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Os santos dos últimos dias acreditam em um Deus amoroso, que

fala a Seus filhos “tanto agora como no passado e tanto no


passado como no futuro” (1 Néfi 10:19). Esse princípio
fundamental do Evangelho Restaurado se reflete em escrituras
modernas, que contêm os registros dos procedimentos de Deus
com Seus filhos nos tempos antigos, bem como Suas palavras a
Joseph Smith e outros profetas modernos.
Introdução à Série
Matthew S. McBride1 Agosto 2016

O livro de Doutrina e Convênios é uma testemunha de toda essa


efusividade de revelação contínua. Cada seção responde às questões
prementes, revela verdades importantes ou dá orientação prática.
Essas revelações são fruto de um diálogo contínuo entre o Senhor e
Seu povo. Mas em muitos casos, Doutrina e Convênios contém
apenas metade do diálogo — as respostas reveladas pelo Senhor.
Dessa forma, é um livro único entre os livros de escrituras santos dos
últimos dias. Na Bíblia, no Livro de Mórmon e na Pérola de Grande
Valor, o ensino do evangelho é muitas vezes expressado em
narrativa. A narrativa nos dá pistas que nos ajudam a interpretar os
ensinamentos e ver como eles influenciaram a vida dos homens e
mulheres das escrituras. Mas Doutrina e Convênios não contém as
histórias que existem por trás das revelações.

Embora os cabeçalhos das seções, atualizados em 2013, forneçam


um contexto para as revelações, instruções e declarações de
Doutrina e Convênios, eles não contam a história completa. Quais
foram as perguntas que levaram às revelações? O que as respostas
do Senhor significaram para aqueles que fizeram as perguntas?
Como aqueles que ouviram as revelações reagiram aos novos
ensinamentos? Revelações em Contexto é uma coleção de histórias
que tenta responder a essas perguntas. Contadas a partir do ponto de
vista de pessoas que vivenciaram a experiência em seu contexto
imediato, essas histórias nos dão uma ideia sobre o significado das
revelações e ajudam-nos a vê-las com novos olhos.

As histórias desta coleção, que tratam de quase todas as seções de


Doutrina e Convênios, foram escritas pelos historiadores do
Departamento de História da Igreja. Ao contar essas histórias, cada
autor usou tanto sua fé no evangelho restaurado como sua
experiência e conhecimento em história americana e história mórmon.
Particularmente importante para esta série foi o projeto Joseph Smith
Papers que tem proporcionado um meticuloso alicerce de estudo
acadêmico a partir do qual deve ser feita toda a interpretação sobre a
vida e o trabalho de Joseph Smith. As citações do Joseph Smith
Papers em Revelações em Contexto geralmente orientam o leitor a
acessar os documentos e materiais disponíveis no site
JosephSmithPapers.org.

Esperamos que essas narrativas forneçam aos membros da Igreja


não apenas uma compreensão mais clara das revelações em si, mas
uma profunda gratidão pela forma como Deus fala com Seus filhos
“em sua fraqueza, conforme a sua maneira de falar, para que
alcançassem entendimento” (D&C 1:24).
As Cinco Perguntas de William McLellin
D&C 1, 65, 66, 67, 68, 133
Matthew C. Godfrey3 Janeiro 2013

Página de Rosto do Livro de Mandamentos

William McLellin viu Joseph Smith pela primeira vez na época em que
decidiram publicar o Livro de Mandamentos. Sua experiência
convenceu-o de que Joseph era um profeta verdadeiro.

William McLellin
Dois meses após seu batismo em 20 de agosto de 1831, William E.
McLellin, ex-professor, participou ativamente da história da
restauração. Após sua conversão, McLellin foi ordenado élder e
pregou o evangelho com Hyrum Smith por algumas semanas antes
de viajar para Orange, estado de Ohio, no final de outubro, para uma
conferência geral da Igreja. McLellin comentou em seu diário que
tinha sido nessa conferência que ele “viu o irmão Joseph, o vidente,
pela primeira vez e também os irmãos Oliver [Cowdery], John
[Whitmer], Sidney [Rigdon] e muitos outros grandes élderes”. Na
conferência, McLellin foi ordenado sumo sacerdote e ouviu Joseph
ensinar sobre os poderes e deveres desse ofício. “Nesta conferência,
fui muito edificado espiritualmente e senti um grande consolo em meu
coração”, declarou ele.1

D&C 66
D&C 66 em JosephSmithPapers.org
Após a conferência, McLellin viajou para Kirtland e no decorrer da
jornada “[pisou] em falso num grande tronco e [torceu] o tornozelo,
sentindo muita dor” — tanto que implorou a Joseph que o curasse.
“Ele pôs as mãos sobre o tornozelo”, escreveu McLellin em seu diário,
“e o curou, embora estivesse muito inchado e doesse
terrivelmente”.2 Alguns dias depois, McLellin decidiu testar o
chamado de Joseph Smith. Depois de ter ido à casa de Joseph em
Hiram, Ohio, em 29 de outubro, McLellin “orou ao Senhor em segredo
e, de joelhos, pediu-Lhe que lhe revelasse a resposta a cinco
perguntas por meio de Seu profeta”. Sem deixar que Joseph
soubesse quais eram essas cinco perguntas, McLellin pediu a Joseph
que dissesse a ele qual era a vontade de Deus. A revelação resultou
na — seção 66 da edição atual de Doutrina e Convênios — na qual
as respostas para as cinco perguntas foram reveladas para sua
“satisfação total e completa”. Mesmo depois de ter se afastado da
Igreja, McLellin declarou que ele ainda considerava essa revelação
uma “prova” do chamado profético de Joseph “que não se pode
refutar”.3

D&C 65

D&C 65 on JosephSmithPapers.org
Apenas um dia depois que essa revelação foi dada, McLellin
compareceu a uma reunião da Igreja na casa de John Jonhson, onde
Joseph estava morando, e falou aos presentes por uma hora e meia.
“E não era eu, mas o espírito e poder de Deus que se achavam em
mim”, explicou.4 Na mesma reunião, Joseph recebeu uma outra
revelação, canonizada como a seção 65 da edição atual de Doutrina
e Convênios. A revelação proclamou que “as chaves do reino de
Deus” foram novamente “confiadas ao homem na Terra” e que
“[rolaria] o evangelho até os confins da Terra, (…) até encher toda a
Terra”5 (ver D&C 65:2).

D&C 68

D&C 68 em JosephSmithPapers.org
Dois dias depois, em 1º de novembro, McLellin assistiu a uma
conferência de élderes, realizada em Hiram, Ohio. Embora já tivesse
recebido uma revelação por Joseph mostrando a vontade do Senhor
para ele, McLellin juntou-se a três outros homens na conferência —
Orson Hyde, Luke Johnson e Lyman Johnson — pedindo a Joseph
que revelasse “a mente e a vontade do Senhor” com respeito a suas
responsabilidades.6 McLellin contou mais tarde que quando foi
ordenado sumo sacerdote, “não entendia os deveres do
ofício”.7 Talvez aquela falta de entendimento tivesse em parte levado
à sua solicitação, pois a revelação que se seguiu — agora Doutrina e
Convênios 68 — deu a McLellin e seus companheiros informações
sobre os deveres dos sumos sacerdotes e élderes para pregar o
evangelho em toda a Terra.8

D&C 1
D&C 1 em JosephSmithPapers.org
Dada a responsabilidade de pregar e tendo a revelação de 30 de
outubro declarado que o evangelho iria “rolar até os confins da Terra”,
era imperativo que as revelações que Joseph já havia recebido
fossem publicadas. McLellin contou depois que “foram gastas horas”
na conferência para discutir se as revelações deveriam ou não ser
publicadas até que “finalmente foi decidido que seriam”.9 De acordo
com as lembranças de McLellin, naquela conferência de novembro,
ele, Oliver Cowdery e Sidney Rigdon receberam a designação de
esboçar um prefácio para o Livro de Mandamentos. Contudo, quando
esses homens apresentaram o prefácio na conferência, os
participantes “picaram-no em pedaços” e “solicitaram a Joseph que
consultasse o Senhor sobre isso”. Depois de se curvar em oração
com os participantes da conferência, de acordo com McLellin, Joseph
“ditou o prefácio pelo espírito, sentado perto de uma das janelas da
sala onde estava sendo realizada a conferência”. McLellin lembrou-se
que “Joseph dizia algumas frases, Sydney [Rigdon] as anotava e, em
seguida as lia em voz alta, e se estivesse correto, Joseph prosseguia
ditando mais frases”. De acordo com McLellin, “por esse processo foi
dado o prefácio” — hoje a seção 1 de Doutrina e Convênios.10

D&C 67
D&C 67 em JosephSmithPapers.org
Joseph Smith também desejava que os participantes da conferência
prestassem seu testemunho da origem divina das revelações. Alguns
se mostraram relutantes em fazê-lo, levando a outra revelação,
atualmente a seção 67 de Doutrina e Convênios. Nessa revelação, o
Senhor proveu um meio para que os élderes soubessem se as
revelações eram de Deus: “Se houver entre vós alguém que produza
um [algo] semelhante” a essas revelações, “então sereis justificados
em dizer que não sabeis se são verdadeiros”. Se ninguém pudesse
“produzir um semelhante, estareis sob condenação se não
testificardes serem eles verdadeiros”11 (ver D&C 67:6-8).

De acordo com seu relato, McLellin se ofereceu para tentar escrever


uma revelação pessoal, mas foi um fracasso total.12 Daí em diante,
McLellin, juntamente com outros participantes da conferência, deram
seus nomes em um testemunho, preparado por Joseph, declarando:
“Deus testificou em nossa alma por meio do Espírito Santo que foi
derramado sobre nós que esses mandamentos foram dados por
inspiração de Deus e são proveitosos e realmente verdadeiros”. 13

D&C 133

D&C 133 em JosephSmithPapers.org


Terminada a conferência, McLellin ficou com Joseph Smith por mais
duas semanas, copiando as revelações e preparando-se para uma
missão futura com Samuel H. Smith nos estados do leste.14 Ele deve
também ter estado presente em 3 de novembro, quando Joseph
recebeu o que se tornaria conhecido como o apêndice do Livro de
Mandamentos, que aparece na edição atual de Doutrina e Convênios
como a seção 133.

Como a seção 1, ela adverte os habitantes da Terra sobre o retorno


iminente de Cristo e a necessidade de arrepender-se e aceitar a
orientação de Deus presentes nas revelações que ele tinha dado a
Joseph. Fortalecido pela palavra de Deus, McLellin partiu para sua
missão com Smith em 16 de novembro e pregou o evangelho por
várias semanas.15

McLellin foi depois chamado como um dos primeiros membros do


Quórum dos Doze Apóstolos, mas não permaneceu fiel em seu
testemunho; ele se afastou da Igreja e também participou da
perseguição aos santos no Missouri.16 No entanto, durante algumas
semanas no outono de 1831, foi testemunha ocular do chamado
profético de Joseph Smith, testemunhando várias revelações,
inclusive as que foram dadas diretamente a ele sobre a decisão de
publicar as revelações como o Livro de Mandamentos. McLellin,
juntamente com outros participantes em outra conferência de
novembro de 1831, declarou que essas revelações eram “tão valiosas
para a Igreja como as riquezas de toda a Terra”. Para ele, elas
continham “as chaves dos mistérios do reino e as riquezas da
eternidade para a Igreja”.17

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Matthew C. Godfrey, Mark Ashurst-McGee, Grant
Underwood, J. Robert. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents,
Volume 2: julho de 1831- janeiro de 1833. Vol. 2 da série “Documents” de The
Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Jan Shipps e Welch, eds., The Journals of William E. McLellin, 1831–
1836, (Provo, UT: Brigham Young University Studies, 1994), pp. 44–45;
Minute Book 2, 25 – 26 de outubro de 1831, Joseph Smith papers.
[2] Jan Shipps e John W. Welch, eds., The Journals of William E. McLellin,
1831-1836, (Provo, UT: Brigham Young University Studies, 1994), p. 45.
[3] William E. McLellin, Ensign of Liberty, Kirtland, Ohio (janeiro de 1848): 61.
[4] Jan Shipps e John W. Welch, eds., The Journals of William E. McLellin,
1831-1836, (Provo, UT: Brigham Young University Studies, 1994), pp. 46-47.
[5] Revelação, 30 de outubro de 1831, JSP.
[6] Revelação, 1 novembro de 1831-A, JSP.
[7] W. E. McLellan, M.D., a Davis H. Bays, 24 de maio de 1870, em Saints’
Herald, 15 de setembro de 1870, 553-557.
[8] D&C 68:1-12.
[9] William E. McLellin, “From a Letter dated Dec. 14th, 1878”, John L.
Traughber Papers, J. Willard Marriott Library, University of Utah, Salt Lake
City, Utah.
[10] “Letter from Elder W. H. Kelley,” Saints’ Herald, 1 de março de 1882, p.
67.
[11] Revelação, aprox. 2 de novembro de 1831, JSP.
[12] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, 162, JSP. O próprio
McLellin nunca mencionou esse incidente. Ver também Mark R. Grandstaff,
“Having More Learning Than Sense: William E. McLellin and the Book of
Commandments Revisited,” Dialogue: A Journal of Mormon Thought 26
(inverno de 1993): 23-48.
[13] Testemunho, aprox. 1–2 de novembro de 1831, JSP.
[14] Jan Shipps e John W. Welch, eds., The Journals of William E. McLellin,
1831-1836, (Provo, UT: Brigham Young University Studies, 1994), p. 47.
[15] Jan Shipps e John W. Welch, eds., The Journals of William E. McLellin,
1831-1836, (Provo, UT: Brigham Young University Studies, 1994), p. 47.
[16] Minutes, 14 de fevereiro de 1835, Minute Book 1, p. 149, JSP; Larry C.
Porter, “The Odyssey of William Earl McLellin: Man of Diversity, 1806-83”, The
Journals of William E. McLellin, 325-327.
[17] Minutes, 12 de novembro de 1831, Minute Book 2, 18, JSP.
As Contribuições de Martin Harris
D&C 3, 5, 10, 17, 19
Matthew McBride3 Janeiro 2013

Martin Harris

A história da conversão de Martin Harris e suas contribuições para a


publicação do Livro de Mórmon nos dão o cenário para várias das
primeiras revelações de Joseph Smith.

Por volta de 1827, Martin Harris havia conquistado uma vida


confortável em Palmyra, Nova York.1 Nos quatorze anos anteriores,
ele adquiriu 320 acres de terra, tornou-as lucrativas por meio de suas
ideias industriosas e progressistas e construiu uma bela casa de
alvenaria.2 Casou-se com Lucy Harris em 1808, e o casal teve cinco
filhos, três dos quais viveram até a idade adulta. O talento e a
prosperidade de Martin não passaram despercebidos por seus
vizinhos, que o consideravam “um fazendeiro industrioso, trabalhador,
astuto em seus negócios, comedido em seus hábitos e (…) próspero
no mundo”.3

Aos 45 anos de idade e desfrutando dos frutos de seu trabalho e


tendo o respeito de seus colegas, Martin até considerava a
possibilidade de contratar alguém para cuidar de sua fazenda por
vários meses para que pudesse fazer algumas viagens. No entanto,
quando começou a refletir sobre essa possibilidade, recebeu a visita
de Lucy Mack Smith, que trouxe notícias intrigantes.

A fazenda de Martin Harris perto de Palmyra, 1907


Martin Harris conhecia a maior parte da história: um anjo tinha
aparecido a Joseph Smith e revelou-lhe a existência de um registro
de antigas placas metálicas enterradas num monte perto de sua casa.
Por três anos, Joseph tinha observado e esperado.

Agora, Lucy Smith tinha vindo para dizer a Martin que o filho dela
finalmente recebera as placas do anjo e queria vê-las traduzidas.
Joseph e sua família não estavam em condições de pagar pela
publicação dessa tradução, mas Martin Harris sim. Lucy Mack Smith
perguntou a Martin se ele poderia fazer uma visita a Joseph. Ele
concordou, e sua esposa, Lucy Harris, insistiu em ir também.

Joseph Smith provavelmente considerava Martin Harris como um


amigo. Ele havia anteriormente confidenciado a Martin as visitas do
anjo e a existência das placas. Martin aparentemente retribuiu sua
amizade; ele contratou Joseph Smith para trabalhar por dia em sua
fazenda e encontrou nele alguém em quem confiar.

Mas provavelmente, Martin nutria algumas dúvidas. Algum tempo


depois, ele disse numa entrevista que, logo que ouvira a história das
placas, presumiu que Joseph e seus amigos que buscavam dinheiro
simplesmente haviam encontrado uma velha chaleira de bronze. No
entanto, Martin era um homem religioso. Alguns o achavam até
supersticioso em suas opiniões, chamando-o depreciativamente de
“visionário fanático”.4 Não entanto, talvez tenha sido essa abertura à
presença do sobrenatural na vida diária que lhe permitira pelo menos
pensar nas alegações de Joseph. Lucy Harris prontamente cumpriu a
promessa de visitar Joseph, oferecendo-se até para ajudar a financiar
a tradução das placas. Martin ficou indiferente, talvez porque
precisasse de mais tempo para pensar no assunto.

Durante o outono e o inverno, vizinhos hostis fizeram várias tentativas


de roubar as placas de Joseph. Nessa situação precária, ele decidiu
se mudar com a esposa, Emma, para a casa dos pais dela em
Harmony, Pensilvânia. Qualquer que tenha sido o motivo de sua
hesitação anterior, Martin concluiu que precisava ajudar Joseph. Ele o
encontrou em uma taverna em Palmyra, deu-lhe 50 dólares em prata
e disse: “Dou-te isso para que faças a obra do Senhor”.5 Quando
Joseph insistiu que ele considerava aquela ajuda um empréstimo,
Martin reafirmou seu desejo de contribuir liberalmente para a causa.

Enquanto isso, Lucy Harris havia começado a duvidar da história de


Joseph, possivelmente devido a sua insistência em manter as placas
escondidas. Essa suspeita levou Lucy a ressentir-se do grande
interesse e envolvimento de Martin com Joseph. O relacionamento de
Martin e Lucy já estava tenso, e o apoio de Martin a Joseph Smith fez
com que o abismo que os separava se aprofundasse.

“Não Posso Ler um Livro Selado”


Pouco tempo depois que a família Smith chegou a Harmony, Martin
foi visitá-los e expressou seu desejo de ajudar Joseph. Martin sugeriu
que ele fosse à cidade de Nova York, no leste, com a transcrição de
alguns dos caracteres encontrados nas placas para mostrá-los a
alguns estudiosos. Talvez ele quisesse mais uma confirmação de que
as placas eram autênticas, ou pode ter pensado que o testemunho de
um estudioso poderia ajudá-los a conseguir dinheiro emprestado para
publicar a tradução. De qualquer forma, ele insistiu na ideia de que o
Senhor o tinha inspirado a fazer a viagem.

Na época, nem Joseph nem Martin sabiam muito sobre a linguagem


nas placas. Sabiam apenas o que o anjo Morôni tinha dito a Joseph:
que era um antigo registro americano. Assim, em vez de procurar um
erudito com conhecimento do idioma egípcio (Joseph ficou sabendo
depois que a linguagem nas placas foi chamada de “egípcio
reformado”), Martin visitou vários estudiosos interessados em
antiguidades, especialmente antiguidades americanas.6

Ele partiu em viagem em fevereiro de 1828 e, no caminho para a


cidade de Nova York, parou em Albany para visitar Luther Bradish,
um antigo morador de Palmyra e amigo da família que tinha viajado
muito por todo o Oriente e Egito. Martin perguntou sua opinião sobre
quem ele poderia ver a respeito da tradução e viajou para Nova York
para encontrar-se com Samuel L. Mitchill, linguista e um dos
principais estudiosos de cultura americana antiga. Depois de
examinar os caracteres, Mitchill evidentemente enviou Martin para
Charles Anthon, um jovem professor de gramática e linguística da
Universidade de Colúmbia. Anthon coletava histórias indígenas
americanas e discursos para publicação e estava ansioso para
examinar o documento que Martin lhe trouxera.

Martin disse que Anthon declarou que os caracteres eram autênticos


até o momento em que ficou sabendo como Joseph Smith os tinha
adquirido. Anthon sugeriu que Martin lhe trouxesse as placas. Martin
se recusou, e Anthon respondeu, parafraseando um versículo de
Isaías: “Não posso ler um livro selado”. Embora Anthon depois tenha
negado os detalhes do relato de Martin sobre a conversa deles,
sabemos o seguinte: Martin voltou de seus encontros com os
estudiosos mais convencido do que nunca de que Joseph Smith foi
chamado por Deus e de que as placas e os caracteres eram antigos.
Ele e Joseph viram a visita ao professor Anthon como o cumprimento
da profecia de Isaías (também mencionada no Livro de Mórmon)
sobre “as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler,
dizendo: Ora, lê isto; e ele dirá: Não posso, porque está selado”.7

“Para Calar a Boca dos Tolos”


Durante a primavera e o início do verão de 1828, Martin serviu de
escrevente para o jovem vidente enquanto este ditava a tradução.
Embora o processo deva ter parecido milagroso para ele, Martin
ainda estava receoso de ser enganado. Certa vez, ele substituiu a
pedra vidente de Joseph por outra pedra para ver se Joseph
perceberia a diferença. Quando Joseph foi incapaz de continuar
traduzindo, Martin confessou seu estratagema e devolveu a pedra
vidente. Quando Joseph perguntou-lhe por que tinha feito isso, Martin
explicou que ele queria “calar a boca dos tolos que lhe disseram que
o Profeta havia aprendido essas frases e as estava meramente
repetindo”.8

Embora Martin tenha chegado a acreditar sinceramente, sua esposa


tinha se tornado bastante hostil. Lucy Harris estava preocupada, de
modo compreensível, que Martin corresse grande risco financeiro ao
ajudar a publicar o livro, que seus colegas zombariam da participação
de seu marido no que viam como um esquema fraudulento e que
Martin simplesmente não havia levado em consideração os
sentimentos dela. Ela também estava incomodada pelo modo como
Joseph sempre recusava toda possível tentativa de ela ver as placas
e importunava Martin incessantemente para que ele mostrasse
alguma prova da capacidade de Joseph de traduzir.

Para aliviar o mal-estar de Lucy, Martin pediu a Joseph que


“consultasse o Senhor por meio do Urim e Tumim” para saber se ele
poderia “levar os escritos para casa e mostrá-los”9 à sua esposa e
outras pessoas. Joseph queria agradar a Martin porque ele lhe
demonstrara amizade “quando parecia não haver nenhum amigo na
Terra para socorrê-lo ou solidarizar-se com ele”.10

Joseph inquiriu ao Senhor por seu amigo. “A resposta”, disse Joseph,


“foi que ele não poderia fazê-lo. Contudo, ele não ficou satisfeito com
essa resposta e desejou que eu perguntasse novamente. Eu o fiz, e a
resposta foi a mesma. Ainda assim, ele não se contentou, mas insistiu
que eu perguntasse mais uma vez. Depois de muitos pedidos,
perguntei novamente ao Senhor, e foi dada permissão sob [certas]
condições”.11 Martin deveria mostrar as páginas traduzidas apenas
para sua esposa, pais, irmão e cunhada.

Animado, Martin Harris voltou para casa com as páginas do


manuscrito e as mostrou à sua esposa. No entanto, ele não tratou o
precioso manuscrito com os cuidados necessários, e logo o perdeu.
Como isso aconteceu precisamente é pura especulação. Um rumor
comumente repetido foi que Lucy retirou as páginas do escritório de
Martin e as queimou, porém ela negou qualquer responsabilidade por
sua perda. Alguns, incluindo Joseph Smith, suspeitaram de uma
conspiração por parte de Lucy Harris ou talvez de outras pessoas.

Martin fez todo o possível para encontrar o manuscrito, temendo a


ideia de confessar a Joseph o que havia acontecido. Ele até “rasgou
as roupas de cama e travesseiros”, mas sem sucesso. Quando
Joseph voltou para a casa de seus pais depois de várias semanas,
ansioso por receber notícias, Martin caminhou com relutância os
cinco quilômetros até a casa da família Smith em Manchester. Ao
aproximar-se, “caminhou lentamente em direção à casa, pensativo,
com o olhar fixo no chão. Quando ele chegou ao portão, não o abriu,
mas subiu na cerca e sentou-se, ficando lá algum tempo com o
chapéu cobrindo os olhos”.12

Ele finalmente entrou, teve pouco apetite para o jantar que haviam
preparado para ele, e logo “levou as mãos à cabeça e clamou
profundamente angustiado: ‘Oh Perdi minha alma!’”13 Joseph
entendeu imediatamente o que havia acontecido. Ele exigiu que
Martin voltasse e procurasse novamente o manuscrito, mas Martin
insistiu que seria em vão.
D&C 3 em JosephSmithPapers.org
Exausto e desanimado, Joseph voltou para Harmony e, depois de
caminhar uma curta distância de sua casa, orou pedindo misericórdia.
O anjo apareceu e deu novamente a Joseph o Urim e Tumim, ou
intérpretes que Joseph originalmente recebera com as placas, mas
que havia perdido por ter “enfadado o Senhor para pedir que Martin
Harris pudesse levar os escritos”.14 Usando o Urim e Tumim, Joseph
recebeu a mais antiga de suas revelações, cujo texto foi preservado.

Agora conhecida como Doutrina e Convênios 3, a revelação


repreendeu Joseph: “E eis que mui frequentemente transgrediste os
mandamentos e as leis de Deus e seguiste as persuasões dos
homens! Pois eis que não devias ter temido mais aos homens do que
a Deus”. No entanto, a revelação deu-lhe esperança: “Lembra-te,
porém, de que Deus é misericordioso. Portanto, arrepende-te do que
fizeste contrário ao mandamento que te dei e és ainda escolhido; e és
chamado à obra outra vez”.15

“Vou Dar-lhe uma Visão”

D&C 5 em JosephSmithPapers.org
Durante meses, Martin Harris permaneceu em sua casa em Palmyra,
assombrado pela perda do manuscrito. Ele também afligiu-se ao
descobrir que sua esposa e outras pessoas tentaram desacreditar
Joseph Smith e fazer com que se tornasse uma fraude, alguém que
estava simplesmente atrás do dinheiro de Martin. Ansiando por
reconciliação e levando notícias sobre essas tentativas preocupantes,
ele visitou Joseph Smith em Harmony em março de 1829.

Para alívio de Martin, Joseph havia obtido o perdão e estava se


preparando para retomar a tradução. Martin pediu mais uma vez
Joseph o privilégio de ver as placas. Ele desejava obter um firme
testemunho de que “Joseph tinha as coisas que testemunhou
possuir”, talvez para eliminar suas dúvidas remanescentes e ajudá-lo
a persuadir Lucy. Joseph recebeu uma revelação para Martin, que se
encontra hoje em Doutrina e Convênios 5. Nela, o Senhor revela que
seriam chamadas três testemunhas para ver e dar testemunho das
placas. Em seguida, para alegria de Martin Harris, o Senhor
prometeu-lhe: “se [ele] prostrar-se perante mim e humilhar-se em
fervorosa oração e fé, com o coração sincero, então permitirei que
veja as coisas que deseja ver”. A revelação também indicou que a
autenticidade do livro seria evidenciada por sua mensagem, em vez
das placas e que muitos não acreditariam mesmo que Joseph Smith
“[mostrasse] todas as coisas”.16
D&C 10 em JosephSmithPapers.org
O trabalho de tradução recomeçou em 5 de abril de 1829, quando
Oliver Cowdery assumiu a função de escrevente. Joseph e Oliver
retomaram de onde Joseph e Martin haviam parado anteriormente,
perto do início do livro de Mosias. Mas em maio, ao se aproximarem
do fim do Livro de Mórmon como o temos agora, eles se perguntaram
se deveriam retraduzir a parte perdida. Para responder a essa
pergunta, o Senhor deu a Joseph Smith outra revelação, que agora
se encontra em Doutrina e Convênios 10. A revelação confirmou os
temores de Joseph quanto a uma conspiração: “E eis que Satanás os
incitou em seus corações a alterarem as palavras que fizeste
escrever”. No entanto, o Senhor assegurou a Joseph que tinha uma
solução preparada há muito tempo. Joseph foi ordenado a não
retraduzir a parte perdida, mas a substituí-la por uma tradução das
“placas de Néfi”, que cobriam um período de tempo semelhante.
Assim, o Senhor iria frustrar os planos dos conspiradores e atender
às orações dos antigos registradores nefitas que desejavam que
esses escritos “fossem dados a este povo”.17

“Meus Olhos Viram”

D&C 17 em JosephSmithPapers.org
Como a tradução estava prestes a terminar, Martin, juntamente com
Oliver Cowdery e David Whitmer, imploraram a Joseph o privilégio de
serem as testemunhas prometidas das placas. Joseph novamente
perguntou e recebeu a revelação contida em Doutrina e Convênios
17, prometendo a cada um dos homens que eles testemunhariam
sobre as placas se “[confiassem] em [sua] palavra” de “todo o
coração”.18

Martin Harris estava, sem dúvida, eufórico por lhe ser permitido ver as
placas, mas em junho de 1829, quando os três homens tentaram orar
e obter uma visão das placas do anjo, eles inicialmente não tiveram
sucesso. Martin temia que “sua presença fosse a causa de não
conseguir o que [desejavam]”. Ele se retirou e pouco tempo depois, o
anjo apareceu e mostrou as placas a Whitmer e Cowdery. Joseph
então procurou Martin e o encontrou a certa distância dali. Ele estava
orando por conta própria, e Joseph se uniu a ele em oração. Pouco
depois, ele recebeu a manifestação que havia buscado há tanto
tempo. Depois de ter visto as placas, ele gritou: “Já basta; meus olhos
viram, meus olhos viram!”.19

“Não Cobiçarás Tua Propriedade”.


D&C 19 em JosephSmithPapers.org
Fortalecidos por essa experiência milagrosa e edificadora da fé,
Martin renovou seu compromisso de fornecer apoio financeiro para a
publicação do Livro de Mórmon. Joseph Smith tinha conversado com
vários gráficos em Palmyra e Rochester, Nova York. Ele esperava
convencer Egbert B. Grandin, de Palmyra, a imprimir o livro, e Martin
assumiu as negociações. O preço de Grandin era de US$3.000,00
para a impressão de 5.000 exemplares, uma edição
extraordinariamente grande, mas ele não compraria o tipo ou
começaria o trabalho até que Joseph ou Martin “prometessem
garantir o pagamento da impressão”.20 Martin teria de penhorar
praticamente todas as propriedades que possuía legalmente.
Esse momento de decisão demonstraria a profundidade da fé de
Martin Harris em Joseph Smith e no Livro de Mórmon. Em busca de
orientação, ele falou com Joseph, que recebeu outra revelação. Hoje
conhecida como Doutrina e Convênios 19, a revelação admoestou
Martin: “Não te apegues a tua propriedade, mas oferece-a
liberalmente para a impressão do Livro de Mórmon”.21 Em 25 de
agosto de 1829, ele hipotecou sua propriedade para Grandin como
forma de pagamento da publicação. Seus vizinhos ficaram surpresos
porque seu sensato amigo “abandonaria o cultivo de uma das
melhores fazendas da vizinhança”22 para garantir a publicação.

Inicialmente, Martin esperava recuperar sua fazenda hipotecada com


a venda de exemplares do Livro de Mórmon. Em janeiro, Joseph
Smith assinou um contrato com Martin, dando-lhe “privilégios
iguais”23 para vender exemplares do Livro de Mórmon, até que ele
tivesse recuperado totalmente os custos da impressão. Ele começou
a vender o livro assim que os exemplares ficaram prontos em março
de 1830. Infelizmente, as vendas não foram bem como ele esperava.

Joseph Smith encontrou Martin Harris bastante aflito no final de


março de 1830 perto de Palmyra. De acordo com Joseph Knight,
Martin carregava vários exemplares do Livro de Mórmon. Ele disse:
“Os livros não vendem, pois ninguém os quer” e disse a Joseph, “Eu
quero um mandamento”. A resposta de Joseph Smith mencionou a
revelação anterior a Martin: “Cumpra o que você já tem”. “Mas eu
preciso receber um mandamento”, repetiu Martin.24

Ele não recebeu nenhum mandamento adicional.25 No entanto, em


conformidade com a revelação anterior, Martin, por fim, vendeu parte
suficiente de sua propriedade para pagar sua dívida. Assim fazendo,
assegurou seu lugar como o mais significativo patrocinador financeiro
do Livro de Mórmon e, consequentemente, à Igreja em seus
primórdios. Nenhuma outra pessoa dentre os amigos de Joseph
Smith, mais jovens e mais pobres, poderia ter dado essa contribuição
essencial.
Notas de rodapé
[1] O autor faz reconhecimento a Michael Hubbard Mackay, da equipe de
Joseph Smith Papers, cuja pesquisa conta essa história de Martin Harris.
[2] Ronald W. Walker, “Martin Harris: Mormonism’s Early Convert”, Dialogue:
A Journal of Mormon Thought, Vol. 19, nº 4, Inverno de 1986, pág. 30.
[3] Susan Easton Black e Larry C. Porter “For the Sum of Three Thousand
Dollars”, Journal of Book of Mormon Studies, Vol. 14, nº 2, 2005, pág. 7.
[4] Walker, “Martin Harris: Mormonism’s Early Convert”, pág. 34.
[5] Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livro 6, pág. 6,
josephsmithpapers.org.
[6] Ver Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livros 6 e 7,
josephsmithpapers.org.
[7] Isaías 29:11: ver também Michael Hubbard MacKay e Gerrit J.
Dirkmaat, From Darkness unto Light: Joseph Smith’s Translation and
Publication of the Book of Mormon, Provo: BYU Religious Studies Center,
2015, pág. 52.
[8] Edward Stevenson, “One of the Three Witnesses: Incidents in the Life of
Martin Harris”, em Latter-day Saints’ Millennial Star, Vol. 44, nº 6, 6 de
fevereiro de 1882, pág. 87.
[9] Joseph Smith, “History, circa 1841, fair copy” pág. 14,
josephsmithpapers.org; ortografia atualizada.
[10] Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livro 6, pág.
10.
[11] Joseph Smith, “History, circa 1841, fair copy”, pág. 14.
[12] Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livro 7, pág. 5;
pontuação atualizada.
[13] Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livro 7, pág. 5;
pontuação atualizada.
[14] Joseph Smith, “History, circa 1841, fair copy”, pág. 14.
[15] Joseph Smith, “History, por volta de 1841, cópia”, pág. 15.
[16] “Revelation, March 1829 [D&C 5]”, pág. 1, josephsmithpapers.org.
[17] “Revelation, Spring 1829 [D&C 10]”, em Book of Commandments, pág.
22 e 25, josephsmithpapers.org.
[18] “Revelation, June 1829–E [D&C 17]”, em Revelation Book 2, pág. 119,
josephsmithpapers.org.
[19] Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume A-1 [23 December 1805–30
August 1834]”, pág. 24, josephsmithpapers.org.
[20] John Gilbert citado em “Interview with the Printer of the Bible”, New York
Herald, 25 de junho de 1893.
[21] “Revelation, circa Summer 1829 [D&C 19]”, em Book of Commandments,
pág. 41, josephsmithpapers.org.
[22] Stephen S. Harding, Letter to Thomas Gregg, February 1882, in Thomas
Gregg, The Prophet of Palmyra (New York: John Alden, 1890), 37.
[23] “Agreement with Martin Harris, 16 January 1830”, pág. 1,
josephsmithpapers.org.
[24] Memórias de Joseph Knight, sem data, Church History Library, Salt Lake
City.
[25] MacKay, Michael Hubbard, Gerrit J. Dirkmaat, Grant Underwood, Robert
J. Woodford, and William G. Hartley, eds. Documents, Volume 1: July 1828–
June 1831. Vol. 1 of the Documents series of The Joseph Smith Papers,
edited by Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, Richard Lyman Bushman, and
Matthew J. Grow (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013), 86, note
333.
Apoio Familiar a Joseph Smith
D&C 4, 11, 23
Kay Darowski28 Dezembro 2012

A casa de Joseph Smith Sênior

Os membros da família de Joseph Smith estavam entre seus


defensores mais fervorosos e mais antigos. Estas revelações
ajudaram a compreender seu papel no estabelecimento da Igreja do
Senhor.

O ano de 1829 começou cheio de incertezas para Joseph Smith, mas


provou ser um período extraordinário de crescimento pessoal e
preparação para os eventos futuros. Em consequência da perda da
tradução do “Livro de Leí” por Martin Harris em junho de 1828,
Joseph não trabalhou na tradução do Livro de Mórmon por seis
meses. Ele passou os meses de inverno em Harmony, Pensilvânia,
“trabalhando em uma pequena fazenda que eu havia comprado de
meu sogro, a fim de sustentar minha família”.1 Em fevereiro, ele e sua
esposa, Emma, receberam a visita de boas-vindas de seu pai e de
seu irmão.2

O apoio familiar foi crucial para Joseph; por anos ele compartilhou
suas experiências com seus pais e irmãos. No seguinte à visita que
recebera do anjo Morôni, em 1823, Joseph relatou esse
acontecimento a seu pai.3 Sua mãe, mais tarde, escreveu que após
essa visita: “Joseph continuou a receber instruções do Senhor e
continuamos a reunir as crianças todas as noites, com a finalidade de
ouvi-lo relatá-las. Suponho que nossa família era como qualquer outra
que já existiu sobre a face da Terra — todos sentados em círculo, pai,
mãe, filhos e filhas e dando a máxima atenção a um rapaz de dezoito
anos de idade, que nunca tinha lido a Bíblia inteira em sua vida”.4

Depois que Joseph recebeu as placas, os membros da família o


ajudaram a protegê-las de pessoas cujos interesses iam de curiosos
até criminosos.5

Revelação para Joseph Smith Sênior


D&C 4 em JosephSmithPapers.org
Durante sua visita a seu filho em Harmony, Joseph Smith Sênior
pediu uma revelação a respeito de seu próprio papel na restauração.
O jovem profeta, portanto, recebeu uma de suas primeiras revelações
para outra pessoa. Quando a revelação mais tarde foi copiada em
preparação para publicação, o cabeçalho a seguir foi acrescentado:
“Uma Revelação a Joseph, o pai do vidente, que desejava saber o
que o Senhor desejava que ele fizesse e foi isto o que ele
recebeu”.6 Breve revelação, agora Doutrina e Convênios 4 está repleta
de linguagem rica das escrituras da Bíblia e do Livro de Mórmon,
antecipando uma “obra maravilhosa” e uma lista de atributos dos que
escolhem “embarcar no serviço de Deus”.7

Logo depois de voltar para Manchester, Joseph Sênior concordou em


receber como hóspede em sua casa um professor chamado Oliver
Cowdery. Joseph Sênior hesitou quando Cowdery, que tinha ouvido
rumores sobre as visões de Joseph Jr. das placas, começou a fazer
muitas perguntas. Ele pode ter relutado devido ao assédio que sua
família havia recebido do clero local e dos vizinhos. Seja qual for a
razão de sua hesitação inicial, ele cedeu à ordem da revelação e
serviu como uma testemunha fiel das primeiras visões de Joseph
Smith.

Aproximadamente na mesma época, Joseph Smith retomou seu


trabalho de tradução, auxiliado por Emma, seu irmão Samuel e Martin
Harris, cada um agindo brevemente como escrevente. No início de
abril, Oliver Cowdery, com seu interesse agora aguçado por suas
conversas com Joseph Sênior, viajou para Harmony. Samuel Smith o
acompanhou durante a jornada e lhe apresentou a Joseph.8 Oliver
sentiu “muito fortemente” que “é a vontade do Senhor que eu vá e
que há um trabalho para eu fazer nessa obra”.9 Rapidamente ele se
tornou um escrevente para Joseph em tempo integral. Com essa
ajuda tão necessária, o trabalho de tradução avançou em ritmo
acelerado de forma significativa.

A Conversão de Samuel Smith


No mês seguinte, em maio de 1829, Joseph Smith e Oliver Cowdery
receberam de um mensageiro angelical, João Batista, a autoridade
para batizarem-se e realizaram a ordenança um para o outro. Logo
após este evento, Joseph foi visitado primeiro por Samuel e, em
seguida, por outro irmão, Hyrum. Durante a visita de Samuel, Joseph
procurou converter seu irmão. Ele escreveu em sua história:

“Nessa época que meu irmão Samuel H. Smith nos visitou e lhe
informamos sobre o que o Senhor estava prestes a fazer para os
filhos dos homens e expliquei tudo a ele, trabalhando para
convencê-lo da verdade do evangelho agora prestes a ser
revelada em sua plenitude referindo-me à bíblia sagrada para a
verdade das doutrinas que adquiríamos. Não estando muito
facilmente convencido dessas coisas ele retirou-se para um
bosque para que por meio de secreta e fervorosa oração ele
pudesse obter [sabedoria] de um Deus benevolente para que ele
pudesse julgar por si mesmo. O resultado foi que ele se
convenceu, por revelação, da verdade das doutrinas que
apresentamos a ele. De acordo com os mandamentos do
evangelho ele foi batizado por Oliver Cowdery e voltou para casa
muito abençoado, louvando a Deus e cheio do Espírito Santo.”10

Samuel Smith seguiria adiante para servir como um dos primeiros


missionários de proselitismo na Igreja, quando, no verão de 1830,
viajou brevemente nas proximidades de Mendon, Nova York, para
pregar e vender exemplares do Livro de Mórmon.

Revelação para Hyrum Smith


D&C 11 em JosephSmithPapers.org
Hyrum visitou Joseph logo depois de Samuel. Joseph contou que “a
seu pedido sincero perguntei ao Senhor por meio do Urim e Tumim e
recebi a seguinte revelação para ele”.11 Essa revelação é
agora Doutrina e Convênios 11. Embora as frases do início reflitam
palavras semelhantes para várias revelações dadas em 1829, o texto
continua com conselhos pessoais, promessas e advertências que
indicam a função de Hyrum para o progresso da obra do Senhor.
Entre outras coisas, o Senhor adverte Hyrum: “Eis que te digo, que
não precisas supor teres sido chamado a pregar até que sejas
chamado. Espera um pouco mais, até que tenhas minha palavra (…).
Não procures pregar minha palavra, mas primeiro procura obter
minha palavra e então tua língua será desatada”12 (ver D&C 11:15–
16, 21).

Pouco tempo depois, em junho de 1829, Joseph Smith Sênior,


Samuel Smith e Hyrum Smith estariam entre as Oito Testemunhas do
Livro de Mórmon, testificando para o mundo que viram e seguraram
as placas e sabiam “com certeza” que Joseph as havia traduzido:
“Deus sendo testemunha disto”.13 Mais uma vez, a lealdade e o apoio
dos membros de sua família mostraram-se fundamentais a Joseph
em seu trabalho contínuo.

‘Ansiosos para Conhecer (…) Seus Respectivos Deveres’


O Livro de Mórmon, agora traduzido e preparado para a impressão,
foi publicado em março de 1830. Em 6 de abril de 1830, em Fayette,
Nova York, Joseph Smith organizou formalmente o que era então
chamada de a Igreja de Cristo. Pouco tempo depois, ele foi abordado
por Oliver Cowdery, Hyrum Smith, Samuel H. Smith, Joseph Smith
Sênior e Joseph Knight Sênior, todos “ansiosos por saber do Senhor,
quais eram seus respectivos deveres, em relação a essa
obra”.14 Joseph forneceu a cada um deles uma breve revelação
pessoal. Semelhante no conteúdo, duração e palavras, as revelações
parecem ter sido ditadas uma após a outra. Agindo como escrevente,
John Whitmer registrou cada uma como sendo uma revelação
separada, mas quando foram publicadas na edição de 1835 de
Doutrina e Convênios, elas foram combinadas em uma só.
Atualmente estão em Doutrina e Convênios 23.15
D&C 23 em JosephSmithPapers.org
Ainda assim, cada revelação menciona o destinatário pelo nome e
contém conselhos específicos sobre deveres, funções e expectativas.
Uma diferença notável é que cada um dos quatro primeiros versículos
indica que o destinatário está “sob nenhuma condenação”, visto que
Oliver, Hyrum, Samuel, e Joseph Sênior tinham sido batizados. O
destinatário final, Joseph Knight Sênior, ainda não havia sido batizado
e foi, em vez disso, aconselhado que era seu dever “unir-se à igreja
verdadeira” 16(ver D&C 23:7).

As palavras de revelação a Hyrum sugerem que desde a revelação


anterior, ele havia obtido a palavra do Senhor e que agora sua “língua
[foi] desatada” e ele foi chamado para exortar (ver D&C 23:3). Ele é
conhecido por ter pregado o evangelho restaurado e o Livro de
Mórmon já em outubro de 1830 na casa de seu pai em Manchester,
Nova York. O sermão do Dia do Senhor naquela ocasião tocou o
coração de Ezra Thayer e o levou à conversão. Thayer mais tarde
relembrou: “Cada palavra tocou-me o íntimo da alma. Senti que cada
palavra foi direcionada a mim (…). As lágrimas escorriam-me pelo
rosto”.17

Nos anos subsequentes, a família de Joseph continuou a demonstrar


o seu apoio, servindo como missionários, assumindo o papel de
liderança do sacerdócio e por meio de seu sacrifício pessoal. Seus
caminhos e sucessos, e até mesmo as dificuldades e fracassos,
seriam revelados ao longo do tempo, mas em 1830, quando a nova
igreja foi organizada, eles estavam ansiosos para servir, armados
com a vontade do Senhor para eles, conforme revelado por Joseph
Smith.
Para mais informações sobre as seções mencionadas neste artigo, ver o
próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documentos: julho
de 1828–junho de 1831. Primeiro volume da série de “Documents” de The
Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Joseph Smith, History, de 1838–1856, volume A-1, p.11, Joseph Smith
Papers.
[2] Joseph Knight, Reminiscences, 5, declara que Samuel Smith acompanhou
o pai nessa viagem. Joseph Smith, History, 1838–1856, volume A-1, p.
7, JSP.
[3] Joseph Smith, History, de 1838–1856, volume A-1, p. 7, JSP.
[4] Lucy Mack Smith history, cópia, ca. 1845, p. 85, Biblioteca de História da
Igreja.
[5] Lucy Mack Smith, Biographical Sketches of Joseph Smith, the Prophet,
and his Progenitors for many Generations (Liverpool: Publicado por Orson
Pratt por S. W. Richards, 15, Wilton Street, 1853), pp. 102–109.
[6] Apocalipse, fevereiro de 1829, JSP.
[7] Apocalipse, fevereiro de 1829, JSP.
[8] Lucy Mack Smith, Biographical Sketches of Joseph Smith, the Prophet,
and his Progenitors for many Generations (Liverpool: Publicado por Orson
Pratt por S. W. Richards, 15, Wilton Street, 1853), p. 128. Joseph Smith,
History, 1838–1856, volume A-1, p. 13, JSP.
[9] Lucy Mack Smith history, cópia, ca. 1845, p. 140, Biblioteca de História da
Igreja.
[10] Joseph Smith, History, ca. 1841, cópia, p. 36, JSP.
[11] Joseph Smith, History, ca. 1841, cópia, p. 36, JSP.
[12] Apocalipse, maio 1829−A, JSP.
[13] Livro de Mórmon, 1830, p. 590, JSP.
[14] Joseph Smith, History, 1838–1856, volume A-1, p. 38, JSP.
[15] Apocalipse, abril 1830−A; Apocalipse, abril de 1830−B; Apocalipse, abril
de 1830−C; Apocalipse, abril de 1830−D; Apocalipse, abril de 1830−E, JSP.
Doutrina e Convênios, 1835, p. 176, JSP.
[16] Apocalipse, abril de 1830-E, JSP.
[17] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald 3, outubro de 1862, p. 80.
O Dom de Oliver Cowdery
D&C 6, 7, 8, 9, 13
Jeffrey G. Cannon15 Dezembro 2012

Oliver Cowdery

O Senhor incentivou Oliver Cowdery a usar seus dons espirituais para


participar com Joseph Smith na tradução do Livro de Mórmon. Sua
experiência como escrevente consolidou a fé que Cowdery possuía
na restauração.

Oliver Cowdery estava deitado, pensando. Poderiam as histórias que


estava ouvindo ser verdadeiras? O professor de 22 anos de idade
estava hospedado em Palmyra, Nova York, casa de Joseph Smith Sr.
no outono de 1828. Logo depois que chegou na área, ele começou a
ouvir histórias do filho dos Smiths, Joseph Jr., seus encontros com
anjos e a descoberta de placas de ouro por ele.

Sua curiosidade aguçou-se, então ele fez a seu senhorio muitas


perguntas, ansioso por aprender mais. A princípio, Joseph Sr. estava
relutante em compartilhar, mas, por fim, deu lugar às súplicas de seu
hóspede e falou-lhe sobre as experiênicas de Joseph Jr. Se essas
coisas maravilhosas fossem verdade, Oliver precisaria saber. Ele
orou. Veio-lhe uma paz, convencendo-o de que Deus havia falado e
confirmado as histórias que ouvira.1

Ele não falou a ninguém sobre essa experiência, embora sempre


mencionasse as placas de ouro e, gradualmente, veio a acreditar que
Deus o estava chamando para ser um escrevente para Joseph Smith,
enquanto ele traduzia.2Quando o período letivo chegou ao fim, na
primavera de 1829, Oliver viajou para Harmony, Pensilvânia, onde
Joseph estava morando com sua mulher, Emma, cultivando as terras
de Isaac Hale, pai de Emma.

A tradução das placas havia cessado por algum tempo, depois que o
escrevente de Joseph, Martin Harris, perdera o manuscrito no verão
anterior. Apesar desse revés, Joseph havia tranquilizado sua mãe,
dizendo-lhe que um anjo tinha-lhe dito que “o Senhor me enviaria um
escrevente, e confio em que sua promessa será confirmada”.3 De
fato, o Senhor enviaria um escrevente e, para surpresa do seu pai e
sua mãe, era Cowdery, o homem que tinham ajudado a preparar-se.
Oliver Cowdery chegou à casa de Joseph e Emma Smith, em 5 de
abril de 1829.

Joseph e Oliver não perderam tempo. Depois de passar o dia 6 de


abril atendendo a alguns negócios, eles começaram juntos seu
trabalho de tradução no dia seguinte.

Uma Revelação para Oliver


D&C 6 em JosephSmithPapers.org
A tradução prosseguiu por vários dias, e então, Joseph recebeu uma
revelação para seu escrevente. As dúvidas persistentes de Oliver
sobre o dom profético de Joseph Smith foram abordadas, conforme
as palavras da revelação relacionaram experiências que Oliver não
havia partilhado com ninguém. “Volte tua mente para a noite em que
clamaste a mim em teu coração, a fim de saberes a respeito da
veracidade destas coisas”, o Senhor lembrou-lhe: “Não dei paz a sua
mente quanto ao assunto? — Que maior testemunho podes ter que o
de Deus? (…) Não duvideis, não temais”4 (ver D&C 6:22-23, 36).

Oliver veio a Harmony, acreditando que ele fora chamado a fim de


escrever para Joseph; agora ele estava lá e queria saber o que mais
o Senhor havia reservado para ele. “Eis que tens um dom”, declarava
a revelação, “e abençoado és por causa de teu dom. Lembra-te de
que ele é sagrado e que vem do alto”. Seu dom era o dom da
revelação, e por isso ele poderia “desvend[ar] mistérios, para que
leves muitos a conhecerem a verdade, sim, para convencê-los do erro
de seus caminhos”5 (ver D&C 6:10-11). O Senhor também ofereceu a
Oliver outro dom, “se de mim o desejas, de traduzir, sim, como meu
servo Joseph” (ver D&C 6:25).

D&C 7 em JosephSmithPapers.org
Nesse ínterim, Oliver continuou a testemunhar Joseph Smith
empregando seu dom para traduzir. Em algum momento naquele
mesmo mês, os dois homens estavam discutindo o destino do
apóstolo João — um assunto de interesse na época. A história de
Joseph registra que diferiam em suas opiniões e “mutuamente
concordaram em resolvê-la pelo Urim e Tumim”.6 A resposta veio
numa visão de um pergaminho que Joseph traduzira, que é
agora Doutrina e Convênios 7.

Oliver Deseja Traduzir


Conforme Joseph e Oliver continuaram seu trabalho, Oliver ficou
ansioso por desempenhar um papel maior na tradução. O Senhor
prometera-lhe a oportunidade de traduzir, e ele queria reivindicá-la.
Joseph ditou outra revelação. A palavra do Senhor assegurou a Oliver
que ele poderia ter o dom que desejava. Os requisitos: fé e um
coração honesto (ver D&C 8:1).
D&C 8 em JosephSmithPapers.org
A revelação continuou, informando ao aspirante a tradutor como o
processo deveria funcionar. O Senhor iria “falar em tua mente e em
teu coração, pelo Espírito Santo que virá sobre ti e que habitará em
teu coração”. A revelação sempre tinha vindo dessa maneira. A
revelação declarava que esse era o meio, ou “o espírito pelo qual
Moisés conduziu os filhos de Israel através do Mar Vermelho em terra
seca”7(ver D&C 8:2-3).

Oliver Cowdery vivia em uma cultura impregnada de ideias,


linguagem e práticas bíblicas. Referências da revelação a Moisés
provavelmente ressoaram nele. O relato do Velho Testamento de
Moisés e seu irmão Aarão descreveu em várias ocasiões o uso de
varas para manifestar a vontade de Deus (ver Êxodo 7:9-12; Números
17:8). Muitos cristãos da época de Joseph Smith e de Oliver Cowdery
da mesma forma acreditavam em varas de adivinhação como
instrumentos para revelação. Cowdery estava entre os que
acreditavam e usavam uma vara de adivinhação.8
D&C 9 em JosephSmithPapers.org
O Senhor reconhecia a capacidade de Oliver de usar uma vara: “tu
tens outro dom, que é o dom de trabalhar com a vara”.9Confirmando
a divindade desse dom, a revelação declarou: “Eis que nenhum outro
poder existe, a não ser o poder de Deus, que pode fazer com que
essa coisa da Natureza trabalhe em suas mãos, porque é a obra de
Deus”. Se Oliver desejasse, prosseguiu a revelação, o Senhor
acrescentaria o dom de tradução aos dons de revelação que Oliver já
possuía (D&C 8:8-11).

Embora saibamos poucos detalhes sobre a tentativa de Oliver


Cowdery de traduzir, aparentemente não correu bem. Seus esforços
resultaram rapidamente em nada. Após o fracasso de Oliver, Joseph
Smith recebeu outra revelação, aconselhando Oliver, “Sê paciente,
meu filho, porque isto é segundo minha sabedoria, e não convém que
traduzas neste momento”. Foi dito mais a Oliver, que ele não havia
entendido o processo. Ele deveria primeiro “estudá-lo bem em tua
mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo,
farei arder dentro de ti o teu peito”10 (ver D&C 9:7-8).

Restaurada a Autoridade
Embora desencorajado por sua tentativa frustrada de traduzir, Oliver
obedientemente retomou sua função como escrevente, enquanto
Joseph lhe ditava a tradução das placas. “Esses foram dias
inolvidáveis”, escreveu Cowdery mais tarde. “Sentar-se sob o som de
uma voz ditada pela inspiração do céu despertou neste peito profunda
gratidão!” Quando chegaram ao relato do ministério pessoal de Jesus
aos nefitas, começaram a se perguntar se alguém em sua época teria
autoridade para administrar a igreja verdadeira de Cristo. Eles ficaran
especialmente preocupados com o batismo. Em 15 de maio de 1829,
deixaram a casa da família Smith onde estavam trabalhando, para
encontrar um lugar isolado onde orar, em uma área arborizada nas
proximidades.
D&C 13 em josephsmithpapers.org
Toda a dúvida que Oliver Cowdery ainda poderia ter certamente se
desvaneceu, quando o ressurreto João Batista “desceu em uma
nuvem de luz e, colocando as mãos sobre nós”11 disse: “A vós, meus
conservos, em nome do Messias, eu confiro o Sacerdócio de Aarão,
que possui as chaves do ministério de anjos e do evangelho do
arrependimentoe do batismo por imersão para remissão de pecados”
(ver D&C 13). A experiência solidificou a fé que tinha Oliver. “Havia
lugar para dúvidas?” Oliver escreveu mais tarde sobre o incidente.
“Nenhum; a incerteza tinha fugido, a dúvida havia desaparecido”.12

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828-junho de 1831. Volume 1 da série “Documents” de The Joseph Smith
Papers [Os Documentos de Joseph Smith], editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church
Historian’s Press [Editora do Historiador da Igreja, 2013].

Notas de rodapé
[1] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, 15, Joseph Smith Papers.
[2] Lucy Mack Smith history, cópia, ca. 1845, 140, Biblioteca de História da
Igreja.
[3] Lucy Mack Smith, Biographical Sketches of Joseph Smith the Prophet and
His Progenitors for Many Generations [Esboços Biográficos de Joseph Smith,
o Profeta, e Seus Antepassados por Muitas Gerações] (Liverpool, Inglaterra:
S. W. Richards, 1853), p. 126.
[4] Revelation, abril de 1829-A, JSP.
[5] Revelation, abril de 1829-A, JSP.
[6] Joseph Smith, History, 1838–1856, volume A-1, 15–16, JSP.
[7] Revelation, abril de 1829-B, JSP.
[8] Robert Fuller, Spiritual But Not Religious: Understanding Unchurched
America [Espiritual Mas Não Religiosa: Compreender A América Sem-
igrejas] (New York: Oxford University Press, 2001), pp. 15, 17; Mark Ashurst-
McGee, “Pathway to Prophethood” [O Caminho para a Missão Profética”
(PhD. Diss., Universidade Estadual de Utah, Dept. of History, 2000), pp. 126–
148.
[9] O manuscrito mais antigo desta revelação refere-se ao “dom de trabalhar
com o broto” de Oliver Cowdery Sidney Rigdon mudou de “broto” para “vara”,
ao preparar a publicação da revelação no Livro de Mandamentos, em 1833. A
edição de 1835 de Doutrina e Convênios é a primeira fonte a chamá-lo de “o
dom de Aarão”. Ver Revelation Book 1 [Livro de Revelações 1], p. 13; Book of
Commandments [Livro de Mandamentos] 7:3; Doutrina e Convênios (1835),
34:3. A palavra sprout significava “o fim de um ramo ou broto” (Noah Webster,
American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano da
Língua Inglêsa] [New York: S. Converse, 1828]).
[10] Revelation, abril de 1829-D, JSP.
[11] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, p. 17, JSP.
[12] Oliver Cowdery, carta, a William W. Phelps, 7 de setembro de 1834, em
Karen Lynn Davidson, David J. Whittaker, Mark R. Ashurst-McGee, Richard L.
Jensen, eds., Histories: Joseph Smith Histories, 1832-1834, Vol. 1 da
série Histories de The Joseph Smith Papers [Os Documentos de Joseph
Smith, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman
Bushman (Salt Lake City: Church Hiatorian’s Press [Imprensa do Historiador
da Igreja], 2012), p. 46.
As Famílias Knight e Whitmer
D&C 12, 14, 15, 16
Larry E. Morris27 Dezembro 2012

Joseph Knight Sênior

As famílias Knight e Whitmer eram apoios-chave no início da tradução


do Livro de Mórmon. Essas revelações foram dadas para esclarecer o
papel delas na restauração.

No outono de 1826, um fazendeiro proeminente chamado Joseph


Knight Sênior contratou Joseph Smith, que tinha 20 anos de idade,
como funcionário. Knight possuía quatro fazendas, um moinho de
cereais e duas máquinas cardagem (que preparavam lã, algodão e
outros materiais para fiação). “Meu pai disse que Joseph [Smith] era a
melhor mão que ele já havia contratado”, escreveu Joseph Knight
Júnior, acrescentando que Joseph disse a ele e a seu pai “que ele
tivera uma visão, que um personagem apareceu a ele e disse-lhe
onde havia um livro de ouro da antiguidade enterrado, e se seguisse
as instruções do anjo ele poderia retirá-lo. (…) Eu e meu pai
acreditamos no que ele nos disse, e acho que fomos os primeiros
depois da família de seu pai.”1

Um Amigo Necessário
Os Knights provaram ser amigos leais. Joseph Knight Sênior estava
presente na casa dos Smith em Manchester, Nova York (juntamente
com outro amigo da família Smith, Josiah Stowell), em 22 de
setembro de 1827 — o dia em que Joseph obteve as placas e o Urim
e Tumim. Knight tornou-se um dos primeiros a ouvir sobre esses
artefatos, quando Joseph puxou-o de lado e disse-lhe que o Urim e
Tumim eram “maravilhosos” e permitiam-lhe que “visse qualquer
coisa”. Ele também disse que as placas, que pareciam “ser de ouro”,
foram “escritas em caracteres” e ele queria que eles fossem
traduzidos.2

A tradução ocorreu em Harmony, Pensilvânia, onde Joseph e sua


esposa, Emma, compraram uma casa e a propriedade dos pais de
Emma. Os Knights moravam a cerca de quarenta e oito quilômetros
ao norte, em Colesville, Nova York e desempenharam um papel
crucial na tradução. Ao falar de Joseph Knight Sênior, Joseph
escreveu: “[Ele] muito amavelmente e com toda a consideração nos
trouxe algumas provisões, a fim de que não fôssemos interrompidos
no trabalho de tradução”.3 Knight lembrou que forneceu “um barril de
peixe e algumas folhas de papel pautado para escrever, (…) cerca de
nove a dez sacas de grãos, cinco ou seis sacas de batatas e meio
quilo de chá.”4
D&C 12 em JosephSmithPapers.org
Joseph Knight Júnior relembrou que, a certa altura durante a
tradução, Joseph precisava de 50 dólares (aparentemente para fazer
um pagamento relacionado à propriedade que ele e Emma haviam
comprado). “Meu pai não conseguiu arranjar [o dinheiro]”, Knight
escreveu. “Ele [Joseph Knight Sênior] então veio a mim, no mesmo
dia, vendeu o terreno da minha casa e enviou para ele [Joseph Smith]
um carroção com um cavalo.”5

Aproximadamente na mesma época, o irmão Knight Sênior ficou


“ansioso para saber seu dever” na obra do Senhor. Joseph inquiriu o
Senhor e recebeu uma revelação conhecida atualmente
como Doutrina e Convênios 12. Da mesma forma que as revelações
ditadas para Oliver (seção 6) e Hyrum Smith (seção 11), essa
revelação instruiu Knight a guardar os mandamentos, a fim de
“[procurar] trazer à luz e estabelecer a causa de Sião” e a “[escutar]
com toda a tua força”6 (ver D&C 12:6, 9).

De Harmony para Fayette


O inestimável auxílio dos Knights continuou até o fim de maio de
1829, quando outra família fez amizade com Joseph e Oliver — a
família Whitmer. A família de Peter Whitmer Sênior do município de
Fayette, Nova York, (cerca de 160 quilômetros ao norte de Harmony)
ouviu pela primeira vez sobre a “Bíblia de ouro” no final de 1828,
depois que seu filho David começou uma amizade com Oliver
Cowdery, durante uma visita a Palmyra. Eles decidiram investigar a
história das placas e manterem-se informados mutuamente.

Oliver tinha parado para visitar os Whitmer, na primavera de 1829,


quando estava em viagem para conhecer Joseph e, por fim, servir
como seu escrevente. Desde aquela época, Oliver havia escrito
cartas para David falando sobre a milagrosa tradução. Assim como os
Knights, a família Whitmer convenceu-se de que deveria ajudar na
tradução, e perto do final de maio, David viajou para Harmony com o
objetivo de levar Joseph e Oliver para a casa dos Whitmer. “Ele
sugeriu que deveríamos nos hospedar sem pagar nada”, escreveu
Joseph. “Após nossa chegada, encontramos a família do Sr. Whitmer
muito ansiosa em relação ao trabalho e muito amigável em relação a
nós. Eles então nos hospedaram e alojaram de acordo com a
proposta, e John Whitmer, em particular, nos ajudou muito
escrevendo durante o restante do trabalho.”7 (Emma chegou à casa
dos Whitmer pouco depois de Joseph e Oliver e também atuou como
escrevente.)

O mês de junho de 1829 foi um dos mais notáveis da história da


Igreja. Não só Joseph e seus escreventes concluíram a tradução,
mas Joseph ditou pelo menos cinco revelações, Oliver ditou uma
revelação chamada de “As Leis da Igreja de Cristo” e os dois tiveram
uma experiência extraordinária “no quarto da casa do Sr. Whitmer”
em que “a palavra do Senhor” foi dada a eles e os instruiu sobre uma
série de reuniões e ordenanças importantes.8 Além disso, Joseph
pediu os direitos autorais do Livro de Mórmon, e ele e Martin Harris
aparentemente começaram a conversar com gráficos sobre a
publicação do livro. Por fim, Morôni apareceu e mostrou as placas às
Três Testemunhas (perto da fazenda de Whitmer, no município de
Fayette), e as Oito Testemunhas viram e tocaram as placas (perto da
fazenda Smith no município de Palmyra).

Essa enxurrada de atividades cruciais simplesmente não teria sido


possível se não fosse pelo apoio da família Whitmer. Esse serviço
trouxe provações e recompensas. Um neto de Mary Musselman
Whitmer (esposa de Peter Whitmer Sênior) relatou que ela tinha
“tantas pessoas a mais para cuidar” que “ficava muitas vezes
sobrecarregada de trabalho”. Certa noite, após um longo dia de
trabalho, ela foi para o celeiro ordenhar as vacas e encontrou um
estranho que “mostrou um conjunto de placas a ela” e “virou as
páginas do livro de placas, folha após folha”, prometendo a Mary que
“ela seria abençoada” se fosse “paciente e fiel ao carregar seu fardo
um pouco mais”.9 Ela tornou-se, portanto, outra testemunha do Livro
de Mórmon.
D&C 14 em JosephSmithPapers.org
Bênçãos especiais também foram dadas aos filhos de Mary. “David,
John e Peter Whitmer Júnior se tornaram nossos amigos e
assistentes zelosos no trabalho”, escreveu Joseph.10 O mesmo
poderia ter sido dito de Christian e Jacob Whitmer, que se uniram a
John e Peter Júnior como quatro das Oito Testemunhas. Quando
David, John e Peter Júnior pediram a Joseph que inquirisse o Senhor
a respeito de seus deveres, Joseph ditou três revelações, hoje
conhecidas como as seções 14, 15 e 16 de Doutrina e Convênios. A
David, uma das Três Testemunhas (juntamente com Oliver Cowdery
e Martin Harris), foi prometido que, se pedisse com fé, receberia o
Espírito Santo, “o qual inspira o que dizer, para que sirvas de
testemunha das coisas que irás ouvir e ver; e também para que
proclames o arrependimento a esta geração”.11 (ver D&C 14:8).

Uma declaração para John e Peter Júnior tornou-se um dos


versículos mais memoráveis das escrituras modernas: “E agora, eis
que eu te digo que a coisa de maior valor para ti será declarar
arrependimento a este povo, a fim de trazeres almas a mim e
descansares com elas no reino de meu Pai”12 (ver D&C 15:6, 16:6).

Início da Organização da Igreja


Embora o Livro de Mórmon não tenha sido publicado até março de
1830, esses primeiros santos encontraram grande consolo e
inspiração na leitura do texto. Lucy Mack Smith relembrou que certa
noite no verão de 1829 na casa dos Whitmer , “passaram lendo o
manuscrito [do Livro de Mórmon] e seria desnecessário dizer que (…)
nos regozijamos imensamente”.13

Esses fiéis também usaram o Livro de Mórmon que ainda seria


publicado para proclamar o evangelho. Futuros missionários tais
como Thomas B. Marsh e Solomon Chamberlain receberam folhas
das prova do Livro de Mórmon, enquanto ele ainda estava sendo
impresso e converteram-se vários meses antes que a Igreja fosse
organizada. Não é de surpreender que os membros da família
Whitmer estivessem entre os que apresentaram o novo livro de
escrituras a Chamberlain.

Entre eles, as famílias Whitmer e Knight constituíram o que poderia


ser chamado de dois dos três primeiros “ramos” da Igreja — em
Fayette e Colesville respectivamente. Juntamente com a família
Smith, em Palmyra (o outro ramo da Igreja), as famílias Whitmer e
Knight ofereceram apoio espiritual e material que foram fundamentais
na restauração do evangelho.
Para mais informações sobre as seções mencionadas neste artigo, ver o
próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
1828–junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The Joseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Joseph Knight Júnior, “Joseph Knight’s incidents of history from 1827 to
1844[,] Aug. 16, 1862[,] compiled from loose sheets in J[oseph]. K[night].’s
possession[,] T[homas]. B[ullock]”, Biblioteca de História da Igreja.
[2] Joseph Knight Sênior, Reminiscências, depois de 1835, Biblioteca de
História da Igreja.
[3] Joseph Smith, História, 1838–1856, volume A–1, p. 20, Joseph Smith
Papers.
[4] Joseph Knight Sênior, Reminiscências, depois de 1835, Biblioteca de
História da Igreja.
[5] Joseph Knight Júnior, “Joseph Knight’s incidents of history from 1827 to
1844[,] Aug. 16, 1862[,] compiled from loose sheets in J[oseph]. K[night].’s
possession[,] T[homas]. B[ullock]”, Biblioteca de História da Igreja.
[6] Revelação, maio de 1829–B, JSP.
[7] Joseph Smith, História, 1838–1856, volume A–1, p. 22, 23, JSP.
[8] Joseph Smith, História, 1838–1856, volume A–1, p. 26–27, JSP.
[9] Andrew Jenson, “Still Another Witness,” Historical Record 7 (outubro de
1888), p. 621.
[10] Joseph Smith, História, 1838–1856, volume A–1, p. 22, JSP.
[11] Revelação, junho de 1829–A, JSP.
[12] Revelação, junho de 1829–C, JSP.
[13] Lucy Mack Smith, “Biographical Sketches of Joseph Smith the Prophet
and His Progenitors for Many Generations [Esboços Biográficos de Joseph
Smith, o Profeta, e Seus Antepassados por Muitas Gerações] ” (Liverpool,
Inglaterra: S. W. Richards, 1853), p. 138.
A Experiência das Três Testemunhas
D&C 17
Larry E. Morris26 Dezembro 2012

Depoimento das Três Testemunhas (Livro de Mórmon, 1830)

O Senhor confirmou por revelação que as três testemunhas


prometidas para as placas do Livro de Mórmon seriam Oliver
Cowdery, David Whitmer e Martin Harris.

Mais de cinco décadas depois do evento, David Whitmer relembrou


como ele soube do Livro de Mórmon: “Fiz uma viagem de negócios a
Palmyra, Nova York [em 1828] e enquanto estava lá, deparei-me com
Oliver Cowdery. Muitas pessoas da vizinhança estavam falando sobre
a busca de certas placas de ouro por um Joseph Smith Júnior, um
jovem daquela região. Cowdery e eu, bem como outras pessoas,
conversamos sobre o assunto”. Os detalhes exatos de como Whitmer,
com 23 anos de idade e Cowdery, com 22, se encontraram são
desconhecidos, mas eles rapidamente se tornaram amigos.

“Cowdery disse que conhecia a família Smith”, continuou Whitmer, “e


ele acreditava que deveria haver alguma verdade na história das
placas e que ele pretendia investigar o assunto”. Whitmer, que indicou
ter feito mais de uma viagem de volta a Palmyra, conduziu sua
própria investigação e disse: “Conversei com vários rapazes que
disseram que Joseph Smith tinha placas de ouro. (…) Essas pessoas
foram tão firmes em suas declarações que comecei a acreditar que
deveria haver fundamento nas histórias que estavam circulando”.1

Whitmer, um fazendeiro do município de Fayette, Nova York


(aproximadamente quarenta e oito quilômetros a sudeste de Palmyra)
e Cowdery, de Vermont, que recentemente havia sido contratado por
Hyrum Smith e outros diretores de escola para ensinar no distrito de
Manchester, concordaram em manterem-se informados sobre o que
descobrissem. Naquela época, nenhum dos dois havia conhecido
Joseph Smith, que então morava em Harmony, Pensilvânia, com sua
esposa, Emma.

Cowdery, cujos alunos incluíam os filhos de Joseph Sênior e Lucy


Mack Smith, acabou por hospedar-se com aquela família. Lucy
escreveu que Cowdery “logo começou a inquirir o Sr. Smith sobre o
assunto [das placas], mas por um tempo considerável não conseguiu
tirar dele quaisquer informações. Por fim, no entanto, ele conquistou a
confiança do meu marido, a ponto de obter uma ideia dos fatos em
relação às placas”.

A conversa com Joseph Sênior teve um poderoso efeito sobre


Cowdery. “O assunto (…) parece ter tocado o meu âmago”, disse ele
à família Smith. “Fiz disso objeto de uma oração, e acredito
firmemente que é a vontade do Senhor que eu vá [para Harmony a
fim de ajudar Joseph com a tradução].”2
Cowdery anunciou também esta notícia (aparentemente em uma
carta) para Whitmer. “Cowdery me disse que iria a Harmony,
Pensilvânia, e falaria com ele [Joseph Smith] sobre o assunto”,
escreveu Whitmer. “Ele foi, e no caminho parou na casa do meu pai e
me disse que assim que descobrisse se algo era verdade ou não, ele
me diria.”

Joseph Smith e Oliver Cowdery começaram seu projeto de tradução


em 7 de abril de 1829 e trabalharam intensamente durante as oito
semanas seguintes. Durante esse tempo, Cowdery escreveu três
cartas a Whitmer, discutindo o processo de tradução e oferecendo
informações específicas sobre o conteúdo do Livro de Mórmon.
“Quando Cowdery escreveu-me essas coisas e me disse que
revelava conhecimento a respeito da veracidade delas, mostrei essas
cartas a meus pais, irmãos e irmãs”, Whitmer relembrou.3

Em sua última carta, Cowdery pediu que Whitmer viesse a Harmony e


ajudasse os dois homens a se mudar para a casa de Whitmer. “Eu
tinha uns 8 hectares para arar”, Whitmer escreveu, “então, concluí
que terminaria de arar e depois iria para lá.” Quando ele se levantou
na manhã seguinte, no entanto, descobriu que cerca de dois ou três
hectares de suas terras haviam sido arados durante a noite. Quando
lhe perguntou quem arou os campos, Whitmer respondeu: “Não sei,
não sei dizer quem fez isso; tudo o que sei é que foi arado. (…) Foi
um testemunho para mim de que eu não tinha qualquer negócio que
me impedisse de ir falar com Joseph. Eu juntei meu pessoal e (…)
parti para a Pensilvânia”.4

A mudança para Nova York ocorreu na primeira parte de junho, e


dentro de um mês Joseph e seus escreventes haviam terminado a
tradução do Livro de Mórmon. Nessa mesma época, os pais de
Joseph e Martin Harris, que tinham recebido a notícia de que a
tradução estava chegando ao fim, chegaram de Palmyra.5

Lucy Mack Smith escreveu que Harris “se rejubilou grandemente”


quando ouviu sobre o progresso da tradução.6 Assim, embora Harris
possivelmente tivesse se encontrado com Cowdery e Whitmer pela
primeira vez, os três homens estavam ligados por sua devoção
comum de ajudar a trazer à luz o Livro de Mórmon. Eles estavam
particularmente interessados em certas passagens do Livro de
Mórmon.
“No decorrer do trabalho de tradução”, explica a história de Joseph
Smith, “constatamos que três testemunhas especiais deveriam ser
providenciadas pelo Senhor, a quem Ele concederia ver as placas
das quais esse trabalho (o Livro de Mórmon) deveria ser traduzido”.
Quase que imediatamente após essa descoberta, Joseph escreveu:
“Ocorreu a Oliver Cowdery, David Whitmer e (…) Martin Harris (…)
que eles deveriam me pedir que consultasse o Senhor, para saber se
eles poderiam ser essas três testemunhas especiais; e então se
tornaram tão solícitos e me incomodaram tanto, que finalmente,
concordei, e por meio do Urim e Tumim, obtive do Senhor [uma
revelação] para eles”.7

Chamados para Testificar

D&C 17 on JosephSmithPapers.org
A revelação, atualmente conhecida como Doutrina e Convênios 17,
fez esta promessa a Cowdery, Whitmer e Harris: “Devereis confiar em
minha palavra e, se o fizerdes de todo o coração, vereis as placas e
também o peitoral, a espada de Labão, o Urim e Tumim, que foram
dados ao irmão de Jarede no monte quando ele falou com o Senhor
face a face; e os guias milagrosos que foram dados a Leí enquanto
estava no deserto, às margens do Mar Vermelho”.8

Dias depois, a profecia se cumpriu de maneira impressionante. “Foi


no final de junho de 1829”, escreveu Whitmer. “Joseph, Oliver
Cowdery e eu estávamos juntos, e o anjo mostrou [as placas] para
nós (…). [Estávamos] sentados em um tronco, quando fomos
envoltos por uma luz mais gloriosa do que a do sol. Em meio a essa
luz, mas a poucos metros de nós, apareceu uma mesa que sobre a
qual estavam muitas placas de ouro, também a espada de Labão e os
guias. Vi-os tão claramente quanto vejo você agora e ouvi
distintamente a voz do Senhor declarando que os registros das placas
do Livro de Mórmon foram traduzidos pelo dom e poder de Deus.”9

Joseph Smith e Martin Harris tiveram uma experiência semelhante, e


quando o manuscrito foi preparado para impressão, Cowdery,
Whitmer, e Harris assinaram uma declaração conjunta que foi incluída
em cada um dos mais de 120 milhões exemplares do Livro de
Mórmon impressos desde aquela época. Lemos em parte:

“E declaramos solenemente que um anjo de Deus desceu dos céus,


trouxe-as e colocou-as diante de nossos olhos, de maneira que vimos
as placas e as gravações nelas feitas e sabemos que é pela graça de
Deus, o Pai, e de nosso Senhor Jesus Cristo que vimos e testificamos
que estas coisas são verdadeiras.”10

Para mais informações sobre as seções mencionadas neste artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
1828–junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The Joseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.
Notas de rodapé
[1] David Whitmer, em uma entrevista concedida ao Kansas City Journal, 1 de
junho de 1881, citado em Lyndon Cook, ed., David Whitmer Interviews: A
Restoration Witness (Orem, UT: Grandin Book, 1991), p. 60.
[2] Lucy Mack Smith, Biographical Sketches of Joseph Smith the Prophet and
His Progenitors for Many Generations [Esboços Biográficos de Joseph Smith,
o Profeta, e Seus Antepassados por Muitas Gerações] (Liverpool, Inglaterra:
S. W. Richards, 1853), p. 129.
[3] David Whitmer, em entrevista concedida ao Kansas City Journal, 1 de
junho de 1881, citado em Lyndon Cook, ed., David Whitmer Interviews: A
Restoration Witness (Orem, UT: Grandin Book, 1991), p. 61.
[4] David Whitmer, entrevistas com Orson Pratt e Joseph F. Smith, setembro
de 1878, citado em Lyndon Cook, ed., David Whitmer Interviews: A
Restoration Witness (Orem, UT: Grandin Book, 1991), pp. 41, 51.
[5] Conforme detalhado em “As Contribuições de Martin Harris”, Martin teve
um longo e complicado envolvimento com o Livro de Mórmon. Quando a
perseguição de seus vizinhos forçaram Joseph e Emma a mudar-se da casa
de Joseph Sênior e Lucy para Harmony (no final de 1827), Martin deu a
Joseph 50 dólares para ajudar com o custo da mudança. Na primavera
seguinte, Martin saiu de sua fazenda para cuidar de outras pessoas e serviu
como escrevente de Joseph por dois meses. Mas quando a tradução estava
progredindo maravilhosamente, Martin pediu emprestadas as 116 páginas
que ele e Joseph haviam produzido e as perdeu, levando Joseph e sua
família ao desespero e Joseph a imaginar se havia perdido todas as
oportunidades de traduzir. No entanto, durante o ano em que ocorreu a perda
do manuscrito, Martin havia se arrependido de seus erros e mostrou uma
renovada determinação de ajudar Joseph da maneira que pudesse.
[6] Lucy Mack Smith, Biographical Sketches of Joseph Smith the Prophet and
His Progenitors for Many Generations [Esboços Biográficos de Joseph Smith,
o Profeta, e Seus Antepassados por Muitas Gerações] (Liverpool, Inglaterra:
S. W. Richards, 1853), p. 138.
[7] Joseph Smith, História, 1838–1856, volume A–1, p. 23, Joseph Smith
Papers. Ver Livro de Mórmon, ed. 1830, pp. 110, 548 [2 Néfi 27:12–14 e Éter
5:2– 4] para as passagens que mencionam as Três Testemunhas.
[8] Revelação, junho de 1829–E, JSP.
[9] David Whitmer, em uma entrevista concedida ao Kansas City Journal, 1 de
junho de 1881, citado em Lyndon Cook, ed., David Whitmer Interviews: A
Restoration Witness (Orem, UT: Grandin Book, 1991), p. 63.
[10] “Depoimento de Três Testemunhas”, Livro de Mórmon.
‘Edificar Minha Igreja’
D&C 18, 20, 21, 22
Jeffrey G. Cannon3 Janeiro 2013

Local da fazenda de Peter Whitmer, em Fayette, Nova York.

Bem antes de o Livro de Mórmon ser publicado, Joseph Smith sabia


que havia sido chamado para estabelecer uma nova igreja.

De pé à margem, Joseph Smith se abaixou e segurou a mão de seu


pai, enquanto Oliver Cowdery erguia Joseph Smith Sênior da água.
“Oh! Meu Deus, eu vivi para ver meu pai ser batizado na verdadeira
igreja de Jesus Cristo”, exclamou ele. Sua alegria era demais para
ele. Ele procurou um lugar para se refugiar. Os amigos Oliver
Cowdery e Joseph Knight foram atrás dele. Mais tarde, Knight
descreveu Joseph como sentindo “a maior emoção que já vi em
qualquer homem”.1

Por anos, Joseph Smith Sênior havia dispensado os clamores de


religiosos contemporâneos, mas agora ele havia encontrado a
verdade que buscava, nas visões e revelações de seu filho, Joseph
Jr. A Igreja de Cristo foi organizada em 6 de abril de 1830, e Joseph
Sênior foi um dos primeiros a se batizar.
No início do verão de 1828, as revelações de Joseph Smith
Jr.falavam sobre estabelecer uma igreja. Em consequência da perda
do manuscrito do Livro de Mórmon por Martin Harris, Joseph ditou
uma revelação em que Senhor declarou: “estabelecerei minha
igreja”2 (ver D&C 10:53). Estava cada vez mais claro que a missão de
Joseph Smith não terminaria com a tradução das placas. Mesmo
acreditando nisso, companheiros como Joseph Knight desconheciam
os preparativos que Joseph e Oliver pareciam manter em sigilo.

Knight relembrou mais tarde que ele não soube a respeito da


organização da iminente Igreja até pouco antes do evento
propriamente dito. “Então, na primavera de 1830”, ele relembrou: “fui
com minha equipe e levei Joseph a Manchester até seu pai. Quando
estávamos a caminho, ele me disse que deveria ocorrer a formação
de uma Igreja, mas não disse quando”.3
Os preparativos estavam em andamento desde pelo menos junho de
1829. Naquele mês, Joseph Smith ditou para Oliver Cowdery as
revelações que se tornariam Doutrina e Convênios 18. Nela, Oliver foi
instruído sobre o “alicerce de minha igreja, meu evangelho e minha
rocha”. Ao fazê-lo, foi dito a Cowdery que “[confiasse] nas coisas que
estão escritas”4 (ver D&C 18:3–4). A tradução do Livro de Mórmon
estava quase terminada, e Cowdery realmente usou o manuscrito ao
começar a delinear a estrutura da nova Igreja.

Cowdery produziu um documento chamado “Artigos da Igreja de


Cristo” em preparação para a organização da Igreja. Mais da metade
deste documento era uma citação direta ou uma paráfrase do
manuscrito do Livro de Mórmon. Como a igreja dos nefitas, essa nova
igreja teria sacerdotes e mestres. Ela também teria discípulos ou
élderes. A revelação de junho de 1829 também designou Cowdery,
juntamente com David Whitmer, a selecionar doze que serviriam
como os apóstolos enviados para espalhar a mensagem da nova
Igreja.

Muitos daqueles que aceitaram a mensagem esperavam a


organização da Igreja. Nessa época, Joseph Smith anunciou uma
revelação especificando o dia em que a Igreja deveria ser organizada.
Finalmente chegou o dia, em 6 de abril de 1830. Quarenta ou
cinquenta homens e mulheres se reuniram na pequena casa de Peter
Whitmer Sênior em Fayette, para observar o evento. Seis deles —
Joseph Smith, Oliver Cowdery e quatro outros — serviram como
organizadores oficiais.5

Eles “iniciaram a reunião com uma oração solene”. Joseph e Oliver


perguntaram aos outros quatro membros oficiais se eles os aceitariam
como seus mestres espirituais, e se eles deveriam continuar a
organizar a Igreja. Joseph tinha 24 anos e Oliver, 23. Com o
consentimento dos crentes ali reunidos, Joseph ordenou Oliver
Cowdery como um élder da Igreja e Oliver fez o mesmo com Joseph.
Com homens chamados autorizados, apoiados e ordenados, foi
possível para a Igreja celebrar o sacramento da ceia do Senhor.
“Então, tomamos o pão, o abençoamos e o repartirmos com eles;
assim como o vinho, o abençoamos e bebemos com eles”. Depois do
sacramento, os registros de história de Joseph Smith relatam:
“Colocamos nossas mãos em cada membro da Igreja presente para
que eles pudessem receber o dom do Espírito Santo, e ser
confirmados como membros da Igreja de Cristo. O Espírito Santo foi
derramado sobre nós abundantemente. Alguns profetizaram, ao
mesmo tempo em que todos louvamos ao Senhor e nos regozijamos
imensamente”.
No mesmo dia, “enquanto ainda estávamos juntos” para a reunião
organizacional, Joseph Smith recebeu outra revelação.6 Conhecida
agora como Doutrina e Convênios 21, a revelação instruiu a recém-
formada Igreja que “um registro ser[ia] escrito entre vós” no qual
Joseph Smith seria conhecido como um “vidente, tradutor, profeta,
apóstolo de Jesus Cristo, élder da Igreja”7 (ver D&C 21:1). Oliver
Cowdery, agindo em seu papel como apóstolo e élder, deveria
realizar a ordenação. Embora Oliver tenha sido designado como o
“segundo élder” da Igreja, a revelação de 6 de abril também o
designou como o “primeiro pregador”, um ofício que ocupou ao
realizar o primeiro sermão público da Igreja no dia 11 de abril.8
Enquanto as respectivas funções de Joseph e Oliver eram
esclarecidas, o papel dos Artigos de Oliver na organização é incerto.
Algum tempo depois de Oliver haver terminado os Artigos, Joseph
disse que havia mais. A revelação de Joseph em substituição, que
agora faz parte de Doutrina e Convênios 20, parece ter ocorrido
depois da reunião das organizações, em abril, mas antes da primeira
conferência da Igreja, realizada em junho.10 Na conferência de junho,
esse documento revelado foi aceito como uma declaração de normas
para a nova Igreja.9Sua importância foi destacada pelo fato de que
era o primeiro texto de revelação publicado no jornal da Igreja, e foi
impresso como a segunda parte da edição de 1835 de Doutrina e
Convênios, depois que o “prefácio” foi ditado como revelação em
1833.11
Durante os dois meses entre a reunião de organização e a aceitação
pela Igreja dos novos artigos ocorrida em junho, surgiram dúvidas
sobre a necessidade dos crentes serem batizados, se eles já haviam
sido batizados em outras igrejas. Semanas depois da primeira
reunião da Igreja, Joseph Smith recebeu uma revelação, agora
conhecida como Doutrina e Convênios 22, enfatizando a importância
do batismo na nova Igreja.12

A nova Igreja de Cristo era mais do que simplesmente outra


denominação cristã. Depois de anos mantendo distância das igrejas
que viu ao seu redor, Joseph Smith Sênior viu na Igreja recém-
restaurada algo diferente: um sucessor legítimo à igreja apostólica
com profetas, apóstolos, revelação e autoridade.

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo,


ver o próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
1828 — junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The Joseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Dean Jessee, “Joseph Knight’s Recollection of Early Mormon
History”, BYU Studies, 1976, p. 6.
[2] Revelação, Primavera de 1829, Joseph Smith Papers. A data dessa
revelação permanece incerta. Argumentos convincentes sugerem o verão de
1828 ou a primavera de 1829.
[3] Dean Jessee, “Joseph Knight’s Recollection of Early Mormon
History”, BYU Studies, 1976, p. 5.
[4] Revelação, junho de 1829-B, JSP.
[5] Listas variáveis dos seis organizadores incluem Joseph Smith Jr., Oliver
Cowdery, Joseph Smith Sênior, Hyrum Smith, Samuel Smith, David Whitmer,
John Whitmer, Peter Whitmer Sênior, Peter Whitmer Jr., Christian Whitmer e
Orrin Porter Rockwell (Richard Lloyd Anderson, “Quem foram os seis que
organizaram a Igreja em 6 de abril de 1830”, Ensign, junho de 1980, pp. 44–
45).
[6] Joseph Smith, History, 1838–1856, volume A-1, p. 37, JSP.
[7] Revelação, 6 de abril de 1830, JSP.
[8] Revelação, 6 de abril de 1830, JSP.
[9] Ata, 9 de junho de 1830, Livro de Atas 2, p. 1, JSP.
[10] Com base em pesquisa feita por Michael Hubbard Mackay e Gerrit
Dirkmaat no volume seguinte, Michael Hubbard MacKay, J. Gerrit. Dirkmaat,
Grant Underwood, J. Robert. Woodford, William G. Hartley, eds. Documentos:
julho 1828 — junho de 1831, Primeiro volume da série Documents de The
Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.
[11] Doutrina e Convênios, 1835, p. 77–82, JSP.
[12] Revelação, 16 de abril de 1830, JSP.
‘És uma Mulher Eleita’
D&C 24, 25, 26, 27
Matthew J. Grow9 Janeiro 2013

Emma Smith

A vida de Emma Smith como esposa do profeta da restauração


incluiu bênçãos e revelações, ao lado de suas muitas provações.

Nos meses seguintes à orgazização da Igreja de Cristo (como era


conhecida a Igreja SUD) em abril de 1830, Emma Hale Smith
começou a compreender mais plenamente o que o chamado profético
de seu marido significaria para ela e sua jovem família. Emma, que
completou 26 anos de idade, em 10 de julho de 1830, casara com
Joseph três anos antes, apesar das objeções de seus pais, Isaac e
Elizabeth Lewis Hale.1 Acreditava nas visões e revelações recebidas
por seu marido, e esses três anos conturbados lhe haviam confirmado
que ele era realmente um profeta.
“Ele não tinha nem manuscrito nem livro para ler. Se ele tivesse algo,
não poderia tê-lo escondido de mim. ”
Emma Hale Smith

Por ocasião de seu casamento, Joseph havia se encontrado com o


Anjo Morôni em três anos consecutivos, numa colina perto de
Palmyra, Nova York, para discutir as placas de ouro das quais ele iria
traduzir o Livro de Mórmon. No outono de 1827, Emma foi com
Joseph e esperou no carroção, enquanto ele recebia as placas de
ouro. Ela logo começou a participar do processo de tradução como
escrevente. “Eu frequentemente escrevia dia após dia”, ela mais tarde
relembrou, “muitas vezes sentada à mesa perto dele, ele, sentado
com o rosto enfiado no seu chapéu, com a pedra nele, ditava hora
após hora, sem nada entre nós. Ele não tinha nem [manuscrito] nem
livro para ler. Se ele tivesse algo, não poderia tê-lo escondido de mim.
As placas, muitas vezes, ficavam sobre a mesa sem qualquer
tentativa de dissimulação, envolvidas em uma pequena toalha de
mesa de linho. (...) Eu sentia as placas, quando estavam sobre a
mesa, observando seu contorno e forma”.

Décadas mais tarde, ela se maravilhava com o que havia acontecido.


Ela contou que, na época de seu casamento, Joseph “não poderia
nem escrever nem ditar uma carta coerente e bem formulada, muito
menos ditar um livro como o Livro de Mórmon”.2

As Provações de Emma
Mas essas experiências espirituais tinham sido acompanhadas por
inconveniências e dor. Joseph e Emma moravam primeiro com a
família Smith, em Manchester, Nova York, e depois se mudaram para
morar com os Hales, em Harmony, Pensilvânia, onde Emma havia
crescido. Em seus primeiros anos de casamento, o casal mudou-se
pelo menos quatro vezes entre Harmony e o norte de Nova York,
percorrendo cerca de 483 quilômetros de cada vez. Em junho de
1828, Emma deu à luz um filho que “faleceu na mesma hora” de seu
nascimento.3 Seus primeiros anos foram cheios de pobreza. Joseph
escreveu que, em 1829, eles estavam tão pobres — “tão reduzidos
em propriedades”, disse ele — e o pai de Emma “estava prestes a
botar-me para fora de casa, e eu não tinha aonde ir e clamei ao
Senhor que ele me provesse para realizar o trabalho ao qual ele me
ordenara”.4 Em seus momentos de necessidade, amigos fiéis —
como Josiah Stowell, Martin Harris e Oliver Cowdery — forneciam
ajuda financeira muitas vezes a Joseph e Emma.

Apesar dessas dificuldades, Emma desejou ser batizada em junho de


1830, e Joseph e Emma viajaram para Colesville, Nova York, para
realizar seu batismo, juntamente com os de vários outros conversos,
inclusive membros da família Knight, que também os haviam
sustentado financeiramente durante a tradução do Livro de Mórmon.
No entanto, opositores da nova igreja destruíram uma barragem
construída para os batismos, na noite de domingo, 27 de junho. Bem
cedo na manhã seguinte, relata a história de Joseph Smith,
“estávamos em alerta, e antes de nossos inimigos saberem, tínhamos
consertado a represa e continuado a batizar”, Oliver Cowdery batizou
Emma e doze outros. Antes que a reunião batismal houvesse
terminado, “a turba começou novamente a reunir-se e, pouco depois
de nos havermos retirado, eles estavam com cerca de cinquenta
homens”. Joseph, Emma e outros membros da Igreja tinham ido à
casa de Joseph Knight Sênior, mas ela foi logo cercada por homens
“coléricos e aparentemente desejosos de cometer violência contra
nós”. A história de Joseph Smith continua, “Alguns nos faziam
perguntas, outros nos ameaçavam; assim, achamos que seria sábio
retirar-nos e ir para a casa de Newel Knight”. Não obstante, os santos
foram seguidos, e a perseguição continuou.5

Os santos planejaram uma reunião para aquela noite, durante a qual


Emma e as outras pessoas recém batizadas iriam receber o dom do
Espírito Santo e ser confirmadas membros da Igreja. No entanto,
quando eles se reuniram, um policial prendeu Joseph Smith “sob a
acusação de ser uma pessoa desordeira; de colocar o país em
alvoroço, pregando o Livro de Mórmon”. O policial explicou que a
multidão esperava emboscar Joseph depois de sua prisão; no
entanto, o policial “estava determinado a salvar-me deles, pois havia
descoberto que eu era um tipo de pessoa diferente do que lhe haviam
descrito”. Logo depararam com a turba, mas para a “grande
decepção” dos vigilantes, o policial “chicoteou o cavalo e me levou
para fora de seu alcance”. Depois de chegar em South Bainbridge, no
Condado de Chenango, o policial ficou com Joseph Smith naquela
noite “no andar superior de uma Taverna”. Para proteger a Joseph, o
policial “dormiu durante a noite com os pés contra a porta e um
mosquete carregado a seu lado”.6

Joseph Smith foi julgado e absolvido em South Bainbridge, mas


imediatamente preso de novo para enfrentar julgamento sob
acusações semelhantes, no vizinho Condado de Broome. O segundo
policial, a princípio, tratou Joseph duramente. Quando chegaram ao
Condado de Broome, “ele me levou para uma taverna e reuniu um
grupo de homens, que usaram de todos os meios para abusar,
ridicularizar e insultar-me”. Eles cuspiram em Joseph e ordenaram
que ele profetizasse para eles. Relativamente perto de sua casa
agora, Joseph pediu que lhe “fosse permitido o privilégio de passar a
noite com minha esposa em casa”, mas o policial negou-lhe o pedido.
Após um segundo julgamento no dia seguinte, Joseph foi novamente
absolvido. O policial, de acordo com a história de Joseph Smith,
“pediu meu perdão”. Sabendo dos planos da turba de passar piche e
penas em Joseph, o policial ajudou-o a escapar. Joseph chegou em
segurança à casa de Elizabeth Hale Wasson, irmã de Emma.7

Durante a ausência de seu marido, Emma tinha estado “aguardando


com muita ansiedade a questão daqueles procedimentos
ímpios”.8 Ela reuniu-se com outras mulheres “com a finalidade de orar
pedindo a libertação” de seu marido.9 Uma vez reunidos, Joseph e
Emma viajaram para casa em Harmony, Estado da Pensilvânia, no
início de julho. Juntamente com Oliver Cowdery, Joseph fez mais uma
viagem infrutífera para Colesville, a fim de confirmar os santos recém-
batizados, mas logo voltou para Harmony, diante de renovada
oposição.10

Manifestações Abundantes de Revelação


D&C 24 em JosephSmithPapers.org
Após esse retorno a Harmony, Joseph Smith recebeu três revelações,
em julho de 1830. A primeira revelação, atualmente conhecida
como Doutrina e Convênios 24, dirigia-se a Joseph e Oliver Cowdery,
“diz respeito a seus chamados”. A revelação lembrou-lhes que
haviam sido chamados “para escrever o Livro de Mórmon e para meu
ministério”. Provavelmente, referindo-se em parte a sua recente
oposição, a revelação continua, “Livrei-te de tuas aflições e
aconselhei-te, pelo que tens sido livrado de todos os teus inimigos”
(ver D&C 24:1, 3).

A revelação também falou das circunstâncias materiais de Joseph


Smith, instruindo-o a visitar membros da Igreja em Colesville, Fayette
e Manchester, depois que ele tivesse “semeado teus campos”
(ver D&C 24:3). A revelação deixa claro que Joseph deveria ser
apoiado pelos membros da Igreja, para “servir exclusivamente a
Sião”. Foi dito a Joseph: “nas obras terrenas não terás força, porque
teu chamado não é esse” (ver D&C 24:7, 9). Essa revelação levou
Joseph e Emma a entender que teriam dificuldades financeiras e
precisariam depender do sustento dos membros da Igreja, por causa
de sua dedicação ao ministério.11

Fossem quais fossem as esperanças de Emma para sua vida de


casada, ela mal poderia ter previsto o grau em que os opositores da
nova Igreja iriam intimidar fisicamente e molestar legalmente a família
Smith, ou o modo pelo qual as exigências da pregação e da
administração da Igreja afastariam o marido para longe de sua
fazenda e família, perturbando sua vida doméstica e ameaçando o
seu sustento.
D&C 25 em JosephSmithPapers.org
No contexto dessas ansiedades e decepções, Joseph recebeu uma
revelação para Emma, Doutrina e Convênios 25, a qual reiterou, “em
verdade eu te digo que deverás deixar as coisas deste mundo e
buscar as coisas de um melhor” (ver D&C 25:10). Por meio da
revelação, Emma recebeu palavras de consolo e instrução. Foi-lhe
dito: “não murmures por causa das coisas que não viste, porque
foram ocultas a ti e ao mundo”, talvez uma referência às placas de
ouro, que Emma mais tarde relembrou ter manuseado em certa
ocasião, mas não visto. (Ver D&C 25:4) A revelação chamava Emma
“uma mulher eleita” e lhe dizia que “o dever de teu chamado será
confortar meu servo Joseph, teu marido, em suas aflições, com
palavras consoladoras em espírito de mansidão” (Ver D&C 25:3, 5). A
revelação também falava do trabalho de Emma na Igreja, prometendo
que ela seria “ordenada” pelo marido “para explicar as escrituras e
exortar a Igreja”12 (Ver D&C 25:7). Além disso, Emma foi instruída a
servir como escrevente para o marido e a criar um hinário. Joseph
Smith explicou mais tarde que Emma “foi ordenada13 na época em
que a revelação foi dada, para explicar as escrituras a todos; e para
ensinar à parte feminina da comunidade; e que não só ela, mas
outras pessoas poderiam alcançar as mesmas bênçãos”.14

D&C 26 em JosephSmithPapers.org
A terceira revelação recebida por Joseph Smith, em julho de
1830, Doutrina e Convênios 26, instruiu-o, juntamente com Oliver
Cowdery e John Whitmer, a dedicar seu tempo “ao estudo das
escrituras e à pregação e à confirmação da Igreja em Colesville e à
realização de vossos labores na Terra”15 (ver D&C 26:1). No início de
agosto, algumas semanas após estas três revelações, Newel e Sally
Knight viajaram de Colesville, Nova York, para visitar Joseph e Emma
Smith, em Harmony, Pensilvânia. Sally Knight tinha sido batizada no
mesmo dia que Emma, mas nenhuma tinha sido confirmada. Como
tal, relata a história de Joseph Smith, “foi proposto que deveríamos
confirmá-las, e juntos tomar o sacramento, antes de ele e sua esposa
tivessem que partir.— A fim de preparar-se para isso; sai para ir à
procura de vinho para a ocasião, mas tinha percorrido apenas uma
curta distância, quando fui encontrado por um mensageiro celestial e
recebi a seguinte revelação”.16

D&C 27 em JosephSmithPapers.org
O anjo alertou a Joseph Smith que não “Compreis vinho nem bebida
forte de vossos inimigos”17 (ver D&C 27:3). Joseph, então, voltou
para casa e “preparou um pouco de vinho de nossa própria
fabricação” para a reunião de confirmação, que consistia das famílias
Smith, Knight e John Whitmer. A história de Joseph Smith registra:
“Partilhamos juntos do sacramento, após o que confirmamos essas
duas irmãs na igreja e passamos a noite de maneira gloriosa. O
Espírito do Senhor foi derramado sobre nós, louvamos o Senhor Deus
e regozijamo-nos imensamente”.18Essas quatro revelações,
recebidas de julho a setembro de 1830, forneceram instruções
essenciais para Joseph e Emma Smith, bem como a outros membros
da Igreja, nos meses da formação após a organização da Igreja.

Emma particularmente entesourou a revelação dirigida a ela. Com a


ajuda de William W. Phelps, ela seguiu suas instruções de compilar o
primeiro hinário da Igreja.19 Em 1842, Joseph Smith leu a revelação a
Emma, na reunião de organização da Sociedade de Socorro. Ele
também leu II João 1, que faz referência à “senhora eleita” e explicou
que ela foi “chamada uma mulher eleita”, porque fora “eleita para
presidir”.20 Joseph declarou que “a revelação fora então cumprida
pela Eleição da Irmã Emma para a Presidência da Sociedade”.21

A revelação a respeito de Emma Smith, recebida durante os meses


tumultuados do verão de 1830, foi evocada e discutida nas reuniões
da Sociedade de Socorro, ao longo do século XIX. Por exemplo, em
uma celebração do “Jubileu” do quinquagésimo aniversário da
Sociedade de Socorro, em 1892, no Tabernáculo de Salt Lake, “Zina
Y. W. Card (…) leu em voz muito clara e distinta a revelação dada a
Emma Smith, por intermédio de Joseph, o Vidente (…) na qual a irmã
Emma é chamada de uma Mulher Eleita”.22 Antigas presidentes
gerais da Sociedade de Socorro, às vezes, eram chamadas de
“Mulher Eleita”. Por exemplo, quando Zina H. D. Young se tornou
presidente geral da Sociedade de Socorro, Emmeline B. Wells (que
posteriormente serviu como presidente geral da Sociedade de
Socorro) escreveu para ela, “Cumprimento-a, minha irmã querida, ao
ser chamada para ser de acordo com as palavras de Joseph, o
Profeta, “A Mulher Eleita”.23

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828-junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The
Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Editora do Historiador da Igreja,
2013.

Notas de rodapé
[1] Joseph Smith [III], “Last Testimony of Sister Emma”, Saints’ Herald 26, 1º
de outubro de 1879, p. 289.
[2] Emma Smith Bidamon, notas de entrevista com Joseph Smith III, citado
em Richard Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling , Nova York:
Knopf, 2005, p. 57.
[3] Karen Lynn Davidson, David J. Whittaker, Mark R. Ashurst-McGee,
Richard L. Jensen, eds., Histories: Joseph Smith Histories, 1832-1834, 1832-
1834, volume I da série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por
Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City:
Editora do Historiador da Igreja, p. 28.
[4] Joseph Smith, History, 1832, Letterbook 1, 1832-1835, p. 6, JSP.
[5] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, pp. 43-44, JSP.
[6] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, p. 44, JSP.
[7] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, pp. 45-47, JSP.
[8] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, p. 47, JSP.
[9] “Algumas das observações de John S. Reed, Esq., como foram
transmitidas diante da Convenção Estadual”, Times and Seasons p. 5, 1º de
junho de 1844, p. 551.
[10] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, p. 47, JSP.
[11] Revelation, julho de 1830-A, JSP.
[12] Revelation, julho de 1830–C, JSP.
[13] A palavra “ordenada”, conforme usada aqui, corresponde à expressão
“designada” no uso moderno.
[14] Female Relief Society of Nauvoo, atas, 17 de março de 1842, JSP.
[15] Revelation, julho de 1830-B, JSP.
[16] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, pp. 51-52, JSP.
[17] Revelation, por volta de agosto de 1830, JSP.
[18] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, pp. 51-52, JSP. A história
de Joseph Smith também explica que somente a primeira parte da revelação
“foi escrita nesta ocasião, e o restante [da revelação] em setembro seguinte”.
As versões iniciais do manuscrito contêm somente a primeira parte, ao passo
que a cópia mais antiga existente da última parte encontra-se na edição de
1835 de Doutrina e Convênios.
[19] Emma Smith, comp., A Collection of Sacred Hymns for the Church of the
Latter Day Saints [Uma Coleção de Hinos Sacros para a Igreja dos Santos
dos Últimos Dias, Kirtland, OH: F. G. Williams & Co., 1835, JSP.
[20] Female Relief Society of Nauvoo, atas, 17 de março de 1842, JSP.
[21] Andrew H. Hedges, ed., Joseph Smith Papers: Journals, volume 2 da
série Journals de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Editora do
Historiador da Igreja, 2011, p. 45.
[22] Minutes, Jubileu da Sociedade de Socorro, Salt Lake City, Utah, 17 de
março de 1892, Woman’s Exponent p. 20, 1º de abril de 1892, pp. 140-144.
[23] Emmeline B. Wells para Zina D. H. Young, 24 de abril de 1888, Coleção
da Família de Zina Card Brown, Biblioteca de História da Igreja.
A Jornada do Ramo de Colesville
D&C 26, 51, 54, 56, 59
Joseph F. Darowski12 Fevereiro 2013

Ninevah (anteriormente Colesville), Condado de Broome, Nova York, ca.


1907

De Nova York ao Missouri, um grupo de santos de Colesville


permaneceu leal a Joseph Smith e fiel à Igreja que ele fundou.

Joseph Smith pode ter estado sozinho quando teve sua Primeira
Visão e depois, quando viu o anjo Morôni, mas não deixou de ter
apoio em sua casa. Sua mãe, seu pai e seus irmãos formaram uma
rede de apoio familiar. Ele podia confiar nos pais. Podia contar com
seus irmãos. A esposa de Joseph, Emma, dividiu com Joseph as
exigências e tensões da liderança, oposição e perseguição. Outros
amigos, tais como Martin Harris, Oliver Cowdery e David e John
Whitmer estavam com Joseph quando ele trouxe à luz o Livro de
Mórmon, organizou a Igreja e iniciou seus esforços para edificar uma
sociedade de Sião.

