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Livro de Malaquias - Introdução

Por Felipe Moura

1) Introdução

O Livro de Malaquias faz parte da categoria de livros denominada Profetas


(Nevi’im - ‫)נְבִיאִים‬, mais especificamente dos chamados profetas menores, não por sua
importância mas por serem textos mais curtos. No hebraico, faz parte da seção
denominada Terê `Assar (‫)תרי עשר‬, literalmente “os doze”.

Trata-se da última obra nessa compilação. É também uma das mais diretas e
objetivas com relação às suas críticas ao Reino de Judá. Mas, ao mesmo tempo,
também das mais misteriosas.

2) Autoria Desconhecida

O livro de Malaquias é um dos mais difíceis de situar historicamente, pois


sabemos muito pouco sobre seu autor, a começar pelo seu próprio autor.

“‘Malaquias’ em hebraico significa ‘meu mensageiro’, a partir do que muitos


comentaristas concluíram que o livro deriva de um profeta anônimo a quem os
editores deram o nome de ‘meu mensageiro’ com base em Mal. 3:1.” (The Oxford
Bible Commentary - Malachi - Introduction)

“O nome ‫ מלאּכי‬não é um ‘nome próprio’; geralmente se parte da premissa de


que seja uma abreviação de ‫“( = מלאכיה‬mensageiro de YHWH), o que está em
conformidade com Μαλαχίας da Septuaginta e ‘Malaquias’ da Vulgata.” (Isidor
Singer, Adolf Guttmacher - Book of Malachi - Jewish Encyclopedia)

Na tradição judaica, Malaquias é visto por alguns como, de fato, um título ao


invés de um nome próprio.
O Targum Yonatan traz para Malaquias 1:1: “Peso da palavra de YHWH acerca
de Israel, através do meu mensageiro [‫ ]מלאכי‬cujo nome é chamado Esdras, o
escriba.”

No Talmud Bavli, aparecem diferentes visões quanto a isso: “R. Na’hman


disse: Malaquias é o mesmo que Mordecai… R. Yehoshua ben Korha disse:
Malaquias é o mesmo que Esdras, e os sábios dizem que Malaquias era seu nome
próprio.” (b. Meguilá 15a)

A dificuldade de se estabelecer a veracidade desses fatos é porque havia no


meio judaico na antiguidade uma certa tendência a associar personagens misteriosos
ou menos conhecidos com outros mais conhecidos.

“Porém, os rabinos do período clássico (e posteriormente Ibn Ezra, Radak e


Maimônides) sustentavam que Malaquias é o nome do profeta… Apesar dessas
tradições, é provável que Malaquias deva ser compreendido como um nome próprio.”
(Jewish Study Bible - Malachi)

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3) Relação com Esdras

O motivo pelo qual alguns fizeram suposições quanto a Malaquias ser Esdras é
também a razão de outros acadêmicos antigos terem associado a obra com o contexto
histórico de Esdras.

Isso ocorre por causa de uma possível semelhança temática entre Malaquias e
Esdras, que pode ser vista abaixo:

“Então Secanias, filho de Jeiel, um dos filhos de Elão, tomou a palavra e disse a
Esdras: Nós temos transgredido contra o nosso Senhor, e casamos com mulheres
estrangeiras dentre os povos da terra, mas, no tocante a isto, ainda há esperança para
Israel. Agora, pois, façamos aliança com o nosso Senhor de que despediremos todas
as mulheres, e os que delas são nascidos, conforme ao conselho do meu senhor, e dos
que tremem ao mandado do nosso Senhor; e faça-se conforme a Torá.” (Esdras
10:2-3)

"Judá tem sido desleal, e abominação se cometeu em Israel e em Jerusalém; porque


Judá profanou o santuário do ETERNO, o qual ele ama, e se casou com a filha de
deus estranho.” (Malaquias 2:11)

Todavia, acadêmicos mais recentes questionam que a relação entre os dois


temas não é suficiente para assegurar nem autoria, nem época.

Há ainda dúvida se realmente a crítica de Malaquias seja a casamentos, ou a


adoração a uma deusa estrangeira.

No caso da época, contudo, é possível atestar que, de fato, há uma certa


semelhança.

