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TESTES DE VIDA

Estudos em 1 João
LIÇÃO 22 – A VERDADEIRA FÉ EM CRISTO
1 JOÃO 5.1-5
O alvo desta lição é mostrar como João reúne nesta passagem os três testes do
verdadeiro Cristianismo – o teste doutrinário, o teste social e o teste moral –
apresentando-os em conexão com a verdadeira fé em Cristo Jesus.

INTRODUÇÃO
Uma das questões em jogo no conflito do apóstolo João com os falsos mestres que
estavam se infiltrando nas igrejas da Ásia Menor era a natureza da fé em Cristo. O
ensinamento gnóstico tendia a encarar a fé em Cristo como basicamente um
assentimento intelectual à sua Cristologia, que era baseada num conhecimento secreto
que mestres gnósticos reivindicavam ter recebido de Deus. Este ensinamento fazia
uma separação entre a pessoa de Jesus e aquela de Cristo, negando que o Cristo havia
encarnado em Jesus. Alguns ramos do gnosticismo já naquela época sugeriam que
Jesus tinha apenas aparência de corpo e não um corpo humano real e tangível. Para o
apóstolo João, entretanto, a fé em Cristo não se pode separar da verdade sobre sua
pessoa, do amor a Deus e aos irmãos, e da obediência aos mandamentos de Deus. Ele
reúne de forma magistral todos estes aspectos nesta única passagem, que tem a forma
de um círculo espiralado, que começa e termina com a fé em Jesus como o Cristo, o
Filho de Deus (versos 1 e 5). Dentro do círculo, João ata entre si, em duplas, os temas
do amor, verdade e santidade como evidências da fé verdadeira em Cristo, cada uma
das duplas levando à outra. O alvo do apóstolo é mostrar que a fé em Jesus, como
filho de Deus, é acompanhada de amor e santidade. Desta forma seus leitores
poderiam julgar a genuinidade do ensinamento dos falsos mestres que estavam
infestando suas comunidades.

A FÉ EM CRISTO E O AMOR AOS IRMÃOS


João inicia o círculo espiralado da sua argumentação colocando duas evidências que
identificam o verdadeiro cristão, caso alguns de seus leitores perguntassem “quem é
meu irmão”. A primeira é fé em Jesus Cristo: Todo aquele que crê que Jesus é o
Cristo é nascido de Deus (5.1a). Cristão é todo aquele que crê que Jesus de Nazaré,
que padeceu e morreu sob Pôncio Pilatos, era o Cristo, o Messias, enviado por Deus
para ser o Salvador do mundo. Crer em Cristo é um dos temas dominantes do
Evangelho que João escreveu (cf. Jo 3.15-16,18; 3.36; 5.24; 6.40; etc.). Na verdade,
seu propósito em escrevê-lo foi para que “creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Quem confessa a
identidade divina de Jesus, declara o apóstolo, demonstra que é nascido de Deus, ou
seja, que Deus o gerou pelo poder do Espírito Santo (cf. 1Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.18). Em
contraste, os que a negam, como os falsos mestres, são mentirosos e anticristos (2.22).
A segunda evidência é amor aos irmãos: e todo aquele que ama ao que o gerou
também ama ao que dele é nascido (5.1). Todo cristão ama aquele que o gerou, ou
seja, a Deus, e conseqüentemente amará todos os demais que, à semelhança dele
próprio, também são nascidos de Deus. João já havia ensinado que o amor a Deus e
amor aos irmãos estão inseparavelmente ligados (cf. 4.8,11,20,21). Agora ele retorna
uma vez mais ao assunto, desta feita enfatizando que amamos os irmãos, não porque
haja neles alguma coisa atraente e amável, mas porque são gerados por Deus, como
nós. Desta forma João uniu dois importantes temas de sua carta: a verdade sobre Jesus
(ele é o Cristo) e o amor (a Deus e aos irmãos em Cristo). Ambos são resultantes da fé
em Cristo. Quem crê, ama a Deus e a seus irmãos. Não podemos separar fé e amor.

