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Odorico Paragua-;u
O Bem-amado de Dias Gomes
Odorico Paraguaçu
O Bem-amado de Dias Gomes Co l ~ Aplauso
Coordenador Geral Rubens Ewald Filho
Histórla de um personagem /a rapista e maquiavelento
Josê Dias
Odorico Paraguaçu
O Bem-amado de Dias Gomes Co l ~ Aplauso
Coordenador Geral Rubens Ewald Filho
Histórla de um personagem /a rapista e maquiavelento
Josê Dias
A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficia l, visa resgatar a À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jotnalls-
memória da cultura nacional. biografando atores, atrizes e diretores taS. 0<9anizar com ef'o<áda a pesquisa documental e icooogràfoca e con-
que compõem a cena brasileira nas áreas de dnema, teatro e televisão. tar com a disposição e o empenho dos artistas. diretores. dramaturgos
Foram sele<ionados escritores com largo curr!culo em jornalismo cultural e roleiristas. Com a Coleção em curso. configurada e com identjdade
para esse trabalho em que a histôria cénica e audiovisual brasileiras vem consolidada, constatamos que os sortilégios que envofvem pako. ce-
sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros nas. coxias, sets de film.age~ textos_ iffic19ens e paf-avras conjugados. e
sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos todos esses seres especiais- que neste univetSO transitam. transrmnam
de documentos e imagens são pesquisados, e o u niverso que se re- e vivem - umbé.m nos tom.aram e sensibilizaram.
constitui a partir do cotidiano e do fa:i:er dessas personalidades permite
reconstruir sua trajetôria . t essematetialculturaledereffel<Aoquepodeserago,acompartilhado
com os leíto,es de todo o Brasil.
A decisão sobre o depoimento de cada um na p rimeira pessoa mantêm
o aspecto de tradição oral dos relatos. tomando o te.x to coloquial. como Hubert Alquéres
se o biografado falasse diretamente ao leitor. Diretot·p.-esidffl.te
tmprenw Ofid.l do &t.Jdo cfe Sio huJo
Um aspecto importante da Coleção ê que os resullados obtidos ultra-
passam simples registros biogrãficos, revelando ao leitor facetas que
também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se
éõlõ(ãfáiii êiii lêflêxõé! quê !é êtténdérM'i !ôbré á fomláÇ3õ lntêléétuãl 7 8
e ideológica do artista, contex1ualizada na história brasileira .
José Dias
Começando com os Entretantos
Mas a carreira literária de verdade foi influenciada pelo irmão mais A precocidade marcou sua carretra de dramaturgo: aos quinze anos
velho, que sempre o orientou como verdadeiro pai e por quem nutria teve sua primeira peça teatral A Comedid dos Moralistas. premiada
pelo Serviço Nacional de Teatro, num concurso organizado junt o mas abandonou a Faculdade no terceiro ano. em 1943, ano fatfdic.o
com a União Nacional dos Estudantes (UNE), e que também premiou da misteriosa morte do irmão. aos tnnta anos de idade. ocorrida
Mário Brasini. Um tio de Dias Gomes, Alfredo como ele, orgulhoso do enquanto realizava expe.riénc1as em Realengo.
desempenho do sobrinho. encomendou a publicação da peça a uma
gráfica baiana. Foram vendidos 17 exemplares. e a publicação salvou Entre os dezenove e os v;nte anos (1941-1942) que Ofas Gomes inídou
e-ste texto de sofrer o destino de tantos o utros, a lata de lixo do autor. efetivamente sua carreira de escritor participante da vida polrtica~
Aderiu .\s manifestações lideradas pelo Marech.il Rondon e por
Ent,e os 17 e 18 anos, tentando não ser um peso para o Irmão, e vendo Oswaldo Aranha, em p,-ol da entrada do Brasil na guena, íunro ás
que a carreira militar era a maneira aparentemente mais fá<il de ter fO<Ça$ aliadas. E<aeveu então um drama ancifascista, como ele mesmo
casa, comida e ainda receber um soldo, fez exame para a Escola Mili tar o b.llizou. Mas a peça Am.J~ Sen Ourro Dia só foi montada dois
no Rio de Janeiro, em Realengo. N~o conseguindo fazer a prova de anos mais tarde, em 1943. Conta ele:
â lgebra, ex.auS10 por ter virado a noite estudando, entrou com uma
petjção ao Ministro da Guerra, Eurico Ga.spar Outra, para realizá-la Estávamos em ~na guerra e nenhum empresário queria se
na Escola de Cadetes de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. onde affisc.ar a enamã-la quando o nosso dmidor de então, Gerúlio
foi aprovado. Mas, dos dois meses em que ali permaneceu, passou Varg~ demonsuava evidentes simpatias pelo eixo Roma,.Berlim.
quinze d ias na cadeia, tal e ra sua vocação. O coronel Setembrino, rwe que esperar o Brasil entrar no conflito para vê4a enc.enada. E
comandante da Escola de Cadetes, um dia o chamou ao gabinete: pela comp,,nhia oficial inclusive_ Vendo que os deuses da guerra
Meu filho aqui tenho visto mu;ta gente equivocada, sem um mínimo se ;ndinavam para os aliados. Getúlio, como bom oportuntSta que
de vocação para a carreira militar. Mas igual a você,. nunca. Ora, o sempre foi, declarou gverra aos n a z , - ~
jovem Alfredo já desconfiava d isso desde o inicio, Abandonou a tarda
e a desastrada lncursâo nâ carreira militar, como se referiu mais tarde Antes disso, em 1942. estreou no Teatro Serrador. no Rio de Janeiro.
ao episódio. Retornou ao Rio no mesmo ano, 1939, mas manteve a .sua primeira pec;a encenad~ Pê de Cõbra, tom Procopio Ferreira no
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cabeça raspada, para não sair de casa e poder ficar lendo dezenas papel p,-indpal. Parad0-<almente, era uma sátira ao mesmo Deus
de livros, influenciado pela Formaç6o da Menralidade, do autor lhe Pague, de Jotacy (amargo, e«tit.l em 1932, que d"ra proj~
americano James Harvey Robinson, leitura o brigatória na época. nacional ao at0< alguns anos antes Tinha sido escrita a pedido do
Lembrando-se dessa fase, revetou Dias Gomes: rival de Procópio, Jayme Costa, que lera e se encantara com o primeiro
texto de Dias Gomes. Amanhei Serã OUrro Dia. Em 1941. atraves do
A tese central do livro é que ex;ste um determinado momento em cartãozinho de uma prima gaúcha, casada com o poe·ta Augusto
nossa vida, momento que deve anteceder á completa formação de Meyer, Dias Gomes tinha sido apresentado a Henrique Pongetti que,
nossa mentalidade e que é a hora exata de parar e fazer uma completa por sua ~ o apresentara a Jayme Costa. Mas o ator e empresário
recapitulação e avaliação de todas as noções adquiridas e de todos os acabou desistindo ela idêia de montar a peça que encomendara~ E.
valores herdados ou assumidos, dado o fato de que tudo isso se deu como diz o escritor, por um de<Ies caprichos do destino, Pé de Cabra
num perlodo em que passivamente recebíamos sem por em dúvida, veio a se tornar um su<esso de público e de critica# interpretada por
sem contestar. Era hora, então, de ter a coragem de duvldar não só Procópio - que morreu sem saber do complô de que tinha sido Vitima
dos conhecimentos adquiridos como das crenças, em ger;,/, impostas. e benefid~rio. Proíbida na nojte da estréia, mas fiberada uma semana
O livro me ating iu com um tremendo Impacto. E eu resolvi por em depois, com cortes. Pé de cabra • foi encenada po, duas temporadas
prática sua proposta. ,eguida• no Rio e em Slo Paulo, e rendeu a Dias Gomes, em 1943, um
contrato exdusivo de autoria para a Coml)<lnhia de Procópio Ferreira.
A partir d ai tentou diversos caminhos: fez os preparatórios P<)ra
Engenharia na Praia Vermelha e para Direito no Colêgio Pedro li. Na Foi uma ill~sponsabilid.adf> dos meus tk-llnOve anos. confessa Düu
época de estudante morava num quarto da Pensão Buenos Aires, na Gomes. só perdoável pela mfoha paixão pelo teatro~ um mal aõnKo,
rua Prado Júnior, e recebia mesada do irmão. Em 1940 chegou a cursar congénito,. incurável. Pelo contrato, Dias Gomes ficava obrigado a
durante algum tempo a Faculdade de Engenharia, des;stindo logo. escrever quatro peças por ano. com direito â rea.tSõ de uma. o que
Nesse período escreveu Ludovico, 1940. Pensou em optar pelo Direito, o levou a escrever ónco textos em 1943. e a inda a receber um mês
adiantado, logo de inkio, a lém de ter garantidas dezoito cadeiras era a época das estrelas. uma tradição que vinha de Leopoldo Fróes
por sessão. Procôpio nem poderia imaginar que t udo isso se devia e que era seguida por- Procópio, Jayme Cosia e Oulcina. A estrelas, na
ao sucesso de uma peça encomendada contra ele, e que ele prôprio malOfia das vezes, não ensaiava. Assim, ao fazer Zeca o,abo. Procôpio
montara em quinze dias! só foi ao ensaio geral e, como não sabia o texto, inventou um cacoete
para dar tempo de ouvir as falas lidas pelo ponto, Instalado em sua
Completando a série de equívocos que circundaram Pê de Cabra, Oias caixa no proscênio.. Críticos da época, como Mâno Nunes e Viriato
Gomes acabou sendo considerado na época um disdpulo de Joracy Co«eia, embarcaram na históría, ofus<ados pelo prestigío do míto,
(amargo, quando na verdade pretendia contestá 1o. E a inda teve
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criticando acerbamente os outtos atores. como foi o caso de Antonio
seu texto censurado pelo 0 .1.P.• acusado de marxista - e até então Moreno, e colo<ando Procópio nas nuvens. como unico ator que
não tinha lido uma só linha de Marx. Mas com isso interessou~e pelo realmente sabía o papel!
filósofo. Ingressou no Partido Comunist a em 1945. Devo esse favor
â Censura, diz ele, o de ter descoberto para mim o marxismo e a Data ~ mesmo periodoa experiêncicl d.a revista Toq~ dl! R«olh~r.
milit~ncia comunista. Em virtude do sucesso, Pé de Cabra foi vendida que Dias Gomes escreveu em parceria com Josê Wanderley, uma
três vezes para o cinema, brincadeira de objetWOS mais erõticos que propriamente teatrais.
Na verdade, Dias estava namorando uma cantora da Companhia da
Data também de 1943 o ingresso de Ziembinski em Os Comediantes, Praça Tiradentes. chamada AmériCã cabral, que era virgem. só andava
grupo teatral fundado em 194 t, poucos anos depois de Pascoal Carlos acompanhada pela mãe e era Rainha das Atrizes. E. nao contente com
Magno ter criado o Teatro do Estudante do Brasil (1938). Ziembinski isso, fez uma aposta com um am,go que ele havena de conquistar
encenou Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, caracterizando um todas as girls da Companhia. O que não era impossível. eram apenas
momento de renovação da dramaturgia brasileira e uma mudança seis ou oito girls.
radical nas concepçÕéS cênicas da época.
Deu-se também neste ano de 1944 o outro episódio militar da cane,,a
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Durante o pe,íodo em que esleve <om Procópio, Dias escreveu Zeca de Dias Gomes. Tudo começou com um recorte de jornal que recebeu
Diabo, Doutor Ninguém, Jo:Jo Cam~o. Um Pobre Gênio e Eu Acuso denuo de lima carta de sua mã~. fazendo constar sua con~o para
o Céu, a lém de outras peças que, merecidamente, segundo e le. não a guerra. Reuniu os amigos. despediu-se de todos. tomou um grande
saíram da gaveta: O Homem que Não Era Se1J, Sinhazinha e Beco porre e. no dia seguinte. apresentou-se no quartel. Lá chegando foi
sem Salda. Em relaçao a este período há a lguns fatos que merecem atendido por um sargento que olhou. olhou. e disse: Não senhor,
destaque. Em 1944 • foi encenada Doutor Ninguém, no Teatro o s~nhor não estã cont/OCddo! Dias Gomes indignou-se. Já havia se
Santana, em São Paulo, peça que abordava o problema tacial e cujo despedido de todo mundo. como iria ficar perante os amigos? foi
herói era um médico negro. Como havia o preconceito de que o quando, diante da jnsistênda~ o sargento ameaçou: Olha aqu;, se não
públic;o n3o aceitaria um herói negro. Procópio colocou um branco em for embora jâp \'OU lhe arranjar uma convoc.ação, mas para o xadrezl
cena. Meu filho, explicou e le ao dramaturgo, há dois tabus que vocé
jamais conseguira qvebrar no teatro: todo negro tem que ser criado, Sua primeira fase de dramaturgo encerrou-se precocemente. Durou
todo padre tem que ser bom. Dias Gomes deu um jeito nisso. Em O apenas de 1942 a 1944, segundo o próprio Dias Gomes, devido a dois
P.1godor de Promessas tentou desfazer um desses mitos: o pad,e ficou ac04'ltecimentos.. Primeiro a mortesúbrtade seu irmão, que obrig0U40a
com o papel de vil~o. Dias Gomes jâ tinha noção clara de que uma ocupar o seu lugar como arrimo de família, Segundo pelo desencontro
dramaturgia nacional só poderia surgir a partir da anãlise ctitica da que se acentuava, de ~ para peça, entre a sua dramaturgia e a
realidade, dos problemas, comportamento. aspirações e frustrações mentalidade empresarial da época- Diante deste impasse, e não
do homem brasileiro. querendo abandonar o teauo engajado, resolveu aceitar o convite
de Oduvaldo Vianna (pai), que entrara em contato com sua obra
Ainda ne-ss.e ano, Procópio encenou Zeca Diabo, no teatro Oulcina, na temporada paulista de Pê de úbra, para trabalhar com ele na
no Rio de Janeiro~ peça que abordava o problema do cangaço. Ora, emissora que estava ·f undando. a Rádio Panamericana. Esta decisão
o e-spetáculo teatral nessa época era improvisado, uma peça ficava inaugurou um novo momento na vida de Dias Gomes, marcando
poucos dias em cartaz, logo substituida por outra. Além disso, essa o término de sua primeira fase de ui.ação exdusiva para o teatro.