Igualmente notáveis entre aqueles cujo relacionamento fortaleceu e


apoiou Joseph durante suas muitas tribulações e angústias estavam a
família Knight e seus vizinhos em Colesville, Nova York. Aliando-se
ao jovem Joseph Smith, eles o seguiram na Igreja que surgia,
defenderam-no e formaram o núcleo de um dos primeiros ramos da
Igreja. A história dos Knights e do ramo de Colesville testifica sobre o
poder da união e da amizade na restauração do evangelho e na
edificação do Reino do Senhor.

A história dos santos de Colesville começou com as visitas de Joseph


à região em meados da década de 1820, quando ele começou a
trabalhar para Josiah Stowell nos arredores de South Bainbridge,
Nova York, em um empreendimento mal sucedido à procura de
tesouros. Embora essa busca não tenha tido êxito, criou uma estreita
amizade entre Joseph Smith e Joseph Knight Sênior e seu filho Newel
Knight. Posteriormente, Joseph Knight Sênior ajudou Joseph em seu
namoro com Emma Hale. Ele estava presente na propriedade dos
Smith na noite em que Joseph Smith, com a ajuda de Emma, retirou
as placas do Livro de Mórmon do monte Cumora, e forneceu
alimentos e materiais de escrita enquanto Joseph Smith traduzia o
Livro de Mórmon.
D&C 26 em JosephSmithPapers.org
Os membros da família Knight e alguns de seus vizinhos estavam
entre as primeiras pessoas que se filiaram à Igreja em 1830. No final
daquele ano, eles se tornaram o núcleo de um dos primeiros (se não
o primeiro) ramos organizados na Igreja. Em julho de 1830, Joseph foi
aconselhado em duas revelações que hoje se encontram em Doutrina
e Convênios 24 e 26 a visitar os membros de Colesville, inclusive os
Knights, para dedicar seu tempo ao “estudo das escrituras e à
pregação e à confirmação da Igreja em Colesville”1 (ver D&C 26:1).
Hyrum Smith permaneceu na área no final de 1830 e presidiu o ramo
por vários meses. Seu sucessor foi o filho de Joseph Knight Sênior,
Newel.
A Mudança para Ohio
Quando foram dadas instruções em dezembro de 1830 e janeiro de
1831 (D&C 37 e 38) para que os membros de Nova York fossem para
a região do vale de Ohio, os membros do ramo de Colesville fizeram
sacrifícios financeiros significativos e prepararam-se para a mudança
em direção ao oeste. As famílias ligadas ao ramo de Colesville
incluíam, entre outros, os Knights, Pecks, DeMills, Stringhams,
Culvers, Slades, Badgers, Hineses e Carters. Esperava-se que todos
se reunissem em Ohio, e os pobres não deveriam ser deixados para
trás. Deixando de lado sua antiga vida e sua casa, o ramo, começou
a jornada para a área de Kirtland em abril de 1831 sob a liderança de
Newel Knight. Ao chegarem lá no mês de maio, foram aconselhados
a “permanecer juntos e ir para uma cidade vizinha chamada
Thompson, pois um homem chamado [Leman] Copley possuía uma
considerável porção de terra a qual ofereceu para que os irmãos a
ocupassem”.2

Copley ofereceu sua terra, talvez em resposta a uma revelação


anterior (D&C 48) dada como resposta a uma pergunta-chave entre
os santos de Ohio no início de 1831: “Quais preparativos devemos
fazer para os nossos irmãos do leste, e quando e como?”3 A
revelação orientou: “E se possuirdes terras, repartireis com os irmãos
do leste”4 (ver D&C 48:2). Copley deu boas-vindas ao ramo de
Colesville, e logo após sua chegada em Thompson, começaram a
plantar e construir na ampla fazenda de 307 hectares.
D&C 51 em JosephSmithPapers.org
Em 20 de maio, Joseph Smith recebeu outra revelação, identificada
atualmente como Doutrina e Convênios 51, orientando aqueles que
se estabeleceram em Thompson para serem os primeiros a praticar
os princípios recentemente revelados de consagração e mordomia. O
recém chamado bispo Edward Partridge deveria “receber as
propriedades deste povo, que fizeram convênio comigo” e “[designar]
a este povo suas porções, igualmente a cada homem, de acordo com
sua família e de acordo com suas condições e suas carências e
necessidades”5 (ver D&C 51:3). Embora a revelação tenha deixado
claro que Ohio seria um lugar provisório de reunião, foi-lhes lembrado
que “a hora e o dia não lhes são indicados” em relação à sua
esperada mudança para a futura cidade de Sião. Eles deveriam “viver
nesta terra como se aqui fossem permanecer anos”6 (ver D&C 51:17).

No entanto, os membros do ramo de Colesville tiveram muito pouco


tempo para cumprir o mandamento de implementar a lei da
consagração. A resolução de Leman Copley de partilhar de sua terra
foi colocada à prova no início de maio quando ele participou de uma
missão em sua antiga congregação Shaker. Aquela experiência criou
dúvidas que enfraqueceram seu testemunho e, logo após seu retorno
a Thompson, ele quebrou seu acordo e expulsou os santos de sua
propriedade. Em junho de 1831, com seu futuro obscurecido e sua
vida em desordem, os Knights e outros membros do ramo de
Colesville procuraram conselho e orientação de Joseph Smith sobre o
que deveriam fazer em seguida.
D&C 54 em JosephSmithPapers.org
A instrução veio na forma de uma revelação agora conhecida
como Doutrina e Convênios 54: “E assim viajareis para as regiões do
oeste, para a terra de Missouri, até às fronteiras dos lamanitas. E
depois que tiverdes terminado a viagem, eis que vos digo: Procurai
um meio de vida à maneira dos homens, até que eu vos prepare um
lugar”7 (ver D&C 54:8–10). Newel Knight, mais tarde, descreveu a
situação: “Agora entendemos que [Ohio] não era a terra de nossa
herança — a terra da promissão, pois foi-nos mostrado em uma
revelação que Missouri era o lugar escolhido para a reunião da Igreja,
e muitos foram chamados para liderar a ida para aquele
estado”.8 Unidos mais uma vez, os membros de Colesville se
prepararam para sua jornada. Eles escolheram Newel Knight para
continuar a presidi-los apesar de seu chamado anterior, por
revelação, de servir em uma missão de proselitismo (ver D&C 52).
Em uma revelação registrada em Doutrina e Convênios 56, ele foi
autorizado a deixar de lado seu chamado para a missão e em vez
disso, viajar para o Missouri como o líder do ramo de Colesville.

D&C 56 em JosephSmithPapers.org
A Mudança para o Missouri
Partindo de Thompson no início de junho de 1831, sessenta membros
do ramo chegaram ao município de Kaw no Condado de Jackson,
Missouri, em 26 de julho, após uma viagem de cerca de mil e
seiscentos quilômetros. Embora Joseph Smith tenha chegado pouco
antes dos santos de Colesville, eles tiveram o privilégio de ser o
primeiro ramo da Igreja a se estabelecer na terra que havia sido
dedicada como Sião, em 2 de agosto de 1831, por Sidney Rigdon.
Infelizmente, a esposa de Joseph Knight Sênior, Polly, morreu poucos
dias após sua chegada. De acordo com sua história contada
posteriormente, Joseph Smith “assistiu ao funeral da irmã Polly [Peck]
Knight. (…) Essa foi a primeira morte na Igreja nesta terra, e posso
dizer que um membro digno dorme em Jesus até a ressurreição”.9

D&C 59 em JosephSmithPapers.org
No mesmo dia, Joseph recebeu a revelação hoje conhecida
como Doutrina e Convênios 59, descrevendo como a Igreja deveria
observar o Dia do Senhor. Nessa revelação, o Senhor incluiu palavras
de consolo para a família e amigos de Polly Knight: “(…) Bem-
aventurados são os que subiram a esta terra com os olhos fitos na
minha glória, de acordo com meus mandamentos. Porque os que
viverem herdarão a terra e os que morrerem descansarão de todos os
seus labores e suas obras segui-los-ão; e nas mansões de meu Pai,
que lhes preparei, receberão uma coroa”. 10 (ver D&C 59:1–2).

Joseph Smith visitou seus amigos do ramo de Colesville, no Missouri,


novamente em abril de 1832. Naquela ocasião, Joseph selou os
membros do ramo para a vida eterna.11 Durante as turbas do
Condado de Jackson em 1833, o ramo de Colesville fugiu com muitos
outros santos para o vizinho Condado de Clay. Eles se estabeleceram
ali por algum tempo, e chegaram a construir uma capela. No entanto,
uma vez que a Igreja mudou-se para o Condado de Caldwell, em
1836, os membros do ramo foram dispersos e seu tempo como uma
das primeiras unidades organizadas na Igreja chegou ao fim.

Os Knights e outros membros do ramo uniram-se a muitos dos santos


a fim de fugir para Illinois após a Guerra Mórmon do Missouri de
1838. Os Knights se estabeleceram na região de Nauvoo e
permaneceram membros fiéis da Igreja e amigos de Joseph Smith.
Após o martírio de Joseph em 1844, a família Knight seguiu a
liderança do Quórum dos Doze Apóstolos. Tanto Joseph Knight
Sênior quanto seu filho Newel morreram em 1847, durante o êxodo
de Nauvoo para o vale do Lago Salgado.
Para mais informações sobre as seções mencionadas neste artigo, ver o
próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
1828–junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The Joseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Revelação, julho de 1830–B, Joseph Smith Papers.
[2] Newel Knight, Autobiografia e diário, Arquivos da Igreja, p. 288.
[3] Revelação, 9 de fevereiro de 1831, JSP.
[4] Revelação, 10 de março de 1831, JSP.
[5] Revelação, 20 de maio de 1831, JSP.
[6] Revelação, 20 de maio de 1831, JSP.
[7] Revelação, 10 de junho de 1831, JSP.
[8] Newel Knight, Autobiografia e diário, Arquivos da Igreja, p. 290.
[9] Joseph Smith, História, 1838-1856, volume A–1, p. 139, JSP.
[10] Revelação, 7 de agosto de 1831, JSP.
[11] Dean Jessee, “Joseph Knight’s Recollection of Early Mormon
History”, BYU Studies 17, nº 1 (1976), p. 7.
Uma Missão entre os Lamanitas
D&C 28, 30, 32
Richard Dilworth Rust22 Fevereiro 2013

Convênio de Oliver Cowdery e Outros, 17 de outubro de 1830, Ohio Star

Oliver Cowdery, Peter Whitmer Jr., Parley P. Pratt e Ziba Peterson


foram chamados para pregar aos lamanitas. A missão deles teria
consequências de longo alcance para o futuro da Igreja.
D&C 28 em JosephSmithPapers.org
Em uma revelação dada antes de o Livro de Mórmon ter sido
completamente traduzido, o Senhor disse que as placas haviam sido
preservadas “para que os lamanitas tivessem conhecimento de seus
antepassados e conhecessem as promessas do Senhor e cressem no
evangelho e confiassem nos méritos de Jesus Cristo”1(ver D&C 3:19
– 20). Como o escriba principal do Livro de Mórmon, Oliver Cowdery
sabia que o livro havia sido escrito principalmente “para os lamanitas”
que eram “os remanescentes da casa de Israel”.2 Foi adequado,
então, que em setembro de 1830, seis meses depois que o Livro de
Mórmon foi publicado, Oliver Cowdery fosse a primeira pessoa a ser
instruída por revelação para ir “aos lamanitas para pregar-lhes [o]
evangelho”3(ver D & C 28: 8).
D&C 30 em JosephSmithPapers.org
Outros primeiros conversos também expressaram “um grande desejo”
em relação “aos remanescentes da casa de José — os lamanitas que
residiam no oeste, sabendo que os propósitos de Deus eram grandes
para aquele povo”.4 Em resposta a esses desejos, Joseph Smith
recebeu uma outra revelação, na qual Peter Whitmer Jr. foi chamado
para acompanhar seu cunhado, Oliver Cowdery. O Senhor lhe
ordenou que “[abrisse] a boca para proclamar [o] evangelho” e
“[desse] ouvidos às palavras e aos conselhos de [seu] irmão” que
havia recebido poder “para edificar [a] Igreja entre os
lamanitas”5 (ver D&C 30:5-6).
No mês seguinte, outubro de 1830, Parley P. Pratt e Ziba Peterson
também foram chamados para ir “ao deserto, entre os lamanitas”.
Para auxiliá-los nessa tarefa desafiadora, o Senhor prometeu que
“[iria] com eles e [estaria] em seu meio”6 (ver D&C 32:2-3).

D&C 32 em JosephSmithPapers.org
Por causa do Ato de Remoção de Índios expedido em maio de 1830,
os índios americanos foram realocados para um novo território, que
corresponde à área atual dos estados do Kansas e Oklahoma. Assim,
esses missionários entre os lamanitas planejaram ir ao oeste de
Independence, Missouri, em território indígena.

Antes de sair para a missão, Oliver Cowdery assinou um convênio de


andar em humildade diante de Deus e fazer “essa obra gloriosa
conforme fosse guiado pelo Espírito Santo”.7 Da mesma forma, seus
três companheiros assinaram um convênio de que auxiliariam Oliver
Cowdery “fielmente [naquela] obra”.8 Quando partiram, levaram
consigo vários exemplares do Livro de Mórmon para distribuir entre
seus ouvintes.

Em sua autobiografia, Parley P. Pratt escreveu que, enquanto ainda


em Nova York, os quatro missionários visitaram “uma nação indígena
(Seneca) em Buffalo ou naquelas proximidades e passaram um dia
com eles, instruindo-os no conhecimento do registro de seus
antepassados”.9 Em retrospectiva, o maior impacto de sua missão
ocorreu na metade de suas viagens. Pratt conta como eles
continuaram sua jornada até pararem em Mentor, Ohio, para visitar
Sidney Rigdon, antigo “amigo e professor (de Pratt), na Sociedade
Batista Reformada”.10 Eles o presentearam com um exemplar do
Livro de Mórmon, que ele prometeu ler, e depois ensinaram o
evangelho restaurado em muitos lares da região. Como consequência
disso, “finalmente o Sr. Rigdon e muitos outros (…) apresentaram-se
e foram batizados por [eles] e receberam o dom do Espírito Santo
pela imposição de mãos”.11 Pratt conta como “a notícia da
descoberta do Livro de Mórmon e os acontecimentos maravilhosos
ligados a ele” criaram um “interesse e entusiasmo (…) em Kirtland e
em toda a região circunvizinha. As pessoas nos cercavam noite e dia,
tanto que não tínhamos tempo para descansar e repousar. As
reuniões foram realizadas em diferentes locais e multidões se
reuniam solicitando nossa presença. (…) Duas ou três semanas
depois de nossa chegada na vizinhança, tínhamos batizado cento e
vinte e sete almas”.12 Dentre aqueles a quem eles apresentaram o
evangelho estavam Isaac Morley, John Murdock, Lyman Wight e
Edward Partridge.

Esse sucesso inesperado em Kirtland teve enormes consequências


para o futuro da Igreja. Kirtland logo se tornou um lugar importante de
coligação para os membros da Igreja e mais tarde seria o local do
primeiro templo. Muitos dos conversos de Kirtland depois tornaram-se
os primeiros líderes da Igreja. Em especial, entre eles estava o
próprio Rigdon, que mais tarde serviria como conselheiro de Joseph
Smith. Frederick G. Williams, um recém converso da região de
Kirtland, uniu-se aos quatro missionários em sua jornada.

Ainda que seu propósito original fosse pregar às tribos indígenas,


Cowdery e seus companheiros missionários continuaram a ensinar
outras pessoas que encontravam ao longo do caminho. Uma das
primeiras reuniões aconteceu em uma Comunidade Shaker em North
Union, Ohio. Uma segunda reunião com os Shakers ocorreu na Union
Village, que ficava vários quilômetros ao norte de Cincinnati. Em cada
reunião, os missionários deixavam exemplares do Livro de Mórmon
com os Shakers, embora essa abordagem, aparentemente, tenha tido
pouco sucesso, Richard McNemar, um morador de Union Village leu
um desses exemplares e anotou: “talvez esse Livro de Mórmon traga
algum benefício aos índios, mas é certo que para nós não acrescenta
nada”.13

A viagem no final de dezembro e durante todo o mês de janeiro foi


difícil por causa do que foi chamado de “o inverno da neve profunda”.
Parley P. Pratt descreveu como os missionários tiveram que parar por
alguns dias em Illinois, por causa de contínuas tempestades “durante
as quais alguns lugares acumularam quase um metro de neve”. Com
seus planos iniciais frustrados por causa do gelo no rio, eles
reiniciaram sua jornada a pé, viajando, como Pratt escreveu, “por
quatrocentos e oitenta quilômetros em meio a vastas pradarias e
trilhas cobertas de neve — nenhum caminho de terra batida; poucas
casas, longe umas das outras; e o desolador vento noroeste
soprando sempre em nosso rosto, quase arrancando sua pele do
rosto. (…) Depois de muito cansaço e algum sofrimento, chegamos
em Independence, no Condado de Jackson, nas fronteiras ocidentais
extremas do Missouri e dos Estados Unidos”.14

Depois que o grupo chegou em Independence, Peter Whitmer Jr. e


Ziba Peterson ficaram para ganhar dinheiro enquanto Parley P. Pratt,
Oliver Cowdery e Frederick G. Williams entraram no território
indígena. Primeiro pregaram aos Shawnees e depois aos Delawares.
Falando por meio de um intérprete, Oliver Cowdery compartilhou a
mensagem fundamental do Livro de Mórmon. Parte de sua
mensagem, como registrada por Parley P. Pratt, era que “o Senhor
ordenou a Mórmon e Morôni, seus últimos sábios e profetas, que
ocultassem o livro na terra, para que fosse preservado em segurança
e pudesse ser encontrado e revelado nos últimos dias aos homens
brancos que ocupariam a terra; para que pudessem levá-lo
novamente ao conhecimento dos homens de pele vermelha, a fim de
restaurar-lhes o conhecimento da vontade do Grande Espírito e de
sua graça”.15

Os índios Delaware foram receptivos e seu chefe solicitou que os


missionários voltassem na primavera para “ler para [eles] e [os
ensinassem] mais sobre o Livro de [seus] pais e a vontade do Grande
Espírito”.16 No entanto, por requisição de um agente federal, os
missionários foram expulsos do território indígena. Após buscarem,
sem sucesso, obter a autorização de William Clark, o superintendente
de assuntos indígenas da região, os missionários não mais puderam
fazer proselitismo no território indígena.17

Embora a missão lamanita tenha assim terminado, ela ajudou a traçar


o caminho que a jovem Igreja seguiria durante a próxima década. Os
missionários estabeleceram a Igreja na região de Kirtland e
prepararam o caminho para que Joseph Smith fosse a Ohio no início
de 1831 e em seguida convocasse os santos do leste a irem para lá
também. Mais tarde, em 1831, o próprio Joseph viajou para o
Condado de Jackson, onde identificou a localização da Nova
Jerusalém e, em 3 de agosto de 1831, perto do tribunal de
Independence, colocou a pedra angular do templo.18

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828 – junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The
Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Editora do Historiador da Igreja,
2013.

Notas de rodapé
[1] Revelação, julho de 1828, Joseph Smith Papers. Os primeiros membros
da Igreja consideravam todos os índios americanos como descendentes
diretos dos povos do Livro de Mórmon. A introdução ao Livro de Mórmon
atual esclarece que os lamanitas estavam “entre os antepassados dos índios
americanos.”
[2] Página de rosto do Livro de Mórmon.
[3] Revelação, setembro de 1830 – B, JSP.
[4] História do manuscrito, 1838–1856, volume A-1, JSP, 60.
[5] Revelação, setembro de 1830 – D, JSP.
[6] Revelação, outubro de 1830-A, JSP.
[7] Convênio de Oliver Cowdery e Outros, 17 de outubro de 1830, JSP.
Publicado na Ravenna Ohio Star, 8 de dezembro de 1831.
[8] Convênio de Oliver Cowdery e Outros, 17 de outubro de 1830, JSP.
Publicado na Ravenna Ohio Star, 8 de dezembro de 1831.
[9] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
35. Cowdery e seus companheiros mais tarde pregariam aos Índios Wyandot
perto de Sandusky, Ohio.
[10] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
35.
[11] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
35.
[12] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
36.
[13] Christian Goodwillie, “Shaker Richard McNemar: The Earliest Book of
Mormon Reviewer,” Journal of Mormon History 37, N° 2 (Primavera de 2011):
p. 144.
[14] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
40.
[15] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
43.
[16] Autobiography of Parley P. Pratt (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p.
44.
[17] Relatado por Leland H. Gentry em “Light on the ‘Mission to the
Lamanites,’” BYU Studies36, n º 2 (1996-97): p. 229.
[18] Uma revelação dada em 20 de julho de 1831 indicava que “o lugar que é
agora chamado Independence é o lugar central e o local para o Templo se
acha a oeste, em um terreno próximo ao tribunal.” (Revelação, 20 de julho de
1831, JSP; ver D&C 57:3.)
Todas as Coisas Devem ser Feitas em Ordem
D&C 28, 43
Jeffrey G. Cannon4 Abril 2013

Joseph Smith

Uma série de revelações no início da história da Igreja determinou


que Joseph Smith seria o porta-voz do Senhor para a Igreja.

No verão de 1830, Oliver Cowdery escreveu a Joseph Smith da casa


de Peter Whitmer, onde a Igreja havia sido organizada no início
daquele ano: “Ordeno em nome de Deus que apagues aquelas
palavras, para que não haja artimanhas sacerdotais entre nós”.1 Sua
emoção estava clara, mas o que teria alarmado tanto o segundo Élder
da Igreja, a ponto de ser tão incisivo em sua comunicação com o
profeta?

Sob direção divina, Oliver havia escrito um documento chamado the


Articles of the Church [as Regras da Igreja], que mais tarde foi
substituído por um segundo documento escrito por Joseph,
intitulado Articles and Covenants of the Church of Christ [Regras e
Convênios da Igreja de Cristo]. O documento de Joseph usou
praticamente as mesmas ideias, mas adicionou passagens
significativas que esclareciam e ampliavam o documento original de
Oliver. O documento escrito por Joseph foi aceito pela igreja como
mandamento na conferência de junho de 1830. Apesar da aceitação
da Igreja, Cowdery desaprovou uma frase na lista de requisitos para o
batismo: “e realmente manifestarem por suas obras que receberam o
Espírito de Cristo para a remissão de seus pecados”.2

Talvez Oliver tenha pensado que seu envolvimento na escrita do


documento lhe desse o direito de fazer exigências quanto ao texto.
Joseph, contudo, discordou, insistindo que a exigência havia sido
dada por revelação. Em sua resposta, Joseph perguntou “por qual
autoridade ele [Oliver] tomou sobre si a fim de [lhe] ordenar que
alterasse ou apagasse, acrescentasse ou diminuísse uma revelação
ou mandamento do Deus Todo-Poderoso”.3

Poucos dias depois, Joseph partiu de sua casa em Harmony,


Pensilvânia, para ver Oliver na casa dos Whitmer, em Fayette, Nova
York. Joseph registrou: “a opinião da família [Whitmer] era, em geral,
favorável a dele [de Oliver] (…) e foi necessário muito trabalho e
perseverança para que eu conseguisse persuadir qualquer um deles
a discutir calmamente sobre o assunto”. Por fim, “consegui fazer com
que não só a família Whitmer, mas também Oliver Cowdery,
reconhecessem que estavam errados”.4

Com o benefício dos anos de experiência, Joseph posteriormente


refletiu sobre o incidente e escreveu: “e assim nos livramos daquele
erro, o qual, havendo surgido da presunção e do julgamento
precipitado, serviu precisamente (quando compreendido) para ensinar
a todos e cada um de nós, a necessidade de humildade e mansidão
perante o Senhor, para que Ele nos ensinasse seus caminhos; para
que andássemos em suas veredas e vivêssemos de toda palavra que
sai de sua boca”.5

A lição, contudo, parece não ter sido aprendida tão facilmente.


Poucos meses depois, Joseph novamente teve que ratificar sua
autoridade como porta-voz das revelações. A perseguição ao redor
de sua casa, em Harmony, Pensilvânia, forçou Joseph e sua esposa,
Emma, a residirem com a família Whitmer em agosto de 1830. Ao
chegarem, Joseph soube que Hiram Page, o marido de uma das
filhas da família Whitmer, havia usado uma pedra para receber duas
revelações a respeito da Igreja.6
Talvez por se recordar do sucesso obtido ao persuadir Oliver
Cowdery e os Whitmer de seu erro em relação às Regras e
Convênios, Joseph planejava conversar com eles até a conferência
que deveria ser realizada em setembro. Ele logo descobriu, no
entanto, que a crença nas supostas revelações de Hiram Page estava
mais difundida do que ele imaginava, por isso buscou uma
revelação.7

D&C 28 em JosephSmithPapers.org
A revelação foi dirigida a Oliver Cowdery. Oliver recebeu a certeza de
que sua voz seria ouvida, mas foi avisado de que “ninguém será
designado para receber mandamentos e revelações nesta igreja, a
não ser meu servo Joseph Smith Júnior porque ele as recebe como
Moisés. E tu serás obediente às coisas que eu lhe der”8(ver D&C 28:
2).

Oliver deveria ser com Joseph como Aarão foi para Moisés, servir
como instrutor e porta-voz. Sua primeira missão nesse papel foi
convencer Hiram Page de seu erro acerca das revelações de sua
pedra. Em segundo lugar, ele devia cumprir uma missão entre os
índios americanos, a quem a revelação identificava como
descendentes dos lamanitas do Livro de Mórmon.9

Durante a conferência realizada no final de setembro, conforme


registrado na história retrospectiva de Joseph Smith, “o assunto da
pedra acima mencionada foi discutido e depois de uma investigação
considerável, o irmão Page, assim como todos os membros
presentes, renunciaram a referida pedra e todas as coisas a ela
associadas, para nossa felicidade e satisfação mútua.”10 Um breve
registro da conferência feito por Oliver Cowdery relata que Joseph
Smith “foi nomeado por aqueles que participaram da conferência para
receber e escrever as Revelações e Mandamentos para [a] Igreja”.11
D&C 43 em JosephSmithPapers.org
Joseph frequentemente recebia revelações e mandamentos, mas a
maioria deles permaneceu inédita por vários anos, com
disponibilidade limitada aos membros da Igreja. Ao mesmo tempo, os
esforços missionários da Igreja produziram um grande número de
novos conversos. Muitos membros desconheciam, não
compreendiam ou escolheram ignorar as revelações que esclareciam
o papel de Joseph Smith, e falsas alegações de revelações recebidas
para a Igreja continuaram ocasionalmente.

Pouco tempo após a mudança da Igreja para Kirtland, Ohio, uma


certa “Sra. Hubble” apresentou-se reivindicando suas próprias
revelações.12 Mais uma vez, uma revelação, Doutrina e Convênios
43, confirmou que Joseph era o único designado “para receber
mandamentos e revelações de minha mão” e acrescentava “que
nenhum outro será designado para receber esse dom, a menos que
seja por meio dele”13 (ver D&C 43:2, 4).

A crença dos santos em manifestações renovadas do Espírito Santo,


como as do Novo Testamento, instigava os membros a buscarem o
dom de revelação por si mesmos. Para a Igreja como um todo, no
entanto, a estrutura e a prática em desenvolvimento designavam
Joseph Smith como a única voz de autoridade a pronunciar
revelações válidas para todos os membros da Igreja. “Pois”, como
dizia a revelação de setembro de 1830 a Oliver Cowdery, “todas as
coisas devem ser feitas em ordem”.14

Notas de rodapé
[1] History, 1838-1856, volume A-1, pp. 50-51, Joseph Smith Papers.
[2] History, 1838-1856, volume A-1, p. 51, JSP.
[3] History, 1838-1856, volume A-1, p. 51, JSP.
[4] History, 1838-1856, volume A-1, p. 51, JSP.
[5] History, 1838-1856, volume A-1, p. 51, JSP.
[6] History, 1838-1856, volume A-1, pp. 53-54, JSP.
[7] History, 1838-1856, volume A-1, p. 54, JSP.
[8] Revelação, setembro de 1830–B, JSP.
[9] Revelação, setembro de 1830–B, JSP.
[10] History, 1838-1856, volume A-1, p. 58, JSP.
[11] Atas, 26 de setembro de 1830, JSP.
[12] John Whitmer, History, p. 18, em Joseph Smith Papers, Histories, volume
2, p. 29. Provavelmente foi Louisa Hubbell, uma conversa dos discípulos de
Cristo, que se uniu novamente a eles em maio de 1831 (Hayden, Early
History of the Disciples in the Western Reserve, p. 472.) Outra possibilidade é
Laura Hubbell, uma conversa de Ohio (Staker, Hearken, O Ye People, pp.
79–80, 111–114.)
[13] Revelação, fevereiro de 1831-A, JSP.
[14] Revelação, setembro de 1830–B, JSP.
A Fé e a Queda de Thomas Marsh
D&C 31, 112
Kay Darowski19 Março 2013

Doutrina e Convênios 31

Thomas B. Marsh foi o primeiro presidente do Quórum dos Doze


Apóstolos antes que dissensões lhe custassem a perda de duas
décadas de sua condição de membro da Igreja.

Poucos episódios da história da Igreja têm sido usados como uma


lição de vida tão frequentemente quanto o de Thomas B. Marsh. O
primeiro a servir como presidente do Quórum dos Doze Apóstolos,
Marsh deixou a Igreja em 1838 e depois se arrependeu, voltando à
plena integração em 1857. Sua importância no início da Igreja é
comprovada por ser ele o único a receber duas revelações em
Doutrina e Convênios e por ter sido instruído especificamente em
quatro outras.1

Marsh “fugiu” de sua casa aos 14 anos de idade e sustentou-se com


vários empregos em Vermont e New York até os vinte. Em seguida,
casado, estabeleceu-se em Boston e trabalhou em uma casa de
fundição de tipos por vários anos. Ele estudava a Bíblia e seitas
religiosas, mas sentiu uma impressão espiritual de que “uma nova
igreja surgiria, que teria a verdade em sua pureza”.2

Em 1829, Marsh “acreditava que o espírito de Deus orientou-me a


fazer uma jornada para o oeste”. Com um amigo, ele então viajou
para o oeste de Nova York e lá ficou por três meses. A certa altura,
uma mulher perguntou se ele tinha “ouvido falar sobre o Livro de Ouro
encontrado por um jovem chamado Joseph Smith”. Marsh “ficou muito
ansioso para saber a respeito do assunto” e visitou Palmyra. Ele
encontrou Martin Harris no escritório de impressão de E.B. Grandin,
onde as primeiras dezesseis páginas do Livro de Mórmon tinham
acabado de ser impressas. Como Joseph Smith estaava em
Harmony, Pensilvânia, Harris o levou a Oliver Cowdery, “que me deu
todas as informações sobre o livro que eu desejava”.

“Extremamente satisfeito” com tudo o que aprendeu, Marsh voltou


para casa em Boston e compartilhou seu novo conhecimento com sua
esposa, que também acreditou que aquilo fosse de Deus. “A partir
daquele momento, por cerca de um ano correspondi-me com Oliver
Cowdery e Joseph Smith Júnior e preparei-me para mudar-me para o
oeste”,3 Marsh escreveu.
“Tomando conhecimento por carta de que a Igreja de Jesus Cristo
havia sido organizada no dia 6 de abril de 1830”, continuou, “mudei-
me para Palmyra, condado de Ontário, no setembro seguinte e fui
para a casa de Joseph Smith Sênior, com toda a minha família. No
decorrer do mês, fui batizado por David Whitmer, no lago Cayuga e
em poucos dias, fui ordenado Élder por Oliver Cowdery com seis
élderes, na casa do pai da família Whitmer.”4

Mais tarde, naquele mesmo mês, a segunda conferência da Igreja foi


realizada em Fayette, Nova York. Durante a conferência, Joseph
Smith recebeu revelações para quatro pessoas, inclusive uma para
Thomas Marsh, agora Doutrina e Convênios 31.5
D&C 31 em JosephSmithPapers.org
A revelação é rica em conteúdo—algumas palavras são semelhantes
a outras revelações antigas, e algumas promessas e instruções são
pessoais para Marsh e sua família. Foi dito a Marsh que ele e sua
família, “sim, teus pequeninos”, seriam abençoados. Naquela época,
ele tinha três filhos, o mais velho tinha nove anos. Marsh foi chamado
para servir como missionário e foi-lhe dito que seus pecados foram
perdoados. Foi aconselhado a ser paciente, a não injuriar, a orar
sempre e a dar ouvidos ao Consolador.

A revelação contém uma promessa intrigante: “Eis que te digo que


serás como um médico para a igreja, mas não para o mundo, pois
não te receberão”6 (ver D&C 31:10). O que esse título significa? Ele
foi reconhecido como um médico, para ajudar os membros com
necessidades médicas, ou o significado era, talvez, de natureza mais
religiosa na natureza, como um chamado para administrar ou curar
espiritualmente? Há apenas duas menções a Marsh ajudando os
membros com enfermidades físicas,7 e ele não tinha nenhuma
formação médica especial. O termo “médico da alma” é tão antigo
quanto Sócrates e outras igrejas têm usado os termos “médico para a
Igreja” ou “médico da Igreja” por centenas de anos. A última parte do
versículo, “mas não para o mundo, pois não te receberão”, contribui
para a ambiguidade.

Um Servo Fiel
Há todas as indicações de que, por vários anos, Thomas Marsh
seguiu humildemente o conselho que recebeu. Foi ordenado sumo
sacerdote em 1831 e serviu missões em 1831 e 1832. Mudou com
sua família para “Sião” (Condado de Jackson, Missouri) em 1832,
estabeleceu-se às margens do Big Blue River e serviu como
presidente de ramo do Big Blue River. Juntamente com outros
membros da Igreja, foi expulso do Condado de Jackson em 1833 e
mudou-se para o Condado de Lafayette no inverno, em seguida, para
o Condado de Clay. Foi chamado para o sumo conselho em Missouri
em 1834 e indicado, com outras pessoas, para receber uma
investidura de poder espiritual na Casa do Senhor em Kirtland, Ohio,
que naquele momento estava em construção.8

“Conforme a revelação”, Marsh partiu para Kirtland em janeiro de


1835, pregou ao longo do caminho e chegou em abril.9 Sem saber
durante suas viagens, fora chamado para o recém organizado
Quórum dos Doze Apóstolos em fevereiro.10 Logo após sua chegada
em Kirtland, foi ordenado.11 Por senioridade e por revelação, foi
nomeado presidente do quórum, embora ainda fosse um homem
relativamente jovem, de cerca de 35 anos.12

No mês seguinte, Marsh e outros membros dos Doze partiram em


uma missão aos estados do Leste, retornando em setembro. Naquele
outono e inverno, frequentou a Escola de Élderes e a Escola de
Hebraico em Kirtland e participou de preparações espirituais para a
investidura de poder, prevista para acontecer com a dedicação da
Casa do Senhor em Kirtland. Marsh assistiu à dedicação, em 27 de
março de 1836, bem como à assembleia solene três dias depois. No
mês seguinte, começou uma jornada de retorno a sua família no
Missouri, pregando enquanto viajava. De julho a setembro, visitou
ramos da Igreja em Illinois, Kentucky e Tennessee.

Os Problemas Surgem
No ano seguinte, as relações entre os Doze Apóstolos desgastaram-
se significativamente. Foi uma época de intensificação de conflitos e
insatisfação dentro da Igreja em Kirtland. Entre os Doze, juventude e
inexperiência, falta de precedência e discórdias sobre sua função e
propósito e os limites da sua autoridade causaram
desarmonia.13 Essas dificuldades foram agravadas pela distância e a
comunicação, uma vez que alguns residiam em Kirtland e outros no
Missouri, e os membros do quórum de ambos os lugares,
frequentemente, eram chamados para servir missões em outro lugar.
D&C 112 em JosephSmithPapers.org
Na esperança de fortalecer a união do quórum, Marsh voltou a
Kirtland em julho, apenas para descobrir que alguns apóstolos haviam
partido para uma missão na Grã-Bretanha e vários outros haviam
apostatado. Em busca de conselhos, Marsh visitou a Joseph Smith,
que ditou uma revelação para ele, agora Doutrina e Convênios 112. A
revelação foi uma fonte de grande orientação e consolo para Marsh,
bem como uma admoestação severa. Foi dito a Marsh que “todos os
teus pecados são perdoados”, e que “eu, o Senhor, tenho uma
grande obra para fazeres”; “Conheço teu coração e ouvi tuas orações.
... És o homem que escolhi para possuir as chaves de meu reino, no
que diz respeito aos Doze”, e “quão grandioso é vosso chamado”
(ver D&C 112:6-16, 33). No entanto, também foi dito a ele que havia
algumas coisas em sua vida “com as quais eu, o Senhor, não estava
contente” (ver D&C 112:2). Marsh foi aconselhado a “perante mim,
[ser] fiel”, e para ele e aos Doze “não vos exalteis; não vos rebeleis
contra meu servo Joseph”, mas “purificai o coração” em preparação
para proclamar o evangelho (ver D&C 112:12-15, 28–33). Doutrina e
Convênios 112 também inclui um versículo citado com frequência:
“Sê humilde; e o Senhor teu Deus te conduzirá pela mão e dará
resposta a tuas orações” (ver D&C 112:10).14

Os relacionamentos entre os Doze melhoraram por algum tempo e,


em setembro, Marsh, Joseph Smith e outros partiram para uma
missão no Canadá.15 Retornando para Far West, Missouri, Marsh
continuou seus esforços para fortalecer a Igreja e demonstrar apoio a
Joseph Smith.16 Um duro golpe para a família de Marsh ocorreu em
maio, quando seu segundo filho, James, morreu subitamente, aos 14
anos de idade após uma breve enfermidade.17Joseph Smith pregou
seu sermão funeral.

O Afastamento
Em poucos meses, Marsh, como muitos outros, foi vítima de um
espírito de apostasia. Ele estava entre vários Santos dos Últimos Dias
que perturbaram-se com a relação cada vez mais violenta entre os
membros da Igreja e seus vizinhos do Missouri. Algo que também
contribuiu para sua profunda insatisfação foi o incidente infame da
“nata”, que ocorreu em agosto ou setembro de 1838, envolvendo a
esposa de Marsh, Elizabeth, e Lucinda Harris, esposa de George W.
Harris. De acordo com George A. Smith, as mulheres haviam
concordado em trocar leite de suas vacas para fazer de queijo. Mas
ao contrário do combinado, Elizabeth supostamente guardava para si
a nata—a parte mais rica do leite que se concentra na parte de cima
—antes de enviar o restante do leite para Lucinda. De acordo com
Smith, o assunto foi levado perante o quórum de mestres, depois do
bispo e, em seguida do sumo conselho, os quais todos atribuíram
culpa a Elizabeth. Marsh, não satisfeito, recorreu à Primeira
Presidência, que concordou com as decisões anteriores. Ainda mais
ofendido por esta cadeia de eventos, o já frustrado Marsh teria
declarado “que defenderia o caráter da esposa, mesmo que tivesse
de ir para o inferno por isso.”18

No decorrer do outono de 1838, Marsh partiu de Far West com sua


família e começou a opor-se ativamente aos Santos. Ele proferiu um
depoimento sob juramento em outubro de 1838 que detalhava suas
preocupações concernentes aos atos de violência e destruição que
ele acreditava estarem sendo planejados ou realizados pelos
membros da Igreja contra seus vizinhos nos condados de Caldwell e
Daviess, bem como declarando seu medo de que “todos os mórmons
que se recusassem a pegar em armas, se necessário durante
dificuldades com os cidadãos deveriam ser baleados ou, caso
contrário, condenados à morte”, e que “nenhum dissidente Mórmon
devia deixar o Condado de Caldwell vivo”.19Orson Hyde adicionou
sua assinatura em apoio às divulgações de Marsh.

Embora a declaração de Marsh fosse apenas uma prova isolada


contra os Santos apresentada aos oficiais do Missouri, George A.
Smith mais tarde declarou: “Essa declaração gerou por parte do
governo do Missouri uma ordem de extermínio, que expulsou 15.000
santos de seus lares e habitações e milhares pereceram devido ao
sofrimento resultante desse estado de coisas”.20Rejeitado por seu
antigo amigo e defensor, Joseph Smith descreveu duramente o
depoimento de duas páginas de Marsh como contendo “todas as mais
vis calúnias, difamações, mentiras e injúrias, contra mim e a Igreja
que seu coração iníquo poderia inventar”.21

O ressentimento Marsh contra a Igreja manteve-o afastado por quase


duas décadas. Em algum momento em meados da década de 1850,
tendo perdido a esposa e sofrendo vários problemas de saúde, Marsh
decidiu reconciliar-se com a Igreja. Seu arrependimento e pesar
pareceram humildes e genuínos. Ao escrever para Heber C. Kimball,
em Salt Lake City, Marsh lamentou: “o Senhor poderia passar muito
bem sem mim, e não perdeu nada por meu afastamento de suas
fileiras; mas ó, quanto perdi?!” Marsh, explicou posteriormente que
havia se encontrado “com G. W. Harris e houve uma reconciliação
entre nós”.22

Depois da chegada de Marsh em Salt Lake City em setembro de


1857, Brigham Young permitiu que ele falasse aos Santos. Com uma
voz enfraquecida, Marsh explicou sua apostasia e pediu perdão:

“Com frequência tenho o desejo de saber como minha apostasia


começou e já cheguei à conclusão de que devo ter perdido o
Espírito do Senhor no meu coração.

A próxima pergunta é: ‘Como e quando você perdeu o espírito?’


Tive ciúmes do Profeta, depois minha visão turvou-se e
negligenciei tudo o que era correto e passei todo o meu tempo
procurando o mal; depois, quando o Diabo começou a conduzir-
me, foi fácil para a mente carnal emergir, que é a ira, o ciúme e a
fúria. Pude senti-lo dentro de mim; senti-me cheio de raiva e ira;
e o Espírito do Senhor retirou-se, como dizem as Escrituras, fui
cegado, … fiquei furioso e quis que todos também ficassem
furiosos”.23

Depois do discurso de Marsh, Brigham Young pediu para voto para


receber Thomas B. Marsh de volta à plena integração como membro
da Igreja, e nenhuma mão ergueu-se em oposição.24

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo,


ver os futuros volumes da série Documents em The Joseph Smith
Papers.

Notas de rodapé
[1] As seções 31 e 112 dirigem-se a ele, que também é aconselhado em D&C
52:22; 56:5; 75:31; e 118:2.
[2] Thomas B. Marsh, “History of Thos. Baldwin Marsh, Escrita por Ele Mesmo
na Grande Salt Lake City, Novembro de 1857,” Deseret News 8, No. 3 (24 de
março de 1858), p. 18.
[3] Marsh, História.
[4] Marsh, História.
[5] Revelation, Setembro de 1830—F, Joseph Smith Papers.
[6] Revelation, Setembro de 1830—F, JSP.
[7] “Fui enviado por eles por volta da meia-noite para atendê-lo … e logo
encontrei o irmão Blackslee, mas era tarde demais para fazer-lhe qualquer
bem. Ele morreu no dia seguinte…. Fui convidado pelo irmão Joseph Knight,
que estava muito doente com uma desinteria. Tratei-o com fé e minha esposa
cuidou dele; ele conseguiu vencer a doença e logo recuperou-se.” Ambos os
incidentes parecem ter ocorrido em 1832. Marsh, História.
[8] Minute Book 2 [registro de Far West], 23 de junho de 1834, JSP, p. 42.
[9] Marsh, História.
[10] Record of the Twelve, 14 de Fevereiro–28 de Agosto de 1835, JSP, p. 1.
[11] Record of the Twelve, 14 de Fevereiro–28 de Agosto de 1835, JSP, p. 5.
[12] “Em verdade eu te digo, meu servo Thomas: És o homem que escolhi
para possuir as chaves de meu reino, no que diz respeito aos Doze, entre
todas as nações”, Revelation, 23 de julho de 1837, JSP. Ver Doutrina e
Convênios 112:16.
[13] A discórdia e a oposição chegaram a tais níveis que nove dos Doze
Apóstolos originais deixaram da Igreja em diversas épocas e alguns nunca
voltaram. Para um debate desses assuntos, ver Ronald K. Esplin, The
Emergence of Brigham Young and the Twelve to Mormon Leadership, 1830-
1841 (Provo: UT: Instituto para História Santos dos Últimos Dias Joseph
Fielding Smith ; BYU Studies, 2006).
[14] Revelation, 23 de julho de 1837, JSP.
[15] Marsh, História.
[16] “Embora a maioria dos dissidentes no Missouri ainda não tivesse rompido
abertamente com Smith, os líderes do Missouri fiéis ao Profeta não
desconheciam as forças ocultas. Liderados por Thomas Marsh, decidiram
manter o controle até a chegada de Joseph Smith.” Ronald K. Esplin, The
Emergence of Brigham Young and the Twelve to Mormon Leadership, de
1830–1841 (Provo: UT: Instituto para História Santos dos Últimos Dias
Joseph Fielding Smith ; BYU Studies, 2006), p. 324.
[17] “Obituary”, Elders’ Journal 1 n º 3 (julho de 1838): p. 48.
[18] O relato completo dessa história repetida com frequência foi feito por
George A. Smith em um discurso em Salt Lake City em 6 de abril de 1856.
Smith prefaciou isso dizendo: “às vezes acontece que a partir de uma
questão pequena cresce algo extremamente importante”. Ver Journal of
Discourses, 3:283-284 história da nata.
[19] O depoimento de Marsh declarava ainda: “O plano do dito Smith, o
Profeta, é de tomar esse Estado, e ele professa a seu povo que pretende
tomar os Estados Unidos e, por fim, o mundo”. Documento Contendo a
Correspondência e as Ordens Relacionadas aos Distúrbios com os Mórmons
e a Prova Dada perante o Honorável Austin A. King, Juiz do Quinto Circuito
Judicial do Estado do Missouri, na corte em Richmond, em um Tribunal de
Inquérito, Começado em 12 de novembro de 1838, no julgamento de Joseph
Smith Jr. e de outras pessoas, por Alta Traição e Outros Crimes contra o
Estado (Fayette, MO: Boon’s Lick Democrat, 1841), pp. 57–59.
[20] Journal of Discourses, 3:284.
[21] História, 1838–1856, volume B–1, JSP, p. 838.
[22] Tomar B. Marsh para Heber C. Kimball, 5 de maio de 1857, Biblioteca de
História da Igreja SUD. Para mais informações sobre o retorno de Marsh, ver
Lyndon W. Cook, “Pequei Contra o Céu e Sou Indigno de sua Confiança, Mas
Não Posso Viver sem uma Reconciliação: Marsh Retorna à Igreja”, BYU
Studies 20 n º 4 (verão 1980): pp. 389-400.
[23] Journal of Discourses, 5:207.
[24] Journal of Discourses, 5:210.
[25] Wandle Mace mencionou a “Tremedeira” de Marsh. Diário de Wandle
Mace, janeiro de 1857, Biblioteca de História da Igreja SUD. John Taylor, em
9 de agosto de 1857, descreveu-o como um “pobre, decrépito, quebrado,
velho homem”. Journal of Discourses, 5:115. Andrew Jenson retratou-o como
“um pobre e inválido” antes de sua morte, em 1866. Andrew Jenson, Latter-
day Saint Biographical Encyclopedia: A Compilation of Biographical Sketches
of Prominent Men and Women in the church of Jesus Christ of Latter-day
Saints, (Salt Lake City: Andrew Jenson History Co., 1901) 1:76.
Ezra Thayer: De Cético a Crente
D&C 33
Matthew S. McBride23 Dezembro 2012

Casa da família Smith, em Manchester, onde Ezra Thayer ouviu Hyrum Smith
pregar

Ezra Thayer inicialmente rejeitou o Livro de Mórmon, mas seu


coração mudou quando ouviu Hyrum Smith pregar. Sua conversão
levou a uma revelação chamando-o para o ministério.

No outono de 1830, Ezra Thayer morava no município de Farmington,


Nova York, com sua esposa, Elizabeth,1 e seus filhos.2 Ele estava
com quase quarenta anos e havia passado vários anos construindo
pontes, barragens e moinhos na região.3

O Cético
No início daquele ano, alguns dos trabalhadores que ele empregou
contaram-lhe os rumores que circulavam a respeito de Joseph Smith
e a tradução do Livro de Mórmon. Thayer rejeitou a história como
blasfêmia e “ficou cheio de furor a respeito.”

Sua reação brusca deveu-se, em parte, ao fato de que ele conhecia a


família Smith, tendo anteriormente empregado Joseph, seu pai e seus
irmãos para trabalhar em projetos perto de Palmyra. A ideia de
Joseph traduzir e publicar um livro de escrituras era totalmente
incongruente com aquilo que Thayer sabia sobre o jovem inculto.

Thayer ficou perturbado ao descobrir que vários membros de sua


família começaram a interessar-se pelo Livro de Mórmon. Enquanto
ele estava fora por alguns dias, seu meio-irmão e o sobrinho foram a
cavalo ouvir Hyrum Smith pregar. Quando Thayer voltou, ele
repreendeu-os, exigindo que “não levassem [seu] cavalo novamente
para ouvir a pregação daqueles miseráveis blasfemos”. Eles
insistiram “que havia alguma verdade naquilo, e que era melhor que
[ele] fosse ouvi-lo”.4

Thayer não se convenceu, mas seu irmão logo veio de Auburn, Nova
York, cerca de quarenta quilômetros a leste, para visitá-lo. Ele
também desejava aprender mais sobre o Livro de Mórmon e pediu
que Thayer fosse com ele para ouvir a família Smith pregar. “Eu não
irei atrás de tal ilusão”, retrucou Thayer. Seu irmão insistiu que não
havia mal algum em ouvir — afinal, Ezra conhecia a família Smith.
Thayer relutantemente concordou em ir.

O Crente
Em um domingo no início de outubro,5 os dois irmãos viajaram
aproximadamente doze quilômetros para a fazenda Smith em
Manchester, ao sul de Palmyra. Quando chegaram, encontraram
“uma grande quantidade de pessoas” enchendo o terreno em torno da
cabana de toras de Joseph Smith Sr. e invadindo a estrada.
Com a intenção de ouvir o que era dito, Thayer se esgueirou por meio
da multidão para conseguir um lugar próximo ao púlpito na frente.
Quando Hyrum Smith começou a pregar, a resistência do Thayer se
desfez. Mais tarde ele escreveu sobre sua experiência naquele dia:
“Cada palavra tocou-me a alma intimamente. Pensei que cada
palavra fosse dirigida a mim. (…) As lágrimas escorriam pelo meu
rosto. Eu era muito orgulhoso e teimoso. Havia muitos lá que me
conheciam. (…) Fiquei sentado até recuperar-me antes de ousar
levantar os olhos”.6

Depois do sermão, Hyrum mostrou a Thayer um exemplar do Livro de


Mórmon. Ao pegá-lo e abri-lo, ele imediatamente encheu-se de
“imensa alegria”. Ao fechar o livro, perguntou: “Quanto custa?” Ele
pagou quatorze xelins pelo livro. Quando Martin Harris, que estava
próximo, afirmou que o livro era verdadeiro, Thayer respondeu “que
[Martin Harris] não precisava [lhe] dizer aquilo, porque [ele] sabia que
era verdadeiro, da mesma maneira que [Martin Harris]”.7

Ao chegar em casa, Thayer percebeu que, embora estivesse


completamente convencido, ainda teria que ajudar sua família,
amigos e vizinhos a compreender, e a acreditar, como ele. A notícia
se espalhou entre os vizinhos, de que Ezra Thayer, respeitável
empresário, agora era Ezra Thayer, crente em Joseph Smith e sua
“Bíblia de Ouro”.

A casa de Thayer logo encheu-se de vizinhos ansiosos para dissuadi-


lo. Ele relembrou: “Encheram minha casa todos os dias e fizeram
minha esposa acreditar que eu estava louco e perderia meus amigos
e todos os meus bens”. Quando Thayer esforçou-se para conversar
com um casal metodista sobre sua nova fé, eles desprezaram seus
argumentos de maneira rude, deixando a esposa de Thayer,
Elizabeth, desesperada. “Minha esposa começou a chorar”, ele
escreveu, “e disse que eu era louco, que aquilo me arruinaria, e que
ela me deixaria”.8 Ele conseguiu acalmar os temores dela, mas sua
nova fé logo iria sofrer mais ataques.

Ele levou o Livro de Mórmon para a cidade vizinha de Canandaigua,


onde seus amigos, sem se deixar impressionar, expressaram sua
opinião a respeito. Quando perguntaram se ele ainda acreditava, Ele
replicou: “Eu não disse que acreditava, eu disse que sabia”. O editor
de um jornal local “afirmou que, se eu não tivesse recebido educação
formal, acreditaria que eu não soubesse nada sobre Deus”.9 Thayer
demonstrou sua fé simples prestando testemunho de Deus e do Livro
de Mórmon.

A Revelação
Após esses encontros, ele teve uma visão ou sonho em que “um
homem veio e [lhe] trouxe um rolo de papel e apresentou-o a [ele], e
também uma trombeta, e disse-[lhe] para soprá-la. [Thayer] lhe disse
que nunca havia tocado uma trombeta em [sua] vida. [O homem]
respondeu: “Você pode tocá-la, experimente. [Thayer] colocou-a na
boca e [soprou]-a, e ela produziu o som mais belo que [ele] já
ouvira”.10 O significado do sonho logo se tornou evidente para ele.

D&C 33 em JosephSmithPapers.org
No domingo seguinte, Thayer voltou para Manchester para reunir-se
com outros crentes. Desta vez, ele conheceu Joseph Smith e relatou
sua experiência com o Livro de Mórmon. Ele aceitou o convite de
Joseph para ser batizado e viajou alguns quilômetros até um lago,
onde Parley P. Pratt batizou-o e fez o mesmo com outras pessoas,
inclusive um homem chamado Northrop Sweet. Joseph Smith
confirmou-os.

Logo após seu batismo, Thayer e Sweet foram chamados para o


ministério em uma revelação (agora Doutrina e Convênios 33) ditada
por Joseph Smith nas proximidades de Fayette, Nova York. Nela, a
voz de Deus ordenou-lhes a “elevar [sua] voz como com o som de
uma trombeta para declarar meu evangelho a uma geração
corrompida e perversa”.11 Essa passagem lembrou Thayer de seu
sonho. Ele concluiu, “o rolo de papel foi a revelação sobre mim e
Northrop Sweet. Oliver [Cowdery] foi o homem que trouxe o rolo e a
trombeta”.12

O Missionário
“Abri vossa boca”, a revelação dizia, advertindo os missionários
recém chamados a “não [se] calarem”. Mas Ezra Thayer e Northrop
Sweet reagiram de forma bastante diferente a esse mandamento.
Sweet, pouco tempo depois, divergiu de Joseph Smith para formar o
que ele chamou de “a Pura Igreja de Cristo”. Ele e cinco outras
pessoas começaram a realizar reuniões, mas essa cisão não
cresceu.13
Thayer, por outro lado, imediatamente começou a auxiliar na
disseminação de sua nova fé. Ele conseguiu fazer com que Joseph
Smith viesse pregar em seu celeiro e incentivou sua família, amigos e
vizinhos a participar. No dia previsto, seu celeiro de quinze por cinco
metros encheu-se até ficar lotado e os espectadores ouviram
discursos de Joseph e Hyrum Smith, bem como de outros quatro
missionários recém chamados: Cowdery, Pratt, Peter Whitmer Jr. e
Ziba Peterson.

Em dezembro,14 Thayer organizou outra reunião, desta vez em


Canandaigua. A princípio ele tentou conseguir uma capela metodista
para sediar o encontro, mas recusaram, então ele reservou o tribunal.
Naquela noite, Sidney Rigdon e outros reuniram-se na casa de
Thayer, que de lá os acompanhou até Canandaigua, onde “ficou
como recepcionista à porta” enquanto Rigdon pregava.

Devido às experiências profundamente espirituais que levaram a sua


conversão, Thayer agiu de acordo com o chamado da revelação para
compartilhar suas crenças, apesar dos riscos à sua reputação e
sustento. Mais tarde ele escreveu: “Quando Deus mostra uma coisa a
um homem pelo poder do Espírito Santo, ele sabe que é verdade. Ele
não pode duvidar”.15

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828–junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The
Joseph Smith Papers , editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Alguns historiadores identificaram erroneamente o Ezra Thayer dessa
história com outro Ezra Thayre, de Massachusetts. Consequentemente, sua
esposa é às vezes listada como Polly Wales. Ver o próximo volume, Michael
Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant Underwood, Robert J. Woodford,
William G. Hartley, eds., Documentos: julho de 1828–junho de 1831, o
primeiro volume da série “Documents” de The Joseph Smith Papers, editado
por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman. Salt Lake
City: Church Historian’s Press, 2013.
[2] O censo de Nova York de 1830 lista nove membros da família, inclusive
sete filhos. É improvável que todos os sete filhos fossem de Thayer, já que
havia um meio-irmão e um sobrinho vivendo com ele pelo menos parte
daquele ano.
[3] Frederick B. Blair, comp., The Memoirs of W. W. Blair (Lamoni, Iowa:
Herald House, 1908), p. 39.
[4] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) p. 80.
[5] Possivelmente em 10 de outubro.
[6] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) p. 80.
[7] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) p. 80.
[8] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) pp.80-81.
[9] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) pp. 81–82.
[10] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) p. 82.
[11] Revelação, outubro de 1830–B, Joseph Smith Papers.
[12] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) p. 81.
[13] George A. Smith, 15 de novembro de 1864, Journal of
Discourses (Liverpool: Latter-day Saint Book Depot, 1853–1881), vol. 11, p. 4.
[14] “O Livro de Mórmon”, Buffalo [NY] Patriot , 28 de dezembro de 1830.
[15] “Testimony of Brother E. Thayre Concerning the Latter Day Work”, True
Latter Day Saints’ Herald vol. 3, (outubro de 1862) p. 80.
O Chamado de Orson Pratt para Servir
D&C 34
Matthew S. McBride21 Dezembro 2012

Orson Pratt

Orson Pratt aceitou o evangelho de todo o coração e foi


imediatamente a Joseph Smith para perguntar o que poderia fazer
para ajudar na obra da restauração.

Orson Pratt foi uma criança curiosa, interessada. Ele contou que
desde cedo “tinha muitas impressões sérias em relação a Deus e a
um futuro estado”.1 Embora seus pais não fossem afiliados a uma
determinada igreja, Jared e Charity Pratt incentivaram o filho a ler a
Bíblia para obter respostas para suas muitas perguntas. Sua leitura
só alavancou mais perguntas.

A família foi, como Pratt mais tarde descreveria: “contada com os


pobres do mundo”. Ele relembrou: “uma sucessão de infortúnios os
manteve nos vales baixos da pobreza”.2 Devido a suas circunstâncias
escassas, os pais de Pratt o enviaram com 11 anos para trabalhar
nos campos de outros agricultores em troca de moradia e
alimentação. Por quase nove anos, Pratt trabalhou como empregado
em várias fazendas, desde Ohio até Long Island. Embora se sentisse
“jogado de um lado para outro, sem habitação permanente”, ele
observou que as “primeiras impressões sobre moralidade e religião,
inculcadas em [sua] mente por [seus] pais, sempre permaneceram
com [ele]”3 e serviram como uma âncora.

Ele continuou a sentir “uma ansiedade para estar preparado para um


estado futuro”, mas foi só no outono de 1829 que Pratt começou a
orar sinceramente por orientação espiritual em sua vida. Mais tarde
ele escreveu: “Nas silenciosas sombras da noite, enquanto outros
estavam adormecidos sobre seus travesseiros, eu muitas vezes
retirei-me para um lugar secreto nos campos ou desertos solitários e
inclinei-me perante o Senhor e orei por horas”. Ele resumiu os
sentimentos naquela época: “O maior desejo de meu coração era que
o Senhor manifestasse Sua vontade concernente a mim”.4

Uma Visita Inesperada


Ele continuou a orar enquanto trabalhava em troca de moradia e
alimentação nas fazendas perto da casa de sua família, em Canaan,
Nova York, até setembro de 1830. Naquele mês ele recebeu a visita
de seu irmão mais velho, Parley.

Poucas semanas antes, Parley P. Pratt tinha conhecido o Livro de


Mórmon e se convertido à Igreja fundada por seu tradutor, Joseph
Smith. Recentemente batizado e ordenado a pregar, o Pratt mais
velho viajou para o leste, rumo a Canaan, com a intenção de
compartilhar seu entusiasmo pela nova fé com sua família. Enquanto
seus pais acreditaram “parcialmente”, Parley posteriormente observou
que “[seu] irmão Orson, um jovem de dezenove anos, a recebeu de
todo o coração”.5
A mensagem que Orson Pratt ouviu de seu irmão satisfez seus
anseios espirituais, e ele foi batizado no dia 19 de setembro, em seu
aniversário de 19 anos. Poucas semanas após seu batismo, ele
viajou para Fayette, Nova York, ansioso para conhecer Joseph Smith.

Chamado a Pregar
Depois de uma jornada de mais de 320 quilômetros, Pratt chegou a
casa de Peter Whitmer Sr., onde Joseph Smith então residia. Lá
conheceu Joseph e soube que seu irmão Parley havia sido chamado
por revelação para “ir aos lamanitas, e proclamar-lhes boas novas de
grande alegria”.6 Orson Pratt, ainda ansiando saber a vontade do
Senhor sobre ele, perguntou a Joseph “se ele não poderia descobrir
qual era sua missão”.7 Havia uma revelação para ele, assim como
houvera uma para seu irmão?

Joseph Smith convidou Orson Pratt e John Whitmer para subirem à


sala onde Joseph anteriormente havia terminado a tradução do Livro
de Mórmon.8Naquele espaço mais privado, Joseph perguntou a Pratt
se ele estaria disposto a escrever a revelação, enquanto ele a ditava.
“Sendo jovem e tímido e sentindo-se indigno” Pratt perguntou se John
Whitmer poderia agir como escrevente em seu lugar. Joseph Smith
concordou e “pegou uma pequena pedra, chamada pedra de vidente,
a qual colocou dentro de um chapéu e logo começou a falar”.9
D&C 34 em JosephSmithPapers.org
Na revelação, o Senhor elogiou Pratt por sua fé e o chamou ao
ministério: “E bem-aventurado és porque creste; e mais bem-
aventurado és porque foste chamado por mim para pregar meu
evangelho”10 (ver D&C 34:4-5). Posteriormente, Orson Pratt
descreveu seus sentimentos ao ouvir o Senhor falar com ele por
intermédio de Joseph: “Achei que era um chamado muito grande e
importante e senti-me completamente inadequado, a menos que o
Senhor me qualificasse por Seu Espírito”.11

Em 1º de dezembro, Joseph Smith o ordenou Élder, e Pratt


imediatamente fez os preparativos para embarcar. Embora a
revelação não tivesse indicado aonde deveria ir, foi decidido que ele
deveria pregar em Colesville, Nova York.12 Pratt confiou na promessa
feita na revelação: “eleva tua voz e não te cales, porque o Senhor
Deus falou; portanto profetiza e ser-te-á dado pelo poder do Espírito
Santo.”13 (ver D&C 34:10). Ele posteriormente refletiu: “Pensei
comigo mesmo que, a menos que o Senhor derramasse Seu Espírito
sobre mim, mais plenamente do que qualquer coisa que eu já tivesse
experimentado, nunca conseguiria realizar aqueles deveres de forma
aceitável à Sua vista”.14

Carregando uma carta de apresentação assinada por Joseph


Smith,15 Pratt chegou em Colesville, onde obedientemente
“[começou] a abrir a boca em reuniões públicas e a ensinar as coisas
de Deus, como o Espírito Santo [lhe inspirava]”. O pequeno ramo da
Igreja em Colesville o recebeu calorosamente16e ele voltou para
Fayette posteriormente naquele mês.

Pratt confessou que “sentiu muitas vezes o desejo de recuar, por


medo de não ser capaz de cumprir e realizar uma obra tão
grandiosa”.17 No entanto, a revelação mostrava claramente a vontade
do Senhor para ele, que passou a servir como missionário e apóstolo
por mais de 60 anos, em resposta àquele chamado.

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documentos: julho
1828 – junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de TheJoseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Editora do Historiador da Igreja, 2013.

Notas de rodapé
[1] Orson Pratt, “History of Orson Pratt” Millennial Star 27, n º 3 (21 de janeiro
de 1865): p. 39.
[2] Orson Pratt, “History of Orson Pratt” Millennial Star 27, n º 3 (21 de janeiro
de 1865): p. 39.
[3] Orson Pratt, “History of Orson Pratt” Millennial Star 27, n º 4 (28 de janeiro
de 1865): p. 55.
[4] Orson Pratt, “History of Orson Pratt” Millennial Star 27, n º 4 (28 de janeiro
de 1865): p. 55.
[5] Parley P. Pratt Jr., ed., The Autobiography of Parley Parker Pratt (Nova
York: Russell Brothers, 1874), p. 45.
[6] Convênios de Oliver Cowdery e Outros, 17 de outubro de 1830, Joseph
Smith Papers.
[7] James R. B. Vancleave, Richmond, Missouri, para Joseph Smith III, Plano,
Illinois, 29 de setembro de 1878, em Lyndon Cook, ed., David Whitmer
Interviews: A Restoration Witness (Orem, UT: Grandin Book, 1991), pp. 239–
240. Agradeço a Michael Hubbard Mackay e Gerrit Dirkmaat cuja pesquisa
sobre Joseph Smith Papers chamou-me tanto a atenção.
[8] Orson Pratt, “Privileges and Experience of the Saints, Etc.,” 18 de
setembro de 1859, Journal of Discourses (Liverpool: Latter-day Saint Book
Depot, 1854-1886), v. 7, p. 311.
[9] James R. B. Vancleave, Richmond, MO, para Joseph Smith III, Plano, IL,
29 de setembro de 1878, em Lyndon Cook, ed., David Whitmer Interviews: A
Restoration Witness (Orem, UT: Grandin Book, 1991), pp. 239–240.
[10] Revelação, 4 de novembro de 1830, JSP.
[11] Orson Pratt, “Privileges and Experience of the Saints, Etc.,” 18 de
setembro de 1859, Journal of Discourses (Liverpool: Latter-day Saint Book
Depot, 1854-1886), v. 7, p. 311.
[12] Orson Pratt, “History of Orson Pratt” Millennial Star 27, n º 4 (28 de
janeiro de 1865): p. 55.
[13] Revelação, 4 de novembro de 1830, JSP.
[14] Orson Pratt, “Privileges and Experience of the Saints, Etc.,” 18 de
setembro de 1859, Journal of Discourses (Liverpool: Latter-day Saint Book
Depot, 1854-1886), v. 7, p. 311.
[15] Joseph Smith, Carta para a Igreja em Colesville, 2 de dezembro de
1830, JSP.
[16] Ver Newel Knight, “Newel Knight Journal”, em Scraps of Biography,
décimo volume da série Faith-Promoting (Salt Lake City: Juvenile Instructor,
1883), pp. 46 – 69.
[17] Orson Pratt, em Journal of Discourses, 18 de setembro de 1859
(Liverpool: F. D. Richards, et al., 1854 e 1886), v. 7, p. 311.
‘Ir para Ohio’
D&C 35, 36, 37, 38
Elizabeth Maki4 Janeiro 2013

Casa de Sidney Rigdon, Kirtland, Ohio

Quando uma missão inicial ao oeste parou em Ohio, o resultado


foram conversos influentes e uma nova diretriz para a jovem Igreja.

Pouco depois da segunda conferência da jovem Igreja de Cristo haver


terminado no final de setembro de 1830, quatro missionários — Oliver
Cowdery, Peter Whitmer Jr., Parley P. Pratt e Ziba Peterson —
saíram de Nova York para pregar aos índios americanos no Missouri.
Após uma breve visita aos índios Sêneca perto de Búfalo, o grupo
seguiu o desejo de Pratt de seguir ao longo do lago Erie para Mentor,
Ohio, lar de seu líder espiritual, Sidney Rigdon.

A Conversão de Sidney Rigdon


Sidney Rigdon
Pregador com duas congregações batistas reformadas, Rigdon era
tão influente que aqueles em seu rebanho eram conhecidos por
muitos como “Rigdonitas”.1Reconhecendo sua influência, Pratt e
Cowdery chamaram Rigdon no dia 28 de outubro, mas sua reação à
mensagem não foi positiva. Cético, ele aceitou um exemplar do Livro
de Mórmon, e um fiel se lembrou de que ele “condenou isso
parcialmente”.2Não obstante, ele concordou em lê-lo.

Os missionários pregaram um sermão em Mentor com pouco efeito e


logo foram para Kirtland e à fazenda de Isaac Morley, chegando em 2
de novembro. Também um batista reformado, Isaac Morley foi o “pai
espiritual de uma grande família comunitária” — em sua maioria
composta por membros das congregações de Rigdon — que morava
em sua fazenda. Como grupo, a Família tentou restabelecer o
evangelho de Jesus Cristo conforme descrito na Bíblia. Os
missionários encontraram uma recepção calorosa para sua
mensagem entre os membros da Família na fazenda Morley e
batizaram muitos deles.

No dia seguinte, 4 de novembro, Rigdon chegou a Kirtland para


realizar um casamento, e em seguida, juntou-se aos missionários que
haviam viajado à área para pregar a mensagem do evangelho
restaurado. Mais dezessete pessoas foram batizadas no dia seguinte,
e apesar de Rigdon não estar entre eles, no outro dia ele juntou-se à
pregação e, de acordo com um observador, ficou “muito tocado e
verteu lágrimas” na reunião.3
Edward Partridge
No domingo, 7 de novembro, a pregação atraiu uma multidão tão
grande que os ouvintes estavam assistindo do lado de fora e alguém
tirou tábuas do edifício para que a multidão pudesse ouvir. Parley P.
Pratt ensinou com o Livro de Mórmon, em seguida, convidou as
pessoas a falar — um convite que Sidney Rigdon rapidamente
aceitou. Rigdon levantou-se e anunciou que, depois de ouvir a
mensagem dos missionários, ele “jamais deveria tentar pregar outra
vez” e instou os ouvintes a não lutar contra o que tinham ouvido.

Rigdon tinha-se convencido de que os missionários, de fato, tinham a


autoridade que anteriormente não existia na Terra. Ele desejava ser
batizado e discutiu o assunto com sua esposa, Phoebe, avisando-a
de como sua vida poderia mudar se obedecessem ao evangelho:

“‘Minha querida, uma vez que me seguiu à pobreza, você novamente


estaria disposta a fazer o mesmo?’ ela respondeu: [‘]Avaliei o
assunto, contemplei as circunstâncias em que podemos ser
colocados, considerei o custo e sinto-me perfeitamente satisfeita em
segui-lo. Sim, é meu desejo fazer a vontade de Deus, venha a vida ou
a morte.[’]”4

Viagem a Nova York para visitar Joseph


Sabendo que o custo de sua conversão provavelmente incluiria seu
lar e seu modo de viver, tanto Sidney quanto Phoebe Rigdon foram
batizados em 8 de novembro. Rigdon parou de pregar e trabalhou
brevemente na fazenda Morley, mas logo foi para Nova York, com
“muita ansiedade em ver Joseph Smith Jr. o vidente [que] o Senhor
tinha levantado nestes últimos dias”.5 Rigdon foi acompanhado em
sua jornada por um de seus antigos paroquianos, Edward Partridge,
cuja esposa, Lydia, acreditara na mensagem dos missionários. Ainda
cético, Partridge desejava conhecer Joseph antes de ser batizado.
D&C 35 em JosephSmithPapers.org
Os dois homens conheceram Joseph em Nova York, no início de
dezembro de 1830, e Rigdon desejava logo “pedir ao vidente que
consultasse o Senhor, para saber o a vontade do Senhor para
ele”.6 Em resposta, Joseph ditou a revelação hoje conhecida
como Doutrina e Convênios 35. Rigdon foi elogiado pelo trabalho em
seu ministério no estado de Ohio e foi encarregado de ser o
escrevente e o companheiro de Joseph para a tradução da Bíblia que
estava em andamento. Foi-lhe dito que, por ele ter feito isso, “as
escrituras ser[iam] dadas tal como se acham em meu próprio seio,
para salvação de meus eleitos”7 (ver D&C 35:20). Por esse motivo,
Rigdon permaneceu em Fayette com Joseph, e começou seu serviço
como escrevente.
D&C 36 em JosephSmithPapers.org
Após sua chegada em Nova York, Partridge conversou com os
vizinhos dos Smith sobre o caráter da família. Totalmente satisfeito
com o que ficou sabendo, ele pediu para ser batizado, e Joseph
prometeu fazê-lo depois que Partridge descansasse de sua jornada.
Joseph Smith logo recebeu uma revelação para Partridge, também,
em que Partridge foi encarregado de “pregar o evangelho eterno entre
as nações”8 (ver D&C 36:5). Após seu batismo, Partridge viajou para o
leste a fim de compartilhar sua nova fé com a família.
O Chamado para Reunir os Santos
A chegada de Rigdon e Partridge a Nova York trouxe consigo a
notícia de como o evangelho restaurado tinha se enraizado em
Ohio.9 E enquanto o número de conversos em Ohio crescia
rapidamente, a Igreja em Nova York enfrentava oposição cada vez
maior. Alguns meses antes, Joseph Smith recebeu uma revelação
que declarava que a Igreja deveria ser reunida em um só lugar,
apesar do local ainda não ter sido revelado (ver D&C 29:7-8).

D&C 37 em JosephSmithPapers.org
A mãe de Joseph, Lucy, relembrou mais tarde que Joseph tinha
recebido a instrução de que as congregações inexperientes em Ohio
estavam precisando de orientação, visto que o número de conversos
havia chegado rapidamente a 300.10 Depois, enquanto Joseph e
Sidney Rigdon viajavam de Fayette para Canandaigua, Nova York, no
final de dezembro, eles receberam uma revelação orientando que a
Igreja deveria “ir para o Ohio”11 (ver D&C 37:1). Na revelação, eles
também foram instruídos a parar de trabalhar na revisão da Bíblia
temporariamente, a fim de fortalecer as congregações em Nova York,
em preparação para a mudança.

D&C 38 em JosephSmithPapers.org
Três dias depois, a terceira conferência da Igreja foi realizada em
Fayette, e Joseph anunciou a ordem do Senhor de que os membros
abandonassem suas casas e se reunissem em Ohio. Juntamente com
o anúncio, Joseph ditou outra revelação que explicava a respeito do
mandamento de reunir-se e prometia aos membros que, em Ohio,
receberiam a lei de Deus “[seriam] investidos de poder do
alto”12 (ver D&C 38:32).

Newel Knight escreveu posteriormente que os presentes foram


“instruídos como povo, para começar a coligação de Israel, e a
revelação foi dada ao profeta sobre o assunto”.13 Embora alguns
membros da Igreja não aceitassem o mandamento de abandonar
suas casas e reunir-se em um novo local, depois de uma noite de
jejum e oração, a jovem Igreja comprometeu-se a obedecer ao
comando.14

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documentos: julho
1828–junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The Joseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Para mais informações sobre o início da Igreja em Ohio, ver Mark Lyman
Staker, Hearken, O Ye People: The Historical Setting of Joseph Smith’s Ohio
Revelations, Draper, Utah: Greg Kofford Books, 2009.
[2] M.S.C. [Matthew S. Clapp], carta ao editor, Painesville Telegraph, 15 de
fevereiro de 1831.
[3] Walter Scott, ed. por Josiah Jones, “History of the Mormonites”, The
Evangelist, 1 de junho de 1841.
[4] História de Joseph Smith, vol. A-1, p. 75, Joseph Smith Papers.
[5] John Whitmer em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J.
Whittaker, eds. Histories, Volume 2: Assigned Histories, 1831–1847. Vol. 2 da
série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2012, p. 14.
[6] John Whitmer em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J.
Whittaker, eds. Histories, Volume 2: Assigned Histories, 1831–1847. Vol. 2 da
série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2012, p. 14.
[7] Revelação, 7 de dezembro de 1830, JSP.
[8] Revelação, 9 de dezembro de 1830, JSP.
[9] Ver Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The Historical Setting of
Joseph Smith’s Ohio Revelations, Draper, Utah: Greg Kofford Books, 2009,
pp. 60-61.
[10] Lucy Mack Smith a Solomon Mack, 6 de janeiro de 1831, LDS Church
Archives.
[11] Revelação, 30 de dezembro de 1830, JSP.
[12] Revelação, 2 de janeiro de 1831, JSP.
[13] Newel Knight, Autobiography, LDS Church Archives, pp. 268–269.
[14] Carta ao editor, Waterloo, NY, 26 de janeiro de 1831, The
Reflector [Palmyra, Nova York], 1º de fevereiro de 1831, p. 95.
James Covill e os ‘Cuidados do Mundo’
D&C 39, 40
Jed Woodworth23 Dezembro 2012

Revelação recebida em 5 de janeiro de 1831

A quase-conversão do pregador metodista James Covill proporcionou


uma lição para a Igreja em seu início.

De todas as parábolas de Jesus, nenhuma ilustra a precariedade do


discipulado cristão mais fortemente do que a Parábola do Semeador
(Mateus 13). Todas as sementes da história começam com grande
potencial de crescimento, mas nem todas são plantadas em solo
nutrido suficientemente para libertar esse potencial. As sementes que
caem em solo bom obtêm os nutrientes necessários para desenvolver
um sistema de raízes profundo e extenso e assim deixar de lado as
ameaças ao seu crescimento. Outras sementes não são tão
afortunadas. Algumas caem à margem do caminho: a palavra de
Deus nunca é compreendida, e o maligno carrega as sementes para
longe. Outras ainda caem em solo rochoso e, sem raízes adequadas,
murcham sob o sol escaldante da tribulação. Por fim, outras
sementes caem entre espinhos. Jesus compara o estado dessas
sementes com aqueles que ouvem a palavra, mas são sufocados
pela falsidade das riquezas e os “cuidados deste mundo” (Mateus
13:22).

Doutrina e Convênios 39 e 40 utiliza a linguagem desta parábola ao


contar a história de James Covill, um ministro metodista que mostrou
intenso mas fugaz interesse pela Igreja. Covill, como as sementes da
parábola, começou com grande potencial. Ele era filho de um ministro
batista e mãe metodista, e nasceu em Chatham, Massachusetts, por
volta de 1770. Covill tornou-se um pregador itinerante da Igreja
Episcopal Metodista, em 1791. Montou o circuito interno e externo de
Litchfield, Connecticut e por fim, casou-se e se estabeleceu em
Poughkeepsie, Nova York.1

Covill foi reconhecido nos círculos metodistas como um homem firme


e confiável. Na década de 1820, ele havia se tornado um líder do
movimento de reforma metodista. (Os metodistas reformados
surgiram para contestar o materialismo que viram entrar em sua igreja
quando a Igreja Metodista começou a abandonar o exercício de dons
espirituais.) Antes da conversão ao mormonismo, Brigham Young,
Wilford Woodruff e John Taylor, entre outros, foram metodistas
reformados. Em 1826, Covill foi nomeado presidente da conferência
da Sociedade Metodista de Nova York, um grupo de dissidentes
metodistas que reuniu um número de pequenas ramificações. Mais
tarde serviu como representante de livros na cidade de Nova York da
literatura publicada por reformadores do movimento.

Covill estava pregando no circuito de Richmond, 72 quilômetros a


leste de Fayette, Nova York, quando assistiu a uma conferência dos
santos dos últimos dias, em Fayette no início de janeiro de 1831. A
Igreja estava então, a caminho de Nova York, pois o chamado para
estabelecer-se em Ohio já havia sido feito por meio de revelação
(D&C 37:3).
D&C 39 em JosephSmithPapers.org
Covill ficou mais impressionado com os ensinamentos da Igreja do
que com o chamado para a mudança. Na verdade, ele parecia
prestes a se converter. Ele passou alguns dias conversando com os
líderes da Igreja e fez convênio com Deus de obedecer ao chamado
para se arrepender e ser batizado (D&C 40:1).

Em 5 de janeiro de 1831, uma revelação veio por intermédio de


Joseph Smith chamando Covill para juntar-se aos santos em sua
mudança para Ohio. “[T]u és chamado para trabalhar em minha vinha
e para edificar minha Igreja”, disse a revelação (ver D&C 39:13). Esse
tipo de linguagem teria consolado qualquer pregador metodista, mas
o versículo seguinte foi preocupante: “Eis que em verdade, em
verdade te digo que não és chamado para ir às terras do leste, mas
és chamado a fim de ir para Ohio”.2 (ver D&C 39:13). Por quarenta
anos, Covill tinha pregado ao leste na parte superior do estado de
Nova York. Agora estava sendo pedido a ele que fosse na direção
oposta e pregasse a oeste.

A revelação de 5 de janeiro advertiu Covill que no passado ele havia


“rejeitado” o Senhor. Como a semente que cai entre espinhos, Covill
havia deixado que “os cuidados do mundo” sufocassem a semente
que o Senhor queria plantar (D&C 39:9).

D&C 40 em JosephSmithPapers.org
Covill deveria saber que se mudar para o oeste significaria cortar os
laços com as profundas e amplas associações que havia feito em sua
carreira. Dois de seus filhos eram pregadores metodistas, e seus
anos de trabalho na cidade de Nova York o tinham colocado em
contato com as vozes mais poderosas do movimento. Todo o
prestígio que havia acumulado ao longo de toda a vida teria de ser
abandonado. Covill levou menos de quarenta e oito horas para decidir
que não se mudaria para Ohio. Uma revelação seguinte deixou claro
que Covill rejeitara o chamado do Senhor: Covill, dizia ela: “recebeu a
palavra com alegria, mas imediatamente Satanás o tentou; e o temor
da perseguição e os cuidados do mundo fizeram-no rejeitar a
palavra”.3 (ver D&C 40:2).

Depois de seu interesse fugaz pela Igreja, Covill voltou para seu
antigo cargo. Ele pregou e adquiriu conversos para a igreja metodista
na parte superior do estado de Nova York até 1836, quando voltou
para a cidade de Nova York. Ele permaneceu lá até seu falecimento
em fevereiro de 1850. A essa altura os santos haviam se mudado
ainda mais a oeste, além das Montanhas Rochosas, para a árida
Grande Bacia.
Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o
próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828–junho de 1831. Primeiro volume da série “Documents” de The
Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Os dados biográficos encontrados aqui foram tirados de Christopher C.
Jones, “Mormonism in the Methodist Marketplace: James Covill and the
Historical Background of Doctrine and Covenants 39–40”, BYU Studies
Quarterly 51, nº 1, 2012, pp. 67–98.
[2] Revelação, 5 de janeiro de 1831, Joseph Smith Papers.
[3] Revelação, 6 de janeiro de 1831, JSP.
‘Bispo da Igreja’
D&C 41, 42, 51, 54, 57
Sherilyn Farnes14 Maio 2013

Retrato de Edward Partridge

Em 1831, Edward Partridge foi chamado por revelação para ser o


primeiro bispo da Igreja restaurada, um chamado que lhe moldou o
resto da vida.

No outono de 1830, quatro rapazes, no final da adolescência ou


começo dos vinte anos, apareceram à porta da loja de chapéus de
Edward Partridge, em Painesville, Ohio. Ao escutar o conto
extraordinário dos rapazes sobre uma restauração de autoridade e a
revelação de novas escrituras, Partridge chamou-os de impostores e
os mandou embora. No entanto, depois que saíram, Partridge
mandou um de seus empregados encontrar os homens, a fim de
adquirir um exemplar do livro que carregavam, chamado o Livro de
Mórmon.1

Partridge e sua esposa, Lydia, estavam procurando uma igreja que


ensinasse o evangelho do Novo Testamento em sua clareza e
fornecesse prova de autoridade divina para liderar a igreja. Ao tomar
conhecimento da mensagem dos missionários, Lydia reconheceu a
verdade que conhecia da Bíblia em seus ensinamentos e foi
batizada.2 Edward Partridge continuava sem se convencer, mas,
depois de viajar para Nova York, a fim de conhecer o profeta Joseph,
ele também foi batizado.

D&C 41 em JosephSmithPapers.org
Aproximadamente na mesma época, Joseph Smith recebeu uma
revelação na qual o Senhor prometeu a Edward Partridge, “e tu
receberás meu Espírito, o Espírito Santo, que te ensinará as coisas
pacíficas do reino”. Com essa certeza, o Senhor chamou Partridge
“para pregar o meu Evangelho como com a voz de uma trombeta”
(ver D&C 36:2).3 Partridge partiu para compartilhar sua fé recém-
descoberta com seus pais e irmãos em Massachusetts. Embora os
membros da sua família tenham sido, em sua maior parte, não
receptivos à sua mensagem, Partridge cumpriu seu encargo de
pregar o evangelho a eles.4

Em 4 de fevereiro de 1831, imediatamente após a volta de Partridge a


Ohio, Joseph Smith recebeu uma revelação (agora Doutrina e
Convênios 41) chamando Edward Partridge como o primeiro bispo da
Igreja de dez meses de idade. O ofício de bispo foi um dos primeiros
ofícios do sacerdócio restaurado nesta dispensação e, assim como
outros ofícios, a compreensão dos deveres de um bispo veio linha
sobre linha. Diferentemente dos bispos de hoje, Partridge foi instruído
a não apenas “ser ordenado bispo da Igreja”, mas também a “[deixar]
seu negócio e [empregar] todo o seu tempo no serviço da Igreja”
(ver D&C 41:9).5 Sem possuir um manual e sem antecessores vivos,
Partridge pode ter se perguntado o que era exatamente o “serviço da
Igreja” que deveria realizar? Felizmente, alguns dias depois, Joseph
recebeu uma revelação (chamada de “a Lei” pelos primeiros membros
da Igreja) que continha informações mais detalhadas sobre seus
deveres como bispo.6
D&C 42 em JosephSmithPapers.org
Nessa revelação (que agora se encontra em Doutrina e Convênios
42), o Senhor ordenou aos Santos que consagrassem todas as suas
propriedades a ele por meio do bispo e seus conselheiros “com um
convênio e uma promessa que não poderão ser violados”. Em
seguida, aquele que consagrava receberia uma mordomia do bispo
“suficiente para si e sua família”. O bispo foi encarregado de manter
qualquer propriedade restante em um armazém para “dar aos pobres
e necessitados”, para comprar terras e para edificar Sião (ver D&C
42:34–35).
D&C 51 em JosephSmithPapers.org
Partridge enfrentou uma de suas primeiras grandes tarefas como
bispo, com a chegada a Ohio dos santos que haviam sido ordenados
a fugir de Nova York. Partridge foi encarregado de estabelecê-los
sobre terras para sua herança. Dos primeiros membros da Igreja,
Leman Copley ofereceu-se para deixar que os santos de Colesville,
Nova York, se estabelecessem em sua propriedade de 307 hectares,
em Thompson, Ohio, cerca de 32 quilômetros de Kirtland. Contudo,
Partridge necessitava de revelação mais específica sobre como
organizar os santos de Colesville, na propriedade de Copley. Em
resposta, o Senhor deu instruções a Partridge por intermédio de
Joseph Smith, que agora se encontram em Doutrina e Convênios 51.
O Senhor ensinou a Partridge que, quando ele dividisse a terra para
os santos de Colesville, “designem a este povo suas porções,
igualmente a cada homem, de acordo com sua família, e de acordo
com condições e suas carências e necessidades” (ver D&C
51:3).7Embora Partridge ainda possuísse propriedades em
Painesville e não precisasse de terra, foi-lhe dito na revelação que,
em troca de sacrificar seu emprego de tempo integral de chapeleiro
para servir como bispo, ele deveria reservar os suprimentos do
armazém para sustentar sua família (ver D&C 51:14).

D&C 54 em JosephSmithPapers.org
Viver a lei da consagração deveria ser considerado um privilégio
(ver D&C 51:15).8Mas nem todos a encaravam sob essa perspectiva.
Copley logo rescindiu sua oferta e expulsou os santos de Colesville
de suas terras, deixando-os sem saber para onde se dirigir.9 Em 10
de junho, uma revelação (agora Doutrina e Convênios 54) abordou
sua preocupação de modo surpreendente: mandou que se mudassem
permanentemente para o Missouri, a mais de 1.280 quilômetros de
distância (ver D&C 54:8).10

D&C 57 em JosephSmithPapers.org
Na mesma época, Joseph Smith, Edward Partridge e outros também
estavam se preparando para partir em uma viagem ao Missouri, a
localização prevista da futura cidade de Sião (ver D&C
52:24).11 Partridge partiu, supondo que voltaria em poucos meses.
Mas, na chegada dos élderes em Independence, Missouri, uma
cidade fronteiriça na parte ocidental do Estado, Joseph Smith recebeu
uma revelação (que agora se encontra em Doutrina e Convênios 57)
declarando que Independence deveria ser o centro de Sião dos
últimos dias. A revelação também continha uma ordem
surpreendente: “é sábio que os santos comprem a terra e também
todas as áreas do oeste até a [fronteira ocidental do Missouri] e
também toda a área que confina com os prados” (ver D&C 57:4-5).

O Senhor instruiu ainda mais: “que meu servo Edward Partridge


ocupe o cargo para o qual o designei, e divida entre os santos a
herança, como eu ordenei” (ver D&C 57:7). O Senhor então chamou
várias pessoas para permanecerem no Missouri e edificar Sião. Ao
contrário de seus planos, Partridge estava entre os que deveriam “se
[estabelecer] na terra de Sião com suas famílias, o mais depressa
possível, para fazerem as coisas de acordo com o que falei” (ver D&C
57:14; ver também D&C 58:24-25).12

Em uma carta a Lydia, escrita poucos dias depois, Partridge enviou a


notícia de que não voltaria para Ohio naquele verão e, em vez disso,
pediu-lhe que ela e suas cinco filhas se reunissem a ele na fronteira
do Estado do Missouri. Além disso, em vez de poder voltar a Ohio
para ajudá-las a mudar-se naquele outono, ele escreveu: “irmão
Gilbert ou eu precisamos estar aqui para ajudar nas vendas em
dezembro e, sem saber se ele poderá voltar nessa ocasião, pensei
que seria aconselhável ficar aqui no momento contrariamente a
[minhas] expectativas”.13Ele também advertiu-a de que, uma vez que
se juntasse a ele no Missouri, “Teremos que sofrer e, por algum
tempo, teremos muitas privações a que você e eu não estamos
acostumados há ano[s]”.14 Seguindo a orientação dada para se
aconselharem entre ele e o Senhor (ver D&C 58:24), fez sugestões
sobre como as meninas e ela poderiam fazer a viagem. Então,
sugeriu que ela prosseguisse como achasse melhor.15 Lydia
voluntariamente obedeceu à revelação para mudar-se, embalando
seus pertences e reunindo as cinco filhas a fim de viajarem para o
oeste, a um lugar que nunca tinha visto antes.

No Missouri, antecipando a chegada iminente dos santos de


Colesville e muitos outros depois, Partridge seguiu a orientação do
Senhor para preparar-se “para [dividir] entre os Santos sua herança”
(ver D&C 57:7),16 começando a comprar terras dentro de duas
semanas de sua chegada no Missouri.

Quando Partridge estabeleceu os santos em sua terra, seguiu


instruções dadas a ele em maio que, “quando designar a um homem
sua porção, dê-lhe um documento que lhe assegure sua porção”
(ver D&C 51:4).17

Em resposta a essa revelação, Partridge imprimiu escrituras de


consagração que tinham duas partes. Na primeira parte, ele
cuidadosamente registrava a propriedade e bens que um determinado
santo ou família “[entregava] ao bispo” (D&C 42:31). Em troca,
Partridge cuidadosamente registrava na segunda parte da escritura a
propriedade ou bens sobre que cada membro tinha mordomia —
geralmente o mesmo que o que eles haviam consagrado. Cada
membro era, então, designado “um mordomo de seus próprios bens,
ou do que tiver recebido por consagração” (D&C 42:32).

Partridge serviu como representante do Senhor para muitos santos


que optaram por viver a lei da consagração e aceitar o convite do
Senhor para agir de acordo com princípios de mordomia, livre-arbítrio
e responsabilidade. Mais uma vez, nem todos desejavam viver a lei.
Alguns compraram terras por conta própria. Alguns, como haviam
feito Copley e outro homem chamado Bates, doaram propriedades ou
dinheiro e então mudaram de ideia e os exigiram de volta. Partridge
era chamado para ajudar a elevar e incentivar o recalcitrante, bem
como o santo receptor. John Whitmer escreveu que, depois que a lei
da consagração foi recebida, “o Bispo Edward Partridge visitou a
igreja em é seus diversos ramos, onde havia alguns que não
receberiam a lei”.18

Das dificuldades de lidar com santos imperfeitos, lembrou-se mais


tarde a filha de Partridge, Emily Dow Partridge, “quando olho para trás
e me lembro da grande responsabilidade que repousava sobre meu
pai como o primeiro bispo — pobreza e privações, e as dificuldades
que ele teve de suportar, as acusações de falsos irmãos, as críticas
dos pobres, e as perseguições de nossos inimigos — não é de se
admirar sua morte prematura”.19 A própria bênção patriarcal de
Partridge alertava-o: “Permanecerás no teu ofício até que estiveres
cansado dele e desejares renunciar a ele para que possas descansar
por algum tempo”.20

Além de lidar com as fraquezas humanas de outras pessoas,


Partridge enfrentava a realidade de sua própria natureza decaída. Ao
enfrentar o desafio de construir Sião com poucos recursos visíveis,
Partridge aparentemente duvidou da possibilidade de sucesso. Em
resposta, o Senhor advertiu-o: “mas se ele não se arrepender de seus
pecados, que são incredulidade e cegueira de coração, que se
acautele para não cair” (ver D&C 58:15).21 A carta de Partridge de
agosto de 1831 para Lydia revelou sua própria insegurança na
posição dele: “Você sabe que estou em uma estação importante”,
escreveu ele, “e como sou ocasionalmente repreendido, às vezes
sinto como se eu devesse cair, para não desistir da causa, mas tenho
medo de que minha posição esteja acima do que eu possa realizar
para a aceitação de meu Pai Celestial”.22 Ele então rogou à sua
mulher, “ore por mim para que eu não caia”.23

Dois anos mais tarde, em julho de 1833, uma turba de homens irados
entrou na casa de Partridge, onde ele estava sentado com sua
esposa e o filho homônimo de três semanas de idade, Edward
Partridge, Jr., e o arrastou para a praça central de Independence,
onde eles o agrediram, cobrindo-o de piche e penas. Sem medo, três
dias mais tarde Partridge, juntamente com outros cinco homens,
ofereceram sua vida como resgate pelo resto dos santos, na tentativa
de evitar mais violência contra eles. Sua oferta foi recusada, e os
homens, em vez disso, foram forçados a concordar em sair do
Condado de Jackson. Algumas semanas mais tarde, Partridge
escreveu para seus amigos em Ohio, “eu, de muito boa vontade,
usarei e deixarei usar minha vida pela causa de meu abençoado
Mestre”.24
As revelações chamando Partridge como bispo e delineando seus
deveres naquele cargo moldaram o restante de sua vida. Ele
continuou a servir como bispo, dos santos ao longo do período no
Missouri e em Illinois. Na primavera de 1840, quando construía uma
casa para sua família em Nauvoo, Partridge ficou doente. Ele faleceu
em 27 de maio de 1840, deixando esposa e cinco filhos com idades
entre 6 e 20 anos.

Quando Partridge foi chamado como bispo, o Senhor descreveu-o


como alguém cujo “coração é puro perante mim, pois ele é
semelhante a Natanael dos tempos antigos, em quem não havia dolo”
(ver D&C 41:11).25 Um antigo membro da igreja, David Pettigrew,
descreveu Partridge como “um cavalheiro, preenchendo esse alto
cargo que ocupava com grande dignidade, tal como declara o Novo
Testamento, que um homem que ocupa o cargo de bispo deve ser de
aparência solene e atenciosa, e ainda prazerosa e agradável, sendo
sua família, como ele mesmo, muito agradável”.26 W. W. Phelps
escreveu de Partridge que “poucos serão capazes de usar seu manto
de modo simples e com dignidade. Ele era um homem honesto, e eu
o amava”.27 Oito meses após a morte de Partridge, o Senhor revelou
que o fiel primeiro bispo da Igreja restaurada estava com Ele
(ver D&C 124:19).28

Notas de rodapé
[1] Edward Partridge, Jr., “Genealogical Record”, Biblioteca de História da
Igreja, p. 5.
[2] Edward Partridge, Jr., “Genealogical Record”, Biblioteca de História da
Igreja, p. 5.
[3] Revelation, 9 de dezembro de 1830, Joseph Smith Papers.
[4] Partridge, Documentos Diversos, Biblioteca de História da Igreja. Partridge
registrou, alguns anos depois, que seu irmão James Harvey havia se filiado à
Igreja.
[5] Revelation, 4 de fevereiro de 1831, JSP.
[6] Revelation, 9 de fevereiro de 1831, JSP.
[7] Revelation, 20 de maio de 1831, JSP.
[8] Revelation, 20 de maio de 1831, JSP.
[9] Joseph Knight Jr. “Incidents of History, 1827–1844”, Biblioteca de História
da Igreja, 2 – 3.
[10] Revelation, 10 de junho de 1831, JSP.
[11] Revelation, 6 de junho de 1831, JSP.
[12] Revelations, 20 de julho de 1831 e 1º de agosto de 1831, JSP
[13] Carta, Edward Partridge a Lydia Clisbee Partridge, 5-7 de agosto de
1831, Biblioteca de História da Igreja.
[14] Carta, Edward Partridge a Lydia Clisbee Partridge, 5-7 de agosto de
1831, Biblioteca de História da Igreja.
[15] Carta, Edward Partridge a Lydia Clisbee Partridge, 5-7 de agosto de
1831, Biblioteca de História da Igreja; ver também Revelation, 1º de agosto
de 1831, JSP.
[16] Revelation, 20 de julho de 1831, JSP.
[17] Revelation, 20 de maio de 1831, JSP.
[18] Whitmer, História, p. 17, em JSP: H2, p. 29.
[19] Emily Dow Partridge Young, “Autobiography of Emily D. P.
Young”, Woman’s Exponent, 1º de março de 1885, p. 145.
[20] Edward Partridge, cópia da bênção patriarcal, 4 de maio de 1835, pasta
10, Edward Partridge Papers [Documentos de Edward Partridge], Biblioteca
de História da Igreja.
[21] Revelation, 1º de agosto de 1831, JSP.
[22] Carta, Edward Partridge a Lydia Clisbee Partridge, 5-7 de agosto de
1831, Biblioteca de História da Igreja.
[23] Carta, Edward Partridge a Lydia Clisbee Partridge, 5-7 de agosto de
1831, Biblioteca de História da Igreja.
[24] Edward Partridge, “Dear Friends and Neighbors”, Messenger and
Advocate 1, n º 4, janeiro de 1835, p. 61. A carta é datada de 31 de agosto de
1833.
[25] Revelation, 4 de fevereiro de 1831, JSP.
[26] David Pettigrew, “A History of David Pettegrew”, Journal, p. 12.
[27] “Extrato de uma carta de W.W. Phelps”, Times and Seasons, de outubro
de 1840, p. 190.
[28] Revelation, 19 de janeiro de 1841, JSP.
A Lei
D&C 42
Steven C. Harper20 Maio 2013

Fazenda de Isaac Morley

Antes de a Igreja se mudar para Ohio, foi prometido a Joseph Smith:


“Lá vos darei minha lei”. Pouco depois da chegada de Joseph a
Kirtland, ele recebeu a revelação prometida.

“Recebemos as leis do Reino quando chegamos aqui”, escreveu


Joseph Smith a Martin Harris, em fevereiro de 1831, “e os discípulos
deste local as receberam alegremente”.1

Joseph estava em Ohio há menos de um mês quando escreveu


essas palavras a Martin Harris, que ainda estava em Palmyra, Nova
York. Antes de Joseph se mudar de Nova York, o Senhor deu-lhe um
mandamento de reunir a Igreja em Ohio e prometeu: “Lá vos darei
minha lei”2 (ver D&C 38:32). Pouco depois da chegada de Joseph a
Kirtland, ele recebeu a revelação prometida que nos manuscritos
antigos era intitulada “As Leis da Igreja de Cristo”. Ela agora está
canonizada como Doutrina e Convênios 42:1-73.
A necessidade que a Igreja tinha de revelação nessa época era muito
grande. Quando chegou a Ohio, Joseph encontrou ali santos
sinceros, mas confusos sobre os ensinamentos bíblicos que diziam
“era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém
dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as
coisas lhes eram comuns” (Atos 4:32).

Muitos dos conversos da Igreja em Ohio eram membros do “the


Family [a Família]”, um grupo comunitário que compartilhava a casa e
a fazenda de Lucy e Isaac Morley num esforço de serem verdadeiros
cristãos. Embora suas intenções fossem condizentes com o relato
que o próprio Joseph recebera recentemente da Sião de Enoque,
onde o povo tinha alcançado o ideal de serem “unos de coração e
vontade” e eliminado completamente a pobreza (Moisés 7:18), o
profeta encontrou os conversos de Ohio seguindo práticas que
comprometia o arbítrio, a mordomia e a responsabilidade pessoal —
embora estivessem se “esforçando para fazer a vontade de Deus, até
onde a conheciam”.3 Como resultado, os conversos estavam, nas
palavras da história de Joseph Smith, “indo para uma destruição
rápida quanto às coisas temporais, pois acreditavam, pelo que tinham
lido nas escrituras, que o que pertencia a um irmão pertencia a todos
os irmãos”.4
D&C 42 on JosephSmithPapers.org
Pouco depois de Joseph chegar a Ohio, o Senhor revelou que “pela
oração de vossa fé recebereis minha lei, para que saibais como
governar minha igreja”5 (ver D&C 41:3). Poucos dias depois, Joseph
reuniu-se com vários élderes e em “fervorosa oração” pediu ao
Senhor para revelar Sua lei, conforme o prometido.6

“Consagrarás de Tuas Propriedades”


A revelação que Joseph recebeu em resposta manteve o primeiro
grande mandamento como a motivação para guardar todos os outros,
incluindo a lei de consagração, sugerindo que o amor a Deus é o
motivo para a prática. Consagrar, conforme ensinado aos primeiros
santos, significava santificar as propriedades deles, utilizando-as para
o trabalho do Senhor, inclusive comprar terras nas quais seria
construída a Nova Jerusalém e coroada com um templo (ver D&C
42:35-36). A lei revelou que a consagração era tanto para receber
quanto para dar, uma vez que o Senhor prometeu que os santos fiéis
teriam o “suficiente para si e para a família” aqui e “salvação” depois
desta vida (ver D&C 42:33-35).7

A lei esclareceu que a consagração não previa uma propriedade


comunitária de bens. Em vez disso, era exigido que tivessem a
disposição de reconhecer que o Senhor era dono de tudo e que cada
um dos santos deveria ser trabalhador e “mordomo de seus próprios
bens”, 8 sendo assim responsáveis perante o verdadeiro proprietário:
o Senhor, que exigia que os santos oferecessem livremente seus
excedentes para Seu armazém a fim de serem usados para aliviar a
pobreza e edificar Sião (ver D&C 42:32, 54).

A fé dos conversos de Ohio nas revelações de Joseph levou-os a


alinhar suas práticas com o plano revelado do Senhor. Conforme a
história de Joseph, “o plano de ‘estoque em comum’, que já existia na
chamada ‘the Family [a Família]’, cujos membros em geral aceitaram
o evangelho eterno, foi prontamente abandonado em favor da lei mais
perfeita do Senhor”.9

Com o passar do tempo, o bispo Edward Partridge implementou a lei


da melhor maneira possível, e os santos assinaram de boa vontade
documentos consagrando seus bens para a Igreja. Mas a obediência
à lei era voluntária, e alguns santos a recusaram. Outros eram
ignorantes, e muitos se afastaram.10Alguns santos rebeldes até
mesmo desafiaram a lei na corte, o que levou a aperfeiçoamento na
linguagem e mudanças na prática.

Outros santos compreenderam que os princípios eternos da lei —


mordomia, arbítrio e responsabilidade para com Deus — poderiam
ser aplicados na mudança de situações, como quando Leman Copley
decidiu não consagrar sua fazenda Thompson, em Ohio, enviando os
santos ali reunidos para o Missouri, para viver a lei; ou quando uma
turba os expulsou do Condado de Jackson, em 1833, terminando com
a prática do bispo de dar e receber os atos de consagração, mas não
a lei em si. Assim como a lei da consagração não começou em
fevereiro de 1831, embora tivesse sido revelada nessa data, ela não
terminou quando alguns se recusaram a obedecê-la e outros se
sentiram frustrados nessa tentativa. O presidente Gordon B. Hinckley
ensinou que “a lei do sacrifício e a lei da consagração não foi
encerrada e ainda estão em vigor”.11

Respostas para Várias Perguntas


Além de explicar a lei da consagração, a revelação respondeu a
muitas perguntas importantes para a Igreja naquela época. Joseph e
os élderes que se reuniram em fevereiro de 1831 em busca de
revelação, primeiro perguntaram se a Igreja deveria “se reunir em um
lugar ou continuar em locais separados”. O Senhor respondeu com o
que são essencialmente os dez primeiros versículos da Seção 42,
invocando os élderes a pregar o evangelho em duplas, declarar a
palavra como anjos, convidar todos a se arrependerem e batizar
todos os que estivessem dispostos a isso. Ao reunir os santos de
todas as regiões na Igreja, os élderes estariam se preparando para o
dia em que o Senhor revelaria a Nova Jerusalém. E então “sejais
reunidos em um”, disse o Senhor.12

O Senhor respondeu então a uma pergunta que tinha incomodado o


cristianismo por séculos: se a Igreja de Cristo era uma instituição
regrada e autoritária ou uma efusão irrestrita do Espírito e seus dons.
Algumas pessoas clamavam excessivamente por dons espirituais, e
outras tiveram uma atitude exatamente oposta, eliminando
completamente a espontaneidade do Espírito em favor de regras
rígidas. Esse dilema existia no início da Igreja em Ohio, e o Senhor
respondeu a ele com várias revelações, inclusive com Sua lei. A lei
não via a Igreja nem como uma instituição cheia de regras nem como
livre para seguir o Espírito. Em vez disso, era necessário que aqueles
que fossem pregar o evangelho fossem ordenados por aqueles que
tinham autoridade, que ensinassem as escrituras, e que fizessem isso
pelo poder do Espírito Santo (ver D&C 42:11-17).

Outras partes da lei reafirmaram e comentaram os mandamentos


revelados a Moisés (ver D&C 42:18-28) e incluíam promessas
condicionais de mais revelações dependendo da fidelidade dos
santos para com o que haviam recebido, inclusive compartilhar o
evangelho (ver D&C 42:60-69).

Os élderes queriam saber “como” deveriam cuidar de “sua família


enquanto estivessem proclamando arrependimento ou estivessem
engajados em algum outro serviço na Igreja”.13 O Senhor respondeu
com o que se tornou os versículos 70-73, mais elaborado em
revelações posteriores que agora se encontram em Doutrina e
Convênios 72:11-14 e 75:24-28. O conceito foi esclarecido na edição
de 1835 de Doutrina e Convênios.

