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Curativos na
DE EDUCAÇÃO
Atenção Primária
PERMANENTE à Saúde
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA
UNIDADE 1
Avaliação de lesões
em usuários da
Atenção Básica
Você já passou pela experiência de cicatrização alguma vez? Percebeu o tempo e as diferen-
tes fases que esse processo percorre?
O ponto de partida para entender como cuidar de feridas e curativos na Atenção Primária
à Saúde deve ser conhecer sobre o processo de cicatrização tecidual, não é mesmo?
Cicatrização consiste na cura de uma ferida por reparação ou regeneração dos tecidos afe-
tados evoluindo em fases distintas. Por isso, podemos afirmar que se trata de um processo
sistêmico, complexo, dinâmico e interativo que ocorre em três fases (BLANCK; BARROZO,
2009; CAMPOS et al., 2007), a saber:
Endotélio vascular e células Trombina ativa plaquetas, Produção de grande Processo de coagulação
sanguíneas circulantes são cofatores V e VIII, bem quantidade de trombina, é limitado para evitar
perturbados; e há interação como fator XI na superfí- formação de um tampão oclusão trombolítica ao
da FVIIa, derivada do plas- cie das plaquetas. estável no sítio da lesão redor das áreas íntegras
ma, com o FT. e interrupção da perda dos vasos.
sanguínea.
Também ocorre a migração dos fibroblastos para o local da lesão na qual se dividem e
produzem componentes da matriz extracelular, com a finalidade de promover a contração
da ferida, conforme você pode ver melhor na figura seguinte.
Na Figura 3, é possível ver uma lesão cujo leito apresenta predominância de tecido de gra-
nulação e que indica que a ferida se encontra na fase proliferativa da cicatrização. Também
é possível observar uma contração da lesão de forma centrípeta com redução do seu leito,
evidenciado pela borda de cor clara, sem pelos.
Que condições podem afetar um processo de cicatrização? E como devemos agir diante do
surgimento desses novos fatores?
Conhecer a influência desses fatores é importante para que sejam tomadas condutas ade-
quadas acerca das lesões apresentadas pelos usuários.
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Avaliação de lesões em usuários da Atenção Básica 6
Vejamos que fatores são esses:
Agora, iremos discutir sobre os efeitos dos medicamentos sobre o processo de cicatrização
tecidual, conforme observamos no quadro a seguir:
Anticoagulantes,
• Inibe as ligações cruzadas do colágeno e acelera sua degradação.
Heparina.
Vasoconstritores,
• Hipóxia tissular devido à redução da microcirculação.
Nicotina, Cocaina, Adrenalina e Ergotamina.
Você pode estar se perguntando: quem são esses micro-organismos e como eles agem nas
feridas? Vamos conhecer os mais famosos agora.
A higienização das mãos, é um exemplo prática de precaução padrão universal que deve ser
adotada sempre antes e depois de manipular lesões e curativos dos usuários, em qualquer local
em que se realize o cuidado – domicílio, unidades de saúde, entre outros. Cuidados com a lim-
peza da lesão e a escolha de produtos e coberturas serão abordados mais adiante na Unidade 4.
Assim, sabendo que tais fatores influenciam na recuperação do usuário e oclusão de sua
lesão, entendemos que quando algumas das alterações citadas se fazem presentes, a cica-
trização pode se tornar mais demorada e é por isso que é preciso conhecer os tipos de
cicatrização. São elas (BLANCK; BARROZO, 2009; SANTOS et al., 2011; TAZIMA et al., 2008):
Após essa reflexão, para finalizar esta aula e verificar sua aprendizagem, observe a figura a
seguir em que se encontra um esquema resumido sobre o processo de cicatrização tecidual
(BRASIL, 2002):
Processo de Cicatrização
Reação imediata
Proliferação Granulação
Epitelização
Cursistas, aqui iniciamos a nossa Aula 2 da Unidade 1. Esta aula disporá sobre a avaliação de
pele e mucosas. O profissional de saúde da APS precisa atuar na avaliação e tratamento das
alterações de integridade e na saúde da pele e mucosas, preservando e favorecendo todas
as suas funções: estética, protetora, barreira, termorregulação e sensorial.
A pele é constituída por três camadas: epiderme, derme e hipoderme ou tela subcutâ-
nea. Trata-se do maior órgão sensorial humano, pois reveste toda a superfície corporal e
possui diversas funções: termorreguladora; serve como barreira protetora contra agressões
externas e ainda confere as sensações térmicas, táteis (pressão, vibração) e dolorosas; é
ainda capaz de excretar água, eletrólitos e ureia, e tem a função de metabolização por ser
o sítio de ativação da vitamina D, mediante exposição da pele aos raios UVB (GUIMARÃES
et al., 2016). As glândulas sebáceas presentes na pele secretam substâncias que agem como
lubrificante e emulsificante e formam o manto lipídico da superfície cutânea, conferindo
atividades antibacteriana e antifúngica (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Essas múltiplas funções do revestimento cutâneo, somadas à sua extensão, conferem à pele
uma condição de importante interface com o meio externo (TEBCHERANI, 2014). Inúme-
ras alterações – como pressão, traumas mecânico, químico, físico e isquêmico e cirurgias
– podem acometer a integridade da estrutura da pele, resultando em solução de continuida-
de, denominadas como feridas (DEALEY, 2008).