Além disso, a partir daí tornou-se, como tem orgulho de afirmar, uma Entre 1945 e 1948 escreveu e publicou três romances (Duas Sombns
espéde de meio-irmao do Oduvaldo Vianna Filho (Vianninha: 1936- Apenas, em 1945; Um Amor e Sete Pecados, em 1946; Quando,
1974), porque Oduvaldo Vianna foi um pouco tambem pai de Dias amanhã._, em 1948) e uma novela (A Dama da Noite, em 1947). Em
Gomes, pelo apoio que lhe deu no inicio da carreira. 1949, es<reveu A Dança d.is Horas, adap~.\o do romance Quando
é Amanh.t, e em 1951, O Bom wdr/Jo. De volta ao Rio de Janeiro,
Em 1944, mudou-se para São Paulo, Iniciando um hiato de dez anos em 1950, trabalhO\I ainda algum tempo nas Emissoras Associadas.
de vida voltados para o Rádio, escrevendo cerca de 500 adaptações transferindo-se em 1951 para a Rádio Oube do Brasil, atual Rádio
de peças, contos, novelas e romances da literatura universal para os Nacional. Em maio de 1953 via1ou para Moscou, participando de
chamados Grandes Teatros, cujos nomes variavam de acordo com a uma delegação brasileira de escritores. para as (omemorações do
erníssora: Grande Teatro Panamedcana, Grande Teatro Bandeirantes; Primeiro de Maio. Este lato, que na época era considerado altamente
a função e a estrutura destes programas correspondiam, na época, wlwe<sivo, não só provocou sua dem<Uào da ~io Oube do Brasil,
aos atuais especlais da televisão. Trabalhou em diversas emissoras como lhe valeu uma violenta pe~uiç.\o por parte de carlos la<erda.
durante a expe,iência paulista, criando diferentes programas: um dos Conta Dias Gomes:
mais instigantes, segundo Dia.s Gomes, A Vida das Palavras, revelava
sua pre0<upaçao com a qualidade e a importância do rádio como Carlos Lacerda em plena campanha para depor Getúlio. campanha
forma de coffiunicação para além de seus aspectos mais digestivos
que levaria o Preskieme ao suicídio. publicou uma foto minlta na Praça
e alienantes. No tumultuado ano de 1945, marcado pela deposiçâo
Vermelha. em Moscou. com a manchete Diretor de Ráá,o Oube leva
de Getúlio e pelo término da Segunda Guerra Mundial, foi para as flores para Stálin a,m dinheiro do Banco do Brasil Dupla mentira_
Emissoras Associadas {Tupi), onde permaneceu até 1948. Primeiro, Sfálm havía morrido um ~ antes e seu ltÍmulo ainda n.:io
estava aberto ã vísitaç/Jo. Segundo, o dín/,e;ro da ~ eu o havia
Ful demitido por motivos poJftico$: num dos programas A Vida das
tomado a vm agiota, a juros a/tíssimos Q<ie. mesmo desempregado,
Palavras. numa sãtira criada especialmente em função da Conferência
levei um ano pa'Ji'ndo. Lacerda i,isav., atingir nk a mim, mas a Samuel
Internacional das Narões Unidas. que ie realizava na época no Hotel 19 20
Wainer, dono da Rádio Oube e do jornal Última Hora, que haviam sido
Quirandinha (Petrópolis, RJ), focalizei a palavra Quitanda, e fizcom que
cada pais fosse representado por uma fruta, sendo os Estados Unidos financi•dos pelo Banco do Brasl1. graçM ã interferência d" Getúlio.
uma big apple - o que foi tomado como prov0<açlo. O embaixador fndireramente era Vargas o atingido. E eu, que nadd tinha com essa
americano queixou-se a Assis Chateaubriand que, pressionado, briga acabei levando as sobras. Estávamos em pleno maa,nhismo e eu
demitiu-me. Por trás desse gesto estava a mão forte americana e a fui induido numa lista negra. Não ronseguia trab,alho em parte alguma_
inrençilo de punir qualquer ato de rebeldia que cheirasse a revoluçilo.
Fui então para a Rádio América a convite de Oscar Pedroso Horta, seu Sem emprego e com nome na /isra negra, ficou durante nove meses
proprieMrio - que recebeu a rádio como pagamento de honorários escrevendo para a lV Tup,, usando o nome de 1rês amigos, que
que lhe eram devidos por Hugo Borghi - , apesar da interferência do assinavam por ele e negociavam seus textos: s,.,a esposa, Janete Oai<,
DOPS, que tentou impedir·me de ser contratado, alegando que eu Paulo de Oliveira e Moisés Wettman. Só em 1954, após dez anos de
era comunisca. Permaneci na Râdio América durante um ano, indo afastamento. vottou a escrever para o teatro - mas foi uma tentativa
então para a Râdio Bandeirantes de São Paulo, onde exerâ a função tambêm frustrad~ não chegando ainda a caracteriza, o inicto de uma
de Diretor Artístico, em 1949. segunda rase_ sua peça era o. Fugrnvos do Juízo Fu,a/ , encenada no
Teatro Glória. no Riode Janeiro, produzida pela Companhia Jayme Costa
Também em São Paulo. em 1945, Dias conheceu Janete Emmer e dirigida por Bibi ferreira, com um elenco que, alêm de Jayme Costa,
()anete Cla lr), sua colega de rádio, que t rabalhava como locutora, incluía Nathália Thimbefg, Maurido Schermann e Magalhãe, Graça_ Era
apresentadora e radioatriz, e que mais tarde consagrou--se como um perlodo conturbado pelo wicldio de Getülio Vargas. Jayme Costa,
esuitora de telenovelas. Casou-se com ela em 13 de Março de 1950, que era um ferrenho gett,lista, entrou em dep,1!$São e chegou mesmo
quando ainda morava em São Paulo. Nesse mesmo ano nasceu seu a e,ur,ver uma carta dramática para os jornais, uma carta t.\o amarga
primeiro filho, Guilherme, em 11 de Julho. Com Janete Clair teve que quem a lesse diria que ele também estava ã beira do widdio; ao
ainda mais dois fil hos: Denise, nascida em 18 de Junho de 1956, e mesmo tempo, Bibi dava ã luz, Fernando Pamplona viajou para Buenos
Alfredo, em 20 de Maio de 1960. Aires, abandonando os cenários. E a peça foi um fracasso.
Nesta época escreveu também textos para o Teatro Kibon, da TV Tupi 1%8 foi levada à cena em Lawrence, pelo Departamento de Teatro da
do Rio, até 1955. Tendo saido da lista negra. conseguiu enfim assinar Karuas Univenity, com dir~ do professor Dr. Fredric Uno, que jã
seus próprios textos e ainda neste ano foi contratado pela Standard havia dirigido, em 1967, O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Propaganda. Em 1957. Dias Gomes ingressou na Rádio Nacional.
onde permaneceu até 1964, com o programa Todos Cantam a Sua A vet<ão ànematográfica de O Pagador de Promessas recebeu a Palma
Terra. em que, a partir de uma pesquisa sobre o folclore, as lendas. as de Duro em cannes, no Festival de Cinema de 1962. além de vários
superstições, os costumes e a música popular, divulgava os diferentes prêmios nacionais e internacionais. O filme. no entanto, foi proibido pela
Estados do Brasil; neste período escreveu também programas especiais censura no Síi1Sl1. entre 1967 e 19n. Enquanto isso. a ~ prosseguiu
para o Teatro Orniex. em sua extensa carreira internacional: EUA, Chile. Uruguai, Polónia,
Marrocos. Argentina. etc. Com essa peça Dias Gomes consagrou-se um
Com o início do mandato de Jus<elino Kubitschek. em 1956, havia no dos alltOtt'S mais destacados do reatro brclJileiro contempotãn@O.
ar uma euforia de nadonallsmo, a euforia da criação de Brasília. Nesse
clima surgiu a bossa nova. o cinema novo, o concretismo; inaugurou.. Hoje. rodo mundo conhea> a história do Zê do Burro que. em paga
se o Teatro de Arena e desenvolveu-se uma nova dramaturgia, que se de um-, prom,,ssa a /ans.J/Santa Bátbara, sahladora do seu barro
pretendia cada vez mais voltada para a realidade brasileira, rompendo Nkolau, percorre sete léguas com uma pesõda CTU2 a fim de deposftá-
com o que ocorrera, por exemplo, nos anos 40, quando só se valodz:ava la em Salvador íunro ao altar da Santa. Ali, porém se defronta com a
o que era importado em matéria de cultura, uma tradição que o Teatro ~ decidida do Yigãrio da Igreja e deflagra-se o conflito da peça.
Brasileiro de Comédia, fundado em 1948, vinha mantendo desde a
sua criação. O TBC, conforme a expr~são de Sábato Magatdi, foi um Prossegue Anato! Rosenfeld, em seu estudo da obra de Dias Gomes:
verdadeiro sismógrafo das tendências do nosso teatro, com Zé do B<Jrro, Dias Gomes (. •.) consegufu criar um verdadeiro herói
trágico que defende os seus valores com o empenho da vkJa contra
Sendo praticamente; durante vários anos. a (mica empre$a estável de os da cidade.
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São Paulo, o TBC sentiu-se na obrigação de satisfazer aos diferentes Em cinema. em 1974, escreveu o rote.iro de O MargiMf. com direção
gostos do público. Dai a altem§ncia, no repertório, de peças comerciais de carlos Manga, tendo no eleoco Tarcisio Meira e Da,tene Glória. Em
e de peças art1stic11s. num ecletismo que visava tambêm a equilibrar
1985 escreveu o roteU'o de O Rei do Rio, uma adaptação da peça teatral
as finam;as.
O Rei de Ramos, tendo adir ~ de Bruno Barreto, e no elen«> Nuno
Leal Maia, Milton Gonçalv~ e Nelson >Cavie<. fá em 1988 escreveu o
Apesar de privilegiar a dramaturgia estrangeira, aos poucos o TBC foi
rotetro baseado também na peça Amor em Campo Minado, com dire-
abrindo exceção para o autor nacional, destacando.se Abllio Pereira
de Almeida, segundo Sábato Magaldi, a prirn;lpio tfmido e tateante, ç.\o de Pastos Vera (Cuba).
e depois escrevendo com extraordinária capacidade de atingir o
A segunda fase da produção dramatütg,ca d1' Dias Gomes, iniciada com
pUb/ico burguês, ao qual sedin·gia. No final da década de 50, o Teatro
O Pagador de ,.,..,,_,. prosseguiu na década de 60, caractemada
Oficina encarregou~se de trazer novos ventos para o teatro brasileiro. pelo amadurecimento do escrito.- que se inseriu deste modo num
num momento que coincidiu com a segunda fase de criação de quadtO de dramat\lfgia nacional enriquecido pelo trabalho de outtos
Dias Gomes, que escreveu, em 1959, O Pagador de Promessas. Esta autores p,eocupados em levar para a ceoa uma temática voltada para os
peça abriu finalmente as portas do TBC para Dia.s Gomes, em 1960. p r ~ brasileiros: Nelson Rodrigue1,, Jorge Andrade, Ariano Suassuna
tentativa que vinha fazendo desde 1950. Estreou no d ia 29 de Julho, e Gianfranresco Guamieri trouxeram a nono - , até o momento,
no TBC, dirigida por Flãvio Rangel, com cenârios e figurinos de Cyro as contribuições ma;s efetivas e continuadas A dtamanrrg.ia brasileira
dei Nero. Esua peça mais encenada atê hoje. Teve Leonardo Villar no contemporânea, óisse Sábato Magaldi em 1962. analisando o panorama
papel do Zê do-Burro, no TBC, e luís Unhares, no Rio. peta Companhia do teauo brasileiro. Além desses, é preciso destacar as obras de Oduvaldo
Dramâtica Nacional (SNT), com direção de Josê Renato. Rapidamente V,anna Filho (V,anínha), Augusto Boal e Francisco Pereira da SIiva.
a peça ganhou fama internacional. Estreou em Washington, em 23 de
outubro de 1964, com um ator brasileiro, Renato Coutinho. no papel Ena fase ê consõclerada a mais vigorosa de sua carreira. pelo próprio
de Zé do Burro, na Actor's Company Playhouse, Em março e abril de Dias Gomes quando. numa entrevista publicada em Encontros com
a Civilização Brasileira. analisou a diferença entre a primeira e a não se entusiasmou. Mesmo as.sim Dias Gomes terminou de escrevê-
segunda fases de sua carreira: la e engavetou-a até 1963. quando foi publicada na Re,,ísta Oáu<foa,
da Ecfrtora Abtil, na ediçJ<> de Natal. Foi en<énada pela primeira vez
Por lncr /vel que pareça, através de tantos anos, após tantas lvtas, om 30 de Abn1 de 196S, pelo Teatro de Amadores de Petnambuco, no
tantãs experiências positivas e negativas, tantas revelações e tantos Teatro Santa Isabel de Recife (PE). com dir~o e cenários de Alfredo
traumas. meus valores essenciais se manUveram Intactos. O que eu de Oliveira. A enc:~ seguinte estreou em Brasilía, na Sala Martln.s
queria ser e o que eu queria fazer, continuam sendo o que eu quero ~na do Teatro Nacional. numa premiête no dia 11 de Março de 1970,
ser e o qve eu quero fazer.(... ) E minha visao de mundo apenas se s.
seguindo para o Rio de Janeiro, onde estreou no dia 1 no Teatro
aprofundou pela experiência vivida e pelos ensinamentos bebidos em Gláucio Gíll (ex-Teatro da Praça), com prodUÇào de Orlando Miranda e
fontes a que s6 depois tive acesso. Enfim, voltando Aquelas primeiras dir~ e cenários de Giannf Ratto. tendo Pro«ipio Ferreira e lracema
experiéncias, se já não me reconheço na forma. aind,1 me reconheço de Alencar nos principais papêis.. Foi adaptada para telenovela em
de algum modo no conteúdo. 1S72 e para seriado em 1979. Em 7 de setembro de 2007, estreou O
Bem Amado no Teatro das Ana-. no Shopping da Gâvea. no Rio de
Entre 1960 e 1966, Dias Gomes viveu com os recursos advindos de Janeiro. com Marco Nanini como Od0<ico, direção de Enrique Diaz,
d ireitos autorais recebidos pelas adaptações para cinema e algumas adaptação de Guel Arraes e Oãucf10 Paiva. O Bem Amado recebeu
apresentações que se salvaram das garras da censura. Os anos
vãrias propostas para cinema. mas sõ em fevereiro de 2009 começaram
e sta vam cada vez mais duros, sob o governo Costa e Silva e, depois.
sob o rigor do Al-5. entllo as filmagens no estado de Alagoas. com dir~ de Guef Arraes.
