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Odorico Paragua-;u
O Bem-amado de Dias Gomes

História de um personagem larapista e maquiavelento


Go11emad0< José Serra

[•- · 11 "k:MII Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


Diretor.presidem.e Hubert Alquéres

Odorico Paraguaçu
O Bem-amado de Dias Gomes Co l ~ Aplauso
Coordenador Geral Rubens Ewald Filho
Histórla de um personagem /a rapista e maquiavelento

Josê Dias

São Paulo, 2009


Go11emad0< José Serra

[•- · 11 "k:MII Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


Diretor.presidem.e Hubert Alquéres

Odorico Paraguaçu
O Bem-amado de Dias Gomes Co l ~ Aplauso
Coordenador Geral Rubens Ewald Filho
Histórla de um personagem /a rapista e maquiavelento

Josê Dias

São Paulo, 2009


Apresentação

Segundo o catalão Gaudf, N/Jo se deve erguer monumentos aos artinas


porque elesjt, o fizeram com suas obras. De fato, muitos artistas s.,o Imor-
talizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas.
Mas como reconhecer o trabalho de artistas geniais de outrora,
que para exercer seu oficio muniram-se simplesmente de suas pró•
prias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome
daqueles que se dedicaram à mais volâtfl das artes, escrevendo, di·
rlglndo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duraçao
de um ato?

Mesmo a rtistas da TV pós·videoteipe seguem esquecidos, quando os


registros de seu trabalho ou se perderam ou são murtas vezes inacessiveis
ao grande público.
A Cote,;Jo Aplauso, de Iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar
um pouco da memória de figuras do Teatro, TVeCínemaquetíveram par-
ticipação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena.

Ao contar suas histórias pessoais, esses artrus dão-nos a conhecer o meio


em que vivia toda uma classe que representa a consciência crítica da
sociedade. Suas h istórias tratam do contexto social no qual estavam
inseridos e seu Inevitável reflexo na arte. Falam do seu engajamento
político em épocas adversas à livre expressão e as consequências disso
em suas próprias vidas e no destino da nação.

Paralelamente, as hís1órias de seus familiares se entrelaçam. quase


que invariavelment e, ã saga dos milha res de Imigrantes do começo
do século passado no Brasil, vindos das mais variadas orige-ns. Enfim, o
mosaico formado pelos depoimentoi compõe um quadro que reflete
a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e
cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas.
Ao perpetuar a voz daqueles que j á foram a própria voz da sociedade, a
Cole(ão Aplauso cumpre um devef de gratidão a esses grandes símbolos
da cultura nacional. Pubficar suas histórias e personagens, trazendo-os
de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preser-
vação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira.
e constitui mais que justa homenagem à queles que merecem ser
aplaudidos de pé.
José Serra
Governado! do Estado de sao Pauto
Coleção Aplauso Se algum fat or especifico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso - e
O que lembro, tenho. merece ser destacado -. ê o interesse do leitor brasileiro em conhecer
Gvimarães Rosa o percurso cultvra1 de seu pa15.

A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficia l, visa resgatar a À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jotnalls-
memória da cultura nacional. biografando atores, atrizes e diretores taS. 0<9anizar com ef'o<áda a pesquisa documental e icooogràfoca e con-
que compõem a cena brasileira nas áreas de dnema, teatro e televisão. tar com a disposição e o empenho dos artistas. diretores. dramaturgos
Foram sele<ionados escritores com largo curr!culo em jornalismo cultural e roleiristas. Com a Coleção em curso. configurada e com identjdade
para esse trabalho em que a histôria cénica e audiovisual brasileiras vem consolidada, constatamos que os sortilégios que envofvem pako. ce-
sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros nas. coxias, sets de film.age~ textos_ iffic19ens e paf-avras conjugados. e
sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos todos esses seres especiais- que neste univetSO transitam. transrmnam
de documentos e imagens são pesquisados, e o u niverso que se re- e vivem - umbé.m nos tom.aram e sensibilizaram.
constitui a partir do cotidiano e do fa:i:er dessas personalidades permite
reconstruir sua trajetôria . t essematetialculturaledereffel<Aoquepodeserago,acompartilhado
com os leíto,es de todo o Brasil.
A decisão sobre o depoimento de cada um na p rimeira pessoa mantêm
o aspecto de tradição oral dos relatos. tomando o te.x to coloquial. como Hubert Alquéres
se o biografado falasse diretamente ao leitor. Diretot·p.-esidffl.te
tmprenw Ofid.l do &t.Jdo cfe Sio huJo
Um aspecto importante da Coleção ê que os resullados obtidos ultra-
passam simples registros biogrãficos, revelando ao leitor facetas que
também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se
éõlõ(ãfáiii êiii lêflêxõé! quê !é êtténdérM'i !ôbré á fomláÇ3õ lntêléétuãl 7 8
e ideológica do artista, contex1ualizada na história brasileira .

São inümeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram


os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do
pensamento crítico ou denunciando p reconceitos seculares que atrasa-
ram e continuam atrasando nosso pars. Muitos mostraram a importância
para a sua formação terem atuado tanto no teatto quanto no cinema
e na televisão, adquirindo, linguagens difetenciadas - analisando-as
com suas p.anicularidades.

Muitos titules ex.pioram o universo intimo e psicológico do artista. re-


velando as citcunstâncias que o conduzitam à arte, como se abtigasse
em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens.

São livros que, além de atrair o grande pUblko. interessarão igualmente


aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido
o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à te levisão.
Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a histótia, a
importância e a atualidade de alguns deles. T.:tmbém foram examinados
o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores. os processos e
as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cine·
ma, a diferença entre esses veiculos e a expressão de suas linguagens.
Este Hvro sô poderia ser dedicado a uma pessoa:
a meu xará e querido amigo Dias Gomes.

José Dias
Começando com os Entretantos

Odorico Paraguaçu, O Bem Amado, t alvez seja um dos mais longevos


personagens na cena brasileira. A peça de Dias Gomes - Odorico, o
Bem Amado ou Uma Obra do Governo - foi encenada pela primeira
vez em 1969 pelo Teatro de Amadores de Pernambuco; virou especial
de televisão em 1964 no programa TV de Vanguarda exibido pela TV
Tupi; tornou·se a primeira novela ex.ibida a cores em rede nacional. em
1973 na Rede Globo para virar um tempo depois seriado de sucesso,
exibido por cinco a nos, de 1980 a 1984.

A luta eterna contra a censura e a preocupaçao constante em retratar


a realidade bt'asileira fizeram com que Oias Gomes desenvolvesse
uma linguagem especial, cuja svtileza possibilitasse tentar driblar
a primeira e, ao mesmo tempo, manter-se fie l à segunda. Como
conseguiu esse feit o? Recortando no quadro político da sociedade,
que o fez topar com um número considerável de homens públicos
desprezíveis, matrizes da atuação de um personagem, de moral
ambígua e línguajar pernóstico. ao qual emprestaria força cada vez
mais demolidora: Odorico Paraguaçu. Um tanto acanhado no Inicio
de sua carreira no teatro, Odorico acaba chegando ao auge de sua
contundênda na televlsão. Na fig ura deste tirano tomou corpo todo 11
escárnio por um comportamento social que o autor repudiava e que,
através do humor, pretendia mostrar ao público, apesar de ainda
a.ssim ter sido alcançado. por diversas vezes, pela tesoura da censura.

O Bem Amado, em sua alusão irônica, transformou--se aos poucos, pela


assiduidade com que freq0e ntou os lares dos brasileiros, no retrato do
político a quem Dias Gomes permitiu que o povo castigasse, mesmo
que apenas através do riso. Antes de acompanhar a trajetória de
Odorico Paraguaçu, conto episódios da vida de seu criador, buscando
levantar as marcas que a luta contra a presença insistente da censura,
e a favor da liberdade e de uma condiç~o melhor de vida, deixaram
em sua carreira de intelectual, ativo participante da produção cultural
brasiteira. em seus diversos meios de expressão.
Capitulo 1 grande admiração e imenso afeto. Eu comecei a escreverpara me igualar
Dias Gomes a ele. Hoje a<ho que fara/menn, seria um escritor, pois nunca descobri
Biografia de um Censurado Precoce em mim aptldâo para outra atJVidade, revelou o Dias Gomes adulto.

1934, Getúlio Vargas já estava há quatro anos no poder, empossado


Nenhum artista pode furtar se à luta pela liberdade de expressão,
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pela Revolução de 30. Oras Gomes ingressou no Gmá.sio lpiranga. uma
porque é isto que está em causa, e não uma peça, um espetáculo es<:ola leiga qu,, fun<ionava no sobrado colomal onde ,esidiu Glstro
teatral. Ouem não entendeu lsso n~o entendeu nada. Alves, mas precisou interromper o curso quando se transfe,lu para
o Rio de Janeiro. Veio acompanhar o irmão Guílhenne, já médico
Dias Gomes e poeta, membro da mesma Aaldemia dos Rebeldes de que faziam
parte Jorge Amado, Ecfson Carneiro, Dias da C°"ª· Oóvis Amorim e
outros jovens idealist.H do fim ~ Meada de 20. A falta de recursos do
Alfredo de Freitas Dias Gomes nasceu em 19 de outubro de um ano recêm-formado fizera:.o optar pelo concurso para médico do Exército.
importante: 1922. Contemporâneo da Semana de Arte Moderna A vinda para o Rio, o própóo Dias Gomes se encõrrega de contâ•la no
de São Paulo, do levante dos Oezoito do Forte de Copacabana e d a tom humoristico que caracteriza sua linguagem dramática:
fundaçao do Partido Comunista Brasileiro (PCB). no Rio de Janeiro,
veio ao mundo na Bahia, na cidade de Salvador, na Rua do Bom Gosto. Minha mãe foi ã Igreja do Bonfim e fez uma promessa: se ele fosse
hoje João das Botas, no bairro do Canela. aprovado. assistiria missa em todas as lgrejõ.s de Salvador. O santo
mexeu seus pauzinhos e o mano foi aprovado com louvor. Mi nha mãe
O terce iro filho de O. Alice Ribeiro de Freita.s Gomes, que perdera cumpriu a promessa com enorme s.,uifldo. Segundo a lenda as igrejas
o primeiro ainda criança, nasceu temporão, com uma diferença eram 365 e eu imagfr,ava que m ;nt,a mSe haveria de consumi r-se em
d e dez anos para seu irmão Guilherme - uma diferença que. wa peregri~o. Por Í$SO, às ..,,es eu ia com ela e ficava na porta (...),
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coincidentemente, repetiu, muitos anos mais tarde, entre seus dois mas ela me obrigava a rezar. ta!w,z como uma bonirrca{Jo ao s.,nto.
filhos homens. Guilherme e Alfredo. Muiros anos depois, qwndo ~ e ~ O Pagador de Prom~ ffl<!
lembrei muito de minha mie.
Aos três anos ficou órfão de pai. Mas, antes de falecer. o Sr. Plínio Alves
Dias Gomes - engenheiro que trabalhara na construção da estrada de Chegou, po1tanto, ao Rio. em 1935, no ano do levante comunista.
ferro Madeira·Mamoré - apelidara o filho de Rompe-Rasga. Isso nos Continuou os estudos no Ginásio Vera Cruz. na Tijuca, toe.ai onde hoje
idos de 1924, a no da rebelião tenentista de São Paulo e do inicio da funciona o Senai. mas completou o ginásio no Instituto de Ensino
Coluna Prestes. Aos sete anos, Dias iniciou o curso primário no Ginásio Serundàrio, ""RuadoOUvidor, em 1937. anoemqueGetüliodissolveu
Nossa Senhora das Vitórias. dos irmãos Maristas. em Salvador. Entre os o Congresso e decretou o Estado NOYO, de inspiração fascista, que se
nove e os dez anos improvisou e antecipou a presença. da maravilhosa estendeu até 1945. Assim. no auge da juventude. entre os quinze e os
enfermldade que viria a atacá-lo anos depois - a paixão pela literatura vinte e tres anos. Dias Gomes vivenciou o regi me cf'Jtat'oriaf de Vargas.
e, sobretudo, pelo teatro: além de montar pecinhas com os primos.
inspiradas nas cenas dos circos que costumava freqüentar, escreveu seu Os fatos de sua carreira de escritor não se dissociaram dos falos
primeiro conto. sem dúvida de inspiração autobiográfica, As Aventuras dramáticos da vida nacional naquele período. Atento desde cedo
de Rompe· Rasga. Essas aventuras reais foram acompanhadas pelos ã realidade brasifeira. n,So só recortou aqui e ali elementos des-se
primos, no pomar de sua casa. vizinha à chamada Roçõs dos Padres, panorama p;,ra, inspirado em alguns deles. te«>r os enredos de
local onde hoje se situa a Universidade Federal da Bahfa, em que suas peças, como também sofreu pessoalmente as conseqOências
se desdobravam nas fugas para jogar futebol e que resultavam em de suas opções politicas, sendo desde cedo alvo das mais dtversas
memoráveis surras aplicadas por D.Alice. formas de censura..

Mas a carreira literária de verdade foi influenciada pelo irmão mais A precocidade marcou sua carretra de dramaturgo: aos quinze anos
velho, que sempre o orientou como verdadeiro pai e por quem nutria teve sua primeira peça teatral A Comedid dos Moralistas. premiada
pelo Serviço Nacional de Teatro, num concurso organizado junt o mas abandonou a Faculdade no terceiro ano. em 1943, ano fatfdic.o
com a União Nacional dos Estudantes (UNE), e que também premiou da misteriosa morte do irmão. aos tnnta anos de idade. ocorrida
Mário Brasini. Um tio de Dias Gomes, Alfredo como ele, orgulhoso do enquanto realizava expe.riénc1as em Realengo.
desempenho do sobrinho. encomendou a publicação da peça a uma
gráfica baiana. Foram vendidos 17 exemplares. e a publicação salvou Entre os dezenove e os v;nte anos (1941-1942) que Ofas Gomes inídou
e-ste texto de sofrer o destino de tantos o utros, a lata de lixo do autor. efetivamente sua carreira de escritor participante da vida polrtica~
Aderiu .\s manifestações lideradas pelo Marech.il Rondon e por
Ent,e os 17 e 18 anos, tentando não ser um peso para o Irmão, e vendo Oswaldo Aranha, em p,-ol da entrada do Brasil na guena, íunro ás
que a carreira militar era a maneira aparentemente mais fá<il de ter fO<Ça$ aliadas. E<aeveu então um drama ancifascista, como ele mesmo
casa, comida e ainda receber um soldo, fez exame para a Escola Mili tar o b.llizou. Mas a peça Am.J~ Sen Ourro Dia só foi montada dois
no Rio de Janeiro, em Realengo. N~o conseguindo fazer a prova de anos mais tarde, em 1943. Conta ele:
â lgebra, ex.auS10 por ter virado a noite estudando, entrou com uma
petjção ao Ministro da Guerra, Eurico Ga.spar Outra, para realizá-la Estávamos em ~na guerra e nenhum empresário queria se
na Escola de Cadetes de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. onde affisc.ar a enamã-la quando o nosso dmidor de então, Gerúlio
foi aprovado. Mas, dos dois meses em que ali permaneceu, passou Varg~ demonsuava evidentes simpatias pelo eixo Roma,.Berlim.
quinze d ias na cadeia, tal e ra sua vocação. O coronel Setembrino, rwe que esperar o Brasil entrar no conflito para vê4a enc.enada. E
comandante da Escola de Cadetes, um dia o chamou ao gabinete: pela comp,,nhia oficial inclusive_ Vendo que os deuses da guerra
Meu filho aqui tenho visto mu;ta gente equivocada, sem um mínimo se ;ndinavam para os aliados. Getúlio, como bom oportuntSta que
de vocação para a carreira militar. Mas igual a você,. nunca. Ora, o sempre foi, declarou gverra aos n a z , - ~
jovem Alfredo já desconfiava d isso desde o inicio, Abandonou a tarda
e a desastrada lncursâo nâ carreira militar, como se referiu mais tarde Antes disso, em 1942. estreou no Teatro Serrador. no Rio de Janeiro.
ao episódio. Retornou ao Rio no mesmo ano, 1939, mas manteve a .sua primeira pec;a encenad~ Pê de Cõbra, tom Procopio Ferreira no
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cabeça raspada, para não sair de casa e poder ficar lendo dezenas papel p,-indpal. Parad0-<almente, era uma sátira ao mesmo Deus
de livros, influenciado pela Formaç6o da Menralidade, do autor lhe Pague, de Jotacy (amargo, e«tit.l em 1932, que d"ra proj~
americano James Harvey Robinson, leitura o brigatória na época. nacional ao at0< alguns anos antes Tinha sido escrita a pedido do
Lembrando-se dessa fase, revetou Dias Gomes: rival de Procópio, Jayme Costa, que lera e se encantara com o primeiro
texto de Dias Gomes. Amanhei Serã OUrro Dia. Em 1941. atraves do
A tese central do livro é que ex;ste um determinado momento em cartãozinho de uma prima gaúcha, casada com o poe·ta Augusto
nossa vida, momento que deve anteceder á completa formação de Meyer, Dias Gomes tinha sido apresentado a Henrique Pongetti que,
nossa mentalidade e que é a hora exata de parar e fazer uma completa por sua ~ o apresentara a Jayme Costa. Mas o ator e empresário
recapitulação e avaliação de todas as noções adquiridas e de todos os acabou desistindo ela idêia de montar a peça que encomendara~ E.
valores herdados ou assumidos, dado o fato de que tudo isso se deu como diz o escritor, por um de<Ies caprichos do destino, Pé de Cabra
num perlodo em que passivamente recebíamos sem por em dúvida, veio a se tornar um su<esso de público e de critica# interpretada por
sem contestar. Era hora, então, de ter a coragem de duvldar não só Procópio - que morreu sem saber do complô de que tinha sido Vitima
dos conhecimentos adquiridos como das crenças, em ger;,/, impostas. e benefid~rio. Proíbida na nojte da estréia, mas fiberada uma semana
O livro me ating iu com um tremendo Impacto. E eu resolvi por em depois, com cortes. Pé de cabra • foi encenada po, duas temporadas
prática sua proposta. ,eguida• no Rio e em Slo Paulo, e rendeu a Dias Gomes, em 1943, um
contrato exdusivo de autoria para a Coml)<lnhia de Procópio Ferreira.
A partir d ai tentou diversos caminhos: fez os preparatórios P<)ra
Engenharia na Praia Vermelha e para Direito no Colêgio Pedro li. Na Foi uma ill~sponsabilid.adf> dos meus tk-llnOve anos. confessa Düu
época de estudante morava num quarto da Pensão Buenos Aires, na Gomes. só perdoável pela mfoha paixão pelo teatro~ um mal aõnKo,
rua Prado Júnior, e recebia mesada do irmão. Em 1940 chegou a cursar congénito,. incurável. Pelo contrato, Dias Gomes ficava obrigado a
durante algum tempo a Faculdade de Engenharia, des;stindo logo. escrever quatro peças por ano. com direito â rea.tSõ de uma. o que
Nesse período escreveu Ludovico, 1940. Pensou em optar pelo Direito, o levou a escrever ónco textos em 1943. e a inda a receber um mês
adiantado, logo de inkio, a lém de ter garantidas dezoito cadeiras era a época das estrelas. uma tradição que vinha de Leopoldo Fróes
por sessão. Procôpio nem poderia imaginar que t udo isso se devia e que era seguida por- Procópio, Jayme Cosia e Oulcina. A estrelas, na
ao sucesso de uma peça encomendada contra ele, e que ele prôprio malOfia das vezes, não ensaiava. Assim, ao fazer Zeca o,abo. Procôpio
montara em quinze dias! só foi ao ensaio geral e, como não sabia o texto, inventou um cacoete
para dar tempo de ouvir as falas lidas pelo ponto, Instalado em sua
Completando a série de equívocos que circundaram Pê de Cabra, Oias caixa no proscênio.. Críticos da época, como Mâno Nunes e Viriato
Gomes acabou sendo considerado na época um disdpulo de Joracy Co«eia, embarcaram na históría, ofus<ados pelo prestigío do míto,
(amargo, quando na verdade pretendia contestá 1o. E a inda teve
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criticando acerbamente os outtos atores. como foi o caso de Antonio
seu texto censurado pelo 0 .1.P.• acusado de marxista - e até então Moreno, e colo<ando Procópio nas nuvens. como unico ator que
não tinha lido uma só linha de Marx. Mas com isso interessou~e pelo realmente sabía o papel!
filósofo. Ingressou no Partido Comunist a em 1945. Devo esse favor
â Censura, diz ele, o de ter descoberto para mim o marxismo e a Data ~ mesmo periodoa experiêncicl d.a revista Toq~ dl! R«olh~r.
milit~ncia comunista. Em virtude do sucesso, Pé de Cabra foi vendida que Dias Gomes escreveu em parceria com Josê Wanderley, uma
três vezes para o cinema, brincadeira de objetWOS mais erõticos que propriamente teatrais.
Na verdade, Dias estava namorando uma cantora da Companhia da
Data também de 1943 o ingresso de Ziembinski em Os Comediantes, Praça Tiradentes. chamada AmériCã cabral, que era virgem. só andava
grupo teatral fundado em 194 t, poucos anos depois de Pascoal Carlos acompanhada pela mãe e era Rainha das Atrizes. E. nao contente com
Magno ter criado o Teatro do Estudante do Brasil (1938). Ziembinski isso, fez uma aposta com um am,go que ele havena de conquistar
encenou Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, caracterizando um todas as girls da Companhia. O que não era impossível. eram apenas
momento de renovação da dramaturgia brasileira e uma mudança seis ou oito girls.
radical nas concepçÕéS cênicas da época.
Deu-se também neste ano de 1944 o outro episódio militar da cane,,a
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Durante o pe,íodo em que esleve <om Procópio, Dias escreveu Zeca de Dias Gomes. Tudo começou com um recorte de jornal que recebeu
Diabo, Doutor Ninguém, Jo:Jo Cam~o. Um Pobre Gênio e Eu Acuso denuo de lima carta de sua mã~. fazendo constar sua con~o para
o Céu, a lém de outras peças que, merecidamente, segundo e le. não a guerra. Reuniu os amigos. despediu-se de todos. tomou um grande
saíram da gaveta: O Homem que Não Era Se1J, Sinhazinha e Beco porre e. no dia seguinte. apresentou-se no quartel. Lá chegando foi
sem Salda. Em relaçao a este período há a lguns fatos que merecem atendido por um sargento que olhou. olhou. e disse: Não senhor,
destaque. Em 1944 • foi encenada Doutor Ninguém, no Teatro o s~nhor não estã cont/OCddo! Dias Gomes indignou-se. Já havia se
Santana, em São Paulo, peça que abordava o problema tacial e cujo despedido de todo mundo. como iria ficar perante os amigos? foi
herói era um médico negro. Como havia o preconceito de que o quando, diante da jnsistênda~ o sargento ameaçou: Olha aqu;, se não
públic;o n3o aceitaria um herói negro. Procópio colocou um branco em for embora jâp \'OU lhe arranjar uma convoc.ação, mas para o xadrezl
cena. Meu filho, explicou e le ao dramaturgo, há dois tabus que vocé
jamais conseguira qvebrar no teatro: todo negro tem que ser criado, Sua primeira fase de dramaturgo encerrou-se precocemente. Durou
todo padre tem que ser bom. Dias Gomes deu um jeito nisso. Em O apenas de 1942 a 1944, segundo o próprio Dias Gomes, devido a dois
P.1godor de Promessas tentou desfazer um desses mitos: o pad,e ficou ac04'ltecimentos.. Primeiro a mortesúbrtade seu irmão, que obrig0U40a
com o papel de vil~o. Dias Gomes jâ tinha noção clara de que uma ocupar o seu lugar como arrimo de família, Segundo pelo desencontro
dramaturgia nacional só poderia surgir a partir da anãlise ctitica da que se acentuava, de ~ para peça, entre a sua dramaturgia e a
realidade, dos problemas, comportamento. aspirações e frustrações mentalidade empresarial da época- Diante deste impasse, e não
do homem brasileiro. querendo abandonar o teauo engajado, resolveu aceitar o convite
de Oduvaldo Vianna (pai), que entrara em contato com sua obra
Ainda ne-ss.e ano, Procópio encenou Zeca Diabo, no teatro Oulcina, na temporada paulista de Pê de úbra, para trabalhar com ele na
no Rio de Janeiro~ peça que abordava o problema do cangaço. Ora, emissora que estava ·f undando. a Rádio Panamericana. Esta decisão
o e-spetáculo teatral nessa época era improvisado, uma peça ficava inaugurou um novo momento na vida de Dias Gomes, marcando
poucos dias em cartaz, logo substituida por outra. Além disso, essa o término de sua primeira fase de ui.ação exdusiva para o teatro.
Além disso, a partir daí tornou-se, como tem orgulho de afirmar, uma Entre 1945 e 1948 escreveu e publicou três romances (Duas Sombns
espéde de meio-irmao do Oduvaldo Vianna Filho (Vianninha: 1936- Apenas, em 1945; Um Amor e Sete Pecados, em 1946; Quando,
1974), porque Oduvaldo Vianna foi um pouco tambem pai de Dias amanhã._, em 1948) e uma novela (A Dama da Noite, em 1947). Em
Gomes, pelo apoio que lhe deu no inicio da carreira. 1949, es<reveu A Dança d.is Horas, adap~.\o do romance Quando
é Amanh.t, e em 1951, O Bom wdr/Jo. De volta ao Rio de Janeiro,
Em 1944, mudou-se para São Paulo, Iniciando um hiato de dez anos em 1950, trabalhO\I ainda algum tempo nas Emissoras Associadas.
de vida voltados para o Rádio, escrevendo cerca de 500 adaptações transferindo-se em 1951 para a Rádio Oube do Brasil, atual Rádio
de peças, contos, novelas e romances da literatura universal para os Nacional. Em maio de 1953 via1ou para Moscou, participando de
chamados Grandes Teatros, cujos nomes variavam de acordo com a uma delegação brasileira de escritores. para as (omemorações do
erníssora: Grande Teatro Panamedcana, Grande Teatro Bandeirantes; Primeiro de Maio. Este lato, que na época era considerado altamente
a função e a estrutura destes programas correspondiam, na época, wlwe<sivo, não só provocou sua dem<Uào da ~io Oube do Brasil,
aos atuais especlais da televisão. Trabalhou em diversas emissoras como lhe valeu uma violenta pe~uiç.\o por parte de carlos la<erda.
durante a expe,iência paulista, criando diferentes programas: um dos Conta Dias Gomes:
mais instigantes, segundo Dia.s Gomes, A Vida das Palavras, revelava
sua pre0<upaçao com a qualidade e a importância do rádio como Carlos Lacerda em plena campanha para depor Getúlio. campanha
forma de coffiunicação para além de seus aspectos mais digestivos
que levaria o Preskieme ao suicídio. publicou uma foto minlta na Praça
e alienantes. No tumultuado ano de 1945, marcado pela deposiçâo
Vermelha. em Moscou. com a manchete Diretor de Ráá,o Oube leva
de Getúlio e pelo término da Segunda Guerra Mundial, foi para as flores para Stálin a,m dinheiro do Banco do Brasil Dupla mentira_
Emissoras Associadas {Tupi), onde permaneceu até 1948. Primeiro, Sfálm havía morrido um ~ antes e seu ltÍmulo ainda n.:io
estava aberto ã vísitaç/Jo. Segundo, o dín/,e;ro da ~ eu o havia
Ful demitido por motivos poJftico$: num dos programas A Vida das
tomado a vm agiota, a juros a/tíssimos Q<ie. mesmo desempregado,
Palavras. numa sãtira criada especialmente em função da Conferência
levei um ano pa'Ji'ndo. Lacerda i,isav., atingir nk a mim, mas a Samuel
Internacional das Narões Unidas. que ie realizava na época no Hotel 19 20
Wainer, dono da Rádio Oube e do jornal Última Hora, que haviam sido
Quirandinha (Petrópolis, RJ), focalizei a palavra Quitanda, e fizcom que
cada pais fosse representado por uma fruta, sendo os Estados Unidos financi•dos pelo Banco do Brasl1. graçM ã interferência d" Getúlio.
uma big apple - o que foi tomado como prov0<açlo. O embaixador fndireramente era Vargas o atingido. E eu, que nadd tinha com essa
americano queixou-se a Assis Chateaubriand que, pressionado, briga acabei levando as sobras. Estávamos em pleno maa,nhismo e eu
demitiu-me. Por trás desse gesto estava a mão forte americana e a fui induido numa lista negra. Não ronseguia trab,alho em parte alguma_
inrençilo de punir qualquer ato de rebeldia que cheirasse a revoluçilo.
Fui então para a Rádio América a convite de Oscar Pedroso Horta, seu Sem emprego e com nome na /isra negra, ficou durante nove meses
proprieMrio - que recebeu a rádio como pagamento de honorários escrevendo para a lV Tup,, usando o nome de 1rês amigos, que
que lhe eram devidos por Hugo Borghi - , apesar da interferência do assinavam por ele e negociavam seus textos: s,.,a esposa, Janete Oai<,
DOPS, que tentou impedir·me de ser contratado, alegando que eu Paulo de Oliveira e Moisés Wettman. Só em 1954, após dez anos de
era comunisca. Permaneci na Râdio América durante um ano, indo afastamento. vottou a escrever para o teatro - mas foi uma tentativa
então para a Râdio Bandeirantes de São Paulo, onde exerâ a função tambêm frustrad~ não chegando ainda a caracteriza, o inicto de uma
de Diretor Artístico, em 1949. segunda rase_ sua peça era o. Fugrnvos do Juízo Fu,a/ , encenada no
Teatro Glória. no Riode Janeiro, produzida pela Companhia Jayme Costa
Também em São Paulo. em 1945, Dias conheceu Janete Emmer e dirigida por Bibi ferreira, com um elenco que, alêm de Jayme Costa,
()anete Cla lr), sua colega de rádio, que t rabalhava como locutora, incluía Nathália Thimbefg, Maurido Schermann e Magalhãe, Graça_ Era
apresentadora e radioatriz, e que mais tarde consagrou--se como um perlodo conturbado pelo wicldio de Getülio Vargas. Jayme Costa,
esuitora de telenovelas. Casou-se com ela em 13 de Março de 1950, que era um ferrenho gett,lista, entrou em dep,1!$São e chegou mesmo
quando ainda morava em São Paulo. Nesse mesmo ano nasceu seu a e,ur,ver uma carta dramática para os jornais, uma carta t.\o amarga
primeiro filho, Guilherme, em 11 de Julho. Com Janete Clair teve que quem a lesse diria que ele também estava ã beira do widdio; ao
ainda mais dois fil hos: Denise, nascida em 18 de Junho de 1956, e mesmo tempo, Bibi dava ã luz, Fernando Pamplona viajou para Buenos
Alfredo, em 20 de Maio de 1960. Aires, abandonando os cenários. E a peça foi um fracasso.
Nesta época escreveu também textos para o Teatro Kibon, da TV Tupi 1%8 foi levada à cena em Lawrence, pelo Departamento de Teatro da
do Rio, até 1955. Tendo saido da lista negra. conseguiu enfim assinar Karuas Univenity, com dir~ do professor Dr. Fredric Uno, que jã
seus próprios textos e ainda neste ano foi contratado pela Standard havia dirigido, em 1967, O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Propaganda. Em 1957. Dias Gomes ingressou na Rádio Nacional.
onde permaneceu até 1964, com o programa Todos Cantam a Sua A vet<ão ànematográfica de O Pagador de Promessas recebeu a Palma
Terra. em que, a partir de uma pesquisa sobre o folclore, as lendas. as de Duro em cannes, no Festival de Cinema de 1962. além de vários
superstições, os costumes e a música popular, divulgava os diferentes prêmios nacionais e internacionais. O filme. no entanto, foi proibido pela
Estados do Brasil; neste período escreveu também programas especiais censura no Síi1Sl1. entre 1967 e 19n. Enquanto isso. a ~ prosseguiu
para o Teatro Orniex. em sua extensa carreira internacional: EUA, Chile. Uruguai, Polónia,
Marrocos. Argentina. etc. Com essa peça Dias Gomes consagrou-se um
Com o início do mandato de Jus<elino Kubitschek. em 1956, havia no dos alltOtt'S mais destacados do reatro brclJileiro contempotãn@O.
ar uma euforia de nadonallsmo, a euforia da criação de Brasília. Nesse
clima surgiu a bossa nova. o cinema novo, o concretismo; inaugurou.. Hoje. rodo mundo conhea> a história do Zê do Burro que. em paga
se o Teatro de Arena e desenvolveu-se uma nova dramaturgia, que se de um-, prom,,ssa a /ans.J/Santa Bátbara, sahladora do seu barro
pretendia cada vez mais voltada para a realidade brasileira, rompendo Nkolau, percorre sete léguas com uma pesõda CTU2 a fim de deposftá-
com o que ocorrera, por exemplo, nos anos 40, quando só se valodz:ava la em Salvador íunro ao altar da Santa. Ali, porém se defronta com a
o que era importado em matéria de cultura, uma tradição que o Teatro ~ decidida do Yigãrio da Igreja e deflagra-se o conflito da peça.
Brasileiro de Comédia, fundado em 1948, vinha mantendo desde a
sua criação. O TBC, conforme a expr~são de Sábato Magatdi, foi um Prossegue Anato! Rosenfeld, em seu estudo da obra de Dias Gomes:
verdadeiro sismógrafo das tendências do nosso teatro, com Zé do B<Jrro, Dias Gomes (. •.) consegufu criar um verdadeiro herói
trágico que defende os seus valores com o empenho da vkJa contra
Sendo praticamente; durante vários anos. a (mica empre$a estável de os da cidade.
21 21
São Paulo, o TBC sentiu-se na obrigação de satisfazer aos diferentes Em cinema. em 1974, escreveu o rote.iro de O MargiMf. com direção
gostos do público. Dai a altem§ncia, no repertório, de peças comerciais de carlos Manga, tendo no eleoco Tarcisio Meira e Da,tene Glória. Em
e de peças art1stic11s. num ecletismo que visava tambêm a equilibrar
1985 escreveu o roteU'o de O Rei do Rio, uma adaptação da peça teatral
as finam;as.
O Rei de Ramos, tendo adir ~ de Bruno Barreto, e no elen«> Nuno
Leal Maia, Milton Gonçalv~ e Nelson >Cavie<. fá em 1988 escreveu o
Apesar de privilegiar a dramaturgia estrangeira, aos poucos o TBC foi
rotetro baseado também na peça Amor em Campo Minado, com dire-
abrindo exceção para o autor nacional, destacando.se Abllio Pereira
de Almeida, segundo Sábato Magaldi, a prirn;lpio tfmido e tateante, ç.\o de Pastos Vera (Cuba).
e depois escrevendo com extraordinária capacidade de atingir o
A segunda fase da produção dramatütg,ca d1' Dias Gomes, iniciada com
pUb/ico burguês, ao qual sedin·gia. No final da década de 50, o Teatro
O Pagador de ,.,..,,_,. prosseguiu na década de 60, caractemada
Oficina encarregou~se de trazer novos ventos para o teatro brasileiro. pelo amadurecimento do escrito.- que se inseriu deste modo num
num momento que coincidiu com a segunda fase de criação de quadtO de dramat\lfgia nacional enriquecido pelo trabalho de outtos
Dias Gomes, que escreveu, em 1959, O Pagador de Promessas. Esta autores p,eocupados em levar para a ceoa uma temática voltada para os
peça abriu finalmente as portas do TBC para Dia.s Gomes, em 1960. p r ~ brasileiros: Nelson Rodrigue1,, Jorge Andrade, Ariano Suassuna
tentativa que vinha fazendo desde 1950. Estreou no d ia 29 de Julho, e Gianfranresco Guamieri trouxeram a nono - , até o momento,
no TBC, dirigida por Flãvio Rangel, com cenârios e figurinos de Cyro as contribuições ma;s efetivas e continuadas A dtamanrrg.ia brasileira
dei Nero. Esua peça mais encenada atê hoje. Teve Leonardo Villar no contemporânea, óisse Sábato Magaldi em 1962. analisando o panorama
papel do Zê do-Burro, no TBC, e luís Unhares, no Rio. peta Companhia do teauo brasileiro. Além desses, é preciso destacar as obras de Oduvaldo
Dramâtica Nacional (SNT), com direção de Josê Renato. Rapidamente V,anna Filho (V,anínha), Augusto Boal e Francisco Pereira da SIiva.
a peça ganhou fama internacional. Estreou em Washington, em 23 de
outubro de 1964, com um ator brasileiro, Renato Coutinho. no papel Ena fase ê consõclerada a mais vigorosa de sua carreira. pelo próprio
de Zé do Burro, na Actor's Company Playhouse, Em março e abril de Dias Gomes quando. numa entrevista publicada em Encontros com
a Civilização Brasileira. analisou a diferença entre a primeira e a não se entusiasmou. Mesmo as.sim Dias Gomes terminou de escrevê-
segunda fases de sua carreira: la e engavetou-a até 1963. quando foi publicada na Re,,ísta Oáu<foa,
da Ecfrtora Abtil, na ediçJ<> de Natal. Foi en<énada pela primeira vez
Por lncr /vel que pareça, através de tantos anos, após tantas lvtas, om 30 de Abn1 de 196S, pelo Teatro de Amadores de Petnambuco, no
tantãs experiências positivas e negativas, tantas revelações e tantos Teatro Santa Isabel de Recife (PE). com dir~o e cenários de Alfredo
traumas. meus valores essenciais se manUveram Intactos. O que eu de Oliveira. A enc:~ seguinte estreou em Brasilía, na Sala Martln.s
queria ser e o que eu queria fazer, continuam sendo o que eu quero ~na do Teatro Nacional. numa premiête no dia 11 de Março de 1970,
ser e o qve eu quero fazer.(... ) E minha visao de mundo apenas se s.
seguindo para o Rio de Janeiro, onde estreou no dia 1 no Teatro
aprofundou pela experiência vivida e pelos ensinamentos bebidos em Gláucio Gíll (ex-Teatro da Praça), com prodUÇào de Orlando Miranda e
fontes a que s6 depois tive acesso. Enfim, voltando Aquelas primeiras dir~ e cenários de Giannf Ratto. tendo Pro«ipio Ferreira e lracema
experiéncias, se já não me reconheço na forma. aind,1 me reconheço de Alencar nos principais papêis.. Foi adaptada para telenovela em
de algum modo no conteúdo. 1S72 e para seriado em 1979. Em 7 de setembro de 2007, estreou O
Bem Amado no Teatro das Ana-. no Shopping da Gâvea. no Rio de
Entre 1960 e 1966, Dias Gomes viveu com os recursos advindos de Janeiro. com Marco Nanini como Od0<ico, direção de Enrique Diaz,
d ireitos autorais recebidos pelas adaptações para cinema e algumas adaptação de Guel Arraes e Oãucf10 Paiva. O Bem Amado recebeu
apresentações que se salvaram das garras da censura. Os anos
vãrias propostas para cinema. mas sõ em fevereiro de 2009 começaram
e sta vam cada vez mais duros, sob o governo Costa e Silva e, depois.
sob o rigor do Al-5. entllo as filmagens no estado de Alagoas. com dir~ de Guef Arraes.

