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ÁFRICA

 O BERÇO DA
HUMANIDADE
SUPLEMENTO DIDÁTICO PARA PROFESSORES
Aos professores e professoras,

Este suplemento didático objetiva ser uma ferramenta de enriquecimento de

repertório para o professor, como um recurso para a sala de aula, ao tratar dos

princípios da Humanidade para alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, momento em

que a História torna-se uma disciplina no currículo.

A partir do material aqui exposto, pretendemos fornecer aos docentes fontes para

tratar de conceitos fundamentais sobre a História como saber científico, principalmente

sobre a materialidade enquanto vestígio para a construção da narrativa historiográfica

(nesse caso, os primeiros passos dos ancestrais humanos), indicando contribuições

principalmente da arqueologia e da paleontologia, lida e formulada por outras ciências

como a antropologia, a genética, a geografia, a sociologia e a química, por exemplo,

para a formulação de teorias sobre o passado humano.

“África: o Berço da Humanidade” é fruto de uma elaboração de trabalho final para a

disciplina de HH935 - O ensino de História da África: demandas, debates e práticas,

conduzida no segundo semestre de 2019 na Universidade Estadual de Campinas pela

professora Dra. Lucilene Reginaldo, com auxílio das estagiária docente Gabriela Luiz e

dos monitores Jéssica Rosa e Alysson Brenner, que através dos debates em sala de aula

propuseram problemáticas e caminhos para um ensino de História da África

compromissado com desconstruções de narrativas únicas sobre o continente africano,

bem como a importância de “África” para um ensino antirracista, visando sempre a

aplicabilidade das temáticas em salas de aulas reais (que enfrentam dificuldades como a

falta de tempo e recursos). Este livro é, portanto, informado pela ementa citada, da qual

fizemos diversos empréstimos, tanto nos títulos, quanto nas fontes e pelas interações

com a turma, que nos deu sugestões e inspirações que direcionaram nosso trabalho.

A proposição para a elaboração de um material didático como trabalho final pretende

ir além das críticas que fazemos aos materiais existentes - debate frequente na

graduação de História -, enfrentando os desafios de uma construção que abarque nossas

considerações. Podemos afirmar que os desafios são muitos: desde a proposição de

recorte temporal e temático, até a adequação da linguagem, passando pelas sugestões de

atividades avaliativas, por exemplo.

Tratando-se do ensino de História da África, levamos em consideração a Lei

10.639/03, fruto de anos de luta e reivindicações dos movimentos negros brasileiros,

que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos ensinos
fundamentais e médio, oficiais e particulares, bem como a aplicabilidade deste material

em diversos momentos da sala de aula, formulado principalmente, mas não

exclusivamente, para a disciplina de História (podendo ser utilizado em aulas de

geografia, biologia e artes, por exemplo), segundo proposto pela versão final da Base

Nacional Comum Curricular para essa disciplina.

Assim, tendo como princípio a consciência que “África” é um tema que nos acessa

carregado de significados - muitos utilizados para alimentar as lógicas racialistas que

delimitam as sociedades ocidentais, principalmente a brasileira -, o presente suplemento

didático de dispõe a dar um passo em direção a uma Educação comprometida com o

combate ao racismo, vendo o continente africano para além de grandes contribuições ou

marcantes mazelas sociais, mas como protagonista de suas próprias Histórias.

Nesse caso, o primeiro passo coincide com os primeiros passos de nossos ancestrais.

Vamos caminhar juntos?

Antonio Maximiliano Torquato Orestes e

Noemi Alves Peixoto


“África: para quê e para quem?”

A cada dia surgem novas evidências e teorias sobre o surgimento dos Seres

Humanos, nossos hábitos e transformações. Entre as mais diversas teorias e datações,

um fator coincide, todas remontam ao mesmo berço: o Continente África. Mas, antes

de chegarmos nesse assunto devemos refletir sobre como falamos desse grande

continente - grande em extensão, mas também em História. 

Quem nunca teve contato com as ideias de África como o lugar da pobreza, fome e

miséria, ou ainda como continente que serviu apenas de fornecedor de escravos, sem

História anterior à colonização, de um povo que foi apenas vitimizado, sem agência,

submisso? Versões totalizantes do passado e presente africano são transmitidas de

muitas formas, inclusive na sala de aula.

“Uma África”

O aprendizado e ensino de História demanda atenção para construções como

estereótipos, generalizações e positivações, que são produzidas e reproduzidas em

contextos específicos, com suas intencionalidades e que nos acessam, muitas vezes,

como verdades absolutas. Quando se trata de África, muitas dessas noções que foram

concebidas com o objetivo de apagar, por meio da amenização ou do menosprezo, a

agência de sujeitos africanos na História e no curso da Humanidade, suas

capacidades de desenvolvimento tecnológico, a grandeza de suas contribuições e a

relevância de suas organizações sociais (quando fora dos moldes ocidentalizados), se

traduzem em percepções genéricas, como a de que as sociedades africanas são

atrasadas, “selvagens” ou isoladas, exóticas. 

