon em Roma, com sua cúpula de concreto sobre
um vão livre de 43,4 metros.
Uma das razões pelas quais os romanos davam grande importância à
arquitetura pública, tanto dos espaços fechados como dos abertos, era porque,
desde o início, a civilização romana teve a cida.de como seu elem ento
constituinte básico. De fato, os romanos marcaram o início de sua h istória
não com uma batalha decisiva ou o reinado de um determinado rei, mas com
a fundação da cidade de Roma por Rômulo e Remo em 7 53 a.C. Registros
oficiais dataram a fundação, no Mon te Capitolino, do principal templo a
Júpiter - Jupiter Optimus Maximus (o Mais Supremo Júpiter), a principal
deidade da religião estatal - em 1 3 de setembro de 509 a.C., um ano após a
instituição da República. Por quase cinco séculos, os romanos orgulharam-se
do fato de sereinlivrés e de se àutogoverliarém, é, mesmo durante o Império
que se seguiu, os imperadores que governaram com mais sucesso foram
aqueles que mantiveram a aparência da estimada velha república,
mostrando-se como meros agentes do Senado. Os romanos eram, antes de
tudo, "animais políticos", nas palavtas de Aristóteles, e sua pólis veio a incluir
a totalidade da bacia do Mediterrâneo e a Europa.
História romana
Como os egípcios e os gregos, a geografia em que os romanos se
desenvolveram deu forma à sua sociedade, determinando também um estado
dt? guf!rra quase incessante, que esse espaço tornou prati.c amente inevitáveL A
história romana é dividida em t rês fases: a época dos primeiros reis, a
República e o Império. Por volta de 1100 a.C., grupos de colonos dos Balcãs se
deslocaram para a península italiana; ent re eles estavam os latinos, que
colonizaram a área em volta do rio Tibre, no centro da península. O local que
os latinos escolheram era bom, sobr e sete colinas, em um ponto do rio
distan te o suficiente do mar para evitar ataques, mas junto de um leito ainda
navegável a partir do mar. Aproximadamente t rezentos anos depois, acredita-
se, os etruscos se mudaram para a área ao norte de Roma, onde hoje é a
Toscana1 Possuindo uma cultura mais -avançada, eles gradualmente vieram a
dominar as t ribos vizinhas, incltúndo os latinos, sobre os quais impuseram
um rei. Em 509 a.C., os habitantes da cidade de Roma se rebelaram, depondo o
rei e instituindo a República, governada por um senado de patrícios com
poder executivo invest.i do em dois cônsules, que serviam por apenas um ano.
Durante os séculos seguintes esse sistema de governo foi ampliado para
incluir uma Assembleia da Plebe, ou das classes populares.
Afora os montes Apeninos correndo a península de cima a baixo; não há
grandes barr-eiras ao movimento na ltáftia assim como há na Grécia escarpada,
nem desertos isoladores como no Egito. Os cidadãos de Roma t inham,
primeiro, de assegurar sua liberdade removendo a ameaça dos etruscos, e
depois começaram a ampliar suas fronteiras meridionais por etapas, até que
encontraram colôtúas gregas estabelecidas. Os gregos pediram então auxílio
para suas principais cidades-irmãs da Grécia continental. Após uma série de
batalhas severas, os romanos ganharam cont role sobre as colôtúas gregas, de
modo que em 26 5 a.C. Roma controlava toda a península italiana. Assim, os
romanos se encont raram em uma s ituação de rivalidade comercial com os
cartagineses do Norte da África. Cartago, que fora uma colônia da Fenícia, era
o centro de um comércio mediterrâneo movimentado e começou a ver Roma
como uma possível concorrente. Essa luta pelo poder resultou no que os
romanos chamaram de Guerras Púnicas (punicus em latim signífica
"fenício"), de 265 a 146 a.C., que acaba.ram levando à destruição da cidade de
Cartago e a absorção de suas colônias por Roma. Enquanto isso, o exército e a
marinha romanos foram postos à prova na Macedônia e na Síria, mas
t ambém os venceram. Essas vitórias acrescentaram ao domüúo de Roma uma
boa parte do antigo Império Alexandrino. A consequência disso tudo foi que, a
partir do início do século 1 a.C., Roma não era mais uma cidade, mas uma série
de colônias anexadas e cidades federadas estendendo-se de Gibraltar até a
Síria, com reinos clientes na Ásia Menor, na Armênia e na Palestina. Os
romanos começaram a chamar o mar Mediterrâneo de mare nostrum, "nosso
mar".
