Você está na página 1de 21

UNIVERSIDADE PAULISTA

ROSEMARY GOMES DE ARAÚJO RIBEIRO

O TRATAMENTO DA DEPRESSÃO NO IDOSO ATRAVÉS DA TERAPIA


COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

SÃO PAULO

2017
ROSEMARY GOMES DE ARAÚJO RIBEIRO

O TRATAMENTO DA DEPRESSÃO NO IDOSO ATRAVÉS DA TERAPIA


COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso para


obtenção do título de Especialista em Terapia
Cognitivo Comportamental para atuação em
múltiplas necessidades terapêuticas
apresentado à Universidade Paulista – UNIP

Orientadores:
Profª Ana Carolina Schmidt de Oliveira
Profº Hewdy Lobo Ribeiro

SÃO PAULO
2017
RESUMO

A depressão é um distúrbio afetivo, do qual comumente os idosos padecem. O


mesmo compromete de modo significativo a qualidade de vida, haja vista ser
notadamente incapacitante. Constitui fator de risco para processos demenciais e
exerce influência recíproca na evolução de outros quadros clínicos. A apresentação
de quadros depressivos nos idosos é multifatorial e a sua origem engloba fatores
biopsicossociais. O seu tratamento constitui um desafio, uma vez que requer
intervenção especializada devido às especificidades do envelhecer. Os estudos
ressaltam que entre as formas de tratamento dos transtornos depressivos,
destacam-se as psicoterapias comportamentais e as cognitivas. Nas quais as
comportamentais têm como objetivo encorajar os pacientes a engajarem-se em
atividades prazerosas, enquanto as cognitivas buscam auxiliar o indivíduo a
identificar pensamentos não funcionais que podem contribuir para a ausência de
prazer e consequente humor deprimido.

Palavra-chave: Depressão em idosos. Terapia-cognitivo-comportamental.


Envelhecimento.
ABSTRACT

Depression is an affective disorder, which the elderly commonly suffer from. It


significantly impairs the quality of life, as it is seen to be notably disabling. It
constitutes a risk factor for dementia processes and exerts a reciprocal influence on
the evolution of other clinical conditions. The presentation of depressive symptoms in
the elderly is multifactorial and its origin encompasses bio psychosocial factors. Its
treatment is a challenge, since it requires specialized intervention due to the
specificities of aging. The studies emphasize that among the forms of treatment of
the depressive disorders, the behavioral and cognitive psychotherapies stand out. In
which the behavioral ones aim to encourage the patients to engage in pleasurable
activities, while the cognitive ones seek to help the individual to identify nonfunctional
thoughts that can contribute to the absence of pleasure and consequent depressed
mood.

Key-words: Depression in the elderly. Cognitive behavioral therapy. Aging.


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 5
1.1 Envelhecimento .......................................................................................................................... 5
1.2 Transtorno depressivo .............................................................................................................. 6
1.3 Terapia Cognitivo Comportamental - (TCC) .......................................................................... 7
1.4 Justificativa ................................................................................................................................. 8
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 9
3 METODOLOGIA .............................................................................................................................. 10
4 RESULTADO E DISCUSSÃO ....................................................................................................... 11
5 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 17
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 19
5