Para além do projeto de construção de uma sociedade em oposição aos “outros”

(eu civilizado, eles selvagens), há ainda abordagens que pretendem amenizar o crime

da escravidão, relativizando a agência e resistência negra, as opressões e

apagamentos em detrimento da grandiosidade do empreendimento colonizador,

expansionista e moderno. Soma-se à isso, as imagens pós-coloniais de guerra, fome e

seca, que, por vezes, tornam-se a narrativa geral sobre todo o continente, sua fauna e

seu presente.
Sabemos, cada vez mais, que o continente africano é palco de diversas

transformações, invenções e contribuições para a Humanidade. Porém, na tentativa de

valorizar ao continente, muitos materiais didáticos recorrem apenas à grandiosa

Civilização Egípcia, “uma das primeiras civilizações Antigas”, sem mencionar que o

Egito é negro - as inúmeras representações de Cleópatra como uma mulher caucasiana

de tranças e maquiagem forte são provas disso -, ou debruçam-se sobre um continente

para explicar “de onde vieram os escravos”, e quais traços culturais herdamos (música,

comida, danças e religião).

“As Áfricas”

A  Grande Civilização Egípcia, a escravidão e as guerras de independência, todos

estes são momentos contidos na História da África, mas que não a resume. Afinal, é

ingênuo de nossa parte pensar que o continente de formação mais antiga, equivalente a

mais de 20% da superfície terrestre e onde encontra-se as primeiras evidências de vida

humana (que remonta a milhões de anos), possa ser explicado em generalizações, como

ator secundário na história de outros protagonistas, ou numa única narrativa.

É pensando na multiplicidade de Áfricas que defendemos que o ensino de História da

África não deva se restringir à um momento específico do currículo, nem ser restrito à

explicar “matrizes” da cultura brasileira nas proximidades do dia 20 de novembro.

Podemos falar sobre África em todos os recortes temporais mais tradicionais (mesmo

na Idade Média, que tem como palco principal - em diversos materiais didáticos - o

Ocidente Europeu, não podemos ignorar que outros lugares do mundo existiam, se

movimentavam e construíam sua histórias, mesmo que o recorte convencional não as

inclua), em diversas ciências do Currículo Comum, para além dos temas “tipicamente

africanos”.

“Para um ensino antirracista”

No Brasil, fazem-se necessárias políticas públicas compromissadas com o combate

ao racismo, principalmente na Educação. Sancionada pelo esforço de diversas

militâncias negras, a Lei Federal 10.639, de 2003, estabelece a obrigatoriedade do

ensino sobre História da África e Cultura Afro-brasileira, e é a mesma que estabelece o


20 de novembro como "Dia Nacional da Consciência Negra". Mais de uma década

depois, vemos que ainda há obstáculos quanto a implementação plena da Lei na

Educação brasileira, seja com a escassez de materiais didáticos que estejam aptos a

transmitir a História do continente de maneira desconstruída e crítica; pela abordagem

generalista e superficial que, por vezes restringe a História da África como somente

existente a partir da presença de europeus no continente - vide conteúdos como a

diáspora africana e “neocolonialismo” -, ou até mesmo na construção da ideia inserida

no corpo social de que a África seria uma unidade territorial acometida por inúmeras

mazelas, ignorando toda sua riqueza cultural. Fazendo assim, necessário tratar a

historiografia do continente africano através das proximidades e reflexões acerca das

heranças introduzidas à nossa sociedade, bem como da desconstrução de qualquer

estigma criado sobre as sociedades africanas e suas culturas.


SUGESTÕES DE LEITURA

BRASIL. Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de

1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da

Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras

providências. Presidência da República. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm> - sugerimos que o docente tenha

contato com o texto da Lei na íntegra, para refletir sobre as demandas e possibilidades da

implementação desta.

FERREIRA, Roquinaldo. A institucionalização dos Estudos Africanos nos Estados Unidos:

advento, consolidação e transformações, Revista Brasileira de História, v. 30, n. 59, p. 73-90,

2010. -   Debruçando-se sobre História da África, tráfico de escravos, História do Atlântico e

diáspora africana, o historiador Roquinaldo Ferreira traça um paralelo entre a trajetória da História

da África nos Estados Unidos e no Brasil (países com grande presença de indivíduos negros), em

seus processos de institucionalização, no desenvolvimento dos area studies e dos trabalhos com

história oral, por exemplo. O texto pode auxiliar o leitor a refletir sobre como as áreas de estudos

fazem parte do contexto político e social em que se inserem.

GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Movimento negro

e educação. Revista Brasileira de Educação [online]. 2000, n.15, pp. 134-158. - Pensando sobre a

precarização da educação de indivíduos negros no Brasil, na Educação para as relações étnico-

raciais e a História afro-brasileira, os autores se debruçam sobre a trajetória no ensino de cultura e

história afro-brasileira e africana, em diferentes contextos (com leis e políticas públicas da educação

de negros) desde o século XIX, situando as reivindicações dos indivíduos negros e sua organização

enquanto movimentos. Os autores concluem por situar as reivindicações atuais da população jovem

e negra em suas atividades culturais e propor a reflexão quanto a inserção desses jovens nas

universidades.

