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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DO PATRIMÔNIO

PÚBLICO E SOCIAL DA CAPITAL

PJPP-CAP: 748/2019
Representante: ANÔNIMO
Representados: PREFEITURA DE SÃO PAULO, JOÃO CURY NETO,
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, RICARDO LUIZ REIS
NUNES, RODRIGO GOULART, SENIVAL DE MOURA, SOBEI-
SOCIEDADE BENEFICENTE EQUILÍBRIO DE INTERLAGOS e
BENJAMIM RIBEIRO DA SILVA
Objeto: Apuração de eventual desídia da Prefeitura Municipal de São Paulo em
razão de tomada de providências quanto às creches particulares que recebem
verbas públicas e não oferecem infraestrutura e alimentação de qualidade, bem
como a apuração de eventual desvio de dinheiro público destinado às creches
conveniadas, com valores superfaturados de aluguéis e possível envolvimento de
agentes políticos.

Relatório circunstanciado e prorrogação de prazo

Trata-se de representação anônima entregue em atendimento


ao público nesta Promotoria de Justiça comunicando diversas irregularidades na
prestação de ensino infantil na cidade de São Paulo, especificamente nas creches
particulares que, através de convênios firmados com a Prefeitura, recebem verbas
públicas.
A representação menciona a ilegalidade no pagamento de
alugueis para funcionamento de creches conveniadas, com valores muito acima
do preço de mercado, e que acabaria por beneficiar organizações sociais,
vereadores e empresários.
Também, o texto apócrifo alega o suposto favorecimento e
envolvimento dos vereadores RICARDO LUIZ REIS NUNES, RODRIGO
GOULART e SENIVAL DE MOURA, através de seus assistentes de gabinete e
familiares, com a SOBEI- Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos e seu
superintendente BENJAMIN RIBEIRO DA SILVA, que recebe mensalmente da
Prefeitura R$329.000,00 mensais para pagamentos de aluguéis.

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Outra irregularidade retratada nos autos seria referente à má


prestação de alimentação pelas creches conveniadas. A merenda escolar, segundo
consta nos autos às fls. 19, é efetuada com a transferência de recursos públicos
para Diretores de Unidades Escolares de Organizações não Governamentais,
apesar de manifestação contrária do Conselho de Alimentação Escolar, pela
dificuldade em acompanhar e fiscalizar os alimentos, e do Conselho Regional de
Nutricionistas, pela precária alimentação prestada.
Foi juntado à representação (fls. 29/56), um Relatório Anual
de Fiscalização do ano de 2017 do Tribunal de Contas do Município de São Paulo,
que apresenta dados relativos às verbas destinadas à educação, os programas de
governo, melhoria da qualidade e ampliação de acesso à educação. Referido
relatório concluiu que foram criadas aproximadamente 31 mil vagas na educação
infantil, sobretudo por meio de parcerias, no entanto, havia cerca de 44 mil
crianças na fila para atendimento. Ainda, foi constatada falha no cumprimento de
padrões mínimos de infraestrutura estabelecidos e em relação aos programas de
alimentação e fornecimento de uniforme e material escolar.
Em matéria jornalística de 13 de setembro de 2019, a Folha de
São Paulo noticiou a realização da “Operação Misantropia”, que cumpriu
diversos mandados de busca e apreensão de suspeitos de chefiarem uma possível
máfia das creches municipais. Referida reportagem noticiou que as investigações
apontam fortes indícios de que há uma organização criminosa com o fim desviar
e se apropriar de verbas públicas destinadas às creches conveniadas à Prefeitura
de São Paulo, bem como brechas na distribuição de alimentação.
O Vereador Celso Giannazi encaminhou manifestação à esta
Promotoria especializada, que foi juntada a fls. 257/260 por semelhança,
oportunidade em que relata a ocorrência de supostas irregularidades no
recebimento de recursos públicos pela denominada “Máfia dos CEI’s” com
base na matéria jornalística já acostada aos autos.
Inclusive, consta da reportagem o suposto desvio de
alimentos de uma unidade CEI, o que foi atestado por uma das funcionárias que
relatou que a comida era colocada em sacos pretos levados em um veículo,
“fazendo assim a subtração desses alimentos destinados à creche”.
Na oportunidade, também juntou a Portaria Intersecretarial
Secretaria Municipal da Fazenda – SMG – n° 15 de 23 de outubro de 2017, que
no art 1° assim dispõe:

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Art. 1º O valor mensal contratado a título de aluguel


de imóveis por entidades parceiras e suportados
com recursos repassados pelo Município de São
Paulo no âmbito de convênios, termos de
colaboração, termos de fomento, termos de
parcerias, contratos de gestão e outros instrumentos
jurídicos congêneres deverá ser limitado a 0,8%
do Valor Venal de Referência - VVR, do imóvel
locado.

§ 1º O percentual de que trata este artigo será revisto


sempre que houver atualização da Planta Genérica
de Valores – PGV ou à critério da Administração.
(Grifo nosso)

Esclareceu o vereador, que o imóvel em que está localizado o


CEI Egídio Corsi tem valor venal de referência de R$ 57.627,00 (cinquenta e
sete mil seiscentos e vinte e sete reais). Segundo a Portaria ora citada, deveria ser
de aproximadamente R$ 461,20 (quatrocentos e sessenta reais e vinte centavos).
O pagamento realizado pela Prefeitura, no entanto, é de R$5.000,00, acrescido o
IPTU.
O Vereador Senival Moura se manifestou a fls. 294/301 e
refutou as informações contidas na representação, informando apenas que a
senhora MARGARETE GOMES VALENTE DA SILVA é assessora
parlamentar de seu Gabinete desde 13/03/2013 e atua dentro da legalidade e
probidade, mantendo conversa direta com lideranças regionais, apresentando
documento com data da admissão da funcionária.
A SOBEI- Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos
juntou planilha contendo a receita e despesa de suas 15 unidades conveniadas (fls.
299/301) no período de janeiro a junho de 2019.
Às fls. 304/308, BENJAMIN RIBEIRO DA SILVA juntou
mídia digital com diversos documentos.
RICARDO LUIS REIS NUNES se manifestou a fls.
309/422, informando que mantém relação com a SOBEI- Sociedade Beneficente
Equilíbrio de Interlagos desde o ano de 1998, tendo atuado como voluntário e
integrado o Conselho Deliberativo, mas não exercendo qualquer cargo desde o

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final de 2010, mantendo apenas relação exclusiva de voluntariado. Informou que


não sabe porque seu nome ainda consta entre os membros do Conselho
Deliberativo e juntou a relação dos membros eleitos em Assembleia Geral
Ordinária. Refutou, ainda, ter editado lei para beneficiar a SOBEI, alegando que
seus projetos de baseiam na legalidade e que buscam o desenvolvimento urbano
da região sul e do extremo sul da Capital. Por fim, informou que o assessor
Reinaldo Tacconi, Marcio Roberto Brugnera e Mario Knoller Junior trabalharam
em seu gabinete, tendo em comum o fato de residirem e frequentarem associações
empresariais e beneficentes na zona sul de São Paulo. Ainda, informou que ele
mesmo, na qualidade de vereador, requereu ao Ministério Público de São Paulo
em 6/2/2017 a instauração de investigação destinada a apurar a prática de
improbidade administrativa em relação ao pagamento de aluguéis supostamente
irregulares à entidades conveniadas na área de educação infantil. Inclusive,
informou que o o inquérito civil instaurado n. 134/2017-5, foi objeto de
promoção de arquivamento pelo E. Conselho Superior, conforme decisão
homologatória juntada aos autos.
A fls. 431/435 foi juntado novo semelhante contendo o
Processo Administrativo n° 2018-0.064.192-0/SME-SP.
A Secretaria de Governo Municipal apresentou resposta a fls.
442/443 e juntou mídia digital com o processo eletrônico SEI
6011.2019/0002119-2, referente à descrição dos dados atualizados relativos à
oferta de vagas em creches, o abastecimento e o cardápio das unidades
educacionais e a descrição dos alimentos adquiridos por ata de registro de preços
ou chamada pública.
RODRIGO HAYASHI GOULART se manifestou a fls.
447/452 e informou que seus pais são participantes assíduos da SOBEI-
Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos desde 1990, tendo atuado nessa
instituição como voluntário, sem ter exercido função diretiva na Instituição.
Refutou qualquer irregularidade no fato de sua mãe ter exercido a função de Vice
Presidente do Departamento Feminino da SOBEI e diz não ser de seu
conhecimento que JULIO CESAR e RENATO GALINDO terem exercido
cargo diretivo na SOBEI.

