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Estomatologia
Definição
O líquen plano (LP) é uma doença mucocutânea1, inflamatória crônica, mediada por células T, de
potencial de malignização discutível.
Frequência
Estima-se que a prevalência do LP varie entre 0,5 a 4% da população geral.
Fatores Etiológicos
Embora se acredite que o LP seja uma doença autoimune, mediada por células T, sua causa
permanece desconhecida. Em outras palavras, não se sabe porque algumas pessoas desenvolvem
essa resposta de autoimunidade e outras não.
Características Clínicas
Perfil dos pacientes
Na maioria dos casos, a doença é identificada em:
• mulheres;
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• Bolhosa: Extremamente rara. Mesmo quando há formação de bolhas, em geral isso não é
observado pelo dentista, porque as mesmas se rompem facilmente.
Estas manifestações representam diferentes momentos da doença. As lesões atróficas e
erosivas indicam exacerbação da doença e, em geral, são acompanhadas de sintomas como dor,
desconforto e ardência. As lesões brancas (estrias, pápulas e placas) geralmente são assintomáticas.
As diferentes formas podem estar presentes simultaneamente, por exemplo, áreas erosivas e/ou
atróficas usualmente são contornadas por estrias ou placas brancas. Em outro momento, o mesmo
paciente pode retornar apenas com estrias brancas, sem sintomas, na mesma área ou em áreas
diferentes, demonstrando o dinamismo da doença. Usualmente o paciente com líquen plano tem
estrias brancas em alguma parte da boca.
Em alguns casos, fica evidente a associação da piora das manifestações clínicas com o estado
emocional do paciente, com a doença se agravando em momentos de maior ansiedade ou estresse.
As lesões são quase sempre bilaterais e simétricas, o que as diferencia das reações liquenóides que
serão comentadas no item DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL. A apresentação na forma de lesões
únicas é rara.
Os sítios bucais mais acometidos são mucosa jugal, gengiva, dorso da língua, mucosa labial e
mucosa de transição do lábio. O envolvimento da mucosa da gengiva na forma de lesões erosivas,
associadas ou não a áreas brancas é frequente. Essa manifestação é chamada “gengivite descamativa”
e pode ser vista em outras doenças. As lesões no dorso lingual costumam ser brancas, isoladas ou
confluentes em placas, devido às características peculiares desse epitélio. Às vezes podemos notar
perda das papilas (despapilação), dando um aspecto de ‘’língua careca”. Nesses casos, o paciente
pode relatar alterações no paladar.
Quando uma lesão erosiva ou atrófica cicatriza, pode haver pigmentação residual da mucosa
(pigmentação pós-inflamatória). Essa manifestação é chamada de líquen plano pigmentoso e não
tem significado clínico, ou seja, não indica piora ou melhora no curso da doença.
Diagnóstico
Ainda que as manifestações clínicas na forma de estrias brancas, associadas ou não a placas
brancas, erosões ou úlceras sejam sugestivas, recomenda-se a biópsia parcial para confirmação do
diagnóstico. Neste procedimento a área da biópsia deve incluir uma área branca, a fim de verificar
as alterações microscópicas que caracterizam a doença.
Na avaliação histológica, a identificação de uma inflamação de interface epitélio-conjuntivo
com infiltrado linfocitário em faixa (banda) logo abaixo do tecido epitelial, hiperplasia epitelial em
“dentes de serra” e hiperceratose (aumento da camada de ceratina) são os principais achados. Caso
seja identificada displasia epitelial, o diagnóstico de líquen é descartado.
Diagnóstico Diferencial
A diversidade de apresentações clínicas chama a atenção para a necessidade de diferenciar o
líquen plano de outras doenças que mostram características semelhantes. Dentre estas as principais
são:
1. Mordiscamento crônico da mucosa (Morsicatio): situação que pode ser diferenciada a
partir da anamnese, em que o paciente relata o episódio.
2. Candidíase pseudomembranosa: o procedimento de passar uma gaze ou espátula de
madeira sobre a lesão permite a distinção.
3. Outras doenças autoimunes: como visto anteriormente no curso, pênfigo vulgar,
penfigóide benigno de mucosas e lúpus eritematoso podem ter manifestações que se
assemelham ao líquen plano. Se houver necessidade, revise o módulo de lesões erosivas
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A B
C D
Alguns diagnósticos diferenciais a serem considerados antes de fazer o diagnóstico de líquen plano:
Candidíase pseudomembranosa (A). Gengivite descamativa (B), a qual pode representar um caso de líquen
plano, de pênfigo vulgar ou de penfigóide benigno de mucosas. Reação liquenóide (C), lesão que simula
um líquen plano mas que representa uma reação de hipersensibilidade a materiais metálicos, mostrando
remissão após o agente irritativo ser removido (D).
Fonte: A - Williams e Lewis (2011), B – FO/UFRGS, C e D - Montebugnoli et al (2009)
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A B
C D
A e B: Paciente com líquen plano de aspecto reticular, com distribuição simétrica e bilateral na mucosa
jugal. Este padrão geralmente não gera sintomas. O líquen plano pode apresentar padrão misto (erosivo/
reticular) mostrando área erosiva central contornada por estrias (C) ou placas (D).
Fonte: Neville et al (2009).
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A B
C D
Líquen plano apresentando padrão papular (A). As pápulas podem se juntar e formar placas (C). Em
B, observa-se o típico padrão reticular. As lesões em dorso de língua geralmente levam à perda das papilas e
podem apresentar áreas erosivas (D).
Fonte: Nico et al (2015)
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A B
C D
Líquen plano apresentando padrão atrófico/erosivo (A e B). Líquen plano pigmentoso, com áreas de
pigmentação em áreas cicatriciais (C). Quando na fase menos ativa, as lesões podem se tornar bem discretas
(D), mas dificilmente desaparecem por completo.
Fonte: Nico et al (2015)
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Lesão erosiva em lábio (A) e na gengiva (B), sendo esta chamada de gengivite descamativa.
Fonte: Nico et al (2015)
Referências
Kaugars GE, Pillion T, Svirsky JA, Page DG, Burns JC, Abbey LM. Actinic cheilitis: a review of 152
cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod., v.88, no.2, p.181-6, 1999.
Montebugnoli L, et al. Clinical and histologic healing of lichenoid oral lesions following amal-
gam removal: a prospective study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol., v.113, no. 6,
p.766-72, 2012.
Neville, B. W.; Damm, D. D.; Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral e Maxilofacial - 3ª Ed., Else-
vier, 2009.
Nico, M. M. S., et al. Líquen plano oral. An Bras Dermatol., v. 86, no.4, p. 633-43, 2011.
Regezi, J. A.; Sciubba, J.; Jordan, R. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas - 6ª Edição,
Elsevier, 2013.
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Equipe Responsável:
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do
Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS/UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.
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