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Proposta de resolução

GRUPO I

Questão 1 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Temos defendido em comentários a este tipo de questões propostas em provas anteriores que é perfeitamente
possível responder dispensando a informação contida no documento. Até já ousámos dizer que o recurso ao docu-
mento pode complicar a resposta e levar-nos ao erro.
Estamos perante um caso que confirma a nossa tese.
Com efeito, para responder a esta questão, há duas opções que têm de ser rejeitadas imediatamente: a A, porque
os pintores renascentistas foram muito além das temáticas religiosas, e a D, porque uma das mais importantes inova-
ções técnicas do Renascimento foi a conceção tridimensional do espaço pictórico.
As opções B e C são características da pintura renascentista, e Paolo Veronese até diz claramente que, no seu qua-
dro em análise no processo inquisitorial, pintou a fresco, em tela. Seríamos levados, imediatamente, a dizer que a
opção C é a correta e cairíamos numa grande ratoeira, porque a pintura a fresco foi praticada, mas não é uma inova-
ção da pintura renascentista. Quando a esmola é grande, devemos sempre desconfiar.
Com esta certeza enganadora, prestaríamos menos atenção à primeira resposta do artista «Eu pinto e desenho
figuras», bem como à referência ao nariz a sangrar e a tantas outras que confirmam que a inovação renascentista
contida no quadro é o naturalismo na representação da figura humana.

Resposta: Opção B

Questão 2 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Esta é a habitual questão de resposta muito simples, bastando dizer o nome, como é pedido na questão, sem ter de
recorrer a qualquer explicação. Consideramos que são 10 pontos muito fáceis de conseguir, pois qualquer aluno deve
saber que é o Luteranismo, aceitando-se outra designação ajustada à reforma empreendida por Lutero, na Alemanha.

Resposta
A «doutrina falsa» a que o inquisidor faz referência é o Luteranismo.

Questão 3 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Esta questão traz-nos um grande problema, já que todas as opções propostas se enquadram nas resoluções do
Concílio de Trento. Portanto, desta vez, é bem possível que tenhamos de recorrer, pelo menos, ao parágrafo referido.
Claro que se supõe que sabemos bem o que foi o Concílio de Trento.
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O problema pode, então, ser complexo, mas o julgamento inquisitorial que está a ser feito ao artista devia levar-
-nos, sem dificuldade, a eleger a opção C. Não está o seu quadro a ser vigiado ao pormenor pelo Tribunal da Inquisi-
ção? E o que é ter de «corrigir e emendar a sua pintura» que não seja o pintor submeter-se a uma apertada censura?

Resposta: Opção C

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Propostas de resolução

GRUPO II

Questão 1 ................................................................................................................................................................................ 15 pontos

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Tópicos de resposta:
Argumentos que evidenciam a submissão das ordens sociais privilegiadas ao poder régio:
• combate, por parte do rei, ao excessivo poder político da nobreza, obtido através do apoio prestado aos
monarcas no contexto da Restauração da independência: «reprimir a soberba e a licença da nobreza de
Portugal» OU «Algumas vezes tem acontecido que [...] alguns nobres senhores, habituados aos abusos que
antes do reinado de D. João V eram frequentes, tenham sido inconvenientes. Quando Sua Majestade era
informado disso, mandava chamar depois da audiência esses senhores à sua câmara»;
• generalização do sentimento de temor reverencial e de obediência à suprema autoridade do rei: «Estas
audiências inquietam os maus juízes [...] e, em geral, todos aqueles cuja conduta é irregular. Até os ministros
não estão isentos desse temor» OU «O rei João soube sempre fazer respeitar a sua autoridade, o que forço-
samente desagrada à fidalguia»;
• exercício do poder absoluto pelo rei (OU reforço do aparelho burocrático centralizado no rei), a quem os
secretários estão subordinados: «Quando o secretário de Estado termina o seu trabalho com o rei, [...] [in-
forma] cada um da decisão de Sua Majestade no que lhe respeita» OU «Os grandes do reino estão de pé e
encostados às paredes da sala. Acontece por vezes que o rei queira que as suas ordens sejam executadas
imediatamente [...] e ordena logo ali o que há a fazer».
Argumentos que evidenciam a magnificência do rei através da encenação do seu poder:
• regularidade das audiências públicas do rei, reiterando, através do ritual, o carácter pessoal (OU absoluto)
do poder que exerce: «D. João V dá regularmente audiência pública três vezes por semana» OU «Atraves-
sam-se três salas contíguas e, quando se chega à última, encontram os pretendentes no limiar o porteiro da
câmara, [...] que introduz dez pessoas de cada vez» OU «Acontece por vezes que o rei queira que as suas
ordens sejam executadas imediatamente; então chama um desses senhores, entrega-lhes o memorial [...] e
ordena logo ali o que há a fazer»;
• o protocolo das audiências régias (OU o cerimonial do poder) acentua a submissão física dos súbditos,
como metáfora do poder absoluto do monarca: «Falam de joelhos ao rei, que está sentado num trono, de-
baixo de dossel» OU «Os grandes do reino estão de pé e encostados às paredes da sala»;
• encenação do poder paternalista e piedoso do rei nas cerimónias públicas OU exibição da riqueza (OU
prodigalidade) proporcionada pelo ouro do Brasil como símbolo de poder: «apoiado a uma mesa sobre a
qual se coloca uma cesta cheia de pequenos cartuchos de moedas de ouro que Sua Majestade distribui
caritativamente».

Comentário
Estamos perante uma questão cuja resposta é trabalhosa, mas que não pode oferecer grande dificuldade. É traba-
lhosa porque obriga a uma leitura muito cuidada do documento, a uma seleção rigorosa da informação relevante e a
uma correta transcrição dos excertos a que recorremos para a fundamentar. De resto, já sabemos, ela tem de estar
contida no conteúdo do documento em análise. Não pressupõe, por conseguinte, a necessidade de recorrer a muitos
conhecimentos adquiridos.
Claro que uma boa resposta tem de ser organizada em dois parágrafos, um para cada um dos argumentos solicitados.