1 INTRODUÇÃO

1.1 Envelhecimento

Até pouco tempo, o Brasil era um país, cuja população era


predominantemente jovem. Contudo, esse quadro vem apresentando mudanças. De
acordo com os dados do recenseamento demográfico, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está ocorrendo expressivo aumento da
população idosa no país (IBGE, 2009).
O aumento da expectativa de vida, o envelhecer, não é mais prerrogativa
apenas de países desenvolvidos, trata-se, nos dias atuais, de um fenômeno
universal (VERAS, 2009).
Nas palavras de Neri (2001) o envelhecer pode ser compreendido como uma
sequência de mudanças genético-biológicas previsíveis. Destacam-se as mudanças
que ocorrem após a fase reprodutiva e as que acarretam declínio gradual da
probabilidade de sobrevivência.
Neri (2004) salienta que o envelhecer é um processo individual, o qual sofre
influências de variáveis de personalidade, fatores cognitivos e intelectuais, como
também, influências circunstanciais, sócio econômico, histórico e cultural. Assim, a
autora defende que a compreensão do processo do envelhecer exige o subsídio dos
saberes de ciências como a psicologia e a sociologia, entre outros.
Segundo Ramos (2003) um determinante para mensuração da saúde dos
idosos, é o quesito autonomia. O mesmo acentua que aqueles que têm preservada a
capacidade de conduzirem a própria vida, o que engloba atividades em todos os
âmbitos, como por exemplo, sociais e produtivas, esta última em qualquer nível, têm
grandes possibilidades de manterem-se saudáveis.
Comumente, com o envelhecer, surgem doenças crônicas, as quais
comprometem a autonomia dos idosos. O autor Veras (1994) destaca a depressão,
como sendo uma doença crônica das mais incapacitantes.
As autoras Neri e Freire (2000) ressaltam que embora, a população esteja
chegando à fase idosa com melhores quadros de saúde, ainda assim, é indiscutível
que o declínio de certas capacidades prejudica a qualidade de vida da mesma.
Ainda segundo Neri (2001) o envelhecimento acarreta diminuição da
6

moldabilidade comportamental, o que consequentemente diminui também a aptidão


para reagir de forma assertiva e recuperar-se de eventos estressores.
Gazalle et al (2004) corroboram com os autores acima. Defendem que a
apresentação de quadros depressivos nos idosos é multifatorial. A sua origem
engloba fatores biopsicossociais, entre os quais, menciona: comorbidades clínicas;
aposentadoria, fase na qual há uma diminuição significativa do produzir, quando não
a total ausência de atividade produtiva, o que por vezes, também acarreta perda do
poder de consumo; isolamento social, luto-viuvez-perdas de entes queridos e
amigos, entre outros.
Zimerman (2000) enfatiza que as consideráveis limitações e perdas, resultam
em significativo declínio da qualidade de vida e dão origem a dolorosos sentimentos
de autodepreciação.
Dentro desse contexto, Zimerman (2000) salienta que o autoconceito, a
autoestima e a autoimagem estão diretamente relacionados ao bem estar
psicológico na velhice. A autora ressalta que tais conceitos são imprescindíveis para
envelhecermos com saúde mental, uma vez que, essa fase exige autoaceitação das
próprias limitações.

1.2 Transtorno depressivo

De acordo com a American Psychiatric Association (APA) - DSM-V (2014) os


Transtornos depressivos incluem:

transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo


maior (incluindo episódio depressivo maior), transtorno depressivo
persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno
depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo
devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e
transtorno depressivo não especificado (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION (APA) - DSM-V, p.155, 2014 ).

Ainda segundo a American Psychiatric Association (APA) - DSM-V (2014) o


Transtorno Depressivo Maior configura condição clássica desse grupo de
transtornos. E por essa razão, escolhemos discorrer sobre o mesmo.
O Transtorno Depressivo Maior caracteriza-se por episódios distintos com
duração mínima equivalente há duas semanas, alterações perceptíveis no afeto, na
7

cognição, nas funções neurovegetativas e remissões interepisódicas (AMERICAN


PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA) – DSM-V, 2014).
Clarifica que é plausível diagnosticar o Transtorno Depressivo Maior com
base em um único episódio, embora, seja recorrente em maior parte dos casos.
Preconiza prudência quanto à diferenciação da tristeza e do luto. Afirma que
embora, o luto provoque significativo sofrimento, não é expressão de Transtorno
Afetivo Maior (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA) - DSM-V, 2014).
Contudo, quando ocorrem concomitantemente, o prognóstico é pior. Os
sintomas depressivos e os danos funcionais tendem a ser mais graves. Esclarece
que a depressão relativa ao luto, comumente, tende a apresentar-se em pessoas
que dispõem de outras vulnerabilidades a transtornos depressivos, as quais podem
ser beneficiadas por meio de tratamento com antidepressivos (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA) - DSM-V, 2014).
.

