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NATAL, 2010
A Utilização das Árias Antigas de Parisotti no Ensino do Canto:
Uma Implicação Estilística
por
Natal, 2010
A Utilização das Árias Antigas de Parisotti no Ensino do Canto:
Uma Implicação Estilística
por
Aprovado em:____/____/______
BANCA EXMINADORA
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Profa. Cláudia Roberta de Oliveira Cunha (orientadora)
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Prof. Dra. Valéria Lazaro de Carvalho
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Prof. Ms. João Raone Tavares da Silva
Natal, 2010
Catalogação da Publicação na Fonte
Biblioteca Setorial da Escola de Música
This work is about the stylistic implications of the use of Arie Antiche, by
Alessandro Parisotti, in the teaching of singing. This work reflects on the
presence of early music and how it influences in the musical formation. The
approach presents the characteristics of vocal music in the early seventeenth
century, the work Le nuove musiche, which contains the monody Amarilli mia
bella, a song widely used in the repertoire of beginner singers. The work
compares the original publication of Amarilli mia bella with the nineteenth-
century edition held by Parisotti. In this comparison it turns out the numerous
changes made by Parisotti.
Key words: Arie Antiche; Parisotti; Amarilli mia bella; teaching of singing; vocal
music.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................6
CONCLUSÃO...............................................................................................................43
REFERÊNCIAS............................................................................................................44
ANEXOS.......................................................................................................................46
O homem antigo tratava a música como parte essencial da vida, por isso
ela deveria nascer do presente. Só seus contemporâneos poderiam entendê-la,
pois a música refletia a realidade de sua época. Quando já não era capaz de
compreender a música dos períodos anteriores restava apreciar sua perfeição
artística. O autor citado aponta que a música antiga era tida como uma etapa
preparatória. Também podia ser tratada como um material de estudo, mas
raramente era reapresentada em concertos.
Para o homem do século XII, uma breve, como seu próprio nome
sugere, tinha curta duração – de fato, era a mais rápida das notas
então existentes. Hoje, uma breve sempre equivale a quatro mínimas;
no século XIV, podia equivaler de quatro a vinte e quatro mínimas, de
acordo com a nacionalidade de quem a escrevesse e o contexto em
que isso ocorresse. Hoje, uma indicação de compasso 3/2 é apenas
uma indicação de compasso; no século XV, indicava tanto o
andamento, como a estrutura métrica da música. (DART, 1960, p. 6).
Ele aconselha, por exemplo, que na execução das árias antigas se evite
uma execução com declamação enfática, quando a declamação é um dos
fundamentos do canto no século XVII. Também pede uma interpretação
precisa do que está escrito na partitura, quando essa prática só se tornou usual
no século XIX.
Por terem sido editadas no século XIX, as árias antigas editadas por
Parisotti não retratam as características originais do período barroco. O aluno
não tem a oportunidade de ter consciências das diferenças estilísticas
contrastantes do estilo barroco e do estilo do século XIX. Essa falta de
consciência das diferenças estilísticas limita o aluno a uma performance
segundo a visão de Parisotti, sem contemplar a possibilidade de uma
performance segundo as fontes originais, ou seja, historicamente orientada.
Dart aponta esse problema:
A peça Amarilli mia bella, segundo Dart, não deveria estar presente no
repertório do estudante de canto como um exercício, já que se trata de uma
monodia. Ele afirma:
Dart faz uma série de sugestões aos editores para que suas edições
sejam mais adequadas a uma interpretação fiel da música antiga. Tomando
essas sugestões como uma referência, irei confrontá-las com as edições de
Parisotti, citando alguns exemplos.
Parisotti trata os textos verbais das árias que editou com liberdade. Ele
modificou palavras e até frases completas e também alterou, por vezes, a
maneira como o texto é distribuído sobre a melodia.