As primeiras versões da lei também incluíam respostas curtas para


duas perguntas adicionais: se a Igreja devia ter negócios —
especialmente se podia fazer dívidas — com pessoas de fora da
Igreja, e o que os santos deveriam fazer para acomodar aqueles que
estavam vindo do leste. As respostas foram deixadas de fora das
versões mais recentes do texto, talvez porque D&C 64:27-
30 responde à primeira pergunta, enquanto a resposta para a
segunda é tão específica para um local e tempo passado que pode
ter sido considerada sem importância para as gerações futuras.14

“Como Agir de Acordo com os Pontos de Minha Lei”


Durante esse mesmo mês (fevereiro de 1831), Joseph recebeu o que
se tornou Doutrina e Convênios 43, que lhe ordenava criar um
conselho para instruir e edificar “uns aos outros, para que saibais
como agir e como dirigir minha igreja, como proceder com respeito
aos pontos de minha lei e dos mandamentos que dei”15 (ver D&C 43:
8-9). Com esse mandamento em mente, Joseph convocou uma
reunião de sete élderes da Igreja para determinar como agir em casos
disciplinares a respeito da lei da castidade, revelada na lei (ver D&C
42:22-26) e como a Igreja deveria legalizar a lei em situações que iam
do assassinato à mesquinhez. Essas normas adicionais foram
acrescentadas na versão publicada de “A Lei” e agora compõem os
versículos 74-93 de Doutrina e Convênios 42.

As leis, juntamente com os “Artigos e Convênios” básicos da Igreja,


(agora Doutrina e Convênios 20) organizaram a Igreja que crescia
rapidamente sob um conjunto de regulamentos e unificaram as várias
novas congregações em seus ensinamentos e práticas. Isso mostra
como o Senhor revelou, revela e ainda revelará Sua vontade aos
santos. De esclarecer as partes da lei dada a Moisés e especificar
como os santos em 1831 deveriam aplicá-las a suas circunstâncias, a
prometer mais revelações à medida que as buscassem e fossem
necessárias no futuro, esse documento vivo continua a ser uma lei da
Igreja de Jesus Cristo.

Notas de rodapé
[1] Joseph Smith a Martin Harris, 22 de fevereiro de 1831, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[2] Revelation, 2 de janeiro de 1831, Joseph Smith Papers .
[3] History, 1838–1856, volume A-1, JSP.
[4] John Whitmer em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J.
Whittaker, eds., Histories Volume 2: Assigned Histories, 1831-1847. Volume 2
da série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2012), pp. 22-23.
[5] Revelation, 4 de fevereiro de 1831, JSP.
[6] John Whitmer em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J.
Whittaker, eds., Histories Volume 2: Assigned Histories, 1831-1847. Volume 2
da série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2012), p. 24.
[7] Revelation, 9 de fevereiro de 1831, JSP.
[8] Revelation, 9 de fevereiro de 1831, JSP.
[9] History, 1838-1856, volume A-1, JSP.
[10] John Whitmer em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J.
Whittaker, eds., Histories Volume 2: Assigned Histories, 1831-1847. Volume 2
da série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2012), p. 29.
[11] Gordon B. Hinckley, Teachings of Gordon B. Hinckley (Salt Lake City:
Deseret, 1997), p. 639.
[12] Revelation, 9 de fevereiro de 1830, JSP.
[13] Revelation, 9 de fevereiro de 1831, JSP.
[14] Uma das perguntas era “até que ponto é a vontade do Senhor que
negociemos com o mundo e como devemos conduzir nossos negócios com
eles?” A resposta foi: “Não deverás contrair dívidas com eles e novamente os
Élderes e o Bispo devem se reunir em conselho e devem fazê-lo conforme
orientados pelo Espírito, como é necessário”. A outra pergunta foi: “Que
preparações devemos fazer para nossos irmãos do leste, quando [outro
manuscrito pergunta ‘onde’] e como?” O Senhor respondeu: “Deverão ser
designados tantos quanto necessário para ajudar o bispo a obter lugares para
que eles possam se reunir o quanto possível e conforme direcionados pelo
Espírito Santo”.
[15] History, 1838–1856, volume A-1, JSP.
“Abandonei Outros Assuntos”: Os Primeiros
Missionários
D&C 42, 75, 79, 80, 84, 99
Lisa Olsen Tait10 Abril 2015

John Murdock

Muitos dos primeiros santos dos últimos dias sentiram forte inspiração
pessoal para compartilhar o evangelho. A revelação por meio do
Profeta ajudou a guiar e organizar o trabalho missionário formal e
estabeleceu um alicerce para o serviço missionário das gerações
futuras.

John Murdock começou a pregar o evangelho imediatamente após


seu batismo, em novembro de 1830, dentre as dezenas de conversos
ensinados por Oliver Cowdery, Parley P. Pratt, Ziba Peterson e Peter
Whitmer Jr., quando eles pararam em uma região de Kirtland, no
estado de Ohio, durante o primeiro esforço missionário organizado da
Igreja.1 “Estando repleto de dúvidas, abandonei outros assuntos”,
Murdock registrou “e dediquei meu tempo integral ao ministério”. Em
quatro meses, ele foi responsável pela inclusão de “aproximadamente
setenta almas” à Igreja.2 Por volta de abril de 1834, quando se uniu
ao acampamento de Sião, Murdock já estava fora de casa por quase
três anos seguidos, pregando o evangelho.

Em janeiro de 1831, Jared Carter, um curtidor de 29 anos de idade


em Chenango, Nova York, fez uma viagem de negócios, esperando
ausentar-se por várias semanas. Ao longo do caminho, ouviu falar do
Livro de Mórmon. Isso lhe causou “grande espanto”, mas ele o leu e
orou fervorosamente para que o Senhor lhe “mostrasse a verdade
sobre o livro”. Imediatamente, convenceu-se de que era uma
revelação de Deus. “Ele teve tal influência em minha mente”,
escreveu mais tarde, “que não tinha cabeça para continuar meus
negócios (…) Descobri que era completamente desqualificado para
qualquer negócio até que fosse e auxiliasse a Igreja de Cristo”.3 Três
meses mais tarde, Carter mudou-se com sua família para a região de
Kirtland.4 Sentindo que “era [seu] dever indispensável pregar o
evangelho”, ele partiu em setembro daquele ano na primeira de várias
missões para o Leste dos Estados Unidos, que o ocupariam
continuamente pelos três anos seguintes.5
“Assim como a revelação chamou para o trabalho missionário, o
trabalho missionário levou a mais revelação. ”
Jared Carter e John Murdock não eram únicos. À medida que outros
homens aceitaram a nova mensagem da restauração, eles aceitaram
o chamado de pregar como seu “dever indispensável”. O
mandamento missionário originou-se na revelação como um
“chamado e mandamento”: “Todo homem que o abrace com
sinceridade de coração seja ordenado”, o Senhor declarou.6
Assim como a revelação chamava ao trabalho missionário, o trabalho
missionário levava a mais revelação. Doutrina e Convênios mostra
como o Senhor edificou sobre o que os primeiros membros da Igreja
já sabiam a respeito da obra missionária, para dar à Sua Igreja um
sistema missionário cada vez mais marcante ao longo do tempo.

A Cultura de Pregação do Século XIX


No início do século XIX, um fervor espiritual sem precedentes varreu
o mundo de língua inglesa, distribuído por várias igrejas e
movimentos religiosos. Especialmente na fronteira norte-americana,
os missionários de várias religiões eram algo comum. Incontáveis
pregadores, pesquisadores, evangelistas e ministros leigos
trabalhavam incansavelmente para levar a mensagem do evangelho
para o povo.7 Os Metodistas — uma seita à qual muitos dos primeiros
santos dos últimos dias pertenceram ao mesmo tempo — foram
especialmente prolíficos, construindo seu sucesso em um sistema
extensivo de pregação itinerante.8 Muitos outros crentes, seja em sua
própria iniciativa ou representando um grupo, começaram com um
pequeno, mas ardente desejo de proclamar o evangelho, como o
entendiam.
“No início do século XIX, um fervor espiritual sem precedentes varreu
o mundo de língua inglesa. ”

A maioria desses incontáveis pregadores seguiu o padrão do Novo


Testamento, viajando “sem bolsa nem alforje”,9buscando alimento e
abrigo, juntamente com os que desejavam ouvi-los. Muitos ofereciam
o batismo; alguns simplesmente pregavam a necessidade de reforma
espiritual ou restauração religiosa. Suas mensagens eram bíblicas e
urgentes, às vezes, bem-vindas e às vezes, não. Para o povo local,
uma reunião de pregação era uma ocasião para diversão e convívio
social, independentemente do interesse que tinham na mensagem.
Se houvesse debates entre o mensageiro visitante e o ministro local,
era ainda mais empolgante.
D&C 42 em JosephSmithPapers.org
Os santos dos últimos dias conheciam bem esses padrões e
adotaram ou adaptaram muitos deles. Mas eles sabiam que tinham
algo mais a oferecer: nova revelação, novas escrituras e a autoridade
restaurada por Deus. Esse testemunho ardente inspirou diversos
homens como Jared Carter e John Murdock a “abandonar outros
assuntos” e dedicar seu tempo ao ministério, à conversão de dezenas
de outras pessoas que, por sua vez, ajudavam a divulgar a palavra.

O Alicerce da Revelação
Embora os primeiros missionários santos dos últimos dias em parte
tivessem práticas de outras igrejas, várias revelações serviram de
base para seu trabalho missionário no início da década de 1830. A
revelação às vezes chamada de “a lei da Igreja” (Doutrina e
Convênios 42) falou de “élderes da Igreja” e estabeleceu
procedimentos básicos.10 “Ireis no poder do meu Espírito, pregando
meu evangelho, de dois em dois, em meu nome, elevando vossas
vozes como com o som de uma trombeta, declarando minha palavra
como anjos de Deus”, ordenou o Senhor.11
“Uma importante revelação sobre o sacerdócio, agora Doutrina e
Convênios 84, deu instruções mais detalhadas aos missionários. ”
Os élderes deveriam declarar arrependimento e batizar e, portanto,
“[estabelecer a Igreja do Senhor] em cada região.” Eles deviam
ensinar “os princípios do evangelho” da Bíblia e do Livro de Mórmon e
seguir os “convênios e regras da Igreja” (isto é, as diretrizes
encontradas em Doutrina e Convênios 20). Acima de tudo, eles
deveriam ensinar “ conforme (…) forem dirigidos pelo Espírito”: o
Senhor ensinou: “Se não receberdes o Espírito, não
ensinareis”.12Outra revelação aos élderes “[da] Igreja”, Doutrina e
Convênios 43, reiterou o mandamento: “Elevai a voz sem cessar.” Os
élderes deveriam ser “ensinados do alto”, e transmitir uma mensagem
urgente de advertência: “Preparai-vos para o grande dia do
Senhor”.13 No outono de 1832, uma importante revelação sobre o
sacerdócio, agora Doutrina e Convênios 84, deu instruções mais
detalhadas aos missionários — determinando o padrão do Novo
Testamento que deveriam seguir, expondo as mensagens que
deveriam transmitir e assegurando-lhes do poder e proteção de
Deus.14

As Missões de John Murdock no Missouri


A conferência da Igreja de junho de 1831, realizada em Kirtland,
proporcionou uma oportunidade dramática para muitos élderes
aplicarem os padrões revelados. Vinte e oito homens, além de Joseph
Smith e Sidney Rigdon, foram ordenados por revelação (agora
Doutrina e Convênios 52) a trilhar seu caminho, “de dois em dois”,
para o Missouri. A conferência da Igreja seguinte seria realizada lá, e
o local específico para a cidade de Sião se tornaria conhecido.15John
Murdock foi designado para viajar com Hyrum Smith até Detroit.16

Esse chamado ocorreu em uma época de grande tristeza para


Murdock. Apenas cinco semanas antes, sua esposa, Julia, morrera
logo após dar à luz gêmeos — um menino e uma menina. Emma
Smith deu à luz gêmeos no mesmo dia, mas os bebês não
sobreviveram. Joseph Smith pediu a Murdock que permitisse que ele
e Emma criassem os recém-nascidos que não tinham mãe.17 Mas a
decisão pungente ainda deixou Murdock com três filhos pequenos
para criar — dois meninos e uma menina, com seis anos de idade e
mais jovens — no meio de seu exigente compromisso com o trabalho
missionário. Quando veio o chamado para o Missouri, ele
providenciou para que outros membros da Igreja cuidassem de seus
filhos e partiu, provavelmente sem se dar conta de que não voltaria
por quase um ano.

Aquele ano foi extremamente difícil para Murdock. Ele viajou por meio
de um território que era essencialmente um deserto. Certo dia, ele
registrou: “avançamos pelo riacho Mudy com lama pela cintura e
cinco centímetros de água na parte superior da lama; cobras na água
a cinco metros de distância e videiras espinhosas que cortavam as
pernas”. Quando os homens finalmente saíram do riacho, precisariam
viajar 1,5 km antes de encontrarem água suficiente para lavar o barro
seus pés e pernas e para poder cuidar de suas feridas.18 Ao cruzar o
Mississippi, Murdock “tinha [os] pés molhados” e logo ficou muito
doente. Murdock ainda estava doente quando ele e seus
companheiros se reuniram com Joseph Smith no Condado de
Jackson. Ele sofreu pelo restante de sua missão e sua saúde
prejudicada atrasou seu retorno para Kirtland.19 No entanto, ele
registrou que pregou e batizou muito.
“Murdock e seus companheiros missionários mórmons também
tiveram muita oposição humana e rejeição. ”
Murdock e seus companheiros missionários também tiveram muita
oposição humana e rejeição. Uma vez Murdock passou “metade do
dia tentando realizar uma reunião” em Detroit, mas “não conseguiu
encontrar ninguém disposto a ouvir”. Um homem, Murdock escreveu:
“colocou-me para fora de sua porta por pregar o arrependimento para
ele”.20Também anotou vários casos de ministros hostis que
desafiaram os élderes para um debate, às vezes, com raiva.

Quando ele voltou para seus filhos, em junho de 1832, Murdock


descobriu que não estava tudo bem. A família que criava seu filho
mais velho tinha deixado a Igreja e exigiu o pagamento por cuidar do
menino, a família que criava seu outro filho tinha se mudado para
Missouri e a família que cuidava de sua filha “não cuidaria mais dela”
e também exigia um pagamento. Sua “filhinha Julia”, dos gêmeos,
estava crescendo bem aos cuidados de Emma e Joseph, mas não
seu irmão. “Meu filho Joseph estava morto”, Murdock registrou.
“Quando o Profeta foi retirado da cama pela turba em Hyrum, o
menino estava com sarampo e encontrava-se deitado na cama com
ele.” Apesar de visar o Profeta, a turba havia prejudicado o bebê.
“Quando eles retiraram as cobertas da criança, ele tomou frio e
morreu. Eles estão nas mãos do Senhor”, acrescentou Murdock,
referindo-se aos membros da turba.21

Murdock ficou em casa por dois meses, “confirmando e fortalecendo a


Igreja, e recuperando a saúde”, antes de partir novamente para
cumprir o chamado recebido por revelação, em agosto de 1832 de “ir
às terras do Leste” e proclamar o evangelho.22 Mas primeiro, o
Senhor instruiu Murdock a cuidar para que seus filhos tivessem “o seu
sustento e fossem enviados bondosamente ao bispo de
Sião”.23 Agora seriam dois anos antes que Murdock e seus filhos se
reunissem. Infelizmente, pouco após sua chegada no Missouri,
Murdock recebeu a notícia de que sua filha de seis anos de idade,
Phebe, estava acometida de cólera. “Eu havia visto todos os meus
filhos com boa saúde”, ele escreveu, “mas o destruidor começou seu
trabalho”. John cuidou de sua filha por vários dias, mas ela faleceu
em 6 de julho.24 Em poucos meses, ele partiu em outra missão, desta
vez para Ohio.

D&C 75 em JosephSmithPapers.org
As experiências de John Murdock ilustram a combinação da iniciativa
individual e o encargo divino que estimulou o trabalho missionário
mórmon primitivo. Às vezes, os homens deixavam seus negócios e
começavam a pregar com base no desejo individual, inspirados pelo
Espírito, ou pela obediência à expectativa geral de que os élderes
“[levantariam] a voz”; em outras ocasiões foram comissionados por
meio de revelação que os chamava pelo nome e especificava um
campo de trabalho. Muitas dessas revelações, como Doutrina e
Convênios 75, 79, 80 e 99 fazem parte das escrituras hoje.

Jared Carter: “Para o Leste”


Como John Murdock, Jared Carter saiu em missão tanto por um
chamado formal quanto por iniciativa pessoal. No Outono de 1831,
enquanto John Murdock estava doente no Missouri, Carter saiu com
um companheiro em uma missão “para o Leste” e logo chegou a sua
cidade natal Benson, em Vermont.

Em outro padrão típico de missionários santos dos últimos dias, sua


intenção era a compartilhar sua fé recém-descoberta com seus
“contatos” — seus familiares e amigos.25 Ao chegar em Benson no
final de outubro, Jared imediatamente “começou a realizar reuniões” e
exortar o povo “a orar com fervor ao Senhor para saber a veracidade
desta obra”. A maioria das pessoas zombou de sua mensagem e se
opôs a seus esforços, mas Jared registrou que “aqueles que
continuaram a invocar o nome do Senhor logo se convenceram de
que a obra era verdadeira e foram batizados”.26 As 27 pessoas
convertidas por meio dos esforços de Jared Carter eram membros da
seita Batista Liberdade de Escolha à qual pertenciam os parentes de
Carter. Sua grande capela de pedra com um teto abobadado logo se
tornou um local de reuniões dos santos dos últimos dias.27

Carter trabalhou na área por cerca de três meses. Seu diário relata
vários exemplos milagrosos “manifestações de cura”, depois de sua
administração aos doentes.28 Esse foi outro padrão no trabalho
missionário dos primeiros santos dos últimos dias. Os élderes
testificavam que os dons do Espírito estavam ativos na nova Igreja e
demonstraram a promessa do Senhor de que Ele mostraria “milagres,
sinais e maravilhas a todos os que [cressem] em [Seu]
nome”.29Esses dons também beneficiaram os próprios élderes,
muitas vezes provendo orientação específica quanto a seu trabalho.
Em janeiro, no meio do inverno da Nova Inglaterra — Jared começou
a viajar novamente, seguindo os sussurros do Espírito com relação a
que rumo tomar. Seguindo a inspiração de ir para certa cidade, Jared
ficou surpreso ao encontrar-se com seu próprio irmão, poupando-o de
um desvio de 80 quilômetros.30
“Jared começou a viajar novamente, seguindo os sussurros do
Espírito com relação a que rumo tomar. ”
Jared voltou para Ohio, no último dia de fevereiro de 1832, “tendo
estado nessa missão por mais de cinco meses”.31 Algumas semanas
depois, visitou Joseph Smith “para perguntar a [respeito] da vontade
do Senhor concernente a [seu] ministério na estação seguinte”.32 A
revelação resultante, Doutrina e Convênios 79, o instruiu a “ir às
regiões do Leste, de um lugar para outro e de cidade em cidade, no
poder da ordenação com o qual ele foi ordenado”.33 Ele partiu em 25
de abril e permaneceu por seis meses, trabalhando exaustivamente
em Vermont e Nova York com algum sucesso. O Senhor “me
abençoou com conversos e com saúde, e bendito seja o Seu nome”,
escreveu Carter.34

O Esforço das Mulheres


Uma vez que os homens foram ordenados a sair e pregar, a
contribuição das mulheres para o começo do trabalho missionário
pode ser menos visível. Mas esses esforços também foram vitais. Um
evento da segunda missão de Jared Carter a Vermont ilustra esse
ponto. Em julho de 1832, ele registrou haver visitado seu cunhado Ira
Ames, “tempo em que [Ames] tornou-se convencido da veracidade do
Livro de Mórmon e estava disposto a ser batizado”.35
D&C 99 em JosephSmithPapers.org
Mas havia algo mais na história. Ira Ames tinha ouvido o evangelho
dois anos antes por meio de sua mãe. Em agosto de 1830, Ames
recebeu uma carta de sua mãe, Hannah, informando-o de que ela e
vários familiares (incluindo Jared Carter) haviam sido batizados.
Ames já tinha ouvido falar sobre os mórmons por outras fontes e
sentiu algum interesse, mas a carta de sua mãe teve um efeito
poderoso.
“Quando li a carta de minha mãe, ela passou através de mim como
um raio, despertou cada fibra de meu espírito; o efeito foi poderoso”,
lembrou ele. Esses sentimentos o impeliram a orar para receber um
testemunho “se a carta e o assunto nela eram verdadeiros ou falsos”.
Em resposta, uma “calma clareza” entrou em sua mente.36 A visita de
Jared Carter quase dois anos mais tarde deram a Ira sua primeira
oportunidade de agir de acordo com esse testemunho.
“Muitas mulheres da Igreja procuraram membros da família e
amigos, geralmente por meio de cartas, testificando de sua fé e
convidando os entes queridos a se juntarem a eles. ”
Muitas mulheres da Igreja procuraram os membros da família e
amigos, geralmente por meio de cartas como a de Hannah Ames,
testificando de sua fé e convidando os entes queridos a se juntarem a
eles.

“Posso dizer que, se você souber sobre as coisas de Deus e que


[você pode] receber as bênçãos que tenho da mão do Senhor, não
acharia difícil vir para cá”, escreveu Phebe Peck de Independence,
Missouri, em agosto de 1832, a uma “Irmã Querida”. Ela continuou:
“O Senhor revela os mistérios do Reino Celestial a Seus
filhos”.37 Rebecca Swain Williams testificou à sua família que ela
tinha ouvido o testemunho da família Smith e “das próprias três
testemunhas” sobre o Livro de Mórmon.38 Tal testemunho certamente
encontrou ouvidos receptivos em muitas ocasiões, e Jared Carter
provavelmente não era o único élder mórmon a colher as sementes
plantadas por mulheres.

Notas de rodapé
[1] Ver Doutrina e Convênios 28:8–10; 30:5–8; 32:1–5.
[2] Diário de John Murdock, manuscrito datilografado, p. 1, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City; ortografia e pontuação modernizadas.
[3] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 1, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City; ortografia atualizada. Alguns erros no texto
datilografado foram corrigidos por referência aos manuscritos originais.
[4] Carter constantemente referia-se a Kirtland como “Kirkland” em seu diário.
[5] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 4.
[6] Doutrina e Convênios 36:4, 7.
[7] Nathan O. Hatch, The Democratization of American Christianity, New
Haven, Connecticut: Yale University Press, 1989, pp. 1–16.
[8] John H. Wigger, Taking Heaven by Storm: Methodism and the Rise of
Popular Christianity in America, New York City: Oxford University Press, 1998,
pp. 48–79.
[9] Lucas 22:35.
[10] Nessa época, a terminologia e os deveres do sacerdócio ainda estavam
sendo desenvolvidos. O ofício de élder era o único ofício no que agora
chamamos o Sacerdócio de Melquisedeque. As Regras e os Convênios
(Doutrina e Convênios 20) tratavam o ofício de élder, como o mais elevado da
Igreja, uma vez que os élderes poderiam ordenar homens a todos os outros
ofícios e foram designados como sendo as autoridades preferidas para dirigir
as reuniões (ver Doutrina e Convênios 20:38–60). Essa declaração revelada
da primeira estrutura da Igreja não falava de Sacerdócios de Melquisedeque
ou Aarônico ou sacerdócio “maior” ou “menor”.
[11] Doutrina e Convênios 42:6.
[12] Doutrina e Convênios 42:6-14.
[13] Doutrina e Convênios 43:1, 16, 20.
[14] Doutrina e Convênios 84:62-120.
[15] Doutrina e Convênios 52:2, 5, 9–10.
[16] Doutrina e Convênios 52:8–9. Jared Carter, que havia acabado de
chegar em Kirtland, não fora chamado para ir; a revelação instruiu que ele
fosse ordenado sacerdote (ver Doutrina e Convênios 52:38).
[17] Emma Smith pediu que John não dissesse às crianças que elas haviam
sido adotadas. Ele concordou com a solicitação por muitos anos e depois
correspondeu-se com sua filha Julia quando ela estava crescida e ele tinha
67 anos, identificando-se como seu pai biológico e oferecendo-lhe uma
bênção antes de morrer, se conseguissem descobrir um meio de se encontrar
(ver Marjorie Newton, “Father of Joseph’s Daughter: John Murdock”, Journal
of Mormon History, vol. 18, nº 2, 1992, pp. 189–193).
[18] Diário de John Murdock, manuscrito datilografado, p. 4.
[19] Murdock não descreve sua doença com detalhes, mas relatos
subsequentes mencionam maleita, tremores e outros sintomas que se
repetiam intermitentemente, sugerindo que era malária ou algo semelhante.
[20] Diário de John Murdock, 15 de junho de 1831, p. 3, Biblioteca de História
da Igreja, Salt Lake City.
[21] Diário de John Murdock, manuscrito datilografado, p. 11; pontuação
modernizada.
[22] Doutrina e Convênios 99:1.
[23] Doutrina e Convênios 99:6.
[24] Diário de John Murdock, manuscrito datilografado, p. 36.
[25] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, pp. 6–7.
[26] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 7; ortografia
atualizada.
[27] Erik Barnouw, “The Benson Exodus of 1833: Mormon Converts and the
Westward Movement”, Vermont History, vol. 54, nº. 3, Verão de 1986, p. 142.
[28] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, pp. 7–8.
[29] Doutrina e Convênios 35:8.
[30] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 8. Ele não disse o
nome desse irmão.
[31] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 9.
[32] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 9.
[33] Doutrina e Convênios 79:1.
[34] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 9.
[35] Diário de Jared Carter, manuscrito datilografado, p. 18.
[36] Ira Ames, autobiografia e diário, p. 16, Biblioteca de História da Igreja,
Salt Lake City.
[37] Carta de Phebe Peck para Anna Pratt, 10 de agosto de 1832, Biblioteca
de História da Igreja, Salt Lake City; também publicada em Janiece Johnson,
“‘Give Up All and Follow Your Lord’: Testimony and Exhortation in Early
Mormon Women’s Letters, 1831–1839”, BYU Studies, vol. 41, nº 1, 2002, pp.
92–93.
[38] Carta de Rebecca Williams para Isaac Swain, em Johnson, “‘Give Up All
and Follow Your Lord’”, p. 100.
Tradução da Bíblia por Joseph Smith
D&C 45, 76, 77, 86, 91
Elizabeth Maki20 Março 2013

A sala da casa dos Johnson onde Joseph Smith trabalhou na tradução da


Bíblia

A tradução de Joseph Smith da Bíblia serviu como um catalisador


para várias revelações agora canonizadas em Doutrina e Convênios.

Enquanto Joseph Smith traduzia o Livro de Mórmon na década de


1820, aprendeu mais do que a história dos nefitas e lamanitas.

Mais de uma vez, o texto do Livro de Mórmon disse que “muitas


partes claras e preciosas” da Bíblia haviam sido perdidas.1 No verão
de 1830, apenas poucos meses depois que o Livro de Mórmon foi
publicado, Joseph Smith começou uma nova tradução da Bíblia, com
o objetivo de restaurar algumas dessas partes claras e preciosas.
Esse esforço desafiou a opinião predominante da época: que a Bíblia
continha a palavra infalível de Deus contida no texto respeitado da
versão do Rei Jaime.

A tradução de Joseph não foi realizada no sentido tradicional. Ele não


consultou textos em grego e hebraico ou usou dicionários para criar
uma nova versão em inglês. Em vez disso, ele usou uma versão do
rei Jaime da Bíblia como seu ponto de partida e fez acréscimos e
alterações, conforme orientado pelo Espírito Santo.

Embora Joseph tenha feito várias pequenas correções gramaticais e


modernizado algumas expressões, ele estava menos preocupado
com essas melhorias técnicas do que com restaurar, por meio de
revelação, as verdades importantes que não estavam incluídas na
Bíblia contemporânea. O historiador Mark Staker de Lyman
caracterizou a tradução como “ideias em vez de linguagem”.2

Joseph Smith trabalhou diligentemente em sua tradução do verão de


1830 até julho de 1833. Ele considerava esse projeto uma ordem
divina, referindo-se a ele como “um ramo de meu chamado”.3 Apesar
de algumas partes terem sido impressas em publicações da Igreja
antes de sua morte, a tradução de Joseph Smith da Bíblia não foi
publicada durante sua vida.

Mesmo assim, as evidências do esforço do profeta são claras nas


páginas de Doutrina e Convênios; o processo de tradução serviu
como o catalisador direto de muitas revelações contidas nesse livro,
que inclui mais de uma dúzia de seções que surgiram diretamente do
processo de tradução ou contêm instruções para Joseph e outros
sobre ele.4

O Processo de Tradução
Enquanto o Livro de Mórmon estava sendo impresso na gráfica de
E.B. Grandin em outubro de 1829, Oliver Cowdery comprou de
Grandin A Bíblia do Rei Jaime que Joseph Smith usou na tradução.

Uma revelação que Joseph recebeu em junho de 1830 em Colesville,


Nova York, que ele descreveu como “visões de Moisés”5 pode ter
servido como um catalisador para o trabalho de Joseph na tradução.
Essa revelação agora aparece como capítulo 1 do livro de Moisés, em
Pérola de Grande Valor. Os mais antigos manuscritos da tradução da
Bíblia, começando com Gênesis 1 (agora Moisés 2), foram feitos em
Harmony, Pensilvânia, cerca de um mês mais tarde, com Oliver
Cowdery e John Whitmer agindo como escreventes. Pouco tempo
depois, em uma revelação dirigida à esposa de Joseph, Emma Hale
Smith, o Senhor instruiu que Emma servisse como escrevente de
Joseph 6 para a tradução, que aparentemente fez por um curto
período7 (ver D&C 25: 6). Durante os meses seguintes, a tradução
progrediu por meio do livro de Gênesis.

Em dezembro daquele ano, depois de Sidney Rigdon ter sido


batizado em Ohio e viajado para Fayette, Nova York, para reunir-se
ao líder de sua nova fé, Joseph Smith recebeu uma revelação que
indicava Rigdon como seu escrevente: “que escrevas por ele; e as
escrituras serão dadas tal como se acham em meu próprio seio, para
salvação de meus eleitos”8 (ver D&C 35:20).

Rigdon começou a servir como escrevente, e pouco depois que ele e


Joseph registraram a história de Enoque, Joseph foi instruído a
cessar a tradução por algum tempo e levar a Igreja para Ohio
(ver D&C 37:1). Ele o fez, e logo depois que ele se estabeleceu em
Kirtland, a tradução novamente tornou-se uma de suas tarefas
primárias. No início de fevereiro de 1831, Joseph recebeu uma
revelação instruindo que fosse construída uma casa em que ele
pudesse “morar e traduzir”9 (ver D&C 41:7). Poucos dias depois,
outra revelação assegurou Joseph que quando ele pedisse: as
“escrituras [seriam] dadas”10 (ver D&C 42:56).
D&C 45 em JosephSmithPapers.org
Seção 45
Os primeiros trabalhos de tradução se concentravam no texto de
Gênesis, mas uma revelação em 7 de março de 1831, logo mudou o
curso de Joseph. Na revelação, canonizada como Doutrina e
Convênios 45, Joseph foi instruído a deixar de lado o Velho
Testamento por algum tempo e em vez disso, concentrar-se na
tradução do Novo Testamento.

“Portanto agora vos permito traduzi-lo”, foi dito a ele, “para que
estejais preparados para as coisas que hão de vir”11 (ver D&C 45:61–
62).
Por esse motivo, Joseph e Sidney começaram a trabalhar na
tradução do Novo Testamento, no dia seguinte. Eles continuaram até
partir para o Missouri naquele verão, e depois, recomeçaram a
tradução no outono, depois que Joseph e Emma mudaram-se para
cerca de quarenta e cinco quilômetros ao sul de Kirtland para Hiram,
Ohio, para viver na casa de John Johnson. A mudança foi, em parte,
uma tentativa de Joseph de encontrar um lugar “para trabalhar em
paz e tranquilidade na tradução da Bíblia”. Mais tarde, Joseph Smith
relembrou que a maior parte de seu tempo depois de chegar à casa
dos Johnson foi gasto a preparar-se para continuar seu trabalho de
tradução.12

Joseph também começou a supervisionar a Igreja e a pregar na área,


e então, em janeiro de 1832, recebeu uma revelação o orientou mais
uma vez a concentrar em seu trabalho na tradução “até que
[estivesse] terminado”13 (ver D&C 73:4). Enquanto ele e Sidney
Rigdon o faziam, em 16 de fevereiro, receberam uma revelação
marcante na casa dos Johnson; enquanto estavam trabalhando para
traduzir o livro de João, as solicitações dos homens levaram a uma
visão dos graus de glória, que foram uma fonte de novas doutrinas
significativas para a jovem Igreja. Hoje, essa visão está contida
em Doutrina e Convênios 76.
D&C 77 em JosephSmithPapers.org
Seções 77 e 86
Da mesma forma, uma explicação das passagens no livro de
Apocalipse, agora Doutrina e Convênios 77, surgiu diretamente da
tradução da Bíblia. Tomando a forma de uma série de perguntas e
respostas, era considerado um texto inspirado e foi incluído em um
livro de revelações inicial.

Joseph e Emma deixaram a fazenda dos Johnson e retornaram para


Kirtland, em setembro de 1832, e ao longo dos alguns meses, Joseph
continuou a trabalhar diligentemente na tradução, agora com a ajuda
de Frederick G. Williams como escrevente. Em dezembro, outra
revelação proveniente da tradução foi recebida, desta vez explicando
a parábola do trigo e do joio, encontrada em Mateus 13. A revelação,
agora Doutrina e Convênios 86, designa o corpo do sacerdócio nos
últimos dias como “um Salvador para meu povo, Israel”14 (ver D&C
86:11).

D&C 86 em JosephSmithPapers.org
Em julho de 1832, Joseph escreveu para W. W. Phelps: “Terminamos
a tradução do Novo Testamento”.

“Grandes, maravilhosas e gloriosas coisas são reveladas”, escreveu


ele, acrescentando que eles estavam “fazendo rápido progresso no
livro antigo e com a força de Deus [poderiam] fazer todas as coisas
de acordo com Sua vontade”.15
O trabalho na tradução do Velho Testamento continuou e Joseph
registrou em janeiro de 1833: “esse inverno foi gasto na tradução das
escrituras; na escola dos profetas; e participando de conferências.
Tive muitos momentos gloriosos e revigorantes”.16 Em março de
1833, Joseph recebeu instrução de que, quando a tradução foi
concluída, ele deveria “[presidir], daí em diante, os negócios da Igreja”
(ver D&C 90:13). Então prosseguiu avidamente.

Seção 91

D&C 91 em JosephSmithPapers.org
Joseph Smith logo chegou à seção de sua Bíblia do Rei Jaime que
contém uma coletânea de quatorze livros conhecidos como os
Apócrifos. Apesar da maioria das Bíblias na época de Joseph Smith
possuir esses livros, houve um movimento crescente no momento em
que questionou sua situação como escritura.17 Dado a esse
questionamento, Joseph queria saber se deveria tentar traduzir os
livros e levou a pergunta ao Senhor. A revelação resultante, que
agora está em Doutrina e Convênios 91, ensinou Joseph, que embora
“[Haja] muitas coisas neles que são verdadeiras e estão, na maior
parte, traduzidas corretamente — Há muitas coisas neles que não
são verdadeiras, que são acréscimos feitos pelas mãos de homens.
Em verdade vos digo que não é necessário que se traduzam os
Apócrifos”18 (ver D&C 91:1-3).

Pulando essa seção, Joseph continuou a trabalhar com a tradução do


velho testamento por vários meses mais até que, em 2 de julho de
1833, uma carta da Primeira Presidência (incluindo Joseph Smith,
Sidney Rigdon e Frederick G. Williams) em Kirtland, aos santos em
Sião registrou que eles “neste dia, [terminaram] a tradução das
escrituras, pelos quais [demonstraram] gratidão a nosso Pai
Celestial”.19

O Legado da Tradução
Após a morte de Joseph, sua viúva, Emma, manteve os manuscritos
da tradução, que foram publicados pela Igreja Reorganizada de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias em 1867. Para a Igreja SUD
moderna, a tradução de Joseph Smith fornece partes da Pérola de
Grande Valor (o livro de Moisés e Mateus 24) e informa muitas notas
de rodapé na edição SUD da Bíblia do Rei Jaime.

Mas a tradução também teve uma influência significativa na Igreja


sobre o modo que o conteúdo de Doutrina e Convênios foi moldado.
Mais da metade da atual Doutrina e Convênios é formada por
revelações recebidas durante o período de três anos em que Joseph
Smith trabalhou na tradução da Bíblia.20Muito surgiu diretamente das
perguntas que Joseph foi inspirado a fazer conforme seu
entendimento do evangelho se expandia, durante o esforço para
restaurar partes claras e preciosas da Bíblia.
Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo,
veja os futuros volumes da série “Documents” de The Joseph Smith
Papers.

Notas de rodapé
[1] Ver 1 Néfi 13, 14; Mórmon 8:33.
[2] Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People The Historical Setting of
Joseph Smith’s Ohio Revelations, Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2009,
p. 313. Para saber mais sobre a natureza das mudanças que Joseph Smith
fez, ver Scott H. Faulring, Kent P. Jacksont e Robert J. Matthews,
eds., Joseph Smith’s New Translation of the Bible: Original
Manuscripts Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University,
2004.
[3] History, 1838-1856, volume 1, Joseph Smith Papers.
[4] Ver seções 35, 37, 41, 42, 45, 73, 76, 77, 86, 93, 91, 94 e 124.
[5] Visões de Moisés, junho de 1830, JSP.
[6] Revelação, julho de 1830–C, JSP.
[7] “Emma and the Joseph Smith Translation”, em Insights, Vol. 16, Item 4,
agosto de 1996, Maxwell Institute, Brigham Young University, Provo, Utah.
[8] Revelação, 7 de dezembro de 1830, JSP.
[9] Revelação, 4 de fevereiro de 1831, JSP.
[10] Revelação, 9 de fevereiro de 1831, JSP.
[11] Revelação, 7 de março de 1831, JSP.
[12] Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The Historical Context of
Joseph Smith’s Revelations,Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2009, p. 310.
[13] Revelação, 10 de janeiro de 1832, JSP.
[14] Revelação, 6 de dezembro de 1832, JSP.
[15] Joseph Smith para William W. Phelps, 31 de julho de 1832, JSP.
[16] History, 1838-1856, volume A-1, JSP.
[17] Steven C. Harper, Making Sense of the Doctrine and Covenants,, Salt
Lake City: Deseret Book, 2008, p. 340.
[18] Revelação, 9 de março de 1833, JSP.
[19] Carta aos Irmãos de Sião, 2 de julho de 1833, JSP.
[20] Robert J. Matthews, “Joseph Smith Translation of the Bible
(JST)”, Encyclopedia of Mormonism, vol. I, Daniel H. Ludlow, ed., New York:
Macmillan Publishing Company, 1992, p. 767.
Entusiasmo Religioso entre os Primeiros Conversos
de Ohio
D&C 46, 50
Matthew S. McBride2 Janeiro 2013

Litografia representando um reavivamento ou reunião de acampamento

Quando Joseph Smith chegou a Ohio, em janeiro de 1831, ficou


evidente que “algumas noções estranhas e espíritos falsos haviam se
infiltrado entre” os recém-conversos daquele local.

Levi Hancock estava com 27 anos de idade, em 1830 e morava em


Nova Lyme, estado de Ohio, cerca de 48 quilômetros a leste de
Kirtland. Durante a infância, sua mãe tinha instilado nele um profundo
interesse em assuntos espirituais. Hancock acreditava que Deus
frequentemente intervinha na vida diária e falava aos homens e
mulheres por meio de sonhos.1

Chegada dos Primeiros Missionários


No início de novembro de 1830, o irmão de Hancock chamado Alvah
trouxe-lhe a palavra do Livro de Mórmon: “Quatro homens vieram e
trouxeram um livro que eles chamam de [uma] história e um registro
das pessoas que, no passado, habitaram nesta terra”. Seu interesse
aumentou e Hancock expressou o desejo de ouvir esses pregadores.
“Amanhã eles vão realizar uma reunião na casa do senhor Jackson
em Mayfield”, disse seu irmão, acrescentando, “Eles vão impor as
mãos sobre aqueles que se batizarem e concederão a eles o Espírito
Santo”.

Hancock descreveu a reação dele: “Estas últimas palavras (…)


pareceram cair sobre mim como algo agradável e delicioso[.] Parecia
que algo morno lavou-me o rosto, percorreu meu corpo e me deu um
sentimento que não posso descrever. A primeira coisa que eu disse
foi: ‘É a verdade, sinto isso. Eu irei e saberei por mim mesmo
amanhã’”.
Os quatro homens que Hancock ouviu pregar foram Oliver Cowdery,
Parley P. Pratt, Peter Whitmer Jr. e Ziba Peterson. Eles passaram
pelo nordeste do estado de Ohio como missionários no outono de
1830, a caminho do Missouri. Durante sua breve estada, eles criaram
certa agitação. Pregando sobre a restauração da Igreja de Cristo em
preparação para a segunda vinda de Jesus, proclamaram que, entre
outras coisas, o Senhor havia restaurado os dons do espírito
mencionados no Novo Testamento.

Levi Hancock foi uma das mais de cem pessoas batizadas como
resultado da pregação deles. Mas a permanência dos missionários foi
curta; logo partiram para o Missouri, deixando o pequeno grupo de
conversos, perto de Kirtland, sem uma liderança experiente. Várias
figuras de destaque entre os novos conversos partiram na mesma
época, inclusive Sidney Rigdon e Edward Partridge, que foram para
Nova York encontrar-se com Joseph Smith.

O Segundo Grande Despertar


No início do século 19, Nova York e Ohio foram inundadas pelo fervor
religioso. Isso começou mais cedo. na década de 1790, quando
muitos cristãos se preocupavam com o modo como o racionalismo e
o ceticismo tinham invadido a vida religiosa. Eles tinham sede de
mais de religião do que as igrejas então ofereciam, alguns
procuraram um retorno ao cristianismo primitivo, conforme descrito no
Novo Testamento. Essa agitação popular sobre o zelo religioso, mais
tarde chamada de “O Segundo Grande Despertar”, levou a inúmeras
reações, um aumento nas conversões e até mesmo a fundação de
novas seitas cristãs.

Uma característica dessa cultura revivalista foi um maior interesse


nas manifestações espirituais e nos dons. A pregação ardente de
Charles Finney, Lorenzo Dow, George Lane e outras pessoas
provocavam reações apaixonadas no público, inclusive, profecias,
choro, gritos, danças, tremores e pessoas rolando no chão. Alguns
grupos, tais como a Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Vinda
de Jesus Cristo (Shakers) tornou mesmo algumas dessas práticas
parte formal de sua adoração.

Esse estilo de adoração não estava livre de caluniadores. Na


verdade, muitos cristãos comuns desaprovavam esse chamado
“entusiasmo”. Além disso, por volta de 1830, a onda de entusiasmo
religioso começou a diminuir. No entanto, ainda havia muitos que
acreditavam que essas manifestações eram autênticas manifestações
do espírito. A mensagem dos missionários mórmons de que os dons
espirituais voltaram para a Igreja atraíram muitos dos novos
conversos em Ohio.

Manifestações Espirituais Estranhas


Após a partida dos missionários, os conversos tinham pouca
experiência, alguns exemplares do Livro de Mórmon e nenhuma outra
cópia de outras revelações de Joseph Smith para consultar sobre a
prática de sua nova fé. Repletas de zelo, alguns deles começaram a
introduzir elementos de adoração entusiasmada — ou “operações
espirituais”, como, às vezes, os chamavam — em suas reuniões. No
entanto, não era sempre claro quais manifestações eram inspiradas e
quais eram falsas.

No início de janeiro de 1831, Levi Hancock encontrou três rapazes


chamados Edson Fuller, Heamon Bassett e Burr Riggs, que se
apresentaram como élderes da Igreja de Cristo. De acordo com
Hancock, esses jovens élderes engajaram-se em “toda sorte de
obras” durante as reuniões de adoração. Burr Riggs “pulou do chão,
bateu a cabeça contra a viga (…), passaram-se alguns minutos e
depois caiu como se estivesse morto”. Ele então ergueu-se e relatou
as visões que teve enquanto estava inconsciente. “Edson Fuller caiu
e seu rosto ficou preto. He[a]mon Bassett agiu como um macaco”.

Esses comportamentos estranhos deixaram Hancock perplexo. Afinal


de contas, ele próprio havia vivenciado sentimentos, impressões e
sonhos que acreditou serem comunicações espirituais. Os rapazes
pareciam “tão honestos e sinceros fui levado a acreditar em tudo o
que [eles] disseram”. Ele ficou até mesmo preocupado de “talvez não
ser tão puro como aqueles rapazes”. Contudo, as ações deles eram
muito diferentes dos sentimentos espirituais que já havia vivenciado.

Esses três jovens praticantes de adoração entusiasta não estavam


sozinhos. Muitos conversos de diversas origens religiosas
contribuíram para uma onda de entusiasmo na Igreja em Ohio no
início de 1831. “Black Pete”, um ex-escravo e recém-converso, trouxe
a sua experiência com a tradição do brado escravo, incluindo talvez a
prática de falar em línguas.2 Outros introduziram inovações
peculiares ao grupo: “Alguns fantasiavam que possuíam a espada de
Labão e que a empunhavam como um soldado experiente. (…)
[A]lguns deslizavam ou corriam [p]elo chão, com a rapidez de uma
serpente, o que ele[s] diziam ser um barco que navegava até os
lamanitas”.3

A notícia de que os serviços locais de adoração mórmon muitas


vezes possuíam essas manifestações curiosas levou ao escárnio de
muitos observadores. Um jornal em Painesville, nas proximidades,
relatou com desprezo que, depois que os missionários partiram, “uma
cena de maior entusiasmo foi demonstrada, principalmente, entre os
jovens”.4 John Corrill, um converso de janeiro de 1831, escreveu
posteriormente: “Eram bem poucos da Igreja que agiam desta forma”,
e muitos, ele acrescentou, “suspeitavam que isso vinha de uma fonte
do mal”.5

A Chegada de Joseph Smith


Ainda em Nova York, Joseph Smith ficou preocupado com a falta de
liderança entre os novos conversos de Ohio e enviou John Whitmer
para Kirtland com cópias das revelações para “fortalecer a meus
irmãos naquela terra”. Quando Whitmer chegou em meados de
janeiro de 1831, ficou surpreso pela variedade de “operações
espirituais” que presenciou.

Logo após sua chegada em Kirtland em fevereiro, Joseph Smith


começou a verificar essas demonstrações de entusiasmo. Ele
escreveu a seu irmão Hyrum (então em Colesville, Nova York) em 3
de março relatando: “Tenho me empenhado em regulamentar as
Igrejas aqui, pois os discípulos são numerosos e o diabo fez muitas
tentativas de derrubá-los”.6

Mas havia questões importantes que ainda precisavam de resposta.


Se o Livro de Mórmon havia prometido a presença dos dons
espirituais na Igreja, o que estava errado nessas práticas? O próprio
Joseph não tinha sido abençoado com milagrosas manifestações do
Espírito? E sobre as histórias do Livro de Mórmon, Alma e Lamôni,
que caíram, aparentemente inconscientes, enquanto o Espírito falava
a eles? Assim como podemos distinguir os dons de Deus das
invenções humanas ou da influência do mal?

D&C 46 em JosephSmithPapers.org
Uma revelação (agora Doutrina e Convênios 46) feita no dia 8 de
março, em resposta às indagações de Joseph sobre como realizar as
reuniões sacramentais lançou alguma luz sobre essas perguntas.
Nela, o Senhor lembrou aos élderes que eles deviam ser “guiados
pelo Espírito Santo” para dirigir suas reuniões. A revelação
confirmava a presença dos dons espirituais na Igreja, até mesmo
incentivou os membros a “[procurar] com zelo os melhores dons,
lembrando sempre por que são dados”. Ele advertiu que, no entanto,
“alguns são de homens e outros, de demônios. Portanto acautelai-vos
para que não vos enganem” (ver D&C 46:7-8).

A revelação relacionou vários dons que os fiéis podem esperar


encontrar na Igreja, inclusive fé, milagres, conhecimento, cura e o
falar em línguas. Esta lista é semelhante àquelas encontradas no
novo testamento e no Livro de Mórmon (I Coríntios 12:4–11, Morôni
10:8-18). O Senhor também prometeu que os bispos, élderes e as
pessoas que têm o compromisso de “zelar pela Igreja” teriam o dom
de “discernir todos esses dons, para que ninguém haja entre vós que,
sem ser de Deus, professe tê-los”. (D&C 46:27).7
Uma Revelação sobre Como Discernir os Espíritos
Quando Parley P. Pratt voltou do Missouri em março, também
observou a exibição contínua de entusiasmo quando visitou as
congregações espalhadas sobre a área de Kirtland. Mais tarde, ele
escreveu: “sentindo nossa fraqueza e inexperiência e para que
evitemos errar no juízo sobre esses fenômenos espirituais, eu, John
Murdock e vários outros élderes, fomos até Joseph Smith e pedimos
a ele que perguntasse ao Senhor quanto a esses espíritos ou
manifestações”.8
D&C 50 em JosephSmithPapers.org
Eles se reuniram em 9 de maio e, depois de orarem juntos, Joseph
Smith recebeu a revelação que agora se encontra em Doutrina e
Convênios 50. Pratt descreveu o que testemunhou: “Cada frase foi
proferida vagarosa e claramente e com uma pausa entre cada uma, o
suficiente para que fossem registradas, por um escritor comum, por
extenso. (…) Nunca houve nenhuma hesitação, revisão ou releitura, a
fim de manter a sequência do assunto”.9Nessa revelação, o Senhor
falou “como se estivesse tocando a Igreja e os espíritos que estão
espalhados na Terra”. Ele disse que muitos deles eram “espíritos
falsos” e que “Satanás também vos procurou enganar a fim de
derrotar-vos”. Ele advertiu que algumas das práticas demonstradas
por entusiastas eram “abominações” e que “há entre vós hipócritas
que enganaram alguns, o que deu poder ao adversário”.10
“Sentindo nossa fraqueza e inexperiência, e para que evitemos errar
no juízo sobre esses fenômenos espirituais, fomos até Joseph Smith e
pedimos a ele que perguntasse ao Senhor. ”
O Senhor fundamentado na misericórdia com esse grupo jovem e
inexperiente, mas sincero, de discípulos, lembrou-lhes que o Espírito
Santo é o “espírito da verdade” e que tudo “que não edifica não é de
Deus e é trevas”. Em suma: “[A]quilo que é de Deus é luz”. A
revelação começou a dar instruções sobre como detectar
manifestações inspiradas por Deus em vez daquelas que vêm de
outras fontes: “[S]e virdes manifestado um espírito que não podeis
compreender e não conhecerdes esse espírito, perguntareis ao Pai
em nome de Jesus; e se ele não vos der a conhecer, então sabereis
que não é de Deus”. Os élderes deveriam repreender falsos espíritos
em alta voz, e o Senhor prometeu que lhes daria poder para resistir
às influências malignas, se permanecessem humildes.11

Estabelecer as Coisas em Ordem


Com essas revelações, Joseph e os élderes de Kirtland foram
preparados para compreender e discernir as muitas manifestações
espirituais que encontraram. Mas estabelecer a ordem em várias
congregações exigiria várias semanas, enquanto Joseph e outras
pessoas aprendiam a colocar em prática as instruções da revelação.

Em 4 de junho, Joseph Smith reuniu-se com vários élderes da Igreja


em uma escola feita de toras na fazenda de Isaac Morley, perto de
Kirtland. Levi Hancock participou dessa reunião e testemunhou a
maneira pela qual Joseph Smith respondeu ao conselho do Senhor.
Quando vários élderes começaram a expor a influência dos espíritos
desconhecido, Hyrum Smith disse: “Joseph, isso não é de Deus”.
Joseph orou como a revelação orientava, e pouco depois levantou e
repreendeu os espíritos.

Parley P. Pratt e Joseph Wakefield foram “entre as igrejas” como a


revelação orientava, “repreendendo os espíritos errados que se
infiltraram entre eles, estabelecendo as coisas na ordem
desejada”.12 Jared Carter também estava entre o crescente número
que se sentiu recentemente revestido de poder pela revelação, e
contestou uma manifestação falsa durante uma reunião em Amherst,
Ohio.

Ao refletir sobre sua experiência como testemunha do início da onda


de entusiasmo espiritual, Levi Hancock disse que sentia vergonha por
ter acreditado nisso, “como um tolo”. Com gratidão, ele aceitou a nova
revelação e continuou fiel a Joseph Smith e à Igreja pelo resto de sua
vida.

A História de Joseph Smith resume os acontecimentos das semanas


tumultuadas: “Algumas noções estranhas e espíritos falsos se
infiltraram entre eles. Com um pouco de cautela e alguma sabedoria,
logo ajudei os irmãos e as irmãs a vencê-los. (…) [O]s espíritos falsos
eram facilmente discernidos e rejeitados pela luz da revelação”.13

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828–junho de 1831. Primeiro volume da série Documents de The Joseph
Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard
Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Exceto quando indicado de outra maneira, as citações deste artigo foram
retiradas de Levi Hancock, Autobiography, texto datilografado não publicado,
L. Tom Perry Special Collections, Harold B. Lee Library, Brigham Young
University.
[2] Ver Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The Historical Setting of
Joseph Smith’s Ohio Revelations, Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2009,
pp. 71-86.
[3] John Whitmer em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J.
Whittaker, eds. Histories, Volume II: Assigned Histories, 1831–1847. Vol. II da
série Histories de The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2012, p. 38.
[4] “Mormonism”, The Telegraph, Painesville, Ohio, 15 de fevereiro de 1831.
[5] John Corrill, “Brief History,” Manuscrito, por volta de 1838–1839, p.
11, Joseph Smith Papers.
[6] Carta a Hyrum Smith, pp. 3-4, 1º de março de 1831, JSP. Devo a Michael
Hubbard Mackay e Gerrit J. Dirkmaat essa interpretação da carta de Joseph
Smith.
[7] Revelação, cerca de 8 de março de 1831–A, JSP.
[8] Parley P. Pratt, The autobiography of Parley Parker Pratt, Chicago: Pratt
Brothers, 1888, p. 65.
[9] Parley P. Pratt, The autobiography of Parley Parker Pratt, Chicago: Pratt
Brothers, 1888, pp. 65-66.
[10] Revelação, 9 de maio de 1831, JSP.
[11] Revelação, 9 de maio de 1831, JSP.
[12] Parley P. Pratt, The autobiography of Parley Parker Pratt, Chicago: Pratt
Brothers, 1888, p. 70.
[13] Joseph Smith, History, 1838–1856, volume A-1, p. 93, JSP.
O Livro de John Whitmer
D&C 47, 69
Brian Reeves14 Março 2013

John Whitmer, cerca de 1870

John Whitmer era um servo relutante quando recebeu o chamado de


historiador no início da história da Igreja, mas foi orientado em seu
escritório por revelação.

John Whitmer nasceu na Pensilvânia em 1802. Sua família


posteriormente, mudou-se para Nova York, estabelecendo-se, por
fim, “com outras famílias alemãs perto de Fayette”, um município
escassamente povoado, cerca de 30 quilômetros a sudeste de
Palmyra.1 Por causa da amizade de sua família com Oliver Cowdery,
John Whitmer tomou conhecimento de Joseph Smith e de sua
tradução em andamento de um antigo registro das Escrituras, o Livro
de Mórmon.2

A família Whitmer ficou tão interessada no trabalho de Joseph, que o


irmão de John, David, visitou o jovem profeta em Harmony,
Pensilvânia, em junho de 1829 e ofereceu-lhe “estadia gratuita” na
casa dos Whitmer. David também ofereceu “a assistência de um de
seus irmãos”, John, como escrevente. Joseph aceitou e morou com a
família Whitmer “até que a tradução fosse terminada.” Conforme
prometido, John auxiliou “muito na escrita durante o restante do
trabalho”.3

Logo depois que Joseph chegou a Fayette, John Whitmer, com 26


anos, foi batizado no Lago Sêneca. Ele tornou-se uma das Oito
Testemunhas que viram as placas do Livro de Mórmon e depois
declarou: “Manuseei as placas; havia gravações finas em ambos os
lados”.4

Quando a igreja foi organizada na casa dos Whitmer, em 6 de abril de


1830, o Senhor instruiu Joseph Smith, “um registro será mantido entre
vós”5 (ver D&C 21:1). Para cumprir esse mandamento, Oliver
Cowdery foi nomeado o primeiro historiador da Igreja.6

As revelações de Joseph formaram uma parte significativa do registro


histórico. John Whitmer escreveu que, durante os primeiros dias da
Igreja, “o Senhor abençoou imensamente seus discípulos, e deu
muitas revelações, que continham doutrina, instruções e
profecias”.7 Em julho de 1830, o Profeta “começou a organizar e
copiar as revelações que recebera até então”, com Whitmer atuando
como escrevente.8

Whitmer como Historiador e Registrador


No outono de 1830, Oliver Cowdery embarcou em uma missão aos
Lamanitas. Em seu lugar, John Whitmer foi designado “pela voz dos
élderes para manter o registro da Igreja”, escreveu Whitmer. “Joseph
Smith Jr. disse-me que você também deve conservar a história da
Igreja”.9

Whitmer sentia-se à vontade para transcrever as revelações de


Joseph Smith, mas relutante em aceitar a desconhecida função de
historiador. Ele disse a Joseph: “Eu preferiria não fazê-lo”, mas
concordou em aceitar a designação, se fosse da vontade do Senhor.
Nesse caso, desejava “que ele o manifestasse por intermédio de
Joseph, o Vidente”.10
D&C 47 em JosephSmithPapers.org
Na revelação resultante, datada de 8 de março de 1831 e hoje
contida em Doutrina e Convênios 47, o Senhor afirmou a dupla
designação de Whitmer para que “escreva e conserve uma história
regular e assista meu servo Joseph na transcrição de todas as coisas
que te serão dadas”11 (ver D&C 47:1). Em resposta à insegurança de
Whitmer sobre suas habilidades na escrita, o Senhor prometeu: “ser-
lhe-á dado pelo consolador escrever estas coisas”12 (ver D&C 47:4).
Três meses mais tarde, Whitmer começou sua história: “O Livro de
John Whitmer”.13
D&C 69 em JosephSmithPapers.org
Poucos meses depois disso, os líderes da Igreja empreenderam
ações para a publicação de revelações de Joseph Smith, um hinário,
um jornal da Igreja e outras obras.14 Uma revelação de novembro de
1831 (Doutrina e Convênios 69) instruiu Oliver Cowdery e John
Whitmer a levar os manuscritos das revelações para Independence,
Missouri, onde William W. Phelps havia montado uma prensa
tipográfica, para que fossem publicados.15A revelação instruía ainda
que os missionários que estavam “no exterior da Terra deverão enviar
os relatórios de suas mordomias à Terra de Sião” e ampliou os
deveres de Whitmer como historiador da Igreja, dizendo-lhe que “viaje
muitas vezes de lugar em lugar, de igreja em igreja, para que, mais
facilmente obtenha conhecimento — pregando e expondo,
escrevendo, copiando, selecionando e obtendo todas as coisas que
serão para o bem da igreja e para as gerações vindouras que
crescerão na Terra de Sião”16 (ver D&C 69:5–8).

Em julho de 1832, Joseph Smith incentivou Whitmer a “lembrar-se do


mandamento de conservar uma história da Igreja e da
coligação”.17 Mais tarde naquele ano, o Profeta recebeu outra
revelação que expandiu encargo histórico de John Whitmer: “É dever
do Secretário do Senhor, a quem ele designou, conservar uma
história e um registro geral da Igreja de todas as coisas que
acontecem em Sião … e também seu modo de vida, sua fé e obras;
assim como dos apóstatas”18 (ver D&C 85:1–2).

Whitmer, então, manteve seu registro da jovem Igreja durante toda


sua condição de membro, que terminou em 1838. De acordo com um
grupo de historiadores, a história que John Whitmer criou “ilumina
muitos problemas importantes do período inicial Igreja, inclusive as
questões de propriedade, a disciplina da Igreja”, a nova Jerusalém, “o
tratamento dos dissidentes e o estabelecimento de uma hierarquia de
liderança do sacerdócio” ... A obra de Whitmer é particularmente
significativa por causa das revelações, petições e cartas que formam
grande parte de sua história”.19

O que Aconteceu com John Whitmer e Sua História?


Em 1834, Joseph Smith designou uma Presidência da Igreja no
Missouri, com John Whitmer e William W. Phelps servindo como
conselheiros de David Whitmer. John Whitmer e Phelps foram, mais
tarde, acusados de fraudes financeiras relacionadas a suas posições
lá e consequentemente foram excomungados da Igreja em março de
1838.

Whitmer escreveu em sua história:

Algumas movimentações temporais, não foram satisfatórias para


todas as partes e também resultaram na expulsão de muitos
membros, dentre os quais W.W. Phelps e eu.
Portanto, encerro a história da Igreja dos Santos dos Últimos
Dias, esperando que eu possa ser perdoado de minhas falhas, e
que meus pecados sejam apagados e que no último dia seja
salvo no Reino de Deus, apesar de minha situação atual.20

Joseph Smith chegou a Far West apenas alguns dias após as


excomunhões. Um secretário recém-nomeado pediu a Whitmer para
obter sua história, mas Whitmer recusou-se a entregar o
documento.21 Saiu temporariamente de Far West durante as
dificuldades Mórmons de 1838–1839, mas voltou pouco tempo depois
e morou ali pelo resto de sua vida.22

Após a morte de John Whitmer em 1878, sua história passou para o


irmão David,23 e em 1903 a Igreja Reorganizada de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias obteve a história de um descendente de
David Whitmer. Por fim, em 1974, a Igreja SUD obteve uma cópia
microfilmada do manuscrito em uma troca de material histórico com a
Igreja Reorganizada.24 Em 2012, a história de John Whitmer foi
publicada como parte do projeto de Documentos de Joseph Smith da
Igreja SUD.25

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo,


ver os futuros volumes da série “Documents” de The Joseph Smith
Papers.

Notas de rodapé
[1] Scott C. Esplin, “‘A History of All Important Things’ (D&C 69:3): John
Whitmer’s Record of Church History”, em Simpósio sobre História da Igreja da
Universidade Brigham Young (2009), eds. Richard E. Turley Jr. e Steven C.
Harper (Provo, UT: Centro de Estudos Religiosos, Universidade Brigham
Young, 2010), p. 51.
[2] Stanley R. Gunn, Oliver Cowdery, Second Elder and Scribe (Salt Lake
City: Bookcraft, 1962), p. 33.
[3] “History of Joseph Smith”, Times and Seasons 3, n º 20 (15 de agosto de
1842): pp. 884–885.
[4] Richard L. Anderson, Investigating the Book of Mormon Witnesses (Salt
Lake City: Deseret Book, 1981), p. 131, citando Theodore Turley,
memorando, em 4 de abril de 1839, em History of the Church of Jesus Christ
of Latter-day Saints, ed. B. H. Roberts, 7 vols., (Salt Lake City: Deseret Book,
1901–1932), 3:307–8.
[5] Revelation, 6 de abril de 1830, Joseph Smith Papers.
[6] Howard C. Searle, “Historians, Church”, em Ludlow, Ed., Encyclopedia of
Mormonism, 4 vols. (New York: Macmillan Publishing Co., 1992), 2:589.
[7] John Whitmer, History, 1831–Cerca de 1847, em Karen Lynn Davidson,
Richard L. Jensen, e David J. Whittaker, eds., Histories, Volume 2: Assigned
Histories, 1831–1847, vol. 2 da série Histories de The Joseph Smith Papers,
editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman
(Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012), p. 33.
[8] Lyndon W. Cook, The Revelations of the Prophet Joseph Smith: A
Historical and Biographical Commentary of the Doctrine and
Covenants (1981; Salt Lake City: Deseret Book, 1985), pp. 37–38, 54.
[9] John Whitmer, History, 1831–Cerca de 1847, em Karen Lynn Davidson,
Richard L. Jensen e David J. Whittaker, eds., Histories, Volume 2: Assigned
Histories, 1831–1847, vol. 2 da série Histories de The Joseph Smith Papers,
editados por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman
(Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012), p. 36.
[10] John Whitmer, História, 1831–Cerca de 1847, em Davidson, L. Richard.
Jensen e Whittaker, EDS., Histories, Volume 2: Assigned Histories, 1831–
1847, vol. 2 of the Histories series of The Joseph Smith Papers, editados por
Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City:
Church Historian’s Press, 2012), p. 36.
[11] Revelation, 8 de Março de 1831, JSP.
[12] Revelation, 8 de Março de 1831, JSP.
[13] Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen, e David J. Whittaker,
eds., Histories, Volume 2: Assigned Histories, 1831–1847, vol. 2 da série
Histories de The Joseph Smith Papers, editados por Dean C. Jessee, Ronald
K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City: Church Historian’s
Press, 2012), p. 8, 12.
[14] Lyndon W. Cook, “Literary Firm,” em Arnold K. Garr, Donald Q. Cannon e
Richard O. Cowan, eds., Encyclopedia of Latter-day Saint History (Salt Lake
City: Deseret Book, 2000), p. 670.
[15] Lyndon W. Cook, The Revelations of the Prophet Joseph Smith: A
Historical and Bibliographical Commentary of the Doctrine and
Covenants (1981; Salt Lake City: Deseret Book, 1985), p. 113.
[16] Revelation, 11 de Novembro de 1831–A, JSP. As revelações que
Cowdery e Whitmer levaram a Independence estavam sendo impressas por
William W. Phelps como O Livro de Mandamentos, quando, em 20 de julho de
1833, “uma turba destruiu a prensa”. Naquela época Phelps havia impresso
160 páginas, que continham sessenta e cinco revelações.
[17] Joseph Smith para Hyrum Smith, 31 de Julho de1832, citado em Dean C.
Jessee, “The Writing of Joseph Smith’s History,” Mormon Miscellaneous
Reprint Series, #2 (Sandy, UT: Mormon Miscellaneous, 1984), p. 5;
reimpressão de BYU Studies p.11, no. 4 (Verão de 1971).
[18] Carta a William W. Phelps, 27 de Novembro de 1832, JSP.
[19] Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J. Whittaker,
eds., Histories, Volume 2: Assigned Histories, 1831–1847, vol. 2 da série
Histories de The Joseph Smith Papers, editados por Dean C. Jessee, Ronald
K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City: Church Historian’s
Press, 2012), p. 12.
[20] John Whitmer, history, 1831–Cerca de 1847, em Karen Lynn Davidson,
Richard L. Jensen e David J. Whittaker, eds., Histories, Volume 2: Assigned
Histories, 1831–1847, vol. 2 da série Histories de The Joseph Smith Papers,
editados por Jessee, Ronald e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City:
Church Historian’s Press, 2012), p. 95. Whitmer posteriormente traçou uma
linha por boa parte desse texto, começando com“dentre os quais estamos
W.W. Phelps e eu.”
[21] History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed. B. H.
Roberts, 7 vols., (Salt Lake City: Deseret Book, 1901–1932), 3:8–9, 13–15.
[22] Richard L. Anderson, Investigating the Book of Mormon Witnesses (Salt
Lake City: Deseret Book, 1981), p. 131.
[23] Scott C. Esplin, “‘A History of All the Important Things’ (D&C 69:3): John
Whitmer’s Record of Church History,” em Simpósio de História da Igreja da
Universidade Brigham Young (2009), eds. Richard E. Turley Jr. e Steven C.
Harper (Provo, UT: Centro de Estudos Religiosos, Universidade Brigham
Young, 2010), p. 57.
[24] Scott C. Esplin, “‘A History of All the Important Things’ (D&C 69:3): John
Whitmer’s Record of Church History,” in Simpósio de História da Igreja da
Universidade Brigham Young (2009), eds. Richard E. Turley Jr. e Steven C.
Harper (Provo, UT: Centro de Estudos Religiosos, Universidade Brigham
Young, 2010), p. 73.
[25] John Whitmer, history, 1831–Cerca de 1847, em Karen Lynn Davidson,
Richard L. Jensen e David J. Whittaker, eds., Histories, Volume 2: Assigned
Histories, 1831–1847, vol. 2 da série Histories de The Joseph Smith Papers,
editados por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman
(Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012), pp. 2–110. Anteriormente,
em 1995, Bruce N. Westergren publicou uma transcrição comentada da
história de John Whitmer: From Historian to Dissident: The Book of John
Whitmer, ed. por Bruce N. Westergren (Salt Lake City: Signature Books,
1995).
Leman Copley e os Shakers
D&C 49
Matthew S. McBride25 Dezembro 2012

Shaker dance [Dança shaker], Gravura de Currier & Ives, 1830

Leman Copley foi um converso shaker à Igreja. Seu interesse na


pregação do evangelho restaurado a seus antigos correligionários
levou-o a um encontro que colocaria seu compromisso com sua fé
recém-descoberta à prova.

Na primavera de 1831, um próspero fazendeiro chamado Leman


Copley filiou-se à nova Igreja de Cristo (como era conhecida a Igreja
SUD na época). Sua fazenda de Thompson, Ohio, era a apenas
alguns quilômetros a nordeste da vila de Kirtland que recentemente
havia sido estabelecida como nova sede da Igreja.

Copley havia sido um membro da Sociedade Unida dos Crentes na


Segunda Aparição de Cristo, por muitos anos antes de sua
conversão. Os membros dessa seita eram comumente conhecidos
como shakers, porque sua adoração incluia uma forma de danças
extáticas. As muitas semelhanças entre as doutrinas shaker e
mórmon, sem dúvida, chamaram a atenção de Copley: as duas
religiões compartilhavam a crença em uma apostasia geral, uma
profecia moderna, o livre-arbítrio do homem e o ideal de uma vida
comunitária. No entanto, em outros pontos importantes diferiam
drasticamente.

Os shakers não consideravam o batismo — ou qualquer outra


ordenança — essencial para a salvação. Acreditavam que Jesus
Cristo já tinha feito a sua segunda vinda na forma da Mãe Ann Lee
(1736-1784), uma das primeiras líderes shaker. Alguns praticavam
vegetarianismo. Os mórmons e os shakers também divergiam em seu
ponto de vista sobre o casamento e relações sexuais, sobre crentes
devotos (como os shakers chamavam a si mesmos) insistindo no
celibato absoluto, ao que eles chamavam de “tomar sobre si a sua
cruz”.

Esses dois grupos religiosos tinham inicialmente se cruzado durante o


inverno anterior, quando um grupo de missionários mórmons, que
incluía Oliver Cowdery e Parley P. Pratt, parou rapidamente no
assentamento shaker de North Union, Ohio, a caminho do Missouri. A
comunidade de North Union estava situada a apenas vinte e quatro
quilômetros a sudoeste de Kirtland.

Cowdery apresentou-se para o líder shaker, Ashbel Kitchell, como


“assistente na tradução da Bíblia de ouro” e como uma das três
pessoas que haviam presenciado um anjo prestar testemunho de sua
veracidade. Kitchell permitiu que Cowdery compartilhasse sua
mensagem em uma das reuniões da comunidade.1
Depois de duas noites em North Union, Cowdery e seus
companheiros seguiram seu caminho, mas não antes de deixar sete
exemplares do Livro de Mórmon com Kitchell. Os missionários tinham
total confiança “na virtude de seus Livros, que todos aqueles que os
lessem, sentir-se-iam (...) plenamente convencidos da veracidade do
que eles continham”. Após esse primeiro encontro, os shakers e
mórmons em Ohio permaneceram em bons termos, envolvendo-se
em “comércio e outros atos de boa vizinhança”, de acordo com
Kitchell. Seu intercâmbio amigável, no entanto, estava prestes a ser
posto à prova.

Uma Revelação para os Shakers


Antes de filiar-se aos mórmons, Leman Copley associou-se aos North
Union Shakers, talvez frequentando suas reuniões, embora não se
dedicasse plenamente à sua austera vida comunitária. O fato de que
morava a cinquenta e seis quilômetros longe da comunidade e
permanecesse casado fornece certa indicação de seu nível de
comprometimento com princípios shaker. Embora claramente atraído
por alguns de seus ensinamentos e talvez seu modo de adoração, ele
não era um participante completo. Na verdade, Kitchell repreendeu
Copley por rejeitar uma vida de celibato e por ter “se associado ao
mormonismo como o plano mais fácil”.

Como todos os primeiros conversos mórmons, Copley trouxe consigo


tradições e atitudes moldadas por sua experiência religiosa anterior.
Joseph Smith falou com Copley logo após sua conversão e observou
que ele era “aparentemente honesto, mas ainda retinha a ideia de
que os shakers estavam certos em alguns aspectos de sua fé”.2 John
Whitmer ressaltou posteriormente que Copley “estava ansioso para
que alguns dos élderes fossem seus antigos irmãos e pregassem o
evangelho”. Ele até “insistiu em ser ordenado, a fim de ele mesmo
pregar”.3
D&C 49 em JosephSmithPapers.org
Copley decidiu visitar Joseph Smith — que então morava na casa de
seu amigo Isaac Morley, perto de Kirtland — no sábado, 7 de maio de
1831.4 Embora não tenhamos registro de sua conversa, Copley
provavelmente esperava esclarecimentos sobre certas crenças
shaker e talvez sugerisse a ideia de uma missão para a North Union.
Como resultado dessa reunião, Joseph recebeu a revelação agora
canonizada como Doutrina e Convênios 49. Essa revelação
abordava, autorizadamente, as diferenças doutrinárias entre as duas
religiões. Começava por repreender os shakers que: “desejam
conhecer a verdade em parte”, dizia, “mas não toda, pois não são
retos diante de mim e precisam arrepender-se”.
Reafirmando que o batismo é indispensável, a revelação prosseguiu,
denunciando várias das crenças muito queridas dos shakers,
declarando que o casamento foi ordenado por Deus, que os animais
foram dados ao homem para alimento e vestimenta e que “o Filho do
Homem não virá na forma de uma mulher nem na de um homem
viajando pela Terra”5 (ver D&C 49:22 ).

Na revelação, o Senhor chamou Copley — juntamente com Sidney


Rigdon e Parley P. Pratt — para pregar o evangelho a seus irmãos e
irmãs na North Union. Embora todos os três estivessem familiarizados
com os princípios dos shakers, Copley era muito menos experiente
como um pregador e missionário do que qualquer um de seus
companheiros. Seu interesse aparente de pregar para seus amigos
shakers significava que ele estaria chamando ao arrependimento as
pessoas que o haviam ridicularizado pelo que consideravam falta de
comprometimento religioso. Talvez ele esperasse demonstrar a
verdadeira essência de sua nova fé. De qualquer forma, Copley
concordou em cumprir fielmente o mandamento da revelação de
“arrazoar com” os shakers.

A Missão a North Union

Sidney Rigdon
Então, com a revelação em mãos, Rigdon e Copley partiram para
North Union quase que imediatamente. Eles chegaram a North Union
mais tarde naquele dia e foram recebidos cordialmente por Kitchell e
seus companheiros. Eles passaram a noite juntos, debatendo os
méritos relativos da religião deles, cada um sentindo que,
provavelmente, obtivera o melhor do debate.

Na manhã seguinte, Kitchell propôs a Rigdon e Copley que nenhum


dos lados deveria “forçar a doutrina ao outro neste momento”. Rigdon
havia planejado ler a revelação para os shakers em sua reunião do
dia do Senhor naquela ocasião, mas decidiu manter sua paz para o
momento e “sujeitou-se à ordem do lugar”.

Pouco antes do início da reunião, Parley P. Pratt chegou a North


Union a cavalo. Ao saber da resposta submissa de Rigdon à proposta
de Kitchell, o impetuoso Pratt insistiu que “não prestemos atenção a
[ele], porque eles haviam vindo com a autoridade do Senhor Jesus
Cristo, e as pessoas precisam ouvi-la”.

Os missionários sentaram-se em silêncio, até que a reunião estivesse


terminada. Quando as pessoas se levantaram para sair, Rigdon
“levantou-se e declarou que tinha uma mensagem do Senhor Jesus
Cristo para estas pessoas; ele poderia ter o privilégio de transmiti-la?”
Com a permissão de Kitchell, ele leu a revelação na íntegra e
perguntou se eles poderiam ter permissão para continuar a pregar,
como a revelação ditava.

Kitchell, controlando sua indignação, respondeu que não aceitava a


mensagem e que “os liberava assim como a seu Cristo, de qualquer
outra obrigação para conosco, e assumia toda a responsabilidade
sobre mim mesmo”. Rigdon replicou: “Isso você não pode fazer;
gostaria de ouvir as pessoas falarem”. Mas, quando Kitchell permitiu
que outros presentes exprimissem seus sentimentos e pensamentos,
eles também afirmaram “que estavam plenamente satisfeitos com o
que tinham”.

Rigdon estoicamente deixou a revelação de lado, resignou-se de que


sua missão tinha sido infrutífera. Pratt, por outro lado, não tinha
acabado tão facilmente. Ele se levantou, Kitchell narrou, e sacudiu o
pó da barra de sua roupa “como um testemunho contra nós, de que
havíamos rejeitado a palavra do Senhor Jesus”. Ao fazê-lo, Pratt
estava seguindo o mandamento de Jesus a Seus discípulos nos
Evangelhos.

Mas Kitchell não toleraria isso. Com a tolerância em seu limite, o líder
shaker denunciou Pratt na frente de sua congregação: “Você, animal
imundo, você ousa atrever-se a vir aqui e tentar imitar um homem de
Deus. sacudindo seu rabo imundo; confesse seus pecados e purifique
sua alma de suas concupiscências e suas outras abominações, antes
que você tenha a pretensão de fazer o mesmo novamente”.

Kitchell voltou então sua ira para Copley, que tinha começado a
chorar, e deu-lhe esta repreensão pungente: “Você, hipócrita, você
sabia melhor; você sabia onde estava o trabalho vivo de Deus; mas,
por causa da indulgência, você pode consentir em enganar a si
mesmo”.

O Resultado

Parley P. Pratt
Kitchell dispensou rapidamente a congregação. O frustrado Pratt
montou seu cavalo e voltou imediatamente a Kirtland. Ele, mais tarde,
resumiu sua visita: “Cumprimos essa missão, conforme nos foi
ordenado, em um assentamento desse povo estranho, perto de
Cleveland, Ohio; mas eles recusaram-se terminantemente a ouvir ou
obedecer ao evangelho”.6 Após esse incidente, o contato entre a
Igreja e os shakers era raro e geralmente tenso.

Rigdon ficou para o jantar antes de voltar a Kirtland naquela noite,


deixando uma cópia da revelação com Kitchell. Copley, entretanto,
permaneceu em North Union naquela noite e partiu para a sua
fazenda no dia seguinte, com suas esperanças de converter alguns
de seus antigos irmãos tristemente frustradas. O encontro havia lhe
sacudido de tal forma, que, ao voltar para Thompson, ele desistiu do
convênio que fizera anteriormente de permitir que os membros da
Igreja de Colesville, Nova York, morassem em sua fazenda.

O hesitante Copley continuou a vacilar em sua devoção à Igreja


restaurada por muitos anos depois da sua missão aos shakers. Ele,
finalmente, separou-se da Igreja permanentemente por volta de 1838
e permaneceu em Ohio o resto de sua vida.
Para mais informações sobre as seções mencionadas neste artigo, ver o
próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828-junho de 1831. Primeiro volume da série Documents de The Joseph
Smith Papers [Os Documentos de Joseph Smith, editado por Dean C. Jessee,
Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church
Historian’s Press [Editora do Historiador da Igreja], 2013.

Notas de rodapé
[1] A menos que mencionadas de outra forma, as citações desta narrativa
encontram-se em um trecho do diário de Ashbel Kitchell, conforme transcrito
por Lawrence R. Flake em “A Shaker View of a Mormon Mission” [Uma
Opinião Shaker de Uma Missão Mórmon], BYU Studies 20, n º 1 (Outono de
1979): pp. 94–99.
[2] Joseph Smith, History, 1838-1856, volume A-1, p. 112, Joseph Smith
Papers [Documentos de Joseph Smith].
[3] Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen, e David J. Whitaker,
eds. Histories, Volume 2: Assigned Histories, 1831–1837, Vol. 2 da série
Journals de The Joseph Smith Papers [Os Documentos de Joseph
Smith], editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, e Richard Lyman
Bushman (Salt Lake City: Church Historian Press [Iimprensa do Historiador da
Igreja], 2012), p. 37.
[4] Essa data para a revelação baseia-se na pesquisa por Gerrit Dirkmaat
para o próximo volume, Michael Hubbard MacKay, Gerrit J. Dirkmaat, Grant
Underwood, Robert J. Woodford, William G. Hartley, eds. Documents: julho
de 1828-junho de 1831, Primeiro volume da série Documents de The Joseph
Smith Papers [Os Documentos de Joseph Smith], editado por Dean C.
Jessee, Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church
Historian’s Press [Imprensa do Historiador da Igreja], 2013.
[5] Revelation, 7 de maio de 1831, JSP.
[6] Parley P. Pratt, The autobiography of Parley Parker Pratt [A autobiografia
de Parley Parker Pratt] (Chicago: Pratt Brothers, 1888), 65.
O Lugar Central
D&C 52, 57, 58
Jed Woodworth26 Dezembro 2014

Revelações antigas sobre Sião indicavam que ela incluiria “o rico e o


instruído”, mas também “o pobre, o coxo e o cego e o surdo”. Por fim,
todos os filhos de Deus terão um assento à mesma mesa. Todos
compartilhariam os lugares sagrados de Deus.

Em todo o longo período da história ocidental, os cristãos de todos os


tipos têm aguardado um novo céu e uma nova Terra. A visão
impressionante de João, o Revelador, da “santa cidade, a nova
Jerusalém, que de Deus descia do céu”, preparando o caminho para
o retorno de Jesus Cristo como Senhor e Rei, despertou a esperança
e aspirações de muitos.1 O que era a nova Jerusalém? Foi, como
debateu Santo Agostinho, uma metáfora da abençoada “imortalidade
e eternidade dos santos”?2 Ou era algo mais literal, que os puritanos
norte-americanos do século XVII acreditavam quando imaginaram a
colônia como uma fonte de regeneração religiosa, uma “Nova”
Inglaterra?3

A Igreja restaurada de Jesus Cristo estava em sua tenra idade —


ainda não tinha seis meses de idade, quando os santos dos últimos
dias começaram a vislumbrar a nova Jerusalém, à sua própria
maneira.4 As revelações iniciais de Joseph Smith descreveram essa
entidade não como uma metáfora ou uma colônia. Em vez disso, era
a cidade que os santos deviam construir. A Nova Jerusalém, também
chamada de Sião, deveria ser um refúgio, um lugar de paz, um “lugar
central”.5

Duas perguntas vieram imediatamente à mente dos santos. A


primeira foi onde o Senhor desejava que a Nova Jerusalém fosse
construída. A segunda foi quem seria aceito na cidade. Uma
revelação dada a Joseph Smith, em agosto de 1830 ofereceu
respostas preliminares, orientando Oliver Cowdery, Parley Pratt e
vários outros ao pregar no caminho para o Oeste. “Irá aos lamanitas”,
o Senhor ordenou, referindo-se ao nome que os primeiros santos
usavam para os índios americanos “para pregar-lhes meu evangelho
(…) [e] estabelecerá minha igreja entre eles”.6 O local para a cidade,
conforme as revelações, seria “[entre] os lamanitas”.7
D&C 52 em JosephSmithPapers.org
O grupo de Cowdery pregou em Kirtland, estado de Ohio, e suas
proximidades, convertendo muitas pessoas. Eles então viajaram
centenas de quilômetros ao sul e ao oeste, chegando à fronteira
ocidental dos Estados Unidos, entre o estado de Missouri e o território
indígena. Eles pregaram a diversas tribos, mas foram logo ordenados
a sair do território por agentes federais encarregados de administrar o
relacionamento entre os brancos e os índios.8 A notícia foi
desanimadora, mas Joseph Smith foi destemido, apoiado pela voz de
Deus. Numa revelação hoje conhecida como Doutrina e Convênios
52, dada em junho de 1831, o Senhor ordenou a Joseph Smith que
viajasse ao estado de Missouri, à “terra que consagrarei a meu
povo”.9 Ali o local para a cidade de Sião se tornaria conhecido.

Como havia feito milênios antes com a terra de Canaã, Deus havia
identificado a terra como algo sagrado, antes de Seu povo do
convênio se estabelecer ali, e assim como Canaã anteriormente, o
estado de Missouri não estava vazio quando o povo do convênio
chegou.10 O local onde os santos haviam sido chamados para se
reunir tinha uma história longa e complicada de ocupação.

Limites Contestados
Depois de chegar ao Missouri, Joseph Smith aprendeu por meio de
revelação que o local para a cidade de Sião seria na terra situada
abaixo de uma curva do rio Missouri, cerca de 16 quilômetros a leste
da linha do território indígena do Missouri (atualmente a fronteira
entre o Missouri e o Kansas). Por gerações, essa área do oeste do
Missouri foi o lar das tribos Siouan Centrais. No final dos anos 1600,
os índios deste grupo de idioma migraram para o sul do vale do rio
Ohio, abaixo do rio Mississippi, e para o Oeste através do baixo
Missouri, estabelecendo-se em margens ricas e férteis entre as
florestas do Leste e das grandes planícies do Oeste.11

Depois de um século de turbulência no qual doenças europeias


devastaram os povos nativos, os povos Siouan Centrais
reorganizaram-se em diferentes tribos. Os Wah-haz-he (“o povo rio
acima”) — que os franceses simplificaram para Osage — surgiram
como os principais moradores do baixo rio Missouri. Descrito como
um “povo alto, robusto, com ombros largos, lembrando gigantes”, os
Osage construíram habitações permanentes entre o rio Osage no
norte do Missouri central e o rio Missouri, perto da Independence de
hoje.12 Seus alojamentos, localizados no alto das ribanceiras com
vista para o campo, eram construídos com árvores novas curvadas
para formar o arco de um telhado, e às vezes mediam 30 metros de
comprimento. Esta sociedade caçadora, com uma estrutura
sociopolítica complexa, e uma organização de parentesco elaborada,
dominou a região do baixo rio Missouri ao longo dos séculos.13

A área perto de Independence, Missouri, não era o “lugar central” da


sociedade de Osage, da maneira como tornou-se para os santos dos
últimos dias. Até 1800, os Osage controlavam talvez metade dos
estados atuais de Missouri, Oklahoma, Arkansas e Kansas. A
essência de seu império estava no Missouri central ao sul, não à
fronteira ocidental do estado.14

Outros grupos disputavam com os Osage a terra que os mórmons


mais tarde chamariam de Nova Jerusalém. A vastidão do deserto
norte-americano alimentava os grandiosos sonhos do império, por
parte de várias nações europeias. Os espanhóis baseavam seus
direitos sobre todo o interior da América do Norte em 1539, e para
não ficar para trás, os franceses reivindicaram em 1682 toda a
América do Norte, desde as Montanhas Apaches, no Leste, até as
Montanhas Rochosas, no Oeste.

Essas alegações pouco consideraram as tribos indígenas como os


Osage, prestando pouca atenção a terras distantes ao longo do rio
Missouri, perto de Independence.15 O grande interesse da Europa
eram as margens de seus impérios, nos lugares com mercado
lucrativo e de fácil acesso para transporte — ao longo do rio Saint
Lawrence, que se tornaria o Canadá e as Ilhas do Caribe.

Os franceses chamavam de enorme trato continental o que


solicitavam para si mesmos, como Louisiana, em menção ao rei
francês. A terra, por fim, passou pela posse espanhola e depois
voltou para a francesa, que a vendeu para os Estados Unidos, na
compra de Louisiana, em 1803. Com essa aquisição veio o futuro
local para a cidade de Sião.
D&C 57 em JosephSmithPapers.org
A compra de Louisiana trouxe colonos como cidadãos dos Estados
Unidos para o Missouri, que se tornou estado em 1821.16Os mesmos
tipos de governo encontrados em outros estados foram levados para
o Missouri. Os cidadãos ao longo da fronteira ocidental contataram o
legislador do estado do Missouri para a organização do Condado, e
em 1827, o legislador criou o Condado de Jackson. A cidade de
Independence recentemente povoada, localizada ao sul do rio
Missouri ao longo de uma estrada de comércio chamada trilha de
Santa Fé, tornou-se a sede do Condado.
Doutrina e Convênios 57, dada logo após Joseph Smith ter chegado a
oeste do Missouri, orientou os santos nesse contexto sociopolítico. O
“lugar central” de Sião, a revelação, seria localizado no “lugar que é
agora chamado Independence”, que na época não tinha mais do que
algumas centenas de moradores.17 Os colonizadores, nessa época,
muitas vezes apossavam-se da terra, imaginando que não havia
proprietários, antes de cadastrar seu pedido no tribunal do Condado.
A revelação mencionou esse tribunal — um templo, disse a
revelação, deveria ser construído a oeste dele. Na época em que a
revelação foi dada, a terra já havia sido requisitada por colonos,
sendo necessário que os santos negociassem com seus possuidores
legais. A revelação deu a entender que os santos dos últimos dias
não lutariam para obter a terra santa à força como os israelitas
fizeram milênios antes, em Canaã. “É sábio que os santos comprem a
terra”, disse o Senhor.18

Povos Sagrados
Por gerações, um pequeno número de europeus — principalmente
comerciantes espanhóis e franceses — viveu entre os índios ao longo
do rio Missouri, casou-se e comercializou com eles.19 Mas à medida
que as famílias brancas mudavam-se para o Oeste, estabelecendo-se
em terras então ocupadas pelos índios, eles passaram a rejeitar
fortemente essas interações culturais. Os brancos exigiram que todas
as tribos indígenas fossem removidas do estado. Entre 1824 e 1830,
tribos que moravam dentro das fronteiras do estado de Missouri por
vários séculos, praticamente cederam todos o seu território. Os
poderosos Osage venderam suas terras em 1825 e migraram mais
para o Oeste rumo ao Kansas e a Oklahoma.20 Quando os santos
dos últimos dias chegaram no Condado de Jackson em 1831, os
índios tinham deixado suas colônias e partido para além de uma linha
recém-criada, dividindo os territórios indígena e branco.

Doutrina e Convênios 57 observa a existência dessa linha de


assentamento sem endossá-la. A revelação observou que Sião deve
ser edificada “à linha que passa diretamente entre judeus e gentios”,
ou à linha que separa o estado do Missouri do território indígena a
oeste.21 A revelação resistiu às categorias costumeiras, no entanto,
principalmente por meio de seu uso curioso dos
termos judeu e gentio. Os termos-padrão usados por norte-
americanos —brancos e indígenas ou brancos e vermelhos— sugeria
uma divisão racial e cultural. Os dois grupos eram muito distintos, e
os brancos usavam muitas vezes essa terminologia para salientar
essa incompatibilidade.22

As categorias de judeus e gentios, no entanto, indicavam uma


distinção entre os grupos, mas não uma incompatibilidade entre eles.
De acordo com o Livro de Mórmon, tanto judeus quanto gentios
tinham um papel vital no plano de Deus. Deus os convidou a trabalhar
em conjunto. O evangelho nos tempos antigos partiria dos judeus, o
antigo povo do convênio do Deus, para os gentios, que seriam
enxertados no convênio. Nos últimos dias a relação seria ao contrário
— o evangelho iria avançar dos gentios para os judeus, que
reconheceriam Jesus como o Messias.23 Essa estrutura do convênio
se assemelha à Doutrina e Convênios 57, indicando índios como
judeus e, dessa forma, reconhecendo o grupo como parte do povo do
convênio de Deus.24 Os índios eram da casa de Israel, escolhidos,
amados e lembrados por Deus.25

Na época em que a remoção dos índios — a separação de uma raça


de outra — se tornara uma política nacional do governo dos Estados
Unidos, as revelações de Joseph Smith voltaram-se em outra
direção.26 Em vez de marginalizar os índios, empurrando-os para os
arredores da “civilização”, as revelações trouxeram Sião até eles,
colocando a cidade santa de Deus em seu meio. Sião deveria ser
encontrada “entre” judeus e gentios, entre as raças.27 Nessa
combinação, as pessoas de várias raças podem desempenhar um
papel essencial na obra de Deus. As pessoas de qualquer origem, se
estivessem dispostas, poderiam tornar-se “os puros de coração” e
habitar em Sião em segurança e paz.28

Doutrina e Convênios 58, dada enquanto Joseph Smith ainda estava


no estado de Missouri, transmitia a amplitude dessa visão. A
revelação não dizia nada sobre índios e brancos. Nem mesmo os
judeus e gentios foram mencionados nesse momento. Em vez disso,
a revelação falou sobre “os habitantes da terra”, unindo todos os
filhos de Deus.29 Sião, a revelação explicou, era um lugar para onde
“todas as nações serão convidadas”.30

D&C 58 em JosephSmithPapers.org
A palavra nações teria impacto nos leitores da década de 1830, pois
era a palavra que índios e brancos usavam para descrever a maior
unidade de sua organização política. A revelação continuou a falar de
Sião, incluindo “o rico e o instruído, o sábio e o nobre” — as pessoas
com poder político e social. Mas também incluiu pessoas que
tradicionalmente não tinham tal poder, aqueles que haviam sido
esquecidos e marginalizados tradicionalmente: “o pobre, o coxo e o
cego e o surdo”.31 Por fim, todos os filhos de Deus teriam assento à
mesma mesa. Juntos em relação de convênio, todos compartilhariam
os lugares sagrados de Deus.
Conclusão
Dois anos após as revelações do Condado de Jackson, Sião estava
em chamas, com seus habitantes fugindo de perseguidores. Os
santos abandonaram o Condado de Jackson, mas não a tarefa de
criar Sião ao longo da linha entre judeus e gentios, primeiro em
Nauvoo e depois, mais tarde, nos desertos da Grande Bacia. Onde
quer que os santos se estabelecessem, convidavam todas as
pessoas a se unirem a eles.32 Até hoje a visão da sociedade de Sião
em que “todas as nações serão convidadas” a viver no refúgio e paz
inspira santos dos últimos dias. A aspiração, promessa e esperança
das primeiras revelações no Missouri ainda vivem.

Notas de rodapé
[1] Apocalipse 21:2–5, 7.
[2] Por esse e outros conceitos, ver A Dictionary of Biblical Tradition in English
Literature, ed. por David Lyle Jeffrey (Grand Rapids MI: MI: William B.
Eerdmans, 1992), “New Jerusalem”, pp. 546–548.
[3] John Winthrop, “Model of Christian Charity”, 1630, Collections of the
Massachusetts Historical Society, vol. 7, 1838, p. 47; ortografia modernizada;
Francis J. Bremer, Building a New Jerusalem: John Davenport, a Puritan in
Three Worlds (New Haven, CT: Yale University Press, 2012), pp. 174–179.
[4] A Nova Jerusalém foi mencionada no Livro de Mórmon, e revelações
começaram a falar de um local específico, já em fevereiro de 1831; ver 3 Néfi
21:23–24; Éter 13:3–6; Doutrina e Convênios 42:35, 62.
[5] Doutrina e Convênios 45:66–71; 57:3.
[6] Doutrina e Convênios 28:8; ver também Ronald E. Romig, “The Lamanite
Mission” John Whitmer Historical Association Journal, Vol. 14, 1994, pp. 25–
33.
[7] Revelation setembro de 1830—B (D&C 28), Joseph Smith Papers. A
passagem foi revisada para ler “nas fronteiras, próximo aos lamanitas”;
ver Livro de Mandamentos, 1833, 30:9 (Doutrina e Convênios 28:9).
[8] Essas tribos incluem os Shawnee e os Delaware, que haviam sido
desalojados do Leste. Ver Documentos, Volume 1: Julho de 1828–Junho de
1831, vol. 1 da série de Documentos de The Joseph Smith Papers, ed. por
Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman (Salt Lake
City: Editora do Historiador da Igreja, 2013, pp. 288–294.
[9] Doutrina e Convênios 52:2–3.
[10] Números 33:53; 34:2.
[11] Tanis C. Thorne, The Many Hands of My Relations: French and Indians
on the Lower Missouri, Columbia: University of Missouri Press, 1996, pp.13–
14, 16–17, 20; Louis F. Burns, A History of the Osage People, Tuscaloosa:
University of Alabama Press, 2004, pp. 3, 22.
[12] William E. Parrish, Charles T. Jones, e Lawrence O.
Christensen, Missouri: The Heart of the Nation, 3rd ed. (Wheeling, IL: Harlan
Davidson, 2004), p. 13.
[13] Willard H. Rollings, The Osage: An Ethnohistorical Study of Hegemony on
the Prairie-Plains, Columbia: University of Missouri Press, 1992, pp. 23–26,
45–66; Gilbert C. Din e A. P. Nasatir, The Imperial Osages: Spanish-Indian
Diplomacy in the Mississippi Valley, Norman: University of Oklahoma Press,
1983, pp. 11–14.
[14] Burns, History of the Osage People, pp. 25–28, 30, 46.
[15] A região de Independence não possuía nome nem era mostrada nos
mapas do século XVIII. Ver Din e Nasatir, Spanish-Indian Diplomacy in the
Mississippi Valley, pp. 40–41, 64, 288–289, 338–339.
[16] O nome Missouri data da década de 1670, quando o francês missionário
Jacques Marquette esboçou um mapa com o nome Ou-Missouri perto do rio
que leva esse nome, sua transliteração de uma tribo que vivia ao longo do rio.
Os Osage geralmente ficavam nas terras ao sul do rio, e os Missouri, nas
terras ao norte.
[17] Doutrina e Convênios 57:3.
[18] Doutrina e Convênios 57:4. O tribunal era o ponto mais alto na área. Por
ser capaz de localizar o templo nas proximidades, a revelação implicitamente
comparou o templo da Nova Jerusalém, ao templo de Jerusalém, que
também se encontra em um ponto alto. Mark Roscoe Ashurst-McGee, “Zion
Rising: Joseph Smith’s Early Social and Political Thought”, discussão de
PhD., Arizona State University, 2008, p. 233.
[19] Thorne, Many Hands, pp. 76–86, 96–97, 135–76.
[20] Essas tribos incluíam, além dos Osage, os Missouri, Sac, Fox, Ioway,
Delaware e Shawnee, entre outros. O estado de Missouri não cedeu a última
parte de suas terras ao estado até 1854. Billy J. McMahon, “‘Humane and
Considerate Attention’: Indian Removal from Missouri, 1803–1838”, tese de
mestrado, Northwest Missouri State University, 2013, pp. 7–8, 75–83; John P.
Bowes, Exiles and Pioneers: Eastern Indians in the Trans-Mississippi West,
New York: Cambridge University Press, 2007; Charles J. Kappler,
comp., Indian Affairs: Laws and Treaties, Washington D.C.: Government
Printing Office, 1904, pp. 217–221.
[21] Doutrina e Convênios 57:4.
[22] Ver, por exemplo, Nancy Shoemaker, A Strange Likeness: Becoming Red
and White in Eighteenth-Century North America, New York: Oxford University
Press, 2004.
[23] 1 Néfi 15:13–17; 22:8–9; 3 Néfi 21:2–5.
[24] As revelações em outros lugares falavam dos “judeus, de quem os
lamanitas são remanescentes” (Doutrina e Convênios 19:27). Sobre os vários
significados do termo judeu nas escrituras modernas, ver Victor L. Ludlow,
“Jew(s)”, em Dennis L. Largey, ed., Book of Mormon Reference Companion,
Salt Lake City: Deseret Book, 2003, pp. 463–464; Thomas R. Valetta,
“Jew(s)”, em Dennis L. Largey and Larry E. Dahl, eds., Doctrine and
Covenants Reference Companion, Salt Lake City: Deseret Book, 2012, pp.
315–316.
[25] Pelo menos no início, como citado em Thomas Thorowgood em Jewes in
America, 1650, ingleses e puritanos norte-americanos haviam postulado que
os índios eram descendentes das tribos perdidas de Israel. Esses esquemas
conceituais tendiam a ter vida curta. As revelações de Joseph Smith
derrubaram a narrativa-padrão do século XIX sobre os povos indígenas como
um povo “banido”, dando aos “remanescentes de Jacó” um papel salvador
nos últimos dias da história da Terra. Jared Hickman, “The Book of Mormon
as Amerindian Apocalypse”, Literatura Norte-americana, volume 86, nº 3,
setembro de 2014, pp. 429–461; ver também Andrew Delbanco, The Puritan
Ordeal, Cambridge, MA: Harvard University Press, 1989, p. 110.
[26] Sob a lei de Remoção dos Índios, a retirada de índios tornou-se uma
norma federal em 1830. Ronald N. Satz, American Indian Policy in the
Jacksonian Era, Norman: University of Oklahoma Press, 2002.
[27] Doutrina e Convênios 57:4.
[28] Doutrina e Convênios 97:21.
[29] Doutrina e Convênios 58:48.
[30] Doutrina e Convênios 58:9.
[31] Doutrina e Convênios 58:8, 10–11. A passagem reinterpretou a parábola
de Jesus sobre as bodas do filho do rei (Mateus 22:1–14) em um contexto
atual.
[32] Embora os santos dos últimos dias nem sempre tenham vivido à altura
de seus ideais em suas interações com os índios, o papel especial dado a
povos nativos nas revelações, muitas vezes moderaram a maneira como os
brancos santos dos últimos dias trataram os índios. Ronald W. Walker,
“Seeking the ‘Remnant’: The Native American During the Joseph Smith
Period”, Journal of Mormon History, vol. 19, nº 1, 1993, pp. 1–33; Tópicos do
Evangelho, “A Paz e a Violência entre os Membros da Igreja no Século XIX”;
LDS.org/topics.
Ezra Booth e Isaac Morley
D&C 57, 58, 60, 61, 62, 63, 64, 71, 73
Matthew McBride24 Abril 2015

Imagem cortesia do National Park Service, Jefferson National Expansion


Memorial.

Muitos dos missionários que viajaram para Missouri em 1831


inicialmente ficaram desapontados com o que encontraram. Mas cada
um deles lidaria com essa decepção de modo diferente.

Para os primeiros membros da Igreja, o verão de 1831 começou com


grandes expectativas. Uma importante conferência foi realizada na
primeira semana de junho na escola, na fazenda de Isaac Morley,
perto de Kirtland. A sala estava lotada e muitos sentaram-se do lado
de fora, perto das janelas abertas, esforçando-se para ouvir. A brisa
do verão levava a fragrância da hortelã colhida recentemente, dos
muitos hectares plantados nas áreas próximas. Joseph Smith abriu a
conferência com uma oração.

Na reunião, as primeiras ordenações ao “sumo sacerdócio” foram


realizadas.1Muitos élderes tiveram manifestações espirituais,
inclusive a expulsão de espíritos maus. Então, pouco antes do
término do quarto dia de conferência, Joseph Smith recebeu uma
revelação relacionada às esperanças mais profundas dos fiéis.

Desde a primeira vez que tinham lido o Livro de Mórmon, os fiéis se


perguntavam como, onde e quando as profecias do livro seriam
cumpridas. Quando os lamanitas — que se acreditava serem os
índios da América do Norte — seriam convertidos e se uniriam aos
membros da Igreja na construção de uma nova Jerusalém no
continente americano? Esses primeiros membros sabiam que o local
da cidade seria “entre os lamanitas”.2 Eles tinham até enviado Oliver
Cowdery e três outros missionários para o extremo oeste dos Estados
Unidos, para pregar aos índios americanos perto do Missouri.
D&C 57 em JosephSmithPapers.org
Agora, naquela nova revelação, o Senhor declarou que o Missouri era
de fato “[a] terra que consagrarei a meu povo”. Ao falar da Nova
Jerusalém, Ele prometeu que iria “[apressar] a construção da cidade a
seu tempo”. A revelação também chamava Joseph Smith, Sidney
Rigdon e 13 outras duplas de missionários para viajar de dois em dois
para o Missouri, onde a próxima conferência deveria ser realizada.
Ela também declarava que, se fossem fiéis, o Senhor revelaria “a
terra de [sua] herança”.3
As duplas de missionários partiram para o Missouri com grandes
esperanças. Eles acreditavam que o dia da Segunda Vinda estava
muito próximo e que estavam viajando para localizar e construir um
templo na cidade em que se reuniriam para receber o Senhor quando
Ele voltasse. Rumores se espalharam de que Oliver Cowdery e seus
companheiros missionários estavam prestes a converter muitos índios
americanos.4 Os missionários esperavam que no Missouri “os objetos
de fé e esperança, se tornassem os objetos de conhecimento e
realização”.5

A Jornada para o Missouri


Isaac Morley e Ezra Booth estavam entre os missionários chamados.
Os dois tinham participado da conferência, haviam sido ordenados e
foram designados como companheiros de viagem.

Isaac Morley estava entre os primeiros conversos da Igreja em Ohio.


Na época de sua conversão, Morley, sua esposa, Lucy, sua família e
vários amigos viviam em sua fazenda, compartilhando um estilo de
vida comunitário. Eles estavam tentando ao máximo viver como os
primeiros cristãos mencionados no livro de Atos, onde “todas as
coisas lhes eram comuns” (Atos 4:32).

Ezra Booth havia sido um pregador Metodista respeitado na região


nordeste de Ohio.6 Sua conversão criou um pequeno alvoroço entre
seus amigos e conhecidos, que lamentaram sua filiação aos
“Mormonitas”.7 Booth sentiu-se fortemente inspirado a se unir à nova
fé. “As impressões em minha mente eram profundas e poderosas”,
ele relembrou, “e meus sentimentos ficaram tão vívidos como nunca
haviam estado antes”.8

Mas, por ocasião de sua partida em junho de 1831, Booth começou a


ter dúvidas. Na conferência, as manifestações espirituais não
satisfizeram suas expectativas e ele ficou descontente por Joseph
Smith e Sidney Rigdon partirem para o Missouri em um carroção,
enquanto ele e Isaac haviam sido chamados para caminhar a
distância inteira no calor do verão, pregando ao longo do caminho.
A viagem foi inconveniente para os outros também. Joseph Smith
partiu poucas semanas após ele e Emma perderem seus filhos
gêmeos, logo após o nascimento. Ele deixou a esposa de luto, que
teria de cuidar de si mesma e dos gêmeos Murdock, recém-adotados
(cuja mãe, Julia, havia morrido no final de abril e cujo pai, John,
também faria a viagem para o Missouri).

Quando Ezra Booth finalmente chegou ao Missouri, ficou


desapontado. Ele e os outros “esperavam encontrar um lugar que
satisfizesse plenamente as necessidades e os confortos da vida”. Em
vez disso, ele olhou em volta e percebeu que “a perspectiva parecia
um tanto sombria”.9 Booth lembrou-se de que Joseph Smith havia
declarado com confiança antes da viagem, que a Igreja no Missouri
seria grande e desenvolvida, mas, quando eles chegaram,
encontraram apenas sete membros novos.

Até mesmo Joseph Smith teria ficado frustrado inicialmente, quando


chegou ao Missouri. A área ao redor de Independence era
principalmente uma pradaria aberta, com poucas árvores dispersas.
Longe de inspirar a visão de uma capital milenar, a própria fronteira
da cidade tinha “um século de atraso”.10 Para a maioria dos élderes,
a realidade no Missouri foi uma decepção. Mas eles lidariam com
essa decepção de maneiras diferentes.