Roma se tornara de fato um Império, com as agitações políticas
resultantes, lutando para se governar como se ainda fosse uma república. Em
46 a.C., Júlio César foi nomeado ditador por dez anos pelo Senado, na
esperança de acabar com as guerras civis periódicas; porém, dois anos depois,
ele foi assassinado por aqueles que queriam estab~lecer a velha república, e a
guerra civil novamente irrompeu. Em 31 a .C, quando o sobrinho de Júlio
César, Otaviano, derrotou Marco Antônio e Cleópatra e estendeu o domínio
romano para o Egito, ele foi nomeado princeps ("primeiro cidadão") pelo
Senado e recebeu o comando do imperium, o que fez.dele um ditador e líder do
exército. Otávio t ambém tomou para si o t ítulo de Augusto ("venerável",
"majestoso"). Muito embora Augusto fosse de fato imperador, ele manteve
todo o aparato do governo republicano, evitando, assim, um embate com os
republicanos ardentes no Se!)ado. Seu reinado de 4 1 anos foi marcado pela
paz e pelo estabelecimento de uma burocracia imperial que funcionou .
regularmente, a pesar das depredações dos imperadores da dinastia júlio-
claudia na que s.e seguiram a ele, incluindo o depravado Calígula e o
desequilibrado Nero.
Muitos anos após a morte de Nero, Vespasiano foi declarado imperador
pelo exército, e deu início à dinastia flaviana (seu nome de família era Flávio),
que governou com êxito de 69 d.C a 8 1 d.C. e que acabou em 96 d.C, após
quinze anos de terror sob Domiciano. Com a morte deste, o Senado nomeou
Nerva como imperador, dando inicio à-época dos Cinco Bons Imperadores, que
incluiu Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio; seus reinados, de 96
d.C. a 180 d.C., marcaram o mais longo período de paz e prosperidade do
Império Romano e coincidiram com o alcance máximo do Império Romano, e
sua lei, sob Trajano. Es.s es anos de administração eficiente foram os anos
dourados da ordem civil e da paz - Lex Romana e Pax Romana. Grande parte
da melhor arquitetura romana foi construída durante esses períodos de paz e
amplo desenvolvimento eçonônúco nos reinados de Augusto, dos flavianos e
dos Cinco Bons Impe.r adores.
Depois de Marco Aurélio, o bnpério começou a sofrer uma crescente rigidez
interna e pressão de invasores fora das suas fronteiras, até que, em 28 5 d.C.,
Diocleciano o dividiu em duas partes, que seriam administradas por dois
imperadores iguais, e, então, ele se retirou para seu palácio fortificado em
Spalato (hoje Split, na Croácia), na costa Adriática. O sistema logo se
desmantelou, mas o Império foi mais uma vez reunificado em 324 d.C., por
Constantino, que t ransferiu a capital imperial para uma nova cidade que
fundou na ent rada do mar Negro sobre a antiga cidade grega de Bizâncio. Ela
foi chamada de Nova Roma, mas logo adquiriu o nome de Cidade de
Constantino, ou Constantinopla.
o caráter romano
O caráter romano foi formado durante os pt;meiros anos difíceis da
República, quando a ameaça constante das t ribos vizinhas exigia que os
agricultores romanos estivessem seinpre prontos a pegar em .a rmas.
Desemvolveu-se um sentido arraigado de disciplina, responsabilidade
pat riót ica e grande determinação, que é mais bem descrita pelo termo latino
gravitas, um sent imento da imp01tância de ter controle sobre a situação, uma
propensão para a austeridade e o conservadorismo e um respeito profundo
pela t radição. Um bom romano praticava uma m oralidade rígida, servia ao
Estado, possuía uma homa irrepreensível e dedicava-se a um ascetismo físico
e espiritual - t raços que o próprio Augusto exemplificava.