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4) Datação

Como não temos nenhuma referência histórica quanto à figura de Malaquias


em si, nem o livro menciona qualquer rei ou período mais específico, datar a obra é
relativamente trabalhoso, mas é possível dizer que Malaquias foi escrito entre o
século 5 e meados do século 4 a.e.c., isto é, entre 500 e 350 a.e.c.

“A análise linguística de Malaquias mostra que o livro tem grande afinidade


com outros textos de cerca de 480 a.e.c.” (The Oxford Bible Commentary - Malachi)

“Malaquias 1:7 se refere ao governo oficial usando a palavra emprestada do


acádio pehá (normalmente traduzida como governador), um termo que sugere a
existência de estruturas de governo persa (vide Ag. 1:1, 14; 2:2, 21, onde o termo se
refere a Zorobabel).

Além disso, o Templo está plenamente funcional. A qualidade e quantidade de


sacrifícios trazidos ao Templo representam um grande ponto de contenda em
Malaquias porque a apatia por parte tanto dos sacerdotes quanto de líderes os faz dar
menos do que eles deveriam.

Ainda assim, presume-se que o Templo está funcionando (1:10, 3:1,10), o que
significa que a conclusão do Templo (c. 515 a.e.c.) representa um ponto antes do qual
o material fundamental de Malaquias não poderia ter sido construído.

O Templo provavelmente estava funcionando há algum tempo, uma vez que a


apatia se torna tamanho problema e uma vez que nada em Malaquias fala do Templo
como uma nova instituição.

Por essa razão, os acadêmicos frequentemente presumem 450 a.e.c. como um


tempo aproximado quando a maior parte de Malaquias teria sido composta.” (Smyth
& Helwys Bible Commentary - Introduction to the Book of Malachi)

Certamente Malaquias não pode ter sido escrito muito próximo do final do
período persa, pela seguinte razão:

“A ilustração da sociedade que se desenvolve a medida que se lê Malaquias


sugere conflito interno… Por contraste, o material em Malaquias (especialmente
quando comparado com passagens como Zacarias 12 e 14) faz uma descrição
relativamente positiva “das nações” (vide 1:10-14) de modo que os tempos mais
turbulentos do quarto século [a.e.c.] não parecem ser um cenário provável.

Nas primeiras décadas do século quarto, numerosas rebeliões nas regiões


vizinhas e no Egito criaram um ambiente menos estável, que conduziu à derrubada
dos persas por Alexandre em 332 a.e.c.

O retrato positivo de Malaquias das nações seria pouco provável durante


períodos quando grandes hostilidades estavam acontecendo próximas à fronteira de
Israel. Esses elementos sugerem uma época na qual a dinâmica interna de Judá e
Jerusalém era mais urgente do que a situação internacional.” (ibid)
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Disso podemos concluir que Malaquias provavelmente foi escrito entre 450 e
400 a.e.c., o que nos ajuda a ter um panorâmica histórico do período.

5) Panorama Histórico

Abaixo, um resumo cronológico dos principais fatos até a época da autoria da


obra:

539 a.e.c - Ciro, o Grande, rei da Pérsia, conquista a Babilônia.

538 a.e.c. - Ciro permite que os judeus retornem ao território da Judéia e a Jerusalém.
Porém, oposição aos judeus faz os trabalhos de reconstrução do Templo pararem logo
em seguida ao seu início.

530 a.e.c. - Cambises II sobe ao poder, sucedendo Ciro.

522 a.e.c. - Dario I sobre ao poder, sucedendo Cambises II.

521 a.e.c. - Dario negocia com os judeus acerca da reconstrução de Jerusalém

520 a.e.c. - Zorobabel, um descendente davídico, e Josué (sumo sacerdote) restauram


o governo judaico da região. Retomada dos trabalhos de reconstrução do Templo.

516 a.e.c. - Conclusão da Reconstrução do Templo

Entre 516 e cerca de 500 a.e.c. - Deteriora a monarquia davídica em Jerusalém.


Começa o período do governo sacerdotal de Judá.

Entre 500 a.e.c. e 458 a.e.c. - A observância do povo da lei mosaica entra em declínio

457 a.e.c. - Esdras conduz uma segunda leva de judeus de volta a Jerusalém, onde
ensina a lei mosaica, que havia sido deixada de lado.