Em 1960 escreveu A lnvasJo, peça que, apesar de diferente das anteriores


Em 1963, deveria estrear O Berço do Herói, no dia 22 de julho de
por sua est rutura e ambiente, cont inuou na linha de estudo do
1965 no teatro Princ:esa ISabel. no R.i o de Janeiro, sob a direção de
comportamento do nosso povo, Iniciada com O Pagador de Promessas.
Antônio Abujamra. cenários e figurinos de Anísio Medeiros e músio
Focalizava a invasão de um prédio, cuja coostruçao havia sido paralisada 23 24 de Edu lobo. Foi, no entanto, interditada pelo próprio ~ r i o de
há vários anos. por desabrigados de uma favela cujos barracos haviam
sido arrasados em virtude de um forte t emporal. foi encenada pela
Segurança do gove<nador carlos Lacerda. A, circunst3nc:ias em que
primeira vez no dia 25 de outubro de 1962, no Teatro do Rio, no Rio a interdiçao ocorreu foram totalmente absurdas, inexplicáveis. E
de Janeiro, <om direção de Ivan de Albuquerque, cenários e figurinos
deram margem a uma recriação feita pelo próptio Dias Gom.,. de um
de Anisio Medeiros, música de Antõnio Carlos Jobim. letra de Vinicius di~logo cio qual. por il'ICrivt,I que pareça, nem Kafka. nem lone,co
de Moraes. que criaram o samba O Morro Não Tem Vez interpretada participaram, mas sim o autor, o Superintendente da Polkia JudicMria.
ao violão por Baden Powel. A proibição da peça, pedida por D.Hélder Sr. Safes Guerra, e o Chefe da Censura Estadual, Sr. Asdrúbaf Sodré Jr.:
Câmara em 1965 foi concedida em 1969; renovada a interdição em 1975,
só foi liberada em 1978. Inspirado nessa peça, Dias Gomes escreveu em - A pe(a est.l proibida.
1971, para a Rede Globo de Televisão a novela Bandeíra 2. - Mas o texto não foi aprovado pela Censura?
-Foi.
Em 1961, escreveu A Revolução dos Beatos. cuja cena se passa no - Prx que en~o a proibiçaol
Ceará de 1920. Esta peça foi apresentada pela primeira vez no dia 17 - Porque o texto sofreu alterações durante os ensaios.
de Setembro de 1962, no Teatro Brasileiro de Comédia de São Paulo, - Mas isto é comum.
com direção de Flávio Rangel, cenários de Cyro dei Nero, música de - Mas não pode. Não est.l de acordo com o texto aprovado.
Catulo de Paula. Mas foi proibida várias vezes durante o período de - Podemos levar então o texto aprovado?
64-65, o que deu origem ao comentário de um coronel, ouvido por - Não.
Dias Gomes em uma de suas viagens ao interior da Bahia: Teatro, - Prx quél
coisa que tem que acabar! - Porque fizeram alterações no texto aprovado.
- Suprimimos as alterações. Levamos o original sem mudar uma
Em 1962, escreveu O Bem Amado e Os Mistéríos do Amor e da Morre, virgula. Podemos?
a pedido do TBC. Ao ler o primeiro a to recêm escrito. Flávio Rangel -Não.
.. porquê? o alterou. Em 1968 estreou no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre,
- Porque o original foi alterado.(...) com direção de José Renato. tendo recebido apoio financeiro do ex-
.. Os senhores infringiram o artigo 41 do Regulamento. Presidente João Goulart para hospedagem do elenco. O.as Gomes o
.. Perdoem~me a ignorância. mas não conheço esse artigo. O senhor procurou pessoalmente em sua fazenda no Uruguai com uma carta
poderia talvez esclarecer-me sobre o seu texto? do fut uro Deputado José Gomes Talarico. Em 1983, estreOU no Rio
- Que textol de Jane:iro, no Teatro João caetano~ em nova versão: Vargas_ com
- O texto do artigo 41. direção de Flãvio Rangel. cenários de Giann, Rano~ figurinos de Katma
- Ah. não se;, Tambêm não sou obrigado a conhecer todos os artigos Murtinho e música de Chico Buarque e Edu lobo. Esta reenc.enac;âo foi
de todas as leis. solicitada po, Lutero Vargas {que assistira a pe<;a em Porto Alegre) a
.. Mas o chefe da Censura deve saber. Da,cy Ribeiro. que procurou Dias Gomes. convidand- a reencená-la.
O senhor Asdrúbal mostrou ..se surpreso. Nao sem problemas. desta vez com Leonel Brizola, que queria inten,ir
- Eu, por quê? reda.mando por causa da omissão do personagem Jango; mas o texto
- Porque o senhor é o chefe da Censura. não sofreu ah.eração+
- Ouem apffca o artigo é o censor no parecer.
- E o parecer? Posso ver o parecer? Em 1969 foi convidado pela Rede Globo de Televisão para eso-eVér a
- N3o. O parecer é confidencial. telenovelada.s22horas:Mandeiosprr,con<.eitosprodíaboetopei.. Sabia
- Mas eu pteciso saber de que me a<usam. que hélvia um perigo: ser eng.o/ido pela m.Squina, a re/e11isJo montar
- O senhor é acusado de ter infringido o artigo 41. N3o basta? em mim.. Eu tinha que dest::obrir um jeito ck monrar nela. E a~i.

Em 1964, cassado e censul'ado, Oia.s Gomes voltou-se inteiramente Transferiu para a televisão suas preocupações com os problemas sociai<
para o teatro. O Brasil era um pais Interditado, os partidos políticos dos btasíleiros. e escreveu as novelas: A Ponte dos Suspiros (1969),
estavam fechados. os centros de cultura desmantelados, as inteligências primei,a telenovela de Dias Gomes. com o pseudõnimo de Estela
26 Calderôn. Verão Vermelho (í969170), onde retratou a Bahia; Assim Na
expurgadas. Escreveu então O Santo Inquérito. Ambientada na Paraiba
de 1750, a peça tratava do Julgamento de uma jovem inocente que Terra Como No Céu (1970'71) - nessa data, sob o governo Mêdici, a
não se submete à Inquisição, defendendo até o fim a sua dignidade, censura atingiu todos os meios de comunicação de massa -; Bandeira
um personagem baseado em fatos reais, perfeito para falar â distância l (1971172), adaptada para o teatro corno O Rei de Ramos; em 1973 a
do que estava ocorrendo no momento no pais. Foi encenada pela telenovela O Bem Amado inaugurou as transmis>ôes a w,es para todo o
primeira vez no dia 23 de Setembro de 1966, no Teatro Jovem, no Rio Brasit em 1974175 escr"""" O Espigão, popularizando o termo ecologia,
de Janeiro, com direção de Ziembinsky, cenãrios e figurinos de Gianni preocupado com as questões referentes à esperulação imobiliária; em
Ratto e no e lenco Eva Wilma como Branca Dias e Rubens Correia como 1975, a telenovela Roque Santeiro, cujo titulo origir,al era A Famosa
História DelloqueSanteiroewaFogosa Viúv.l, aqueE~SemNun<a Ter
o Padre Bernardo. Sírio, que foi vitima da a,;ao da Censura r«leral r,a noite da estté.ia. Ao
grampear o telefone de Oias ~ a polioa interceptou uma conversa
Em 1968. escreveu O Túne l, peça não encenada por companhias entre o autor e o historiador- Nelson Wemeck: Sodré, a quem Dias Gomes
profissionais, o que se pode justificar pela observação que faz Anatai revetou.. ãs gargalhadas. ser a telenovela uma wn.ão disfarçada da pe,ç.a
Rosenfeld no artigo introdutório à obra de Dias Gomes sobre o O Berço do Herói, impugnada dez anos antes. A novela só foi ao ar
gênero da peça: O Túnel • uma espécie de esquete. particularmente em 198511986. Em 1976, escr"""" Saramandaia, para substituir a riov,,1a
aproptiado pata integrar o ptograma de um cabaré, litero·satirico proibida; mais tarde escreveu Sinal de Alerta, em 1978. Entre 1979 e
(coisa que, infelizmente, não existe no Brasil). Ainda em 1968. de 1984 escreveu a sinopse e os vmte primeiros capítulos de Manda/a. Em
parceria com Ferreira Gullar, escreveu Dr. Getúlio, sua Vida e sua 1990 escrweu a sinopse e os capitulas da no,....la Araponga, em co-
Glória. Buscava, como sempre, uma forma de faze r teatro brasileiro autoria com Feneira Gullar e Lauro Cesar Muniz.
para lidar com problemas brasileiros. Chegou â idêia da Escola de
Samba criando uma alegoria alusiva à situação polltica brasileira Ourante todos esses anos em que se dedkou a te-l.evisâo. Oias Gomes
durante a dit adura Vargas. A peça foi um sucesso, apesar da pressão não deixou de escrever para o teatro. De 196911970 foi a peça Vamos
dos militares para que o texto fosse alterado. Mas Dias Gomes não soltar os Demônios~ que só estreou no Srasil em 12 de Julho de 1984~
no teatro Santa Isabel, em Recife, com o novo titulo de Amor em Cdmpeóesdo Mundo em 1981. com cenários de José Dias e. no elenco.
Campo Minado, direção de Aderbal Freire Filho, cenáríos de Michel Leonardo Víllar, Ângela Leal e Fl.óvio Galvao.
Gant us e figurinos de ltala Nandi, que t ambém integrou o elenco ao
lado de Luls Mendonça e Paulo César Pereio. A peça já havia sido Em 1983, a 16 de novembro, mo<reu Janete Clair, companheira de
encenada na Alemanha em 1977. Dias Gomes du..rante 33 anos. Em 1984 casou,.se com Maria Bemadete,.
que lhe deu du.n filhas. Mayra, em 1S de dezembro de 1987, eluana,
Em 1977/1978 escreveu O Rei de Ramos, que é baseado na novela
em 27 de abril de 199L
Bandeira 2 (1971), que estreou em maio de 1979, no tea1ro João
Caetano, no Rio de Janeiro, com direção de Flávio Rangel, cenários de
Escreveu em 1986, Olho no Olho, e em 1988 esaeveu Meu Reino por
Gianni Ratto, figurinos de Kalma Murtinho e música de Chico Buarque
um Cavalo. encenada em 1989. no Teatro Nelson Rodrigues. no Rio
e Francis Hime; com Paulo Gracindo, Felipe Carone e grande elenco. O
Rei de Ramos foi adaptado para o cinema, em 1985, com o titulo de O de Janeiro, po, ocasiao das comemo,a,;ões dos seus cinqOenta anos
Rei do Rio, dirigido por Bruno Barreto. O Rei de Ramos nasceu de um de vida artistica. dirigKla por Antonio Mercado, cenários de José DiaSt
anseio d e f l~vio Rangel para um teatro musical brdsl!eiro, lembrança figurinos de Marie Louise Ne,y, músicas e trilha sonora de Guilherme
de antigas conversas com Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pon tes. Dias Gomes, com Paulo Goulart, Nicette Bruno e Ângela leal.
Lembra--se Dias Gomes:
Escreveu a polêmica minissêrie Decadênci~. Em 1990 terminou sua
Eles achavam que nós, autores que pretendiamos um teatro popular. autobiografia Dias Gomes - Apenas um Subversivo, o titulo saiu de
deYerlamos estudar a única forma de teatro popular que tivemos, a um f ~ do ex-GOVffnador Carlos la<.erda. que em 1965 foi contra a
revista, e usar sua forma de comunicação. Procurei lembrar das revistas liberaçJo da sua peça O Berço do Herói, origem de Roque Santeiro. Em
que vi na Praça Tiradenres, em seu esplendor, e pesquisar outri forma
de teatro musicado, que nós tambt§m tivemos, a burleta. A forma de 20 de março de 1998, em Paris, foi lanc;ado durante o Salão do Livro,
O Rei de Ramos li uma mistura desses dois gêneros. r, 28 a autobiografia, pela Editora Bertrand Brasil.

Em 1976, Dias foi convidado pela Peno State University (Pennsylvania, Em 11 abril de 1991, ocupou a cadeira número 21 da Academia Brasi-
EUA) para um seminário sobre sua obra, permanecendo nesta leira de Letras. na vaga de Adonias Filho, vindo a toma, posse em 16
universidade dez semanas como autor-em-residéncia, distinção de Julho de 1991.
concedida pela segunda vez a um escritor brasileiro - o primeiro foi
Jorge Amado. Na mesma universidade acompanhou a montagem da Afastou-w das telenovelas. concluiu que o gêner-o ~ desgastou. optou
peça O Berço do Herói, que na ocasi3o ainda estava proibida no Brasil. pelas minissêries. escreveu um romance. sem repercussão, Derrocada,
Esta pesa. dirigida por Manoel Duque f o i encenada especialmente na sobre a queda do regime socialista na União Soviética.
Penn State University para o Simpósio sobre Teatro Latino-Americano
que se realizava na época nesta universidade. Achava, ele, que a falta de criatividade na dramaturgia acentuara-se nos
anos 90, e que se tratava de cnse universal. abarcando anes, econom~
Ainda nos EUA começou a escrever a peça M;ssa para os Desafinados.
que permaneceu inacabada. Em 1977 escreveu As Pr,'mfcias, que politica, mora~ ética, em conuaposl(ào à pujame vitalidade da ciin<ía.
estreou em 1979, em Brasllla, com direção de Ricardo Torres; em 1978 propõs a casa de Criação Janete Clair. na TV Globo. para fomentar
escreveu Phallus e em 1979/1980, Campeões do Mundo, cuja primeira experimentações; entretanto o empreendimento só durou do,s anos.
vers3o chamava-se Heróica e traçava um painel de q uinze anos, 1964-
1979, tentando entender e explicar os erros e acertos da chamada Dias Gomes morreu em 18 de maio de 1999. E como disse o presidente
geraçao 68. Foi en,.,nada em 4 de novembro de 1980, no Teatro Villa da Academia Brasileira de Letra:t Arnaldo Niskier, l!ffl seu \l'elõt'to: Os
lobos. no Rio de Janeiro, sob a direção de Antônio Mercado, cenografia personagens Zé do Burro, Odorico Paraguaçu, Dona Redonda. Tucão,
de Marcos Flaksman, figurinos de Marcos Flaksman e Patrlcia Macruz Viúva Porcina e Sinhozinho Mam, da sua imensa galeria, e1()'!tam
e tema musical de Denise Emmer, com Leonardo Villar, Ângela l -eal agora pela chegada do SetJ autor ao céu_(...) A grande obra respondera
e Dennis carvalho no elenco; em São Paulo Antonio Mercado dirigiu pela sua PIHetlf,I imorta l entre nós. Oue f!le desc.anse em paz.
Uma Conclusão Necessária Dentro de<se quadro de produções O Bem Amado representa um
momento importante pelo fato de ter sofrido inúmeras adaptaÇões
Em toda a sua carreira, Dias Gomes continuou sempre tentando dar para linguagens diferentes. da cena t eatral ao seriado da televrsão,
vazão ao talento e à vontade de comunkar atravé-s do teatro suas num longo período de mais de lrínta anos. e por ter consagrado
idéias e emoções sobre o povo brasileiro. Mas, como numa batalha, Odorico Paraguaçu como a mais perleila caricatura de tudo o que
a cada movimento seu correspondeu uma ameaça do inimigo: desde Dias Gomes rejeitava..
o início de sua carreira foi um censurado prec0<e. Trans-feriu de uma
área para outra os conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida
profissional, adaptando os recursos de linguagem. Recordando uma
dessas passagens, desabafa ele:

Depois de O Berço do Herói, uma após uma as minhas peças iam


sendo proibidas. Entendi que não me seria permitido prosseguir com
minhas experíénclas teatrais, pois a minha dramaturgia vivia de um
equõcion.:tmento dõ realidõde e a própria realidade brasileirõ era
banida dos palcos; considerada subversiva em s; mesma.

Aceitou integrar·se na televisão como forma de não silenciar. Mas


estava consciente dos perigos que corria, de ser engolido pela
máquina. E sobreviveu: Foi uma aventvra excitante como vm salto
mortal sem rede. Podia ter quebrado o pescoço. Mas felizmente estou
inteiro. Com uma clara noção da diferença de linguagem entre os três 29
meios de traduç.Jo de sua dramaturgia, o teatro propriamente dito, o
dnema e a tetevisão, sinteti:za Dias Gomes;

Teatro, sintese, novela, anàlise; são dois processos opostos: um, mais
intelectui¼t outro, mais braçal. No cinema a imagem tem mais valor
que a palavra; no teatro, a palavra tem maís valor que a imagem. Ena
televisão, a telenovela tem que fazer um equilibrio entre a imagem e
a palavra.
A história do Dias Gomes dramaturgo caracteriza uma luta permanente
contra as pressões externas sobre sua obra da mesma censura que
cerceou os movímentos da imprensa. Em 1974, havia centenas de
peças proibidas no Brasil desde 1964. Entre 1972 e 1975. a censura
recrudesceu, baixando mais de duzentas interdições. Sô a partir
de 1975, com a chamada abertura democrática, foram lentamente
retirados os censores das redações dos jomais.

A imponância de sua obra pode ser avaliada não sô pela riqueza de


personagens e qualidade da linguagem, como por representar, no seu
conjunto, um país tão diversificado e controvertido como o Brasil. em
seus múltiplos aspectos sociais e políticos.
Capitulo li Mas dera tanto azar que durante um ano o.ao conseguiu um morto
O Bem Amado para jusnficar a importãnda da obra. O fato era perfeno e virou
As Transformac;:ões de Odorico nos Palcos Sucupirenses crõnica na mão de Nestor de Holanda, que a publicou no Diário
Carioca~Na mão de Dias Gomes tomou-se uma comédia potítica que
fez um percuno mais atribufado.
Eu sou um homem que olha para a frente e acha qve o que vem
depois n§o pode ser igual ao dia de hoje. Algumas mudanças tém Primeiro foi o pedido do Fl.rno Rangel, que lhe encomendara uma
qve ocorrer, e é posslvel, perfeitamente posslvel, que muitas peças, J)e<a para estrear no T8C. Diga->e de passagem que o próp<io Dias
hoje proibidas, minhas e de out1os autores, venham a ser 1/beradas, Gomes já havia oferecido outros textos ao TIIC, todos até emAo
venham á cena. Uma censura ncio consegue se manter por um século re<usados. Mas resolveram montar O Pagador de ~ e, além
ou do;s. Jamais. disro, aceitar as duas imposi<;ões que lh<?s fizera o autor - os nomes
Dias Gomes de Leonardo ViLlr. como ator. e o de Flávio Rangel, como dite-toe.
Lembrando..se do periodo. diz Dias Gomes:

O personagem camalcõnico Odorico Paraguaçu, pr~feito matreiro, Eu também sabia para onde soprava o vento. O enorme sucesso do
sagaz e corrupto da ficticia cidade de Sucupira tem uma longa Pagador não só mudou radicalmente a filosofia de repertório do
históri a. Começou no teatro, nos anos 60, com o nome de Odorico TBC como também mudou a minha vida. Ap6s tantos equívocos, eu
Osório e, durante os quase 30 anos em que circulou junto ao público finalmente me encontrava.
nacional - derepentemente atê internacional - viu a sua biografia de
personagem sofrer diversas transformações. Os equívocos - o final infefa de sua história na Companhia de Procópio
ferreira e a iníusta demís~ da Rádio O<Jbe - podiam se< o,nsídera~
A h istó ria da peça Odorico, O Bem Amado espelha a prôpria história pelo menos temporanameote, .1guas pa,sadas. Para Fl.wio Rangel a vida
31
de seu autor: tantas vezes foi alterada, renomeada e interditada. também estaria mudada, pois o SUCes.'SO do Pagador lhe garantira um
como ele tantas vezes teve que mudar o rumo de sua vida, trocar lugar definitNo no TBC. Encomendou entoo um~ teXto a Oias Gomes.
de nome, sofrer persegui<;ões. cassa<;ões, interdi<;ões. Sô numa coisa
diferem com certeza criatura e criador: se no primeiro caso o cognome Te.ndo acabado de escrever o primeiro ato de Odorico, O Bem Amado
O Bem Amado indica ironicamente um simpático mau~c.araasta. como ou Os Minérios do Amor e da Morre, o dramaturgo o apresentou ao
diria Odorico na língua que o caracterizou na televisão, emboramente diretor, sem, no entanto, provocar nenhum entusiasmo. Terminou de
tendo seu nome gravado nos anais e menstruals da História de escrever a peça. mas também não gostou do resultado e engavetou-a.
Sucupira. o segundo identifica o escritor sério e competente que No entanto, o texto acabou sendo pubricado, a inda com aquele o
integra o quadro da dramaturgia nacional. titulo ongmal. na Revista Oáucha. que lhe pedira um conto para o
número do Natal de 1963.
Em 1962, Dias Gomes escreveu a peça chamada Odorico, O Bem Amado,
que, com o p,imeiro subtitulo Os Mistérios do Amor e da Morte, jamais tniciou-se então a vida pllbfica de Odorico. um bem amado que.,
chegou a ser encenada. Sua história faz parte do longo anedotário que segundo ve-.ão confirmada pelo autor, f oi grandemente inspirado na
cerca as criações de Dias Gomes. sempre int eressado em aproveitar figura do seu arqui-inimigo, o jornalista e deputado (ar10i ucerda,
pequenos fatos da vida cotidiana do homem brasileiro, sobretudo do de cujas in1tigas politícas f0ta vítim.> intensa em 1953, quando peróeu
interior do país, para fazer dele o núcleo de seus conflitos dramátkos. a direçJo artlstica da Rádio Oube e, doze anos depoós, em 1965,
quando u,ve a sua peça O Berço do Herói interditada em sua noite
A idéia para escrever a peça teve origem num fato que lhe foi contado de estr~ia. acusada pelo então Governador do Estado de ~, imotal e
por Nestor de Holanda. mas que se passara na verdade com o cantor subversiva. Aproposito átSSO, relembra Dias Gomes:
Jorge Goulart. quando e le estivera fazendo um show numa cidade do
interior do Espirita Santo. Contaram a ele que o prefeito se e legera Odorico era um UJcerda exagerado. Mas depois reesc,ev; a peça e
com a promessa de conslruir um cemitério para a cidade. o Lacerda jâ estava no ostracismo, cassado, na oposiçJo. enfim. por
baixo, então não faria mais nenhum sentido aquela sátira que eu fazia
dele. Trabalhei o personagem dai no sentido de mais um protótipo
de um político demagogo do ;nterior. Ele cresceu, se aprofundou
e se dístanciou do Lacerda: adquiriu uma paisagem maís ampla.
Desenvolvi um trabalho mais em cima do seu llnguafar, o que lhe deu
uma fisionomia muito mais forte.

Faz sentido. portanto. a especulaçao em torno da figura que o inspirou


ao criar Odorico. sobretudo se considerarmos que o principal desafeto
deste, na <idade do interior baiano.era o não menos venal jomalista
Maneco Pedreira, o Neco Pedreira da novela. Era como se Dias Gomes
desejasse representar os dois lados da imagem pública do ;nimigo
real: o lado politico na ridícula figura de Odorico, com sua retôrica
de demagogo, bem falante, teatral no mau sentido, como o pintava
na rubrica de apresentação, um homem nao propriamente belo, mas
a quem n3o se pode négar certo magnetismo pessoal, cuja palavra
prende, cuja figura impressiona e corwence, que traja terno branco e
chapéu de panamá: e o lado jornalista, na pessoa do patifento Neco
Pedreira, gazetista da imprensa marronzista que se (ava e enxágua no
calunismo, como a e le se refere Odorico. prefeito do povo sucupirano.

E como se estas alusões nao bastassem, Odorico e Neco Pedreira


digladlavam-se em torno da relação entre a imprensa e o pode,. Dizia 33
Maneco Pedreira, desde a primeira versão da peça, ao c.Jbra a quem
Odorico nomeia delegado:O prefeito não acredita que a ordem e a
imprensa possam ser boas amigas. Ferino, mais adiante respondia
Odorico, na segunda versão: Tanto a imprensa sadia quanto a
doentia serâo informadas com ant·ecedência - referindo-se à data de
inauguração do cemitério, a tal obra do governo, como foi subtitulada
a peça nas versões que setviram de base ãs duas montagens te.atrais.

A versão definitiva e autorizada da peça surgiu publicada em livro em


1975. com o titulo de O Bem Amado, Farsa Sócio-Polítka-Patológica
em nove quadros, já com as alterações na relação de personagens e
na estrutura do enredo que caracterizaram a versão televisiva. Ê desta
última versao a troca do nome do cabra contratado por Odorico, de
Ordovino para Zeca Diabo - personagem que Lima Duarte imortalizou
na televisão - assim como os apelidos de lrmãs Cajazeiras para O.
Oorotéia, D. Oulcinéia e O. Judicéia. todas talqualmente Cajazeira. a
fina flor do donzelismo juramentado de Sucupira.
Capítulo Ili Chico Moleza: Funcioná.rio da Prefeitura. o coveiro de gestos lentos.
O Romance da Peç.a descansados., fala mole, i e/e um tttrato vNO d;, cidad~, of)(fe a VHJa
paSJa sem pressa. Cotinha numa fala do te<ceiro quadro completa o
retrato: AH sô se o senhorprefeito dYeSSe inveffi9ado os anrec.edentes
Eu acho válída essa reavallaçAo de uma dramaturgia que pertenceu do ddadão colleiro~ antes de nomeã../o teri;, visto que ele nunca foi de
a um perlodo que é consíderado como brilhante na dramaturgia fazer forÇ;J. H.lja vista o a~/ido que lhe p<JSetam: Moleza.
na<íonal, os anos cínqOenta e sessenta. Essa volta das minhas peças
para mím é gratificante, essa volta ao teatro, a reescrever. Isso é bom. Oemleval: Dono da vendo/a, em frente à qual está reme'1dando uma
indusive, para repet>Sar. rede de pese.ar no inicio da peça. Ê um mulato gordo e bonachão de
Dias Gomes idade já avançada.