Resposta
A submissão das ordens sociais privilegiadas ao poder régio nota-se na autoridade com que D. João V se
impõe sobre os «os grandes do reino», que, em sinal de respeitosa condescendência, esperam «de pé encostados
às paredes da sala», e quando o rei quer «que as suas ordens sejam executadas imediatamente; então chama um
desses senhores, entrega-lhes o memorial […] e ordena logo ali o que há a fazer».
A magnificência do rei através da encenação do seu poder é visível no cerimonial das receções (é preciso
atravessar «três salas contíguas» e, chegados à última, esperar que um porteiro da câmara introduza as pessoas)
442 e na ostentação de riqueza, que chega a distribuir prodigamente pelos seus súbditos. Com efeito, na audiência
Propostas de resolução

pública que dava regularmente três vezes por semana, D. João V «está sentado num trono, debaixo de um dossel
e apoiado a uma mesa sobre a qual se coloca uma cesta cheia de pequenos cartuchos de moedas de ouro que
[…] distribui caritativamente».

Questão 2 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Nesta questão, o conteúdo da opção C bastaria para a considerar como a correta. A opção B tem de ser liminar-
mente eliminada por negar o carácter absoluto do poder; já sobre o carácter ilimitado deste poder, referido na opção A,
temos de admitir algumas reservas. Restam as opções C e D, mas, mesmo que admitíssemos também como verosímil
a opção A, a citação feita na primeira parte da afirmação que temos de completar tem de levar-nos imediatamente a
concluir sobre a dimensão paternal e protetora da figura de D. João V.

Resposta: Opção C

Questão 3 ................................................................................................................................................................................ 15 pontos

Tópicos de resposta:
• introdução do princípio da soberania da Nação OU legitimação do poder político através do sufrágio (OU
ato eleitoral): o documento evidencia o carácter representativo das Cortes liberais, dado que os seus mem-
bros foram escolhidos através de eleições;
• acesso da burguesia ao poder (OU ao poder legislativo) OU influência crescente da burguesia na vida pú-
blica: o documento mostra a composição socioprofissional das Cortes liberais, com uma maioria de deputa-
dos com profissões de origem burguesa (OU homens de leis e profissões liberais) OU grandes proprietários;
• perda de privilégios e de influência do clero no novo modelo político-social liberal OU progressiva seculari-
zação das instituições do Estado: o documento evidencia a diminuição progressiva dos eclesiásticos entre
os representantes eleitos para as Cortes, entre 1820 e 1836 (de 16 para 5 deputados);
• elaboração de uma Constituição que consagra a separação tripartida dos poderes e o exercício do poder legis-
lativo por uma assembleia representativa da Nação, as Cortes, cuja composição é apresentada no documento;
• elaboração de uma Constituição que consagra o princípio da igualdade perante a lei, abolindo uma socie-
dade assente no privilégio;
• instauração de um regime de monarquia constitucional OU submissão do poder régio a uma Constituição
OU lei fundamental.

Comentário
Apesar de a resposta a esta questão valer os mesmos 15 pontos com que a questão 1 foi cotada, já se exige algo
mais. Agora, é pedido para explicitar informação presente num quadro de dados, que deve ser claramente incluída na
fundamentação dos aspetos que vamos referir.
Portanto, temos de começar por selecionar as manifestações da rutura político-social decorrentes da revolução
portuguesa de 1820 que vamos referir, a partir do documento, e referi-las fundamentadamente. Depois, é só cuidar da
boa apresentação que, continuamos a sugerir, deve ser feita com recurso a dois parágrafos.
Ora, do título do documento, podemos inferir o fim do exercício absoluto do poder e, da composição socioprofis-
sional das Cortes, podemos concluir sobre o carácter burguês da revolução.

Uma proposta de resolução


A convocação de Cortes liberais, cuja composição é referida no documento 2, deixa evidente que o rei deixou
de exercer o poder de forma absoluta e de origem divina e passou a ser legitimado pela Nação representada em
Cortes, às quais tem de prestar contas pelo seu exercício político. É o princípio da soberania da Nação que triunfa.
A composição socioprofissional das Cortes, no período referido, evidencia claramente o carácter burguês da
revolução liberal portuguesa. Com efeito, o documento citado mostra que, excetuando os membros das forças
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armadas (falta saber as suas patentes), os eclesiásticos e os funcionários públicos, a maioria dos deputados exer-
cem profissões conotadas com as que caracterizam a burguesia urbana. Queremos dizer que não vemos repre-
sentantes de trabalhadores do campo e dos ofícios entre os eleitos. A revolução liberal portuguesa confirmou,
por conseguinte, o triunfo político da burguesia, onde se inclui a classe média urbana. 443
Propostas de resolução

GRUPO III

Questão 1 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

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Comentário
Volta a aparecer uma questão ligada ao modernismo na produção artística, nos inícios do século XX, matérias que,
no geral, não são muito do agrado dos alunos.
Consideramos que, neste caso, não há razões para sentir grande dificuldade em fazer a associação correta, no-
meadamente do conteúdo do item (b), que é, obviamente, uma característica do Futurismo em toda a sua referência,
e o do item (c), que, também obviamente, é uma característica do Expressionismo. Considerando que há muitas carac-
terísticas exclusivas do Cubismo e que nenhuma delas é referida na alínea (a), restam-nos o Abstracionismo e o Da-
daísmo. Até podemos considerar que os abstracionistas também desprezaram convenções sociais e artísticas, como
todos os vanguardistas, mas quem cultivou, por excelência, a linguagem do absurdo e o desprezo pela guerra foram os
dadaístas, ao ponto de alguns dos primeiros praticantes serem desertores do exército alemão, refugiados em Zurique,
onde o movimento Dada teve origem.

Resposta
A associação correta é: a – 2; b – 4; c – 5.