1.3 Terapia Cognitivo Comportamental - (TCC)

Aaron T. Beck, psicanalista, no anseio de validar cientificamente a


Psicanálise, através de estudos obteve novos conhecimentos a respeito do
funcionamento cognitivo nos quadros depressivos. O mesmo identificou cognições e
crenças negativas e distorcidas. Logo, constatou que tais cognições estavam
sempre associadas a fracassos, privações e perdas, o qual nomeou de
pensamentos automáticos negativos. O autor, desde então, passou a defender que
os pensamentos influenciavam as emoções e consequentemente os
comportamentos (BECK, 2013).
Desde então, adotou um modelo terapêutico, no qual, buscava explicar, de
modo a habilitar seus pacientes a identificar pensamentos irrealistas e
desadaptativos, podendo assim, de forma alternativa, buscar explicações realistas
sustentando-se na veracidade dos fatos e, desta maneira compreender suas
experiências com base na realidade e não em seus pensamentos (BECK, 2013).
Surge, então, a Terapia Cognitiva de Aaron T. Beck, entre as décadas de 60 e
70 nos Estados Unidos. Emerge como uma nova abordagem para o tratamento de
8

uma variedade de patologias mentais, oferecendo uma atuação ativa, diretiva,


estruturada e de prazos determinados (BECK, 2013).

1.4 Justificativa

Devido ao aumento da expectativa de vida, ao envelhecimento da população


mundial, ao frequente e recorrente processo depressivo em idosos, bem como a
abrangência terapêutica da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), há relevância
nesse estudo, pois acreditamos que possuir e aprofundar conhecimento sobre esse
tema é de fundamental importância para uma prática clínica adequada.
9

2 OBJETIVOS

O presente estudo tem como objetivo aprofundar conhecimento a respeito da


especificidade do transtorno afetivo depressivo maior no envelhecer, assim como
também sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como meio de
tratamento, haja vista sua abrangência e, a estudos que demonstram sua eficácia.
Compreender possíveis fatores desencadeantes e ações de profilaxia. Sendo assim,
ações que visem o bem estar psicológico, bem como também, qualidade de vida dos
idosos. Assim, ressaltamos que, buscaremos ampliar conhecimento de forma a
atuar, não somente em nível profilático, como também, promover bem estar psíquico
aos que já adoeceram.
10

3 METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado por meio de revisão bibliográfica não


sistemática nas bases de dados Lilacs (Literatura Latino Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde); Scielo (Scientific Eletronic Library Online); Google Acadêmic,
Pepsic (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e complementada com livros e textos
de referência sobre o tema. Foram selecionados textos completos, em português.
Sem limite de ano da publicação. Os descritores utilizados foram: “depressão em
idosos”, “terapia cognitivo comportamental” “envelhecimento”. A seleção seguiu a
seguinte ordem: leitura dos títulos, dos resumos e então, leitura dos textos
completos.
11