MATTOS, Hebe Maria; ABREU, Martha. "Em torno das" Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-

brasileira e Africanas" Uma conversa com historiadores." Revista Estudos Históricos 21.41

(2008): 5-20.

MATTOS, Hebe - "O ensino de história e a luta contra a discriminação racial no Brasil". in

ABREU, Martha; SOIHET, Rachel - Ensino de história. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: Faperj,

2003. - A historiadora e autora Hebe Mattos reflete no trecho sugerido sobre as noções

essencializadas de cultura e “pluralidade cultural” propostas nas PCNs, como reforçadoras do mito

da democracia racial e das três raças formadoras (índios, europeus e negros). Apesar de não ser o

enfoque deste material, a vivência da sala de aula pode evocar ideias como “cultura” e “identidade”.

A autora ressalta também a importância de que os professores dominem as temáticas para poder

problematizá-las e destaca as limitações e generalizações dos materiais didáticos. Ao final do texto

(p. 134), a autora propõe uma agenda a ser implementada na formação de professores de História.

SLENES, Robert W. A importância da África para as ciências História Social. 19 (2010): 19-32.

- O historiador Robert Slenes é uma das referências nos estudos sobre História da escravidão e da

cultura africana e afro-brasileira. Nesse artigo, Slenes destaca alguns pontos da trajetória dos

estudos africanistas nos Estados Unidos, traçando, ao final, um paralelo com a trajetória brasileira.

Na conclusão (p. 27-32), o autor sugere que a história de África e afro-brasileira deva ocupar um

lugar privilegiado nos currículos e que os pesquisadores negros devem ocupar lugar de destaque

nessa produção, de forma a tornar a área de estudo mais condizente com as demandas sociais.
“Lendo Além das Palavras”

As palavras “registro” e “documento” nos remetem diretamente a algo feito de

papel. Isso tem a ver com o fato de usarmos essas palavras no dia a dia para nos

referirmos às coisas escritas. Com o acesso cada vez maior à tecnologias que nos

permitem gravar, fotografar e filmar tudo a todo tempo, o conceito de registro como

algo que vai além das palavras escritas se torna também cada vez mais acessível. Da

mesma forma, o conceito de “fonte” para os historiadores e como trabalhá-las tem

sido cada vez mais ampliado, abrindo espaço para que outras ciências, como a

Arqueologia, nos dê auxílio em nossos materiais de pesquisas. A Arqueologia é a

ciência que estuda sociedades passadas através de seus restos materiais, sejam eles

fósseis de animais, restos de ferramentas, estruturas arquitetônicas e até mesmo

pinturas. Para a área, todo material sobrevivente às intempéries, pode ser fundamental

para o estudo de uma determinada sociedade em uma época específica. Tendo isso em

vista, a utilizaremos como base para nossas análises de uma História que se deu início

antes da escrita.

O que iremos explorar aqui é como

os primeiros Hominídeos como tema

em sala de aula pode auxiliar na

demonstração de alguns conceitos-

chave para o ensino de História,

tornando mais compreensível para os

estudantes o método de investigação


Lago dentro de uma Cavernas de Sterkfontein. Aqui, foram

historiográfico e como diversos achados objetos que podem ter até 2 milhões de anos.

materiais podem se tornar fontes, dia-

logando com diversas outras ciências. Assim, auxiliando o educador no processo de

aproximação do aluno com a História, ao demonstrar que o que está sendo transmitido

faz parte da sua formação como indivíduo inserido dentro de uma determinada

sociedade, em um contexto repleto de especificidades. Afinal, pensar que esses nossos

ancestrais se comunicavam, se alimentavam e se manifestavam em seu tempo de suas

formas, como nós fazemos em nosso tempo e em nossa forma, pode auxiliar o professor

a demonstrar que a História não é o estudo de um passado remoto e imobilizado, mas

um estudo de diversos presentes, movimentados, com indivíduos que têm desejos,

necessidades e trajetórias.
Rift Valley, um sítio

geológico, localizado no

Quênia, que mostra a fenda

gigante entre duas placas

tectônicas. Fonte: National

Geographic.

Caverna de Sterkfontein, localizada

na África do Sul. Contém fósseis

datados de mais de 2 milhões de anos.

Fonte: Culturamix.

Museu de Maropeng, na África do

Sul. O museu conta com um acervo

rico, com a disponibilidade de um

esqueleto de Australopithecus quase

completo montado. Fonte:

Southafrica.net.
SUGESTÕES DE LEITURA

BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas - Uma Introdução aos Seus Usos

Historiográficos. Anais do 2 Encontro Internacional da ANPUH (História & Parcerias, 2019).

2019. - O artigo sugerido traz conceitos introdutórios sobre as fontes históricas (materiais e

imateriais), nomenclaturas e usos. 

