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O BERÇO DA
HUMANIDADE
SUPLEMENTO DIDÁTICO PARA PROFESSORES
Aos professores e professoras,
repertório para o professor, como um recurso para a sala de aula, ao tratar dos
A partir do material aqui exposto, pretendemos fornecer aos docentes fontes para
professora Dra. Lucilene Reginaldo, com auxílio das estagiária docente Gabriela Luiz e
dos monitores Jéssica Rosa e Alysson Brenner, que através dos debates em sala de aula
aplicabilidade das temáticas em salas de aulas reais (que enfrentam dificuldades como a
falta de tempo e recursos). Este livro é, portanto, informado pela ementa citada, da qual
fizemos diversos empréstimos, tanto nos títulos, quanto nas fontes e pelas interações
com a turma, que nos deu sugestões e inspirações que direcionaram nosso trabalho.
ir além das críticas que fazemos aos materiais existentes - debate frequente na
que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos ensinos
fundamentais e médio, oficiais e particulares, bem como a aplicabilidade deste material
geografia, biologia e artes, por exemplo), segundo proposto pela versão final da Base
Assim, tendo como princípio a consciência que “África” é um tema que nos acessa
Nesse caso, o primeiro passo coincide com os primeiros passos de nossos ancestrais.
A cada dia surgem novas evidências e teorias sobre o surgimento dos Seres
um fator coincide, todas remontam ao mesmo berço: o Continente África. Mas, antes
de chegarmos nesse assunto devemos refletir sobre como falamos desse grande
Quem nunca teve contato com as ideias de África como o lugar da pobreza, fome e
miséria, ou ainda como continente que serviu apenas de fornecedor de escravos, sem
História anterior à colonização, de um povo que foi apenas vitimizado, sem agência,
“Uma África”
contextos específicos, com suas intencionalidades e que nos acessam, muitas vezes,
como verdades absolutas. Quando se trata de África, muitas dessas noções que foram
(eu civilizado, eles selvagens), há ainda abordagens que pretendem amenizar o crime
seca, que, por vezes, tornam-se a narrativa geral sobre todo o continente, sua fauna e
seu presente.
Sabemos, cada vez mais, que o continente africano é palco de diversas
Civilização Egípcia, “uma das primeiras civilizações Antigas”, sem mencionar que o
para explicar “de onde vieram os escravos”, e quais traços culturais herdamos (música,
“As Áfricas”
estes são momentos contidos na História da África, mas que não a resume. Afinal, é
ingênuo de nossa parte pensar que o continente de formação mais antiga, equivalente a
humana (que remonta a milhões de anos), possa ser explicado em generalizações, como
África não deva se restringir à um momento específico do currículo, nem ser restrito à
Podemos falar sobre África em todos os recortes temporais mais tradicionais (mesmo
na Idade Média, que tem como palco principal - em diversos materiais didáticos - o
Ocidente Europeu, não podemos ignorar que outros lugares do mundo existiam, se
inclua), em diversas ciências do Currículo Comum, para além dos temas “tipicamente
africanos”.
Educação brasileira, seja com a escassez de materiais didáticos que estejam aptos a
generalista e superficial que, por vezes restringe a História da África como somente
no corpo social de que a África seria uma unidade territorial acometida por inúmeras
mazelas, ignorando toda sua riqueza cultural. Fazendo assim, necessário tratar a
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da
contato com o texto da Lei na íntegra, para refletir sobre as demandas e possibilidades da
implementação desta.
diáspora africana, o historiador Roquinaldo Ferreira traça um paralelo entre a trajetória da História
da África nos Estados Unidos e no Brasil (países com grande presença de indivíduos negros), em
seus processos de institucionalização, no desenvolvimento dos area studies e dos trabalhos com
história oral, por exemplo. O texto pode auxiliar o leitor a refletir sobre como as áreas de estudos
GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Movimento negro
e educação. Revista Brasileira de Educação [online]. 2000, n.15, pp. 134-158. - Pensando sobre a
história afro-brasileira e africana, em diferentes contextos (com leis e políticas públicas da educação
de negros) desde o século XIX, situando as reivindicações dos indivíduos negros e sua organização
enquanto movimentos. Os autores concluem por situar as reivindicações atuais da população jovem
e negra em suas atividades culturais e propor a reflexão quanto a inserção desses jovens nas
universidades.
MATTOS, Hebe Maria; ABREU, Martha. "Em torno das" Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
brasileira e Africanas" Uma conversa com historiadores." Revista Estudos Históricos 21.41
(2008): 5-20.
