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TRABALHISTAS DOS
PADRES
Desta forma, ainda que não necessariamente contínuo, há uma rotina a ser seguida que aponta para o trabalho do padre
não ser eventual.
Indo em sentindo contrario de um contrato de emprego, pois os párocos devem ser nomeados por tempo indeterminado
e o contrato de emprego por um tempo estreito.
A partir desta teoria também se consegue observar que o trabalho prestado pelo padre está alinhado com a finalidade
da Igreja Católica de divulgar a fé e propagar a Palavra de Deus contida na Bíblia.
O pároco está obrigado a providenciar para que a palavra de Deus seja integralmente anunciada a todos os que residem
na paróquia
Portanto, assumindo a atividade-fim, o padre segue a lógica do trabalho não eventual
Onerosidade
O último elemento essencial para se configurar a relação de emprego é a
onerosidade. Por este requisito só haverá contrato de trabalho se as partes
contratantes se comprometerem, mutuamente, à prestações e
contraprestações recíprocas (MARANHÃO, 1982, p. 55). Isso quer dizer que
o empregado presta seus serviços ao empregador enquanto este paga uma
remuneração àquele equivalente ao contrato realizado.
Este é o ponto central da discussão sobre o trabalho do padre. A
relação entre os padres e a Igreja Católica tem características
únicas que a distinguem tanto do emprego quanto do serviço não
remunerado. Se, por um lado, sabe-se que o trabalho
desempenhado pelo padre trata-se de um chamado vocacional, por
outro, esses recebem da Igreja valor equivalente ao serviço
prestado como forma de subsistência pessoal.
Embora raros, os padres podem buscar a aprovação de um vínculo empregatício com a Igreja Católica. Além
disso, como é bem sabido, não houve reconhecimento de vínculos empregatícios para padres, pois eles estão
envolvidos em assuntos gerais da igreja.
Um dos poucos estudiosos a defender a existência de uma relação de emprego entre religião e igreja é a autora
Vólia Bomfim Cassar (2019, p. 264). O argumento que acabam usando – os religiosos participam de instituições
motivados por sua fé e, portanto, não existe vínculo empregatício – é na verdade uma ideia religiosa, e a maioria
argumenta que não é legal, criticando a posição da doutrina e da jurisprudência. Por outro lado, o autor aponta
que somente a lei pode impedir o estabelecimento de vínculo empregatício, e isso se aplica aos padres com a
entrada em vigor do chamado Tratado de Santa Sé brasileiro por Decreto de 2010 (CASSAR, 2019, p.266-267).
Em seu julgamento, o Primeiro Senado 20 do Tribunal de Capixabas reconheceu uma relação de trabalho entre o
pastor e a Igreja Mundial do Poder de Deus. Isso porque ficou provado que todos os termos da relação de trabalho
existiam ao mesmo tempo que a Igreja. Tinha uma estrutura de empresa. O pároco não só verificou os elementos
essenciais que caracterizam a relação de trabalho, como também tinha como objetivo vender produtos e
arrecadar dinheiro.
A Lei no 8.213/91 e a Lei no 8.212/91 estão inseridas no âmbito do direito
previdenciário e possuem artigos que se relacionam aos padres.
A relação da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, com a questão do trabalho
do padre é que esta lei, que dispõe sobre os benefícios da previdência
social, equiparou osreligiosos como o padre aos trabalhadores autônomos.
Verifica-se assim o art. 11, V, “c”, da referida lei:
Com isso, esta lei acaba trazendo reflexos mais importantes para o estudo deste artigo, principalmente,
porque auxilia na percepção do requisito da onerosidade da relação de emprego que, como visto, é o foco nas
discussões acerca do trabalho religioso.
Como a lei expressamente descaracteriza o valor recebido pelos padres decorrente de seu ofício na Igreja e
determina que esse não será considerado remuneração, ganha força o posicionamento de que esse
pagamento não passa de uma ajuda de custo, um valor indenizatório que afasta o requisito da onerosidade.
ACORDO
BRASIL-SANTA SÉ
Decreto número 7.107/2010
O acordo firmado em 13 de novembro de 2008 entre o Brasil e a Santa Sé
foi promulgado em 11 de fevereiro de 2010 através do Decreto no 7.107 e
dispõe sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil.
Este acordo, possui em seu art. 16, I, a previsão de que não gera vínculo de
emprego a relação entre o padre e a Igreja Católica:
Art. 16. Dado o caráter peculiar religioso e beneficente da Igreja Católicae
de suas instituições:
I - O vínculo entre os ministros ordenados ou fiéis consagrados
mediantevotos e as Dioceses ou Institutos Religiosos e equiparados é de
caráter religioso e portanto, observado o disposto na legislação trabalhista
brasileira, não gera, por si mesmo, vínculo empregatício, a não ser que seja
provado o desvirtuamento da instituição eclesiástica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades dos padres correspondem aos requisitos de uma relação de trabalho.
Seus serviços devem ser prestados diretamente. Geralmente quando a missa é celebrada aos domingos. Os padres devem seguir
os cânones da Igreja, especialmente o bispo diocesano. E eles recebem benefícios em espécie da igreja para ganhar a vida.
No entanto, a maioria dos ensinamentos e da jurisprudência estabelecem o entendimento de que a relação entre os padres e a
Igreja não é de emprego. Como seu trabalho é motivado por sua vocação, ele não busca o objetivo principal de obter uma
recompensa, gratificações destinadas apenas a se dedicar a funções religiosas e não são recebidas precisamente em troca de um
suposto contrato de trabalho.
As doutrinas que defendem o reconhecimento da relação ministerial entre os padres e a igreja assumem que a maioria dos
entendimentos se baseia em aspectos religiosos e não jurídicos.
No entanto, a jurisprudência reconhece as relações de serviço entre as instituições religiosas e eclesiásticas apenas quando
existem desvios das mesmas. Isso acontece quando a igreja começa a funcionar como um negócio.
https://doi.org/10.20873/uft.2359-0106.2020.v9n2.p222-248