À medida que ·a cidade de Roma estendia seu controle sobre a península
italiana, desenvolveu-se uma compulsão para espalhar os benefícios da lei
romana e da governança republicana para o resto do mundo. Esse imperativo
fora declarado pelo próprio Júpiter, como expresso por Virgílio na Eneida:
"Aos romanos, não marco limites na espaço ou no tempo. Concedi-lhes
soberania, e isso não tem fim••1 É uma grande fronia que o m esmo povo
sedento por esp01tes sanguinários fosse o que criou um sistema legal
universal que amparou os direitos dos cidadãos ao longo de todo o
Mediterrâneo por cinco sé.culos. Os romanos empenhavam-se em .a lcançar a
t11úversalidade e uma ordem evidente em todos os aspectos de sua vida, e sua
maior conquista foi visualizar essa ordem cívica nos espaços urbanos que
conceberam, emoldurados por fileiras claramente ordenadas de edifícios
colunados a dispostos ao longo de eixos.
Os romanos eram naturalmente pragmáticos e realistas, ao contrário dos
gregos investigativos e idealistas. Em bora os avanços tecnológicos
progredissem à medida que Roma ganhava controle sobre a bacia do
Mediterrâneo, não havia grandes cientistas teóricos romanos. O que eles
produziram em abundância foram engenheiros e construtores, que
desenvolveram formas arquitetônicas em t11na escala que os gregos não
teriam sequer conseguido conceber, cdmo Estrabo exaltou em sua Geografia.
Os engenheiros romanos construíram uma rede de estradas conectando todas
as part(,!S do Império, da costa portuguesa aos confins da Turquia e da Síria; se
uma montanha aparecia no caminho. eles simplesmente a cortavam. Eles
desviavam córregos e conduziam suas águas por mais d e 45 quilômetros até
as cidades, criando canais através de colinas e erguendo aquedutos sobre
vales em imensas arcadas. Só a cidade de Roma t inha catorze aquedutos, com
mais de 420 quilômetros de extensão wtal, carregando 750 milhões de litros
de água para dentro da cidade diariamente. Em m uitas partes da Europa, os
sistemas de abastecimento de água e de esgoto eram muito melhores sob os
romanos do que são hoje, e em Segóvi a, Espanha, a água da cidade ainda é
t ransportada pelo aqueduto romano.
IMPÉRIO ROMANO
c. 211 d.C.
o 600 11m
O .300 ml
ÁFRICA
- e.s!'ladas ~nas. "'"''"""
--- Ext(ons:AQ do.lmoéflo R:ornaoo
O exemplo mais notável de como o eixo era usado para controlar o espaço
ficou encoberto por séculos: t rata-se do Santuário de Fortuna Primigenia, em
Praeneste (Palestrina), Itália (12.2 }. Provavelmente construído sob o reinado
de Sula, que conquistou Praeneste p<.ra Roma em 82 d.C.., ele acomod'ava
diversos locais sagrados t radicionais e fazia parte do plano de
restabelecimento de anti gos cultos locais por Sula. Embora o local fosse
conhecido por meio de descrições como as encontradas em De divinatione, de
Cícero, ele foi escondido sob novas construções durante a Idade Média.
12.2. Sattn1ádo deFo!tlinttPninigntia~ Praeneue(Palestrina) lttítid, t'. 80 ti.C. Est~conj'untode rampas e
terraços ntolrra darttmentt a orgmtiitJ{ãâ dtU!SpâfO romarto tNJ torno de.JJY!J eiXo domhumt(.
Planejamento urban()
A vida romana, assim como a dos gregos, era centrada na cidade. Porém, à
medida que o Império se expandiu, os aglomerados urbanos mais remotos
deixaram de funcionar como povos subjugados, tornando-se parte de uma
federação que se autogovernava. As cidades anexadas eram os principais
agentes para difundir a romanitas, a soma dos valores e da cultura romana. A
partir do século 11 d.C., aqueles que viviam fora das cidades eram considerados
rústicos, e o termo usado pelos paleocristãos urbanos para descrever os que
não viviam em cidades (ou seja, aqueles que não haviam abraçado a fé) era
paganus, "pessoa do campo", "pagão''.
