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22/04/2019 Notícias - IVA - Direito à dedução (Portagens) - OCC - Ordem dos Contabilistas Certificados

IVA - Direito à dedução (Portagens)

PT20097
IVA - Direito à dedução (Portagens)

É dedutível o IVA suportado pelas empresas em talões de portagens e faturas da Via Verde relativa a viaturas
de mercadorias?

Parecer técnico

De acordo com o exposto, questiona-nos relativamente à dedutibilidade do IVA em talões de portagens e faturas da "Via
Verde" relativa a viaturas de mercadorias.
O mecanismo das deduções é uma característica do imposto sobre o valor acrescentado e esse direito apenas pode ser
utilizado por sujeitos passivos e nas condições previstas no artigo 19.º e seguintes do Código do IVA.
Deverão, assim, aqueles normativos ser consultados por forma a determinar se estarão, ou não, reunidas as condições para se
poder exercer aquele direito, nomeadamente (para além da obrigatoriedade de possuir faturas passadas na forma legal -
artigo 19.º n.º 2), os do artigo 20.º do CIVA que referem só poder deduzir o imposto que tenha incidido sobre bens ou
serviços adquiridos, importados ou utilizados pelo sujeito passivo para a realização de transmissões de bens e prestações de
serviços sujeitas a imposto e dele não isentas ou para as transmissões de bens e prestações de serviços previstos na alínea b)
do n.º 2 desse mesmo artigo.
Mesmo verificando-se estarem reunidas as condições do artigo 19.º e 20.º do CIVA, haverá ainda que analisar o artigo 21.º do
CIVA, que afasta este direito à dedução mesmo que reunidas as condições acima descritas.
É de ter em conta a classificação do Documento Único Automóvel da viatura em causa: se se classifica como viatura de
turismo (ou seja, viaturas ligeiras de passageiros, ligeiros mistos e ligeiros de mercadorias com mais de 3 lugares), conceito
expresso na alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA.
Efetivamente a alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º não descreve que apenas os veículos até três lugares são considerados como
veículos de mercadorias, mas é intrínseco à sua natureza, pois tem a ver com o tipo de viatura. Uma viatura de dois ou três
lugares está destinada, pela sua construção e equipamento, a ser afeta unicamente ao transporte de mercadorias ou a uma
utilização com caráter agrícola, comercial. O que já não sucede com as viaturas com mais de três lugares, pelo que se inserem
no conceito de "viatura de turismo".
Por outro lado, sendo um veículo misto ou de transporte de passageiros, indicação também constante do livrete, e tendo
menos de 9 lugares, incluindo o condutor, não pode ser exercido o direito à dedução. Tendo mais de 9 lugares, incluindo o
condutor, já não é considerado uma viatura de turismo, mas sim veículo pesado.
Entretanto alertamos que a Autoridade Tributária e Aduaneira, desconsidera a dedução do IVA suportado na aquisição e
utilização de viaturas de mercadorias utilizadas por profissionais liberais que se enquadrem na tabela de atividades do artigo
151.º do CIRS, como por exemplo os Contabilistas Certificados, Advogados, etc., por considerar que esses tipos de viaturas
(de mercadorias) não coaduna com tais atividades liberais que não incluem transporte de bens.
No entanto, o IVA suportado na aquisição de bens referidos na alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA, bem como em
serviços de reparação ou manutenção a eles referentes, confere direito à dedução (nos termos do n.º 1 do artigo 20.º,
conjugado com o n.º 2 do artigo 21.º do CIVA), quando tais bens constituam objeto da atividade do sujeito passivo, ou seja,
quando se trate de um bem cuja venda ou exploração é objeto da atividade (exemplos: quando o objeto de atividade do
sujeito passivo seja venda, aluguer de viaturas, exploração de táxi, etc.).
Fica afastada a exclusão do direito à dedução [nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA] quando estas
despesas respeitem a "viaturas de turismo" cuja venda ou exploração constitua objeto da atividade do sujeito passivo [alínea
a) do n.º 2 do mesmo artigo].
A informação vinculativa Processo n.º 3786, vem esclarecer no ponto 16 o qual transcrevo:
"Assim, caso o uso das viaturas se esgote nos serviços prestados e faturados aos clientes, poderão as mesmas ter
enquadramento na referida norma legal, desde que seja estabelecido um adequado critério de verificação da respetiva
utilização, o qual, pode ter como base nomeadamente, o controlo de quilometragem do veículo em função dos serviços de
transporte realizados, por exemplo, mediante a elaboração de listagens com a identificação do percurso e quilometragem do
veiculo no inicio e no termo do serviço realizado e ainda, a identificação do cliente e a referência à fatura ou documento
equivalente que suportou a operação, de modo a revelar de forma inequívoca, que a utilização de tais viaturas é
exclusivamente afeta à atividade negocial do sujeito passivo e não desviável para outros consumos."
Sendo uma viatura classificada como "ligeira de mercadorias" está excluída do direito à dedução, desde que tenha mais de 3
lugares (viatura mista). Caso se trate de uma viatura ligeira de mercadorias que tenha até 3 lugares, não se aplica a exclusão
do direito à dedução prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA, podendo desta forma, deduzir o IVA referente à
aquisição, conservação, reparação, portagens e estacionamento.
No que respeita às faturas da "Via Verde", chamamos a atenção que "normalmente" o documento enviado pela Via Verde não
é uma fatura mas sim um extrato/resumo que a entidade que efetua a cobrança das portagens disponibiliza aquando da
utilização de, por exemplo, uma autoestrada ou de um parque de estacionamento a entidade que presta o serviço ao utilizador
não é a "Via Verde" é o cliente dessa entidade que gere a portagem. A entidade "Via Verde" apenas gere a cobrança e os
pagamentos decorrentes dos serviços prestados pelas diversas entidades que estão a prestar os serviços, que além de
portagens podem atualmente ser estacionamentos, abastecimentos de combustível, entre outros.
A emissão da fatura da utilização do serviço é feita pelas empresas concessionárias (sem prejuízo da entidade "Via Verde"
cobrar o seu serviço) e são estas empresas concessionárias que comunicam as faturas emitidas.
Nos extratos que normalmente são enviados pela "Via Verde" aparece a informação de cada uma dessas faturas emitidas.
Aparentemente, tais faturas são emitidas sem NIF da entidade utilizadora do serviço, no caso de não existir, ainda, autorização
por parte do utilizador para que a "Via Verde" disponibilize a tais empresas o seu NIF.
Verifica-se que mediante consentimento escrito esta situação pode vir a ser ultrapassada, para isso a entidade utilizadora deve
diligenciar junto da entidade "Via Verde" para que esta disponibilize o contribuinte do sujeito passivo para que as
concessionárias incluam esse dado na fatura que emitem e essa fatura passe a ser visível no sistema e-fatura.
Desta forma, se pretender acautelar a legitimidade do exercício do direito à dedução terá de informar a entidade "Via Verde"
que pode disponibilizar o seu número de identificação fiscal, após este procedimento existe a possibilidade de solicitar o

https://www.occ.pt/pt/noticias/iva-direito-a-deducao-portagens/ 1/2
22/04/2019 Notícias - IVA - Direito à dedução (Portagens) - OCC - Ordem dos Contabilistas Certificados
original da fatura a cada uma das entidades concessionárias, e assim salvaguardar o exercício do direito à dedução, pois
passará a estar na posse da fatura e não apenas de um extrato/resumo que a entidade que efetua a cobrança lhe
disponibiliza.
Em suma, solicitando a entidade o envio de cada uma das faturas, e a partir do momento que o NIF da entidade for
disponibilizado para o efeito, o IVA dessas portagens e tendo em conta, as situações anteriormente referidas relativamente aos
condicionalismos das viaturas de mercadorias, poderá o IVA da "Via Verde" ser dedutível de igual forma como o IVA dos talões
das portagens, de acordo com o explanado no Ofício-Circulado n.º 30144 de 12/04/2013 que determinou ao abrigo do n.º 7
do artigo 40.º do CIVA a equiparação dos talões de portagem a faturas para efeitos dos artigo 36.º e artigo 40.º do CIVA, o
que permite que sejam documentos bastantes para exercer o direito à dedução.

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