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CENTRAL REGIONAL Central/ Quarta-feira, 10 de junho de 2020

Relembrando memórias do centenário Salão Schmidt, Dobrada Sertão Santana


Judiado pela ação do tempo o velho Salão Schmidt, na localidade de Dobrada, em Sertão Santana, hoje serve como galpão. Nem parece o mesmo de quando foi inaugurado há 120 anos e que sediava os mais divertidos e tradicionais eventos da região.
O Regional esteve con- Ternos para os Kerbs
versando com o casal Lino Outro fato importante, é que praticamente todos os
Schmegel e Liria Schmidt, homens usavam ternos e fatiotas e muitos destes ternos
ela filha de Teobaldo Schi- foram feito sob medida por Irineu Colisseli que atua no
midt. Ambos organizaram ramo a 67 anos, dentre muitos fatos históricos que Irineu
muitos Kerbs em seu salão, relatou, uma tesoura com mais de 100 anos que ganhou de
Segundo relatos de Lino seu avô o acompanha nos dias atuais, sendo uma peça de
muitos bailes ele ajudou seu grande valor para o alfaiate, a tesoura veio da Alemanha.
sogro a organizar iniciando Irineu, que desde os 20 anos faz terno, lembra que muitos
em 1963, desde os prepa- frequentadores o procuravam para fazer seus ternos, para
ros antes dos eventos até os participarem dos Kerbs, outro detalhe é que na época não
bailes. Já dona Liria recorda existia opções de roupas como hoje se encontra em lojas
que sempre ajudou e acom- de confecções .
panhou seus pais. Dona Li-
ria lembra de carnear gali- Ao lado foto mostra o alfaiate Irineu Coliselli com
Liria de 75 anos e Lino Schmegel de 76 anos Prédio sofre com a ação do tempo e a falta de manutenção sua tesoura que ganhou de seu avô
nha, porcos, fazer linguiça,
cucas com sua mãe Helga batatas), pois não se com- atuais, pois era tudo feito Este salão marcou muitos moradores e deixou saudade, dona Liria lembra que havia
e o kartoffelsalat (salada de prava nada como nos dias pelas famílias. eventos que tinha muita excursão, por serem muito famoso naquele tempo, chegava a
lotar o salão, principalmente nos Kerbs que eram realizados nos meses de maio e novem-
Se conheceram e se
Festa do Colono década de 50 bro, iniciando no sábado, domingo a tarde e segunda-feira. Um detalhe muito importante casaram no Salão Schmidt
para levarmos em consideração é que o meio de transporte mais comum eram os cavalos, Dentre os muitos namoros que surgiu bem como casamentos que ocorreram no Salão
carroças, charretes e talvez um que outro carro. Seu Teobaldo que era ferreiro já tinha Schmidt, o Regional conversou com um casal que se conheceu em um Kerb em 1962 e sete
anos depois em 1969 vieram a se casar no mesmo salão. Fotos do baile Maio de 1964
um espaço destinado para os animais como se fosse um estacionamento. Já nos últimos
eventos as condições eram um pouco mais favoráveis no que se refere ao transporte. A Trata-se de dona Marli e Valdir Gimenes, hoje moradores da localidade de Dobrada, que
banda no domingo a tarde convidava a comunidade para prestigiar mais um dia de Kerb. este ano comemoram 51 anos de casados.
Dona Marli lembra que naqueles tempos era muito diferente, se tinha um respeito muito
O convite era realizado e cima de um caminhão antigo pelas ruas da comunidade.
grande os casais dançavam com os corpos afastados, e foi num desses kerbs de 1962, que
Valdir a tirou para dançar, e ela confessou que estava aguardando ele a tirar para dança,
Entretenimento desta dança surgiu o namoro, casamento, 51 anos de casados e três filhos.
Lino lembrou que ao amanhecer do dia muitos iam embora voltando na noite se- “Era tudo lindo, eu muitas vezes ajudei dona Helga com alguns preparativos da janta,
guinte, já os músicos sempre ganhavam pouso ou na casa dos proprietários ou em ajudávamos com prazer sem nada em troca...” lembrou com carinho de um tempo bom
casa de vizinhos. Outro fato bastante comentado e que Lino recordou foi a questão em que viveu dona Marli. Festa do Casamento realizada no Salão Schmidt
Curiosidades / recordações das garrafas escondidas. “Havia uma garrafa escondida na rua e uma a vista dentro do
Segundo Lino no início das bailes bem antes de 1964, existia muito racismo. Pessoas salão, a pessoa que achasse a garrafa escondida na parte de fora do salão ganharia a
de cor morena não entravam, assim como em muitos outros salões da época. Outra curio- outra que estava dentro e ainda pagava um barril de chopp para turma”, lembrou.
sidade que o casal explicou foi o fato da moça não poder dar “Carão”, ela não podia dizer
não ao rapaz que tirasse ela para dançar, agora se o rapaz quisesse dançar com a moça pela Haveria molas no assoalho do Salão Schmidt?
segunda vez ela podia dizer que não, mas ao menos uma música as moças eram obrigadas Uma dúvida que muitos se perguntam até hoje ou já ouviram falar que o assoalho
a dançar. Lino e Liria, pais de seis filhos, destacam que tem lindas recordações do salão, do salão tinha molas, o casal destaca que não, e explica que quando tinha bailes era
como seu casamento, nascimento do primeiro filho e casamento de um filho. retirado os calços dos caibros que sustentavam o assoalho, fazendo as tabuas leve-
mente se balançar dando a sensação que tivesse molas em baixo.
Iluminação
As primeiras festas segundo o casal eram iluminadas com luz de lampião. Os chama- Bandas
dos “Aladins” eram espalhados pelo interior do salão, contudo Lino lembra que muito se Lino explica que os músicos já do seu tempo vinham das cidades de Novo Hambur-
usou o gerador da Juventude de Sertão, outro fator que auxiliava na iluminação era uma go, Estrela, entre outras, destacou a Banda Raab, Banda Teifke, Banda Schiffer, Banda
roda d’ água que tocava energia para iluminar o interior da festa. Huff, dentre muitas outras e frisaram que todas elas eram bandas típicas alemãs.

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