Dart, em sua nona sugestão aos editores, recomenda que seja feita a
distinção entre os termos “reproduzir”, “editar”, “transcrever”, “orquestrar” e
“realizar”. Ele explica que reprodução deve ser uma cópia literal da fonte
original; a edição deve ser a reprodução pronta para ser executada. A
transcrição é alguma alteração do original (um violino substituindo a parte de
uma flauta, por exemplo). Orquestração é a adaptação para um novo e maior
conjunto de instrumentos de uma obra escrita para um conjunto menor. Por fim,
a “realização” deve ser usada apenas para as partes escritas do contínuo.
Parisotti utiliza o termo “transcrever” com o sentido de editar e utilizá-la o termo
“harmonização” dos baixos contínuos no lugar de realização.
Stark (2003) aponta que Caccini se refere a dois registros vocais: voce
piena e naturale (voz plena e natural) e voce finta (voz falsa). Caccini afirma
que da “voz falsa não pode nascer a nobreza do bom canto”. Segundo ele, a
voz deve ser cômoda em toda sua extensão. Stark (2003) explica que nas
composições de Caccini o tenor raramente precisa ultrapassar os limites da voz
de peito. O aspecto da extensão deve ser observado pelo professor, para
preservar a saúde vocal do aluno e para atingir uma qualidade vocal adequada.
Normalmente o professor começa trabalhando o registro médio, antes de
explorar os extremos da voz.
4 A MÚSICA VOCAL NO INÍCIO DO SÉCULO XVII : A MONODIA, A
CAMERATA DE BARDI E CACCINI
O expresso propósito dessa nova música vocal era afastar todo artifício
que interferisse fortemente na compreensão do sentimento e do sentido do
texto. Logo, textura polifônica e desenvolvimento contrapontístico foram
descartados em favor da monodia, em que uma única linha vocal era projetada
sobre um acompanhamento harmônico, dando muito mais valor expressivo ao
texto cantado. O acompanhador improvisaria esse acompanhamento se
baseando em uma única linha de notas graves presente em todo percurso da
obra, por isso, baixo contínuo. Também podia haver figuras em cima ou
embaixo desse baixo que guiavam a harmonia, daí a expressão baixo figurado.
Também havia convenções sobre como o baixo deveria ser realizado.
Caccini explica que ornamentos como trillo (trilo) e gruppo (grupos) são
“elementos necessários a tudo que se pode escrever e vincular à graça”, mas
adverte que dependendo da maneira como são escritos podem causar o efeito
contrário. Por isso ele descreve, em seu prefácio, como empregá-los. Este é
um exemplo de que apenas a notação musical não diz tudo a respeito da
execução de uma peça do início do século XVII.
Tim Carter, em seu artigo Caccini’s Amarilli mia bella: Some questions
(and a Few Answers), explica que antes de ser publicado em 1602, esse
circulou em diversas versões manuscritas.
A peça Amarilli mia bella, segundo Dart, não deveria estar presente no
repertório do estudante de canto como um exercício, já que se trata de uma
monodia. Ele afirma:
3 Parisotti troca o compasso original 2/2 por 4/4. Segundo Paton, o estudante é
levado a uma execução demasiadamente lenta, devido a essa modificação de
compasso.
8 Parisotti altera o texto do poema. Ele troca o verso prendi questo mio strale
(pegue esta minha flecha) por dubitar non ti vale (você não deve duvidar). Essa
substituição dos versos causa uma perda dramática no sentido do poema.
BUKOFZER, Manfred F. Music in the Baroque Era. New York: W.W. Norton,
1947.
CANDÉ, Roland. História Universal da Música (vol I). São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
CARTER, Tim. Caccini’s “Amarilli mia bella”: Some Questions (And a Few
Answers). Journal of the Royal Musical Association, vol. 113, No. 2 (1988), pp.
250-273).
DIAS, Donaldo de Souza, SILVA, Mônica Ferreira da. Como Escrever uma
Monografia. São Paulo: Atlas, 2010.
PATON, John Glenn. Twenty-six Italian Songs and Arias. Alfred Publishing,
1991.
PARRISH, Carl, OHL, John F. Masterpieces of Music before 1750. New York:
Dover, 1979.
The New Grove Dictionary of Music and Musician. SADIE, Stanley (Ed.).
Londres: Grove, 1980.