CARBONELL, Charles-Olivier. Historiografia. Lisboa: Editora Teorema. 1981. - O livro do

consagrado historiador francês, dedica-se quase exclusivamente à historiografia europeia e é

sugerida pois nos ajuda a identificar como a tradição de produção historiográfica tradicional esteve,

até o século XIX, predominantemente voltada para documentos escritos, tendo como sujeitos

aqueles privilegiados por poderem ser registrados.

MILLER, Joseph. Tradição Oral e História: uma agenda para Angola. In. Actas do II Seminário

Internacional Sobre a História de Angola “Construindo o Passado Angolano: As Fontes e a Sua

Interpretação”. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos

Portugueses. 2000. p. 373-412. - Uma das referências no trabalho com História Oral, Joseph Miller

aborda a trajetória do uso da oralidade como fonte para as sociedades Africanas, à exemplo de sua

experiência no Cassange, abordando a trajetória e os métodos que a legitimaria como fonte.


“Por que na África?”

As teorias sobre o passado de nossos ancestrais passam por reformulações de

datações, nomenclaturas e suposições a cada nova descoberta arqueológica ou nova

tecnologia de investigação. Porém as mais diversas teorias localizam o surgimento dos

humanos no mesmo lugar: o Continente Africano.

A África corresponde a 20,3% da superfície

terrestre, com aproximadamente 30.370.000 km² e foi

a primeira parcela de terra a se desprender da

superfície original do planeta (o supercontinente a

que chamamos Pangeia) - sua formação atual remonta

a pelo menos 3,6 milhões de anos -, favorecendo suas

características geomorfológicas: riqueza em

reservatórios minerais, variedade de vegetações (que

hoje inclui savanas, desertos e florestas), além da


Ilustração do supercontinente Pangeia. Ao

centro, em marrom alaranjado, a África. abundância de rios e as variações de altitude, como


Fonte: wikimedia commons.
uma barreira natural para mudanças climáticas

decisivas para a sobrevivência, que fizeram do continente um cenário propício para o

surgimento e evolução de variadas formas de vida, inclusive a humana. Outra

característica da formação geográfica do continente que contribui para nossos estudos,

foram as diversas erupções vulcânicas que ajudaram a preservar os fósseis.

Se pensarmos na dinâmica que essa abundância de elementos proporcionou, podemos

compreender melhor de que forma o continente se constitui como um “berço” - ou seja,

um lugar relacionado aos primeiros anos de vida, mas que também remete a

“segurança”, lar e condições de desenvolvimento. A presença de variados animais de

diversos tamanhos, em primeiro momento, pode nos remeter à perigos - não à toa, um

dos grandes marcos de diferenciação entre os diferentes tipos de hominídeos,

aproximando-os de nós, sapiens, foi o domínio das técnicas de defesa em forma de

armas. Por outro lado, a presença de animais de diversos tamanhos significa também,

para esse povos caçadores ou ainda comedores de carniça (se aproveitando dos restos

de animais grandes mortos por outros animais), abundância de alimento. Os coletores,

como o nome sugere, eram aqueles que se alimentavam coletando os alimentos das

árvores e para eles, a presença de diversas vegetações também significaria

possibilidades de se alimentar, garantindo a sobrevivência. Além disso, as árvores - e

não apenas as cavernas, como geralmente vemos -, também eram sinônimo de abrigos e

isso é observado por arqueólogos que encontraram diversos materiais (restos de ossos,

seixos e fósseis) em áreas abertas, que indicariam certa organização também nesses

ambientes.
Mapa de vegetação da África. Projeto “África em Arte-Educação” (CIAR UFG).

A grande extensão territorial também trouxe possibilidades de migração de acordo

com as necessidades desses hominídeos que, segundo teorias, mudavam-se de acordo

com as ofertas de condições. Foi assim que os hominídeos africanos chegaram a outros

continentes.
“Primeiros Passos da Humanidade: primeiros

Hominídeos e materialidade”

A essa altura fica evidente que os africanos foram o primeiro povo do mundo.

Evidências materiais demonstram que em África foram produzidos as tecnologias, as

primeiras organizações sociais e as primeiras abstrações simbológicas. Afinal, “em

África nos tornamos humanos”.

Porém, essas transformações não foram rápidas, nem lineares, e não se deram da

mesma forma para todos os nossos ancestrais e outras linhagens que não

necessariamente evoluíram como sapiens. Ainda assim, mesmo que a arqueologia da

Antiguidade Africana seja um campo dinâmico no qual novas descobertas tornam-se

novas teorias (que, geralmente, contrariam as anteriores), algumas descobertas

materiais foram marcos para o desenvolvimento da ideia de evolução Humana mais

consolidada nos dias atuais.

“Primatas”

Quando falamos em evolução dos primeiros seres humanos, uma das perguntas mais

imediatas é: viemos dos macacos?