Uma Oração por Orientação


Esse era realmente o lugar e o momento para tentar edificar Sião? No
dia 20 de julho, ansioso para saber o tempo e as intenções de Deus,
Joseph se voltou para o Senhor. “Quando florescerá o deserto como
a rosa?” Ele orou. “Quando Sião será edificada em sua glória e onde
estará teu Templo?”11 Essas perguntas inspiraram uma revelação —
agora Doutrina e Convênios 57 — que, por fim, designou o local para
a cidade e o templo.
D&C 58 em JosephSmithPapers.org
Outra revelação, em 1º de agosto (Doutrina e Convênios 58), instruía
os missionários a dedicar a terra, mas indicava que Sião seria
edificada somente “após muitas tribulações”. A revelação repreendia
aqueles que, como Ezra Booth, haviam murmurado. “Dizem em seu
coração: Esta não é a obra do Senhor, porque suas promessas não
se cumprem.” Ele advertiu que “sua recompensa os espreita de baixo
e não de cima”.12

Apesar da frustração e da grandiosidade do projeto de construção da


cidade, Joseph estava determinado a começar. Junto com Sidney
Rigdon e outros, ele começou a trabalhar. Eles consagraram a terra
perto de Independence para um lugar de coligação, estabelecendo o
primeiro registro para uma casa em Sião e assentaram a pedra
angular a nordeste para o templo.

Alguns élderes, como Reynolds Cahoon, viam grandes possibilidades


nesse início simbólico. “Lá, meus olhos mortais contemplaram coisas
grandes e maravilhosas”, ele escreveu: “Como meus olhos nunca
viram neste mundo antes”.13 Mas Ezra Booth não ficou
impressionado com o início escasso. Era “uma curiosidade”, disse
ele, “mas não valia a pena ir ao Missouri para ver”.14

O Retorno para Ohio


Embora alguns missionários tivessem sido escolhidos para
permanecer no Missouri, a revelação de 1º de agosto ordenou ao
restante dos missionários que voltassem para casa, indicando que “o
tempo ainda não chegaria por muitos anos para receberem sua
herança nesta terra”.15
D&C 60 em JosephSmithPapers.org
Outra revelação, agora Doutrina e Convênios 60, instruiu os
missionários que estavam retornando a viajar ao leste do Rio Missouri
até St. Louis.16 Lá Joseph e Sidney Rigdon viajariam mais rápido
para Cincinnati, Ohio, para pregar, enquanto os outros deveriam
viajar de “dois em dois e pregar a palavra não às pressas entre as
congregações dos iníquos”.17

Eles embarcaram em canoas para St. Louis, em 8 de agosto. O Rio


Missouri era conhecido pela difícil navegação. Os capitães dos navios
a vapor temiam as árvores caídas no rio, que frequentemente
destruíam seus navios. Mais tarde, os élderes diriam a Elizabeth
Marsh que as correntezas turbulentas do rio “pareciam loucas, como
se tivessem sido amaldiçoadas”.18

Pintura de Karl Bodmer retratando a difícil navegação no Rio Missouri em 1833.


Foi uma jornada incerta para os élderes. O cansaço, o calor e o
traiçoeiro Rio Missouri fizeram com que eles se desentendessem
facilmente. No terceiro dia sobre as águas, algumas canoas quase se
enroscaram nas árvores caídas no rio, ameaçando virar as canoas,
pondo em risco a vida daqueles que não sabiam nadar.

Depois de voltarem em segurança às margens do rio, as brigas


continuaram. Embora certamente o próprio Ezra Booth causasse
muita contenda, ele tinha pouca tolerância quando outros o faziam.
Mais tarde ele comentou com sarcasmo: “Estes são os líderes da
Igreja, e a única Igreja na Terra que o Senhor aprova”.19
Joseph Smith recebeu outra revelação, na manhã seguinte, na
margem do rio (Doutrina e Convênios 61) admoestando-os do perigo
sobre a água, mas dizendo: “Não me importa (…) se eles vão pela
água ou por terra”.20

D&C 62 em JosephSmithPapers.org
Joseph prosseguiu por terra no dia seguinte com uma parte do grupo.
Eles encontraram seu irmão Hyrum e outros que haviam se atrasado
e ainda não tinham visitado o local para Sião. Uma revelação
(Doutrina e Convênios 62) admoestou-os: “Continuai vossa viagem.
Reuni-vos na terra de Sião; realizai uma reunião e rejubilai-vos juntos
e oferecei um sacramento ao Altíssimo”.21
Ezra Booth, por outro lado, decidiu voltar o mais rápido possível, em
vez de pregar pelo caminho, de acordo com a revelação recebida. Ele
e alguns companheiros fizeram o resto da viagem para Ohio de barco
e carroça.

“Confundir Seus Inimigos”


Logo após seu retorno para Ohio, Ezra Booth deixou a Igreja, fazendo
com que todos o soubessem. Como sua experiência não
correspondeu às suas expectativas de como Sião deveria ser, ou
como Joseph Smith deveria se comportar, ele primeiro vacilou, e
depois abandonou sua fé. No início de outubro, o Ohio Star, um jornal
localizado em Ravenna, Ohio, iniciou a publicação de uma série de
cartas escritas por Booth, criticando fortemente Joseph Smith e a
Igreja.

Em dezembro, suas cartas começaram a interferir no trabalho


missionário, e Joseph Smith recebeu duas revelações em dezembro
de 1831 e janeiro de 1832, agora conhecidas como Doutrina e
Convênios 71 e 73. Elas desafiavam Booth e outros dissidentes,
como Symonds Ryder, a “[expor] seus fortes argumentos contra o
Senhor”. Elas também incentivavam Joseph e Sidney Rigdon a pregar
ativamente: “Confundi vossos inimigos; convidai-os para debater
convosco, tanto em público como em particular”.22

Apesar de Sidney Rigdon desafiar Booth e Ryder para um debate


público, eles recusaram, talvez por conhecerem a reputação de
Rigdon como um ardente argumentador. Rigdon pregou em Ravenna,
Ohio, e em outros lugares, refutando as alegações de Booth. Apesar
de as cartas de Booth terem desacelerado o trabalho missionário,
esse efeito durou pouco.

Tragicamente, o ceticismo de Booth abriu um abismo não apenas


entre ele e a Igreja restaurada, mas também entre ele e suas
experiências espirituais anteriores. Ele, por fim, “abandonou o
cristianismo e tornou-se agnóstico”.23

O Teste de Isaac Morley


Enquanto as experiências de Ezra Booth na viagem ao Missouri o
afastaram da Igreja, as de Isaac Morley o aproximaram. Durante a
viagem, Morley evidentemente compartilhou, pelo menos até certo
ponto, do cinismo de Ezra Booth. Uma revelação recebida em 11 de
setembro (Doutrina e Convênios 64) repreendeu Booth e Morley:
“Condenaram como mau aquilo em que não havia mal”. Todas as
dúvidas que Morley pode ter tido a respeito de sua missão logo
cessaram. Ao contrário de Ezra Booth, Isaac Morley havia cessado
suas críticas e mudado sua perspectiva. A revelação continuou com a
voz do Senhor: “Perdoei meu servo Isaac”.24

D&C 63 em JosephSmithPapers.org
Mas o Senhor tinha outros sacrifícios em mente para Isaac Morley.
Foi pedido a ele que abrisse mão de suas grandes propriedades em
Kirtland e voltasse para o Missouri com sua família. Em uma
revelação dada logo após Joseph Smith retornar de Kirtland (Doutrina
e Convênios 63), o Senhor instruiu o cunhado de Morley, Titus
Billings, a “[dispor]” da fazenda Morley.25 Na revelação dada em 11
de setembro, o Senhor explicou que ele ordenou que a fazenda fosse
vendida, “para que meu servo Isaac Morley não seja tentado além do
que lhe seja possível suportar”.26

Isaac e Lucy Morley fizeram o sacrifício de boa vontade. Em outubro


de 1831, Titus Billings vendeu a maior parte da fazenda de Morley.
Morley levou sua família de volta para Independence, como lhe foi
ordenado, e começou novamente a trabalhar para estabelecer um
alicerce para o templo da cidade. Tendo perseverado em meio a suas
dúvidas, ele perseverou e serviu como bispo e patriarca. Ele faleceu
em Utah, em 1865.27

Notas de rodapé
[1] Essas ordenações ao “sumo sacerdócio” referem-se ao que mais tarde
ficou conhecido como o ofício de sumo sacerdote no Sacerdócio de
Melquisedeque.
[2] “Revelação, setembro de 1830–B [D&C 28]”, josephsmithpapers.org.
[3] “Revelação, 6 de junho de 1831 [D&C 52]”, josephsmithpapers.org.
[4] Ezra Booth menciona esses rumores. Ver também “Carta de Oliver
Cowdery, 8 de abril de 1831”, josephsmithpapers.org.
[5] Ezra Booth, em Eber D. Howe, Mormonism Unvailed (Painesville, Ohio: Do
autor, 1834), p. 192. Cartas de Ezra Booth foram originalmente publicadas
entre setembro e dezembro de 1831 no Ohio Star (Ravenna) e mais tarde
foram reimpressas no livro de Howe.
[6] “Booth, Ezra”, josephsmithpapers.org.
[7] Esse era um termo geralmente usado para referir-se aos primeiros
membros da Igreja. Ver Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The
Historical Setting of Joseph Smith’s Ohio Revelations, (Salt Lake City: Greg
Kofford Books, 2009), pp. 73–74.
[8] Ezra Booth, em Howe, Mormonism Unvailed, p. 176.
[9] Ezra Booth, em Howe, Mormonism Unvailed, p. 199.
[10] “Historia, 1838–1856, volume A-1 [23 de dezembro de 1805 – 30 de
agosto de 1834]”, p. 127, josephsmithpapers.org.
[11] “Historia, 1838–1856, volume A-1 [23 de dezembro de 1805 – 30 de
agosto de 1834]”, p. 127, josephsmithpapers.org; pontuação modernizada.
[12] “Revelação, 1 de agosto de 1831 [D&C 58]”, josephsmithpapers.org.
[13] Reynolds Cahoon diaries, 1831–1832, imagem 10–11, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City.
[14] Ezra Booth, em Howe, Mormonism Unvailed, p. 194.
[15] “Revelação, 1 de agosto de 1831 [D&C 58]”, josephsmithpapers.org.
[16] O grupo provavelmente consistia em Joseph Smith, Sidney Rigdon,
Oliver Cowdery, Sidney Gilbert, W. W. Phelps, Reynolds Cahoon, Samuel
Smith, Ezra Booth, Frederick G. Williams, Peter Whitmer Jr. e Joseph Coe.
[17] “Revelação, 8 de agosto de 1831 [D&C 60]”, josephsmithpapers.org.
[18] Carta de Elizabeth Godkin Marsh a Lewis Abbott e Ann Abbott, de
setembro de 1831, coleção da família Abbott, Biblioteca de História da Igreja,
Salt Lake City, conforme citado em Matthew C. Godfrey, Mark Ashurst-
McGee, Grant Underwood, Robert J. Woodford e William G. Hartley,
eds., Documents, Volume II: julho de 1831–janeiro de 1833. Vol. II da série de
Documentos The Joseph Smith Papers [Os Documentos de Joseph
Smith], editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, Richard Lyman
Bushman e Matthew J. Grow, (Salt Lake City: Church Historian’s Press
[Imprensa do Historiador da Igreja, 2013]), p. 39.
[19] Ezra Booth, em Howe, Mormonism Unvailed, p. 205.
[20] “Revelação, 12 de agosto de 1831 [D&C 61]”, josephsmithpapers.org.
[21] “Revelação, 13 de agosto de 1831 (D&C 62)”, josephsmithpapers.org;
pontuação modernizada.
[22] “Revelação, 1 de dezembro de 1831 (D&C 71)”, josephsmithpapers.org;
pontuação modernizada.
[23] J. N. Fradenburgh, History of Erie Conference, 2 vols. (Oil City,
Pensilvânia: Derrick Publishing Company, 1907), vol. I, p. 346.
[24] “Revelação, 11 de setembro de 1831 (D&C 64)”, josephsmithpapers.org.
[25] “Revelação, 30 de agosto de 1831 (D&C 63)”, josephsmithpapers.org.
[26] “Revelação, 11 de setembro de 1831 (D&C 64)”, josephsmithpapers.org.
[27] “Morley, Isaac”, josephsmithpapers.org.
Newel K. Whitney e a Firma Unida
D&C 70, 78, 82, 92, 96, 104
Matthew C. Godfrey19 Novembro 2015

Newel K. Whitney

Desde o início da Restauração da Igreja, o Senhor deu tarefas a


Joseph Smith que exigiam meios materiais para serem realizadas.
Edificar comunidades de Sião exigia terra e recursos. Proclamar o
evangelho revelado ao mundo exigia acesso a uma gráfica. A Firma
Unida foi estabelecida para coordenar e financiar esses esforços
ambiciosos.

Em abril de 1834, Newel K. Whitney, o bispo da Igreja em Kirtland,


Ohio, e empresário importante, perdoou mais de 3.600 dólares em
dívidas com ele de várias pessoas, incluindo Joseph Smith, Sidney
Rigdon e Oliver Cowdery. As dívidas haviam se acumulado por mais
de dois anos enquanto esses homens trabalhavam juntos, em um
órgão administrativo chamado a Firma Unida, para dirigir e financiar
as operações materiais da Igreja. Agora, depois de dois anos
tumultuados, a Firma Unida seria dissolvida. “Joseph disse que era a
vontade do Senhor” que as contas fossem equilibradas “por completo,
sem qualquer valor a receber”, Whitney declarou. Whitney então disse
que atenderia ao pedido de Joseph.1
Desde o início da Restauração da Igreja, o Senhor deu tarefas a
Joseph Smith que exigiam meios materiais para serem realizadas.
Por exemplo, com a ajuda financeira de Martin Harris, o jovem profeta
publicou o Livro de Mórmon. Como a Igreja cresceu em números, a
abrangência de sua missão revelada cresceu também. Edificar
comunidades de Sião exigia terra e recursos. Proclamar o evangelho
revelado ao mundo exigia acesso a uma gráfica. A Firma Unida foi
estabelecida para coordenar e financiar esses esforços ambiciosos.

D&C 82 em JosephSmithPapers.org
Assim como estava presente na dissolução da Firma Unida, Newel K.
Whitney estava presente em sua criação. Como bispo, Whitney
participou de uma reunião de sumos sacerdotes em Kirtland em
março de 1832. Nessa reunião, o Profeta Joseph Smith recebeu uma
revelação (agora Doutrina e Convênios 78) que instruiu Joseph,
Sidney Rigdon e o Bispo Whitney a viajar para o Missouri para
supervisionar a formação de “uma organização dos empreendimentos
comerciais e editoriais de minha Igreja”.2 Na época, Sidney Gilbert,
um agente do Bispo Edward Partridge em Independence, Missouri,
tomava conta de uma loja em nome da Igreja e a loja de Whitney em
Kirtland também foi designada como um armazém da Igreja.

Além disso, William W. Phelps, tipógrafo da Igreja, tinha estabelecido


uma loja de impressão em Independence, onde imprimia um jornal e
se preparava para publicar uma compilação de revelações de Joseph
Smith em um livro chamado o Livro de Mandamentos. Para
supervisionar a publicação do Livro de Mandamentos, uma revelação
de novembro de 1831 — agora Doutrina e Convênios 70 — Joseph
Smith, Sidney Rigdon, Oliver Cowdery, John Whitmer, Martin Harris e
William W. Phelps foram designados “mordomos responsáveis pelas
revelações”, declarando que eles seriam compensados por seu
trabalho com os lucros das vendas do livro.3 Em março de 1832, o
Senhor disse a Joseph Smith e a outros que as operações do
estabelecimento de impressão e dos armazéns precisavam ser
coordenadas.

Durante a primeira semana de abril de 1832 — poucos dias depois


que uma multidão atacou Joseph Smith e Sidney Rigdon, o que levou
à morte do filho adotivo de Joseph, Joseph Murdock — Joseph Smith,
Newel K. Whitney, Sidney Rigdon e vários outros partiram para
Independence para cumprir esse mandamento.4 Em 26 de abril,
pouco depois de chegar ao Missouri, o Profeta convocou um conselho
de sumos sacerdotes. Nesta reunião, Sidney Rigdon leu a revelação
de março de 1832 ao conselho, declarando que a revelação
transmitiu “a razão pela qual fomos ordenados a vir a esta terra e nos
sentar aqui em conselho com os sumos sacerdotes”. Uma revelação
foi então dada a Joseph, ainda descrevendo o que eles deveriam
fazer.5

Essa revelação, em sua forma original, afirmou ser “conveniente” que


Joseph Smith, Sidney Rigdon, Newel K. Whitney, Edward Partridge,
Sidney Gilbert, John Whitmer, Oliver Cowdery, William W. Phelps e
Martin Harris “se unam, em vossas diversas mordomias, por um
vínculo e convênio que não se desfaça, para dirigir os
empreendimentos comerciais e editoriais e o que diz respeito aos
bispados, tanto na terra de Sião como na de Kirtland”.6 A revelação,
agora Doutrina e Convênios 82, também afirmou que essas nove
pessoas deveriam “ter os mesmos direitos sobre as propriedades,
para o benefício da administração dos negócios de vossas
mordomias”. Ela declarou que o Senhor designou esta “firma” para
ser “como firma eterna para vós e para vossos sucessores”.7

Além disso, a revelação disse aos homens para se “unir” por um


convênio “de acordo com as leis do país”.8 Essencialmente, esta
revelação afirmou que os membros da firma receberiam sustento para
si e suas famílias dos empreendimentos comerciais e editoriais os
quais foram ordenados a dirigir e que deveriam celebrar um acordo
legal que os uniriam em termos de suas obrigações com as dívidas
da firma.

O conselho se reuniu novamente no dia seguinte e ordenou que os


dois principais ramos da firma fossem Gilbert, Whitney & Co. (a
parceria comercial de Newel K. Whitney e Sidney Gilbert em
Independence) e N. K. Whitney & Co. (a empresa de Whitney em
Kirtland). Eles também nomearam Phelps e Gilbert para redigir o
acordo que os membros da firma precisavam fazer como instruídos
pela revelação.9 Apenas alguns dias depois, por volta de 1º de maio
de 1832, a Firma Unida realizou sua primeira reunião ordinária, com
todos os seus membros presentes, exceto Martin Harris. Nesta
reunião, Whitney e Gilbert foram “nomeados agentes para agir em
nome desta Firma” e a firma foi instruída a conseguir um empréstimo
de 15.000 dólares por meio da N. K. Whitney & Co.10
D&C 92 em JosephSmithPapers.org
Durante os dois anos seguintes, a Firma Unida desempenhou um
papel fundamental na administração da Igreja. Além de supervisionar
os armazéns do bispo e a gráfica, seus membros serviram como uma
junta de diretores de fato para Joseph Smith. Por exemplo, quando
Joseph, que permaneceu em Ohio, queria informações sobre o que
estava acontecendo em Missouri, onde a cidade de Sião estava
sendo estabelecida, ele enviava cartas aos membros da firma.11 Da
mesma forma, os ativos da firma tornaram-se essenciais para
financiar os projetos da Igreja e para prover os membros da firma e
suas famílias com o sustento material.

Em 1833, dois novos membros foram adicionados à firma, ambos por


revelação. Uma revelação de março de 1833 — agora Doutrina e
Convênios 92 — instruiu que Frederick G. Williams fosse recebido “na
ordem” e que fosse “um membro ativo”.12 Então, em junho de 1833,
outra revelação — agora Doutrina e Convênios 96 — ordena que
John Johnson “se torne membro da ordem, a fim de que ajude a levar
minha palavra aos filhos dos homens”.13 Williams, um membro da
presidência governante da Igreja, tinha grandes propriedades em
Ohio, assim como Johnson. A Firma Unida recorreu às propriedades
desses homens para administrar suas mordomias.

Newel K. Whitney, enquanto isso, continuou seu envolvimento com a


firma. Além de operar sua loja em Kirtland como um armazém da
Igreja, Whitney se tornou responsável pelos débitos devidos em um
grande terreno comprado em Kirtland, onde os líderes da Igreja
planejavam a construção da casa do Senhor.14 Por meio dos
recursos de sua loja, Whitney também forneceu financiamento e bens
para o sustento de Joseph Smith e outros, gerando as dívidas que ele
perdoaria em abril de 1834.

No entanto, a Firma Unida não estava bem financeiramente em 1834.


Quando os santos foram expulsos do Condado de Jackson, Missouri,
no outono de 1833, a Igreja perdeu dois componentes vitais da firma:
a gráfica de Phelps e o armazém de Gilbert. Além disso, a Firma
Unida tinha dívidas devido à compra de mercadorias para os
armazéns, uma nova gráfica em Kirtland e terras para o
desenvolvimento de Kirtland.

Em 11 de janeiro de 1834, seis membros da ordem, incluindo


Whitney, oraram para que o Senhor “proporcionasse, de acordo com
Sua Providência, meios suficientes ao bispo da Igreja para pagar
todas as dívidas que a Firma dev[ia], no devido tempo”.15 Mas em
abril de 1834, Whitney observou que ele tinha 8.000 dólares em
dívidas por causa de sua função na firma. Ele precisava de pelo
menos 4.000 dólares naquele mês para ajudar a pagar as dívidas e o
saldo precisava ser pago até setembro de 1834.16 Diante deste
quadro financeiro desolador, o Profeta Joseph realizou uma reunião
da Firma Unida em 10 de abril de 1834, durante a qual foi decidido
que “a firma deveria ser dissolvida e que suas mordomias fossem
entregues a eles”.17

D&C 104 em JosephSmithPapers.org


Menos de duas semanas depois, em 23 de abril de 1834, o Senhor
deu a Joseph Smith uma revelação — agora Doutrina e Convênios
104 — que designou essas “mordomias” a diferentes membros da
firma. As mordomias eram partes específicas de propriedades sobre
as quais cada membro da firma era responsável. Por exemplo, a
Newel K. Whitney coube suas casas e a loja, os terrenos onde se
localizavam e o terreno onde ficava a fábrica de potassa. Outros
receberam terrenos e edifícios que ficavam em imóveis de
propriedade de Frederick G. Williams e John Johnson.18 Embora a
própria revelação tenha indicado que a Firma Unida iria continuar
depois desta distribuição de mordomias e de sua reorganização, ela
basicamente deixou de funcionar depois disso. Em vez disso, o sumo
conselho de Kirtland, formado em fevereiro de 1834, assumiu o papel
de governar os esforços comerciais e editoriais da Igreja.19

Em edições posteriores de Doutrina e Convênios, a Firma Unida foi


chamada de “Ordem Unida” e codinomes foram colocados no lugar
dos nomes dos participantes. Além disso, a linguagem sobre o
propósito da firma foi alterada para que se referisse mais vagamente
a atender as necessidades dos pobres. Isto foi feito para proteger a
identidade das pessoas envolvidas na firma e para manter suas
finalidades confidenciais. O nome das pessoas foi restaurado nas
revelações na década de 1980, mas a firma é ainda chamada de
Ordem Unida na edição de 2013 de Doutrina e Convênios.20

A participação de Newel K. Whitney na Firma Unida o deixou com


muitas dívidas, mas ele nunca mostrou qualquer amargura a Joseph
Smith ou ao Senhor por causa disso. Whitney não registrou seus
sentimentos sobre perdoar a grande soma de 3.600 dólares, mas o
seu perdão das dívidas demonstrou sua vontade de seguir o Profeta
mesmo em assuntos temporais. Seu papel na firma deu-lhe a
oportunidade de trabalhar em estreita colaboração com Joseph Smith
e outros líderes da Igreja para proporcionar à Igreja meios para
cumprir sua missão. A Firma Unida desempenhou um papel essencial
na administração da Igreja de 1832 a 1834, exatamente como
Whitney desempenhou um papel primordial na própria firma.

Notas de rodapé
[1] “Balance of Account, 23 de abril de 1834”, josephsmithpapers.org.
[2] “Revelation, 1º de março de 1832 [D&C 78]”, p. 1, josephsmithpapers.org;
ver também Doutrina e Convênios 78:3–4, pp. 9–11. Quando essa revelação
foi publicada na edição de 1835 de Doutrina e Convênios, “a organização dos
empreendimentos comerciais e editoriais” foi alterada para “organização de
meu povo, para regulamentar e estabelecer os negócios do armazém para os
pobres de meu povo”. Esse texto permanece na revelação atual
[3] “Revelation, 12 de novembro de 1831 [D&C 70]”, em Revelation Book 1, p.
124, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 70:1–8.
[4] Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume A-1 [23 de dezembro de
1805–30 de agosto de 1834]”, p. 209, josephsmithpapers.org.
[5] Minutes, 26–27 de abril de 1832, em Minute Book 2, pp. 24–25,
josephsmithpapers.org.
[6] “Revelation, 26 de abril de 1832 [D&C 82]”, em Revelation Book 1, p. 128,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 82:11–12. Quando
essa revelação foi publicada na edição de 1835 de Doutrina e Convênios, o
texto “para dirigir os empreendimentos comerciais e editoriais e o que diz
respeito ao bispado” foi alterado para “para dirigir os negócios dos pobres e
todas as coisas que dizem respeito ao bispado” e assim permanece na
revelação atual.
[7] “Revelation, 26 de abril de 1832 [D&C 82]”, em Revelation Book 1, p. 129,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 82:17, 20. Observe
que “firma” foi alterada para “ordem” na edição de 1835 de Doutrina e
Convênios e permanece “ordem” na edição atual de Doutrina e Convênios.
[8] “Revelation, 26 de abril de 1832 [D&C 82]”, em Revelation Book 1, p. 129,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 82:15.
[9] Minutes, 26–27 de abril de 1832, em Minute Book 2, p. 25,
josephsmithpapers.org.
[10] Minutes, cerca de 1º de maio de 1832, em Minute Book 2, p. 26,
josephsmithpapers.org.
[11] Ver, por exemplo, Joseph Smith, “Letter to Edward Partridge and Others,
30 de março de 1834”, em Oliver Cowdery Letterbook, pp. 30–38,
josephsmithpapers.org.
[12] “Revelation, 15 de março de 1833 [D&C 92]”, em Revelation Book 2, p.
55; ver também Doutrina e Convênios 92:1–2. Observe que “firma” foi
alterada para “ordem” quando esta revelação foi publicada e continua assim
hoje.
[13] “Revelation, 4 de junho de 1833 [D&C 96]”, em Revelation Book 2, p. 61,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 96:6–8. Observe
que “firma” foi alterada para “ordem” quando essa revelação foi publicada e
continua assim hoje.
[14] Ver Geauga Co., Ohio, Deed Records, 1795–1921, vol. 17, pp. 360–361,
microfilme 20.237, Coleção de Registro dos Estados Unidos e do Canadá,
Biblioteca de História da Família, Salt Lake City; ver também “Revelation, 27–
28 de dezembro de 1832 [D&C 88:1–126]”, em Revelation Book 2, pp. 45–46,
josephsmithpapers.org; Doutrina e Convênios 88:119.
[15] “Prayer, 11 de janeiro de 1834”, em Joseph Smith, Journal, novembro de
1832–dezembro de 1834, pp. 43–45, josephsmithpapers.org.
[16] Newel K. Whitney, “Order from Newel K. Whitney, 18 de abril de 1834”,
josephsmithpapers.org.
[17] Joseph Smith, “Journal, 1832–1834”, 10 de abril de 1834, página 71,
josephsmithpapers.org.
[18] “Revelation, 23 de abril de 1834 [D&C 104]”, em Book of Commandments
Book C, pp. 25–29, josephsmithpapers.org.
[19] Ver Max H Parkin, “Joseph Smith and the United Firm: The Growth and
Decline of the Church’s First Master Plan of Business and Finance, Ohio and
Missouri, 1832–1834”, BYU Studies, vol. 46, nº 3, 2007, pp. 33–34.
[20] David J. Whittaker, “Substituted Names in the Published Revelations of
Joseph Smith”, BYU Studies, vol. 23, nº 1 (Winter 1983), pp. 103–112.
‘A Visão’
D&C 76
Matthew McBride11 Março 2013

John Johnson em sua casa, em Hiram, Ohio

Um vislumbre da eternidade mostrado a Joseph Smith e Sidney


Rigdon em 1832 impactou tão fortemente a Igreja que se tornou
conhecido simplesmente como “A Visão”.

Enquanto viajavam para o leste em uma missão durante o início da


primavera de 1832, Samuel H. Smith e Orson Hyde pararam para
jantar na casa do recém-converso Lincoln Haskins.1 Haskins, que
vivia no extremo oeste de Nova York, acabara de voltar de uma
viagem a Ohio, onde conheceu Joseph Smith.2 O momento da visita
de Haskins a Kirtland e Hiram foi providencial: apenas alguns dias
antes, o profeta e Sidney Rigdon haviam recebido uma visão
memorável.

‘Coisas Grandes e Maravilhosas’


Haskins deve ter ouvido sobre a visão de Joseph de um dos poucos
homens que estavam presentes quando ela ocorreu em 16 de
fevereiro na casa de John Johnson em Hiram. Joseph Smith e Sidney
Rigdon estavam trabalhando em uma revisão do Novo Testamento.
Revelações anteriores deixaram “evidente que muitos pontos
importantes, relativos à salvação do homem, tinham sido retirados da
Bíblia”. De acordo com a história de Joseph, eles estavam refletindo
sobre o significado de uma passagem sobre a ressurreição
encontrada em João 5:29, quando “o Senhor tocou os olhos do nosso
entendimento” e tiveram a visão.3

“Nenhum som se ouviu, nem pessoa alguma se moveu, exceto


Joseph e Sidney”, relembra Philo Dibble, um dos presentes. “Vi a
glória e senti o poder, mas não tive a visão.”4 Dibble e cerca de doze
outros ouviram quando Joseph Smith e Sidney Rigdon descreveram
em voz alta o que viram.
“A Visão”, como se tornou conhecida, continha uma arrebatadora
descrição do que aguardava a humanidade após a morte. Ela
delineava diferentes graus de glória divididos em três reinos como a
herança para a grande maioria dos filhos de Deus; revelou que o
castigo eterno seria o destino de apenas alguns poucos; e explicou
que os justos receberiam a plenitude do Pai: “Portanto, como está
escrito, eles são deuses, sim, os filhos de Deus [e] todas [as coisas]
são deles.”5(ver D&C 76:58).
D&C 76 em JosephSmithPapers.org
Haskins compartilhou seu júbilo sobre essa grande visão com seus
convidados durante uma visita à casa dele. “Ele nos disse que tinha
visto Joseph e Sidney, e que tiveram uma visão e que tinham visto
coisas grandes e maravilhosas”, Samuel Smith escreveu em seu
diário.6

Poucos dias após sua visita a Haskins, os missionários “tiveram o


privilégio de ler” um relato por escrito da “Visão” quando se
encontraram com Seth e Joel Johnson, dois membros da Igreja que
levavam uma preciosa cópia manuscrita, que haviam feito em
Kirtland.7 Essas conversas demonstram o entusiasmo com que
alguns dos primeiros conversos trataram “A Visão”. Mas nem todos
compartilhavam de seu entusiasmo.

Universalismo
A doutrina da vida após a morte colocada em “A Visão” diferia
drasticamente das crenças da maioria dos cristãos, na época. A
maioria acreditava na estrita teologia de céu e inferno do mundo
vindouro: os obedientes ao evangelho de Jesus Cristo seriam salvos,
mas os iníquos seriam condenados ao castigo eterno.8 No entanto,
havia um número crescente que se sentia que essa ideia de céu e
inferno era inconsistente com outros ensinamentos bíblicos sobre a
misericórdia, justiça e poder de Deus, para salvar.

Por exemplo, um jovem congregacionista chamado Caleb Rich sentiu-


se incomodado quando seu ministro ensinou que o Cristo teria alguns
meros “troféus de sua missão para o mundo, enquanto seu
antagonista teria incontáveis milhões de pessoas”. Rich temia que
sua própria “situação [espiritual] parecesse mais incerta do que um
bilhete de loteria”.9 Ele, por fim, rejeitou a doutrina de seu ministro e
abraçou o que é conhecido como o Universalismo. Simplificando, os
universalistas acreditavam que Deus não puniria eternamente os
pecadores, mas que todos, por fim, seriam salvos no reino de Deus.
O pai de Joseph Smith e seu avô Asael Smith tinham opiniões
universalistas.10

A maioria dos cristãos sentia que o universalismo havia chegado


muito longe, que seu ensino da salvação universal tirava todos os
incentivos para guardar os mandamentos de Deus e levaria para uma
vida dissoluta e imoral. Muitos dos primeiros conversos à igreja
concordaram e podem ter sentido a confirmação de sua opinião por
meio de certas passagens do Livro de Mórmon.11 No entanto, “A
Visão” parecia defender os ensinamentos universalistas para alguns
desses conversos. Consequentemente, quando pessoas como
Lincoln Haskins, Joel e Seth Johnson começaram a levar a palavra da
“Visão” para os ramos dispersos da Igreja, houve certa agitação.
‘Muitos Tropeçaram Nela’
Alguns observadores de fora zombavam da doutrina recém-revelada.
Um jornal cristão reagiu à “Visão” sarcasticamente alegando que
Joseph Smith procurava “desgraçar o Universalismo por professar
(…) a salvação de todos os homens”.12 Mas ainda mais
desconcertante ao profeta foram as reações de alguns membros da
Igreja.

“Foi uma grande provação para muitos”, lembrou Brigham Young.


“Alguns apostataram porque Deus (…) tinha um lugar de salvação, no
devido tempo, para todos”.13 O próprio Young teve dificuldade para
aceitar a ideia: “Minhas tradições eram tais que, quando a Visão
chegou até mim em primeiro lugar, era tão diretamente contrária e
oposta à minha educação, que eu disse: ‘Espere um pouco; não a
rejeitei, mas eu não consegui entendê-la”.14 Seu irmão Joseph Young
também confessou, “Eu não conseguia acreditar no início. Por que o
Senhor salvaria a todos?”15

Talvez em uma reação instintiva ao que parecia ser resquícios do


universalismo, alguns membros antigos negligenciaram a beleza sutil
da “Visão”. Evitando os extremos do Universalismo e a opinião
ortodoxa de céu e inferno, ela sugeriu que o sofrimento dos
desobedientes de fato, teria um fim, mas que o Senhor também
estendeu a promessa de recompensas inimagináveis para aqueles
que são “valentes no testemunho de Jesus” (ver D&C 76:79).
“Quando a Visão chegou até mim em primeiro lugar, era tão
diretamente contrária e oposta à minha educação, que eu disse:
‘Espere um pouco; não a rejeitei, mas eu não consegui entendê-la. ”
Muitos daqueles que “tropeçaram” simplesmente precisavam de
algum tempo para ponderar, ou que um paciente líder espiritual ou
missionário explicasse. Joseph Young lembrou-se, “Depois de orar
sobre ela e Joseph ter-me explicado, pude ver que não era nada,
senão o bom senso que acompanha o poder de Deus”.16 Brigham
Young teve de “pensar e orar, ler e pensar, até que soubesse e o
compreendesse plenamente por [si] mesmo”.17

Em maio ou junho de 1832, o missionário John Murdock encontrou


resistência às ideias de “A Visão”, em Orange, estado de Ohio (perto
de Cleveland): “Os irmãos tinham acabado de receber a revelação
chamada de a visão e estavam tropeçando nela”. Murdock fez o papel
de mentor espiritual: “Eu os reuni e confirmei a eles a verdade”.18

Mais tarde, Murdock e seu companheiro missionário Orson Pratt


encontraram um certo irmão Landen em Geneseo, Nova York, que
“disse que a visão era do diabo”. Landen havia influenciado seu ramo
para que também rejeitasse a nova revelação. Os missionários
passaram alguns dias com o ramo. “O irmão Orson liderou a
explicação da Visão e de outra revelação, seguido de mim e do irmão
Lyman”, escreveu Murdock. Landen logo “reconheceu que o que
ensinávamos era verdadeiro”.19

Joseph Smith enviou uma carta para o ramo de Geneseo, exortando-


os a ter fé na revelação. Ele advertiu: “Quando há contendas e
descrença sobre coisas sagradas comunicadas aos santos por meio
de revelação, a discórdia, dureza, ciúmes, e males inumeráveis
inevitavelmente serão um problema”.20

‘Permanecer em Silêncio’
O profeta aprendeu com essa experiência o quanto poderia ser frágil
o testemunho de muitos novos conversos e aconselhou os
missionários a fazer uma abordagem ‘leite-antes-da-carne’ para
ensinar os princípios do evangelho (I Coríntios 3:2). Antes da sua
partida para a Inglaterra, ele exortou os Doze Apóstolos a
“permanecer em silêncio quanto à coligação, a visão e o livro de
Doutrina e Convênios, até que o trabalho estivesse plenamente
estabelecido”.21No entanto, para alguns membros, foi difícil conter o
entusiasmo sobre a nova revelação.

Heber C. Kimball, repetindo o conselho de Joseph Smith, incentivou


seus companheiros missionários a manter os princípios introdutórios
do evangelho. Kimball havia ajudado a converter um ministro, Timothy
Matthews, em Bedford, Inglaterra e marcou uma entrevista para o
batismo. Mas outro Élder, John Goodson, “contrário a meus
conselhos e instruções positivas, e sem avisar a qualquer um, leu
para o Sr. Matthews, a visão (…) o que fez com que ele tropeçasse”.
Matthews não manteve seu compromisso e nunca se filiou à Igreja.22

‘Isso Veio de Deus’


Enquanto alguns membros da Igreja tinham dificuldade para aceitar
“A Visão”, muitos a abraçaram sem reservas. William W. Phelps,
gráfico da Igreja no Missouri, publicou-a no jornal da Igreja The
Evening and The Morning Star em julho de 1832 chamando-a de “a
maior notícia já publicada para o homem”.23

Wilford Woodruff, um converso de 1833, relembrou: “Ao ler a visão,


(…) ela iluminou minha mente e deu-me grande alegria. Parecia-me
que o Deus que revelou esse princípio ao homem era sábio, justo e
verdadeiro — tinha o melhor de dois atributos, bom senso e
conhecimento. Eu sentia que era condizente com tanto amor,
misericórdia, justiça e julgamento; e senti que amava o Senhor mais
do que nunca em minha vida”.24

Talvez alguns dos que aceitaram “A Visão” tivessem uma


predisposição devido a suas crenças anteriores.25 Alguns, como o pai
de Joseph Smith, podem ter tido inclinações universalistas. Mas
enquanto esta nova visão compartilhava algumas semelhanças com o
pensamento e escritos dos universalistas, ela se distanciava deles e
expandia essas ideias de maneiras novas e inspiradas. A história de
Joseph Smith conclui: “Nada poderia ser mais agradável para um
santo (…) que a luz que irrompeu no mundo, por meio da visão
mencionada. (…) A natureza sublime das ideias; a pureza da
linguagem; a liberdade de ação; a busca contínua por perfeição, de
forma que os herdeiros da salvação poderiam confessar-se ao
Senhor e dobrar seus joelhos; as recompensas pela fidelidade e a
punição pelos pecados, encontram-se tão além da pequena mente
dos homens, que todo homem honesto é compelido a
exclamar: Isso veio deDeus”.26

Para mais informações sobre as seções mencionadas nesse artigo, ver o


próximo volume, Matthew C. Godfrey, Mark Ashurst-McGee, Grant
Underwood, J. Robert. Woodford, William G. Hartley, eds. Documentos,
Volume II: julho 1831-janeiro de 1833. Vol. II de Documentos da série The
Joseph Smith Papers , editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e
Richard Lyman Bushman. Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2013.

Notas de rodapé
[1] Orson Hyde, Diário, 21 de março de 1832.
[2] Enquanto estava em Ohio, Haskins foi batizado e tornou-se o assunto de
uma revelação em que foi ordenado a “sair e proclamar meu evangelho”. Ver
Revelação, 27 de fevereiro de 1832, Joseph Smith Papers.
[3] História, 1838-1856, volume A-1, pp. 183, 185, JSP.
[4] Philo Dibble, “Recollections of the Prophet Joseph Smith”, Juvenile
Instructor vol. 27, nº 10, 15 de maio de 1892, pp. 303–304. Este relato foi o
último dos três que Dibble deu sobre “a Visão”, e ela difere um pouco de suas
versões anteriores. Em um relato anterior, afirmava que não havia chegado
até que a visão estivesse terminando. Ver Ala Payson (UT), Atas Gerais,
“Record of Sunday Meetings”, 7 de janeiro de 1877, p. 137.
[5] Visão, 16 de fevereiro de 1832, JSP.
[6] Samuel H. Smith, Diário, 21 de março de 1832.
[7] Samuel H. Smith, Diário, 27 de março de 1832.
[8] A “Confissão de Westminster”, que serviu de base para a crença ortodoxa
da maioria dos primeiros americanos, declara que, após o julgamento, “os
justos irão para a vida eterna e receberão essa plenitude de alegria e
refrigério, que virá da presença do Senhor; mas os iníquos que não
conhecem Deus e não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, serão
lançados em tormentos eternos e serão punidos com a destruição eterna”.
[9] Caleb Rich citado em Nathan O. Hatch, The Democratization of American
Christianity, New Haven, Connecticut.: Yale University Press, 1989, p. 172.
Para mais informações sobre o Universalismo ver Milton V.
Backman, American Religions and Rise of Mormonism, Salt Lake City:
Deseret Book Company, 1970, pp. 216–223.
[10] Ver Casey Paul Griffiths, “Universalism and the Revelations of Joseph
Smith”, em The Doctrine and Covenants, Revelations in Context: The 37th
Annual Brigham Young University Sidney B. Sperry Symposium, ed. por
Andrew H. Hedges, J. Spencer Fluhman, e Alonzo L. Gaskill, Provo, Utah:
Brigham Young University, 2008, pp. 168–187.
[11] Por exemplo, em Alma, um homem chamado Neor é condenado por
ensinar “que toda a humanidade seria salva no último dia” (Alma 1:4).
[12] “Changes of Mormonism”, Evangelical Magazine and Gospel
Advocate vol. 3, nº11, 17 de março de 1832. Ênfase no original.
[13] Brigham Young, 18 de maio de 1873, Journal of Discourses, Londres:
Latter-Day Saints’ Book Depot, 1854 a 1886, vol. 16, p. 42.
[14] Brigham Young, 29 de agosto de 1852, em Journal of Discourses,
Londres: Latter-day Saints’ Book Depot, 1854 a 1886, vol. 6, p. 281.
[15] Joseph Young, “Discourse”, Deseret Weekly News, 18 de março de 1857,
p. 11.
[16] Joseph Young, “Discourse”, Deseret Weekly News, 18 de março de 1857,
p. 11.
[17] Brigham Young, 29 de agosto de 1852, em Journal of Discourses,
Londres: Latter-day Saints’ Book Depot, 1854 e 1886, vol. 6, p. 281.
[18] Diário de John Murdock (1830-1833), manuscrito, Biblioteca de História
da Igreja, p. 18.
[19] Diário de John Murdock (1830-1833), manuscrito, Biblioteca de História
da Igreja, pp. 27-29. No mês de janeiro seguinte (1834), Landen deixou a
Igreja por causa da “Visão”. Ver Elden Watson ed., The Orson Pratt Journals,
Salt Lake City: Elden Jay Watson, 1975, pp. 35–36.
[20] Carta de Joseph Smith a todos, Carta para “Dear Beloved Brethren [os
Amados Irmãos]”, 23 de novembro de 1833, JSP.
[21] História, 1838-1856, volume B-1, p. 762, JSP.
[22] Orson F. Whitney, Life of Heber C. Kimball, Salt Lake City: Juvenile
Instructor, 1888, p. 162. Kimball escreveu a Willard Richards, “O coração das
pessoas está fechado em Bedford, e pelo fato do Élder Goodson estar
pregando essas coisas, foi ordenado que os deixasse em paz” (72).
[23] “Items for the Public”, The Evening and the Morning Star 1, nº 2, julho de
1832, p. 25. A “Visão” em si está publicada nas páginas 27–30.
[24] Wilford Woodruff, 9 de abril de 1857, em Journal of Discourses, Londres:
Latter-Day Saints’ Book Depot, 1854-1886, vol. 5, p.84.
[25] Alexander Campbell, um líder dos discípulos de Cristo (um movimento ao
qual muitos primeiros conversos de Ohio eram anteriormente afiliados)
explicou a teoria dos “Três Reinos” alguns anos antes em The Christian
Baptist 6, nº 1, 4 de agosto de 1828, pp. 97– 99. As ideias de Campbell
tinham apenas uma vaga semelhança com aquelas contidas na “Visão”, mas
podem ter combinado com as ideias de alguns dos antigos seguidores de
Campbell. Ver Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The Historical
Settings of Joseph Smith’s Ohio Revelations, Salt Lake City: Greg Kofford
Books, 2009, pp. 322-328. Campbell pode ter sido influenciado pelos escritos
do sueco místico, Emanuel Swedenborg. Ver J. B. Haws, “Joseph Smith,
Emanuel Swedenborg, and Section 76: Importance of the Bible in Latter-day
Revelation,” em The Doctrine and Covenants, Revelations in Context: The
37th Annual Brigham Young University Sidney B. Sperry Symposium, ed. por
Andrew H. Hedges, J. Spencer Fluhman, and Alonzo L. Gaskill, Provo, Utah:
Brigham Young University, 2008, pp. 142-167.
[26] História, 1838–1856, volume A-1, p. 192, JSP.
Jesse Gause: Conselheiro do Profeta
D&C 81
Robin Scott Jensen8 Junho 2015

Quando D&C 81 foi preparada para ser publicada, o nome de Frederick G.


Williams foi substituído pelo de Jesse Gause. Imagem cortesia da Igreja SUD

Doutrina e Convênios 81 pode ser lida hoje em dia não apenas como
uma revelação a um dos primeiros membros da Igreja, mas, também,
como conselho para qualquer pessoa que esteja disposta a apoiar o
profeta.

A Igreja primitiva passou por mudanças significativas em sua


organização em um período de tempo relativamente curto. Muitas
dessas mudanças podem ser percebidas ao lermos as revelações
dadas a pessoas específicas em Doutrina e Convênios. Para os
leitores modernos, algumas das antigas revelações fazem referência
às organizações ou pessoas pouco conhecidas. Uma dessas
revelações, dada no dia 15 de março de 1832 (agora Doutrina e
Convênios 81), foi dada a uma figura relativamente desconhecida na
história da Igreja: Jesse Gause.1 Nascido em 1784, Jesse Gause foi
criado na Pensilvânia e morou por um tempo em Delaware. Ele se
juntou à Sociedade dos Amigos (os Quakers) em 1806, casou-se com
Martha Johnson em 1815 e se mudou para Ohio no ano seguinte.
Cinco anos depois ele voltou a Delaware. Após a morte de sua
primeira esposa, em 1828, ele se mudou para perto de sua família,
que era membro da United Society of Believers in Christ‘s Second
Appearing [Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Aparição de
Cristo] (Shakers), para ter auxílio na criação dos filhos. Em 1829, ele
já havia se unido aos Shakers. Ele se casou novamente em 1830,
com Minerva Eliza Byram, e se estabeleceu em uma comunidade
Shaker em North Union, Ohio, a apenas 24 quilômetros de Kirtland,
Ohio.2

Exatamente quando Jesse foi batizado não se sabe, mas ele


rapidamente ganhou a confiança de Joseph Smith e tornou-se
importante na Igreja. No dia 8 de março de 1832, em Hiram, Ohio,
Gause e Sidney Rigdon foram designados conselheiros de Joseph
Smith na recém-formada presidência do sumo sacerdócio.3 A
autonomeação de Joseph como presidente do sumo sacerdócio
ocorreu em janeiro.4 Essa presidência foi a precursora da Primeira
Presidência da Igreja.

Gause não só atuou como conselheiro de Joseph Smith, mas também


serviu missão, viajou a Missouri para cuidar dos negócios da Igreja e
serviu como escrevente no projeto de revisão da Bíblia, mais tarde
conhecido como Tradução de Joseph Smith. Assim como muitos
outros membros da Igreja primitiva, ele demonstrou sua dedicação à
sua nova fé por meio de seu empenho em ajudar a causa de Sião.

Sidney Rigdon, que havia sido batizado em Ohio no final de 1830 e


servido como escrevente para Joseph Smith, já havia sido o assunto
e o recebedor de várias revelações. A revelação que agora é
conhecida como Doutrina e Convênios 81, entretanto, foi a primeira
dirigida a Jesse Gause diretamente. Embora não se saiba ao certo se
Gause pediu especificamente uma revelação a Joseph Smith, o texto
dá importantes esclarecimentos sobre os deveres de Gause, não
apenas como membro da Igreja, mas como conselheiro de Joseph
Smith.
A revelação informou Gause (e os futuros leitores) de que as “chaves
do reino” pertencem ao ofício da presidência do sumo sacerdócio —
nesse caso, o próprio Joseph Smith. Ela também disse que Gause
seria abençoado se fosse “fiel no conselho, no cargo” para o qual ele
foi designado.

Foi dito a Gause que “[fizesse] o maior dos bens a teus semelhantes”,
incluindo orar em público e pregar o evangelho aos membros e não
membros igualmente. Isso, foi dito a ele, “[promoveria] a glória
daquele que é teu Senhor”. E, se ele permanecesse “fiel até o fim”,
receberia uma “coroa de imortalidade”.5
D&C 81 em JosephSmithPapers.org
Talvez de modo surpreendente, Gause foi excomungado da Igreja
menos de um ano após a revelação admoestá-lo a perseverar até o
fim.6 A falta de informações sobre ele nos registros históricos após
sua missão com Zebedee Coltrin, em agosto de 1832, torna difícil
entender por que ele saiu.7Devido à sua experiência anterior com os
Quakers e os Shakers, é possível que ele tenha tido divergências
teológicas com Joseph Smith ou outros membros da Igreja,
principalmente enquanto Joseph continuava a atualizar a doutrina da
Igreja por meio de revelações.
Os leitores modernos de Doutrina e Convênios 81 verão o nome de
Jesse Gause somente no cabeçalho da seção. Na época em que a
revelação foi publicada, na edição de 1835 de Doutrina e Convênios,
o nome de Gause havia sido trocado pelo nome do homem chamado
para substituí-lo: Frederick G. Williams. As edições subsequentes de
Doutrina e Convênios mantiveram Williams como o recebedor da
revelação. Williams, que substituiu Gause como conselheiro, em
janeiro de 1833, tinha sido um dos primeiros conversos e apoiadores
de Joseph Smith. Assim como Gause e Rigdon, Williams também
atuou como escrevente e secretário de Joseph Smith.

Os registros escritos das primeiras revelações de Joseph Smith


sofreram alterações quando os primeiros líderes da Igreja prepararam
esses textos reveladores para serem publicados em Doutrina e
Convênios em 1835.8 As alterações foram lógicas porque algumas
revelações não refletiam mais a atual situação da organização da
Igreja ou do entendimento doutrinário. Quando os editores
preparavam as revelações para a impressão, eles provavelmente
viram a revelação em Doutrina e Convênios 81 não apenas como um
conselho a uma pessoa específica, mas como uma revelação geral a
um conselheiro que apoiava Joseph Smith. E, como Jesse Gause
havia deixado a Igreja, é compreensível que os editores tenham
substituído o nome dele pelo de Williams.
De certo modo, as primeiras revelações eram registros de um
momento específico, mostrando aos leitores modernos uma janela
para a maneira como a revelação contínua moldou a Igreja primitiva.
De outro modo, as revelações têm muitas aplicações. Doutrina e
Convênios 81 pode ser lida hoje em dia não apenas como uma
revelação a um dos primeiros membros da Igreja, mas também como
conselho para qualquer pessoa que esteja disposta a apoiar o
profeta.

Notas de rodapé
[1] O nome da pessoa que recebeu essa revelação foi mudado mais tarde.
Ver debate abaixo.
[2] Ver Erin B. Jennings, “The Consequential Counselor: Restoring the Root(s)
of Jesse Gause”, Journal of Mormon History, vol. XXXIV, nº 2 (Spring 2008),
p. 182.
[3] Joseph Smith, “Note, 8 March 1832”, josephsmithpapers.org; Matthew C.
Godfrey, Mark Ashurst-McGee, Grant Underwood, Robert J. Woodford e
William G. Hartley, eds., Documentos, Volume II: julho de 1831–janeiro de
1833, vol. II da série de Documentos The Joseph Smith Papers, ed. Dean C.
Jessee, Ronald K. Esplin, Richard Lyman Bushman e Matthew J. Grow (Salt
Lake City: Church Historian’s Press, 2013), p. 201.
[4] As atas da conferência de janeiro de 1832 não foram preservadas. Ver
“Minutes, 26–27 April 1832”, josephsmithpapers.org.
[5] Revelation, 15 March 1832 [D&C 81]”,
josephsmithpapers.org; Documentos, Volume II: julho de 1831–janeiro de
1833, p. 207.
[6] Joseph Smith, “Journal, 1832–1834”, 3 de dezembro de 1832,
josephsmithpapers.org; Dean C. Jessee, Mark Ashurst-McGee e Richard L.
Jensen, eds., Journals, Volume I: 1832–1839, vol. I dos Diários da série The
Joseph Smith Papers, ed. Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman
Bushman (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2008) p. 10.
[7] Zebedee Coltrin journal, pasta 0002, imagem 41, Biblioteca de História da
Igreja, Salt Lake City.
[8] Veja a introdução histórica de “Doctrine and Covenants, 1835”,
josesmithpapers.org; ver também Robin Scott Jensen, Richard E. Turley Jr., e
Riley M. Lorimer, eds., Revelações e Traduções, Volume II: Revelações
Publicadas, vol. II da série Revelações e Traduções de The Joseph Smith
Papers, ed. Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman
(Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2011), p. 301.
Paz e Guerra
D&C 87
Jed Woodworth28 Abril 2016

A resolução pacífica de Andrew Jackson da Crise de Nulificação


agradou a todos, mas deve ter deixado Joseph intrigado. Ele e outras
pessoas provavelmente esperavam o cumprimento de sua profecia do
dia de Natal que falava em uma guerra que começaria em 1833.

Alguns dias antes do Natal de 1832, os santos dos últimos dias em


Kirtland vieram do ar frio e úmido para sentar-se à luz e ao calor do
fogo. Ao abrir o jornal local, o Painesville Telegraph, encontraram
notícias alarmantes. Mil cento e trinta quilômetros ao sul, o legislativo
da Carolina do Sul, um estado dos Estados Unidos, havia declarado
“nulas” as tarifas colocadas pelo governo federal nos produtos
importados. Essa medida criou a “crise de nulificação” que desafiava
o direito do governo federal de impor suas próprias leis. Uma guerra
era iminente.1

Essas tarifas haviam sido estabelecidas para proteger as fábricas dos


estados do norte contra a competição estrangeira. Os fazendeiros do
sul achavam que isso era injusto. Por que eles deveriam pagar mais
por produtos que a região deles não produzia?2 Andrew Jackson, o
presidente dos Estados Unidos, emitiu uma proclamação na qual
advertia que a rejeição da Carolina do Sul às tarifas federais era um
ato de rebelião que poderia acabar em derramamento de sangue. A
Carolina do Sul respondeu prontamente preparando-se para a
guerra.3 Parecia que eles não estavam considerando uma
conciliação. Os relatos lidos pelos moradores de Kirtland mostravam
que uma guerra era iminente: “Deixe um ameaçador federal furar com
baioneta o brilho de nossas fronteiras”, lia-se em um relato e será
uma “guerra de soberanos”.4

A Revelação do Dia de Natal

D&C 87 em JosephSmithPapers.org
Joseph Smith acompanhou esse conflito de perto pelos jornais que
passavam por Kirtland. Ele anexou uma nota em sua história sobre o
povo da Carolina do Sul “declarando seu estado, uma nação livre e
independente” e a “proclamação contra a rebelião” feita pelo
Presidente Jackson.5 E depois, seguindo essas linhas, Joseph inseriu
o que ele chamou de “uma profecia sobre guerra”, uma revelação que
ele ditou para seu secretário Frederick G. Williams no dia de Natal de
1832, apenas alguns dias depois de as notícias alarmantes
aparecerem nos jornais de Kirtland. A revelação está registrada em
Doutrina e Convênios 87.

Sem nem mesmo mencionar o nome do Presidente Jackson, a


profecia sobre a guerra tornou as promessas condicionais do
presidente inevitáveis. O Presidente Jackson havia predito que um
conflito armado aconteceria se a Carolina do Sul continuasse a insistir
em sua soberania. De acordo com o Presidente Jackson, a Carolina
do Sul havia dito por meio de suas ações: “A paz e a prosperidade
nós vamos estragar; essas relações livres nós vamos interromper;
esses campos férteis serão inundados com sangue”.6 Mas se a
Carolina do Sul desistisse, a inundação poderia ser evitada. Na
profecia de Joseph Smith, entretanto, o derramamento de sangue era
uma conclusão passada. “As guerras que logo ocorrerão, a começar
pela rebelião da Carolina do Sul”, dizia a revelação, “por fim,
terminará com a morte e sofrimento de muitas almas”.7 A revelação
não previa uma resolução pacífica.

Destruição não era um tema novo nas revelações de Joseph Smith. O


Senhor já havia advertido sobre uma época em que a fome, a
pestilência e as tempestades sobreviriam sobre os habitantes do
mundo.8 As revelações ensinavam que grande destruição precederia
a Segunda Vinda do Senhor, e a frequência das referências à
destruição nas revelações induziu muitos santos dos últimos dias a
concluir que a Segunda Vinda deveria ser iminente.9

Doutrina e Convênios 87 apenas aumentou as expectativas de que a


Segunda Vinda não estava longe. Outras revelações localizavam a
destruição em um local e tempo indeterminado: A destruição
aconteceria “antes desse grande dia”, referindo-se à Segunda Vinda
ou ocorreria entre “todas as nações”.10 Guerras e rumores de guerra
estariam “em vossa própria terra”, diziam as revelações e “em terras
estrangeiras”.11 Doutrina e Convênios 87, por outro lado, falava de
destruição em locais e acontecimentos específicos em um cenário
atual: a Carolina do Sul e sua rebelião foram citadas nominalmente. O
conflito envolvia mais do que apenas nações rivais. Ele também
envolveria grupos oprimidos — “escravos” e “remanescentes” —
levantando-se contra seus senhores e superintendentes.12

A referência a escravos inseria Doutrina e Convênios 87 diretamente


no conflito por poder federal. Nos eventos que levaram à crise, o povo
da Carolina do Sul havia reclamado que as tarifas federais tinham a
intenção de arruinar a economia agrícola com base no trabalho
escravo que dominava o sul americano. Os estados que se
beneficiariam das tarifas, inclusive Ohio, consideravam a escravidão
ilegal. A profecia de Joseph Smith sobre a guerra reconhecia essas
brechas geopolíticas e ligavam-nas a guerras inevitáveis que se
seguiriam: “Pois eis que os estados do sul se dividirão conta os
estados do norte e os estados do sul recorrerão a outras nações,
mesmo à nação da Grã-Bretanha”.13 Em 1832, a Europa dependia do
algodão do sul para as indústrias têxteis. A Grã-Bretanha parecia um
provável aliado para a causa da Carolina do Sul.

Crise Evitada
Para grande surpresa de todos, a crise de nulificação acabou quase
antes de começar. Em fevereiro de 1833, o Presidente Jackson
elaborou uma tarifa reduzida de conciliação, afirmando os direitos do
governo federal e satisfazendo as exigências dos estados de direitos
separatistas. A crise foi evitada, a paz retornou à terra e o Presidente
Jackson gozou do que pode ter sido seu grande triunfo como
presidente.14

A resolução pacífica de Andrew Jackson da Crise de Nulificação


agradou a todos, mas não agradou aqueles que queriam muito uma
guerra. Como seguidor de Cristo, Joseph Smith amava a paz, recebia
bem o compromisso e esperava ansiosamente pelo retorno do
Príncipe da Paz e seu pacífico reinado milenar. Mas as previsões de
guerra contidas na profecia sobre guerra, ligadas do jeito que
estavam aos acontecimentos contemporâneos, podem ter intrigado
Joseph. A morte e a miséria de muitas almas não ocorreu. Os
estados do sul ainda estavam divididos dos estados do norte na
questão da escravidão, mas os escravos não se levantaram contra os
seus senhores e a Carolina do Sul não recorreu à Grã-Bretanha por
ajuda.15 Qualquer pessoa que estivesse esperando pelo
cumprimento da revelação em 1833 teria ficado desapontada.

Joseph Smith parecia relutante em espalhar amplamente as notícias


de sua profecia sobre a guerra. Antes mesmo de a crise ser evitada,
ele falou a um editor de jornal que ele tinha certeza que “não se
passariam muitos anos antes que os Estados Unidos apresentasse
uma cena de derramamento de sangue que nunca se tinha visto na
história da nossa nação.”16 Mas ele não foi específico a respeito. Ele
não mencionou a Carolina do Sul em seus ensinamentos e sermões
posteriores. Quando compilou suas revelações para publicação em
1835, Joseph reteve Doutrina e Convênios 87 da coleção. Depois que
a crise de nulificação acabou pacificamente, pareceu melhor deixar a
revelação de lado durante sua vida.17

Joseph tinha certeza de suas revelações anteriores. Ele havia sentido


a voz de Deus falar por intermédio dele antes e visto aquelas palavras
se cumprirem. Ele deve ter se perguntado se essa revelação era um
caso de profecia falsa. Ou, se a profecia era verdadeira, o que Deus
queria que Joseph fizesse agora que a paz, embora temporária,
tivesse sido alcançada?

Lugares Santos
Doutrina e Convênios 87 não reorientou radicalmente a abordagem
de Joseph sobre a vida. Ele não se escondeu em um buraco ou coisa
parecida para não ser visto em público e esperando o fim. Mesmo
antes da resolução bem sucedida do Presidente Jackson à crise,
quando a guerra ainda parecia provável, Joseph discretamente abriu
uma escola para os élderes que logo sairiam para o mundo como
missionários. A escola dos profetas, como Joseph a chamava, reunia
um pequeno grupo de homens santos dos últimos dias na loja de
Newel K. Whitney em Kirtland.

Na escola, Joseph ensinou aos alunos como “falar em nome de


Deus”.18 Ele incentivou os homens a se purificarem para que o
Espírito de Deus pudesse ajudá-los a encontrar e ensinar os eleitos.
Àqueles que guardavam a Palavra de Sabedoria, Joseph ensinou que
correriam e não se cansariam e caminhariam e não
desfaleceriam.19 O Presidente Jackson havia buscado evitar a
destruição por meio da diplomacia. Joseph ensinou que o “anjo
destruidor” poderia ser evitado por meio de uma vida digna.20

Joseph nunca se esquivou de alertar o povo sobre as catástrofes que


estavam por vir. Mas esse não era o foco de sua mensagem. Ele não
era um profeta pessimista, feliz em predizer apenas miséria e
desgraça.21 No final de Doutrina e Convênios 87, o Senhor ensinou
aos santos como reagir a tais profecias preocupantes. Eles não
deveriam viver com medo ou abandonar seus esforços atuais. Eles
deviam: “Permanece[r] em lugares santos e não se[r] movidos”.22

Alguns dias depois de Doutrina e Convênios 87 ser recebida, Joseph


Smith recebeu outra revelação, na qual o Senhor ordenava que os
santos construíssem o templo de Kirtland (Doutrina e Convênios 88).
Essa revelação, assim como a profecia sobre a guerra, falava de
destruições que estavam por vir. E falava também de um trabalho
importante que os santos iriam realizar. Ele não deveriam sentar-se
pacificamente, aguardando pela vinda de Jesus Cristo enquanto
coisas ruins aconteciam no mundo. E nem deveriam só pregar como
as pessoas que preveem desgraças fazem. Eles deviam construir
novas estruturas, novas instituições, novos “lugares santos”. Sempre
obediente às revelações, Joseph abriu a escola dos profetas, como a
revelação ordenou que ele fizesse. Mais tarde naquele verão ele faria
a abertura de terra para o templo.

Perto do final da vida de Joseph, seriam os “lugares santos”, templos


e escolas, que mais prenderiam sua atenção. A experiência ensinou-o
a colocar um pouco de fé no poder da diplomacia, como Andrew
havia feito. Joseph sabia devido a todas as mudanças que os santos
haviam sido forçados a fazer que a paz era algo bem tênue. A
despeito do conflito que os cercava, os santos poderiam sempre
encontrar paz no processo de criar e habitar em lugares santos.

Conclusão
Três décadas depois de Doutrina e Convênios 87 ter sido recebida a
Carolina do Sul se rebelou novamente. Convencidos de que a eleição
de Abraham Lincoln como presidente dos Estados Unidos resultaria
em problemas para a instituição da escravidão, o legislativo do estado
votou para separar-se dos Estados Unidos. O movimento da Carolina
do Sul desencadeou uma guerra entre o norte e o sul. Como
resultado houve muita morte e miséria. Os sulistas pediram ajuda da
Grã-Bretanha. Os escravos se levantaram contra seus
senhores. Enquanto isso, os santos, agora em seu novo lar nas
montanhas do oeste, trabalhavam no alicerce de outro lugar santo —
o templo de Salt Lake.

Notas de rodapé
[1] Ver William W. Freehling, ed., The Nullification Era: A Documentary
Record (New York: Harper Torchbooks, 1967). As notícias sobre a rebelião da
Carolina do Sul contra as tarifas federais haviam sido dadas antes dessa
época, mas só depois do dia 21 de dezembro o Painesville
Telegraph divulgou o discurso do governador da Carolina do Sul apoiando as
ações do legislativo.
[2] A Constituição dos EUA deu ao governo federal o poder para
regulamentar o comércio e nas primeiras duas décadas da existência do país
as tarifas eram baixas a fim de impulsionar a receita. As tarifas mais altas
vieram com a chegada em larga escala de produtos britânicos nos anos 1810
e 1820. (ver Paul P. Abrahams, “Tariffs”, The Oxford Companion to United
States History, ed. Paul S. Boyer [New York: Oxford University Press, 2001],
p. 761).
[3] Andrew Jackson, Proclamation, 10 de dezembro de 1832, A Compilation of
the Messages and Papers of the Presidents, compilado por James D.
Richardson, 11 vols. (New York: Bureau of National Literature, 1897), vol. 3,
pp. 1203–1219. O legislativo da Carolina do Sul autorizou $200,000 — uma
enorme quantia — para munições e autorizou o governador a chamar a
milícia (ver Robert V. Remini, Andrew Jackson and the Course of American
Democracy, 1833–1845 [New York: Harper & Row, 1984], p. 26). Os
proponentes da nulificação naturalmente receberam a proclamação do
Presidente Jackson com desprezo, vendo isso como um meio de intimidar os
whigs [que apoiavam a revolução] da Carolina do Sul à submissão instigando
a ira dos oponentes à nulificação dentro do estado. Para esses nulificadores
radicais, a proclamação do Presidente Jackson foi equivalente a uma
“declaração de guerra” (“South Carolina”, Alexandria [Virginia] Gazette, 25 de
dezembro de 1832, p. 2).
[4] “The Charleston Mercury”, Painesville Telegraph, 21 de dezembro de
1832, p. 3, coluna 2. James Hamilton, o governador em fim de mandato da
Carolina do Sul, deu a impressão de praticamente declarar guerra em um
discurso amplamente divulgado proferido em 10 de dezembro. “A grande
maioria de nosso povo”, disse ele, “preferiria ter todas as casas de nosso
território trazidas abaixo e cada centímetro de pasto queimado a se render ao
despotismo e à injustiça desse sistema de governo contra o qual temos
invariavelmente nos oposto” (“Carolina do Sul”, American Traveller (Boston),
25 de dezembro de 1832, p. 3).
[5] Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume A-1 [23 December 1805–30
August 1834]”, p. 244, josephsmithpapers.org
[6] Richardson, A Compilation of the Messages and Papers of the Presidents,
vol. 3, p. 1217.
[7] “Revelation, 25 December 1832 [D&C 87],” Revelation Book 2, p. 32,
josephsmithpapers.org; ortografia atualizada; ver também Doutrina e
Convênios 87:1.
[8] Ver “Revelation, September 1830-A [D&C 29]”, Revelation Book 1, pp. 37–
38, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 29:14–19.
[9] O Milenismo para os Mórmons, ver Grant Underwood, The Millenarian
World of Early Mormonism (Urbana: University of Illinois Press, 1986). Para
milenismo em geral, as obras clássicas são de James West Davidson, The
Logic of Millennial Thought: Eighteenth-Century New England (New Haven:
Yale University Press, 1977); e Ernest R. Sandeen, The Roots of
Fundamentalism: British and American Millenarianism, 1800–1930 (Chicago:
University of Chicago Press, 1970).
[10] “Revelation, September 1830-A [D&C 29]”, p. 37; “Revelation, 4
November 1830 [D&C 34]”, Revelation Book 1, p. 46, josephsmithpapers.org;
ver também Doutrina e Convênios 29:14; 34:8–9.
[11] “Revelation, circa 7 March 1831 [D&C 45]”, Revelation Book 1, pp. 73, 75;
ver também Doutrina e Convênios 45:26, 63.
[12] “Revelation, 25 December 1832 [D&C 87]”, pp. 32–33; ver também
Doutrina e Convênios 87:1.
[13] “Revelation, 25 December 1832 [D&C 87]”, p. 33; uso de maiúsculas e
pontuação atualizadas; ver também Doutrina e Convênios 87:3.
[14] Merrill D. Peterson, Olive Branch and Sword — The Compromise of
1833 (Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1982); William W.
Freehling, Prelude to Civil War: The Nullification Controversy in South
Carolina, 1816–1836 (New York: Harper & Row, 1966), p. 293. Os estudiosos
não concordam com a maneira pela qual o Presidente Jackson lidou com a
crise da nulificação. Os estudiosos mais antigos costumam ser mais
enaltecedores e comemorativos, mas os mais recentes argumentam que o
ajuste causou um sério embaraço que prejudicou o Presidente Jackson
politicamente nos anos que se seguiram (ver Richard E. Ellis, The Union at
Risk: Jacksonian Democracy, States’ Rights, and the Nullification Crisis [New
York: Oxford University Press, 1987], pp. 181–182).
[15] As rebeliões dos escravos ocorreram antes de 1832, mas elas
costumavam ser isoladas e de curta duração. Ver, por exemplo, Stephen B.
Oates, The Fires of Jubilee: Nat Turner’s Fierce Rebellion (New York: Harper
& Row, 1975).
[16] Joseph Smith — Carta a Noah C. Saxton, 4 de janeiro de 1833, Joseph
Smith Letterbook 1, pp. 17–18, josephsmithpapers.org; ortografia atualizada.
[17] Embora os missionários tenham carregado cópias manuscritas das
revelações durante décadas, elas não foram publicadas até 1851 (ver Scott
C. Esplin, “‘Have We Not Had a Prophet among Us?’: Joseph Smith’s Civil
War Prophecy”, Civil War Saints, ed. Kenneth L. Alford [Salt Lake City:
Deseret Book, 2012], pp. 41–59).
[18] “Revelation, 1 November 1831–B [D&C 1]”, Revelation Book 1, p. 126,
josephsmithpapers.org; ver também “Revelation, 27–28 December 1832 [D&C
88:1–126]”, Revelation Book 2, p. 46, josephsmithpapers.org; Doutrina e
Convênios 1:20; 88:122.
[19] Ver Jed Woodworth, “The Word of Wisdom: D&C 89”, history.LDS.org;
ver também Doutrina e Convênios 89:20–21.
[20] “Revelation, 27 February 1833 [D&C 89]”, Revelation Book 2, p. 51,
josephsmithpapers.org; ortografia atualizada; ver também D&C 89:21.
[21] Ver Susan Juster, Doomsayers: Anglo-American Prophecy in the Age of
Revolution(Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2003).
[22] “Revelation, 25 December 1832 [D&C 87]”, p. 33; ver também Doutrina e
Convênios 87:8.
Uma Escola e uma Investidura
D&C 88, 90, 95, 109, 110
Nathan Waite23 Junho 2015

Apenas sete anos após sua organização, a Igreja enviou missionários


ao exterior pela primeira vez. A Escola dos Profetas e o Templo de
Kirtland desempenharam um papel essencial na preparação de
élderes para levar o evangelho ao mundo.

Na primavera de 1834, em uma reunião com todos os portadores do


sacerdócio em Kirtland, Ohio, Joseph Smith falou sobre a visão que
teve do destino da Igreja. Foi algo muito além do que as pessoas
presentes poderiam ter imaginado; ele disse: “Vocês não sabem
acerca dos destinos desta Igreja e deste reino mais do que uma
criancinha no regaço materno”. Então ele profetizou: “Estão vendo
apenas um pequeno grupo de portadores do sacerdócio hoje aqui,
mas esta Igreja encherá a América do Norte e do Sul e o mundo
todo”.1

Para os homens na sala, deve ter sido não só emocionante como


impressionante também. Eles já haviam realizado muito no campo
missionário, batizando membros da Igreja em partes dos Estados
Unidos e do Canadá. Quando pensaram em levar o evangelho ao
mundo todo, eles, com certeza, sentiram suas limitações. O que
deveria acontecer para que um punhado de membros da Igreja se
transformasse em uma Igreja mundial? Como os élderes da Igreja
ajudariam a cumprir a visão do Senhor?

Uma Promessa de Ajuda Divina


No Novo Testamento, Jesus prometeu auxílio divino a Seus apóstolos
quando eles fossem “[pregar] o evangelho a toda criatura”. Ele os
instruiu: “ficai… na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais
revestidos de poder”.2 Da mesma maneira o Senhor prometeu aos
santos, em 1831, que após chegarem a Ohio, eles seriam “investidos
de poder do alto” e depois enviados para divulgar a mensagem do
evangelho.3 Nos últimos anos, essa investidura foi reconhecida como
um conjunto de cerimônias específicas realizadas no Templo de
Nauvoo e em outros templos, mas, na década de 1830, as pessoas
acreditavam ser uma manifestação espiritual semelhante ao que
aconteceu no Dia de Pentecostes, uma investidura literal ou o
recebimento de poderes miraculosos para aqueles que sairiam para
pregar o evangelho.4

Em uma revelação recebida no final de dezembro de 1832 e no início


de janeiro de 1833, agora Doutrina e Convênios 88, o Senhor
explicou o que os élderes deveriam fazer para “[estarem] preparados
em todas as coisas, quando eu vos enviar outra vez” para testificar e
para advertir as pessoas da Terra.5 A revelação ordenava que os
membros da Igreja se organizassem e “[ensinassem] uns aos outros”
e “[estabelecessem] uma casa de Deus”. Ao repetir o mandamento de
Jesus no Novo Testamento, a revelação dizia aos élderes que
“[permanecessem]” em Kirtland, onde seriam instruídos e investidos e
receberiam poder na escola, “a fim de [serem] aperfeiçoados em [seu]
ministério para [irem] aos gentios pela última vez”.6

Aprender na Escola dos Profetas


Agindo de acordo com a revelação, os santos começaram a trabalhar
para “estabelecer uma escola para os Profetas” em Kirtland.7 O
conceito de uma escola dos profetas não era novo para os membros
da Igreja. Nos séculos 17 e 18, as universidades de Harvard e Yale
eram seminários para clérigos, e ambas eram conhecidas na época
como escolas de profetas. Mais tarde, movimentos reformistas
associados ao Segundo Grande Despertar — um movimento de
renascimento religioso disseminado nos Estados Unidos no início do
século 19 — estabeleceu escolas ministeriais privadas com o mesmo
nome.8

Os primeiros santos dos últimos dias não tinham os recursos ou os


requisitos educacionais da maioria dos fundadores das escolas, mas
foram adiante com fé. Mesmo ainda sem ter uma casa do Senhor
para se reunir, a Escola dos Profetas foi oficialmente organizada em
22 e 23 de janeiro de 1833, em uma pequena sala em cima da loja de
Newel K. Whitney, em Kirtland. Embora tanto homens quanto
mulheres tenham comparecido à parte da reunião de 22 de janeiro, a
escola era reservada para homens portadores do sacerdócio. As
pessoas que compareceram à primeira reunião receberam “a divina
manifestação do Espírito Santo”, inclusive falar em línguas.9

Diferente de uma escola comum, com semestres, horários e locais


específicos para as aulas, a Escola dos Profetas não tinha horário
nem lugar fixo. Em comunidades rurais como Kirtland, os meses de
inverno eram uma oportunidade para passar mais tempo em
atividades educacionais. A primeira sessão durou cerca de três
meses e terminou em abril.10 As sessões seguintes, muitas vezes
chamadas de “escola dos profetas”, a “escola de meus apóstolos” e
“escola de élderes”, naquele verão foram realizadas no Missouri, e
novamente em Kirtland no outono de 1834 e inverno de 1835–1836,
na tipografia da Igreja ou no sótão do Templo de Kirtland, ainda
inacabado.11

A revelação de dezembro de 1832 tinha dado instruções específicas


para o curso de estudo da escola, que incluía assuntos religiosos e
seculares. Os alunos deveriam ser bem instruídos em “teoria, em
princípio, em doutrina e na lei do evangelho”, e também deveriam
aprender sobre a Terra — tanto as coisas do céu como da Terra e de
debaixo da Terra. Eles deveriam aprender história e atualidades, com
perspectiva no futuro por meio de revelação profética. Eles deveriam
aprender sobre outros países. A Escola dos Profetas deveria ser
dirigida por um professor designado oficialmente e pelos próprios
participantes, aprendendo entre si, com cada um tendo a vez de falar
“todos [sendo] edificados por todos”.12

Uma revelação do dia 8 de março de 1833, agora Doutrina e


Convênios 90, deu à recém-designada Primeira Presidência da Igreja
as “chaves” para administrar a Escola dos Profetas; e Joseph Smith
assumiu a liderança nos assuntos espirituais, auxiliado por Sidney
Rigdon. A Escola dos Profetas foi o local em que os sete sermões
sobre teologia, agora conhecidos como Sermões sobre a Fé, foram
divulgados. Esses sermões foram incluídos nas primeiras edições de
Doutrina e Convênios. Eles eram a primeira parte do livro, chamado
de “Doutrina”, enquanto a segunda parte eram os “Convênios”, ou
revelações. Os Sermões sobre a Fé perduram como uma importante
contribuição teológica do início da década de 1830.13

A maior parte do ensino mais tradicional eram os estudos linguísticos,


começando com a gramática da língua inglesa. Em sua maioria, os
élderes que participavam não eram muito instruídos e podiam dizer,
assim como Joseph Smith, que como filhos de pais pobres, haviam
sido “meramente instruídos na leitura e na escrita e nos princípios
básicos da matemática”.14 Apesar de Orson Hyde ter sido órfão na
infância e de ter recebido pouca instrução formal, ele tinha o dom de
aprender e foi designado como professor.15 Em várias ocasiões,
Joseph Smith foi para casa de noite e juntou a família ao seu redor
para ensinar-lhes as mesmas lições de gramática que havia
aprendido naquele dia na Escola dos Profetas.16 Um curso de
hebraico, ministrado por um professor judeu de uma faculdade
próxima, foi dado em 1836, e era frequentado por muitos alunos da
Escola dos Profetas.

Tornar-se Puros e Unidos


A Escola dos Profetas permitiu que os primeiros santos obtivessem
mais educação do que eles haviam conseguido até então. Mas, ela
também serviu a propósitos que foram além de aprender fatos e
conceitos. A primeira geração de membros da Igreja cresceu em uma
cultura onde a reputação pessoal era altamente valorizada e onde era
comum, e até mesmo incentivado, reagir vigorosamente a ofensas
reais ou mesmo deduzidas. A ordem revelada da Escola dos Profetas
foi designada, em parte, para ajudar os membros a sobrepujar esses
aspectos negativos de sua cultura. Práticas religiosas enfatizavam a
necessidade de se tornarem puros e unidos.

Para se tornarem “[limpos] do sangue desta geração” e


permanecerem separados do mundo, os élderes participaram de
rituais de purificação.17Após cada élder lavar seu próprio rosto, mãos
e pés, Joseph Smith lavou os pés de cada um, seguindo o exemplo
dado por Jesus em João 13:4–17 e as instruções em Doutrina e
Convênios 88:138–141. Joseph lavou os pés de cada novo membro
da escola e repetiu a cerimônia em outras reuniões da Escola dos
Profetas.18 Outras abluções e unções, inclusive o lava-pés, fizeram
parte dos preparativos para a assembleia solene realizada no recém-
dedicado Templo de Kirtland, e essas abluções eram uma parte
importante da própria assembleia solene.
D&C 88 em JosephSmithPapers.org
Também existia uma preocupação com a limpeza mais comum na
Escola dos Profetas. Um participante lembrou que antes de cada dia
de ensino, “nós nos lavávamos e colocávamos roupas limpas”.19 E as
reclamações de Emma Smith, sobre a sujeira causada pelos
membros da escola que mascavam tabaco, levaram à revelação
conhecida como a Palavra de Sabedoria.20

Além de simbolizar a purificação, o lava-pés também tinha o objetivo


de unir os élderes. As revelações os incentivavam repetidamente a
“[amarem-se] uns aos outros” e a “[cessar] de achar falta uns nos
outros”, advertindo: “Se não sois um, não sois meus”.21 Joseph Smith
ensinou que a união era um pré-requisito para ser investido e fazia
parte da definição de Sião.22 Joseph Smith se empenhava
continuamente pela harmonia entre os líderes em Ohio e no Missouri,
e ensinava isso juntamente com a purificação espiritual; o lava-pés
tinha a “intenção de unir nosso coração, para que [pudéssemos] ser
um em sentimento e opinião”.23

O cumprimento preestabelecido quando se entrava na escola também


tinha a intenção de promover a harmonia, mesmo em uma cultura de
contenda. O presidente ou professor devia entrar primeiro e
cumprimentar cada participante levantando as mãos para o céu e
dizendo: “És irmão ou sois irmãos? Saúdo-vos em nome do Senhor
Jesus Cristo, em sinal ou lembrança do convênio eterno, convênio
esse no qual vos recebo na fraternidade, com a determinação fixa,
inamovível e imutável de ser vosso amigo e irmão pela graça de
Deus, nos laços do amor, para caminhar em todos os mandamentos
de Deus, imaculado, com ação de graças, para todo o sempre.
Amém”. O aluno que desejava entrar na escola repetia o convênio ou
simplesmente respondia: “Amém”.

Os participantes na Escola dos Profetas também partilhavam do


sacramento juntos, mas em porções que talvez lembrassem mais a
Última Ceia do que as porções ínfimas de pão e água que os
membros da Igreja estão acostumados atualmente. Como Zebedee
Coltrin recontou: “Pão quente que podia ser facilmente partilhado era
providenciado e partido em pedaços do tamanho do meu punho, e
cada pessoa tinha um copo de vinho, e se sentava e comia o pão e
bebia o vinho”.24

Trabalhar pelo Cumprimento das Promessas


D&C 95 em JosephSmithPapers.org

Apesar dessas ordenanças unificadoras, era difícil fazer com que a


harmonia prevalecesse. A primeira sessão terminou em abril de 1833
no momento de vários chamados missionários, e uma revelação, em
junho (D&C 95), deixou claro que a sessão terminou em desarmonia:
“Surgiram contendas na escola dos profetas”, disse o Senhor, “o que
me foi muito penoso”. A mesma revelação repreendeu os santos por
ainda não terem iniciado o trabalho na casa do Senhor e reiterou que
esse era o lugar para a “escola de meus apóstolos”. Essa revelação
prometia que a tão esperada “investidura” viria em uma “assembleia
solene” dentro das paredes do novo templo.

No início de 1834 os líderes da Igreja no Missouri e em Ohio se


reuniram em Kirtland para frequentar a escola e se preparar para a
assembleia solene onde receberiam a investidura. Entretanto, os dois
grupos de líderes não se davam muito bem e aquele momento foi
caracterizado pela desunião. Na mesma época, Orson Hyde enviou
uma carta hostil a Joseph Smith sobre uma disputa com outro
apóstolo, o irmão de Joseph Smith, William Smith.25 Hyde se recusou
a frequentar a escola até que o assunto fosse resolvido. Embora as
preocupações de Hyde logo tenham sido resolvidas, outras disputas
continuaram a inquietar o grupo. “O adversário está usando toda sua
astúcia”, disse Joseph Smith, “para impedir que os santos recebam a
investidura, causando divisão entre os Doze e entre os setenta, e
discussões e ciúme entre o élderes”.26

Felizmente, o inverno de 1835 e 1836 trouxe um período muito


aguardado de reconciliações e harmonia na Igreja. Joseph Smith e
seu irmão, William, resolveram um relacionamento difícil que havia
sido caracterizado por agressões físicas ocasionais.27 Um
desentendimento maior entre a Primeira Presidência e o Quórum dos
Doze Apóstolos terminou com uma reconciliação emocionante e o
estabelecimento de um convênio entre eles, semelhante ao da Escola
dos Profetas.28 Sobre uma reunião da Igreja ocorrida pouco depois,
em que os líderes da Igreja recém-unificada falaram, um relato do
diário de Joseph Smith diz: “O Senhor derramou Seu espírito sobre
nós e os irmãos começaram a confessar suas faltas uns aos outros e
a congregação logo foi levada às lágrimas e ficamos emocionados
demais para falar, o dom de línguas veio sobre nós como um vento
veemente e impetuoso, e minha alma ficou cheia da glória de
Deus”.29 Agora unificada, e com tal manifestação da aprovação de
Deus, eles estavam se preparando para receber a investidura
prometida.

Bênçãos Espirituais
Manifestações espirituais miraculosas ocorreram diversas vezes
durante a Escola dos Profetas, enquanto os élderes trabalhavam para
cumprir o plano de Deus para eles e se preparavam para a
investidura.30 Joseph Smith disse que tais manifestações eram “um
prelúdio das alegrias que Deus derramará” na assembleia solene.31

Quando o Templo de Kirtland estava finalmente pronto para ser


dedicado, em março de 1836, Joseph Smith buscou orientação ao
preparar uma oração para uma ocasião de tamanha importância. A
oração, dada por revelação e agora publicada como Doutrina e
Convênios 109, tocou em muitos temas que haviam sido discutidos
na Escola dos Profetas durante a longa preparação para a investidura
de poder. Ela falava de aprendizado, de pureza espiritual, de
organização e união, e do trabalho missionário.
D&C 110 em JosephSmithPapers.org
Na tão aguardada assembleia solene no templo, muitas pessoas
vivenciaram experiências espirituais marcantes, que elas confirmaram
ser um poder da investidura. Joseph Smith registrou: “O Salvador
apareceu a algumas pessoas e anjos ministraram a outras, e isso
realmente foi pentecoste e investidura, que será lembrada por um
longo tempo, pois seu registro sairá deste lugar para o mundo, e o
que ocorreu neste dia será transmitido nas páginas sagradas da
história de todas as gerações, como o dia de Pentecoste”. Outras
manifestações e visões acompanharam a dedicação do Templo de
Kirtland naquela mesma semana.32
No domingo, 3 de abril de 1836, enquanto Joseph Smith e Oliver
Cowdery oravam nos púlpitos do templo, eles foram visitados por
Jesus Cristo e muitos mensageiros celestiais. Cristo declarou que
eles estavam limpos, aceitou a casa que eles haviam construído para
Ele e confirmou: “[a] investidura com que meus servos foram
investidos nesta casa”. Imediatamente depois, eles receberam de
Moisés “as chaves para coligar Israel das quatro partes da Terra”,
assim como outras chaves de outros profetas antigos.33 Para eles, as
promessas haviam sido cumpridas e os élderes não precisavam mais
permanecer em Kirtland.

A Todas as Nações
Nos meses seguintes, missionários partiram de Kirtland para pregar o
evangelho. Em 1837, Orson Hyde e Heber C. Kimball foram para a
Inglaterra. Essa e outras missões nas ilhas britânicas trouxeram
milhares de pessoas para A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias e mudaram o curso de sua história. Em 1844, Joseph
Smith relatou: “Missionários desta Igreja foram para as Índias
Orientais, para Austrália, Alemanha, Constantinopla, Egito, Palestina,
as Ilhas do Pacífico e agora estão se preparando para abrir as portas
dos extensos domínios da Rússia”.34 Esses esforços missionários,
que se deviam em grande parte àqueles ensinados na Escola dos
Profetas e investidos com poder no Templo de Kirtland, marcaram o
início do evangelho restaurado sendo pregado para encher todo o
mundo.

Notas de rodapé
[1] Wilford Woodruff, em Conference Report, abril de 1898, p. 57.
[2] Marcos 16:15; Lucas 24:47–49; ver também Mateus 28:18–20.
[3] “Revelation, 2 de janeiro de 1831 [D&C 38]”, josephsmithpapers.org.
[4] John Corrill e outros acreditavam que essa promessa havia sido cumprida
quando os homens foram ordenados ao sumo sacerdócio pela primeira vez,
em junho de 1831. Muitos relataram manifestações espirituais, mas logo foi
entendido que uma investidura maior estava por vir (John Corrill, Resumo da
História da Igreja de Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Comumente
Chamados de Mórmons) [St. Louis, Missouri: impresso pelo autor, 1839];
Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen e David J. Whittaker, eds., Histórias,
Volume II: Histórias Atribuídas, 1831–1847, vol. II da série de Histórias
de The Joseph Smith Papers, ed. Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, e
Richard Lyman Bushman [Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012] p.
145).
[5] “Revelation, 27–28 December 1832 [D&C 88:1–126]”,
josephsmithpapers.org; pontuação modernizada.
[6] “Revelation, 27–28 December 1832 [D&C 88:1–126]”,
josephsmithpapers.org.
[7] Joseph Smith: “Letter to William W. Phelps, 11 January 1833”,
josephsmithpapers.org.
[8] Ver Joseph F. Darowski, “Schools of the Prophets: An Early American
Tradition”, Mormon Historical Studies, vol. IX, n° 1 (Primavera de 2008), p. 1.
[9] “Minutes, 22–23 January 1833”, p. 7, josephsmithpapers.org.
[10] Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume A-1 [23 December 1805–30
de August 1834]”, p. 287, josephsmithpapers.org.
[11] O nome “escola de meus apóstolos” aparece em Doutrina e Convênios
95:17. “Escola de élderes” aparece em Joseph Smith, “History, 1838–1856,
volume B-1 [1 September 1834–2 de November 1838]”, p. 562,
josephsmithpapers.org.
[12] “Revelation, 27–28 December 1832 [D&C 88:1–126]”,
josephsmithpapers.org.
[13] Introdução histórica para “Doctrine and Covenants, 1835”,
josephsmithpapers.org.
[14] Joseph Smith, “History, circa Summer 1832”, p. 1,
josephsmithpapers.org.
[15] Orson Hyde aparentemente tinha o dom de línguas e mais tarde
memorizou a Bíblia em inglês, alemão e hebraico (ver Orson Hyde, “The
Marriage Relations”, em Journal of Discourses, 26 vols., [1854–1886, vol. II,
p. 81).
[16] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 4, 5 e 11 de novembro de 1835,
josephsmithpapers.org.
[17] Doutrina e Convênios 88:138.
[18] Memórias de Zebedee Coltrin, em Atas, Escola dos Profetas Salt Lake
City, 3 de outubro de 1883; boap.org/LDS/Early-Saints/ZebC.html.
[19] Memórias de Zebedee Coltrin, em Atas, Escola dos Profetas Salt Lake
City, 3 de outubro de 1883.
[20] Jed Woodworth, “The Word of Wisdom: D&C 89”, history.LDS.org.
[21] Doutrina e Convênios 88:123–124; 38:27.
[22] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 16 de janeiro de 1836,
josephsmithpapers.org; Dean C. Jessee, Mark Ashurst-McGee e Richard L.
Jensen, eds., Journals, Volume I: 1832–1839, vol. I dos Diários da série The
Joseph Smith Papers, ed. Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman
Bushman (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2008) p. 157.
[23] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 12 de novembro de 1835,
josephsmithpapers.org.
[24] Memórias de Zebedee Coltrin, em Atas, Escola dos Profetas Salt Lake
City, 3 de outubro de 1883.
[25] “Letter from Orson Hyde, 15 December 1835”, josephsmithpapers.org.
Para a solução das preocupações de Orson Hyde, ver Joseph Smith,
“Journal, 1835–1836”, 17 de dezembro de 1835, josephsmithpapers.org.
[26] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 1° de janeiro de 1836,
josephsmithpapers.org.
[27] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 1° de janeiro de 1836,
josephsmithpapers.org.
[28] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 16 de janeiro de 1836,
josephsmithpapers.org.
[29] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 17 de janeiro de 1836,
josephsmithpapers.org.
[30] Memórias de Zebedee Coltrin, em Atas, Escola dos Profetas Salt Lake
City, 3 de outubro de 1883. Muitas características dessa preparação e
investidura, como a ablução e unção, instrução e entrar na presença de Deus,
viria a ter um papel primordial na cerimônia de investidura que foi revelada
em Nauvoo.
[31] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 12 de novembro de 1835,
josephsmithpapers.org.
[32] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 30 de março de 1836,
josephsmithpapers.org.
[33] “Revelation, 3 April 1836 [D&C 110]”, josephsmithpapers.org.
[34] Joseph Smith, “Latter Day Saints”, p. 409, josephsmithpapers.org. Esse
ensaio foi publicado em He Pasa Ekklesia, Israel Daniel Rupp, ed.1844.
“Uma Casa para Nosso Deus”
D&C 88, 94, 95, 96, 97, 109, 110, 137
Lisa Olsen Tait e Brent Rogers15 Julho 2015

Em 1º de junho de 1833, Joseph Smith recebeu uma revelação que


continha uma severa repreensão. “Porque pecastes contra mim com
um grave pecado, não tendo considerado, em todas as coisas, o
grande mandamento que vos dei concernente à construção de minha
casa. ”

Em 1º de junho de 1833, Joseph Smith recebeu uma revelação que


continha uma severa repreensão. “Porque pecastes contra mim com
um grave pecado, não tendo considerado, em todas as coisas, o
grande mandamento que vos dei concernente à construção de minha
casa. ”1 Esse “grande mandamento” veio cinco meses antes de uma
extensa revelação que Joseph chamou de “folha de oliveira”
(atualmente Doutrina e Convênios 88). Ela orientou os santos a “[se]
organizar” e estabelecer “uma casa, sim, uma casa de oração, uma
casa de jejum, uma casa de fé, uma casa de aprendizado, uma casa
de glória, uma casa de ordem, uma casa de Deus”.2

Recebida junto com as instruções “ensinai-vos uns aos outros” e


“procurai conhecimento, sim, pelo estudo e pela fé”, Joseph Smith e
os élderes em Kirtland entenderam que essa revelação trazia um
mandamento duplo.3 Eles deveriam “construir uma casa de Deus e
estabelecer a escola dos Profetas”.4Joseph Smith e os santos em
Kirtland começaram a agir de acordo com essa instrução quase que
imediatamente, mas, como a revelação de primeiro de junho indicou,
eles ainda tinham pouco entendimento de seu real significado ou dos
enormes sacrifícios que ela exigiria.

“Não Tendo Considerado”


Algumas semanas após a revelação da folha de oliveira, a Escola dos
Profetas estava em formação, com cerca de 30 homens se reunindo
em uma pequena sala acima do Armazém de Newel K. Whitney. (Ver
Nathan Waite, “Uma Escola e uma Investidura”.) A escola foi
suspensa por quatro meses em abril de 1833, e Joseph e os irmãos
voltaram sua atenção para os aspectos práticos do cumprimento da
revelação. A aquisição de terras foi logo finalizada e homens foram
indicados para supervisionar as várias indústrias nessas
propriedades.5Em 4 de maio, houve uma conferência dos sumos
sacerdotes para deliberar sobre “a necessidade da construção de
uma escola com o propósito de acomodar os élderes que viriam para
receber sua educação para o ministério”. Hyrum Smith, Jared Carter e
Reynolds Cahoon foram indicados para formar “um comitê para obter
assinaturas [doações], com o propósito de construir esse prédio”.6

Apesar de o prédio vir a ser conhecido como o Templo de Kirtland, os


santos em 1833 ainda não sabiam que estavam construindo um
templo. Eles haviam lido sobre os templos na Bíblia e no Livro de
Mórmon, mas ainda sabiam pouco sobre eles. Dois anos antes, uma
revelação havia indicado que um templo seria construído no Condado
de Jackson, Missouri.7 O próprio Joseph Smith ajudou a lançar a
pedra de esquina em 1831, mas quase que nenhum progresso foi
feito, e novas revelações deram pouca visão de qual seria o propósito
dos templos.

Os registros da primavera de 1833 mostram que os santos estavam


pensando que a “casa” de Kirtland seria basicamente um “prédio
escolar”, não necessariamente ligado ao mandamento recebido de se
construir um templo em Sião. Em primeiro de junho uma revelação
declarou que Joseph Smith e os santos não tinham “considerado”
suficientemente a urgência ou a importância do mandamento.

D&C 95 em JosephSmithPapers.org
Essa revelação (atualmente Doutrina e Convênios 95) forneceu
algumas indicações do propósito maior. Ela revelou que na “casa” o
Senhor iria “investir os que escolhi com poder do alto”8— ligando a
construção da casa a uma promessa de investidura de poder.9 Ela
especificou as dimensões do interior do prédio — 55 pés de largura
por 65 pés de comprimento — e descreveu as funções dos andares
superior e inferior da “área interna”, uma frase que fez lembrar do
templo bíblico em Jerusalém. A revelação também prometeu
instruções futuras. A casa deveria ser construída “não segundo a
maneira do mundo”, mas “segundo a maneira que mostrarei a três de
vós, a quem indicareis e ordenareis com esse poder”.10

Joseph Smith e seus conselheiros, Sidney Rigdon e Frederick G.


Williams, foram corretamente indicados “para obter um rascunho ou
uma planta da área interna da casa”.11 Williams mais tarde descreveu
a visão seguinte. “Ajoelhamo-nos”, ele lembrou, “clamamos ao
Senhor, e o prédio apareceu a certa distância: sendo que eu fui o
primeiro a descobri-lo. Depois todos nós o vimos juntos. Após termos
olhado atentamente o exterior, o prédio pareceu estar diretamente
acima de nós”. O prédio finalizado, disse ele, “parecia coincidir com o
que eu havia visto em detalhes”.12

Uma questão básica respondida por essa visão foi com relação a que
materiais usar na construção da casa. Lucy Mack Smith lembrou de
uma reunião de conselho onde foi decidido que uma casa com
estrutura de madeira ficaria muito cara; em seu lugar foi proposta uma
casa de toras. Joseph Smith lembrou-lhes “que não estavam fazendo
uma casa para si mesmos ou para qualquer outro homem, mas uma
casa para Deus”. “Irmãos”, perguntou ele, “iremos usar toras para
construir uma casa para nosso Deus? Não, irmãos, tenho um plano
melhor. Tenho a planta da casa de Deus, dada por Ele mesmo”. Lucy
lembrou de Joseph dizendo que essa planta iria mostrar-lhes “a
diferença entre nossos cálculos e suas ideias”. Os irmãos “se
alegraram” quando Joseph descreveu a planta completa, com a
estrutura de pedras visualizada.13

Uma Planta para uma “Cidade da Estaca de Sião”


Esses acontecimentos ampliaram a visão de Joseph Smith e dos
santos com relação à aparência física da casa do Senhor que seria
construída em Kirtland; outras revelações contribuíram para um
entendimento de Sião e de sua geografia. Em junho, três semanas
após a presidência receber sua designação para obter a vontade do
Senhor com relação ao projeto da casa do Senhor em Kirtland, eles
produziram um mapa com a proposta da cidade de Sião em Missouri
que colocava o templo no centro e incluía um rascunho de seu
tamanho, sua forma e dimensões.14 A presidência orientou os líderes
de Missouri a construir “imediatamente em Sião” de acordo com
esses padrões.15

D&C 94 em JosephSmithPapers.org
Nessa época, uma revelação de 4 de junho de 1833 (atualmente
Doutrina e Convênios 96), instruiu o Bispo Newel K. Whitney que
ficasse encarregado da propriedade na qual a casa do Senhor seria
construída em Kirtland. Kirtland seria “a cidade da estaca de Sião” —
um segundo lugar de reunião segundo o padrão do local central em
Missouri. Conforme orientado em uma revelação dada em 2 de
agosto de 1833 (atualmente Doutrina e Convênios 94), ela seria
estabelecida de modo similar à planta para o Missouri, com a casa do
Senhor ao centro, porque o templo era a parte central da cidade de
Sião visualizada.16 A revelação também ordenou a construção de
dois prédios adicionais — uma “casa” para a presidência e outra para
a tipografia — a serem construídas junto ao templo no centro da
cidade.17 Também em 2 de agosto, uma revelação (Doutrina e
Convênios 97) reforçou o mandamento de que uma “casa” fosse
construída em Sião (Missouri), “conforme o modelo que vos dei”. Ela
deveria ser construída “rapidamente” para ser um lugar de ação de
graças e de instrução.18
Orientada pelas revelações, a presidência desenhou uma planta de
Kirtland e revisou a planta da cidade de Sião em Missouri.19 Eles
enviaram as plantas revisadas e cópias das revelações para os
líderes em Missouri, mas quando a carta chegou, a violência das
turbas já havia iniciado. Em poucos meses, os membros da Igreja
foram forçados a deixar o Condado de Jackson e suspender todos os
planos para construir um templo lá.

O trabalho de Joseph Smith para construir uma cidade planejada não


era o único na América do século 19. Eles foram chamados de “um
floco em uma tempestade de neve nos planos da cidade” durante
essa época de rápida expansão e desenvolvimento urbano para o
oeste.20 Os planos para a cidade de Sião também pareciam
semelhantes aos de muitas outras cidades — desenhadas em um
padrão em grade e cuidadosamente orientadas de acordo com os
pontos cardeais, com ruas largas e terrenos espaçosos. Mas havia
uma diferença crucial: Sião estava centralizada nos templos e não no
comércio. Era um lugar de reunião, onde os conversos viriam para
viver em um espaço sagrado e de onde os missionários sairiam para
pregar o evangelho — o que levaria mais pessoas a se coligarem. Os
padrões espiritual e geográfico estabelecidos no verão de 1833 iriam
moldar as comunidades dos santos dos últimos dias no restante do
século e depois disso21

“Um Norte para Todos os Nossos Pensamentos”


Após a violência no Missouri, os esforços para construir a casa do
Senhor em Kirtland começou a acelerar. Em resposta às revelações
já mencionadas, o comitê indicado anteriormente composto por
Hyrum Smith, Reynolds Cahoon e Jared Carter foi então chamado de
“comitê de construção” e sua designação era o levantamento de
fundos para a construção. Eles deveriam “iniciar imediatamente a
construção da Casa ou a obtenção de materiais como pedras, tijolos,
madeira, etc”.22 Em 7 de junho, Hyrum Smith registrou em seu diário:
“Neste dia começaram os preparativos para a Construção da Casa do
Senhor”.23

Construir o templo foi um desafio enorme para os santos. No verão de


1833, havia somente 150 membros da Igreja vivendo na
área.24 Nenhum deles possuía as qualificações tradicionais para
supervisionar um projeto de construção tão ambicioso — não havia
um único arquiteto ou engenheiro entre eles, ou até mesmo um
técnico experiente para desenhar as plantas.25 O dinheiro era
escasso e a construção do grande e imponente edifício, com um
custo estimado de $40.000 sobrecarregou os recursos financeiros da
Igreja além de sua capacidade nos três anos seguintes.26

Enquanto as dimensões, funções e alguns aspectos da sua aparência


foram especificados por revelação, outros elementos foram deixados
para os líderes e trabalhadores locais decidirem. O projeto da
construção mostra que eles usaram sua própria experiência e
deduções a respeito de como um prédio da Igreja deveria parecer.
Sua forma reflete o estilo popular do Renascimento Grego. Assim
como muitos construtores da época, eles também tomaram como
base uma mistura de características dos manuais de construção
padrão.27 As janelas góticas eram muito associadas com prédios
religiosos, e a torre e o campanário se tornaram ícones das igrejas da
Nova Inglaterra.

No início do outono, as paredes do alicerce de pedra já estavam no


lugar, mas a construção logo sofreu uma interrupção.28 Os
trabalhadores da olaria da Igreja não conseguiram produzir tijolos em
quantidade e de qualidade o bastante para serem usados na
construção.29 Decidiram pela “interrupção da construção do templo
durante o inverno por falta de materiais e para preparar e ter todas as
coisas prontas para recomeçar no início da primavera”.30

A principal fase da construção começou com a chegada, em abril de


1834, de Artemus Millet, pedreiro e construtor experiente do Canadá.
A importante contribuição de Millet foi a sugestão para o uso de uma
técnica de alvenaria de pedra bruta e estuque ao invés da construção
com tijolos que era mais cara.31Seguindo seu conselho, os santos
construíram as paredes com pedras brutas, retiradas de uma pedreira
próxima, que foram depois revestidas com estuque para dar
acabamento.

O verão e a primavera de 1834 foram períodos difíceis para a


construção do templo porque a muitos dos homens na comunidade
foram com Joseph para Missouri no Acampamento de Israel, com a
esperança de ajudar os santos que haviam sido expulsos de seus
lares devido à violência das turbas. Na ausência dos homens, as
mulheres executaram o trabalho. Algumas fizeram o trabalho de
pedreiros, outras conduziram o gado e transportaram as pedras,
outras costuraram, fiaram e teceram para confeccionar roupas para
os trabalhadores.32

A volta de Joseph Smith e da maior parte dos homens do


Acampamento de Israel significou que a construção do templo voltaria
a se tornar o foco de atividade principal em Kirtland. Joseph
pessoalmente “atuou como capataz na pedreira do templo” e
trabalhou na construção “sempre que outros deveres o
permitiam”.33 Por volta de fevereiro de 1835, as paredes estavam no
lugar e o teto começou a ser colocado. Uma reunião foi realizada em
7 de março de 1835, na qual Joseph Smith expressou gratidão por
aqueles “que se haviam destacado até então ao consagrar para a
edificação da dita casa bem como trabalhando [em sua construção]”.
Sidney Rigdon ministrou bênçãos a 120 pessoas que haviam
auxiliado na construção da casa do Senhor por meio de seu trabalho
e de sua consagração.34

No outono, havia grande urgência de terminar o templo. Lucy Mack


Smith declarou a dedicação dos membros da Igreja nesse esforço.
“Havia apenas um pensamento principal para nós”, disse ela, “que era
a construção da casa do Senhor”.35 Truman Angell, um aprendiz de
carpinteiro de Providence, Rhode Island, era o encarregado do
trabalho de carpintaria no andar superior.36Brigham Young e seu
irmão Joseph utilizaram suas habilidades para fazer e instalar as
janelas.37 Outro dos irmãos Young, Lorenzo, trabalhou com Artemus
Millet no reboco externo, um trabalho desafiador no gélido clima do
inverno. O reboco interno foi supervisionado por Jacob Bump, um
carpinteiro habilidoso que também havia construído os púlpitos e
entalhado o belo trabalho em madeira no andar inferior. Fogões foram
colocados em pontos estratégicos para aquecer o interior e ajudar na
secagem do reboco.38

As mulheres trabalharam nos véus que seriam pendurados no teto


para subdividir o salão inferior e fizeram outros adornos para o
templo. Joseph Smith mais tarde “proferiu uma bênção sobre as irmãs
pela liberalidade com que doaram seu serviço de modo tão alegre
para fazer o véu da casa do Senhor”.39Até as crianças ajudaram ao
coletar louças e vidros quebrados, que foram adicionados ao reboco
para ajudá-lo a brilhar ao sol.40

“Um Lugar para Manifestar-Se”


O interior do templo foi completado em etapas e, enquanto as salas
eram finalizadas, os líderes e os membros da Igreja começaram a
usá-las para diversos propósitos. Nesse meio tempo, Joseph Smith
trabalhou incessantemente para preparar os santos espiritualmente
para a manifestação prometida nas revelações. “Voltei para casa
cansado devido à ansiedade e ao trabalho contínuos de preparar os
líderes do sacerdócio no esforço de purificá-los para a assembleia
solene de acordo com os mandamentos do Senhor”, ele registrou em
seu diário em 30 de janeiro de 1836.41 Alguns dias antes, em meio a
tais preparativos, Joseph havia recebido uma visão do Reino Celestial
(Doutrina e Convênios 137); outras manifestações espirituais durante
este período ofereceram um vislumbre das experiências ainda
maiores que adviriam.
D&C 109 em JosephSmithPapers.org
A dedicação da casa do Senhor foi um momento de celebração e
satisfação para os primeiros santos. As revelações dos três anos
anteriores haviam tomado forma por meio do sacrifício imensurável
de trabalho e de recursos. Na oração dedicatória, agora encontrada
em Doutrina e Convênios 109, Joseph Smith clamou: “Rogamos-te, ó
Senhor, que aceites esta casa, obra de nossas mãos, de teus servos,
que nos mandaste construir. Pois sabes que fizemos esta obra em
meio a grandes tribulações; e, em nossa pobreza, demos de nossos
bens para a construção de uma casa a teu nome, a fim de que o Filho
do Homem tivesse um lugar onde se manifestar a seu povo”.42

As manifestações prometidas ocorreram. O Salvador apareceu e


declarou Sua aceitação do templo e outros seres celestiais
entregaram chaves do sacerdócio a Joseph Smith e Oliver
Cowdery.43 Essas manifestações abriram o caminho para futuras
revelações e ordenanças. Tendo mostrado seu desejo de construir
uma casa para o Senhor, os santos dos últimos dias haviam
começado a aprender o propósito dos templos.

