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MEDUZA

MEDUZA Tratamento 2020

Roteiro de COELHO DE MORAES


marcoantoniocoelhodemoraes@gmail.com
1.

CENA 1
Mulher sai da Igreja. Mulher chega em casa. Família faz
surpresa com bolo e velhinhas. Cantam parabéns. Ela saca de
um revolver e atira em todos.

CENA 2
Fiéis se preparam para a comunhão. Fazem a fila. O padre dá
as hóstias. Acompanha-se três deles à casa. Deitam e
morrem.

CENA 3
Grupo em farra noturna. A brincadeira vira coisa violenta.
Afogamentos, marteladas nos dedos, tesouras cortando
órgãos.

CENA 4
INT. QUARTO. NOITE
Iluminação de abajur. MEDUZA deitada sobre um sujeito.
Dormiram juntos. MEDUZA se levanta mas não se vê o rosto.
Vai ao espelho. Ajeita o cabelo. Toma um celular. Digita e
fala:

MEDUZA
Quero você a sessenta metros.

O sujeito deitado se mexe na cama.


Resmunga.

SUJEITO
Quero mais.
Venha cá...

MEDUZA
Toma.

MEDUZA atira duas vezes, friamente. Fecha na arma


fumegante, eleva-se pelo corpo até fechar nos olhos.

ABERTURA
Música tema. Mulher que anda. O corpo da mulher. Saia justa
ao corpo. Cabelos vermelhos encaracolados que balançam. Na
mão uma arma. Créditos rolando. No momento final, MEDUZA
vem por um corredor e se mostra a meio corpo.
A palavra MEDUZA surge ao final da música. Congela-se a
imagem épica.(fade out)

CENA 5
EXT. RUA. DIA
2.

REPÓRTER DE TV
Casos muito estranhos de assassinatos e
brutalidade atingiram nossa cidade.
A polícia está desnorteada.
Os agentes dos terríveis atos são
pessoas comuns que nunca tiveram nenhum
envolvimento com o crime.
Outros, hoje mortos, eram pessoas
pacatas e sem problemas aparentes.
E nessa casa, como fechamento dos
acontecimentos da noite,
foi encontrado morto um importante
empresário da cidade.
A polícia não revelou suspeitos.

CENA 6
INT. SALA. TARDE
Um homem assiste a notícia do REPORTRER DE TV; enquanto a
imagem da TV se afasta a mão do homem, aparece se
contraindo nervosa.

CENA 7
INT. DELEGACIA DE POLÍCIA. TARDE
Dois detetives conversam sobre os casos. Andam pela
delegacia que tem muita gente entrando e saindo.

JUVENAL
Essa morte desvirtuou nossas pistas.

CARLOS
Juvenal, ele era o principal suspeito?

JUVENAL
Não!
É que a história tinha uma linha única.
Todo mundo meio religioso.
Com a morte do empresário,
que todo mundo sabe que o cara era um
tremendo galinha,
a investigação andará a passo de
tartaruga.

CARLOS
E aí?

JUVENAL
O que as testemunhas disseram?
3.

CARLOS
Não muito.
Só que ele foi visto com a sua
namorada...
na noite do assassinato.

JUVENAL
Então ela o matou?

CARLOS
É possível.
Mas não sabemos nada sobre ela.
Está desaparecida.

JUVENAL
Nem deve ser da cidade.

CARLOS
Com certeza.
Pelo jeito não é daqui e nem da região.

JUVENAL
Talvez seja do inferno.

CARLOS
Esquece esse papo de inferno.

JUVENAL
Afinal...
ela matou as pessoas que eram
religiosas...
e se a moda pega?

CARLOS
Calma... ela quem?
Não temos nada certo ainda.
Pode ser um homem...
e não essa mulher que todo mundo
resolveu culpar.

JUVENAL
Tá certo, Carlos.
Pode ser qualquer um.

CARLOS
Depois, mulher ou homem...
A pessoa não estava sozinha.

CENA 8
4.

INT. IGREJA. MISSA


A mão de padre com anel e tudo em primeiro plano. Entrega a
hóstia para um fiel. Fiel vem beijar a mão e acaba
mordendo. Padre dá um tapa na cara do fiel. O fiel cai
sobre os bancos da igreja com a hóstia na boca. Olhar
esbugalhado do fiel. Padre chacoalha a mão demonstrando
dor, sem tirar os olhos do fiel estatelado.

CENA 9
INT.DELEGACIA. TARDE
O detetive JUVENAL, em sua mesa, escreve relatórios. CARLOS
se aproxima com mais papeis.

CARLOS
Algumas provas chegaram.
A única coisa em comum entre as mortes
é o fato de terem vindo de alguma coisa
ou qualquer coisa relacionada com as
festas e assuntos de Igreja.
Menos uma.

JUVENAL
Qual?

CARLOS
O cara que morreu depois de trepar.
Esse não tem nada a ver com o caso,
mesmo.

JUVENAL
Então tinha mulher na jogada.

CARLOS
Não, necessariamente.
Ele podia estar acompanhado de homem.

JUVENAL
Ah! É mesmo.

CARLOS
Aparentemente foi só isso.
Trepou e morreu. Estava até sorrindo.
Aí sim eu tenho que concordar que a
culpada até pode ser o tal
acompanhante...
O sujeito tomou dois tiros.

CARLOS
5.