Nós, seres humanos pertencemos à ordem dos Primatas (que compreende também os

macacos, símios e lêmures), sendo mais próximos em características biológicas dos

chimpanzés, com os quais compartilhamos características como unhas (ao invés de

garras), cinco dedos nas mãos e visual tridimensional e colorida, por exemplo. A teoria

mais consolidada é a de que o último ancestral comum entre humanos e macacos

remonta a 7 milhões de anos atrás. Ou seja, os homens não são macacos mais

evoluídos, mas seres que compartilharam um ancestral e, tal como acontecerá com os

australopithecus  que dão origem aos sapiens e neanderthalensis, tomaram “direções”

diferentes na linha evolutiva.

Ainda é uma questão entre os cientistas dedicados à evolução humana encontrar o

“elo perdido”, ou seja, esse ancestral, que nos ajudaria a explicar, por exemplo, que

fatores favoreceram o desenvolvimento da bipedia (andar sobre dois pés, diferente da

nodopedalia dos chimpanzés) nos humanos. Outro debate é o da nomenclatura. O termo

hominídeo se refere a “nós e nossos ancestrais bípedes”, porém, debates principalmente

entre biólogos propõem que dentro da linha evolutiva o termo mais adequado seria

“hominínio” ou ainda “hominina”, estreitando as diferenciações ao destacar que a

diferença entre humanos e chimpanzés é apenas de tribo. Por mais que exista o debate,

o termo mais consolidado nas produções populares sobre os primeiros seres humanos e

seus ancestrais ainda é “hominídeos” e, como o termo contempla a profundidade do

assunto que tratamos (considerando que o material não pretende se aprofundar nas

características genéticas, mas sim demonstrar como os fósseis são fontes para a

elaboração de teorias históricas), esse é o termo que adotamos para este material.
“Vestígios Ancestrais”

O fóssil mais remoto de que temos registro é o Sahelanthropus tchadensis (em

referência ao Sahel), encontrado por Michel Brunet nos anos 2000. Considerado um

“pré-humano” estima-se que tenha vivido por volta de 7,5 milhões de anos atrás e seria

o mais próximo que chegamos em encontrar o “elo perdido”. O crânio encontrado no

Leste Africano, no deserto do Chade, é classificado como de um hominídeo

principalmente pela dentição, com o canino relativamente pequeno. Ele provavelmente

se alimentava de plantas e utilizava ferramentas simples, assim como faziam os

chimpanzés. Essa espécie ajudou a repensar a linhagem humana, que antes acreditavam

começar com os australopithecus.

Crânio batizado como Toumaï (“esperança da vida”), um Sahelanthropus tchadensis de mais de 7

milhões de anos.
Outro esqueleto que ajudou a

quebrar paradigmas foi o Ardipithecus

ramidus (ramid significa “raiz” em

língua amárica, idioma oficial da

Etiópia),  por demonstrar que a

evolução não é um processo abrupto.

O esqueleto quase completo

encontrado em 2005 na Etiópia tem

idade entre 4,5 e 4,1 milhões de anos e

apresenta características bípedes e

arborícolas, definida como “bipedia

facultativa”, ou seja, ele apresentava

traços de humanos e de macacos.

Existem outros fósseis que preenchem

a lacuna de 3 milhões entre o

Ardipithecus e o Sahelanthropus,

como o Orrorin tugenensis que tem

por volta de 6 milhões de anos. Esses

fósseis intermediários deixam uma

questão em aberto: se esses ancestrais

tinham capacidade de subir em árvores


Reconstituição do Ardipithecus ramidus pelo artista Jay

e viviam em áreas arbóreas, o que Matternes.

favoreceu o desenvolvimento da

bipedia?
Talvez a mais famosa dentre os

aqui apresentados, Lucy é o nome

dado ao esqueleto (40% de um

esqueleto completo preservado) de

uma fêmea de Australopithecus

afarensis, encontrado na Etiópia em

1974. Até sua descoberta acreditava-

se que a evolução humana não

ultrapassa os 2,5 milhões de anos. O

fóssil tem 3,2 milhões de anos, mas

outros vestígios indicam que os

australopithecus surgiram há

aproximadamente 4,5 milhões de

anos, se alimentavam de vegetais e

também eram bípedes facultativos,

com grande capacidade de andarem

eretos.

Reconstituição de Lucy em exposição.


As pegadas de Laetoli, na Tanzânia, encontradas pela equipe da famosa arqueóloga

Mary Leakey em 1976, demonstram que os hominídeos já andavam pela terra por volta de

3,7 milhões de anos atrás. Fossilizadas após uma erupção vulcânica, as pegadas são bons

exemplos de como a investigação acerca do passado humano utiliza-se de diversas fontes.

Equipe de Mary Leakey e as pegadas de Laetoli.

