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Editorial A vida dos Daros nos engenhos
imigrantes trabalharam em engenhos Grupo Seis de Janeiro.
para a conseguir açúcar, melado, As casas onde os descendentes
vinagre e cachaça. viveram ganham destaque. O Museu
Em decorrência de problemas Este jornal trata-se de uma edição Augusto Casagrande, onde residiram
que surgiram para a unificação da Itália especial que contará apenas algumas das Augusto, a esposa Cecília Daros e os No século 20, uma das principais fontes de trabalho e renda dos imigrantes italianos era o engenho
durante o século 19, como conflitos milhares de histórias dos descendentes filhos. E a casa construída em 1941
políticos e econômicos e a alta cobrança de João Batista e Tereza Daros. que abrigou três gerações da família de
Peça de museu
A
Mandredini. O casal foi residir na onde hoje é o alto do bairro São Luiz. Antônia Daros casada com o “Apesar da importância para o
Quarta Linha e mais tarde transferiu- Cecília Daros casou-se com viuvó Olindo Bristot se estabeleceram maioria dos imigrantes produzem a cana e me dão. Eu e minha patrimônio cultural da cidade, a peça
se para o sul de Morro Albino, hoje às Augusto Casagrande e se estabeleceu na localidade de Espigão da Toca, italianos que chegou a mulher trabalhamos no engenho, é algo foi doada e esquecida. Hoje, ela se
margens da BR-101. onde hoje é o bairro Comerciário, junto município de Araranguá. Criciúma no fim do século 19, bem familiar. Antes produzíamos de encontra ornando o corredor em frente
Maria Daros casou-se com ao museu Augusto Casagrande, que era Thereza Daros (filha do trabalhou no campo. Entre eles estava oito a 10 mil litros de cachaça por safra, ao bloco do curso de História da Unesc,
Lourenço Favero, de Urussanga. Ele sua residência. segundo casamento de João Batista) Luis Daros, neto de Antônio Daros. agora, fazemos aproximadamente próximo a Galeria de Historiadores”,
era proprietário de um hotel naquela Domingos Daros casou-se casou com Antônio Comin e residiam Casado com Ângela Rosso, ele vivia quatro mil litros”, ressalta Amélio. ressalta Osório.
que foi a primeira localidade formada com Augusta de Luca e se estabeleceu no bairro São Luiz no entroncamento com a família no Morro Albino onde
começou a produzir em um engenho
Jorge Daros decidiu escrever o livro após viagem ao norte da Itália e tem aproximadamente 1,5 mil exemplares vendidos
Lançamento do livro no Rio Grande do Sul reuniu mais de 600 pessoas
Maria Júlia Grassi origem dos colonizadores. O escritor muito importantes as entrevistas com
D
teve dificuldade para encontrar registros
pessoas mais velhas, assim como O livro “A Saga dos Daros” felizes traz uma sensação de ter Criciúma na livraria Fátima, na livraria
e uma viagem à Itália do final do século XIX, como o modo conhecer lugares onde nasceram, também foi lançado fora do estado e cumprido uma missão na terra”. Diocesana, na Unilivros da Unesc e na
surge o livro “A Saga de vida e o trabalho dos imigrantes. viveram e se desenvolveram os Daros”, muito prestigiado. “Em São Marcos, O livro pode ser adquirido em cidade de Araranguá nas lojas Fátima.
dos Daros”. Uma obra “Antigamente o padre tomava nota da considera o escritor. no Rio Grande do Sul, lugar em que
com 832 páginas, entre
Sombrio e quem está na coordenação Museus (Ibram), que diz que os espaços
é meu primo, Valcir Daros”, adianta Desde julho de 2015, o culturais devem ter acessibilidade. “O
Eugênio. Museu Augusto Casagrande recurso de aproximadamente R$ 130
A festa da família promove a conta com uma rampa de mil, foi liberado pela Caixa Econômica
integração e estimula a preservação acessibilidade na entrada, Federal e contou com projetos da
do contato dos familiares uns com os além de um elevador na Associação dos Amigos do Museu
outros. “Por conta da modernidade e da parte interna do museu e Augusto Casagrande (AMAC)”,
correria os parentes se visitam pouco, adaptação no banheiro. As esclarece a diretora de cultura.
o evento tem o objetivo de manter as mudanças foram realizadas O Museu Augusto Casagrande
pessoas unidas. Nos destacamos pela pela administração municipal está localizado à Rua Cecília Daros
seriedade, luta e trabalho e temos como por meio da Fundação Casagrande, s/n° aberto para visitação
mérito conquistas empreendedoras. Cultural de Criciúma. de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h,
Família é assim! A festa é a nossa As alterações se deram e das 13h às 17h. Telefone para contato:
ligação”, considera o idealizador. Missa celebrada pelo pároco Durval Daros, o padre da família, na festa dos Daros O museu ganhou uma rampa de acessibilidade em 2015 em cumprimento a nova (48) 3445-8855
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Amor da Itália para o Brasil Seis décadas de companheirismo
Vencendo dificuldades, amando e aprendendo a perdoar, a paixão de infância de Maria Favero e
Ainda crianças, Maria e Lourenço se conheceram em um navio vindo da Itália. No Brasil, se reencontram e casaram Angelino de Oliveira se tornou um casamento duradouro que em 2016 completa 60 anos
Caroline Monteiro
E m 1956, enquanto o Brasil ela ia para a escola. Quando ela voltava, família. Mas por problemas de saúde e
coisa que ela ouviu e morreu. Ninguém dando uma flor para a minha mãe. No
tinha contado para ela o que havia fundo é antiga casa onde vivemos com
acontecido com o nonno”, relembra. o nonno e a nonna”, recorda.
line
Foto: Caro
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Grupo Seis de Janeiro: “O canto dos Daros” Da roça, as peças artesanais
Criado em 1978 por ideia de Mário Bellolli e formado somente por homens, atualmente o grupo conta
com nove integrantes que preservam a cultura dos imigrantes italianos por meio da música folclórica Vindo de uma família de imigrantes agricultores, Antônio Daros enfrentou dificuldades para criar
seus filhos com o trabalho no campo. Foi no artesanato que conseguiu aumentar a renda familiar
N
para a cultura de Criciúma e região, ao
Foto: Maria Júlia Grassi
deixar gravados dois CD’S para a atual os arredores da rua Linha limpar o cipó”, relata com sorrisos. “Sempre ajudávamos ele
e a futura geração”, considera Belloli. Três Ribeirões, localizada As peças feitas eram vendidas a
Um evento na localidade de no bairro Bosque do pessoas que moravam nas proximidades como podíamos, com o
Primeira Linha com a participação do Repouso, em Criciúma, viveram e ainda e encomendavam. Maria acredita que que era possível. Recordo
Grupo Folclórico Seis de Janeiro atraiu vivem descendestes de Salvador Daros. o Antônio tenha aprendido a fazer as que ele dizia quando
e incentivou o surgimento de novos Entre eles estava Antônio Daros, peças com o pai, Salvador, já que ele
músicos como os grupos Polonês e casado com Regina Netto, que juntos também produzia e era conhecido por precisava de ajuda: ‘Vão
Afro-Brasileiro. Assim se concretizou tiveram 13 filhos. Naquela época, não isso. me tirar tucum’, ