Você está na página 1de 4

TESTES DE VIDA

Estudos em 1 João
LIÇÃO 20 – DEUS EM NÓS E NÓS NELE
1 JOÃO 4.13-16
O objetivo desta lição é analisar o ensinamento de João sobre a permanência
mútua de Deus nos crentes e dos crentes em Deus, quanto ao conhecimento que
podemos ter desta realidade e ao modo como ela acontece.

INTRODUÇÃO
Na lição anterior vimos como o apóstolo João expôs aos crentes da Ásia Menor em
que consiste o amor de Deus pelo seu povo e o dever que seus filhos têm de se
amarem fraternalmente. Ele terminou afirmando que se os cristãos se amarem uns aos
outros, Deus permanece neles (4.12). Nos versos seguintes, que são o texto desta
lição, o apóstolo desenvolve este tema da permanência mútua entre Deus e os cristãos,
que já havia abordado anteriormente (3.24).
João desenvolve este tema sob a forma de testes e evidências da verdadeira religião,
visto que os crentes da Ásia Menor, aos quais escreve, estavam sendo questionados
por pregadores gnósticos. Uma questão crucial, sem dúvida, seria a união com Deus,
um tema favorito do gnosticismo. Os gnósticos acreditavam que através do
conhecimento secreto que lhes havia sido revelado, eles poderiam se conhecer e
conscientizar-se da sua origem divina, e alcançar o alvo supremo deles, que era união
com Deus. Isto poderia ter deixado muitos crentes confusos. João, porém, esclarece
seus leitores que a união dos crentes com Deus se dá como resultado da atuação das
três pessoas da Trindade: a dádiva do Espírito (4.13), a obra do Filho (4.14-15) e o
amor do Pai (4.16).

PERMANÊNCIA MÚTUA
Permanecer é a palavra chave desta passagem. Ela é uma das palavras teológicas mais
freqüentes de João nesta carta. Quando empregada com respeito ao crente e Deus
significa uma relação estável e permanente entre os dois. Este conceito é expresso
pela idéia de um estar no outro, como se um fosse o hospedeiro do outro. Deus está no
crente e o crente está em Deus. Isto não significa que a natureza humana se funde com
a divina e o crente torna-se Deus, conforme algumas seitas ensinam. A permanência
de Deus no crente significa sua presença e atuação constante nele, apesar da sua
natureza pecaminosa. E a permanência do crente em Deus significa a confiança
continuada em Deus e as conseqüências que dai advêm. Em suma, esta relação de
permanência mútua expressa ricamente tudo o que está contido na salvação. Pois é
mediante o permanecer em Deus e Deus permanecer em nós que procede a
justificação, a santificação e a glorificação.
A DÁDIVA DO ESPÍRITO
Os verdadeiros crentes já estão em Deus e Deus neles. A consciência desta comunhão
com o Pai pode se perceber, afirma o apóstolo João, pela dádiva do Espírito: Nisto
conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu
Espírito (4.13). A expressão nos deu do seu Espírito equivale a nos deu o seu
Espírito. Notemos a ênfase de João, que o Espírito é de Deus. O apóstolo refere-se à
vinda do Espírito Santo para habitar no crente por ocasião de sua regeneração e
conversão a Cristo. Todo crente verdadeiro recebeu de Deus o Espírito Santo quando
creu no Senhor Jesus. João já havia dito que a dádiva do Espírito nos permite
conhecer que Deus permanece em nós, cf 1João 3.24. Este conhecimento vem de duas
formas. Primeira, pelo testemunho interno do Espírito ao nosso próprio espírito (Rm
8.16; 2Co 1.22; Ef 1.13). Segunda, através das suas operações, como iluminação para
conhecermos a verdade (1Co 2.10-14), poder para mortificar nossa natureza
pecaminosa (ver Rm 8.9-17) e o fruto que ele produz em nossas vidas: amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gl
5.22-23). É mediante a constatação destas coisas em nós que nos conscientizamos da
comunhão que existe entre Deus e nós.