Questão 2 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Mais uma questão de resposta simples, cujo tipo, contrariamente ao habitual, aparece pela segunda vez. Já se sabe
que basta dizer o nome, como é pedido na questão, sem ter de recorrer a qualquer explicação. Consideramos que são
mais 10 pontos muito fáceis de conseguir, pois qualquer aluno deve saber que é do Tratado de Versalhes que se trata.
É que, para simplificar mais, o enunciado da questão até diz que foi ratificado após o fim da Primeira Guerra Mundial!

Resposta
O tratado a que se refere a caricatura do documento 2 é o Tratado de Versalhes.

Questão 3 ................................................................................................................................................................................ 15 pontos

Tópicos de resposta:
• desequilíbrio das finanças públicas OU ruína financeira dos países beligerantes devido às despesas de
guerra: doc. 1 – «a Inglaterra gasta mais de sete milhões e meio de libras por dia» OU «Portugal é hoje, finan-
ceiramente, um país paupérrimo»;
• recurso ao crédito (OU endividamento) pelos países beligerantes para fazer face às despesas militares:
doc. 1 – «a forte e rica Inglaterra teve de recorrer ao crédito»;
• crises inflacionistas (OU aumento do nível geral dos preços) provocadas pela carestia de bens de consumo
e pelo aumento da moeda em circulação (OU «desvalorização da moeda» – doc. 1);
• desorganização do setor produtivo devido à destruição de recursos humanos, de terrenos agrícolas e de
infraestruturas: doc. 1 – «a ruína acompanha os outros povos, mesmo os mais ricos e poderosos»; doc. 2 –
aspeto famélico dos países Aliados, representados, na caricatura, em torno da Alemanha;
• agravamento, nos países vencidos, das consequências económicas e financeiras da guerra, devido às duras
condições impostas, nos tratados de paz, pelos vencedores: doc. 2 – referência ao Tratado de Versalhes, que
estipula a obrigatoriedade do pagamento de indemnizações pela Alemanha («Não tenho leite para um,
quanto mais para tantos!»), representada como ama seca, ou seja, exaurida;
• desejo, por parte dos vencedores da guerra (OU Aliados), de obter compensações económicas para os prejuí-
zos causados pelo conflito (OU que contribuam para a reconstrução do pós-guerra) – doc. 2: referência à explo-
ração dos recursos da Alemanha pelos Aliados, em particular pela França (representada na figura 2 da legenda);
• perda da hegemonia económico-financeira da Europa e afirmação da supremacia económica dos EUA a
nível mundial;
• dificuldades no processo de reconversão de uma economia de guerra para uma economia de paz OU alte-
444 rações na estrutura e na organização da produção.
Propostas de resolução

Comentário
A exigência de fundamentar um dos aspetos pedidos com informação contida no documento 2 pode criar alguma difi-
culdade em responder de forma totalmente correta a esta questão. É que reconhecemos quão complicado é sempre inter-
pretar caricaturas, e a dificuldade em interpretar esta, em particular, até pode ser maior, porquanto a Alemanha vencida é
representada grande e saudável, apesar de exaurida, e os países vencedores aparecem raquíticos e famintos a quererem so-
breviver à sua custa. Com efeito, no pós-guerra, tudo nos levaria a pensar o contrário. E até consideramos que saber que se
trata do Tratado de Versalhes ainda pode complicar mais, sobretudo se se conhecer o essencial do seu clausulado.
Sobre o documento 1, que oferece abundante informação e é de fácil leitura e interpretação para o pretendido neste
momento, até é suficiente o conteúdo do segundo parágrafo, deixando a sua leitura integral para outras necessidades.

Uma proposta de resolução


Logo no segundo parágrafo do documento 1, Egas Moniz informa-nos sobre as dificuldades financeiras por
que passaram os países beligerantes devido à inflação que se tornou galopante e ao agravamento do défice dos
Estados. O orador cita o exemplo da Inglaterra, onde «a matéria coletável […] está [ao tempo] sobrecarregadís-
sima, e [que por isso] teve de recorrer ao crédito». Ora, as consequências nefastas sentidas pela «forte e rica» In-
glaterra foram igualmente sentidas, até com maior gravidade, por toda a Europa continental, principal palco das
destruições.
O documento 2 faz uma caricatura da situação em que ficaram os países vencidos, em particular a Alemanha,
que, em consequência, concretamente, do Tratado de Versalhes, ficou obrigada ao pagamento de pesadas in-
demnizações aos países vencedores, com reflexos ainda mais graves na sua situação económico-financeira in-
terna. É esta situação que o caricaturista parodia, ao representar a Alemanha, que foi grande e poderosa, como
uma «ama seca» que já não tem mais leite (capacidade de cumprir as obrigações impostas pelos tratados), nem
para a França, nem para tantos países famintos que nela querem mamar (que se querem reerguer às custas das
reparações de guerra a cujo pagamento os vencidos ficaram obrigados).

Questão 4 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Outra questão de escolha múltipla, mas que não remete para nenhum documento. Desta vez, uma resposta cor-
reta depende, exclusivamente, de conhecimentos adquiridos. Ora, se após a leitura das quatro opções não conseguir-
mos chegar à correta, teremos de ir por partes, começando por eliminar algumas, se for possível.
Iniciamos pela opção A: crença no «cientismo e no progresso»? Nem pensar. Com o fim da guerra, aconteceu exa-
tamente o contrário. «Consagração universal da igualdade jurídica para as mulheres»? Até é possível, vamos admitir.
«Reforço das normas» e «clima de anomia»: se soubermos o que é o clima de anomia, concluímos que estamos perante
conceitos contraditórios. Há uma que está errada, e só pode ser a C, pois também foi o contrário que se verificou.
Então, a opção D também pode ser correta. Voltemos, então, à opção B. Agora com mais atenção, temos de notar a refe-
rência à «consagração universal». Contudo, temos de duvidar sobre se a consagração da igualdade jurídica da mulher foi
mesmo universal. Claro que não foi. Muita água vai ter ainda de correr debaixo das pontes até que isso seja uma realidade.