Isso se ele não tiver outro tipo de


gosto...

JUVENAL
É... tem isso também.

CARLOS
Qual é o comando, então?

JUVENAL
A polícia civil fica com esse caso do
empresário. Pedimos ajuda à PM para
autuar...
um pessoalzinho aí...
e ver se há ligação com as outras
mortes.
As investigações continuam e eu quero
que você se empenhe mais na questão das
Igrejas.

CARLOS
Pode deixar.
É só Igreja católica?

JUVENAL
É! Por enquanto...

CARLOS
O cara que morreu é daqui da cidade?

JUVENAL
O único que não tinha vindo de Igreja
alguma.
A única relação é que ele era
proprietário de uma fábrica de
hóstias...
fornecia material para cultos e
liturgias.
Periodicamente restaurava Igrejas do
interior.

CARLOS
Rico?

JUVENAL
Tinha muito dinheiro.
Mas, manda bala nisso que eu quero
resolver esse caso antes das férias.
Se não o chefe me come o rabo.
Vai lá, vai.
6.

CENA 10
INT. IGREJA. CONFESSIONÁRIO. NOITE
Dois padres conversam como se se confessassem. Conversa
entrecortada de suspiros e pausas.

PADRE 1
Ele não tem culpa nenhuma...

PADRE 2
Nunca têm.

PADRE 1
Não... é muito sério.
A coisa é muito mais complexa.
Há outros envolvidos.
Escalões mais altos.

PADRE 2
Ele não tinha nenhuma informação?

PADRE 1
Não...
no entanto recebeu um bilhete anônimo
dizendo para ele ficar longe de tudo...
inclusive da mulher...

PADRE 2
Ele precisava ficar vivo para continuar
a movimentar o negócio...
Se ele mentiu...
não poderia durar muito, mesmo...

PADRE 1
É tudo muito pior e extrapola os
poderes da nossa paróquia.

PADRE 2
Também...
quem mandou que fizessem essa
experiência justo aqui.
Uma cidade pequena... provinciana...

Pessoas entram na Igreja.

PADRE 1
Bom... fica calado.
É hora da missa.
Depois a gente se fala.
7.

CENA 11
INT. RESIDÊNCIA. NOITE
Mulher em casa catando alguma coisa no chão. Criança chora
na sua cadeirinha, atrás dela. Mulher se volta rapidamente.
Olhar desesperado. Armada de uma faca. Parte psra cima da
criança.

CENA 12
EXT. ROTATÓRIA DE ESTRADA. DIA
O carro ao longe se aproxima na estrada. Para no acostamento.
O motorista sai e olha em torno. Dá uns tapinhas no vidro do
carro, faz sinal de positivo. De trás sai uma mulher –
MEDUZA. Close, retira os óculos escuros. Observa a cidade.
Um sorriso sacana.

CENA 13
INT. ESCRITÓRIO SACRISTIA. TARDE.
Um soco na mesa. O MONSENHOR está furioso. Outros senhores
o ouvem um tanto apreensivos.

MONSENHOR
Não quero saber.
As minhas ordens foram bastante claras.

PADRE1
Mas, monsenhor.
Parece que tudo saiu do nosso controle.
Agora tem a polícia civil, a polícia
militar,
sem contar uma série de detetives
particulares...

MONSENHOR
Chega de desculpas.
Ação, padre. Eu quero ação e
resultados.
Até agora só tenho ouvido desculpas.

PADRE 2
Mas, já disse...
perdeu-se o controle.
Onde estão os químicos?

MONSENHOR
Não sei nada de químicos.
Cedemos as paróquias para essas
primeiras experiências.
8.

Convoque os pastores das outras


Igrejas... convoque os bispos...

PADRE 1
Das seitas, o senhor quer dizer...

MONSENHOR
Você bem sabe o que eu quero dizer...
tem coisas que não se fala em voz
alta... chame os pastores, os bispos,
os anciãos...
o nome que quiserem..
o título deles não me interessa....
quero apoio geral nesse momento.
Não responderemos a isso sozinhos.

Os PADRES saem.
MOSENHOR está preocupado.

CENA 14
INT. MOTEL.
MEDUZA se instala num Motel. MEDUZA está de roupas menores.
Toma o telefone.

MEDUZA
Quero você a quarenta metros.
Desfaz a sua mala, primeiro.
Carrega sua arma e sai.

CENA 15
EXT. ESTRADA. CAMPOS. DIA
Jovem corre, sem preocupações, fone de ouvido, pela
estrada, despreocupado. Quando chega a meio corpo na tela,
som de tiro, e cai.

CENA 16
INT. HALL DA DELEGACIA. TARDE
REPÓRTER DE TV entrevista os delegados JUVENAL e CARLOS.
Há passantes que entram, e saem da Delegacia. Curiosos.

REPÓRTER DE TV
As mortes se avolumam...
o que está faltando, delegado?

JUVENAL
Não temos pistas.

REPÓRTER DE TV
9.

A mulher que matou o filho,


o padre que atacou o fiel...
o rapaz assassinado na estrada...
são coisas normais?

CARLOS
Não... não são...
Por isso convocamos alguns
especialistas para acompanhar o caso.
Gente que estuda essa coisa de
psicologia e comportamento.

REPÓRTER DE TV
Quanto tempo ainda o cidadão ficará
inseguro?