A OBRA DO FILHO
Sabemos também que Deus permanece em nós e nós nele porque cremos em Jesus
Cristo, seu Filho. João dá testemunho da missão do Filho de Deus: E nós temos visto
e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo (4.14).
Nós refere-se aos apóstolos, entre os quais, naturalmente, João se inclui. Eles viram o
Filho de Deus encarnado (1.1-3; Jo 1.14). Viram seus milagres, suas obras, escutaram
suas palavras, perceberam seu amor e seu poder. Foram testemunhas da sua morte, e
viram-no ressuscitado e com seus olhos contemplaram quando ele subiu aos céus. O
testemunho deles continua falando até hoje. O que eles testemunham, através dos seus
escritos, que hoje compõem as Escrituras do Novo Testamento, é que a missão do
Filho de Deus neste mundo foi de salvá-lo. Ele veio como Salvador do mundo,
enviado pelo Pai. Notemos, em primeiro lugar, que o fato de que o Pai envia o Filho
não quer dizer que é maior do que o Filho. As Pessoas da Trindade são iguais em
glória, majestade e poder. Porém, decidiram que tomariam papéis diferentes quanto à
salvação do mundo. O Pai envia, o Filho executa, o Espírito aplica, e isto sem que seja
prejudicada a igualdade das Três Pessoas. Em segundo lugar, notemos ainda que Jesus
Cristo é o Salvador do mundo no sentido em que salva pessoas deste mundo, e não o
mundo todo. O mundo aqui significa a sociedade pecaminosa, as pessoas em rebelião
contra Deus e debaixo do poder do maligno. Somente Jesus Cristo pode salvar
pessoas assim. Ele é o único, não há outro. Mediante sua obra redentora, pecadores
são salvos. É neste sentido que ele é o Salvador do mundo. Em João 3.16 vemos
claramente que Cristo veio ao mundo salvar os que nele crêem. Os demais, perecerão
(os seguintes textos de João devem ser interpretados da mesma forma, João 1.29;
4.42; 3.17; 12.47). É evidente, por outros textos da carta, que João não está ensinando
que o Filho de Deus vai salvar toda e cada pessoa do mundo: ele menciona os filhos
do diabo (3.8,10), os que pecam para a morte, cuja perdição é inevitável (5.16) e os
falsos profetas que saíram do meio da Igreja (4.19).
Após dar testemunho acerca da missão de Jesus Cristo, João faz uma aplicação quanto
à permanência mútua: Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus
permanece nele, e ele, em Deus (4.15). Ou seja, aquele que recebe o testemunho
apostólico de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, que veio enviado pelo Pai para ser o
Salvador do mundo, e confessa isto, está em relação de permanência mútua com
Deus, pois é somente pela ação de Deus que o pecador pode reconhecer e confessar a
Cristo como Salvador. Assim, a consciência da permanência em Deus e de Deus em
nós decorre da confissão de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o Salvador do mundo.
Além disto, a confissão verdadeira de Jesus Cristo é colocada por João nesta carta
como prova de que alguém tem o Pai (2.23) e que procede de Deus (4.2). É claro que
não se trata de uma confissão da boca para fora, que qualquer ignorante ou herético
possa fazer, mas de uma confissão que procede de um coração iluminado, crente,
regenerado, habitado por Deus mediante o Espírito Santo. É mediante esta confissão
que reconhecemos que permanecemos em Deus e Deus em nós, e não através de
algum conhecimento secreto revelado a alguns iluminados, como queriam os mestres
gnósticos.
Lembremos, por fim, que nossa confissão sobre Jesus Cristo, que ele é o Salvador do
mundo, é o resultado de recebermos e crermos no testemunho dos profetas e dos
apóstolos, o qual está registrado de forma infalível nas Escrituras. Ao final, temos
dois testemunhos sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo: o Espírito (4.13) e os
apóstolos (4.14). Ver ainda João 15.26-27 e Atos 5.32.

O AMOR DO PAI
João em seguida dá testemunho do amor de Deus: E nós conhecemos e cremos no
amor que Deus tem por nós. Deus é amor (4.16a). Mais uma vez, nós refere-se aos
apóstolos, que haviam conhecido e criam no amor de Deus pelos seus. Este
conhecimento foi dado a João e aos demais apóstolos durante os anos em que
andaram com o Senhor Jesus, e após sua morte e ressurreição, quando receberam o
Espírito Santo, mediante o qual puderam mais claramente perceber a extensão do
amor de Deus pelo seu povo. Pois é somente pelo Espírito que se pode conhecer e crer
no amor de Deus, cf. 1Coríntios 2.9-13. Este amor consistiu no envio do Filho como
Salvador do mundo, para redimir os eleitos, apesar dos seus pecados. João conheceu
este amor e cria nele. A razão para tal bondade e misericórdia é que Deus é amor,
reafirma o apóstolo, repetindo o que já havia dito anteriormente (4.8).
Se Deus é amor, segue-se que aquele que permanece no amor permanece em Deus,
e Deus, nele (4.16). Aqui temos a última evidência da relação de permanência mutua
entre Deus e o crente. O amor ao qual João se refere pode significar o amor de Deus
por nós, que o apóstolo acabou de mencionar. Permanecer no amor, neste caso, seria
ficar firme, pela fé, neste amor de Deus por nós, revelado em Cristo. Entretanto, é
mais provável que João esteja se referindo ao amor fraternal, sobre o qual vem
falando continuamente na carta (cf. 4.12). Neste caso, permanecer no amor seria viver
uma vida de amor aos irmãos, que consiste na assistência às suas necessidades físicas,
materiais e práticas, conforme já vimos em estudos anteriores. Amar os irmãos é algo
que procede somente de Deus. Segue-se que quem vive assim está unido a Deus nesta
relação mutua, pois Deus, e somente Deus, é amor. O amor fraternal, portanto, é mais
uma evidência da nossa união com Deus – e não aquele conhecimento secreto
defendido pelos mestres gnósticos.
CONCLUSÃO
Ao determinar as verdadeiras bases da consciência do crente quanto à sua
permanência em Deus e a permanência de Deus nele, o apóstolo rejeita os
ensinamentos heréticos dos falsos mestres e coloca diante dos seus leitores, de todas
as épocas, alguns desafios:
1. Crer nos apóstolos, confessar a Jesus e amar são evidências do verdadeiro
cristão. Examinemos nossas vidas mais uma vez. Não é sem razão que estes
testes são repetidos nesta carta.
2. A certeza de nossa salvação vem de percebermos em nós a presença do
Espírito, os resultados da obra salvadora do Filho e o amor do Pai,
expressado em amor aos irmãos. Usando estes critérios, podemos dizer que
temos certeza da nossa salvação?
3. Agradeçamos a Deus pelas Escrituras. Nelas temos o testemunho dos
profetas e apóstolos acerca do amor de Deus e da salvação em Cristo. Sem
elas seríamos como cegos, perdidos nas trevas e sem rumo. Leiamos
diariamente as Escrituras, meditemos nelas e adotemos seu ensinamento
como nossa única regra de fé e prática.
4. Louvemos a Deus pelo altíssimo privilégio de sermos a habitação do Todo-
Poderoso, e de podermos nos refugiar nele pela fé em Cristo. “Deus em nós
e nós em Deus” resume toda a grandeza da redenção oferecida no
Evangelho mediante Jesus Cristo.

Você também pode gostar