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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE MANICA

SECTOR ACADÉMICO/PEDAGÓGICO

CADEIRA: HISTÓRIA SOCIAL E CULTURAL

Nome: Agostinho Marcos Bechane

FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Ciências Sociais é um ramo das ciências, que estuda os aspectos sociais do mundo
humano, ou seja, a vida social de indivíduos e grupos humanos. Isso inclui antropologia,
sociologia, ciência política, estudos da comunicação, marketing, administração,
arqueologia, geografia humana, história, ciência da religião, contabilidade, economia,
direito, psicologia social, filosofia social, e serviço social.

As Ciências Sociais nos ajudam a “limpar a lente” para enxergarmos melhor as


diferentes realidades com que convivemos. Elas têm como objeto de estudo tudo o que
diz respeito às culturas humanas, sua história, suas realizações, seus modos de vida e
seus comportamentos individuais e sociais. Elas ajudam a identificar e compreender os
diferentes grupos sociais, contextualizando seus hábitos e costumes na estrutura de
valores que rege cada um deles.

As áreas constitutivas das ciências sociais: Sociologia, Antropologia e Ciência Política.


A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações
entre os diversos fenômenos sociais. Na Antropologia privilegiam-se os aspectos
culturais do comportamento de grupos e comunidades. Na Ciência Política analisam-se
as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade, dominação,
autoridade são estudados por essa ciência.
Comparação entre os enfoques das Ciências Naturais e das Ciências Sociais

Ao contrário das Ciências Naturais, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se
chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as
interpretações que são feitas sobre a realidade. Neste sentido, no que se refere ao objeto
de estudo e, consequentemente ao método de investigação, as ciências sociais diferem
bastante das ciências naturais.

Tal diferença, aliás, suscita intensos debates quanto à validade e o rigor científico do
conhecimento produzido pelas ciências sociais. Os argumentos utilizados têm como
princípio epistemológico a dificuldade de reconhecê-las como verdadeiras ciências, à
medida que elas tratam com eventos complexos, de difícil determinação, uma vez que
envolvem valores e significados socialmente dados.

Outra questão reside no fato de estar o pesquisador social, de alguma forma, envolvido
com os fenômenos que pretende investigar dificultando a objetividade e a neutralidade
científica. É possível, percebermos, portanto, que as ciências sociais não podem ser
enquadradas em “modelos” de cientificidade de outras ciências, pois possuem uma
racionalidade e especificidades próprias, relativas ao seu objeto de estudo.

A importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade.

O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas na


concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato. Por estudar a ação dos
homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das
aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem
ferramenta importante para o desenvolvimento de compreensão crítico-reflexivo da
realidade.

Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da
atividade humana. Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de
políticas públicas, até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada
vez mais em conta resultados de investigações sócio-antropológicas, à medida que estas
buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças,
valores e ideias.
Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das
sociedades contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam
compreendê-las. Deslocamentos de pessoas e grupos motivados pelo processo de
globalização da economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo planeta,
trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma “sociedade em rede”,
novos modelos de família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso,
entre outros, constituem temas de trabalhos de cientistas sociais contemporâneos.
Problemas Sociais e Problemas sociológicos

Sabem que vários problemas que nos afetam individualmente são compartilhados por
outros tantos indivíduos, constituindo-se, por assim dizer, problemas sociais. Entretanto,
existe uma diferença entre problemas sociais e problemas sociológicos. O “problema
social” designa comumente algo que atinge um grupo, ou uma categoria de indivíduos,
as drogas, por exemplo. Embora a classificação de um problema social possa ser
subjetiva, afinal de contas, o que é um problema para nossa cultura pode não ser em
outra.

Em outras palavras, o problema social é uma situação que afeta um número significativo
de pessoas e é julgada por estas ou por um número significativo de outras pessoas como
uma fonte de dificuldade ou infelicidade e considerada suscetível de melhoria. Já os
problemas sociológicos são o objeto de estudo da Sociologia enquanto ciência, a qual se
debruça sobre esses para compreender suas características gerais.

Como vimos anteriormente, a Sociologia estuda os fenômenos sociais, sendo eles


percebidos como problemas sociais ou não, lançando mão de uma observação
sistemática e pormenorizada das organizações e relações sociais. O problema
sociológico é uma questão de conhecimento científico que se suscita e resolve no
âmbito da sociologia.

O papel do indivíduo na sociedade

A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e


sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam
verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual um indivíduo se
torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com
determinados atributos pré-concebidos.

O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura.


Segundo Ralph Linton (O indivíduo, a cultura e a sociedade), em circunstâncias
normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e conseqüente integração na
estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do
todo e mais segura sua recompensa.

Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança.


Como uma simples unidade no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo.
Como indivíduo, ajuda a transformá-lo quando há necessidade. Desde que nenhum
ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode sobreviver
sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos
problemas.

O conceito de cultura

O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do


pensamento humano, no entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre
esta questão. O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward
Tylor que, em Primitive Culture, formulou a seguinte definição: “cultura é todo
complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade”.

No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como
o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever
completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos
necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como
pessoas que viveram antes de nós o desempenharam.

Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender as


diferenças entre os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas de uma vez por
todas, por meio de um roteiro geográfico ou de uma raça, como equivocadamente
pensavam os defensores do determinismo geográfico e do determinismo biológico, mas
em diferentes configurações ou relações que cada sociedade estabelece no decorrer de
sua história.

A prática etnográfica Na segunda metade do século XIX esta metodologia foi


questionada, afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever
eventos que nunca se vivenciou? Assim cunhou-se a prática etnográfica que é a
metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai
ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia
a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de
escrita que é o registro final desta experiência.

Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste


em “impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O
etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da
cultura que estuda”.

No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por
quê?

Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes:
pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser os mesmos para
todos! Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de
quê? Qual é o padrão “normal” segundo o qual analisamos o “diferente”? Geralmente
estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é
concebido como estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos
etnocentrismo.

Etnocentrismo Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da “visão


do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros
são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições
do que é a existência.

No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no


plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.”. Esse autor nos
alerta, ao analisar o etnocentrismo, para a questão do choque cultural. Como ele afirma,
“de um lado conhecemos o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas
parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual,
mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados
em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente.

Aí então de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às


vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não
reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à
sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe”.

Relativismo cultural

É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a


lógica da vida do outro. Ainda segundo Roberto da Matta, “antes de cogitar se
aceitamos ou não esta outra forma de ver o mundo, a antropologia nos convida a
compreendê-la, e verificar que ao seu jeito outra vida é vivida, segundo outros modelos
de pensamento e de costumes (…) pois cada sociedade humana conhecida é um espelho
onde nossa própria existência se reflete”.

Diversidade cultural e globalização

Conforme estudado no capítulo anterior, em todas as sociedades humana percebemos a


existência de diversos hábitos, costumes, linguagem, estilos de vida. Essa
multiplicidade de formas de ver, sentir e se inserir no mundo denomina-se diversidade
cultural.

Como consequência das grandes transformações verificadas com a expansão do


processo de globalização nas últimas décadas, o mundo tornou-se, cada vez mais,
marcado pela diversidade cultural e a convivência de diferentes formas de agir, de
padrões culturais, de estilos de vida.

Esse processo, definido por Anthony Giddens como “a intensificação de relações


sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos
locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e
vice-versa”, colocou em contato, principalmente através das tecnologias de mídia,
povos e culturas distintas.
Contudo, devemos notar que esse processo foi liderado pelos Estados Unidos da
América, que impôs seu modelo de vida como o padrão a ser seguido pelos outros
países, provocando movimentos contestatórios a esse domínio, denominados
movimentos antiglobalização.

Desta forma, o multiculturalismo pressupõe uma visão positiva da diversidade cultural,


privilegiando o reconhecimento, valorização e incorporação de identidades múltiplas
nas formulações de políticas públicas e nas práticas cotidianas.

O Iluminismo: a base filosófica da criação do Estado burguês Com o surgimento do


Iluminismo, no século XVIII, a sociedade passa a ser cada vez mais abordada como
uma problemática maior para os adeptos da “filosofia das luzes”. A partir daí,
estabelece-se importante discussão para a compreensão da vida em sociedade: a
passagem do estado de natureza para o contrato social.

Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as


terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais
forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a
posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força do mais
forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar.

Na concepção de Rousseau (no século XVIII), segundo a qual, em estado de natureza,


os indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes
dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo canto, numa
língua generosa e benevolente. Esse estado de felicidade original, no qual os humanos
existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um
terreno e diz: “É meu”.

A divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado de


sociedade, que corresponde, agora, ao estado de natureza hobbesiano da guerra de todos
contra todos.

O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma


percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder
da força. Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos
decidem passar à sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder político e as
leis.

A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato


social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens,
riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro (o soberano) o poder para
criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social funda a
soberania.

Outro autor importante para a formação do pensamento burguês foi John Locke,
pioneiro do pensamento político liberal. Para esse autor, o Estado existe a partir do
contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe atribui , mas sua principal finalidade é
garantir o direito natural da propriedade..

As revoluções burguesas Foi neste contexto que a Europa viu acontecer muitas e
importantes mudanças no cenário político, econômico e social, como as revoluções
Francesa e Industrial. Essas revoluções formaram, assim, a base do Estado moderno.
Por isso, o que se chama normalmente de revolução burguesa é o processo pelo qual o
sistema capitalista passou a dominar a vida humana. Burguesia é a classe social surgida
no mundo feudal da Idade Média europeia. Originalmente, são os artesãos de diversos
ofícios e os comerciantes que se concentram em locais que virão a serem as cidades
medievais.

A palavra burguês significa homem do burgo, isto é, da cidade medieval. Era, pois,
uma classe citadina que se formava e que trazia um modo de produção diferente,
baseado na exploração do trabalho como fonte de riqueza. É interessante observar que a
palavra alemã Bürger, homem do burgo, da cidade, pode significar burguês ou cidadão.
O Código Civil alemão, tão importante para os estudos jurídicos, chama-se, em alemão,
Bürgergeseztbuch, livro de leis do cidadão.

A revolução burguesa é um processo europeu que se estendeu pelo mundo inteiro.


Embora países como a Holanda e Portugal tenham vivenciado o capitalismo mercantil
antes, Inglaterra e, depois, França mergulharam nessa sucessão de transformações
sociais que marcaram a transformação radical da vida social humana.

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