Mestre Ambrôsio: t um velho pescador de tez morena-avermelhada.


A primeiríssima versão da peça, aquela que foi publicada no número amido do sol Musculatura batida, chapelão de palha, calças de
especial de Natal da Revista Cláudia. em 1963, apesar de não ter sido algodão branco, sua figura infunde respeíto. t quem traz o homem. o
encenada no teatro, serviu logo de matriz para adaptações: u ma fe ita jagunço Ordovino para o prefeito.
pelo prôprio autor, para o roteiro, tambêm engavetado, do filme
O Corvo. a pedido de l eon Hirzman; outra. também do autor, nos
Pedrão: tum negro reluzente, mais moço do qoe Mestre.Ambrôsio~
anos 70, para Lufs Carlos Barret o. Nenhuma das duas foi filmada.
pescador como ele. Traz vários amul~os no pesco<o e bom hu-
Uma terceira adaptação foi feita por Benjamim Cattan, para um caso
mor constante.
especial que foi ao ar no ano de 1964, na TV Tupi de São Paulo. Odorico
pare<ia mesmo personagem fadado a fazer sucesso na televisAo. 56
Chiquinha dos Padres: B@ata. velhinha, enrugada como um jenipapo.
esse veiculo salvou Os Mistérios do desconhecimento total. poi.s foi
com esta versão que cattan trabalhou.
35 36 t a únka que acompanha o Mterro, quando. meio minuto após a
abe.nura do primeiro quadro. entram Mestre Ambrósio e Pedrâo
Jâ como Odorico. O bem amado ou Uma obra do governo a peça carregando um defunto numa rede. Ali eJa só não é a única. hã
circulou nas mãos dos atores do Teatro de Amadores de Pernambuco também um cachorro, um magro vira-ldta, que vem amarrado à rede.
(TAP), em pub/icaçao do Grupo Estudantil de Teatro da Escola
Nacional de Qulmica, em agosto de 1966. As aspas se devem ao Odorico: Típico representante do casamento entre poder econõmko e
estado precário da publicação, um s.imples origina l mimeografado. poder poUtico, ê a figura perfeita do Coronel do interior. em cidades
Esta foi a peça que, com a devida autorização do autor, estreou do nordeste t,,asileiro. Pe<nõsti<o em sua oratória importante, nesta
no Teatro Santa Isabel, de Recife, no dia 30 de abril de 1969, com vers.'10 da peça ainda nao usa a linguagem rio em neologi,mos,
direção de Alfredo de Oliveira. que imortalizou na hilariante interpretação de Paulo Graondo na
televisão com o seu Odorico Paraguaçu. Aqui ainda é Odorico Osório,
A ação transcorria em atmosfera de cidadezinha de veraneio do ll(oral cujo tema~ durante a campanha Vote num J.lomen, Séfi.o e- Ganhe Sl!U
baiano, dividida em três atos e o ito quadros (três no primeiro ato, três Cemit'ério aparece em cena numa faixa. nas duas montagens da peça.
no segundo e dois no terceiro, na versão m imeografada). Mas perdia
a divisão em atos quando publicada pela primeira vez em livro, numa lenilda: Mulher de Odorico. O traço marcante de seu comportamento
antologia que a editora carioca Civilizaç~o Brasileira lançou em 1972, ê a ill$/lti1ta{ao e o desencanto. Insinua-se daramente um romance
em dois volumes, intitulada Teatro de Dias Gomes. entre lenitda e o arquiinimígo pohtico de Odorico. Maneco Pedreira.
que tenta convencê-la a fugir com ele e a abandonar o marido. A sua
O grande desafio da peça, no entanto, talvez nem fosse a não participação nas atividadM politicas do tndrido; o ar d~ fastio com
fragmentação da açao em tantos quadros, mas o fato de colocar em que a.ssi>tíu .1 cena ame<ior. em que j~ eleito, Odorko é adamado
cena 16 personagens, cujo perfil e função podem ser assim descritos, por meia dúzia de puxa-saco~ deixaram bem daro o afastamento
por ordem de e ntrada em cena: espiritual em que se encontra em relitção a Odorko.
Cotinha: Professora do grupo escolar, de maneiras pouco femininas, Velho Funcionário: Não tem nome. nem traço caraaerfstico. Ê apenas
com qualidades evidentes de lideran~a. Paradoxalment e, Odorico um velho funcionário da Prefeitura. tipifica a acomodação. diame dos
e.xerce sobre ela terrível fasdnio. Das três irmãs, que só mais tarde, maJOres desvios de verba que ele mesmo aponta. sai-se logo com: Não
na telenovela, passaram a ser conhecidas como as irmãs Cajazeira, estou dizendo nada.
Cotinha é a mais politizada. Seu diálogo com Odorico no terceiro
quadro mostra como a correligionâria arquiteta planos com ele para Mane<:o Pedreira: Dono do JOIThJleco da c'ldade. O Clanm. Jovem
driblar a oposição, inaugurando de qualquer jeito o cemitério, mesmo combativo, algo esdareddo, afora uma certa dose de charlatanismo,
que seja sem defunto, ou com defunto comprado na Faculdade de t! um indivíduo posirívo, um fJOU«J aorna da menralldade da ddade.
Medicina de Salvador. E a COIU<iéooa di$$0 11"' produz certa frustra{So. Po, outro laclo, é
alvo da paixAo da mulher de Od0<ico_ Sua disputa com Odorico é
Pop6: Solteirona como Cotinha. Também sobre ela se faz sentir o acirrada. E acaba vencendo, já que Odorico morre, e ele, ao lado de
fascinio por Odorico, como diz o autor, e isso poderia ser expHcado Lenílda., inaugura o cemitério. Ao fazer o elogio do mono, dirige--
por diferentes tipos de frustração. Estava até disposta a arriscar a se cinicamente cl amante: Tranqüilize sua consciénci.J, maluco ele
reputação de moça solteira pela causa do Prefeito, hospedando em sua sempre foi. Quanto ao suicídio. foi um gesto muito sensato: era essa
,asa o primo Bebeto, primo em segundo grau, doente, desenganado a maneira mais .segura e mais r.ipida que ele linha de arranjar um
pelos médicos. nas últimas!, diz ela a Odorico. E o prefeito sabendo defunto para inaugurar o cemitério.
disso muda logo de fala. Ant es de sabê~lo doente não podia mandar
o carro da Prefeitura buscá-lo, porque o exemplo deve vir de cima. Vigârff): Não tem função espeaaf. a não ser a de representar a terce,ra
Agora, vendo que o único candidato a defunto corre o risco de morrer inmtuição, cujo comportamento vai ser ironizado pelo tom farsesco
da pec;a: a Igreja.
na estrada, apressa-se: Morrer na viagem?! Não pode! Tem de morrer
aqui!(...) Eu reria tomado providências. mandado um mêdico para vir
Ordovino: É mttoduz,do por Mestte Ambrósio. Tem olhar frio e
com ele. Morter durante a viagem, 1150. Podem mandar o corpo de 37 J8
desronfiado, gestos lenios como cob<a sempre preparada para o bote.
volta!(..,) Nós vamos receber seu primo com todas as honras.(•. .) Um
Vesll! um remo de brim claro, sandálias de cooro cru e chapéu de
hóspede importante como ele. E virando se para o coveiro Moleza:
4

vaqueiro. Por baixo de paletó percebf>.se a cartu<hein e o te1/Ó/ver.


Vocé volta pro cemitério e vai preparando o cova. Capricha que o No interi0<, polkia e coronel eram chamados de Capitw. Od0<ico
dono vem aí,
chama o cabra, que mandara vir para lhe arrumar um defunto. a
quem nomeia delegado da cidade, de capitão OrdOllino.
Dudu: E a terceira irmã sobre a qual Odorico t ambém exerce igual
fascínio. Mulher de Dirceu Borboleta, bastante sonsa e quase tao Bebeto: Ê o J)fimo em segundo grau que Popô contara para Odorico
alienada quanto o marido, como ele é uma inocente ú til na mao de que ertava moribundo em Satvador e que e recebido com todas
Odorico e que acaba sendo a grande vitima. Morre assassinada pelo as honras de candidato a defunto, trai Odorico e não cumpre sua
pobre do Dirceu Borboleta, suspeita de ser amante do Maneco Pedreira. função. O amor de Popó o salva da morte. Este romance é, com
Defunta, por pouco não tem a honra de Inaugurar o cemitério. certeza, um dos MlStêâos do Amor e da Morte que o primeiro
subtitulo da pec;a sugeria.
Dirceu Borboleta: Tipo fiskamente frágil de óculos, com ar desligado,
vive munido de vara de caçar borboleta e uma sacola. Sua função na A análise dos elementos que compõem Odorico O Bem Amado ou
peça fo i ser uma espécie de caçador de cadáver, em vez de apenas Uma Obra do Governo caracterizam-na, sem d<Mda como uma
caçador de borboleta. Envenenado pelo ciúme causado por cartas comédia politica, ou até como uma tragicomédia de caráter farsesco:
anônimas. acredita que a mulher o está traindo com o Maneco as personagens não possuem uma dirne-Mão psicológica aprofundada.
Pedreira, o que ê hipocritamente confirmado pelo arquitetador do seus traços são apresentados pelo exterior, de forma. superficial.,
plano: Você compreende é muito desagradável, diz-lhe Odorico. Dona deixando perceber uma clara intenção de ridiruJarizar certos tipos
Dudu . minha correligionária ... Isto, ali só é que toma a questão mais regionais rapidamente reconhecidos: a beata. o dono da venda. as
delicada. Sabe. Maneco, nosso inimigo político; é uma dupla traição. sotteironas~o primo. o prefeito/coronel. o vigãrio. o cabra/delega.do.
o funcionário público. Outros, como os pescadores, por exemplo, antecedido de outros dois. de ritmo arrastado, e com excesso de
pa recem apenas fazer parte do cenário regional, tanto quant o o diâtogos entre Odorico e Lenilda sobre o rame-rame conjugat. alêm
cachorro amarrado po r uma corda, ou o defunt o transportado numa de uma conversa secreta entre Lenilda e Maneco, sobre o romance
rede. Todos esses são e lementos que permitem uma leitura imediata. extra-conjugal, que interrompem o objeto principal do enredo logo
Fogem um pouco a este esquema simplificado, o Dirceu Borboleta, um no inkio, além do que, num tom maês sério. Parece estar a í um
personagem até certo ponto lírico e puro, e talvez Lenilda, por suas primeiro desequ1tibr-io. sem falar nas mudanças a que mo obnga.
falas notando-se uma d iferença grande entre sua visão de mundo e a pois o primeiro quadro pede uma praça. enquanto os dojs segujntes
dos ovtros: ela e Dirceu parecem os Unicos que levam as coisas a sédo, se passam no gabinete do p<efeito;
que se perturbam com os problemas, e q ue pensam. Esse talvez tenha
sido um dos motivos que tenha levado o autor a eliminá-la na segunda 2. Com a traiç.Jo dos correligionários, o namoro de Popó com o
versllo da peça, que deu origem à adaptação para a televisão. moribundo atrapalhando seus planos. e tendo connatado que a
pior inimiga e mesmo a pasmaceira da ádade (O mal desta t«ra i
Odorico, O Bem Amado, em suas primeiras versões, c.aracteriza-se pelo que todo mundo é bom. pacato. Talvez seja a água... ou o azeite,.de,.
excesso: um grande número de quadros, inúmeras entradas e saldas, dencJê_.c/eYe ter alguma substância calmanie, sei lá. O fato ê que
determinando pequenas cenas dentro dos quadros, excessivo número ninguêm mata~ ninguêm mo«e e nós estamos hã mais de um ano
de personagens. O conjunto desses fatores poderia sugerir uma espe.ra.ndo um defunto pra lnõugurar o cemitêrio) Odorko resolvera
comédia leve, cuja trama se assemelhasse aos enredados qüiproquós encomendar um cangaceiro a Mestre Ambrósio, alguém que desse
das comédias clássicas, mas isto não ocorre. Por outro lado. pelo fim ao paradeiro. pecUndo-1he. como primeira missão, que dê uma
caráter popular da linguagem e dos tipos farsescos d~enhados, batida no jornal de Maneco, que vá á desforra dos artigos que ...,,,
poderia ser identificada com este gênero, apoiando·se nos recursos esuevendo conrra ell!, que j;KU(Ja a marreta, em nome da 1e; e da
mais grosseitos das farsas medievais, o que também n!o ocorre. Na democri/Kia sobre a redaç/Jo dessa gazeta subvertiva. Isto se passa no
verdade a estrutura da peça apresenta falhas, algumas personagens quarto quadro, na Prefertu<a;
39 40
nao têm funç:lo determinada, há um desequilíbrio no desenho de seus
perfis, tornando em alguns momentos o tom bastante equivocado. 3. Ao mesmo tempo. investe e-m outra frente. ma:ndando cartai;
anónimas a Dirceu Borboleta, cartas que lnsinuam que sua mulher anda
A primeira observaç~o a ser feita, sobre a estrutura geral da peça, diz fazendooquen~odeve.Aspróximasações'4osedaremconseq0êtlcia
respeit o aos nUcleos da ação. Pelo subtitulo Uma Obra do Governo, dessas duas iniciativas de Odorico: e em ambas vai se desenvolver
entende~se que a tentativa de justificar a construção do cemitêrio um mecanismo de inversão. tipo de mec.anismo da comicidade de
como obra prioritária do governo seja o móvel principal que leva situação. em que os papéis apa1ecem invertidos em relação à situação
Odorico a tomar as decisões que geram os movimentos da peça: inicia L Isto ê. as duas terrfveis situações criadas por Odorico voltam-se
dramaticamente contra ele: primeiro, em vez de provocar a Maneco.
1. Já que ninguém morre e que na cidade não aparece há um ano e matá-to. Ordovlno, o cangaceiro nomeado delegado, cai na lábia
nem um doente que esteja em estado de dar esperanças. e até o do íornalista que lhe compra, pelo pre<;o da vaidade, sua história, sob
mar está que é uma lagoa e nenhum veranista morre afogado, a ategação de que. sendo publicada em jornal, revelará a cobertura
Odorico resolve arranja r um defunto de qualquer maneira, porque que recebeu de Odori<o, degradando ainda mais a imagem que o
sem defunto, como sugeriu Cotinha, inaugurar o cemitério seda uma capanga ~ria, de outro modo, proteger; e a calúnia que inventa
desmoralizaç§o. Aceita logo o primeiro candidato mais provável, o envolvendo a pobre Dudu, descoberta e denunciada pelo jomalírui
primo em segundo grau de Cotinha, Popó e Dudu. Esses diálogos com que ele pretendia indiretamente prejudicar e qu.e acaba colocando
Cotinha (sobre a campanha acirrada da oposiç~o), com Moleza (sobre contra o próprio Odo,ico até as mais fiéis correligionárias, na ocawo
a carestia de candidatos a defunto) e com Popó (sobre a esperança em que se dâ reconhecimento da tramóia. Man«o denuncia Odorico
de ter um primeiro dono de cova com a vinda de Bebeto) se dão na Prefeitura. para Lenilda, Cotinha, Moteza e Chiquinha. Esta at
no terceiro quadro. São d iá logos rápidos, inteligentes e com uma provavelmente o segundo mistério do amor e da morte. inverso ao
carga de picardia suficiente para que se caracterize perfeitamente primeiro: o amor (verdadeiro) salvou Bebeto ela morte, o amor (falso)
a intenção da comédia. Mas, acontece que este terceiro quadro, levou Oudu ã morte;
4. A Ultima votta deste qüiproquó fica por conta do acaso, e dá fim à por um fim à situação, deixando Odorico de.erasrnente bestificado... :
histôria - um fina l feliz às avessas, quando enfim Odorico consegue apresenta o primo escandalosamente saudável. como registra a
inaugurar o cemitêrio: dentro do prôprio caixão, mais do que defunto, rubnca. a quem lança olhares apaixonados e corresponchdos. Para
vítima de um pseudo~suiddio, tentando simular o atentado que o indignação de Odorico e inveja das irmãs. o seu Netinho desistira de
faria passar de réu a vltima. ser agonàanrista praticante.

Contada assim pare<:e que a trama funciona. No entanto, há passagens A terceira, Oukinéia. mantém com ele um <aso amoroso secreto, dupla
totalmente desnecessárías e amarrações bastan1e inverosslmeis. Por traiçaoao marido e funcionário da prefeitura. Dirceu 80<bok!ta, que tem
e,:empto. por mais v,aidoso e obstinado em sua suprema vaidade, por pelo p.,drinho e patrão uma grande estima, mas de quem recebe uma
mais injusto e tirano para com os funcionários, nào parece cabível a falsa consideração. O romance com Oukinéia cria um alicerce dramático
crueldade gratuita de tramar contra a correligionária Dudu, mesmo mais verossfmil à cilada que o prefeito arma para ela: momemos antes
que deseje fazer dela uma isca para prejudicar Maneco Pedreira. d~saber do próprio Oirct!u que era irmão oblaro, com voto de castidade
Outro exemplo, ainda em relação ao final da peça, apesar da solução e todo, voto este que mantinha mesmo depois do casamento. vira a
humorlstico-patêtica de fazer o feitiço virar contra o feiticeiro, expressão aflita de Dulcineia ao lhe falar sobre um rebate falso de
é inconsistente a versão oficial da morte, contada quase que em gravidez. terrível ameaça que se confirma no sexto quadro;
confissão por Cotinha ao Vigário: Pode dizer a eles que não fo i
suicfdio. mas acidente. A bafa. em vez de pegar no pé dele, pegou no 2. O quimo quadro. nesta última versão da peça. congrega as
pé da mesa, de metal, voltou e se alojou no coração. amarrações principais do segundo momento da ação: apos a tra~o
da correligionária. Mestre Ambrósio adentra a cena com outra
E.ssas imperfeições de um texto tomado na sua versao aínda imatura possibilidade de sal~ilo: traz o homem que vai dar a Effil ddade
foram totalmente corrigidas quando Dias Gomes escreveu a versão o que e1tá faltando a ela. como dit Odorko. Eu já esra,.. cans.>do
definitiva da peça, na ocasião em que fez a adap tação para a 41 de ~rar pel" morte do pnmo Ernesto. Decidi por em pr~tí<a um
41
telenovela O Sem Amado. A possibilidade de vir a tran.s forma r a peça ou CIO plano. p.,ra o ca.so de1Je falhar. E determina, anegó<ico: O que
em telenovela pareceu criar oportunidade para uma completa revisão mandei buscar foi um fazedor d~ defuntos, z= Diabo, a quem f)f!de
no texto teatral, a lterando os núcleos secundários da ação, sem alterar insistentemente que não lhe cause outra d«eptude.
as duas motivações principais de Odorico, agora jti identificado como
Odorico Paraguaçu: a busca de um defunto para a inauguração do O plano ~ra eliminar Neco Pedreira. a pretexto de alguma reação mais
cemitério e a disputa acirrada com o arquiinimigo, conhecido então violenta da pane deste âs contas que Zeca Diabo o taria prestar sobre
pelo apelido, Ne<:o Pedreira, dono do jornal opositor, que de O Clarim depoimentos publicados em sua gazeta marronzista contra a honra
passa a se chamar A Trombeta. Retomando as passagens examinadas do prefeito. Nesta versão eUmina-.se, ponanto. o ponto mais fragil da
anteriormente em relação â peça Odorico, O bem amado ou Uma primeira trama. a cn.se conJugaJ de Odorico e Lenilda. personagem
obra do governo, teremos, na versão definitiva de O Bem Amado: que desaparece. fazendo com que a rivalidade entre Odorico e o
gazetista se restrinja mais ve-rossimífmente ao território político.
1. Mantém-se a vinda do primo, agora chamado Ernesto, e o romance ficando as conquistas amorosas por conta de Odorico;
que com ele mantém uma das irmãs, agora conhecidas como Oorotéia
(Cotinha), Judicéla (Popó) e Oulcinéia (Oudu). Ainda fãs ardorosas 3. O segundo plano também n3o surte efeito e. o que é píor, joga com
do prefeito. que à primeira destaca com ouiros consolos, apenas uma nova traição: o jagunço cai na lábia do pavfenro. Vira con1ra
sugeridos. como na cena em que chega-se a ela. insinuante, como diz o prefeíto a sua famosa má>úma de que em politic.,, os fina/mentes
a rubrica. a gente podia.. .; convite que ela recusa: N3o, Odorico! Hoje, Justioom os n.fo-obsQntes.
não!... É pecado...O primo está morrendo...
Entra então em jogo o mais sórdido dos planos. envenenar Dirceu
A segunda, Juju. e. ainda a solteirona desesperada, que não se cont~m Borboleta contra Oukinêia. desta vez.. pOíêm. com motivos que tornam
ao ver Ernesto moribundo: Que coisa, hein?... Um homem moço, a atitude de Odorico co«ente com a sua personalidade patológica_
jnteidnho ... desperdiçado. Os vermes vão comer. Mas que consegue Convencendo a Dirceu. num diálogo irritantemente hipôcrita. de
que sua mulher manteria uma ligação com Neco Pedreira, um crime certa neurra/iclade. Compreende. quando dois poderes se dig/adiam.
de dupla traição, comete ele mesmo a dupla traição, confirmada e o Executivo e o Judiáário. é prudente que a Igreja não tome partido.
acen tuad a pelo d iâlogo que mantém com Oorotêia, em que, pelo uma sábia posição. de acordo com a ética politica de Odorico.
contrário. afirmando que considera a suspeita desprocedente, cria um
álibi para si próprio. As montagens óo Teatro óe Amaclotes de Pernambuco, bem como
aquelas dirigidas por Gia.nni Ratto, no entanto. não foram baseadas
Essa trama aparentemente surte efeito. Dirceu assassina Oulcinéia e nesta versão. como se pode constatar atê. mesmo pelo confronto de
Sucupira teria enfim inaugurado seu cemítério nao tosse a lm poslçao datas, O Bem Amado, peça de teatro, em sua forma definitiva, não
de úl tima hora por parte da família, de ,emovel' seu corpo para o chegou a ser encenada até agora.
mausoléu da familia, no cemitério de Jaguatirica, conforme a vontade
do meu finado irm.Jo, pai da falecida .

4. No oitavo quadro revela•se a sórdida trama quando Neco Pedreira


despeja sobre Odorico: Escrevi a pura verdade. Que (o; vocé quem
mandou Dona Dulânêia a redação do jornal; foi você quem fnven tou
que ela era mlnha amante; foi você quem emprestou o revólver; foi
você quem d elatou Dlrceu. depols de ter mandado ele se esconder na
Igreja. Ao que Doroté;a, Moleza e Juju ouvem. perplexos.

Desmascarado e novamente sem defunto, só lhe resta uma ultima


salda; pensar no tal atentado que lhe permitiria passar de réu a vitima.
S6 que nesta versão hã um engendramento mais coerente do ato,
43 44
praticado então por Zeca Diabo. que de ator contratado para a cena
forjada, acaba de fato assassinando Odorico, ao qual previne, irado:
Não é brincadeira não, seu Dotó-Coroné-Preleito. Traidor não merece
viver, tanto mais traidor de moça donzela. Se tem bala nesse revólver,
atire em mim, que meu Padim Pade Ciço e testemunha que eu nunca
matei ninguêm que antes não quisesse me matar. Vamos, atirei

O recurso ao justiceiro t orna mais densa a cena, e mais irónica a


salda final: quem inaugura o cemrtério, com o corpo de Odorico é o
arquiinimigo Neco fedreira, fechando a peça no nono quadro, um
a mais em rela~~º à outra versão, no entanto, sem os excessos do
primeiro fi nal.

E.sse enxugamento la? também desaparecerem mais dois personagens:


a Chiquinha dos Padres e o Velho Funcionário que, abson,ido
na figura de Dirceu Borboleta, na primeira vers.ão um simples
borbolerista, <açador de borboletas e marido traido de Dulcinéia.
A tipologia popular permanece nos pescadores Mestre Ambrôsio e
Zelão, antes chamado Pedrão, no fun cionàrio-coveiro-preguiçoso
Chico Moleza, no dono da venda Dermeval e, sobretudo, na figura
do vigârio. corrupto e conivente: Eu continuo, ;ntimamente, com o
senhor. Par a efeitos exterior es, porêm, dcho melhor aparentar uma
Capítulo IV que se transformou numa verdadeira escola de teatro. formando
A História da-s Montagens intérpretes,. diretor~ cenógrafos. revelando autore~ teatrais_.
apurando o gotto pelo espetã<ulo têni<o. Silvmo Lopes. He,m6genes
V,anna. Ariano .SUasruna. Hermilo Borba Filho. Cava/cante Borges,
N/J:o sei se de fato existe uma critica reatrai consistente no Brasil, 011 Lui.s Marinho. Miguel Jasule e vários~ direta ou indiretamen re.
se nunca tive sorte com os cr/tícos. N/J:o que tenha deles qualquer devem ao movimento a oportunidade que lhes foi oferecida de se
mJgoa, alé, porque sempre foram por demais benevolentes com credenciarem como autores teatrilh. lembra Daniel Rocha. num arbgo
minha obra. Mas n5o só nas reslriç//es e alé mesmo nos elogios que da Revista de Teatro.
me fizeram ou fazem, raramente consigo concord1Jr com eles. De
um modo geral, acho que os críticos sempre andaram equivocados O engraçado é que essa organizaç~o começou oasional=nte,
a meu respeito. Com rarfssimas exceçôes, o critico n~o passa de um quando Valdemar de Oliveira foi convidado a organizar um
espectador privilegiado, porque n.Jo p.,ga entrada e p ode externar espetâculo comemOfattvo do centenario da Sociedade de Medíàna
sua duvidosa opinião numa coluna de jornal. Acho que o verdadeiro de Pernambuco; escolheu a peça Knock ou o Triunfo da Mecndna,
critico é aquele que apreende as inl'enções do autor e analisa a obra de Jules Rornaín, e trabalhou <Offl um elenco de atores fonnado por
a partir dai. médi<os e familiares. Estava criado o espírito do grupo.
Dias Gomes
Pois o traço de identificação do TAP era o fato de s« formado por
profissionais de dive<1a> ~reas: professores, médicos. advogados.
bancários. comerciários. universitários. a quem aderiram os outros
Teatro de Amadores de Pernambuco: O Grupo e a Montagem
membros das familias. Durante largo perfodo foi praticamente a
O Teatro Santa Isabel ê uma das reliquias que a cidad e de Recife
única organiu(ão enãvel exisrenre no Nordeste~ oferecendo um
45 46 repertório de qual/da-de ao seu púb/i(o, n.fo apen:n do R«ife. ma1
conserva do período em que foi capital da provinda (1827). A partir
de 1838 foram realizadas importantes o bras na cidade, dentre as
de outras capitais_Gustavo 06ria. em seu Moderno Teatro Brasileiro.
quais estão a construç.ão dos prédios do Palácio do Governo e do acrescenta que um outro aspector tambêm digno de destaque era o
Teatro Santa Isabel. Para a restauração deste velho e importante fato de Valdemar de Oliveira mandar buscar encenadores de renome
ambíente, por onde passou o que de mais representativo houve no para ding,r as p,oduc;óes do grupo: Ad<Kto filho, Ziembmsky, Turl<ow,
desenvolvimento cult ural da cidade desde a sua construção até o Willy Keller, Gras,, Mello. Flaminio. Bollíni, Cerri e tantos outros; não
nosso século, muito concorreu o esforço de Valdemar de Oliveira. que media despesas na apresentação de seus espetáculos, quase sempre
chegou a ser diretor da instit uiçao durante algum tempo. Homem de reveladores de um belo punhi>do de talentos a serviço do teairo.
cultura. jornalista. músíco, autor, intérprete e diretor teatral, Valdemar Isto sem falar no cuidado com que escolhia o repertório. que vai de
de Oliveira desempenhou uma importante liderança, sobretudo após Pirandello a Garcia Lorca, de O'Neill a Andreiev (. ..) sólidas bases
a morte de Samuel campeio, o utro grande benemérito da cultura estáveis para o reatTo.. no seu aspecro mais rradkional.
de Pe rnambuco, com quem colaborou. Foi ele o responsável pela
renovaçao do gos,o pelo teatro, quando, na década de 30, fundou Dentre as contríbuições que deixou como exemplo. pode-se aponta,
o grupo Gente Nossa. Com o desaparecimento de Samuel campeio, o fato de ter o seu é.xito contnbuido para sust·ar um pouco o delírio
d issolveu~se o grupo. apesar do esforço feito por seus integrantes de transf0<mação dos velhos teatros em cinema. tendo incfusive
para continuar a montar os musi,ais e operetas que c:aracterizaram incentivado a consttU<:k> de uma bela casa de espeúc:ulos que se
seu repertório. O Gente Nossa se dissolveu após o longo perlodo de chamou Nosso Teatro. Além da contribuição humana ofere.dda
dez anos de duração. ao teatro brasileiro. entre autores e atOfes que. partindo do TAP.
atuaram em pakos de Rio e São Paulo.~ hoJe em dla hã grupos que
No início da década de 40, e. provavelmente incentivado pelo sucesso podem superar a qualidade de seu trabalho.~ se pode esquecer
do grupo carioca Os Comediantes, fundado em 1941, ocorreu a que. com certeza. pertencem à geração que herdou o gosto apurado
Valdemar d e Oliveira criar o Teatro de Amadores de Pernambuco. e a seriedade que procuravam implantar a seus espetâculos..
Aci~. Cotmh., (Dina e/(> Oliverd), Odooco (Reinaldo de 0/lfflraJ e Dudu(Violet.-. Claudla
Tom>olo); abaiKo., cMa do velorio de Odori<-o
Em agosto de 1968, o TAP e nviou para a Censura Federal, em Brasilia. impossível, considerando que. sobretudo após o AJ.5, essa critka
o pedido de liberaçao do texto Odorico, O Bem Amado. praticamente desapareceu. A úmca critica. aliás não assjnada, que
consegui graças á boa vontade de Geraldo Queiroz e Roberto de Cleto.
Pela demo ra - ate outubro ainda não tinham recebido nenhuma apareceu no Jornal do Commercio. Chamou-se apenas Odorko., O Bem
resposta - o grupo defini u uma outta estratégia. Mandar cinco ou Amado, e saiu em duas partes. Nâo são comentados os cenários e nem
seis peças à Brasília, para ver se pode encenar em ... 1970. Reclamou tampouco seu idealizado<: lê-se apenas a menção, ••. e o ceNrio (cujo
Valdemar: Em 1969 repetirei o que já esr.ivercemurãdo. Eassim ;,emos autor o programa por um lap;o n3o cita}... e a relerênda ao pessoal
vivendo, se ê que isso ê vida. São numeroslssimos no Brasil de hoje, técnico: ... rud<> funciona bem nos bastidores. como a contra-regra,
os conjuntos teatrais que se têm enrascado à espera da Censura, tudo a cargo de Ida/to Vida/; ...e a eletrk;,Jade do competente Erivaldo
resultado da ídéla luminosa de centralizar em Brasília a Censura do Moti>; Pontos altos também s.to a car,>cteriz.>çSo de Nita Campos Uma
pais inteiro, sem terem somado os funcionários - que pelo pais ;nreiro e os pemeados de Marlinha-..
censuravam pe(as antes da dita centraUza(ão.
Observou tambem o critico. a harmonia entre o apefo caricaruraJ das
Em 30 de abril de 1969 o TAP est reou Odorico, O Bem Amado, com personagens de Dias Gomes e a resposta cénica do diretor. tomando
cenário e direçao de Alfredo de Oliveira, no teatro Santa Isabel, data drfiat a tarefa de estabetecer ate onde vai o texto. desde quando começa
da estréia nacional do texto no teatro. o trabalho de Alfredo de Oliveira: Este éo maior elogio que poderíamos
fazer á díreção de Alfredo de Oweira. que se funde e confunde com
Fkha têcnica a peça.. como se ambas tNessem nascido gê.meas. MUlt.Os dos a·chados
Direção e Cenários: Alfredo de Oliveira que brilham por um segundo são iná&Utwelmente da mise-<!fHCêne:
Caracterização: Nita Campos Lima ê ela qve faz dáfl(ar essas uiõturas frivolas. alguma. plOpOSÍtadámente
Iluminação: Erivaldo Mota
convencionais ou caricaturais. ao som de um ritmo endia~ ritmo
Maquinária: Alceu Domingues Esteves
Contra-regra: ldalto Vida! 49 !iO
de notas de mus,ca, de rr= d e ~ de movimentos..
Penteados: Marlinha
Quanto á temporada, ~undo a me,ma critica, foi um sucesso, tendo
Elenco superlotado o teatro Santa Isabel (800 lug.,res). Reinaldo de Ol~ra
Chico Moleza: Enêas Alvarez proti>gonizava Odorico dentro de uma tinha de comicidade diferente
Mewe Ambrosio: Antonio Albuquerque Melo da que depois foi ador.ida por Dias Gomes. na época em que Odorico
Dermeval: Nuno Gued es Pereira foi levado por Paulo Gracindo na televisão. O espetáculo teve
Pedrão: Pedro de Souza produção e encenação cuidadosas.. mas em primeiro plano. colocou,.
Chiquinha dos Padres: Vicentina Freitas do Amaral se a atuação de Reinaldo de Oliveira, como Odorko.
Odorico: Reinaldo de Oliveira
Le nilda: Elaine Cavalcante Soares É especialmente pelo sentido profundamente humano com que
Cotinha: Diná Rosa Borges de Oliveira Reinaldo marcou esse personagem, de tal modo que mesmo <aricarural
Popó: Violeta Cláudia Torreào (_,) n§o deixa de ser hufflêlno, natural sem que o o1tor haja pe.,d;do
Dudu: Netinha Guedes Pe,eira o bom gosto nec~rio para n~o pisar ridiculamente em falso. (_.}
Dirceu Borboleta: Pa ulo Ferreira Odorico repres-,nta oirenta por cento da peça. E Reinaldo contribui
Velho FuncionMo: Roberto Corrêa de maMira decisíva calvez atê para a impressAo de domínio total,
Maneco Pereira : Jones Melo integral de toda a obra com seu per$011agem, pela força avassaladora
Vigário: Alfredo de Oliveira de SJJa ui.>çJo.
O rdovino: Ormindo Halliday
Bebeto: Luís Carlos Nunes Machado A critica salientava ainda. a influência do encenador, que se faz
presente na criação do ator, levando-o a pensar sobre quanto são
Quanto ã recepção da peça pela critica especializada. poucas fecundas as influências de artista a artista, quando não redundam
observações se tem a fazer. A coleta de informações tornou~se quase em artificia lismo. E com veemência prosseguia: A criação de Reinaldo
de OUveira em Odorico, O Bem Amado continua a nos acompanhar no Teatro Opinião. no Teauo Municipal do Rio e de São Paulo. no
depois que saímos do teatro - e nos acompanhara por muitos e Teatro São Pedro, no Casa Grande e em tantos outros. Oe 1962 a
muitos meses. Ressalte·se, ainda, a versatilidade extraordinãria desse 1964, ocupou o cargo de Diretor de Cenografia na lV Rio. De 1975 a
nosso grande ator quando passa da parte eminentemente cômica 1977 foi Diretor Artístico da Fundação de Teatros do Rio de Janeiro
para a tragicômica ao se ver perdido na sua obsess~o de conseguir
um defunto para inaugurar o cemitério e planeja um falso atentado Gianni, sem sombra de dúvidas, é um homem de teatro polivalente.
contra si mesmo, para se tornar vítíma da situaç.1o e, assim, re<uperar tendo trabalhado em todos os setores das artes cênicas. em direção.
perante o povo o prestigio perdido. Nesses inrtantes de rápida cenografia, figurinos.. iluminação e até roteiro. Eisso não só em teatro
mvtaç6o de orientaçJo interpretativa, Reinaldo demonstra toda a sva propriamente dito. mas tambêm e.m b.alê, õpera. cinema e televisão.
larga experif!ncia e amplo domlnio de palco qve o fazem, sem favor,
vm ator d e grande correçAo. Vale a pena transcreve, o que disse Dias Gomes sobre Odoria,, O Bem
Amado, em apresentação pu:blkada no programa da peça,. tanto na
Quanto aos outros atores, a critica justificou que se apagados estréia em Brasília. q:uant.o na temporada carioca:
estiveram. nAo foi pelo desempenho, mas porque assim os deixou o
próprio autor. Mas que todos colaboraram para a eficiência do alto De todas as minhas peç~ foi esta a que teve vida mais addent.ilda.
nível alcançado pelo espetáculo. sua primeira venão data de 1962. Do tempo em que escrever uma
peca com quinze personagens e esperar que e.la fosse ena!l1ada Aio
Em suma, Odorico, O Bem Amado nos traz de volta o Teatro de era, como hoje. sinal evidente do deJajuscamenro oo debilidade
Amadores de Pernambuco, revivendo os bons momentos de alguns mental. reclamando p,3ra o sef.l autor internamento urgente numa
de seus espetáculos mais bem elaborados, teatralmente falando, que
clinica especializada. Hoje os empresários não léem mais as peças.
Já vimos ao longo de tantos anos..• contam a.s personagens. E quando estas excNIMn de r.tis. oJhdm para
Valdemar de Oliveira referiu-se emocionado a esta montagem como
51 n6s «>m cara de etpanto:
- Para que tudo isso7 Quer que haja mais gente no palco do que na
símbolo de absoluta dedica~~º do grupo ao melhor da arte teatral.
platéia? E devoiYem a peça, obrigando-nos a pedir desculpas pelo
O TA P · desculpem seus inimigos - tem sete fólegos de sete gatos.
nosso de/frio de grandeza.
- Quinze personagens! Por que YOCê não escreve uma ôpera? Teatro
é a arte da sintes-et
Elenco Sociedade de Teatro: O Diretor e a Montagem
Eo teatro brasileiro parece qve caminha bril~ntemenre para a sinrese
Gianni Ratto nasceu em Milão, na Itália, a 27 de agosto de 1916. total: todas as personagens numa só. En.Jo ~ longe o dia em que na
Est udou artes plásticas no Liceu Artístico de Gênova e no Centro platê,a havera também um único espectador- a maravilhosa sli1tese
Sperimentale dl Cinematografia, em Roma, fez o curso de direçao de todas as outras! Teremos então alcançado a perfeição.
de cinema. Ingressou na Faculdade de Arquitetura do Politécnico
de Mi lão, não chegando a concluir o curso. Participou, em 1946, Por isso. como Odorico não foi encenada imediatamente vendi meu
da fundação do Piccolo Teatro de Milano, onde trabalhou como argumento para um filme que nunc-.a f01 feito~ passados oiro anos.
diretor técnico e cenógrafo, por um ~rfodo de sete anos. No Scala parecia a.ntediluviano sobre-1vente de uma idade perdida quando
de M il~o sv a permanência ocorreu entre 1947 e 19S3, como vice- surgiu um jowem e audaz p1odu10, querendo levá-la à cena. Confesso
diretor técnico de montagens. que1 a principio não acredi tei. Naturafmente ia me pedir para fundir
todas as personagens em duas ou três. etc.. Mas não, permitiu até que
Veio para o Brasil em 1954 para inaugurar o teatro de Maria Delta entra~ mais uma1 um vilc1.../ara, espantoso! Tudo isso arontecendo
Costa, onde participou de vários espetãculos. e ficou. Seu currículo oo Estado da Guanabara, onde teatro P ol~do como uma praga que
ê extenso, tendo trabalhado no Teatro Nacional de Comédia, no é predsoexdnguír. coisa que ofende maisasnarinasdecertaspessoas
Teatro Cacilda Becker, no Teatro dos Sete, que ajudou a fundar. que os peàa que morrem diariamente na lagoa. Fantánico.
A frente. Pnxdpioferteira. hCem.J deAle~G,. OiasGo.mese bOldd úes:.a tlil segorw
A Cil, Ekfl<o S<Jciedide de Teavo. J lrMte. Di.>s Gom~ Giaflfli R.ir-ro. Jr'<)cem.> dt! IP.d.. ,trtt,granr~ do ~lena>
Alem.ar, Orlar,do Mirand<1., Procopm Fem>,rif na ~~d.a Ma. e o t-f«rco
Bem, mas ai está Odorico em cena, por mais fantástico que pareça. Esta Elenco
peça pertence a uma fase em que a dramaturgia brasUeira procurava De<meval: Alvim Barbosa
realidade, fazendo uma espécie de tipificação do nosso povo. Odorico Chko Moleza: Antonio Ganzarolll
Osório é um tipo de político que - embora a prática de eleições pareça Mestre Ambrósio: Antonio VICtôf'
já coisa do pass.ado - é bastante comum não só no interior como Pedrão: Adalbeto Silva
nas grandes cidades. t claro que o grau de demagogia e paranóia é Chiquinho dos Padres: Nilson Rezende
variável. Mas o processo é o mesmo. E n3o se pense que a proibiç~o Odorico; Procópio Ferreira
do povo eleger seus candidatos nos /i'vra dos Odoricos provincianos ou lenilda: Isolda úesta
citadinos, estaduais ou federais. Eles exisrem e continuar~o existindo, Cotinha: lracema de Alencar
com maior ou menor extroversao, porque s~o fruto Mo só da prática Popó: Maria Helena Velasco
da democracia, mas da alienaçllo e do oportunismo dos governantes Oudu: Ruth Mezecl<
eleitos ou nomeados, escolhidos ou impostos. Dirceu Borboleta: Celso Cardoso
Velho Funóonário: Waldir Maia
A estréia se deu no dia 11 de marco de 1970, em Brasília, na Sala Mane<o Pedreira: Rogério Fróes
Martins Pena, do Teatro Nacional. Sob o patrocinio da Fundação V,gãrio: luis Carlos l.abord•
Cultural do Distrito Federal, a cargo da Companhia Elenco Sociedade Bebeto: Alvim Barbosa
de Teatro. do Rio de Janeiro, numa premi~re que abriu a temporada Ordovino: Nelson Mariani
teatral da capital da República. Oprodutor Orlando Miranda manteve Stand-in: Tony Ferreira
todo o elenco de O Avarento, de Moliêre, montagem anterior do
Princesa Isabel, satisfeito que estava com o resultado da equipe. Para
complementar o elenco chamou lracema de Alencar, Maria Helena
Velasco, Rogério Fróes, Antonio V1ctor e Waldir Maia.
55
OrlandoMlrandaescolheua peça,apósouvirsualeitura, noínidode70, no
ciclo de leituras dramáticas de textos inéditos nacionais promovido pelo
Centro Cultorai Sigla Viva, na cinemateca do Museu de Ane Moderna,
por Maria Pom~u e Carlos Aquino. Animado também com o sucesso
que a peça obtivera, no ano anterior com a montagem realizada pelo
Teatro de Amadoresde Pernambuco. no teatro Santa Isabel. em Recife.

Ficha técnica
Direção e cenários: Gianni Ratto
Assistente de direção: Alvim Barbosa
Produçao: Orlando Miranda
Musica: Elton Medeiros
Supervisão de figurinos: Tatiana Memória
Contra-regra: Nilson Rezende
e,ecução de cenários: lrimeu
Execução de figurinos:
Dolore s Paixão
Fotos: Carlos
Cartazes: Rubens Araújo
Publicidade: Publicidade Certa
Gerente: David Machado
Praça da ddadezmha de SUcupira (aamaJ. e Odorico e Ch;co Mofeza (abatl!'o) Odo,,,rQ (Procop,o f#!nr,r,., • Coe•"~ QrtKJtf'W OIP ~.,-J rw ~fe,bJr• iioKJm.lJ, • o
U ' ~ de S,...r,.;p,ra 'abatl"O
\
1

Acima, a pr-efe;rura de Sucvp,,a; e abaixo, ódorrc.o em campanha e/eiton,r t.emlda A(.,tt't.. ctOCap,Q. r""t>tV • Orla:ncb Mcr.2ndl e~- o~"",..,,"""'° p,,1o sul
(t~ld1J Crtrt1,l Odorr<o. />C()ó (Ma H~ltn" v~sc-o), Cotlnno e Oudu {Ruth Mttt<k)
""-
Em 18 de março de 1970 a peça estreava no Rio. no Teatro Gláucio Gil.
(ex-Teatro da Praça). A intenção de Orlando Miranda e Pedro Veiga
e ra de excursionar com a Companhia Efenco Sociedade de Teatro
pelo país e posteriormente embarcar com a peça para Portugal. Em
fins de março realmente a impr ensa noticiou a viagem de Orlando
Miranda para Lisboa. Mas o objetivo da viagem e ra ainda estudar a
proposta, junto ao Secretariado de Turismo e Informação do Governo
de Portugal. A idéia era viajar de outubro a dezembro, aproveitando
o sucesso de Procópio Ferreira nesse país. Mas ficou só na idéia.

Para os produ1ores a época já estava difícil, os empresários dando


preferência às propost as de elenco pequeno. Dentro desse quadro,
a audâcia de Orlando Miranda e Pedro Veiga de colocarem em cena
quinze atores, alem de todo pessoal técnico. deixava feliz toda a
classe teatral. apesar do numero de atores nao garantir. em absoluto,
a qualidade do espetáculo, como registra Oscar Ararípe em •ua coluna
do Correio da Manhã: Os espet,culos deste inicio de ano, no Rio,
apresentam o seguinte quadro. no que diz respeito aos atores: Remina
e Julian tem três personagens; Plaza Suite, cinco; Como se livrar da
Coisa~ dois; Fala Baixo. Senão Eu Grito, dois; Agenda Confidencial
dols; estrearão Brasil & Cia, um; O Arquiteto e o Imperador da Assiria,
dois. Apenas entre os que ercrearam, Agamenon e Odorico, O Bem
Amado, tlm mais de cinco atores. 61

Quando no programa, Dias Gomes se refere e\ peça como sendo a mais


acidentada, e le sabia o que estava dizendo: uma semana após a estréia.
o produtorOrlando Miranda foi três vezes multado pelo Departamento
de Fiscalízaçãodo Governo do Estado da Guanabara em NCRS 18.000,00
sob as mais diversas alegações: Inclusive uma que o penall:ava por nao
ter alvará de elenco, coisa da qual n inguêm jamais tinha ouvido fa lar.

Entre março e junho de 1970, sem interferir na temporada do Rio


de Janeiro, o grupo excursionou pelas seguint es cidades: Barbacena.
Florianópolis, Leopoldina, Pelotas, Porto Alegre, Santa Maria, Ca.xias
do Sul, Blumenau, Bagé, Uruguaiana e Ros~rio do Sul.
Capítulo V que permitiram gravação ao ar livre. fora dos estúdios. como era de
Em Busca de Novas Sucupiras costume. O equipamento portátíl semi-profissional e a habiftdade do<
récniCO\ chefiados pelo Sr. Matos, permitiram .a realização dHSe feito
jnê<frto~ No entanto. não sem algumas impcovtSações costu.me-:tras,.
Acho que ninguém aprende a ser dramaturgo, como ninguém como cO<tar a fita com gilete, emendar com dvre,i e fazer gatilhos no
aprende a ser poeta. Você pode aprender algumas regras básicas de equipamento importado.
playwrítlng, mas isso n6o faz de você um autor de teatro. Níngvém
é, escritor só porque sabe gramJtica. Qvanto à televis~o... bom, esse, Dessa experiência restou parca memôl'ia. como sempte. Todavi.a
ovtro p:,po. Se você já é vm avtor, de teatro ou de romance, vm permanece impoluta a imagem daquete Odorko. esrufpida pelo
contista ou um poeta, você pode aprender a escl'ever para a televisão. arquiteto Antonio M . Gomes. com os uaços do ator Roland Boldrin,
Eo diabo é que isso só se aprende fazendo. Qvebrando a cara. Porqve que o conserva atê hoje. Alêm do vafor afetivo. a existéncia desse
a televis~o tem uma linguagem própria, qve difere do teatro, do busto. talvez a únka prova de que a versão televisiva: de Benjamim
cinema, da literatura, embora roube elementos de cada um deles. E e Cauan tenha sido a primeira, em rujo subtituk>, apõs Ch Mistérios
uma linguagem nova, surgida em nosso lempo, com novas formas de do Amor e da Morte. como apresentação breve também se lia
comunicação, de assimilação da cultura e de percepção esteti(a. Semitragédia Polítko-Pato16gi<a com Preciosos Elementos Passionais
onde se Fornecem Subsidias para o Discurso Inaugural do Busto de
Dias Gomes Odoric.o, Louvável lnici.Jtiva Daquelas que Muito o Amaram.. por
Alfredo Dias Gomes, qve o conheceu em vida.

Primeira Incursão Televisiva: TV Tupi ~ São Paulo Do elenco, participaram Roland Soldrin no papel de Odorko, Marisa
Sanchez interpretando lenilda. Oenir.a Mkhel como Cotinha, lourdes
de Moraes no pa~ de Popó e o atw órceme Juju, como Dirceu
Após o golpe militar de 64, chegou ocasionalmente às mãos de
Benjamim Cattan, então diretor e produtor do programa TV Vanguarda,
63 Bo,boleu, tendo Mario Potnponet como díretor de TV.
da TV Tupi de sao Paulo, um exemplar da Revista Cláudia, do Natal do
ano anterior, em cujo número especial saira publicada a peça de Dias
Transformações - A Nov._la - lV Globo
Gomes, Odorico, o Bem Amado - Os Mistérios do Amor e da Morte.
Benjamim cattan entusiasmou·se com a leitura e imediatamente
Arrebanhei minhas ~gens. minha temJtka, meu peqveno
solicitou à SBAT autorização para gravá-la em versão televisiva, no universo e como quem apenas muda de casa sem mudar de mobifiário.
programa que dirigia. Isso ocorreu em 12 de julho de 1964. procurei dar c011tinvidade a minhas experiêncías manejando vma
nova llnguagem, um noKl meio de ex.pressão.
Nesta mesma época, as Emissoras Assodadas estavam promovendo a
construção da chamada cidade colonial, num grande terreno baldio, Dias Gomes
onde hoje se localila o lbirapuera, projeto do cenógrafo lrênlo Maia,
para a realização de uma festança popular. Era a reproduçao perfeita Em 22 de íaneíro de 1973, foí ao ar, pela Rede Globo de Televi~o, o
de uma cidadezinha do interior, com piso de pedrinhas, igreja, coreto, primeiro capitulo da nowla O Bem Amado, adap,açãoda peça Odorico,
bandinha de música, roda g igante, carrocinha de pipoca, botequins, O Bem Amado ou Uma Obra do Governo. de Oías Gomes. sob a dír~o
maçã do amo,, e tudo mais. Durante meses a cidade colonial recebeu a de Rêgis C.rdoso. Na transposiçAo. realizada pelo próprio autor,
população, em festa permanente. Festa essa que acabou tempos mais houve um maror aprofundamento da temãtica e um ennquecimento
tarde, quando o exército achou por bem transformá -la em quartel. notável das personagens. sobretudo no que da respeito à linguagem
de Odoriro Paraguaçu, que recebeu en!Ão a carga de neologwnos,
Mas antes de cumprir esse destino, no periodo em que apenas abrigava que o imortalizou na boca do povo. Era a teKeira da série de novelas
festeiros, serviu de palco para as cenas de O Bem Amado. Benjamim que Dias Gomes escreveu e a primeira a ser transmitida a cores pela
Cattan aproveitou-a para gravar em videotape a peça de Dias Gomes. televisão brasileira. Alem ãJS.SO. com O Bem Amado abriu-se o mercado
Ajudava ..o a chegada das unidades móveis e portáteis da televisão, internacional para as produções de TV.
Em 19TT. a editora Belk. de Porto Alegre. reuniu em um volume a
peça teatTal que deu origem a noveta. ja com o titulo simplificado
de Odorico, O Bem Amado, ante<edída de uma curta novela lnerana
es<rita pefo pr6prío autor para ~ r de base J adaptaça<, para a 1V.
Essa sínopsepermitiu umexamedas vansfonnaçõessofridas pelo te>Cto,
não sõ enquanto enredo. aniculação das cenas e estabelecimento de
nudeos dramáticos mas. sobretudo. quanto à ampfiaç_ão do universo
humano composto agora por- mais de 40 personagens.

I
Paulo Gn>c,ndo, como OdorKo P~rJgu(}{v ()Olot,(oiP,hUOGtiiOndol. Dorocei.t h:»Gormf$., o ~ ~ f ' l ) f t j (. ao fl#'IOO.
Dinft., õorbo4tti1 (Fm-,Jiano ~
Refação de elenco Alguns aproveitamentos de personagens merecem destaque.: é o caso.
por e xemplo, do famo<0 Zeca Diabo, interpretado por Lima Duarte,
Personagem Ator cuja h1$16ria começou 30 anos antes como personagem-título de uma
Odorico Parag uaçu Paulo Gracindo das peças escritas por Dias Gomes em 1943. enquanto conuatadocomo
Dr.Juarez l eão Jardel Filho autor.fixo pela Companhia de Procópio Feneira. que interpretou o
Nezinho do jegue Wilson Aguiar papel de Zeca Diabo. Encenad.1 no Teatro Ovlcina, no Rio de Janeiro,
Donana Medrado Zilka Salaberry a peça abordava o problema do cangaço. Nada mais prop,cio do que
Joca Medrado Ferreira l eite aproveitar o perfil já corutituldodo jagunço para aplíc:á-loao jagunço.
Anita Medrado Dilma lóes delegado, que Lima Duarte consagrou depois., com sua memorável
Carlito Medrado D'Artagnan Mello interpretação na no111?la.
Coronel Medrado Rafael de Carvalho
A estrutura bâsica d a pef;a não foi modificada na sua transposiç.ão
Neco Pedreira Carlos E. Dolabella
para a televisão. Pelo contrário. a multipliàdade de cenas trabalhou
Gisa Portela Maria Cláudia
de forma mais convergeme para alimentar o nudeo central do
Jairo Portela Gra cindo Jr. trágico destino de Odorico; sua te imosia em obter um cadáver a
Teima Paraguaçu Sandra Bréa qua lquer pre_;ço para inaugura r o cemh:êrio e impedir a de rrocada
Cecéu Parag uaçu João Paulo Adour de seu prestigio político. teünosia que acaba lhe custando a p.rôpria
Chiquinha dos padre s Ruth de Souza vida, castigado fatalmente pelas consequências das ciladas que
Vigário Rogêrio Frôes tramou. t enta ndo d1iblar a sorte. os amigos e os inimigos - na
Maestro Sabiá Apolo Correia verdade foi efe o único conspirador maquiavelista. que os efeitos
Dirceu Borboleta Emiliano Q ueiróz de comicidade d a novela ridicularizam. Mas na sua para nóia ridJcula
Dulcinéia Oorinha Ouval 67 68 pareda qve tudo se armara contra ele, de tal modo que, tomo se lê
Doroteia Ida Gomes na sinopse:
Judicé ia Dirce Migliacdo
Hilário Cajazeira Álvaro Aguiar Odorico chegou J concl<Jsao ~ q~ todos conspiravam contra ele.
Zelão das asas Milton Gonçalves A ddade mte;rá. Era uma varta conspirata maquiavelista. rah.-ez com
Zeca Diabo lima Duarte ramff"KaÇões nacionais e in'temadonais. que estava em ru.rso para
Jussara Valêria Amar dpeá-./o da Prefeitura de SUc.upi.ra. com inreresses escusos. quiçá
Mestre Ambrósio Angelito Mello anfjpatrióôcos. E ele precisava desmantelar essa cornpiraçlo.
Mariana Teresa Costa
Eustórgio João C. Barroso Hã. pois_ três impulsos que se mantêm. do ptinápio ao fim da nove~
e que movem as ações e sustentam o perfil de Odorico:
Tião Moleza A.Carlos Ganzarolli
cabo Ananias Augusto Ollmpio 1. Denotar cancfidatos oposióonistas. alerta contra inímigos perma-
Seu Libório Arnaldo Weiss
nentes: a simpatia pelo Jegue do Nezinho e a àênoa do Dr. Lulu Gouveia;
Tia Zora Ana Ariel
Dermeval Juan Daniel 2. Construir o cemitérM>, cumprir a promessa eleitorei,a, e não
Porteiro do hotel Jorge Cãndido ina ugurá-lo po.- escanez defuntida. transforma em íni:migo.s. e/ou em
Nad inha Jorge Botelho uaidores circunstanciais. os que trabalham contra a produção de um
Mulher do Lib6rio Isolda Cresta defunto:. o cnêdico Or. Jua,ez carneiro. porque s;,lva os candidatos;
Dona Florzinha Suzy Anuda a cotreligioNria Juju, po,que trabalha pela cura do primo; Zeca
Segura nça de Odorico Eliezer Mota Dia bo. porque faz afiança com Neco Pedreira; a policia,, porque
Ernesto André Valli resolve homenagear o tenente morto. em Salvador; os ocultadores
anónimos do corpo da vitima do duelo entJ"e Medrados e cajazeira~
po, motivos ô ~ e. por ·fim. o pai de Outcinéi.a. pot querer enterrã-
la em Jaguatirica.

3. Não inaugurar o cemite.rio aumenta o seu desprestigio político, bem


como as ame.aç;as: a gravidez de Dulcinéia, pelo escãndato e reação do
ingênuo Dirceu Borbolela; a presença de Zeca Diabo, por parec.e r que
ele, o prefeito, acoberta iagunço: sem falar nos ma.is t.e midos, Donana
Medrado e Neco Pedrejra.

A maneira mais econõmica de mostrar como se articulam as .se--


qüéndas prevjstas para o desenvolvimento da novela parece ser.
em primeiro tugar. a enumera~o das ações que. potencialmente..-
podem vir a produzir o defunto desejado e a frustração dessa
expectativa · o nó e seu desfazimento. negativo(·) ou positivo(+),
como se ve a seguir:

Enlace X Desenlace
ACJma Od011eo. o vig,rla (Ro9ff°t0 FrdeJ) ~ Tia Zora (Ana Ariel) t, abal.11:0. Odorteo e ;,
lílN Telmo (Sondro Breo)
70 l. Vinda do primo motibundo (.) Cura pelo Dr. Juarez
2. 1• ,u,cidio de Libó<io (·) Salvação po, pescadores
3. Proposta de aime a Zeca Diabo (·) Alian(a Zeca com Ne<o
4 . 1• v6o dez~ d;,s ª"" (·) Paralisia e ftustril(âo
S. Roubo das vacinas de tifo (·) Culpa de Ze<a l....a cura
6. Guem Caíazeira x Medrado (-l Sume cadáver Oermeval
7. 2* su,ddio de libó<io (·) Falha de meõt<amento
8. Falso atenu,do a Odorico (+) Morte gera cadáver
r
9. v6o de Zel~ d;,s asas (+)bitodo võo

<:ada um desses núcleos «ntrais foi desdobrado em subgrupos de


a.;ôe:s,. que em geral fundonaram como ele-mentos de ligação. a iando
ganchos para a mamne~ do suspense. São eles que estabelecem
elos entre personagens. P<oduzindo um lastro de verossimilhança para
as ações futuras e elaborando um sistema de causas e conseqüências
tal. que permita às ações principa;s não funcionarem isoladamente.
Forma -se então um novo quadro. subsidiário. de ações movidas
pelos desenlaces do quadro anterior., movidas a frustrações. Entram
aj outros jogos de ime.res.ses: tanto as fofocas familiares e como as
conquistas amorosas de Odorico.
Acima, Rogeno Ftóit'S, ator mo iderttificado. Oirce Migliacüo, Dorinha OuraJ e Ida
Gom~: ;,b<Jl1'o, Maria Cla•td 11, G~CJndo ,,_ e tmlliano Of.Jt>lróZ

11 1
1111
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11 11
Situação > Consequênda fone que chegou a incolll()(!ar políticos de verdade. A manifesta910
irritada dodeputadoAJuisioParaguassu. doMDBgaúcho. êum exemplo
1. Chegada de Teima Interesse de Neéo/raiva de Anita típico. Declarou ele. em entrevista ao Jornal O GJobo, em fevereiro
2. Chegada de Dr.Juarez Interesse de Teima/raiva de Neco de 1973: A ímõgem é nosso rapíta/. Como a novela ..em alcançando
3. Rixa Caja2eira x Medrado acentuação rixa Neco x Odorico altos fndkes de audiência, tenho razões para estai preocupado
4. Chegada de Zeca Diabo leitura com D. Doró com a pos:sib1fidade de os eleitores me confundirem com o OdorKo.
5. Chegada de Gisa e Jairo Paixão de Odorico e ganho Cecéu
6. Perseg. Zeca/morte tenente Prislio de Zeca e fuga Eustórgio Na verdade, durante a ap,e.sentaÇão de seus 178 capítulos. a novela
7. Visita de D. Doró á prisão Instrumento de fuga de Zeca manteve um índice de audiência de68%, o que, na época, representava
8. Desaparecimento de cadáver Espíonagem no confessionãrio um univefso de 30 milhões de espectadores em todo o pais, fato
9. Revelaçao de segredo lmpeachment de Odorico inusitado inclusive por ocorrer no horário das 22 hori1$. ainda inédito
Desespero de Dirceu Assassinato de Dulcinéia para novelas. Pelo sucesso de púbíKO e critica, pelo satdo de ptêffljos
1O. Descoberta fita gravação Desmascaramento Odorico de melhor at.or do ano para Paulo Gracindo e de revelação do ano
11 . Zeca pode ler a noticia Falso atentado vira vingança para Lima Duarte, como Zeca Diabo, afirmou Rêgis C.-.rdoso, em 1975:
12. Corpo de Odorico Inauguração cemitério por Pra mim. O Bem Amado foi uma das reaUzaç_ões mais marcantes da
advers.ãrío político televisão brcuileira. E dirigir essa novela foi a coisa mais importmte
Qt.H! aconteceu na minha caffeira. Tratava-se de uma experiência
pioneirisslma., aquela de fazer a primeira nove-la em cores no Brasil
Portanto, se na peça a ação aparecia recortada num contexto apenas Lem~me do grande cuidado que tfnlwmos com o equ,pamento
indicado, interrompida num momenlo que anunde a aproximação recém-importad-0, estávamos sempre p,ocurar>do angulaçoe. que mo
do climax, pois que o teatro ê arte de síntese. na novela o caminho forçassem o material que estrdvamo>. Por causa dÍ$SO, reporíamos
foi inverso. Foi preciso dividir, espichar, desdobrar, analisar. As
74 inúmeras vezes as mesm.» cenas. Pon s6 tra~lhar>do é que
73
diferentes peripécias reforçaram o humor e a ironia para que. pelo desoobrfamos o que er., ou ~ posslvel de fazer com o equipamento.
final moralizante, o feitiço virasse contra o feiticeiro. Foi um esforço fflOrme: ~ procurar>do a perfelçAo té<nica, o Di.ts
Go~ bu:Jcando um.! nova linguag~m para a tel~novela
Produzir a novela não foi fácil. O trabalho era árduo. As dificuldades
advinham naosódo fato de ser a primeira novela a cores. como também O final da exibk;ão marcou uma llOVa etapa, decomerdalização ext.erior.
por estarem trabalhando com urn equipamento todo novo, o que fez abrindo as portas do mercado de além-fronteiras para .a produção
com que a equipe técnica trabalhasse dobrado, tanto nas externas, em nacionat Mesmo em reJação â Americ.a Latina isso representou a
Sepetiba, cidade do litoral do Rio de Janeiro. como nos estúdios, no superação de uma tríplice barrem,: a da língua. a da floresta equatorial
bairro do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro. Exigla·s~ uma e a da cordilheira dos Andes - que, dividindo a América do SU1 em duas
qualidade especial do desempenho da cenografia e também do elenco. metades., aia dois mundos de costas um para o outro~ uma metade
O trabalho foi ficando muito exaustivo, algumas cenas repetidas várias voltada para o Atlântico, a outra voltada para o Pacífico. Mas com
vetes, até que os resultados fossem considerados compatíveis com o o sucesso de O Bem Amad-0, a Rede Globo con...guiu romper essa
padrão exigido pela transmissão a cores. Paulo Gracindo conta que bloqueios naturais, e estabelecer entendimEfltOS comeKiaís com
certa feita ameaçou abandonar as gravações: Cheguei na direçJo da quase todos os pais<?> da América do Sul, atingindo inclusive o México
Globo com um arestado nas mãos e fui avisando: se vocês não me e, a Argentina, dois trad'icionats cem.tos produt0<es e distribvidorff
derem uma licef){4. atendendo a este atestado, em breve receberão de programas para as televisões lalino-americanas, cujos monopólios
OU[rO, só que de óbito, pois vou morrer de exaustão. foram óefinitivamente quebrados. Os povos de língua castelhana
tNe<am oponunidade de conviver diariamente com os tipos e situac;ões
Então, botando de lado os entretanto, e partindo para os fina lmente, autenticamente brasileiros. P.ara isso. os 178 capítulos originais foram
e.orno diria Odori<;o, os pioneiros no sistema a cores começaram a colher transformados em 223. porque o tempo de cada um teria que ser
os sucessos, a novela invadindo a vida dos brasileiros, as odoriquic.es meflOf'. ls'to sem falar nas exponações que se S\Jcederam, atingindo
incorporando~se ao linguajar nacional. Odorico criou uma imagem tão um total de 30 países. inclusive os Estados Unidos.
Dr. J(),lf~~ tt'Jo U-t1di)/ Filho) t M,t,;, M('dqd,o (OJlm., Lóes) i(lffli. ft Zcld<> d~ ASf.J T~m., ts.,ndr• BrH) • NM/rr.t'O (.lotg,it lo:wfto) - ~ · (lt,qc.,.,n~ t~ff"I C~ ~
(Mlfto.n GO{alve:,) .,b,o,,,o Me'ftnr,Atr.btosio CAnge,1tollkllol <! Zef.odasA.wsfM 100 G~ab1im
Judi<ela e Tiil Z~ (Ana AríeJJ, aama, e locaçJo n,a praia de Sepit1t», a~lxo