Em 1964, cassado e censul'ado, Oia.s Gomes voltou-se inteiramente Transferiu para a televisão suas preocupações com os problemas sociai<
para o teatro. O Brasil era um pais Interditado, os partidos políticos dos btasíleiros. e escreveu as novelas: A Ponte dos Suspiros (1969),
estavam fechados. os centros de cultura desmantelados, as inteligências primei,a telenovela de Dias Gomes. com o pseudõnimo de Estela
26 Calderôn. Verão Vermelho (í969170), onde retratou a Bahia; Assim Na
expurgadas. Escreveu então O Santo Inquérito. Ambientada na Paraiba
de 1750, a peça tratava do Julgamento de uma jovem inocente que Terra Como No Céu (1970'71) - nessa data, sob o governo Mêdici, a
não se submete à Inquisição, defendendo até o fim a sua dignidade, censura atingiu todos os meios de comunicação de massa -; Bandeira
um personagem baseado em fatos reais, perfeito para falar â distância l (1971172), adaptada para o teatro corno O Rei de Ramos; em 1973 a
do que estava ocorrendo no momento no pais. Foi encenada pela telenovela O Bem Amado inaugurou as transmis>ôes a w,es para todo o
primeira vez no dia 23 de Setembro de 1966, no Teatro Jovem, no Rio Brasit em 1974175 escr"""" O Espigão, popularizando o termo ecologia,
de Janeiro, com direção de Ziembinsky, cenãrios e figurinos de Gianni preocupado com as questões referentes à esperulação imobiliária; em
Ratto e no e lenco Eva Wilma como Branca Dias e Rubens Correia como 1975, a telenovela Roque Santeiro, cujo titulo origir,al era A Famosa
História DelloqueSanteiroewaFogosa Viúv.l, aqueE~SemNun<a Ter
o Padre Bernardo. Sírio, que foi vitima da a,;ao da Censura r«leral r,a noite da estté.ia. Ao
grampear o telefone de Oias ~ a polioa interceptou uma conversa
Em 1968. escreveu O Túne l, peça não encenada por companhias entre o autor e o historiador- Nelson Wemeck: Sodré, a quem Dias Gomes
profissionais, o que se pode justificar pela observação que faz Anatai revetou.. ãs gargalhadas. ser a telenovela uma wn.ão disfarçada da pe,ç.a
Rosenfeld no artigo introdutório à obra de Dias Gomes sobre o O Berço do Herói, impugnada dez anos antes. A novela só foi ao ar
gênero da peça: O Túnel • uma espécie de esquete. particularmente em 198511986. Em 1976, escr"""" Saramandaia, para substituir a riov,,1a
aproptiado pata integrar o ptograma de um cabaré, litero·satirico proibida; mais tarde escreveu Sinal de Alerta, em 1978. Entre 1979 e
(coisa que, infelizmente, não existe no Brasil). Ainda em 1968. de 1984 escreveu a sinopse e os vmte primeiros capítulos de Manda/a. Em
parceria com Ferreira Gullar, escreveu Dr. Getúlio, sua Vida e sua 1990 escrweu a sinopse e os capitulas da no,....la Araponga, em co-
Glória. Buscava, como sempre, uma forma de faze r teatro brasileiro autoria com Feneira Gullar e Lauro Cesar Muniz.
para lidar com problemas brasileiros. Chegou â idêia da Escola de
Samba criando uma alegoria alusiva à situação polltica brasileira Ourante todos esses anos em que se dedkou a te-l.evisâo. Oias Gomes
durante a dit adura Vargas. A peça foi um sucesso, apesar da pressão não deixou de escrever para o teatro. De 196911970 foi a peça Vamos
dos militares para que o texto fosse alterado. Mas Dias Gomes não soltar os Demônios~ que só estreou no Srasil em 12 de Julho de 1984~
no teatro Santa Isabel, em Recife, com o novo titulo de Amor em Cdmpeóesdo Mundo em 1981. com cenários de José Dias e. no elenco.
Campo Minado, direção de Aderbal Freire Filho, cenáríos de Michel Leonardo Víllar, Ângela Leal e Fl.óvio Galvao.
Gant us e figurinos de ltala Nandi, que t ambém integrou o elenco ao
lado de Luls Mendonça e Paulo César Pereio. A peça já havia sido Em 1983, a 16 de novembro, mo<reu Janete Clair, companheira de
encenada na Alemanha em 1977. Dias Gomes du..rante 33 anos. Em 1984 casou,.se com Maria Bemadete,.
que lhe deu du.n filhas. Mayra, em 1S de dezembro de 1987, eluana,
Em 1977/1978 escreveu O Rei de Ramos, que é baseado na novela
em 27 de abril de 199L
Bandeira 2 (1971), que estreou em maio de 1979, no tea1ro João
Caetano, no Rio de Janeiro, com direção de Flávio Rangel, cenários de
Escreveu em 1986, Olho no Olho, e em 1988 esaeveu Meu Reino por
Gianni Ratto, figurinos de Kalma Murtinho e música de Chico Buarque
um Cavalo. encenada em 1989. no Teatro Nelson Rodrigues. no Rio
e Francis Hime; com Paulo Gracindo, Felipe Carone e grande elenco. O
Rei de Ramos foi adaptado para o cinema, em 1985, com o titulo de O de Janeiro, po, ocasiao das comemo,a,;ões dos seus cinqOenta anos
Rei do Rio, dirigido por Bruno Barreto. O Rei de Ramos nasceu de um de vida artistica. dirigKla por Antonio Mercado, cenários de José DiaSt
anseio d e f l~vio Rangel para um teatro musical brdsl!eiro, lembrança figurinos de Marie Louise Ne,y, músicas e trilha sonora de Guilherme
de antigas conversas com Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pon tes. Dias Gomes, com Paulo Goulart, Nicette Bruno e Ângela leal.
Lembra--se Dias Gomes:
Escreveu a polêmica minissêrie Decadênci~. Em 1990 terminou sua
Eles achavam que nós, autores que pretendiamos um teatro popular. autobiografia Dias Gomes - Apenas um Subversivo, o titulo saiu de
deYerlamos estudar a única forma de teatro popular que tivemos, a um f ~ do ex-GOVffnador Carlos la<.erda. que em 1965 foi contra a
revista, e usar sua forma de comunicação. Procurei lembrar das revistas liberaçJo da sua peça O Berço do Herói, origem de Roque Santeiro. Em
que vi na Praça Tiradenres, em seu esplendor, e pesquisar outri forma
de teatro musicado, que nós tambt§m tivemos, a burleta. A forma de 20 de março de 1998, em Paris, foi lanc;ado durante o Salão do Livro,
O Rei de Ramos li uma mistura desses dois gêneros. r, 28 a autobiografia, pela Editora Bertrand Brasil.
Em 1976, Dias foi convidado pela Peno State University (Pennsylvania, Em 11 abril de 1991, ocupou a cadeira número 21 da Academia Brasi-
EUA) para um seminário sobre sua obra, permanecendo nesta leira de Letras. na vaga de Adonias Filho, vindo a toma, posse em 16
universidade dez semanas como autor-em-residéncia, distinção de Julho de 1991.
concedida pela segunda vez a um escritor brasileiro - o primeiro foi
Jorge Amado. Na mesma universidade acompanhou a montagem da Afastou-w das telenovelas. concluiu que o gêner-o ~ desgastou. optou
peça O Berço do Herói, que na ocasi3o ainda estava proibida no Brasil. pelas minissêries. escreveu um romance. sem repercussão, Derrocada,
Esta pesa. dirigida por Manoel Duque f o i encenada especialmente na sobre a queda do regime socialista na União Soviética.
Penn State University para o Simpósio sobre Teatro Latino-Americano
que se realizava na época nesta universidade. Achava, ele, que a falta de criatividade na dramaturgia acentuara-se nos
anos 90, e que se tratava de cnse universal. abarcando anes, econom~
Ainda nos EUA começou a escrever a peça M;ssa para os Desafinados.
que permaneceu inacabada. Em 1977 escreveu As Pr,'mfcias, que politica, mora~ ética, em conuaposl(ào à pujame vitalidade da ciin<ía.
estreou em 1979, em Brasllla, com direção de Ricardo Torres; em 1978 propõs a casa de Criação Janete Clair. na TV Globo. para fomentar
escreveu Phallus e em 1979/1980, Campeões do Mundo, cuja primeira experimentações; entretanto o empreendimento só durou do,s anos.
vers3o chamava-se Heróica e traçava um painel de q uinze anos, 1964-
1979, tentando entender e explicar os erros e acertos da chamada Dias Gomes morreu em 18 de maio de 1999. E como disse o presidente
geraçao 68. Foi en,.,nada em 4 de novembro de 1980, no Teatro Villa da Academia Brasileira de Letra:t Arnaldo Niskier, l!ffl seu \l'elõt'to: Os
lobos. no Rio de Janeiro, sob a direção de Antônio Mercado, cenografia personagens Zé do Burro, Odorico Paraguaçu, Dona Redonda. Tucão,
de Marcos Flaksman, figurinos de Marcos Flaksman e Patrlcia Macruz Viúva Porcina e Sinhozinho Mam, da sua imensa galeria, e1()'!tam
e tema musical de Denise Emmer, com Leonardo Villar, Ângela l -eal agora pela chegada do SetJ autor ao céu_(...) A grande obra respondera
e Dennis carvalho no elenco; em São Paulo Antonio Mercado dirigiu pela sua PIHetlf,I imorta l entre nós. Oue f!le desc.anse em paz.
Uma Conclusão Necessária Dentro de<se quadro de produções O Bem Amado representa um
momento importante pelo fato de ter sofrido inúmeras adaptaÇões
Em toda a sua carreira, Dias Gomes continuou sempre tentando dar para linguagens diferentes. da cena t eatral ao seriado da televrsão,
vazão ao talento e à vontade de comunkar atravé-s do teatro suas num longo período de mais de lrínta anos. e por ter consagrado
idéias e emoções sobre o povo brasileiro. Mas, como numa batalha, Odorico Paraguaçu como a mais perleila caricatura de tudo o que
a cada movimento seu correspondeu uma ameaça do inimigo: desde Dias Gomes rejeitava..
o início de sua carreira foi um censurado prec0<e. Trans-feriu de uma
área para outra os conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida
profissional, adaptando os recursos de linguagem. Recordando uma
dessas passagens, desabafa ele:
Teatro, sintese, novela, anàlise; são dois processos opostos: um, mais
intelectui¼t outro, mais braçal. No cinema a imagem tem mais valor
que a palavra; no teatro, a palavra tem maís valor que a imagem. Ena
televisão, a telenovela tem que fazer um equilibrio entre a imagem e
a palavra.
A história do Dias Gomes dramaturgo caracteriza uma luta permanente
contra as pressões externas sobre sua obra da mesma censura que
cerceou os movímentos da imprensa. Em 1974, havia centenas de
peças proibidas no Brasil desde 1964. Entre 1972 e 1975. a censura
recrudesceu, baixando mais de duzentas interdições. Sô a partir
de 1975, com a chamada abertura democrática, foram lentamente
retirados os censores das redações dos jomais.
O personagem camalcõnico Odorico Paraguaçu, pr~feito matreiro, Eu também sabia para onde soprava o vento. O enorme sucesso do
sagaz e corrupto da ficticia cidade de Sucupira tem uma longa Pagador não só mudou radicalmente a filosofia de repertório do
históri a. Começou no teatro, nos anos 60, com o nome de Odorico TBC como também mudou a minha vida. Ap6s tantos equívocos, eu
Osório e, durante os quase 30 anos em que circulou junto ao público finalmente me encontrava.
nacional - derepentemente atê internacional - viu a sua biografia de
personagem sofrer diversas transformações. Os equívocos - o final infefa de sua história na Companhia de Procópio
ferreira e a iníusta demís~ da Rádio O<Jbe - podiam se< o,nsídera~
A h istó ria da peça Odorico, O Bem Amado espelha a prôpria história pelo menos temporanameote, .1guas pa,sadas. Para Fl.wio Rangel a vida
31
de seu autor: tantas vezes foi alterada, renomeada e interditada. também estaria mudada, pois o SUCes.'SO do Pagador lhe garantira um
como ele tantas vezes teve que mudar o rumo de sua vida, trocar lugar definitNo no TBC. Encomendou entoo um~ teXto a Oias Gomes.
de nome, sofrer persegui<;ões. cassa<;ões, interdi<;ões. Sô numa coisa
diferem com certeza criatura e criador: se no primeiro caso o cognome Te.ndo acabado de escrever o primeiro ato de Odorico, O Bem Amado
O Bem Amado indica ironicamente um simpático mau~c.araasta. como ou Os Minérios do Amor e da Morre, o dramaturgo o apresentou ao
diria Odorico na língua que o caracterizou na televisão, emboramente diretor, sem, no entanto, provocar nenhum entusiasmo. Terminou de
tendo seu nome gravado nos anais e menstruals da História de escrever a peça. mas também não gostou do resultado e engavetou-a.