Caros cursistas, de modo geral, as alterações da pele podem ser classificadas como lesões
primárias e secundárias, em que as primárias são as que causam mudanças na estrutura
da pele, enquanto as secundárias são derivadas da evolução de algum comprometimento
já existente. Com o exposto, percebemos a importância de colher um histórico detalhado
do usuário para conhecermos seus antecedentes pessoais e familiares, sua ocupação, pro-
cedimentos e cirurgias anteriores entre outras questões que podem ajudar o profissional a
entender a queixa atual e relacioná-la ao estado de saúde global do indivíduo.
A coloração do leito da ferida é um importante quesito a ser analisado. Para que você se
lembre sempre dessa informação, observe o infográfico a seguir, baseado em Irion (2012):
Pode significar três coisas: exsudato purulento (pus com textura espessa e
odor, sinalizando infecção); fibrina (produto final da cascata de coagulação
sanguínea que, junto com as plaquetas, forma trombos. Cria uma camada
endurecida de difícil remoção); crosta (tecido necrótico parcialmente solu-
bilizado com cor que varia de acinzentada até castanho-amarelada).
O odor é outra importante característica a ser avaliada. Embora as feridas saudáveis não
costumem apresentar odor, sua ausência não exclui a chance de ali existir infecção. Feridas
que abrigam grande quantidade de tecido necrótico por muito tempo apresentam um odor
pútrido associado a presença de tecido em decomposição. Um odor de frutas/doce associa-
do ao exsudato esverdeado costuma aparecer em infecções por Pseudomonas aeruginosa
(IRION, 2012).
A drenagem deve ser descrita em termos de volume e característica. Uma ferida cujo
leito encontra-se ressecado requer intervenções para aumentar sua umidade e, assim,
proporcionar a cicatrização tecidual. Dizemos que uma ferida apresenta secreção máxima
ou copiosa quando, ao removermos as coberturas, percebemos que as gazes estão
completamente molhadas pelo exsudato. Determinadas coberturas auxiliam na remoção do
excesso de exsudato e outros permitem que o meio esteja sempre úmido. Essas informações
você terá na Unidade 4. Algumas pessoas adotam o termo secreção e outras exsudato,
portanto, iremos esclarecer: por definição, transudato consiste em um líquido límpido
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Avaliação de lesões em usuários da Atenção Básica 15
consistindo em água e pequenas partículas. Já o exsudato contém elementos maiores, como
células e proteínas (IRION, 2012).
Na figura do lado direito (segunda figura), o profissional mede a lesão posicionando uma
folha de acetato e, nessa, desenha o contorno da lesão. No desenho resultado, você deverá
traçar uma linha vertical e outra horizontal, tomando como referência os pontos mais exten-
sos do comprimento e da largura da ferida; com esses valores em centímetros calcula-se a
área da ferida (SAAR; LIMA, 2008).
E como podemos avaliar a extensão da lesão? Em feridas muito irregulares pode haver uma
estimativa exagerada da área verdadeira, por isso o profissional pode apenas reproduzir
esse desenho no prontuário para registrar e, assim, acompanhar a evolução do usuário. Já
existem hoje dispositivos transparentes com círculos ou elipses concêntricos, com núme-
ros impressos, indicando o raio ou diâmetro que fornecem uma noção da área da lesão.
Lembramos que dispositivos plásticos não estéreis podem ser colocados sobre a ferida para
medição, mas nunca em contato direto com ela pelo risco de infecção (IRION, 2012).
Coloração
Já que falamos sobre a pele circunvizinha, não podemos esquecer que avaliar suas bordas
é igualmente importante. Essas precisam ser analisadas quanto a sua hidratação, sinais de
lesão e aderência da margem ao leito da ferida. A falta de aderência pode ser caracterizada
pela formação de túneis ou trajetos fistulosos, bordas solapadas ou formação de bolsões.
Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde
Avaliação de lesões em usuários da Atenção Básica 17
Outro dado semiológico importante de ser investigado é a presença de dor, a qual pode
ser medida por meio de escalas. Quando a dor aumenta de intensidade de modo súbito e
acompanhada por odor e secreção, há indicativo de infecção.
E quais as condutas para as lesões nos membros inferiores? Quando as lesões aparecem nos
membros inferiores, devemos realizar algumas avaliações adicionais capazes de identificar
alterações arteriais, venosas ou linfáticas. Alguns desses exames requerem instrumentos
mais sofisticados enquanto outros podem ser realizados nos serviços de atenção primária,
os quais serão apresentados a seguir.
Um exame simples consiste em palpar as artérias dorsal do pé e tibial posterior para veri-
ficar se o pulso está presente nesses locais. Se houver disponibilidade de um estetoscópio
Doppler, esse pode ser utilizado para melhorar a sensibilidade do teste. Outra possibilidade
é a verificação do Índice Tornozelo Braquial (ITB) de cada membro a partir da verificação
da Pressão Arterial com auxílio de esfigmomanômetro e estetoscópio Doppler. Os valores
obtidos devem então ser aplicados na fórmula: ITB = (PASt / PASb), em que PASt repre-
senta a pressão arterial sistólica do tornozelo e PASb pressão arterial sistólica do braço
(KAWAMURA, 2008). Veja na imagem a seguir:
Os exames mencionados acima são importantes para avaliar alterações arteriais, mas tam-
bém faz necessário avaliar o risco ou a existência de insuficiência venosa. Ao realizar o exame
físico, o profissional deve ficar atento para a dilatação de vasos superficiais nos membros
inferiores e se esses apresentam trajetos tortuosos, pois podem indicar insuficiência venosa.