O AMOR AOS IRMÃOS, A DEUS, E A GUARDA DOS MANDAMENTOS


Alguém poderia perguntar a João como se conhece o verdadeiro amor aos irmãos. O
apóstolo esclarece que o amor aos filhos de Deus se conhece pelo amor a Deus, que
por sua vez se expressa em santidade de vida: Nisto conhecemos que amamos os
filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos (5.2).
Conhecer é uma das ênfases de João nesta carta, talvez em reação à ênfase dos
mestres gnósticos à gnose (conhecimento, em grego) como sendo o meio de salvação
e de aperfeiçoamento. É crucial que os crentes conheçam, isto é, saibam, percebam,
tomem consciência e tenham certeza das verdades do Evangelho. E este conhecimento
nos é dado mediante determinadas evidências (cf. 2.3,5, 18; 3.14,16,19; 4.13). Assim,
a guarda dos mandamentos é a evidência pela qual conhecemos que amamos os filhos
de Deus. Filhos de Deus é uma das expressões prediletas de João para se referir aos
cristãos (3.1,2,10). Podemos conhecer que amamos os filhos mediante nosso amor ao
Pai. E podemos saber que amamos o Pai porque guardamos os seus mandamentos.
Através desta cadeia de raciocínio, João dá o referencial pelo qual seus leitores
poderiam conhecer que amam os demais irmãos em Cristo, a saber, a prática dos
mandamentos. Praticar os mandamentos significa simplesmente viver uma vida de
obediência à Lei de Deus. Conforme João ensina nesta carta, a guarda ou a prática dos
mandamentos nos faz saber que temos o verdadeiro conhecimento de Deus (2.3-4),
que recebemos o que pedimos a Deus (3.22), que permanecemos em Deus e Deus em
nós (3.24) e que amamos os filhos de Deus (5.2).

E caso alguém ainda pergunte em que consiste o amor a Deus, João esclarece: Porque
este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos (5.2-3a; cf. 2Jo 6).
João aprendeu este conceito do Senhor Jesus. Ele disse que quem o ama haveria de
guardar os seus mandamentos (Jo 14.15, 21-24). Muito embora os mandamentos a que
João se refira nesta carta são a priori o de amar (4.21) e de crer (3.23), não devemos
pensar que ele exclui aqueles que se resumem nas duas tábuas da Lei, nos Dez
Mandamentos. Conforme o ensino do Novo Testamento, o amor reside no
cumprimento da Lei de Deus (Rm 13.8,10; Gl 5.14; Tg 2.8). Quem ama a Deus não
terá outros deuses diante dele, não tomará o seu nome em vão, não fará imagens de
escultura e observará seu santo dia. Também vai respeitar a autoridade de seu irmão,
sua propriedade, seu nome, sua esposa, sua vida e tudo que ela possua. A guarda dos
mandamentos, portanto, nos assegura do amor aos irmãos. Desta forma, João
entrelaça o tema do amor e da santidade, ambos resultando da verdadeira fé em Jesus
como o Cristo, o Filho de Deus.

João acrescenta que os seus mandamentos não são penosos (5.3). Literalmente, “não
são pesados”. O apóstolo antecipa assim a reação de seus leitores de que guardar os
mandamentos de Deus é impossível, ou ainda que seja algo como carregar
penosamente um pesado fardo, causando sofrimento. Ao contrário, quem ama a Deus
ama também a sua Lei (Ex 20.6; Dt 10.12-13; Sl 119.32). “O amor a Deus torna seus
mandamentos leves” (A. T. Robertson).O interesse do apóstolo em negar que os
mandamentos são penosos pode também ter sido provocado pelo ensinamento de
alguns mestres gnósticos, defendendo que a Lei de Deus era inferior ao Evangelho, e
que o Deus do Antigo Testamento era um déspota tirano, em contraste com o Deus
amoroso, Pai de Jesus Cristo. Este foi o ensino do mestre gnóstico Marcião em
meados do séc. II d.C., combatido e rejeitado por Pais da Igreja como Irineu.