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

Nas palavras de Stella et al (2002) espera-se que com o avançar da idade, a


probabilidade da ocorrência de certas enfermidades aumentem. Contudo, não
podemos ter como sinônimo do envelhecimento, o adoecer.
Baptista et al (2006) afirmam que a depressão é o transtorno psiquiátrico mais
frequente e recorrente em idosos e, é também o que tem maiores chances de ser
tratável.
Ainda segundo os autores, a depressão nos idosos, constitui fator de risco
para processos demenciais e exerce influência recíproca na evolução de outros
quadros clínicos, podendo causar alterações no funcionamento cognitivo, o que por
vezes, dificulta o diagnóstico e a diferenciação quanto a um quadro demencial
(STELLA et al, 2002).
Contudo, os autores alertam que não é incomum que o início de quadros
demenciais, como o Alzheimer, apresente sintomas depressivos (STELLA et al,
2002).
Os estudos realizados pelos autores Stella et al (2002) e Gazalle et al (2004)
certificam que a frustração em decorrência dos anseios de vida não realizados, as
significativas e sucessivas perdas, como, dos laços afetivos, por meio do luto,
abandono e isolamento social, assim como também, a diminuição ou total falta de
atividade produtiva, são fatores de risco que predispõem a instalação de quadros
depressivos.
Porcu et al (2002) e Gazalle et al (2004) trazem outro dado importante sobre o
desencadeamento do processo depressivo em idosos. Os seus estudos demonstram
que as mulheres apresentam maior incidência de sintomas graves, o que indicam
uma possível pré-disposição desse gênero para essa condição. Contudo, atentam
para a necessidade do desenvolvimento de outros estudos, com o propósito de
confirmar essa inferência.
As autoras Ferreira, Lima e Zerbinatti (2012) também mencionam, como
resultado de seus estudos, a predominância de sintomas depressivos em idosos do
sexo feminino.
Acrescentam como fatores associados a quadros depressivos, episódios
anteriores, declínio cognitivo, comorbidades psiquiátricas, institucionalização,
insatisfação com o suporte social, perda e mudanças de papéis, como por exemplo,
12

quando há, a necessidade de assumir o papel de cuidador (FERREIRA, LIMA E


ZERBINATTI, 2012).
No que se refere ao fator de risco, isolamento social, estudos desenvolvidos
por Baptista et al (2006) ressaltam a importância da prática de atividades sociais,
como fator de proteção para o desenvolvimento da depressão em idosos.
Os autores Lima, Silva e Ramos (2009) corroboram e validam o exposto no
parágrafo acima. Defendem que, ações que visem manter o idoso ativo e inserido na
sociedade são fundamentais para prevenir sintomas da depressão.
De acordo com as autoras Ferreira, Lima e Zerbinatti (2012) a interação social
com indivíduos da mesma faixa etária, propicia novas redes de relacionamento e
suporte social. As experiências e vivências compartilhadas possibilitam a construção
de significados comuns, favorecendo a qualidade de vida.
Os autores Stella et al (2002) citam a prática de atividades físicas como sendo
um meio de tratamento que causa além dos seus benefícios já comprovados, a
oportunidade de envolvimento social.
Nas palavras de Stella et al (2002) o tratamento da depressão nos idosos
constitui um desafio que requer intervenção especializada. As estratégias de
tratamento mais utilizadas são a psicoterapia, intervenção medicamentosa e a
prática de exercícios físicos.
Ferreira, Lima e Zerbinatti (2012) ressaltam que entre as formas de
tratamento dos transtornos depressivos, destacam-se as psicoterapias
comportamentais e as cognitivas. Afirmam que as psicoterapias comportamentais
para depressão têm como objetivo encorajar os pacientes a engajarem-se em
atividades prazerosas, enquanto as psicoterapias cognitivas buscam auxiliar o
indivíduo a identificar pensamentos não funcionais que podem contribuir para a
ausência de prazer e consequente humor deprimido.
As autoras afirmam existir associação significativa entre sintomas depressivos
nos idosos e baixo envolvimento em atividades prazerosas. Logo, no que tange a
psicoterapia, de acordo com a abordagem comportamental, a depressão é causada
por um baixo número de respostas capazes de gerar reforçadores positivos
(FERREIRA, LIMA E ZERBINATTI, 2012).
Quanto à abordagem cognitiva, a depressão pode ser explicada por meio do
modelo cognitivo de Beck, o qual constitui ferramenta eficaz para o tratamento. Esse
13