Resposta: Opção D

Questão 5 ................................................................................................................................................................................ 20 pontos

Tópicos de resposta:

Parâmetro A – Identificação e explicação


Os problemas económico-financeiros e a contestação social:
• défice orçamental permanente OU desequilíbrio das contas públicas, que resulta no agravamento da dí-
vida pública OU no endividamento crescente do Estado;
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• desequilíbrios OU debilidades económicas devido aos baixos índices de produção OU balança comercial
cronicamente deficitária devido à baixa produtividade agrícola e industrial;
• agravamento das dificuldades económicas e financeiras devido à participação de Portugal na Primeira
Guerra Mundial (OU ao esforço de guerra); 445
Propostas de resolução

• escassez (OU carestia) de bens de consumo OU racionamentos OU especulação de preços devido à partici-

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pação na guerra;
• inflação e desvalorização da moeda devido ao esforço financeiro da participação na guerra e ao desequilí-
brio das contas publicas e da balança comercial;
• instabilidade social OU aumento dos protestos e da agitação social OU das greves como consequência do
agravamento das condições de vida;
• desilusão dos grupos sociais OU das classes médias e do operariado, que tinham sido a base social de apoio
do regime republicano, face ao aumento do custo de vida;
• mobilização dos descontentes por parte de forças sociais e grupos conservadores, como a Igreja OU a
grande burguesia capitalista OU os monárquicos, atingidos nos seus interesses pelas medidas tomadas
pelos governos republicanos e pelo clima de desordem.

A instabilidade política e a emergência de modelos autoritários:


• instabilidade política OU governativa traduzida na sucessão de governos ao longo dos 16 anos da Primeira
República, potenciada pelo modelo parlamentarista estabelecido pela Constituição de 1911, que subordi-
nava o poder executivo ao poder legislativo;
• clima permanente de disputas político-partidárias, resultantes da fragmentação partidária dos republica-
nos após 1910, que impossibilitava a obtenção de maiorias parlamentares;
• sobreposição das ambições pessoais dos agentes políticos ao interesse nacional OU incapacidade de
dar resposta aos problemas do país, provocando sentimentos de desilusão (OU crise de legitimidade do
regime);
• vulnerabilidade dos governos devido ao ambiente de desordem, de agitação social e de violência política;
• oposição das forças sociais e políticas conservadoras, como a Igreja OU os monárquicos OU a burguesia
capitalista, que, atingidos nos seus interesses, desejavam o fim da agitação social (OU sindical OU grevista)
e a restauração da ordem;
• simpatia crescente de alguns setores por modelos políticos autoritários OU ideais antidemocráticos e anti-
parlamentares no contexto da afirmação de soluções políticas autoritárias (OU conservadoras OU naciona-
listas) em vários países europeus e da expansão do bolchevismo e do anarquismo;
• intervenções dos militares na vida política, como Pimenta de Castro, que instituiu uma ditadura, OU como
Sidónio Pais, que suspendeu o funcionamento do Parlamento e instituiu um regime presidencialista (OU
ditadura militar OU República Nova);
• afirmação das Forças Armadas como instrumento de regeneração da vida política OU apelo aos militares,
por parte dos descontentes, para instaurar a ordem governativa no país;
• instauração da Ditadura Militar na sequência do golpe liderado pelo general Gomes da Costa, em 28 de
maio de 1926;
• ascensão de Salazar ao poder como ministro das Finanças, no contexto da Ditadura Militar, saneando as fi-
nanças públicas (OU aplicando uma política de rigor orçamental).

Parâmetro B – Articulação temática e organização


A resposta evidencia a relação dos elementos apresentados com o tema As dificuldades da Primeira Repú-
blica e a ascensão das forças conservadoras e autoritárias em Portugal, analisando o modo como os condicio-
nalismos económico-financeiros, sociais e políticos da Primeira República conduziram à emergência de soluções
políticas autoritárias.
Para cada tópico de orientação, pode explorar, pelo menos, uma das seguintes linhas de análise, ou outras
consideradas relevantes:
Os problemas económico-financeiros e a contestação social:
• relação entre as dificuldades económico-financeiras e a contestação social aos governos da Primeira
República;
446 • relação entre a agitação social e política e a mobilização dos setores conservadores da sociedade.
Propostas de resolução

A instabilidade política e a emergência de modelos autoritários:


• relação entre o agravamento das dificuldades do país e as intervenções dos militares na vida política;
• relação entre a desordem social e a emergência de uma nova ordem política autoritária.
Parâmetro C – Integração dos documentos
A resposta evidencia a mobilização da informação dos documentos de 1 a 3 para sustentar as linhas orienta-
doras do tema, que constam nos parâmetros A e B. Podem ser exploradas as linhas de leitura apresentadas abaixo
(ou outras possíveis).

– situação financeira do país: «Portugal é hoje, financeiramente, um país paupérrimo e tende


para a última das misérias» OU «um esmagamento se estava produzindo, reduzindo-nos ao
máximo descalabro»;
– consequências financeiras da participação na guerra: «Portugal gastou [...] em agosto passado,
em despesas de guerra em África e na Europa, 100 000 contos, e o orçamento de guerra para
o ano corrente de 1917-18 [...] era de 150 000 contos» OU «teremos, no fim da guerra, o dobro 1.º
dos encargos da dívida pública e, se eles nos levavam [...], antes da guerra, 30% da receita Tópico de
Documento 1

orçada, levar-nos-ão, depois da guerra, 60%»; orientação


– desvalorização monetária: «Tende a aluir o edifício económico do passado com a desvaloriza-
ção da moeda»;
– instabilidade e agitação social: «temos de atender, com cuidado, ao movimento operário e tra-
balhista, que carece de ser atendido nas suas reclamações» OU «evitando que a greve pertur-
badora venha iniciar um novo ciclo de perturbações e desordens».
2.º
– expressão da necessidade de ordem e estabilidade política: «é preciso que se consiga paz,
Tópico de
tranquilidade e segurança».
orientação
– participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, engrossando as fileiras dos Aliados;
– Portugal, como país pequeno e periférico que era, foi secundarizado nas decisões do pós-
Documento 2