MATTOS, Hebe - "O ensino de história e a luta contra a discriminação racial no Brasil". in
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel - Ensino de história. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: Faperj,
2003. - A historiadora e autora Hebe Mattos reflete no trecho sugerido sobre as noções
essencializadas de cultura e “pluralidade cultural” propostas nas PCNs, como reforçadoras do mito
da democracia racial e das três raças formadoras (índios, europeus e negros). Apesar de não ser o
enfoque deste material, a vivência da sala de aula pode evocar ideias como “cultura” e “identidade”.
A autora ressalta também a importância de que os professores dominem as temáticas para poder
(p. 134), a autora propõe uma agenda a ser implementada na formação de professores de História.
SLENES, Robert W. A importância da África para as ciências História Social. 19 (2010): 19-32.
- O historiador Robert Slenes é uma das referências nos estudos sobre História da escravidão e da
cultura africana e afro-brasileira. Nesse artigo, Slenes destaca alguns pontos da trajetória dos
estudos africanistas nos Estados Unidos, traçando, ao final, um paralelo com a trajetória brasileira.
Na conclusão (p. 27-32), o autor sugere que a história de África e afro-brasileira deva ocupar um
lugar privilegiado nos currículos e que os pesquisadores negros devem ocupar lugar de destaque
nessa produção, de forma a tornar a área de estudo mais condizente com as demandas sociais.
“Lendo Além das Palavras”
papel. Isso tem a ver com o fato de usarmos essas palavras no dia a dia para nos
referirmos às coisas escritas. Com o acesso cada vez maior à tecnologias que nos
permitem gravar, fotografar e filmar tudo a todo tempo, o conceito de registro como
algo que vai além das palavras escritas se torna também cada vez mais acessível. Da
sido cada vez mais ampliado, abrindo espaço para que outras ciências, como a
ciência que estuda sociedades passadas através de seus restos materiais, sejam eles
pinturas. Para a área, todo material sobrevivente às intempéries, pode ser fundamental
para o estudo de uma determinada sociedade em uma época específica. Tendo isso em
vista, a utilizaremos como base para nossas análises de uma História que se deu início
antes da escrita.
historiográfico e como diversos achados objetos que podem ter até 2 milhões de anos.
aproximação do aluno com a História, ao demonstrar que o que está sendo transmitido
faz parte da sua formação como indivíduo inserido dentro de uma determinada
formas, como nós fazemos em nosso tempo e em nossa forma, pode auxiliar o professor
necessidades e trajetórias.
Rift Valley, um sítio
geológico, localizado no
Geographic.
Fonte: Culturamix.
Southafrica.net.
SUGESTÕES DE LEITURA
BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas - Uma Introdução aos Seus Usos
2019. - O artigo sugerido traz conceitos introdutórios sobre as fontes históricas (materiais e
sugerida pois nos ajuda a identificar como a tradição de produção historiográfica tradicional esteve,
até o século XIX, predominantemente voltada para documentos escritos, tendo como sujeitos
MILLER, Joseph. Tradição Oral e História: uma agenda para Angola. In. Actas do II Seminário
Portugueses. 2000. p. 373-412. - Uma das referências no trabalho com História Oral, Joseph Miller
aborda a trajetória do uso da oralidade como fonte para as sociedades Africanas, à exemplo de sua
um lugar relacionado aos primeiros anos de vida, mas que também remete a
diversos tamanhos, em primeiro momento, pode nos remeter à perigos - não à toa, um
armas. Por outro lado, a presença de animais de diversos tamanhos significa também,
para esse povos caçadores ou ainda comedores de carniça (se aproveitando dos restos
como o nome sugere, eram aqueles que se alimentavam coletando os alimentos das
não apenas as cavernas, como geralmente vemos -, também eram sinônimo de abrigos e
isso é observado por arqueólogos que encontraram diversos materiais (restos de ossos,
seixos e fósseis) em áreas abertas, que indicariam certa organização também nesses
ambientes.
Mapa de vegetação da África. Projeto “África em Arte-Educação” (CIAR UFG).
com as ofertas de condições. Foi assim que os hominídeos africanos chegaram a outros
continentes.
“Primeiros Passos da Humanidade: primeiros
Hominídeos e materialidade”
A essa altura fica evidente que os africanos foram o primeiro povo do mundo.