Também descoberto na Tanzânia por Louis e

Mary Leakey, em 1964, no Grande Vale do

Rift, o Homo habilis trouxe novos debates para

a arqueologia. Essa espécie de hominídeo teria

surgido há 2 milhões de anos e se assemelha aos

Homo sapiens, pela arcada dentária em parábola

(em “U”, diferente da de outros primatas, que

teriam caninos alongados) e a bipedia

facultativa. O debate se deu, no entanto, porque

o critério para considerá-lo como Homo foi,

como seu nome sugere, sua habilidade com

ferramentas, às quais foi associado pela

Forense de uma adulta Homo habilis, Élisabeth presença de diversas ferramentas de pedra,
Daynès (2010), baseado no crânio KNM-ER 1813.
madeira e ossos encontradas em seu entorno

e a descoberta posterior de australopithecus

mais antigos e também associados a ferramentas contraria essa distinção. Além

disso, alguns cientistas argumentam que deve-se considerar Homo apenas a bipedia

terrestre.
O garoto de Turkana é

um esqueleto de Homo

erectus e está entre os

esqueletos mais

completos de um

ancestral humano já

encontrado.
Crânio do Menino de Tirkana

Os hominídeos até aqui citados tinham até 900cm³ de volume craniano. A partir

de então, falaremos dos “primeiros cabeçudos” com 1200cm³ (próximo aos 1350cm³

humanos), que viveram entre 600 mil e 400 mil anos e são ancestrais do Homo

neanderthalensis na Europa e provavelmente dos H. sapiens arcaicos na África. Trata-

se do Homo heidelbergensis.

Semelhantes, em muito, com os Homo sapiens, os Homo neanderthalensis

surgiram há 200 mil anos e foram extintos há aproximadamente 28 mil anos,

provavelmente pelo contato com Homo sapiens. Estavam presentes na Europa, Oriente

Médio e sul da Sibéria, regiões extremamente frias, fazendo com que esse gênero

desenvolvesse outras características, como corpo lateralizado e tons de pele mais claros.

Além disso, desenvolveram relevante cultura material, dominavam o fogo e as

ferramentas, além de atitudes simbólicas como o sepultamento e o cuidar dos idosos.

Porém, não há presença desses indivíduos na África.

Por fim, nós, os Homo sapiens, provavelmente temos como ancestrais

heidelbergensis presentes na África e surgimos há aproximadamente 300 mil. Em nossa

anatomia há, pela primeira vez, presença de queixo e o cérebro com cerca de 1350cm³,

bem como bipedia exclusivamente terrestre, o domínio do fogo, da comunicação e

formas de organização cada vez mais complexas. 

Os seres humanos, entre seu surgimento e aproximadamente 50 mil anos atrás

tinham um comportamento muito similar ao de outras espécies. Porém, há 50 mil anos,

muitas vezes fixa-se um módulo de significação (produzir e manipular símbolos), ao

qual podemos chamar de “explosão criativa”, no qual verificam-se novos hábitos como

primeiros sepultamentos individualizados, uso dos primeiros adornos corporais,

estilísticas, primeiras esculturas e primeiras pinturas em cavernas, demonstrações de

sentimento religioso, bem como demonstrações de angústias que indicam uma nova

percepção de si e do mundo.
As fontes materiais, portanto, permitem aos historiadores acessar também questões

imateriais e formar teorias sobre quais eram os desejos, vontades e angústias desses

indivíduos. Permitem também, com o auxílio de diversas ciências e tecnologias,

explorar quais eram os estilos de vida e de organização social, quais os fatores externos

(climáticos e geológicos) influenciaram a história a tomar os rumos que tomou -

chegando no desenvolvimento do homem moderno -, e nos auxiliando a identificar as

raízes de comportamentos, culturas e sentimentos, em relação ao mundo que nos cerca

e aqueles com quem o dividimos.


SUGESTÕES DE LEITURA

ILLIFE, John. África: historia de un continente. Cambridge University Press. Edição Espanhola,

1998. p. 11-21. - No trecho sugerido, o autor apresenta características geomorfológicas do

continente africano e traça uma trajetória do processo de evolução humano, destacando descobertas

fósseis que foram marcos para a elaboração de tal teoria, como H. australopithecus, H. habilis, H.

erecus e H. sapiens, todos encontrados no continente africano.

MACEDO, José Rivair. “Pré - história africana”. História da África. São Paulo, Editora

Contexto. 2013. p. 11-21. - No trecho selecionado o autor aborda características geomorfológicas do

continente africano, bem como características do processo de hominização de forma acessível e

didática.

OLIVER, Roland. A Experiência Africana: da pré-história aos dias atuais. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Ed., 1994. p. 7-50. - No trecho sugerido, o autor traz de forma resumida a trajetória da

arqueologia para a formulação de suas teorias, dando destaque para as questões geográficas das

descobertas e do debate acerca da classificação dos hominídeos.


“Uma História a Partir da História”

O conceito de “Pré-História” que conhecemos hoje reverbera a ideia de que

existia uma “história antes da história” e o que seria isso? Seria uma história

estudada para além dos apontamentos em documentos escritos, a partir das análises da

cultura material de antepassados.

Entender o espaço de, literalmente, milhões de anos atrás até os dias atuais, é

fundamental para a compreensão de que toda nossa história partiu de um mesmo lugar e

que a nossa atual estruturação biológica – falando de modo generalista – é igual,

independente do que nossa árvore genealógica tenha feito, ou do local de nosso

nascimento. Além de ser pertinente percebermos que, apesar de todo o espaço temporal,

ainda temos características e hábitos de nossos ancestrais, como o de construir artefatos

que nos auxiliem no dia-a-dia, ou de materializar o que está ao alcance de nossos olhos

ou de nossa imaginação, através de manifestações artísticas variadas, como a pintura,

por exemplo.