-guerra quanto a compensações materiais; 1.º


– Portugal não obteve, no final da guerra, compensações ou indemnizações satisfatórias, face Tópico de
ao esforço material e humano despendido; orientação
– o aspeto famélico da criança que representa Portugal reflete o esforço de guerra OU agrava-
mento da situação económico-financeira provocado pela participação na guerra.
– desordem e agitação social: «Agitarão diante das massas populares reivindicações impossí- 1.º
veis, retaliações desnecessárias, violências que, a executarem-se, serviriam para comprometer Tópico de
cada vez mais a pacificação da família portuguesa». orientação
– instabilidade política e governativa: «em vez de me procurarem, de concertarem comigo que
melhor se possa fazer [...], vão para a praça pública agitar as multidões» OU «A lealdade de
propósitos com que eu constituí o Governo e todos os atos que ele tem praticado precisavam
de encontrar a correspondente sanção nos partidos» OU «Estes incorrigíveis republicanos só
sabem unir-se e dar apoio quando sentem que um grande perigo ameaça a República»;
Documento 3

– dissidências e lutas político-partidárias: «Nos comícios vão aparecer figuras representativas de


todos os partidos» OU «são sempre os mesmos sectários de uma política mesquinha, sem ele-
vação de intuitos, e apenas sujeita a interesses partidários»; 2.º
– prevalência das ambições pessoais acima dos interesses nacionais: «apenas sujeita a interesses Tópico de
partidários, quando não a interesses pessoais» OU «Voltaremos às mesmas lutas estéreis, ao orientação
mesmo desinteresse dos problemas nacionais, às mesmas intrigas ambiciosas»;
– golpes militares como reação à instabilidade política e governativa: «os dias de Pimenta de
Castro e de Sidónio Pais»;
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– solução autoritária para a desordem e a instabilidade políticas: «ao cabo de um período mais
ou menos longo, outra ditadura virá» OU «uma ditadura que sucederá com a experiência do
passado àquelas que a falta de experiência tornou inviáveis» OU «Uma ditadura que manterá
apenas um simulacro de República».
447
Propostas de resolução

Comentário
Apesar de os autores da prova continuarem a considerar esta a questão de resposta de composição extensa (ques-

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tão de desenvolvimento) e a dar-lhe uma apresentação muito diferenciada e com aparência de grande exigência, a
que corresponde um extraordinário rigor nos critérios específicos de classificação, apresentados também de forma
muito particular, nós continuamos a considerar e a afirmar que é muita parra para pouca uva. Há muito que foi dei-
xando de haver razões para os alunos darem particular importância e tratamento a este tipo de questão. Com efeito,
para quê tanta pompa e circunstância para uma questão que vale apenas mais cinco pontos do que uma vulgarís-
sima questão de resposta de composição restrita em que são exigidos apenas dois aspetos?
É por isso que não temos qualquer relutância em considerar que apenas temos duas questões em uma e um tema
com o qual temos de evidenciar a relação dos elementos apresentados, o que, no caso presente, até decorre da normal
elaboração da resposta. De resto, dois tópicos apenas, seis aspetos a referir com rigor, objetividade e clara redação,
(bastando a referência a cinco para se obter a cotação total), no que ao parâmetro A diz respeito.
Relativamente ao desenvolvimento do tópico 1, podemos retirar do documento 1 os problemas económico-finan-
ceiros que já referimos na resposta à questão 3, agora, com particular referência ao caso português, e as alusões à
agitação social decorrente. No documento 2, ainda relativamente a este tópico, podemos notar que Portugal também
está no grupo dos países enfezados que querem mamar da teta alemã, mas, por coincidência, até está algo isolado,
relativamente aos outros países, como que aceitando ser o último a mamar. E temos os três aspetos selecionados, com
recurso a dois documentos.
Relativamente ao desenvolvimento do tópico 2, facilmente encontramos referências à instabilidade política, no
documento 3, logo nas duas primeiras linhas e, de forma mais abundante e consistente, nos parágrafos seguintes. Já
no último parágrafo, encontramos clara referência à emergência de uma possível ditadura.
Por acaso, a nossa resposta até resultou extensa. São sempre seis (pelo menos cinco) os tópicos a que temos de
fazer referência. Mas, se notarmos bem, a composição é conseguida quase só com recurso às fontes. Não são muitos os
conhecimentos adquiridos a que temos de recorrer. O grande trabalho e a grande competência que se exige é apenas
saber ajustar a informação contida nos documentos aos tópicos de desenvolvimento propostos.

Resposta
Entre as dificuldades sentidas pelos governos da Primeira República estavam as decorrentes da gravíssima
situação económico-financeira que resultou da presença de Portugal na Primeira Guerra. Dessa realidade nos dá
conta Egas Moniz, segundo o documento 1, ao afirmar que «Portugal é [em 1917], financeiramente, um país pau-
pérrimo e tende para a última das misérias». E dá como causa os gastos realizados em despesas de guerra feitas
em África e na Europa, causadoras do agravamento para «o dobro dos encargos da dívida pública».
E prossegue, reclamando para o setor produtivo, agrícola e industrial, uma maior atenção, num tempo em
que o edifício económico «tende a aluir» «com a desvalorização da moeda». Considera o orador que «a terra con-
tinuará a ser a grande, a única sólida riqueza, e o trabalho a única valorização do homem». Por isso, pede para que
sejam atendidas as reclamações do movimento operário, para que se consiga aumentar a riqueza nacional e, ao
mesmo tempo conter a contestação social que aumenta de forma cada vez mais violenta, face à inoperância do
poder político.
O documento 2 também nos dá conta das dificuldades económicas vividas por Portugal, agravadas nos anos
que se seguiram ao fim da guerra, ao caricaturar o país como uma das crianças débeis e famintas que procura-
vam resolver as suas dificuldades materiais com as compensações a que a Alemanha ficava obrigada nos termos
do Tratado de Versalhes. Só que, se o «leite» alemão não chegava para alimentar os países mais poderosos, para
Portugal pouco sobraria, pois integrava o grupo dos países secundarizados nos seus interesses, como mostra, na
caricatura, o seu afastamento, relativamente aos outros países vencedores.
O agravamento da agitação social tinha, inevitavelmente, de se refletir no agravamento das dificuldades polí-
ticas. Já vimos, no documento 1, como Egas Moniz alerta para a necessidade de evitar que «a greve perturbadora
venha iniciar um novo ciclo de perturbações e desordens» e, no mesmo propósito, segundo o documento 3, José
Relvas, alerta para as reivindicações «impossíveis» das massas populares e para «retaliações desnecessárias, vio-
lências que, a executarem-se, serviriam para comprometer cada vez mais a pacificação da família portuguesa».