CARLOS
Juro que não sei.
Estamos fazendo de tudo.
E são só dois dias.

REPÓRTER DE TV
Dois dias e uma dezena de mortes...

O REPÓRTER DE TV se livra do delegado, deixa-o de lado


falando sozinho e se vira para a câmera.

CORTE PARA CASA


De sua casa uma pessoa assiste o noticiário. Mão crispada.
Tamborila inquieto no braço da poltrona. Ouve da TV, cuja
imagem está fora de foco:

Não percam...
dentro de instantes mais notícias sobre
as mortes que abalam a cidade.

A mão desliga a TV com o controle remoto.

CENA 17
EXT. RUAS. BECOS E RUELAS. DURANTE O DIA
MEDUZA investiga. Ruas. Conversa à distância com pessoas e
comerciantes. Às vezes alguma brutalidade, rispidez. As
cenas se passam durante um dia de manhã até a noite. MEDUZA
se aproxima, na noite, com seu carro ao motel. Fala ao
motorista.

MEDUZA
Você está liberado.
Quero você de volta à uma da manhã.
10.

O MOTORISTA a cumprimenta, servil.

CENA 18
INT. ESCRITÓRIO MONSENHOR. NOITE.
Alguns homens se reúnem. Dois padres e dois outros que são
pastores. MONSENHOR está em pé. Há uma SECRETÁRIA que anota
de tudo. Mesa com bebidas.

MONSEHOR
Assim está a questão.
A experiência deu um bom resultado.
Mas, se transformou em algo muito
público.
Não há mais controle sobre o que se
desenvolveu e o que vai se desenvolver
daqui por diante.

PASTOR 1
Não era essa a meta a ser alcançada?

MONSENHOR
Uma parte dela sim.
Mas, as autoridades estão se metendo,
fazendo perguntas.
Alguns dos fiéis estão desorientados.
Preocupa a mim a ação de
determinados... detetives...
Principalmente de dois detetives...
honestos.

PASTOR 2
Eu pensei que isso fosse lenda.

Risos.

PADRE 1
Só esses dois?

PASTOR 2
Sei que há uma milícia de ministros e
fiéis que se organizam para um mutirão
de justiça...
não sei aonde isso vai levar...

PASTOR 1
Pensei que vocês soubessem o que
faziam...

MONSENHOR
11.

E sabemos...
Tudo foi muito bem planejado...
Caminha corretamente.
Mas, não contávamos que a comunidade
fosse reagir dessa forma.
As comunidades são sempre muito
covardes.
Se não fosse assim não precisariam de
nós para protege-los,
não é mesmo?

PASTOR 2
O que o MONSENHOR deseja de nós?

MONSENHOR
Nossas igrejas estão com limites para
agir, agora que a polícia está por toda
parte.
Quero que vocês estimulem seus membros
a denunciar uma ação demoníaca...
um distúrbio diabólico que está tomando
conta da cidade...
inventem uma história qualquer...
vocês são mestres nesses assuntos...
metafísicos.

PASTOR 1
Assim... sem mais nem menos?

MONSENHOR
Vocês são mestres em ver demônios por
toda parte.
Deve ser fácil.
Somos inimigos mesmo.
Continuem com o discurso de destruir a
Igreja.

PASTOR 1
Sim, mas... estamos desprotegidos...

MONSENHOR
A massa de trabalho que vocês têm é
muito mais fácil de manejar do que a
nossa.
Os fiéis de suas Igrejas são mais
carentes e mais crédulos que os nossos.
Depois...

PASTOR 2
Depois o quê?
12.

PADRE 1
Estamos fazendo o que nos cabe...
o resultado está por toda parte.
Basta olhar.

Os pastores se entreolham.

PASTOR 1
Está bem.
Vamos encomendar uma espécie de ação
pela santidade.
Vamos botar a culpa em vocês pelo que
vem acontecendo,
usando a oportunidade de que os mortos
e desesperados são quase todos de suas
Igrejas.

PADRE 2
Muito bem. Ficamos assim.
Mas, tem que ser rápido.

Os homens percebem que o assunto acabou. Levantam-se, se


despedem polidamente e saem. Fica o MONSENHOR e fica a
secretária que tomava notas. Olham-se. Ela abre as pernas,
convidando-o.

MONSENHOR
Um pouco de água benta para refrescar.

CENA 19
EXT. CAMPO. FOGUEIRA. NOITE.
Escoteiros em volta da fogueira. Cantam alegres. De repente
um grande grupo se olha e se entende. Pega um dos
escoteiros distraídos e o joga na fogueira.

CENA 20
INT. CASA QUALQUER. DIA.
Ação policial na rua para adentrar uma casa. Os detetives
lideram a ação. CARLOS e JUVENAL arrombam a casa. Lá
encontram homens jogando baralho, completamente alheios e
inocentes, que olham assustados.

POLICIAL
Pista falsa, detetives!

Todos saem envergonhados.


13.

CENA 21
INT. CLUBE. DIA
Os detetives CARLOS e JUVENAL entram em um clube e vão ao
vestiário. Vários policias estão juntos na empreitada.
Grande tensão. Todos invadem o vestiário. Tem ninguém lá
dentro. Um detetive olha para o outro, decepcionados.

CENA 22
INT. IGREJA. SACRISTIA. NOITE.
Os detetives CARLOS e JUVENAL invadem uma sacristia.
Encontram duas madres abraçadas de modo suspeito. CARLOS
fica furioso e sai para a rua.