O domínio de elementos da natureza foi fundamental para o assentamento e

continuidade da especiação dos hominídeos. O manejo de recursos como a madeira e a

pedra, propiciou aos nossos predecessores a criação de ferramentas que auxiliassem na

obtenção de alimentos e na própria proteção, já que, estes dois elementos, de maneira

mais simples, podem servir como armas ou como auxiliadores na busca por comida e,

quando mais manipulados, estes dois itens permitiram a realização da fogueira e a

construção de martelo, que foram cruciais para os ajudar tanto na hora de espantar

ameaças, quanto na hora de preparar ou extrair o alimento. Isso demonstra que, ainda

que atuais e presentes em nossa sociedade, as peças, por um longo período, foram

objetos de estudos e análises, até que pudessem ser transformadas em tecnologias mais

sofisticadas que foram incorporadas no cotidiano dos seres da época. Para além do

desenvolvimento de aparatos para a sobrevivência, é importante lembrarmos das

diferenças da nossa espécie, Homo sapiens sapiens, de outros ancestrais, como os

Homo habilis, que dentre elas se encontra a capacidade de abstração e de atribuição de

significados. Essa diferença se desenvolveu a ponto de nos deixar como rastros,

pinturas e vestígios de rituais de sepultamentos dentro de cavernas. As manifestações

artísticas dentro das cavernas mostram que, assim como o homem moderno, nossos

ancestrais tinham a necessidade de se expressar e isso nos abre portas para diversas

interpretações acerca do comportamento de nossos primatas.


Se as pinturas eram usadas como uma maneira

de se expressar, elas eram também um

demonstrativo de consciência da necessidade

de registrar, bem como um princípio do uso de

símbolos como forma de comunicação. Cabe

aqui, perfeitamente, a interpretação de que o

que estava sendo registrado seria o cotidiano,


Pintura em uma caverna no Sudeste do Saara.
junto do imaginário do autor, já que os regis-

tros, em grande número, são de animais da época, ou o retrato de algum integrante de

seu grupo em uma determinada situação, seja no momento da caça, ou sozinho. Um

outro ponto importante a ser mencionado é o de que as tintas usadas nos registros eram

obtidas através do extrativismo, o que nos leva de volta à perspicácia de nossos

ancestrais que, pelo senso comum, é colocada em questão, já que estes são vistos sob

um olhar pejorativo como “homens das cavernas”, ou usados como parâmetro para a

falta de intelecto, atribuindo às espécies uma conotação negativa.


SUGESTÕES DE LEITURA

UNESCO, Representação no Brasil. História Geral da África I: Metodologia e Pré-História da

África. Brasília: UNESCO, 2010. p. 446-508, 743-780. – Nos trechos selecionados, o escrito aborda

as espécies dos primatas, assim como o seu processo evolutivo e as dinâmicas das artes feitas por

antigos hominídeos.

NAVARRO, R. F. A Evolução dos Materiais. Parte 1: da Pré-História ao Início da Era

Moderna. Universidade Federal de Campina Grande. Paraíba: UFCG, 2006. p. 1-11. – No trecho

selecionado, o autor aborda à luz da engenharia dos materiais o uso dos materiais na elaboração de

tecnologias, desde o paleolítico.


SUGESTÕES DE ATIVIDADE PARA A SALA DE

AULA

É importante que os professores sejam capazes de identificar quais generalizações

carregam consigo e em suas formações, para que essas noções sejam superadas no

contato com o aluno. Por isso recomendamos que essas atividades sejam aplicadas em

sala de aula, mas que você, docente, também faça um exercício reflexivo sobre essas

propostas e busque através desse material, das leituras recomendadas e dos materiais

externos de que dispor, aprofundar-se sobre as temáticas. 

Além disso, as atividades sugeridas pretendem ser simples e não demandar muitos

recursos. Cabe lembrar que essas interações são apenas inspirações que indicam

formas de se introduzir alguns dos conceitos apresentados e não são necessariamente

avaliativas.

EM SALA

“O que você pensa quando escuta a palavra ‘África’?”

Egito, Pantera Negra, música, religião… as respostas podem ser muitas e dependem

das referências dos alunos e das informações que os acessam. O importante é identificar

quais são as imagens que os alunos carregam e se são positivadas ou negativas,

objetivando promover um espaço de reflexão onde você possa desenvolver as ideias de

que África é um continente extenso, diverso (social, cultural e politicamente), com

diversas vegetações e muitos anos de História - para além das generalizações.

“Qual é a pessoa mais antiga da qual você já ouviu falar? Como você

soube dessa dessa pessoa?”