Porém, essas transformações não foram rápidas, nem lineares, e não se deram da
mesma forma para todos os nossos ancestrais e outras linhagens que não
“Primatas”
Quando falamos em evolução dos primeiros seres humanos, uma das perguntas mais
Nós, seres humanos pertencemos à ordem dos Primatas (que compreende também os
garras), cinco dedos nas mãos e visual tridimensional e colorida, por exemplo. A teoria
remonta a 7 milhões de anos atrás. Ou seja, os homens não são macacos mais
evoluídos, mas seres que compartilharam um ancestral e, tal como acontecerá com os
“elo perdido”, ou seja, esse ancestral, que nos ajudaria a explicar, por exemplo, que
entre biólogos propõem que dentro da linha evolutiva o termo mais adequado seria
diferença entre humanos e chimpanzés é apenas de tribo. Por mais que exista o debate,
o termo mais consolidado nas produções populares sobre os primeiros seres humanos e
assunto que tratamos (considerando que o material não pretende se aprofundar nas
características genéticas, mas sim demonstrar como os fósseis são fontes para a
elaboração de teorias históricas), esse é o termo que adotamos para este material.
“Vestígios Ancestrais”
referência ao Sahel), encontrado por Michel Brunet nos anos 2000. Considerado um
“pré-humano” estima-se que tenha vivido por volta de 7,5 milhões de anos atrás e seria
chimpanzés. Essa espécie ajudou a repensar a linhagem humana, que antes acreditavam
milhões de anos.
Outro esqueleto que ajudou a
Ardipithecus e o Sahelanthropus,
favoreceu o desenvolvimento da
bipedia?
Talvez a mais famosa dentre os
australopithecus surgiram há
eretos.
Mary Leakey em 1976, demonstram que os hominídeos já andavam pela terra por volta de
3,7 milhões de anos atrás. Fossilizadas após uma erupção vulcânica, as pegadas são bons
Forense de uma adulta Homo habilis, Élisabeth presença de diversas ferramentas de pedra,
Daynès (2010), baseado no crânio KNM-ER 1813.
madeira e ossos encontradas em seu entorno
disso, alguns cientistas argumentam que deve-se considerar Homo apenas a bipedia
terrestre.
O garoto de Turkana é
um esqueleto de Homo
esqueletos mais
completos de um
ancestral humano já
encontrado.
Crânio do Menino de Tirkana
Os hominídeos até aqui citados tinham até 900cm³ de volume craniano. A partir
de então, falaremos dos “primeiros cabeçudos” com 1200cm³ (próximo aos 1350cm³
humanos), que viveram entre 600 mil e 400 mil anos e são ancestrais do Homo
se do Homo heidelbergensis.
provavelmente pelo contato com Homo sapiens. Estavam presentes na Europa, Oriente
Médio e sul da Sibéria, regiões extremamente frias, fazendo com que esse gênero
desenvolvesse outras características, como corpo lateralizado e tons de pele mais claros.
anatomia há, pela primeira vez, presença de queixo e o cérebro com cerca de 1350cm³,
qual podemos chamar de “explosão criativa”, no qual verificam-se novos hábitos como
sentimento religioso, bem como demonstrações de angústias que indicam uma nova
percepção de si e do mundo.
As fontes materiais, portanto, permitem aos historiadores acessar também questões
imateriais e formar teorias sobre quais eram os desejos, vontades e angústias desses
explorar quais eram os estilos de vida e de organização social, quais os fatores externos
ILLIFE, John. África: historia de un continente. Cambridge University Press. Edição Espanhola,
continente africano e traça uma trajetória do processo de evolução humano, destacando descobertas
fósseis que foram marcos para a elaboração de tal teoria, como H. australopithecus, H. habilis, H.
MACEDO, José Rivair. “Pré - história africana”. História da África. São Paulo, Editora
didática.
OLIVER, Roland. A Experiência Africana: da pré-história aos dias atuais. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 1994. p. 7-50. - No trecho sugerido, o autor traz de forma resumida a trajetória da
arqueologia para a formulação de suas teorias, dando destaque para as questões geográficas das
existia uma “história antes da história” e o que seria isso? Seria uma história
estudada para além dos apontamentos em documentos escritos, a partir das análises da
Entender o espaço de, literalmente, milhões de anos atrás até os dias atuais, é
fundamental para a compreensão de que toda nossa história partiu de um mesmo lugar e
nascimento. Além de ser pertinente percebermos que, apesar de todo o espaço temporal,
que nos auxiliem no dia-a-dia, ou de materializar o que está ao alcance de nossos olhos
por exemplo.