Sucupira. o segundo identifica o escritor sério e competente que No entanto, o texto acabou sendo pubricado, a inda com aquele o
integra o quadro da dramaturgia nacional. titulo ongmal. na Revista Oáucha. que lhe pedira um conto para o
número do Natal de 1963.
Em 1962, Dias Gomes escreveu a peça chamada Odorico, O Bem Amado,
que, com o p,imeiro subtitulo Os Mistérios do Amor e da Morte, jamais tniciou-se então a vida pllbfica de Odorico. um bem amado que.,
chegou a ser encenada. Sua história faz parte do longo anedotário que segundo ve-.ão confirmada pelo autor, f oi grandemente inspirado na
cerca as criações de Dias Gomes. sempre int eressado em aproveitar figura do seu arqui-inimigo, o jornalista e deputado (ar10i ucerda,
pequenos fatos da vida cotidiana do homem brasileiro, sobretudo do de cujas in1tigas politícas f0ta vítim.> intensa em 1953, quando peróeu
interior do país, para fazer dele o núcleo de seus conflitos dramátkos. a direçJo artlstica da Rádio Oube e, doze anos depoós, em 1965,
quando u,ve a sua peça O Berço do Herói interditada em sua noite
A idéia para escrever a peça teve origem num fato que lhe foi contado de estr~ia. acusada pelo então Governador do Estado de ~, imotal e
por Nestor de Holanda. mas que se passara na verdade com o cantor subversiva. Aproposito átSSO, relembra Dias Gomes:
Jorge Goulart. quando e le estivera fazendo um show numa cidade do
interior do Espirita Santo. Contaram a ele que o prefeito se e legera Odorico era um UJcerda exagerado. Mas depois reesc,ev; a peça e
com a promessa de conslruir um cemitério para a cidade. o Lacerda jâ estava no ostracismo, cassado, na oposiçJo. enfim. por
baixo, então não faria mais nenhum sentido aquela sátira que eu fazia
dele. Trabalhei o personagem dai no sentido de mais um protótipo
de um político demagogo do ;nterior. Ele cresceu, se aprofundou
e se dístanciou do Lacerda: adquiriu uma paisagem maís ampla.
Desenvolvi um trabalho mais em cima do seu llnguafar, o que lhe deu
uma fisionomia muito mais forte.
Contada assim pare<:e que a trama funciona. No entanto, há passagens A terceira, Oukinéia. mantém com ele um <aso amoroso secreto, dupla
totalmente desnecessárías e amarrações bastan1e inverosslmeis. Por traiçaoao marido e funcionário da prefeitura. Dirceu 80<bok!ta, que tem
e,:empto. por mais v,aidoso e obstinado em sua suprema vaidade, por pelo p.,drinho e patrão uma grande estima, mas de quem recebe uma
mais injusto e tirano para com os funcionários, nào parece cabível a falsa consideração. O romance com Oukinéia cria um alicerce dramático
crueldade gratuita de tramar contra a correligionária Dudu, mesmo mais verossfmil à cilada que o prefeito arma para ela: momemos antes
que deseje fazer dela uma isca para prejudicar Maneco Pedreira. d~saber do próprio Oirct!u que era irmão oblaro, com voto de castidade
Outro exemplo, ainda em relação ao final da peça, apesar da solução e todo, voto este que mantinha mesmo depois do casamento. vira a
humorlstico-patêtica de fazer o feitiço virar contra o feiticeiro, expressão aflita de Dulcineia ao lhe falar sobre um rebate falso de
é inconsistente a versão oficial da morte, contada quase que em gravidez. terrível ameaça que se confirma no sexto quadro;
confissão por Cotinha ao Vigário: Pode dizer a eles que não fo i
suicfdio. mas acidente. A bafa. em vez de pegar no pé dele, pegou no 2. O quimo quadro. nesta última versão da peça. congrega as
pé da mesa, de metal, voltou e se alojou no coração. amarrações principais do segundo momento da ação: apos a tra~o
da correligionária. Mestre Ambrósio adentra a cena com outra
E.ssas imperfeições de um texto tomado na sua versao aínda imatura possibilidade de sal~ilo: traz o homem que vai dar a Effil ddade
foram totalmente corrigidas quando Dias Gomes escreveu a versão o que e1tá faltando a ela. como dit Odorko. Eu já esra,.. cans.>do
definitiva da peça, na ocasião em que fez a adap tação para a 41 de ~rar pel" morte do pnmo Ernesto. Decidi por em pr~tí<a um
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telenovela O Sem Amado. A possibilidade de vir a tran.s forma r a peça ou CIO plano. p.,ra o ca.so de1Je falhar. E determina, anegó<ico: O que
em telenovela pareceu criar oportunidade para uma completa revisão mandei buscar foi um fazedor d~ defuntos, z= Diabo, a quem f)f!de
no texto teatral, a lterando os núcleos secundários da ação, sem alterar insistentemente que não lhe cause outra d«eptude.
as duas motivações principais de Odorico, agora jti identificado como
Odorico Paraguaçu: a busca de um defunto para a inauguração do O plano ~ra eliminar Neco Pedreira. a pretexto de alguma reação mais
cemitério e a disputa acirrada com o arquiinimigo, conhecido então violenta da pane deste âs contas que Zeca Diabo o taria prestar sobre
pelo apelido, Ne<:o Pedreira, dono do jornal opositor, que de O Clarim depoimentos publicados em sua gazeta marronzista contra a honra
passa a se chamar A Trombeta. Retomando as passagens examinadas do prefeito. Nesta versão eUmina-.se, ponanto. o ponto mais fragil da
anteriormente em relação â peça Odorico, O bem amado ou Uma primeira trama. a cn.se conJugaJ de Odorico e Lenilda. personagem
obra do governo, teremos, na versão definitiva de O Bem Amado: que desaparece. fazendo com que a rivalidade entre Odorico e o
gazetista se restrinja mais ve-rossimífmente ao território político.
1. Mantém-se a vinda do primo, agora chamado Ernesto, e o romance ficando as conquistas amorosas por conta de Odorico;
que com ele mantém uma das irmãs, agora conhecidas como Oorotéia
(Cotinha), Judicéla (Popó) e Oulcinéia (Oudu). Ainda fãs ardorosas 3. O segundo plano também n3o surte efeito e. o que é píor, joga com
do prefeito. que à primeira destaca com ouiros consolos, apenas uma nova traição: o jagunço cai na lábia do pavfenro. Vira con1ra
sugeridos. como na cena em que chega-se a ela. insinuante, como diz o prefeíto a sua famosa má>úma de que em politic.,, os fina/mentes
a rubrica. a gente podia.. .; convite que ela recusa: N3o, Odorico! Hoje, Justioom os n.fo-obsQntes.
não!... É pecado...O primo está morrendo...
Entra então em jogo o mais sórdido dos planos. envenenar Dirceu
A segunda, Juju. e. ainda a solteirona desesperada, que não se cont~m Borboleta contra Oukinêia. desta vez.. pOíêm. com motivos que tornam
ao ver Ernesto moribundo: Que coisa, hein?... Um homem moço, a atitude de Odorico co«ente com a sua personalidade patológica_
jnteidnho ... desperdiçado. Os vermes vão comer. Mas que consegue Convencendo a Dirceu. num diálogo irritantemente hipôcrita. de
que sua mulher manteria uma ligação com Neco Pedreira, um crime certa neurra/iclade. Compreende. quando dois poderes se dig/adiam.
de dupla traição, comete ele mesmo a dupla traição, confirmada e o Executivo e o Judiáário. é prudente que a Igreja não tome partido.
acen tuad a pelo d iâlogo que mantém com Oorotêia, em que, pelo uma sábia posição. de acordo com a ética politica de Odorico.
contrário. afirmando que considera a suspeita desprocedente, cria um
álibi para si próprio. As montagens óo Teatro óe Amaclotes de Pernambuco, bem como
aquelas dirigidas por Gia.nni Ratto, no entanto. não foram baseadas
Essa trama aparentemente surte efeito. Dirceu assassina Oulcinéia e nesta versão. como se pode constatar atê. mesmo pelo confronto de
Sucupira teria enfim inaugurado seu cemítério nao tosse a lm poslçao datas, O Bem Amado, peça de teatro, em sua forma definitiva, não
de úl tima hora por parte da família, de ,emovel' seu corpo para o chegou a ser encenada até agora.
mausoléu da familia, no cemitério de Jaguatirica, conforme a vontade
do meu finado irm.Jo, pai da falecida .
Ficha técnica
Direção e cenários: Gianni Ratto
Assistente de direção: Alvim Barbosa
Produçao: Orlando Miranda
Musica: Elton Medeiros
Supervisão de figurinos: Tatiana Memória
Contra-regra: Nilson Rezende
e,ecução de cenários: lrimeu
Execução de figurinos:
Dolore s Paixão
Fotos: Carlos
Cartazes: Rubens Araújo
Publicidade: Publicidade Certa
Gerente: David Machado
Praça da ddadezmha de SUcupira (aamaJ. e Odorico e Ch;co Mofeza (abatl!'o) Odo,,,rQ (Procop,o f#!nr,r,., • Coe•"~ QrtKJtf'W OIP ~.,-J rw ~fe,bJr• iioKJm.lJ, • o
U ' ~ de S,...r,.;p,ra 'abatl"O
\
1
Acima, a pr-efe;rura de Sucvp,,a; e abaixo, ódorrc.o em campanha e/eiton,r t.emlda A(.,tt't.. ctOCap,Q. r""t>tV • Orla:ncb Mcr.2ndl e~- o~"",..,,"""'° p,,1o sul
(t~ld1J Crtrt1,l Odorr<o. />C()ó (Ma H~ltn" v~sc-o), Cotlnno e Oudu {Ruth Mttt<k)
""-
Em 18 de março de 1970 a peça estreava no Rio. no Teatro Gláucio Gil.
(ex-Teatro da Praça). A intenção de Orlando Miranda e Pedro Veiga
e ra de excursionar com a Companhia Efenco Sociedade de Teatro
pelo país e posteriormente embarcar com a peça para Portugal. Em
fins de março realmente a impr ensa noticiou a viagem de Orlando
Miranda para Lisboa. Mas o objetivo da viagem e ra ainda estudar a
proposta, junto ao Secretariado de Turismo e Informação do Governo
de Portugal. A idéia era viajar de outubro a dezembro, aproveitando
o sucesso de Procópio Ferreira nesse país. Mas ficou só na idéia.
Primeira Incursão Televisiva: TV Tupi ~ São Paulo Do elenco, participaram Roland Soldrin no papel de Odorko, Marisa
Sanchez interpretando lenilda. Oenir.a Mkhel como Cotinha, lourdes
de Moraes no pa~ de Popó e o atw órceme Juju, como Dirceu
Após o golpe militar de 64, chegou ocasionalmente às mãos de
Benjamim Cattan, então diretor e produtor do programa TV Vanguarda,
63 Bo,boleu, tendo Mario Potnponet como díretor de TV.
da TV Tupi de sao Paulo, um exemplar da Revista Cláudia, do Natal do
ano anterior, em cujo número especial saira publicada a peça de Dias
Transformações - A Nov._la - lV Globo
Gomes, Odorico, o Bem Amado - Os Mistérios do Amor e da Morte.
Benjamim cattan entusiasmou·se com a leitura e imediatamente
Arrebanhei minhas ~gens. minha temJtka, meu peqveno
solicitou à SBAT autorização para gravá-la em versão televisiva, no universo e como quem apenas muda de casa sem mudar de mobifiário.
programa que dirigia. Isso ocorreu em 12 de julho de 1964. procurei dar c011tinvidade a minhas experiêncías manejando vma
nova llnguagem, um noKl meio de ex.pressão.
Nesta mesma época, as Emissoras Assodadas estavam promovendo a
construção da chamada cidade colonial, num grande terreno baldio, Dias Gomes
onde hoje se localila o lbirapuera, projeto do cenógrafo lrênlo Maia,
para a realização de uma festança popular. Era a reproduçao perfeita Em 22 de íaneíro de 1973, foí ao ar, pela Rede Globo de Televi~o, o
de uma cidadezinha do interior, com piso de pedrinhas, igreja, coreto, primeiro capitulo da nowla O Bem Amado, adap,açãoda peça Odorico,
bandinha de música, roda g igante, carrocinha de pipoca, botequins, O Bem Amado ou Uma Obra do Governo. de Oías Gomes. sob a dír~o
maçã do amo,, e tudo mais. Durante meses a cidade colonial recebeu a de Rêgis C.rdoso. Na transposiçAo. realizada pelo próprio autor,
população, em festa permanente. Festa essa que acabou tempos mais houve um maror aprofundamento da temãtica e um ennquecimento
tarde, quando o exército achou por bem transformá -la em quartel. notável das personagens. sobretudo no que da respeito à linguagem
de Odoriro Paraguaçu, que recebeu en!Ão a carga de neologwnos,
Mas antes de cumprir esse destino, no periodo em que apenas abrigava que o imortalizou na boca do povo. Era a teKeira da série de novelas
festeiros, serviu de palco para as cenas de O Bem Amado. Benjamim que Dias Gomes escreveu e a primeira a ser transmitida a cores pela
Cattan aproveitou-a para gravar em videotape a peça de Dias Gomes. televisão brasileira. Alem ãJS.SO. com O Bem Amado abriu-se o mercado
Ajudava ..o a chegada das unidades móveis e portáteis da televisão, internacional para as produções de TV.