modelo implica dois fundamentos básicos, a tríade cognitiva e as distorções


cognitivas (BECK et al, 1979).
A tríade cognitiva consiste, na visão negativa de si mesmo, na qual o
indivíduo tende a ver-se como inadequado e inapto; na visão negativa do mundo e
visão negativa do futuro, o que configura desesperança (BECK et al, 1979).
Os pacientes deprimidos elaboram suas experiências de forma negativa e
antecipam resultados desfavoráveis para suas adversidades. Esse funcionamento
cognitivo atua como impulsor de comportamentos depressivos, gerando sentimentos
de baixa autoestima, corroborando com os sentimentos de inadequação e inaptidão
(BECK et al, 1979).
Nas palavras de Beck et al (1979) compreendem-se como distorções
cognitivas, erros sistemáticos na percepção e no modo de processar as
informações, sendo causa central no processo depressivo. O indivíduo tende a
estruturar suas experiências de modo absolutista e inflexível, o que resulta em erros
de interpretação.
Os autores Malloy-Diniz et al (2016) validam o exposto acima. Enfatizam que
as distorções cognitivas são decorrentes de circunstâncias que ativam “esquemas
distorcidos”, que por sua vez, são formas de interpretação disfuncional. Os
esquemas acionam os pensamentos automáticos, desencadeando emoções e
comportamentos. Esclarecem que os pensamentos automáticos são resultantes dos
esquemas, que por sua vez, estão ligados às crenças do indivíduo.
Estas são classificadas como crenças centrais e intermediárias. As crenças
centrais são constituídas de pensamentos rígidos, inflexíveis e generalizados. Já as
intermediárias, formadas a partir das centrais, correspondem a regras de conduta,
as quais o indivíduo acredita que devem ser seguidas como protocolo padrão
(MALLOY-DINIZ et al, 2016).
De acordo com Beck et al (1979) a Terapia Cognitiva consiste em um
processo terapêutico no qual, busca auxiliar o paciente a modificar crenças e
comportamentos que desencadeiam certos estados de humor. Ressaltam que a
tríade de crenças responsáveis pelo humor depressivo são as crenças de desamor,
desamparo e desvalor.
Quanto às distorções, segundo Beck et al (1979) as distorções cognitivas
mais presentes são:
14

Hipergeneralização – sendo verdadeiro em uma situação, aplica-se a


qualquer outra, ainda que parcialmente semelhante.
Intervenção: Expor a lógica falha. Demonstrar até que ponto existe ou não
semelhanças.
Abstração seletiva – O foco é única e exclusivamente dirigido aos insucessos.
A autoavaliação é centrada apenas nos erros.
Intervenção: Buscar levar os pacientes a identificarem os sucessos dos quais
esqueceram.
Responsabilidade excessiva – Atribuir a si responsabilidade por todos os
fatos ruins que ocorrem.
Intervenção: Técnicas de desatribuíção.
Pressuposição de Causalidade Temporal – Prever sem evidências,
pressupondo que se foi verdadeiro no passado, sempre será verdadeiro.
Intervenção: Expor o quanto essa lógica é falha. Explicitar aspectos que
poderiam intervir no resultado, independente dos fatos passados.
Autorreferência – Atribuir a si, o objeto principal das atenções de todos,
focando especialmente nos insucessos.
Intervenção: Precisar em quais situações é verdadeiramente o foco das
atenções e também quais são as causas prováveis das más experiências.
Catastrofização – O pensamento é sempre no pior. O pior é sempre o mais
provável.
Intervenção: Fazer uma avaliação e estimativa das probabilidades reais.
Pensamento dicotômico – Extremista, pressupondo que tudo está em um
extremo, ou no outro - tudo ou nada - bom ou mau.
Intervenção: Demonstrar que as situações podem ser avaliadas de forma
contínua.