É o relatório.

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Tendo em vista a necessidade de realização de diligências


complementares, prorrogo o prazo de conclusão deste inquérito civil por
mais 1 (um) ano, nos termos do art. 24 do Ato n. 484/06-CPJ, alterado
pela Resolução n. 1.182/19, e determino:

1. Reitere-se o ofício de fl. 462.

2. Expeçam-se ofícios à Sociedade Beneficente Equilíbrio


de Interlagos – SOBEI e à pessoa de BENJAMIN
RIBEIRO DA SILVA, Superintendente da entidade
mencionada, solicitando a qualificação completa dos
membros eleitos.

3. Expeça-se ofício à Secretaria Municipal de Educação


solicitando todas as informações que se referem aos
recursos que foram objeto de repasses à Sociedade
Beneficente Equilíbrio de Interlagos – SOBEI.

4. Expeça-se ofício ao 10º Distrito Policial da Penha


solicitando cópia integral em meio digital do inquérito
policial instaurado para apurar a denominada “Máfia das
Creches” por meio da “Operação Misantropia”. No
mesmo ofício, diligencie o Sr. Oficial de Promotoria no
sentido de encaminhar cópia integral do presente inquérito
civil à Delegado de Polícia Civil responsável pelo
apuratório.

5. Pesquise-se no COAF informações sobre


movimentações financeiras suspeitas e transações
imobiliárias em nome de Benjamin Ribeiro da Silva, Jean
Gonçalves do Amaral, Rodrigo Hayashi Gourlat e
Ricardo Luis Reis Nunes;

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6. Solicitem-se ao Departamento Estadual de Trânsito


(DETRAN), informações sobre a existência de veículos
em nome de Benjamin Ribeiro da Silva, Jean Gonçalves
do Amaral, Rodrigo Hayashi Goulart e Ricardo Luis
Reis Nunes;

7. Pesquise-se na ARISP a existência de imóveis que


constem Benjamin Ribeiro da Silva, Jean Gonçalves do
Amaral, Rodrigo Hayashi Goulart e Ricardo Luis Reis
Nunes; na condição de proprietários ou ex –
proprietários;

8. Oficie-se à Capitania dos Portos de São Paulo e ao


Tribunal Marítimo solicitando-se informações sobre
embarcações registradas em nome de Benjamin Ribeiro
da Silva, Jean Gonçalves do Amaral, Rodrigo Hayashi
Goulart e Ricardo Luis Reis Nunes e, em caso positivo,
remeta-se cópia do título de aquisição, ou em caso de
construção, da respectiva licença e da prova de quitação
do preço;

9. - Oficie-se à Gerência Técnica do Registro


Aeronáutico da Agência Nacional de Aviação Civil
para que informe a existência de aeronaves registradas
em nome de Benjamin Ribeiro da Silva, Jean Gonçalves
do Amaral, Rodrigo Hayashi Goulart e Ricardo Luis
Reis Nunes; e, em caso positivo, remeta-se a(s)
respectiva(s) Certidão(ões) de Propriedade e Ônus
Reais;

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10. Oficie-se ao Caex – Laboratório de Tecnologia


Contra a Lavagem de Dinheiro – LAB.LD
solicitando a elaboração de Relatório de Pesquisa em
nome de Benjamin Ribeiro da Silva, Jean Gonçalves do
Amaral, Rodrigo Hayashi Goulart e Ricardo Luis Reis
Nunes;

11. Após 30 dias, conclusos.

São Paulo, 15 de setembro de 2020.

JOSÉ CARLOS GUILLEM BLAT


10º Promotor de Justiça do Patrimônio Público e Social

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