Notas de rodapé
[1] “Revelation, 1 June 1833 [Revelação, 1º de junho de 1833] (D&C 95)”, p.
59, josephsmithpapers.org; ortografia atualizada; ver também Doutrina e
Convênios 95:3.
[2] “Revelation, 27-28 December 1832 [Revelação, 27–28 de dezembro de
1832] (D&C 88:1–126)”, pp. 45–46, josephsmithpapers.org; pontuação e
utilização de maiúsculas atualizadas; ver também Doutrina e Convênios
88:119.
[3] “Revelation, 27-28 december 1832 [Revelação, 27–28 de dezembro de
1832] (D&C 88:1–126)”, p. 45, josephsmithpapers.org; pontuação e utilização
de maiúsculas atualizadas; ver também Doutrina e Convênios 88:118.
[4] Carta de Joseph Smith a William W. Phelps, 11 de janeiro de 1833,
Letterbook 1, p. 19, josephsmithpapers.org.
[5] Em 2 de abril, por exemplo, Frederick G. Williams foi designado para
supervisionar a fabricação de tijolos em uma propriedade recentemente
adquirida e para servir como corretor para alugar a área agrícola. Ver Joseph
Smith, “História, 1838–1856, volume A-1 [23 de dezembro de 1805–30 de
agosto de 1834]”, josephsmithpapers.org. Ver também “Atas, 23 de março de
1833-A”, josephsmithpapers.org.
[6] Minute Book 1 [Livro de Atas 1], 4 de maio de 1833, p. 20,
josephsmithpapers.org; ortografia atualizada.
[7] Ver “Revelation, 20 July 1831 [Revelação, 20 de julho de 1831] (D&C 57)”,
p. 93, josephsmithpapers.org; Doutrina e Convênios 57:2–3; ver também
“Revelation, 2 August 1833 [Revelação, 2 de agosto de 1833-A] (D&C 97)”,
pp. 1–2; Doutrina e Convênios 97:10–17.
[8] “Revelation, 1 June 1833 [Revelação, 1º de junho de 1833] (D&C 95)”, pp.
59–60, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 95:8.
[9] Ver “Revelation, 2 January 1831 [Revelação, 2 de janeiro de 1831] (D&C
38)”, p. 52, josephsmithpapers.org; “Revelação, fevereiro de 1831-A [D&C
43]”, p. 68, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 38:32,
38; 43:16.
[10] “Revelation, 1 June 1833 [Revelação, 1º de junho de 1833] (D&C 95)”, p.
60, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 95:13–17.
[11] “Atas, aprox. 1º de junho de 1833”, Minute Book 1 [Livro de Atas 1], p. 12,
josephsmithpapers.org; Doutrina e Convênios 95:14.
[12] Autobiografia de Truman O. Angell, fotocópia de manuscrito
datilografado, p. 4, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[13] Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livro 14, p. 1,
josephsmithpapers.org; pontuação atualizada.
[14] “Plan of the House of the Lord [Projeto da Casa do Senhor], entre 1º e 25
de junho de 1833”, josephsmithpapers.org. Sobre esse projeto, Williams
mencionou que “o formato e as dimensões nos foram dados pelo Senhor”.
[15] “ ‘Explanation of the Plat of the City of Zion’ [Explicações sobre o Mapa
da Cidade de Sião]’, aprox. 25 de junho de 1833”, pp. 38–41,
josephsmithpapers.org.
[16] Ver “Revelation, 2 August 1833-B [Revelação, 2 de agosto de 1833-B]
(D&C 94)”, p. 1, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios
94:1. Nas primeiras edições de Doutrina e Convênios, essa revelação foi
datada incorretamente como 6 de maio de 1833. A data foi corrigida na
edição de 2013. Ver a explicação para as mudanças nos cabeçalhos das
seções, com base em fontes manuscritas históricas.
[17] “Revelation, 2 August 1833-B [Revelação, 2 de agosto de 1833-B] (D&C
94)”, pp. 2–3, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios
94:3–12. Os dois edifícios nunca foram construídos, uma vez que todos os
recursos da Igreja foram usados para a construção do templo.
[18] Ver “”, p. 1, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios
97:10–13.
[19] Comp. Gerrit J. Dirkmaat, Brent M. Rogers, Grant Underwood, Robert J.
Woodford e William G. Hartley, Documentos, volume 3, fevereiro de 1833–
março de 1834, vol. 3 da série de Documentos de The Joseph Smith Papers
[Os Documentos de Joseph Smith], comp. Ronald K. Esplin e Matthew J.
Grow (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2014), pp. 208–221; ver
também “Revised Plat of the City of Zion [Mapa Revisado da Cidade de Sião],
aprox. no início de agosto de 1833”, josephsmithpapers.org.
[20] Richard Lyman Bushman, “Making Space for the Mormons” [Abrindo
Espaço para os Mórmons], Richard Lyman Bushman, Believing History:
Latter-day Saint Essays [Crer na História: Ensaios dos Santos dos Últimos
Dias], comp. Reid L. Neilson e Jed Woodworth (New York: Columbia
University Press, 2004), p. 179.
[21] Bushman, “Making Space for the Mormons” [Abrindo Espaço para os
Mórmons], pp. 181–184.
[22] “Atas, 6 de junho de 1833”, Minute Book 1 [Livro de Atas 1], p. 21,
josephsmithpapers.org.
[23] Hyrum Smith, Diary and Account Book [Diário e Livro Contábil], novembro
de 1831–fevereiro de 1835, Hyrum Smith Papers [Documentos de Hyrum
Smith], aprox. 1832–1844, L. Tom Perry Special Collections [Coleções
Especiais de L. Tom Perry], Biblioteca Harold B. Lee, Universidade Brigham
Young, Provo, Utah. Os registros históricos fornecem alguns relatos
conflitantes sobre o início da construção. Ver também “Notes for JS History
[Anotações para a História de JS], aprox. 1843”, Revelation Book 2, p. 1,
josephsmithpapers.org; Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–
1845”, livro 14, pp. 1–2, josephsmithpapers.org.
[24] Joseph Smith e outros, “Letter to Church Leaders in Jackson County
[Carta aos Líderes da Igreja em Jackson County], Missouri, 25 de junho de
1833”, josephsmithpapers.org.
[25] Elwin C. Robison, The First Mormon Temple: Design, Construction, and
Historic Context of the Kirtland Temple [O Primeiro Templo Mórmon: Projeto,
Construção e Contexto Histórico do Templo de Kirtland] (Provo, Utah:
Brigham Young University Press, 1997), pp. 4, 9–16.
[26] John Corrill, que atuou como líder e historiador da Igreja, avaliou os
custos como “próximos a 40 mil dólares” e declarou que a Igreja ficou com
uma dívida de “13 ou 14 mil dólares” após a construção do templo.“John
Corrill, ‘Brief History [Breve História]’, Manuscrito, aprox. 1838–1839”, pp. 33–
34, josephsmithpapers.org. Em 1837, Sidney Rigdon declarou que 13 mil
dólares ainda não tinham sido pagos. Ver “Anniversary of the Church of
Latter-day Saints [Aniversário de A Igreja dos Santos dos Últimos
Dias]”, Latter Day Saints’ Messenger and Advocate, vol. 3, nº 7 (abril de
1837), p. 488.
[27] Robison, The First Mormon Temple [O Primeiro Templo Mórmon], p. 16;
ver também C. Mark Hamilton, Nineteenth-Century Mormon Architecture and
City Planning [Arquitetura e Planejamento de Cidades Mórmons no Século
19] (New York: Oxford University Press, 1995), pp. 37–38.
[28] Ira Ames, que chegou em Kirtland por volta do início de outubro de 1833,
constatou que o templo “estava construído até o primeiro
andar”. Autobiografia e diário de Ira Ames, imagem 20, Biblioteca de História
da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[29] Robison, The First Mormon Temple, p. 33.
[30] Frederick G. Williams, “Frederick G. Williams to ‘Brethren’, [Frederick G.
Williams para os ‘Irmãos’], 10 de outubro de 1833”, Letterbook 1, pp. 57–58,
josephsmithpapers.org.
[31] Robison, The First Mormon Temple, p. 33.
[32] Memórias de Aroet L. Hale, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake
City, Utah; ver também “Extracts from H. C. Kimball’s Journal” [Trechos do
Diário de H. C. Kimball], Times and Seasons, vol. 6 (15 de abril de 1845), p.
867.
[33] Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume B-1 [1º de setembro de
1834–2 de novembro de 1838]”, p. 553, josephsmithpapers.org.
[34] “Minutes and Discourses [Atas e Discursos], 7–8 de março de 1835”,
Minute Book 1 [Livro de Atas 1], pp. 192–195, josephsmithpapers.org. Outras
15 pessoas receberam bênçãos no dia seguinte às reuniões da Igreja.
[35] Lucy Mack Smith, “Lucy Mack Smith, History, 1844–1845”, livro 14, p. 3,
josephsmithpapers.org.
[36] Autobiografia de Truman O. Angell, p. 4; ver também Robison, The First
Mormon Temple [O Primeiro Templo Mórmon], pp. 66–68.
[37] Robison, The First Mormon Temple, p. 78.
[38] Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume B-1 [1º de setembro de
1834–2 de novembro de 1838]”, p. 684, josephsmithpapers.org. Para mais
informações sobre o uso de fogões, veja a carta de William W. Phelps à Sally
Phelps, 18 de dezembro de 1835, comp. Bruce A. Van Orden, “Writing to
Zion: The William W. Phelps Kirtland Letters [Correspondência para Sião: As
Cartas de William W. Phelps em Kirtland] (1835–1836)”, BYU Studies, vol. 33,
nº 3, 1993, p. 571.
[39] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 23 de fevereiro de 1836,
josephsmithpapers.org.
[40] A história de que os santos intencionalmente quebraram sua louça para
acrescentar ao estuque não é confirmada por documentos históricos, mas
pode ter sido inspirada pela reutilização de fragmentos de entulho. Ver debate
em Robison, The First Mormon Temple, p. 79.
[41] Joseph Smith, “Journal, 1835–1836”, 30 de janeiro de 1836,
josephsmithpapers.org.
[42] “Prayer of Dedication [Oração Dedicatória], 27 de março de 1836 [D&C
109]”, p. 1, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 109:4–
5.
[43] “Revelation, 3 April 1836 [Revelação, 3 de abril de 1836] (D&C 110)”, pp.
192–193, josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios
110:7,11–16.
A Palavra de Sabedoria
D&C 89
Jed Woodworth11 Junho 2013

Sala na loja Whitney & Co. usada como Escola dos Profetas em Kirtland,
Ohio.

Em 1833, numa época em que pessoas comuns começaram a se


preocupar com a própria pureza e saúde física, a Palavra de
Sabedoria foi revelada para iluminar o caminho.

Como muitas outras revelações no início da Igreja, a seção 89, hoje


conhecida como a Palavra de Sabedoria, veio em resposta a um
problema. Em Kirtland, muitos homens da Igreja foram encarregados
de pregar em várias partes dos Estados Unidos. Eles deveriam
clamar arrependimento ao povo e reunir os eleitos do Senhor. Para
preparar esses recém-conversos para esse trabalho importante,
Joseph Smith começou uma escola de treinamento, chamada Escola
dos Profetas, que foi inaugurada em Kirtland, no segundo andar da
loja de Newel K. Whitney em janeiro de 1833.1
Todas as manhãs depois do desjejum, os homens reuniam-se na
escola para ouvir instruções de Joseph Smith. A sala era muito
pequena e mais de vinte e cinco élderes lotavam o lugar.2 A primeira
coisa que faziam depois de sentar-se era “acender um cachimbo,
depois começavam a falar sobre as grandes coisas do reino e
continuavam a fumar”, contou Brigham Young. As nuvens de fumaça
eram tão espessas que os homens mal conseguiam ver Joseph
através da nuvem de fumo. Depois de fumar os cachimbos,
“colocavam um pouco de tabaco de mascar no canto da boca, talvez
um pouco em cada lado, mascavam e cuspiam tudo no chão”.3 Nesse
lugar imundo, Joseph Smith tentava ensinar aos homens como eles e
seus conversos poderiam se tornar santos, “sem mácula” e dignos da
presença de Deus.4

“A primeira coisa que faziam depois de sentar-se era ‘acender um


cachimbo, depois começavam a falar sobre as grandes coisas do reino
e continuavam a fumar’. ”

Tabaco
Esse episódio na loja Whitney ocorreu no meio de uma enorme
transformação da cultura ocidental. Em 1750, higiene e limpeza
pessoais eram práticas pouco usadas, casuais, e uma preocupação
mais comum somente entre pessoas ricas e aristocráticas. Por volta
de 1900, tomar banho regularmente tornou-se uma rotina para a
maioria da população, especialmente na classe média, que adotara
as boas maneiras como um ideal.5 Cuspir tabaco passou de prática
publicamente aceita pela maioria dos segmentos da população para
um hábito imundo, abaixo dos padrões de dignidade de uma
sociedade educada. Em meio a essa mudança cultural, no momento
exato em que pessoas comuns começaram a se preocupar com a
própria pureza e saúde física, a Palavra de Sabedoria veio para
iluminar o caminho.
D&C 89 em JosephSmithPapers.org
O que aconteceu na Escola dos Profetas teria sido motivo suficiente
para preocupar qualquer não fumante como Joseph Smith.6 A esposa
de Joseph, Emma, disse-lhe que a casa era responsabilidade dela.
Ele e Emma moravam na loja de Whitney, e a tarefa de esfregar o
chão para limpar a sujeira do cuspe era um fardo pesado para Emma.
Ela pode ter reclamado de ter de realizar essa tarefa ingrata, mas
havia também uma reflexão mais prática: “Ela não conseguia fazer
com que o chão ficasse com boa aparência”, contou Brigham
Young.7 Era impossível remover as manchas. A situação toda parecia
estar longe do ideal para aqueles que foram chamados por Deus
como esses élderes, especialmente quando lembramos de que o
quarto de chão imundo era a “sala de tradução” de Joseph, o mesmo
lugar em que ele recebia revelações em nome de Deus. Joseph
começou a perguntar ao Senhor sobre o que poderia ser feito, e no
dia 27 de fevereiro, pouco mais de um mês depois do início da
escola, ele recebeu a revelação que foi posteriormente canonizada
como Doutrina e Convênios 89. A resposta foi inequívoca. “Tabaco
não é para o corpo nem para o ventre e não é bom para o
homem”8 (ver D&C 89:8).

Bebidas Fortes
Fumo era apenas uma das várias substâncias referentes à limpeza e
saúde física cujos méritos foram motivo de acalorados debates em
ambos os lados do Oceano Atlântico, na época em que a Palavra de
Sabedoria foi recebida. Os debates eram muito freqüentes, porque
muitas pessoas abusavam dessas substâncias! Frances Trollope,
escritora britânica, relatou com desdém em 1832 que em todas as
suas recentes viagens aos Estados Unidos, nunca conhecera um
homem que não fosse um “mascador de tabaco ou um bebedor de
uísque”.9

Beber, assim como mascar fumo, tinham obviamente saído do


controle. Por séculos, quase todos os americanos consumiram
grandes quantidades de bebidas alcoólicas, tanto quanto seus
companheiros europeus. Os puritanos chamavam o álcool de a “Boa
criação de Deus”, uma bênção do céu para ser tomada com
moderação. O álcool era consumido em praticamente todas as
refeições em parte porque a água impura daquela época era muito
nociva. A cerveja caseira era uma das favoritas, e depois de 1700, os
colonizadores britânico-americanos bebiam suco de pêssego
fermentado, cidra de maçã fermentada e rum importados das Índias
Ocidentais ou destilados de melaço feito nesses lugares. Por volta de
1770, o consumo per capita de bebidas alcoólicas sozinho — sem
mencionar cerveja ou cidra — estava em 14 litros por ano.10

A Revolução Americana só aumentou essa dependência do álcool.


Depois que as importações de melaço foram proibidas, os
americanos procuraram um substituto para o rum no uísque. Os
produtores de grãos do oeste da Pensilvânia e do Tennessee
acharam mais barato fabricar uísque do que despachar e vender
grãos perecíveis. Como consequência, o número de destilarias
cresceu rapidamente após 1780, impulsionado pelo assentamento do
cinturão de milho de Kentucky e Ohio e devido às grandes distâncias
dos mercados do leste. Para a surpresa de observadores como
Trollope, os americanos de toda parte — homens, mulheres e
crianças — bebiam uísque o dia inteiro. O consumo americano de
bebidas destiladas aumentou abruptamente de 9,5 litros por pessoa
em 1790 para 25,5 litros em 1830, a maior quantidade já registrada
na história americana e três vezes mais que a taxa de consumo de
hoje.11

Esse elevado nível de consumo de bebidas alcoólicas não condizia


com a moralidade religiosa. No início de 1784, tanto os Quakers como
os Metodistas começaram a aconselhar seus membros a abster-se de
todas as bebidas alcoólicas e a evitar a participação em sua venda e
fabricação.12 Deu-se início a um movimento político mais agressivo
entre as igrejas nas primeiras décadas do século XIX. As bebidas
alcoólicas eram vistas mais como um perigo tentador e menos como
um dom de Deus. Em 1812, as Igrejas congregacionais e
presbiterianas de Connecticut recomendaram que houvesse leis
estritas de regulamentação limitando a distribuição de bebidas
alcoólicas. Lyman Beecher, um líder nesse movimento de reforma,
defendeu medidas ainda mais extremas, endossando a completa
abstinência. A ideia logo se tornou um dos elementos centrais da
American Temperance Society (ATS) [Sociedade Americana de
Abstinência], organizada em Boston em 1826. As pessoas foram
incentivadas a assinar uma promessa de serem abstêmias, não
apenas de serem mais moderadas no consumo de álcool. Um “T”
maiúsculo [de “temperance” - abstinência] foi escrito ao lado dos
nomes das pessoas que assumiram esse compromisso, e é de onde
deriva a palavra “teetotaler” em inglês [abstêmio]. Em meados da
década de 1830, a ATS havia aumentado o número de adeptos para
mais de 1 milhão de membros, muitos deles abstêmios.13
Incentivados pela ATS, surgiram milhares de sociedades locais
voltadas para a abstinência em todo os EUA. Kirtland tinha sua
própria sociedade de abstinência, assim como muitas cidades
pequenas.14 Exatamente porque a reforma do álcool era tão
frequentemente discutida e debatida, com todos tendo uma opinião,
os santos precisavam saber como definir o que estava certo. Além de
rejeitar o uso do tabaco, a Palavra de Sabedoria também era contra
bebidas alcoólicas: “Eis que não é bom nem aceitável aos olhos de
vosso Pai que alguém entre vós tome vinho ou bebida forte” (ver D &
C 89:5).15

No entanto, é necessário tempo para acabar com práticas que foram


tão profundamente arraigadas na tradição familiar e cultural,
especialmente quando bebidas alcoólicas de todos os tipos eram
usadas com frequência para fins medicinais. O termo “bebida forte”
certamente incluía bebidas destiladas como o uísque, que a partir
dessa época passou a ser evitada pelos santos dos últimos dias em
geral.

Eles usavam uma abordagem mais moderada no tocante a bebidas


alcoólicas mais leves como cerveja e “vinho puro de uva da videira da
vossa própria fabricação” (ver D&C 89:6 ). Nas duas gerações
seguintes, os líderes da Igreja ensinaram a Palavra de Sabedoria
como um mandamento de Deus, mas toleravam vários pontos de
vista sobre quão estritamente o mandamento deveria ser observado.
Esse período de incubação deu aos santos tempo para
desenvolverem suas próprias tradições de abstinência de drogas
viciantes. No início do século XX, quando medicamentos científicos
estavam mais amplamente disponíveis e a frequência ao templo se
tornara um meio mais regular de adoração dos santos dos últimos
dias, a Igreja estava pronta para aceitar um padrão mais estrito de
observância dos mandamentos que iria eliminar problemas como o
alcoolismo entre os obedientes. Em 1921, o Senhor inspirou o
presidente da Igreja, Heber J. Grant, a invocar todos os santos a viver
a Palavra de Sabedoria ao pé da letra, abstendo-se completamente
de todas as bebidas alcoólicas, café, chá e fumo. Espera-se que os
membros da Igreja de hoje vivam esse padrão mais elevado.16

Bebidas Quentes
Os reformadores do movimento americano de abstinência tiveram
sucesso na década de 1830 principalmente por terem encontrado um
substituto para o álcool: o café. No século XVIII, o café era
considerado um item de luxo e o chá fabricado na Inglaterra era mais
preferido. Depois da Revolução, beber chá passou a ser algo
antipatriótico e caiu quase totalmente em desuso. O caminho foi
aberto para que surgisse um rival estimulante. Em 1830, os
reformadores persuadiram o Congresso Americano a retirar as taxas
de importação sobre o café. A estratégia funcionou. O preço do café
caiu para dez centavos por quilo, fazendo com que tomar uma xícara
de café custasse o mesmo que beber um copo de uísque, marcando
o declínio dessa bebida. Em 1833, o café tinha entrado “para grande
parte do consumo diário de quase todas as famílias, ricos e pobres”.
O Baltimore American colocava o café “entre as necessidades da
vida”.17 Apesar de o café ter tido grande aprovação em meados de
1830, inclusive dentro da comunidade médica, alguns reformadores
radicais como Sylvester Graham e William A. Alcott pregaram contra
o uso de quaisquer estimulantes, inclusive o café e o chá preto.18

A Palavra de Sabedoria rejeitava a ideia de um substituto para a


bebida alcoólica. As “bebidas quentes” — que os santos dos últimos
dias entendiam como sendo café e chá preto19— “não são para o
corpo nem para o ventre”, explicou a revelação (ver D&C 89:9).20 Em
vez disso, a revelação incentivou o consumo de alimentos básicos
como aqueles que sustentaram a vida durante milênios.

A revelação enalteceu “todas as ervas salutares”. “Todos os grãos


são indicados para uso do homem e dos animais, para ser o esteio da
vida (…) como também o fruto da videira, aquilo que produz fruto,
seja na terra ou acima da terra.” De acordo com uma revelação
anterior endossando o uso da carne, a Palavra de Sabedoria lembrou
aos santos que a carne de animais e aves foram concedidas “para o
uso do homem, com gratidão”, mas acrescentou a advertência de que
deveriam ser “usadas moderadamente”, não com excesso (ver D&C
89:12).21

“[Derramarei] o meu espírito sobre toda a carne.”


Os santos dos últimos dias que ouvem falar dos movimentos
americanos de reforma na saúde ocorridos nas décadas de 1820 e
1830 às vezes ficam perplexos a princípio. Como esses movimentos
se relacionam com a Palavra de Sabedoria? Joseph Smith
simplesmente utilizou ideias já existentes no local onde vivia e
passou-as adiante como revelação?

Essas preocupações são injustificadas. Faríamos bem em


lembrarmos de que muitos dos primeiros membros da Igreja que
participaram de sociedades de abstinência viam a Palavra de
Sabedoria como conselhos inspirados, “adaptada à capacidade dos
fracos e do mais fraco de todos os santos, que são ou podem ser
chamados santos”.22 Além disso, não havia nada na literatura
daquela época que se assemelhasse àquela revelação. Os
reformadores do movimento de abstinência tentavam com frequência
assustar seus ouvintes, ligando o consumo de bebidas alcoólicas a
uma série de males sociais ou doenças terríveis.23 A Palavra de
Sabedoria não usava esses argumentos. A revelação diz
simplesmente que bebida forte “não é bom para o corpo”. Explicações
semelhantes são dadas para prescrições contra o fumo e bebidas
quentes.24 A revelação pode ser compreendida mais como uma
declaração do que é certo e não apenas como uma opinião dentro de
um debate cultural.

Em vez de colocar medo nas pessoas, os argumentos da Palavra de


Sabedoria estão voltados para a confiança. A revelação convida os
ouvintes a confiar em um Deus que tem o poder de conceder grandes
recompensas, espirituais e físicas, em troca da obediência a um
mandamento divino. Diz a revelação que, aqueles que seguem a
Palavra de Sabedoria, “receberão saúde para o umbigo e medula
para os ossos; e encontrarão sabedoria e grandes tesouros de
conhecimento, sim, tesouros ocultos”.25 Essa promessa une o corpo
ao espírito, elevando o cuidado com o corpo para o nível de um
princípio religioso.26

No final, era de se esperar que houvesse algumas ideias similares


entre a Palavra de Sabedoria e o movimento de reforma da saúde do
século XIX. Essa foi uma época de “refrigério” (Atos 3:19), um
momento da história em que luz e conhecimento foram enviados do
céu. Na noite em que o anjo Morôni se dirigiu a Joseph Smith pela
primeira vez, no outono de 1823, o anjo citou uma frase do livro de
Joel e disse que estava prestes a ser cumprida: “Derramarei meu
espírito sobre toda a carne”, diz a passagem (Joel 2:28; grifo do
autor). Como o movimento da abstinência fez com que as pessoas
ficassem menos dependentes de substâncias que viciam,
incentivando a humildade e a agir com retidão, certamente foi
inspirado por Deus. “Aquilo que é de Deus convida e impele a fazer o
bem continuamente”, declara o Livro de Mórmon (Morôni 7:13).27 Em
vez de se preocuparem com o fato de haver ideias culturais
semelhantes, os santos dos últimos dias podem contemplar com
alegria como o espírito de Deus tocou tantas pessoas, tão
amplamente e com tanta força.

“Os santos dos últimos dias podem contemplar com alegria como o
espírito de Deus tocou tantas pessoas, tão amplamente e com tanta
força. ”

Logo depois de receber a Palavra de Sabedoria, Joseph Smith,


apareceu diante dos élderes da Escola dos Profetas e leu a revelação
para eles. Não foi necessário explicar aos élderes o que significavam
aquelas palavras. Eles “imediatamente jogaram seus cachimbos no
fogo”, contou ele.28 Desde aquela época, a inspiração da Palavra de
Sabedoria foi provada muitas outras vezes na vida dos santos e seu
poder e divindade continuam até hoje. De certa forma, o movimento
americano de reforma da saúde caiu no esquecimento. A Palavra de
Sabedoria continua a iluminar nosso caminho.

Notas de rodapé
[1] Milton V. Backman, “School of the Prophets and School of the
Elders”, Joseph: Exploring the Life and Ministry of the Prophet, ed. Susan
Easton Black e Skinner (Salt Lake City: Deseret Book, 2005), pp.165–75.
[2] Orson Hyde foi o instrutor principal naquele primeiro semestre, mas parece
que Joseph Smith comparecia com regularidade. Steven R. Sorensen,
“School of the Prophets”, Encyclopedia of Mormonism, 4 vols., ed. H. Daniel.
Ludlow (New York: Macmillan, 1992), 3:1269; Lyndon W. Cook, The
Revelations of the Prophet Joseph Smith: A Historical and Biographical
Commentary of the Doctrine and Covenants (Salt Lake City: Deseret Book,
1985), p. 191.
[3] Brigham Young, Discurso, 2 de dezembro de 1867; 8 de fevereiro de 1868,
Papers of George D. Watt, taquigrafia transcrita por LaJean Purcell Carruth,
Biblioteca de História da Igreja. O sermão anterior é inédito. Para uma versão
publicada do último sermão, ver Brigham Young, em Journal of
Discourses, 26 vols. (Liverpool: F. D. Richards, 1855-86), 12:157–58.
[4] Revelação, 2 de janeiro de 1831, Joseph Smith Papers. Ver D&C 38:31.
[5] O processo “civilizatório” já estava acontecendo há séculos, mas tornou-se
popular entre as pessoas de diferentes classes sociais no século XIX. Norbert
Elias, The History of Manners, tradução de Edmunds Jephcott (Nova York,
1978); Georges Vigarello, Concepts of Cleanliness: Changing Attitudes in
France since the Middle Ages tradução de Jean Birrell (Cambridge e Paris:
Cambridge University Press e Editiions de la Maison des Sciences de
l’Homme, 1988); Richard L. Bushman e Claudia L. Bushman, “The Early
History of Cleanliness in America”, Journal of American History 74 (março de
1988):1213-38; Richard L. Bushman, The Refinement of America: Persons,
Houses, Cities (New York: Knopf, 1992); Dana C. Elder, “A Rhetoric of
Etiquette for the ‘True Man’ of the Gilded Age”, Rhetoric Review 21, n º 2
(2002): 155, 159.
[6] Sobre Joseph Smith não fumar, ver Brigham Young, Discurso, 8 de
fevereiro de 1868.
[7] Brigham Young, Discurso, 8 de fevereiro de 1868, Papers of George D.
Watt, transcrito por LaJean Purcell Carruth, CHL. A versão publicada muda o
texto para mostrar reclamação mais do que consternação: “as reclamações
de sua esposa ao ter de limpar o chão tão sujo”. Brigham Young, Journal of
Discourses, 12:158.
[8] Revelação, 27 de fevereiro de 1833, JSP.
[9] Frances Trollope, Domestic Manners of the Americans, 2 vols. (Boston,
1832), 1:101. Em 1800, o fumo era tido como capaz de curar uma longa lista
de doenças: dor abdominal, mordida de cobra, escorbuto, hemorroidas,
“loucura” e dezenas de outros males. Mas a propagação de refinamento na
classe média nas primeiras décadas do século XIX trouxe uma nova rodada
de críticas públicas. O fumo passou a ser conhecido como “erva imunda”, e
palavras como “repugnante” e “desagradável” eram cada vez mais
associadas a ele. Lester Bush Jr., “The Word of Wisdom in Nineteenth-
Century Perspective” Dialogue 14 (Outono de 1981): 56; “For the Evening
Post”, New York Evening Post, 27 de junho de 1829, [2].
[10] W. J. Rorabaugh, The Alcoholic Republic: An American Tradition (New
York: Oxford University Press, 1979), pp. 25–57; W. J. Rorabaugh, “Alcohol in
America”, OAH Magazine of History 6 (Outono de 1991): 17–19; Peter C.
Mancall, “‘The Art of Getting Drunk’ in Colonial Massachusetts”, Reviews in
American History 24 (setembro de 1996): 383.
[11] Gordon Wood, Empire of Liberty: A History of the Early Republic, 1789-
1815 (New York: Oxford University Press, 2009), p. 339; Joseph F. Kett,
“Temperance and Intemperance as Historical Problems, Journal of American
History 67 (março de 1981): 881; Rorabaugh, “Alcohol in America”, p. 17.
[12] Mark Edward Lender e James Kirby Martin, Drinking in America: A
History, ed. rev. e exp. (New York: Free Press, 1987), p. 35.
[13] Ian R. Tyrrell, Sobering Up: From Temperance to Prohibition in
Antebellum America, 1800-1860 (Westport, Conn.: Greenwood Press, 1979);
James R. Rohrer, “The Origins of the Temperance Movement: A
Reinterpretation”, Journal of American Studies 24 (agosto de 1990): 230–31;
Lyman Beecher, Six Sermons on the Nature, Occasions, Signs, Evils, and
Remedy of Intemperance (1825; New York: American Tract Society, 1827), p.
194; Daniel Walker Howe, What Hath God Wrought: The Transformation of
America, 1815-1848 (New York: Oxford University Press, 2007), pp. 167–68.
A American Temperance Society adotou o juramento formal de abstinência de
todas as bebidas alcoólicas em 1831. Robert H. Abzug, Cosmos Crumbling:
American Reform and Religious Imagination (New York: Oxford University
Press, 1994), p. 98.
[14] Christopher G. Crary, Pioneer and personal
Reminiscences (Marshalltown, Iowa: Marshall Printing, 1893), p. 25. Sinto-me
em dívida para com Andy Hedges por chamar minha atenção para essa fonte.
[15] Revelação, 27 de fevereiro de 1833, JSP. O termo “bebida forte” é uma
expressão bíblica que se aplica ao vinho, mas os reformadores do movimento
de abstinência muitas vezes deram uma definição mais ampla para o termo,
que incluía bebidas alcoólicas destiladas. Addison Parker, discurso proferido
na Southbridge Temperance Society, na noite de 1 de dezembro de
1830 (Southbridge: Josiah Snow, 1830), pp. 7–8; Fifth Report of the American
Temperance Society, apresentado numa reunião em Boston, maio de
1832 (Boston: Aaron Russell, 1832), 47, 95, 112.
[16] A moderação em vez da abstinência foi aplicada a praticamente todas as
substâncias mencionadas na Palavra de Sabedoria até o início do século XX.
Sobre a observância mais estrita da Palavra de Sabedoria, ver Thomas G.
Alexander, Mormonism in Transition: A History of the Latter-day Saints, 1890-
1930 (Urbana: University of Illinois Press, 1986), pp. 258–72; e Paul H.
Peterson e Ronald, “Brigham Young’s Word of Wisdom Legacy” BYU
Studies 42, n º 3-4 (2003): 29-64.
[17] Rorabaugh, Alcoholic Republic, 99–100.
[18] Bush, “The Word of Wisdom in Nineteenth-Century Perspective”, p. 52.
[19] Paul H. Peterson, “An Historical Analysis of the Word of Wisdom” (tese de
mestrado, Brigham Young University, 1972), pp. 32–33; “The Word of
Wisdom”, Times and Seasons 3 (1 de junho de 1842): 800.
[20] Revelação, 27 de fevereiro de 1833, JSP; “City Marshall’s
Department”, City Gazette and Commercial [Charleston, SC], 18 de abril de
1823, [3]; “Gaming”, Berks and Schuylkill Journal[Reading, Penn.], 8 de
janeiro de 1825, [3].
[21] Revelação, 7 de maio de 1831, JSP; Revelação, 27 de fevereiro de
1833, JSP.
[22] Revelação, 27 de fevereiro de 1833, JSP.
[23] Nas palavras de uma autoridade, bebidas alcoólicas “entorpecem os
sentimentos, adormecem a sensibilidade moral e prejudicam a digestão mais
do que a maioria das doenças que afligem a raça humana”. “On
Drunkenness”, Connecticut Herald, 21 de fevereiro de 1826, [1]. Para outros
argumentos como esse, ver “Twenty Dollars Reward”, Daily National
Intelligencer, 23 de setembro de 1823, [4]; “Rev. Isaac McCoy”, New-
Hampshire Repository 6 (3 de maio de 1824): 70; e “From the Times and
Advertiser”, Times and Hartford Advertiser, 3 de janeiro de 1826, [4].
[24] Isso não quer dizer que todas as propostas de saúde daquele tempo
baseavam-se numa argumentação elaborada. Ver, por exemplo, proposições
de Samuel Underhill em Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The
Historical Setting for Joseph Smith’s Ohio Revelations (Salt Lake City: Greg
Kofford Books, 2009), p. 110. Para outras formas em que a Palavra de
Sabedoria pode ter divergido das opiniões aceitas, consulte Steven C.
Harper, Making Sense of the Doctrine & Covenants: A Guided Tour through
Modern Revelations (Salt Lake City: Deseret Book, 2008), pp. 332–33. No
século XX, alguns santos dos últimos dias procuraram isolar os produtos
químicos prejudiciais das substâncias proibidas na Palavra de Sabedoria,
mas tal análise nunca foi aceita como doutrina da Igreja e foi além do
propósito da própria revelação. Widtsoe e Leah D. Widtsoe, The Word of
Wisdom: A Modern Interpretation (Salt Lake City: Deseret Book, 1937).
[25] Revelação, 27 de fevereiro de 1833, JSP.
[26] Harper, Making Sense of the Doctrine & Covenants, 328.
[27] Morôni 7:13. Em 1840, o consumo per capita na América havia caído
cerca de três litros, a maior queda em dez anos na história americana. Lender
e Martin, Drinking in America, 71–72; Tyrrell, Sobering Up, 225–51.
[28] Lembranças de Zebedee Coltrin, Salt Lake School of the Prophets,
Minutes, 3 de outubro de 1883, Biblioteca da História da Igreja.
“O Homem Também Estava no Princípio com
Deus”
D&C 93
Matthew McBride22 Junho 2016

A loja de Newel K. Whitney, em Kirtland, Ohio. Um dos cômodos de cima da


loja foi usado como local de reunião da Escola dos Profetas.

Joseph Smith aprendeu que os homens e as mulheres foram


coeternos com Deus e poderiam tornar-se como Ele. Falando com
uma certeza dada por revelação, ele ensinou: “A alma, a mente do
homem, de onde vieram? Os instruídos dizem que Deus a fez no
princípio, mas não foi assim. Eu sei. Deus assim me contou”.

Do final de janeiro até abril de 1833, Joseph Smith e outros 15 a 20


homens frequentaram a Escola dos Profetas na loja de Newel K.
Whitney, em Kirtland, Ohio. Nessas reuniões, eles cantavam, oravam
e estudavam uma variedade de assuntos que iam do mundano ao
sagrado e ainda exerciam dons espirituais. Durante uma dessas
sessões, realizada em 27 de fevereiro, no mesmo dia em que a
Palavra de Sabedoria foi revelada, David W. Patten foi inspirado pelo
Espírito Santo a cantar um hino em uma língua desconhecida. Uma
pessoa que estava presente, talvez Sidney Rigdon, interpretou para
as outras pessoas o hino cantado por Patten. O hino falava sobre a
visão de Enoque, conforme se encontra na revisão de Joseph Smith
de Gênesis.1

Provavelmente, a visão de Enoque era familiar para a maioria dos


homens na escola. Escrita cerca de dois anos antes e publicada
no Evening and Morning Star (um periódico antigo da Igreja), em
agosto de 1832, forneceu uma visão geral da história da humanidade
— nas palavras de Patten (que interpretou o hino), foi mostrado a
Enoque “o que já ocorreu, o que há agora e o que há de ser”.2 A
visão também forneceu aos membros da Igreja um dos primeiros
vislumbres da ideia de uma existência pré-mortal.3 “Eu fiz o mundo e
os homens antes que existissem na carne”, disse o Senhor ao profeta
antigo (Moisés 6:51). A interpretação do hino ocorrida na sala de aula
ecoava o texto revelado: “Ele viu a época em que o Adão foi criado e
que ele estava na eternidade, antes que um grão de poeira fosse
pesado na balança”.4

As revisões de Joseph Smith da Bíblia, inclusive a visão de Enoque,


continham ideias profundas sobre a vida pré-mortal e o
relacionamento da humanidade com o divino. Mas só foram feitas
alusões a elas e não foram explicadas em detalhes. Podemos sentir a
emoção desses primeiros membros ao ouvirem o hino interpretado e
contemplarem o que as alusões significavam. Mas só supomos quais
perguntas podem ter sido plantadas na mente de Joseph Smith e de
seus companheiros na escola.
D&C 93 em JosephSmithPapers.org
Em 6 de maio, poucas semanas depois da interrupção das aulas para
o verão, Joseph Smith recebeu uma revelação que dava mais
detalhes a respeito da existência pré-mortal. Essa revelação se
encontra em Doutrina e Convênios 93 e vai de encontro às ideias
cristãs tradicionais sobre a natureza da humanidade, abrindo novas
perspectivas impressionantes sobre nosso passado pré-mortal, nosso
futuro potencial e nosso relacionamento com Deus.

Desde o século 5, cristãos ortodoxos impuseram um abismo quase


intransponível entre o Criador e Suas criações.5 Os cristãos
começaram a acreditar que a humanidade foi criada do nada. Deus
não era um artesão que renovava os materiais existentes, mas que
usava materiais desconhecidos e misteriosos e completamente
diferentes de Sua criação. A descrição da Bíblia a respeito do nosso
relacionamento com Deus era conhecida, em grande parte, como
uma metáfora em vez de uma ligação literal. Sugerir o contrário, de
acordo com a maioria dos pensadores cristãos, era uma forma
profana de diminuir a Deus ou perigosamente elevar a humanidade.

A revelação recebida em 6 de maio era ousada e nova, mas ao


mesmo tempo antiga e familiar. Assim como muitas revelações de
Joseph Smith, ela restaurava verdades que aparentemente eram
conhecidas dos personagens bíblicos, nesse caso, o Apóstolo João.
Ela declarava que, assim como Cristo “estava no princípio com o pai”,
então o “homem também estava no princípio com Deus”. Ela
desprezava a antiga crença de que a criação foi feita do nada: “A
inteligência, ou seja, a luz da verdade, não foi criada nem feita nem
verdadeiramente pode sê-lo”.6 Em outras palavras, os espíritos de
homens e mulheres mortais eram tão eternos como o próprio Deus.

A revelação restaurou outra verdade sobre Deus e a natureza


humana. Repetia-se a definição de verdade tanto no Livro de Mórmon
quanto no hino de David Patten como o “conhecimento das coisas
como são, como foram e como serão”. Essas ideias sobre o passado,
presente e futuro foram dadas “para compreenderdes e saberdes
como adorar e saberdes o que adorais”.7 Essa revelação tratava em
particular do passado de Deus e do futuro potencial glorioso da
humanidade. Foi dito a Joseph que Jesus Cristo tinha progredido para
tornar-Se como Seu Pai. “No princípio ele não recebeu da plenitude”,
mas “continuou de graça em graça” até receber a plenitude de Seu
Pai. Da mesma forma, a humanidade tinha potencial divino. Os
homens e as mulheres que guardam os mandamentos de Deus
“recebem graça por graça” até que eles também “recebam de sua
plenitude e sejam glorificados em mim como eu o sou no Pai”.8 Esses
lampejos de inspiração “das coisas como [realmente] são”
restauraram uma antiga compreensão do relacionamento de Deus e
Seus filhos e reduziram o espaço existente entre o Criador e a
criação, conhecimento que os mórmons tinham herdado da tradição
cristã.

Joseph Smith passou o resto da vida ponderando sobre as


consequências dos ensinamentos dessa impressionante revelação.
Anos mais tarde, em Nauvoo, ele compartilhou essas verdades na
forma mais completa em seu último sermão de conferência.
Repetindo as palavras da revelação, ele ensinou que os homens e as
mulheres eram coeternos com Deus e poderiam tornar-se
semelhantes a Ele “de uma capacidade menor para outra maior” até
“habitar no brilho eterno”. Falando com a certeza dada por revelação,
ele ensinou: “A alma, a mente do homem, de onde vieram? Os
instruídos dizem que Deus a fez no princípio, mas não foi assim. Eu
sei. Deus assim me contou”.9

Notas de rodapé
[1] Uma placa publicada após a morte de Patten identificava Patten como o
cantor e Rigdon como o intérprete. “Mysteries of God, as revealed to Enoch,
on the Mount Mehujah”, [Após 1838], Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City. O hino também tem sido atribuído a Frederick G. Williams (ver
Frederick G. Williams, “Singing the Word of God: Five Hymns by President
Frederick G. Williams”, BYU Studies, vol. 48, nº 1, 2009, p. 6488).
[2] Robin Scott Jensen, Robert J. Woodford e Steven C. Harper,
eds., Revelations and Translations, Volume 1: Manuscript Revelation
Books. Vol. 1 of the Revelations and Translations series of The Joseph Smith
Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman
Bushman (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2011), pp. 525–
527; josephsmithpapers.org.
[3] No Livro de Mórmon, a escritura em Alma 13:3–4 tem sido interpretada
como referindo-se a uma vida pré-mortal. Não há evidências, no entanto, de
que Joseph Smith ou seus contemporâneos tenham visto Alma 13 dessa
maneira (ver Terryl L. Givens, When Souls Had Wings: Premortal Existence in
Western Thought [New York: Oxford University Press, 2010], p. 360, nota 21).
[4] “Revelation Book 2”, p. 48, josephsmithpapers.org. O hino interpretado foi
enviado para Independence, Missouri, onde W. W. Phelps o publicou no
jornal da Igreja. Antes de ser impresso, o texto foi adaptado em uma canção
com métrica e rimas. Essa passagem foi impressa: “Enoque viu sua geração
começar com Deus, / A humanidade emanava Dele, / Que com Ele em glória
habitavam, / Antes que houvesse uma Terra ou um inferno” (“Songs of
Zion”, Evening and Morning Star, vol. 1, nº 12, maio de 1833, p. 192).
[5] O Concílio de Calcedônia, 451 d.C., condenou a doutrina da existência
pré-mortal e definiu a natureza de Cristo como Deus e homem, sendo essa
natureza indivisível e imutável (ver Introdução Histórica em “Revelation, 6
May 1833 [D&C 93]”, josephsmithpapers.org).
[6] “Revelation, 6 May 1833 [D&C 93]”, p. 3, josephsmithpapers.org; ver
também D&C 93:21, 29.
[7] “Revelation, 6 May 1833 [D&C 93]”, p. 3, josephsmithpapers.org; ver
também D&C 93:19, 24.
[8] “Revelation, 6 May 1833 [D&C 93]”, pp. 2–3, josephsmithpapers.org; ver
também D&C 93:12–13, 20.
[9] “Discourse, 7 April 1844, as Reported by Wilford Woodruff”, pp. 135, 137,
josephsmithpapers.org; pontuação atualizada.
Aguardar a Orientação do Senhor
D&C 97, 98 e 101
David W. Grua18 Abril 2016

Uma revelação a Joseph Smith havia declarado que o Condado de


Jackson seria “o local para a cidade de Sião”. Uma revelação havia
chamado William W. Phelps para mudar-se com a família para esse
local, abrir uma gráfica e “se estabelecer como impressor da Igreja”.
Os santos haviam feito grandes sacrifícios para construir Sião. Eles
poderiam simplesmente abandoná-la?

Em 20 de julho de 1833, os líderes de uma turba no Condado de


Jackson, Missouri, convocaram uma reunião com William W. Phelps e
outros líderes da Igreja. Os líderes da turba tinham várias
reclamações contra os santos. Eles sentiam-se ameaçados pela
crença dos santos de que o Condado de Jackson era uma terra
prometida que eles chamavam de Sião. Eles eram contra o grande
número de pessoas, a maioria pobre, que viera para o condado nos
últimos dois anos para construir Sião. E por causa de um artigo que
Phelps havia publicado recentemente no Evening and the Morning
Star1 — a respeito das exigências legais destinadas a inibir a
imigração dos negros livres no Missouri — a turba temia que os
negros livres que eram membros da Igreja logo começassem a se
unir a Sião, desfazendo a dinâmica racial em seu estado escravista.

No editorial seguinte, Phelps tentou diminuir a tensão entre os santos


e os líderes do Condado de Jackson, mas nada do que escreveu
mudou a mente deles sobre as intenções dos santos. Quanto mais
preocupada a turba ficava, menos chances os santos tinham de se
explicar. Eles deram 15 minutos para que Phelps e os outros líderes
da Igreja concordassem em retirar a comunidade Mórmon inteira até
a próxima primavera — ou sofrer as consequências.2

Phelps e os outros líderes da Igreja hesitaram. Uma revelação a


Joseph Smith havia declarado que o Condado de Jackson seria “o
local para a cidade de Sião”. A revelação havia chamado Phelps para
mudar-se com a família para esse local, abrir uma gráfica e “se
estabelecer como impressor da Igreja”.3 Os santos haviam feito
grandes sacrifícios para construir Sião. Eles poderiam simplesmente
abandoná-la?

Sem uma promessa de que os santos iriam sair, a turba começou


uma campanha de ameaças violentas. Eles arrebentaram a porta da
casa de Phelps, jogaram a máquina de impressão do segundo andar
na rua e depois destruíram o prédio.4 A família Phelps teve que
procurar abrigo para aquela noite em um estábulo
abandonado.5 Outros santos também sofreram naquele dia: o Bispo
Edward Partridge e Charles Allen foram cobertos de piche e penas e
a loja de Sidney Gilbert foi atacada. Três dias depois, Partridge,
Phelps e outros líderes da Igreja, não vendo nenhuma alternativa,
concordaram formalmente que todos os santos deixariam o condado
até abril de 1834.6

“Em nossa situação atual não tenho nada para escrever” escreveu o
geralmente prolixo Phelps ao Profeta Joseph Smith em Kirtland, Ohio,
alguns dias mais tarde. Phelps queria cumprir seu chamado de
edificar Sião, mas não conseguia ver como poderia fazer isso diante
da situação atual. “Aguardo pela orientação do Senhor”, declarou
Phelps, esperando que Joseph fosse buscar respostas nas
revelações sobre o porquê de o Senhor haver permitido que essas
coisas acontecessem a Sião. “Se o Senhor ainda fala com seus filhos,
pode ser bom perguntar cada questão referente à destruição da
tipografia”, sugeriu ele. Nesse meio tempo, Phelps tentou ver os
desafios de maneira positiva. “Sei pela experiência que tive”,
assegurou ele aos santos em Kirtland em uma carta, “que é bom para
a nossa fé que ela seja muito bem provada”.7

Receber Orientação Divina


D&C 97 em JosephSmithPapers.org
Joseph Smith não recebeu notícias detalhadas desses
acontecimentos até 9 de agosto de 1833, quando Oliver Cowdery — o
emissário dos santos no Missouri — chegou a Kirtland depois de uma
viagem de duas semanas e meia.8 Os 1.450 quilômetros que
separavam Independence de Kirtland garantiam que os registros
escritos enviados pelo correio ou publicados em jornais não
chegariam a Ohio até a metade de agosto.9 Nesse meio tempo,
Joseph Smith havia recebido duas revelações (D&C 97 e 98) no início
de agosto que, embora não tratassem das dificuldades específicas
enfrentadas pelos membros da Igreja no Condado de Jackson em 20
de julho, ofereciam as palavras de consolo divino e a orientação que
Phelps e outros santos no Missouri poderiam usar mais tarde para
ajudar a dar sentido às experiências e aos sofrimentos deles.

Em 2 de agosto de 1833, Joseph Smith ditou a primeira revelação,


agora Doutrina e Convênios 97. Nela, o Senhor elogiou a escola da
Igreja no Condado de Jackson e reiterou o mandamento de que “a
mim se construa uma casa na terra de Sião”. A revelação
determinava que “se fizer estas coisas, Sião prosperará e
esparramar-se-á e tornar-se-á muito gloriosa. (…) Que Sião se
regozije, pois isto é Sião — os puros de coração”. No entanto, o
Senhor avisou que “a vingança vem rapidamente sobre os ímpios”.
Sião escaparia dessas calamidades somente “se procurar fazer todas
as coisas que lhe ordenei”. Se não, “visitá-la-ei de acordo com todas
as suas obras, com aflição dolorosa”.10
D&C 98 em JosephSmithPapers.org
Joseph Smith recebeu a revelação registrada em Doutrina e
Convênios 98 no dia 6 de agosto de 1833. Embora o Senhor tenha
incentivado os santos a apoiar a Constituição e o Estado de Direito, a
revelação advertia que “quando os iníquos governam, o povo
pranteia”. Prevendo perseguições futuras, a revelação dizia aos
membros da Igreja: “renunciai à guerra e proclamai a paz”. Quando
eram maltratados pelos inimigos da Igreja, os santos eram ordenados
a “suportar isso pacientemente”, perdoar os opressores e permitir que
o Senhor vingasse o mal.11 Essas revelações foram enviadas em
uma carta aos santos no Missouri em 6 de agosto, três dias antes da
chegada de Cowdery a Kirtland.12 Quando foram recebidas no
condado de Jackson no início de setembro, as revelações foram, sem
dúvida, uma fonte de conforto e orientação para santos como Phelps,
que aguardavam por receber orientação divina.

“Após Muitas Tribulações Vêm as Bênçãos”


Seguindo o conselho das revelações de Joseph, os líderes da Igreja
no Missouri trabalharam para encontrar proteção legal contra as
turbas e a exigência de saírem até a primavera. Em setembro e
outubro de 1833, eles buscaram compensação dos oficiais do estado
e contrataram advogados para representar a causa dos mórmons na
corte. As ações legais dos santos haviam convencido a turba de que
os membros da Igreja não sairiam a menos que fossem expulsos.
Antes que o caso deles pudesse ser ouvido na corte, a violência da
turba começou novamente.

No final de outubro e início de novembro, os vigilantes do condado de


Jackson ameaçaram os santos e depois os expulsaram de suas
casas. Embora os membros da Igreja fizessem alguns esforços para
proteger-se, eles evidentemente buscavam seguir o conselho do
Senhor na revelação de 6 de agosto (D&C 98) para suportar as
perseguições com paciência.13 Nos dias 6 e 7 de novembro,
enquanto vivia como refugiado no condado de Clay, ao norte do
condado de Jackson, Phelps escreveu o primeiro relato detalhado
para Joseph Smith sobre a violência, descrevendo os açoitamentos
aos membros da Igreja, a destruição das casas e o derramamento de
sangue de ambos os lados. Ele assinou: “Seu nas aflições”.14 Na
semana seguinte, enquanto Phelps continuava a pensar sobre o que
havia acontecido, uma passagem do Novo Testamento veio a sua
mente. “O Salvador disse: E odiados de todos sereis por causa do
meu nome”, escreveu ele em 14 de novembro, “e acho que chegamos
a esse ponto”.15
Quando essa carta e outros relatórios da expulsão chegaram a
Kirtland no final de novembro e no início de dezembro, Joseph Smith
buscou em espírito de oração a orientação nas revelações que
Phelps e outros santos desejavam desesperadamente. Em uma carta
de 10 de dezembro, Joseph relembrou aos líderes da Igreja no
Missouri que em 1831 o Senhor havia advertido previamente os
membros da Igreja “que após muitas tribulações vêm as bênçãos”.
Embora o Senhor ainda não houvesse revelado porque a “grande
calamidade” havia “vindo sobre Sião” ou “de que maneira Ele [o
Senhor] a levaria de volta a sua herança”, Joseph permaneceu
confiante que Sião seria redimida no “devido tempo” de Deus. O
Profeta aconselhou os santos a não vender suas terras em Sião e
incentivou-os a buscar compensações legais junto aos oficiais
estaduais e federais. Se o governo não atendesse os santos, eles
iriam suplicar ao Senhor “dia e noite” pela justiça divina. Joseph
concluiu com uma oração de que Deus se lembraria de Suas
promessas relativas à Sião e livraria os santos.16
D&C 101 em JosephSmithPapers.org
Em 16 e 17 de dezembro, Joseph ditou uma revelação extensa, agora
Doutrina e Convênios 101, que respondia às perguntas que ele,
Phelps e outros santos vinham fazendo. O Senhor havia permitido
que as calamidades sobreviessem “em consequência de suas [dos
santos] transgressões”. Não obstante, o Senhor declarou: “Apesar de
seus pecados, minhas entranhas estão cheias de compaixão por
eles”. Embora os santos tenham sido dispersos, Sião “não será
removida de seu lugar”. Com respeito à redenção de Sião, a
revelação narrava a parábola de “um certo nobre [homem]” que havia
comissionado os servos a proteger sua vinha. Enquanto os servos
discordavam entre si, “durante a noite chegou o inimigo“ e “destruiu o
trabalho deles e derrubou as oliveiras”. O Senhor disse a seu servo
“toma toda a força de minha casa” e “resgatai-a [a vinha]”. Reiterando
a afirmação da Constituição dos Estados Unidos em Doutrina e
Convênios 98, a revelação repetia o conselho anterior de Joseph
Smith de que os santos do Missouri buscassem compensação das
autoridades civis, com a promessa de que se os oficiais do governo
rejeitassem os pedidos dos membros da Igreja, o Senhor “sairá de
seu esconderijo e, em sua fúria, afligirá a nação”.17 Doutrina e
Convênios 101 forneceu ao profeta um plano divinamente inspirado
para a redenção de Sião — um projeto que ocuparia sua atenção pelo
restante da vida.18

No início de 1834, uma cópia da revelação que se tornaria Doutrina e


Convênios 101 havia chegado ao Missouri, fornecendo a William W.
Phelps a “orientação do Senhor”19 que ele aguardava. No dia 27 de
fevereiro, ele escreveu a Joseph Smith, deixando-o a par dos
esforços dos santos para receber justiça na corte do Missouri.
Quando encerrou a carta, Phelps mencionou a revelação. Phelps se
perguntava se “os servos do Senhor da vinha, que são chamados e
escolhidos para podá-la pela última vez“ deveriam “temer fazer por
Jesus tanto quanto Ele fez por nós”? “Não”, respondeu ele, “nós
vamos obedecer a voz do Espírito para que bem possa dominar o
mundo”.20

Notas de rodapé
[1] Ver William W. Phelps, “Free People of Color”, Evening and Morning Star,
vol. 2, no. 14, julho de 1833, pp. 218–219.
[2] Ver “To His Excellency, Daniel Dunklin, Governor of the State of
Missouri”, Evening and the Morning Star, vol. 2, no. 15, dezembro de 1833,
pp. 226–231.
[3] “Revelation, 20 July 1831 [D&C 57]”, Revelation Book 1, pp. 93–94,
josephsmithpapers.org; ver também D&C 57:2, 11.
[4] Ver “A History, of the Persecution, of The Church of Jesus Christ, of Latter
Day Saints in Missouri”, Times and Seasons, vol. 1, no. 2, dezembro de 1839,
pp. 17–20.
[5] Ver “Mary Elizabeth Rollins Lightner”, Utah Genealogical and Historical
Magazine, vol. 17, julho de 1926, p. 196.
[6] Ver “Letter from John Whitmer, 29 July 1833”, Joseph Smith Letterbook 2,
p. 54, josephsmithpapers.org
[7] Postscriptum de Phelps a “Letter from John Whitmer, 29 July 1833”, pp.
55–56.
[8] Introdução Histórica a “Letter to Church Leaders in Jackson County,
Missouri, 10 August 1833”, josephsmithpapers.org
[9] Ver Introdução Histórica a “Letter to Church Leaders in Jackson County,
Missouri, 18 August 1833”, josephsmithpapers.org
[10] “Revelation, 2 August 1833–A [D&C 97]”, Sidney Rigdon, Frederick G.
Williams e Joseph Smith carta aos “Queridos Irmãos”, 6 de agosto de 1833,
josephsmithpapers.org; ver também D&C 97:10, 18, 21–22, 25–26;
“Revelation, 20 July 1831 [D&C 57]”, Revelation Book 1, pp. 93–94,
josephsmithpapers.org
[11] “Revelation, 6 August 1833 [D&C 98]” Sidney Rigdon, Frederick G.
Williams e Joseph Smith carta aos “Queridos Irmãos”, 6 de agosto de 1833, p.
3, josephsmithpapers.org; ver também D&C 98:5–6, 10, 16, 26. Entretanto a
revelação também declarava que “se esse inimigo escapar a minha vingança
(…) vosso inimigo está em vossas mãos; e se o recompensardes de acordo
com suas obras, estareis justificados se ele procurou tirar-vos a vida”
(“Revelation, 6 August 1833 [D&C 98]” p. 3; ver também D&C 98:28, 31).
[12] Introdução Histórica a “Letter to Church Leaders in Jackson County,
Missouri, 6 August 1833”, josephsmithpapers.org; Introdução Histórica a
“Letter to Church Leaders in Jackson County, Missouri, 10 August 1833”,
josephsmithpapers.org
[13] Introdução Histórica a “Letter, 30 October 1833”, edições de Gerrit J.
Dirkmaat, Brent M. Rogers, Grant Underwood, Robert J. Woodford e William
G. Hartley, Documents, Volume 3: February 1833–March 1834, vol. 3 dos
documentos da série The Joseph Smith Papers, edição de Ronald K. Esplin e
Matthew J. Grow (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2014), pp. 331–
335.
[14] “Letter from William W. Phelps, 6–7 November 1833”, Evening and the
Morning Star, dezembro de 1833, p. 119; josephsmithpapers.org
[15] “Letter from William W. Phelps, 14 November 1833”, p. 119; ver também
Mateus 10:22.
[16] Joseph Smith, “Letter to Edward Partridge and Others, 10 December
1833”, Joseph Smith Letterbook 1, pp. 71, 73, josephsmithpapers.org; ver
também “Revelation, 1 August 1831 [D&C 58]”, Revelation Book 1, p. 94,
josephsmithpapers.org
[17] “Revelation, 16–17 December 1833 [D&C 101]”, Revelation Book 2, pp.
73–83, josephsmithpapers.org; ver também D&C 101:2, 9, 17, 44, 51, 55–56,
89.
[18] Ver Mark Ashurst-McGee, “Zion Rising: Joseph Smith’s Early Social and
Political Thought”, dissertação de doutorado, Universidade do Estado do
Arizona, 2008; ver também Matthew C. Godfrey, “‘The Redemption of Zion
Must Needs Come by Power’: Insights into the Camp of Israel
Expedition”, BYU Studies Quarterly, vol. 53, no. 4, 2014, pp. 125–146; Warren
A. Jennings, “Importuning for Redress”, Bulletin of the Missouri Historical
Society, vol. 27, 1970, pp. 15–29.
[19] Postscriptum de Phelps a “Letter from John Whitmer, 29 July 1833”, p.
55.
[20] “Letter from William W. Phelps, 27 February 1834”, Evening and the
Morning Star, março de 1843, p. 139; josephsmithpapers.org
Uma Missão no Canadá
D&C 100
Eric Smith30 Maio 2013

Revelação, 12 de outubro de 1833

A primeira missão formal de proselitismo de Joseph Smith aconteceu


quando um membro da Igreja lhe pediu que fosse ao Canadá.

No outono de 1833, um membro da Igreja de 54 anos de idade,


chamado Freeman Nickerson, entrou em Kirtland, Ohio, com um
carroção e procurou Joseph Smith. Nickerson e sua esposa, Huldah,
de Perrysburg, Nova York, tinham sido batizados alguns meses antes.
Nickerson pediu ao profeta que viajasse com ele para Mount
Pleasant, no norte do Canadá, para pregar o evangelho a dois de
seus filhos, Moses e Eleazer Freeman. Mount Pleasant era uma
pequena vila, cerca de 160 quilômetros a oeste de Buffalo, Nova
York, na região entre o Lago Erie e o Lago Ontário.1

Moses Nickerson relembrou mais tarde que ele proporcionara o


ímpeto para o pedido de seu pai: “No mês de junho [de 1833], durante
uma visita à casa de meus pais, [eu] ouvi pela primeira vez o que era
então conhecido como mormonismo; fiquei favoravelmente inclinado
ao que a doutrina pregava e pedi aos meus pais que enviassem
alguns dos élderes para visitar-nos no Canadá. (…) No mês de
setembro desse ano de 1833, meu pai e minha mãe visitaram
Kirtland, Ohio, a sede dessas pessoas, e induziram Joseph Smith e
Sidney Rigdon a acompanhá-los ao Canadá”.2

Questões Importantes de Joseph


Em setembro de 1833, Joseph Smith estava morando em Kirtland
com a esposa, Emma, e dois filhos pequenos — Julia, de 2 anos, e
Joseph III, pouco antes de seu primeiro aniversário. Anteriormente
haviam falecido quatro filhos pequenos .3 O profeta, com 27 anos,
havia pregado a mensagem do evangelho em muitas viagens
anteriores, contudo não tinha, até então, servido uma missão de
proselitismo mais formal.

Pelo menos duas preocupações estavam ocupando as atenções do


profeta nessa época, que poderiam ter tornado difícil para ele deixar
seu lar e a família por um longo período. Em 9 de agosto de 1833, ele
ficou sabendo que os esforços da Igreja, de construir a cidade de
Sião, em Independence, Condado de Jackson, Missouri, tinham
recebido um grande golpe. Uma turba havia compelido os membros
da Igreja a concordarem em deixar o Condado de Jackson na
primavera de 1834. Joseph correspondeu-se diretamente com os
santos sofredores do Missouri: “Irmãos, se eu estivesse com vocês,
tomaria parte ativa em seus sofrimentos e, embora a natureza se
aperte, meu espírito não me deixaria abandoná-los à morte, com a
ajuda de Deus, oh, tenham bom ânimo, pois nossa redenção está
próxima. Ó Deus, salva meus Irmãos em Sião”.4

Enquanto isso, Joseph também estava enfrentando uma ameaça


mais perto de casa. Um ex-membro da Igreja, chamado Doutor
Philastus Hurlbut, depois de ser excomungado em junho de 1833 por
conduta imoral, iniciou uma campanha agressiva para desacreditar a
Joseph e a Igreja. Sua abordagem incluía instigar perseguição
localmente, viajando para reunir declarações críticas a Joseph e
ameaçando-lhe a vida.5 Os documentos desse período do profeta
que resistiram refletem a grave angústia com as atividades de
Hurlbut. Em uma carta de agosto de 1833 aos membros no Missouri,
ele relatou que Hurlbut estava “mentindo com perfeição, e as pessoas
estão seguindo-o e dando-lhe dinheiro para derrubar o mormonismo,
o que muito põe em perigo nossa vida”.6 Em uma anotação no diário,
alguns meses mais tarde, o profeta declarou que Hurlbut tinha
“procurado a destruição dos santos neste lugar e, mais
particularmente, a mim e a minha família”.7 A situação era
ameaçadora, e incerto o resultado.

Uma Oração de Consolo


Apesar dessas preocupações, Joseph aceitou o convite de Nickerson
para pregar o evangelho a seus parentes no Canadá, e Sidney
Rigdon concordou em acompanhá-los. O diário de Joseph narrou o
assunto com naturalidade em 4 de outubro: “Fazendo preparativos
para ir para o leste com Freeman Nickerson”. E, em 5 de outubro:
“Este dia começou com uma viagem para o leste”. A missão de um
mês, pelo noroeste da Pensilvânia e sudoeste da Nova York e no
Baixo Ontário, Canadá, iria cobrir cerca de 805 quilômetros de ida e
volta e incluiria paradas em pelo menos dez cidades, com
compromissos de pregação em muitas delas. O profeta levou seu
diário de bolso, e ele e Sidney revezavam, fazendo breves anotações
nele para comentar suas viagens e pregações.8
“Em verdade, assim vos diz o Senhor, meus amigos Sidney e Joseph:
Vossas famílias estão bem; encontram-se em minhas mãos e eu lhes
farei o que me parecer bem; pois em mim todo o poder existe. ”

D&C 100:1
Em 12 de outubro, o pequeno grupo tinha atravessado a ponta
noroeste da Pensilvânia, entrado em Nova York e chegado à casa de
Freeman e Huldah Nickerson, em Perrysburg. Joseph Smith escreveu
que se achava mentalmente “muito bem”, mas que tinha “muita
ansiedade” quanto à sua família,9 provavelmente em parte por causa
da oposição que Hurlbut havia suscitado em Kirtland. Essa ansiedade
pode ter levado Joseph e Sidney a orarem pedindo consolo. Uma
revelação naquele dia (agora Doutrina e Convênios 100) declarou:
“Em verdade, assim vos diz o Senhor, meus amigos Sidney e Joseph:
Vossas famílias estão bem; encontram-se em minhas mãos e eu lhes
farei o que me parecer bem; pois em mim todo o poder
existe”10 (ver D&C 100:1). As preocupações do Profeta
aparentemente não diminuíram por completo — no dia seguinte, ele
pediu ao Senhor que “abençoasse a família [dele] e a preservasse” —
mas claramente encontrou consolo nestas palavras, como
evidenciado pelo registro do diário que ele anotou, quando chegou de
volta para casa em Kirtland, em 4 de novembro, ao término da
missão: “encontrei minha família toda bem, de acordo com a
promessa do Senhor bênçãos pelas quais sinto que devo agradecer a
seu santo nome. Amém”.11
A revelação de 12 de outubro abordou dois outros assuntos.
Observando que “eu, o Senhor, permiti que viésseis a este lugar;
porque assim me era conveniente para a salvação de almas”
(ver D&C 100:4), a revelação prometia a Joseph e Sidney que “uma
porta eficaz abrir-se-á nas regiões circunvizinhas nesta região leste”
(ver D&C 100:3). Se os missionários “erguessem” a voz com
“solenidade de coração, com espírito de mansidão” e declarassem as
palavras que Deus colocaria em seu coração, “derramar-se-[ia] o
Espírito Santo testificando todas as coisas que” disseram (ver D&C
100:7-8). A revelação também deu a Joseph e Sidney a certeza de
que Sião seria “redimida, embora castigada por algum
tempo”12 (ver D&C 100:13).
D&C 100 em JosephSmithPapers.org
Chegada a Mount Pleasant
Em 18 de outubro, o grupo chegou ao seu destino na pequena vila de
Mount Pleasant, Norte do Canadá. Sidney Rigdon forneceu detalhes
no diário de Joseph Smith: “Chegamos à casa de [Eleazer] Freeman
Nickerson, no Norte do Canadá, tendo, depois de entrarmos no
Canadá, passado por campos muito bons e bem cultivados e tivemos
muitos sentimentos peculiares em relação a ambos, o campo e o
povo, por quem fomos bondosamente recebidos”.

Joseph e Sidney passaram a semana e meia seguinte pregando em


Mount Pleasant e várias aldeias vizinhas a muitas congregações
grandes e atentas. O diário do profeta parece refletir a urgência e
entusiasmo associados ao seu intenso itinerário. Em 24 de outubro,
depois de Joseph e Sidney realizarem uma reunião em Mount
Pleasant, Eleazer Freeman Nickerson “declarou sua plena crença na
veracidade da obra”. Ele estava, registra o diário, “com sua esposa
que também está convencida a ser batizada no domingo, e um
grande entusiasmo prevalece em todos os lugares onde estivéramos”.
Naquele domingo, 27 de outubro, doze pessoas foram batizadas.
Duas mais foram batizadas no dia seguinte. Entre os que foram
batizados estavam Eleazer Freeman Nickerson, sua esposa Eliza e
Moses Nickerson.

Na noite de 28 de outubro, os missionários realizaram sua última


reunião com seu pequeno rebanho em Mount Pleasant. No diário do
profeta, na manhã seguinte, Sidney Rigdon registrou: “realizada uma
reunião na noite passada. Ordenado E[leazer] F[reeman] Nickerson
ao ofício de Élder; tivemos uma boa reunião. Uma das irmãs tem o
dom de línguas, o que fez os santos se regozijarem. Possa Deus
aumentar os dons entre eles por causa de seus filhos. Nesta manhã,
reiniciamos nosso curso para casa. Que o Senhor faça prosperar
nossa viagem. Amém”. Joseph e Sidney voltaram cruzando o lago
Erie e chegaram a Kirtland, em 4 de novembro.13
Duas semanas mais tarde, Joseph Smith enviou uma carta a Moses
Nickerson para informá-lo de seu retorno seguro e transmitir seus
sentimentos para o novo ramo em Mount Pleasant. “Espero uma
comunicação sua ao receber esta, e desejo que você me dê
informações sobre os irmãos, sua saúde, fé, etc.”, escreveu Joseph.
E continuou: “Posso verdadeiramente dizer que, com muito fervor,
invoquei o Senhor em favor de nossos irmãos no Canadá. E quando
me lembro da rapidez com que receberam a palavra da verdade pelo
ministério do irmão Sidney e por mim mesmo, sinto-me
verdadeiramente sob grande obrigação de humilhar-me em gratidão
diante Dele”. Joseph rogou então a Nickerson que permanecesse fiel
a suas novas convicções:

“Lembre-se do testemunho que prestei em nome do Senhor


Jesus, sobre a grande obra que ele nos trouxe à luz nos últimos
dias. Você conhece o meu modo de comunicação, como em
fraqueza e simplicidade declarei a você o que o Senhor havia
trazido à luz pelo ministério de seus santos anjos para mim, para
esta geração. Oro para que o Senhor permita que você
entesoure estas coisas na mente, porque sei que Seu Espírito vai
prestar testemunho a todos os que diligentemente buscarem
conhecimento Dele. Espero que você examine as escrituras, para
ver se estas coisas também não são consistentes com aquilo que
os profetas e apóstolos antigos escreveram.”14

A congregação de Mount Pleasant continuou a crescer após a partida


de Joseph e Sidney. Em dezembro de 1833, havia trinta e quatro
membros declarados lá.15 A congregação pode ter chegado a cerca
de cinquenta nos anos seguintes.16 Por fim, a maioria dos crentes
dali emigraram para unir-se aos santos nos Estados Unidos ou se
afastaram da Igreja.17

Freeman Nickerson, o homem que tinha viajado a Kirtland para pedir


ao profeta que pregasse a seus filhos, participou da expedição do
Acampamento de Sião em 1834 (dois filhos, Uriel e Levi, o
acompanharam), reuniu-se aos Santos de Nauvoo e morreu no início
de 1847, no Território de Iowa, na migração para o Oeste.18

Moses Nickerson e Eleazer Freeman Nickerson juntaram-se aos


santos no Oeste dos Estados Unidos, por algum tempo no final da
década de 1830, mas os dois voltaram para o Canadá no início da
década de 1840. Eleazer, que morreu em 1862, parece ter continuado
a considerar-se um santo dos últimos dias.19Moses afiliou-se a duas
outras denominações, antes de sua morte, em 1871.20Em pungente
memória escrita no final da vida, ele expressou admiração por Joseph
Smith, a quem havia encontrado quando visitara Nauvoo no início da
década de 1840: “aqui encontrei a Joseph Smith morando em uma
tenda, tendo deixado sua casa como um hospital para os enfermos!
Ele estava fazendo tudo o que podia para aliviar seus sofrimentos”.21

A missão de Joseph Smith no Canadá abriu “uma porta eficaz” para a


pregação do evangelho e a salvação de almas, em mais de uma
maneira. Em 1836, o apóstolo Parley P. Pratt viajou para o Norte do
Canadá, a fim de pregar o evangelho ali. Em sua jornada, Pratt foi
acompanhado por seu irmão Orson e Eleazer Freeman Nickerson.
Em Hamilton, Norte do Canadá, Parley Pratt conheceu Moses
Nickerson. Moses forneceu a Pratt uma carta de apresentação para
um pesquisador religioso chamado John Taylor, de Toronto.22

Notas de rodapé
[1] Diário, 1832-1834, Joseph Smith Papers [Documentos de Joseph Smith];
esboço biográfico de Freeman Nickerson, JSP; Richard E. Bennett, “A Study
of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints in Upper Canada, 1830–
1850 ”[Um Estudo da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no
Norte do Canadá, 1830–1850], tese de mestrado, Universidade Brigham
Young, 1975, p. 42; esboço geográfico de Mount Pleasant, Norte do
Canadá, JSP. O autor expressa seus agradecimentos a Melissa Rehon Kotter
e Shannon Kelly pela ajuda na pesquisa deste artigo.
[2] Moses Nickerson, “Autobiography of Moses C. Nickerson”, True Latter Day
Saint’s Herald, 15 de julho de 1870, p. 425; não está claro por fontes
anteriores se Huldah foi para Kirtland e, mais tarde, acompanhou o grupo na
missão para o Canadá.
[3] “Joseph Smith Pedigree Chart”, JSP.
[4] Postscript de Joseph Smith em carta de Oliver Cowdery a William W.
Phelps e outras pessoas, 10 de agosto de 1833, JSP.
[5] Journal, 1832-1834, JSP.
[6] Joseph Smith a William W. Phelps e outros, 18 de agosto de 1833, JSP.
[7] Journal, 1832-1834, JSP.
[8] Journal, 1832-1834, JSP; Richard Lloyd Anderson, “Joseph Smith
Journeys”, em 2006 Church Almanac, Salt Lake City: Deseret News, 2005,
pp. 141–142.
[9] Journal, 1832-1834, JSP.
[10] Revelation, 12 de outubro de 1833, JSP.
[11] Journal, 1832-1834, JSP.
[12] Revelation, 12 de outubro de 1833, JSP.
[13] Journal, 1832-1834, JSP; Susan Young Gates [Homespun, pseud.], Lydia
Knight’s History, Noble Women’s Lives Series 1 (Salt Lake City: Juvenile
Instructor Office, 1883), p. 22; [William Goddard], “A Brief Descriptive History
of the Mormons in Mount Pleasant” (n.p.: 1980?), p. 6, cópia na L. Tom Perry
Special Collections, Harold B. Lee Library [Biblioteca Harold B. Lee],
Universidade Brigham Young, Provo, Utah.
[14] Joseph Smith to Moses Nickerson, 19 de novembro de 1833, JSP.
[15] Moses Nickerson, carta ao editor, The Evening and the Morning Star, de
fevereiro de 1834, p. 269.
[16] Bennett, “Study of the Church”, p. 75; Goddard, “Mormons in Mt.
Pleasant”,8–9; John P. Greene, carta ao editor, Latter-day Saints Messanger
and Advocate, outubro de 1834, p. 8.
[17] Bennett, “Study of the Church,” capítulo 6; Goddard, “Mormons in Mt.
Pleasant”, pp. 13–17.
[18] Freeman Nickerson biographical sketch, JSP.
[19] Eleazer Freeman Nickerson biographical sketch, JSP.
[20] Moses Chapman Nickerson biographical sketch, JSP.
[21] Nickerson, “Autobiography”, p. 426; grifo no original.
[22] Em sua autobiografia, Parley Pratt identificou um “Irmão Nickerson” como
um companheiro de viagem, indicou que Nickerson tinha uma casa no
Canadá e indicou que uma outra pessoa lhe deu algum dinheiro e uma carta
de apresentação para John Taylor. Em uma carta datada de 26 de maio de
1836, Pratt identificou seus companheiros de viagem como “O. Pratt e F.
Nickerson”. Como Eleazer Freeman Nickerson morava no Canadá nessa
época (e às vezes, era chamado pelo seu nome do meio), e como Freeman
Nickerson (pai) morava nos Estados Unidos, Eleazer Freeman
presumivelmente era o “F. Nickerson” a que Pratt se referia. John Taylor
indicou que o homem que forneceu a carta de apresentação era Moses
Nickerson. (Parley P. Pratt, The Autobiography of Parley Parker Pratt, One of
the Twelve Apostles of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed.
Parley P. Pratt Jr. [New York: Russell Brothers, 1874], pp. 142, 145–146;
Parley P. Pratt, carta ao editor, 26 de maio de 1836, Latter-day Saints’
Messenger and Advocate, maio de 1836, p. 219; dados biográficos de
Freeman Nickerson e Eleazer Freeman Nickerson, JSP; “History of John
Taylor by Himself”, p. 10, Historian’s Office, Histories of the Twelve, Biblioteca
de História da Igreja).
Restaurar a Antiga Ordem
D&C 102, 107
Joseph F. Darowski and James Goldberg3 Outubro 2013

Reunião de Joseph Smith com os membros dos Doze em Nauvoo

A autoridade do sacerdócio foi restaurada em 1829, mas levou tempo


para organizar a Igreja à maneira do Senhor. A revelação ajudou a
estabelecer o sistema de conselhos e os quóruns do sacerdócio como
características fundamentais da Igreja.

Em maio de 1829, Joseph Smith e Oliver Cowdery ajoelharam-se


perto do Rio Susquehanna. Eles haviam acabado de ler sobre o
batismo em Terceiro Néfi e queriam saber onde poderiam encontrar
autoridade como a que Jesus tinha dado a seus discípulos antigos.
Em resposta a suas orações, João Batista apareceu-lhes e impôs as
mãos sobre a cabeça de cada um para conferir a autoridade que eles
precisavam para batizar um ao outro. “Imagine só”, Cowdery
posteriormente relatou a seu amigo W. W. Phelps, “a alegria que
encheu nosso coração, e a surpresa com que nos curvamos (…)
quando recebemos o santo sacerdócio de suas mãos”.1

Mas a restauração da autoridade do sacerdócio não foi


imediatamente acompanhada da restauração da organização do
sacerdócio. Cada portador do sacerdócio podia realizar as
ordenanças, mas como deviam trabalhar juntos para fazer a obra do
Senhor?

Governança da Conferência
Muitas das igrejas ativas no norte do estado de Nova York em 1830
tratavam seus negócios por meio de conferências trimestrais de
élderes, e em seus primeiros anos, a Igreja restaurada seguiu esse
padrão conhecido. Depois da organização em abril, eles realizavam
conferências em junho e setembro, para relatar o progresso da Igreja
e conduzir os negócios. Esse sistema de conferências trimestrais foi
incluído em Regras e Convênios da Igreja (agora D&C 20) quando as
conferências foram registradas nos manuscritos do livro de
revelações da Igreja.2

Mas, em 1831, tornou-se cada vez mais claro que as conferências da


Igreja seriam mais do que reuniões de rotina. Durante a primeira
conferência do ano, foi recebida uma revelação (agora D&C 38) que
estabeleceu projetos e metas específicos para a Igreja trabalhar.
Logo o número de conferências realizadas para acompanhar a obra
do Senhor aumentou drasticamente: de agosto de dezembro de 1831,
foram registradas atas para vinte e seis conferências — uma média
de mais de uma conferência por semana.
11 de outubro de 1831 Anotações do Livro de Atas 2 em JosephSmithPapers.org
Em uma dessas conferências, o profeta salientou a necessidade de ir
além desses padrões conhecidos e a “compreender o modo antigo de
dirigir reuniões conforme fossem guiados pelo Espírito Santo”.3Os
diversos problemas de planejamento e de disciplina que a jovem
Igreja enfrentava exigia esforço compartilhado e inspiração. Mas se
havia muitas coisas para se tratar em conferências com todos os
élderes, quem deveria ser o responsável por qualquer questão?

O Sistema de Conselhos
Uma revelação de 11 de novembro de 1831 (agora D&C 107: 60–
100) ajudou os santos a entender como aproveitar o poder da
inspiração compartilhada ao dividir as exigências complexas da
administração da Igreja. Certos tipos de casos foram designados para
o bispo, que por sua vez, poderia chamar conselheiros para auxiliá-lo
em seus deveres. Um presidente do sumo sacerdócio cuidaria de
questões mais difíceis, auxiliado por doze sumos sacerdotes, como
conselheiros. Os presidentes dos élderes, sacerdotes, mestres e
diáconos também seriam chamados para “reunirem-se em conselho”
com seus grupos.

Mas complementar o sistema de conferência já conhecido com um


sistema de conselhos desconhecido tornou-se um processo gradual.
O presidente de cada grupo não foi escolhido imediatamente, e os
secretários não conseguiam distinguir uma conferência de um
conselho. Em julho de 1832, os membros do Missouri “resolveram
que o modo e a maneira de regulamentar a Igreja de Cristo” conforme
mostrado na revelação de novembro “Entra em vigor a partir de
agora”,4 mas só escolheram um presidente dos élderes em
setembro.5 Ele teve de ser apoiado como presidente do sumo
sacerdócio e escolher dois conselheiros, e Joseph Smith tinha de
reunir sumos sacerdotes disponíveis para servir em um conselho
completo do presidente de cada vez que surgia uma necessidade.6

Também houve problemas com o comportamento dos participantes


durante as reuniões. Aparentemente, alguns sussurravam uns aos
outros, se agitavam visivelmente ou mesmo saíam no meio de uma
sessão de conselho. Preconceitos e fraquezas pessoais também
dificultavam buscar a vontade do Senhor. 7

Joseph Smith tomou a responsabilidade por essas falhas comuns.


“Nunca estabeleci um conselho com toda a ordem em que um
conselho deve ser conduzido”, disse ele durante uma reunião de
conselho de fevereiro de 1834, “o que, talvez, tenha privado o
conselho de algumas ou muitas bênçãos”.8 Ele então tentou “mostrar
a ordem dos conselhos nos tempos antigos como mostrado a ele em
visão”. A visão do profeta de um conselho em Jerusalém presidida
pelo apóstolo Pedro, e dois conselheiros tornou-se o modelo para a
organização do primeiro sumo conselho regular,9 que, por sua vez,
serviria como modelo para os outros conselhos em toda a Igreja. A
ata mostra algumas das características importantes do conselho —
tais como o direito de uma pessoa acusada de ter metade do
conselho como defensores — canonizada posteriormente em D&C
102.10

Antes que o sumo conselho realizasse seu primeiro caso, Joseph


Smith abençoou seus dois conselheiros. Depois, dois pais — Joseph
Smith Sênior e John Johnson — abençoaram seus filhos.11 Assim
como conferências coexistiam com o sistema de desenvolvimento dos
conselhos, o órgão administrativo do sacerdócio na Igreja coexistia
com o sacerdócio centralizado na família.
19 de fevereiro de 1834 Anotações do Livro de Atas 1 em JosephSmithPapers.org
Quóruns
Uma semana depois que o sumo conselho de Kirtland foi organizado,
Parley P. Pratt e Lyman Wight chegaram do Missouri para pedir
orientação em nome dos santos que haviam sido expulsos de seus
lares.12 Em resposta a sua visita, Joseph Smith e o sumo conselho
planejaram uma expedição para ajudá-los.

Ao reunir os homens e os fundos em ramos da Igreja no leste para o


que veio a ser conhecido como o acampamento de Sião e durante
sua viagem de Ohio, Missouri, Joseph Smith passou bastante tempo
nos ramos menores da Igreja. O sistema de conselhos ajudara a
dividir as exigências dos negócios da Igreja com relação ao tempo
dos portadores do sacerdócio em centros da Igreja, mas menos havia
sido feito para organizar o sacerdócio em todo o espaço físico,
fornecer uniformidade entre os dois principais núcleos da Igreja ou
atender às necessidades dos ramos mais remotos. Eram necessárias
mais revelações.

No Missouri, onde muitos membros da Igreja estavam reunidos perto


do local planejado para edificar Sião, outro sumo conselho foi
organizado seguindo o modelo do primeiro. Novamente, Joseph
Smith abençoou o presidente do conselho e seus dois conselheiros, e
de novo, dois pais — desta vez, Peter Whitmer Sênior e Joseph
Knight Sênior — abençoaram seus filhos.13 Mas o que devia ser feito
pelos ramos menores da Igreja? Depois de voltar do Missouri, no final
do acampamento de Sião, foram criados dois novos grupos do
sacerdócio: os Doze Apóstolos, cujo dever incluiria servir como um
“sumo conselho presidente viajante” para os ramos da Igreja, e os
Setenta, que ajudariam os Doze.14 Além de servir aos ramos já
existentes da Igreja, os Doze e os Setenta deveriam pregar o
evangelho em todo o mundo e organizar novos ramos.

Na primavera de 1835, os doze apóstolos recém-chamados foram


enviados para a missão a fim de “regulamentar” os ramos do leste da
Igreja.15 Antes de saírem, Joseph Smith deu-lhes instruções
detalhadas sobre a organização do sacerdócio, agora contida em
D&C 107. Essas instruções para os Doze esclareceram as funções e
o comportamento dentro do sacerdócio. Elas especificaram a história
e o papel das ordens do Sacerdócio de Melquisedeque e Aarônico.
Apresentaram o conceito de “quórum” para explicar as funções
exclusivas e autoridades sobrepostas da Primeira Presidência, Doze
Apóstolos, Setenta e Sumos Conselhos. Também trataram da
designação dos patriarcas16 a fim de perpetuar a ordem familiar do
sacerdócio, juntamente com a ordem administrativa.

Versão de 1835 de D&C 111 em JosephSmithPapers.org


Apoiar a Nova Organização
Na primavera e no verão de 1835, quatro seções sobre a organização
do sacerdócio foram coletadas no início da nova Doutrina e
Convênios, logo após o prefácio revelado. A primeira era Regras e
Convênios da Igreja (atual D&C 20). Em seguida, veio o novo material
com as instruções para o Quórum dos Doze, que havia sido
combinado com uma versão atualizada da revelação de novembro de
1831 sobre os conselhos do sacerdócio em uma única seção (atual
D&C 107). Uma revelação contendo o Juramento e Convênio do
Sacerdócio (agora D&C 84) surgiu em terceiro lugar. Em seguida veio
a ata da primeira organização do sumo conselho, atualizada com uma
referência esclarecedora do papel do Quórum dos Doze Apóstolos.
Juntas, essas seções serviram como um manual para a
administração da Igreja.

Em 17 de agosto de 1835, os membros da Igreja formalmente


aprovaram Doutrina e Convênios, aceitando essa organização
revelada do sacerdócio.17Durante os sete meses seguintes, tomaram
providências para preencher os ofícios a fim de que os quóruns do
sacerdócio fossem plenamente organizados para apoiar a dedicação
do Templo de Kirtland.

Notas de rodapé
[1] Cowdery, Oliver, “Dear Brother”, Messenger and Advocate, outubro de
1834, pp. 15–16.
[2] Livro de Revelações 1, vol. R-1, p. 83, Joseph Smith Papers.
[3] Ata, 11 de outubro de 1831, Minute Book 2, JSP.
[4] Ata, 3 de julho de 1832, Minute Book 2, JSP.
[5] Ata, 15 de setembro de 1832, Minute Book 2, JSP.
[6] Ver, por exemplo, Ata, 21 de junho de 1833, Minute Book 1, JSP.
[7] Ata, 12 de fevereiro de 1834, Minute Book 1, JSP.
[8] Ata, 12 de fevereiro de 1834, Minute Book 1, JSP.
[9] Ata, 17 de fevereiro de 1834, Minute Book 1, JSP.
[10] Essas atas eram originalmente da sessão do conselho de 17 de fevereiro
de 1834, mas foram revisadas por Joseph Smith e o sumo conselho antes de
sua canonização.
[11] Ata, 19 de fevereiro de 1834, Minute Book 1, JSP.
[12] Ata, 24 de fevereiro de 1834, Minute Book 1, JSP.
[13] Ata, 3 de julho de 1834, Minute Book 2, JSP.
[14] 1835 D&C Seção 3
[15] Ata, 12 de março de 1835, Record of the Twelve, JSP.
[16] Na ocasião, referindo-se ainda aos “ministros evangélicos”
[17] Ata, 17 de agosto de 1835, JSP.
A Oferta Aceitável do Acampamento de Sião
D&C 103, 105
Matthew C. Godfrey25 Março 2015

Depois que os santos foram expulsos pelas turbas do Condado de


Jackson, no Missouri, o Senhor chamou voluntários dos estados do
leste para ir ao oeste e ajudar a proteger os membros da Igreja de lá.
Nathan Baldwin estava entre os que ofereceram seu tempo e energia
para a causa de Sião e em seguida, passou a registrar sua
perspectiva sobre a experiência.

Com vinte e dois anos, Nathan Baldwin ficou surpreso quando no


meio da pregação do evangelho em Connecticut, em fevereiro de
1834, sentiu a inspiração de “ir para o oeste”.1 Nathan, que nasceu
em 1812, em Augusta, no Condado de Grenville, no norte do Canadá,
foi batizado em 28 de abril de 1833 e desde essa época, estava
pregando no leste dos Estados Unidos. Ele rapidamente obedeceu à
inspiração de ir para o oeste. “Imediatamente tomei o caminho para o
oeste”, ele escreveu: “e comecei a relembrar minha trajetória, ao
mesmo tempo em que me perguntava: Por que ir para o oeste?”
Quando chegou a Oswegatchie, Nova York, um rapaz chamado
Reuben Foote disse a ele que os santos tinham sido expulsos do
Condado de Jackson, no Missouri, no outono de 1833, e que o
Profeta Joseph Smith planejava liderar uma expedição para ajudar os
membros da Igreja desalojados. Nathan entendeu naquele momento
porque o Senhor o enviara ao oeste — para que ele se unisse à
expedição.2

A informação que recebeu em Oswegatchie estava correta. Na


mesma época em que Nathan foi inspirado a viajar para o oeste,
Parley P. Pratt e Lyman Wight haviam chegado do Missouri a Kirtland,
Ohio, para explicar a Joseph Smith e ao sumo conselho de Kirtland, o
sofrimento dos santos que agora moravam principalmente no
Condado de Clay, Missouri. Pratt e Wight queriam saber como e
quando Sião seria redimida, ou seja, como e quando os santos iriam
recuperar suas terras no Condado de Jackson. Depois de ouvir Pratt
e Wight, Joseph Smith declarou “que ele iria a Sião para ajudar a
redimi-la” e chamou voluntários para acompanhá-lo.3
“Joseph Smith declarou ‘que iria a Sião para ajudar a redimi-la’ e
chamou voluntários para acompanhá-lo”

No mesmo dia, Joseph recebeu uma revelação, que se encontra


agora em Doutrina e Convênios 103, que o instruiu a recrutar o
máximo de 500 “da força da casa do [Senhor]” — membros da Igreja
de meia-idade e jovens — para ir a Sião, onde eles iriam recuperar a
vinha do Senhor.4Poucos meses antes, em dezembro de 1833, o
Senhor havia citado o esforço para redimir Sião na revelação que
agora está em Doutrina e Convênios 101. A revelação continha a
parábola de um nobre cuja vinha fora invadida por inimigos e que
instruíra seu servo a reunir um exército e resgatar sua terra.5 Na
revelação de fevereiro de 1834, o Senhor designou Joseph Smith
como o servo da parábola e nomeou-o para liderar uma expedição a
Sião.6

Nathan Baldwin respondeu ao chamado por voluntários. Em 3 de


maio de 1834, ele chegou a Kirtland, dois dias antes da partida de
Joseph com um grupo de homens rumo ao Missouri.7 Cerca de vinte
outras pessoas deixaram o Território do Michigan em 5 de maio, sob
a liderança de Lyman Wight e Hyrum Smith.8 Ao longo do caminho,
voluntários se juntaram à expedição — chamada na época de
Acampamento de Israel e, mais tarde, de Acampamento de Sião —
contando, por fim, com aproximadamente 205 homens e 25 mulheres
e crianças.9

Sidney Rigdon e Oliver Cowdery explicaram os objetivos da


expedição em uma carta enviada aos santos dos Estados Unidos,
pedindo ajuda. A carta explicava que o grupo marcharia ao Condado
de Clay, no Missouri, onde os líderes da Igreja iriam solicitar ao
governador Daniel Dunklin que convocasse a milícia do estado, algo
que Joseph Smith e outros acreditavam que ele estava disposto a
fazer. A milícia escoltaria os santos de volta às suas terras no
Condado de Jackson e depois seria dispensada. Os membros do
acampamento de Sião ficariam como uma força protetora para
assegurar-se de que os membros da Igreja não seriam expulsos
novamente.10
“Ninguém sabia, no entanto, qual seria a reação das pessoas no
Missouri quando o acampamento entrasse no estado. ”

Ninguém sabia, no entanto, qual seria a reação das pessoas no


Missouri quando o acampamento entrasse no estado. Nathan Baldwin
esperava ter de lutar, já que era membro do acampamento, e, como
era pacífico, estava preocupado. “Quase nada poderia ser mais
contrário a meus sentimentos do que carregar instrumentos de
morte”, Baldwin relembrou, “mas procurei um rifle, equipamento e
munição e tentei aprender a usá-los”.11

Quase todos os participantes pagaram as próprias despesas no


acampamento. Os membros da Igreja contribuíram com cerca de 300
dólares para a expedição, mas isso não era o suficiente. Pouco
depois de saírem de Kirtland, os membros do acampamento
consagraram seu dinheiro e criaram um fundo geral para as
despesas. Alguns membros não tinham nada para consagrar; outros,
como John Tanner, contribuíram com mais de 170 dólares. Nathan
Baldwin sentiu-se honrado em consagrar 14 dólares do próprio bolso.
O acampamento foi também organizado em companhias de doze
homens e cada homem tinha alguma responsabilidade dentro da
companhia. Nathan recebeu a designação de fornecer água.12

No mês e meio seguinte, Nathan e o restante do acampamento de


Sião marcharam através do estado de Ohio, em Indiana, e Illinois, a
caminho do Missouri. O ritmo foi acelerado, já que o acampamento
marchava quase 65 quilômetros por dia. “Com os carroções cheios
principalmente com bagagem, tínhamos que viajar a pé”, Nathan
relembrou mais tarde. Isso resultou em pés doloridos, bolhas e até
mesmo “dedos tão esfolados que nossas meias ficavam encharcadas
de sangue”.13 Embora alguns no acampamento, como Sylvester
Smith, reclamassem durante toda a jornada, descontentes com a
comida no acampamento ou com a falta de água, Nathan (juntamente
com a maior parte do exército) estoicamente seguia em frente sem
reclamar — mesmo quando a única coisa que ele tinha a beber era o
orvalho junto “com algum alimento escavado da terra”.14
“O ritmo foi acelerado, já que o acampamento marchava 65
quilômetros por dia.”

No início de junho de 1834, o acampamento cruzou o rio Mississipi


em direção ao Missouri.15 Em 7 de junho chegaram ao rio Salt, onde
havia um ramo da Igreja. Em 8 de junho o contingente de Kirtland
juntou-se ao grupo do Território de Michigan e, após a reorganização,
em 12 de junho o acampamento continuou a jornada rumo ao
Condado de Clay.16

No dia 19 de junho, Nathan relembrou, o grupo estava “acampado em


uma colina entre duas bifurcações do rio Fishing, perto de uma capela
batista, construída com toras lavradas”.17 Enquanto o grupo
preparava o acampamento para a noite, “muitos homens armados”
aproximaram-se e disseram que o grupo iria “ver o inferno antes do
amanhecer”. Um grande grupo de homens — Nathan lembrava-se de
ser cerca de 1.600, mas outros contaram aproximadamente 500 —
esperava para atacar o acampamento à noite.18 Tão logo a ameaça
foi feita, “uma pequena nuvem negra surgiu no oeste e aumentou de
tamanho até formar um grande arco azul envolto em preto, com uma
aparência implacável, enquanto chovia torrencialmente e os ventos
bradavam, sendo que os lampejos dos relâmpagos e os estrondos
dos trovões raramente foram vistos e ouvidos daquela
maneira”.19 Caiu granizo também, algumas pedras “grandes como
copos”, quebrando galhos de árvores e estilhaçando-se nas cercas. A
grande tempestade fez com que o rio ficasse “maravilhosamente
cheio, de modo que [eles] não puderam avançar, nem [seus] inimigos
[os] alcançar se tivessem intenção de fazê-lo”.
“Nathan e os membros do acampamento consideraram a
tempestade como evidência da proteção de Deus”

Nathan e os membros do acampamento consideraram a tempestade


como evidência da proteção de Deus, visto que ela impediu o grupo
de homens de atacá-los. “O Senhor já dissera que lutaria as batalhas
de seus santos”, Nathan declarou, “e parecia que o cumprimento
desse compromisso havia saído de Sua presença, ao usar a artilharia
do Céu em defesa de seus servos”.20

Dois dias após a tempestade, um grupo de homens, dos Condados


de Clay e Ray, entrou no acampamento e disse a Joseph Smith que a
aproximação do acampamento havia enfurecido a maioria dos
cidadãos do oeste do Missouri. De fato, alguns jornais noticiaram que
um grande contingente de homens reuniu-se no Condado de
Jackson, pronto para derramar sangue, no caso do acampamento
cruzar o rio Missouri. Os representantes dos Condados de Clay e Ray
disseram “qual a norma [o acampamento] deveria seguir para
assegurar” o “favor e a proteção dos cidadãos do oeste do
Missouri.21 Joseph Smith também descobriu que o governador do
Missouri, Daniel Dunklin, não iria convocar a milícia do estado
naquela ocasião, o que significava que não haveria guardas para
acompanhar os santos de volta a suas terras no Condado de
Jackson.22
Em 22 de junho, Joseph realizou um conselho “para determinar quais
atitudes” deveriam tomar.23 No conselho, ele ditou o que é agora
Doutrina e Convênios 105 — a revelação que, de acordo com o
participante do acampamento, Joseph Holbrook, “mostrou a vontade
de Deus concernente à redenção de Sião”.24 A revelação dizia que
não era mais requerido dos participantes do acampamento que
redimissem Sião naquela ocasião, salientando que Deus lutaria as
batalhas de Sião e que os élderes da Igreja precisavam ser investidos
de poder antes que a redenção de Sião pudesse ocorrer. A revelação
também assegurou aos participantes que o Senhor aceitava sua
oferta de tempo e dinheiro para a causa de Sião.25 Para Nathan
Baldwin, esta revelação “foi a mais aceitável de todas as que [ele] já
ouvira antes, à exceção do evangelho”. Outros membros do
acampamento não compartilhavam da mesma opinião. Nathan
relembrou que alguns apostataram da fé, porque ficaram contrariados
por não poderem lutar.26
“A revelação também assegurou aos participantes que o Senhor
aceitou suas ofertas”

Como o acampamento não era mais necessário para redimir Sião,


sua dispersão começou. A dispersão acelerou quando uma epidemia
de cólera atingiu o acampamento no final de junho. Treze integrantes
do acampamento morreram, bem como dois membros da Igreja que
viviam no Missouri. “Alguns dos melhores homens no acampamento”
morreram na epidemia, Nathan relembrou. Nathan e outros
participantes que não contraíram a doença foram recrutados para
cuidar dos doentes.27

Em 1º de julho de 1834, Nathan recebeu sua dispensa oficial do


acampamento, bem como sua parte do dinheiro consagrado que não
havia sido gasto. Ele deveria receber um dólar e 16 centavos, mas
recebeu somente um dólar, porque não tinham o valor exato trocado.
Nathan viajou até Kirtland nas semanas seguintes com apenas
aquele único dólar para sustentar-se.28
Embora passasse por provações e dificuldades na viagem, o tempo
que Nathan Baldwin passou no Acampamento de Sião estabeleceu o
alicerce para o resto de sua vida. Logo, ele teve o privilégio de
participar da Escola de Élderes de Kirtland com Joseph Smith e
outros alunos. Também estava entre os integrantes do acampamento
chamados para servir no primeiro Quórum dos Setenta. Ele sempre
se lembraria do que o Senhor declarou na seção 105 sobre os
participantes do acampamento: “Ouvi suas orações e aceitarei sua
oferta”.29

Notas de rodapé
[1] Nathan B. Baldwin, Account of Zion’s Camp, pp. 6–7, Biblioteca de História
da Igreja, Salt Lake City.
[2] Baldwin, Account of Zion’s Camp, pp. 7–8.
[3] “Minutes, 24 de fevereiro de 1834”, pp. 41–42, josephsmithpapers.org.
[4] “Revelation, 24 de fevereiro de 1834 [D&C 103]”, pp. 7–18,
josephsmithpapers.org.
[5] “Revelation, 16–17 de dezembro de 1833 [D&C 101]”, pp. 73–83,
josephsmithpapers.org.
[6] “Revelation, 24 de fevereiro de 1834 [D&C 103]”, pp. 12-13,
josephsmithpapers.org.
[7] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 8.
[8] Diário do Ramo da Igreja de Cristo, em Pontiac, vol. 1, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City.
[9] “History, 1838–1856, volume A-1 [23 de dezembro de 1805 – 30 August
1834]”, pp. 477–478, josephsmithpapers.org; Heber C. Kimball, Autobiografia,
aproximadamente 1842–1858, p. 11, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City; Andrea G. Radke, “We Also Marched: The Women and Children of
Zion’s Camp, 1834”, Estudos da BYU, vol. 39, nº 1 (2000), pp. 149–159.
[10] Carta de Sidney Rigdon e Oliver Cowdery, 10 de maio de 1834,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[11] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 8.
[12] “Account with the Church of Christ, circa 11–29 August 1834”, vol. 1,
josephsmithpapers.org; Baldwin, Account of Zion’s Camp, pp. 9, 15.
[13] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 9.
[14] Baldwin, Account of Zion’s Camp, pp. 11–12; “Minute Book 1”, pp. 58–59,
josephsmithpapers.org.
[15] Joseph Smith, “Carta a Emma Smith, 4 de junho de 1834”, p. 56,
josephsmithpapers.org.
[16] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 11.
[17] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 12; utilização de maiúsculas
padronizada.
[18] Ver, por exemplo, George A. Smith, Autobiografia, pp. 42-43, Biblioteca
de História da Igreja, Salt Lake City.
[19] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 12.
[20] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 12; utilização de maiúsculas
padronizada.
[21] Baldwin, Account of Zion’s Camp, 13; Joseph Smith e outros,
“Declaração, 21 de junho de 1834”, pp. 1–2, josephsmithpapers.org.
[22] Joseph Smith e outros, “Declaração, 21 de junho de 1834”, pp. 1–2,
josephsmithpapers.org; “The Mormon Controversy”, Washington D.C. Daily
National Intelligencer, 23 de julho de 1834, p. 3.
[23] William F. Cahoon, Autobiografia, p. 43, Biblioteca de História da Igreja,
Salt Lake City.
[24] Joseph Holbrook, Autobiografia e diário, p. 38, Biblioteca de História da
Igreja, Salt Lake City.
[25] “Revelation, 22 de junho de 1834 [D&C 105]”, pp. 97–100,
josephsmithpapers.org.
[26] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 14.
[27] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 14; Max H. Parkin, “Zion’s Camp
Cholera Victims Monument Dedication”, Missouri Mormon Frontier Foundation
Newsletter, Vol. 15 (Outono, 1997), pp. 4–5.
[28] Baldwin, Account of Zion’s Camp, p. 15.
[29] “Revelation, 22 de junho de 1834 [D&C 105]”, p. 98,
josephsmithpapers.org.
Warren Cowdery
D&C 106
Lisa Olsen Tait10 Outubro 2014

Warren Cowdery fez parte de um relacionamento dinâmico e bilateral


entre os principais locais de reunião dos membros, no início da Igreja,
e os ramos mais distantes. Como líder local da Igreja, ele ministrou
aos novos conversos enquanto também ajudava a abrigar os
missionários e os líderes de Kirtland.