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Propostas de resolução

Mas a instabilidade política acentuou-se ainda mais, como também denuncia José Relvas, com as lutas polí-
tico-partidárias. Está a fazer referência às profundas divergências que surgiram no Partido Republicano motiva-
das nas ambições pessoais de poder e di-lo sem reservas, quando considera que os republicanos são «sectários
de uma política mesquinha, sem elevação de intuitos, e apenas sujeita a interesses partidários, quando não a in-
teresses pessoais».
Claro que este ambiente sociopolítico abria as portas a tendências autoritárias. Na ausência de soluções para
os problemas económicos e financeiros, num contexto de democracia parlamentar, e face à crescente agitação
social, José Relvas admite que forças antidemocráticas e antiparlamentares possam aproveitar para prometer
soluções que passem pela imposição de modelos autoritários. É muito claro ao admitir que «outra ditadura virá
renovar os dias de Pimenta de Castro e de Sidónio Pais», cujas tentativas só foram inviabilizadas pela falta de
experiência. E continua admitindo uma possível ditadura mais sólida e que «manterá apenas um simulacro de
República». A sua premonição viria a confirmar-se em 28 de maio de 1926, quando, em consequência de um
golpe de estado, foi instituído um regime de ditadura militar.

GRUPO IV

Questão 1 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Desta vez, a habitual questão de ordenação cronológica de acontecimentos apresenta uma inovação. Em vez de
serem propostos cinco acontecimentos, na forma de texto, são apresentados apenas quatro, na forma de gravuras.
Nada de novo, a não ser a facilitação da resposta a uma questão tradicionalmente difícil. São apenas quatro os acon-
tecimentos a ordenar e é possível que as imagens os tornem mais fáceis de identificar.
Começamos pela referência a Marcello Caetano, porque consideramos inaceitável que não se saiba que esta per-
sonagem está ligada ao Estado Novo. Considerando que deverá saber que os outros acontecimentos só podem ter
ocorrido após o seu derrube, já sabemos que a opção D é a primeira da ordem cronológica pretendida. Também consi-
deramos inaceitável que não se saiba associar António de Spínola ao momento revolucionário que derrubou o regime
de Marcello Caetano e abriu as portas à restauração da democracia em Portugal. Considerando que os outros dois
acontecimentos só podiam ter ocorrido num contexto de afirmação e consolidação da democracia portuguesa, a
opção B tem de ser a segunda. Restam-nos as opções A e C. Podemos não saber as datas, mas pelo menos temos de
saber que a formação da CPLP (1996) foi dos últimos assuntos estudados no âmbito do programa da disciplina. Por-
tanto, este só pode ser o último dos quatro acontecimentos. E temos a ordenação feita.

Resposta
A ordem correta é: D; B; A; C.

Questão 2 ................................................................................................................................................................................ 15 pontos

Tópicos de resposta:
• manutenção da defesa (OU da guerra colonial) do ultramar português e dos direitos históricos sobre os
territórios coloniais: «É um imperativo irrenunciável, um princípio por que se dá a vida. [...] Cimenta-a o san-
gue dos seus heróis» OU «o pesado encargo que o esforço da defesa impõe à coletividade»;
• apologia de Portugal como um Estado uno, pluricontinental e multirracial: «A integridade de uma Pátria
não se discute nem se põe a votos»;
• rejeição continuada das propostas de negociação apresentadas ao Governo português pelos movimentos
nacionalistas de libertação constituídos nas colónias (PAIGC, FRELIMO, MPLA OU FNLA OU UNITA) OU re-
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cusa em reconhecer o direito à autodeterminação dos povos das colónias: «A autodeterminação [das coló-
nias] é o início do abandono»;
• política de continuidade no fomento económico das colónias e lançamento de um vasto programa de
obras públicas no âmbito do projeto do Espaço Económico Português, criado em 1961; 449
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Propostas de resolução

• projeto de alteração do estatuto das colónias no sentido de uma autonomia progressiva e participada, de

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tipo federalista, consagrado na revisão constitucional de 1971 OU publicação de uma nova Lei Orgânica do
Ultramar, em 1972;
• isolamento internacional de Portugal, patente na audiência dada pelo Papa Paulo VI aos líderes dos movi-
mentos de libertação OU no reconhecimento pela ONU da independência da Guiné-Bissau OU nos protes-
tos populares durante a visita oficial de Marcello Caetano ao Reino Unido;
• aumento da contestação interna à continuação da guerra colonial OU publicação do livro Portugal e o Fu-
turo, do general António de Spínola, no qual este defende uma solução política e não militar para o pro-
blema colonial.

Comentário
Uma questão perfeitamente na linha das anteriores questões de resposta restrita, isto é, mais uma questão cuja
resposta pode e deve ser elaborada com elementos retirados de um dos documentos que a suportam. O grande traba-
lho consiste, mais uma vez, na leitura e análise do conteúdo do documento 2 e na seleção dos aspetos relevantes para
a resposta, escrevendo com correção sintática e ortográfica, sem esquecer o recurso a dois parágrafos.
Nós selecionámos a recusa da negociação com os movimentos independentistas e a intransigência na considera-
ção das províncias ultramarinas como extensões naturais do território continental português.