A VITÓRIA SOBRE O MUNDO E A FÉ EM CRISTO


João em seguida assegura seus leitores que a guarda dos mandamentos é possível aos
filhos de Deus: porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo (5.4a). Quem
é nascido de Deus pela fé em Jesus Cristo (5.1) recebe poder para vencer as forças
hostis do mundo, que se unem para impedir que ele viva na obediência do Senhor.
João já havia retratado os filhos de Deus como vencedores do Maligno (2.13) e dos
falsos profetas (4.4). Agora acrescenta a vitória deles sobre o mundo. O mundo a que
João se refere não é o universo criado, mas a humanidade decaída, inimiga de Deus,
que rejeita e quebra todos os seus mandamentos, com seus próprios valores morais e
suas religiões, escravizada ao pecado, em trevas, enganada pelos falsos profetas e
cegada pelo diabo. “O mundo está passando”, diz o apóstolo, referindo-se ao juízo
vindouro que aguarda a humanidade decaída (2.17). Da mesma forma que vencer o
Maligno e os falsos profetas é não ser enganado por eles, vencer o mundo é não amá-
lo e nem as coisas que há nele e assim escapar da condenação que aguarda o mundo
(2.15). É resistir aos poderes malignos que operam neste mundo e que tentam levar o
cristão a desviar-se de Deus. O Senhor Jesus venceu o mundo, tendo cumprido
fielmente sua missão como Salvador e tendo resistido às tentações e as contradições
dos pecadores (Jo 16.33). Seus discípulos igualmente o vencem, ao permanecerem
firmes contra os falsos ensinamentos e as tentações de se amoldarem ao mundo,
seguindo obedientemente os mandamentos do Senhor. E isto não por força ou mérito
próprios, mas porque são nascidos de Deus.
A vitória vem mediante a fé: e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé
(5.4b). Nossa fé é a confiança cristã no testemunho que Deus dá de Jesus, a saber, que
ele é o seu Filho, o Salvador do mundo, e que a vida eterna reside nele. Fé é uma
palavra praticamente ausente dos escritos de João. Não aparece uma única vez em seu
Evangelho e nem na 2João e 3João. Em Apocalipse apenas 3 vezes. E em 1João, uma
única vez, aqui em 5.4. A provável razão é que o apóstolo, em virtude do conflito com
os falsos mestres, preferiu usar na maior parte do tempo termos e expressões
equivalentes a ter fé em Deus ou em Jesus que enfatizam o lado prático, visível,
mensurável e concreto da que fé. Seu alvo era que seus leitores pudessem mais
facilmente entender porque a “fé” defendida pelos falsos mestres estava errada. Por
exemplo, confessar a Jesus é a expressão pública da fé nele como Filho de Deus (1Jo
2.23; 4.2,15). Permanecer em Deus é o firme descanso da fé em Deus Pai (2.6,27-28;
3.24). Manter comunhão com os apóstolos (1.3) e com Deus (1.6) é a identificação da
fé com aqueles que são testemunhas do Pai acerca do Filho. Ter esperança (3.3) e
confiança (3.21) é o fruto da fé. Ouvir os apóstolos (4.6) é a obediência da fé.

Somente estes haverão de triunfar do mundo e do castigo que o aguarda: Quem é o


que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus? (5.5). A
vitória da fé cristã sobre o mundo, a que João se refere, consiste em proporcionar aos
que crêem o livramento da condenação à qual o mundo está sujeito por causa do seu
pecado. Jesus disse que o pecado do mundo consistia na incredulidade quanto a ele
(Jo 15.22-24; 16.8-9). A incredulidade, e a conseqüente rejeição de Cristo, traz
condenação e juízo a este mundo. Os que crêem, porém, não serão condenados com
este mundo, mas herdarão a vida eterna (cf. Jo 3.15-16,18; 3.36; 5.24; 6.40; etc.) e não
incorrerá na condenação terrível que virá sobre o mundo. Desta forma, ele vence o
mundo.

Aqui João fecha o círculo que havia iniciado no verso 1, ao descrever um cristão
como alguém que crê que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Vejamos algumas
implicações do seu ensino para nossas vidas.

CONCLUSÃO

1. A certeza de salvação vem pelo testemunho interno do Espírito de Deus ao


nosso coração e também pelo testemunho externo das três marcas do
verdadeiro Cristianismo em nós: fé em Jesus Cristo, amor a Deus e aos irmãos,
e a guarda dos mandamentos de Deus. Sondemos nossa vida, conduta e
história: temos realmente base para podermos afirmar nossa salvação?
2. O amor a Deus e aos irmãos se expressa em termos concretos pela obediência
à Lei de Deus, particularmente os Dez Mandamentos. Eles servem como um
guia de gratidão, para mostrar de que forma podemos expressar nosso amor a
Deus de forma prática. Aprendamos a amar usando os mandamentos como
referencial prático.
3. O verdadeiro cristão tem prazer na santidade e na obediência. Não lhe é
penoso praticar o que e correto. Oremos a Deus para que nos dê deleite e
prazer em sermos santos, justos e retos diante dele. Que nossa santidade não
seja algo mórbido, penoso ou legalista, mas expressão de deleite na santidade
de Deus.

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