;-- =--
-~- -
--
Jud1ce,;, e Tía Zora (Ana Arlel), acim.J, e focaç.io ri~ praia df! Sep111ba. .abJ1Ko

- -
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Capítulo VI Cnicialmente. eu tinha dUvidas quanto â validMie ou não de W>ltar
As Oesconjunturas Seriadistas: O Bem Amado Seriado ao tema da nov.ela4 Pe.nsava se. justamen te por t er escrito 180
capitu-Jos. não seria difkil continuar com o mesmo interesse. Afina/1 a
novela passou três vezes e, o mais engraçado. em tempos que foram
O Brasil é o país que desmoraliza o absurdo, porque o absurdoacontece. diminuindo. Primeiro inteira, depois no compacto~ finalmente em 1
hon,s. (Agori1, ela volta com SO mmutos. Qualquer di,, desses ela vai
Dias Gomes ser apresentada em um i ntervalo comerdalJ Mas. como eu ia dizendo,
quando comecei a esuever o seriado, tornou-se reJawame,,te t.kil

Sete anos apôs o lançamentQda novela. voltava O Bem Am~do, agora


seguir a hjstória. lndusive po,que, na própria novela eu me ~=""
muito no cotidiano, nas notícias de jornal. Ent.Jo, os faros s3o nol'OS, os
sob a forma de seriado. Havia, porém. uma diferença muito g rande aconte<im~ncos~ no~ nada têm a W!'r com a novela. Apena$. nos
entte uma e outra produçlío. Ninguém melhor do que o próprio autor três primeiros ~pisódios me d~tiw em t em.l'S que ficaram ~ndurados
para explicar essas mudanças de gênero, como fez na época: anteriormente: a morte de Odorico,. que precisava ressuscit.ar; o
j ulgame,,to de Dirceu, que matou a espoSi1, e a volra de Zeca Diabo,
Não existe termo de comparação entre série e novela. A série e uma animado depois de ser obrigado a fugir da cidade. A partir dai o
sintese. Se aproxima mais do teatro. Você conta uma história inteira em senado se desliga completamente da novela.
uma hora, sendo e.ada episódio um todo em si mesmo. não deixando
sobras para o seguinte. Jâ a novela utiliza o método analítico. Você O Bem Amado é uma co,sa nova. Apenas com personagens Já
desenvolve e analisa muitos episódios durante seis meses. penetrando conhecidos. idenbficados com o públKo. Eu. realmente, não sei se
profundamente em cada um de/1:!S. O sedado gasta mais idéias do que a seria mai1 ~ I fazer um seriado realme,,te novo. Cheguel lndusive, a
novela, porque te exige uma por semana, enquanto que, na novela, posso pem;,r nisso, bolar idéias, todas elas a<ernl$. M as <Kabo<J prevalecendo
pegar uma idéia e passar 20, 30 c,apitulos desenvolvendo até o último a do seriado baseado na novela.
83 84
detalhe. Já no seriado, essa idéla tem que se gastar completamente em
um epi.sódio. Mas a novela é mais cansativa, pelo seu trabalho braçal, já Estranh.lmenre, no Mtanro, n.!o ..nú qualquer dificuldade para
que você tem que escrever um capi tulo por dia. O trabalho intelectual e.suewer a série. Dt!pois de tanto tempo, achei que não iria tndniputar
de aiação é bem mais desenvolvido no sedado. Aqui, você é obrigado essa história. Mas foi relativame,,re fádl, prindpalme,,te porque os
a ter uma imaginaç~o muito grande. Por exemplo: o problema da personagens sJo fáceis de manejar e os a rores excelentes. além da
i nauguração do cemitério de Sucupira. Dos 180 capítulos de O Bem vantagemdeN.J saber; exatamente. o que e.ada um del es pode render.
Amado, esse foi um assunto que esteve p resente em, pelo menos, 80. Já A única dificuldade é encontrar tramas..
no seriado, no momento em que eu tocar no assunto, acabou, nJo se
fala mais. Inclusive porque seria r id/wlo ;naugvrarduas vezes o mesmo A trama de <õda episódio do seriado hab1tualmente explorava os
cemitérío, ov fertejar a m orte de duas pessoas. fatos acontecidos no Brasil e no exteri<X. amplamente noticiados peJa
imprensa e inteligentement e selecionados por Dias Gomes. Sobre o
Our"ante todo o tempo em que permaneceu no ar, a novela contou uma exeródo da escrita, continua Dias Gomes;
par te da história de Sucupira, desde a campanha que elegeu Odorico
como prefeito da cidade, até sua trJgic~ morte, numa linguagem Estou t1Crevendo sozinho porque é muito difldlpara umautor assi milar
marcada por muito humor e aguçado espírito crítico . Foram meses em personagens como Odorico, o Zeca Diabo e o Dirceu Borboleta, por
que desfilou no vídeo toda a g aleri a de personagens e tipos daquele exemplo, que lém uma maneira todd especial de falar e agir já bem
microcosmo f icci onal. Dois deles, porém, desde o início, destacaram- conhecida por todos. Em qualquer outro seriado os perscnagens
se dos demais: o Coronel Odorico Paraguaçu, que o titulo imortalizara nascem de uma cri.ação coletiv~ com uma linguagem comum aos
como O Bem Amado. morto pelo outro, o capitão Zeca Diabo. ex-- autores e, principalmente. /alando igual a todas as pessoas. Aqui não.
jagunço. entre outras co isas, provocado até novamente se tornar Além de ser uma criação minha, existem as peculiaridades. na maneira
matador. Ambos ostentando patentes, nenhum dos dois milit ar. de ralõrdospersonagens. Por isso, é muifDdifidlalgum auroradap tar-
Quanto à prôpria definiç.ào do tema, observa Dias Gomes: se a curto prazo.
Sobre as diferenças entre a novela e o seriado, comenta o diretor, sério. com visceral incapacidade de se organizar, respeitar e realizar
Rêgis Cardoso: qualquer ato destinado apenas ao bem público que não acabasse se
transformando em beneficio prõprio de quem o faz. Onde não hà
A diferença básica entre a novela ea série é que a novela é muito longa obedí~ncia às determinações legais, nem tampouco medo da pun~o.
e se prende ao próprio enredo, não permitindo a crítica das coisas pois tudo que se conhece é a impunidade, Uma na~ que pretende
que estão acontecendo agora. Jâ no seriado, existe a oportunidade ser uma grande potência. mas que não consegue acertar os primeiros
de falar dos acontecimentos maís próximos. O grande sucesso da passos nessa direção. Odorico foi e continua sendo a representaçao
novela é que ela cinha uma narrativa muito atuante, crftica, que transparente. auel e dura, do caráter do politi<o nacional. t
mex;a com as pessoas e as mantinha presas à história. O tema ê t6o demagogo, enganador, inconseqúente, mas tem seu ladohumoristico.
forte e t.Jo natural, os personagens t.Jo verdadeiros, que a hístória se Fala bem. convence o eleitorado, acaba levando vantagem em tudo.
adapta a qualquer situaç.Jo e, de forma alguma, se desgasta. A falia ExpressAo caracteristica de um traço psicológico do brasileiro, que fai
de obrigc1ção com o capitulo anterior é uma coisa milravilhosa. Você da força pofitica a ""P'essào de setJS problemas e frustra~ões pessoais.
tem nuances, várias maneiras de inici.:Jr e terminar um programa. O poder econ6mico é otiundo do latifúndio do interior do pais, do
N3o é obrig.:Jdo a continuar um (dpltulo como terminou o outro e mercantilismo atrasado em alguns séculos em relação ao nível das
preparar o i nício do próximo. Isso te dá a possibUidade de vir com uma necessidades e da conscíénóa possivel do homem moderno.
coisa nova sempre. Impõe uma surpresa, que é a própria esséncia do
espetáculo: a cada momento uma surpresa. Por outro lado, em Zeca Diabo identifica-se outro traço profundo do
modo de ser do brasileiro. Ele e a expressão do povo que v,ve de lendas
Apesar do protagonista ser o megalomaníaco Odorico, dominado e de sonhos que pouco ou nada dura:fl'l. dos que se mantém num eterno
por singulares idéias fixas, como, por exemplo a de ser Governador provisório: os empregos são eventuaí,, as institui<ões. precárias. Zeca
do Estado e a de promover o sempre adiado festivo inauguratlcio Diabo funcionou como uma alegoria da fúria reprimida do homem
do cemitério, a habilidade do autor sempre pinçava, no quadro de brasileiro. Matador profrsslona~ às vezes tenta mudar o n.,mo da vida,
85 86
personagens fixos, aqueles em torno dos quais se construiria a história mas esfá decadente, é maís um a engrossa, a leg~ dos sem profoss3o.
do episódio. Entretanto, em todos eles o público já sabia e esperava sempre à cata de um bico ou de uma dádiva do gOYemo. No entanto,
que Odorico desse a volta por cima. Quando era conveniente dava a pode ser c.atinhoso. Oscila entre o bem e o mal, harmonizando uma
entender aos sucupiranos que teria sido ele o responsável pela atitude contrad~ insolúvel: pode r<!$01ve< as coisas pelo afeto e pela
que ãs vezes, muito ao contrârio, t inha tentado impedir. cordialidade_, pode se permitir um ato generoso e desinteressado, ou
pode de repente revoitar--se, se:m. no entanto, acordar para os males
O sucesso popular de O Bem Amado se fez sem dúvida na televisão. para básicos que o afetam. como a fome. a miséria. a baixa escolarização. a
o que evidentemente também contribuíram a qualidade da produção, reduzida paniopação na força de trabalho e no seu resultado.
o trabalho dos artistas e a estratégia mercadolôgica. Mas existem
elementos mais profundos: as sugestões, expressões e representações Mas O Bem Amado não se limitou à sátira e ao bom humor. Existia
da realidade. Representações que permaneceram, impregnadas nos algo de mais sólido na vida daquela ddade do litoral baiano e no dia-
mitos que a forma teledramática conseguiu apresentar ao longo de a--dia de seus habitantes1 surpreend1dos e revelados em seu minúsculo
ta.ntos anos. Foi o prlmeiro encontro dramático com a representação cotidiano. Foi um trabalho ukado sobre detalhes de linguagem,
do homem polftíco brasileiro na TV, uma análise crítica da maneira de hábitos e costumes. algumas situações Upicas, pequenos fragmentos
ser e administrar dos homens públicos do país. que à distância <aracteri:tavam um quadto da vida nacional. que era
explorada criticamente com grande força dr.,máti<a.
Os personagens da telenove la continuaram vivos: o prefeito de
Sucupira, Odorico, o ex-cangaceiro Zeca Diabo, a delegada Chica A idêia inicial da dire,ção da Rede Globo eta fa.2e-r uma outra novela.
Bandeira, as três irmãs Cajazeiras, Nezinho do jegue, Lulu Gouveia, O proprio Dias Gomes relembra: Ele (O Bem Amado} apareceu,
o dent ista, líder da oposição. e todos os outros seres inesqueciveis do primeiro, como sugestão de fazer Uffld continuação da novela, O
microcosmo satírico de Dias Gomes. A a legoria da serie continuou a Bem Amado f~ tendo Zeca Díabo como personagem central. Mas
mesma da novela. focalizando fig uras e sit uações de um país pouco sempre o li fica cheirando a exploração e somente clepo,s de passados
quase oito a.lJO.$,. com a idéia do seriõdo é que me senti tentMio a
mexer com os personõgens. ResoM rapar# é um pr09rama que faço
com prazer, ê gratificante poder dizer alguma coisa da famigerada
realidade brasjfeira vista sob o ángulo da sátira e do bom humor. l
uma constante colabora~o de todos, dos políticos e da vida naáonal.
OBEM
AMADO
Substituindo o p,ograma AplátJ>O. no dia 22 de abril de 1980,
exatamente sete anos e três meses após o lançamemo da novela,
OOAR.<nBA
estreou O Bem Amado, ocupando às terças-feiras o horário das 22h15
da lV Globo. Mas para isso foi preciso ressuscitar o morto. o que
""""'"'
suaJPIAA ocorreu no episódio de estréia.

O Bem Amado ê um seri.Jdo diferente dos outros porque não se


desenvolve em torno de alguns poucos personagens - ex:plka Dias
Gomes.. Seu núcleo ê uma cídade. E. para dar realmente a visão
de uma ddade. um ou dois personagens não são surldentes. Dai a
exigénda de um número elevado de atolt's fixos. pelo menos uns
10, que entrem em todos os ep1sôã10s. O cmerio para escolha dos
personagens que iriam pe_rmanecer no seria~ entre os 40 da novela,
foí o de manter aqueles que S,jo essenciais dentro de uma ddade. quer
dáer, o prefeito, o padre, o dono do jo=I, o delegado. os //deres
da oposíçlo e da maioria. E o pe,sonagem il,IJ$itado do Ze<a Diabo.
88
Colocar todas as figuras da novela seria repetir a história. Por isso. s6
perman«em aqueles que, de uma maneira ou de outr~, se envolvrt!m
em qualq~ trama d,;J cidadt!. Os per,onagens man
marginais, aqueles
que n.Jo têm uma relação conscanre e direta com o núcleo central da
hisrória, foram excluídos, sem que ho<Nesse um prejutzo para este
e
nücleo. Mas. d.aro. pode.rão voltar. ewntualm.ente, 1!111 um epüõdio.
Alguns personagens foram mantidos a pedido do elenco. como.. por
exemplo, o Tíão Moleza e o Nezinho do Jegue. Os atores alegaram que
eles dariam mais vida. mais graça., mais leveza õo seriado. A Tuca não
exístia na novela. l um personagem no~ ptitnd da Anita Medrado.
a filha da antiga delegada de Sucupira que morreu num tiroteio. A

---
--
delegada permanece mulher porque fica uma coisa mais interessante.
1

E. como há p0ueo tempo houve até um Globo Repórter sobre uma


delegada de Os.isco, achei que era bom manter o sexo feminino no
--
~

--
=.=:.. poder polk,al local. Optei também por manter as três solteirona$. par
ser eng~ e dar maiores po$$1"bil,dades de exploraçJo cómic;,.
Como Dukinéia tinha morrido - e res.suscftar mais uma pessoa ia ser
demais - foi cridda a D. Zu/eic~ ou D. Zuzinha, prima das Cajaz~ras.
Pf;mta da Socuoira ccnografica. J;j cm Guarat1ba Ela i um pouc.o maiJ beata que as outras.. ~ formação mais tfg.ida,
chegando a ser noviça. Mas entra na linha com Odor;co. jã no primeiro
episódio. A quase obrigação de entrarem todos os petSOnagens fixos
em cada episódio não dif'K.Ulta o trabalho porque não Seio contadas
histórias de Odorico ou de Zeca o;abo. Não são problemas existenciais A transitória morte de Odorico, na novela, não lhe dimjnuiu as virtudes
de personagens ou incidentes particulares que possam ficar restritos a dramáticas. A ressurreição cuidou de aprimorar-lhe o saba< de a Jgumas
uma familia. Essa ê a dlferença básica deste para os demais seriados. caracte risbcas de corpo, alma. e de linguajar. Seus neologismos foram
Quando desce um disco- voador na cidade, ou quando Wa/dick Sariano incorporados à fala cotidiana de todas as regiões bcasíleiras como
vai cantar no Sucupiráo, a cidade lntelra pardcipa. uma novidade signíf,cativa. O Coronel Odorico Paraguaçu, prefeito de
Sucupira, personagem tão im.ensame:nte vivido por Pauto Gracindo~
Da mesma forma houve substjtuição no elenco: em sua postura de politico do int erior cuja mai°' preocupação era
falar corre tamente e dMlcil. acabou levando o a utor- a inventar uma
Elenco sucessão de neologismos. que passam a ide ntificá--lo como uma marca:
Personagem Ator registrada. Comenta Dias Gomes em uma entrevis1a para o Correio
Odorico Paulo Gracindo Brasiliense, de 31 de agosto de 1980:
Zeca Diabo Lima Duarte
Dirceu Borboleta Emiliano Queiróz Um ficcionista deve andar com as antenas sempr e ligadas. Um diiJy
Doroteia Cajazeira Ida Gomes num balcão d e um banco. escutei alguem dizer: Por ora.mente. não.
Judicéia Cajazeira Dirce Mig liaccio Também houve um candídato a deputado que. num comido em prõ(a
Zuteica Cajazeira Kleber Macedo pública (bons tempos dos com/dos._) inkiotl seu disc_urso afirmando:
Lulu Gouveia l utero luiz Meu povo, vim de braJ'l(o para se, mais claro. E houve um vereador na
Neco Pedreira Carlos Eduardo Dolabella anri,p Gaiola de Ouro do Rio de Janeiro que, querendo apaziguar os
Delegada Chica Bandeira Yara Cortes ânimos exahados de seus pares. disse.: Tolerância, minha gent e.. esta
Jussara Valério Amar é uma casa de t olerância.~. Como você W? hã Odoricos por toe/d parte~
Tuca Medrado Fátima Freire
Vigário Rogério Fr6es O sentimento de todos. elenco e equipe, com relaçl!o ~ retomada
89 ~ uma história que. e-mbora distante no 1empo.. permane<ia viva.,
D. Pepito Juan Daniel
Nezinho do jegue Wilson Aguiar esperando a penas o melhor momento para vottar à ativa · num bote
Tião Moleza António Ganzarolli digno dos gra ndes pollticos. e que pegou de surpresa a todos os que ja
Cabo Ananias Diogo Vilella se referiam àquela peque na cidade mmo coisa do passado· é lembrado
Maestro Sabi Apolo Correia por Paulo Graàndo; A impressão era de que voltávamos a uma ádade
onde jJ tínhamos vivido. O. habrtantes eram todos nosso, am,gos.
Durante todo o período de cinco anos do seriado esse elenco 00$$0$ conhecidos. EntJo, Come(amOS a olhar uns para os 0<1tr~ na
permaneceu o mesmo, com algumas exceções, como, por exemplo, pc,lc, dos me,mc,s pc,rsonagc,ns., " ãlZlamos: Parece que foi ontem_ De
no ano de 1984, Bebei, filha de Odorico, que antes havia sido repente, o intervalo de sete anos f,cou reduzido a um espaço de... uma
interpretada por Sandra Bréa, ficou a cargo de Ângela leal. Entraram semana. Não houve interrupção de tempo. Nós olhávamos as casas dos
também, no mesmo ano, Felipe Carone, interpretando Salim Pipoca. perwnagens e nos sentíamos em casa outra vez.
um banqueiro de jogo de bicho empenhado nas artes do jorna1ismo.
e o ator Grande Otelo encarnando seu cô mico assistente. O Boletim
d e Programaçao da Globo, de abril de 1982, cita ainda a presença
de Zé Preá, como maestro, LtJls Vasconce llos, como rádio-repó rter,
Antônio Nunes, como vice--prefeito, Suma ra Louise , como Cremilda,
Claudioney Penedo, como Caboré, Fálima Ribeiro, como Juraciara e
Auriceia Araújo, como a mãezinha d& Zeca Diabo, todos estes listados
como fazendo parte do elenco fixo previsto para aquele ano.

Para os personagens, carro~chefe do seriado, o autor forjou caminhos


próprios para dar cont ornos mais nítidos â sua imaginação.
Paulo Grite.indo, JoJo Pitulo Adour. Emiliano Quei1ó,1 e Sandrit BrH (aama}, e Dirce
Ml914'W<>, Kleber Maredo, An., Anel. Pf(Jt,o GrarJndd ~ Ro~no F~s (,1ball<o)
Vi"s-t,n do cen.ino d~ c:a~~ de Odorico
Capítulo VII
Confabulâncias e Providenciamentos; A Implantação do Seriado

Nos cinco anos em que esteve no ar Dias Gomes e a equipe de produç~o


enfrentaram o permanente desafio de uma Censura Federal que, além
da falta de critério com que at uava, entregava às vezes as relações de
cortes quase emcimada hora. Este tipo de improviso indesejado obrigava
a um superes forço da produçao para a manutenção do episódio que, no
entanto, poderia cotrer o risco de se, transmitido de uma forma meio
sem pé nem cabeça, isso quando não era totalmente eliminado.

Esses desafios imprimiram um urátertodo espec.ial ao seriado que. por


suas caracterfsticas intrínse-cas, já era, bastante original. Acompanhar
a produção desses cinco anos dá bem a medida do quanto as
interferências externas da ãrea federal não só sacrificaram o resultado,
como complicaram o complexo trabalho da produção do seriado.

As gravações das cenas internas tinham como cenário, entre outras, a


sala da Prefeitura, a redação do jornal A Trombela, a casa das Cajazeiras
e a de Odorico, ambientes montados nos estúdios da Herbert Richers.
no bairro da Usina, Tijuca, no Rio de Janeiro. O movimento maior se , ~ as.bo ~ Du.m-- «"™ r ~ (JcM, ~>. twt~ ~ r . tr, MIO
95 Ovei~)~ Ooorlco rpA!.:0 Gr«im1oJ. tW W.1.1 d;, D ~ < i
dava âs terças-feiras. dia em que eram realizadas as gravações. Mas,
na verdade, a agitação começava às segundas à noite, quando eram
montados os cenários, e varava a madrugada. quando se realizavam
pinturas e colocação dos elementos de contra-regragem, para depois
entrarem, nao só o pessoaf de llumina(Ao, como os técnicos para
alinhamento das câmeras e áudio. Por fim, chegava a vez dos atores.
que vinham para maquiagem e guarda-roupa. Enquanto aguardavam
a vez. o papo corria alegre e descontraído, numclima bastante familiar.

Ourante o dia as gravações transcorriam em tranqüilidade,


permanecendo o clima d e humor. Em geral terminavam por volta
das 20 horas. Já as cenas externas eram gravadas em Sucupira, a
cidade que nao consta do mapa do Brasil, mas que se localitava na
tranquila Sepetiba, cidade de pescadores e aposentados, que Já teve
fama de curar muita gente com a lama de sua praia. Meses antes da
data prevista para a estréia do seriado, uma equipe da Rede Globo
de Televisão já trabalhava na prancheta, projetando o que seria a
e.idade cenográfica de Sucupira. Iniciou.se em seguida uma nova
fase, de busca e localização de uma cidade real, litorânea, com as
mesmas c:aracteristicas da cidade ficcional idealizada para ser a
Sucupira de Dias Gome-s. Não foi dificil encontrá-la: Sepetiba, já usada
anteriormente para a novela, dispunha de todos os ingredientes
ne<essários à cidadezinha do litoral baiano, a pesar de se Jocalizar no Só eram contratadas pessoas da Zona Sul. quaodo nas gravações
litoral do Rio de Jane iro . linha uma praça central, coreto, e ficava d e fossem necessârios tipos vrndos da capital. Em frente ã casa. estava em
frente para o mar. Um clima cenográfico perfei to. E o que a natureza geral esta ciona do um cad1Uac conversivel 1952, que serv1a a o p.referto
não provira espontaneame nte, a eficiente equipe de produção da de Sucupira. pilotado po< J. Martins. proprietário do automóvel na
Globo se encarregaria de cria r artificialmente. realida de. 1110torista de Odorico na fk~ào.

Em do is meses estava preparada aquela Sucupira que serviria d e A pacata cidade, que durante todo o ano de 1980seofe,e<euao Brasil
cenário principal para a s g ravações do seriado O Bem Amado. No final como pako dessa gostosa e contundente sátira da nossa reaíldad<?,
do ano de 1980 e-stava pronto o projeto da cidade cenográfica, a ser também p6de se considerar homenageada, quando O Bem Amado
localizada em Barra d e Guaratiba, obra de uma equipe de cenógrafos recebeu da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o prêmio
da Rede Globo de Televisao . Mas o alto custo da produçao lnvlab ílízou de M elhor >ên,,-televisao do ano. o sucew, fez rom que a Rede
a construção e montagem da cidade, como fora previsto . As g ravações Globo resolves.se manter o seriado no a no seguinte. ao mesmo tempo
do seriado permaneceram sendo i e it a s em Sepetiba até sua mudança em que outros seriados mergulhavam e.m crises de roteiristas.. Dias
definit iva para Macaé, em 1984. Gomes pese.ava roteiros: de sobra. inspirado. na maioria das vezes. no
fano mat erial fornecido pela cena polrrica nacional. Segundo Oaniel
Para que Sepetiba pudesse se t omar a cida de ce nográ fica desejada, Filho. na êpocã dirigente artístico d a 1V Globo: Os seriados foram
através de suas locações maquiadas, construções e montagens de definhando e s6 restO<J O Bem Amacio. que é o mais bem estroturado,
outros cenários necessários ao seriado, a d ivisao de cenografia da e tem um autor como o Dias Gomes.
Rede Globo possuía uma infra-estrutura que p€'rmitia viabilizar o
Comentando o p,imeiro ano de éJCib~o do seriado, em palavras
desenvolvime nto da produção cenog ráfica. não só das externas. como
que confirmam o sucesso da série, Artur da Távola considerou O Bem
dos ce nâríos de cenas internas. A cidade, como se viu no capítulo
Amado o mais importante p«>9rama re<;u/ar nk apenas d<> Rede
anterior, servira para a locatão das cenas externas da novela e, 97
Globo, como d<> relewsJo brasileira em 1980. Econtinuava:
passados sete a nos, volt ava a ser palco da mesma Sucupira sob o novo
enfoque do seriado. A paisagem urbana original pouco se modificara , A sátira bem t:onduzida é gêneto dirldlimo, parti<.uldrm..n~ numa
sofrendo apenas algumas adaptações para ser u,racterizada com os
celevisJo como a brasileira, pouco habituada a sutilezas,, em tndtêria
elementos simbó licos de uma região nordestina. Sua população íá
de humor4 Parece que os anos de restriçJo e censura eminara,n..nos
estava a costumada, convivia nat ura lmente com os artist as e ainda se a trabalhar mais sobre os meio-tons do que sobre uma demdrcaçáo
beneficiava dessa presença, descolando u m cachezinho de figurante óbvia, decodificõda âs esc.ãnc.ar.n, como ocorre na imensa maioria
sempre q ue necessário. Se o Brasil no período so freu uma no tável dos programas de humor Hâ outro ponto fundamenra/ ao
infl uência indireta com a presença constante de O Bem Amado em aprofundamento da rmponânc,a d e O Bem Amado: não é obra
suas vidas - o que d izer de Sepet iba? Seus habitantes. d urante mais sectária. onde se perceba o proselitismo dire to das idéias do autor.
d e uma década. passaram pela int eressant e experiência de serem um Claro que elas ertao presente~ como uma v/s;Jo de mundo. mas hoje
misto de pessoas civis e perso nagens de ficção. ele parece viver uma etapa madura da vida. na qual mantém a sua
~o de mundo, porém nk mais se i/ud,; nem com os homem nem
A produção alugou uma casa, na Rua dos Pescadores para melhor com as utopia$ ligadas às próprias idéias. Dias Gomes em O 8em
opera cio nalizar suas tarefas de g ravações e localização de parte do Amado jà te>e oporrunidade de saúrizar in,;lusive as vadlaçóes,
elenco, guarda-roupa e para facilitar a coord enaçllo. Neste local os confus/Ses e di1«:uldades tanto conceituais como de aç.Jo polítka da
atores decoravam seus text os, tomavam água e cafezinho, troca vam d e própria esquerdd brasileira à qual penen<e na condiç.Jo de homem
roupa e faziam a maquiagem. A paz e t ra nq uilidade dos sucupiranos que se- coloca a luta ~la justi~ soda/ como prioritâria.
só era quebrada quando Levi Ribeiro Salgado, produtor de cinema
e dono d e uma agência de figuração, fazia a seleçao dos fig urantes, Os radia/ismos de certos segmentos d<> esquerda; o burocraâsmo de
obviamente ent re os habitant es locais, por possuírem o t ipo físico ouuos,~o hiperverbalismo e as reonzações interminãveis diante de um.a
a dequado para a composição humana da cidade de Sucupira . prática politi<a que se afasta do povo, tudo isso que faz parte do cortejo
de dificuldades reais tanto da esquerdõ brasíleira como do Oriente
inteiro e já apareceu em passagMS e episó<I',or de o Bem Amado. A
mesma critica se dirige implacável aos ncideos e segmentos rea<ionários
e retrógrados do f)Oderecon6mko do Brasil, particularmente os ligados
aos setores menor diversit"IGl<lor e modernizados. os do latífúnã,o.
Dirige-se igualmente ã air/c;a, à 0/)0Jiçl<} poliríca brasileira, com suas
dnns6es intemas, os ~/ismos a<:iqvistar e a dificuldade de falar
uma linguagem comum e de se unir. E se dirige finalmente às formar
pelar quais o ~ r , utilizado no pais em gH/11, como &pressão de
uma interferenéa ex,.gerada do estado de vida p.,rticular e económka,
tudo em nome do libelalismo político.
Anur da Tãvola4 em sua acurada visão. dpontava com muita
prOj)riedade, as duas principais características desse trabalho de Dias
Gomes, pelos quais o autor pagava caro tendo que suportar uma
aàrrada vi-gilã.nàa do governo: a acolhida que recebia do publico e o
Vista do t:tuarto das Cajazeira
distanciamento exato. que o permitia enxergar no Brasil o ponto em
que poderia ser virado pelo aYeSSO e satmzado auavês do humor. sem
perder a contundencia critica.
No dia 2 1 de abril de 1981, t erça·feira, às 21h10, entrava no ar o
seriado O Bem Amado em seu segundo ano, com visual mais bonit o
e externas adequadas, contando com a colaboração de Oswaldo
.,.,.
loureiro, que repartia a direção com Régis Cardoso. Neste ano de
1981 a lguns atores foram substituídos. enquanto outros ingressam no
elenco fixo da série, interpretando os novos personagens criados: Luiz
Magnelli, Claudioney Penedo, Angelito Mello, Antonio Ismael, Antonio

Nunes, Sumara Louise, 8eth castro. A ficha técnica também mudava.
Na cenografia, saia l(ênio Maia, que havia sido o (esponsável pelos
cenários em 1980, substituído por Fernando Camargo, neste segundo
ano da série. Por consegui nte, o visual do seriado sofreu alterações,
conforme percebemos atraves dessas palavras de Régis Cardoso:

Revendo alguns episódios do ano passado, chegamos â conclusão de


que vários cenãrios e os figurinos de alguns personagens estavam
muito pesados, escuros, tristes. A solução lógica foi construir novos
cenários e usar figurinos condizentes com o sol e o calor da BaMa.
Estas pequenas mudanças serviram para clarear o visual e as ;magens
do seriado, e atê suavizar a aparência de personagens, como as irmãs
Ca]aze;ras e sua prima luzinha, que ficaram mais Joviais e modernas.
A delegacia de O. Chi(a Bandeira e a C~mara dos Vereadores foram os
un;cos cenárfos que n§o sofrerilm alterações.
101
EDias Gomes continuava, no seu faro jornalístico: antes de es,rever, se
dedicava â pesquisa de fatos e, par-a isto, contava com a (Olaboração
da pesquisadora Marma Garcia. Aprofundava o conhecimento da
realidade, buscando seu significado, suas relações determinantes,
transformando o material bruto da pesquisa em ficção de nível, que
recebia. além do mais. como acabamento. pinceladas de humor.
a rrematando o ridiculo, Com isso O Bem Amado foi se firmando cada
vez mais na televisão brasileira, sendo apontado, tambêm em seu
segundo ano, como um dos melhores programas, uma notável sátira
da vida brasileira.

