Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estomatologia
Características Clínicas
O carcinoma espinocelular (CEC) pode se manifestar de muitas formas em boca. As lesões
podem ocorrer tanto em lábio quanto no interior da cavidade bucal. Dentro da boca, os sítios mais
acometidos são língua e assoalho bucal, mas as lesões podem aparecer em qualquer localização.
A manifestação clínica mais conhecida é a úlcera indolor, de bordas endurecidas e elevadas que
não cicatriza após duas semanas de acompanhamento. Contudo, algumas vezes os carcinomas
espinocelulares em estágio inicial se assemelham ou são precedidos por desordens potencialmente
malignas, como a leucoplasia ou eritroplasia, ou ainda aparecem como massas proliferativas
(nódulos) que lembram o granuloma piogênico. Dessa forma, o CEC pode se manifestar como lesões
brancas, erosivas, ulceradas ou proliferativas. Para qualquer dessas manifestações, as etapas de
afastar as possíveis variações da normalidade, lesões provocadas por fatores irritativos ou lesões
que se assemelham a situação em questão não podem ser esquecidas. Em outras palavras, o clínico
deve estar atento e seguir o processo de avaliação recomendado no curso, sem pular etapas na
busca de atalhos, pois estes podem levar a erros de diagnóstico. Abaixo, você encontrará exemplos
das diferentes manifestações deste tumor. Ao final deste material, você encontrará um painel de
imagens clínicas para auxiliar na fixação das características destas lesões.
Lesões ulceradas
O aspecto clássico da lesão – úlcera indolor, de
base endurecida, bordas elevadas/roladas, com área
de necrose central é o observado em muitos, mas não
em todos os casos. Ao identificar uma lesão ulcerada,
outras hipóteses devem ser descartadas. Se houver um
dente fraturado, grampo de prótese, história de trauma
recente, recomenda-se controle/remoção destes fatores
irritativos e acompanhamento clínico por 10-14 dias
para ver se há regressão ou remissão completa da lesão,
o que confirma a hipótese de úlcera traumática. Outras Figura 1. Úlceras de centro necrótico
possibilidades como herpes secundário, ulceração aftosa e bordas elevadas e endurecidas em
recorrente, micoses profundas, sífilis, sialometaplasia borda de língua são um aspecto bastante
necrosante devem ser descartadas. característico do CEC.
Fonte: Chi et al., 2015.
Lesões brancas
Lembrando do que foi discutido no Módulo 3,
frente a identificação de uma lesão branca sem outra causa
definida, a suspeita clínica será de leucoplasia. Contudo,
em alguns casos, um carcinoma em estágio inicial será
descoberto no momento em que se faz a biópsia e o exame
histopatológico. Essa probabilidade será maior para lesões
com diagnóstico clínico de leucoplasia não homogênea. —>
Quando houver a associação de uma área ulcerada ou de
aspecto nodular/proliferativo, a chance de tratar-se de
CEC é maior. Fonte: Neville et al., 2009.
Figura 2. Placa branca com áreas mais delgadas e áreas mais espessas. As hipóteses a serem consideradas
são leucoplasia e carcinoma espinocelular. Embora toda lesão com diagnóstico clínico de leucoplasia
possa ser um CEC, a presença de área ulcerada (seta) torna essa possibilidade mais provável.
3
Curso EAD
Estomatologia
Lesões erosivas/vermelhas:
Embora incomum, o CEC pode se manifestar como
uma lesão vermelha. Nestes casos, o diagnóstico clínico
será eritroplasia. Quando outras prováveis causas de
lesões vermelhas forem descartadas (trauma, infecção por
Candida, doenças auto-imunes, por exemplo), o diagnóstico
clínico será eritroplasia. Ao encontrarmos uma lesão deste
tipo, devemos estar cientes de que, após a biópsia, o exame
histopatológico indicará tratar-se de displasia epitelial ou
carcinoma espinocelular. Entretanto, é importante enfatizar
que a maioria dos carcinomas não surge de uma leucoplasia
ou de uma eritroplasia pré-existente. Fonte: Neville et al., 2009.
Figura 3. Lesão vermelha/erosiva em assoalho bucal de um paciente desdentado.
Lesões proliferativas/nodulares:
Embora menos comuns, devem ser lembradas. A
superfície dos CEC que se manifestam dessa forma apresenta
ulceração e as lesões tem consistência endurecida. Às vezes
este aspecto é descrito como lesão ulcero-vegetante. Este tipo
de apresentação é mais comum na região de retrocomissura,
ventre de língua e assoalho bucal. Importante descartar que
algum fator irritativo seja o causador da lesão.
Diagnóstico e prognóstico
O diagnóstico definitivo de câncer bucal é determinado pela biópsia seguida do exame
anatomopatológico. Quando houver suspeita de tratar-se de lesão maligna, está indicada a
realização de biópsia parcial.
A biópsia pode ser realizada pelo cirurgião-dentista clínico geral, desde que este se sinta apto
para exercer a técnica de coleta e principalmente a interpretação do resultado. Quando o cirurgião-
dentista não se sentir seguro, o paciente deve ser encaminhado para atendimento em algum serviço
de Estomatologia.
Assim como outras neoplasias, os carcinomas bucais são classificados para definir o grau de
disseminação das lesões (estadiamento clínico). Com base nessa classificação, a equipe médica vai
definir se o tratamento vai envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou uma combinação entre
estes. O sistema usado na maioria dos centros é a classificação TNM – tumor-nodo-metástase, onde
cada letra representa um critério. T indica o tamanho do tumor, N a presença ou ausência de lesões
metastáticas nos linfonodos e M refere-se a metástases distantes. Cada critério tem graus que
indicam tumor mais ou menos disseminado, e a partir da soma dos graus obtidos nos três critérios,
o estágio do tumor é definido. Entretanto, as evidências demonstram que, embora útil, esse sistema
é insuficiente para determinar o prognóstico de pacientes com carcinoma espinocelular. Abaixo,
apresentamos o detalhamento dessa classificação a título de ilustração.
4
Curso EAD
Estomatologia
T - Tumor Primário
TX O tumor primário não pode ser avaliado
T0 Não há evidência de tumor primário
Tis Carcinoma in situ
T1 Tumor com 2 cm ou menos em sua maior dimensão
T2 Tumor com mais de 2 cm e até 4 cm em sua maior dimensão
T3 Tumor com mais de 4 cm em sua maior dimensão
T4a (Lábio) Tumor que invade estruturas adjacentes: cortical óssea, nervo alveolar
inferior, assoalho da boca, ou pele da face (queixo ou nariz)
T4a (Cavidade oral) Tumor que invade estruturas adjacentes: cortical óssea, músculos
profundos/extrínsecos da língua (genioglosso, hioglosso, palatoglosso e estiloglosso),
seios maxilares ou pele da face
T4b (Lábio e cavidade oral): Tumor que invade o espaço mastigador, lâminas pterigóides
ou base do crânio ou envolve artéria carótida interna
N - Linfonodos Regionais
NX Os linfonodos regionais não podem ser avaliados
N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais
N1 Metástase em um único linfonodo homolateral1, com 3cm ou menos em sua maior
dimensão
N2 Metástase em um único linfonodo homolateral, com mais de 3 cm e até 6 cm em sua
maior dimensão, ou em linfonodos homolaterais múltiplos, nenhum deles com mais de 6
cm em sua maior dimensão; ou em linfonodos bilaterais ou contralaterais, nenhum deles
com mais de 6 cm em sua maior dimensão
N2a Metástase em um único linfonodo homolateral, com mais de 3 cm e até 6 cm em sua
maior dimensão
N2b Metástase em linfonodos homolaterais múltiplos, nenhum deles com mais de 6 cm
em sua maior dimensão
N2c Metástase em linfonodos bilaterais ou contralaterais2, nenhum deles com mais de 6
cm em sua maior dimensão
1.
do mesmo lado do tumor.
2.
do lado oposto ao do tumor.
5
Curso EAD
Estomatologia
De forma simplificada, quanto mais localizado estiver o tumor, maior as chances de sobrevida.
Na Figura 6, são apresentadas estatísticas norte-americanas a respeito deste tema. Observa-se
que apenas 30% dos casos são diagnosticados em estágio localizado e que quanto mais o tumor se
espalha, menor a taxa de sobrevida.
Figura 6. Percentual de casos diagnosticados nos diferentes estágios e sobrevivência relativa em 5
anos de acompanhamento para cada estágio (National Cancer Institute –Suveillance, Epidemiology
and End Results Program – SEER). Disponível em: https://seer.cancer.gov
6
Curso EAD
Estomatologia
Em função disso, tem-se buscado identificar quais são os indivíduos suscetíveis, formas de
aumentar o diagnóstico precoce e de reduzir o atraso no encaminhamento dos pacientes com
câncer para o tratamento adequado. A sobrevida do paciente com câncer bucal varia conforme a
localização topográfica do tumor primário. As recidivas ocorrem principalmente após dois ou três
anos, sendo os cinco primeiros anos o período de maior risco.
Prevenção
As estratégias de prevenção devem ter suporte em políticas públicas e traçar, de forma clara,
ações de longo tempo. Essa característica permite ações em educação que levam à mudança de
conceitos e hábitos, que não se modificam em campanhas curtas e datas pontuais.
A prevenção deve ter ações de educação da população iniciando já no programa de saúde
do escolar, ou mesmo antes, passando pelos grupos dentro das unidades de saúde até às ações de
comunicação em massa, sempre de forma a alcançar continuamente a população. Da mesma forma
que a população, os profissionais da equipe de saúde bucal devem estar em programas de educação
continuada (cursos na própria rede, atualizações teóricas e práticas em serviços de saúde externos
e universidades), sempre reforçando a importância da multidisciplinariedade.
Não existe nenhuma forma comprovada de prevenir o câncer bucal. Entretanto, é possível
reduzir o risco se algumas medidas forem adotadas (Quadro 1).
7
Curso EAD
Estomatologia
Medida Comentários
Se você não consome, nem comece. Se você consome tabaco, pare. Ao
Não se expor ao tabaco. usar tabaco, você expõe as células da sua boa a diversas substâncias
causadoras do câncer (carcinógenos)
Não consumir bebidas O consumo crônico e excessivo de álcool pode irritar as células da
alcoólicas ou consumi-las mucosa bucal, tornando-as vulneráveis ao câncer bucal. Se optar por
com moderação. beber, limite-se a poucas doses eventualmente.
• perda de peso;
8
Curso EAD
Estomatologia
9
Curso EAD
Estomatologia
c) Melanoma:
Apresentação clínica:
• manchas (estágios iniciais) ou nódulos (estágio mais
avançado);
• coloração marrom ou preta, com áreas de maior e
menor intensidade;
• bordas irregulares;
• áreas ulceradas podem estar presentes).
Idade: adultos (5ª década de vida). Figura 9. Mancha de coloração heterogênea
e bordas irregulares localizada no palato,
Localizações preferenciais: palato e gengiva. aspecto típico do melanoma.
Tratamento: Excisão cirúrgica com ampla margem de Fonte: de Andrade et al., 2012.
segurança. Possibilidade de associação com radioterapia,
quimioterapia e imunoterapia.
Prognóstico: Reservado. A maioria dos estudos mostra uma
baixa taxa de sobrevida, a qual oscila em torno de 20%.
10
Curso EAD
Estomatologia
Tabela 2. Sinais e sintomas que podem sinalizar um tumor maligno em estágio inicial.
Sinais iniciais e
Sítios de
Tipo de câncer Perfil do paciente Sintomas iniciais possíveis lesões
predileção
precursoras
Tumor maligno • Principalmente • Usualmente • Aumento • Palato
de glândula em adultos ausente de volume • Lábio
salivar • Causa assintomático superior
desconhecida
Linfoma Non- • Principalmente • Usualmente • Aumento de • Osso
Hodgkin em adultos ausente volume da mandibular
• Causa • Parestesia do mucosa bucal com • Tecidos
desconhecida lábio inferior ou sem ulceração moles da
ocasional • Imagem maxila
radiográfica, se
lesão intra-óssea
11
Curso EAD
Estomatologia
Painel de imagens
CEC – Apresentações Clínicas (Lesões Ulceradas)
Úlceras crônicas, não associadas a fatores traumáticos, de bordas elevadas e endurecidas
que não cicatrizam após 14 dias de acompanhamento. Esta é a descrição típica do carcinoma
espinocelular. Apesar de haver um canino próximo a lesão ulcerada em B, o formato e o tamanho de
lesão não são compatíveis com a hipótese de úlcera traumática crônica. Fonte: A, C e D - Neville et
al (2009), B – Medscape, E e F – Chi et al (2015).
