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PASTOR: CHAMADO OU PROFISSÃO

INSTITUTO MISSAO DA PAZ


SEMINARIO DE TEOLOGIA E FILOSOFIA
www.missaodapaz.com.br
A relação trabalhista entre os pastores e igrejas e o TST
Gilberto Antonio Viana Garcia

O Tribunal Superior do Trabalho (TST), neste início de ano, numa decisão


inédita reconheceu vínculo trabalhista de um pastor com uma Igreja, em
função do comprovado desvio de finalidade eclesiástica, possibilidade legal
que há tempos vínhamos alertando, em Entrevistas, Palestras, Artigos, Debates,
manifestações em Programas de Rádios, Televisão, Jornais, Sites, e, ainda,
para Revistas Evangélicas, bem como, no site: www.institutojetro.com.br, e,
ainda, site: www.direitonosso.com.br, de nosso Ministério de Atalaia Jurídico,
de suporte legal-eclesiástico, neste novo tempo legal.

O compartilhar desta ótica jurídico-eclesiástica objetiva exatamente destacar,


sobretudo, que referida decisão da Última Instância do Poder Judiciário
Trabalhista é uma exceção no Sistema Jurídico Nacional, tendo,
entretanto, instituído um perigoso Precedente Jurisprudencial, pois apesar de
já existirem diversas decisões de Juízes do Trabalho e Tribunais Trabalhistas
Regionais pelo Brasil no sentido de considerar empregados os religiosos que
deixam de atuar especificamente em sua condição eclesiástica, quando
comprovadamente caracterizado o desvio de atividade espiritual, sendo que
estas, até então, eram rejeitadas pelo TST, às quais, doravante, passam a ter a
possibilidade legal de terem assegurados direitos trabalhistas iguais a qualquer
trabalhador regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.

Neste sentido enfatizamos que o Tribunal Superior do Trabalho reafirmou


sua Jurisprudência Pacifica, de que os Ministros de Confissão Religiosa,
qualquer seja a crença, quando atuam exclusivamente como obreiros da
religião não são amparados pela legislação trabalhista pátria, assim,
permanecem aplicados os mesmos princípios legais que regem o Princípio
Constitucional da Separação Igreja-Estado, que caracteriza o Estado Laico
no País, ou seja, o Estado Sem Religião Oficial, inclusive nas Relações
Trabalhistas entre Pastores e Igrejas, ou seja, permanece vigente a REGRA
GERAL DE QUE UM RELIGIOSO NÃO POSSUI DIREITOS TRABALHISTAS.

E de se ressaltar que Juízes e os Tribunais do Trabalho brasileiros são


praticamente unânimes, registrando, por respeito a posicionamentos contrários,
já existirem, ainda que uma corrente minoritária no direito do trabalho, autores,
advogados, juízes etc, que sustentam que o pastor é um empregado no que
concerne ao reconhecimento do vínculo trabalhista entre o Ministro Religioso e
a Organização Eclesiástica; em que pese esta decisão judicial
excepcionalíssima, proferida agora no início deste ano de 2012 do Tribunal
Superior do Trabalho (Ultima Instância Judicial de Questões Trabalhistas no
Brasil), eis que, temos uma jurisprudência firmada (decisões reiteradas) de que
o Ministro de Confissão Religiosa atua de forma vocacionada em atendimento a
uma orientação divina, sendo que o reconhecimento do vínculo implicaria numa
mercantilização da fé.

Assim, esta decisão judicial é uma exceção, e como uma exceção necessita ser
entendida, servindo, contudo, como direcionadora de que os Juízes e Tribunais,
como já faziam, e agora, ainda mais, com o suporte jurisprudencial da decisão
do TST, sempre que identificarem, de forma comprovada, uma situação atípica,
que não esteja calcada na perspectiva religiosa, espiritual ou de fé, no
relacionamento entre pastores e Igrejas, poderá o Judiciário brasileiro considerar
esta uma relação de emprego celetista, gerando direitos para o obreiro-
empregado, e, condenação trabalhista para a Igreja-Empregadora, inclusive com
anotação na Carteira de Trabalho e demais verbas trabalhistas.

Destacamos, singelamente, que o Ministério Pastoral não pode ser entendido


como profissão, posição que há quase três décadas de atuação jurídica temos
sustentando, em diversas intervenções, inclusive nos livros, "O Novo Código
Civil e as Igrejas" e "O Direito Nosso de Cada Dia", Editora Vida, bem como,
lecionando durante alguns anos no Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil-CBB, e atualmente na Faculdade das Assembleias de Deus no Brasil
- FAECAD/CGADB, para pastores e futuros pastores.