Nas palavras de Beck et al (1979) a depressão é decorrente de uma


vulnerabilidade cognitiva, falha no processamento/interpretação das situações
vivenciadas. Os pacientes depressivos tendem a distorcer a realidade, aplicando
um viés negativo - catastrofização. Fazem recortes do real, os quais vêm ao
encontro do seu negativismo e descartam os demais - abstração seletiva. Uma vez
ao incorrer em uma distorção, resistem a desconfirmá-la.
15

Portanto, ainda segundo os autores, a cognição é o fator central da


depressão. A cognição influenciada pelas distorções deprime o humor e não o
contrário. Dentro desse pressuposto, o qual a TCC se apoia, os pacientes
depressivos têm maiores possibilidades de ação, podendo intervir sobre o que
provoca seu transtorno (BECK et al, 1979).
O caráter de participação ativa do paciente é uma especificidade da
abordagem cognitiva. O paciente é ensinado, de modo a tornar-se habilitado para
identificar perspectivas distorcidas, pensamentos negativos - buscando
pensamentos alternativos que contemplem a realidade, assim como também, são
instruídos a buscar evidências que amparem os pensamentos negativos e
alternativos, de modo a gerar pensamentos mais condizentes – processo esse,
denominado reestruturação cognitiva (BECK et al, 1979).
Beck et al (1979) esclarecem que o processo de reestruturação cognitiva
consiste em auxiliar os pacientes a identificarem os pensamentos automáticos, as
crenças disfuncionais relacionadas ao processo depressivo, às distorções
cognitivas, as reações fisiológicas, emocionais e comportamentais - como
consequências dos pensamentos, comportamentos apresentados - como recurso
para enfrentar as crenças disfuncionais e como as experiências anteriores atuam de
modo a reforçar a manutenção das crenças atuais.
Logo, a reestruturação cognitiva consiste na reformulação do modo do
indivíduo pensar, assim como também, o conteúdo de suas cognições, visando
auxiliá-lo a pensar de forma realista e adaptativa (BECK et al, 1979).
Esse processo propicia ao paciente aptidão para identificar o quanto o seu
funcionamento cognitivo disfuncional, atua como mantenedor do comportamento
depressivo (POWELL et al, 2008).
Outra técnica, a qual merece especial atenção por constituir meio eficaz de
tratamento da depressão em idosos é o Treinamento de Habilidades Sociais (THS).
Estudos brasileiros realizados por Carneiro et al, (2006), entre os quais, Del Prette &
Del Prette, autores renomados, referência no tema, demonstram existir relação entre
depressão e déficit de repertório de habilidades sociais em idosos.
Nas palavras de Del Prette e Del Prette (2009) Habilidade Social é a
habilidade do indivíduo em se comportar e interagir de maneira adequada em
diferentes contextos.
16

Ainda de acordo com os autores Del Prette e Del Prette (2009) existem várias
classes de habilidades sociais, são elas:
Empatia: Consiste na capacidade de compreensão e validação dos
sentimentos do outro; demonstração de real interesse, respeito às diferenças
e a capacidade de oferecer ajuda;
Assertividade: Expressar sentimentos sem carga emocional excessiva,
expressar opiniões - inclusive discordantes, lidar bem com críticas, defender
os próprios interesses, solicitar mudança no comportamento do outro, resistir
à pressão de outros e de grupos, recusar pedidos, expressão justificada de
incômodo e desagrado, expressão de amor, agrado e afeto, fazer e aceitar
elogios, entre outros;
Fazer amizades: Se apresentar, iniciar e manter conversações;
Solução de problemas interpessoais: Identificar e avaliar soluções alternativas
para resolução;
Comunicação: Iniciar, manter e encerrar conversação, fazer e responder
perguntas, dar e receber feedback;
Civilidade: Fazer uso de expressões como, bom dia!, boa tarde!, boa noite!,
apresentar-se, dirigir-se as pessoas - chamando-as pelo nome, dizer por
favor, agradecer.