CENA 23
INT. IGREJA. ESCRITÓRIO MONSENHOR.
O carro de MEDUZA se aproxima da igreja ou casa paroquial.
MEDUZA desce e entra. Passa pela secretária. Entrega um
cartão. A secretária olha num caderno.

SECRETÁRIA
MONSENHOR! O senhor tem visita.

Para MEDUZA.

Mais uma virgem para o abate?

Expressão de não entendimento por parte de MEDUZA.

Pode entrar, por favor.

MEDUZA entra na sala.


Cumprimentos frios.
MONSENHOR não tira o olhar de seus afazeres.

MONSENHOR
Quem é você e o que quer?

MEDUZA
Se não se importa...
por enquanto devo ficar incógnita.

MONSENHOR
Se você não pode dizer seu nome...
saia e não me perturbe mais.
Eu tenho o que fazer.

MEDUZA
Já deixei meu nome com sua...
SECRETÁRIA.
14.

Pelo que ela me disse...


desde quando o MONSENHOR deixa de lado
uma mulher como eu.

MONSENHOR
Presta mais atenção em MEDUZA.

Desde quando você sabe o que o


MONSENHOR deixa de lado ou não?
Devo chamar o segurança?

MEDUZA
Um amigo comum...
passou-me essa informação.

MONSENHOR
Esse... amigo comum...

MEDUZA
Está morto....

MONSENHOR
Pausa e um certo interesse.

Muita gente morre todo dia.


Qual a importância desse amigo comum?
Na verdade... as igrejas avançam...
balançando entre a vida e a morte.

O MONSENHOR demonstra certo cinismo.

Devo entender que você veio se


confessar, então... Você o matou...
está com remorsos...
veio à procura de apoio espiritual...
Consolo para sua alma.

MEDUZA
Quem vai precisar de ajuda espiritual é
o MONSENHOR.

MONSENHOR
É mesmo?
Que ousadia... Naturalmente...
para tudo isso encontraremos uma
explicação.
Principalmente para esse gesto
tresloucado.
Parece que a morte desse amigo comum...
trouxe problemas para a sua
consciência...
15.

MEDUZA
Não para a minha consciência!
Você... o matou...

O MONSENHOR sorri, meio debochado.

MONSENHOR
Ah! Quanto disparate nessa profissão...
Nesse sacerdócio...
Sempre nos deparamos com mentes fora de
equilíbrio.
Não é uma novidade.
Nada disso... eu sou um santo homem.

MEDUZA
E é justamente isso que o levará para o
inferno...

MONSENHOR
Sou um MONSENHOR.
Mesmo se fosse verdade,
quem desconfiaria de mim?
Passarei pelas portas do céu
tranquilamente.

MEDUZA
Sendo um MONSENHOR...
faz o que quer e nunca será o suspeito.
Não é?

MONSENHOR
Nunca...nunca... é muito tempo.
Santo Agostinho e as qualidades do
tempo. Leia sobre isso.

MEDUZA
Ou, falamos aqui de pecado mortal?

Olham-se. MEDUZA com olhar desafiador.


MONSENHOR com ar entediado.

MONSENHOR
Entendi...
Você veio ensinar o Pai Nosso ao
Vigário.

MEDUZA
O tal amigo comum tinha um desenho
tatuado no peito, à altura do coração.
16.

MONSENHOR
E o que era?

MEDUZA desenha num papel à mão.


Um círculo com um A escrito por dentro.
MONSENHOR olha o desenho.

E você supõe que esse sujeito era


membro de alguma Igreja satânica,
por acaso?
Ou de algum partido anarquista?
Você acha que esse pessoal fica se
manifestando tão abertamente assim?

MEDUZA
Enquanto dormia ele sonhou...
disse o seu nome.

Olham-se.

MONSENHOR
Pelo jeito você faz serviço domiciliar,
também.
Nada que me espante.
O mundo é uma Babilônia.
Provavelmente ele gostava bastante de
mim, então.
Talvez participássemos do mesmo clube.
Talvez ele fosse meu afilhado.
Talvez fosse um membro da paróquia.

MONSENHOR encara MEDUZA.


Aproxima-se rapidamente da mulher e agarra um seio dela,
Esfregando-o para cima. De repente o solta.

Sou santo.
As tentações estão sob controle.
Só resta que você saia.

O MONSENHOR volta a seus papeis.

CENA 24
EXT. RUA. ANOITECENDO.
Um grupo em volta de um latão, cozinham um churrasco em
conversa tranquila. Riem, de vez em quando, da piada de um
deles. Bebem uma cerveja. Levantando um espeto se vê o
braço de alguém como churrasco.
17.

CENA 25
INT. CÂMARA MUNICIPAL. SESSÃO. NOITE.
Fala o PRESIDENTE

PRESIDENTE
Peço a votação dessa emenda.
Para Não: mantenha-se sentado,
Para Sim: levante-se.

Os vereadores se movimentam.
O PRESIDENTE Observa e conta.

Aprovada!

Secretário chega por trás e dá um recado ao ouvido do


PRESIDENTE.

A partir de agora...
o primeiro secretário assumirá a
presidência dessa Casa.

O PRESIDENTE se retira e pelo corredor se dirige a um


gabinete, os detetives CARLOS e JUVENAL estão esperando.