É possível que a resposta seja algum parente mais velho, um antepassado ou ainda

“homem das cavernas” ou “homem pré-histórico”, alguma personagem fictícia. A

intenção com estas questões é promover a reflexão sobre como nós sabemos de pessoas

que vieram antes de nós - se por relatos escritos, se por histórias que nos contam sobre

elas ou ainda se por fotos, roupas, objetos -, introduzindo a questão da construção da

narrativa histórica.
(Para o professor) Explore a materialidade da sala de aula, como se

essa fosse um sítio arqueológico. Exemplo: se esse apontador fosse

encontrado daqui a milhões de anos, o que saberiam sobre esse lugar?

Saberiam que ali apontavam lápis? Saberiam que ali era uma sala de aula? Saberiam

nesse tempo era comum usar plástico e metal em objetos do cotidiano? Posteriormente,

sugira que os alunos façam o mesmo com outros objetos. A intenção é fazer com que os

alunos experimentem a investigação, além de promover uma percepção de que o

ambiente também pode ser ressignificado para aula e de que eles também são sujeitos

históricos.

DISSERTATIVAS

Os seres humanos levaram milhares de anos para desenvolverem seus

idiomas e culturas, e mais ainda para estabelecer diferenças entre suas

culturas e as dos outros. Por que atualmente nós nos diferenciamos

tanto do próximo a ponto de, por vezes, nos achar superior?

Do que você acha que alguém precisa para sobreviver hoje?

Roupas, comida, casa… Essa pergunta pretende ajudar o aluno a traçar paralelos entre o

conceito de “condições de vida” hoje e o que permitiu a subsistência dos hominídeos,

bem como algumas características de estilo de vida (caça, coleta, fabricação de

ferramentas, etc).

Se os primeiros hominídeos retratavam o cotidiano e o cenário em que

viviam com a pintura da natureza, como você retrataria o seu? 

A partir desse exercício você pode verificar a percepção dos alunos sobre as artes dos

nossos ancestrais e explicitar que a arte traduz sentidos e elementos do cotidiano.

PARA CASA

Peça aos alunos que escrevam uma pequena história de suas vidas.
Posteriormente, reflita com os alunos sobre suas escolhas: optaram por narrar os

aniversários? O dia do nascimento? Mencionaram membros da família? Falaram sobre

objetos? Esse exercício pode auxiliar você a demonstrar como, para narrar histórias,

precisamos fazer recortes - ou seja, do que consideramos mais importante ou relevante

contar e ainda a forma como contamos.

Pergunte ainda como ficaram sabendo da própria história: Quem

contou? Quais são as provas disso (fotos, objetos, memórias)?

Assim, você pode demonstrar que para a realização do exercício os alunos utilizaram

diversas fontes.  

(Para o aluno) Esboce ou produza em sua casa itens que você acredita

que facilitaria sua vida no dia-a-dia e justifique o porquê.


“Por onde andamos e para onde caminhamos”

Os primeiros hominídeos estão ao mesmo tempo distante de nós (temporalmente)

e próximos, pois são nossos ancestrais - de certa forma unem a Humanidade e nos

fazem herdeiros de um mesmo mundo. Essa ideia de unidade, porém, soa ingênua se

pensarmos nos crimes que a “humanidade” cometeu em nome do progresso e da

evolução, usando o “atraso evolutivo” como justificativa para a dominação e

submissão sistemática justamente daqueles indivíduos nascidos no continente que a

ciência prova como nosso berço: a África. O mundo moderno Ocidental foi desenhado

numa perspectiva racializada, incorporada pelas instituições oficiais e traduzidas na

História, que os sistemas educacionais e os materiais didáticos insistem em perpetuar,

mesmo que de forma não declarada, quando dedica-se pouco ou nada ao continente

africano, quando minimiza a experiência dos membros da diáspora africana nas

Américas - no nosso caso, o Brasil -, ou ainda quando afirma existir uma “democracia

racial”, num país demarcado pelo racismo estrutural e construído sobre o massacre de

negros e dos povos nativos brasileiros.

Sabemos, então, que os desafios de uma educação antirracista são muitos e

necessitam que o professor, bem como outros agentes educativos (o Estado, a família e

a sociedade) tenham compromisso com essa demanda social. Consciente dessa

urgência, a abordagem de nosso material procurou trazer a discussão sobre os

estereótipos acerca da África para o começo da História como disciplina específica no

currículo, utilizando o começo simbólico da jornada dos seres humanos pela terra

como tema - dois começos que coincidem, buscando tocar os alunos logo em seus

contatos iniciais com a ciência histórica, propondo um olhar mais aberto e sensível

para as questões que permeiam o material.

Esse material sozinho, porém, é apenas introdutório - como o nome sugere, é

suplementar. O combate ao racismo implícito no sistema educacional e na História

oficial implica revisitações. Ao longo de todo o currículo que os alunos terão pela

frente será necessário refletir sobre as intencionalidades, contexto, conjunturas que

levaram a História a ocorrer de tal forma, assim como sobre as lacunas e silêncio,

recortes e abordagens. Um processo desafiador, mas não impossível. Não é esse,

afinal, o exercício do historiador?

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