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O CAVALEIRO KADOSCH

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O Cavaleiro Kadosch ou Cavaleiro da Águia Branca e Preta é o


título do iniciado no grau 30 do REAA. Assim como os demais
Graus Filosóficos, esse também trás ensinamentos exotéricos e
esotéricos, que iniciam com os questionamentos feito aos
iniciandos sobre questões morais, sociais, políticas, legais,
também abrangendo o cotidiano a respeito de suas opiniões sobre
a família, matrimônio, divórcio, direitos e deveres sociais,
moralidade, liberdade, educação, organização social e política,
enfim, uma gama de assuntos que denotam a versatilidade e o
nível de informação que deve possuir o integrante desse grau.

A simbologia da consagração na subida e descida da escada dupla


do Kadosch permite a elevação gradual do homem até chegar à
comunhão espiritual com o Céu, depois de ter descendido e
cumprido a experimentação terrestre. Os sete degraus ou Planos
necessários a essa elevação representam-se simbolicamente de
um lado, o esquerdo, pelas sete Artes liberais da Idade Média, e
do outro pelas Virtudes teologais às quais se chega por intermédio
daquelas Artes ou Ciências.

Os degraus da esquerda são, de baixo para cima, representativos


da Gramática, da Retórica, da Lógica, da Aritmética, da
Geometria, da Música e da Astronomia. Os da direita são, de baixo
para cima, Justiça, Benignidade, Doçura, Candura, Perfeição,
Tolerância e Prudência. A escada da esquerda é “Quem ama ao
próximo”, e a da direita é “Quem ama a Deus”.

Essa significação é evidente no simbolismo bíblico da escada de


Jacó, pela qual os Anjos descem e sobem, conforme o local em
que teve a visão dessa movimentação, onde colocou uma pedra
que “erigiu como um pilar”, que também era uma figura do “Eixo
do Mundo”, substituindo assim, de certo modo, a própria escada.
Os Anjos representam propriamente os estados superiores do Ser,
portanto, a eles correspondem também, mais em particular, os
degraus, o que pode ser explicado pelo fato de se considerar a
escada com os seus pés sobre a terra.
Aerópago

Os Cavaleiros Kadosch se reúnem no Aerópago, palavra grega que


quer dizer Praça do Conselho. A inspiração dos graus filosóficos
também tem origem na antiga Grécia. A própria denominação
"Areopagita" denuncia essa relação. O Areópago era o tribunal
ateniense onde eram julgados aqueles que cometiam crimes
contra o estado. Os acusados submetidos ao julgamento do
Aerópago não tinham direito à apelação. Essa espécie de conselho
foi copiada também pelos cavaleiros medievais, que realizavam
suas ordálias em um local semelhante ao Aerópago grego. No
início, os praticantes do Rito Escocês aplicaram esse sistema às
assembleias que se reuniam para as seções dos graus 19 a 30,
razão pela qual eles se tornaram conhecidos como graus
aeropagitas.

O Areópago original era um conselho de 31 membros da sociedade


aristocrata ateniense. Suas atribuições variavam conforme os
diferentes tipos de governo que vigoravam em Atenas, por isso
sofriam as alterações requeridas pela necessidade política. Entre
seus membros eram escolhidos os arcontes. Em número de dois,
eles eram uma espécie de "reis", cada um responsável por um
aspecto diferente do governo de Atenas. O nome "areópago" é
uma adaptação do termo areopagus, que significa "A Colina de
Áries", uma referência ao deus da guerra.

Essa referência se deve principalmente ao fato de que em tempos


de guerra, os arcontes tinham que cumprir funções militares. Daí
a sua analogia com a Maçonaria, dado o seu caráter de
Assembleia elitista e corporativista.

O simbolismo do grau

A origem desse Grau provém das Cruzadas, surgido a partir de


uma Ordem de Cavalaria filiada aos Cavaleiros Teutônicos, a
Ordem dos Irmãos Hospitaleiros de Santa Maria. Há também
uma possibilidade de ter surgido como um grau templário,
dedicado a vingar, simbolicamente, a morte do último grão-
mestre da Ordem do Templo, Jacques De Molay.

A influência templária aparece claramente no ritual na parte em


que é exposta a história da Ordem do Templo. Ali se diz que a
Maçonaria adota dois ramos distintos: um bíblico, de inspiração
judaico-cristã, e outro de influência místico ― cavaleiro (diga-se
gnóstico-templário). Ambos teriam surgido em Jerusalém por
ocasião das Cruzadas.