CENA 26
INT. GABINETE. NOITE

PRESIDENTE
A que devo a honra de recebê-los.

CARLOS
Pedimos perdão por ser a uma hora
dessas, atrapalhando a sessão...

PRESIDENTE
Nada disso... estou aqui para servir...
e como andam as investigações sobre
esses casos horrendos...

CARLOS
Muito ruins, devo dizer...

JUVENAL
Até agora não conseguimos nada.
Não é um caso difícil,
mas faltam algumas peças decisórias.

PRESIDENTE
Como assim? Não há suspeito?
18.

Não há alguma boa pista?

CARLOS
Há.
Mas, parece que as pistas caem sempre
sobre os ilustres membros dessa cidade.
E aí é que mora o perigo.
Pode ser uma armadilha.

PRESIDENTE
Entendo.

JUVENAL
Vimos aqui para dizer ao senhor que
precisamos de suas impressões sobre o
caso.
O senhor deve ir à delegacia para um
inquérito.

PRESIDENTE
Eu?

JUVENAL
Foi o que eu disse.
Os ilustres da cidade estão ficando em
evidência nesse caso.
Pode ser uma armadilha, como já disse.

PRESIDENTE
Pode ser?!

CARLOS
O senhor sabe.
Ser um notável pode ser bom,
mas quando o castelo de cartas
desmonta...

PRESIDENTE
... o que é que acontece...?

CARLOS
Não falte, por favor.
Aqui está a intimação.
O secretário já assinou.

PRESIDENTE
Claro, claro.

JUVENAL
É só isso.
19.

Não queremos atrapalhar mais o seu


trabalho.

Despedem-se e saem. O parlamentar reflete, senta-se na


beirada da mesa, e toma do telefone. Digita e espera
preocupado.

PRESIDENTE
Eu quero falar com o MONSENHOR.

CENA 27
CENAS DE LOCAIS E TEMPOS DIFERENTES.
Perseguições a MEDUZA que corre e atira para trás. Pula uma
cerca. Pula sobre um carro. Rola no chão para se esconder.
Três ou quatro pessoas em seu encalço. Quando ela entra em
um beco, uma sombra aparece para barrar o caminho de MEDUZA.

CENA 28
CENAS CURTAS E CORTES SUCESSIVOS
Por do sol em vários ângulos, lentos e calmos.
O detetive CARLOS recosta em sua cadeira a pensar.
O MONSENHOR com seu terço, senta-se ao lado da SECRETÁRIA e
passa a mão nas pernas dela. SECRETÁRIA recosta a cabeça.
O REPÓRTER DE TV se recosta em sua mesa e pensa olhando para
o computador. Digita.
O parlamentar PRESIDENTE olha pela janela e encosta a cabeça
no vidro. Amassa papéis e os queima.
O detetive JUVENAL pega um leite da geladeira, bebe e medita.
MEDUZA, que estava correndo, e foi surpreendida pelo vulto,
vê que o vulto é seu motorista e de encontro a ele ela fica
protegida. Os perseguidores passam correndo pelo beco.

MOTORISTA
Achei que se ficasse a trinta metros...
estaria muito longe.

CENA 29
INT. MOTEL. QUARTO. MEIA LUZ
O MOTORISTA fala com MEDUZA. Ela está no sofá, sentada, com
as mãos sobre a perna, e pernas elegantemente cruzadas.

MOTORISTA
Tenho umas novidades que podem ajudar.

MEDUZA só observa.

Os caminhões de lixo depositaram vários


corpos no aterro.
20.

Alguns corpos foram levados para


reciclagem. Eles reciclam os corpos e
transformam em alimento.

MEDUZA
Vi isso em um filme.

MOTORISTA
Pois é...
Os filmes trazem boas ideias.

MEDUZA
Que mais?

MOTORISTA
A empresa de coleta de lixo é daquele
empresário que tinha o símbolo pintado
no peito. Lembra?
O que você despachou.

MEDUZA
Lembro, mas essa associação ainda me
escapa, por enquanto.
Sabemos que há alguma coisa entre eles
todos. Como provar a coisa...
é que está sendo o mais difícil.

MOTORISTA
Desde quando você, MEDUZA...
Para fazer justiça...
precisa provar alguma coisa para agir?

MEDUZA
Na verdade... não preciso.

MOTORISTA
Se você já pressente que há um problema
é melhor acabar logo com isso.
O seu tempo curto.
Você tem muitas missões a cumprir.
E essa canalha da cidade se multiplica
a todo momento.

MEDUZA
Algo me diz que esse grupo é muito
forte...
tem proteções... conexões secretas.

MOTORISTA
A Cobertura deles parece ser muito boa.
E agora, você está sendo perseguida,
21.

o que reforça o negócio de que você


está no caminho certo...
deve acabar logo com isso.

MEDUZA
Tem razão. Deixei rolar muito leve.
Preciso agir com maior cautela e mais
força.

MOTORISTA
Maior cautela? Não é de seu estilo.
Além disso temos que levar em conta os
detetives da cidade.
Normalmente estão no bolso de gente
importante.

MEDUZA
Você tem razão.

MOTORISTA
Você optou por esse tipo de vida...
sem nada, ou pouca coisa para viver...
E, se dedicar à aplicação da justiça.

MEDUZA
Você também... deixou tudo.

MOTORISTA
Bem. Era isso.
Precisa de mim para alguma coisa?