As primeiras cidades romanas e aquelas que se desenvolveram a partir de
colônias gregas, como a cidade comercial e de veraneio de Pompeia, ao sul de
Neopolis (Nápoles), tinham um sistema viário formando retângulos
irregulares 112.3]. À medida que essas cidades se expandiram, as quadras
ficaram mais regulares, mas nos locais mais antigos não havia urgência para
alinhar as ruas com os pontos cardiais. Nos centros - culturais, se não
espaciais - dessas velhas cidades ficava o foro, o grande espaço aberto cívico,
ladeado por stoase edifícios públicos. O foro tinha quase a mesma função que
a ágora grega;:!. o que o distinguia, era sua boa definição arquitetônica e se'~
formato mais retangular , dominada por um templo de Júpiter em uma
extremidade do eixo (em Pompeia, o lado n01te). Em tomo do foro, cercando-o
e determinado sua forma, encontra varn-se di versos edifícios que abrigavam a
cúria, os escritórios mw1icipais, uma basílica (um grande edifício cobe1to
para audiências judiciais), assim como vários templos e edifícios públicos. O
foro de Pompeia ilustra bem esses elementos [12.4].
Imo .,
J 2.3. PtHnpeia, Itália. Planta da âdadt>. O antl,co-centro da ddade,fimdâda no situ/o wa.C..fica ao
n1desre. Ext.e!isõ.~s posteriores t!m um sistenut vidri':Jmais re,gular, emgrei/ta.
ft o 10 0 200 3 00 400
87
A = Tempio de Apolo J =
Templo de Júpaer
B = Basilica L = lafário
C = Cúria (escritórios M = Macelo
municipais)
Co= Comício
m =
Mercado
v = Templo de Vespasiano
E = Edifício de Eumáquia
••· l m r
12.5. P!tmifl de Tltamugad.' (Tiin.ftrdh Argilitl,fundada em 100 d.C. Estaklec:"dtuomo uma colônia para
veteranos militares, essa cidade tinha umaplan!a du tipt>casmun. A prindpa.' vianort~~sullo arrdo, e a
principal via leste~t~estelô decumana.
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l2.6. Planta de .Roma_ :ufcuto11Jd.C. Pitmtada Roma imperial. 1/UJ:.·trantloo:; plitJeip(ll$ l'dif/dos ajoros.
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12.8. Apolodurode Oanuzsco~ba.<l/ica lf/.ula,forõde Trajano, komn.. 98-i 1?d.C.Piantabaixa. A maior
de toda:; as btb·t7ica:.· de .Roma, /)O)':Wfndoi~· tribunah·, um decadalado. c~m um imel;so vo/umecobtl'to
paradrcu/a{ãopúblka.
m O S tO! 20 30
r==L=J
u o so
...
10 100
••
12.11. Panteon~ .Rmna. f i$· 12$. d.C. Pltmtabaixa.
H O 10 50 100
..
r1 r==' t=' I
12.14 . .Seftero e Ceii!r; ca:.·a de /1/Cro, a f)qmus A ur'ea (Casa Dourada), Roma. Planta baixaparcial. Com
llll'tapara tmJaptJisqgem exubertmte criadauo toraçaà da cidade, essa vila consistia em salas CONJ
abóbada:.· de concreto em u111t1 ampla variedade defcn?natoJ. Muitas :;(t/tb' eram iluminadaspar
ensenll osos cicu!os eptttedes re.f!etoras.
Arquitetura doméstica
12.15 . Oomu.i Aurea. ,Vista liJternadooaógono.
•
Jardim
..•'\I
..
.•
·' .
.. .- -·.
·~
Edifícios públicos
Por causa da intensa vida w ·bana, os romanos desenvolveran1 uma série de
t ipos variados de edifícios públicos. Os maiores deles, feitos para acomodar
dive1timentos populares, eram a céu aberto, mas outros t inham grandes
volumes cobertos com abóbadas de concreto de várias formas.
Os teatros romanos, derivados dos modelos gregos, eram o local para
produções de antigas peças gregas, bem como a apresentação de novas obras
romanas, mas nunca serviram a função quase religiosa do teatro grego.
Assim, não eram localizados perto de templos, mas, ao contrário, ficavam
perto do centro comercial da cidade ro:nana. Como não eram constn1ídos nas
encostas de montes sagrados, os assentos da plateia eram erguidos sobre
abóbadas sustentadas sobre pilares de pedra. A forma básica do teatro
romano foi cristalizada no Teatro de Marcelo, em Roma, projetado pelo
próprio Augusto, construído por Marco Agripa e inaugurado por volta de 12
a.C. [12.18 J.ll Os assentos eram dispostos sobre um sistema de abóbadas de
berço de concreto inclinadas, sustentadas por pilares de pedra radiantes,
entre as quais passavam escadas e rampas conduzindo às diversas seções da
plateia. O muro exterior curvo era aberto com arcadas de t ravertino
superpostas guarnecidas com ordens adossadas - dórica sem caneluras no
térreo e jônica no segundo nível (não se sabe qual era o t ratamento do terceir o
nível, pois foi reconstruído durante ;; Idade Média). Diferentes dos teatros
gregos, os romanos eram perfeitamente semicirculares, com uma orquestra
semicircular onde os senadores costumavam sent ar. O Teat ro de Marcelo
m edia 111 m etros de diâmetro [12.19 1. Com o era t ípico nos teat ros romanos,
seus assent os eram volt ados para uma scaenaefrons permanente, uma parede
t ão alt a quant o a parede semicircular at rás da plateia. Em seus t rês níveis de
assent os, cada um disposto de maneira mais íngrem e que o de baixo, o Teatro
de Marcelo podia acomodar 11 mil espect adores.
10 10~1140
~· ·~ M 10 100 UO
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12.151: Teatro deMaralo. P/mua baixa.
12.20. Zenãotü reodortt teatro, Aj'JN!Itdo, Ptm.fílitt(Tutquia), c. 155 d .C: flltetior. O.foco do teturo
romano era a scaenae frons de pedtapermanet;te_ 111'1 cenário de.fundq quese erguia tão alto t{Udlllt>·OS
asseruos mm:.· altos da plateia.
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dotW!OrtJoeas sâlas de leitura.
l2.24. TermM deCarncala. Perspectiva interna. Emltoraltoj'edespojadtl.i do:.· revestimentos urdornos de
mdrmor~ e:;:.'as tennttl~ e ourros ed?/ícios p;íblico:.· en11n rica e c.oloridàmtute onutda:.·1 comh :.·ugere e:.·sa
reconstitmfiiodeG. AbelDlonet.
NOTAS
.L Esta pode s-er a origem da lenda, transcrita por Virgílio na Eneidtt, de que Roma teria sido
fundada por Enelas,dcpois de escapar das ruínas de Tr.oia após sua captura pelos gregos.
2. Virgílio. Aeneid, t. 278. Harmondsworth, Inglaterra, 1956,1). 36. (Edição em português:
Virgitio. Eneida, São Paulo, Ed. 34, 2014 ).
1.. OdcsenhocorretodotemploC descdrocm Virrúvio, TratadQdearqtlitetuta, me IV.
4. Vitrlivio sugct'c qttc a proporção ideal de um fol'o retangular seria de 2:3; para o planejamento
de fórunsverVittúvio, TnuadodeâNJltitetura, V.i.
2.. VitrUviodisctttc planejamento urbano em Trtttadodean;uiteturflj Uv.vii .
6. Witliam L. 1\1acDooald observa que o pé romano era um pouco menor do qu~ o p-é moderno,
cerca de 29$5 cemímctros. Assim, 2.400 pCsromanos equtvalcriam a aproximadamente 2.325 pCs:
modernos (708, 7 metros}; ver MacDonald. Pantlteon. Carnbridge, MA. 1976, p. 62.
L_ As regras para o desenho de basílicas são apresentadas -em Vitcúvio, rrarado de arquirea,ra,
V.LiV·X.
8. No frontão desse edifício~ o segundo Panteon, Adriano manteve a inscrição que existia no
original: M . AGfljPPA. l. F . COS. TEI!Til!M. FEC/T(MarcoAgripa, filho de Luci o. ttêsvczcs cónsul,
construiu isso).
2.,. Watkin, David. A Hb·cozyofWeuern Ardtitecture. Londres c Nova Yot'k, 1986, p. 60.
1(1. Clccro.AdAtticum, XIV.9 {carta para Ãtico, 17 de abril de 44 B.C.). Londres, 1918, p. 231.
l i Vitrúviodisc:ute odcsenhocorretodc casas.c m Tratado de arquitetura. rue Vli-vHi.
12. VitrUviodiscute odcsenhode teatro em 'l'ratadodearquiten,ra, V.iii-vlH.
13. Sobre o rearro de Asp-endo, ver lzenour, George C. rheater lJe.sip1. Nova York, 1977. pp. 182-
!83, 263-264.
14. Citado em Bocthius, Axet c \"'.ard Pcrkins, J.B. Etrusctm tliJd Ronttm Architecture. Baltirnorc,
4
SUGESTÕESDELEnnJRA