Quando seu irmão mais novo Oliver, então com cerca de vinte anos,
tornou-se o “segundo élder” da Igreja restaurada em 1830, Warren
Cowdery (que também era conhecido como Dr. Cowdery) era
proprietário de uma farmácia, servia como diretor dos correios e tinha
construído a primeira casa de tijolos de Freedom, Nova York.1 Na
época, ele e sua esposa, Patience, tinham oito filhos. Embora
aparentemente tenha aprendido sobre o Livro de Mórmon quando ele
foi publicado, em 1830, Warren não se filiou à Igreja até quatro anos
mais tarde.2 Ele acompanhava à distância os eventos relacionados à
religião do irmão. Em uma carta de janeiro de 1834 a Oliver, Warren
expressou condolências pelo sofrimento dos santos no Missouri, após
a recente expulsão do Condado de Jackson, mas ainda escreveu
sobre os membros da Igreja como “seu povo” e “seus amigos”.3

Joseph Smith’s journal records his visit to the Cowdery home in March 1834.
O provável momento da mudança de Warren Cowdery foi uma visita
de Joseph Smith e Parley P. Pratt, em março de 1834. Obedecendo
ao mandamento de recrutar participantes e coletar doações de
membros da Igreja “das regiões do leste”, para o acampamento de
Sião, Joseph e Parley passaram por Freedom e hospedaram-se na
casa de Warren e Patience Cowdery, onde foram tratados de modo
hospitaleiro “no pleno Gozo de todas as Bênçãos Tanto materiais
como espirituais de que necessitamos ou fomos dignos de receber”.
Durante a visita, mais de uma vez pregaram “para uma casa cheia,
repleta”, e várias pessoas foram batizadas, inclusive o vizinho dos
Cowdery, Heman Hyde.4 Pratt lembrou mais tarde que “trinta ou
quarenta” pessoas foram batizadas e organizadas em um ramo, que
se tornou o ponto central para o crescimento da Igreja naquela
região.5

Embora não haja registros desses primeiros membros do ramo de


Freedom, é provável que Warren Cowdery estivesse entre eles. No
outono de 1834, seis meses após a visita de Joseph Smith, Warren
escreveu outra carta a Oliver, na qual falou sobre a religião “que
ambos abraçamos” e referiu-se aos santos como “nossos irmãos e
irmãs”. A carta de Warren sugere que sua conversão foi duramente
conquistada. Ele parece ter se inteirado plenamente das críticas e da
desaprovação de “milhares de pessoas respeitáveis [que] dizem (…)
que somos iludidos e enganados”, sentindo o aguilhão da oposição
ainda mais por causa de sua posição respeitável na sociedade local.
E embora ele tivesse sentido “algumas manifestações de aprovação
divina” em sua adoração no ramo de Freedom, Warren ainda ansiava
por experiências semelhantes às de seu irmão. “Desejei milhares de
vezes que pudesse ter a prova que você teve”, escreveu ele.6 Warren
também expressou o desejo de ter “um pregador em nossa ordem”,
que viesse a área de Freedom, alguém que “nos faria bem,
fortalecendo e edificando-nos com a santíssima fé”.7
Revelation from 9-12 March 1834 on JosephSmithPapers.org
Deve ter sido inesperado, quando dois meses depois, Joseph Smith
recebeu uma revelação para chamar Warren como “sumo sacerdote
presidente de minha Igreja, na terra de Freedom e regiões
circunvizinhas”.8 Como acontece com frequência, Warren foi a
resposta a seu próprio pedido. Assim como para muitos que são
chamados a servir desde então, as palavras de bênção e o conselho
que ele recebeu mostraram que o Senhor o conhecia e que iria ajudá-
lo a ter sucesso em seu chamado.

Ao afirmar a escolha de Warren de se filiar à Igreja, a revelação


também, implicitamente, reconheceu as dificuldades que ele havia
vivenciado. “Houve alegria no céu quando meu servo Warren aceitou
o evangelho e se afastou das artimanhas dos homens”,9 dizia ela.
Esse afastamento aumentaria, uma vez que a revelação instruía
Cowdery a “pregar meu evangelho eterno, erguer a voz e advertir o
povo, não apenas em seu próprio lugar, mas nos condados vizinhos”,
e também a “dedicar todo seu tempo a este elevado e sagrado
chamado.”10 Ao fazê-lo, o Senhor iria “dar-lhe a graça e a certeza
com a qual ele permaneceria”. 11 Por fim, a revelação dizia que, o
sucesso de Warren dependeria menos de sua capacidade do que de
sua humildade: “Bem-aventurado é meu servo Warren, pois terei
misericórdia dele; e, não obstante a vaidade de seu coração, vou
elevá-lo à medida que ele se humilhar perante mim”.12

Embora haja poucos registros, sabemos que Warren Cowdery ocupou


o cargo de Élder presidente na região de Freedom por um ano — um
ano agitado naquela área. No início de abril, foi realizada uma
conferência presidida por Sidney Rigdon, da Primeira Presidência.
Comentando sobre essa conferência no jornal, Oliver Cowdery
observou que a “grande” região de Freedom estava “ansiosa para
receber instruções concernentes à fé e a crença desta Igreja, e
entusiasmada para ouvir alguns élderes que, providencialmente,
pregaram naquela área”.13 Semanas mais tarde, os Doze — em sua
primeira missão como um quórum — foram à área. Eles realizaram
uma conferência em 22 e 23 de maio, na qual definiram os limites
geográficos da Conferência de Freedom, que incluía 12 ramos e
cobria grande parte do oeste de Nova York.14 O ramo de Freedom
era o maior, com 65 membros.

Os temas debatidos na conferência incluíam “a ‘Palavra de


Sabedoria’, o dom de línguas, profetizar, etc.”, e “a redenção de
Sião”. Cinco membros dos Doze falaram, após “a Igreja expressar
sua determinação de colocar em prática os ensinamentos” dados. No
final do ano, Orson Pratt visitou a área em uma missão. Ele relatou o
batismo de algumas pessoas, a venda de exemplares do Livro de
Mórmon e de Doutrina e Convênios, e a obtenção de várias
assinaturas para o jornal da Igreja, o Messenger and Advocate. “Há a
perspectiva de que muitos aceitem o evangelho nesta região”,
escreveu ele.15

Esses e outros relatórios mostram que Warren Cowdery fez parte de


um relacionamento dinâmico e bilateral entre os principais locais de
reunião dos membros, no início da Igreja, e os ramos mais distantes.
Como líder local da Igreja, ele teria ajudado a ministrar aos muitos
conversos novos à medida que eles se filiavam à Igreja, ajudando
também a abrigar os missionários e líderes de Kirtland, e organizar
reuniões.

“Warren Cowdery fez parte de um relacionamento dinâmico e


bilateral entre os principais locais de reunião dos membros, no início
da Igreja, e os ramos mais distantes. ”
O êxito na obra missionária significava o rápido crescimento dos
novos ramos; alguns, como o ramo de Freedom, tornaram-se muito
grandes. Mas, o chamado para reunirem-se aos santos significava
que os líderes locais muitas vezes ajudavam a supervisionar uma
rápida diminuição no número de membros em sua região. A
experiência de Warren Cowdery novamente foi típica. Seu relatório,
publicado em fevereiro de 1835 no Messenger and Advocate dá uma
ideia de como as mudanças aconteciam rapidamente nos primeiros
ramos. A Igreja em Westfield relatou 72 membros, um número
substancial, enquanto os ramos de Mendon e Lima relataram um total
de oito. “Nesta última área mencionada, a maioria dos membros
tinham se mudado; alguns para Kirtland e alguns para o Missouri, e
os oito aqui citados, são os que permaneceram”, explicou Cowdery.
“A Igreja já era grande”.

Da mesma forma, os 18 membros em Java e Weathersfield


representavam “os que restaram em uma área”, da qual “muitos se
mudaram para os locais de reunião”.16 Cowdery, por fim, uniu-se à
coligação também. Tendo servido fielmente em Freedom, ele e sua
família venderam suas propriedades no outono de 1835 e
prepararam-se para se mudar para Kirtland.17 Eles chegaram no
início de 1836, a tempo de participar dos eventos que envolviam a
dedicação da casa do Senhor.

Como tantos outros santos pioneiros que são pouco conhecidos hoje,
Warren Cowdery fez contribuições importantes para a obra do
Senhor. Ele trabalhava no escritório da editora, em Kirtland, e editava
o jornal da Igreja. Como secretário de Joseph Smith, ajudou a
escrever a oração dedicatória do templo de Kirtland e registrou
acontecimentos diários. Sua mais duradoura contribuição pode agora
ser vista apenas algumas páginas depois da revelação que lhe foi
dirigida — em 1836, ele registrou a anotação no diário de Joseph
Smith, descrevendo a visita do Salvador e de outros mensageiros
celestiais para Joseph e Oliver no templo de Kirtland, em 3 de abril de
1836.

Notas de rodapé
[1] Informações biográficas sobre Warren A. Cowdery
em josephsmithpapers.org
[2] Um dos vizinhos de Cowdery em Freedom, Nova York, lembrou-se de ler
algumas folhas de prova do Livro de Mórmon que Warren obtivera de Oliver.
Ver o diário de William Hyde, pasta 2, 5, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City
[3] Warren Cowdery, Freedom, Nova York, para Oliver Cowdery, Kirtland,
Ohio, 14 de janeiro de 1834, Evening and Morning Star, janeiro de 1834,
p.127
[4] Diário, 1832–1834, 9 a 12 de março de 1834, josephsmithpapers.org.
Parley P. Pratt escreveu essa anotação no diário de Joseph Smith
[5] Parley P. Pratt, A Autobiografia de Parley Parker Pratt, Um dos Doze
Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ed.
Parley P. Pratt Jr. (1874), p. 117.
[6] Warren Cowdery, Freedom, Nova York, para Oliver Cowdery, Kirtland,
Ohio, 1 de setembro de 1834, Evening and Morning Star, setembro de 1834,
p.189
[7] Warren Cowdery, Freedom, Nova York, para Oliver Cowdery, Kirtland,
Ohio, 1 de setembro de 1834, Evening and Morning Star, setembro de 1834,
p.189
[8] Doutrina e Convênios 106:1
[9] Doutrina e Convênios 106:6.
[10] Doutrina e Convênios 106:2–3
[11] Doutrina e Convênios 106:8.
[12] Doutrina e Convênios 106:7.
[13] Messenger and Advocate, Vol. 1 (abril de 1835), p.108
[14] Naquela época o termo “conferência” se referia não apenas às reuniões
na qual eram tratados os negócios da Igreja, mas também a “áreas
geográficas definidas para fins administrativos” (ver “Conferences” no
glossário dos Documentos de Joseph Smith: josephsmithpapers.org). Na
reunião realizada pelos Doze em Freedom, Nova York, em maio de 1835, foi
determinado que “os limites desta conferência estendem-se de Lodi no oeste,
até o Leste, para incluir Avon, Sul da Pensilvânia, e norte do Lago Ontário”
(Registro dos Doze, 14 de fevereiro – 28 de agosto de 1835, 22 – 23 de maio
de 1835, josephsmithpapers.org)
[15] Messenger and Advocate, Vol. 2 (novembro de 1835), p. 224
[16] Messenger and Advocate, Vol. 1 (fevereiro de 1835), p. 75
[17] Caroline Barnes Crosby e seu marido, Jonathan, passaram por Freedom,
a caminho de Kirtland em novembro de 1835 e hospedaram-se na casa da
família de Warren Cowdery. Caroline relatou que os Cowdery tinham “vendido
sua herança naquele lugar com a intenção de emigrar para o oeste na
primavera” (No Place to Call Home: The 1807–1857 Life Writings of Caroline
Barnes Crosby, Chronicler of Outlying Mormon Communities, ed. Edward Leo
Lyman, Susan Ward Payne e S. George Ellsworth [2005], 38)
“Inspirado” a Buscar uma Revelação
D&C 108
Lisa Olsen Tait29 Outubro 2013

Lyman Sherman havia seguido os sussurros do Espírito de se filiar à


Igreja e andar mil e seiscentos quilômetros com o Acampamento de
Sião. Mas ainda sentia um anseio profundo, pessoal para saber de
sua situação perante o Senhor.

“Em casa o dia todo, apreciei ficar com minha família no dia de Natal,
a única ocasião, em muito tempo, que tive esse privilégio de modo tão
satisfatório”, registro do diário de Joseph Smith em 25 de dezembro
de 1835.1No dia seguinte, um sábado, Joseph sentou-se com alguns
companheiros e “[começaram] a estudar a língua hebraica” quando se
ouviu uma batida em sua porta. Parado ali estava seu amigo Lyman
Sherman. “Fui inspirado a revelar-lhe meus sentimentos e desejos”,
disse o Irmão Sherman a Joseph, “e recebi a promessa de que teria
uma revelação que me daria a conhecer meu dever”.2 O resultado
deste pedido foi a revelação que temos agora como Doutrina e
Convênios 108 — uma declaração breve, mas poderosa, de uma
confirmação espiritual pessoal que também coloca Lyman Sherman
no centro de acontecimentos maiores.

“Que Se Tranquilize Tua Alma”


Naquele dia de inverno em 1835, Lyman Sherman tinha 31 anos de
idade, e se aproximava do quarto aniversário de seu batismo. No
início do outono de 1831, dois dos irmãos de sua esposa, Delcena,
que tinham saído de casa para trabalhar, escreveram para a família
contando que tinham sido batizados na nova igreja “Mormonita”. “Esta
notícia veio sobre nós quase como um terror e uma desgraça”, contou
o irmão de Delcena, Benjamin. Pouco depois da chegada da primeira
carta, os irmãos Johnson que estavam ausentes haviam enviado um
pacote contendo o Livro de Mórmon e “uma longa explicação” de
suas novas crenças. Depois de receber esses materiais, Benjamin
escreveu: “minha mãe, meu irmão Seth, minha irmã Nancy, e Lyman
R. Sherman, com alguns dos vizinhos, todos dedicados à religião,
reuniram-se secretamente para ler o Livro de Mórmon e a carta que o
acompanhava, ou talvez para lamentar o engano em que meus
irmãos tinham caído”.

Esse ceticismo inicial deu lugar, conforme “a leitura deles, logo os


conduziu a uma surpresa com a simplicidade e pureza do que liam e
com o espírito que a acompanhava, prestando testemunho de sua
veracidade”.3 Lyman e Delcena Sherman e vários membros da
família Johnson foram batizados em janeiro de 1832. Membros da
família Sherman também foram convertidos.4 Os Shermans
mudaram-se para Kirtland em meados de 1833, onde se
familiarizaram com Joseph Smith e muitos santos. Seu filho Albey
tinha quase a mesma idade que Joseph Smith III, e os meninos eram
amigos.5
Revelação de 26 de dezembro de 1835 em JosephSmithPapers.org
Mas, embora Sherman amasse os santos e tivesse uma fé inabalável
no evangelho restaurado, aparentemente tinha dúvidas sobre a
qualidade de seu próprio discipulado. A revelação dá-nos um
vislumbre do processo de que Sherman chamava ter sido “inspirado”
a procurar o profeta. O Senhor disse a Lyman: “obedeceste a minha
voz e vieste aqui”, confirmando que ele havia recebido os sussurros
do Espírito para buscar essa oportunidade. O conselho do Senhor de
“não mais [resistir] a minha voz” sugere que Sherman tinha recebido
essas impressões em várias ocasiões, mas havia relutado em agir,
quando passou por uma profunda e comovente pesquisa espiritual
para saber de sua situação perante Deus. Em resposta a essa
procura, a revelação garantiu-lhe que seus pecados foram perdoados
e bondosamente lhe disse “que se tranquilize tua alma com respeito a
tua posição espiritual”6 (ver D&C 108:1-2).

“Serás Lembrado”
A revelação também respondeu à solicitação de Sherman, para que o
Senhor “tornasse conhecido [seu] dever”. Ele já era um líder na
emergente organização do sacerdócio da Igreja. No início de em
1835, ele participara de uma reunião “das pessoas que viajaram para
Sião” com o Acampamento de Sião no verão anterior. Nessa reunião,
Joseph Smith anunciou que “era a vontade de Deus” que aqueles que
tinham ido para Sião “[deviam] ser ordenados, para o ministério e ir
adiante para podar a vinha pela última vez”, e os primeiros doze
Apóstolos desta dispensação foram chamados.7 Duas semanas mais
tarde, o primeiro quórum de Setentas foi organizado “para ir por toda
a Terra, onde quer que os doze Apóstolos os chamarem”.8 Lyman
Sherman foi ordenado como um dos sete presidentes dos Setenta
(ver D&C 107:93-94). Em sua bênção de ordenação, foi prometido a
Sherman: “Tua fé será inabalável e serás livre de grandes aflições.
(…) És um vaso escolhido do Senhor”.9

Mas antes de saírem “por toda a Terra”, os Setenta, inclusive Lyman


Sherman, deveriam ser participantes centrais nos acontecimentos
que acompanharam a dedicação do templo, na primavera de 1836. A
revelação a Lyman Sherman aconselhou-o, “Espera pacientemente
até que meus servos convoquem a assembleia solene; então serás
lembrado com os primeiros de meus élderes e receberás o direito, por
ordenação, com o restante de meus élderes por mim escolhidos”
(ver D&C 108:4). Essas promessas se cumpriram quando Sherman
participou das diversas reuniões e ordenanças que antecederam à
assembleia solene na dedicação do Templo de Kirtland e à
manifestação espiritual e “investidura de poder” conferida aos santos
naquela ocasião.
“Sherman participou nas várias reuniões e ordenanças que
antecederam à assembleia solene da dedicação do Templo de
Kirtland. ”
“Fortalece Teus Irmãos”
O serviço de Lyman Sherman aos Santos de Kirtland mostra que ele
levou o conselho da revelação de “fortalece a [teus] irmãos” a sério.
Wilford Woodruff, então um Setenta jovem que havia perdido a
dedicação do Templo de Kirtland e a manifestação espiritual que a
acompanhara, observou a liderança espiritual de Sherman. Em uma
notável reunião sacramental no templo, Woodruff escreveu: “O Élder
Sherman cantou no dom de línguas e proclamou grandes e
maravilhosas coisas, enquanto revestido do poder e do espírito de
Deus”.10Durante o inverno de 1836-1837, os Setentas reuniram-se
todas as noites de terça-feira na sala do oeste do sótão do
templo; 11 em uma dessas ocasiões, Sherman ordenou doze homens
para o terceiro quórum de Setenta. 12 Um ponto de destaque desta
época foi uma segunda Assembleia Solene, realizada na primeira
semana de abril, para comemorar a dedicação do templo e conferir
ordenanças sobre aqueles que não estavam presentes no ano
anterior.

Quando dissensões internas e oposição externa se uniram contra a


Igreja, Lyman Sherman e sua família permaneceram fiéis a Joseph
Smith, ajudando a fortalecer os santos em meio a tempos difíceis.
Sherman foi designado para o Sumo Conselho de Kirtland, em
outubro de 1837.13 Ele mudou-se para Far West, Missouri, onde foi
designado, no outono de 1838, para o Sumo Conselho de Far
West.14 A essa altura, Joseph Smith e outros líderes da Igreja
estavam na prisão, e os santos achavam-se em meio a uma fuga
desesperada das turbas do Missouri. De acordo com Benjamin
Johnson, Sherman viajou para visitar o profeta na prisão, e foi como
resultado dessa viagem que ele “tomou frio” e ficou muito
doente.15 Enquanto isso, em 16 de janeiro de 1839, a Primeira
Presidência escreveu a Brigham Young e Heber C. Kimball, os
Apóstolos seniores, designando Lyman Sherman para preencher uma
das vagas no Quórum dos Doze.16 Kimball escreveu que ele e Young
visitaram Joseph Smith na Cadeia de Liberty, em 8 de fevereiro de
1839. Ele disse que, quando partiram de Far West, “Lyman Sherman
estava um pouco indisposto. Em poucos dias após a nossa volta, ele
faleceu. Nós não o notificamos de sua designação.”17

Foi um sereno e repentino final para o ministério mortal de um homem


fiel. A morte de Sherman significava dificuldades para sua esposa
Delcena e seus seis filhos pequenos, que se mudaram praticamente
desprovidos para Illinois e, mais tarde, para Utah.18 Como tantos
santos antigos, Lyman Sherman dedicou sua vida à causa de
estabelecer Sião e seguiu de boa vontade o Profeta Joseph Smith,
apesar da pobreza, oposição e incerteza. “Ele era um homem de
grande integridade, um vigoroso pregador”, relembrou seu
cunhado.19 Viveu e morreu plenamente engajado em cumprir o
mandamento do Senhor de “[fortalecer] teus irmãos em todas as tuas
conversas, em todas as tuas orações, em todas as tuas exortações e
em todos os teus feitos” (ver D&C 108:7).

Notas de rodapé
[1] Joseph Smith, Journal, 1835–1836, p. 89, Joseph Smith Papers.
[2] Joseph Smith, Journal, 1835–1836, p. 89, Joseph Smith Papers.
[3] Benjamin F. Johnson, My Vida’s Review (Indexador: Zion’s Printing and
Publishing Co., 1947), p. 11.
[4] Elkanah, Almon, Asenath, Cornelia, e Electa Sherman e Julia Johnson
foram “batizados por Sylvester Smith e Gideon Carter em Pomfret
Chautauqua N. York, de 2 a 6 de maio de 1832”. Gideon H. Carter’s Journal,
1831-1832, Biblioteca de História da Igreja.
[5] “History of Albey Lyman Sherman” , texto datilografado, em possessão
particular.
[6] Revelation, 26 de dezembro de 1835, JSP.
[7] Minutes, Kirtland, OH, 14–15 de fevereiro de 1835.
[8] Joseph Smith, History, 1838–1856, volume B-1, JSP.
[9] Minutes, Kirtland, OH, 28 de fevereiro–1º de março de 1835, JSP.
Sherman foi desobrigado como um dos presidentes dos Setentas, em abril de
1837, juntamente com cinco dos outros presidentes, quando foi decidido que,
desde que haviam anteriormente sido ordenados Sumos Sacerdotes, eles
deveriam assumir sua posição naquele quórum. Joseph Smith, History, 1838–
1856, volume B-1, JSP.
[10] Dean C. Jesse, “The Kirtland Diary of Wilford Woodruff”, BYU Studies 12,
nº 4, 1972, p. 382. A reunião foi realizada em 8 de janeiro de 1837.
[11] Joseph Smith, History, 1838–1856, volume B-1, JSP.
[12] Dean C. Jesse, “The Kirtland Diary of Wilford Woodruff,” BYU Studies 12,
nº 4, 1972, p. 382.
[13] “Kirtland High Council Minutes,” Minute Book 1, 3 de dezembro de 1832–
30 de novembro de 1837, JSP.
[14] Minutes, 13 de dezembro de 1838, Minute Book 2, JSP. Sherman foi
designado a preencher “o lugar de Newel Knight até que ele retorne”.
[15] Benjamin F. Johnson, My Life’s Review, Independence: Zion’s Printing
and Publishing Co., 1947, p. 52.
[16] Joseph Smith, Sidney Rigdon e Hyrum Smith, carta, Liberty, MO, para
Heber C. Kimball e Brigham Young, Far West, MO, 16 de janeiro de
1839, JSP.
[17] Journal of Heber C. Kimball citado em Lyndon W. Cook, “Lyman Sherman
—Man of God, Would-Be Apostle”, BYU Studies p. 19, nº 1, Outono de 1978,
p. 124.
[18] Ver Benjamin F. Johnson, My Life’s Review, Independence: Zion’s
Printing and Publishing Co., 1947, p. 56; “History of Albey Lyman Sherman”,
texto datilografado em possessão particular.
[19] Benjamin F. Johnson, My Life’s Review, Independence: Zion’s Printing
and Publishing Co., 1947, p. 53.
Mais de Um Tesouro
D&C 111
Elizabeth Kuehn1 Junho 2015

A revelação que se tornou Doutrina e Convênios 111 não foi cumprida


da maneira que os líderes da Igreja esperavam em 1836. Cinco anos
depois, eles viram outra oportunidade de serem instrumentos para
ajudar as promessas do Senhor a se cumprirem.

No final de julho de 1836, Joseph Smith Júnior, Sidney Rigdon, Oliver


Cowdery e Hyrum Smith começaram a viagem de Kirtland, Ohio, para
o leste dos Estados Unidos. Nas semanas antes de sua partida,
Joseph estava muito preocupado com os assuntos temporais da
Igreja. No Estado de Missouri, os santos mantiveram os títulos das
terras das quais haviam sido expulsos no Condado de Jackson como
um sinal de seu compromisso com a edificação de Sião, mas não
tinham previsão de voltar. Ao mesmo tempo, a Igreja estava
sobrecarregada pelas dívidas após a construção do Templo de
Kirtland. O que poderia ser feito?

Essas preocupações provavelmente continuaram a afligir Joseph


Smith enquanto seu pequeno grupo viajava de Nova York para
Boston.1 De acordo com um relato posterior, Joseph e outros líderes
souberam de um tesouro escondido em Salem, Massachusetts, e
esperavam encontrá-lo.2 Tanto a esperança de ajuda financeira
quanto as preocupações com Sião foram partes fundamentais do
contexto da revelação que o Profeta recebeu em Salem, em 6 de
agosto de 1836.

“Não Vos Preocupeis”

D&C 111 em JosephSmithPapers.org


Na revelação, o Senhor consolou Joseph e seus companheiros: “Não
vos preocupeis com vossas dívidas, porque vos darei poder para
pagá-las. Não vos preocupeis com Sião, porque serei misericordioso
com ela”.3 A revelação indicava que havia muitos tesouros para
serem encontrados na cidade “para o benefício de Sião“.4 Isso
incluiria tanto recursos financeiros quanto a bênção espiritual de
conversos, “que reunirei no devido tempo”.5 Os tesouros também
podiam incluir conhecimento importante relacionado “[aos] habitantes
mais antigos e fundadores desta cidade”.6
Joseph e seus três companheiros seguiram a orientação da revelação
de “[Permanecer] neste lugar”7 e passaram várias semanas em
Salem, pregando e visitando lugares históricos na esperança de obter
dinheiro para ajudar a pagar as dívidas da Igreja e redimir Sião. Mas
não existem documentos indicando que eles viram essa revelação ser
cumprida de qualquer forma quando retornaram a Kirtland.
“Não existem documentos indicando que eles viram essa revelação
ser cumprida de qualquer forma quando retornaram a Kirtland. ”

O que o Senhor realizou por meio de sua viagem para Salem


permanece desconhecido. Algumas pessoas presumem que a viagem
simplesmente não foi bem-sucedida. Outros acreditam que talvez as
instruções da revelação para “[indagar] diligentemente a respeito dos
habitantes mais antigos (…) desta cidade”,8 que incluía alguns dos
antepassados de Joseph, pode tê-lo ajudado a se preparar para
receber revelações vitais sobre o trabalho vicário pelos mortos. Mas o
registro histórico nada revela sobre o que Joseph, Oliver, Sidney e
Hyrum sentiram a respeito da revelação quando saíram de Salem.

“O Devido Tempo do Senhor”


E ainda assim, a revelação não foi esquecida. Cinco anos mais tarde,
em uma conferência da Igreja na Filadélfia em julho de 1841, Hyrum
Smith e William Law, da Primeira Presidência, deram instruções aos
Élderes Erastus Snow e Benjamin Winchester sobre Salem. Essas
instruções incluíam uma cópia da revelação de agosto de 1836 e
expressava a convicção da Primeira Presidência de que “o devido
tempo do Senhor havia chegado” para que a revelação fosse
cumprida e o povo de Salem fosse reunido em Seu reino.9

“Essas instruções incluíam uma cópia da revelação de agosto de 1836


e expressava a convicção da Primeira Presidência de que ‘o devido
tempo do Senhor havia chegado’. ”

Erastus Snow ficou relutante no início. Ele havia servido desde abril
de 1840 na Pensilvânia, Nova Jersey, e em outras áreas da costa
leste com muito sucesso e planejava retornar a Nauvoo no outono de
1841. Ele orou para saber a vontade do Senhor e o Espírito
“continuamente sussurrou para ir para Salem”.10 Ele também tinha
assuntos a tratar em Nauvoo e tinha esperança de voltar para lá.
Pode ter sido difícil para ele distinguir entre sua própria vontade e a
inspiração do Senhor.

Seguindo uma prática bíblica, o Élder Snow decidiu lançar sortes para
determinar aonde ele iria: Nauvoo ou Salem. A sorte recaiu sobre
Salem — duas vezes — e ele resolveu ir o mais rápido
possível.11 Ele providenciou que sua esposa e sua filha, que haviam
viajado com ele, ficassem com seu irmão em Woonsocket, Rhode
Island, até que ele encontrasse um lugar em Salem para elas. Seu
irmão não era membro da Igreja, mas “pareceu se interessar pela
obra” enquanto Erastus pregava na área, e ele esperava que seu
irmão viesse a aceitar o evangelho.12

“Estranhos e Sozinhos”
Em 31 de agosto de 1841, Erastus Snow deixou a família em Rhode
Island e viajou para Boston, onde esperou até 3 de setembro até que
Benjamin Winchester chegasse. Os dois homens, em seguida,
viajaram para Salem. “Chegamos, estranhos e sozinhos”, ele
escreveu, “mas confiamos em Deus para dirigir nosso curso”.
Naquela noite, os dois missionários oraram fervorosamente para “que
Deus abrisse o coração das pessoas para que elas os
ouvissem”.13No dia seguinte, eles seguiram em frente com fé.

Eles pregaram dia e noite em Boston e Salem, mas sem sucesso.


Uma semana depois, Benjamin Winchester foi para a Filadélfia e
Erastus continuou o trabalho em Salem sozinho, pregando onde era
convidado durante a semana e em um salão maçônico alugado nos
fins de semana. Apesar de seus esforços e das grandes multidões
que participavam, poucos pareciam realmente interessados em sua
mensagem. Ele escreveu: “Embora tenha publicado nos jornais e
distribuído gratuitamente uma grande quantidade de nossos discursos
em toda cidade, demorou um longo tempo para que conseguisse que
as pessoas tivessem real interesse, em vez de simplesmente vir,
ouvir e ir embora”.14

A primeira atenção constante que Erastus Snow recebeu foi negativa.


O reverendo A. G. Comings, um ministro batista e redator do jornal
local, publicou artigos opondo-se à Igreja e se recusou a publicar as
respostas do Élder Snow. Por fim, no entanto, o reverendo Comings
concordou com uma série de debates entre ele e o Élder Snow, em
novembro.15 Tendo durado seis noites, os debates voltaram a opinião
pública contra Comings, uma vez que seus argumentos eram
“principalmente epítetos e insultos”.16 O Élder Snow escreveu que “o
que resultou de bom da discussão foi que ela fez com que muitos
investigassem a doutrina que, de outra maneira, teria passado
despercebida. Depois disso, minhas reuniões eram muito mais
frequentadas do que antes”.17

“Os Primeiros Frutos”


Em 8 de novembro de 1841 — cerca de cinco meses depois de
Hyrum Smith e William Law escreverem a Erastus Snow sobre Salem
— ele “colheu os primeiros frutos de [seu] labor”, quando algumas
pessoas fizeram seus convênios batismais. O trabalho progrediu
rapidamente durante o inverno. No início de fevereiro havia 36
membros em Salem.18 Em um relatório para Hyrum Smith e William
Law, o Élder Snow refletiu: “Se eu não soubesse que Jesus tinha
muitas ovelhas nesta cidade, acho que teria desanimado e não
permaneceria para colher onde havia semeado, porque este é o único
lugar em que eu já preguei tanto tempo sem batizar”.19

Erastus Snow organizou o Ramo de Salem em 5 de março de 1842,


com 53 membros.20 Em junho de 1842 o ramo havia aumentado para
cerca de 90 membros, alguns dos quais mudaram-se para Nauvoo e
outras áreas.21 A fé desses santos era grande, e milagres de cura
estavam entre os dons espirituais que eles vivenciaram.22 Em uma
conferência em Boston, em fevereiro de 1843, o Ramo de Salem
tinha 110 membros. Erastus Snow também tinha sido um instrumento
na organização de pequenos ramos em outras áreas do Estado de
Massachusetts, incluindo o Ramo de Georgetown, que tinha 32
membros na conferência de 1843.23 Quando o Élder Snow e sua
família deixaram a Nova Inglaterra, no outono de 1843, 75 membros
de “Boston e das igrejas do leste” viajaram com eles para Nauvoo.24

“Mais de Um Tesouro”
A família de Nathaniel Ashby, um converso de Salem, dividiu uma casa com a família
Snow em Nauvoo.
Na revelação em Salem, proferida em 6 de agosto de 1836, o Senhor
disse que havia “mais de um tesouro”25 na cidade para ajudar a
edificar o reino. Embora a plenitude dessa promessa possa ainda não
ter sido cumprida, as pessoas que se filiaram à Igreja por meio da
missão de Erastus Snow exerceram uma influência duradoura. Elas
ajudaram a edificar a Igreja na área de Boston e Salem, que foi uma
área vibrante e historicamente significativa da Igreja na década de
1840. Muitos desses conversos reunidos em Nauvoo fizeram
importantes contribuições ali, e depois se mudaram para o oeste para
ajudar a estabelecer a região das Montanhas Rochosas e edificar as
próximas gerações de santos dos últimos dias.26 A missão de
Erastus Snow em Salem — como muitas missões — teve uma reação
em cadeia de serviço e fé que continua a abençoar o mundo hoje em
dia.

Como os quatro líderes da Igreja que viajaram para o leste em 1836,


não sabemos exatamente que tesouros o Senhor pretendia que eles
obtivessem em Salem. Mas, para Hyrum Smith e Erastus Snow, foi
suficiente confiar na palavra de Deus e tornarem-se, em Seu devido
tempo, instrumentos para ajudar a cumprir Suas promessas.

Notas de rodapé
[1] Ver Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume B-1 [1 de setembro de
1834 – 2 de novembro de 1838]”, p. 748, josephsmithpapers.org; ver também
“Letter from the Editor”, Latter-day Saints’ Messenger and
Advocate, setembro de 1836, pp. 372–375.
[2] Ebenezer Robinson, “Items of Personal History of the Editor”, The
Return, julho de 1889, pp. 105–106. Embora o relato de Robinson tenha sido
escrito meio século depois do fato, partes dele estão corroboradas por uma
carta de Joseph Smith a Emma Smith, datada de 19 de agosto de 1836. Para
informações sobre as antigas tradições americanas de procurar tesouros
enterrados ou escondidos em edifícios, ver Alan Taylor, “The Early Republic’s
Supernatural Economy: Treasure Seeking in the American Northeast, 1780–
1830”, American Quarterly, vol. XXXVIII, n º 1 (1986), pp. 6–34; Ronald W.
Walker, “The Persisting Idea of American Treasure Hunting”, BYU
Studies, vol. XXIV, n º 4 (1984), pp. 429–459. Para informações a respeito da
antiga participação de Joseph Smith na cultura de caça ao tesouro, ver
Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling (New York:
Alfred A. Knopf, 2005), pp. 49–52.
[3] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, p. 36,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:5–6.
[4] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, p. 35,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:2.
[5] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, p, 35,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:2.
[6] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, p. 37,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:9.
[7] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, p. 36,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:7.
[8] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, pp. 36–37,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:9.
[9] Erastus Snow journal, 1841–1847, p. 4, Biblioteca de História da Igreja,
Salt Lake City.
[10] Erastus Snow journal, p. 4.
[11] Carta de Erastus Snow a Hyrum Smith e William Law, 4 de fevereiro de
1842, Documentos de Erastus Snow, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City.
[12] Erastus Snow journal, p. 10.
[13] Erastus Snow journal, p. 12.
[14] Carta de Erastus Snow a Hyrum Smith e William Law, 4 de fevereiro de
1842; grafia modernizada.
[15] Ver Erastus Snow journal, pp. 16–17; Carta de Erastus Snow a Hyrum
Smith e William Law, 4 de fevereiro de 1842.
[16] Erastus Snow journal, p. 17.
[17] Erastus Snow journal, p. 17.
[18] Carta de Erastus Snow a Hyrum Smith e William Law, 4 de fevereiro de
1842.
[19] Carta de Erastus Snow a Hyrum Smith e William Law, 4 de fevereiro de
1842.
[20] Ver Erastus Snow journal, p. 21.
[21] Ver Erastus Snow journal, p. 27.
[22] Erastus Snow journal, pp. 29–30, 35–37.
[23] Journal History, 9 de fevereiro de 1843.
[24] Erastus Snow journal, p. 44. Para mais detalhes da missão de Erastus
Snow em Salem, ver Kenneth W. Godfrey, “More Treasures Than One:
Section 111”, Hearken, O Ye People: Discourses on the Doctrine and
Covenants (Sandy, Utah: Randall Book, 1984), pp. 196–204.
[25] “Revelação, 6 de agosto de 1836 [D&C 111]”, p. 37,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 111:10.
[26] Infelizmente, o diário de Erastus Snow geralmente contém números de
batismos, em vez de nomes, tornando difícil identificar e fazer o levantamento
da vida de todos os que se filiaram à Igreja por causa de sua missão. Entre
aqueles que atribuíram sua conversão a ele estão a família de George e Mary
Alley (ver George Alley Family Collection, 19th Century Western and Mormon
Americana, Coleções Especiais de L. Tom Perry, Biblioteca de Harold B. Lee,
Universidade Brigham Young, Provo, Utah), a família de Nathaniel e Susan
Ashby (ver autobiografia de Benjamin Ashby, Biblioteca de História da Igreja,
Salt Lake City) e a família de Howard e Tamson Egan (ver Pioneering the
West 1846 to 1878: Major Howard Egan’s Diary, ed. William M. Egan [Howard
R. Egan Estate, Richmond, Utah: 1917]). Para a perspectiva de um
descendente de Ashby, o legado de Doutrina e Convênios 111 e a missão de
Erastus Snow, ver Kim R. Burmingham, “A Escritura ‘Insignificante’”, A
Liahona, setembro de 1991, p. 30.
Far West e Adão-ondi-Amã
D&C 115, 116, 117
Jacob W. Olmstead12 Setembro 2013

Essas revelações não apenas identificaram novos locais de reunião


para os santos no norte do Missouri, mas esses lugares foram
imbuídos de um passado sagrado e um futuro glorioso.

Durante os meses finais de 1837, a apostasia começou a afetar a


Igreja em Kirtland, Ohio. Muitos santos dos últimos dias ficaram
decepcionados com as grandes perdas financeiras, como resultado
do colapso da Sociedade de Previdência de Kirtland e começaram a
rejeitar a liderança temporal e espiritual do profeta. Entre os
dissidentes estavam vários membros do Quórum dos Doze e dos
Setenta, bem como as três testemunhas das placas do Livro de
Mórmon. Em janeiro de 1838, como resultado dessa apostasia
generalizada e diante de ameaças de violência, Joseph Smith e
Sidney Rigdon receberam instrução divina para abandonar seus
trabalhos em Kirtland e fugir para Far West, Missouri. Embora a
revelação relate que o trabalho de Joseph tivesse “terminado naquele
lugar”, deixar Kirtland não significava apenas partirem de seus lares,
mas também deixar a maior estaca da Igreja e seu primeiro e único
templo. Não obstante, Joseph e Sidney foram admoestados: “Erguei-
vos e ide a uma terra que vos mostrarei, uma terra que mana leite e
mel”.1

Ao se aproximarem de Far West, depois de uma “jornada longa e


entediante”, Joseph e Sidney foram recebidos pelos santos do
Missouri “com braços abertos [os] recebendo com grande
alegria”.2 Mas notícias de divisões internas, ameaçando a Igreja em
Far West rapidamente deprimiram o alegre reencontro. Quatro dias
antes da chegada do Profeta no dia 10 de março, o sumo conselho da
estaca de Far West excomungou os impenitentes William W. Phelps e
John Whitmer, ambos conselheiros na Presidência de Missouri. Os
dois foram acusados de lucrarem com a venda de terras destinadas à
coligação dos santos em Far West e também de sua parte na venda
da propriedade da presidência no Condado de Jackson, contrariando
a revelação anterior. O sumo conselho não havia tomado medidas
contra David Whitmer, Presidente na presidência de Missouri, nem
contra o assistente do presidente Oliver Cowdery por acusações
adicionais. Em vez disso, eles esperaram Joseph voltar para tratarem
desse desagradável assunto. Tanto Whitmer quanto Cowdery foram
excomungados no início de abril.

Encontrar um lugar para os santos de Kirtland


Far West cresceu e se tornou o principal assentamento mórmon no
Missouri após o deslocamento dos santos dos condados de Clay e
Ray em meados de 1836. Quando Joseph retornou em 1838, Far
West tinha uma população de 4.900 pessoas com “150 casas, quatro
lojas de produtos secos, três mercearias, várias lojas de ferreiro, dois
hotéis, uma gráfica e um prédio escolar grande, que era usado como
igreja e tribunal”.3 Encontrar terras a preços acessíveis para a
chegada antecipada de um grande influxo de santos carentes de
Kirtland para Missouri tornou-se uma prioridade imediata. Em 26 de
abril de 1838, uma revelação — agora Doutrina e Convênios 115 —
forneceu orientações para a Primeira Presidência, o bispado e o
sumo conselho em Far West. Além de incentivar o desenvolvimento
contínuo de Far West e a construção de um templo, a revelação
indicou “que outros lugares sejam designados para estacas nas
regiões circunvizinhas, como forem indicados a meu servo Joseph, de
tempos em tempos” (D&C 115:18).

Journal, March–September 1838 on josephsmithpapers.org


A disponibilidade de terrenos baratos guiou os líderes da Igreja, ao
olharem para esses “outros locais” a fim de criar novas estacas na
região. Embora consideráveis partes do Condado de Caldwell
tivessem ficado inexploradas, a terra tinha sido vistoriada tornando-se
não mais sujeita às leis de prevenção. Essas leis permitiram aos
colonos proteger e melhorar terras não vistoriadas sem pagamento
inicial. Sob a prevenção, aqueles que não tinham recursos suficientes
poderiam trabalhar em terras seguras para obter lucro e então os
primeiros direitos seriam concedidos para a aquisição do terreno,
depois de ter sido vistoriado e posto à venda pelo governo federal. O
recém-criado e não vistoriado Condado de Daviess, localizado
imediatamente ao norte de Caldwell, chamou a atenção dos líderes
da Igreja como um lugar potencial de reunião dos santos carentes no
norte do Missouri.4

Em 18 de maio de 1838, Joseph Smith liderou um grupo de líderes da


Igreja, incluindo Sidney Rigdon, Thomas B. Marsh e David Patten,
dos Doze, o Bispo Edward Partridge e outras pessoas para os “países
do norte com o propósito de criar estacas de Sião, encontrar lugares
e reivindicar para a coligação dos santos para o benefício dos pobres
e para a edificação da Igreja de Deus”.5 A companhia viajou para o
norte no Condado de Daviess por vários dias para a região do Grand
River, a qual o secretário de Joseph Smith, George W. Robinson,
descreveu como “grande, bela, profunda”.
Durante a expedição, o grupo encontrou uma terra com “abundância”
de caça, incluindo “veados, perus, galinhas, alces” e planícies
cobertas com grama espessa.6 Na terra de fato, “manava leite e mel”.
Journal, March–September 1838 on josephsmithpapers.org
O Lugar Onde Adão Virá
Enquanto a abundância natural da terra no Condado de Daviess
fornecia tudo que era necessário para a necessidade temporal da
coligação dos santos, a revelação também tinha direcionado os
santos a um lugar de grande importância espiritual. Quando Joseph,
Sidney e George W. Robinson procuravam por um local para
estabelecer uma comunidade perto do Grand River, eles chegaram a
uma colina proeminente chamada Spring Hill. Nesta viagem, Joseph
recebeu a revelação hoje conhecida como Doutrina e Convênios 116,
identificando a região como Adão-ondi-Amã, “porque disse Ele, é o
lugar ao qual Adão virá para visitar seu povo, ou melhor, onde o
Ancião de Dias se assentará, como mencionado por Daniel, o profeta”
(D&C 116:1).

Os santos sabiam sobre Adão-ondi-Amã pelas revelações anteriores


dadas a Joseph Smith, publicadas vários anos antes, na edição de
1835 de Doutrina e Convênios. Na seção 3 (agora D&C 107), o
Senhor explicou que durante os anos finais de Adão, ele chamou sua
posteridade justa para “o vale de Adão-ondi-Amã” onde ele “conferiu-
lhes sua última bênção”. A revelação explicou que o Senhor
“apareceu-lhes” e “confortou Adão”. Estando “cheio do Espírito
Santo”, Adão profetizou a respeito de sua posteridade, “até a última
geração” (D&C 107:53-56).7 Além das referências em Doutrina e
Convênios, a frase tornou-se uma parte regular das reuniões de
adoração mórmon por meio de um hino composto por William W.
Phelps, intitulado “Adão-ondi-Amã”.8 Incluído no primeiro hinário SUD
organizado por Emma Smith e publicado nos primeiros meses de
1836, os santos cantaram esse hino durante a dedicação do Templo
de Kirtland.9

A nova revelação a respeito de Adão-ondi-Amã sugeriu um papel


significativo de Adão nos eventos que precedem a Segunda Vinda do
Senhor. Explicando um pouco mais sobre a visão de Daniel sobre o
Ancião de Dias (Daniel 7: 9, 13-14) Joseph Smith explicou mais tarde
que “todos os que possuíram as chaves devem apresentar-se diante
dele (Adão) nesse grande Conselho (…). O Filho do Homem (Cristo)
se coloca diante dele e recebe glória e domínio. Adão entrega sua
mordomia a Cristo, mordomia que ele recebeu de portar as Chaves
do Universo, mas mantém sua posição como chefe da família
humana”.10

A Coligação em Adão-ondi-Amã
Ao revelar a localização de Adão-ondi-Amã a Joseph Smith, o Senhor
imbuiu a terra do Condado de Daviess em uma história espiritual,
bem como lhe deu um futuro espiritual. Numa época em que o
desenvolvimento do reino de Deus na Terra parecia estar à beira do
colapso como resultado da apostasia e deslocamento, essa revelação
lembrou a Joseph e aos santos sobre seu lugar em uma história
sagrada em andamento. Os líderes da Igreja estavam então não
apenas trabalhando para estabelecer um lugar para os santos de
Kirtland refugiados e outras pessoas que desejavam se reunir, mas
estavam engajados na coligação dos justos até o local onde Adão
voltaria para oferecer sua mordomia ao Senhor antes da Segunda
Vinda.

Journal, March–September 1838 on josephsmithpapers.org


Após o retorno de Joseph a Far West em 21 de maio de 1838, ele
imediatamente realizou um conselho “para consultar as autoridades
sobre o assunto da nossa jornada para saber se seria sábio ir
imediatamente para o norte do país (…) para proteger a terra no
Grand River”. Depois que as autoridades gerais expressaram seus
sentimentos sobre o assunto, “a pergunta foi feita pelo Presidente
Smith e aprovada por unanimidade a favor em ter a terra protegida às
margens do rio e entre esse lugar e Far West”.11 Cinco semanas
mais tarde, em 28 de junho de 1838, com Joseph Smith como
encarregado na presidência, a estaca Adão-ondi-Amã de Sião foi
organizada com John Smith chamado como presidente.12 O segundo
conselheiro de John Smith e um dos primeiros colonos SUD no
Condado de Daviess, Lyman Wight, escreveu: “Este belo país com
suas perspectivas lisonjeiras atraiu muitos emigrantes. Não havia
menos de trinta pessoas indo e vindo ao longo do dia, durante os três
meses do verão”. Em outubro, Wight registrou que “mais de duas
centenas de casas” tinham sido construídas em Adão-ondi-Amã com
“quarenta famílias morando em seus carroções”.13

‘Os Assuntos de Maior Importância’


Apesar do estabelecimento desta nova estaca de Sião e o chamado
para se estabelecer ao norte do estado de Missouri, alguns acharam
difícil abandonar suas casas em Kirtland. Por fim, durante o verão de
1838, a maioria dos santos fiéis que permaneceram em Kirtland
começou a trilhar seu caminho para o Missouri. Notavelmente
estavam ausentes entre os santos, William Marks e o bispo e bem-
sucedido empresário de Kirtland, Newel K. Whitney. A dupla
inicialmente negligenciou sua reunião com os membros da Igreja no
Missouri, a fim de resolver seus assuntos comerciais em Kirtland. Os
dois tiveram dificuldade para abandonar a segurança temporal que
seus negócios e propriedades forneciam.
Newel K. Whitney
Em 8 de julho de 1838, Joseph Smith recebeu uma revelação (agora
Doutrina e Convênios 117) direcionada a Marks e Whitney
ordenando-lhes: “[Ergam-se] e prossigam e não se demorem”. A
revelação chamou Marks para presidir no meio do povo na cidade de
Far West, presumivelmente como o novo presidente da presidência
do Missouri. Quanto a Whitney, a revelação lhe ordenou que
“[subisse] à terra de Adão-ondi-Amã e [fosse] um bispo para [o] povo”
(D&C 117: 10-11). Usando a imagem da antiga terra natal de Adão e
as bênçãos infinitas prometidas à posteridade de Adão, a revelação
questionou: “Não há lugar suficiente nas montanhas de Adão-ondi-
Amã e nas planícies de Olaha Sineá, ou seja, a terra onde Adão
habitou, de modo que cobiçais aquilo que é apenas uma gota e
negligenciais assuntos de maior importância?” (D&C 117:3, 8) Oliver
Granger, designado para acertar as contas de todos da Igreja em
Kirtland, entregou uma carta para Marks e Whitney, contendo a
revelação. Na carta, a Primeira Presidência expressou confiança na
vontade de ambos em obedecer a revelação e a “agir de acordo” com
ela.14 Obedientes à instrução, tanto Marks quanto Whitney
abandonaram suas terras em Kirtland. Por fim, eles se juntaram ao
corpo principal dos santos para participar dos “assuntos de maior
importância”, relativos a de cuidar das necessidades dos santos.

Epílogo

Durante todo o verão de 1838, os santos continuaram a reunir-se em


Far West, Adão-ondi-Amã e outras colônias mórmons no norte do
Missouri. Em conformidade com o mandamento de construir Far
West, em 4 de julho de 1838, pedras de esquina foram colocadas
para a construção de um templo daquela comunidade. Logo um local
também fora selecionado para um templo em Adão-ondi-Amã. A paz
e a abundância que os santos desfrutaram no norte do estado do
Missouri, no entanto, durou pouco. A desconfiança e a suspeita entre
os cidadãos de Missouri e os santos dos últimos dias irrompeu
violentamente em agosto de 1838. Uma série de conflitos armados,
conhecidos como a Guerra Mórmon do Missouri culminou com a
prisão de Joseph Smith e a expulsão dos santos dos últimos dias do
estado do Missouri. Após a expulsão dos santos de seu estado, os
cidadãos do Missouri imediatamente apareceram para reivindicar as
terras e melhorias mórmons. Embora eles fossem estabelecer outra
comunidade do convênio e construir um belo templo em Nauvoo, os
santos tinham esperança de que um dia voltariam a ocupar essas
terras sagradas no Missouri antes da Segunda Vinda.

Notas de rodapé
[1] The Papers of Joseph Smith, vol. II, Journal, 1832-1842, ed. por Dean C.
Jessee (Salt Lake City: Deseret Book, 1992), p. 255.
[2] The Joseph Smith Papers, Journals, vol. I, 1832-1839, eds. Dean C.
Jessee, Mark Ashurst-McGee, Richard L. Jensen (Salt Lake City: The Church
Historian’s Press, 2008), p. 237.
[3] James B. Allen e Glen M. Leonard, The Story of the Latter-day Saints (Salt
Lake City: Deseret Book, 1976, reimpressão 1992), p. 116.
[4] Para um debate profundo a respeito das leis de prevenção e seu impacto
sobre o assentamento mórmon ver Jeffrey N. Walker, “Mormon Land Rights in
Caldwell and Daviess Counties and the Mormon Conflict of 1838”, BYU
Studies 47, nº 1, 2008, p. 5.
[5] The Joseph Smith Papers, Journals vol. I, p. 270.
[6] The Joseph Smith Papers, Journals, vol. I, p. 271.
[7] Para a publicação original ver The Joseph Smith Papers, Revelations and
Translations, vol. II: Published Revelations, eds. por Robin Jenson, Richard.
E. Turley Jr. e Riley M. Lorimer (Salt Lake City: The Church Historian’s Press,
2011), p. 392, ver versos 28–29.
[8] Nas atas da reunião de 28 de junho de 1838 a organização da Estaca de
Adão-ondi-Amã, “Adam-ondi-Ahman” é chamado de “o hino bem conhecido”.
“Conference Minutes”, Elders’ Journal 1 n º 4 (agosto de 1838), p. 61.
[9] The Latter-day saints’ Messenger and Advocate 2, n º 6 (março de 1936):
[PG]; Emma Smith incluiu esse hino no primeiro hinário. Ver Uma coleção de
hinos sacros para a Igreja dos Santos dos Últimos Dias. Selecionados por
Emma Smith. (Kirtland, Ohio: impresso por F. G. Williams & Co., 1835), p. 29.
Embora a data da publicação seja 1835, provavelmente não se tornou
disponível até fevereiro ou março de 1836. Ver Peter Crawley, A Descriptive
Bibliography of the Mormon Church, vol. I, 1830–1847 (Provo, Utah: Religious
Studies Center, 1997), p. 59.
[10] Joseph Smith, 8 de agosto de 1839, conforme relatado por Willard
Richards em Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook, eds. The Words of Joseph
Smith: The Contemporary Accounts of the Nauvoo Discourses of Joseph
Smith (Orem, Utah: Grandin Book Company, 1991), p. 10.
[11] The Joseph Smith Papers, Journals, vol. I, p. 273.
[12] “Conference Minutes” , Elders’ Journal 1, nº 4 (agosto de 1838): p. 60.
[13] Lyman Wight citado em Rollin J. Britton, “Early Days on Grand River and
the Mormon War”, Missouri Historical Review 13, nº 2 (janeiro de 1919): p.
118.
[14] Joseph Smith, Sidney Rigdon e Hyrum Smith para William Marks e Newel
K. Whitney, 8 de julho de 1838, josephsmithpapers.org (acessado em 19 de
agosto de 2013).
“Zeles Especialmente por Tua Família”
D&C 118, 126
Lisa Olsen Tait and Chad M. Orton23 Novembro 2015

Mary Ann Angell conheceu Brigham Young em Kirtland, em 1833. Foi


batizada em 1832 e estava entre os primeiros conversos ao Livro de
Mórmon. Ela disse que “o Espírito testificou a ela (…) sobre a
veracidade de sua origem de maneira tão forte que ela nunca mais
teve dúvidas a respeito”.

Mary Ann Angell conheceu Brigham Young em Kirtland, em 1833. Foi


batizada em 1832 e estava entre os primeiros conversos ao Livro de
Mórmon. Ela disse que “o Espírito testificou a ela (…) sobre a
veracidade de sua origem de maneira tão forte que ela nunca mais
teve dúvidas a respeito”.1 Ela logo partiu para Kirtland, chegando lá
na primavera de 1833.2

No ano anterior, Brigham Young havia perdido a primeira esposa,


Miriam Works, que teve tuberculose, então Vilate Kimball, esposa de
seu amigo Heber C. Kimball, tomou conta de suas filhas pequenas,
órfãs de mãe, enquanto Brigham Young e Heber proclamavam sua
nova fé. Em 1833, Brigham chegou em Kirtland para ficar.
Em poucos meses, Brigham e Mary Ann se conheceram melhor. Ela
“ficou atraída por ele” quando o ouviu pregar; ele ficou impressionado
quando a ouviu prestar seu testemunho.3 Eles se casaram em 1834.
Mais tarde, Brigham escreveu que Mary Ann “assumiu o cuidado com
meus filhos, cuidou de minha casa e trabalhava fielmente pelo bem-
estar da minha família e pelo reino”.4

“Vá e Deixe Sua Família”


Brigham foi transformado pelo evangelho restaurado e seu desejo de
proclamá-lo não pôde ser contido. “Eu queria poder falar do
evangelho, com voz de trovão, a todas as nações”, relatou mais tarde.
“O evangelho queimava em meus ossos como um desejo
incontido”.5 Embora fossem necessárias viagens difíceis, muitas
vezes enfrentando a pobreza, doença e duras condições
meteorológicas, Brigham partia de bom grado. “Jamais me ocorreu”,
ele declarou mais tarde, “desde o primeiro dia em que fui chamado
para pregar o evangelho até quando o Senhor disse: ‘Vá e deixes sua
família’, de expressar a mínima objeção”.6

Mary Ann não apresentou nenhuma objeção também, mesmo quando


as missões e o serviço na Igreja fizeram com que Brigham ficasse
longe de casa a metade do tempo durante seus primeiros cinco anos
juntos. Pouco depois de seu casamento, ele ficou fora por quatro
meses com o Acampamento de Sião, retornando a tempo para o
nascimento de seu primeiro filho em outubro. No início de 1835,
passou cinco meses em uma missão como apóstolo recém-chamado.
Em 1836, Brigham Young ficou em casa durante os primeiros meses
do ano, mas seu tempo foi consumido com a supervisão da pintura e
a instalação de janelas de vidro na casa do Senhor em Kirtland. Logo
após a dedicação do templo, ele partiu para outra missão que se
estendeu de abril a setembro. Em 1837, serviu duas missões, uma na
primavera e outra no verão. Estas separações significavam trabalho
pesado para Mary Ann, provavelmente nos campos, bem como em
casa, além de cuidar de sua família que crescia: as filhas de Brigham:
Elizabeth e Vilate de seu primeiro casamento; um filho, Joseph,
nascido em 1834; e os gêmeos, Mary Ann e Brigham Jr., nascidos em
1836.

As cartas de Brigham para sua família expressavam seu amor e sua


consciência sobre suas lutas. “Mary, sempre me lembro de você em
minhas orações”, ele escreveu de Massachusetts em março de 1837.
“Posso ver minha família em pensamentos e desejo estar com vocês
assim que o dever permitir”.7 Em julho, ele expressou sua esperança
de que, quando voltasse no outono, finalmente seria capaz de “pagar
[sua] casa” e fazer algumas melhorias nela para que ele pudesse se
sentir tranquilo com relação à família quando tivesse de deixá-los. Ele
pediu a Mary Ann que “comprasse madeira serrada, vigas, pedra ou
qualquer outra coisa para construção, quando ela pudesse”.8

Quando Brigham retornou naquele outono, no entanto, encontrou


Kirtland em crise, dividida pela discórdia e pelo conflito. Sua lealdade
a Joseph Smith fez dele um alvo para os adversários da Igreja e em
dezembro ele fugiu para salvar sua vida, forçado a deixar sua família
para trás. Mary Ann e os filhos foram aterrorizados por turbas
apóstatas, que frequentemente vinham até sua propriedade e a
bombardeavam com “ameaças e linguagem vis”, assustando-a ao
ponto de prejudicar sua saúde. Quando Mary Ann finalmente se
juntou a Brigham, em Far West, Missouri, na primavera de 1838, ele
ficou chocado com seu estado. “Você parece que está prestes a
morrer”, ele falou.9

Duas Revelações
D&C 118 em JosephSmithPapers.org
Logo após a chegada da família Young, Joseph Smith recebeu uma
revelação inédita instruindo Brigham a não deixar sua família de novo
“até que fossem suficientemente providos”.10 Mas uma revelação
para o Quórum dos Doze em julho de 1838, agora em Doutrina e
Convênios 118, indicou como aquele descanso seria curto. Em nove
meses, os Doze deveriam partir para uma missão na Grã-Bretanha,
saindo de Far West em 26 de abril de 1839.11

Aqueles nove meses não foram nada tranquilos. Os santos no


Missouri foram expulsos de suas casas e, mais uma vez, Brigham
Young estava em perigo por ser um dos líderes mais procurados da
Igreja. Os membros da família Young fugiram juntos, mas viajaram
distâncias curtas e esperaram enquanto Brigham voltava para auxiliar
outros santos desamparados. Mary Ann recordou que até o momento
em que chegaram em segurança do outro lado do Rio Mississippi, em
Illinois, ela havia estabelecido sua casa em 11 lugares diferentes no
período de três meses.12 Ela também estava grávida.

Uma Missão além das Águas


À medida que os santos começaram a se reunir novamente na área
de Commerce, que em breve receberia o nome de Nauvoo, em
Illinois, a família Young encontrou abrigo do outro lado do Rio
Mississippi, em Montrose, Iowa, onde muitos santos haviam se
abrigado em barracas militares abandonadas. Apesar de seu
deslocamento forçado e da pressão para a construção de uma nova
comunidade, os Doze ainda estavam determinados a ir para a Grã-
Bretanha cumprir a missão ordenada.

Em 2 de julho de 1839, os Doze se reuniram com a Primeira


Presidência na casa de Brigham Young. A Presidência “impôs as
mãos” sobre a cabeça de vários presentes, incluindo Mary Ann
Young, “para abençoá-los e também abençoar suas famílias antes de
partirem para outras nações”. Foi prometido aos Doze que eles
retornariam “ao seio de [sua] família” e que iriam converter “muitas
almas como testemunho de [seu] ministério”.13

Dois meses depois, em 14 de setembro de 1839, Brigham Young se


despediu de Mary Ann novamente e partiu para a missão na
Inglaterra. Seria difícil imaginar circunstâncias menos favoráveis para
sua partida. “Estávamos na mais profunda pobreza, causada por
termos sido expulsos do Missouri, onde deixamos tudo”, ele
relembrou.14 As roupas que possuía “não pareciam as de um ministro
religioso”, porque sua capa era feita de “um par de calças velhas” e
um pequeno “acolchoado de retalhos” era usado como sobretudo.15

Como muitos dos santos da época, ele contraíra malária e tremia de


febre. Sua saúde estava tão ruim que, como ele recordou: “eu não
conseguia andar 100 metros sem auxílio. Ajudaram-me a chegar à
beira do Rio Mississippi e depois a atravessá-lo”. No entanto, ele
“estava determinado a ir à Inglaterra ou morrer tentando”.16

Brigham não era o único que estava sofrendo. Mary Ann tinha dado à
luz apenas 10 dias antes. A família agora consistia de sete filhos e
todos eles estavam “doentes e incapazes de ajudar uns aos outros”.
No entanto, Mary Ann atravessou o rio de Iowa até Illinois para que
pudesse se despedir do marido.17Quando Brigham e Heber C.
Kimball, também doente, partiram da casa de Heber, em Nauvoo,
Brigham se juntou a seu amigo ficando em pé na carroça que usavam
e, mesmo estando fracos, gritaram: “Salve, Israel”, em uma tentativa
de animar aqueles que estavam deixando para trás.18

Cuidando das Necessidades Financeiras da Família


Dois meses depois da partida de Brigham, a família ficou sem
alimentos. Ainda sofrendo os efeitos da malária, Mary Ann teve que
tomar medidas para diminuir a fome de sua família. Em um “dia frio e
tempestuoso de novembro”, ela se enrolou a si mesma e a sua bebê
Alice em cobertores esfarrapados e partiu em um pequeno barco a
remo para o outro lado do Rio Mississippi. Durante a viagem, as
ondas causadas por ventos fortes encharcaram tanto ela como a
bebê. Ao chegar a Nauvoo, foi para a casa de uma amiga, que relatou
mais tarde: “A irmã Young entrou em minha casa (…) com a bebê
Alice nos braços, quase desmaiando de fome e frio, e toda molhada”.
Mary Ann recusou a oferta da amiga para que ficasse mais tempo.
“As crianças em casa estão com fome também”, ela insistiu. Depois
de conseguir “algumas batatas e um pouco de farinha”, Mary Ann
“percorreu o caminho até a margem do rio” para remar para casa. Ela
atravessou o rio muitas vezes “para conseguir as necessidades vitais
mais básicas”, às vezes “em tempestades que assustariam muitas
mulheres de coragem”.19

Nessa época, Mary Ann foi forçada a sair de seu quarto nas velhas
barracas militares. Ela foi morar em um estábulo de cavalos em
Montrose20 e passou o inverno lutando para prover as necessidades
básicas da família “costurando e lavando” para outras pessoas.21 Na
primavera ela conseguiu um terreno em Nauvoo, onde plantou uma
horta. Durante aquele verão, Mary Ann remava atravessando o Rio
Mississippi para cuidar de sua horta e depois “remava de volta depois
que o dia de trabalho estava concluído”.22

Além de trabalhar na horta, Mary Ann comprometeu-se a construir


uma cabana no terreno. Em setembro de 1840, um ano depois que
Brigham partiu em missão, ela mudou-se com a família para seu novo
lar em Nauvoo. Vilate Kimball observou que a casa “mal podia ser
chamada de abrigo”, mas pelo menos poupou-a das viagens
constantes atravessando o rio.23 Seu sobrinho mais tarde relembrou
que era simplesmente o “esqueleto de uma casa” com cobertores
pendurados nas portas e janelas para se protegerem das
intempéries.24

Embora Mary Ann tivesse razão para reclamar, ela não contou a
Brigham sobre seus desafios. Depois de saber por outras pessoas
sobre algumas de suas provações, ele escreveu a ela em novembro
de 1840: “Você pode ter certeza de que tenho os sentimentos mais
ternos por você, ao notar sua paciência e disposição de sofrer na
pobreza e fazer tudo o que pode para os meus filhos, para que eu
possa fazer tudo o que o Senhor exigir de mim”.25

Em abril de 1841, em preparação para o retorno de Brigham da


Inglaterra, Mary Ann o informou que mesmo tendo o desejo de ter
“uma casa melhor para recebê-[lo]”, ela era “grata por ter um abrigo
confortável para se proteger da tempestade”. Ela explicou que tinha
sido muito difícil conseguir trabalho e o que fez, não tinha sido da
maneira que ela queria que fosse. Tendo “feito o melhor que [ela]
podia”, agradeceu a Seu “Pai Celestial por todas as bênçãos que
recebeu e orou ao Senhor para continuar sendo misericordioso com
eles”.26

Ao voltar para Nauvoo em 1º de julho de 1841, após uma ausência de


22 meses, Brigham tomou conhecimento das privações que Mary Ann
e os filhos tinham passado. Ele começou a trabalhar imediatamente
para melhorar a situação deles. Quando não estava “a serviço da
Igreja, chamado pelo irmão Joseph”, Brigham disse: “passei [meu
tempo] drenando, colocando cercas e cultivando meu terreno,
construindo um abrigo temporário para minha vaca, tapando buracos
ou terminando minha casa”.27 Ao mesmo tempo, ele começou a
trabalhar na casa de tijolos vermelhos que existe até hoje em Nauvoo,
embora ele não tenha conseguido mudar com sua família para lá até
maio de 1843.28

“Tua Oferta É Aceitável”

D&C 126 em JosephSmithPapers.org


Uma semana após o retorno de Brigham, em 9 de julho de 1841,
Joseph Smith o visitou em sua casa. Mary Ann provavelmente estava
lá. Não há relatos da conversa ou das circunstâncias do dia, mas não
há dúvidas de que Joseph viu em primeira mão a evidência do
sacrifício e da necessidade constante da família Young. Ele ditou uma
revelação naquele local, que agora se encontra em Doutrina e
Convênios 126.29 “Querido e bem-amado irmão Brigham Young” (…)
“não mais se requer de ti que deixes tua família como em tempos
passados, porque tua oferta me é aceitável”. Ele foi instruído a “[zelar]
especialmente por tua família, de agora em diante e para
sempre”.30 Embora a revelação fosse dirigida a Brigham, era o
reconhecimento evidente do sacrifício e apoio fiel de Mary Ann. “Esta
noite estou sozinho com minha esposa ao lado da lareira pela
primeira vez em anos”, Brigham registrou em seu diário seis meses
depois de voltar da Inglaterra, refletindo sobre o alívio que sua
presença em casa trouxe para ambos. “Nós apreciamos isso e
louvamos ao Senhor”.31

A revelação mudou onde Brigham iria servir, mas não o quanto. Ele
ficou longe de casa por apenas três missões curtas nos anos
seguintes, mas seu tempo ainda era dedicado a servir ao Senhor.
Mary Ann continuou a apoiá-lo e a fazer sacrifícios por sua fé,
inclusive a aceitar o princípio do casamento plural e acolher novas
esposas à família. E mais provações viriam no futuro. No meio do
êxodo forçado dos santos de Nauvoo, Mary Ann foi descrita como
“benevolente e hospitaleira ao extremo”, oferecendo “conselho e
auxílio” generosos àqueles que precisavam.32 Ao longo de sua vida,
ela serviu a família, os amigos e os santos que conhecia e ajudou a
edificar o reino de Deus.

Notas de rodapé
[1] E. B. Wells, “Heroines of the Church: Biography of Mary Ann Angell
Young”, Juvenile Instructor, vol. 26, nº 1 (1º de janeiro de 1891), p. 17.
[2] Leonard J. Arrington, Brigham Young: American Moses (New York: Alfred
A. Knopf, 1985), p. 37.
[3] Wells, “Heroines of the Church,” p. 17; Arrington, Brigham Young, p. 37.
[4] “History of Brigham Young”, The Latter-day Saints’ Millennial Star, vol. 25,
nº 29 (18 de julho de 1863), p. 454.
[5] Brigham Young, “Discourse”, Deseret News, 24 de agosto de 1854, p. 1.
[6] Arrington, Brigham Young, p. 54.
[7] Carta de Brigham Young a Mary Ann Angell Young, 24 de março de 1837,
citado em Dean C. Jessee, “Brigham Young’s Family: Part I 1824–1845”, BYU
Studies, vol. 18, nº 3 (1978), p. 316.
[8] Carta de Brigham Young a Mary Ann Angell Young, 21 de julho de 1836,
citado em Jessee, “Brigham Young’s Family”, p. 315.
[9] Wells, “Heroines of the Church”, p. 19. Wells erroneamente data esses
acontecimentos de 1836 a 1837, um ano antes de quando eles realmente
ocorreram.
[10] Revelação a Brigham Young, 17 de abril de 1838, em Joseph Smith,
“History, 1838–1856, vol. B-1 (1º de setembro de 1834 a 2 de novembro de
1838), p. 790, josephsmithpapers.org.
[11] “Revelation, 8 de julho de 1838–A [D&C 118]”, em Joseph Smith, Diário,
de março a setembro de 1838, pp. 54–55, josephsmithpapers.org; ver
também Doutrina e Convênios 118:4–5. A revelação que afirma que os Doze
deveriam começar a missão para a Inglaterra no terreno do templo de Far
West em 26 de abril de 1839 (ver D&C 118), foi dada durante um período de
paz. Quando a data chegou, os santos tinham sido expulsos do Missouri por
turbas armadas. No entanto, Brigham e outros membros dos Doze sentiram
que precisavam retornar ao estado para cumprir a revelação. Os inimigos da
Igreja, sabendo que a revelação mencionara a data específica, prometeram
que não iriam permitir que a revelação fosse cumprida, na esperança de
provar, dessa maneira, que Joseph Smith não era um profeta. Enquanto
alguns argumentaram que, dadas às circunstâncias o Senhor iria tomar a
“vontade pela ação”, Brigham e outros sentiram que precisavam ter “fé para ir
adiante e cumpri-la” (Wilford Woodruff, “Discourse”, Deseret News, 22 de
dezembro de 1869, p. 543). Apesar de enfrentarem a ameaça de morte ou
prisão, os líderes da Igreja reuniram-se no local do templo durante a
madrugada e cumpriram a revelação. Por causa de suas ameaças, os líderes
da turba tinham se convencido de que nenhum esforço seria feito para
realizar a reunião estipulada e não deixaram nenhum guarda no local.
[12] Wells, “Heroines of the Church”, p. 19.
[13] Diário de Wilford Woodruff, 2 de julho de 1839, Wilford Woodruff’s
Journal: 1833–1898, texto datilografado, 9 vols., comp. Scott G. Kenney
(Midvale, Utah: Signature Books, 1983–1985), vol. 1, p. 342.
[14] Brigham Young, “Discourse”, Deseret News, 3 de agosto de 1870, p. 307.
[15] “History of Brigham Young”, The Latter-day Saints’ Millennial Star, vol. 25,
nº 43 (24 de outubro de 1863), p. 679; Brigham Young, “Sermon”, Deseret
News, 17 de setembro de 1856, p. 219.
[16] Brigham Young, “Discourse”, Deseret News, 3 de agosto de 1870, p. 307.
[17] “History of Brigham Young”, The Latter-day Saints’ Millennial Star, vol. 25,
nº 41 (10 de outubro de 1863), p. 646.
[18] President Heber C. Kimball’s Journal: The Faith-Promoting Series, nº
7 (Salt Lake City: Juvenile Instructor Office, 1882), p. 100.
[19] E. B. Wells, “Heroines of the Church: Biography of Mary Ann Angell
Young”, Juvenile Instructor, vol. 26, nº 2 (15 de janeiro de 1891), pp. 56–57.
Wells identifica a amiga de Mary Ann na história como apenas “uma amiga
íntima da irmã Young desde os tempos de Kirtland”.
[20] Diário do Escritório do Historiador, 4 de setembro de 1859, imagem 211,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[21] Autobiografia de Joseph Watson Young, sem data, p. 23, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City.
[22] Autobiografia de Joseph Watson Young, p. 23.
[23] Carta de Vilate Kimball para Heber C. Kimball, 6 de setembro de 1840,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[24] Autobiografia de Joseph Watson Young, p. 23.
[25] Carta de Brigham Young a Mary Ann Angell Young, 12 de novembro de
1840, citada em Jessee, “Brigham Young’s Family”, p. 319.
[26] Carta de Mary Ann Angell Young a Brigham Young, 15, 17 e 30 de abril
de 1840, citada em Jessee, “Brigham Young’s Family”, p. 322.
[27] “History of Brigham Young”, Deseret News, 10 de março de 1858, p. 3.
[28] Ver “History of Brigham Young”, Deseret News, 17 de março de 1858, em
Jessee, “Brigham Young’s Family”, p. 324.
[29] “History of Brigham Young”, The Latter-day Saints’ Millennial Star, vol. 26,
nº 5 (30 de janeiro de 1864), p. 71.
[30] “Revelation, 9 de julho de 1841 [D&C 126]”, em Book of the Law of the
Lord, p. 26, josephsmithpapers.org; pontuação atualizada; ver também
Doutrina e Convênios 126:1–3.
[31] Diário de Brigham Young, 18 de janeiro de 1842, imagem 37, Brigham
Young Collection, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[32] Wells, “Heroines”, p. 58.
“O Dízimo de Meu Povo”
D&C 119–120
Steven C. Harper13 Janeiro 2016

Como os santos conseguiriam juntar os meios necessários para


construir outra cidade com um templo?

Depois de um ano difícil em Kirtland, Ohio, Joseph Smith chegou em


Far West, Missouri, no início de 1838, pronto para começar de novo.
Logo após sua chegada, ele recebeu uma revelação instruindo que
Far West fosse construída como uma cidade santa com um templo no
centro.1 Na mesma revelação, o Senhor proibiu a Primeira
Presidência de pedir dinheiro emprestado para realizar tais objetivos.
Eles haviam feito empréstimos para financiar a casa do Senhor em
Kirtland, Ohio, e embora as bênçãos valessem cada centavo, ainda
enfrentavam dificuldades para pagar as dívidas.2 Como os santos
conseguiriam juntar os meios necessários para a construção de outra
cidade com um templo?

Essa pergunta não era nova para a jovem Igreja. O Senhor dera a lei
da consagração em 1831, em Kirtland, devido a algumas das
mesmas preocupações.3 Nela o Senhor ordenou aos santos que
oferecessem livremente ao bispo o que Ele lhes tinha abençoado,
que, então, consagraria uma mordomia a eles em nome do Senhor.
Como mordomos, os santos seriam “amplamente supridos” com o
que precisassem e esperava-se que retornassem qualquer excedente
ao bispo da Igreja para “dar aos pobres e necessitados”, comprar
terras para os santos e edificar Sião.4

As revelações do Senhor sobre a consagração enfatizaram as


doutrinas do arbítrio, da mordomia e da responsabilidade individual.
Joseph ensinou esses princípios aos bispos e eles, por sua vez,
enfatizaram a natureza voluntária das ofertas e as bênçãos
condicionais associadas a elas.5

Durante a maior parte da década de 1830, havia dois bispos: Edward


Partridge serviu aos santos no Missouri — ou Sião, a sede da Igreja
— enquanto Newel K. Whitney serviu aos santos na única estaca da
Igreja na época, em Kirtland, Ohio. Joseph e os bispos tentaram
ajudar os santos a obedecerem à lei, mas santos rebeldes e vizinhos
hostis prejudicaram esses esforços. Seu ministério foi duplamente
desafiador em 1837, porque a Igreja tinha grandes dívidas e os
Estados Unidos passaram por uma longa depressão econômica.

Os santos na época compreendiam que o dízimo era qualquer


quantidade de bens ou dinheiro consagrados livremente. Em
setembro de 1837, o Bispo Whitney e seus conselheiros no bispado
de Kirtland declararam que “é o propósito fixo do nosso Deus (…) que
a grande obra dos últimos dias deveria ser realizada com o dízimo de
seus santos”. Referindo-se à promessa em Malaquias 3:10,
exortaram os santos a “trazer todos os dízimos à casa do tesouro
para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o
Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não
derramar sobre vós uma bênção tal, até que não haja mais lugar para
a recolherdes”.6

Alguns meses mais tarde, o bispado do Missouri propôs uma política


semelhante, porém, mais específica: cada família deveria oferecer o
dízimo de 2 por cento de seu recebimento anual depois de pagar as
dívidas domésticas. Dessa maneira, o bispado em Sião escreveu:
“estarão em algum grau cumprindo a lei da consagração”.7

No início de 1838, enquanto Joseph Smith se preparava para mudar-


se com sua família de Kirtland para Far West, Thomas Marsh
escreveu-lhe uma carta do Missouri, transmitindo a sensação de que
“A Igreja se alegrará para com a lei da consagração, assim que seus
líderes pedirem ou mostrar-lhes como cumpri-la”.8

Quando Joseph Smith chegou a Far West, os santos estavam se


reunindo nesta nova sede vindos de ramos da Igreja nos Estados
Unidos e no Canadá. Eles se estabeleceram em toda a região,
tornando necessária a formação de uma nova estaca. Em julho de
1838, as perspectivas de estabelecer uma fortaleza duradoura no
norte do Missouri pareciam promissoras. Mas ainda tinham a difícil
tarefa de construir um templo. A Igreja precisava levantar os meios
para construir a casa do Senhor, apesar de outras necessidades
urgentes.
D&C 119 em JosephSmithPapers.org
Com esse desafio em mente, Joseph reuniu vários líderes na manhã
de domingo, 8 de julho de 1838. Aparentemente foi nessa reunião
que ele recebeu ambas as revelações sobre o dízimo (agora
registradas em Doutrina e Convênios 119) e a revelação sobre a
disposição dos dízimos (agora Doutrina e Convênios 120).9

Joseph orou: “Ó Senhor! Mostra aos teus servos quanto requeres dos
bens de teu povo como dízimo?”.10 A oração está anotada no diário
do Profeta, seguida da palavra “Resposta” e então a revelação que
agora está em Doutrina e Convênios 119. “Exijo que todos os seus
bens excedentes sejam entregues nas mãos do bispo da minha igreja
em Sião”, o Senhor disse.11 Depois, no que é agora Doutrina e
Convênios 119:2, o Senhor declarou os motivos pelos quais os santos
deveriam pagar o dízimo.12 São os mesmos motivos observados
anteriormente sobre a lei da consagração registrada no que é agora
Doutrina e Convênios 42: diminuir a pobreza, comprar terras para os
santos, construir um templo e edificar Sião, para que aqueles que
fazem e cumprem convênios possam reunir-se em um templo e
serem salvos.13

“Este”, diz a revelação, “será o início do dízimo de meu povo”. Essa


ocorrência da palavra dízimo é a primeira de três (dízimo ou pagado o
dízimo) na seção 119. Todas elas se referem à oferta voluntária dos
santos de oferecer o excedente de seus bens. “E depois disso”, diz a
revelação, “os que assim tiverem pagado o dízimo pagarão a décima
parte de toda a sua renda anual”. A revelação não a chama de uma
lei menor que será substituída algum dia, mas “uma lei permanente
para eles” e aplicável a todos os santos em todos os lugares.14

A revelação termina com esta grave advertência: “Se meu povo não
observar esta lei para santificá-la e, por esta lei, não santificar a terra
de Sião para mim, a fim de que nela sejam guardados os meus
estatutos e os meus juízos, para que seja santíssima, eis que em
verdade vos digo: Ela não será para vós uma terra de Sião”.15

Os santos em Far West ouviram a leitura da revelação na reunião


dominical realizada naquele dia. Aqueles em áreas distantes ouviram-
na nas semanas seguintes.16 O Bispo Partridge, que estava presente
na reunião na qual a revelação foi recebida, escreveu do Missouri
para o Bispo Whitney, em Ohio, e explicou-lhe como a revelação
deveria ser seguida: “Os santos devem dar o excedente de seus bens
nas mãos do bispo de Sião e depois desse primeiro dízimo devem
pagar a décima parte de toda a sua renda anual”. O Bispo Partridge
entendeu que “a décima parte de todos os seus juros” anuais,
significava dez por cento do que os santos ganhariam de juros se
investissem seu valor líquido por um ano.17
Logo depois que Joseph recebeu a revelação na seção 119, ele
designou Brigham Young para ir entre os santos “e descobrir quais
bens excedentes as pessoas tinham, os quais deveriam ser
encaminhados para a construção do Templo que estávamos
começando em Far West”. Antes de sair, Brigham perguntou a
Joseph: “‘Quem será o juiz do que é propriedade excedente?’ Ele
disse: ‘Deixe-os ser seus próprios juízes’”.18

Como foram ensinados sobre a vontade do Senhor, os santos


tornaram-se mordomos responsáveis que poderiam escolher se
pagariam ou não o dízimo por sua própria vontade. “Os santos vieram
dia após dia para consagrar”, como escrito no diário do Profeta, “e
trazer suas ofertas ao armazém do Senhor”.19 Mas nem todos os
santos exerceram o arbítrio de ser mordomos sábios. Mais tarde
Brigham Young lamentou que alguns santos foram mesquinhos com
suas ofertas.20
D&C 120 em JosephSmithPapers.org
Nessa época, o Senhor também deu a Joseph a revelação que agora
se encontra em Doutrina e Convênios 120: “tornando conhecida a
disposição dos bens dados como dízimo, conforme indicado na
revelação anterior”.21 Chamou a Primeira Presidência, o bispado em
Sião e o sumo conselho em Sião para deliberar sobre como usar os
dízimos e tomar suas decisões, o Senhor disse: “por minha própria
voz a eles”.22

As anotações no diário de Joseph Smith mostram que o conselho


recém-revelado logo se reuniu em Far West para “levar em
consideração, a utilização das propriedades públicas nas mãos do
bispo, pois o povo de Sião tinha começado a consagrar
generosamente conforme as revelações e mandamentos”. O
conselho concordou que os membros da Primeira Presidência
deveriam usar os fundos que precisassem “e o restante deveria ser
entregue nas mãos do bispo ou bispos, de acordo com os
mandamentos e as revelações”.23

Quando o que é agora Doutrina e Convênios 120 foi revelada em


1838, Far West servia como sede da Igreja e o bispo e o sumo
conselho ali serviram no conselho com a Primeira Presidência. Mais
tarde, o sumo conselho viajante da Igreja, o Quórum dos Doze
Apóstolos, tornou-se o sumo conselho geral da Igreja e um Bispado
Presidente foi nomeado; assim, hoje o conselho é composto da
Primeira Presidência, do Quórum dos Doze Apóstolos e do Bispado
Presidente.24

Infelizmente, durante o outono de 1838, os santos foram expulsos do


Missouri, seu projeto de construção de Sião foi aparentemente
colocado em suspensão temporária e o templo marcado por somente
algumas pedras. Exilados do Missouri, os santos se reagruparam em
Illinois, acompanhados por milhares de conversos das Ilhas
Britânicas, dos estados do Leste e do Canadá. Lá, Joseph liderou-os
como sempre tinha feito, revelando o caminho adiante linha sobre
linha, até que eles entenderam e pagaram, como dízimo, um décimo
de sua renda total, juntamente com outras ofertas voluntárias de
tempo, talento e bens excedentes.25 Quando os apóstolos pediram
aos santos que oferecessem tudo o que pudessem para a construção
de um templo em Nauvoo, muitos responderam, oferecendo
ferramentas, terra, móveis e dinheiro.26 John e Sally Canfield
consagraram tudo o que tinham, incluindo a si mesmos e seus dois
filhos, “ao Deus do Céu e para o Bem de Sua Causa”. Em uma nota a
Brigham Young, o irmão Canfield escreveu: “Tudo o que possuo dou
livremente ao Senhor e nas tuas mãos”.27

Em Nauvoo, depois em Utah, e depois em todo o mundo, os santos


dos últimos dias aprenderam que, se somente obedecessem à
instrução de oferecer um décimo de sua renda anual, a Igreja poderia
pagar suas dívidas e começar a realizar as instruções do Senhor para
construir templos, diminuir a pobreza e edificar Sião. O dinheiro
oferecido pode ser calculado. As bênçãos não.

Notas de rodapé
[1] Ver “Revelation, 26 de julho de 1838 [D&C 115]”, em Joseph Smith, Diário,
de março a setembro de 1838, p. 33, josephsmithpapers.org; ver também
Doutrina e Convênios 115:7–8.
[2] Ver “Revelation, 26 de abril de 1838 [D&C 115]”, em Joseph Smith, Diário,
p. 33; ver também Doutrina e Convênios 115:13; Joseph Smith, “Discourse, 6
de abril de 1837, josephsmithpapers.org.”
[3] Ver Steven C. Harper, “A Lei: D&C 42”, history.LDS.org.
[4] “Revelation, 9 de fevereiro de 1831 [D&C 42:1–72]”,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 42:30–36.
[5] Newel K. Whitney e outros, “To the Saints scattered abroad”, 18 de
setembro de 1837, em Latter-day Saints’ Messenger and Advocate, vol. 3, nº
12, setembro de 1837, pp. 561–564; ver também Carta de Joseph Smith a
Edward Partridge, 2 de maio de 1833, josephsmithpapers.org; Joseph Smith,
“Letter to Church Leaders in Jackson County, Missouri, 25 de junho de 1833”;
Joseph Smith, “Letter to Edward Partridge and Others, 30 de março de 1834”,
josephsmithpapers.org.
[6] Newel K. Whitney e outros, “To the Saints scattered abroad”, p. 562.
[7] Livro de Atas 2, 6 e 7 de dezembro de 1837, pp. 89–90,
josephsmithpapers.org.
[8] “Letter from Thomas B. Marsh, 15 de fevereiro de 1838”, p. 45,
josephsmithpapers.org.
[9] Há cinco revelações datadas de 8 de julho de 1838, no diário de Joseph
Smith. O diário afirma claramente que a primeira revelação, dirigida a Thomas
B. Marsh, foi recebida na reunião de liderança. O diário não é claro sobre se
as outras quatro revelações foram recebidas no mesmo local. A quinta
revelação, dirigida a William Marks, Newel K. Whitney e Oliver Granger, foi
copiada em uma carta escrita da Primeira Presidência para Marks e Whitney,
mais tarde naquele dia. A carta afirma que a revelação tinha sido “recebida
naquela manhã”. Há algumas indicações de que as revelações foram
registradas no diário de Joseph Smith em ordem cronológica, o que implicaria
que todas as cinco revelações foram recebidas na manhã de 8 de julho de
1838, aparentemente na reunião de liderança que foi mencionada na
introdução da primeira revelação.
[10] “Revelation, 8 de julho de 1838–C [D&C 119]”, em Joseph Smith,
“Journal, março–setembro de 1838”, 8 de julho de 1838, p. 56,
josephsmithpapers.org.
[11] “Revelation, 8 de julho de 1838–C [D&C 119]”, p. 56.
[12] “Revelation, 8 de julho de 1838–C [D&C 119]”, p. 56.
[13] Ver “Revelation, 9 de fevereiro de 1831 [D&C 42:1–72]”, p. 3,
josephsmithpapers.org; ver também Doutrina e Convênios 42:30–36.
[14] “Revelation, 8 de julho de 1838–C [D&C 119]”, p. 56; pontuação
atualizada; ver também Doutrina e Convênios 119:4, 7.
[15] “Revelation, 8 de julho de 1838–C [D&C 119]”, p. 56; ver também
Doutrina e Convênios 119:6.
[16] Ver Joseph Smith journal, 8 de julho de 1838, em Dean C. Jessee, Mark
Ashurst-McGee e Richard L. Jensen, eds., Journals, Volume I: 1832–1839,
vol. 1 da série de Diários de The Joseph Smith Papers, comp. Dean C.
Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman (Salt Lake City: Church
Historian’s Press, 2013), pp. 281, 288. Joseph, seus conselheiros da
Presidência e seu escrevente George W. Robinson visitaram Adão-ondi-Amã
cerca de dois dias depois da reunião realizada em Far West no dia 8 de julho
de 1838, (ver Joseph Smith, “History, 1838–1856, volume B-1 [1º de
setembro de 1834–2 de novembro de 1838]”, p. 804, josephsmithpapers.org;
ver também Joseph Smith journal, 26 de julho de 1838, em Jessee, Ashurst-
McGee e Jensen, eds., Journals, volume 1: 1832–1839, p. 291).
[17] O Bispo Partridge explicou: “Se um homem possui 1000 dólares, os juros
desse valor seriam 60 dólares e um décimo dos juros será, é claro, 6 dólares
— assim você pode entender o plano” (carta de Edward Partridge a Newel K.
Whitney, 24 de julho de 1838, em Reynolds Cahoon carta a Newel K.
Whitney, 24 de julho de 1838, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City).
Seis por cento era uma taxa comum de juros na época (ver, por exemplo,
Elijah Hinsdale Burritt, Burritt’s Universal Multipliers for Computing Interest,
Simple and Compound; Adapted to the Various Rates in the United States, on
a New Plan; to Which Are Added, Tables of Annuities and
Exchange [Hartford: D. F. Robinson & Co., 1830], p. 4). As leis de Ohio e as
do Missouri estabeleciam taxas fixas de juros a seis por cento se não
houvesse nenhum acordo sobre outra taxa (ver “An Act Fixing the Rate of
Interest”, 12 de janeiro de 1824, em The Statutes of the State of Ohio, of a
General Nature, in Force at the Present Time; with Notes and References to
the Judicial Decisions Thereon, comp. Maskell E. Curwen [Cincinnati: C. A.
Morgan & Company, 1854], pp. 141–142, sec. 1; ver também “An Act
Regulating Interest of Money”, 11 de dezembro de 1834, em Revised Statutes
of the State of Missouri, 1835, p. 333, sec. 1).
[18] “Discourse”, Deseret News, 20 de junho de 1855, p. 117; pontuação
atualizada.
[19] Diário de Joseph Smith, 27 de julho de 1838, em “Journal, março–
setembro de 1838”, p. 60, josephsmithpapers.org. Alguns membros podem ter
sido pressionados a consagrar. Dissidentes mais tarde afirmaram que os
membros de um grupo paramilitar mórmon no Missouri chamado de Danites,
“estabeleciam os direitos fisicamente” o que não poderia ser “estabeleciam os
direitos por ensinamentos e persuasão” (diário de Joseph Smith, 27 de julho
de 1838, em “Journal, março–setembro de 1838”, p. 61).
[20] “Discourse”, Deseret News, 20 de junho de 1855, p. 117.
[21] “Revelation, 8 de julho de 1838–D [D&C 120]”, em Joseph Smith,
“Journal, março–setembro de 1838”, 8 de julho de 1838, p. 57.
[22] “Revelation, 8 de julho de 1838–D [D&C 120]”, p.57.
[23] Diário de Joseph Smith, 26 de julho de 1838, em “Journal, março–
setembro de 1838”, p. 59, josephsmithpapers.org.
[24] Ver Robert D. Hales, “Dízimo: Uma Prova de Fé com Bênçãos
Eternas”, A Liahona, novembro de 2002, p. 26.
[25] Mitchell K. Schaefer e Sherilyn Farnes, “‘Myself … I Consecrate to the
God of Heaven’: Twenty Affidavits of Consecration in Nauvoo, junho–julho de
1842”, BYU Studies, vol. 50, nº 3, 2011, pp. 101–132.
[26] Brigham Young e outros, “Baptism for the Dead”, Times and Seasons,
vol. 3, nº 4 (15 de dezembro de 1841), pp. 625–627.
[27] Schaefer e Farnes, “‘Myself … I Consecrate’”, pp. 112–113.
Entre as Paredes da Cadeia de Liberty
D&C 121, 122, 123
Justin R. Bray10 Junho 2013

A carta que Joseph Smith enviou aos santos enquanto estava na


Cadeia de Liberty contém três seções atuais de Doutrina e
Convênios.

Em 1º de dezembro de 1838, um santo dos últimos dias pouco


conhecido de Warrensville, Ohio, chamado Caleb Baldwin foi acusado
de “crimes de alta traição” e encarcerado no nível mais baixo da
Cadeia de Liberty, no Condado de Clay, Missouri. Seus companheiros
de prisão incluíam membros da Primeira Presidência de A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias: Joseph Smith, Hyrum
Smith e Sidney Rigdon, bem como Lyman Wight e Alexander McRae.
O confinamento de aproximadamente quatro meses dos seis detentos
se tornou o episódio final de uma história cheia de eventos, muitas
vezes conturbados, dos santos dos últimos dias no Missouri.1
Entre as paredes da Cadeia de Liberty, Baldwin descreveu algumas
das reflexões mais profundas de Joseph Smith em cartas para os
santos dos últimos dias dispersos e desamparados — partes das
quais foram canonizadas posteriormente como Doutrina e Convênios
121, 122 e 123. Algumas dessas passagens tornaram-se joias das
escrituras, citadas com frequência nos discursos santos dos últimos
dias ao longo dos anos.

Embora a história da Cadeia de Liberty tenha sido contada e


recontada da perspectiva de Joseph Smith, a experiência dos outros
homens encarcerados fornece informações adicionais. Baldwin, que
era o mais velho do grupo, sofreu muito tanto física quanto
emocionalmente no calabouço da Cadeia de Liberty. As palavras
inspiradoras de Joseph enquanto ele ditava sua carta deram conforto
e conselhos àquele homem de 47 anos, pai de 10 filhos, que ansiava
estar com sua família durante o seu confinamento de quatro meses.

Primeiros Conflitos no Missouri


A história conturbada dos santos dos últimos dias no Missouri
começou em 1831, quando uma revelação de Joseph Smith
identificou o Condado de Jackson como o lugar para Sião, a Nova
Jerusalém (ver D&C 57:1–3). Em 1833, havia aproximadamente mil
santos dos últimos dias no Condado de Jackson — cerca de um terço
da população do condado — e diferenças religiosas, políticas e
culturais criaram uma tensão inevitável entre os novos e antigos
colonos. Após solicitações pacíficas de que os santos dos últimos
dias retirassem sua religião e famílias para outro lugar não terem sido
atendidas, um grande grupo organizado de habitantes do Missouri
invadiu a casa de William W. Phelps, destruíram a prensa do
jornal Evening and Morning Star e jogaram piche e penas em Edward
Partridge e Charles Allen.2

Embora os santos dos últimos dias tenham buscado reparação por


meio de petições por escrito, eles também se organizaram
militarmente para proteger suas famílias em caso de conflito armado.
Mesmo depois de os santos dos últimos dias terem se mudado para o
Condado de Caldwell, no noroeste do Missouri, criado pela
assembleia legislativa do estado exclusivamente para eles, “batalhas”
foram travadas em Gallatin, DeWitt, Rio Blue, Rio Crooked e Haun’s
Mill, que ficaram conhecidas como a Guerra Mórmon do Missouri.3

Em outubro de 1838, o General Samuel D. Lucas, um líder na milícia


do Missouri, prendeu vários santos dos últimos dias proeminentes,
inclusive Joseph Smith, Hyrum Smith, Sidney Rigdon, Parley P. Pratt,
George W. Robinson e Amasa Lyman. Caleb Baldwin, Lyman Wight e
outros santos dos últimos indiciados uniram-se a Joseph e seus
companheiros em uma audiência preliminar em Richmond, Missouri,
elevando para sessenta o número total de réus santos dos últimos
dias. Durante a audiência, o juiz Austin A. King apontou para Baldwin
e ofereceu-lhe a liberdade se renunciasse sua religião e abandonasse
o Profeta Joseph Smith, uma oferta que Baldwin rejeitou. A mesma
oferta foi então feita para os outros detentos, sendo que todos “deram
uma resposta semelhante à do Sr. Baldwin”.4
“O juiz Austin A. King apontou para Baldwin e ofereceu-lhe a
liberdade se ele renunciasse sua religião e abandonasse o Profeta
Joseph Smith, uma oferta que Baldwin rejeitou. ”
O juiz King, por fim, encontrou causas prováveis suficientes para
prender vários líderes santos dos últimos dias. Joseph Smith, Hyrum
Smith, Sidney Rigdon, Lyman Wight, Alexander McRae e Caleb
Baldwin deveriam ser levados para a Cadeia de Liberty, no Condado
de Clay, já que não havia nenhuma cadeia nos condados onde
ocorreram os suposto crimes. Em 1º de dezembro de 1838, ao entrar
na cadeia, Joseph Smith, “levantou o chapéu e disse com uma voz
distinta, ‘boa tarde, cavalheiros’, e desapareceu atrás da pesada porta
de ferro”.5

Cadeia de Liberty
Passar mais de quatro meses na apertada cadeia provou ser uma
experiência assustadora. A parede de um metro de espessura e dois
metros de altura, bem como a constante perseguição dos guardas
fizeram com que Joseph e seus companheiros descrevessem a
estrutura como um “inferno rodeado por demônios”.6 Os prisioneiros
foram colocados no calabouço do nível inferior, onde as temperaturas
caíam, a luz esmaecia, o local exalava odores e o tempo passava
mais lentamente. Apenas “leitos de palha suja” impediam que os
prisioneiros dormissem no chão de pedra, mas mesmo estes se
desgastaram depois de um tempo. 7

Como era o caso em outras cadeias do condado no século XIX, a


comida deixava os prisioneiros doentes. Joseph e seus companheiros
descreveram suas refeições diárias como “muito ruim e tão suja que
não conseguíamos comer até a fome nos obrigar”. Quando os
prisioneiros finalmente comiam suas refeições, o efeito em seu
organismo era tão danoso que lhes ameaçava a vida, pois fazia com
que vomitassem “quase até a morte”. Alguns dos detentos
suspeitaram que os guardas estivessem envenenando a comida e a
água, ou até mesmo que os estavam alimentando com carne
humana.8
“Josephe seus companheiros descreveram suas refeições diárias
como “muito ruim e tão suja que não conseguíamos comer até a
fome nos obrigar. ”
Como o historiador Dean Jessee observou, espalhou-se a notícia
sobre os santos dos últimos dias prisioneiros em Liberty e “o lugar
tomou aspectos de jardim zoológico”. Os moradores locais visitavam
a cadeia em massa para ver os prisioneiros e suas provocações e
zombarias ecoavam pelos muros de pedra. Hyrum Smith reclamou:
“Somos inspecionados frequentemente por tolos que agem como se
fôssemos elefantes ou dromedários, ou lobos ou algum tipo de baleia
ou serpente marinha monstruosa”.9 Dia após dia, os homens
definhavam na cadeia, e o aguilhão emocional testou a fé deles lenta
e continuamente.

“Ficamos abatidos e sofremos com muita angústia (…) e tivemos


realmente que atravessar um oceano de problemas”, escreveu
Joseph.10

Os quatro meses de confinamento na Cadeia de Liberty também


afetaram fisicamente os prisioneiros. A luz do sol mal entrava pelas
duas pequenas janelas com barras de ferro, que eram muito altas
para se ver através delas, e feria-lhes os olhos devido às longas
horas na escuridão, conforme um dos carcereiros lembrou
posteriormente. Embora fosse permitido fazer uma pequena fogueira,
sem uma chaminé para canalizar a fumaça, os olhos dos prisioneiros
ficavam ainda mais irritados. Os ouvidos doíam, os nervos ficavam à
flor da pele e Hyrum Smith até chegou a entrar em choque em certo
momento. Sidney Rigdon, o segundo membro mais antigo da
companhia, depois de Baldwin, estava com a saúde tão precária que,
deitado em uma cama inclinada, solicitou uma libertação antecipada.
Seu discurso eloquente e a gravidade de seu estado de saúde
fizeram com que o juiz o liberasse antes do prazo.11

Talvez, o mais desanimador para os demais prisioneiros fosse a ideia


de que as famílias santos dos últimos dias, incluindo a deles próprios,
estavam dispersas e desamparadas e foram expulsas de todo o
estado do Missouri. Baldwin, em particular, sentia muita solidão na
Cadeia de Liberty. Embora os outros internos fossem tranquilizados
regularmente sobre o bem-estar de amigos e familiares por meio de
visitas e cartas, Baldwin recebeu apenas uma breve visita da sua
esposa, Nancy, um pouco antes do natal em 1838 e não há registro
de outra comunicação com ela ou seus dez filhos nos três meses
seguintes.12

Aparentemente indefesos, os prisioneiros tentaram fugir da cadeia


duas vezes, em 6 de fevereiro e 3 de março de 1839, mas guardas
atentos puseram fim às fugas ousadas. Duas semanas depois, em 15
de março, os cinco homens pediram para ser libertados por detenção
ilegal. O recurso de duas páginas de Baldwin evidenciava seu desejo
desesperado de se reunir a sua família, que havia “sido expulsa do
estado desde o seu confinamento sem quaisquer meios de
sustento”.13 Baldwin também ficou sabendo que seu filho, também
chamado Caleb, tinha sido “espancado quase até a morte com varas
de nogueira por missourianos”.14 Assim, tendo sido retido “sem a
menor sombra de acusação contra ele”, Baldwin pediu que retirassem
a “pesada mão da opressão” e que fosse absolvido de todas as
acusações.15 Apesar das petições dos prisioneiros, aparentemente
existiam evidências suficientes para mantê-los detidos.16

Dois dias depois, em 17 de março, Samuel Tillery, um dos


carcereiros, inspecionou o calabouço do nível inferior e encontrou
uma broca de mão, a qual acreditou que estava sendo usada pelos
prisioneiros para abrir caminho através da espessa parede. Tillery
ordenou que vinte e cinco homens descessem para terminar a busca
e, então, ordenou a seu contingente que acorrentasse Joseph Smith e
os prisioneiros ao chão. Tendo acumulado três meses e meio de
estresse, angústia e frustração, Baldwin levantou-se furiosamente,
olhou o carcereiro nos olhos e afirmou: “Tillery, se você colocar essas
correntes em mim, vou te matar, e que Deus me ajude!”17 De acordo
com as palavras de Hyrum Smith, Tillery “logo se acalmou e
concordou em conversar novamente e resolver a questão”.18 Embora
a ameaça ardente de Baldwin tenha temporariamente resolvido a
disputa, os prisioneiros foram colocados sob vigilância mais pesada.

Apenas três dias após a briga com Samuel Tillery, com Baldwin ainda
irritado, imaginando se algum dia veria ou teria notícias de sua família
novamente, Joseph Smith começou a ditar uma carta que, sem
dúvida, elevou o espírito de Baldwin — carta que desde aquela época
trouxe consolo e conselho para milhões de santos dos últimos dias.

Carta aos Santos


Alexander McRae escreveu a maior parte da carta endereçada à
“igreja dos santos dos últimos dias em Quincy, Illinois e espalhados
por todos os lugares, e em particular ao Bispo Partridge”, embora
Baldwin tenha ajudado a escrever duas das 29 páginas da carta.
Como os historiadores Dean Jessee e John Welch observaram, a
longa missiva de Joseph Smith é semelhante a uma epístola paulina.
Por exemplo, Joseph chamou a si mesmo de “um prisioneiro da
causa do Senhor Jesus Cristo” e escreveu que “nada, portanto, pode
nos separar do amor de Deus”, linguagem semelhante aos escritos do
Apóstolo Paulo aos efésios e romanos.19 Joseph detalhou, então, o
sofrimento dos “pobres e muito afligidos santos”, inclusive das
famílias vagando sem ajuda e sem esperança entre o Missouri e
Illinois, bem como a sombria experiência que ele e seus
companheiros estavam tendo na Cadeia de Liberty.20

D&C 121 on JosephSmithPapers.org


Depois de fazer um relato comovente sobre os atos cruéis e
impiedosos de alguns dos habitantes do Missouri, Joseph pronunciou
as primeiras palavras do que agora é a Seção 121 de Doutrina e
Convênios: “Ó Deus, onde estás? E onde está o pavilhão que cobre
teu esconderijo? Até quando tua mão será retida e teu olho, sim, teu
olho puro, contemplará dos eternos céus os agravos contra teu povo
e contra teus servos e teu ouvido será penetrado por seus lamentos?
Sim, ó Senhor, até quando suportarão esses agravos e essas
opressões ilícitas, antes que se abrande teu coração e tuas entranhas
deles se compadeçam?” (ver D&C 121:1–3).21

O apelo celeste de Joseph não foi respondido imediatamente. Ele


continuou a refletir sobre os atos de violência contra os santos dos
últimos dias e se perguntou quando a justiça recairia sobre seus
opressores. Por fim, depois de narrar sete páginas de tristeza e
angústia, o Profeta Joseph Smith recebeu uma certeza consoladora:
“Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições
não durarão mais que um momento; e então, se as suportares bem,
Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos”
(ver D&C 121:7–8).22 O Senhor também assegurou a Joseph: “Se as
próprias mandíbulas do inferno escancararem a boca para tragar-te,
sabe, meu filho, que todas essas coisas te servirão de experiência e
serão para o teu bem. O Filho do Homem desceu abaixo de todas
elas. És tu maior do que ele?” (ver D&C 122:7–8).
D&C 122 on JosephSmithPapers.org
Essas palavras consoladoras desencadearam um sentimento de
confiança em Joseph. Ele disse que Deus “teria um povo experiente”
e que a experiência dos santos dos últimos dias no Missouri era “um
teste de nossa fé semelhante ao de Abraão”. Da mesma forma que
Abraão foi salvo de ter de sacrificar seu filho Isaque, os santos dos
últimos dias seriam libertados de suas provações se eles
permanecessem fiéis.23

Joseph, então, forneceu instruções sobre vários outros assuntos. Em


primeiro lugar, ele orientou-os a como conduzir as próximas
conferências e reuniões de conselho, dando a seus companheiros de
prisão esperança de que logo iriam reunir-se novamente com os
santos. Outro item abordado foi a aquisição de propriedades no
território de Iowa. Joseph acreditava que a terra “seria de grande
benefício para a Igreja” e aconselhou Edward Partridge e outras
pessoas sobre como negociar a transação de modo adequado,
enfatizando a importância de fazê-lo sem ganância ou
autoindulgência. Ele também aconselhou os líderes da Igreja a se
lembrarem dos necessitados e a “carregarem as enfermidades dos
francos”.24

A carta, então, passou a abordar a razão de muitos serem chamados,


mas poucos escolhidos, palavras usadas por Jesus no Novo
Testamento (Mateus 22:14). Joseph lamentou o fato de ele e os
santos dos últimos dias terem aprendido “por tristes experiências”
sobre o poder destruidor do orgulho (ver D&C 121:39). Joseph podia
estar pensando em alguns de seus amigos próximos, como William
W. Phelps e Frederick G. Williams, que haviam se apostatado
recentemente e ajudaram a prendê-lo. (Ambos, posteriormente,
voltaram à plena integração na Igreja). Joseph estabeleceu os
atributos que os portadores do sacerdócio e todos os santos dos
últimos dias deveriam procurar alcançar se esperavam ter influência
sobre outras pessoas: brandura, mansidão, persuasão,
longanimidade, bondade, caridade, virtude e amor (ver D&C 121:41–
46).
D&C 123 on JosephSmithPapers.org
Perto do final da carta, Joseph voltou a falar sobre a perseguição que
os santos dos últimos dias tinham sofrido no Missouri. Acreditando
ser a Constituição dos Estados Unidos “um estandarte glorioso” que
assegurava a liberdade de adoração, Joseph pediu aos santos que
escrevessem declarações detalhando seus sofrimentos e maus-tratos
(ver D&C 123:1–6). Sem nenhuma garantia de receber algo em troca,
Joseph e os santos estavam determinados, todavia, a “apresentar
[suas declarações] para os líderes do governo”, cumprindo um
mandamento dado pelo Senhor (ver D&C 123:6).

A longa carta de Joseph Smith teve um impacto duradouro. Ela não


apenas aconselhou o pobre Baldwin na prisão e os santos que
estavam sofrendo perseguições no Missouri, mas foi republicada
continuamente, por muitos anos, no Times and Seasons, no Millennial
Star e no Deseret News.25 Por fim, alguns trechos foram canonizados
como Doutrina e Convênios 121 a 123, e essas passagens continuam
a oferecer consolo e orientação para qualquer pessoa que esteja
buscando uma resposta nas escrituras.