MEDUZA
Estou muito tensa.
Fica aqui essa noite.
Vou tomar banho.

O MOTORISTA tira o paletó.

CENA 30
EXT. CAMPO DE FUTEBOL. DIA
Ao longe algumas crianças jogando bola. Aproximando-se, vê-
se que jogam com uma cabeça humana. Ao fundo MEDUZA corre
rente à parede. Pula a parede e cai dentro do cemitério. Sai
em busca de túmulos.

CENA 31
INT. CASA. DIA.
Os detetives CARLOS e JUVENAL, ao entrarem em uma
22.

residência são repelidos, há luta, e quando os detetives já


apanharam bastante, um criminoso, com um machado corta a
mão do detetive CARLOS.

CENA 32
EXT. CEMITÉRIO.
MEDUZA continua vasculhando no cemitério. Às vezes um ou
outro ruído e ela se põe em alerta. MEDUZA procura tumbas e
nomes.

CENA 33
INT. IGREJA. MISSA ILUMINADA
O MONSENHOR, paramentado, reza a missa. Hora da comunhão.
Fiéis em fila. Close da mão dando a hóstia. A boca tomando
a hóstia. Fila de fiéis à espera.

CENA 34
EXT. CEMITÉRIO. NOITE
MEDUZA termina sua busca e sai pela frente, pela portaria
do cemitério. O porteiro, que está distraído, vê MEDUZA
passando pelo portão, desmaia.

CENA 35
EXT. RUA. DIA
Cena com massa de pessoas e barulho de automóveis. Pode ser
uma cena ao vivo nas ruas, com público real. Reportagem de
TV.

REPÓRTER DE TV
Fala para o câmera.
Papagaios de pirata querem aparecer.

Mais um surto de mortes inexplicáveis e


violência inimagináveis.
A polícia está sem rumos.
O desespero e a insegurança tomam conta
da população.
Vamos falar com o povo:
Aqui senhor... por favor...

Transeunte se aproxima.

O que é que o senhor está achando dessa


situação?

TRANSEUNTE 1
Eu não sei mais de nada.
23.

Vou é embora daqui o mais rápido que


puder.

REPORTER DE TV se dirige a outra pessoa.

REPÓRTER DE TV
E a senhora?

TRANSEUNTE 2
Minha família já partiu para outra
cidade.
Aqui não dá mais. Está um horror.

REPÓRTER DE TV larga a mulher e vai para um jovem que toma


sorvete.

REPÓRTER DE TV
E você, jovem?
O que tem a dizer?

TRANSEUNTE 3
Nada... nada a dizer.
Só sei que você é um desses
engraçadinhos...
Se aproveita da tragédia dos outros.

O jovem, que tomava sorvete, joga o sorvete na cara do


repórter e o esfaqueia repetidamente. Foge. O REPÓRTER DE
TV vai ao chão. Tumulto em fade out.

CENA 36
INT. SACRISTIA. NOITE
MEDUZA entra na sacristia, furtivamente. Luz pouca coada
pela janela. Procura por todo canto. Gavetas. Encontra. Uma
caixinha de hóstias. Cheira e guarda algumas no bolso
camuflado. MEDUZA ouve um barulho. Portas que se fecham.
Passadas apressadas. Alguém se aproxima pelo corredor.
MEDUZA procura local para se esconder.

CENA 37
INT. HOSPITAL. NOITE.
JUVENAL vem para visitar CARLOS. Entra meio sem graça.

JUVENAL
E aí, seu maneta!
Pô... que mal, hein?

CARLOS
24.

Você está feliz por que não posso mais


ganhar na “purrinha”.

JUVENAL
Ué! Joga com a mão esquerda.
Vai perder mesmo.

Pausa incômoda.

Quando é que sai daqui?

CARLOS
Sei lá.
Vou ficar de molho por alguns meses.
Já penso nos futuros dia de escritório.
Nunca mais agente de campo.
Sou burocrata agora...

JUVENAL
É mais seguro... tem que aceitar.

CARLOS
E então? Alguma novidade?

JUVENAL
Não vamos falar de trabalho.
Você precisa descansar.

CARLOS
Que nada.
Minha mulher já me viu e saiu daqui
desesperada.
Prometi pra ela que você vai pegar
esses canalhas.

JUVENAL
Pode deixar comigo.
Vou pegar em seu nome. Não se exalte.
Descanse que ainda é o melhor para
você.

CARLOS
É a burocracia ou... aposentadoria.

JUVENAL
Eu vou pegar essa cachorrada...
em seu nome, velho.

CARLOS
Pega sim...
Mas, vá com calma.
25.

Parece gente da pesada.

JUVENAL
E nós somos o quê?

CARLOS se debruça e pega a gola do paletó do amigo.

CARLOS
Nós somos o tipo de detetive que não
deveria existir.

JUVENAL
Se acalma. Eu tô na luta.

CARLOS
Jura que vai pegar os caras!

JUVENAL
Pode deixar. Deixa comigo.
Tô sabendo, também,
que aquela mulher está na cidade.
Vou ficar na cola dela.

CARLOS
Ela é louca!