Em 19TT. a editora Belk. de Porto Alegre. reuniu em um volume a
peça teatTal que deu origem a noveta. ja com o titulo simplificado
de Odorico, O Bem Amado, ante<edída de uma curta novela lnerana
es<rita pefo pr6prío autor para ~ r de base J adaptaça<, para a 1V.
Essa sínopsepermitiu umexamedas vansfonnaçõessofridas pelo te>Cto,
não sõ enquanto enredo. aniculação das cenas e estabelecimento de
nudeos dramáticos mas. sobretudo. quanto à ampfiaç_ão do universo
humano composto agora por- mais de 40 personagens.
I
Paulo Gn>c,ndo, como OdorKo P~rJgu(}{v ()Olot,(oiP,hUOGtiiOndol. Dorocei.t h:»Gormf$., o ~ ~ f ' l ) f t j (. ao fl#'IOO.
Dinft., õorbo4tti1 (Fm-,Jiano ~
Refação de elenco Alguns aproveitamentos de personagens merecem destaque.: é o caso.
por e xemplo, do famo<0 Zeca Diabo, interpretado por Lima Duarte,
Personagem Ator cuja h1$16ria começou 30 anos antes como personagem-título de uma
Odorico Parag uaçu Paulo Gracindo das peças escritas por Dias Gomes em 1943. enquanto conuatadocomo
Dr.Juarez l eão Jardel Filho autor.fixo pela Companhia de Procópio Feneira. que interpretou o
Nezinho do jegue Wilson Aguiar papel de Zeca Diabo. Encenad.1 no Teatro Ovlcina, no Rio de Janeiro,
Donana Medrado Zilka Salaberry a peça abordava o problema do cangaço. Nada mais prop,cio do que
Joca Medrado Ferreira l eite aproveitar o perfil já corutituldodo jagunço para aplíc:á-loao jagunço.
Anita Medrado Dilma lóes delegado, que Lima Duarte consagrou depois., com sua memorável
Carlito Medrado D'Artagnan Mello interpretação na no111?la.
Coronel Medrado Rafael de Carvalho
A estrutura bâsica d a pef;a não foi modificada na sua transposiç.ão
Neco Pedreira Carlos E. Dolabella
para a televisão. Pelo contrário. a multipliàdade de cenas trabalhou
Gisa Portela Maria Cláudia
de forma mais convergeme para alimentar o nudeo central do
Jairo Portela Gra cindo Jr. trágico destino de Odorico; sua te imosia em obter um cadáver a
Teima Paraguaçu Sandra Bréa qua lquer pre_;ço para inaugura r o cemh:êrio e impedir a de rrocada
Cecéu Parag uaçu João Paulo Adour de seu prestigio político. teünosia que acaba lhe custando a p.rôpria
Chiquinha dos padre s Ruth de Souza vida, castigado fatalmente pelas consequências das ciladas que
Vigário Rogêrio Frôes tramou. t enta ndo d1iblar a sorte. os amigos e os inimigos - na
Maestro Sabiá Apolo Correia verdade foi efe o único conspirador maquiavelista. que os efeitos
Dirceu Borboleta Emiliano Q ueiróz de comicidade d a novela ridicularizam. Mas na sua para nóia ridJcula
Dulcinéia Oorinha Ouval 67 68 pareda qve tudo se armara contra ele, de tal modo que, tomo se lê
Doroteia Ida Gomes na sinopse:
Judicé ia Dirce Migliacdo
Hilário Cajazeira Álvaro Aguiar Odorico chegou J concl<Jsao ~ q~ todos conspiravam contra ele.
Zelão das asas Milton Gonçalves A ddade mte;rá. Era uma varta conspirata maquiavelista. rah.-ez com
Zeca Diabo lima Duarte ramff"KaÇões nacionais e in'temadonais. que estava em ru.rso para
Jussara Valêria Amar dpeá-./o da Prefeitura de SUc.upi.ra. com inreresses escusos. quiçá
Mestre Ambrósio Angelito Mello anfjpatrióôcos. E ele precisava desmantelar essa cornpiraçlo.
Mariana Teresa Costa
Eustórgio João C. Barroso Hã. pois_ três impulsos que se mantêm. do ptinápio ao fim da nove~
e que movem as ações e sustentam o perfil de Odorico:
Tião Moleza A.Carlos Ganzarolli
cabo Ananias Augusto Ollmpio 1. Denotar cancfidatos oposióonistas. alerta contra inímigos perma-
Seu Libório Arnaldo Weiss
nentes: a simpatia pelo Jegue do Nezinho e a àênoa do Dr. Lulu Gouveia;
Tia Zora Ana Ariel
Dermeval Juan Daniel 2. Construir o cemitérM>, cumprir a promessa eleitorei,a, e não
Porteiro do hotel Jorge Cãndido ina ugurá-lo po.- escanez defuntida. transforma em íni:migo.s. e/ou em
Nad inha Jorge Botelho uaidores circunstanciais. os que trabalham contra a produção de um
Mulher do Lib6rio Isolda Cresta defunto:. o cnêdico Or. Jua,ez carneiro. porque s;,lva os candidatos;
Dona Florzinha Suzy Anuda a cotreligioNria Juju, po,que trabalha pela cura do primo; Zeca
Segura nça de Odorico Eliezer Mota Dia bo. porque faz afiança com Neco Pedreira; a policia,, porque
Ernesto André Valli resolve homenagear o tenente morto. em Salvador; os ocultadores
anónimos do corpo da vitima do duelo entJ"e Medrados e cajazeira~
po, motivos ô ~ e. por ·fim. o pai de Outcinéi.a. pot querer enterrã-
la em Jaguatirica.
Enlace X Desenlace
ACJma Od011eo. o vig,rla (Ro9ff°t0 FrdeJ) ~ Tia Zora (Ana Ariel) t, abal.11:0. Odorteo e ;,
lílN Telmo (Sondro Breo)
70 l. Vinda do primo motibundo (.) Cura pelo Dr. Juarez
2. 1• ,u,cidio de Libó<io (·) Salvação po, pescadores
3. Proposta de aime a Zeca Diabo (·) Alian(a Zeca com Ne<o
4 . 1• v6o dez~ d;,s ª"" (·) Paralisia e ftustril(âo
S. Roubo das vacinas de tifo (·) Culpa de Ze<a l....a cura
6. Guem Caíazeira x Medrado (-l Sume cadáver Oermeval
7. 2* su,ddio de libó<io (·) Falha de meõt<amento
8. Falso atenu,do a Odorico (+) Morte gera cadáver
r
9. v6o de Zel~ d;,s asas (+)bitodo võo
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Situação > Consequênda fone que chegou a incolll()(!ar políticos de verdade. A manifesta910
irritada dodeputadoAJuisioParaguassu. doMDBgaúcho. êum exemplo
1. Chegada de Teima Interesse de Neéo/raiva de Anita típico. Declarou ele. em entrevista ao Jornal O GJobo, em fevereiro
2. Chegada de Dr.Juarez Interesse de Teima/raiva de Neco de 1973: A ímõgem é nosso rapíta/. Como a novela ..em alcançando
3. Rixa Caja2eira x Medrado acentuação rixa Neco x Odorico altos fndkes de audiência, tenho razões para estai preocupado
4. Chegada de Zeca Diabo leitura com D. Doró com a pos:sib1fidade de os eleitores me confundirem com o OdorKo.
5. Chegada de Gisa e Jairo Paixão de Odorico e ganho Cecéu
6. Perseg. Zeca/morte tenente Prislio de Zeca e fuga Eustórgio Na verdade, durante a ap,e.sentaÇão de seus 178 capítulos. a novela
7. Visita de D. Doró á prisão Instrumento de fuga de Zeca manteve um índice de audiência de68%, o que, na época, representava
8. Desaparecimento de cadáver Espíonagem no confessionãrio um univefso de 30 milhões de espectadores em todo o pais, fato
9. Revelaçao de segredo lmpeachment de Odorico inusitado inclusive por ocorrer no horário das 22 hori1$. ainda inédito
Desespero de Dirceu Assassinato de Dulcinéia para novelas. Pelo sucesso de púbíKO e critica, pelo satdo de ptêffljos
1O. Descoberta fita gravação Desmascaramento Odorico de melhor at.or do ano para Paulo Gracindo e de revelação do ano
11 . Zeca pode ler a noticia Falso atentado vira vingança para Lima Duarte, como Zeca Diabo, afirmou Rêgis C.-.rdoso, em 1975:
12. Corpo de Odorico Inauguração cemitério por Pra mim. O Bem Amado foi uma das reaUzaç_ões mais marcantes da
advers.ãrío político televisão brcuileira. E dirigir essa novela foi a coisa mais importmte
Qt.H! aconteceu na minha caffeira. Tratava-se de uma experiência
pioneirisslma., aquela de fazer a primeira nove-la em cores no Brasil
Portanto, se na peça a ação aparecia recortada num contexto apenas Lem~me do grande cuidado que tfnlwmos com o equ,pamento
indicado, interrompida num momenlo que anunde a aproximação recém-importad-0, estávamos sempre p,ocurar>do angulaçoe. que mo
do climax, pois que o teatro ê arte de síntese. na novela o caminho forçassem o material que estrdvamo>. Por causa dÍ$SO, reporíamos
foi inverso. Foi preciso dividir, espichar, desdobrar, analisar. As
74 inúmeras vezes as mesm.» cenas. Pon s6 tra~lhar>do é que
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diferentes peripécias reforçaram o humor e a ironia para que. pelo desoobrfamos o que er., ou ~ posslvel de fazer com o equipamento.
final moralizante, o feitiço virasse contra o feiticeiro. Foi um esforço fflOrme: ~ procurar>do a perfelçAo té<nica, o Di.ts
Go~ bu:Jcando um.! nova linguag~m para a tel~novela
Produzir a novela não foi fácil. O trabalho era árduo. As dificuldades
advinham naosódo fato de ser a primeira novela a cores. como também O final da exibk;ão marcou uma llOVa etapa, decomerdalização ext.erior.
por estarem trabalhando com urn equipamento todo novo, o que fez abrindo as portas do mercado de além-fronteiras para .a produção
com que a equipe técnica trabalhasse dobrado, tanto nas externas, em nacionat Mesmo em reJação â Americ.a Latina isso representou a
Sepetiba, cidade do litoral do Rio de Janeiro. como nos estúdios, no superação de uma tríplice barrem,: a da língua. a da floresta equatorial
bairro do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro. Exigla·s~ uma e a da cordilheira dos Andes - que, dividindo a América do SU1 em duas
qualidade especial do desempenho da cenografia e também do elenco. metades., aia dois mundos de costas um para o outro~ uma metade
O trabalho foi ficando muito exaustivo, algumas cenas repetidas várias voltada para o Atlântico, a outra voltada para o Pacífico. Mas com
vetes, até que os resultados fossem considerados compatíveis com o o sucesso de O Bem Amad-0, a Rede Globo con...guiu romper essa
padrão exigido pela transmissão a cores. Paulo Gracindo conta que bloqueios naturais, e estabelecer entendimEfltOS comeKiaís com
certa feita ameaçou abandonar as gravações: Cheguei na direçJo da quase todos os pais<?> da América do Sul, atingindo inclusive o México
Globo com um arestado nas mãos e fui avisando: se vocês não me e, a Argentina, dois trad'icionats cem.tos produt0<es e distribvidorff
derem uma licef){4. atendendo a este atestado, em breve receberão de programas para as televisões lalino-americanas, cujos monopólios
OU[rO, só que de óbito, pois vou morrer de exaustão. foram óefinitivamente quebrados. Os povos de língua castelhana
tNe<am oponunidade de conviver diariamente com os tipos e situac;ões
Então, botando de lado os entretanto, e partindo para os fina lmente, autenticamente brasileiros. P.ara isso. os 178 capítulos originais foram
e.orno diria Odori<;o, os pioneiros no sistema a cores começaram a colher transformados em 223. porque o tempo de cada um teria que ser
os sucessos, a novela invadindo a vida dos brasileiros, as odoriquic.es meflOf'. ls'to sem falar nas exponações que se S\Jcederam, atingindo
incorporando~se ao linguajar nacional. Odorico criou uma imagem tão um total de 30 países. inclusive os Estados Unidos.
Dr. J(),lf~~ tt'Jo U-t1di)/ Filho) t M,t,;, M('dqd,o (OJlm., Lóes) i(lffli. ft Zcld<> d~ ASf.J T~m., ts.,ndr• BrH) • NM/rr.t'O (.lotg,it lo:wfto) - ~ · (lt,qc.,.,n~ t~ff"I C~ ~
(Mlfto.n GO{alve:,) .,b,o,,,o Me'ftnr,Atr.btosio CAnge,1tollkllol <! Zef.odasA.wsfM 100 G~ab1im
Judi<ela e Tiil Z~ (Ana AríeJJ, aama, e locaçJo n,a praia de Sepit1t», a~lxo
;-- =--
-~- -
--
Jud1ce,;, e Tía Zora (Ana Arlel), acim.J, e focaç.io ri~ praia df! Sep111ba. .abJ1Ko
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Capítulo VI Cnicialmente. eu tinha dUvidas quanto â validMie ou não de W>ltar
As Oesconjunturas Seriadistas: O Bem Amado Seriado ao tema da nov.ela4 Pe.nsava se. justamen te por t er escrito 180
capitu-Jos. não seria difkil continuar com o mesmo interesse. Afina/1 a
novela passou três vezes e, o mais engraçado. em tempos que foram
O Brasil é o país que desmoraliza o absurdo, porque o absurdoacontece. diminuindo. Primeiro inteira, depois no compacto~ finalmente em 1
hon,s. (Agori1, ela volta com SO mmutos. Qualquer di,, desses ela vai
Dias Gomes ser apresentada em um i ntervalo comerdalJ Mas. como eu ia dizendo,
quando comecei a esuever o seriado, tornou-se reJawame,,te t.kil
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delegada permanece mulher porque fica uma coisa mais interessante.