Enfatizamos que a atuação do obreiro é fruto de vocação divina, sacerdócio


espiritual, e chamada pessoalíssima, para o exercício eclesiástico junto a
comunidade de fé, em atendimento a um propósito divino, sendo com Deus o
comprometimento espiritual do pastor, por conseqüência não estando sujeito a
legislação trabalhista, no que tange a sua opção pessoal pelo exercício de uma
vida consagrada a religião, como descrito pelo profeta Jeremias, "E vós darei
pastores que vos apascentem com sabedoria e inteligência.", tendo cada grupo
religioso seu próprio regramento para o exercício ministerial.

O Ministro de Confissão Religiosa é definido, no sentido tão somente


metodológico e não legal, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, como aquele
que realiza cultos e ritos, liturgias, celebrações, orienta comunidades
eclesiásticas, ensina os fiéis dentro dos preceitos religiosos, divulga a doutrina
de sua vertente confessional etc, por isso, a atividade religiosa não pode ser
objeto de contrato de prestação de serviços, na perspectiva de que seu objetivo
fundamental é a propagação da fé, assistência espiritual e realizado em função
do compromisso de fé do obreiro junto a Igreja e a crença adotada.

Desta forma, não existe lei específica para o exercício da atividade religiosa,
assim, as normas do exercício pastoral, contendo pré-requisitos, condições
pessoais, regramentos alusivos aos dogmas, inclusive de fidelidade doutrinária,
podem estar inseridas no Estatuto Associativo, Convenção de Obreiros etc.
Relembramos, por oportuno, a iniciativa que há alguns anos atrás, quando surgiu
em São Paulo um Sindicato dos Pastores e Ministros Evangélicos, inclusive
conseguindo o registro junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, que logo após
sua divulgação teve seu Registro Sindical cancelado, o qual tinha como objetivo
fixar piso salarial e direitos em Convenções Coletivas de Trabalho com as
Igrejas, tendo sido rechaçado pela Comunidade Religiosa Cristã, sobretudo por
diversos líderes espirituais de praticamente todas as denominações evangélicas
no país.

Assim, não há que falar em vínculo empregatício na relação entre um Líder


Espiritual e a Instituição de Fé, eis que trabalho religioso, seja ele pastor, pastora,
diácono, diaconisa, presbítero, evangelista, cardeal, arcebispo, bispo, apóstolo,
padre, freira, rabino, babalorixá, ialorixá, pai-de-santo, mãe-de-santo,
sacerdotisa, sheik, monja etc, não pode ser caracterizado como vínculo
trabalhista, à luz da legislação trabalhista brasileira, na medida em que sua
atividade é fruto do exercício de sua fé na divindade, não podendo ser
remunerado, como um trabalhador comum, pois este recebe uma
contraprestação pelo serviço prestado, com base nas leis do país.

Anote-se, por oportuno, que, na relação de emprego normal, empregador e o


empregado naturalmente estão em posições antagônicas, em função dos
interesses opostos, o que não ocorre com o pastor e a Igreja, na medida em que
se confunde a missão do obreiro com a finalidade da Organização Religiosa,
sendo ele sustentado ministerialmente, da forma que bem convier a Igreja, não
tendo este religioso direito trabalhista a pleitear, entretanto, à luz da Sagrada
Escritura, devendo ser mantido, juntamente com sua família, honrosamente e
dentro das possibilidades financeiras da Congregação dos Fiéis, na perspectiva
bíblica do reconhecimento, eis que, "Digno é o obreiro de seu salário".

É importante registrar que já tem ocorrido condenações trabalhistas com relação


a determinadas Igrejas e Obreiros, na medida em que se comprova o chamado
"desvio de finalidade da Igreja" e/ou "desvio da função pastoral", à qual é
comprovada pela justiça através de "práticas eclesiásticas de atuação mercantil",
caracterizada especialmente, quando, entre outras, situações fáticas, o
"religioso" não tem qualquer autonomia em sua atuação ministerial, quando,
ocorre um rígido controle de jornada de trabalho, quando são fixadas metas
financeiras e de crescimento do número de membros ou fieis, quando são
estabelecidas penalidades para os que não atingem estas e outras metas etc, o
que, como declinado, já vinha sendo decidido por Juízes e Tribunais, agora é
respaldado pelo Tribunal Superior do Trabalho - TST, na medida em que: “Os
Magistrados são instrumentos da justiça de Deus”.

E, ainda, quando a Organização Religiosa deixa de atuar institucionalmente


como uma Entidade de Fé, e sim, como uma Organização Empresarial, e nestes
casos, excepcionalmente, algumas Igrejas tem sido condenadas a pagar multas
e indenizações, pois o pastor deixa de atuar como religioso, mas sim como
verdadeiro empregado, numa espécie de "gerente espiritual", e aí, tanto
advogados e juízes trabalhistas, tem entendido que materializa-se o vínculo
empregatício, pois neste caso, o título ministerial, em qualquer área de atuação
eclesiástica, seja pastoral, musical, educação religiosa, ação social etc, visa tão
somente tentar desobrigar a Igreja de arcar com os deveres legais previstos na
legislação trabalhista, às quais são devidas, juntamente com a obrigatoriedade
de manter todos os empregados, assim caracterizados, com registro em carteira
trabalho, quitar horas extras e pagar todos os direitos devidos aos funcionários
da Igreja, bem como recolhendo os encargos sociais (INSS, FGTS etc), evitando,
por conseqüência, ações trabalhistas, no dizer de Cristo, "Dando a César o que
de César e a Deus o que de Deus".

