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1
Vide Talcott Parsons: «some comments on the sociology of Karl Marx», in Sociological Theory and
Modern Society (Nova Iorque, 1967), pp. 102-35.
2
Herbert Marcuse; Industrialisieruung und Kapitalismus, pp.161-80.
e de Weber radicam numa tentativa de defesa – ou antes, de reinterpretação – das
reivindicações do liberalismo político face à pressão exercida, por um lado pelo
conservadorismo hipernacionalista romântico, e por outro pelo socialismo
revolucionário. As obras de Marx constituem, por outro lado, uma análise e uma crítica
do capitalismo na sua fase inicial. A obra de Marx inspirou, porém, um movimento
político de massas no período de consolidação do capitalismo, nos fins do séc. XIX,
adquirindo assim grande importância. Mas isto deu-se dentro de um contexto que
transformou as ideias originais de Marx de forma a estas parecerem muito mais a
expressão directa das principais correntes intelectuais do séc. XIX, do que uma análise
crítica e uma tentativa de superação destas. Em consequência disso, as obras de Marx
aproximam-se mais das de Durkeim e de Weber do que o pensavam estes dois últimos
autores: os intuitos polémicos dos três autores eram muito semelhantes, na medida em
que as obras de Marx, tal como as de Durkeim e de Weber, constituíam uma tentativa
para transformar e superar tanto o conservadorismo romântico (da filosofia alemã)
como o utilitarismo da economia clássica. É claro que nem por isso podemos minimizar
as diferenças irreconciliáveis de perspectiva teórica e de interpretação empírica que há
entre Marx e os outros dois autores. Algumas das diferenças básicas radicam em
explicações divergentes das consequências do progresso da divisão do trabalho –
interpretada não em termos meramente económicos mas como diferenciação social – na
sociedade moderna. Para aqueles que, reconhecendo embora a importância da
contribuição de Marx para a sociologia, o consideram não como «um santo defunto»,
mas antes como «um pensador vivo», há muitos problemas significativos que podem ser
correctamente formulados através de uma análise comparativa entre as obras de Marx e
as de outros pensadores sociais, consideradas em termos do seu conteúdo intelectual.
Podemos afirmar sem exagero que tanto o marxismo, como a sociologia
académica, estão hoje em dia em vias de serem sujeitos a um processo importantíssimo
de reinterpretação teórica.3Essa análise tem sido estimulada por uma mesma
circunstância: a aparente ‘convergência’ da estrutura social das sociedades capitalistas e
socialistas.
A influência da tecnologia e da cultura ocidentais sobre os países não-
industrializados é sem dúvida um campo de investigação teórica e prática do maior
interesse para a sociologia. Essa investigação faz-se, porém, normalmente a partir da
hipótese implícita de que conhecemos já as principais características das «sociedades
desenvolvidas», e que o problema consiste, pois, em saber até que ponto as sociedades
do «terceiro mundo» conseguirão aproximar-se desse modelo num futuro mais ou
menos próximo. O modo como o termo «sociedade industrial», é utilizado quase
universalmente em sociologia para referir tanto as sociedades «capitalistas» como as
«socialistas», é significativo das hipóteses em que assenta esse ponto de vista. Os
debates que recentemente têm surgido no que se refere ao problema da «convergência»
das sociedades capitalistas e socialistas, e da hipotética dissolução das relações de classe
tal como estas eram tradicionalmente concebidas, são sintomáticos de uma renovação
do interesse pela análise das tendências de desenvolvimento no seio das sociedades
«avançadas». O que acabo de referir equivale em certos aspectos a um retorno aos
problemas a que os três autores discutidos neste livro atribuem nas suas obras
significado primordial. Caso pretendamos, pois, proceder a uma orientação importante
da teoria social, teremos de partir uma vez mais das obras dos tr<<<<<<<<<<<<<<~es
autores em questão. O modelo de capitalismo de Marx pode não ser já na sua totalidade
3
Norman Birnbaum: «The crisis in Marxist sociology», in Hans Peter Dreitzel: Recent Sociology Nº1
(Londres, 1969), pp.12-42. Vide também Jürgen Habermas: Theorie und Praxis (Neuwied e Berlim,
1967), pp.261-335.
aplicável à sociedade industrial pós-burguesa na qual vivemos. O que não significa que
alguns dos principais elementos da análise da sociedade burguesa de Marx não sejam
ainda hoje muito significativos. Não vamos repetir a afirmação já familiar de que Marx
teria «previsto» algumas das principais características das sociedades contemporâneas,
ou a de que outras das suas «previsões» se teriam revelado erróneas. Limitamo-nos a
afirmar que na análise de Marx são formuladas questões que continuam a ser
problemáticas para uma sociologia moderna: e o mesmo podemos afirmar em relação às
obras de Durkeim e Weber. O facto de considerarmos que uma das principais tarefas
que compete à sociologia moderna será a de se debruçar uma vez mais sobre problemas
que interessam já aos seus fundadores, não equivale a dizer que a sociologia tem de
andar para trás: a análise desses problemas permitir-nos-á, paradoxalmente, libertar-nos
da nossa presente dependência em relação às ideias por eles formuladas.