1
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=.=:.. poder polk,al local. Optei também por manter as três solteirona$. par
ser eng~ e dar maiores po$$1"bil,dades de exploraçJo cómic;,.
Como Dukinéia tinha morrido - e res.suscftar mais uma pessoa ia ser
demais - foi cridda a D. Zu/eic~ ou D. Zuzinha, prima das Cajaz~ras.
Pf;mta da Socuoira ccnografica. J;j cm Guarat1ba Ela i um pouc.o maiJ beata que as outras.. ~ formação mais tfg.ida,
chegando a ser noviça. Mas entra na linha com Odor;co. jã no primeiro
episódio. A quase obrigação de entrarem todos os petSOnagens fixos
em cada episódio não dif'K.Ulta o trabalho porque não Seio contadas
histórias de Odorico ou de Zeca o;abo. Não são problemas existenciais A transitória morte de Odorico, na novela, não lhe dimjnuiu as virtudes
de personagens ou incidentes particulares que possam ficar restritos a dramáticas. A ressurreição cuidou de aprimorar-lhe o saba< de a Jgumas
uma familia. Essa ê a dlferença básica deste para os demais seriados. caracte risbcas de corpo, alma. e de linguajar. Seus neologismos foram
Quando desce um disco- voador na cidade, ou quando Wa/dick Sariano incorporados à fala cotidiana de todas as regiões bcasíleiras como
vai cantar no Sucupiráo, a cidade lntelra pardcipa. uma novidade signíf,cativa. O Coronel Odorico Paraguaçu, prefeito de
Sucupira, personagem tão im.ensame:nte vivido por Pauto Gracindo~
Da mesma forma houve substjtuição no elenco: em sua postura de politico do int erior cuja mai°' preocupação era
falar corre tamente e dMlcil. acabou levando o a utor- a inventar uma
Elenco sucessão de neologismos. que passam a ide ntificá--lo como uma marca:
Personagem Ator registrada. Comenta Dias Gomes em uma entrevis1a para o Correio
Odorico Paulo Gracindo Brasiliense, de 31 de agosto de 1980:
Zeca Diabo Lima Duarte
Dirceu Borboleta Emiliano Queiróz Um ficcionista deve andar com as antenas sempr e ligadas. Um diiJy
Doroteia Cajazeira Ida Gomes num balcão d e um banco. escutei alguem dizer: Por ora.mente. não.
Judicéia Cajazeira Dirce Mig liaccio Também houve um candídato a deputado que. num comido em prõ(a
Zuteica Cajazeira Kleber Macedo pública (bons tempos dos com/dos._) inkiotl seu disc_urso afirmando:
Lulu Gouveia l utero luiz Meu povo, vim de braJ'l(o para se, mais claro. E houve um vereador na
Neco Pedreira Carlos Eduardo Dolabella anri,p Gaiola de Ouro do Rio de Janeiro que, querendo apaziguar os
Delegada Chica Bandeira Yara Cortes ânimos exahados de seus pares. disse.: Tolerância, minha gent e.. esta
Jussara Valério Amar é uma casa de t olerância.~. Como você W? hã Odoricos por toe/d parte~
Tuca Medrado Fátima Freire
Vigário Rogério Fr6es O sentimento de todos. elenco e equipe, com relaçl!o ~ retomada
89 ~ uma história que. e-mbora distante no 1empo.. permane<ia viva.,
D. Pepito Juan Daniel
Nezinho do jegue Wilson Aguiar esperando a penas o melhor momento para vottar à ativa · num bote
Tião Moleza António Ganzarolli digno dos gra ndes pollticos. e que pegou de surpresa a todos os que ja
Cabo Ananias Diogo Vilella se referiam àquela peque na cidade mmo coisa do passado· é lembrado
Maestro Sabi Apolo Correia por Paulo Graàndo; A impressão era de que voltávamos a uma ádade
onde jJ tínhamos vivido. O. habrtantes eram todos nosso, am,gos.
Durante todo o período de cinco anos do seriado esse elenco 00$$0$ conhecidos. EntJo, Come(amOS a olhar uns para os 0<1tr~ na
permaneceu o mesmo, com algumas exceções, como, por exemplo, pc,lc, dos me,mc,s pc,rsonagc,ns., " ãlZlamos: Parece que foi ontem_ De
no ano de 1984, Bebei, filha de Odorico, que antes havia sido repente, o intervalo de sete anos f,cou reduzido a um espaço de... uma
interpretada por Sandra Bréa, ficou a cargo de Ângela leal. Entraram semana. Não houve interrupção de tempo. Nós olhávamos as casas dos
também, no mesmo ano, Felipe Carone, interpretando Salim Pipoca. perwnagens e nos sentíamos em casa outra vez.
um banqueiro de jogo de bicho empenhado nas artes do jorna1ismo.
e o ator Grande Otelo encarnando seu cô mico assistente. O Boletim
d e Programaçao da Globo, de abril de 1982, cita ainda a presença
de Zé Preá, como maestro, LtJls Vasconce llos, como rádio-repó rter,
Antônio Nunes, como vice--prefeito, Suma ra Louise , como Cremilda,
Claudioney Penedo, como Caboré, Fálima Ribeiro, como Juraciara e
Auriceia Araújo, como a mãezinha d& Zeca Diabo, todos estes listados
como fazendo parte do elenco fixo previsto para aquele ano.
Em do is meses estava preparada aquela Sucupira que serviria d e A pacata cidade, que durante todo o ano de 1980seofe,e<euao Brasil
cenário principal para a s g ravações do seriado O Bem Amado. No final como pako dessa gostosa e contundente sátira da nossa reaíldad<?,
do ano de 1980 e-stava pronto o projeto da cidade cenográfica, a ser também p6de se considerar homenageada, quando O Bem Amado
localizada em Barra d e Guaratiba, obra de uma equipe de cenógrafos recebeu da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o prêmio
da Rede Globo de Televisao . Mas o alto custo da produçao lnvlab ílízou de M elhor >ên,,-televisao do ano. o sucew, fez rom que a Rede
a construção e montagem da cidade, como fora previsto . As g ravações Globo resolves.se manter o seriado no a no seguinte. ao mesmo tempo
do seriado permaneceram sendo i e it a s em Sepetiba até sua mudança em que outros seriados mergulhavam e.m crises de roteiristas.. Dias
definit iva para Macaé, em 1984. Gomes pese.ava roteiros: de sobra. inspirado. na maioria das vezes. no
fano mat erial fornecido pela cena polrrica nacional. Segundo Oaniel
Para que Sepetiba pudesse se t omar a cida de ce nográ fica desejada, Filho. na êpocã dirigente artístico d a 1V Globo: Os seriados foram
através de suas locações maquiadas, construções e montagens de definhando e s6 restO<J O Bem Amacio. que é o mais bem estroturado,
outros cenários necessários ao seriado, a d ivisao de cenografia da e tem um autor como o Dias Gomes.
Rede Globo possuía uma infra-estrutura que p€'rmitia viabilizar o
Comentando o p,imeiro ano de éJCib~o do seriado, em palavras
desenvolvime nto da produção cenog ráfica. não só das externas. como
que confirmam o sucesso da série, Artur da Távola considerou O Bem
dos ce nâríos de cenas internas. A cidade, como se viu no capítulo
Amado o mais importante p«>9rama re<;u/ar nk apenas d<> Rede
anterior, servira para a locatão das cenas externas da novela e, 97
Globo, como d<> relewsJo brasileira em 1980. Econtinuava:
passados sete a nos, volt ava a ser palco da mesma Sucupira sob o novo
enfoque do seriado. A paisagem urbana original pouco se modificara , A sátira bem t:onduzida é gêneto dirldlimo, parti<.uldrm..n~ numa
sofrendo apenas algumas adaptações para ser u,racterizada com os
celevisJo como a brasileira, pouco habituada a sutilezas,, em tndtêria
elementos simbó licos de uma região nordestina. Sua população íá
de humor4 Parece que os anos de restriçJo e censura eminara,n..nos
estava a costumada, convivia nat ura lmente com os artist as e ainda se a trabalhar mais sobre os meio-tons do que sobre uma demdrcaçáo
beneficiava dessa presença, descolando u m cachezinho de figurante óbvia, decodificõda âs esc.ãnc.ar.n, como ocorre na imensa maioria
sempre q ue necessário. Se o Brasil no período so freu uma no tável dos programas de humor Hâ outro ponto fundamenra/ ao
infl uência indireta com a presença constante de O Bem Amado em aprofundamento da rmponânc,a d e O Bem Amado: não é obra
suas vidas - o que d izer de Sepet iba? Seus habitantes. d urante mais sectária. onde se perceba o proselitismo dire to das idéias do autor.
d e uma década. passaram pela int eressant e experiência de serem um Claro que elas ertao presente~ como uma v/s;Jo de mundo. mas hoje
misto de pessoas civis e perso nagens de ficção. ele parece viver uma etapa madura da vida. na qual mantém a sua
~o de mundo, porém nk mais se i/ud,; nem com os homem nem
A produção alugou uma casa, na Rua dos Pescadores para melhor com as utopia$ ligadas às próprias idéias. Dias Gomes em O 8em
opera cio nalizar suas tarefas de g ravações e localização de parte do Amado jà te>e oporrunidade de saúrizar in,;lusive as vadlaçóes,
elenco, guarda-roupa e para facilitar a coord enaçllo. Neste local os confus/Ses e di1«:uldades tanto conceituais como de aç.Jo polítka da
atores decoravam seus text os, tomavam água e cafezinho, troca vam d e própria esquerdd brasileira à qual penen<e na condiç.Jo de homem
roupa e faziam a maquiagem. A paz e t ra nq uilidade dos sucupiranos que se- coloca a luta ~la justi~ soda/ como prioritâria.
só era quebrada quando Levi Ribeiro Salgado, produtor de cinema
e dono d e uma agência de figuração, fazia a seleçao dos fig urantes, Os radia/ismos de certos segmentos d<> esquerda; o burocraâsmo de
obviamente ent re os habitant es locais, por possuírem o t ipo físico ouuos,~o hiperverbalismo e as reonzações interminãveis diante de um.a
a dequado para a composição humana da cidade de Sucupira . prática politi<a que se afasta do povo, tudo isso que faz parte do cortejo
de dificuldades reais tanto da esquerdõ brasíleira como do Oriente
inteiro e já apareceu em passagMS e episó<I',or de o Bem Amado. A
mesma critica se dirige implacável aos ncideos e segmentos rea<ionários
e retrógrados do f)Oderecon6mko do Brasil, particularmente os ligados
aos setores menor diversit"IGl<lor e modernizados. os do latífúnã,o.
Dirige-se igualmente ã air/c;a, à 0/)0Jiçl<} poliríca brasileira, com suas
dnns6es intemas, os ~/ismos a<:iqvistar e a dificuldade de falar
uma linguagem comum e de se unir. E se dirige finalmente às formar
pelar quais o ~ r , utilizado no pais em gH/11, como &pressão de
uma interferenéa ex,.gerada do estado de vida p.,rticular e económka,
tudo em nome do libelalismo político.
Anur da Tãvola4 em sua acurada visão. dpontava com muita
prOj)riedade, as duas principais características desse trabalho de Dias
Gomes, pelos quais o autor pagava caro tendo que suportar uma
aàrrada vi-gilã.nàa do governo: a acolhida que recebia do publico e o
Vista do t:tuarto das Cajazeira
distanciamento exato. que o permitia enxergar no Brasil o ponto em
que poderia ser virado pelo aYeSSO e satmzado auavês do humor. sem
perder a contundencia critica.
No dia 2 1 de abril de 1981, t erça·feira, às 21h10, entrava no ar o
seriado O Bem Amado em seu segundo ano, com visual mais bonit o
e externas adequadas, contando com a colaboração de Oswaldo
.,.,.
loureiro, que repartia a direção com Régis Cardoso. Neste ano de
1981 a lguns atores foram substituídos. enquanto outros ingressam no
elenco fixo da série, interpretando os novos personagens criados: Luiz
Magnelli, Claudioney Penedo, Angelito Mello, Antonio Ismael, Antonio
•
Nunes, Sumara Louise, 8eth castro. A ficha técnica também mudava.