CENA 38
EXT. RUA. DIA
MEDUZA está nas vizinhanças da sacristia ou Igreja. Encontra
guardas de segurança. Há luta. MEDUZA vence com habilidade
e violência. Ouve vozes. Se esconde. Ela vê de longe o
parlamentar e o monsenhor. Eles discutem. Um outro segurança
se aproxima e passa uma mensagem avisa algo para o MONSENHOR
e o PRESIDENTE. Sai cada um para um lado. MEDUZA vai se
esgueirar e topa com o tal guarda mensageiro. Mais luta no
beco. O guarda toma uma surra.

MEDUZA
Me fala o que você contou para eles.

Pega o cara. Quebra os dedos dele. Corta a boca do cara.

Fala!

GUARDA
Não! Não!

Mais violência. MEDUZA fura um olho do guarda.

MEDUZA
26.

Fala de uma vez.

Tomada de cena à distância, dando entender que o guarda


está falando. No fim MEDUZA se levanta e atira no guarda.
MEDUZA foge na escuridão do beco.

CENA 39
INT. MOTEL. DIA
MEDUZA e o MOTORISTA conversam. O MOTORISTA tira um
envelope do bolso e entrega para MEDUZA.

MOTORISTA
É isso.
O EMPRESÁRIO e o MONSENHOR e o
PARLAMENTAR são sócios na companhia de
reciclagem.
Pastores de outras Igrejas são sócios
minoritários.

MEDUZA
E a tal empresa recicla o que?

MOTORISTA
Corpos humanos.

MEDUZA
Por isso as tumbas, na maioria, vazias.
Transformam em que? Adubo?

MOTORISTA
Alimento. Bolachinhas.
Flavorizantes camuflam muita coisa.
Algumas bolachinhas recheadas... outras...
no formato de waffers.

Enquanto isso MEDUZA abre o envelope.

MEDUZA
É isso. Tem que ser isso.

MOTORISTA
Fechou o caso?

MEDUZA
Preciso de uma última constatação.
Se for o que estou pensando...

MOTORISTA
Só resta exterminá-los.
Como baratas.
27.

MEDUZA
E ninguém deve permanecer vivo
para contar história alguma.

CENA 40
CORTES EM AMBIENTES DIFERENTES. COMPUTADOR.
O Detetive JUVENAL verifica dados no computador e encontra
um e-mail. JUVENAL verifica que está assinado: MEDUZA.
O Parlamentar PRESIDENTE recebe um fax, assinado: MEDUZA.
O MONSENHOR recebe uma anotação da SECRETÁRIA. Informes sobre
MEDUZA.

CENA 41
INT. CASA DA SECRETÁRIA. NOITE
A SECRETÁRIA do MONSENHOR chega em sua própria casa. No
escuro, ao fundo se percebe outra pessoa na sala, quando ela
acende a luz toma um susto. É MEDUZA.

MEDUZA
Quieta. Não se movimente.

SECRETÁRIA
O que você quer de mim?

MEDUZA
Quero ouvir coisas.

SECRETÁRIA
Em que é que eu posso ser útil?
À essa hora da noite.

MEDUZA
Fale das mortes.
Fale do MONSENHOR.
Fale dos aliados.
Fale dos sócios.

SECRETÁRIA
Não sei do que é que você está falando?

A SECRETÁRIA está um tanto desesperada.

MEDUZA
Não enrola e abre a boca, garota.
O que você tinha que ganhar já ganhou.

SECRETÁRIA
Olha... eu estou nervosa.
28.

Deixa beber alguma coisa?

MEDUZA
Larga de besteira, garota.

A SECRETÁRIA vai atrás da bebida. MEDUZA toma o copo da mão


dela e cheira, tentando achar algum tipo de veneno. Não acha
e entrega de volta.

Vai logo com isso.

Rapidamente a SECRETÁRIA abre a gaveta e enfia a mão lá


dentro.

CENA 42
INT. DELEGACIA. SALA DE INTERROGATÓRIO. NOITE
O detetive JUVENAL lança para dentro da sala o jovem que
esfaqueou o repórter.

JUVENAL
Vai abrindo o bico, velho.

JOVEM
Não sei de nada.
Não tô sabendo de nada.

JUVENAL
Deixas de brincadeira e vai falando.
O que é que o repórter tinha a ver com
tudo.

JOVEM
Que repórter?
De que é que você está falando, meu
chapa.

JUVENAL
Dobra a língua mané.
Aqui não tem você coisíssima nenhuma.
Aqui é todo mundo doutor.
E não sou teu chapa.
É melhor falar logo antes que eu chame
o pessoal da linha dura.

Entra outro detetive e entrega um papel para JUVENAL.

OUTRO DETETIVE
Pegamos o cara que cortou a mão do
CARLOS.
29.

O OUTRO DETETIVE sai.


JUVENAL para o JOVEM.

T’aquí, bicho.
Resultado do seu exame de sangue.
Substância alcalóide desconhecida...
e, o escambau.
Suspeita de forte e potente e
estimulador nervoso e muscular de
efeito rápido.

JOVEM
Não sei de nada.
Eu nem uso droga, meu...

O DETETIVE JUVENAL o olha com cara de mau.

... doutor.

JUVENAL
Está aqui, cara.
Não tem como negar.

JOVEM
Eu sou da comunidade...
da comunidade de jovens da Igreja...

JUVENAL
Mas, agora...

Bate a mão na mesa.

...o que eu quero mesmo saber é...


se você estava com aquela mulher.

O jovem o olha, assustado e chora.