457 a 400 a.e.c. - O Estado de Judá (Yehud Medinata) continua a existir, num período
de tranquilidade externa, porém de turbulência interna. Durante esse período, o livro
de Malaquias é escrito.

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6) Mensagem

O livro de Malaquias é escrito numa época de novo declínio do culto a YHWH.


Diferentemente de outras ocasiões nas quais a principal causa disso é a idolatria, o
povo no período de Malaquias estava vendo pouca vantagem em servir o Eterno.

O livro é escrito num período em que a terra não está dando produção
satisfatória, seja por seca ou outros elementos (como praga de gafanhotos).

O povo olhava para as nações vizinhas, mais prósperas, com desânimo. Uns se
perguntavam porque o Eterno não os abençoava. Outros ainda indagavam se haveria
propósito em servir o Criador se não estavam sendo abençoados com prosperidade.

“Os leitores do livro de Malaquias são convocados a olhar para algumas


armadilhas da vida cotidiana e do culto no Templo, e particularmente como elas
afetam o relacionamento entre o ETERNO e Israel, resultando na falta de
prosperidade. Questões como ofertas adequadas, práticas de casamento e dízimos são
especialmente proeminentes no livro.

Mensagens de reforma cúltica e adoração adequada são profundamente


entretecidas com a convicção da vinda de um dia futuro no qual o ETERNO pisoteará
todos os praticantes do mal. Tal otimismo sobre um futuro ideal é típico em obras
proféticas.

Além disso, o livro pede a seus leitores que identifiquem o comportamento


adequado nessas [obras] e todos os assuntos relativos a seguir a Torá (ou
Ensinamento) de Moisés.

Como um todo, o livro objetiva persuadir seus leitores a seguir a Torá de


Moisés, ou fortalecer a sua determinação em fazer isso.” (Jewish Study Bible -
Malachi)

7) Estilo Literário

Este talvez seja um dos livros proféticos mais diretos da Bíblia Hebraica,
com uma mensagem bastante direta.

“O estilo do livro é mais prosaico do que qualquer dos outros livros proféticos;
o paralelismo que se encontra nos outros aqui é menos pronunciado e as figuras de
linguagem frequentemente têm menos força ou beleza.” (Isidor Singer, Adolf
Guttmacher - Book of Malachi - Jewish Encyclopedia)

O livro usa uma retórica argumentativa que lembra um debate, ou talvez um


embate, onde há acusação e réplica.

“O embate geralmente começa com uma afirmação que introduz o assunto a


ser explorado. A resposta à afirmação trabalha retoricamente quer para ilustrar a
afirmação principal ou para explorar a afirmação ainda mais, adicionando acusações,
admoestações ou elementos didáticos.” (Smyth & Helwys Bible Commentary -
Introduction to the Book of Malachi)


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8) Estrutura do Livro

O livro se divide da seguinte maneira:

1) Primeiro Embate (1:1-5):


• O amor do Eterno a Israel é questionado;
• A resposta: Diferentemente de Israel, Edom será totalmente destruído;

2) Segundo Embate (1:6-2:10a):


• O Eterno diz que não é honrado;
• O povo questiona;
• Críticas ao sacerdócio e aos sacrifícios;

3) Terceiro Embate (2:10b-16):


• O Eterno acusa Judá de cometer abominação;
• O povo questiona;
• O Eterno mostra que o povo é infiel;

4) Quarto Embate (2:17-3:5):


• O povo questiona porque os perversos prosperam;
• O povo diz que o povo o cansa por duvidar da justiça;
• O Eterno diz que virá a punição dos perversos;

5) Quinto Embate (3:6-3:12):


• O Eterno acusa o povo de roubá-lo e pede que retornem a Ele;
• O povo pergunta como pode retornar a Ele;
• O Eterno diz que abençoará o povo se ele for fiel;

6) Sexto Embate (3:13-4:3):


• O Eterno acusa o povo de arrogância por dizer que é inútil servir o
Eterno;
• O Eterno diz que o justo será lembrado e o ímpio destruído;
• O Eterno diz que punirá os arrogantes;

6) O Futuro (4:4-6):
• O Eterno exorta o povo à obediência;
• O Eterno diz que enviará Elias antes do Seu grande dia;

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