Mas, diferentemente do que se poderia esperar, a abertura polítíca


não havia beneficiado o seriado da mesma forma como Impedira a
novela de enfocar alguns temas proibidos pela Censvra Federal. O
Bem Amado não era de modo algum um programa que pudesse
ser considerado como uma afronta à moral e aos bons costumes.
No entanto, no Brasil da época, os limites entre os temas polf1icos e
morais eram transparentes para os olhos mtopes da censura.

Apesar de liberado, o episôdio O Povo de Deus e os Coronéis, após


sua exibição, teve problemas com a censura, que passou então a ter
um procedimento mais rigoroso, como no caso do episódio O Capeta
de Sucupira. Vinte e quatro horas antes de ir ao ar, em maio de 1981.
foram efetuados onze cortes: palavras como bobos, tolos. gostosa e
cena:s em que Dirceu Borboleta passava a mão em uma mulher na rua.
Um outro exemplo foi o episódio que foi ao ar em junho de 1981. O
Leão está Solto. Sofreu tantos cortes que acabou resolvendo mal uma
trama básica para a história - o caso da infidelidade da mulher do líder
da oposição. Lulu Gouveia-que terminava de forma abrupta. A tesoura
da Censura mutilou o texto e, como se não bastasse, te: uma p,,da na
edição final. inclusive em passagens sem nenhum conteúdo critico.

Com tudo isso, O Bem Amado foi atravessando o periodo com mu;t o
sacrifício, pois os capltulos eram picotados sem piedade. Mas foi no
episódio A Grande Entrevista que a Censura mais cortou. mostrando
que o que se vem fazendo nos seriados não se dâ bem por conta
de moral e bons costumes. mas tão somente com objetivos políticos.
como assinalou o autor, Dias Gomes. em reportagem do Jornal do
Brasil. Que assim continuava: Entre os cortes d-este episódio- a Censura
manda a notificação somente na segunda-feira à noite, obrigando a
dire(/io a fazer uma nova edlç/io durante a noite- encontram-se o do
milagreiro Facó (Paulo Goulart) conversando com Odorico: N~o foi o
$enhor quem fez o famoso milagre brasileiro?... -Não, foí outro, um Aar°"l'I..COf1:M.li':óriOdtttw~com~~Otk.1&>ncM~ ... ~ ( W M , w ,
103 '9"'JifondPw"f'.. ~ritTe"~ Odorlcu r... Zv. ... rerl'li!. ernpnm,!iro,-r,G
gordo. A expressJo um gordo foi cortada do programa. Também a
respost.i de Tuca (Fátima Freire) a Neco (Carlos Eduardo Dolabella):
Nunca imaginei que essa besteira fosse acabar provocando essa
romaria. Esse povo também acredita em tudo. Ao contrário, eu acho
que e um povo tão infeliz, tão desiludido, que não acredita mais em
nada, sô em m ilagre. Toda esta resposta foi cortada.

Assim como as respostas de Odorico Paraguaçu ao seu entrevlstador:


Qual a sua formação politica7 Eu sou partidário da democradura. Um
regime que faz a conjumínância das merecendências da democracia
com os talqualmentes da d itadura. O senhor quer explicar mefhor7
Pois não. Na demO<iracia o povo escolhe a gente, os governantes. Na
democradura. a gente escolhe o povo que vai escolher a gente. A
partir de regime, toda a fala foi cortada.

O que pensa o Coronel da lei de Seguran~a Nacional? é uma lei


deverasmente sábia porque serve de motivo sempre que não se tem
motivo algum, e permite não pre-cisar dar maiores explicações, quando
não se tem explicações nenhuma para dar.

Coronel Odorico, há indícios de que vamos entrar num periodo de


recessão. O desemprego aumenta, parte do povo brasileiro passa
fome. O que o senhor tem a dedarar sobre isso1 lnvencionices da
oposição... o demagogista. No Brasil não existem desempregada<.
eXJste e gente procurando emprego. No Brasil~ talqualmente. não
existe fome, existe é gente procurando o que comer. t diferente. As
respostas foram cortadas intewalmente.

O SU<esso de O Bem Amado era confirmado pelo IBOPE, ótado na


mesma reponagem (dados do tbope de 1<W6 a 2CW6, horário 22h10)

Programas Espectadores
Rio de Janeiro São Paulo
O Bem Amado 3271.710 4.023.085
Amizade Colorida 3355.600 4.212.080
Plantão de Po/fda 1.963.025 3.807.080
Obrigado Douror 2.239.860 2- 160.045

Dias Gomes continuou lutando contra os ataques da Censura.


buscando sempre um novo arttficfO para fazer passar as suas criticas..
só que. ultimamente, tem trabalhado bem mais. Bcreve a.s histórias já
pensando em termos de uma hora e meid, n.lo apenil$ de uma hora.
prevendo possíw,ís cortes, es.:reveu Evelyn Schulke numa reponagem
Aom.1. o ct1r19 olmaJ do prek110 e. ab.,11to. sen.io na Academia Sucup,,-,;ma dtt do Jornal da Tarde. E deu um exemplo de um dos cortes sofrodos por
Lertct.t com Ltr.ero l uiz, Paulo Gracindo e Oswaldo Loin.;,da 106
uma das respostas de Odo<ico, entrevistado na tel~ o de Sucupira:
lá pelas tanras~um dos entrev ~ pergunta o que Odorico acha
do Maluf. E ele resl)O'\de q..., o Governador só tem um defeito: Ele
vire me imitando!

Mas havia implicãncias ainda mais õdiculas, como as sofridas pelas


patentes miHtares dos personagens principais, como registra Dias
Gomes numa entrevista a Norma Couri: Em O Bem Amado, ate o tiwlo
de coronel do Odonco foi censurado pelo general Antonio Bandeira.
o famigerado general Bandeira; que mais tarde proímu o títul o de
capÍ1fio do Zeca Diabo. Quando faltavam s6 trés capl tv/os para o final,
ele quis proibir o cabo de polKJa da Cidade, e eu n.io permiti. Perai. o
cabo nao~ e esse fit::ou att o fim.

O ~ Amado novamente foi considerado o melhor seri.>do de televisão


em 1981, o que lhe permitiu entr.lr em 1982. em seu te«eiro ano
consecutivo no a,, no Õkl 7 de abril Operou-ie, po<ém, uma mudança no
dia~ no horário da transmissão: passou para as 21h10 dasquan.ilWeiras.
O dia foi escolhido pelo próprio autor, pensando jã num descanso:

Com a mudança hã sempre a possibilidade de um d ia de folga. pois


às vezes tem jogo na quarta--fe1ra. deslocando-se o episôdío para a

e

••

• ••

• •

-

kA'N, ft.17Uft outros;, ~ Groe\. ~Mdo l.ouuo.,. Lutlf'l'O t ~ • $.d úbt• e.


aOiJll'O. Y.va Cor.es~Aaufc Gnandc

...
.,.:
.... ,
••••••
••••••,
.....:~&11··1
·:~---···
•..
······--- !
·--::=::.-::::
---
semana seguinte. A mudança de horário já estava prevista - fizemos
uma experiência no ano passado com dois programas plenamente
al)fovados pelo IBOPf.

Na mesma reportagem, disse a jornalista Oiana Aragão: Sobre a


perspectiva de uma censura mais rfgida para o horário o problema
não deverá existir, já que a Globo, visando a mudança de horário.
mandava o programa para a Censura com o horârio da511h. Mas o
públko tambémpediu essa mudan<;a, pois em mui tas cartas redaroava-
se do horário tará10 para uma grande parcela da popula(âo,

ASsim. novidade não existiu para o aut0<; A única novidade contjnua


com a conjuntura ou desconjuntura do país. S6 espero que meus
amigos polklcos continuem a colaborar comi90. prinopaJment:e o
Paulo Maluf.

O Boletim de Progra~ão da Re<!e Globo. de abril de 1982. após o


titulo O Bem Amado - Oe Volra à Cena. rel)(oduz o primeiro discurso
de Odori<o, cuja releitura, apesar de revelar lamentável atualidade
pela pennanente adequa<;~ de suas alusões ~>atitudes politiquemas
dos nossos homens públicos. p,ese,va uma carga seml)fe nova de
Ac,m.a, Odorico e D,rcev exercitõndo-se e. abaixo, TiAo Moleza, Odor,co, Zec.a Diabo, humor_ Em sua 0<-alÕria, Odori<o soltava o verbo: Pt>vo de wcupira!
110
Nc7,nho do J<'f/UC t C.1bo An.:tmas Donzelas pratkantesejuramenradas. matronas com larga fêdeoficio!
Cidad.Jos e cidadJes que repousam em berço e.spléndi<fo dentro do
meu <Ofll{Jo! É com a alma lavada e enxaguada na humildade, que
aqu; enou para di:tt!r, p,imeifarnente, que nunca fui undida to .a coisa
alguma, nao obstantemente calunisras da esquerda maqufavefenta.
6Ses que cosrumam dar um rorcicoto no pescO(o da vt!rt:l.itM, digam
o contrãrio; segut>damence. q~. ~ o povo quer. se o povo exige e se
é para a felicidade geral de Sucupíra. sé-lo-,,i!

E o boletim lembra que o personagem, criado há 21 anos. tinha sido


iniàalmente atê desprezado pelo próprio autor. na conta de um texto
menos feliz mas que depois de 10 anos de televisão - incluídas as
interrupções - se tornara o grande anti-herói naàona.l, recordado nas
majs diYersas partes do pais sob as formas mais inusitadas.· até como
boneco de pano de artesanato nordestino.

Em 1982 o episódio de rel.O(no ao video chamou~ l love Sucup;ra.,


em que Odorico move mundos e fundos para transferir a sede da
ONU para sua adade. E como era um ano de eleições em Sucuptra
tambêm havia muito movimento neste sentido: Odorico era
candidato a Governador. Oorotéia. candidata a prefeito. com o apoio
de Odorico: um Odorico de salas, tendo que enfrentar Lulu Gouveia
como candidato da oposiçaio. Até Zeca Diabo t inha pretensões ao
Governo. Foi Odorico que deu a partida com seu discurso preparado
espe-cialmente para o lançamento deste terceiro ano do seriado:

E botando de lado esses e.ntretantos e partindo pros finalmentes. como


candidato do povo, e antes que os corujistas comecem a piar seu canto
urubuzento, quero declarar que, se eleito, nada empatará o processo de
abertura democrática que iniciei em Sucupira. No terreno económico,
darei o berro de Independência ou morte promovendo a exportação do
nossoprincipalprodulo. oazeitededendé. OBrasilinteiroserá temperado
com i>Zeite de dendê e prafrentemente vamos temperar o mundo! A
Europa vai, mais uma vez, se curvará ante o Br.uil, quando provar nosso
acarajê, nosso vatapá, nosso caruru! Vamos acarejizar a Europa! Vamos
varapisar a Amêrica! Pensando nisso, meu coração patriotista nada de
braç;,da no mar de evforias, mormentemente considerando que isro
representa mais divlsas para o Brasil, o equ;Jibrfsmo em nossa balança
de pagamentos e a salvação de nossa amada e assasmente end;vídada
pátrla~ Crlei a Petropira para explorar o petróleo de Sucup,'ra. Os
negativistas, os retaguardlstas, os urub;zistas dizem que não existe. Mas
nós ass;namos um contrato de risco com a Petrobrás - desses em que o
risco é todo dela e o petróleo, nosso - e vamos provar o contrário. Claro
que me ufano de minha terra., mas n§o é um mal-ufanismo dizer que, se
111 Zl!O Ooaba • .. C.,V,,.,.
ela dá de tudo, por que ~o dá petróleo?

E o diS<urso termina com um plano econômico cuja ironia se constrói


sobre uma lógica totalmente absurda, mas coerente com o pensamento
de Odorico:

Finalmente, saindo dos prolegômenos e entrando nos epilogismos,


se eleito pelo povo, promoverel a Justiça social, med;ante um plano
econõmico deverasmente revolucionário. A oposição dífamísta
e subversenta fala muito mal da ;nflação. Não obstantemente a
inflaç§o est<i morta, e é uma pena que eu nao poss.a enterréS-la no
cemitéâo de Sucupira, resolvendo assim essa crise defuntlcia. bem t
verdade que a inllaç3o Já passou dos cem por cento, mas isso $3o os
pratrasmentes. Prafrentemente é que Importa. E eu provo por A mais
B e por C menos o, que é justamente a lnflaç6o que vai nos salvar.
Os salários slo aumentados semestralmente e os salários até três
mínimos $3o reajustados acima da inflaçJo. Ora, 95% da populaçgo
do pa;s ganha menos de três minimos. logo, a esmagadora maioria,
o povo, está ganhando com a inflação. E se a inflação continua, esses
95% vão melhorando de vida, melhorando, até que se igualarão aos
5% que ganham mais. Então serâ feita a redistribuição da riqueza,
a igualdade entre as classes, a j ustiça social. Destarte, se eleito,
promoverej o aumento da Inflação para 300% até o ano 2000. tempo Zeca Diabo • invell{Jo verídica das falas daquelas regiões e daqueles
suficiente para que, pelo encumprídamento dos pequenos salários e remanescentts dos jagun(os. Todo esse amei/gama d~ realidade, ficção
achatamento dos grandes, seja feito o nivelamento salarial. e critica red,.,nda em pros:reguimenco cetevisi,,o do melhor q,.,e se fez
em nossa lit&atvra regíonal.
Racioclnio transparente. Dias Gomes reconheceu: O Bem Amado
é incontrolável em todos os sentidos. O autor. no depoimento, Assim. d;ría que esse homem de teatro e roteinsta - maís. neto de
observa que a peça dera margem a tantas transformações, que só Valdomiro Silveira, filho de Mâno Palmério, primo de Gvimar- Rosa,
precisa deixar de ser roteiro para ser filme, porque jâ foi teatro, parente próximo de um ;ntelecrual de grandes ~ que morreu
novela, seriado, artesanato, está sendo Jlvro e, quem sabe, filme. Mas cf!do, t!~ixou a medicina pelo rãdio ~ ~ chamou Alberto leal. criando
podemos entender a observaçao no sentido de que. por mais fortes histórias de Patmorive no sertSo (lembram-se os de mais de 40?).
que fosse a pre-ssão dos inimigos para controlar os seus impulsos,
Odorico continuava o mesmo, incontrolável. Claro que nem sempre pos.so esta., a postos para apreaar este seriado.
Da última apresenraçJo o que condul foi que O Sem Amado merece,
D Bem Amado originou dois livros de contos que, na verdade, são
mesmo. os vãrios prêmios que wam rec~o ao longo~ wa vida•..
roteiros adaptados: o primeiro fo i Sucupira, Ame-a ou Deixe-a,
lançado no dia 19 de abril de 1982, pela Civilização Brasileira, do Em janeiro de 1983 saiu a rel~o dos premíadoo da APCA. E O Bem
Rio de Janeiro, e que reúne, em forma ficcional, sete episódios que
Amado era o grande premiado da crítica Em 11 de mar~o de 1983,
contam as Venturas e Desventunu de Zeca Dfabo e Sua Gente na Terrd
De Odorico, O Bem Amado. A antologia. apresentada por Mário da
em seu quarto ano no ar,. O Bem Amado vottava fazendo parte da
Silva Brito, trazia na capa um desenho do Ziraldo, que identificava programação da Sexta.Super. sendo apresentado uma vez por mês,.
para sempre o semblante de Odorico com os traços fisionômicos de às segundas sextas-feiras, às 21h30m, com duas horas de duraçao,
Paulo Gradndo. Aliás, o próprio Oias Gomes faz justiça a este fa to na come,;ando com o epi>ódio Odorico na Cabeça, que foi gravado em
dedicatória do segundo livro, Odorico Na Cabe{a, onde se lê: Para 113 114 parte na Bahia, em Salvador.
Paulo Gracinda, a quem Odorico deve o milagre da encarnação. Na
apresenta(llo desta segunda antologia, escreveu tnio Silveira: Alguns personagens oovos pau.aram a faz« parte do elenco fixo da
série. Um desses personagens já existia na novela, em 1973. Era o Seu
Da peça teatral- OBemAmado - ao vitorioso seriado da TV com o mesmo Libório da farmácia. agora interptetado por Ary Fomoura, ,emp<e
tltvlo, vma das melhores prodvçôes telev;sivas de todos os tempos, em às voltas com as traições de suas mulheres- - que. invariavelmente~ o
qualquer pais. e finalmente aos contos de Sucupira, Ame-a ou Deixe-a abandonavam - e com suas tentativas de dar fim ao seu sofrimento. o
e agora deste Odorico Na Caoe(a, o que resultov n~o foram apenas que não consegue de fõfma alguma. Outro personagem era Conchita
variantes da irresistível crônica desse tão contraditório chefe politico Vilaverde, interpretado por S<Jeli Franco. da SO<iedade carioca, viúva,
do lnterior, mas recriações completas. com linguagem e caraeterlstic.a5 muito fina, viajada, e que falava sete línguas. por quem Odorko ,e
adequadas a tri!s velcvlos de comvnicaç~o com sintaKe própria. apaixonatãologoaconhece.ElavemaseramH}adeBebel- interpretada
por Ãngela Leal - que, divorciada, voltara para perto do pai, Odorico.
No segundo semestre de 1982, Helena Silveira escrevia na Folha de Entrou ainda outro personagem.. SiMnha. @.ncamada porTãnia Bote.lho.
São Pa ulo:

Dias Gomes se alinha entre os maiores contadores de cavsos qve


Apesar das Mexericãncias Oposióonistas, o Seriado Mantêm-Se no Ar
tivemos. Cada episódlo de O Bem Amado é uma parâbola, um faz-de-
conta válido para atestar comportamentos politlco-sodais deste país
continente, derta grande Sucupira de vãrzea com mais flores e peito A Censura federal continuava com sua tesoura vtSal'tdo o seriado:
com mais amores. Sucupira vai M Umas, que fazia parte de uma trilogia satitítando a
campanha eleitoral de 1982. foi impedido pelo Tribunal Regional
E todos os racontos com linguagens especificas, como a de Odorico Eleitoral de ír ao ar em fevereiro de 1983. O Bem Amado, porém.
Paraguaçu • versão da par/apatice polit;queira do nordeste • e a de tinha fõlego de sete gatQSt não se deixava abater tão facilmente..
Por outro lado, existia agora o que em nenhuma outra série, ou mesmo
nas novelas, ocorrera: um trabalho de equipe amadurecido ao longo
do tempo, onde tudo funcionava integrado e em grande harmonia.
Em geral, o que se observa nas novelas e seriados é q ue existem atores
talentosos. que dominam completamente a cena, fazendo com que o
resto do elenco lute arduamente, e às veze-s em vão, para conseguir um
lugar de destaque. Em O Bem Amado o elenco era coeso, ímpec~vel
em termos de talento e profissionalismo; eram marcantes os perfis
psicológicos criados, ape~r de exinirem obviamente nlveis diferentes
de qualidade de interpretaçao, todos acabavam fechando o círculo
perfeito da linguagem diasgomesiana, observados e controlados pela
sensibilidade primorosa do autor. A qualidade obtida result ava em
comentârios abonadores, como o de Ronaldo Bõscoli: Que sutilíssimo
retrato do próprio pais. construido em filigranas só capazes de serem
tecidas pelo nome competente de Dias Gomes.

Procurado para diversas entrevistas, Dias Gomes declarou numa delas:


Minha dúvida é se o Brasil é uma grande Sucupira ou seu microcosmo.
Opinião partilhada pelo Ministro Golbery do Couto e Silva, que, ao
deixar o Gabinete Civil da Presidênda da Repúblíca, declarou: Nao me
perguntem mais nada, acabo de deixar Sucupira.
11 5
E O Bem Amado foi mantido na programação de 1984. Quando a TV
Globo começou a esboçar sua nova programação para este ano, a
direção da emissora imaginou não sô manter O Bem Amado no ar como
passá-lo a semanal, já que o programa era uma absoluta garantia de
audiência no horârio das 21h. Mas a morte de Janete Clair, em 16 de
novembro de 1983, obrigou os responsáveis pela área de programação
da emissora a repensarem seus planos. A Dias Gomes coube a tarefa
suplementar de orientar e supervisionar o desenvolvimento do texto
da novela Eu Prometo, e ntregue â co-autora de Janet e. Gtôria Perez,
ficando Impedido de atender aos planos da TV Globo, que quase
largou O Bem Amado na prateleira.

No entanto, capaz de golpear os advers~rios e de razer todo esforço


para se perpetuar no poder, o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu,
que Já havia sobrevivido a várias ameaças, conseguiu enfrentar mais
esta. Eé preciso que se considere, neste caso, a estatura do inimigo, um
poder mais alto que a própria censura federal: o poder da TV Globo.
A emissora chegou realment e a cogitar o e ncerramento definitivo da
carreira de Odorico. Mas ainda não seria desta vez: deu a volta por
cima, amparado por um manifesto assinado por diversos intelectuais e
dirigido ao vice~president e da Rede Globo, Josê Bonifãcio de Oliveira
Sobrinho, o Boni, com pedidos de Carlos Drummond de Andrade.
Barbosa Uma Sobrinho. Oscar Niemeyer. Antonio Houaiss_. Adonias
Filho, Aklemir Martins, Ferreira Gullar. Edu lobo. Leandro Konder.
Manabu Mabe. Zirakto, Zuenir e Mary Ventura. Franz Krajcbe.rg
e dezenas de outros, que lastimavam o retiro forçado de Odorico
Paraguaçu. lia-.e, no manifesto:
O Bem Amado está para a televisão assim como Maa.maima esta para
a lfterarura. Ê um dess~ momentos em que a consciênc,a müc.a de um
povo se manifesta atra>és de uma obra de rara criatMdade. O Bem
Amado é um fenómeno na televisão ~ile;,a de durabilidade e de
inventividade na criação de unhterso que reprodtJZ os usos e costumes
da vida polí6ca e também soda/ do pais.

Dizia Leandro Konder no documento; O Bem Amado é um fato raro na


t
vida cultural brasileira._ um programa acl!SS/vel ao grande p,jbliro
que. ao mesmo tempo, tem um grande nível de qualidade artlstica.

eo poeta Cõrlos Orummond de Andrade acrescentava: Odorico l uma


r,gura represenrativa do pol11íco brM/leiro, com toda sua hipocrisia,
ambi{Jo, deslealdade e desejo ilimitado pelo poder.

O manifesto dos intelectuais em lavor da permanência do seriado


118
não fazia justiça apenas a O Bem Amado, indiretameme proclamava
que a televisão também podia ser definida como instrumento de arte
e, cultura e entretenimento sem grande conflitos e ~parêt4;ào e.ntte
essas três finalidades. Comentou Artur da Tàvola, em O Globo, em
janeiro de 1984: Ê a primeira ..,z que, na história dt! nossa 1eie,,isJo.
a c:hêftndda elite intelectual admire de publico q~ reiev;.são ~ cultura.
~ import.>nre. e possui padrão lllerâr10. A TV Globo logo se rendeu
diante da lista e resolveu voltar atrás. Ainda mais que os resultados
de pesquisa de opinião püb1ka feita em São Paulo colocaram O Bem
Amado como programa predileto dos p.aulistas.

Para satisfazer o público e facilitar as coisas para Dias Gomes. a


Rede Globo encontrou uma solução intermedjãria: em 1984., O Bem
Amado continuaria a ser mensal e a novela Eu Promero encolheria 20
capítulos, passando de 120 para 100. Assim, em meados de janeiro,
todo o texto de Eu Promero jâ estava pronto. A novela continuou no
ar atê final de fevereiro e o autor de O Bem Amado teve um mês de
fêrias e. no inicio de março. começou a preparar os últimos ept.sódios
de um dos personagens que a televisã.o brasileira mais popularizou~

Em 6 de abril de 1984. dentro do mesmo esquema do ano anteriot.


programa mensal, exibido às sextas-feiras, âs 21 h20m. foi ao ar O
Bem Amado. Porém, a direção mudava. Oswaldo l oureiro passou a
ser o responsável por ela, tendo Francisco Milani como colaborador.
Alêm disso, a entrada de novos atores no elenco fixo, enriqueceram
seriado, que passou a contar com a participação de Felipe Carone, no
papel de Salim Bechara. um bicheiro que compra o jornal A Trombeta;
Grande Otelo, o boca de tramela, principal auxiliar do bicheiro; José
Santa Cruz, ,orno locutor de 1/>dio; Arthur Costa Fílho, o barbeiro de
Sucupira; M0nica Nicola, q ue interpretava uma manicu ra, e Jorge
Lafond, no papel de mordomo de Odorico.

Mas havl a necessidade também de se m udar su,upira, pois a cidade


de Sepetiba, que tinha sido utilizada para as gravações externas do
seriado, estava decadente e completamente parada no tempo. Não
se admitia mais seu visual, nem a falta de recursos necessârios â
produção para que mantivesse o ritmo que havia adquirido ao longo
do tempo. Para isso saiu de cena a antiga Sucupira, ou seja. Sepetiba,
escolhendo-se o repertório de fadlidades existentes em Macaé, cidade
do litoral norte fluminense. situada a 102 quilômetros do Rio de
Janeiro, Uma cidade que, além do mais, possuia um passado histórico:
por efeito de um alvar á de 29 de julho de 1813 fora tr ansformada
na vila de Sâo Joao do Macaé, q ue foi elevada â categoria de cidad e
pela lei provincial de No 354, de 15 de abril de 1846. E, o que era mais
119
importante para os objetivos a que se propunha, a cidade mantinha o
estilo arquitetônico, sem deixar de receber as melhorias do progresso.
Por ser litorânea, oferecia as características ne,es$árias às gravações:
traços de sua prática de pesca, tanto fluvial quanto marl tima, além
de possuir matas que cobriam parte ainda considerãvel do municipio.

Oferecia também â produção do programa outras condições


importantes, como rodovias, estação ferroviâ ria. aeroporto e prêdios
históricos, isto sem falar nas outras construções que muito facilitariam
as locações para gravação de externas: escolas, hospitais, rádios,
cinemas, bibliote<a, bancos, restaurantes e principalmente hotéís para
hospedar o elenco e a equipe té<níca, A cidade se encaixou como uma
luva para as gravações do seriado. Aliava as vantagens de uma grande
cidade aos ares de uma pacata cidade do Interior: era o retrato fiel de
Sucupira às vol tas com o patético duelo entre o vertiginoso p rogresso
buro((ático e a pobreza de toda a sua periferia.

Não era sem propósito q ue Zeca Diabo, representante d igno da classe


menos favorecida, atravessava regularmente tais limites demográficos,
a cavalo, indo e vindo, no percurso que ligava suacas.aâ cidade, servindo
para mostra r aos telespectadores menos atentos a proximidade
geográfica e a distância econômico-.cultural do dois pólos.
Em junho de 1984 o sucesso de O Bem Amado era grande, mantendo 5ucupira. na 1/efdade. foi sepultada viva. enterrando seus ~ q u e
ainda sua audiência. conforme podemos atestar claramente, através cooquistaram uma nação. A decisão tinha sido tomada e a Rede Globo
de uma carta de Oswaldo loureiro, dirigida aos art1stas, técnicos; comprou os direitos autorais de Dias Gomes pelo periodo de um ano.
administradores e demais componentes de O Bem Amado;
Numa entrevista para a Folha de São Pauto, Oswakfo Loureiro
Ê com grande satisfação que a dire-ção deste programa comunica recordou: O programa sempre mexeu com as wscetíbitidades de
a todos os participantes de O Bem Amado que no encontro que muifil gente que detém o poder. A Globo ,.,..... cor.,gem de colocar
mantivemos com o vice-presidente de operações da Rede Globo; um programa polhnico e pro-ativo no ar. Isso incomoda quem
senhor Josê Boni-fácio de Oliveira Sobrlnho. na quinta-feira, dla 14 nJo aceita as critias, qvem enfia a carapuça. Tenho a imçm,ssAo que
deste més, ouvimos referénclas elogiosas ao tra~lho que estamos isso =bov refletindo, talvez sob forma de presüo. NJo sei. Ê uma
realizando neste programa. Esta manifestação de reconheclmcnro hipótese. O argumenro da Globo - que é ver~fro também - é o
deve nos orgulhar, pois confirma o desejo de todos que lutaram para alto custo do programa_
que fosse manUdo O Bem Amado.
Mas Francisco MJtani foi mais enfático e contundente em sua entrevista:
Ê saudável sabermos que esse programa mantenha sua qualidade Ê com grande saudade e rristeza que 1emas a retirada do ar de O Bem
para que. além de termos a satlsfaçâo de participar do programa sem
desmerecer os demais, de maiorprestígio da televisão brasileira. ainda
t
Amado que é um retrato do cotidiano brasileiro. uma produção
elaborada que se coloca ao nwel das melhores. mas com uma dMereny,
pos.samos cumprir sua finalidade fundamental, que e preservarmos fundamental: ela discvte a realidade brasileira Com eJCreÇão dos
este espaço no nosso mercado de trabalho. programas humorlstK:o5, a TV brasileira ê afasrada da nossa realidade.
Pobre na Globo janta em todos os capítulos. como árz o Plinio Marms.
Em outubro do mesmo ano, a imprensa jã anunciava o fim do seriado.
E um telegrama de protesto contra a extinção do programa foi
la Artur da Távota. escreveu. em sua coluna de O Globo: O Bem Amado
enviado ao presidente da Rede Globo, Roberto Marinho, pelo escritor 121 122
superou o con<e;ro de telenot,e/,1 quando se transformou em 1'rie
Jorge Amado. que descrevia O Bem Amado como a grande criação da
literatura televisiva no Brasil.
semanal. MOS1TOU que, qwndo a apl"(Jo cMtral de pe~m e
tramaspo,sui rel~o coma ambiénci.J, apsicologi.> e comporumentode
Mas os altos custos do seriado começaram a ameaçá-lo novamente. A um povo, permanece em qualquergênero. F05Si! história em quadrinhos.
direção da Rede Globo decidiu que ele teria se tornado economicamente e seu rarãri,r arqueupko (isto ê modeliJr, que forma um modelo básico)
inviável, na medida em que o custo de ,ada episódio. orçado na a levarí.J ígua/mentp ao sucesso. penetração, ~ntatJvidade.
época em torno 300 mílhões de cruzeiros, superava em até dez vezes
o custo de gravação de um capitulo de novela ou minissérie. Dias ProW>U. ainda, O Bem Amado que a criarividade ê a mais infiltrante
Gomes propôs baixar os custos do seriado, passando a criar episódios e aguda das man/festJ«jes /wrr'4nas. A tudo supera. inclusive rígidos
semanais. Mas 8oni não se comoveu e recomendou somente que o códigos de censura. Quando a criatividade., via me·táfora., alegoria.,
Coronel Odorico Paraguaçu não morresse no último episódio. s,mbolo ",3ssoci,3~0. cons,,gue retratar verdades po< todos rec.,bidM.
há um salto por dma das proib1t;ões. No Brastl a televisão é o me;o
Já estava decidido: o prefeito de Sucupira foi derrotado pelo atto mais =rado. Censura ídeol6gi<<1, política e de costumes. Atrallés
custo, pela censura e por tantos outros inimigos, em 9 de nov·e mbro da alegori,1 e da me!Jfora. O Bem Amaóo conseguiu uaduzir-dades
de 1984, quando foi ao ar seu último episódio: E Chegamos aos ta(m)padas d" mil maneiras nessa tntrine das vinudes do sistema que,
Finalmentes, que foi obrigado a m udar de titulo pois originalment e se inevitavelmente, em qvalquer p,1is, é a televi<Jo em circuito aberto.
chamava O Presunto Malufista. A derradeira aventura dos moradores
de Sucupira foi a inauguração do cemi tério da cidade por um defunto Mostrou. ainda~ com dareza, o ~nrido do humor. comprovação
presenteado por um personagem inspirado pelo presidenciável na ademais de sua enorme diluênda de qualquer forma de rigor. Se ê
época, Paulo Maluf', como pane de sua campanha eleitoral. Colocou- implacâvel ao satirizar. o riso. por seu caráter emoliente e rrãnsfugo~
se, assim, um ponto final no seriado de maior sucesso jã exibido pela detém o privilegio de humanizar e tomar ace.itável ou compreensivel
televisão brasileira. o sujeito e o objeto criticados.
;,.