Uma proposta de resolução


O autor do documento 2, na sua análise à realidade portuguesa em outubro de 1969, faz referência ao «pe-
sado encargo que o esforço de defesa impõe à coletividade» e aos «elevados encargos de carácter militar». Não
podem restar dúvidas de que, à data, estas despesas e encargos eram motivados pela guerra que o país manti-
nha nas suas colónias africanas. Daqui depreendemos que o Governo português recusava negociar o direito à
autodeterminação e independência das populações coloniais com os movimentos nacionalistas de libertação.
Refere-o claramente ao advogar que «a autodeterminação [das colónias] é o início do abandono».
Ulisses Cortês confirma, mais adiante, a sua posição ao defender que o abandono dos territórios ultramarinos
punha em causa «a integridade de uma Pátria» e que esta «não se discute nem se põe a votos». Está claramente a
defender o carácter pluricontinental e multirracial da nação portuguesa, tese a que o regime recorreu para, a
partir de 1951, pôr fim às denúncias do carácter colonialista de Portugal.

Questão 3 ................................................................................................................................................................................ 15 pontos

Tópicos de resposta:
• abertura da economia nacional ao mercado europeu e mundial, sobretudo com o II Plano de Fomento
(1959-1964): «Com altos e baixos, a integração europeia teve inegavelmente os resultados de melhorar as
perspetivas para o crescimento de vários setores industriais portugueses»;
• integração, como membro cofundador, na EFTA (OU Associação Europeia de Comércio Livre): «Melhoraram
as perspetivas em alguns setores devido à adesão à EFTA» OU «Com altos e baixos, a integração europeia
teve inegavelmente os resultados de melhorar as perspetivas para o crescimento de vários setores indus-
triais portugueses»;
• estabelecimento de um Plano Intercalar de Fomento (1965-1967) orientado para a economia de mercado,
sendo priorizado o setor industrial e a iniciativa privada (OU abandono do condicionamento industrial):
«Grande parte dos postos de trabalho hoje existentes no país nasceram do processo de industrialização»;
• aposta no aumento da concorrência no mercado nacional OU na concentração empresarial OU no apoio à
modernização industrial OU na captação de investimentos estrangeiros, sobretudo com o III Plano de Fo-
mento (1968-1973);
• integração em diferentes organismos económico-financeiros de âmbito internacional (OECE OU FMI OU
BIRD OU GATT);
• estratégia de aproximação à economia europeia com o pedido do estatuto de membro associado da CEE,
em 1962, OU com a assinatura de um acordo comercial com a CEE, em 1972.
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Propostas de resolução

Comentário
Já sabemos que, quando é pedido para explicitar, temos que ir mais além da simples apresentação, embora as
questões sejam cotadas com a mesma pontuação. Notar que, nesta questão em particular, só é exigida a fundamen-
tação, com excertos do documento que a suporta, de apenas uma das estratégias pedidas. Isto leva-nos a pensar que
a outra estratégia pode não estar explícita ou até implícita no documento. Quer dizer que poderemos ter de recorrer a
mais conhecimentos do que para responder às questões anteriores do mesmo tipo.
Nada melhor do que passar à leitura e análise do conteúdo do documento 3, pressupondo que se saiba o que foi o
ideal de autarcia no Estado Novo. Selecionámos a integração da economia portuguesa no contexto da economia in-
ternacional e a defesa de um processo industrializador e da economia privada.

Uma proposta de resolução


Uma das estratégias económicas do Estado Novo que levaram ao abandono do ideal de autarcia passou pela
plena integração da economia nacional no mercado internacional, concretamente nas suas estruturas, sobre-
tudo com as políticas adotadas no âmbito do II Plano de Fomento, entre 1959 e 1964. Com efeito, logo em 1960,
Portugal integrou a EFTA como país cofundador e assinou o acordo do BIRD e do FMI. Passados dois anos, assi-
nava também o protocolo do GATT. Francisco Pereira de Moura considera que esta «integração Europeia teve
inegavelmente os resultados de melhorar as perspetivas para o crescimento dos vários setores industriais portu-
gueses», entre outros benefícios.
Ora, segundo o autor, foi também a prioridade dada ao desenvolvimento do setor industrial e ao reforço da
economia privada, já no âmbito de um Plano Intercalar de Fomento, entre 1965 e 1967, que confirmou a falência
do ideal autárcico de Salazar. É que o condicionamento da economia vinha-se revelando totalmente desajustado
aos novos tempos, marcados pela concorrência, em consequência dos acordos assinados. Considera o autor que
foi graças ao desenvolvimento do processo de industrialização que nasceu grande parte dos postos de trabalho
existentes em 1969, apesar de esse desenvolvimento ter sido conseguido com o «sacrifício das classes trabalha-
doras», privadas de muitos direitos económicos e sociais.

Questão 4 ................................................................................................................................................................................ 10 pontos

Comentário
Outra questão de escolha múltipla cuja remissão para a informação de um documento apenas serve para lhe dar
enquadramento. É entre as quatros opções e com base nos conhecimentos adquiridos que temos de encontrar a res-
posta correta. E temos de passar ao habitual exercício para tentar excluir algumas opções e concluir sobre a verosimi-
lhança de outas.
Começamos pela opção A e temos de a admitir como possivelmente correta. A opção B facilmente pode ser elimi-
nada. Era o que faltava, no Estado Novo, membros da oposição integrarem o Governo! Debate eleitoral para eleições
presidenciais com Américo Thomaz na Presidência da República? Nem pensar! E também temos de saber que, na Pri-
mavera Marcelista, a rutura de regime só ocorreu em 25 de abril de 1974. Portanto, em 1969, a «abertura» e o «diá-
logo» políticos só podem ter ocorrido no contexto da política marcelista de evolução na continuidade.