mais simples, podem servir como armas ou como auxiliadores na busca por comida e,
construção de martelo, que foram cruciais para os ajudar tanto na hora de espantar
ameaças, quanto na hora de preparar ou extrair o alimento. Isso demonstra que, ainda
que atuais e presentes em nossa sociedade, as peças, por um longo período, foram
objetos de estudos e análises, até que pudessem ser transformadas em tecnologias mais
sofisticadas que foram incorporadas no cotidiano dos seres da época. Para além do
artísticas dentro das cavernas mostram que, assim como o homem moderno, nossos
ancestrais tinham a necessidade de se expressar e isso nos abre portas para diversas
outro ponto importante a ser mencionado é o de que as tintas usadas nos registros eram
ancestrais que, pelo senso comum, é colocada em questão, já que estes são vistos sob
um olhar pejorativo como “homens das cavernas”, ou usados como parâmetro para a
África. Brasília: UNESCO, 2010. p. 446-508, 743-780. – Nos trechos selecionados, o escrito aborda
as espécies dos primatas, assim como o seu processo evolutivo e as dinâmicas das artes feitas por
antigos hominídeos.
Moderna. Universidade Federal de Campina Grande. Paraíba: UFCG, 2006. p. 1-11. – No trecho
selecionado, o autor aborda à luz da engenharia dos materiais o uso dos materiais na elaboração de
AULA
carregam consigo e em suas formações, para que essas noções sejam superadas no
contato com o aluno. Por isso recomendamos que essas atividades sejam aplicadas em
sala de aula, mas que você, docente, também faça um exercício reflexivo sobre essas
propostas e busque através desse material, das leituras recomendadas e dos materiais
Além disso, as atividades sugeridas pretendem ser simples e não demandar muitos
recursos. Cabe lembrar que essas interações são apenas inspirações que indicam
avaliativas.
EM SALA
Egito, Pantera Negra, música, religião… as respostas podem ser muitas e dependem
das referências dos alunos e das informações que os acessam. O importante é identificar
“Qual é a pessoa mais antiga da qual você já ouviu falar? Como você
É possível que a resposta seja algum parente mais velho, um antepassado ou ainda
intenção com estas questões é promover a reflexão sobre como nós sabemos de pessoas
que vieram antes de nós - se por relatos escritos, se por histórias que nos contam sobre
narrativa histórica.
(Para o professor) Explore a materialidade da sala de aula, como se
Saberiam que ali apontavam lápis? Saberiam que ali era uma sala de aula? Saberiam
nesse tempo era comum usar plástico e metal em objetos do cotidiano? Posteriormente,
sugira que os alunos façam o mesmo com outros objetos. A intenção é fazer com que os
ambiente também pode ser ressignificado para aula e de que eles também são sujeitos
históricos.
DISSERTATIVAS
Roupas, comida, casa… Essa pergunta pretende ajudar o aluno a traçar paralelos entre o
ferramentas, etc).
A partir desse exercício você pode verificar a percepção dos alunos sobre as artes dos
PARA CASA
Peça aos alunos que escrevam uma pequena história de suas vidas.
Posteriormente, reflita com os alunos sobre suas escolhas: optaram por narrar os
objetos? Esse exercício pode auxiliar você a demonstrar como, para narrar histórias,
Assim, você pode demonstrar que para a realização do exercício os alunos utilizaram
diversas fontes.
(Para o aluno) Esboce ou produza em sua casa itens que você acredita
e próximos, pois são nossos ancestrais - de certa forma unem a Humanidade e nos
fazem herdeiros de um mesmo mundo. Essa ideia de unidade, porém, soa ingênua se
ciência prova como nosso berço: a África. O mundo moderno Ocidental foi desenhado
mesmo que de forma não declarada, quando dedica-se pouco ou nada ao continente
Américas - no nosso caso, o Brasil -, ou ainda quando afirma existir uma “democracia
racial”, num país demarcado pelo racismo estrutural e construído sobre o massacre de
necessitam que o professor, bem como outros agentes educativos (o Estado, a família e
currículo, utilizando o começo simbólico da jornada dos seres humanos pela terra
como tema - dois começos que coincidem, buscando tocar os alunos logo em seus
contatos iniciais com a ciência histórica, propondo um olhar mais aberto e sensível
oficial implica revisitações. Ao longo de todo o currículo que os alunos terão pela
levaram a História a ocorrer de tal forma, assim como sobre as lacunas e silêncio,