---- ~ P-.1'!,NSdol'0""'4(A Trombe-r.,. OOce,JU'OÔ., c~•<M


Odonco ta dfrft(ra
t-,KJ-.,,,,,. CM c.rw *
As cenas internas de E Chegamos aos Fina/mentes foram gravadas nos
dias 22 e 23 de outubro nos estúdios Herbert Richers e. nos dias 24 e
2S, em Macaé. as externas. No final do script desse último episódio,
Dias Gomes escreveu sua despedida: E aqui estamos ao fim de mais
uma etapa de nossa jornada sucupirana. Aos artistas, técnicos, equipe
de produção, a rodos enfim que deram o máximo de seu esforço e
de seu talento para fazerem de O Bem Amado um sucesso nacional
e internaôonal, o meu muito obrigado. Estou triste, estou de luto.
como vocês. Sinto-me como se tivesse perdido toda a minha famlUa
numa câtJlstrofe. Isso jâ aconteceu uma vez. Só que naquela tivemos
que matar Odorico. Nesta, tive a precauç~o de dei~á-lo vivo..• Para
não ter o trabalho de ressuscitá-lo novamente amanhã. Quem sabe?

E Paulo Gracindo - Odorico Paraguaçu virou o enredo Uma Noite em


Sucupira, da Escola de Samba Unidos da Ponte, do Rio de Janeiro -
umaagremiaç3o de S~oJo3o de Meriti-que, no Carnaval de 1988, tez
destilar diante dos espectadores do Samb6dromo da avenida Marques
de Sapucai, a história do ator. imonalizado na figura do personagem,
que fascinou os espectadores da TV durante tantos anos.

Oeste modo, fica mais do que constatada a capacidade do ficcionista


Dias Gomes de recortar personagens da realidade brasileira, mas
trabalhâ·las de tal modo, que se incorporaram ao imaginário do
127
brasileiro, como se fossem reais. Processo de metamorfose que, sem
dUvida, não teria encontrado melhor instrumento de expressão que
o ator Paulo Gracindo. Fato que a justa homenagem da Escola de
Samba não deixou passar ao esquecimento.

Odorico, com certeza, permanece até hoje no imaginário de todos os


brasileiros.
Capítulo VIII diría: Não obstanremente. as acusações mauc.ararista:s que recebo
O Vocabulário Sucupirense de estar desrespeitando a fingua do meu colega Rui Barbosa. digo e
repito que meu -,,bufário nio é desapatred!ado, nJo foi criado de
forma íneJt.rupulenta. e está de acordo com a minha interpre1~0
Eu me inspirei no Carlos Lacerda para criar o palavreado de Odorico. gramariqueir;,. com meu compromissamento com o f;,lar en.Jdit.icio
Ele sempre foi chegiJdo a um sinônimo, a uma verborragia. e com mtN.J d~agogJSmo filosofista. Aliás. textuaJmente. disse ele
num discuno: Precisamos preservar a nossa memoria wlturat Nossos
Dias Gomes pratrasmentes não são t..âo importantes quanto nossos agoramentes e
nossos prafrentementes.

Em SEgundo lugar. chamo atenção para um Outro aspecto: apesar de


Com o passar dos anos o famoso línguajar de Odorico ac.ibou se
ter influenciado certos hábitos finguisticos do espectador, este falar
Incorporando â linguagem cotidiana dos brasileiros, de norte não contagiou os outros personagens dentro da pcópria novefa. O
a sul do país, onde quer que a novela e o seriado tenham sido que pode encontra, uma explicação verossimíl dentro da lógica dos
transmitidos. Se no inicio os neologismos apareciam de forma dois grupos de personagens com os quais Odorico contracenava;
tímida, aos poucos aumentou o entusia.smo do autor - pela resposta os admiradores. por ekeesso de idolatria. não ousariam imitá--
imediata do público. que caracteriza a comunicaç~o televisiva em lo; aos ~rios, esta excentricidade. própria da ignorância do
nosso pars especialmente no que diz respeito ao t ão popular gênero personagem. e.ra desprezível~ tanto quanto o conteúdo ideológico
da telenovela - q ue passou a introduzir essas bem-humoradas que essas expressões disfarçavam.
contribui~ões de Odorico em quase todas as frases do personagem.
Alêm disso, registrou também as expressê>i?s regionais e populares, Uma prova do interesse despertado pelo voc.abulârio de Odonco foi o
ao lado de algumas criações pessoais, ao vocabulãrio próprio do mo de que, logo após o término da novela, o em~rio Sílvio Santos
personagem 2e<a Diabo. 129 130 adquiriu seus direitos de uso para o seu programa no SBT (Sistema
Brasileiro de Televisão)_ AJ.;m disto, poclê-<e ainda ouvir trechos dos
Em relaçao a essa linguagem, M dois aspectos que merecem destaque: disa.Jrsos de Odorico gravados em disco pela Som Liwe. enuemeando
primeiro, o rigor lingüístico com que foi construida, respeitando-se as os números musicais interpretados pela Sanda de Sucupira
regras de derivação, impostas pela gramática. às quais. no entanto.
os personagens foram emprestando uma interpretação mais livre e O vocabulário que apresento a seguir baseo<>-S<! num caderno de
pessoal. Como, por exemplo, no uso do sufixo ento, que normalmente anota<ões fornecido pelo prôp(io autor. e em recortes que eu mesmo
indica uma qualidade negativa, como em fedorento, noíento. A lógica fui coletando ao loogo do tempo_ É do próprio Dias Gom.. a divisão do
de Odorico, fiel a este sentido, permitiu estendê-lo a outras qualidades vocabulário socupirense fln duas partes: a primeira, com o dicio.nârio
tomadas no sentido depredativo. Criou•se então o patifento, p;,raguacês. composto pelos neologismos criados e as expressões
subversento. Um outro exemplo de-sse respeito ã g ramãtica é a criação vocabulares (locuções substantivo / adjetivo. advérbio / adíetivo).
de advérbios, como prafrentemente, deverasmente, apenasmente. ordenadas atfabeticamente pelo primeiro termo, seguidas de
Pospondo a qualquer palavra usada no sentido adverbial o sufixo expressões sentenciais sele<ionadas nas falas espirituosas de Odorico;
mente, caracterizou-se o usual exagero de Odorico. a segunda composta pelo dkionário de Zeca Diabo. Convém lembrar
que me vocabulârio constitui uma contribuição bem-humorada e
Ora, estas descobenas foram um verdadeiro ovo de Colombo para entra neste livro como um tributo à f ertilídade da imaginação criadora
a criatividade ilimitada de Dias Gomes, dando um sabor especial ã de Dias Gomes.
linguagem do seriado. O contato frequente com o universo vocabular
desses personagens. com os quais convivi nos três anos em que
participei da equipe de produção do seriado, contaminou a minha
linguagem, tanto quanto a dE.' outros participantes da equipe. Se
pedissemos a Odorico que apresentasse seu vocabulário, com certeza
Dicionário Paraguacês cafagestismo, cafagerusta
Vocábulos e expressões usadas por Odoríco Paraguaçu catigrafismo divino
cafunKes, calunistas
A campanha difamista
aconselhamento de l>o<a de confessionário canalhismo
acarajeizar cangadsmo
a<autelatório caotismo
adulância casamentável
adulatório ca>a de tre.noitação e despemoitamento
afora mente cemitério na sua virgindade defuntkia
agoramente cervejante, cervejação
alma lavada e enxaguada cheiru~
amancebismo circunstanciamentos
amarelecido, amarelecento, amarelento cismanc;a
ambítãnc.ia coloquiamento sigiloso, com todos os acautelatõrios
amolengar compromissamentos presidenciaUsticos
anais e menstruais da História confabulância
apavorismo, apavorista confabulância sig1tenta
apetrechado contraventirta
apodrecento contristamentos
apredejamento esqui:ofrênico <onlM?rsa detalhatória
arreiaáo áe bons sentimentos crise defuntícia
132
arr oubos emotistas
arruacist a D
assasmente g rave debo<hista
ateísta deceptude
ativista dos maus costumes demagogismo, demagogista
desaforismo, desaforista. desaforento
B desalegrar
badernistas, badernento desapretechado
bastantemente descacholar(enlouquecer)
beijoquista descomer
berro de independência ou morte desconjuntura política
bi~facial. bi~vocabular descrendice
bizarrento desculpento
boatismo desenc:ai>cavado
bobagice desesquecer
bolod6rio desigiênico
borbofetista. borboletismo, borboletices dt$iluslonismo
botar amendoim no vatapá da oposiç_ão desincumbe.ncia
deslembrado
e desmiolamento. de:smioleiras.. demiolices
cachacista desobrar (desfazer)
caducência desordísmo, desordísta
desperfume G
despedume excrementfcio gazetista, gazetismo
desprocedente gazeta marrorwsta
destabocado, destabocante gazeta potoquista e subvenenta
destabocamento genipapação, genípapança, genipapista
destampatório glória do bort)oletismo sucupirano
destrambelhenta
desventilado H/1
de-svergonhamento heretirul
detalhe lastimante idéia destrambelhenta e desapretechada de $et\Salismo
deverasmente urgente imprensa lida, olhada e es(Utada
diabolismo imo<alilante
difamista, difamatura indagatório
diverslonísmo desgastativo infl~ defuntícia
doidagem intertõquio
donzelas praticantes e jurament adas interfoc.utõcio
intriga inescruputenta
E inventóno
ecumenista praticante e juramentado
J/l
emboramcnte
jubilãncia
encumpridamento de pequenos salários, achatamento de grandes larapista
entrementes (os).entrementemente 133 134
fastimantemente
epistolista
lavado e enxaguado no desgosto
equipado de bom caráter lavar a.s mãos talquafmente Pilatos
equilibrismo em nossa balança libertinante
escravagem licencionagem
esquerda badernista, subversenta
esquerda maquiavelenta M
esquerda beatista maiormente
esquerda desaforlsta mat-vfanismo
esquerdofrênico maquiavelista. rnaquiavelento
estripetisicamente manifestança demagogista
esverdecido amarelecento, esve,dec:ento marágio: pedágío marítimo
ex.comungamento, excomungadamente manonzista
executamentos matronas com larga fé de oficio
maucaratista, maucaratis,no
F menonnente
festivança mentirice
fogueação merecincia. merecendência
fidelismo meticuf.lncia
finalmente, (os) meicerlcãncias oposkiooistas
forças ocultas e dissimulantes mocitude
fraternoso mormentemente
moribundice problemática repressiva
moscovento (de Moscou) proje to demagogista
municiado de tolerâncias e de boas-vontades pros e contra-pros
murallsta (que fica em dma do muro) providendamento
puxa-saquísta
N
não-obstantes (os), não obsta ntemente R
negativistas redondices e reentrãncias
nervos1.Jra restimutamento
noves-fora retaguardistas
ridiculosidade
o cisar~ ris.ação
Obstantes (os), os obsta ntes da castidade
obtemperança perfunctória s
obraria, obrejar safadagem demagogista, safadice, safada~
oposição d ífamista e subversenta sãotomesisrno praticante (ver pr a crer)
ora-por-quem-sois sacrilejar. sacrile jamento
osculista ambulatório saculejamento
ovulante e esperrnat ozôica segundamente
sem--vergonhirtas. semvergonhice
p serviço deveras.mente reservoso
pacatísta $erenitude
135 136
padecente somentemente
pare de desalimentlcia (greve de tome) sig ilància
parolento, parolice sobejosamente
patifista, patifoso, patifento sofaáKe (safadice no sofá}, safadagem
paulificante sofismãtica legislativa
pecadilhista soJapãncia
peditório so4ucionâtica
perdoativo somentemem:e
pensar no que-fazer-minha-mãe-do-céu sona mbulista
pernear, perneac;ão, perneatura, pemeamento fiscalizatório sorrat icios
Petropíra (para explorar o petróleo de Sucupira)
pichilingue (desimportante) T
pinguento, p inguei ro ta lqualmente
pioneirismo hidráulico terror juramentado das caatingas
plano econômico deverasmente revol1.Jclonàrio topetice, tc>petismo
por-aramente traicionismo
pra fren temente ttama espionista e subversenta
pratrasmentes uansviosa
precativos trêfega e televisa nte- ent revistadora
prefoitável rreinat6íio
pressões e sobrepressôes tresnoltação. tresnoitamento
primeiramentes(os) ttintaeoitice. trinat eoitada
U/V Como vai esse valentoso espadachim de nossas /etnSi, essedrA nagnan
umbigista do ~zetamo sucupirano?
urubvzistas
vermelhista. vermelhóide Depender do pode-ser-quem-sabe...•
vi uvice compulsória
Dona Dorotéii1CiJjaz- . DonilZuzinha e Donaluju, todas talqualmente
CiJjazelra. a fina flor do donzelismo juramentado de Sucupira.
Frases de Odorico que Fie.aram Famosas

Ad astra per aspera (aos astros pelos caminhos áspero s).


Estadina sem polo'O é como ga/Jnha sem º"'°·

Homem de muiros respeitos e muitas excelências.


Alguns desindjvidvos, maus svcupiranos, ;nconformados com meu
aberturismo d emocrático, grampearam todos os telefones da Prefeitura
eda m inha res;déncia. lssoéótimo. Otimamente ótimo, vamos grampear Quod abundar non nocer (o que abunda n.Jo pr~udica)
tambêm os outros. Vamos fazer um grampeamento geral.
Mas ele tem dinheiro e ta/qualmente o ines<IUpulismo svfickntt para
Audaces fortuna devat (a fortuna aj uda os ambiciosos). comprar todo o e/ejtorado de Sucupir a.

Bem, vamos passar uma borracha nesses entretantos. Municiado de rodas as tolerfit><ias e de rod;,s as boas vontades.
Botando de lado os entre tantos e partindo pros fina/mentes. Botando M utatís -quase· mutanárs.
de lado os ora-veja e os não-me-digas, Botando de lado os ora-veja
137 138
e os virgem-santissima. Botando de lado uns principalmentes e uns Nadando de braçadas no mar d;u eriforias.
sobretudos. Botar de lado os perfunctórios e parti r pruns concretismos.
Não ouvi, não olhei. não cheirei. nem apõ/pei.
Botando verdade pelo ladrão.
Não quero que o cabrito morra Mm que a onça passe fome.
Cc1lma. seu Di rceu, calma... Todo mundo tem direi to de querer ;r, mas
somentemen te eu tenho o direi to de decidir quem vai. Ê o que se N4o acho, ao contrário, desacho. Su<upfra tem mais de oitenta mil
chama cenualismo democrá tico.
habitantes. Se apenJS.tnente dez mil foram ao com/cio, setenta mil
ficaram em casa em sinal de protesto: ipso facto. a maioria esmaga Veia.
Camelô só com crachá. Mande ver se está todo mundo escrachado.
contra a autonomia.
Cara de dona-mariquinha-cadé-c,.frade...
N~ obstantemente rodos esses considerandos. ~ , o que a policia
Carecemos de ter umiJ confabulJncia concernentemente a umil cumpra o seu dever. evitandocanhoas;mos. uchacismos e bademismos..
problemática conrraventista.
No sofá com a ~~tária. fazendo sofadku ..
Como diziam os napolitanos quando fa lavam latim, "pacta sunt
servanda ", os contratos devem ser cumpridos. Mucatis ligeiramente Noves-fora roda esta zoada que a oposiçfio anda fazendo. eua
mutandis, jâ no próximo mês seguirá para a Itália uma delegação de problemática vai ter a sua soludonâtica. na Cámara M unicipal
Sucupiranos, nl o somentemente para retribuir a visita, como para
arrochar o nó def;nitiva entre duas cidades que agor a passam a ser O que vale nJo é acumular anos no cempo. tndS acumular t~mpo
irmãs: Nápoles e Sucupira. nos anos.••
O fato é que com Pipoca na Prefeitura. Sucupira vai virar um grande Vocabulário de Ze<a Diabo
cassino. uma cidade jogatida e pecaminosa talqualmente Sodoma
e Gomorra. A
adivinhando chwa
Pens.,r no qve-fazer-minha-mãe-do-cév... afanar
almamane,a
Primeiro que tudo queria que a senhora Delegada mandasse fazer almas penadas
uma revistagem no meu gabinete; segundo que tudo... amolengar
arwJ~~ virar. me~
Quando o diabo descansa abana as moscas com o rabo.. . antes fanhoso q~ sem nar,z
apartar
Repousam em berço esplendido dentro do meu ,oração... aperrear. aperreado
apoquentar. apoquént~o
Saindo dos prolegômenos e entrando nos epilogismos ... arapuca
ardiloso
Se é para a fel/cidade geral de Svcuplra, sê-lo-ei... aneg~o
arreliar, arreliado
Se ela dá de tvdo, por que não dá petróleo ... arretado
arribar
Sempre me entendl com Deus, sem necessldade de atravessadores. assuntar

Tal o que dá eleição, elegem um cangaclrta des.,lfabelizado e B


desapetrechado de caráter. Agora esse maucaratlsta praticante e 139 140
badaronha (maneirke)
juramentado trai o nosso partido e vota com a oposição. baque (queda)
bate-boca
Tá pen.sanda que bedmbau é gaita? bem-do-m,,u, bem-do-dele
bestunto (intellgencia)
Talqualmente Cés.,r, estov cercado de Brvtvs por todos os lados. bolodório
botá-pra-Oeus
Vamos acarejizar a Europa! Vamos temperar o mundo! A Europa vai1 bregueços (trastes)
mais uma vez se curvar ante o Brasil. Vatapisar a Amêrical Exportar o bufar
nosso prlncipa/ produto, o azeite de dendé. O Brasil inteiro temperado
com azeite de dendê. e
cabeça de capuco
Vou exigir rempo na televis3o para defender o democratismo da cabeçudo
eleiç3o por nomearura. cabunco
~o
calcanho (no) (a pé)
campo branco(caatinga)
capuco de milho
ava/o corredor. cabresto wrto
O.imite (smith weston)
chororó
comer calado
consumissão G/1
conversa-de-pé-de-areia gaitada (gargalhada)
cona•brocha (discussão) grenhas (cabelos despenteados)
cuma chama? (como ê que chama?) inurdia {outro dia)

D M
desandanças mandurebõ (ca<haça de segunda)
descc1snar (aprender um pouco) marmero (vaquei,-o velho)
desassuntado (insolente) mas-mas (conve,sa f',ada)
desavergonhamento maul.1 (doença)
desbotar (arrancar os bofes) miceis (vossas mercês), vosmic.eis
desconsumissão munzu (cesto para peixes)
descontramantelo (ruina total)
descontratempo (azar) P/Q
desencalmado pautificante (chato)
desgramado (desgraçado) pe-re-pe-pe-,po-rerpo-po (et~etc)
desmiolar, desmiolamento pich,lingue (desimportante)
desprecatado porreta (bacana)
destá (deixa estar) quenga (mulher à toa)
destabacado (desbocado) quengo (pescoço)
E RIS
embatuear (cismar) 141 142 relampejar
empacar r<>ião
enfonar (faltar a compromisso) ruana (marrom)
entupigaitar (empanturrar•s.e) safo (esperto)
esbagaçado (arrebentado) sarapanto, sarapantado (espanto)
esbagaçar (destruir, virar bagaç.o) sus,ança (substância)
esbilotado (amalucado)
escabriado(encabutado) TN
escafeder(fugir) te-re-te--tê; te--re-te--~ê
essa menina(o) (modo de chamar uma moça) tempão de 0..us (muito tempo)
es1oporar(explodlr) tempo de muito chocalho e pouco pescoço (pobreza)
tempo de muito rasto e pouco pastO (s«a)
F
tempo de quetai (de paz)
falta de um grito se perde uma boiada (por)
lato (tripas) terra de 5"po, de cocra com"'" (em)
tribulilyl<> (atribulilyl<>)
febre perdedera (paixão forte)
véia da foice (morte)
fedelho
fidumaégva, fidumajega
fifó (candeeiro) z
filho duma cancela batedeira
zoado (tonto)
filho duma que ronca e fuça zoró (aborrecido)
fiofó (rabo)
forro do mundo (céu)
Capítulo IX
E Chegando aos Finalmente

Uma cenografia não é um telão; é um envolvimento. Representa-se em


cena, n3o em frente dela. (...) Uma boa cena Mo deve ser uma pintura,
mas uma ímagem. (. ..) t um sentímento, uma evoca{.fo, uma presen{a,
um estado de alma, um vento momo qve ateia as chamas do drama.
Robert Edmond Jones

Este trabalho originalmente foi uma dissertaç.lo de mestrado para


a Escola de Comunicaç~o e Artes da Universidade de s:lo Paulo,
cujo principal objetivo era analisar a evolução cenográfica de o
Bem Amado, de Dias Gomes, Confabu/áncias Sigilosas com Todos os
Acaultelatórios das Solucionáticas Cenográficas de Sucupira e seus
Habitantes. Neste livro, porém, a proposta foi mostrar muito mais a
tra jetória do maior personagem já criado na ficção brasileira e que
continua vivo. quase vinte anos após o último episódio ter ido ao ar.
Não poderia, porém, deixar de falar um pouco sobre cenografia, o
meu ramo. Sem tecer considerações aprofundadas, ao contrârio da
dissertação onde foram analisados exaustivamente todos os cenários
desde a primeira montagem da peça em 1969, preferi aqui traçar
um panorama sobre a importãncia da cenografia na dramaturgia
145 e ~ d.J c.ttogr•ft~ au • Odoh<o ,,. ~ ~ , "'°
prtm,t,,,o MIO o;, fJlt'f,,I
em geral, que é mais do interesse geral. Cortando os entretantos e abl: J'Ol, 1110s,:yt.J"ó)ant:>ffJ l"f!ff'a~ rnoquam>anodit ~ idlin' raabil"n,t
chegando aos f inalmente:

A Importância da Cenografia

A cenografia não é uma linguagem internacional, isto é, seu discurso


não pretende ser compreendido por tod os, da mesma maneira, em
qualquer parte do mundo. Na verdade, o que para um pode ser uma
e,press~o cenográfíca sublime, pode parecer bastante desagradável
para outro. Um cenógrafo usando material velho pode nos deixar
sem fôlego com seu trabalho. O mesmo cenário que nos fascina, a
outro pode parecer um amontoado de lixo. Como qualquer atividade
artlstica, a cenografia revela, através do material e das formas que
usa, um conjunto de emoções e de idéias relativas e pessoais.

Não há dúvida que a cenografia é de import3ncia ftindamental para


o sucesso de uma montagem, devendo servir a inumerâveis objetivos.
A cenoté-cnica, a iluminaç2io e a indumentâria permitem uma
qualidade no resultado final do espetâculo tal que, cada vez mais,
diretores e produtores buscam o auxilio de profissionais considerados
competentes e de talento artistice inegâvel para a elaboração e
realização de seus projetos cênicos.
Mas a arte cénica é uma arte especial, difícil. cabe ao cenógrafo
conciliar uma sêrie de condfÇões para permitir uma resposta ã

j proposta cênka do diretor. Tudo tem que ser prev,sto. calculado


com o maior rtQOr. para que sejam evitados os exage~ para que
não se sacrifique a Intenção do dramaturgo. para que se respeh:e o
sentunerrto exato da concepção cênica. sem apelar para efertos banais

JI e fáceis. O cenógrafo colabora com o diretor, mas também com o


autor, no sentido que, através dos elementos descritivos que p,opõe,
estarão <epresent.ados tanto o pensamento do autor. e.orno a verdade
cêni<a desejada peto dire10<.

Ncld-a deverá se, esquecido ou abandonado irrefletida.tnente: ~ aí ~ntta


o t.alento, o senso critico, a íorma~ão técnico-<uttural a compreensão
do texto. a sensibilidade e a capacidade de realizar do ceoôgrafo.

Podemos dizer. portanto. que cenografia é tudo o que é- registrado


plasticamente em cena. Não podemos separar cenárkt. figurino.
adereços,. iluminação ou ate mesmo a marcac;ão de cena. isto ê a
movimentação dos atores. porque também estabelecem fluxos.
massas, volumes. num determinado espaço.Se num espetáculo é
o cenário que fala primeiro. se ele nào transmitir pela linguagem
plástica, ,mediatamente, o dima certo, o publico poderá serconduzido
148
por caminhos errados, dlstanciand<He do que se poderia chamar de
idêia correta da pe,ç-a.

Por outro lado, a cenografia não pode e nem de~e ser a vedete do
espetâculo. Mas deve. isto sim_ buscar atender às exigências da~ª~
â proposta da direção: aiar uma linguagem para o espetáculo. O
cenário não pode ser desenhado apenas para agradar aos olhos do
espectador e muito menos para satisfazer a vaidade do cenografo.
O grande artista Santa Rosa (Paraíba, 1909 - Nova Dellri, 1956) bnha
palavras muito duras para este tipo de trabalho vazio:

Há os que concebem o palco como uma vitrine de produtos de beleza.


Commuitoite cor-<le-<osa, filósecolunas. umJ}OUCO de lu:zatravésda
qual se pressinta no ar molécuw de p6-de-arrol. tornando o espaço
cênko frio e impróprio.; verdade rearr.,/, cheia de calor hum.>no

P0< mais engenhoso e complexo que seja. um cenário por si só ~o


consegue manter o interesse do público por muito tempo, cc1SO a
representação seja frau. Mas se, pela sua exubetãncia de fcwmas
e cores, chama excessivamente a atenção. pode vir a prejudicar a
recepção do espetáculo e. com ISSO, a ptópria P<'93- O trabalho bem
entrosado do diretor e do cenôgrafo ê essencial para a consecução da
unidade do espetáculo. Pois fundamentalmente, o espetáculo, no seu
todo, realiza uma convergência de visões. apresentando em cena o
resultado da uniao dos vários segmentos de uma produçao teatral. é
fruto de um trabalho coletivo. Segundo Aldo Calvo (1907-1990);

A cenografia é uma ane muito complexa. O cenógrafo é o artista que


cria a imagem do espaço cênico em funç~o de um texto, utilizando os
meios cenotécnicos de que deverla ter amplos conhecimentos.

Essa ambientação num espaço tridimensional pode então manifestar


as mais diversas concepções de fo rmas volumétricas e esculturais. Nlio
ê su-ficiente que o cenário se afine com o estilo da peça, mas que ele
reflit a este estilo, que o traduza de tal maneira que o público, tocado
pela ambientação, consiga captar o clima da proposta cénica a1ravés
dessas informações visuais, Obviamente isso nem sempre se processa
dest e modo: pode at e ocorrer que a própria concepção do cenógrafo
seja deixar o espaço totalmente livre de qualquer elemento, cabendo
entao aos atores manipular os objetos cênicos ou passar alguma
caracterização, ê o essencial através da indumentária, por exemplo.

Em geral cabe â cenografia fornecer ao espectador os dados sobre o


Ap,lllttl00iet{..,O •l'IO d.lWie- t,Of'O.ttr.blefJt«sJilo,n~ i# OOtflt 0tu ~
local onde se passa a açlio: o dia, a hora, a situação meteorológica, 149
""'""'J. • Cil:W pan::,ow.a' 'abaPD).
a região ou pât ria, a lém de refletir a situação econômica, política e
social dos personagens. Todos esses dados, no entanto, podem ser
representados às vezes por soluções muito simples. Um elemento
cênico sintetizado, mas bem elaborado em sua forma, cor, textura,
pode informar às vezes mais sobre local, atmosfera e clima de
uma cena, e com mais eficiência, do que um g rande aparato mal
concebido e gratuito. Sobre este aspecto do cenário vale citar mais
uma vez Santa Rosa:

A justeza de suas linhas, o discreto sublinhar da ação, bastam-lhe para


exercer, com nobreza, a sua funçAo. A sua importância é bem maiot
quando não é ostentatória, quando apenas sugere em Unhas simples
o ambiente no qual se desenrolam os sentimentos dos personagens.

Na cena, o belo tem que ser, antes, necessário. Em outras palavras:


a caracteristica essencial do cenário é que e le seja funcional, t enha
praticidade. Essa funcionalidade, no entanto, vai depender de outra
característica bási,a da cenografia: a sua afinação com o conjunt o
do espet~culo. Ligado a este aspecto estarao nâo só o fundamental
entrosamento de diretor e cenógrafo, como a solidez e segurança do
processo de criação do cenário propriamente dito.
o dtretóuo da PDS (,mma). l' ., R.;dro SUcuprnm, (ab.,i~o)
Obviamente o ponto de partida são o texto e o interesse que tenha
despertado. Uma vez estabelecida a hnguagem. as divisões de
funções e àreas de atuação entre diretor. produtor e ator mobi.fiza-
se um unive<So de pequenos movimentos dos quais resultará a
engrenagem articulada do espetáculo . No principio há apenas uma
idéia que. aos pouc~ vai tomando forma. ~ja atraves dos perfis dos
personagem, de ,uas palavras, geStos e movimentos. seja atJavês da
definiçao das tinhai, do estno, do desenho do cenário, isto é, de todos
os elementos que emp,estam uma fisionomia próp,ia à montagem.
Definida a forma, ela passa a ter uma lunçJQ dentro do espetàculo,
seja ele teatro, cinema, balé, ópera, novela, seri,>do de TV, ou ainda
um show. um videoclipe* ou mesmo um filme publkit.irio. Em todas
essas atividades encontramos sempre a cenografia como parte
integrante do espetáculo. Ali. se quisermos remontar no tempo.
podemos lembrar as palavras que o arquiteto italiano Sebastiano
Serlio (Bologna. 1475 ·l.ion. 1554) já dizia, em pleno sérulo XVt Os
cenários são indispensáveis para criar a atmosfera ele qualquer peça.

Quando a direção define a linguagem do espetáculo em suas linhas


ger.lís, cada um dos elementos envolvidos na p,oduçao parte para
realir.lr sua lu~o. buscando• melhor sol~ p•ra o funcionamento
o forro (ar,ma) r! ,1 Scxwdad~ d~ Ufofogi., dC! Surupira (at,J,rxo) da engrenagem. Da mesma forma que o ator se ,ncorpora ao
154
personagem, pesquísando a estrutura psicológica que ele requer, da
mesma forma como o diretor-passa a conduzir o trabalho. esculpindo
e polindo cada quadro e cada cena, é precíso que o cenógrafo trabalhe
no sentido de fornecer, a ambos, as ferramentas maís adequadas
para a realizaçAo de seus propósitos: cabe ao cenógrafo a delicada
tarefa de criar uma composição formal complexa. dentro da qual se
movimentam os at0<es. real~ados ou disfarçados pelos figurinos e
peta iluminação. que arremata todo o conjunto.