O Ritual diz que a Ordem do Templo, na origem fundada para


atender objetivos puramente de segurança, (proteger os
peregrinos que iam à Palestina visitar os lugares santos), mais
tarde evoluiu para uma sociedade de caráter esotérico-militar, que
além de perseguir seus objetivos profanos (políticos, econômicos,
militares), também encobria objetivos filosóficos, aos quais
tratava de forma esotérica, na melhor tradição dos filósofos
gnósticos. Daí todo o mistério que envolveu os negócios da Ordem
e a levou á dissolução, com a imolação na fogueira, do seu último
grão-mestre, Jacques De Molay, e vários de seus membros.

O termo Kadosch, que quer dizer santo, na simbologia do grau


corresponde aos sete céus da filosofia gnóstica, onde habitam os
santos e aos quais chegavam os iniciados subindo a escada de
sete lances. No ritual se associam a cada lance dessa escada uma
das sete artes liberais. A Escada do Kadosch é uma escalada
iniciática onde o neófito começa no Primeiro Céu (Tsedakah),
correspondente à Justiça e termina no Sétimo Céu (Emounah),
correspondente à Fé. Assim, cada degrau da Escada do Kadosch
corresponde, ao mesmo tempo, a um dos sete céus da tradição
gnóstica e a uma das virtudes teologais. Unem-se, dessa forma, a
doutrina da Igreja Católica e as tradições gnósticas.

É preciso ver nesse simbolismo também uma influência da


Cavalaria medieval, tendo em vista o fato de que, muitas vezes,
os exércitos medievais eram divididos em destacamento
chamados “escadas”. Há também evocações à tradição hebraica,
já que a Escada do Kadosch evoca, em primeiro plano, a Escada
de Jacó bíblica, ligação mística entre a terra e o céu, por onde os
“anjos sobem e descem.” No entanto, não são somente influências
templárias que nortearam o grau 30, mas de uma série de
tradições que vão muito além da Ordem do Templo.

No moderno ritual, vários símbolos de diferentes origens e


significados foram incorporados. Os trabalhos se passam em duas
câmaras, uma vermelha outra negra, denunciando a influência da
tradição hermética. No magistério de Hermes também se fala das
duas fases pelas quais deve passar a matéria prima da Grande
Obra.

Uma águia branca e negra, de duas cabeças, denuncia a influência


da Maçonaria prussiana sobre o desenvolvimento do ritual, pois tal
símbolo era o distintivo que ornava os estandartes do reino da
Prússia no reinado de Frederico II.

A águia bicéfala simboliza também a liberdade e a ousadia que o


maçom deve ter para pensar e tentar realizar seus planos e
projetos. Símbolo de poder, força, liberdade e ousadia, a águia já
foi o ícone de grandes nações, desde a Roma Imperial até os
Estados Unidos da América, que a adotaram em seus estandartes.
Esotericamente a águia bicéfala também simboliza a natureza
dualística do homem, e a própria origem do universo, produto da
interação entre forças antagônicas (positivo/ negativo).

O grau se utiliza de três estandartes, todos de influência


templária. A frase “Deus o quer”, inscrita no primeiro estandarte,
era o brado que os cruzados davam quando entravam em batalha.
Da mesma forma, a frase em latim inscrita no segundo, “vincere
aut mori” (vencer ou morrer) é uma divisa importada dos
cruzados. O terceiro estandarte trás o busto de Jacques de Molay,
o último grão-mestre da Ordem do Templo.

Mais importante do ponto de vista simbólico é a Escada Misteriosa,


de dois lances, composta de sete degraus cada, totalizando
quatorze degraus, que aparece colocada no centro da câmara
vermelha. Essa Escada, como vimos, é a Escada do Kadosch, pela
qual o iniciado “sobe aos sete céus” da sabedoria, adquirindo as
“sete virtudes teologais” e as “sete artes liberais” que lhe darão a
Gnose necessária, que é a verdadeira iluminação. Por isso se diz
que o Kadosch representa o supremo conhecimento.

René Guénon, O Esoterismo de Dante. Ed. Veja, 78, Lisboa / Os Símbolos da Ciência Sagrada. Ed.
Pensamento, 1993, São Paulo.

Jean Palou, A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática. Ed. Pensamento, São Paulo.

Joaquim Gervásio de Figueiredo, Dicionário de Maçonaria, 1974, Editora Pensamento, São Paulo.

José Castellani e Cláudio R. Buono Ferreira, Manual Heráldico do Rito Escocês Antigo e Aceito (do 19.º ao
33.º). Madras Ed., 1997, São Paulo.

Rizardo da Camino, Kadosh (do 19.º ao 30.º). Madras Ed., 1998, São Paulo.

Rizardo da Camino, Rito Escocês Antigo e Aceito (1.º ao 33.º). Madras Ed., 1999, São Paulo.

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