Na cenografia, saia l(ênio Maia, que havia sido o (esponsável pelos
cenários em 1980, substituído por Fernando Camargo, neste segundo
ano da série. Por consegui nte, o visual do seriado sofreu alterações,
conforme percebemos atraves dessas palavras de Régis Cardoso:
Com tudo isso, O Bem Amado foi atravessando o periodo com mu;t o
sacrifício, pois os capltulos eram picotados sem piedade. Mas foi no
episódio A Grande Entrevista que a Censura mais cortou. mostrando
que o que se vem fazendo nos seriados não se dâ bem por conta
de moral e bons costumes. mas tão somente com objetivos políticos.
como assinalou o autor, Dias Gomes. em reportagem do Jornal do
Brasil. Que assim continuava: Entre os cortes d-este episódio- a Censura
manda a notificação somente na segunda-feira à noite, obrigando a
dire(/io a fazer uma nova edlç/io durante a noite- encontram-se o do
milagreiro Facó (Paulo Goulart) conversando com Odorico: N~o foi o
$enhor quem fez o famoso milagre brasileiro?... -Não, foí outro, um Aar°"l'I..COf1:M.li':óriOdtttw~com~~Otk.1&>ncM~ ... ~ ( W M , w ,
103 '9"'JifondPw"f'.. ~ritTe"~ Odorlcu r... Zv. ... rerl'li!. ernpnm,!iro,-r,G
gordo. A expressJo um gordo foi cortada do programa. Também a
respost.i de Tuca (Fátima Freire) a Neco (Carlos Eduardo Dolabella):
Nunca imaginei que essa besteira fosse acabar provocando essa
romaria. Esse povo também acredita em tudo. Ao contrário, eu acho
que e um povo tão infeliz, tão desiludido, que não acredita mais em
nada, sô em m ilagre. Toda esta resposta foi cortada.
Programas Espectadores
Rio de Janeiro São Paulo
O Bem Amado 3271.710 4.023.085
Amizade Colorida 3355.600 4.212.080
Plantão de Po/fda 1.963.025 3.807.080
Obrigado Douror 2.239.860 2- 160.045
e
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.,.:
.... ,
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.....:~&11··1
·:~---···
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······--- !
·--::=::.-::::
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semana seguinte. A mudança de horário já estava prevista - fizemos
uma experiência no ano passado com dois programas plenamente
al)fovados pelo IBOPf.
Bem, vamos passar uma borracha nesses entretantos. Municiado de rodas as tolerfit><ias e de rod;,s as boas vontades.
Botando de lado os entre tantos e partindo pros fina/mentes. Botando M utatís -quase· mutanárs.
de lado os ora-veja e os não-me-digas, Botando de lado os ora-veja
137 138
e os virgem-santissima. Botando de lado uns principalmentes e uns Nadando de braçadas no mar d;u eriforias.
sobretudos. Botar de lado os perfunctórios e parti r pruns concretismos.
Não ouvi, não olhei. não cheirei. nem apõ/pei.
Botando verdade pelo ladrão.
Não quero que o cabrito morra Mm que a onça passe fome.
Cc1lma. seu Di rceu, calma... Todo mundo tem direi to de querer ;r, mas
somentemen te eu tenho o direi to de decidir quem vai. Ê o que se N4o acho, ao contrário, desacho. Su<upfra tem mais de oitenta mil
chama cenualismo democrá tico.
habitantes. Se apenJS.tnente dez mil foram ao com/cio, setenta mil
ficaram em casa em sinal de protesto: ipso facto. a maioria esmaga Veia.
Camelô só com crachá. Mande ver se está todo mundo escrachado.
contra a autonomia.
Cara de dona-mariquinha-cadé-c,.frade...
N~ obstantemente rodos esses considerandos. ~ , o que a policia
Carecemos de ter umiJ confabulJncia concernentemente a umil cumpra o seu dever. evitandocanhoas;mos. uchacismos e bademismos..
problemática conrraventista.
No sofá com a ~~tária. fazendo sofadku ..
Como diziam os napolitanos quando fa lavam latim, "pacta sunt
servanda ", os contratos devem ser cumpridos. Mucatis ligeiramente Noves-fora roda esta zoada que a oposiçfio anda fazendo. eua
mutandis, jâ no próximo mês seguirá para a Itália uma delegação de problemática vai ter a sua soludonâtica. na Cámara M unicipal
Sucupiranos, nl o somentemente para retribuir a visita, como para
arrochar o nó def;nitiva entre duas cidades que agor a passam a ser O que vale nJo é acumular anos no cempo. tndS acumular t~mpo
irmãs: Nápoles e Sucupira. nos anos.••
O fato é que com Pipoca na Prefeitura. Sucupira vai virar um grande Vocabulário de Ze<a Diabo
cassino. uma cidade jogatida e pecaminosa talqualmente Sodoma
e Gomorra. A
adivinhando chwa
Pens.,r no qve-fazer-minha-mãe-do-cév... afanar
almamane,a
Primeiro que tudo queria que a senhora Delegada mandasse fazer almas penadas
uma revistagem no meu gabinete; segundo que tudo... amolengar
arwJ~~ virar. me~
Quando o diabo descansa abana as moscas com o rabo.. . antes fanhoso q~ sem nar,z
apartar
Repousam em berço esplendido dentro do meu ,oração... aperrear. aperreado
apoquentar. apoquént~o
Saindo dos prolegômenos e entrando nos epilogismos ... arapuca
ardiloso
Se é para a fel/cidade geral de Svcuplra, sê-lo-ei... aneg~o
arreliar, arreliado
Se ela dá de tvdo, por que não dá petróleo ... arretado
arribar
Sempre me entendl com Deus, sem necessldade de atravessadores. assuntar
D M
desandanças mandurebõ (ca<haça de segunda)
descc1snar (aprender um pouco) marmero (vaquei,-o velho)
desassuntado (insolente) mas-mas (conve,sa f',ada)
desavergonhamento maul.1 (doença)
desbotar (arrancar os bofes) miceis (vossas mercês), vosmic.eis
desconsumissão munzu (cesto para peixes)
descontramantelo (ruina total)
descontratempo (azar) P/Q
desencalmado pautificante (chato)
desgramado (desgraçado) pe-re-pe-pe-,po-rerpo-po (et~etc)
desmiolar, desmiolamento pich,lingue (desimportante)
desprecatado porreta (bacana)
destá (deixa estar) quenga (mulher à toa)
destabacado (desbocado) quengo (pescoço)
E RIS
embatuear (cismar) 141 142 relampejar
empacar r<>ião
enfonar (faltar a compromisso) ruana (marrom)
entupigaitar (empanturrar•s.e) safo (esperto)
esbagaçado (arrebentado) sarapanto, sarapantado (espanto)
esbagaçar (destruir, virar bagaç.o) sus,ança (substância)
esbilotado (amalucado)
escabriado(encabutado) TN
escafeder(fugir) te-re-te--tê; te--re-te--~ê
essa menina(o) (modo de chamar uma moça) tempão de 0..us (muito tempo)
es1oporar(explodlr) tempo de muito chocalho e pouco pescoço (pobreza)
tempo de muito rasto e pouco pastO (s«a)
F
tempo de quetai (de paz)
falta de um grito se perde uma boiada (por)
lato (tripas) terra de 5"po, de cocra com"'" (em)
tribulilyl<> (atribulilyl<>)
febre perdedera (paixão forte)
véia da foice (morte)
fedelho
fidumaégva, fidumajega
fifó (candeeiro) z
filho duma cancela batedeira
zoado (tonto)
filho duma que ronca e fuça zoró (aborrecido)
fiofó (rabo)
forro do mundo (céu)
Capítulo IX
E Chegando aos Finalmente
A Importância da Cenografia
Por outro lado, a cenografia não pode e nem de~e ser a vedete do
espetâculo. Mas deve. isto sim_ buscar atender às exigências da~ª~
â proposta da direção: aiar uma linguagem para o espetáculo. O
cenário não pode ser desenhado apenas para agradar aos olhos do
espectador e muito menos para satisfazer a vaidade do cenografo.
O grande artista Santa Rosa (Paraíba, 1909 - Nova Dellri, 1956) bnha
palavras muito duras para este tipo de trabalho vazio:
Por isso nunca é demais frisar que cenografia não é decoração. nem
composit;ão de interiores; cenografia não é pintura. nem escultura:
é uma arte integrada.. Nunca e, demaís repetir que cenograf*Ja é a
composição resultante de um conjunto de cores. luz. forma. linhas
e volumei. equilibrados e harmónicos em seu todo. e que criam
movimentos e contrastes. Cenografia é um elem,ento do espe(ãculo
- ela ~ constitui um fim em si. Portanto, o resultado do trabalho
de cenografia passa pelo dilkil exerckio de ser uma arte • serviço
de. como disse bem Aldo úlvo. A arte d@ interprer.ar o texto visual
e cenotecnicamenter respeitando e sohxion.a.ndo todo o criterio de
marcação, criando uma forma de encantamento num perlodo WftD e
rãp;do. para que as cenas possam se desenvolver dentro do espaço que
ela propõe tirando partido dos materiais cênicos que ela promove. Na
verdade e o cenógrafo quem, a prindpio. determina a área de ação. O êxito do ceoôgrafo não depende apenas de um bom texto, de
não o diretor. Porque ê com o espaço criado pelo cenôgrafo que fica uma boa proposta da direção ou de uma inspiração genial. mas de
estabelecida a área Util do trabalho do diretor. dentro da qual ele todos estes fatores.. Se os pnmelfos, o t exto e a d ireção. como fatores
fará as marcações. extem°" depeodem às Yel!es de sorte. de oportunidade, os fatores
internos, a inspi~o e a capacidade do artista, dependem do talento
Percebe-se. então, que há sempre uma contrapartida neste trabalho e da fomiação profimonat da chamada alma de artlsta b<>m como
entre o diretor e o cenógrafo, para que tudo caminhe ern harmonia de paciência e calma para desenvolvê-la. Condições que às vezes
e. se crie uma certa in·terdependência: se a cenografia funciona requerem solidao e recolhimento, fatores em geral estranhos ao
basicamente como material de apeio para • dire<;3o, por ou1ro lado movimentado mvndo do teatro.
cabe ao diretor dar funç:lo às formas criadas pelo cenógrafo. Sobre
este pcnto. interessante ouvir o que tem a dizer Gianni Ratto(l916), Pacíência também é qualidade neces$ária para que o cenógrafo
com sua experiência polivalente de teatro: desenvolva o trabalho lento e consciencioso de busca:r a melhor e
ma.is adequada solução para cada movimento. sem esquecer o menor
Não me interessa mais fazer a direção pela direção e a cenografia pela detalhe. Porque num pequeno detalhe pode e<rar contido o segredo
cenografia. Eu faço, tanto uma coisa quanto outra. numa visão integrada. de um espetáculo. Por exemplo: as entradas e saldas dos atores podem
mudar o ritmo de uma cena; e não seria exagero dizer que o ritmo do
Só assim pode..se ter certeza de não se estar criando um mero pano de espetáculo começa com o desenho do cenário.
fundo, ou um simples elemento decorativo, mas o cenário desejável -
um aparato para a cena. Trabalhando com um cenário criado dentro Se acompanharmos a histõna da cenografia veremos que. dos seus
deste espírito, seja ele realista, naturalista ou fo rmalista, a direção primórdios até hoje. ela vem adquirindo um desenvolvimento técnico
pode tirar o melhor partido de seus e lementos e das área.s de força e uma qualidade artística notáve~ com uma séria dificuldade, no
delimitadas e determinadas pelo cenógrafo, q~e Funcionarão também entanto. que mar(a $ua diferença para as: ouuas artes ptãsticas; a sua
1S5 t56
como estímulos para o ator. Assim o cenário cria um conjunto visual terr'rvel contingência. A cenografia é arte do momen10 e se desfaz
harmonioso. equilibrado e proporcional à dinâmica do conjunto, como po, encanto na hora em que o espetâ<ulo saí de cartaz. Aliás.,
permitindo ao diretor maiotes possibilidades de marcaç.ão dos como tudo que diz respeito apenas ao esp,etclc:ulo, satvo o texto.
movimentos da ação.
Vencer este desafio exige um ouuo trabalho, raramente feito,
A questão do estilo é outro aspecto do process.o criador. Envolve as sobretudo no Brasd - o trabalho de registro, de arquiYo, de
linhas mestras da proposta da direção. bem como a formação cultural. preservação da memória. Mas. ao contrário do desejado. o que
a sensibilidade e o talento do cenógrafo. A esse respeito, convém existe é. em geral. um vazio. uma pobreza de registro. impedindo
refletir sobre o que, para o revolucionârio Gordon Craig (1872-1966), que se preserve a memôria do processo que antecede a descoberta
define a verdadeira arte do teatro, Isto é a teatralidade pura: dos recursos usados nas produções - o que muitds vezes ocorre c.om
produções de impo~n<ia incontest.wel. Parece incriV1'1, mas pede-
Não é nem a representação dos atores, nem a peça, nem a encenação, se falar numa tradição desta falta de memória. No Brasll murto
nem a dança. Mas, sim, forma dada pelos elementos seguintes: o pouco se sabe sobre a cenografia de espe~los de teatro. E grande
gesto é que é a alma da representaçbo: as palavras é que s3o o corpo parte do desinteresse é demonstrado pelos próprios artistas, que o
da pe,;a; as linhas e cores é que s§o a existência do cenário; o ritmo é auibuem ao d0$prestigio de que foram vítimas. à ausência de apolo
que é a essência da dança ... Nada de realismo, estilo apenas. das instituições responsáveis ou à falta de reconhecimento do p,)blico
ou da críti<a. Se nào é novidade o desinteresse geral em relaç~o aos
Ê preciso não esquecer que a cenografia, como toda ane, nasce de fatos culturais do pais. a conse<VaÇ,ão da memória em cenografia
um intenso sentimento e de um trabalho ârduo. O cenógrafo tem que não faz ~xceção ao qu-adro: contam.se nos dedos os ce.nografos que
dominar uma idéia e transforma-la em corpo. Portanto. a emoção não se preocupam em fotografar seus cenários, guardar as plantas dos
ê tudo. O artista precisa saber como t ratar sua idéia, como transmit i~ teatros onde foram montados, arquivar seus projetos ou conservar a:s
la. Preàsa dominar t êcnicas, conhecer regras, recursos, convenientes. maquetes que tenham executado.