Resposta: Opção A

Questão 5 ................................................................................................................................................................................ 15 pontos

Tópicos de resposta:
• [impacto da questão colonial no desenvolvimento nacional] enquanto, no documento 2 – perspetiva
de Ulisses Cortês –, se defende a manutenção das províncias ultramarinas («É um imperativo irrenunciável,
um princípio por que se dá a vida.»), afirmando que os gastos com a guerra nesses territórios não compro-
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metem o desenvolvimento da economia nacional («Não omitirei o pesado encargo que o esforço de defesa
impõe à coletividade. Mas penso também que os factos mostram [...] a conciliação das exigências da defesa
e do fomento» OU «apesar dos elevados encargos de carácter militar, o nível dos investimentos públicos
programados nos Planos tem subido sempre»), no documento 3 – perspetiva de Pereira de Moura –,
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Propostas de resolução

denuncia-se a política colonial e a guerra como causas do empobrecimento do Estado OU do estrangula-

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mento do investimento produtivo sustentado: «as guerras coloniais [...] estão a depauperar o Estado, impe-
dindo-o de se lançar em empreendimentos de infraestrutura»;
• [significado político e económico da emigração] enquanto, no documento 2, se defende que a emigra-
ção é uma tradição histórica portuguesa («a emigração corresponde, entre nós, a uma vocação secular, a
uma tradição profundamente radicada no temperamento português»), alegando-se que diminuiu em
comparação com o período da Primeira República («no período democrático, o facto se revestiu [...] de
maior gravidade do que atualmente» OU «Em 1911, em cada 200 habitantes emigraram 20; em 1968, ape-
nas emigraram 17»), no documento 3, denuncia-se a motivação económica (OU fuga à pobreza) do fenó-
meno emigratório, associando-a à falência do modelo de desenvolvimento promovido pelo Estado Novo:
«pensamos poder atribuir as atuais dificuldades à falência de uma política: [...] como poderia ser de outro
modo, quando nenhuma reforma se introduziu no sector agrário, a não ser a pior de todas, [...] que foi o
êxodo rural para as cidades maiores e para o estrangeiro»;
• [política de desenvolvimento social] enquanto, no documento 2, se defendem as preocupações sociais
da política do Governo em diversos setores com amplo impacto social («As dotações orçamentais para o
ensino crescem sucessivamente» OU «o abastecimento de água e a construção de vias de acesso» OU «em-
preendimentos [...] tendentes à distribuição equilibrada do progresso e à elevação do nível de vida das po-
pulações»), no documento 3, denuncia-se a ausência de uma política social do Governo, beneficiando os
grandes grupos económico-financeiros em detrimento das classes trabalhadoras: «sacrifício das classes
trabalhadoras (baixos salários, altos níveis de preços dos bens de consumo, fraca intervenção estatal no
sentido redistributivo, quer diretamente quer através dos investimentos e consumos públicos de índole
“social” [...])»;
• [política de desenvolvimento económico] enquanto, no documento 2, se afirma que a política econó-
mica do Estado Novo assentou na estabilidade orçamental, permitindo um «equilíbrio financeiro, tenaz-
mente mantido desde 1928» (OU «o escudo é hoje das moedas mais fortes do Ocidente»), OU no sucesso
do modelo de desenvolvimento económico implementado nos planos de fomento («o nível dos investi-
mentos públicos programado nos Planos tem subido sempre» OU «No período de vigência do II Plano de
Fomento, essa média elevou-se a 6,2 por cento»), no documento 3, é posta em causa a eficácia dos planos
de fomento, considerando ser esse um modelo esgotado («De modo que a esperança é muito limitada; [...]
tem-se vivido em estagnação, quando não em inquietação e dificuldade crescentes, nem se vislumbrando
já quaisquer possibilidades de terem sido atingidos os objetivos de crescimento fixados no Plano de Fo-
mento. Mais do que à conjuntura internacional [...], pensamos poder atribuir as atuais dificuldades à falên-
cia de uma política»).

Comentário
Nenhuma surpresa no enunciado desta questão, que não seja o pedido de comparação de apenas duas perspeti-
vas sobre a realidade portuguesa em outubro de 1969. De resto, como é normal, o antagonismo dos oradores sobre a
matéria é tão evidente que este exercício continua a requerer apenas uma boa leitura e uma boa interpretação dos
documentos e, claro, uma boa composição escrita.
Aqui é que os conhecimentos adquiridos são inteiramente dispensáveis. Basta mesmo saber ler, e interpretar e
transcrever com correção, porque continua a ser obrigatório integrar na resposta os excertos dos documentos que
fundamentem a nossa análise, o que também não é surpresa.

Uma proposta de resolução


Ulisses Cortês, governante do Estado Novo, e Francisco Pereira de Moura, destacado membro da oposição
democrática, só podiam divergir na temática abordada. Por exemplo, no que concerne à política ultramarina, na
perspetiva de Ulisses Pereira, a guerra de defesa da integridade nacional que «não se discute nem se põe a votos»
deve ser mantida, pois os seus custos financeiros, apesar de pesados, são perfeitamente conciliáveis com o de-
senvolvimento da economia nacional. Diz concretamente que, «apesar dos encargos de carácter militar, o nível
452 dos investimentos públicos programados nos Planos tem subido sempre». Já Pereira de Moura denuncia a
Propostas de resolução

política ultramarina e a guerra como causas do empobrecimento do Estado, afirmando concretamente que «as
guerras coloniais […] estão a depauperar o Estado, impedindo-o de se lançar em empreendimentos de infraes-
trutura».
A política social do Governo constitui outro ponto de discórdia entre os dois políticos. Ulisses Pereira, no do-
cumento 1, considera muito positivas e de grande impacto social as medidas tomadas pelo Governo, referindo
concretamente o aumento das dotações orçamentais para o desenvolvimento da educação, com reflexos na
multiplicação das construções escolares e os desenvolvimentos verificados no «abastecimento de água» e na
«construção de vias de acesso, além de outros investimentos […] tendentes à distribuição equilibrada do pro-
gresso e à elevação do nível de vida das populações». Por seu lado, Pereira de Moura, no documento 3, denuncia
a ausência de uma verdadeira política social do Governo, que apenas beneficia os grandes grupos económicos
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em detrimento das classes trabalhadoras, eternamente sacrificadas pelos «baixos salários, altos níveis de preços
dos bens de consumo, fraca intervenção estatal no sentido redistributivo, quer diretamente quer através dos in-
vestimentos e consumos públicos de índole “social”, como ensino, habitação, saúde, segurança social e promo-
ção rural».

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