Há alguns anos atrás tivemos a experiência de orientar a mãe de um obreiro de


uma Igreja Evangélica onde ela dizia que seu filho, além de pastor, era uma
espécie de "faz-de-tudo" na Igreja, e que após ficar doente foi abandonado pela
Instituição de Fé, na ocasião tivemos a oportunidade de orientá-la que na
perspectiva legal em função de sua atuação enquanto sacerdote espiritual não
havia qualquer direito trabalhista a ser pleiteado judicialmente, entretanto, em
que pese nesse caso nossa atuação ter sido tão somente em nível de orientação
jurídica.

Explicitamos no que se referia a sua atuação diversificada, como profissional


multitarefa, desde que comprovada a caracterização da relação de emprego, ou
seja, que ele era prestava serviço: subordinado, habitual, pessoal, oneroso,
e ainda, revestido de alteridade, ou seja, a Entidade Eclesiástica era
beneficiada pelos seus serviços laborais, bem como, para que ela procurasse a
liderança daquela Igreja para que a mesma assumisse os encargos legais de
seu "empregado", o que não ocorrendo por espontaneidade, poder-se-ia pleitear
o reconhecimento do vínculo de trabalho, e, conseqüentemente a indenização
pela prestação de serviços de carpinteiro, pedreiro, eletricista etc, pelo que,
poderia a Organização Religiosa ser responsabilizada legalmente.

Temos orientado em Conferências e Simpósios por todo o Brasil, a necessidade


das Igrejas e Organizações Religiosas reconhecerem a árdua tarefa de nossos
obreiros, alertando os líderes, especialmente irmãos e irmãs diretores
estatutários das Igrejas, que também neste caso se aplica o ensino de Jesus, de
que "A nossa justiça deve exceder a dos escribas e fariseus", e a nossa “Regra
de Fé e Prática” orienta a “Lei do Amor”, por isso, em que pese o obreiro não
ter qualquer direito assegurado na lei dos homens, a concessão do sustento
ministerial, do rendimento eclesiástico, ou, das prebendas pastorais, é obrigação
moral e espiritual da Igreja com relação a seu pastor, outorgando no mínimo as
prerrogativas financeiras que possui um trabalhador comum, e aí por liberalidade
conceder-lhe os valores relativos ao descanso anual, da gratificação natalina,
inclusive o depósito mensal em conta de poupança do percentual em torno de
10%, que se constituí no FETM - Fundo Especial por Tempo Ministerial, e como
para os efeitos previdenciários ele é considerado um Contribuinte Individual,
sendo obrigação pessoal do obreiro efetivar sua inscrição na Previdência Social
e proceder os recolhimentos junto ao INSS etc.

Como profissional do direito, entendemos a impossibilidade jurídico-eclesiástica,


exceto no caso de desvirtuação, seja da atuação da Igreja, seja da atuação do
Ministro de Confissão Religiosa, e aí ele, verdadeiramente não atua como pastor,
como agora ratificado pela decisão do TST; por isso, defendemos ser necessário
que a Igreja também cuide para que sua contribuição previdenciária seja
recolhida mensalmente, para que ele esteja resguardado em caso de acidente,
bem como sua esposa e filhos em caso de óbito, ou mesmo possa usufruir da
aposentadoria condigna juntamente com sua família, ainda, se possível,
contratando um seguro de vida, e ainda, dentro das possibilidades da
congregação inscrevendo-o num plano de previdência privada, entre outras
medidas que visam abençoar a vida ministerial dos líderes religiosos, no
cumprimento do mandamento Bíblico, "Zelai por vossos pastores, pois eles
darão conta de vossas almas junto a Deus".

Informações Sobre o Autor


Gilberto Antonio Viana Garcia

Advogado, Pós-Graduado e Mestre em Direito. Especialista em Direito Religioso,


Professor Universitário e Membro do IAB - Instituto dos Advogados Brasileiros.
Autor dos Livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas”, “O Direito Nosso de Cada
Dia”, Editora Vida, e, “Novo Direito Associativo”, e, Co-Autor na Obra-Coletiva:
“Questões Controvertidas - Parte Geral do Código Civil”, Editora Método, e, do
DVD-“Implicações Tributárias das Igrejas”, Editora CPAD. Gestor do Site:
www.direitonosso.com.br

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