Del Prette e Del Prette (2009) ressaltam que o Treino de Habilidades Sociais
implica na avaliação e na intervenção. A avaliação consiste em identificar excessos
e déficits comportamentais que estejam contribuindo para um quadro de inabilidade
social. Quanto às intervenções, as formas mais utilizadas são: modelação, ensaios
comportamentais, tarefas de casa, entre outros.
Ainda nas palavras dos autores Del Prette e Del Prette (2009), em suma, o
Treino de Habilidades Sociais (THS) propicia maior probabilidade de reforçadores
sociais, uma vez que, possibilita promover repertório adequado. Logo, a relevância
dessa técnica em pacientes com humor depressivo.
17

5 CONCLUSÃO

Os estudos demonstram que está ocorrendo expressivo aumento da


população idosa no país, fazendo-se necessário buscar compreensão a respeito das
especificidades do processo do envelhecimento.
Estudiosos salientam que o envelhecer é um processo individual, o qual sofre
influências de variáveis de personalidade, fatores cognitivos e intelectuais, como
também, influências circunstanciais, sociais, econômicas, históricas e culturais.
Assim, a compreensão do processo do envelhecer exige o subsídio dos saberes de
ciências diversas.
Os autores estudados defendem que um determinante para mensuração da
saúde dos idosos, é o quesito autonomia. Acentuam que aqueles que têm
preservada a capacidade de conduzirem a própria vida, têm grandes possibilidades
de manterem-se saudáveis.
Contudo, comumente, com o envelhecer, surgem doenças crônicas, as quais
comprometem a autonomia dos idosos. Doenças, dentre as quais, destaca-se a
depressão, como sendo uma doença crônica das mais incapacitantes.
Defendem que a apresentação de quadros depressivos nos idosos é
multifatorial, a sua origem engloba fatores biopsicossociais. Entre os quais são
mencionados, comorbidades clínicas, aposentadoria, isolamento social, luto-viuvez-
perdas de entes queridos e amigos, perda e troca de papéis, entre outros.
A aposentadoria, fator de risco para a depressão, lamentavelmente é
sinônimo de perda de identidade. Podemos buscar compreensão a esse respeito, se
refletirmos sobre a importância do trabalho.
O trabalho constitui ferramenta que oferece condição de transformação, na
essência, podemos conceituar como um processo que permite a autorrealização e
faz parte do processo de identidade do sujeito, identidade essa, que por vezes, se
perde na velhice, traz valoração, reconhecimento, satisfação e autoestima, contudo,
as limitações inerentes ao envelhecer impossibilitam tais realizações. Daí a
importância de encorajar os idosos a se engajarem em atividades produtivas, seja
em qualquer grau.
Enfatizam que a depressão nos idosos, constitui fator de risco para processos
demenciais e exerce influência recíproca na evolução de outros quadros clínicos,
18

podendo causar alterações no funcionamento cognitivo, o que por vezes, dificulta o


diagnóstico e a diferenciação quanto a quadros demenciais.
No que se refere ao fator de risco, isolamento social, ressaltam a importância
da prática de atividades sociais, como fator de proteção para o desenvolvimento da
depressão em idosos. Defendem que, ações que visem manter os idosos ativos e
inseridos na sociedade são fundamentais para prevenir sintomas da depressão.
Quanto ao tratamento da depressão no idosos, acentuam que constitui um
desafio, haja vista que requer intervenção especializada. Ressaltam que entre as
formas de tratamento dos transtornos depressivos, destacam-se as psicoterapias
comportamentais e as cognitivas, na qual, o modelo cognitivo de Beck, demonstrou
constituir ferramenta eficaz para tratamento da depressão.
Afirmam que as psicoterapias comportamentais para depressão têm como
objetivo encorajar os pacientes a engajarem-se em atividades prazerosas, enquanto
as psicoterapias cognitivas buscam auxiliar o indivíduo a identificar pensamentos
não funcionais que podem contribuir para a ausência de prazer e consequente
humor deprimido.
Por fim, ressaltamos a importância do desenvolvimento de outros estudos, de
modo a aprofundar conhecimento a respeito das especificidades do envelhecer e
sua correlação com o transtorno depressivo maior, bem como, também, sobre a
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como abordagem no processo de
intervenção terapêutica.
19

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA) - Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American
Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.] ; revisão
técnica: Aristides Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto
Alegre : Artmed, 2014.