Os companheiros de prisão, posteriormente, conseguiram “escapar”


das autoridades legais enquanto estavam sendo levados para uma
audiência no Condado de Boone, Missouri, em abril de 1839. Os
guardas permitiram que os prisioneiros fugissem da prisão após levá-
los para longe dos inimigos dos santos dos últimos dias no Condado
de Clay. Baldwin se separou de Joseph e dos outros em várias
ocasiões depois da fuga, mas todos os prisioneiros acabaram se
encontrando em Illinois, reunindo-se finalmente com família, amigos e
o restante dos santos dos últimos dias refugiados.26

Notas de rodapé
[1] Para obter informações adicionais sobre a experiência dos santos dos
últimos dias no Missouri, ver Thomas M. Spencer, ed., The Missouri Mormon
Experience (Columbia, Missouri: University of Missouri Press, 2010).
[2] Orson F. Whitney, “An Ensign for the Nations: Sketch of the Rise and
Progress of Mormonism”, The Latter-day Saints’ Millennial Star 61, n º 28 (13
de julho de 1899): pp. 434–435.
[3] Ver Alexander L. Baugh, “The Final Episode of Mormonism in Missouri in
the 1830s: The Incarceration of the Mormon Prisoners at Richmond and
Columbia Jails, 1838–1839”, John Whitmer Historical Association Journal 28
(2008): pp. 1–34.
[4] Clark V. Johnson, ed., Mormon Redress Petitions: Documents of the
1833–1838 Missouri Conflict (Provo, Utah: Religious Studies Center, Brigham
Young University, 1992), pp. 685–686.
[5] Lyman Littlefield, Reminiscences of Latter-day Saints: relato de muito
sofrimento individual suportado devido à consciência religiosa, 4 vols. (Logan,
Utah; Utah Journal Company Printers, 1888), vol.1, pp. 79–80.
[6] Conforme citado em Dean C. Jessee, “‘Walls, Gates and Screeking Iron
Doors’: The Prison Experience of Mormon Leaders in Missouri, 1838–1839”,
em Davis Bitton e Maureen Ursenbach Beecher, New Views of Mormon
History: A Collection of Essays in Honor of Leonard J. Arrington (Salt Lake
City: University of Utah Press, 1987), p. 25.
[7] Jessee, “Walls, Gates, and Screeking Iron Doors”, p. 25.
[8] Jessee, “Walls, Gates, and Screeking Iron Doors”, p. 27.
[9] Jessee, “Walls, Gates, and Screeking Iron Doors”, p. 27.
[10] Joseph Smith Jr., “Communications,” Times and Seasons 1, n º 6 (abril
de 1840): p. 85.
[11] Richard S. Van Wagoner, Sidney Rigdon: A Portrait of Religious Excess
(Salt Lake City: Signature Books, 1994), pp. 254–255.
[12] Ver Mary Audentia Smith Anderson, ed., Joseph Smith III and the
Restoration (Independence, Missouri: Herald House, 1952), pp. 13–14.
[13] Caleb Baldwin Petition, MS 24548, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City, Utah.
[14] John Gribble para George A. Smith, 7 de julho de 1864, MS 1322, Caixa
6, Pasta 11, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[15] Caleb Baldwin Petition, MS 24548, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City, Utah.
[16] Ver Jeffrey N. Walker, “Habeas Corpus in Early Nineteenth-Century
Mormonism: Joseph Smith’s Legal Bulwark for Personal Freedom,” BYU
Studies 52, n º 1 (2013): pp. 4–32.
[17] Obituário de Caleb Baldwin, Journal History of The Church of Jesus
Christ of Latter-day Saints, 11 de junho de 1849, Biblioteca de História da
Igreja, Salt Lake City, Utah. Ver também Elden J. Watson, ed., Manuscript
History of Brigham Young, 1847–1850 (Salt Lake City: J. Watson, 1971), p.
211.
[18] Jessee, “Walls, Gates, and Screeking Iron Doors”, p. 31.
[19] Conforme citado em Dean C. Jessee e John W. Welch, “Revelations in
Context: Joseph Smith’s Letter from Liberty Jail, March 20, 1839”, Brigham
Young University Studies 39, n º 3 (2000): p. 126. Ver também Efésios 3:1 e
Romanos 8:35.
[20] Jessee e Welch, “Revelations in Context”, p.135.
[21] Carta para a Igreja e Edward Partridge, 20 de março de 1839, pp. 3-4,
Joseph Smith Papers. [http://josephsmithpapers.org/paperSummary/letter-to-
the-church-and-edward-partridge-20-march-1839?p=3]
[22] Carta para a Igreja e Edward Partridge, 20 de março de 1839, p. 7, JSP.
[http://josephsmithpapers.org/paperSummary/letter-to-the-church-and-edward-
partridge-20-march-1839?p=7]
[23] Jessee e Welch, “Revelations in Context”, p.136.
[24] Jessee e Welch, “Revelations in Context”, p.140.
[25] Jessee e Welch, “Revelations in Context”, p.130.
[26] Para obter informações adicionais sobre a fuga da Cadeia de Liberty, ver
Alexander L. Baugh, “‘We Took Our Change of Venue to the State of Illinois’:
The Gallatin Hearing and the Escape of Joseph Smith and the Mormon
Prisoners from Missouri, April 1839”, Mormon Historical Studies 2, no. 1
(Spring 2001): pp. 59–82.
A organização da Igreja em Nauvoo
D&C 124, 125
Alex D. Smith10 Junho 2013

Pintura da curva no Rio Mississipi em Nauvoo, David H. Smith, cortesia de


Comunidade de Cristo e da família Lynn Smith

Em 19 de janeiro de 1841, Joseph Smith recebeu uma revelação que


delineava o curso a ser seguido pela Igreja em Nauvoo.

Um Novo Local de Reunião


Depois de serem expulsos de suas casas no norte do estado de
Missouri, os santos fugiram para o leste do rio Mississipi, refugiando-
se durante o inverno de 1838–1839 em várias comunidades ao longo
do rio, no território de Iowa e em Illinois, em especial em Quincy,
Illinois, e redondezas. Forçados a abandonar quaisquer esperanças
imediatas de reaver a terra de Sião, no Condado de Jackson,
Missouri, os líderes da Igreja buscaram um novo local de coligação
para os santos. No verão de 1839 eles haviam comprado a área de
Commerce, no Condado de Hancock, Illinois e muitos terrenos do
outro lado do rio, no território de Iowa. Commerce foi escolhida como
o novo local de reunião, e os Santos rapidamente mudaram o nome
da cidade para “Nauvoo”
Tendo aprendido com as experiências de serem expulsos de seus
lares, primeiramente do Condado de Jackson, Missouri e depois dos
condados de Caldwell, Davies e Ray no norte do Missouri, os santos
estavam determinados a se beneficiar dos poderes governamentais.
Eles primeiramente tentaram estabelecer uma cidade em seu novo lar
no Illinois, onde seriam livres para exercer seus direitos religiosos
com a proteção de autoridade legal.

Nauvoo Articles of Incorporation


Em 16 de dezembro de 1840, o governador de Illinois, Thomas Carlin,
e o Legislativo do estado, ansiosos por conquistar os votos dos
muitos refugiados mórmons do Missouri e indignados com as
atrocidades cometidas contra os santos naquele estado, aprovaram
“Uma lei para incorporar a cidade de Nauvoo”. Essa lei concedia
extensos poderes legais aos cidadãos de Nauvoo, inclusive a
capacidade de organizar um corpo legislativo próprio para criar leis
municipais, o poder de criar a Legião de Nauvoo, um destacamento
da milícia estadual, e a autoridade para estabelecer uma universidade
dentro da cidade, entre outros poderes.1 Na mesma época em que os
santos tentavam conseguir sua constituição municipal, eles também
procuraram incorporar a Igreja ao estado de Illinois, com Joseph
Smith como administrador.2 Em meio a esses esforços para criar uma
nova cidade para os santos, às margens do rio Mississippi, Joseph
Smith recebeu uma revelação em 19 de janeiro de 1841, que
identificava Nauvoo como o local para construção de um templo e um
novo local de reunião, além de dar instruções para os líderes e para a
organização da Igreja em Nauvoo. Essa revelação agora se encontra
em Doutrina e Convênios 124.

As Seções de Doutrina e Convênios Recebidas em Nauvoo


Enquanto a grande maioria dos registros de sermões públicos de
Joseph Smith data do período de Illinois da história da Igreja, o
mesmo não se dá em relação ao registro de suas revelações. Das
135 seções da atual Doutrina e Convênios SUD recebidas durante a
vida de Joseph Smith, apenas nove datam dos cinco anos em que o
profeta residiu em Nauvoo. Das 110 seções canonizadas durante a
vida de Joseph Smith (na edição de 1844 de Doutrina e Convênios),
apenas três datam do período de Illinois.3
D&C 125 on JosephSmithPapers.org
Ao compararmos as nove seções da atual Doutrina e Convênios
registradas durante o período de Joseph Smith em Illinois, destaca-se
a importância da revelação de 19 de janeiro de 1841. A seção 125,
uma breve revelação recebida em março de 1841, refere-se ao
estabelecimento da estaca Zaraenla, do outro lado do rio Mississipi,
no território de Iowa. A próxima revelação registrada (126), datada de
julho de 1841, é uma instrução pessoal para Brigham Young,
referente a seu serviço missionário. As seções 127 e 128 são cartas
de setembro de 1842 com instruções de Joseph Smith aos santos em
Nauvoo, descrevendo, entre outras coisas, o princípio do batismo
pelos mortos. Essas duas cartas, escritas enquanto Joseph Smith
estava escondido e consideradas pelos santos como comunicações
inspiradas de seu profeta ausente, constituem, juntamente com a
seção 124, as únicas revelações ou instruções da época de Illinois
que foram canonizadas durante a vida do profeta.

As próximas três seções da atual Doutrina e Convênios, 129–131,


contêm trechos de instruções dadas por Joseph Smith em 1843 em
Nauvoo (129) e na pequena cidade de Ramus, Illinois (130 e 131). A
seção 132 lida com o casamento plural e celestial e, apesar de ter
sido registrada em 1843, partes dela eram conhecidas por Joseph
Smith antes de sua chegada a Nauvoo. Além disso, sua circulação foi
limitada durante a vida do profeta a apenas seus amigos mais
próximos e mais fiéis. Assim, embora tenham sido registradas
relativamente poucas revelações organizacionais ou instrutivas
durante os últimos anos da vida de Joseph Smith, a longa e complexa
revelação de 19 de janeiro de 1841 foi uma exceção. Ela foi, de
muitas maneiras, para os membros da Igreja na época, a revelação
de Nauvoo.

“A revelação de 19 de janeiro de 1841 foi, de muitas maneiras, para


os membros da Igreja na época, a revelação de Nauvoo. ”
Ela ficou amplamente conhecida entre os membros da Igreja quase
imediatamente após ter sido recebida. Foi o primeiro texto inscrito
pelo Secretário Geral da Igreja, Robert Thompson, no Livro da Lei do
Senhor, um registro que visava conter as revelações de Joseph
Smith, e que se tornou o primeiro livro de “dízimos da Igreja”.4 Foi lida
aos membros da Igreja na Conferência Geral de abril de 1841, em
Nauvoo — a primeira conferência após o recebimento da
revelação.5 Joseph Smith, Brigham Young e outros líderes da Igreja
frequentemente mencionavam as injunções da revelação para a
construção do templo e da Casa de Nauvoo.6 Além de organizar a
liderança da Igreja em Nauvoo por mandamento divino, a revelação
logo se tornou uma fonte de orientação e propósito para os santos
que moravam ali.
Conteúdo da Seção 124

D&C 124 on JosephSmithPapers.org


Doutrina e Convênios 124 quase pode ser considerada uma
constituição eclesiástica para a Igreja em Nauvoo, da mesma maneira
que a lei para incorporar a cidade serviu às necessidades cívicas da
comunidade. A abertura da revelação prescreve a estaca de Nauvoo
como um novo local central de reunião para os santos, uma “pedra
angular de Sião”.7 O mandamento de construir um templo em Nauvoo
demonstrou que a nova cidade não seria apenas um refúgio
temporário, mas um lar mais permanente.8

A expulsão dos santos do Missouri e o estabelecimento de novas


estacas na fronteira oeste de Illinois e do outro lado do rio, no
território de Iowa, juntamente com a criação de uma nova cidade
como lar para os santos, efetivamente permitiram um novo início para
a Igreja. Esse período de transição e a subsequente necessidade de
uma nova organização refletiram-se, em grande parte, no conteúdo
da revelação. No início da revelação, várias designações pessoais
são dadas a membros da Igreja, e a revelação termina com uma lista
indicando os líderes governantes da Igreja, inclusive a Primeira
Presidência, o Quórum dos Doze (identificado na revelação como o
“conselho viajante dos Doze”) e um novo sumo conselho para a
estaca Nauvoo, juntamente com outros quóruns.

A revelação ordenava que uma proclamação a “todos os reis do


mundo” fosse escrita, o que reflete a visão mais abrangente do que
Nauvoo devia se tornar. Depois de terem sido expulsos de seus lares
por tantas vezes, as palavras da revelação descrevendo o propósito
da proclamação teriam renovado as esperanças: “Pois eis que estou
prestes a conclamá-los [os ‘reis e autoridades’ do mundo] para darem
ouvidos à luz e à glória de Sião, porque chegado é o tempo
determinado para favorecê-la”.9

As palavras da proclamação incluiriam um convite “vinde com vosso


ouro e vossa prata, para o auxílio de meu povo, para a casa da filha
de Sião”.10 Esse conceito de convidar visitantes a vir para Nauvoo
aprender o evangelho e auxiliar os santos estava inseparavelmente
ligado a outro assunto importante da revelação — a construção e o
propósito da Casa de Nauvoo.

A revelação ordenava que dois prédios fossem construídos: um


templo e um hotel ou “pensão”, chamado a Casa de Nauvoo. Ambos
eram mencionados como “uma casa ao meu nome”, ambos deveriam
ser um lugar “sagrado”, digno da aceitação do Senhor, e ambos
seriam os principais projetos de construção dos santos para os
próximos seis anos.11 Os planos para o templo incorporaram novos e
importantes avanços na compreensão e nos ensinamentos de Joseph
Smith sobre templos, principalmente a inclusão de uma fonte em que
os santos poderiam realizar batismos em favor de seus familiares e
amigos falecidos. Esta fonte foi mencionada primeiramente na
revelação de 19 de janeiro de 1841.

South Elevation of Nauvoo House, Drawing by William Weeks


Embora o templo ocupasse o local de maior importância espiritual e
histórica, a maior parte da revelação dedica-se à Casa de Nauvoo do
que a qualquer outro assunto. Era para ser uma residência para
Joseph Smith, sua família e posteridade.12 Era para ser uma
“hospedaria; uma casa onde os viajantes [pudessem] vir de longe
para se hospedar”, onde um viajante “encontraria saúde e segurança,
enquanto refletisse sobre a palavra do Senhor, e a pedra angular que
designei para Sião”. Aqueles que a dirigissem “não [permitiriam] que
qualquer coisa a profanasse – [seria] Santa, ou o Senhor teu Deus
nela não [habitaria]”.13

Joseph Smith repetidamente enfatizou a importância da Casa de


Nauvoo. Em uma reunião no local do templo ainda incompleto, em 21
de fevereiro de 1843, o Profeta declarou: “A construção da casa de
Nauvoo é tão sagrada, em minha opinião, quanto o templo. Quero
que a Casa de Nauvoo seja construída. Ela deve ser construída,
nossa salvação depende disso. Depois que os homens fizerem o que
puderem pelo templo. Deixe-os fazer o que puderem para a Casa de
Nauvoo”.14 Um mês e meio depois, em uma conferência da Igreja em
Nauvoo, ele disse: “É preciso que essa conferência dê importância à
Casa de Nauvoo, pois existe um preconceito contra a Casa de
Nauvoo, em favor da Casa do Senhor”.15

Durante o período de tempo que os santos ficaram em Nauvoo, o


cumprimento dos mandamentos e várias responsabilidades
explicados nessa revelação permaneceram na mais alta prioridade. A
sua estadia no estado de Illinois, no entanto, não seria tão longa
quanto o esperado, e algumas das coisas que eles esperavam
conseguir nunca foram realizadas.

O Legado da Revelação
A experiência de Nauvoo somente pode ser compreendida
corretamente no contexto dessa revelação e das tentativas dos
santos em ser obedientes a seus mandamentos. William Clayton,
registrador do templo e frequente escrevente de Joseph Smith,
expressou as motivações suas e dos membros da Igreja, em seu
diário, na data de 31 de maio de 1845: “Nossa ansiedade é terminar o
templo e a Casa de Nauvoo, para que tenhamos permissão para
cumprir os mandamentos do Todo-poderoso em relação a este
lugar”.16 Infelizmente, uma após a outra, suas designações, bênçãos
prometidas e aspirações encontraram desafios e frustração.
“A experiência em Nauvoo só pode ser compreendida corretamente
no contexto dessa revelação e das tentativas dos santos em ser
obedientes a seus mandamentos. ”
John C. Bennett, primeiro prefeito de Nauvoo e posteriormente
membro da Primeira Presidência, recebeu a promessa de que sua
“recompensa não [falharia] se ele [recebesse] conselho”, mas
apostatou apenas um ano e meio depois, tornando-se um amargo
oponente da Igreja.17

O secretário geral da Igreja, Robert B. Thompson, designado por


revelação como uma das pessoas que deveria redigir a proclamação,
morreu apenas sete meses mais tarde. Foi somente anos mais tarde,
após a morte do Profeta, que a proclamação foi escrita. Por fim, foi
redigida por Parley P. Pratt em 1845 e publicada como Proclamação
dos Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias.18

Devido à condição de pobreza dos santos e a pressão para se


construir uma nova cidade, tanto o templo quanto a Casa de Nauvoo
progrediram lentamente. Os dois prédios competiam pela mesma
força de trabalho e pelos mesmos recursos materiais, ficando ambos
atrasados. Por fim, no outono de 1845, quando ficou claro que o
tempo dos santos em Nauvoo era limitado, tornou-se necessário
favorecer a conclusão do templo. Em uma reunião na noite de
domingo, 14 de setembro, relutantemente “concordou-se em canalizar
mais mão de obra para o templo, mesmo que isso prejudicasse a
Casa de Nauvoo”.19A construção do templo progrediu o suficiente
para que pudesse ser usado durante o inverno de 1845–1846 para
reuniões e realização de ordenanças.

A revelação de 19 de janeiro de 1841 quase pode ser considerada


como uma visão do que poderia ter acontecido. O profeta e o
patriarca da Igreja foram mortos, a Casa de Nauvoo nunca foi
concluída como projetada, a maioria dos santos abandonaram suas
casas às margens do rio Mississipi para seguir em direção ao oeste,
até a Grande Bacia, e seu amado templo, que concluído após anos
de trabalho diligente, teve que ser posto à venda para atender às
necessidades financeiras.20

Mas a história de Nauvoo também é um testamento da fé dos santos,


de sua compreensão da importância dos conselhos divinos contidos
nessa revelação e de seus constantes esforços para cumpri-los. De
fato, seria um erro considerar a soma total de seus esforços para
viver essa revelação um fracasso, ou olhar esse período apenas pelo
prisma do final trágico de sua estadia em Illinois.

Por anos, Nauvoo foi um refúgio, um lugar de industriosidade e um lar


para os santos. Era um lugar onde a “luz e a glória de Sião” eram
percebidas por inúmeros visitantes que vieram e, em alguns casos,
“contemplaram a palavra do Senhor”. Suas “bênçãos”, visíveis na vida
dos membros da Igreja que viviam lá, não deixaram de atrair a
atenção do mundo.21

Notas de rodapé
[1] Uma Lei para Incorporar a Cidade de Nauvoo [16 de dezembro de 1840],
Leis do Estado do Illinois [1840–1841], pp. 52–57; “Miscellaneous”, Times and
Seasons, 15 de janeiro de 1841, vol. 2, pp. 281–286.
[2] Uma lei para incorporar a Igreja em Nauvoo, Projetos de Lei do Senado nº.
43, Projetos, Resoluções e Registros Gerais Relacionados da Assembleia. Do
1º ao 88º biênios, 1819-1994, Arquivos do Estado do Illinois, Springfield,
Illinois; Decreto de 2 de fevereiro de 1841, Condado de Hancock, Illinois,
Títulos e Hipotecas, vol. 1, p. 97, microfilme 954,776, Coleção de Registros
dos EUA e Canadá, Biblioteca SUD de História da Família, Salt Lake City,
Utah. <>
[3] Embora a edição de Doutrina e Convênios de 1844 só tenha sido impressa
depois do martírio, a seleção de conteúdo e a maior parte do trabalho de
edição foram concluídos antes da morte de Joseph Smith. (Peter Crawley, A
Descriptive Bibliography of the Mormon Church, Volume Um [Centro de
Estudos Religiosos, Provo, Utah: 1997], pp. 277–280; Doutrina e Convênios,
edição de 1844).
[4] O Livro da Lei do Senhor, pp. 3–15, Biblioteca SUD de História da Igreja.
[5] Em 7 de abril de 1841, o Prefeito de Nauvoo, John C. Bennett “leu as
revelações do ‘Livro da Lei do Senhor’, que haviam sido recebidas desde a
última Conferência Geral, em relação a escrita de uma proclamação aos reis
da Terra, a construção de um templo em Nauvoo, a organização da Igreja,
etc.” (“Minutes of a General Conference”, Times and Seasons vol. 2, n º 12
[15 de abril de 1841] p. 386).
[6] Ver, por exemplo, as declarações públicas de Joseph Smith e Brigham
Young em Joseph Smith, Diário, 21 de fevereiro e 28 de abril de 1843,
Coleção Joseph Smith, Biblioteca SUD de História da Igreja. A revelação
também foi citada no diário de Joseph Smith, quando responsabilidades
referentes às diretrizes da revelação foram mencionadas. Ver também a
discussão sobre a proclamação na data de 22 de dezembro de 1841 (Joseph
Smith, Diário, 22 de dezembro de 1841, no Livro da Lei do Senhor, Biblioteca
SUD de História da Igreja).
[7] Livro da Lei do Senhor, 3, Biblioteca SUD de História da Igreja (ver D&C
124:2); Ver também a Coleção de Revelações, Biblioteca SUD de História da
Igreja. A versão manuscrita da revelação de 19 de janeiro de 1841, que foi
colocada na pedra angular da Casa de Nauvoo, provavelmente é a original,
anterior à versão copiada nas primeiras páginas do Livro da Lei do Senhor,
mas foi seriamente danificada por água, antes de ser retirada da pedra
angular, e o texto está desbotado demais para ser lido. Por esse motivo,
todas as citações da revelação feitas aqui foram extraídas da versão copiada
no Livro da Lei do Senhor.
[8] A decisão de construir um templo em Nauvoo é anterior à revelação de 19
de janeiro de 1841. A construção do templo foi discutida e um comitê inicial
foi designado para supervisionar o projeto, na Conferência da Igreja de
outubro de 1840, em Nauvoo (“Minutes of the General Conference of the
Church of Jesus Christ of Latter Day Saints”, Times and Seasons, outubro de
1840, vol. 1, p. 186).
[9] Livro da Lei do Senhor, 3 (ver D&C 124:5–6).
[10] Ibid., 3 (ver D&C 124:11).
[11] Ibid., 4–5 (ver D&C 124:22, 24, 27).
[12] Ibid., 7 (ver D&C 124:56).
[13] Ibid., 5 (ver D&C 124:23–24).
[14] Joseph Smith, Diário, 21 de fevereiro de 1843, Coleção Joseph Smith,
Biblioteca SUD de História da Igreja. Uma evidência da importância dada à
Casa de Nauvoo por Joseph Smith tem a ver com as cerimônias de
colocação da pedra angular do Templo de Nauvoo e da Casa de Nauvoo em
1841. Itens de importância histórica foram depositados na pedra angular do
Templo de Nauvoo, em 25 de setembro de 1841, mas foi na pedra angular da
Casa de Nauvoo, uma semana mais tarde (2 de outubro de 1841), onde foi
colocado o manuscrito original do Livro de Mórmon, juntamente com um
rascunho da revelação de 19 de janeiro de 1841, relativa ao templo e à Casa
de Nauvoo, além de outros itens (Joseph Smith, Diário, 29 de dezembro de
1841, 30 de junho de 1842, no Livro da Lei do Senhor, Biblioteca SUD de
História da Igreja).
[15] Joseph Smith, Diário, 6 de abril de 1843, Coleção Joseph Smith,
Biblioteca SUD de História da Igreja. Joseph deu as seguintes diretrizes para
o Quórum dos Doze quando instruiu-os em 19 de abril sobre sua missão:
“Não se preocupem com o templo. Não digam nada contra ele. Mas deixem
todos os homens saber que sua missão é construir a Casa de Nauvoo”.
[16] William Clayton, Diário, 31 de maio de 1845, Biblioteca SUD de História
da Igreja.
[17] D&C 124:16-17; “Introdução do Volume 2: Diários de Nauvoo, dezembro
de 1841–abril de 1843”, em Joseph Smith Papers, Série de Diários, vol. 2,
Hedges, Smith, Anderson eds, pp. xxvii–xxix.
[18] “Morte do Coronel. Robert B. Thompson, Times and Seasons, 1º de
setembro de 1841, vol. 2 pp. 519–520; [Parley P. Pratt], Proclamação dos
Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,
[Nova York: Samuel Brannan e Parley P. Pratt, 1845]; Ver também Peter
Crawley, Bibliografia Descritiva, vol. 1 pp. 294–296.
[19] William Clayton, Diário, 14 de setembro de 1845, Biblioteca SUD de
História da Igreja.
[20] O seguinte anúncio foi publicado no New Citizen [de Nauvoo, Illinois], de
15 de maio a 23 de dezembro de 1846: “Templo à venda. Os administradores
dos bens dos santos dos últimos dias abaixo assinados propõem a venda do
templo com ótimas condições, se for apresentada uma proposta. O Templo é
admiravelmente projetado para fins religiosos ou literários”.
[21] Livro da Lei do Senhor, 3 e 5 (ver D&C 124:6 e 23).
Cartas sobre o Batismo pelos Mortos
D&C 127, 128
Matthew S. McBride29 Maio 2013

Templo de Nauvoo

O Senhor revelou, aos poucos, as doutrinas associadas aos batismos


pelos mortos a Joseph Smith e seus sucessores, ao longo de vários
anos.

Quando o Senhor restaurou, por intermédio de Joseph Smith, a


doutrina da redenção dos mortos por meio da realização de batismos
vicários, respondeu a perguntas antigas e satisfez profundos anseios.
Durante séculos, os cristãos haviam debatido o que aconteceria,
depois desta vida, aos incontáveis milhões que viveram sem ter
conhecimento do evangelho de Jesus Cristo. O próprio Joseph Smith
havia-se angustiado com o destino de seu amado irmão, Alvin, um
cristão sincero, porém não batizado.

Em janeiro de 1836, Joseph Smith teve uma visão do Reino Celestial


e aprendeu que aqueles que, como seu irmão Alvin, não conheceram
a plenitude do evangelho nesta vida, mas que a teriam recebido, se
obtivessem uma oportunidade, não lhes seria negada a mais elevada
recompensa na vida futura. Com essa visão, o Senhor começou a
revelar aos poucos as doutrinas e práticas envolvendo o batismo
pelos mortos a Joseph Smith e seus sucessores, em um processo
que exigiria vários anos.

A visão de Joseph afirmou a misericórdia de Deus, porém não ficou


totalmente claro se o requisito de batismo das escrituras seria
dispensado para Alvin e outros semelhantes a ele, ou seria cumprido
de alguma outra forma. Alguns santos dos últimos dias reconheceram
essa lacuna em seu conhecimento. Joseph Fielding, por exemplo,
“pensei muito sobre o assunto da redenção daqueles que morreram
sob o convênio quebrado” e especulou que “talvez aqueles que
recebem o sacerdócio nestes últimos dias os batizariam na vinda do
Salvador”.1

Mas, no funeral de Seymour Brunson, em 15 de agosto de 1840,


Joseph Smith ensinou o princípio de que os homens e mulheres na
Terra poderiam agir por seus parentes falecidos e cumprir a exigência
do batismo em favor deles. Com alegria, os santos aceitaram essa
oportunidade e quase que imediatamente começaram a ser batizados
pelos entes queridos que partiram, em rios e riachos perto de
Nauvoo.

Então, em janeiro de 1841, Joseph Smith recebeu uma importante


revelação que não só requeria a construção de um templo em
Nauvoo, mas ligava para sempre a ordenança do batismo pelos
mortos aos templos: “Porque não existe na Terra uma fonte batismal
onde eles, os meus santos, possam ser batizados pelos que estão
mortos — Pois essa ordenança pertence a minha casa” (D&C 124:29-
30). Os santos de Nauvoo rapidamente apressaram a construção do
templo e, em novembro de 1841, o porão foi anexado, com uma fonte
apropriada esculpida em madeira.
Cartas sobre Batismo pelos Mortos
Mais instruções e esclarecimentos sobre essa nova prática deveriam
vir. Em agosto de 1842, Joseph Smith foi acusado de cúmplice na
tentativa de assassinato de Lilburn W. Boggs, ex-governador do
Missouri. Para evitar a prisão, ele permaneceu mais ou menos
escondido por cerca de três meses na casa de amigos de confiança.
Wilford Woodruff escreveu em seu diário que, embora “tenha sido
negado a Joseph o privilégio de aparecer abertamente”, no entanto “o
Senhor está com ele como estava sobre a Ilha de Patmos com João”,
sugerindo que Joseph havia vivenciado manifestações espirituais
durante sua ausência da vida pública.2

Em 31 de agosto, Joseph apareceu brevemente para falar com um


pequeno grupo de membros da Sociedade de Socorro de Senhoras e
comunicou, registrado pela primeira vez, o que havia aprendido nas
semanas anteriores: “Todas as pessoas batizadas pelos mortos
devem fazê-lo na presença de um registrador, para que ele seja uma
testemunha ocular do fato. No Grande Conselho será necessário que
estas coisas sejam testificadas”.3
D&C 127 on JosephSmithPapers.org
No dia seguinte, ele começou a escrever uma carta para a Igreja que,
mais tarde, se tornaria Doutrina e Convênios 127. Nessa carta,
Joseph explicava sua ausência devido às acusações contra ele e
assegurou aos santos que, quando “a tempestade passar
completamente, então voltarei novamente para vocês”. Ele disse que
o Senhor lhe revelara a necessidade de um registrador para os
batismos pelos mortos e explicou o motivo: “Para que todos os
vossos registros sejam registrados no céu. (...)

E também que todos os registros sejam conservados em ordem, para


que sejam postos nos arquivos de meu santo templo, a fim de serem
conservados na lembrança, de geração em geração, diz o Senhor dos
Exércitos”(D&C 127:7, 9).

Ele concluiu a carta, expressando seu desejo de falar “do púlpito


sobre o assunto”, mas teria de contentar-se em “enviá-la pelo
correio”. Por conseguinte pediu a Erastus Derby que entregasse a
carta a William Clayton naquele domingo, 4 de setembro, “para ser
lida diante dos santos, quando reunidos no Bosque” O diário de
Joseph relata com satisfação: “Quando esta carta foi lida diante dos
irmãos, alegrou-lhes o coração e, evidentemente, teve o efeito de
estimulá-los e inspirá-los com coragem e fidelidade”.4

D&C 128 on JosephSmithPapers.org


No dia 7 de setembro, Joseph Smith ditou uma segunda carta sobre o
mesmo assunto “e pediu que fosse lida no próximo dia do Senhor”, 11
de setembro. Essa segunda carta encontra-se agora em Doutrina e
Convênios 128. Nela, o Profeta deu uma proposta mais detalhada de
manutenção de registros, requerendo testemunhas, um registrador
em cada uma das dez alas de Nauvoo, e um registrador geral que
compilaria todos os registros de ala em um “livro geral da Igreja”
(D&C 128:4)5.

Joseph ofereceu então uma longa justificativa das escrituras para a


prática de batismos pelos mortos e a necessidade de um registrador.
Ele ensinou que as ordenanças pelos mortos criavam laços
necessários e eternos entre as gerações: “a Terra será ferida com
maldição, a menos que exista um elo de um ou outro tipo entre os
pais e os filhos, sobre um assunto ou outro—e qual é esse assunto?
É o batismo pelos mortos”. Pois nós, sem eles, não podemos ser
aperfeiçoados; nem podem eles, sem nós, ser aperfeiçoados” (D&C
128:18).

Ele concluiu com este empolgante e bem conhecido chamado à ação:


“Irmãos, não prosseguiremos em tão grande causa? Ide avante e não
para trás. Coragem, irmãos; e avante, avante para a vitória! Regozije-
se vosso coração e muito se alegre. Prorrompa a Terra em canto.
Entoem os mortos hinos de eterno louvor ao rei Emanuel, que
estabeleceu, antes da fundação do mundo, aquilo que nos permitiria
redimi-los de sua prisão; pois os prisioneiros serão libertados.(…) e
apresentemos em seu templo santo, quando estiver terminado, um
livro contendo os registros de nossos mortos, que seja digno de toda
aceitação”(D&C 128:22, 24).

Essas duas cartas de Joseph Smith foram canonizadas em 1844 e


têm sido parte de Doutrina e Convênios desde aí. Os santos seguiram
minuciosamente as orientações dadas nessas cartas, e foram
chamados registradores para cada ala. Os registradores usavam um
certificado ou formulário comum para registrar os batismos: “Certifico
que no dia da data deste, vi e ouvi os seguintes Batismos se
realizarem na Pia da Casa do Senhor, na Cidade de Nauvoo, Illinois;
a saber [espaço em branco] e que [espaço em branco] e [em branco]
estavam presentes, como Testemunhas desses Batismos, e também
de que esse Registro foi feito por mim e é verdadeiro”.6

‘Linha sobre Linha’


Após a morte de Joseph Smith, em junho de 1844, Brigham Young
assumiu a liderança da Igreja como Presidente do Quórum dos Doze
Apóstolos. Durante o inverno de 1844-1845, ele apresentou um
aperfeiçoamento adicional à prática do batismo pelos mortos e
explicou essa evolução na conferência de abril de 1845.

“O Senhor tem guiado este povo o tempo todo desta forma, dando-
lhe um pouco aqui e um pouco ali. ”

Brigham Young

Em sua pressa para administrar essa ordenança por seus entes


queridos, os santos haviam realizado os batismos sem levar em
consideração o sexo, homens sendo batizados por mulheres, e
mulheres por homens. De agora em diante, Young ensinou: os santos
“nunca verão um homem ser batizado por uma mulher, nem uma
mulher por um homem”. Por que, então, foi permitido que essa prática
persistisse? “Quando um ser infinito dá uma lei a suas criaturas
finitas, ele tem que descer à capacidade das pessoas que recebem a
sua lei. Quando a doutrina do batismo pelos mortos foi dada
inicialmente, esta igreja estava em sua infância (…) O Senhor ter
conduzido este povo o tempo todo desta forma, dando-lhe um pouco
aqui e um pouco ali. Assim, ele aumenta sua sabedoria, e aquele que
recebe um pouco e sente-se grato por isso, receberá mais”.

Fazendo alusão às cartas de Joseph Smith, Young explicou: “Quando


isso foi revelado originalmente, não foi revelada toda a sua ordem.
Depois, foi dado a saber que os registros, os secretários e uma ou
duas testemunhas eram necessárias, ou então não seriam de valor
algum para os santos”. Ele concluiu, “Joseph não recebeu durante
seu tempo de vida todas as coisas relacionadas à doutrina da
redenção, mas ele deixou a chave com aqueles que compreendem
como obter e ensinar a este grande povo tudo o que é necessário
para sua salvação e exaltação no reino celestial de nosso Deus”.7

Notas de rodapé
[1] Joseph Fielding, carta ao editor, 28 de dezembro de 1841, Times and
Seasons 3 (1 de janeiro de 1842): pp. 648-650.
[2] Wilford Woodruff, registro de 19 de setembro de 1842, em Scott G.
Kenney, ed., Wilford Woodruff’s Journal [Diário de Wilford Woodruff] (Midvale,
Utah: Signatura Books, 1983), vol. 2 p. 187.
[3] History of the Church, volume 7, p. 142
[4] Andrew H. Hedges, D. Alex. Smith e Richard Lloyd Anderson,
eds., Journals, Volume 2: dezembro de 1841–abril de 1843, Vol. 2 da série
Journals de The Joseph Smith Papers [Os Documentos de Joseph
Smith], editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman
Bushman, (Salt Lake City: Church Historian’s Press [Imprensa do Historiador
da Igreja, 2011), p. 133.
[5] Embora seja evidente que haviam sido preservados alguns registros de
batismos pelos mortos antes dessa revelação, eles não eram tão completos
nem tão uniformes como poderiam ter sido.
[6] Certificado solto inserido dentro da capa da frente de Batismos pelos
Mortos, Livro C, setembro de 1842-junho de 1843, cópia microfilmada de
holograma, Biblioteca de História da Família, Salt Lake City, Utah.
[7] Brigham Young, “Speech” [Discurso], Times and Seasons 6 (1º de julho de
1845): pp. 953-955.
“Nosso Coração se Rejubilou ao Ouvi-lo Falar”
D&C 129, 130, 131
Matthew S. McBride22 Abril 2016

Em Nauvoo, Joseph Smith sentiu uma urgência crescente de


transmitir conhecimento espiritual aos santos. Seu secretário, William
Clayton registrava as palavras do profeta em seu próprio diário ou no
diário que ele mantinha para Joseph. Esses trechos foram usados
mais tarde como base para muitas seções de Doutrina e Convênios.

William Clayton caminhou os últimos 15 quilômetros até Nauvoo. O


barco que ele e sua companhia haviam pego para descer o
Mississippi em direção ao novo lar havia parado durante a noite antes
de chegar a Nauvoo. Mas depois de 11 semanas, uma viagem de 8
mil quilômetros de seu lar em Penwortham, Inglaterra, William não
podia mais esperar. Ele e alguns amigos se arrastaram naquela
manhã de inverno e chegaram a pé pouco antes do meio-dia em 24
de novembro de 1840. Converso havia três anos, William testificara
sobre o chamado profético de Joseph Smith em sua terra natal. Agora
ele estava ansioso para conhecer o Profeta pessoalmente.

Ele logo encontrou Joseph Smith e compartilhou algumas de suas


primeiras impressões por meio de cartas aos amigos na Inglaterra.
“Na noite passada, muitos de nós estávamos em companhia do irmão
Joseph [e] nosso coração se rejubilou ao ouvi-lo falar das coisas do
reino”, escreveu ele. “Se eu tivesse que vir da Inglaterra com o
propósito de conversar com ele só por alguns dias, o esforço teria
valido a pena”, escreveu em outra ocasião.1

William começou a trabalhar a fim de proporcionar o sustento e um lar


para ele e a esposa Ruth, que esperava o segundo filho na época em
que chegaram. Entretanto, o primeiro ano dos Claytons no novo lar foi
difícil. Eles compraram uma terra no lado oeste do Rio Mississippi, em
frente a Nauvoo, onde tentaram se estabelecer como fazendeiros.
William tinha trabalhado como guarda-livros de uma fábrica em uma
cidade industrial da Inglaterra e não tinha nem a habilidade nem o
porte físico de um fazendeiro. Seus esforços logo foram frustrados
pelo fracasso da colheita e um surto de malária.

Derrubado por esses acontecimentos, William aceitou o conselho do


missionário que o havia convertido, Heber C. Kimball, e mudou-se
com a família para Nauvoo em dezembro de 1841. O conselheiro
anterior de William na presidência da missão britânica, Willard
Richards, servia como secretário de Joseph Smith e precisava de um
assistente de confiança. Heber logo pediu a William que se
apresentasse no escritório de Joseph Smith. Lá, no dia 9 de fevereiro
de 1842, William concordou em tornar-se secretário e escrevente do
profeta.

Secretário e Escrevente
Nos próximos dois anos e meio, William Clayton foi a pessoa que viu
mais de perto a vida pública e pessoal de Joseph Smith. Ele
acompanhava Joseph quase todos os dias e estava profundamente
envolvido nos assuntos profissionais, políticos e religiosos de Joseph.
A amizade deles deu a William a oportunidade única de avaliar o
caráter de Joseph de perto e também as falhas. Ele sabia, assim
como qualquer outra pessoa, que Joseph era apenas um homem,
mas para William, as falhas de Joseph não eram importantes quando
comparadas com os ensinamentos que elevavam a alma que o
Senhor enviava por meio de Seu profeta. Por causa dessa
aproximação em Nauvoo, William tornou-se um firme defensor de
Joseph Smith pelo resto da vida.

Em seu trabalho como secretário, William Clayton registrou os mais


significativos ensinamentos, revelações e sermões proferidos por
Joseph Smith durante os dois anos finais memoráveis da vida do
Profeta. Ele registrou as instruções de Joseph sobre o batismo pelos
mortos e a revelação sobre o casamento eterno e casamento plural,
as quais mais tarde se tornaram parte das escrituras santos dos
últimos dias. Ele também foi um dos escreventes que manteve um
registro do discurso mais conhecido de Joseph, o sermão de King
Follett. Ele valorizava muito esses ensinamentos e parecia sentir a
importância de preservá-los.

Joseph Smith sentia uma urgência cada vez maior de transmitir


conhecimento espiritual aos santos. Durante seu tempo em Nauvoo
ele fez um sermão público poderoso após o outro e compartilhou
ensinamentos e ordenanças igualmente poderosos em conversas
com amigos de confiança. Joseph Smith não proferiu esses
ensinamentos como revelações formais da maneira que geralmente
fazia no início do ministério, mas William Clayton ouvia atentamente a
cada palavra. Ele registrava os ensinamentos do Profeta em seu
diário e no diário que mantinha para Joseph, e esses trechos foram
mais tarde usados como base para várias seções de Doutrina e
Convênios.

Ensinamentos Preciosos
D&C 129 em JosephSmithPapers.org
William estava presente quando Joseph reuniu-se com Parley P. Pratt
em 9 de fevereiro de 1843 e compartilhou com ele o conhecimento
sobre como discernir entre mensageiros celestiais e Satanás e seus
anjos. Essas instruções referem-se aos ensinamentos do templo que
Joseph havia compartilhado com um grupo de amigos de confiança
enquanto Parley estava na Inglaterra. William registrou as
informações no diário de Joseph, e elas foram mais tarde
canonizadas como Doutrina e Convênios 129.2
D&C 130 em JosephSmithPapers.org
Em 2 de abril de 1843, Joseph visitou uma conferência de estaca em
Ramus, Illinois, que ficava cerca de 32 quilômetros a leste de Nauvoo.
Um líder religioso americano chamado William Miller havia predito
que a Segunda Vinda de Jesus Cristo aconteceria naquele dia.
Joseph aproveitou a ocasião para assegurar aos santos em Ramus
que o Senhor não revelara o dia da Sua vinda. Joseph também
ensinou que Deus possuía um corpo; que todas as coisas passadas,
presentes e futuras estão diante Dele; e que nossos relacionamentos
vão durar por toda a eternidade. O registro de William Clayton sobre
essas experiências valiosas em seu diário pessoal tornaram-se a
base para o texto de Doutrina e Convênio 130.3

Doutrina e Convênios 131 é composta principalmente de vários


trechos curtos do diário mantido por William durante maio de
1843.4 Entre eles estavam ensinamentos referentes ao casamento
eterno dados em Ramus na casa de Benjamin e Melissa Johnson no
dia 16 de maio. Os Johnson estavam casados desde o Natal de 1841,
mas Joseph disse a eles que pretendia casá-los de acordo com a lei
do Senhor. Benjamin brincou que não se casaria com Melissa de
novo a não ser que ela o cortejasse. Mas Joseph falava sério. Ele
ensinou que os homens e as mulheres precisavam entrar no novo e
eterno convênio do casamento a fim de obter as maiores bênçãos de
Deus. Ele então selou Benjamin e Melissa para a eternidade.5

Para William, registrar essas declarações proféticas era mais do que


um dever; era um dos grandes privilégios de sua vida. Ele ficava
encantado com a maneira pela qual Joseph Smith diminuía a
distância entre esse mundo e o próximo e fazia com que as coisas da
eternidade parecessem tangíveis e reais. Quando os santos de
Nauvoo ouviam Joseph falar, as muitas dificuldades que enfrentavam
— morte, doença, pobreza e fome — eram sobrepujadas pela
expectativa de um futuro milenar e a promessa de que os laços de
família e amizade permaneceriam depois desta vida. O regozijo de
William Clayton em registrar as palavras de Joseph Smith teve uma
influência duradoura nos ensinamentos da Igreja e continua a
abençoar a vida dos santos dos últimos dias hoje.

Notas de rodapé
[1] Cartas de William Clayton citadas em James B. Allen, No Toil nor Labor
Fear: The Story of William Clayton (Provo, Utah: Brigham Young University
Press, 2002), pp. 61, 63. Esse livro é o melhor relato da vida em geral de
William Clayton e de sua amizade com Joseph Smith. As análises de Allen
sobre o ponto de vista de Clayton a respeito de Joseph Smith formam a base
para esse artigo.
[2] Ver “Journal, December 1842–June 1844; Book 1, 21 December 1842–10
March 1843”, pp. 172–176, josephsmithpapers.org
[3] Ver “William Clayton, Journal Excerpt, 1–4 April 1843”,
josephsmithpapers.org
[4] Vários dos trechos desse diário estão reproduzidos em Allen, No Toil nor
Labor Fear, pp. 393–396.
[5] Ver Benjamin F. Johnson, My Life’s Review (Independence, Missouri:
Zion’s Printing and Publishing, 1947), pp. 96–97. Para mais informações
sobre o contexto de Doutrina e Convênios 131, ver Steven C. Harper, Making
Sense of the Doctrine and Covenants: A Guided Tour through Modern
Revelations (Salt Lake City: Deseret Book, 2008), pp. 477–479.
Mercy Thompson e a Revelação sobre o
Casamento
D&C 132
Jed Woodworth2 Janeiro 2015

“Algumas pessoas podem pensar que eu tenha inveja da glória da


Rainha Vitória”, escreveu Mercy Fielding Thompson. “Não enquanto o
meu nome estiver no topo da lista das mulheres desta dispensação,
seladas por meio de revelação divina, ao marido falecido”.

Robert Thompson estava no auge da vida, quando, no outono de


1841, morreu inesperadamente ao contrair a malária, que vitimou
muitos santos dos últimos dias nos pântanos cheios de mosquitos às
margens do Rio Mississippi. Thompson era o secretário particular de
Joseph Smith e coeditor do jornal Times and Seasons, da Igreja, e
julgava-se na ocasião que ele teria um futuro brilhante. Um dia ele
estava saudável. E, dez dias depois, ele se foi, tendo a vida
interrompida aos trinta anos de idade, deixando a esposa e a filha de
três anos de idade.

Thompson era um homem amável. Seus amigos lembram-se dele


como um “marido carinhoso, um terno pai e um amigo verdadeiro e
fiel”.1 Sua esposa, Mercy, admirou sua bravura nos momentos finais.
“Ele suportou o sofrimento com muita paciência, nenhuma palavra de
murmúrio saiu de seus lábios”. Ela disse que ele passou seus últimos
momentos testificando “que ele não tinha seguido fábulas
astutamente elaboradas, que ele tinha sido levantado da escória para
assentar-se entre os príncipes”.2

A morte prematura de um membro da família tem sido uma ocorrência


muito comum ao longo da história humana. Geralmente era a mulher
que falecia durante o parto e a mãe deixava o bebê sem o carinho
suave da sua mão. Até a chegada do século XX, a maioria das
famílias no mundo industrializado não poderia ter a expectativa de
não perder um bebê ou criança em acidentes ou doenças. Desde o
princípio dos tempos, a morte está à espreita como um lembrete da
fragilidade da vida e do nosso anseio por sua continuidade.

Em contraposição à cultura da morte, uma revelação recebida por


Joseph Smith trazia a promessa de que os relacionamentos mais
preciosos que possuímos podem persistir na vida futura. As mães e
pais, esposas e maridos, pais e filhos podem ficar juntos novamente,
nosso parentesco e amizade podem durar por toda a eternidade. Os
termos notáveis dessas promessas encontram-se na revelação
conhecida atualmente como Doutrina e Convênios 132.

O Céu e a Terra
Dois conceitos principais a respeito do céu predominaram durante
dois mil anos na história cristã.3 A visão mais comum imagina os
anjos como seres solteiros e solitários, adorando e louvando a Deus
em perfeita união. Essa visão baseia-se em uma distinção muito clara
entre este mundo e o vindouro e privilegia o papel do intelecto na vida
após a morte. Tem o foco na contemplação de Deus e Sua grandeza
e não nos relacionamentos humanos. As conexões terrenas são
temporais e assim, destinadas a ter um fim com a morte.4

O outro conceito principal salienta a presença de amigos e familiares


na vida após a morte. A adoração a Deus persiste e a presença de
entes queridos se torna essencial para a felicidade eterna. A matéria,
a sobreposição de mundos eternos e a vida comum tornam-se parte
do trabalho sagrado de Deus. A ideia de um céu como instituição
social cresceu em popularidade durante o século XIX. A escritora
americana Elizabeth Stuart Phelps expressou o grande apelo desse
ponto de vista para uma geração que perdeu familiares
prematuramente na Guerra Civil dos EUA. “Seria como Ele”, pergunta
o romance The Gates Ajar de Phelps, “permitir que duas almas
cresçam juntas nessa vida, e separá-las por toda a eternidade?”5

Na revelação dada a Joseph Smith e registrada em julho de 1843


sobre o casamento, não há nenhum esforço para moldar a vida após
a morte de uma forma sentimental vitoriana, como Phelps fez. A
revelação confirmou que as relações humanas persistirão, mas
somente sob uma condição. Todos os compromissos sociais terão fim
com a morte, a menos que sejam feitos para toda a eternidade e
realizados por alguém que possua a autoridade do sacerdócio para
selar tanto na Terra como no céu. Os casamentos que continuam
depois da morte, diz a seção 132, são aqueles que forem feitos “para
esta vida e toda a eternidade” e são “selados pelo Santo Espírito da
promessa (…) a quem designei na Terra para possuir esse poder”.
Aqueles que não fizerem esses convênios, antes da ressurreição dos
mortos, se tornam “anjos no céu”, designados para permanecer
“separados e solteiros”.6

Mercy e Robert
Mercy Rachel Fielding nasceu em 1807 em uma família metodista
que trabalhava em uma pequena vila rural a 96 quilômetros ao norte
de Londres. Aos vinte e quatro anos de idade, ela imigrou juntamente
com o irmão mais velho Joseph para York (agora chamado Toronto),
no Canadá. Logo depois, sua irmã Mary uniu-se a eles e os Fieldings
começaram a frequentar as reuniões de um grupo de metodistas, que
acreditavam que todas as igrejas que conheciam haviam se perdido.
Na primavera de 1836, quando o missionário Parley P. Pratt chegou
em York, os Fieldings encontraram a resposta para seu problema.
Mercy, Mary, e Joseph foram batizados em um riacho local e
mudaram-se para a sede da Igreja em Kirtland, Ohio, na primavera
seguinte.7

Ainda no Canadá, Mercy conheceu Robert Blashel Thompson, que


tinha percorrido um caminho semelhante ao dela. Nascido em 1811
em Yorkshire, Inglaterra, ele tinha se filiado, ainda rapaz, a um grupo
de dissidentes chamado Sociedade Primitiva Metodista, o qual
procurava um retorno dos dons espirituais. Ele mudou-se para o
Canadá em 1834, ouviu a mensagem de Parley P. Pratt e foi batizado
no mesmo mês, assim como os Fieldings. Robert Thompson e Mercy
Fielding eram almas gêmeas, e se casaram logo após chegarem em
Kirtland, em junho de 1837.8

Após o casamento, Mary, a irmã de Mercy, começou a morar com os


primos de Joseph e Hyrum Smith e dessa forma, os conheceu melhor
e aprendeu a amá-los. O coração dela se voltou a Hyrum quando a
esposa dele, Jerusha, faleceu no outono de 1837, em um parto difícil.
Jerusha deixou cinco filhos menores de 10 anos de idade. Joseph
perguntou ao Senhor o que Hyrum deveria fazer. Foi respondido que
ele deveria casar-se com Mary Fielding. Mary acreditou na inspiração
de Joseph e casou-se com Hyrum na véspera do Natal de 1837.9

Depois disso, a vida de Mercy e Robert entrelaçou-se à de Mary e


Hyrum. Hyrum liderou os Thompson na jornada de mil milhas de Ohio
a Missouri, onde os santos se restabeleceram em 1838. Mais tarde,
em uma fria noite de fevereiro, quando Hyrum e Joseph estavam
encarcerados na cadeia de Liberty, Mercy e Mary visitaram os
prisioneiros trazendo consigo o bebê de Hyrum, o pequeno Joseph F.,
o futuro profeta. Como Mary deu à luz sozinha e estava debilitada
demais, Mercy cuidava de Joseph F. Mercy e Robert cuidaram dos
filhos de Mary e Hyrum durante o tempo em que Hyrum esteve preso,
e quando chegaram a Nauvoo, as duas famílias construíram casas
uma ao lado da outra.10

Os Smith e os Thompson ficaram ainda mais próximos após o


falecimento de Robert. Certa noite, na primavera de 1843, Mercy
dormia na casa de Mary, fazendo companhia à irmã enquanto Hyrum
estava longe de Nauvoo a trabalho. Mercy sonhou que estava de pé
em um jardim com Robert. Ela ouviu alguém repetir os votos
matrimoniais, embora ela não conseguisse saber de quem era a voz.
Como estava em sintonia com Deus, Mercy compreendeu que o
sonho era uma mensagem de Deus. “Acordei pela manhã
profundamente impressionada com esse sonho que eu não consegui
interpretar”.11

Mais tarde naquela noite, Hyrum voltou para casa e relatou ter tido
“um sonho notável” enquanto estava longe de casa. Ele tinha visto a
esposa falecida, Jerusha e dois de seus filhos que haviam morrido
prematuramente.12 Hyrum estava tão confuso quanto Mercy quanto
ao significado de seu sonho. Mas o momento em que ocorreram
aqueles sonhos era estranho. Ao chegar em casa, Hyrum encontrou
uma mensagem de seu irmão Joseph, pedindo-lhe que fosse à sua
casa. “Para o seu espanto”, relatou Mercy, Hyrum soube que Joseph
havia recebido uma revelação que declarava que “os casamentos
realizados para esta vida só durariam por um período de tempo e que
não teriam valor até que um novo fosse realizado por toda a
eternidade”.13 Esta revelação seria mais tarde registrada e
canonizada como Doutrina e Convênios 132.14

Robert Thompson e Jerusha Smith eram falecidos. Como fazer um


novo contrato matrimonial se apenas um dos cônjuges estava vivo?
Joseph Smith respondeu que uma pessoa viva pode agir como
procurador de uma pessoa falecida. Desde o outono de 1840, os
Santos vinham realizando batismos vicários por antepassados
falecidos que haviam morrido antes de ouvir o evangelho restaurado.
Agora, o mesmo princípio seria estendido ao casamento. Marido e
mulher poderiam ser “selados” uns aos outros, ligados no céu assim
como haviam sido ligados na Terra.15 Um casamento que havia
terminado — “até que a morte os separe” — poderia ser realizado
novamente, “para esta vida e por toda a eternidade”, selados pela
autoridade do sacerdócio. Dessa forma, o casamento poderia durar
por toda a eternidade.16

Essa perspectiva emocionou Mercy. Não havia qualquer dúvida de


que, se tivesse tido a chance, ela escolheria passar a eternidade com
Robert. Ela sentia a sua falta e queria estar perto dele. Ele foi o tipo
de homem que a inspirou a tornar-se a pessoa que queria ser, uma
discípula do Senhor Jesus Cristo. “Robert não poderia ser facilmente
superado em mansidão, humildade e integridade”, disse ela.17
“Algumas pessoas podem pensar que eu tenha inveja da glória da
Rainha Vitória. Não enquanto o meu nome estiver no topo da lista
das mulheres desta dispensação, seladas por meio de revelação
divina, ao marido falecido”.

Em uma manhã de segunda-feira no final de maio de 1843, Mercy


Thompson e sua irmã Mary, juntamente com Hyrum e Joseph Smith
reuniram-se em uma sala no segundo andar da casa de Joseph.
Joseph casou Mercy e Robert para o tempo e a eternidade, com
Hyrum na condição de procurador de Robert.18 Após essa cerimônia,
Joseph casou Hyrum e Mary para o tempo e a eternidade. Mercy
estava incrivelmente feliz. “Algumas pessoas podem pensar que eu
tenha inveja da glória da Rainha Vitória”, disse ela. “Não enquanto o
meu nome estiver no topo da lista das mulheres desta dispensação,
seladas por meio de revelação divina, ao marido falecido”.19

Pluralidade

O selamento de Mercy Thompson ao marido falecido ofereceu


consolo em meio à solidão e incerteza. Mas as promessas se
aplicavam a um local distante, em uma época indeterminada em que
os Thompson seriam reunidos. Até então, Mercy tinha uma vida pela
frente e uma criança para cuidar. Quem iria prover o sustento? No
tempo e lugar onde Mercy vivia, poucas profissões estavam abertas
às mulheres. Após a morte de Robert, ela fez o que as viúvas faziam
há séculos: alugou os quartos de sua casa. “Com diligência e as
bênçãos do Senhor, nossas necessidades foram supridas”, ela
disse.20

Ainda assim, “era uma vida solitária” e “ser privada da companhia de


um marido me fez sofrer tanto que minha saúde ficou muito
prejudicada”. Na crença dos santos dos últimos dias, a terra está
aberta à comunicação celeste e os anjos confortam os fardos dos
familiares da pessoa falecida. Durante aquele verão, um anjo
apareceu a Joseph Smith. Era Robert Thompson, seu antigo
secretário. “Apareceu a [Joseph] várias vezes dizendo-lhe que ele
não queria que eu vivesse uma vida solitária”, contou Mercy. O anjo
propôs uma solução chocante: Hyrum tinha que “ser selado a mim
para esta vida”, Mercy relembra.21 Em outras palavras, Robert
Thompson solicitou que Hyrum casasse com Mercy como uma das
esposas “para esta vida”. Mercy e Robert, enquanto isso,
permaneceriam selados na eternidade.

Mais ou menos na mesma época da aparição de Robert Thompson,


Joseph Smith deu início ao registro da seção 132, ditando a revelação
a seu secretário William Clayton no pequeno escritório localizado nos
fundos da loja de tijolos vermelhos de Joseph.22 Partes dessa
revelação eram conhecidas por Joseph anos antes, provavelmente
por volta de 1831, enquanto trabalhava em sua versão inspirada do
Velho Testamento.23 Joseph perguntou a Deus em oração por que
Ele justificou que Abraão, Isaque, Jacó e outros que “tiveram muitas
esposas e concubinas”? A resposta não estava clara de imediato
porque a criação e a cultura de Joseph não aceitavam o casamento
plural. A revelação trouxe a resposta simples e direta: Deus “ordenou”
o casamento plural, e, porque os patriarcas bíblicos “nada mais
fizeram do que as coisas que lhes foram ordenadas, entraram para
sua exaltação”.24

A seção 132 respondeu a uma pergunta que foi debatida por muito
tempo dentro da cultura ocidental. De um lado estavam aqueles que
alegavam que Deus aprovava o casamento plural na antiguidade.
Santo Agostinho achava que o casamento plural no Velho
Testamento simbolizava o dia em que as igrejas de todas as nações
se sujeitariam a Cristo.25 Martinho Lutero concordava: Abraão era um
homem casto, cujo casamento com Hagar cumpria as promessas
sagradas de Deus ao patriarca.26 Lutero levantou a hipótese de que
Deus poderia aprovar, em algumas circunstâncias, o casamento
plural nos tempos modernos. “Não é mais ordenado”, observou ele,
“mas não é proibido”.27

Do outro lado do debate estavam aqueles que alegavam que os


patriarcas do Velho Testamento haviam se desviado com a prática do
casamento plural. João Calvino, contemporâneo de Lutero do século
XVI, acreditava que o casamento plural pervertia a “ordem da criação”
estabelecida com o casamento monogâmico de Adão e Eva no
Jardim de Éden.28 Calvino teve uma influência profunda na postura
religiosa americana. Nem todos os americanos concordavam que os
patriarcas bíblicos haviam cometido um erro, mas os contemporâneos
de Joseph Smith seguiram amplamente a crença de Calvino de que o
casamento plural, nos tempos modernos era errado sob qualquer
circunstância.29

A seção 132 estava acima deste debate, pois era a aprovação das
ações dos patriarcas na voz do próprio Deus. O casamento plural,
dizia a revelação, tinha ajudado a cumprir a promessa que Deus fez a
Abraão de que sua semente “continuaria inumerável como as
estrelas".30 Não obstante, a revelação era ousada ao justificar os
patriarcas. Como a semente de Abraão, os santos dos últimos dias
foram ordenados a praticar o casamento plural por um tempo. “Ide,
portanto, e fazei as obras de Abraão”.31

A princípio, Joseph Smith estava relutante em colocar em prática o


casamento plural, compreendendo plenamente a perseguição que
traria à Igreja. A monogamia era a única forma de casamento aceita
legalmente nos Estados Unidos, e a oposição seria certamente cruel.
O próprio Joseph teve que ser convencido que o casamento plural era
adequado. Em três oportunidades um anjo apareceu a ele, pedindo-
lhe para seguir adiante, conforme orientado.32 Ele acabou
concordando com o casamento plural e introduziu o princípio aos
outros seguidores em 1841, em Nauvoo. Seguir a revelação e
registrá-la permitiu-lhe levar mais facilmente a mensagem sobre esse
novo mandamento, que foi apresentado com cuidado e de forma
gradual.33

Mercy e Hyrum
O casamento eterno chamou mais a atenção de Mercy Thompson do
que o casamento plural. Devido à sua disposição e treinamento, ela
se opunha a casar-se com um homem já casado. A perspectiva de
viver na mesma casa com sua irmã e melhor amiga, Mary, não
diminuía o mal-estar. Joseph queria que Mary conversasse sobre o
assunto com Mercy, pois achava que assim ela seria mais receptiva.
Mas a conversa não teve nenhum efeito. “Quando esse assunto foi
abordado comigo pela primeira vez”, Mercy contou, “me opus com
todas as minhas forças de acordo com as minhas tradições
antigas”.34

Hyrum conversou com ela depois. Ele sentia empatia com Mercy, já
que ele se opusera ao casamento plural anteriormente. Joseph havia
procurado avaliar os sentimentos de seu irmão e deixou de divulgar
esses difíceis e controversos ensinamentos até que Hyrum
concordasse com ele. Hyrum se converteu ao princípio ao perceber
que havia se casado com duas mulheres na Terra e que não
suportaria viver longe delas na eternidade. No mesmo dia em que foi
selado a Mary para o tempo e a eternidade, Mary foi a procuradora
para o selamento com Jerusha, assim, Hyrum foi selado a ambas as
esposas para a eternidade.35

Não estava sendo pedido a Mercy que se casasse para a eternidade


com Hyrum Smith. A mensagem de Robert Thompson era que Hyrum
deveria casar-se com Mercy para o tempo; ou, nas palavras de
Mercy, até que Hyrum “me entregue na manhã do dia da ressurreição
para meu marido, Robert Blashel Thompson”.36 O casamento com
Hyrum era como o casamento levirato do Velho Testamento em que o
homem foi ordenado a se casar com a mulher de seu irmão
falecido.37 Essa combinação de prática patriarcal e aparição de anjos
fazia sentido para restauracionistas bíblicos como Hyrum Smith. Ele
disse a Mercy que quando soube do pedido de Robert Thompson, “o
Espírito Santo repousou sobre ele [Hyrum] do alto da cabeça até a
planta dos pés”.38

As mulheres santos dos últimos dias que se converteram ao princípio


do casamento plural em Nauvoo, frequentemente, relataram
experiências espirituais, confirmando sua decisão. Elas viram uma
luz, sentiram paz ou, em alguns casos, viram um anjo. Mercy
Thompson não deixou nenhum registro de tais experiências. Mais
tarde ela disse, que acreditava no princípio “porque eu poderia lê-lo
por mim mesma na Bíblia, ver que foi praticado naqueles dias e que o
Senhor o aprovou e o sancionou”.39
Mas a lógica bíblica por si mesma, não era suficiente para Mercy. O
próprio Joseph conversou com ela e foi o testemunho dele que a
convenceu. Robert Thompson apareceu a ele mais de uma vez, e na
última vez “com tal poder que o fez estremecer”, ele disse. Joseph
não estava inclinado a agir de acordo com a solicitação no início.
Somente depois de orar ao Senhor e saber que deveria “fazer o que
meu servo exigisse” que ele contou a Hyrum sobre a visão.40

Como uma crente em dons espirituais, Mercy Thompson confiava que


o marido falecido havia feito uma comunicação.41 E, depois de
observar Joseph Smith durante alguns anos, ela acreditou que ele era
“muito sábio para errar e bom demais para ser rude”.42 Ela concluiu
que a solicitação de se casar com Hyrum era “a voz do Senhor
falando por intermédio da boca do profeta Joseph Smith”.43

Joseph Smith levou a sério as objeções de mulheres como Mercy


Thompson. Ninguém, mulher ou homem, achou fácil aceitar o
casamento plural quando ouviram a respeito pela primeira
vez.44 Joseph não obrigou os homens e as mulheres a aceitarem o
casamento plural pela força de seu comando.45 Tanto os homens
como as mulheres foram incentivados a refletir, orar e chegar à sua
própria decisão. Mercy pediu uma cópia do manuscrito da revelação e
a guardou em casa durante os quatro ou cinco dias em que estudou o
seu conteúdo em sua mente.46 Somente depois de muita oração e
meditação, ela deu seu consentimento. Em 11 de agosto de 1843,
Joseph Smith realizou o casamento de Hyrum e Mercy na casa de
Mary e Hyrum, na esquina da Water e Bain Street em Nauvoo. Por
recomendação de Joseph, Hyrum construiu um cômodo adicional na
casa e Mercy mudou-se para ele.

Tempo e Eternidade
Durante sua breve vida juntos, os projetos de Hyrum se tornaram os
projetos de Mercy e vice-versa. Mercy ajudou a escrever as palavras
inspiradas que saíam da boca de Hyrum ao abençoar os membros da
Igreja em seu papel como patriarca da Igreja. O Templo de Nauvoo
era o grande projeto que preocupava o povo. Em algum momento,
depois de buscar o Senhor fervorosamente para saber o que ela
poderia fazer para acelerar a conclusão do templo, Mercy ouviu estas
palavras entrarem em sua mente: “Ajude as Irmãs a doar um centavo
por semana para comprar vidro e pregos”. Ela disse que Hyrum
estava “muito feliz” com a revelação e fez tudo o que pôde para
motivar outras pessoas a fazerem o que Mercy havia pedido.47 Com
a ajuda de Hyrum, ela e Mary arrecadaram mais de mil dólares — o
que não era uma pequena quantia naqueles dias — pela causa.48

Mercy e Hyrum tinham apenas 10 meses de casados quando uma


bala tirou a vida de Hyrum na cadeia de Carthage. Mercy perdera
outro marido no auge da vida. Ela sofreu muito com a perda de
Hyrum, a quem ela descreveu como sendo “um marido carinhoso, um
pai amoroso, um amigo fiel e um bondoso provedor”.49 Mas sua
conexão com Mary sempre seria uma fonte de força. Mercy e sua
filha Mary Jane, de seis anos de idade, passaram a morar com Mary
e os dois filhos que teve com Hyrum, juntamente com os cinco filhos
de Hyrum com Jerusha, dos quais Mary era a madrasta.

Em 1846, Mercy e Mary, juntamente com seu irmão Joseph, saíram


em uma nova jornada juntos. Eles se uniram a milhares de seus
companheiros de sofrimento em uma jornada de mais de dois mil
quilômetros para uma nova Sião, além das fronteiras dos Estados
Unidos na época. Chegaram ao Vale do Lago Salgado no ano
seguinte. Mary faleceu em 1852, vítima de pneumonia. Mercy morou
nas quatro décadas seguintes em Salt Lake City, foi fiel até o seu
falecimento, serviu na Igreja onde pode e ajudou a criar os filhos de
Mary e Hyrum.

A ligação de Mercy e Hyrum sempre foi uma fonte de profunda


gratidão. Mas ela viveu esperando o dia em que se encontraria com
Robert, o marido “amado” e a escolha de sua juventude. Até o seu
falecimento em 1893, ela manteve o nome Mercy R. Thompson,
nome que havia recebido ao casar-se com Robert. Doutrina e
Convênios 132 prometera-lhe que ela e Robert, se fossem fieis, iriam
“herdar tronos, reinos, principados e poderes”. Desfrutariam de “uma
continuação das sementes para todo o sempre”.50 Ela acreditou
nessas promessas e viveu para que talvez um dia pudesse realizá-
las.

Notas de rodapé
[1] “Death of Col. Robert B. Thompson”, Times and Seasons, 1º de setembro
de 1841, p. 519.
[2] Biografia de Mercy Fielding Thompson, Robert B. Thompson por Mercy R.
Thompson, novembro de1854, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
A fraseologia de Thompson tem origem em Salmos 113:7–8.
[3] Colleen McDannell e Bernhard Lang, Heaven: A History (New Haven, CT:
Yale Nota Bene, 2001).
[4] Jan Swango Emerson e Hugh Feiss, eds., Imagining Heaven in the Middle
Ages (New York: Garland, 2000); Jeffrey Burton Russell, A History of Heaven:
The Singing of Silence (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1997).
Shakespeare comparou o casamento à comida — algo que deve ser
saboreado e apreciado enquanto durar, até que eventualmente apodreça. Ver
Lisa Hopkins, The Shakespearean Marriage: Merry Wives and Heavy
Husbands (London: Macmillan, 1998), pp. 70–71.
[5] Elizabeth Stuart Phelps, The Gates Ajar, 4ª ed. (London: Sampson, Low,
Son, & Marston, 1870), p. 54. Sobre a imensa popularidade de Phelps, ver
McDannell and Lang, Heaven, pp. 265–266. Razões semelhantes são
encontradas em poemas de Emily Dickinson. Ver Barton Levi St. Armand,
“Paradise Deferred: The Image of Heaven in the Work of Emily Dickinson e
Elizabeth Stuart Phelps”, American Quarterly, Volume 29 (primavera de
1977), pp.55–78.
[6] Doutrina e Convênios 132:7, 15–18. Além disso, a revelação foi além dos
padrões de concepções sociais da vida após a morte por meio de procriação
— “uma continuação das sementes” (D&C 132:19) — parte do plano de Deus
para os seres humanos na vida futura.
[7] Leonard J. Arrington, Susan Arrington Madsen e Emily Madsen
Jones, Mothers of the Prophets, ed. rev. (Salt Lake City: Deseret Book, 2009),
pp. 88–95; Parley P. Pratt, The Autobiography of Parley Parker Pratt (New
York: Russell Brothers, 1874), pp. 146–154.
[8] Thompson, Biografia de Robert B. Thompson por Mercy R. Thompson
[9] Arrington, Madsen e Jones, Mothers of the Prophets, pp. 96–98; Jeffrey S.
O’Driscoll, Hyrum Smith: A Life of Integrity (Salt Lake City: Deseret Book,
2003), pp. 163–164.
[10] Jennifer Reeder, “‘The Blessing of the Lord Has Attended Me’: Mercy
Rachel Fielding Thompson (1807–1893)”, em Richard E. Turley Jr. e Brittany
A. Chapman, eds., Women of Faith in the Latter Days: Volume One, 1775–
1820 (Salt Lake City: Deseret Book, 2013), pp. 424–425. Os Smith ocuparam
o lote 3 do bloco 149, os Thompson o lote 1 do mesmo bloco, os quintais das
propriedades eram colados uns nos outros.
[11] Mercy Rachel Fielding Thompson, Memórias, em Carol Cornwall Madsen,
ed., In Their Own Words: Women and the Story of Nauvoo (Salt Lake City:
Deseret Book, 1994), pp. 194–195.
[12] Essas crianças eram Mary Smith (1829–1832) e Hyrum Smith (1834–
1841).
[13] Thompson, Memórias de, p. 195; ortografia modernizada.
[14] A revelação sobre o casamento foi publicada pela primeira vez como
uma edição extra do Deseret News de 14 de setembro de 1852. Tornou-se a
seção 132 da edição de 1876 de Doutrina e Convênios.
[15] Doutrina e Convênios 132:46.
[16] Doutrina e Convênios 132:7. Os cristãos já compreendiam a escritura
contida em Mateus 22:23–30 para justificar o fim dos casamentos após a
morte. Doutrina e Convênios 132:15–17 reinterpretava a passagem para dizer
que alguns casamentos acabariam enquanto os outros poderiam durar.
[17] Mercy Fielding Thompson, esboço da autobiografia, Biblioteca de História
da Igreja, Salt Lake City; pontuação acrescentada.
[18] Thompson, Memórias de, p. 195. Na mesma ocasião, vários outros
casais se casaram para a eternidade: Brigham Young e sua esposa Mary Ann
Angell; Brigham Young e a falecida esposa, Miriam Works (com Mary Ann
Angell como procuradora); e Willard Richards e sua esposa, Jennetta
Richards. Diário de Joseph Smith, 29 de maio de 1843, Coletânea de Joseph
Smith, Biblioteca da História da Igreja, Salt Lake City; Lyndon W.
Cook, Nauvoo Marriages, Proxy Sealings, 1843–1846 (Provo, UT: Grandin
Book, 2004), p. 5.
[19] Thompson, Memórias de, p. 195; ortografia modernizada.
[20] Thompson, Esboço autobiográfico. Os Thompson alugavam quartos
mesmo antes de Robert falecer. Mercy continuou com a prática.
[21] Carta de Mercy Fielding Thompson a Joseph Smith III, 5 de setembro de
1883, Documentos de Joseph F. Smith 1854–1918, Biblioteca da História da
Igreja, Salt Lake City.
[22] Brian C. Hales, Joseph Smith’s Polygamy, 3 volumes (Salt Lake City:
Greg Kofford Books, 2013), 2:64–65. Clayton relatou posteriormente que
Joseph Smith mandou que a revelação fosse escrita, seguindo a sugestão de
Hyrum Smith, a fim de persuadir a esposa de Joseph, Emma Smith a cessar
sua oposição ao casamento plural. Emma aceitou o casamento plural por
algum tempo, mas era contrária ao princípio em 12 de julho de 1843, quando
a revelação foi escrita. Declaração de William Clayton, 16 de fevereiro de
1874, em “Plural Marriage”, de Andrew Jenson Historical Record, maio de
1887, pp. 225–226.
[23] Danel W. Bachman, “New Light on an Old Hypothesis: The Ohio Origins
of the Revelation on Eternal Marriage”, Journal of Mormon History, Volume 5
(1978), pp. 19–32.
[24] Doutrina e Convênios 132:1, 37.
[25] Agostinho, “The Excellence of Marriage” [ca. 401], trad. Ray Kearney,
em The Works of Saint Augustine: Marriage and Virginity, ed. John E. Rotelle,
Volume 9 (Hyde Park, NY: New City Press, 1999), p. 49, 51.
[26] Martinho Lutero, “Genesis: Chapter Sixteen,” em Luther’s Works, 54
Volumes, 3:45–46 (volume editado por Jaroslav Pelikan, traduzido por
George Schick)(St. Louis, MO: Concordia Publishing House, 1961).
[27] Martinho Lutero, “The Estate of Marriage” [1522], em Luther’s
Works, 45:24 (volume editado e traduzido por Walther I. Brandt) (Philadelphia:
Muhlenberg Press, 1962). Martinho Lutero recomendou que o rei Henrique
VIII praticasse o casamento plural, antes de divorciar de Catarina de Aragão.
Martinho Lutero para Robert Barnes, 3 de setembro de 1531, em Luther’s
Works, 54 Volumes., 50:33 (volume editado e traduzido por Gottfried G.
Krodel) (Philadelphia: Fortress Press, 1975).
[28] John Witte Jr. e Robert M. Kingdon, Sex, Marriage, and Family in John
Calvin’s Geneva: Volume 1: Courtship, Engagement, and Marriage (Grand
Rapids, MI: William B. Eerdmans, 2005), p. 223; John L. Thompson, “The
Immoralities of the Patriarchs in the History of Exegesis: A Reappraisal of
Calvin’s Position”, Calvin Theological Journal, Volume 26 (1991), pp. 9–46.
[29] A oposição de Calvino refletiu uma oposição muito mais antiga da parte
da Igreja Católica, que proibia a poligamia desde o início do século IV, e no
final da Idade Média escrevera a proibição no direito canônico (John
Witte, From Sacrament to Contract: Marriage, Religion, and Law in the
Western Tradition [Louisville, KY: Westminster University Press, 2012], 61,
pp. 99–100). Muitos norte-americanos viram o comportamento dos patriarcas
de forma relativista e progressiva: adequado em seu próprio lugar e tempo,
mas inapropriada para as pessoas que vivem em uma época mais
esclarecida. A respeito da associação anti-poligâmica com o racionalismo
iluminista, ver Nancy F. Cott, Public Vows: A History of Marriage and the
Nation(Cambridge, MA: Harvard University Press, 2000), pp. 18–23.
[30] Doutrina e Convênios 132:30, 37. Para mais informações a respeito do
tema, ver [Belinda Marden Pratt], Defense of Polygamy, by a Lady of Utah, in
a Letter to Her Sister in New Hampshire (1854), pp. 7–8.
[31] Doutrina e Convênios 132:32.
[32] Brian C. Hales, “Encouraging Joseph Smith to Practice Plural Marriage:
The Accounts of the Angel with a Drawn Sword”, Mormon Historical
Studies, Volume 11, nº 2 (outono de 2010), pp. 55–71.
[33] Quando os santos chegaram no Vale do Lago Salgado, pelo menos 196
homens e 521 mulheres começaram a prática do casamento plural. Ver
Hales, Joseph Smith’s Polygamy, 1:3, 2:165.
[34] Thompson, Esboço autobiográfico.
[35] Cook, Nauvoo Marriages, Proxy Sealings, 3. A conversão de Hyrum
Smith ao casamento plural é diversas vezes datada de 1842 ou 1843.
Sermão de Brigham Young, 8 de outubro de 1866, Historian’s Office reports
of speeches, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; Andrew F.
Ehat, A Holy Order: Joseph Smith, the Temple, and the 1844 Mormon
Succession Question (impresso pelo autor, 1990), pp. 28–32; Ruth Vose
Sayers, Affidavit, 1 de maio de 1869, Joseph F. Smith Affidavit Books, 5:9,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[36] Mercy Thompson, Testemunho, Igreja de Cristo em Missouri v. A Igreja
Reorganizada de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 70 F. 179 (8ª
Circunscrição 1895), em United States testimony 1892, transcrição, p. 247,
Biblioteca da História da Igreja, Salt Lake City.
[37] Deuteronômio 25:5–10.
[38] Thompson para Smith, 5 de setembro de 1883.
[39] Thompson, Testemunho, p. 239.
[40] Thompson para Smith, 5 de setembro de 1883; ver também Thompson,
Testemunho, p. 263.
[41] Um dos dons espirituais era “acreditar” no testemunho de outra pessoa.
Doutrina e Convênios 46:14.
[42] Thompson, Esboço autobiográfico. Para conhecer várias observações,
ver Mercy Fielding Thompson, “Recollections of the Prophet Joseph
Smith”, Juvenile Instructor, 1 de julho de 1892, pp. 398–400.
[43] Thompson, Testemunho, p. 248.
[44] Para exemplos, ver Tópicos do Evangelho, “O Casamento Plural em
Kirtland e Nauvoo”; lds.org /topics.
[45] Em conversas particulares, por exemplo, Joseph Smith com frequência
fazia propostas de casamento plural, falando na primeira pessoa do singular
(“Fui ordenado”) e, então, ensinava e argumentava com noivas em
perspectiva em vez de depender exclusivamente numa afirmação de
autoridade. Ver, por exemplo, Lucy Walker Kimball Smith, “A Brief
Biographical Sketch of the Life and Labors of Lucy Walker Kimball Smith”,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; Emily Dow Partridge Young,
Diário e memórias, Biblioteca da História da Igreja, Salt Lake City. Para
conhecer exemplos de mulheres que rejeitaram as propostas de Joseph
Smith e que permaneceram na Igreja sem qualquer repercussão negativa
aparente, ver Hales, Joseph Smith’s Polygamy, 1:274–275; 2:31, 120; Patricia
H. Stoker, “‘The Lord Has Been My Guide’: Cordelia Calista Morley Cox
(1823–1915)”, nas edições de Richard E. Turley Jr. e Brittany A.
Chapman, Women of Faith in the Latter Days: Volume 2, 1821–1845 (Salt
Lake City: Deseret Book, 2012), pp. 53–54.
[46] Thompson, Testemunho, pp. 250–251. Sobre o ponto de vista do
sacerdócio a respeito do casamento plural para as mulheres, ver Kathleen
Flake, “The Emotional and Priestly Logic of Plural Marriage” (2009), The
Arrington Lecture, nº 15.
[47] Thompson, Esboço autobiográfico.
[48] “Notice”, Times and Seasons, 15 de março de 1845, p. 847. O número
era provavelmente maior na época em que o Templo de Nauvoo foi dedicado
em dezembro de 1845.
[49] Thompson, Esboço autobiográfico; pontuação acrescentada.
[50] Doutrina e Convênios 132:19.
“Of Governments and Laws” [Relativa a Governos
e Leis]
D&C 134
Spencer W. McBride12 Outubro 2015
Na década de 1830, os líderes da Igreja precisavam conviver com um
cenário político complicado. Essa declaração relativa a governos,
canonizada em 1835, estabeleceu os princípios que guiam o
relacionamento da Igreja com os “poderes seculares existentes”.

Lyman Wight tinha orgulho do serviço militar de seu pai durante a


Guerra da Independência dos Estados Unidos. Para Wight, a vitória
americana naquele conflito tinha feito mais do que garantir a
independência dos Estados Unidos; ela havia assegurado direitos de
vida e liberdade para o povo americano. Wight acreditava que
aqueles valores eram o legado final da Guerra da Independência e,
para protegê-los, alistou-se para lutar na Guerra de 1812.

No entanto, a percepção otimista de Wight sobre esses ideais


americanos foi posta à prova duramente, a partir de suas
experiências como membro da Igreja, vivendo no Missouri durante os
anos 1830.

Quando ele e mais de mil outros santos dos últimos dias mudaram-se
entre 1831 e 1832 para o Condado de Jackson, Missouri, muitos
moradores do condado mostraram descontentamento com as crenças
mórmons e temeram por sua influência potencial junto aos políticos
locais. Mas ao invés de honrarem os direitos dos membros da Igreja
de adorar e votar de acordo com os ditames de sua consciência, os
moradores do Condado de Jackson decidiram usar de violência ilegal
para forçar os santos a abandonarem sua fé ou deixarem o condado.
Atuando como milícia, esses cidadãos do Missouri abusaram
fisicamente dos membros da Igreja que viviam no condado,
destruíram suas propriedades e posteriormente ordenaram que
partissem.1

Wight ficou assombrado com o fato de que os oficiais do governo


estadual e federal aceitassem e mesmo encorajassem tais ações
contra os membros da Igreja. Em uma petição ao Senado dos
Estados Unidos vários anos mais tarde, ele declarou que “seu pai
havia sido um soldado da revolução” e que aquelas violações aos
direitos dos membros da Igreja “não representavam a liberdade que
meu pai havia [concedido] a mim e a minha posteridade”.2 A petição
de Wight revelou a tensão entre a lealdade que ele sentia ao seu
país, seu desprezo pelas ações de muitos dos homens eleitos para
governar aquele condado e sua devoção a uma fé que ele sabia que
duraria mais do que todos os governos da terra.

Reparações
Da mesma forma que Lyman Wight, os líderes da Igreja tinham um
relacionamento complicado tanto com o governo estadual como com
o federal. Quando os membros da Igreja no Condado de Jackson
foram expulsos de suas casas em novembro de 1833, os líderes da
Igreja concluíram que os governos do Missouri e dos Estados Unidos
falharam em proteger os direitos civis dos santos no Missouri e
sentiram-se compelidos a protestar sobre as ações (e omissões) dos
oficiais eleitos que levaram à expulsão dos santos. Ao mesmo tempo,
deram início a uma série de apelos legais e políticos a esses mesmos
governos, para a reintegração de posse de suas propriedades e de
seus direitos civis no Condado de Jackson.

Alguns cidadãos proeminentes mostraram simpatia pela situação dos


santos, mas muitos outros olhavam com suspeita para os motivos dos
membros. O compromisso da Igreja para com a autoridade da
revelação e a rápida coligação dos membros em Ohio e no Missouri
levantou preocupações entre outros americanos de que a Igreja
pretendia estabelecer sua própria sociedade e ignorar as leis e a
autoridade dos Estados Unidos. Como poderiam os líderes da Igreja
protestar pelos maus-tratos do governo e ao mesmo tempo expressar
seu apoio ao governo constituído e até pedir ajuda a eles?

A Declaração
Em 17 de agosto de 1835, em meio às tentativas dos santos de
solicitar ajuda governamental, Oliver Cowdery e Sidney Rigdon
apresentaram aos membros da Igreja em Kirtland, Ohio, um
documento intitulado “Declaração de Crença Relativa a Governos e
Leis”. A declaração — que agora é a seção 134 de Doutrina e
Convênios — procurou expressar todas as preocupações dos
santos3 Ao declarar que “os governos foram instituídos por Deus em
benefício do homem” e que Deus considera os indivíduos
“responsáveis por seus atos”4como líderes governantes, a declaração
descrevia os governos civis como instituições seculares cujas ações
teriam consequências espirituais. Ao explicar que cada líder
governamental “deve ser respeitado em sua posição” e que “todos os
homens devem respeito e deferência às leis”,5 a declaração
enfatizava os ensinamentos da Igreja de que seus membros devem
ser cidadãos obedientes à lei e que contribuem para “a paz e a
harmonia”6 da sociedade onde residem. A declaração ressaltava que
o governo deveria garantir o direito de seus cidadãos de adorar de
acordo com os ditames de sua própria consciência e de que grupos
religiosos que sofressem maus-tratos por causa de suas crenças
religiosas estavam justificados em pleitear reparação ao governo.
Referindo-se indiretamente às experiências dos santos no Condado
de Jackson, a declaração insistia nos direitos dos cidadãos de se
defenderem contra a perseguição religiosa, se o governo não
respondesse a seus apelos por socorro.
D&C 134 em JosephSmithPapers.org
Os membros da Igreja aceitaram a declaração, que foi incluída na
primeira edição de Doutrina e Convênios. Ao contrário de outras
seções nesse livro onde Deus revela sua vontade aos santos, essa
seção consiste na explicação dos santos sobre sua perspectiva e
suas crenças ao público em geral. O crédito maior dessa declaração
é dado a Oliver Cowdery, que escreveu a respeito de muitos desses
assuntos em editoriais de jornais.7 Embora Joseph Smith estivesse
longe, no Território de Michigan, quando a declaração foi apresentada
à Igreja, ele aceitou-a e passou a referir-se a ela nos seus escritos e
sermões.8

Como a Declaração Foi Usada


Especialmente após 1838, quando os santos foram expulsos do
Missouri por ordem expressa do governador, Joseph e outros líderes
da Igreja invocaram os princípios da declaração ao pleitearem pelos
direitos civis dos membros da Igreja. Por exemplo, em 1840 quando
Joseph esteve no leste dos Estados Unidos pleiteando reparações
após o confisco das propriedades dos membros da Igreja no Missouri,
ele escreveu uma carta ao editor de um jornal na Pensilvânia, na qual
respondia a acusações feitas por alguns dos que combatiam a Igreja
naquela área. Ao compor a carta, no entanto, Joseph simplesmente
copiou o texto da declaração sobre o governo, substituindo “Eu creio”
por “Nós cremos”, em cada instância da declaração.9

Poucos meses depois, Joseph, Sidney Rigdon e Elias Higbee foram


ouvidos em uma audiência diante de um comitê de senadores dos
Estados Unidos a respeito das perseguições no Missouri. Naquela
audiência, o congressista John Jameson, do Missouri, tentou justificar
a violência contra os membros da Igreja, alegando que Joseph tinha
dado autoridade aos seus seguidores para ignorar as leis do país.
Elias Higbee negou enfaticamente essa alegação, declarando que a
Igreja “não pregava e nem acreditava nessa doutrina”, e direcionou o
comitê para a “Declaração de Crença Relativa a Governos e Leis” de
1835, em Doutrina e Convênios, como prova de que a Igreja “já tinha
publicado há tempos sua crença naquele assunto”.10 Esse comitê do
Senado indeferiu o pedido de reparação da Igreja pelas perseguições
sofridas, mas os líderes da Igreja mantiveram os valores descritos na
declaração.
Dois anos mais tarde, quando os líderes da Igreja escreveram a
famosa “Carta Wentworth” como uma descrição resumida da história
e das crenças da Igreja, os princípios estabelecidos na declaração de
governo inspiraram o conteúdo das duas declarações. Essas
declarações, atualmente conhecidas como a décima primeira e a
décima segunda Regras de Fé, afirmam a posição da Igreja sobre a
liberdade de todos os homens e mulheres adorarem a Deus de
acordo com os ditames de sua própria consciência e seus
ensinamentos de que os membros da Igreja estão sujeitos às
autoridades governamentais, devendo ser obedientes às leis do país
onde residem.11

Dai a César
Na década de 1830 os líderes da Igreja precisavam conviver com um
cenário político complicado, mas a situação deles foi sem
precedentes. Os grupos religiosos que buscaram estabelecer um
reino de Deus na terra sempre precisaram relacionar-se de forma
cuidadosa com os “poderes existentes”.12Jesus Cristo defrontou-Se
com desafios semelhantes durante Seu ministério mortal. Quando foi
acusado pelos judeus e pelas autoridades romanas de tentar usurpar
o poder político, Ele declarou que Seu “reino não era desse
mundo”13 e orientou seus discípulos: “Dai, pois, a César o que é de
César, e a Deus, o que é de Deus”.14 Nesse sentido, a “Declaração
de Crença Relativa a Governos e Leis” de 1835 repete a abordagem
de Jesus sobre edificar Sua Igreja dentro dos limites das nações
soberanas.

“Voluntariamente defendi meu país na última guerra [Guerra de


1812]”, escreveu Lyman Wight em 1839 numa petição ao Senado dos
Estados Unidos, “embora [não possa viver] no Estado do Missouri
sem renegar minha religião”. E assim, aquele que se considerava um
patriota lamentava-se por não “sentir satisfação em viver em um
cativeiro que se intitula um governo livre”.15 A petição de Wight
abrangeu um dos princípios básicos da “Declaração de Crença
Relativa a Governos e Leis” de que os membros da Igreja devem
fidelidade ao seu país, mas precisam, ao mesmo tempo, trabalhar
para formar governos que garantam a liberdade e os direitos de todos
os seus cidadãos.

Notas de rodapé
[1] Ver John Whitmer, “Carta de John Whitmer, 29 de julho de 1833”, Joseph
Smith Letterbook 2, pp. 52–56, josephsmithpapers.org.
[2] Lyman Wight, Petition to the United States Senate [Petição ao Senado dos
Estados Unidos], 1839, p. 3, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[3] “Declaração de Crença Relativa a Governos e Leis, 17 de agosto de 1835
[D&C 134]”, Doutrina e Convênios, edição de 1835, pp. 252–254,
josephsmithpapers.org.
[4] “Declaração de Crença Relativa a Governos e Leis, 17 de agosto de 1835
[D&C 134]“, p. 252.
[5] “Declaração de Crença Relativa a Governos e Leis, 17 de agosto de 1835
[D&C 134]“, p. 252.
[6] “Declaração de Crença Relativa a Governos e Leis, 17 de agosto de 1835
[D&C 134]“, p. 253.
[7] Oliver Cowdery, “Prospects of the Church” [Perspectivas da
Igreja], Evening and Morning Star, vol. 1, nº 10, março de 1833, pp. 151–153;
Oliver Cowdery, “To the Patrons of the Evening and the Morning Star [Aos
Leitores de A Estrela da Noite e da Manhã,” Evening and Morning Star, vol. 2,
nº 15, dezembro de 1833, pp. 125–126.
[8] “Doctrine and Covenants, 1835”, Historical Introduction,
josephsmithpapers.org.
[9] Joseph Smith, “Carta ao Editor, 22 de janeiro de 1840”,
josephsmithpapers.org.
[10] Elias Higbee, “Carta de Elias Higbee, 21 de fevereiro de 1840”, Joseph
Smith Letterbook 2, p. 100, josephsmithpapers.org.
[11] Joseph Smith, “History of the Church”, Times and Seasons, vol. 3, nº 9,
1º de março de 1842, p. 710; josephsmithpapers.org.
[12] Romanos 13:1.
[13] João 18:36.
[14] Mateus 22:21.
[15] Lyman Wight, Petition to the United States Senate [Petição ao Senado
dos Estados Unidos], p. 4.
Lembrar-se do Martírio
D&C 135
Jeffrey Mahas28 Março 2016

A notícia da morte violenta dos dois irmãos chocou os santos em


Nauvoo. Em um dia, eles perderam o profeta e o patriarca. Para
muitos, Joseph e Hyrum também eram amigos e exemplos, homens
que os haviam ajudado e abençoado em momentos de necessidade.
Nos dias, semanas e meses que se seguiram ao martírio, os santos
prestaram homenagens por escrito.

Quando Joseph e Hyrum Smith foram para a cadeia em Carthage,


Illinois, para esperar por uma audiência, alguns suspeitaram que os
dois estivessem deixando o lar pela última vez. Joseph já havia
enfrentado prisão, violência das turbas e ameaça de morte e sempre
havia voltado para liderar os santos. Hyrum também havia enfrentado
períodos de perseguição com os santos e todas as vezes se reergueu
e seguiu em frente.

Mas no final da tarde de 27 de junho de 1844, uma multidão


enfurecida invadiu a Cadeia de Carthage e assassinou os dois.

A notícia da morte violenta dos dois irmãos chocou os santos em


Nauvoo. Em um dia, eles perderam o profeta e o patriarca. Para
muitos, Joseph e Hyrum também eram amigos e exemplos, homens
que os haviam ajudado e abençoado em momentos de necessidade.
Nos dias, semanas e meses que se seguiram ao martírio, os santos
tiveram dificuldade para descrever o que sentiam em relação às
mortes.1 As cartas, os diários e os escritos públicos deles
permanecem juntamente com as homenagens impressas a Joseph e
Hyrum, assim como a que agora está canonizada em Doutrina e
Convênios 135, como testemunhas da missão dos dois homens que
serviram tão fielmente e depois selaram o testemunho deles com o
próprio sangue.

Cartas
Muitos santos dos últimos dias em Nauvoo tinham amigos e familiares
que estavam longe da cidade na ocasião do martírio. Eles tiveram a
tarefa difícil de dar a notícia aos entes queridos.

“Não vou tentar descrever a cena que está diante de nossos olhos”,
Vilate Kimball escreveu para o marido, Heber, que estava no leste
dos Estados Unidos promovendo a campanha presidencial de
Joseph. “Deus ajude para que eu nunca tenha que testemunhar algo
assim novamente. (…) Cada coração está cheio de tristeza e todas as
ruas de Nauvoo parecem lamentar.” Assim como muitos outros, ela
também expressou preocupação com as ameaças contínuas de
violência contra os santos.

“Quando isso vai acabar”, informou ela a Heber, “só o Senhor sabe”.2

Almira Mack Covey, uma prima dos irmãos Smith, escreveu para sua
família sobre ver o corpo de Joseph e Hyrum voltar para Nauvoo.
“Vocês podem imaginar quais foram nossos sentimentos melhor do
que podemos descrevê-los”, escreveu ela, “mas posso dizer que não
havia um olho sequer sem lágrimas naquela grande multidão. Até
uma pessoa de coração duro teria sido tocada ao ver os profetas do
Senhor daquele jeito.”3

Sarah M. Kimball, que havia desempenhado um papel fundamental


na organização da Sociedade de Socorro, também estava entre os
que viram os corpos voltarem à cidade. “A cena da recepção
daqueles corpos em Nauvoo pode ser melhor imaginada do que
descrita”, escreveu ela a um amigo, “porque ninguém poderia
transmitir a emoção da situação em palavras”. Embora tenha sido
impossível transmitir a dor da cidade inteira, Kimball tentou descrever
a dor de uma mulher: no dia que se seguiu ao assassinato, ela
encontrou-se com Lucy Mack Smith. Sarah Kimball lembrou-se de
segurar as mãos trêmulas de Lucy Mack Smith e ouvir as perguntas
dela em meio ao choro, “Como eles puderam matar meus meninos,
oh como eles puderam matá-los se eles eram tão preciosos?”4

Diários
Outros amigos tentaram registrar detalhes sobre o martírio e o que
sentiam escrevendo trechos reflexivos nos diários. Em vez de tratar
do momento e das preocupações imediatas, como as cartas
frequentemente fazem, os trechos dos diários tentavam registrar
detalhes valiosos para as gerações futuras e ver a tragédia com uma
perspectiva espiritual. Ao buscar uma explicação ou um precedente
para a perda de seus líderes, os santos com frequência procuravam
respostas na Bíblia. Muitos comparavam os assassinatos aos
acontecimentos bíblicos, da morte de Abel à Crucificação de Jesus
Cristo. Eles igualavam Joseph e Hyrum aos muitos mártires “que
foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do
testemunho que deram” mencionado no livro de Apocalipse. Eles
também acreditavam que os dois irmãos estavam agora entre
aqueles que suplicavam ao céu: “E clamavam com grande voz,
dizendo: Até quando, ó Senhor, santo e verdadeiro, não julgas e
vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra?”5

Os acontecimentos em Carthage levaram Joseph Fielding a encher


várias páginas de seu diário com comentários sobre a vida, missão e
morte de Joseph Smith. Fielding escreveu que a chegada do corpo
dos dois mártires “foi a cena mais solene que meus olhos já viram”.
Embora “tivesse lido com frequência sobre os mártires da
antiguidade”, Fielding escreveu que agora ele era uma testemunha
pois “dois dos maiores homens haviam selado com o próprio sangue
a verdade que haviam recebido e ensinado”. No final, acreditava ele,
Joseph e Hyrum estariam “merecidamente entre os mártires de Jesus
Cristo”.

Além de olhar para os mártires do passado em busca de


entendimento, Fielding escreveu sobre a obra do Senhor no futuro.
“Joseph e Hyrum fizeram tudo o que eles poderiam ter feito”,
escreveu ele, “e o alicerce da grande obra dos últimos dias foi
estabelecido”. Edificada sobre esse alicerce, Fielding tinha certeza de
que a obra pela qual Joseph e Hyrum haviam vivido e morrido
“poderia ser concluída pelos 12 apóstolos que haviam sido instruídos
em todos os assuntos pertinentes ao reino de Deus na Terra”.6

Zina Huntington Jacobs, que havia sido selada a Joseph em um


casamento plural, registrou o choque que teve ao ver “o corpo dos
dois mártires sem vida”, observando que “meu coração jamais
imaginou que meus olhos testemunhariam cena tão terrível”.7 No
diário dela, Jacobs avaliou os efeitos negativos do martírio para a
família daqueles homens, a comunidade e a humanidade assim como
para a Igreja, descrevendo Joseph e Hyrum não apenas como “o
profeta e o patriarca na Igreja dos Santos dos Últimos Dias”, mas
também como “maridos bondosos”, “pais carinhosos”, “estadistas
veneráveis” e “amigos da humanidade”.

Para Jacobs, o assassinato de Joseph e Hyrum foi uma evidência da


iniquidade do mundo. No diário, ela orou para que Deus
reconhecesse “o sangue inocente que havia sido derramado” e
perguntou “por quanto tempo as viúvas lamentam e os órfãos choram
antes que castigues a Terra e faça com que a iniquidade
cesse?”8 Em 4 de julho, cerca de uma semana após o martírio,
Jacobs observou que era o Dia da Independência dos Estados
Unidos, e ela contrastou a promessa da liberdade e justiça americana
com o assassinato brutal dos dois irmãos. “A nobre bandeira da
liberdade caiu”, escreveu ela. “A nação que se orgulha de ser livre
está agora manchada com sangue inocente”.9

William Clayton, um imigrante britânico e um dos secretários de


Joseph Smith escreveu em seu diário um registro minucioso de como
Joseph e Hyrum foram mortos, um relato composto de entrevistas
com Willard Richards, John Taylor e outros que estavam com eles.
Depois de examinar as evidências, Clayton colocou a maior parte da
culpa pelos assassinatos nos oficiais do governo, inclusive no
governador de Illinois, Thomas Ford. “Ele havia prometido que a sua
fé e a fé do estado deveriam ser protegidas de todo o mal”, observou
Clayton. E a milícia que deveria proteger Joseph e Hyrum havia
colaborado com a turba. Assim como Zina Jacobs, Clayton viu uma
grande diferença entre os ideais de liberdade religiosa americana e a
realidade que os santos estavam enfrentando. “A liberdade fugiu de
nós”, escreveu ele. Acrescentou ainda que “não haveria
comemoração pública em Nauvoo em 4 de julho.10 Como sua fé na
nação estava abalada, Clayton voltou-se para Deus. “Confiamos em ti
por justiça”,11escreveu.

Poesia
Alguns santos dos últimos dias compartilharam sua reação
publicando poesias no Times and Seasons, jornal publicado pela
Igreja. Os autores incluíam poetas renomados como Eliza R. Snow,
William W. Phelps, John Taylor e Parley P. Pratt e também santos
dos últimos dias anônimos.12 Escritores diferentes exprimiam
emoções diferentes. “Hoje ao Profeta Louvemos” de William W.
Phelps ressalta o legado que Joseph deixou e o trabalho que ele
aguardava fazer do outro lado do véu. “O Give Me Back My Prophet
Dear [Devolva Meu Querido Profeta]” de John Taylor falava com
saudade sobre a perda dos dois líderes queridos. Esses e alguns
outros poemas foram publicados como letras para melodias populares
sugeridas. Alguns foram mais tarde incluídos nos hinários santos dos
últimos dias e são cantados até hoje.13

Muitos dos poemas misturam a dor e o ultraje dos assassinatos com


referências aos mártires do passado, mesmo Jesus Cristo. Em seu
poema publicado na edição de 1º de julho de 1844 do Times and
Seasons que anunciou o assassinato, Eliza R. Snow escreveu:

Chora Sião! Pranteia o teu comandante! Não vive mais o Profeta,


teu Patriarca caiu! Nunca depois do Calvário neste mundo se viu
Entre homens nem demônios um outro ato tão vil. Como esse que
ceifou a vida dos dois irmãos! Sempre amigos, sempre unidos
enfrentaram sua sorte.
O amor que os uniu na vida não cedeu à própria morte.
À sua missão leais até o último alento, Selaram com o próprio
sangue o derradeiro testamento.14

Editoriais
À medida que muitos santos escreviam e compartilhavam seus
sentimentos em relação à tragédia por meio de cartas, diários e
poemas, os líderes e representantes da Igreja sentiram-se obrigados
a relatar e comentar sobre as mortes em editoriais, buscando assim
fornecer notícias e consolo aos santos dos últimos dias em todos os
lugares. Em 1º de julho, os Apóstolos Willard Richards e John Taylor,
que estavam com os irmãos na Cadeia de Carthage quando a turba
atacou, anexaram seus nomes a uma nota no Times and
Seasons feita pelo editor do jornal William W. Phelps. O editorial
deles instava os santos dos últimos dias a “permanecer fiéis à fé que
haviam recebido nos últimos dias” e colocava Joseph e Hyrum juntos
em uma longa lista de mártires da bíblia. Os três homens
relembravam os santos dos últimos dias de que “o assassinato de
Abel; o assassinato de centenas; o sangue justo de todos os santos
profetas, de Abel a Joseph, misturado com o melhor sangue do Filho
de Deus, como o sinal vermelho da redução da punição, apenas leva
à convicção de toda a carne de que a causa é justa e vai continuar; e
abençoados são aqueles que permanecem fiéis até o fim”.15

Na edição seguinte do Times and Seasons, Phelps publicou um


editorial mais longo sobre os assassinatos que incluía um relato das
palavras do Profeta Joseph ao deixar Carthage. “Vou como um
cordeiro para o matadouro”, disse o profeta, “mas estou calmo como
uma manhã de verão; tenho a consciência limpa em relação a Deus e
em relação a todos os homens. Morrerei inocente”. Phelps também
relatou que “as últimas palavras de Joseph foram ‘Ó Senhor meu
Deus! ’”16 Na mesma época em que Phelps publicou seu editorial,
Willard Richards escreveu seu próprio relato detalhado dos
assassinatos, que incluía pela primeira vez o relato das últimas
palavras de Hyrum: “Sou um homem morto”. O relato de Richard foi
publicado em 24 de julho de 1844 no jornal local de Nauvoo.17

Doutrina e Convênios
Embora muitos observadores de fora esperassem o colapso da Igreja
depois do assassinato de Joseph e Hyrum, o trabalho da Igreja
continuou a despeito das mortes. Nos últimos dois anos da vida de
Joseph, os líderes da Igreja estavam trabalhando em uma nova
edição de Doutrina e Convênios. Pouco antes da morte de Joseph e
Hyrum, eles haviam anunciado que a data prevista para a publicação
seria na metade de julho de 1844.18

A publicação foi adiada por pouco tempo devido à agitação antes e


depois dos acontecimentos na Cadeia de Carthage. Pouco depois do
martírio, foi tomada a decisão de ir em frente com a impressão mas
acrescentar uma seção final para “encerrar” o livro com uma
declaração sobre as mortes. A declaração foi escrita provavelmente
em julho ou agosto e o livro foi publicado e distribuído em
setembro.19 A declaração intitulada “O Martírio de Joseph Smith e
Hyrum Smith” foi canonizada como Doutrina e Convênios 135.

Desde pelo menos o início do século 20, comentaristas e líderes da


Igreja concordam que a declaração foi escrita por John Taylor, um
apóstolo e o chefe da tipografia.20 A seção nunca foi atribuída a John
Taylor durante sua vida, entretanto, pode ter sido o trabalho de
Taylor, Richards e Phelps ou outro colaborador da tipografia de
Nauvoo. A despeito da autoria, a declaração refletia bastante os
testemunhos oculares de Taylor e Richards e citava os primeiros
editoriais e notas de jornais publicados pela Igreja que eles ajudaram
a escrever. Assim como aqueles primeiros relatos publicados, essa
declaração ecoou temas do martírio, da inocência e do julgamento
divino, temas que também apareceram nos escritos dos santos dos
últimos dias.

Como os tipógrafos tinham que fazer a declaração caber em um


exemplar já formatado (embora não impresso ainda), a seção foi
impressa em uma fonte bem menor que o restante do livro, ajustada à
página e com metade do espaço em branco entre a seção anterior e o
índice. Como resultado de ter sido colocada em Doutrina e
Convênios, essa declaração foi amplamente lida e citada e tornou-se
o epitáfio de Joseph Smith e seu irmão Hyrum.