A B
C D
E F
12
Curso EAD
Estomatologia
13
Curso EAD
Estomatologia
14
Curso EAD
Estomatologia
15
Curso EAD
Estomatologia
A B
C D
16
Curso EAD
Estomatologia
A B
C D
17
Curso EAD
Estomatologia
A B
C D
E F
18
Curso EAD
Estomatologia
A B
C D
19
Curso EAD
Estomatologia
A B
C D
20
Curso EAD
Estomatologia
A B
Referências
AMERICAN CANCER SOCIETY. Oral Cavity and Oropharyngeal Cancer. http://www.cancer.
org/acs/groups/cid/documents/webcontent/003128-pdf.pdf
Cancer research UK. Mouth cancer referral guidelines for dentists. Disponivel em:
http://www.cancerresearchuk.org/about-cancer/type/mouth-cancer/about/symptoms-of-mouth-
-cancer
Dias-Damé J.L., Cesar J.A., Silva S.M.Time trends in smoking in an urban population: a popula-
tion-based study in Southern Brazil. Cad. Saude Publica, v.27, no.11, p.2166-74, 2011.
Enwonwu, C.O.; Meeks V.I. Bionutrition and oral cancer in humans. Crit. Rev. Oral Biol. Med., v.6,
no.1, p.5-17, 1995.
Deschler DG, et al. Quick Reference Guide to TNM Staging of Head and Neck Cancer and
Neck Dissection Classification, 4th ed. Alexandria, VA: American Academy of Otolaryngology–
Head and Neck Surgery Foundation, 2014.
Enwonwu, C.O.; Meeks V.I. Bionutrition and oral cancer in humans. Crit. Rev. Oral Biol. Med., v.6,
no.1, p.5-17, 1995.
Fioretti F., Bosetti C., Tavani A., Franceschi S., La Vecchia C. Risk factor for oral pharyngeal can-
cer in never smokers. Oral Oncol., v.35, no.4, p.375-78, 1999.
21
Curso EAD
Estomatologia
Franco EL, et al. Risk factors for oral cancer in Brazil: A case-control study. Int. J. Cancer, v. 43,
no. 6, p.992-1000, 1989.
Gandini S., et al. Tobacco smoking and cancer: a meta-analysis. Int. J. Cancer., v.122, no.1, p.155-
64, 2008.
INCA – Instituto Nacional do Câncer. Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em: http://www.
inca.gov.br/estimativa/2016/
Jerjes W., et al. Clinicopathological parameters, recurrence, locoregional and distant metas-
tasis in 115 T1-T2 oral squamous cell carcinoma patients. Head Neck Oncol., v. 20, no.2, p.9,
2010.
Lubin J.H.Total exposure and exposure rate effects for alcohol and smoking and risk of head
and neck cancer: a pooled analysis of case-control studies. Am. J. Epidemiol., v.170, no.8, p.937-
47, 2009.
Maruccia M., et al. Lip cancer: a 10-year retrospective epidemiological study. Anticancer Res.,
v.32, no.4, p.1543-6, 2012.
McLaughlin J.K., et al.Dietary factors in oral and pharyngeal cancer. J. Natl. Cancer Inst., v.80,
no.15, p.1237- 43, 1988.
Souza R. L. Lip squamous cell carcinoma in a Brazilian population: epidemiological study and
clinicopathological associations. Med. Oral Patol. Oral Cir. Bucal, v.16, no.6, p.e757-62, 2011.
Tavani A., Negri E., Franceschi S., La Vecchia C. Tobacco and other risk factors for oesophageal
cancer in alcohol non-drinkers. Eur. J. Cancer Prev., v.5, no.5, p.313-8, 1996.
Toporcov T. N., et al. Do Tobacco and Alcohol Modify Protective Effects of Diet on Oral Carci-
nogenesis? Nutr. Cancer, v.64, no.8, p.1182-9, 2012.
Turati F. et al. A Meta-analysis of Alcohol Drinking and Oral and Pharyngeal Cancers: Results
from Subgroup Analyses. Alcohol Alcohol., v.48, no. 1, p.107-18, 2013.
van der Waal I., et al. Early diagnosis in primary oral cancer: is it possible? Med. Oral Patol. Oral
Cir. Bucal., v.16, no.3, p.e300-5, 2011.
22
Curso EAD
Estomatologia
Equipe Responsável:
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do
Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS/UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.
23