BAPTISTA, M. N. et al, (2006). Correlação entre sintomatologia depressiva e prática


de atividades sociais em idosos. Avaliação Psicológica, 5(1), p.77-85. Disponível em:
< http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v5n1/v5n1a09.pdf> Acesso em: 10 de junho de
2017.

BECK, A. T. et al. Terapia Cognitiva da depressão. Tradução: Vera Ribeiro. Rio


de Janeiro: Editora Zahar, 1979.

BECK, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. – 2ª ed. – Porto


Alegre: Artmed, 2013.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Indicadores sócio


demográficos e de saúde no Brasil: 2009.

CARNEIRO, R. S. et al. Qualidade de vida, apoio social e depressão em idosos:


Relação com habilidades sociais. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2006, p. 229-237.

DELPRETTE, Z. A. P., DEL PRETTE, A. Base conceitual da área das habilidades


sociais. In: Psicologia das Habilidades Sociais na Infância Teoria e Prática.
Vozes, 2009. Cap. 2, pag. 30-50.

FERREIRA, H. G., LIMA, D.M.X.S. e ZERBINATTI, R. Atendimento


psicoterapêutico cognitivo comportamental em grupo para idosos
depressivos: um relato de experiência. Revista SPAGESP, 2012, vol.13, no.2,
p.86-101.

GAZALLE, F.K. et al. Sintomas depressivos e fatores associados em população


idosa no Sul do Brasil. Revista Saúde Pública, v. 38, n 3, p.365-371, 2004.
Disponível em < www.scielo.br/pdf/pcp/v37n1/1982-3703-pcp-37-1-0018.pdf> Acesso em: 12
de junho de 2017

LIMA, M. T. R., SILVA, R. S., & RAMOS, L. R. (2009). Fatores associados à


sintomatologia depressiva numa coorte urbana de idosos. Jornal Brasileiro de
Psiquiatria, 58(1), 1-7. Disponível em:< www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v58n1/a01v58n1> Acesso
em: 18 de maio de 2017.

MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Neuropsicologia: aplicações clínicas. Porto Alegre:


Artmed, 2016.

NERI, A. N., Desenvolvimento e envelhecimento: Perspectivas Psicológicas,


Biológicas e Sociológicas. Campinas: Papirus, 2004.
20

NERI, A. L. Maturidade e Velhice: Trajetórias individuais e socioculturais. São


Paulo: Papirus, 2001

NERI, A. L. ; FREIRE, S. A. E por falar em boa velhice. São Paulo: Papirus, 2000.

PORCU, M. et al. Estudo comparativo sobre a prevalência de sintomas depressivos


em idosos hospitalizados, institucionalizados e residentes na comunidade. Acta
Scientiarum. Maringá, v. 24, n. 3, p. 713-717, 2002.

POWELL, V. B. et al. Terapia cognitiva comportamental da depressão. Revista


Brasileira de Psiquiatria, 2008. Disponível em: <
www.scielo.br/pdf/rbp/v30s2/a04v30s2.pdf> Acesso em: 12 de junho de 2017.

RAMOS, L. R. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos


residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro. jun. 2003. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n3/15882.pdf> Acesso em: 12 de junho de 2017.

STELLA F, et al. Depressão no Idoso: diagnóstico, tratamento e benefícios da


atividade física. Motriz, 2002.

VERAS, R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e


inovações. Revista Saúde pública: 2009. Disponível em <
http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v43n3/224.pdf> Acesso em: 12 de junho de 2017.

VERAS, R. P. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio
de Janeiro: Editora Relume-Dumará: 1994.

ZIMERMAN, G., I., Velhice: Aspectos biopsicossociais – Porto Alegre: Artmed,


2000.

Você também pode gostar