Notas de rodapé
[1] Ver Samuel Morris Brown, In Heaven as It Is on Earth: Joseph Smith and
the Early Mormon Conquest of Death (New York: Oxford University Press,
2012), pp. 287–298.
[2] Carta de Vilate M. Kimball para Heber C. Kimball, 30 de junho de 1844,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[3] Carta de Almira M. Covey para Harriet Mack Whittemore, 18 de julho de
1844, Harriet Mack Whittemore Correspondence, Biblioteca de História da
Igreja, Salt Lake City; utilização de maiúsculas atualizadas.
[4] Carta de Sarah M. Kimball para Sarepta Heywood, cerca de 1844, Joseph
L. Heywood Letters, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; pontuação
atualizada.
[5] Apocalipse 6:9–10.
[6] Diário de Joseph Fielding, dezembro de 1843–março de 1859, pp. 47–51,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
[7] Diário de Zina D. H. Young, 28 de junho de 1844, Biblioteca de História da
Igreja, Salt Lake City.
[8] Diário de Zina D. H. Young, 26 de junho de 1844.
[9] Diário de Zina D. H. Young, 4 de julho de 1844.
[10] Diário de William Clayton, 4 de julho de 1844, citado em James B.
Allen, No Toil nor Labor Fear: The Story of William Clayton (Provo, Utah:
Brigham Young University Press, 2002), p. 149.
[11] Diário de William Clayton, 28 de junho de 1844, citado em Allen, No Toil
nor Labor Fear, p. 137.
[12] Ver Davis Bitton, “The Martyrdom of Joseph Smith in Early Mormon
Writings”, editores Roger D. Launius e John E. Hallwas, Kingdom on the
Mississippi Revisited: Nauvoo in Mormon History (Urbana e Chicago:
University of Illinois Press, 1996), pp. 181–197; ver também Benjamin E.
Park, “‘We Announce the Martyrdom’: The Murder of Joseph Smith as
Portrayed in Times and Seasons Poetry”, Seleções do Simpósio de Ensino
Religioso 2008 (Provo, Utah: Centro de Estudos Religiosos da Universidade
Brigham Young, 2008), pp. 34–47.
[13] “Joseph Smith”, Times and Seasons, vol. 5, no. 14, 1º de agosto de 1844,
p. 607; John Taylor, “The Seer”, Times and Seasons, vol. 5, no. 24, 1º de
janeiro de 1845, p. 775; “Poetry”, Times and Seasons, vol. 6, no. 14, 1º de
agosto de 1845, p. 991; Sacred Hymns and Spiritual Songs for The Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints, 19ª ed. (Liverpool, England: George
Teasdale, 1889), pp. 89, 278, 314.
[14] Eliza R. Snow, “The Assassination of Gen’ls Joseph Smith and Hyrum
Smith”, Times and Seasons, vol. 5, no. 12, 1º de julho de 1844, p. 575.
[15] W. W. Phelps, Willard Richards e John Taylor, “To The Church of Jesus
Christ of Latter Day Saints”, Times and Seasons, vol. 5, no. 12, 1º de julho de
1844, p. 568.
[16] “The Murder”, Times and Seasons, vol. 5, no. 13, 15 de julho de 1844, p.
585.
[17] Willard Richards, “Two Minutes in Jail”, Nauvoo Neighbor, 24 de julho de
1844, p. 3.
[18] Ver “Book of Doctrine and Covenants”, Times and Seasons, vol. 3, no. 5,
1º de janeiro de 1842, p. 639; ver também “Notice”, 11 de junho de 1844,
no Nauvoo Neighbor, vol. 2, no. 9, 26 de junho de 1844, p. 4.
[19] Peter Crawley, A Descriptive Bibliography of the Mormon Church, Volume
One 1830–1847(Provo, Utah: Centro de Estudos Religiosos da Universidade
Brigham Young, 1997), p. 279.
[20] Ver Robert J. Woodford, “The Historical Development of the Doctrine and
Covenants” [O Desenvolvimento Histórico de Doutrina e Convênios],
volume 1 (dissertação de doutorado, Universidade Brigham Young, 1974), p.
1794.
“Este Será Nosso Convênio”
D&C 136
Chad M. Orton25 Fevereiro 2015

A “Palavra e a Vontade do Senhor” para Brigham Young, em 1847,


não só ajudou a preparar a jornada dos pioneiros rumo ao oeste, mas
também fez com que uma difícil necessidade se transformasse em
uma experiência espiritual profunda.

Em fevereiro de 1846, Brigham Young conduziu uma companhia de


vanguarda de 300 homens escolhidos através do Rio Mississippi
congelado. Na época, seu plano era alcançar um lugar de refúgio nas
Montanhas Rochosas no próximo verão e fazer plantações para
alimentar os que viriam depois. Mas os meses seguintes não
correram conforme o planejado. Chuvas torrenciais fizeram com que
os riachos e os rios subissem muito acima dos níveis normais
transformando as planícies de Iowa em atoleiros enlameados. Ao
mesmo tempo, mais de mil santos, muitos deles mal preparados para
a viagem, insistiram em se juntar à companhia avançada, desejando
estar perto dos líderes da Igreja em uma época de incertezas. O
progresso se tornou tão lento que Brigham Young desistiu de chegar
ao destino previsto naquele ano e, em vez disso, estabeleceu Winter
Quarters, às margens do Rio Missouri.
Além desse primeiro grupo de pioneiros, milhares de outros santos
partiram de Nauvoo, a maioria de acordo com o que havia sido
determinado. No outono de 1846, mais de 7.000 pessoas viviam em
Winter Quarters em cavernas, carroções, casebres improvisados e
abrigos construídos às pressas. Outras 3.000 pessoas passaram o
inverno em vários lugares ao longo da trilha em condições
semelhantes. Muitos estavam doentes devido à desnutrição e à
exposição ao frio, e alguns passavam por uma crise de fé. Essas
circunstâncias difíceis fizeram com que o inverno de 1846 se tornasse
um dos momentos mais difíceis da vida de Brigham Young. Ele se
sentia “como um pai com muitos filhos ao seu redor” e mais tarde ele
relembrou que as responsabilidades recaíam sobre ele como um
“peso de 25 toneladas”.1
“Em janeiro de 1847, ele havia perdido tanto peso que suas roupas
não lhe serviam mais. ”
Em janeiro de 1847, ele havia perdido tanto peso que suas roupas
não lhe serviam mais. Ele se preocupava com os santos,
aconselhava-se sobre o que fazer e orava pedindo orientação divina.
E então, em 14 de janeiro de 1847 a resposta veio. Dois dias mais
tarde, Brigham Young convidou os santos a aceitar a “Palavra e a
Vontade do Senhor” (D&C 136).2Como a revelação começa dirigindo-
se “ao acampamento de Israel em suas viagens para o oeste” (D&C
136:1), algumas pessoas presumiram que a revelação era um simples
manual de instruções para organizar as companhias de pioneiros, e
subestimaram o papel que ela desempenhava orientando Brigham
Young e a Igreja. Ao ajudar os santos a se lembrarem de que sua
atitude durante a jornada era tão importante quanto o seu destino, a
revelação fez com que a migração rumo ao oeste deixasse de ser
uma dura necessidade e se transformasse em uma importante
experiência espiritual.

Receber a Notícia
Tendo recebido resposta às suas orações, Brigham Young
imediatamente começou a trabalhar para garantir que os santos
soubessem, com certeza, o que o Senhor esperava deles. Joseph
Smith já havia ensinado muitos princípios encontrados na revelação,
mas eles nem sempre foram uma parte importante do êxodo de 1846.
Embora alguns santos houvessem ignorado conselhos
deliberadamente durante a jornada do ano anterior, muitos outros não
haviam sido suficientemente ensinados. Brigham pediu a ajuda de
outros apóstolos para ensinar os princípios revelados, conforme
ordenado na revelação.3 Ao tomar conhecimento da revelação,
Horace Eldredge concluiu “que seu cumprimento os levaria à
salvação”.4 Hosea Stout observou que a obediência à revelação traria
a calma e a união necessárias para enfrentarem provações
inesperadas e colocaria “um fim às disputas selvagens” que haviam
complicado a jornada em Iowa.5 Como eles colocaram sua confiança
na palavra revelada, o povo não tinha mais a urgência de viajar com
os Doze. Os Doze, por sua vez, ficaram livres para prover a liderança
da Igreja, em vez de se preocupar com o dia a dia de um grupo
específico.

Durante o acampamento de Sião em 1834, Joseph Smith tinha usado


um modelo de organização de uma presidência de três, com capitães
de cem, cinquenta e dez. Brigham Young tentou implementar esse
padrão antes de os santos partirem de Nauvoo, mas não foi uma alta
prioridade. Ora, em 1847, a maneira como os santos estavam
organizados se tornaria tão importante que, mesmo antes de Brigham
terminar de escrever a revelação, ele propôs “que cartas fossem
escritas para instruir [os] irmãos como organizar as companhias de
emigração”.6

Além de nomear capitães, Brigham supervisionou mais duas


mudanças organizacionais. O tamanho de uma companhia era de no
máximo cem carroções. E assim que as pessoas se tornavam parte
de uma companhia, esperava-se que elas viajassem juntas durante
toda a jornada. Essas mudanças foram significativas, deixando para
trás a falta de organização que caracterizou o êxodo dos santos
através de Iowa. Embora nem sempre fosse o ideal, a partir de 1847,
o êxodo Mórmon tornou-se “a jornada mais cuidadosamente
orquestrada, deliberadamente planejada e altamente organizada em
toda a história americana”, em contraste com o movimento caótico tão
comum entre as companhias dos emigrantes não membros da Igreja,
que também estavam indo para o oeste.7

Além de garantir que os santos fossem organizados de acordo com a


palavra do Senhor, Brigham Young e os Doze apóstolos
comprometeram-se a ensinar os santos a viver de acordo com a
vontade do Senhor. Brigham compreendeu que, em vez de
simplesmente abrir uma trilha para que outros a seguissem, a
companhia de vanguarda de 1847 estava estabelecendo um caminho
do convênio. Assim, todos aqueles que iriam fazer a jornada deveriam
viajar com “o convênio e a promessa de guardar todos os
mandamentos e estatutos do Senhor” (D&C 136:2). A revelação
declara ainda: “E este será nosso convênio: Caminharemos de
acordo com todas as ordenanças do Senhor” (D&C 136:4).

“Brigham Young compreendeu que, em vez de simplesmente abrir


uma trilha para que outros a seguissem, a companhia de vanguarda
de 1847 estava estabelecendo um caminho do convênio. ”
Durante os meses que antecederam o êxodo de Nauvoo, os líderes
da Igreja haviam feito um esforço concentrado para assegurar que o
maior número possível de santos fizessem convênios sagrados
participando das ordenanças do templo. Se eles se esforçassem para
guardar os convênios e viver os mandamentos, poderiam invocar o
prometido “poder do alto” para abençoá-los e ajudá-los.8 O Senhor
ainda lembrou aos santos: “Eu sou aquele que tirou os filhos de Israel
da terra do Egito; e meu braço estende-se nos últimos dias, para
salvar meu povo Israel” (D&C 136:22).9Outra característica que
define o caminho do convênio incluía o lembrete para que os santos
ajudassem os necessitados assumindo “a responsabilidade
proporcional ao valor de seus bens”. O encargo também incluía a
promessa do Senhor aos santos se eles o fizessem voluntariamente:
“Sereis abençoados em vossos rebanhos e em vossas manadas e em
vossos campos e em vossas casas e em vossas famílias” (D&C
136:8,11).10 As virtudes da paciência, da humildade e da gratidão ao
cumprir os convênios e atender às mordomias temporais descritas na
revelação também ajudariam os pioneiros a se estabelecer no
deserto, com novos lares e comunidades, lançando o alicerce para a
Igreja destinada a encher o mundo.11

Trilhando o Caminho do Convênio


Com esse novo entendimento a energia foi renovada. Como o povo
de Deus, eles tiveram o privilégio e a responsabilidade de fazer a
viagem de modo diferente. A falta de preparo físico e de comida
foram os grandes problemas durante a jornada dos santos em Iowa.
Agora Brigham acreditava que o sucesso diante do desafio dependia
menos do potencial humano, dos mapas, dos carroções ou dos
suprimentos, e mais de dar ouvidos à palavra e à vontade do Senhor.
O Senhor poderia fazer chover maná nas planícies da América, se
necessário, contanto que os santos depositassem sua confiança
Nele. Os santos não precisavam sobrecarregar os carroções com
medo.12 Para reforçar este ponto, Brigham Young reduziu a
companhia de vanguarda a apenas 144 homens e os instruiu a levar
apenas 45 quilos de alimentos por pessoa em sua jornada para o
deserto.13 Todos os “que não tinham fé para iniciar a jornada com
essa quantidade” podiam ficar em Winter Quarters, ele
declarou.14 Ele “advertiu todos os que pretendiam continuar até as
montanhas de que a iniquidade não seria tolerada no Acampamento
de Israel” e declarou: “Eu não queria que ninguém se unisse à minha
companhia a menos que obedecesse à palavra e à vontade do
Senhor, vivesse honestamente e ajudasse a edificar o reino de
Deus”.15

Alguns dias após receber a “Palavra e a Vontade do Senhor”,


Brigham propôs a realização de um evento social para mostrar “ao
mundo que este povo pode fazer o que Deus ordenou”. A dança era
geralmente considerada uma forma imoral de recreação na América
do século 19, mas Brigham ensinou à companhia de vanguarda: “Não
faz mal algum um pouco de dança ou alegria se os irmãos souberem
quando parar” e nunca “esquecerem o objetivo dessa jornada”.16 Ao
convidar os santos para dançar, Brigham estava obedecendo a um
conselho revelado: “Se estiveres alegre, louva ao Senhor com
cânticos, com música, com dança, e com orações de louvor e ação de
graças” (D&C 136:28).
“Ao convidar os santos para dançar, Brigham Young estava
obedecendo a um conselho revelado: ‘Se estiveres alegre, louva ao
Senhor com cânticos, com música, com dança, e com orações de
louvor e ação de graças’. ”
Com os preparativos feitos, Brigham sentiu-se confiante de que o
Senhor iria ajudá-los, mesmo nas circunstâncias além de seu
controle. Quando as pessoas da companhia avançada expressaram a
preocupação de que eles podiam não chegar a seu destino a tempo
de plantar, Brigham declarou: “Bem, suponham que não
conseguiremos. Faremos tudo o que pudermos e viajaremos o mais
rápido que nossas juntas de bois forem capazes”. Se os santos
“fizessem tudo o que podiam”, ele se sentiria “tão satisfeito quanto se
[eles] tivessem mil hectares plantados com grãos. O Senhor faria o
resto”.17 Ele prosseguiu: “Nunca senti minha mente mais clara do que
nessa jornada. A minha paz é como um rio entre mim e meu Deus”.18

Um Tempo de Aprendizado
A jornada de Winter Quarters até o Vale do Lago Salgado tornou-se
um período de treinamento para os líderes e para todos os membros
da Igreja. George A. Smith sentiu que os participantes “lembrariam-se
dessa jornada como uma das maiores escolas em que já estiveram”,
enquanto Wilford Woodruff escreveu: “Estamos agora em um lugar
em que estamos provando a nós mesmos”.19 Para Brigham Young e
os santos, a jornada tornou-se tanto uma chance de provar sua fé por
meio da obediência aos conselhos quanto um exercício de provar o
Senhor. A notável mudança entre os santos após a revelação inspirou
William Clayton a observar: “Realmente parecia que a nuvem tinha se
dissipado, e havia surgido um novo elemento, uma nova atmosfera e
uma nova sociedade”.20

A jornada da companhia de vanguarda, de 1847, não foi isenta de


dificuldades, mesmo com o compromisso renovado dos santos. O
plano inicial era partir “um mês antes de a grama crescer”, mas, no
mais tardar, até 15 de março.21 No entanto, a primavera foi tardia, e a
grama começou a crescer várias semanas depois que o normal.
Como resultado do frio fora de época, a companhia não pôde deixar o
local marcado até meados de abril.22 O entusiasmo do início da
viagem foi logo mesclado à realidade das noites geladas, dos prados
varridos pelos ventos, das difíceis travessias de rio, da perda do gado
e dos dias cheios de longas e monótonas viagens.

Às vezes Brigham Young, tendo se comprometido ardorosamente


com os princípios da revelação, ficava frustrado com o
comportamento de alguns membros da companhia. No final de maio,
ele leu “a Palavra e a Vontade do Senhor” para a companhia e
“expressou seus pontos de vista e sentimentos (…) de que eles
estavam esquecendo-se de sua missão”. Ele também proclamou que
“preferia viajar com dez homens justos que guardassem os
mandamentos de Deus do que com todo o acampamento, se eles
fossem descuidados e se esquecessem de Deus”.23 No dia seguinte,
ele declarou que queria que a companhia “fizesse o convênio de se
voltar para o Senhor com todo o coração”. Ele os lembrou de agir
como um povo do convênio: “Já disse muitas coisas para os irmãos
sobre seu comportamento e sua conduta rigorosa quando deixamos
os gentios. (…) Se não nos arrependermos e vencermos a iniquidade,
teremos mais obstáculos do que tivemos e tempestades piores pela
frente”. Depois de reprová-los com firmeza, ele então “com muito
carinho abençoou os irmãos e orou para que Deus os capacitasse a
cumprir seus convênios”.24

A imigração de 1847 foi muito diferente da imigração do ano anterior.


Enquanto a companhia de vanguarda havia viajado menos de 480
quilômetros em 1846 — uma média de pouco mais de três
quilômetros por dia —, a primeira companhia de pioneiros viajou mais
de 1.600 quilômetros em 111 dias, em média, mais de quatro vezes o
que era percorrido por dia no ano anterior.

“A imigração de 1847 foi muito diferente da imigração do ano


anterior. ”
Muitos têm atribuído o sucesso da migração Mórmon à liderança
pessoal de Brigham Young, mas ele prontamente reconheceu a mão
de Deus no trabalho. “O que eu sei”, disse ele, “recebi dos céus. (…)
Os homens falam sobre o que foi realizado sob minha direção e
atribuem à minha sabedoria e habilidade; mas tudo veio pelo poder
de Deus e pela inteligência recebida Dele”.25 Como resultado das
lições aprendidas em 1847, a ansiedade que Brigham Young sentiu
em Winter Quarters desapareceu. Tendo posto à prova a palavra e a
vontade do Senhor e tendo posteriormente incorporado esses
princípios em sua vida, ele mais tarde encontrou-se “cheio de paz, de
dia e de noite” e dormia tão “profundamente como uma criança
saudável no colo da mãe”.26

Notas de rodapé
[1] Carta de Brigham Young a Jesse C. Little, 26 de fevereiro de 1847,
arquivos do escritório de Brigham Young, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City; Sermão de Brigham Young, 31 de julho de 1853, conforme
publicado no Journal of Discourses, 26 vols., (Londres: Latter-day Book
Depot, 1855–1886), vol. I, p. 166. Durante esse período, Brigham Young foi
descrito da seguinte maneira: “Nosso Presidente [não] hesita em nada que
promova a coligação de Israel, ou a causa de Sião nestes últimos dias; ele
dorme com um olho aberto e um pé fora da cama, e quando algo é requerido,
ele está pronto” (Escritório do Historiador, History of the Church, 7 de janeiro
de 1847, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City).
[2] Escritório do Historiador, History of the Church, 16 de janeiro de 1847.
[3] Escritório do Historiador, History of the Church, 27 de janeiro de 1847.
[4] Escritório do Historiador, History of the Church, 16 de janeiro de 1847.
[5] Diário de Hosea Stout, 14 de janeiro de 1847, conforme publicado em On
the Mormon Frontier: The Diary of Hosea Stout, 2 vols., comp. Juanita Brooks
(Salt Lake City: University of Utah Press e Utah State Historical Society,
1964), vol. I, p. 229.
[6] Escritório do Historiador, History of the Church, 14 de janeiro de 1847.
[7] Richard E. Bennett, We’ll Find the Place: The Mormons Exodus, 1846–
1848 (Salt Lake City: Deseret Book, 1997), p. 73.
[8] Doutrina e Convênios 95:8.
[9] Embora a revelação unisse os santos à antiga Israel, ela também fazia
uma ligação com a jornada de Leí e Néfi, na qual o Senhor fez uma
proclamação semelhante: “Se guardardes meus mandamentos, prosperarás e
serás conduzido a uma terra de promissão; (…) e prepararei o caminho a
vossa frente, se guardares meus mandamentos; portanto, se guardardes
meus mandamentos sereis conduzidos à terra da promissão; e sabereis que
sois conduzidos por mim. Sim, (…) e que eu, o Senhor, vos salvei” (1 Néfi
2:20; 17:13–14). A referência aos convênios e à obediência, porém, também
serviu como uma advertência. Depois que os santos falharam em redimir
Sião, em 1834, o Senhor declarou: “Se não fosse por suas transgressões, o
meu povo, falando a respeito da Igreja e não de indivíduos, já poderia ter sido
redimido. Mas eis que não aprenderam a ser obedientes às coisas que exigi
de suas mãos” (D&C 105:2–3).
[10] Ao longo de Doutrina e Convênios, o Senhor deixou claro a
responsabilidade da Igreja, incluindo “[cuidar] dos pobres e necessitados e
[ministrar-lhes] auxílio para que não sofram” (D&C 38:35) e “Te lembrarás dos
pobres e consagrarás de tuas propriedades, para sustento deles” (D&C
42:30). Ver também D&C 38:16; 42:31, 34, 39; 44:6; 52:40; 83:6; 84:112;
104:18; 105:3. Como os santos estavam se preparando para partir de Nauvoo
durante a Conferência Geral de outubro de 1845, Brigham “propôs que
levassem todos os santos com eles, de acordo com sua capacidade, isto é,
sua influência e seus bens”. No entanto, somente 214 pessoas assinaram
esse “Convênio de Nauvoo”. Começando com o êxodo de 1847, Brigham deu
uma nova ênfase para que todos os membros da Igreja aceitassem sua
responsabilidade de ajudar outras pessoas necessitadas de acordo com sua
capacidade. Ver History of the Church 7 vols., (Salt Lake City: Deseret Book,
1976–1980), vol. VII, p. 465.
[11] Clarissa Young Spencer concluiu: “Uma das qualidades mais notáveis de
meu pai como líder, era o modo como ele cuidava do bem-estar temporal e
social de seu povo, guiando-o em suas necessidades espirituais” (Clarissa
Young Spencer e Mable Harmer, Brigham Young at Home [Salt Lake City:
Deseret Book, 1963], p. 169). Outra filha, Susa Young Gates, sentia que seu
pai “manifestava mais inspiração divina em suas atividades sociais
cuidadosamente regulamentadas e mais prazer associado do que em seus
sermões. Ele manteve o povo ocupado, promoveu entusiasticamente o
entretenimento legítimo e incentivou o cultivo de todo poder, todo dom e toda
emoção da alma humana”. Ela observou que “as pessoas teriam naqueles
anos de trabalho duro, poucos feriados e pouquíssimo ânimo de celebração,
que é o espírito de companheirismo e comunhão espiritual, se não fosse pela
sábia diretriz de Brigham Young” (Susa Young Gates e Leah D. Widtsoe, The
Life Story of Brigham Young [New York: Macmillan, 1930], p. 266; grafia
modernizada). Assim como em outros aspectos da palavra e da vontade do
Senhor, embora a implementação e supervisão bem-sucedidas fossem
responsabilidade de Brigham, a inspiração vinha do Senhor.
[12] Quatro dias depois de receber a seção 136, ele proclamou publicamente
que “não tinha gado suficiente para ir para as montanhas”, mas que “não
tinha mais dúvidas ou medo de ir para as montanhas e se sentia tão seguro
como se possuísse os tesouros do leste” (Escritório do Historiador, History of
the Church, 18 de janeiro de 1847).
[13] Embora seja amplamente conhecido que Brigham escolheu apenas 143
homens para a companhia (mais três mulheres e duas crianças), Ellis Eames
foi originalmente designado para fazer parte da companhia, mas retirou-se
logo depois de sair de Winter Quarters, supostamente por causa de uma
doença. Geralmente ele não é contado como membro da companhia original
devido ao curto período de tempo que passou nela. Em 1849, Eames chegou
a Utah, e em 1851, ele se tornou o primeiro prefeito de Provo (John Clifton
Moffitt, The Story of Provo, Utah [Provo, UT: Press Publishing, 1975], p. 266).
Orson F. Whitney observou que “doze vezes Doze homens haviam sido
escolhidos”. Com isso, teve início uma crença popular de que o número
representava doze homens para cada uma das doze tribos de Israel, outro
povo do convênio. Whitney pode ter acreditado nisso, mas reconheceu que
era apenas especulação: “Seja intencionalmente ou não, não sabemos”
(Orson F. Whitney, History of Utah, 4 vols., [Salt Lake City: George Q.
Cannon e Filhos, 1892–1904], vol. I, p. 301).
[14] Escritório do Historiador, History of the Church, 3 de março de 1847.
[15] Escritório do Historiador, History of the Church, 18 de janeiro de 1847.
[16] Escritório do Historiador, History of the Church, 5 de fevereiro de 1847;
Diário Norton Jacob, 28 de maio de 1847, conforme publicado no The
Mormon Vanguard Brigade of 1847: Norton Jacob’s Record, ed. Ronald O.
Barney (Logan: Utah State University Press, 2005), p. 150; grafia e utilização
de maiúsculas modernizadas.
[17] The Record of Norton Jacob, ed. C. Edward Jacob e Ruth S. Jacob (n.p.:
Norton Jacob Family Association, n.d.), p. 50.
[18] Atas do Escritório do Historiador geral da Igreja, 23 de maio de 1847,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; grafia modernizada.
[19] Atas do Escritório do Historiador geral da Igreja, 23 de maio de 1847;
diário de Wilford Woodruff, 16 de maio de 1847, em Wilford Woodruff’s
Journal: 1833–1898, Texto datilografado, 9 vols., Ed. Scott G. Kenney
(Midvale, Utah: Signature Books, 1983–1985), vol. III, p. 177; grafia
modernizada.
[20] Diário de William Clayton, 29 de maio de 1847, em An Intimate Chronicle:
The Journals of William Clayton, trade ed., ed. George D. Smith (Salt Lake
City: Signature Books, 1995), p. 333.
[21] Bennett, We’ll Find the Place, p. 69.
[22] Os membros da companhia de vanguarda haviam começado a se reunir
no local marcado, no Rio Elkhorn, aproximadamente 32 quilômetros a oeste
de Winter Quarters, no início de abril. Porém, somente depois do dia 16 de
abril, Brigham Young organizou oficialmente a companhia em cem, cinquenta
e dez, e eles começaram sua jornada do Rio Elkhorn, como um grupo.
[23] Diário de Wilford Woodruff, 28 de maio de 1847, em Wilford Woodruff’s
Journal, vol. III, p.186; grafia e utilização de maiúsculas modernizadas.
[24] Diário de William Clayton, 29 de maio de 1847, em An Intimate
Chronicle, p. 325.
[25] Sermão de Brigham Young, 18 de maio de 1873, conforme publicado
no Journal of Discourses, vol. XVI, p. 46.
[26] Sermão de Brigham Young, 12 de janeiro de 1868, conforme publicado
no Journal of Discourses, vol. XII, p. 151; Sermão de Brigham Young, 7 de
outubro de 1859, conforme publicado no Journal of Discourses, vol. VII, p.
281.
Susa Young Gates e a Visão da Redenção dos
Mortos
D&C 138
Lisa Olsen Tait14 Agosto 2015

Susa Young Gates, uma das mulheres SUD mais importantes de seu
tempo. Uma mulher de energia e determinação indomáveis, seus
maiores interesses eram a genealogia e o trabalho no templo, áreas
em que foi uma das principais defensoras SUD por mais de uma
década.

Na noite de 5 de novembro de 1918 — uma sexta-feira — Susa


Young Gates e seu esposo, Jacob, pararam na casa de alguns
amigos íntimos para pegar uma caixa de maçãs. Essa casa era a
Beehive House, na esquina da Rua State e South Temple em Salt
Lake City, e esses amigos eram Joseph F. Smith, Presidente de A
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, e sua esposa,
Julina Smith.

Susa e Joseph se conheciam desde a infância de Susa, nos anos


1860, quando ele visitava com frequência a casa do pai dela, Brigham
Young. Os Gates e os Smith serviram juntos como missionários no
Havaí nos anos de 1880 e desde essa época se tornaram amigos
íntimos. Susa e Joseph desenvolveram uma grande amizade de
modo particular. Ela o chamava de “Meu Amado e Honrado Amigo e
Irmão”; ele a chamava de sua “amada irmã” e expressava “o
verdadeiro amor fraternal” por ela.1 O que ocorreu durante sua visita
se tornaria uma expressão crescente dessa amizade e a afirmação
pessoal profunda dos incansáveis esforços do que ela chamava o
“trabalho de redenção dos mortos”.2

“Um Trabalho Ainda Maior”


Susa Young Gates, uma das mulheres SUD mais importantes de seu
tempo. Uma mulher de energia e determinação indomáveis que
trabalhou por décadas como escritora, editora, educadora e líder da
Associação de Melhoramentos Mútuos - Moças (AMM - Moças), da
Sociedade de Socorro e de várias organizações nacionais de
mulheres. Mas, em 1918, seu maior interesse era a genealogia e o
trabalho no templo, áreas em que foi uma das principais defensoras
SUD por mais de uma década.3

Susa teve o sentimento sagrado de que essa obra era sua missão
pessoal. Em 1902, ao voltar de uma reunião do Conselho
Internacional de Mulheres na Europa, Susa ficou muito doente. Em
Londres ela pediu uma bênção de saúde ao Élder Francis M. Lyman,
que servia como presidente da Missão Europeia, e nessa bênção ele
disse a ela: “Você vai viver para realizar o trabalho no templo e fazer
uma obra maior do que já fez até agora”. Essa incumbência se tornou
a força condutora de sua vida. “Eu tinha me interessado antes pelo
trabalho no Templo”, ela disse, “mas agora sinto que devo fazer algo
a mais, alguma coisa para ajudar todos os membros da Igreja”.4

Susa dificilmente poderia ter feito mais do que fez pela causa da
história da família e do trabalho no templo. Ela escreveu inúmeros
artigos para jornais e revistas, deu inúmeras aulas e levou a
mensagem para muitas estacas e alas. Visitou bibliotecas
genealógicas no leste dos Estados Unidos e na Inglaterra e se
correspondeu com genealogistas de muitos países, procurando mais
conhecimento e especialização. Serviu na junta geral da Sociedade
de Socorro, onde teve sucesso em conseguir que lições sobre
genealogia (a maior parte escrita por ela) fossem adicionadas ao
currículo. Publicou um livro de referências com 600 páginas sobre
sobrenomes e contribuiu com frequência para uma nova revista
devotada à pesquisa genealógica.5 Com todo esse esforço, ela ainda
encontrou tempo para servir por décadas como oficiante no templo. O
trabalho de Susa foi essencial para o estabelecimento da história da
família com ênfase na vida dos santos dos últimos dias.
Nesses esforços ela trabalhou muito perto do Élder Joseph Fielding
Smith — historiador assistente da Igreja, filho do Presidente da Igreja,
e, depois de 1910, membro do Quórum dos Doze Apóstolos. O Élder
Smith também serviu como secretário da Sociedade Genealógica de
Utah, a organização genealógica oficial da Igreja. Susa se referia ao
Élder Smith como “o apóstolo dos espíritos em prisão” e como “o
porta-voz eloquente” da genealogia e do trabalho do templo.6 Susa e
o Élder Smith falaram juntos em reuniões genealógicas — ela
forneceu instrução prática sobre metodologia e ele estabeleceu o
alicerce teológico para o trabalho. Graças aos seus esforços e aos
dos diversos associados com o mesmo objetivo, milhares de santos
dos últimos dias receberam treinamento e incentivo para realizar a
história da família e o trabalho no templo.
Apesar dessas realizações, Susa sentia com frequência que estava
lutando uma batalha árdua. Ela acreditava que inúmeros santos dos
últimos dias mostravam “muita indiferença” com relação à genealogia
e ao trabalho do templo.7 “Nem mesmo um anjo dos céus poderia
induzir algumas das mulheres desse clube e esses homens de
negócios de sucesso a usar parte do seu tempo para o trabalho no
templo’, Susa escreveu para uma amiga.8

Quando visitou o Presidente Smith naquela noite em novembro de


1918, Susa havia sido lembrada recentemente da falta de entusiasmo
generalizado pelo trabalho de história da família. Os membros da
junta geral da Sociedade de Socorro tinham quase votado a
interrupção das lições sobre genealogia. “Eu tive que declarar minha
posição diante do trabalho genealógico contra a opinião de todos os
demais”, ela escreveu em uma carta. Ela teve sucesso parcial na
preservação da genealogia como parte do currículo.9 Na conferência
da Sociedade de Socorro de outubro de 1918, as líderes das estacas
informaram que as lições sobre genealogia eram muito difíceis. Elas
sugeriram que as lições fossem “simplificadas” e “fosse dada ênfase
no lado espiritual e não no lado educacional desse estudo”. Susa
assegurou a elas que o Surname Book and Racial History [Livro de
Sobrenomes e História Racial] publicado pouco antes iria ajudar a
tornar as lições mais acessíveis.10 Mas há muito tempo ela insistia
que as dimensões espirituais e práticas da genealogia se
complementavam. “Toda a inspiração desejada no mundo não irá
salvar nossos mortos”, declarou ela. “Devemos também ter as
informações de modo a levar adiante esse nobre trabalho.”11 Ela
continuou a trabalhar, fazendo todos os esforços para prover tanto
informações quanto inspiração para suas irmãs SUD.

“As Hostes dos Mortos”


Em novembro de 1918 o Presidente Smith estava doente — idoso,
frágil e com a saúde em rápida degeneração. Ele tinha passado a
maior parte do ano em casa, incapaz de manter o passo exigente que
caracterizou a maior parte da sua vida. Suas doenças relacionadas à
idade foram agravadas por grande tristeza. Em janeiro, seu amado
filho mais velho, o Élder Hyrum M. Smith, havia falecido subitamente
de um apêndice rompido. “Minha alma está despedaçada, meu
coração sofre! Oh, Deus, ajuda-me!”, exclamou o Presidente Smith
em certa ocasião.12 Mas os golpes continuaram vindo. Em fevereiro
seu jovem genro faleceu após uma queda acidental. E em setembro,
a esposa de Hyrum, Ida, faleceu alguns dias após dar à luz, deixando
cinco crianças órfãs. Na mesma época, a Grande Guerra (Primeira
Guerra Mundial) estava chegando ao final, deixando em seu rastro
carnificina e devastação inimagináveis, e uma pandemia de gripe
estava fazendo milhões de vítimas. Para o Presidente Smith, foi uma
época de grande dor pessoal além do sofrimento pelo que ocorria no
mundo.13

Essas catástrofes se tornaram evidentes na conferência geral de


outubro. A frequência diminuiu visivelmente: “porque muitos dos
portadores do sacerdócio estavam ausentes devido à guerra”.14 A
crescente pandemia de gripe também manteve as pessoas em casa.
Reunindo as forças que lhe restavam, o Presidente Smith apareceu
de surpresa e presidiu as quatro sessões da conferência.

“Estou sob o cerco de várias doenças graves nos últimos cinco


meses”, disse ele em sua mensagem de abertura. “Apesar de estar
com o corpo um pouco enfraquecido”, ele afirmou, “minha mente está
lúcida em relação ao meu dever”. Então o Presidente Smith fez
alusão à mensagem cujas palavras ele ainda lutava para encontrar.
“Não vou, não ouso, tentar entrar nos muitos assuntos que estão em
minha mente nesta manhã”, disse ele, “e vou adiar por algum tempo,
de acordo com a vontade do Senhor, minha intenção de dizer a vocês
algumas das coisas que estão em minha mente e que habitam meu
coração”.15 Ele continuou: “Não estive sozinho nestes cinco meses.
Fiquei em espírito de oração, de súplica, de fé e determinação e
comuniquei-me com o Espírito do Senhor continuamente”.16

Os comentários do Presidente Smith sem dúvidas se referiam em


parte aos eventos do dia anterior, 3 de outubro de 1918, quando ele
tinha tido a memorável visão da visita do Salvador ao mundo
espiritual (agora registrada em Doutrina e Convênios 138). Nessa
visão, o Presidente Smith viu “as hostes dos mortos” aguardando a
chegada do Salvador. Ao ponderar sobre como Cristo poderia ter
realizado Seu ministério entre os mortos no “curto período
compreendido entre a crucificação e sua ressurreição”, o Presidente
Smith viu que Ele “organizou suas forças e designou mensageiros”
dentre os espíritos justos e “passara o tempo de sua visita ao mundo
dos espíritos instruindo e preparando os espíritos fiéis dos profetas
que haviam testificado dele na carne” para levar a mensagem da
redenção dos espíritos daqueles que ainda não haviam ouvido ou
recebido o evangelho na vida mortal.17

O desejo do Presidente Smith de falar dessas coisas pessoalmente


para os santos não se cumpriu. Dez dias após a conferência geral,
ele ditou a visão para seu filho Joseph Fielding Smith.18 Duas
semanas depois, em 31 de outubro, Joseph Fielding Smith leu o texto
para a Primeira Presidência e para o Quórum dos Doze Apóstolos na
reunião normal de conselho no templo. Fui “plenamente endossado
por todos os irmãos” registrou, e eles fizeram planos para publicá-la
na edição de dezembro da Improvement Era19 Uma semana após
essa memorável reunião, Susa e Jacob Gates fizeram sua visita à
casa dos Smith.
“Uma Alegria e um Conforto Únicos”
Enquanto os Gates se reuniam com os membros da família Smith, o
Presidente Smith chamou Susa para ir a seu quarto. “Eu o consolei o
mais que pude por causa de sua grave doença”, escreveu
Susa.20 Ele lhe disse: “Você está fazendo um grande trabalho, maior
do que imagina”. Poucos minutos depois o Presidente Smith e Susa
foram acompanhados por Jacob, Julina e outras pessoas
(provavelmente membros da família Smith) e o Presidente Smith deu
a Susa um papel para ler. Era uma transcrição da visão dele. “Como
sou abençoada, como sou abençoada por ter esse privilégio!” Susa
escreveu em seu diário naquela noite: “Ter a permissão de ler uma
revelação antes que fosse publicada, saber que os céus ainda estão
abertos”.21

A descrição de Susa da visão destacou aspectos que ela achou mais


tocantes: “Nela ele conta de sua visão da Eternidade; o Salvador
quando visitou os espíritos em prisão — como Seus servos
ministraram a eles; ele viu o Profeta e todas as Autoridades Gerais
ligadas a ele trabalhando nas prisões; Mãe Eva e suas nobres filhas
engajadas na mesma nobre causa!” Defensora das causas das
mulheres há muito tempo, Susa se alegrou com a menção específica
das mulheres na revelação, grata “por Eva e suas filhas serem
lembradas”.22 E ela se alegrou com a afirmação da revelação sobre o
trabalho realizado em favor dos mortos. “Acima de tudo”, ela
escreveu, “receber isso nesta época quando nosso trabalho no
Templo, nossos oficiantes e nossa genealogia precisam de tal
incentivo. Não tenho palavras para expressar minha alegria e minha
gratidão”.23 “Pensem no impulso que essa revelação vai dar ao
trabalho do templo em toda a Igreja!” ela escreveu mais tarde a uma
amiga.24

Duas semanas depois, em 19 de novembro de 1918, o Presidente


Joseph F. Smith faleceu. O anúncio e a publicação de sua visão
apareceram junto com os muitos tributos publicados na época de seu
falecimento. Na Relief Society Magazine (Revista da Sociedade de
Socorro), a editora Susa Young Gates publicou um longo tributo ao
Presidente Smith e suas esposas, junto com elogios fúnebres de
várias mulheres líderes na Igreja. Depois ela incluiu o texto completo
da “Visão da Redenção dos Mortos”, como foi chamada, mas sem
divulgar sua experiência pessoal com ela. Ela fez comentários
pessoais sobre a referência a Eva e suas filhas no texto: “Isto é
incomum — a menção ao trabalho das mulheres do Outro Lado”.
Susa sentiu que “a visão direta das [mulheres] associadas aos
profetas e élderes antigos e modernos confirma o nobre padrão de
igualdade entre os sexos que sempre foi uma característica desta
Igreja”.25

Ela continuou: “A principal mensagem da Visão para este povo é um


chamado claro para que ele desperte para a necessidade imediata de
buscar por seus mortos”.26 Apesar dos reveses e desafios desse
trabalho, a visão do Presidente Smith foi “uma alegria e um conforto
extraordinários” para ela.27 Sete décadas antes, Joseph Smith havia
escrito para os santos sobre o mesmo assunto: “Não prosseguiremos
em tão grande causa?”28 Agora Susa Young Gates, com visão e
comprometimento renovados, continuou com o chamado: “Que as
pessoas possam, e especialmente nossas irmãs, erguerem-se até a
medida da plenitude em resposta a essa manifestação celestial!”29

Notas de rodapé
[1] Carta de Susa Young Gates a Joseph F. Smith, 14 de outubro de 1918,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah; Cartão de Natal de
Joseph F. Smith a Susa Young Gates, 26 de dezembro de 1914, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[2] Susa Young Gates, “A Friend of the Helpless Dead [Uma Amiga dos
Falecidos Desamparados]”, Relief Society Magazine, vol. 4, nº 9, setembro de
1917, p. 486.
[3] Uma visão geral do trabalho genealógico pioneiro de Susa Young Gates
encontra-se em James B. Allen, Jessie L. Embry e Kahlile B. Mehr, Hearts
Turned to the Fathers: A History of the Genealogical Society of Utah
[Corações Voltados aos Pais: A História da Sociedade Genealógica de Utah],
1894–1994 (BYU Studies, 1995), pp. 59–90.
[4] “Susa Young Gates”, Utah Genealogical and Historical Magazine, vol. 24,
julho de 1933, pp. 98–99.
[5] Ver Susa Young Gates, ed. e comp., Surname Book and Racial History: A
Compilation and Arrangement of Genealogical and Historical Data for Use by
the Students and Members of the Relief Society of the Church of Jesus Christ
of Latter-day Saints [Livro de Sobrenomes e História Racial: Uma Compilação
e Arranjo de Dados Genealógicos e Históricos Usados por Alunos e Membros
da Sociedade de Socorro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias] (Salt Lake City: General Board of the Relief Society, 1918). Trata-se
da Utah Genealogical and Historical Magazine [Revista Genealógica e
Histórica de Utah], publicada trimestralmente pela Sociedade Genealógica de
Utah a partir de 1910.
[6] Susa Young Gates, comentários na convenção genealógica da Sociedade
de Socorro, 7 de outubro de 1918, citado em Amy Brown Lyman,
“Conferência Geral da Sociedade de Socorro”, Relief Society Magazine, vol.
5, nº 12, dezembro de 1918, p. 676.
[7] Susa Young Gates, “Inspiration versus Information” [Inspiração versus
Informação], Utah Genealogical and Historical Magazine, vol. 9, julho de
1918, p. 131.
[8] Carta de Susa Young Gates a Elizabeth C. McCune, 14 de novembro de
1918, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[9] Carta de Susa Young Gates a Elizabeth C. McCune, 4 de outubro de
1918, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[10] Amy Brown Lyman, “Conferência Geral da Sociedade de Socorro” pp.
661–662.
[11] Gates, “Inspiration versus Information”, p. 132
[12] Joseph Fielding Smith, comp., Life of Joseph F. Smith: Sixth President of
The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [A Vida de Joseph F. Smith:
Sexto Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias] (Salt Lake City: Deseret News Press, 1938, p. 474).
[13] Para um excelente debate sobre o contexto pessoal e global da visão de
Joseph F. Smith, ver George S. Tate, “‘The Great World of the Spirits of the
Dead’: Death, the Great War, and the 1918 Influenza Pandemic as Context for
Doctrine and Covenants 138” [O Grande Mundo dos Espíritos dos Mortos:
Morte, a Grande Guerra e a Pandemia de Gripe Espanhola de 1918 no
Contexto de Doutrina e Convênios 138], BYU Studies, vol. 46, n° 1, 2007, pp.
4–40.
[14] Tabela do Editor, Improvement Era, vol. 22, nº 1, novembro de 1918, p.
80. Esse mesmo relatório informou que “15 mil portadores do sacerdócio
estavam no serviço militar”.
[15] Joseph F. Smith, em Conference Report, outubro de 1918, p. 2. De
acordo com Susa Young Gates, o Presidente Smith teria falado de sua visão
na conferência geral “se ele tivesse se sentido suficientemente forte para
fazê-lo sem ser dominado pela emoção” (Carta de Susa Young Gates a
Elizabeth C. McCune, 14 de novembro de 1918).
[16] Joseph F. Smith, em Conference Report, outubro de 1918, p. 2. O
relatório menciona que “ao término do discurso do Presidente Smith, o
organista começou a tocar ‘Graças Damos, Ó Deus, por um Profeta’. A
congregação levantou-se ao mesmo tempo e, sem qualquer anúncio e sob
grande emoção, cantou esse hino tão querido dos santos” (Conference
Report, outubro de 1918, p. 3).
[17] Doutrina e Convênios 138:11, 27, 30, 36.
[18] “Eu escrevi, ditada pelo meu pai, uma visão ou revelação que ele
recebeu no dia 3”, registrou Joseph Fielding Smith em seu diário no dia 17 de
outubro. Em Life of Joseph F. Smith [A Vida de Joseph F. Smith], Joseph
Fielding Smith escreveu que seu pai anotou essa visão “imediatamente após
o encerramento” da Conferência Geral, que foi realizada de 4 a 6 de outubro
de 1918, p. 466. Essas datas são consistentes com aquelas fornecidas em
debates subsequentes da visão e no cabeçalho atual da seção de Doutrina e
Convênios. No entanto, o diário de Joseph Fielding Smith indica que ele só
registrou a visão ditada por seu pai quase duas semanas após a conferência
geral (ver o diário de Joseph Fielding Smith, 17 de outubro de 1918,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, Utah.
[19] Diário de Joseph Fielding Smith, 31 de outubro de 1918, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City, Utah. Ver “Visão da Redenção dos
Mortos”, Improvement Era, vol. 22 nº 2 (dezembro de 1918), pp. 166–170. A
visão também foi publicada no Deseret News, na Relief Society
Magazine, no Young Woman’s Journal, e no Millennial Star. Foi incluída
em Doutrina do Evangelho: Seleções dos Sermões e Escritos de Joseph F.
Smith, Sexto Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias, comp. John A. Widtsoe (Salt Lake City: Deseret News, 1919), que foi
uma obra de referência amplamente lida pelos santos dos últimos dias ao
longo do século 20. A visão foi incluída na Pérola de Grande Valor em 1976 e
depois adicionada à edição de 1981 de Doutrina e Convênios. Ver N. Eldon
Tanner, “The Sustaining of Church Officers” [Apoio aos Oficiais da
Igreja], Ensign, maio de 1976, p. 19.
[20] Esse relato foi reconstituído a partir de duas fontes: Diário de Susa
Young Gates, 5 de novembro de 1918, Biblioteca de História da Igreja, Salt
Lake City, Utah; e carta de Susa Young Gates a Elizabeth C. McCune, 14 de
novembro de 1918.
[21] Diário de Susa Young Gates, 5 de novembro de 1918.
[22] Diário de Susa Young Gates, 5 de novembro de 1918; ver também
Doutrina e Convênios 138:39.
[23] Diário de Susa Young Gates, 5 de novembro de 1918.
[24] Carta de Susa Young Gates a Elizabeth C. McCune, 14 de novembro de
1918.
[25] “In Memoriam: Presidente Joseph F. Smith” Relief Society Magazine, vol.
6, nº 1, janeiro de 1919, p. 21.
[26] “In Memorian”, p. 21.
[27] Carta de Susa Young Gates a Elizabeth C. McCune, 14 de novembro de
1918.
[28] Doutrina e Convênios 128:22
[29] “In Memorian”, p. 21.
O Mensageiro e o Manifesto
Declaração Oficial 1
Jed Woodworth23 Junho 2015

O Presidente Cannon levantou a mão em apoio ao Manifesto com a


maioria das outras pessoas na multidão. Mas, o fardo de unir um
público tão dividido, no que ele chamou de “assunto extremamente
delicado”, pareceu quase insuportável.

Em uma certa manhã fria de outono, segunda-feira, 6 de outubro de


1890, 7 mil santos dos últimos dias sentaram-se em silêncio sobre os
longos bancos de madeira no grande tabernáculo oval na Praça do
Templo. O evento foi a conferência geral semianual de A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e a congregação estava
presente para ouvir as instruções dos homens que reverenciavam
como profetas, videntes e reveladores.

Naquela época, os oradores da conferência não eram informados


com antecedência sobre quando eles iriam falar. O Presidente da
Igreja fazia as designações na hora, da maneira que se sentia
inspirado. Ninguém preparava discursos com antecedência. Muitos
oradores iam para a conferência com um pequeno esboço dentro das
escrituras, mas muitos outros iam sem nada, confiando que o Espírito
Santo encheria sua mente quando eles ouvissem o profeta chamar
seu nome.

Quando a multidão esperava o primeiro discurso da sessão, o


Presidente Wilford Woodruff virou para a direita, olhou para o homem
sentado ao seu lado e pediu-lhe que se levantasse e falasse para o
público. Esse homem era o Presidente George Q. Cannon, Primeiro
Conselheiro do Presidente Woodruff na Primeira Presidência. O
pedido pegou o Presidente Cannon desprevenido, pois ele havia
suposto que o Presidente Woodruff tomaria a frente nesse momento
histórico. Alguns minutos antes, Orson F. Whitney, um bispo de Salt
Lake City, havia lido o Manifesto, o histórico documento (conhecido
hoje como Declaração Oficial 1) em que o Presidente Woodruff
declarou sua intenção de se submeter às leis de proibição do
casamento plural. O Presidente Woodruff havia enviado o documento
para a imprensa duas semanas antes, sem fazer comentários sobre
ele. O Presidente Cannon encarou um mar de pessoas apreensivas e
ansiosas, com apenas uma coisa na mente.

“Senti-me encolher diante daquela situação”, o Presidente Cannon


escreveu, falando sobre o pedido para falar. “Acho que nunca fui
chamado para fazer algo que me pareceu mais difícil do que isso.” 1

Os santos haviam praticado o casamento plural por mais de meio


século. Mulheres e homens haviam se angustiado sobre a decisão de
começar a praticar um princípio que era contrário à sua criação e
religião. Eles haviam sofrido isolamento pessoal e coletivo, haviam
sido perseguidos e presos por causa desse princípio. Mas, eles
também aceitaram o casamento plural como mandamento de Deus
para a Igreja. Eles acreditavam que a prática havia refinado sua alma
e definido sua exclusividade perante o mundo. O que os definiria
agora? O Presidente Cannon com certeza sabia que essas grandes
mudanças de autodefinição não podiam ser feitas facilmente. A
angústia de encerrar a prática do casamento plural seria um desafio
tão grande quanto começá-la.

Depois de o Bispo Whitney ler o documento, a conferência havia


votado, erguendo as mãos para apoiá-la como “oficial e obrigatória”
sobre a Igreja. A maioria votou a favor, mas alguns mantiveram as
mãos abaixadas, despreparados para aceitar o Manifesto como a
vontade de Deus. Do púlpito, os líderes da Igreja observavam a
congregação e viam maridos e esposas chorando, ansiosos e
inseguros, sem saber o que o Manifesto significaria em sua vida dali
em diante.2

O Presidente Cannon levantou a mão em apoio ao Manifesto com a


maioria das outras pessoas na multidão. Mas, o fardo de unir um
público tão dividido, no que ele chamou de “assunto extremamente
delicado”, pareceu quase insuportável. A mensagem podia abordar o
assunto de várias maneiras diferentes. Ao se levantar e andar até o
púlpito, sua mente fervilhava. “Não havia nada em minha mente claro
o suficiente para falar sobre o assunto”, ele escreveu sobre aquele
momento. “Levantei-me com a mente totalmente vazia.”3

O Conselheiro
George Quayle Cannon raramente ficava sem palavras. Simpático e
sociável por natureza, ele havia trabalhado com palavras a vida toda.
Quando era adolescente em Nauvoo, foi aprendiz na gráfica do jornal
da Igreja.4 Ele continuou até estabelecer uma das maiores editoras
de Utah, e passou boa parte da vida adulta escrevendo editoriais no
jornal da Igreja e periódicos que ele publicava.5

Reconhecendo os dons de Cannon e seus excelentes métodos, o


Presidente Brigham Young o chamou para o apostolado em 1860 e,
mais tarde, para a Primeira Presidência como conselheiro. O
Presidente Cannon serviria como conselheiro de quatro Presidentes
da Igreja durante quase três décadas.

George Q. Cannon foi conhecido durante a vida por sua incrível


inteligência. Seus companheiros apóstolos o reconheciam como um
homem excepcional entre a liderança da Igreja. Sempre era pedido a
ele que desse o discurso importante ou que escrevesse a carta
delicada. A imprensa não mórmon o chamava de “o Richelieu
Mórmon” porque ele era tido como o cabeça por trás dos movimentos
mórmons.6

Mas, a reputação de gênio também pesava sobre George Q. Cannon.


Ele se sentia incomodado por receber o crédito por ideias que ele não
teve e movimentos que ele não iniciou. Ele resistia em ser visto como
o homem por trás das cortinas. Ele bem sabia que seu papel era ser
um conselheiro. Ele não era o Presidente da Igreja, não era o homem
que portava as chaves do sacerdócio que guiava a Igreja. Ele
humildemente se submetia à autoridade, mesmo se as outras
pessoas não percebessem isso.

A Cruzada
O empenho do governo federal para abolir a prática mórmon do
casamento plural foi um dos grandes desafios da vida de George Q.
Cannon. Após oito anos como único representante do Território de
Utah na Câmara dos Estados Unidos, Cannon foi expulso do
Congresso depois que foi decidido que ele estava violando a lei
federal que proibia a poligamia.

Cannon começou a praticar o casamento plural quando tinha cerca de


30 anos, convencido de que essa era a prática que Deus queria que
ele vivesse. No total, sua família consistia de cinco esposas e 43
filhos.7 Ele amava os membros de sua família. Ele se sentia triste
pois, entre 1885 e 1888, precisou ficar longe deles a maior parte do
tempo, mudando de um lugar para outro, geralmente se escondendo,
tentando evitar a autoridade federal que queria prendê-lo por violar a
lei federal do casamento. Ele os instruía o melhor que podia,
escrevendo longas cartas pessoais aos membros de sua família e
realizando conselhos familiares sempre que podia.8 Finalmente ele se
entregou às autoridades e se submeteu a cinco meses na
penitenciária de Utah, entre setembro de 1888 e fevereiro de 1889.9

Os líderes do governo vinham incentivando há muito tempo os líderes


da Igreja a fazerem uma declaração pondo fim ao casamento plural.
O Presidente Cannon resistia a essa orientação. O maior discurso de
sua carreira, como foi contado por seus amigos mais tarde, aconteceu
no Congresso dos Estados Unidos, onde ele se colocou diante de
seus colegas e defendeu o casamento plural com base nos princípios
da consciência religiosa.10 Sua inclinação era defender a prática a
despeito de toda a oposição. “Eu, com certeza, não vejo meu
caminho com clareza”, para fazer qualquer declaração pedindo o fim
do casamento plural, ele refletiu no momento em que a perseguição
afligia a Igreja. “O Presidente Woodruff tem o mesmo sentimento.
Teremos que confiar no Senhor, como sempre temos feito, para nos
ajudar.”11
“Teremos que confiar no Senhor, como sempre temos feito, para nos
ajudar. ”

Sendo um homem humilde, simples e modesto, que não havia


recebido tanta instrução como o Presidente Cannon, o Presidente
Woodruff chegou à conclusão, muito antes de Cannon, de que uma
mudança tinha que ser feita.12 No outono de 1889, um presidente de
estaca procurou o Presidente Woodruff e perguntou-lhe se ele tinha a
obrigação de assinar uma recomendação para um homem entrar no
casamento plural, considerando que a lei proibia a prática. O
Presidente Cannon, que estava na sala, ficou surpreso ao ouvir a
resposta do Presidente Woodruff. “Não é apropriado que casamentos
desse tipo sejam realizados neste Território [Utah] atualmente”,
aconselhou Woodruff.13

O Presidente Woodruff justificou com uma analogia: quando


perseguidores impediram os santos de construir um templo no
Condado de Jackson, o Senhor aceitou a oferta dos santos e
suspendeu o mandamento original.14 Ele disse que o mesmo se dava
com o casamento plural. Após dar essa explicação, o Presidente
Woodruff se voltou para seu conselheiro pedindo opinião. Sempre
cauteloso e prudente, o Presidente Cannon hesitou em mudar de
direção. Até aquele momento, a Igreja tinha cautelosamente rejeitado
as leis federais que proibiam o casamento plural. Foi a primeira vez,
Cannon escreveu em seu diário, que ele ouviu o Presidente da Igreja
se expressar tão claramente sobre a restrição ao casamento plural.
“Eu não respondi”, Cannon escreveu, “pois não estava preparado
para concordar plenamente com o que ele estava dizendo”.15

O Manifesto
Na manhã de 23 de setembro de 1890, o Presidente Cannon
apareceu, como de costume, no escritório da Primeira Presidência na
Gardo House, uma grande casa em estilo vitoriano, pouco ao sul da
Beehive House, em Salt Lake City. “Encontrei o Presidente Woodruff
bastante agitado em seus sentimentos relativos aos passos dados por
nossos inimigos para nos difamar diante do país e fazer falsas
declarações com respeito a nossos ensinamentos e ações.”16 A
Comissão de Utah, um pequeno grupo de federais encarregados de
fiscalizar a execução da legislação antipoligamia em Utah, havia
emitido um relatório afirmando que os líderes da Igreja continuavam a
ensinar a poligamia e a autorizar novos casamentos plurais. Cannon
sentiu que a Igreja deveria publicar uma negação. O Presidente
Woodruff tinha algo maior em mente.17

O Presidente Woodruff reuniu-se com o secretário da Primeira


Presidência, George Gibbs, e os dois entraram em uma sala
adjacente ao escritório da Primeira Presidência, onde o Presidente da
Igreja ditou seus pensamentos, enquanto Gibbs tomava nota. Quando
o Presidente Woodruff saiu da sala, seu “rosto tinha uma expressão
de contentamento e ele parecia muito mais alegre e satisfeito”.18 Ele
pediu que o ditado fosse lido para o Presidente Cannon, o que foi
feito. “Embora não estivesse totalmente pronto para ser publicado”,
Cannon sentiu que “continha as ideias e estava muito bom. Eu disse-
lhe que sentia que isso faria muito bem”.19

A pedido do Presidente Woodruff, os membros do Quórum dos Doze


Apóstolos, que não estavam viajando devido a suas designações,
foram chamados para Salt Lake imediatamente para ouvir a leitura do
documento. Três apóstolos, além de George Q. Cannon e Joseph F.
Smith da Primeira Presidência, reuniram-se naquela tarde para
sugerir alterações. Essas revisões foram então incorporadas e o
documento enviado à imprensa para publicação imediata.20

No relato que escreveu em seu diário naquele dia, Cannon incluiu o


ditado original de Woodruff, além das alterações que ele mesmo
sugeriu.21 Ele fez isso, disse ele, para estabelecer a verdade para as
gerações futuras: “Eu sempre levo o crédito por dizer e fazer coisas
que eu não disse nem fiz”. Ele queria que ficasse registrado que o
Presidente da Igreja, e não seu conselheiro, havia redigido o
Manifesto. “Esse assunto foi totalmente encabeçado pelo Presidente
Woodruff”, Cannon explicou. “Ele declarou que o Senhor definiu que
essa tarefa era sua e sentiu de modo claro em sua mente que era a
coisa certa a fazer.”22

O Discurso
George Q. Cannon tinha certeza de uma coisa enquanto estava
diante do púlpito do Tabernáculo para se dirigir à congregação da
conferência, naquele dia de outubro de 1890. “Senti que o que quer
que dissesse deveria ser orientado pelo Espírito do Senhor.”23

Quando o Presidente Cannon encarou o público, ele percebeu que


sua mente vazia de repente havia se enchido com as palavras das
escrituras. Era a passagem de Doutrina e Convênios 124 que o
Presidente Woodruff havia citado em sua reunião com o presidente
da estaca um ano antes. Cannon iniciou seu discurso lendo o
versículo 49: “Quando eu dou um mandamento a qualquer dos filhos
dos homens de fazer um trabalho ao meu nome e esses filhos dos
homens usam toda a sua força e tudo o que têm para realizar esse
trabalho (…) e são atacados por seus inimigos e impedidos de
realizar esse trabalho, eis que me convém já não requerer das mãos
desses filhos dos homens o trabalho, mas aceitar suas ofertas”.24

George Q. Cannon pareceu perceber que o apoio veio por saberem


que o Manifesto estava ancorado em precedentes escriturísticos. O
Presidente da Igreja sentiu-se inspirado em aplicar a palavra do
Senhor de um contexto para o outro assim como os profetas tinham
feito no início. “É com base nisso” — Doutrina e Convênios 124:49 —
Cannon disse: “que o Presidente Woodruff se sentiu justificado em
lançar esse manifesto”.25

A língua de Cannon se soltou e, na meia hora seguinte, ele manteve


a atenção da congregação. “Recebi total liberdade e falei com
tranquilidade, e todo o medo se dissipou”, ele escreveu mais tarde em
seu diário.26

Ele admitiu, no início de seu discurso no Tabernáculo, que havia sido


um grande defensor do casamento plural. “Em público e em particular
eu declarei minha crença nele. Defendi o casamento plural em todos
os lugares e em todas as circunstâncias.” Essa crença, é claro, tinha
como base a crença de que Deus queria que ele praticasse o
casamento plural. “Eu considerava que, sendo um mandamento, era
minha obrigação e uma exigência que eu o cumprisse”, ele disse,
falando apenas de si mesmo.27

Nem havia sido a intenção pessoal de Cannon que o Manifesto fosse


declarado. “Posso dizer por mim mesmo, que me foi pedido dezenas
de vezes que tomasse uma atitude” que colocasse fim à prática.
“Mas, em momento algum o Espírito pareceu indicar que isso deveria
ser feito. Estávamos esperando que o Senhor nos indicasse o
momento.”28

Mas, o espírito ligado ao Manifesto era diferente. Cannon tinha


certeza de que o Senhor tinha tomado outra direção. O Presidente
Woodruff “decidiu que escreveria algo e teve o espírito para redigi-lo.
Ele orou sobre o assunto e pediu ao Senhor inúmeras vezes que lhe
mostrasse o que fazer”. O documento teve o apoio total de Cannon.
“Sei que foi o certo, embora eu não o desejasse de muitas
maneiras.”29

Ele disse à congregação que havia observado duas reações ao


Manifesto entre os membros da Igreja. Uma reação veio daqueles
que “sentem um grande pesar no coração por causa da necessidade
desse ato”. A outra reação foi de arrogante autocongratulação: “Eu
não disse? Eu não disse a você que isso iria acontecer?” Esse último
grupo repreendia os líderes da Igreja por levarem tanto tempo para
fazer a mudança. Se os líderes da Igreja tivessem agido com mais
rapidez, eles diziam, os membros da Igreja teriam sido poupados de
anos de sofrimento e dor.30

Cannon disse que tinha uma visão diferente desse segundo grupo.
“Acredito que foi necessário que testemunhássemos perante Deus, o
Pai Eterno, para os céus e na Terra, que esse princípio era realmente
importante para nós — mais precioso, poderia ser dito, em alguns
aspectos, que a própria vida. Não poderíamos ter feito isso se
tivéssemos nos sujeitado no momento em que aqueles de quem falo
sugeriram que nos sujeitássemos.” Ninguém pode questionar o
desejo dos santos de apoiar os princípios que lhes são mais caros.
Os “impronunciáveis” sofrimentos dos homens e mulheres, e crianças
serão revertidos em bênçãos para eles no céu.31

Conclusão

“O Espírito do Senhor foi derramado em abundância e acho que cada


membro fiel recebeu um testemunho do Senhor de que Ele está no
comando, e que isso foi feito com Sua aprovação. ”
Depois que o Presidente Cannon sentou, o Presidente Woodruff
novamente surpreendeu seu conselheiro — levantando-se para fazer
seu discurso. “O irmão George Q. Cannon apresentou a vocês nossa
posição”, disse o Presidente Woodruff, confirmando as palavras de
seu conselheiro, tomando-as como suas. “Digo a Israel, o Senhor
jamais permitirá que eu ou qualquer outro homem que presida esta
Igreja vos desvie do caminho verdadeiro. Isso não faz parte do
plano.”32

Cannon achou que a abundância do Espírito Santo na conferência


forneceu provas de que o Manifesto tinha a aprovação de Deus. “O
Espírito do Senhor foi derramado em abundância e acho que cada
membro fiel deve ter recebido um testemunho do Senhor de que Ele
está no comando, e que isso foi feito com Sua aprovação.”33

“Não consigo expressar meus pensamentos sobre o que fizemos”,


refletiu Cannon em seu diário naquele dia. “Sei, no entanto, que isso
é o correto. Está claro para mim que a decisão tomada pelo
Presidente Woodruff está certa.” O Presidente Woodruff foi o
mensageiro da revelação e o papel de Cannon como conselheiro foi
dar apoio e defender as revelações de Deus, como havia feito a vida
inteira. “Tenho um testemunho do Senhor”, disse Cannon, “de que
nosso sacrifício em relação a isso e nossa firmeza até hoje em resistir
a todas as tentativas de nos forçarem a prometer encerrar a prática
são aceitas pelo Senhor, e Ele verdadeiramente nos diz: ‘Basta’, e
nós deixamos o assunto em Suas mãos”.34

Notas de rodapé
[1] Diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890, Biblioteca de História
da Igreja, Salt Lake City.
[2] Diário de Marriner Wood Merrill, 6 de outubro de 1890, Biblioteca de
História da Igreja, Salt Lake City. Heber J. Grant, uma das pessoas sentadas
ao púlpito naquele dia, observou muitos “olhos chorosos” na congregação
quando foi pedido o voto, mas se eram lágrimas de alegria ou de tristeza, ele
não soube dizer (ver diário de Heber J. Grant, 6 de outubro de 1890,
Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City).
[3] Diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890.
[4] Com respeito à conversão de Cannon, ver Davis Bitton, George Q.
Cannon: A Biography (Salt Lake City: Deseret Book, 1999), p. 33. A família de
Cannon foi convertida à Igreja por seu tio John Taylor, futuro Presidente da
Igreja. Taylor editou o jornal da Igreja em Nauvoo, e Cannon aprendeu com
ele o trabalho na indústria gráfica.
[5] Esses jornais e periódicos incluíam o Deseret News, o Western
Standard, o Millennial Star, e o Juvenile Instructor.
[6] Arthur I. Street, “The Mormon Richelieu”, Ainslee’s Magazine, vol. IV
(1899), p. 699.
[7] Juntas, as esposas de Cannon tiveram 33 filhos. Ele adotou mais dois. Ele
selou a ele mais oito filhos, os filhos de Caroline Young e Mark Croxall,
depois que Young e Croxall se divorciaram. Mais tarde, Cannon se casou
com Caroline Young. Para saber mais sobre as esposas e os filhos de
Cannon, ver Bitton, George Q. Cannon, pp. 373, 463.
[8] Bitton, George Q. Cannon, p. 373. Os conselhos familiares são
mencionados ao longo de todo o diário de Cannon. Para exemplos, ver o
diário de George Q. Cannon, 17 de março de 1891.
[9] Bitton, George Q. Cannon, p. 291.
[10] Journal History, 13 de abril de 1901, p. 3, Biblioteca de História da Igreja,
Salt Lake City; diário de George Q. Cannon, 24 de novembro de 1889. O
discurso foi provavelmente seu discurso de despedida na Câmara. Para um
resumo, ver Bitton, George Q. Cannon, p. 254.
[11] Diário de George Q. Cannon, 15 de agosto de 1889.
[12] Cannon uma vez descreveu o Presidente Woodruff como “um homem
humilde, simples e modesto, mais livre de qualquer pressuposta autoridade
do que qualquer homem que já conheci” (George Q, Cannon, 3 de março de
1889).
[13] Diário de George Q. Cannon, 9 de setembro de 1889.
[14] Doutrina e Convênios 124:49
[15] Diário de George Q. Cannon, 9 de setembro de 1889.
[16] Diário de George Q. Cannon, 23 de setembro de 1890.
[17] Diário de George Q. Cannon, 23 de setembro de 1890.
[18] Élder Franklin D. Richards, como citado no diário de Heber J. Grant, 30
de setembro de 1890.
[19] Diário de George Q. Cannon, 23 de setembro de 1890.
[20] Diário de George Q. Cannon, 24 de setembro de 1890.
[21] Cannon sugeriu nove alterações, enquanto os outros membros dos Doze
sugeriram duas. Talvez a alteração mais importante de Cannon tenha sido
sugerir que as palavras “e de usar minha influência junto aos membros da
Igreja que presido, para que eles façam o mesmo” fossem acrescentadas ao
quarto parágrafo (ver diário de George Q. Cannon, 24 de setembro de 1890).
[22] Diário de George Q. Cannon, 24 de setembro de 1890. Para mais
informações sobre as condições que envolveram a recepção do Manifesto,
ver Tópicos do Evangelho: “O Manifesto e o Fim do Casamento Plural”,
LDS.org/topics.
[23] Diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890.
[24] Doutrina e Convênios 124:49 O discurso de Cannon foi publicado
em President Woodruff’s Manifesto: Proceedings at the Semi-Annual General
Conference of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Monday
Forenoon, October 6, 1890 (Salt Lake City: 1890).
[25] President Woodruff’s Manifesto, p. 3.
[26] Diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890.
[27] President Woodruff’s Manifesto, p. 3. Em outros lugares, Cannon dizia
que “o povo de Utah não acredita que o casamento plural deva ou possa ser
universal. Mesmo em Utah isso não é possível, porque o número de homens
ultrapassa o número de mulheres” (Bitton, George Q. Cannon, p. 256).
[28] President Woodruff’s Manifesto, p. 6.
[29] President Woodruff’s Manifesto, p. 6.
[30] President Woodruff’s Manifesto, p. 4.
[31] President Woodruff’s Manifesto, p. 4.
[32] President Woodruff’s Manifesto, p. 9.
[33] Diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890. “Sou grato por tantas
manifestações de aprovação e apoio do Senhor terem sido mostradas a nós,
pois se isso não tivesse acontecido, haveria pessoas em dúvida, que
poderiam sentir que o Senhor retirou Seu Espírito devido a nossas ações.
Entretanto, todos testificaram que nunca compareceram a uma Conferência
melhor” (diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890).
[34] Diário de George Q. Cannon, 6 de outubro de 1890.
“Testemunhando a Fidelidade”
Declaração Oficial 2
James Goldberg25 Maio 2016

Charlotte e William Acquah, primeiros conversos em Gana.

As experiências de três casais — Charlotte Andoh-Kesson e William


Acquah em Gana, Helvécio e Rudá Tourinho Assis Martins no Brasil e
Joseph e Toe Leituala Freeman nos Estados Unidos — demonstram
o que era ser um santo dos últimos dias negro até que a revelação de
1978 tornasse acessível o sacerdócio e as bênçãos do templo aos
membros da Igreja seja qual fosse sua etnia.

A Bíblia conta a história de um povo que conheceu a angústia e a dor.


No Velho Testamento, os filhos de Israel foram arrastados de suas
casas como prisioneiros e feitos escravos em terras distantes. Mais
tarde, a terra natal dos israelitas foi ocupada por forças estrangeiras
que governavam com brutalidade. O povo esperou pela salvação, em
parte porque sabia o que era suportar o cativeiro.1

A experiência de incontáveis negros africanos ao longo dos últimos


cinco séculos fez ecoar a experiência dos antigos israelitas. Desde
1500 até 1888, gerações de negros africanos foram tiradas de sua
terra natal e escravizadas nas Américas. Por volta de 1900, quase
toda a África era ocupada por forças estrangeiras.

Em ambos os lados do Atlântico, a escravidão e o imperialismo


levaram a grandes divisões entre brancos e negros. As leis
geralmente tratavam as pessoas brancas como superiores. Depois
que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi
organizada em 1830, alguns negros abraçaram o evangelho
restaurado e alguns deles foram ordenados ao sacerdócio. No
entanto, a cultura racial da época era dividida e ameaças de
perseguição externa impuseram alguns desafios à integração étnica
na Igreja.2

A partir da década de 1850, a Igreja seguiu uma política que restringia


o acesso dos membros negros à plena participação na Igreja,
declarando-os inelegíveis para ser ordenados ao sacerdócio ou
receber as ordenanças do templo.3 Por várias gerações, muitos
negros santos dos últimos dias, assim como muitas pessoas negras
ao redor do mundo, suportaram com paciência as situações difíceis
enquanto esperavam um futuro melhor.

Quando a Igreja começou a expandir-se no mundo inteiro nas


décadas depois da Segunda Guerra Mundial, um número crescente
de negros converteu-se ao evangelho restaurado. Na África e nas
Américas, uma nova geração de pioneiros negros colocou sua
confiança no Senhor e abriu caminho para que um dia participasse
plenamente na Igreja. Embora houvesse sinais que incentivassem
uma mudança, a discriminação racial continuava tanto dentro quanto
fora da Igreja e as restrições do sacerdócio e do templo aos negros
permaneciam.4 As experiências de três casais — Charlotte Andoh-
Kesson e William Acquah em Gana, Helvécio e Rudá Tourinho Assis
Martins no Brasil e Joseph e Toe Leituala Freeman nos Estados
Unidos — demonstram o que era ser um santo dos últimos dias negro
até que a revelação de 1978 tornasse acessível o sacerdócio e as
bênçãos do templo aos membros da Igreja seja qual fosse sua etnia.

Charlotte Andoh-Kesson Acquah e William Acquah, Gana


Quando era criança, Charlotte Andoh-Kesson frequentava a Igreja
Anglicana com seus pais e seus 12 irmãos. Charlotte era uma pessoa
naturalmente religiosa. Ela memorizava todos os hinos e até mesmo
as palavras da missa.

Quando Charlotte tinha 11 anos de idade, a mãe dela encontrou um


pastor local chamado Joseph William “Billy” Johnson. Johnson não
era como os outros pastores — além da Bíblia, ele pregava usando
um outro volume de escrituras chamado o Livro de Mórmon. Charlotte
cresceu ouvindo os nomes de Morôni, Néfi e Amon, bem como o de
Moisés e de Marcos. Com os hinos mais antigos, ela cantava os hinos
santos dos últimos dias sobre Sião e a Restauração do evangelho. Às
vezes, ela e outros membros da igreja, viajavam para a praia para
suplicar ao Senhor em oração, como Enos fez no Livro de Mórmon.5

A congregação de Charlotte reunia-se em um edifício que tinha uma


grande rachadura no teto, mas que era decorado com uma estátua do
anjo Morôni para lembrá-los dos templos distantes. Alguns membros
da congregação sonhavam e profetizavam que, um dia, estariam
vestidos de branco, servindo em um belo templo em Gana.6 Porém,
antes que esse dia chegasse, eles sabiam que representantes da
sede da Igreja precisariam vir e torná-los oficialmente parte da Igreja.

Em 1978, no ano em que Charlotte terminou a faculdade, ela


começou a sentir-se influenciada por diferentes forças. Por outro lado,
devido aos vários jejuns que o irmão Johnson realizava, ele ficava
cada vez mais convencido de que se aproximava o dia em que a
Igreja com sede nos Estados Unidos, onde predominavam brancos,
viria reconhecer as congregações SUD negras de Gana. Na mesma
época, Charlotte começou a namorar William Acquah. William estava
feliz em abraçar seus amigos e parentes santos dos últimos dias, mas
era cético em relação aos ensinamentos da Igreja, às suas
instalações físicas e suspeitava de pessoas brancas em geral,
inclusive aqueles santos dos últimos dias por quem oravam para que
viessem a Gana.
Helvécio Martins e Rudá Tourinho Assis Martins, Brasil
Na década de 1970, Helvécio e Rudá Martins estavam procurando a
verdade religiosa no Brasil. Por incentivo da família de Rudá, o casal
havia passado vários anos frequentando um culto afro-brasileiro, a
macumba, fé que mistura tradições africanas, ensinamentos católicos
e espiritismo. Gradualmente, no entanto, eles começaram a sentir que
esse culto não estava atendendo a suas necessidades espirituais ou
aproximando-os dos membros da família e antepassados falecidos.7

Em 1972, dois missionários da Igreja bateram à porta da casa deles.


Helvécio estava interessado, mas tinha uma preocupação premente.
“Já que a sua igreja tem a sede nos Estados Unidos, um país com
uma história de conflitos raciais”, ele perguntou: “Como é que sua
religião trata os negros? Eles podem ir à igreja?”

Helvécio lembrou-se de que, em resposta a sua pergunta, o


missionário mais velho “encolheu-se em sua cadeira”.8 Antes de
responder, os missionários pediram para orar com Helvécio, Rudá e
as crianças. Então, eles contaram a história da Restauração e
explicaram da melhor forma possível sobre a restrição do sacerdócio
e do templo. Helvécio ficou satisfeito com a resposta e decidiu
concentrar-se nos outros novos ensinamentos. Em poucos meses,
incentivados pelo “espírito dos discursos (…) e pelo amor
demonstrado pelos membros na Igreja”, Helvécio e Rudá foram
batizados.9 Na época, eles ficaram felizes porque o evangelho
melhorou a vida deles e esperavam — eles pensavam que
esperariam até o milênio — por certas bênçãos relacionadas ao
sacerdócio.

Porém, cerca de um ano após o batismo, a família Martins ficou


surpresa quando a bênção patriarcal deles sugeriu que seriam
selados como família nesta vida e que o filho Marcus serviria missão.
Eles não queriam ficar desapontados, mas, em seu entendimento,
eles esperariam por essas bênçãos até o retorno de Cristo. Ao
mesmo tempo, desejavam estar preparados para tudo o que o Senhor
planejava, por isso abriram uma poupança para a missão de
Marcus.10

Nos anos seguintes, conforme a família Martins crescia na Igreja, os


membros davam-lhes apoio — e, às vezes, desconfortáveis
expressões de compaixão. Em certa ocasião, um bispo disse que
sentia que o maior desafio de Helvécio era permanecer fiel na Igreja
sem ser ordenado ao sacerdócio. “Bispo”, Helvécio respondeu: “Eu
seria grato caso essa fosse minha maior provação”.11

Em 1977, Helvécio e Rudá foram convidados a visitar o local da


construção do Templo de São Paulo Brasil por causa do chamado de
Helvécio como diretor regional de relações públicas da Igreja. Durante
a visita, tanto Helvécio quanto Rudá pararam no local onde depois
souberam que seria construída a sala celestial. “Um espírito vigoroso
tocou nosso coração”, relembrou Helvécio. “Nós nos abraçamos e
choramos, sem realmente compreender o porquê.”12
“Irmão Martins, é requerida a sua fidelidade. Permaneça fiel e você
vai desfrutar de todas as bênçãos do evangelho. ”

Dois anos mais tarde, na cerimônia da pedra angular do templo, o


Presidente Spencer W. Kimball chamou Helvécio a seu lado. “Irmão
Martins”, ele aconselhou, “é requerida a sua fidelidade. Permaneça
fiel e você vai desfrutar de todas as bênçãos do evangelho”.13

Mas como o casal Martins receberia todas as bênçãos do evangelho


sem possuir o sacerdócio ou receber as ordenanças do templo? No
ano seguinte, Marcus ficou noivo de uma moça da Igreja que não
tinha antepassados africanos negros. Mesmo estando contente em
confiar nas promessas de que todas as bênçãos estariam disponíveis
a todos os membros, a possibilidade de não ter um casamento do
templo era dolorosa.

Joseph Freeman e Toe Leituala Freeman, Estados Unidos


Muito antes de ouvir falar de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, Joseph Freeman havia jurado entregar a vida a Cristo.
A família dele era ativa no movimento de Santidade e ele tornou-se
ministro voluntário. Em 1972, Joseph também se alistou no Exército e
foi designado para uma base militar no Havaí. Seus dias eram
preenchidos pelo serviço militar embora seu tempo livre fosse
preenchido com pregação e oração.

Mas Joseph sentia que algo estava faltando. Ao buscar orientação,


ele solicitou uma semana de folga, foi para uma praia isolada e jejuou
por cinco dias. “Eu literalmente supliquei ao Senhor”, Joseph
relembrou, “para que eu soubesse o que fazer para obter força e
poder espiritual para ensinar o evangelho como deveria ser
ensinado”.14 Ele também expressou um segundo desejo: encontrar
uma esposa que amasse a Deus tanto quanto ela o amasse.

Em pouco tempo, a oração de Joseph foi respondida. Ao visitar o


Centro Cultural Polinésio em Laie, ele conheceu vários santos dos
últimos dias, cujos pontos de vista sobre o evangelho o
impressionaram. Em particular, uma ex-missionária chamada Toe
Isapela Leituala chamou a atenção dele como o tipo de mulher que
ele estivera procurando. Por meio de conversas com novos amigos,
missionários e Toe, Joseph convenceu-se de ter encontrado a Igreja
restaurada de Cristo. Ele foi batizado em 30 de setembro de 1973.

Como membro novo, os sentimentos de Joseph sobre a etnia e a


Igreja estavam confusos. Ele estava nervoso por ser o único membro
negro de sua ala. Além disso, a restrição do sacerdócio e do templo
estava entre ele e seus dois desejos mais profundos: ele não poderia
ser ministro na Igreja e não poderia casar-se da forma que desejava.
Toe, ao notar que sua atração por Joseph aumentava, decidiu não
manter sua amizade com ele.

Isso perturbara tanto Joseph que ele não conseguia encontrar apoio
nas escrituras para obter justificativas plausíveis para essa restrição,
a maioria das quais envolviam especulações sobre a vida pré-mortal.
Ao mesmo tempo, ele encontrou consolo na promessa de que um dia,
pelo menos no milênio, os homens negros possuiriam o sacerdócio.
“Meu conceito de Milênio não era de alguma coisa distante que
estivesse além da compreensão”, lembra Joseph. “Eu realmente senti
que talvez não levasse muitos anos até o ‘grande e terrível dia’.”15

Mesmo com os dilemas que enfrentava como homem negro na Igreja,


Joseph era grato pelo evangelho. “A cada dia, o dom do Espírito
Santo tornava-se uma maior fonte de orientação, paz e uma parte
permanente de minha vida”, lembrou.16 Logo após sua conversão,
era difícil para ele imaginar como havia vivido sem o evangelho.

Também se tornou difícil para Toe imaginar a vida sem ele. Ainda que
casar-se com Joseph fosse impedi-la de ser selada no templo, o que
ela esperava há muito tempo, sentiu-se inspirada a continuar o
relacionamento. Os dois começaram a namorar e logo se
aconselharam com o bispo sobre o casamento. Primeiramente o
bispo expressou a preocupação típica da época sobre o casamento
inter-racial e intercultural, mas prometeu que, se jejuassem e
orassem, o Espírito Santo diria a eles o que fazer. Joseph e Toe
jejuaram, oraram e sentiram a confirmação do Espírito sobre sua
escolha. Outras pessoas os pressionaram a terminar o
relacionamento, mas eles permaneceram fiéis à resposta que
receberam. Eles se casaram em 15 de junho de 1974.

Pouco tempo depois, eles tiveram um filho, e Joseph e Toe decidiram


deixar a vida militar. Mudaram-se para Salt Lake City e tiveram mais
filhos. Um fator preponderante na decisão de se estabelecerem em
Salt Lake City foi o Genesis Group, um grupo social e espiritual
patrocinado pela Igreja para os membros da Igreja negros.17 Ele era
feliz com sua vida na Igreja na maior parte do tempo. Preocupava-se,
porém, em criar seus filhos com autoestima suficiente para lidar com
o ambiente mesmo com a possibilidade de serem deixados de lado
em sua adolescência por não poderem receber o sacerdócio com
seus colegas.

O Dia Há Muito Prometido


Conforme as congregações da Igreja cresciam em Gana e na Nigéria,
e pessoas, tais como a família Martins e Joseph Freeman, se
filiassem à Igreja nas Américas, o Presidente Spencer W. Kimball
testemunhou a fidelidade deles e tornou-se cada vez mais
preocupado com a forma de ajudá-los a crescer na fé. Em certa
ocasião, ele chorou ao ler uma carta de Emmanuel Bondah, um
estudante de Gana que cursava o sexto ano, solicitando seu próprio
exemplar do Livro de Mórmon e pedindo ajuda para tornar-se um
“autêntico mórmon”.18

No início de 1978, o Presidente Kimball orava regularmente no templo


para receber revelação sobre proporcionar a ordenação ao
sacerdócio e as bênçãos do templo aos membros negros da Igreja.
Ele finalmente conversou com seus conselheiros na Primeira
Presidência e com os membros do Quórum dos Doze Apóstolos
sobre o assunto e convidou-os para que fizessem disso uma questão
de estudo e oração.

“Tive algumas experiências espirituais extraordinárias antes (…), mas


nada dessa magnitude. Todas as Autoridades Gerais souberam e
sentiram em sua alma qual era a resposta à petição do Presidente
Kimball. ”
Em 1º de junho de 1978, o Presidente Kimball reuniu-se com a
Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos no templo. Ele
pediu mais uma vez que compartilhassem seus pensamentos e
conselhos sobre a restrição e, em seguida, orou por revelação. “Tive
algumas experiências espirituais extraordinárias antes”, disse o Élder
Bruce R. McConkie, “(…), mas nada dessa magnitude. Todas as
Autoridades Gerais souberam e sentiram na alma qual era a resposta
à petição do Presidente Kimball”.19 Uma semana depois, a Primeira
Presidência comunicou aos líderes da Igreja em todo o mundo que
havia sido retirada a restrição. Essa declaração foi canonizada
posteriormente em Doutrina e Convênios como a Declaração Oficial
2.
No dia posterior ao anúncio, Joseph Freeman recebeu um telefonema
de seu bispo. A conferência de estaca seria realizada naquele fim de
semana: Joseph foi entrevistado, apoiado e, em 11 de junho de 1978,
tornou-se o primeiro homem negro ordenado ao Sacerdócio de
Melquisedeque depois da revelação. Finalmente ele poderia ministrar
com a autoridade que havia orado para encontrar. Duas semanas
mais tarde, Joseph e Toe levaram os filhos ao templo. Quando a
família de Joseph e Toe se ajoelhou no altar, o Élder Thomas S.
Monson proferiu as palavras da ordenança e depois os selou para o
tempo e para toda a eternidade.20

Para a família Martins, no Brasil, a notícia motivou o filho Marcus a


adiar o casamento para que pudesse servir a missão que sua bênção
patriarcal falara e para a qual seus pais tinham economizado. Logo
depois de ser ordenado élder, Helvécio levantou-se para ordenar
Marcus ao mesmo ofício. “Senti que iria explodir de alegria”, Helvécio
relembrou.21 Apenas algumas semanas mais tarde, ele deu uma
bênção do sacerdócio ao filho de sua empregada e testemunhou a
cura milagrosa do menino. Naquele mês de novembro, o Templo de
São Paulo Brasil abriu e a família Martins — inclusive Marcus, que
estava servindo como missionário em São Paulo, Brasil — foi
selada.22

Em Gana, a revelação sobre o sacerdócio abriu o caminho para que


os missionários fossem para lá e organizassem oficialmente as
congregações locais. Para membros como Charlotte, foi uma
resposta clara aos jejuns prolongados e às muitas orações dos
membros da Igreja locais. O marido dela, William, estava menos
impressionado. Em seus estudos, ele tinha desenvolvido uma
desconfiança por brancos e suas narrativas sobre a história e a fé.
Sua interação pessoal com as pessoas brancas serviu apenas para
aumentar essa desconfiança, e ele estava cético sobre a
possibilidade de missionários brancos trazerem algo bom para seu
país.23
Porém, o que ele realmente vivenciou o surpreendeu. Um casal
missionário sênior, Reed e Naomi Clegg, trouxe-lhe o evangelho por
meio de suas ações e suas palavras. Eles eram calorosos e diretos.
Eles não apenas ensinaram que todas as pessoas são filhos de Deus,
mas também demonstravam respeito por todos que conheciam. “Eles
me recepcionaram da maneira que nenhum branco havia feito”,
William relembra.24 Uma vez que seu ressentimento contra os
mensageiros brancos havia desaparecido, pouco tempo depois
William sentiu a mensagem do evangelho penetrar-lhe profundamente
o coração. Ele foi batizado, ordenado ao sacerdócio e ajudou a
edificar a Igreja em Gana, desde o pequeno começo até aquele dia
em 2004, quando as visões dos primeiros membros foram cumpridas
e Gana ganhou seu próprio templo.

Prosseguir com Fé
Helvécio Martins expressou ao seu bispo, em meados da década de
1970, que a restrição do sacerdócio e do templo foi uma das muitas
provações na vida dos membros negros. Além de suas próprias
provações pessoais, muitos enfrentaram e continuam a enfrentar
preconceitos e mal-entendidos culturais mesmo em sua ala ou seu
ramo. E os membros de todas as etnias têm dificuldade para
compreender essa restrição.

Como resultado da revelação que encerrava a restrição, os membros


da Igreja em todo o mundo passaram a vivenciar a integração real e
significativa com seus companheiros santos. Por meio de mestres
familiares e professoras visitantes, chamados na Igreja, serviço e
integração, os membros de diferentes etnias tendem a ficar
profundamente envolvidos na vida uns dos outros. Os membros
aprendem uns com os outros, recebem conselhos uns dos outros e
têm a oportunidade de entender melhor o ponto de vista e as
experiências uns dos outros.

Os santos dos últimos dias ainda lutam contra os problemas criados


por séculos de colonização, escravidão, desconfiança e divisão. Mas
o companheirismo da Igreja oferece-lhes a oportunidade de tornarem-
se unos de coração e mente ao ministrarem uns aos outros com
amor. Ao prosseguirem com humildade e fé, os membros da Igreja
encontram a cura e a força por meio de Jesus Cristo, o Salvador de
todos nós.

Notas de rodapé
[1] O Velho Testamento registra que os israelitas foram escravos no Egito e,
depois, muitos se tornaram cativos na Assíria e na Babilônia. Alguns livros
apócrifos são da época em que Israel era governada por forças gregas;
durante a época do Novo Testamento, os romanos ocuparam Israel.
[2] Peter Kerr, um ex-escravo que morava em Ohio, provavelmente tornou-se
a primeira pessoa negra a aceitar o evangelho quando os missionários
visitaram a área de Kirtland em 1830 (ver Mark Staker, Hearken O Ye People:
The Historical Setting of Joseph Smith’s Ohio Revelations [Salt Lake City:
Kofford Books, 2009], p. 3). Elijah Abel, Jane Manning James, Q. Walker
Lewis e Green Flake são exemplos de outros santos dos últimos dias negros.
Os primeiros vizinhos dos santos dos últimos dias viam os santos como
perigosamente à vontade com os negros americanos, uma percepção que
contribuiu para a violência contra os santos em 1832, quando as pessoas em
Jackson County acusaram os santos de interferirem na vida de seus escravos
(ver William W. Phelps, “To His Excellency, Daniel Dunklin, Governor of the
State of Missouri”, The Evening and the Morning Star, vol. 2, nº 15 [Dec.
1833], pp. 226–231).
[3] Ver “As Etnias e o Sacerdócio”, Tópicos do Evangelho, topics.LDS.org.
[4] Nos Estados Unidos, as conquistas legais pelos negros ocorreram nas
décadas de 1950 e 1960 e diminuíram em 1970, já que muitas pessoas que
haviam apoiado o fim das leis discriminatórias no Sul resistiram aos esforços
para aumentar a integração racial no Norte. Na África, também, nas décadas
de 1950 e 1960, viu-se muitos países conquistarem a independência, para
então se perceber, na década de 1970, que as barreiras para a participação
na comunidade internacional ainda permaneciam.
[5] William E. D. e Charlotte A. Acquah, entrevista feita por Matthew K. Heiss,
Cape Coast, Gana, 16 de outubro de 1999, OH 2238, transcrição, Biblioteca
de História da Igreja, p. 26.
[6] Acquah, entrevista, p. 22.
[7] Helvécio Martins e Mark Grover, The Autobiography of Helvécio
Martins (Salt Lake City: Aspen Books, 1994), pp. 39–40.
[8] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 44.
[9] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 45.
[10] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 46.
[11] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 57.
[12] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 64.
[13] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 66.
[14] Joseph Freeman, In the Lord’s Due Time (Salt Lake City: Bookcraft,
1979), p. 43.
[15] Freeman, In the Lord’s Due Time, pp. 67–68.
[16] Freeman, In the Lord’s Due Time, p. 66.
[17] Freeman, In the Lord’s Due Time, pp. 87, 100–101. O Genesis Group
havia sido formado em resposta a uma solicitação de três membros negros —
Ruffin Bridgeforth, Darius Gray e Eugene Orr — para ajudar a servir aos
poucos santos dos últimos dias negros na área e reativá-los. Os Élderes
Gordon B. Hinckley, Thomas S. Monson e Boyd K. Packer, do Quórum dos
Doze Apóstolos, reuniram-se com os três e ajudaram a organizar o grupo (ver
Edward L. Kimball, “Spencer W. Kimball and the Revelation on
Priesthood”, BYU Studies, vol. 47, nº 2, 2008, p. 30).
[18] Janath Russell Cannon e Edwin Q. Cannon Jr., Together: A Love
Story (Salt Lake City: Desktop Publishing, 1999), p. 153.
[19] Kimball, “Spencer W. Kimball and the Revelation on Priesthood”, p. 56.
[20] Chris Peterson, “Black Priesthood Holder Recalls Historic Day”, Deseret
News, 23 de abril de 2010, www.deseretnews.com.
[21] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, pp. 70–71.
[22] Martins, The Autobiography of Helvécio Martins, p. 78.
[23] Acquah, entrevista, pp. 8, 12–14.
[24] Acquah, entrevista, p. 14.
Sumário:

INTRODUÇÃO À SÉRIE

AS CINCO PERGUNTAS DE WILLIAM MCLELLIN

D&C 1, 65, 66, 67, 68, 133


D&C 66
D&C 65
D&C 68
D&C 1
D&C 67
D&C 133
NOTAS DE RODAPÉ

AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTIN HARRIS

D&C 3, 5, 10, 17, 19


“NÃO POSSO LER UM LIVRO SELADO”
“PARA CALAR A BOCA DOS TOLOS”
“VOU DAR-LHE UMA VISÃO”
“MEUS OLHOS VIRAM”
“NÃO COBIÇARÁS TUA PROPRIEDADE”.
NOTAS DE RODAPÉ

APOIO FAMILIAR A JOSEPH SMITH

D&C 4, 11, 23
REVELAÇÃO PARA JOSEPH SMITH SÊNIOR
A CONVERSÃO DE SAMUEL SMITH
REVELAÇÃO PARA HYRUM SMITH
‘ANSIOSOS PARA CONHECER (…) SEUS RESPECTIVOS DEVERES’
NOTAS DE RODAPÉ

O DOM DE OLIVER COWDERY

D&C 6, 7, 8, 9, 13
UMA REVELAÇÃO PARA OLIVER
OLIVER DESEJA TRADUZIR
RESTAURADA A AUTORIDADE
NOTAS DE RODAPÉ

AS FAMÍLIAS KNIGHT E WHITMER

D&C 12, 14, 15, 16


UM AMIGO NECESSÁRIO
DE HARMONY PARA FAYETTE
INÍCIO DA ORGANIZAÇÃO DA IGREJA
NOTAS DE RODAPÉ

A EXPERIÊNCIA DAS TRÊS TESTEMUNHAS

D&C 17
CHAMADOS PARA TESTIFICAR
NOTAS DE RODAPÉ

‘EDIFICAR MINHA IGREJA’

D&C 18, 20, 21, 22


NOTAS DE RODAPÉ

‘ÉS UMA MULHER ELEITA’

D&C 24, 25, 26, 27


AS PROVAÇÕES DE EMMA
MANIFESTAÇÕES ABUNDANTES DE REVELAÇÃO
NOTAS DE RODAPÉ

A JORNADA DO RAMO DE COLESVILLE

D&C 26, 51, 54, 56, 59


A MUDANÇA PARA OHIO
A MUDANÇA PARA O MISSOURI
NOTAS DE RODAPÉ

UMA MISSÃO ENTRE OS LAMANITAS


D&C 28, 30, 32
NOTAS DE RODAPÉ

TODAS AS COISAS DEVEM SER FEITAS EM ORDEM

D&C 28, 43
NOTAS DE RODAPÉ

A FÉ E A QUEDA DE THOMAS MARSH

D&C 31, 112


UM SERVO FIEL
OS PROBLEMAS SURGEM
O AFASTAMENTO
NOTAS DE RODAPÉ

EZRA THAYER: DE CÉTICO A CRENTE

D&C 33
O CÉTICO
O CRENTE
A REVELAÇÃO
O MISSIONÁRIO
NOTAS DE RODAPÉ

O CHAMADO DE ORSON PRATT PARA SERVIR

D&C 34
UMA VISITA INESPERADA
CHAMADO A PREGAR
NOTAS DE RODAPÉ

‘IR PARA OHIO’

D&C 35, 36, 37, 38


A CONVERSÃO DE SIDNEY RIGDON
VIAGEM A NOVA YORK PARA VISITAR JOSEPH
O CHAMADO PARA REUNIR OS SANTOS
NOTAS DE RODAPÉ
JAMES COVILL E OS ‘CUIDADOS DO MUNDO’

D&C 39, 40
NOTAS DE RODAPÉ

‘BISPO DA IGREJA’

D&C 41, 42, 51, 54, 57


NOTAS DE RODAPÉ

A LEI

D&C 42
“CONSAGRARÁS DE TUAS PROPRIEDADES”
RESPOSTAS PARA VÁRIAS PERGUNTAS
“COMO AGIR DE ACORDO COM OS PONTOS DE MINHA LEI”
NOTAS DE RODAPÉ

“ABANDONEI OUTROS ASSUNTOS”: OS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS

D&C 42, 75, 79, 80, 84, 99


A CULTURA DE PREGAÇÃO DO SÉCULO XIX
O ALICERCE DA REVELAÇÃO
AS MISSÕES DE JOHN MURDOCK NO MISSOURI
JARED CARTER: “PARA O LESTE”
O ESFORÇO DAS MULHERES
NOTAS DE RODAPÉ

TRADUÇÃO DA BÍBLIA POR JOSEPH SMITH

D&C 45, 76, 77, 86, 91


O PROCESSO DE TRADUÇÃO
SEÇÃO 45
SEÇÕES 77 E 86
SEÇÃO 91
O LEGADO DA TRADUÇÃO
NOTAS DE RODAPÉ

ENTUSIASMO RELIGIOSO ENTRE OS PRIMEIROS CONVERSOS DE OHIO


D&C 46, 50
CHEGADA DOS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS
O SEGUNDO GRANDE DESPERTAR
MANIFESTAÇÕES ESPIRITUAIS ESTRANHAS
A CHEGADA DE JOSEPH SMITH
UMA REVELAÇÃO SOBRE COMO DISCERNIR OS ESPÍRITOS
ESTABELECER AS COISAS EM ORDEM
NOTAS DE RODAPÉ

O LIVRO DE JOHN WHITMER

D&C 47, 69
WHITMER COMO HISTORIADOR E REGISTRADOR
O QUE ACONTECEU COM JOHN WHITMER E SUA HISTÓRIA?
NOTAS DE RODAPÉ

LEMAN COPLEY E OS SHAKERS

D&C 49
UMA REVELAÇÃO PARA OS SHAKERS
A MISSÃO A NORTH UNION
O RESULTADO
PARLEY P. PRATT
NOTAS DE RODAPÉ

O LUGAR CENTRAL

D&C 52, 57, 58


LIMITES CONTESTADOS
POVOS SAGRADOS
CONCLUSÃO
NOTAS DE RODAPÉ

EZRA BOOTH E ISAAC MORLEY

D&C 57, 58, 60, 61, 62, 63, 64, 71, 73


A JORNADA PARA O MISSOURI
UMA ORAÇÃO POR ORIENTAÇÃO
O RETORNO PARA OHIO
“CONFUNDIR SEUS INIMIGOS”
O TESTE DE ISAAC MORLEY
NOTAS DE RODAPÉ

NEWEL K. WHITNEY E A FIRMA UNIDA

D&C 70, 78, 82, 92, 96, 104


NOTAS DE RODAPÉ

‘A VISÃO’

D&C 76
‘COISAS GRANDES E MARAVILHOSAS’
UNIVERSALISMO
‘MUITOS TROPEÇARAM NELA’
‘PERMANECER EM SILÊNCIO’
‘ISSO VEIO DE DEUS’
NOTAS DE RODAPÉ

JESSE GAUSE: CONSELHEIRO DO PROFETA

D&C 81
NOTAS DE RODAPÉ

PAZ E GUERRA

D&C 87
A REVELAÇÃO DO DIA DE NATAL
CRISE EVITADA
LUGARES SANTOS
CONCLUSÃO
NOTAS DE RODAPÉ

UMA ESCOLA E UMA INVESTIDURA

D&C 88, 90, 95, 109, 110


UMA PROMESSA DE AJUDA DIVINA
APRENDER NA ESCOLA DOS PROFETAS
TORNAR-SE PUROS E UNIDOS
TRABALHAR PELO CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS
D&C 95 EM JOSEPHSMITHPAPERS.ORG
BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS
A TODAS AS NAÇÕES
NOTAS DE RODAPÉ

“UMA CASA PARA NOSSO DEUS”

D&C 88, 94, 95, 96, 97, 109, 110, 137


“NÃO TENDO CONSIDERADO”
UMA PLANTA PARA UMA “CIDADE DA ESTACA DE SIÃO”
“UM NORTE PARA TODOS OS NOSSOS PENSAMENTOS”
“UM LUGAR PARA MANIFESTAR-SE”
NOTAS DE RODAPÉ

A PALAVRA DE SABEDORIA

D&C 89
TABACO
BEBIDAS FORTES
BEBIDAS QUENTES
“[DERRAMAREI] O MEU ESPÍRITO SOBRE TODA A CARNE.”
NOTAS DE RODAPÉ

“O HOMEM TAMBÉM ESTAVA NO PRINCÍPIO COM DEUS”

D&C 93
NOTAS DE RODAPÉ

AGUARDAR A ORIENTAÇÃO DO SENHOR

D&C 97, 98 E 101


RECEBER ORIENTAÇÃO DIVINA
“APÓS MUITAS TRIBULAÇÕES VÊM AS BÊNÇÃOS”
NOTAS DE RODAPÉ

UMA MISSÃO NO CANADÁ

D&C 100
QUESTÕES IMPORTANTES DE JOSEPH
UMA ORAÇÃO DE CONSOLO
D&C 100:1
CHEGADA A MOUNT PLEASANT
NOTAS DE RODAPÉ

RESTAURAR A ANTIGA ORDEM

D&C 102, 107


GOVERNANÇA DA CONFERÊNCIA
O SISTEMA DE CONSELHOS
QUÓRUNS
APOIAR A NOVA ORGANIZAÇÃO
NOTAS DE RODAPÉ

A OFERTA ACEITÁVEL DO ACAMPAMENTO DE SIÃO

D&C 103, 105


NOTAS DE RODAPÉ

WARREN COWDERY

D&C 106
NOTAS DE RODAPÉ

“INSPIRADO” A BUSCAR UMA REVELAÇÃO

D&C 108
“QUE SE TRANQUILIZE TUA ALMA”
“SERÁS LEMBRADO”
“FORTALECE TEUS IRMÃOS”
NOTAS DE RODAPÉ

MAIS DE UM TESOURO

D&C 111
“NÃO VOS PREOCUPEIS”
“O DEVIDO TEMPO DO SENHOR”
“ESTRANHOS E SOZINHOS”
“OS PRIMEIROS FRUTOS”
“MAIS DE UM TESOURO”
NOTAS DE RODAPÉ

FAR WEST E ADÃO-ONDI-AMÃ

D&C 115, 116, 117


ENCONTRAR UM LUGAR PARA OS SANTOS DE KIRTLAND
O LUGAR ONDE ADÃO VIRÁ
A COLIGAÇÃO EM ADÃO-ONDI-AMÃ
‘OS ASSUNTOS DE MAIOR IMPORTÂNCIA’
EPÍLOGO
NOTAS DE RODAPÉ

“ZELES ESPECIALMENTE POR TUA FAMÍLIA”

D&C 118, 126


“VÁ E DEIXE SUA FAMÍLIA”
DUAS REVELAÇÕES
UMA MISSÃO ALÉM DAS ÁGUAS
CUIDANDO DAS NECESSIDADES FINANCEIRAS DA FAMÍLIA
“TUA OFERTA É ACEITÁVEL”
NOTAS DE RODAPÉ

“O DÍZIMO DE MEU POVO”

D&C 119–120
NOTAS DE RODAPÉ

ENTRE AS PAREDES DA CADEIA DE LIBERTY

D&C 121, 122, 123


PRIMEIROS CONFLITOS NO MISSOURI
CADEIA DE LIBERTY
CARTA AOS SANTOS
NOTAS DE RODAPÉ

A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA EM NAUVOO

D&C 124, 125


UM NOVO LOCAL DE REUNIÃO
AS SEÇÕES DE DOUTRINA E CONVÊNIOS RECEBIDAS EM NAUVOO
CONTEÚDO DA SEÇÃO 124
O LEGADO DA REVELAÇÃO
NOTAS DE RODAPÉ

CARTAS SOBRE O BATISMO PELOS MORTOS

D&C 127, 128


CARTAS SOBRE BATISMO PELOS MORTOS
‘LINHA SOBRE LINHA’
NOTAS DE RODAPÉ

“NOSSO CORAÇÃO SE REJUBILOU AO OUVI-LO FALAR”

D&C 129, 130, 131


SECRETÁRIO E ESCREVENTE
ENSINAMENTOS PRECIOSOS
NOTAS DE RODAPÉ

MERCY THOMPSON E A REVELAÇÃO SOBRE O CASAMENTO

D&C 132
O CÉU E A TERRA
MERCY E ROBERT
PLURALIDADE
MERCY E HYRUM
TEMPO E ETERNIDADE
NOTAS DE RODAPÉ

“OF GOVERNMENTS AND LAWS” [RELATIVA A GOVERNOS E LEIS]

D&C 134
REPARAÇÕES
A DECLARAÇÃO
COMO A DECLARAÇÃO FOI USADA
DAI A CÉSAR
NOTAS DE RODAPÉ
LEMBRAR-SE DO MARTÍRIO

D&C 135
CARTAS
DIÁRIOS
POESIA
EDITORIAIS
DOUTRINA E CONVÊNIOS
NOTAS DE RODAPÉ

“ESTE SERÁ NOSSO CONVÊNIO”

D&C 136
RECEBER A NOTÍCIA
TRILHANDO O CAMINHO DO CONVÊNIO
UM TEMPO DE APRENDIZADO
NOTAS DE RODAPÉ

SUSA YOUNG GATES E A VISÃO DA REDENÇÃO DOS MORTOS

D&C 138
“UM TRABALHO AINDA MAIOR”
“AS HOSTES DOS MORTOS”
“UMA ALEGRIA E UM CONFORTO ÚNICOS”
NOTAS DE RODAPÉ

O MENSAGEIRO E O MANIFESTO

DECLARAÇÃO OFICIAL 1
O CONSELHEIRO
A CRUZADA
O MANIFESTO
O DISCURSO
CONCLUSÃO
NOTAS DE RODAPÉ

“TESTEMUNHANDO A FIDELIDADE”

DECLARAÇÃO OFICIAL 2
CHARLOTTE ANDOH-KESSON ACQUAH E WILLIAM ACQUAH, GANA
HELVÉCIO MARTINS E RUDÁ TOURINHO ASSIS MARTINS, BRASIL
JOSEPH FREEMAN E TOE LEITUALA FREEMAN, ESTADOS UNIDOS
O DIA HÁ MUITO PROMETIDO
PROSSEGUIR COM FÉ
NOTAS DE RODAPÉ

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