O processo cnatrvo da cenografia - a elaboração do conjunto
visual do espetãculo - estã associado a um embasamemo teórico.
a conhecimentos de dramaturgia, de hJStôria do espetáculo e
história da arte em geral, e da história da cenograf,a em particular.
Conhecimentos que podem fornecer um lastro para a descoberta de
SO,uções tecmcas especifica:s para cada área da produção cenográf"tea
e que envolvem noções de artes plásticas, arquitetura e desenho. Ê
sábia a advertência cio mestre Santa Rosa. em Para um Teatro Tearra/:
Én«euJrioqueosarvstasdetodanaturezatembrem-sesempredeque
a Arte é absoluta quando~ no domlnio do senrimento, mas que é
preásamenr~ a têcnia no instant~ d~ sua ~ ç , S o (_.) O it1Stinto
já ê uma podefCHd força para guiar. induzir o individuo a escolhe< os
caminhos di, arre.· mas em si mesmo. ele não é fonte de conhecimento.
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Dias da Silva e Maria luóa Miranda -Veja os meus prindpalmentes.
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12 a 18/04/1980 Jo<nal do 8<a$i~ caderno 8, 18/03/1970, Yan MICHALKY.
Coojornal• órgão da cooperativa de jornalistas (Porto Alegre} RS, (64), Jorna l do Brasil, Gaclffno 8, 21/04f1970. Odorico, O bem amado.
junho/1981 Entrevista de DIAS GOMES a R.MJM.C.: •se aparecer um 26zimo Barroso do Amaral.
teHorista. eu prendo e expludo ele · o Brasil de hoje visto por Odorico
Paraguaçu, prefeito da mais tipicacidadedopais, a imagináriasucupira". Jornal do Brasil, Rio de Janeiro. 07J04/1982. Diana ARAGÃO: "A
Correio Brasiliense. Brasilia, 31/0811980; entrevista com OIAS GOMES. ma.io ndade- de- o bem amado".
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 1/06/19B1. Diana ARAGÃO: · Três O Globo. Rio de Janeiro. Segundo caderno, 25J04/1982; Toui Cézar:
anos de sucesso e o lmpa$$e da censura·. •um antisher1ock que- sõ desresofve os casos·
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, 21/06/19B1. O Globo, Rio de Janeiro. Segundo caderno, 07Jll5/1983; ARTUR DA
TÁVOlA:"'odorico ~ uma especie de marunatma televisrvo•
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. Caderno B, 03/05/1981. Maria
Helena OUTRA. O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 11/11/1983; ARTUR DA
TÂVOLA:"o poder delegado de dona chica'
Jornal do Comêrcio, Recife, 04/05/1969; ·A propósito ...'' (ass.W.)
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 13/11/1983; ARTUR DA
Jornal do Comércio, Recife, caderno 11, 20/10/196B. Valdemar de
TÂVOLA:"os tipos populares de sucupira"
Oliveira (assina W.), coluna • A propósito ... •
Jornal do Comércio. Recife, Caderno li, 06/05/1969;08/05/1969. Coluna O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 14/11/1983; ARTUR DA
Teatro. "Odorico, O bem amado" (lnl), slass. TÁVOLA:"o universo de dias gomes•
Melhores momentos. a telenovela brasileira. Rio de Janeiro, Rio O Globo. Rio de Janeiro. Segundo caderno,02/11/1984; ARTUR DA
Gráfica, 1980. TÁVOt..A:'"o muito amado bem amado'".
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 21/03/1970; M anim O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, lQ/11/1984.• ARTUR DA
GONÇALVES. TÂVOLA: •o bem amado na galeria de honra da tv brasileira".
O Globo. Rio de Janeiro, Segundo caderno, 01/10/1973; ARTUR DA 169 170 O Jorn.1~ Segundo aderno, 25/03/1970
TÁVOLA:"o bem amado"
O Jocna~ " Show de todo d ,a•, Ney Machado, 29/03/1970.
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 02/10/1973; ARTUR DA
TÁVOLA:"o bem amado· Revista Playboy, São Paulo, Oez/1985. DIAS GOMES: entrevista a
Norma Couri..
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno. 24/10/1973; ARTUR DA
TÁVOLA:"fim de odorico, o anti-herói" Revista Amiga. São Paulo, 1981. ARTUR DA TÃVOLA: ·o bem amado:
o mais importante programa de nossa televis.\o em 1980'
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 24/10/1973; DIAS GOMES
entrevista a Tamar de Castro: "a expressão do bem amado"
Revista Amiga. São Paulo, 14/11/1984. Entrevista com Francisco
MILANt o triste fim de o Bem Amado".
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 22/01/1981; ARTUR DA
TÁVOLA:" Esse Odorico, tão brasileiro" .
Revistã Cívtlização Brasileira {Teatro e realidade brasileira) caderno
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 23/01/19B1 ; ARTUR DA especial, (2), 1968.
TÂVOLA;"o tão nosso zeca diabo"
Revista Cívil~o Brasileira. Caderno especial, (4),1969.
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 26/01/1981; ARTUR DA
TÁVOLA:"dirceu borboleta nfo, um mediano q ue desandou· Revista Civiliz~o Brasileira. Caderno especial, (6), 1969.
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 28/01/19B1; ARTUR DA Revista Civilização Brasileira. Caderno especial, (14), São Paulo/USP/
TÁVOLA:"o bem amado, papo final" FflCHCF
Revista de teatrolsbat (1976):p.2-3; no.412. jul-ago. Daniel ROCHA. •o
tap, Valdemar de Oliveira e a peça um sábado em trima."
171
Revista Veja. São Paulo, 04/04/1984.
Script de •e
chegamos aos fínalmentes" Rede Globo, 22/10/1984
DIAS GOMES.
José Oias
173
lndice
Apresentação - Josê Serra S
Coleção Aplauso - Hubert Atqvêre\ 7
Começando com os Entretantos 11
Dias Gomes - Biografia ôe um Censurado Precoce 13
O Bem Amado - As Transformações de Odorico
nos Palcos Suc:upirenses 31
O Romanc.e da Peça 35
A Histôria das Montagens 45
Em Busca de Novas Sucupiras 63
As OeS<onjunturas Seriadistas: O Bem Amado Seriado 83
Confabulâncias e Providenciamentos: A Implantação do Seriado 95
O Vocabulário SU<opirense 129
E Chegando aos Finalmente 145
Fichas Técnicas de O Bem Amado- Novela e Seriado 161
Bibliografia geral
Obras referidas ou consultadas 165
Agradedmentos 173
'
Adespeh:o dos esforços de pesquisa empreendidos peta Editora para ktentifk.lr a aut0tla das
fotos expostas nesca obra. parte delMoão ede .iutoN conhecida de S<'US organizadores.
Agr~doc111môs o t(MO ou c.omuni(fç.õo de toda informeçio rela tiv,1 à i11,1toria d<lu a outros
d~os que porventura estejam Incompletos, para que sejam dewidamente u edftados.
Coleção Aplauso Como Fazer um Filme dê Amor
~ now. ~ p a r WR ~ . ~
Série Cinema Brasil
Alain Fresnot-Um Cineasta sem Alma """°""'"""'
Oú:wltador-deHi<tódas
Alalnfresnc>1 ~dll!'u.«,,c,o~ kMRc:ibn1o T(nft). U.WWV..nwrrooelmVl,iÇI
Agostinho Martlns Pereira - Um Jdealísu, CnbcasdeB.J. Duane-Paáãcl-•-
O!g. LUc Ar.tõrm Soaz.a lma de Macedo
Ma).IMO 8,i«O
O Ano em QIJe Meus Pais Sairam de Férias Cntkas de Edm., Pereit• - Rmo e s..nibiT-
Rote,.co õe Claud11,, Galpenn, 8raul!o Man:oo;am. Anna Mwlaen e Cao Hamburger Oo; ..... e-,.......
Ans~lmo Duatr~ - O Hom~m da P;,fm;, d(! Outo C.riticas dr Jairo Ferreira - CntJC.tS" ~ .vwenç.lo: Os Anos do Slo Paulo Shimbutt
Luiz carlos MeflM Org ~--li'oG.rio
Antonio Carlos da Fontovra -Espelho da Alma Cntkas de tua Gt,raldo de Mir.mda !do - Analisando Cinema: Crilicas de tG
Rodrigo Murat 1)-g A..toa M:rltld& lb\O
Aty Ftrnandts .. Sua Fascin;,nre História Cntk;,s de Rubem Bláfora -A Cor.>gem de~
1\ntÕOIO Le~ d.) Si...a Nt!tO 0-g.C..,losM.-·-....,-
---
O 8.andido da Luz Vermelh<1 OePasugem
R.o1~1e>de Rogério SgalVtrlA ;l';(KffrOdt(.liuoa, YQSiOi-e 0-Je(i()dt ~.o,oo bilS
Sdtismo de Sangue
RôU)rode Dan, Pata na e ~ Ratton llottir'o dit JJ,,att F,tsnOC. Ar.na t.li.ryi'~ e Sabtli .lNW?•
Bens Confiscados Djalma Limong.i Batnta - úvre Pensador
Rotl!'!10 coment,,do p('!O:. YIV) JJlllOtP-s Oanlel Ch.,.,.;
e Corios R~<h..,boch Oogm• feijood.,; O Cinem.1 Negro Bnsileiro
Blb1 ChMl/bk - Fla/j/flMtô! d~ ú/HD vld• ll!l!!nmlle
S~910 Rôdilgo R.els DoisCótf'90'
(abra-C.~a P.c:XM)°'"CifbS~,b,)(n;
R.o~e,Jode Oi Morew. oomen~ por Toni Veoruri A Dona da Httlôria
e Ricardo Kauffrnan ~ dr! Joio faüo, João &r..rue-' úmero e ~ Fl"G
~--. --
Crfriud<k Clôm Ga.tdil -A Criria Como o,-,c;o
ko~uo Menezes
Q,v.c.m-.tnda-
Quanto Vale ou E por Quilo Crírius ~ Mdr~ tuáa ~ndeias - Ouas r,buas ê UftJd hi.d o
ft.oteuo de Eduardo Senalm, Ne.vton C.:1M1toe Setgio Bianchi
Ricardo Pinto e Silva - Rir ou Chorar F«IHícõ Gafda totea - P«/Uff?ô PQerM lnfit11lO
Rodngo Capelta
~-"'
iilOtti'o de Jost • - ~ 8Qr'it e Arr~ Gbfrto
Rodolfo Nannl - Um Realizador Persistente João Bethencourl. - O Locatário eh Comédia
Net0,1 ~rbosa
salve Geral Leil.h A;wmpção-A C ~ da Mulher
Role.rode Sérgio Rezende e Paulcia And•ade
ª~"',c)(l!
O Slgno d;, Cldade
Rote- 10 de Bruna Lombardi ....,.,_....,
luis A/bem, de Abn,u -Aré a Últ>ma s;Iaba
........_
Josê Dumont - Do Cordel âs Telas
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Tan!a Carvalho
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Carb!. Alberto Màttos
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Vilmar ledesma AihedoSleme!m
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Ela1ne Goerrri1 Só<Qo-
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Mal.Iro Alencar e Eliana Pace l.vvú-
Niz,1 de C;,stro T.>nk - Nlza, Apestlr das Outras ,,
1/mberto Mogn.ni- Um Rio~ -
Saia Lopes
Paulo Betti - Na Carre,'ra de um Sonhador Vera Holrz- o Go<to da Vera
lete IIJbe,ro Aniliu Rlbe#o
Paulo JoJé - M emórias Subttanavas VHa MIM:$ - R.l.ro T•l~nto
Tania Carvalho El<r•- de
Walderez Barros - Voz e Si/énc,os
Pédro Paulo Rangel - O St1mb.a e o Fado
Tan1a Carva!ho Po;lêno MeneM
Re!ina Braga - Talento é um Aprendizado Z~tt Motu - Mu,ro Pr.aZtt
lb><'9() .....,
Marta Goes
Reginafdo FaritJ - O Solo de Um Inquieto Espeóal
wagner de Assis
AgikJo RibeJro - O úpháo do Risa
Renat.J Fronzi- Chatar de Rir \\~dP~
Wagner de As.sis
Beatriz SegaU-Além das ~parências
Renato Borgh; - Borghi em Revista
tloo Nogueira Se1itas N"'-
Carla< Z:m-Pa,da em Quarro A !a<
Renato ConSórte - Contestador por Indo/e TaneC-arwilho
Eliana P.xe
--
Cittemil da Boa - 0/cionârio de Oir~tofH
RolatJdO Boldtin - Palco BtasH AlfA!do-
leda de Abreo
Om,;, Sfat - Retratos de uma Guerreira
Rosamarla Murtinho - Simples Magia
Taoia C.11'\'afrlo
Rubens de Falco - Um Internacional Ator Brasileiro
Nydlaücia
.,.,,._dt_
Eva Todor-0 r,ar,o ~ MW.. Vida
Formlito: 18 ,clS.S on
Tipologia: Fnrt;ge,
PapelmoolocOl't,tlDg(Jg/ln'
Pap<la,,a. Tnpla2S09'ffl'
NÚff'l,tfO ôt p.tgrNS: 192
E d í ~ CTP~ ~ e ~ n t o :
lmlJ'enw O,,cial do Estado d e - Paulo
r 2009
~ l n t ~ ôe ()t1foi-!çio -.. ~
SiblMJteca da Imprensa Ofióal do Estado de Sio ~ulo
o...,_
OdOrieo ~ u : o bt:m--amadO de o.as GorntJ:
história de um penon,;l91!ffl ~ • maqviavel-ento I
Jose otas -Sao Paulo: Jmprtt"IS,l Ofióatdo EJ;tildode- S3o
?;aiulo, 2009~
l92p.il-~ , p a u , o . ~ e s p o o a l / ~
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