Por isso nunca é demais frisar que cenografia não é decoração. nem
composit;ão de interiores; cenografia não é pintura. nem escultura:
é uma arte integrada.. Nunca e, demaís repetir que cenograf*Ja é a
composição resultante de um conjunto de cores. luz. forma. linhas
e volumei. equilibrados e harmónicos em seu todo. e que criam
movimentos e contrastes. Cenografia é um elem,ento do espe(ãculo
- ela ~ constitui um fim em si. Portanto, o resultado do trabalho
de cenografia passa pelo dilkil exerckio de ser uma arte • serviço
de. como disse bem Aldo úlvo. A arte d@ interprer.ar o texto visual
e cenotecnicamenter respeitando e sohxion.a.ndo todo o criterio de
marcação, criando uma forma de encantamento num perlodo WftD e
rãp;do. para que as cenas possam se desenvolver dentro do espaço que
ela propõe tirando partido dos materiais cênicos que ela promove. Na
verdade e o cenógrafo quem, a prindpio. determina a área de ação. O êxito do ceoôgrafo não depende apenas de um bom texto, de
não o diretor. Porque ê com o espaço criado pelo cenôgrafo que fica uma boa proposta da direção ou de uma inspiração genial. mas de
estabelecida a área Util do trabalho do diretor. dentro da qual ele todos estes fatores.. Se os pnmelfos, o t exto e a d ireção. como fatores
fará as marcações. extem°" depeodem às Yel!es de sorte. de oportunidade, os fatores
internos, a inspi~o e a capacidade do artista, dependem do talento
Percebe-se. então, que há sempre uma contrapartida neste trabalho e da fomiação profimonat da chamada alma de artlsta b<>m como
entre o diretor e o cenógrafo, para que tudo caminhe ern harmonia de paciência e calma para desenvolvê-la. Condições que às vezes
e. se crie uma certa in·terdependência: se a cenografia funciona requerem solidao e recolhimento, fatores em geral estranhos ao
basicamente como material de apeio para • dire<;3o, por ou1ro lado movimentado mvndo do teatro.
cabe ao diretor dar funç:lo às formas criadas pelo cenógrafo. Sobre
este pcnto. interessante ouvir o que tem a dizer Gianni Ratto(l916), Pacíência também é qualidade neces$ária para que o cenógrafo
com sua experiência polivalente de teatro: desenvolva o trabalho lento e consciencioso de busca:r a melhor e
ma.is adequada solução para cada movimento. sem esquecer o menor
Não me interessa mais fazer a direção pela direção e a cenografia pela detalhe. Porque num pequeno detalhe pode e<rar contido o segredo
cenografia. Eu faço, tanto uma coisa quanto outra. numa visão integrada. de um espetáculo. Por exemplo: as entradas e saldas dos atores podem
mudar o ritmo de uma cena; e não seria exagero dizer que o ritmo do
Só assim pode..se ter certeza de não se estar criando um mero pano de espetáculo começa com o desenho do cenário.
fundo, ou um simples elemento decorativo, mas o cenário desejável -
um aparato para a cena. Trabalhando com um cenário criado dentro Se acompanharmos a histõna da cenografia veremos que. dos seus
deste espírito, seja ele realista, naturalista ou fo rmalista, a direção primórdios até hoje. ela vem adquirindo um desenvolvimento técnico
pode tirar o melhor partido de seus e lementos e das área.s de força e uma qualidade artística notáve~ com uma séria dificuldade, no
delimitadas e determinadas pelo cenógrafo, q~e Funcionarão também entanto. que mar(a $ua diferença para as: ouuas artes ptãsticas; a sua
1S5 t56
como estímulos para o ator. Assim o cenário cria um conjunto visual terr'rvel contingência. A cenografia é arte do momen10 e se desfaz
harmonioso. equilibrado e proporcional à dinâmica do conjunto, como po, encanto na hora em que o espetâ<ulo saí de cartaz. Aliás.,
permitindo ao diretor maiotes possibilidades de marcaç.ão dos como tudo que diz respeito apenas ao esp,etclc:ulo, satvo o texto.
movimentos da ação.
Vencer este desafio exige um ouuo trabalho, raramente feito,
A questão do estilo é outro aspecto do process.o criador. Envolve as sobretudo no Brasd - o trabalho de registro, de arquiYo, de
linhas mestras da proposta da direção. bem como a formação cultural. preservação da memória. Mas. ao contrário do desejado. o que
a sensibilidade e o talento do cenógrafo. A esse respeito, convém existe é. em geral. um vazio. uma pobreza de registro. impedindo
refletir sobre o que, para o revolucionârio Gordon Craig (1872-1966), que se preserve a memôria do processo que antecede a descoberta
define a verdadeira arte do teatro, Isto é a teatralidade pura: dos recursos usados nas produções - o que muitds vezes ocorre c.om
produções de impo~n<ia incontest.wel. Parece incriV1'1, mas pede-
Não é nem a representação dos atores, nem a peça, nem a encenação, se falar numa tradição desta falta de memória. No Brasll murto
nem a dança. Mas, sim, forma dada pelos elementos seguintes: o pouco se sabe sobre a cenografia de espe~los de teatro. E grande
gesto é que é a alma da representaçbo: as palavras é que s3o o corpo parte do desinteresse é demonstrado pelos próprios artistas, que o
da pe,;a; as linhas e cores é que s§o a existência do cenário; o ritmo é auibuem ao d0$prestigio de que foram vítimas. à ausência de apolo
que é a essência da dança ... Nada de realismo, estilo apenas. das instituições responsáveis ou à falta de reconhecimento do p,)blico
ou da críti<a. Se nào é novidade o desinteresse geral em relaç~o aos
Ê preciso não esquecer que a cenografia, como toda ane, nasce de fatos culturais do pais. a conse<VaÇ,ão da memória em cenografia
um intenso sentimento e de um trabalho ârduo. O cenógrafo tem que não faz ~xceção ao qu-adro: contam.se nos dedos os ce.nografos que
dominar uma idéia e transforma-la em corpo. Portanto. a emoção não se preocupam em fotografar seus cenários, guardar as plantas dos
ê tudo. O artista precisa saber como t ratar sua idéia, como transmit i~ teatros onde foram montados, arquivar seus projetos ou conservar a:s
la. Preàsa dominar t êcnicas, conhecer regras, recursos, convenientes. maquetes que tenham executado.
O processo cnatrvo da cenografia - a elaboração do conjunto
visual do espetãculo - estã associado a um embasamemo teórico.
a conhecimentos de dramaturgia, de hJStôria do espetáculo e
história da arte em geral, e da história da cenograf,a em particular.
Conhecimentos que podem fornecer um lastro para a descoberta de
SO,uções tecmcas especifica:s para cada área da produção cenográf"tea
e que envolvem noções de artes plásticas, arquitetura e desenho. Ê
sábia a advertência cio mestre Santa Rosa. em Para um Teatro Tearra/:

Én«euJrioqueosarvstasdetodanaturezatembrem-sesempredeque
a Arte é absoluta quando~ no domlnio do senrimento, mas que é
preásamenr~ a têcnia no instant~ d~ sua ~ ç , S o (_.) O it1Stinto
já ê uma podefCHd força para guiar. induzir o individuo a escolhe< os
caminhos di, arre.· mas em si mesmo. ele não é fonte de conhecimento.

Uma formaição complexa ê. portanto. exigida do cenógrafo. para


que se habilite à organiz~o de um ~ o cênico, à criação de
uma ambientação e o visual adequado. de modo a propioar uma
boa reJac;ão palco/plateia, fazendo com que o público se integre ao
espetáculo, tran<portand<He para o local onde se passa a a~. Como
disse o cenógrafo K.lrl Elgsti, cf1$Cípulo de Ming Cho lee:
O qu,no d.n CJJ11n-1t~. no teru;,o (~cima) • no quarto ,na di, srr,t (aboi~o) 158
Os grandes momentos acontecem quando a platéia perde a
cort$Ci~ncia d~ litrút&(Ól!S do r8rro ~ pdnicipa ~moc.ionalmM~ e
intelectualmente tks$e mundo.

Com isso a cenografia conduz o pübJico a um envotvimento plãstico..


auxiliado por soluções de cenotêcnica sugerindo-lhe local. tempo,
1

dima. atmosfera. Roben Edmond Jones. ao interpretar com soas


palavras a conhecida expressão de Appia de que não se representa
diante, mas dentro de, relembra. na forma d ireta e simples de seu
estilo. que a função pri.nópaJ do cenário é simplesmente esta:
relembrar o púbHco sobre onde os atores deveriam estar.

Masa fusãopalco{platéiaé resultado de múltiplosesfo,ços. Para promover


uma ambientaç30 adequada. o espetárulo depe<>cle da conjugaçào cios
0$10f'(os do iluminado<, cio figurímsta, do <enoté<:nico, do adereci>ta,
cio contriHegra e de t.lntos quantos participem da produç.ão, S<>b a
regência do diretor. Todos eles colaboram diretamente com o ator, única
presença humana vi.sivel: em cena, em cujos gestos. movimen1os e ritmos
se concretizara o envolvimento do cenário. da luz e da direção.

E nesse quadro cooperativo destaca-se o cenõgrafo. a quem Roben


Edmond Jones atribui a mais bela das funções:
Em última análise, criar um cen~rio não é para um arquiteto ou para um
pintor ou um escultor, ou mesmo um mUsico, mas sim para um poeta.

Odor~D (ê!Of'I»), * ~ l)u.'ane,"4 .JutJICb4- 0oro&.a. Gisa e J.a l'O ~ lab.atlc,l


"'~~o e(tffl NI\IOO
Capítulo X • 1981
Fichas Técnicas de O Bem Amado - Novela e Seriado Direção: Rég1S Cardoso e Oswaldo loureiro
Co-direçao: Mariano Gattl
Coordenação de Produçao; Lya Mara
Novela Cenografia: Fem.>ndo Camargo
f",gurino: Zenílda Barbosa
Direção: Régis Cardoso Assistente de figurino: Eliir de Araújo
Coordenador de produçao: Mariano Gatti Edição: Enio Molta
Editor de VT: Ubiratan Martins Direçilo de imagens: Régis Cardoso e Fernando Villela
Assistente de produção: Almeida Santos Pesquisad~ M arífia Garcia
Continuísta: Lia Mara lluminaçJo: Sílvio Carn<,iro
Sonoplastia: Paulo Ri~iro Conti.nuista: Ludmila Poení
Maquiagem: Erik Azepecki
Figurino: Carlos Gil • 1982
Assistente de figurino: Nilson Resende Direção: Régis cardoso
Cenografia: Paulo Dunlop Diretor As.ststente: Mariano Gatti
Assistente de cenografia: Guerrero COOfdeoadora de produção: Lya Mara
Assistente de Estlldio: Nilton Canavezes Assktente de direção: Wagner lima
Música: Vinicius de Moraes e Toquinho Assistente de prod~: Celso Santos
Iluminação: Sílvio Carneiro Cenografia: José Dias
Contra·regra: Paracium Gonçalves / José Cupertino / Zenon Alves / F",gurino: Paulo Lóis
Carlos da Silva/ Carlos Silveira Assistente de figunnos: 8illy Aciolly
161 162
Chefia têcnica: Silas Teixeira Iluminação: Silvio carneiro
Técnico: Guassalin Nagen Assistente de iluminação: Paulo GrazioUi
Câmeras; Joel Josê / Alexandre Sraz / Carlos Giraldes Edição: Enio Motta
Áudio: Mauro Araújo/ Mazoel de Lima Continuêsta: Fátima Branco
Operador de vídeo: Jorge <amara
Operador de VT; Antonio Fernando • 1983
Supervisão de operações: Alpheu de Azevedo Direção: Rég,s Cardoso
ProdUÇão executíva: Lya Mara
Diretor a.ssistente: Wagner Lima
Seriado Assistente de produção: Celso Santos e Hildorl Carrapito
Cenografia: José Dias
• 1980 Figurino· Paulo Lóis
Direção: Régis Cardoso e Jardel Mello (Colaborador) Assistente de figurino: Terezinha Pinto de Azevedo
Co-Direção: Yves Hublet Iluminação: Sílvio Carneiro
Coordenação De Produção: Flora Paolillo e Lya Mara Assistente de Iluminação: Paulo Graziom
Assistente de Produção: Celso Freitas e Sérgio Penedo Edição: Enio Motta
Continuista: Edna Torquato Continuista:. Fãtima Sranco
Cenógrafo: lrênio Maia
Figurinis'ta: Zenilda Barbosa • 1984
Assistente de Figurinista: Elzir De AraUjo Direção: Oswaklo Loureiro e Francisco Milani (colaborador)
Iluminação: Silvio Carneiro Prod~ executiva: Lya Mara
Edição: Enio Motta Ftgurino: Paulo Lóês
Cenografia: José Dias
Edição: Enio Motta
Iluminação; Henrique Leiner e Paulo Graziolli
Maquiagem: Marlene Wong
Pesquisa: Marília Garcia

Paulo Gn>c,ndo, o bem..>m~do Odor,<O P,lr.)gu~u


Bibliografia geral LYDAY, leon F. •o Pagador de Promessas and O Berço do Herói
Obras referidas ou consultadas variations on a theme•, Romance Notes (EUA), voL XIV, n.2, 1972.

APPIA, Adolphe. Carta a Gordon CRAIG (31, janeiro, 1919) LITTO. Fredrk M . & Julio PLAZA. Comunicação e novas tecnologias:
ln:cat logo actor-espacio-luz exposicion produdda y real izada por la reflexões. São Paulo, USP/ editora com arte, 1984_
Fundacion Suiza de Cul tura Pro Helvetia. Zurich, 1984.p.19.BABLET.
Denis/M.Louise (org.). MAGAlD~ Sàbato. Panorama do teatro l,r,..ileiro. São Paulo, Orlei, 1962.

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Boletim de divulgação da Rede Globo. Carta de Oswaldo l oureiro,
20/06/1984. Jornal da Tarde. São Paulo, 22/0611981. E..,lyn SCHVLKE: •oias Gomes
lutando contra a censura. com bom humor"
Boletim de Programação da Rede Globo, "Séries Brasileiras'', ano 111,
Rede Globo. 3 a 9/01/1981. Régis CARDOSO. Jornal da Tarde, São Paulo. 22/0511982 "Odorico· entrevista a José
Dias da Silva e Maria luóa Miranda -Veja os meus prindpalmentes.
Boletim de Programação da Rede Globo, 19 a 25/04/1980. Depo iment o para ser um partidário mnemônico e poínécnico da d emoc.radura,.
de Paulo GRACINDO.
Jornal do Brasi~ caderno 8. 08/04/1970: Yan MICHALSKY.
Boletlmde Progra mação da Rede Globo. (379) · o auto r - Dias Gomes";
12 a 18/04/1980 Jo<nal do 8<a$i~ caderno 8, 18/03/1970, Yan MICHALKY.

Coojornal• órgão da cooperativa de jornalistas (Porto Alegre} RS, (64), Jorna l do Brasil, Gaclffno 8, 21/04f1970. Odorico, O bem amado.
junho/1981 Entrevista de DIAS GOMES a R.MJM.C.: •se aparecer um 26zimo Barroso do Amaral.
teHorista. eu prendo e expludo ele · o Brasil de hoje visto por Odorico
Paraguaçu, prefeito da mais tipicacidadedopais, a imagináriasucupira". Jornal do Brasil, Rio de Janeiro. 07J04/1982. Diana ARAGÃO: "A
Correio Brasiliense. Brasilia, 31/0811980; entrevista com OIAS GOMES. ma.io ndade- de- o bem amado".
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 1/06/19B1. Diana ARAGÃO: · Três O Globo. Rio de Janeiro. Segundo caderno, 25J04/1982; Toui Cézar:
anos de sucesso e o lmpa$$e da censura·. •um antisher1ock que- sõ desresofve os casos·

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, 21/06/19B1. O Globo, Rio de Janeiro. Segundo caderno, 07Jll5/1983; ARTUR DA
TÁVOlA:"'odorico ~ uma especie de marunatma televisrvo•
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. Caderno B, 03/05/1981. Maria
Helena OUTRA. O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 11/11/1983; ARTUR DA
TÂVOLA:"o poder delegado de dona chica'
Jornal do Comêrcio, Recife, 04/05/1969; ·A propósito ...'' (ass.W.)
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 13/11/1983; ARTUR DA
Jornal do Comércio, Recife, caderno 11, 20/10/196B. Valdemar de
TÂVOLA:"os tipos populares de sucupira"
Oliveira (assina W.), coluna • A propósito ... •

Jornal do Comércio. Recife, Caderno li, 06/05/1969;08/05/1969. Coluna O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 14/11/1983; ARTUR DA
Teatro. "Odorico, O bem amado" (lnl), slass. TÁVOLA:"o universo de dias gomes•

Melhores momentos. a telenovela brasileira. Rio de Janeiro, Rio O Globo. Rio de Janeiro. Segundo caderno,02/11/1984; ARTUR DA
Gráfica, 1980. TÁVOt..A:'"o muito amado bem amado'".

O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 21/03/1970; M anim O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, lQ/11/1984.• ARTUR DA
GONÇALVES. TÂVOLA: •o bem amado na galeria de honra da tv brasileira".

O Globo. Rio de Janeiro, Segundo caderno, 01/10/1973; ARTUR DA 169 170 O Jorn.1~ Segundo aderno, 25/03/1970
TÁVOLA:"o bem amado"
O Jocna~ " Show de todo d ,a•, Ney Machado, 29/03/1970.
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 02/10/1973; ARTUR DA
TÁVOLA:"o bem amado· Revista Playboy, São Paulo, Oez/1985. DIAS GOMES: entrevista a
Norma Couri..
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno. 24/10/1973; ARTUR DA
TÁVOLA:"fim de odorico, o anti-herói" Revista Amiga. São Paulo, 1981. ARTUR DA TÃVOLA: ·o bem amado:
o mais importante programa de nossa televis.\o em 1980'
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 24/10/1973; DIAS GOMES
entrevista a Tamar de Castro: "a expressão do bem amado"
Revista Amiga. São Paulo, 14/11/1984. Entrevista com Francisco
MILANt o triste fim de o Bem Amado".
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 22/01/1981; ARTUR DA
TÁVOLA:" Esse Odorico, tão brasileiro" .
Revistã Cívtlização Brasileira {Teatro e realidade brasileira) caderno
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 23/01/19B1 ; ARTUR DA especial, (2), 1968.
TÂVOLA;"o tão nosso zeca diabo"
Revista Cívil~o Brasileira. Caderno especial, (4),1969.
O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 26/01/1981; ARTUR DA
TÁVOLA:"dirceu borboleta nfo, um mediano q ue desandou· Revista Civiliz~o Brasileira. Caderno especial, (6), 1969.

O Globo, Rio de Janeiro, Segundo caderno, 28/01/19B1; ARTUR DA Revista Civilização Brasileira. Caderno especial, (14), São Paulo/USP/
TÁVOLA:"o bem amado, papo final" FflCHCF
Revista de teatrolsbat (1976):p.2-3; no.412. jul-ago. Daniel ROCHA. •o
tap, Valdemar de Oliveira e a peça um sábado em trima."

Revista de teatrolsbat (1976):p.6; no.411 . maí-jun. ·Quando no teatro


surgiu a perspectíva."(artigo sem assinatura)

Revista Ele e Ela.São Paulo, novembro, 1981; Renato Sérgio: "Odorico,


profissão brasileiro".

Revista Isto t, Silo Paulo, 221/0411982. "O esaevinhador aventurirta"


Benício dos SANTOS.

Revista Nacional de Telecomunicações, fev/1983.

Revista Nacional de Telecomunicações, fev/1983.

Revista Tempo Brasi leiro, 3 1/12/1980. "A televisão em 1980"

Revista Tempo Brasileiro. 1982. "Merecendê.nda" João Gmdido GALVÃO

Revista Veja, São Paulo. 24/10/1984.

171
Revista Veja. São Paulo, 04/04/1984.

Rio, Samba, Carna'Val. Si1o Paulo, 1988.

Script de •e
chegamos aos fínalmentes" Rede Globo, 22/10/1984
DIAS GOMES.

Última Hora, Rio de Janeiro, 29/12/1983. Ronaldo BOSCOLI.


Agradecimentos

Agradeço aos meus queddos filhos, Philipe Deschamps Gonçalves


Dias e Bianca Oeschamps Gonçalves Dias. que durante o período de
estudos souberam compreender minha luta.

Muitas outras pessoas contribuíram direta ou indiretamente para a


realizaçllo desta pesquisa, ora gentilmente cedendo documentos, ora
acrescen1ando informações ou apenas suportando alguns momentos
de desânimo com palavras animadoras. Algumas estão identjfic.adas
ao longo do trabalho; a muitas outras, porém, não mencionadas.
registro aqui o meu agradecimento discreto e silencioso.

José Oias

173
lndice
Apresentação - Josê Serra S
Coleção Aplauso - Hubert Atqvêre\ 7
Começando com os Entretantos 11
Dias Gomes - Biografia ôe um Censurado Precoce 13
O Bem Amado - As Transformações de Odorico
nos Palcos Suc:upirenses 31
O Romanc.e da Peça 35
A Histôria das Montagens 45
Em Busca de Novas Sucupiras 63
As OeS<onjunturas Seriadistas: O Bem Amado Seriado 83
Confabulâncias e Providenciamentos: A Implantação do Seriado 95
O Vocabulário SU<opirense 129
E Chegando aos Finalmente 145
Fichas Técnicas de O Bem Amado- Novela e Seriado 161
Bibliografia geral
Obras referidas ou consultadas 165
Agradedmentos 173
'

Crédito das Fotografias


Todas as fotografias pertencem ao acervo do autor, Jose Dias, exceto:
Acervo Rolando Boldrin 62
Cedoc/TV Globo 65. 128, 163

Adespeh:o dos esforços de pesquisa empreendidos peta Editora para ktentifk.lr a aut0tla das
fotos expostas nesca obra. parte delMoão ede .iutoN conhecida de S<'US organizadores.
Agr~doc111môs o t(MO ou c.omuni(fç.õo de toda informeçio rela tiv,1 à i11,1toria d<lu a outros
d~os que porventura estejam Incompletos, para que sejam dewidamente u edftados.
Coleção Aplauso Como Fazer um Filme dê Amor
~ now. ~ p a r WR ~ . ~
Série Cinema Brasil
Alain Fresnot-Um Cineasta sem Alma """°""'"""'
Oú:wltador-deHi<tódas
Alalnfresnc>1 ~dll!'u.«,,c,o~ kMRc:ibn1o T(nft). U.WWV..nwrrooelmVl,iÇI
Agostinho Martlns Pereira - Um Jdealísu, CnbcasdeB.J. Duane-Paáãcl-•-
O!g. LUc Ar.tõrm Soaz.a lma de Macedo
Ma).IMO 8,i«O

O Ano em QIJe Meus Pais Sairam de Férias Cntkas de Edm., Pereit• - Rmo e s..nibiT-
Rote,.co õe Claud11,, Galpenn, 8raul!o Man:oo;am. Anna Mwlaen e Cao Hamburger Oo; ..... e-,.......
Ans~lmo Duatr~ - O Hom~m da P;,fm;, d(! Outo C.riticas dr Jairo Ferreira - CntJC.tS" ~ .vwenç.lo: Os Anos do Slo Paulo Shimbutt
Luiz carlos MeflM Org ~--li'oG.rio
Antonio Carlos da Fontovra -Espelho da Alma Cntkas de tua Gt,raldo de Mir.mda !do - Analisando Cinema: Crilicas de tG
Rodrigo Murat 1)-g A..toa M:rltld& lb\O
Aty Ftrnandts .. Sua Fascin;,nre História Cntk;,s de Rubem Bláfora -A Cor.>gem de~
1\ntÕOIO Le~ d.) Si...a Nt!tO 0-g.C..,losM.-·-....,-

---
O 8.andido da Luz Vermelh<1 OePasugem
R.o1~1e>de Rogério SgalVtrlA ;l';(KffrOdt(.liuoa, YQSiOi-e 0-Je(i()dt ~.o,oo bilS
Sdtismo de Sangue
RôU)rode Dan, Pata na e ~ Ratton llottir'o dit JJ,,att F,tsnOC. Ar.na t.li.ryi'~ e Sabtli .lNW?•
Bens Confiscados Djalma Limong.i Batnta - úvre Pensador
Rotl!'!10 coment,,do p('!O:. YIV) JJlllOtP-s Oanlel Ch.,.,.;
e Corios R~<h..,boch Oogm• feijood.,; O Cinem.1 Negro Bnsileiro
Blb1 ChMl/bk - Fla/j/flMtô! d~ ú/HD vld• ll!l!!nmlle
S~910 Rôdilgo R.els DoisCótf'90'
(abra-C.~a P.c:XM)°'"CifbS~,b,)(n;
R.o~e,Jode Oi Morew. oomen~ por Toni Veoruri A Dona da Httlôria
e Ricardo Kauffrnan ~ dr! Joio faüo, João &r..rue-' úmero e ~ Fl"G

O Caçador de Diamantes O, 11 Ttabalhos


R.otl!'1C drt V1Uot10 Copel!ÕIO, tOmtr'lt4ÔO por MAximo 8;,rro ~ dê Ctaudlo YC1$!» f' Pxan:io ENS
Cdrlo:s Coimbra - Um Homem R.;,ro En6mdcgo
L!Jlz Carlos t.'letten _ ó r _ _ _ b'gt,c:r.w.do-.-
Catlos Reichenbach - O Onema Como Razao de VJ've.r Femando Mei"'""" - Biogram, ,,,_.~
1-Aatt:elo ly,a Ma!".a do Oosar10 C.aet.ano
A Cartomante Fim do Unho
Rote-ro comentado OOI' seu autor wogn,er ae AS'Sls ~NUde~~•~V~S~.dsaefclhoMoon•Gà:ne8á
casa de Meninas fo,f'M df! Boi., - Cl.nfflia t! Futebol no Bra!il
Rom.ince or'9inal e roieiro dE ln~ Alc1Up _!SZ zan.n O,<mc)
O Caso dos Irmãos Naves
f\ote-ro de Jean·Clõude scmatdN e l u1s Sérgio Ptrson
o Céu de Suely
Rote,;1ode Ka1im Ainouz, Felipe Braganl',õ e Maurício Zadwri.as
Chega de Saudade
Ro!t'fOde LUIZ Bolognes,
t,.q~-
Geraldo "'""'"' -
<Jeo-.-s Hel'WQ.J!
o,,,........,
do Interior

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Cklade dos Homens O Homem que Virou SUco
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Não por Acaso Sf<g,oRoó,go >éS
Rme-ro de Fh1ippe Barcm~. Fablana W('rnec;k Barclnsb e Eugênio I\Jppo
Sene Te.ano Btasil
Narradores de Javé
R.ote::rode Eliane Catte e tuls A.'t>erto de ..-.breu Alcrdes Nogve,ra -Alm,, de Ce&m
Tu,...c1Dwa..
Ot>de AndarJ Dulce Veiga
Rote:.1ode Gu~ de Almeida Prado Antenor p;mentq - Circo e Poesia
~ePmeri8
Orlando Senna - O Homem da Montanha
Hermes leal Ç,a de Teatro Os S.ryros - lJm Pako V,scera/
.\!beflO&.:à.
~dro Jorge de Castro - O Calor da Tela

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Crfriud<k Clôm Ga.tdil -A Criria Como o,-,c;o
ko~uo Menezes
Q,v.c.m-.tnda-
Quanto Vale ou E por Quilo Crírius ~ Mdr~ tuáa ~ndeias - Ouas r,buas ê UftJd hi.d o
ft.oteuo de Eduardo Senalm, Ne.vton C.:1M1toe Setgio Bianchi
Ricardo Pinto e Silva - Rir ou Chorar F«IHícõ Gafda totea - P«/Uff?ô PQerM lnfit11lO
Rodngo Capelta

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iilOtti'o de Jost • - ~ 8Qr'it e Arr~ Gbfrto
Rodolfo Nannl - Um Realizador Persistente João Bethencourl. - O Locatário eh Comédia
Net0,1 ~rbosa
salve Geral Leil.h A;wmpção-A C ~ da Mulher
Role.rode Sérgio Rezende e Paulcia And•ade
ª~"',c)(l!
O Slgno d;, Cldade
Rote- 10 de Bruna Lombardi ....,.,_....,
luis A/bem, de Abn,u -Aré a Últ>ma s;Iaba

Ugo Giorgetti - O Sonho Intacto Maurice V.r~•u-Arrist.1 Múltiplo


Rwne Pav9m J.eiaCCY"N
Vladimir carvalho - Peda,$ nà Lua e Pefejas no Planalto Rena:ra Paforôni - Cumprimer,ra e Pede PõSSagem
Carbs A!beflo Ma1tos Rita ftbe,to G..:Jima.~
Teatro BtasHeiro de Comédia - Eu Vivi o TBC
N-,'<lia Leia
O Tealro d~ Afcides Nogueira - Trifog;a; Ópera Joyce- Gertrude Srein. Alice
Toklas 8 Pablo Picasso-Pólvora e Poesia
vi--
Etty' fra:ser- Viradd Pra lua

Ewerton de Castro - Minh.J Vida na Artr-: Memoria e PoétKa


..,.e...,..
;'k1d('S NQOUCU'êl Fe~nda Monten~ro - A ~fea do M~rio
O Teatro de tvam CabriJI - Quatro textos para vm tedftQ veloz: Faz de conta que ""'-'Barbosa
tem Sol lá Fora- OS cantos de Maldoror- De Profundis -A Herah(a do Teatro Geotyl.a Gomide - Uma Atriz Ek.ni.leira
lvam Cabral a..,,-
O Teatro d& Noeml Marinho: Fulanfnha e Dona CofSJ.t, Homeless. Cor de Gianfrancesc.o Guamieri - Um Grito Solto no Ar
Chá, Plantonista Vi/ma
Noem, M<11ính0
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Glauco Mlf'ko Lw:relll - Um Artes.lo do CÍnPl7\il
Te-atro de Revisti.l em ~o Paulo- De Pernas pafi.l o Ar Ma!'.a Angeia de Jesus
Neyde Veneziano
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O Teatro de Samir Y'azbek: A Enttevista - O Fingidor-A T~rra Prometida
Sarnn Y,ubok "'"""'de"""
Irene làvache - Caçadora de E,_.;..
Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda - Quatro Oêt:adas em Cena lari.aCa~
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Sete Mendes - O cao e a Rosa k>n.u Bfoch - o Ofldo de uma PalxJo


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Betty Faria - Rebelde por Natvreza
Tan!a Carvalho
GJrla Camuratl - Luz Natural t.eonardo Villar- Garra e Paído
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Ceei/ Thiré - Mestre do seu Oficio l.ífia C.abfal - De(obrindo Lífia cabral
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Celso Nunes - Sem Amarras t.olita Rodr,gues - De úrne e Osso
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Cleyde Yaconls - Dama Discreta tocme C:,,rriaso -A Mulher do llad,osa


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Deni$e Dei vecehio - Memórias da Lua Maria Adelaide Amaral-A Emoção Libertária
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Mal.Iro Alencar e Eliana Pace l.vvú-
Niz,1 de C;,stro T.>nk - Nlza, Apestlr das Outras ,,
1/mberto Mogn.ni- Um Rio~ -
Saia Lopes
Paulo Betti - Na Carre,'ra de um Sonhador Vera Holrz- o Go<to da Vera
lete IIJbe,ro Aniliu Rlbe#o
Paulo JoJé - M emórias Subttanavas VHa MIM:$ - R.l.ro T•l~nto
Tania Carvalho El<r•- de
Walderez Barros - Voz e Si/énc,os
Pédro Paulo Rangel - O St1mb.a e o Fado
Tan1a Carva!ho Po;lêno MeneM
Re!ina Braga - Talento é um Aprendizado Z~tt Motu - Mu,ro Pr.aZtt
lb><'9() .....,
Marta Goes
Reginafdo FaritJ - O Solo de Um Inquieto Espeóal
wagner de Assis
AgikJo RibeJro - O úpháo do Risa
Renat.J Fronzi- Chatar de Rir \\~dP~
Wagner de As.sis
Beatriz SegaU-Além das ~parências
Renato Borgh; - Borghi em Revista
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Jose otas -Sao Paulo: Jmprtt"IS,l Ofióatdo EJ;tildode- S3o
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l92p.il-~ , p a u , o . ~ e s p o o a l / ~
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