CENA 43
INT. CASA DA SECRETÁRIA. NOITE
A SECRETÁRIA tira a mão da gaveta com um monte de hóstias e
enfia na própria boca. MEDUZA olha sem entender. A SECRETÁRIA
vai comendo as hóstias, vai rindo, baba, respira rápido.

CENA 44
CENAS CURTAS SEQUENCIAIS. CORTES.
MONSENHOR sai de sua casa. Toma o carro.
Parlamentar PRESIDENTE sai de sua casa. Toma o carro.
Detetive JUVENAL toma seu carro e sai.
30.

MOTORISTA chega em algum lugar e sai do carro.

CENA 45
A SECRETÁRIA mastiga e engole o bolo de hóstias. Vira-se
para MEDUZA. A SECRETÁRIA está enlouquecida. Salta para cima
de MEDUZA. MEDUZA atira. Pega no ombro da SECRETÁRIA que
sofre um pequeno abalo, mas, continua indo para cima de
MEDUZA. Luta renhida. Muito soco na cara. ASECRETÁRIA parece
não sentir. A SECRETÁRIA está fortalecida. MEDUZA leva a
pior sendo jogada para todo lado, na parede, sobre as mesas.
MEDUZA perde o revólver. MEDUZA procura por algo que possa
usar como defesa. A luta termina quando MEDUZA tem acesso
a martelos e pregos e prega a SECRETÁRIA no chão, após
tremenda martelada na cabeça da mulher, que está espumando
e ainda se debate.

MEDUZA
Agora você vai falar, santinha.

CENA 46
EXT. PRAÇA. DIA.
Tardezinha. Surgem MONSENHOR, PRESIDENTE, o MOTORISTA e o
DETETIVE JUVENAL. Todos armados. Chegam ao mesmo tempo. Um
de cada ponto da praça. Postam-se como que num duelo daqueles
tradicionais. Se estudam. Câmera em traveling circular.
MEDUZA surge atrás do MONSENHOR.

MEDUZA
A prestação de contas.

MEDUZA anda circulando em volta dos quatro. MOTORISTA levanta


a arma e aponta para o MONSENHOR, MEDUZA aponta para o
PRESIDENTE... Apreensão geral.

PRESIDENTE
O que você quer?
Dinheiro?

MEDUZA
Não!
Estamos aqui para prestar contas.

DETETIVE JUVENAL
Levanta arma e aponta para o MOTORISTA.

Quem é você?

MEDUZA
Vamos acertar logo essas contas.
31.

O MONSENHOR e o PRESIDENTE estão


reciclando corpos humanos...

MOTORISTA
Que transformam em alimentos.

MEDUZA
E cada vez precisam de mais e mais...
matéria prima, podemos dizer.

PRESIDENTE e MONSENHOR se olham.

MEDUZA
Depois... Tiveram outra ideia.
Aumentar o fornecimento com mortes que
pudessem parecer acidentais.

MOTORISTA
Por isso, as hóstias envenenadas.
Os fiéis recebiam as hóstias,
iam para casa...
matavam e também morriam.

MEDUZA
Só que houve efeito colateral.
Muita gente morreu com ataques
cardíacos, automutilações e
suicídios... mas outros,
enlouqueceram...
ou tiveram crises mentais de
violência... ficaram incontroláveis.

MOTORISTA
Todo mundo ficava mais forte.
Todo mundo extrapolava nos atos de
vingança.

DETETIVE JUVENAL
Por que os padres?
Por que os pastores das outras Igrejas?

MEDUZA
Apenas mais um negócio.
As Igrejas pagas funcionam como as TVs
a cabo. Querem ampliar a rede.

MOTORISTA
E como elas funcionam na base do medo e
da carência, essa situação de crise
social era boa para os pastores e seus
dízimos, também.
32.

MEDUZA
Lucro total. Inclusive para o coletor
de lixo... mas, esse eu já havia dado
um jeito...
uns tempos atrás.

PRESIDENTE
Vocês querem dinheiro?
Temos muito! Vamos conversar.
Tenho certeza que acertaremos tudo
isso,
não é, MONSENHOR?

Pausa. Um olhando para o outro.

PRESIDENTE
Não é MONSENHOR?
Não é?

PRESIDENTE começa, repetidamente, a gritar.


Nisso ele se movimenta bruscamente e MEDUZA, o MOTORISTA e
o DELEGADO JUVENAL atiram nele, que cai para traz.
A atenção se desvia do MONSENHOR. Os três que atiram no
PRESIDENTE se viram um para o outro. MOTORISTA E MEDUZA
apontam para o DELEGADO JUVENAL que alterna sua mira entre
o MOTORISTA E MEDUZA. Há perda de tempo. Quando se dão conta
percebem que MONSENHOR sumiu.

MEDUZA
Acabou.

MEDUZA sai na direção do carro, com o MOTORISTA. O DETETIVE


JUVENAL fica abismado e quer falar, comentar algo...

DETETIVE JUVENAL
Acabou? Acabou o que?
vem aqui...

O MOTORISTA passa pelo DELEGADO JUVENAL e faz sinal para que


silencie e, segue na direção do carro. MOTORISTA e MEDUZA
partem. Tomada aérea… O DELEGADO JUVENAL olha para os corpos,
e, não sabe direito o que fazer. Tomada aérea do carro
partindo, e, do DETETIVE olhando em torno enquanto rola a
música tema.

fim

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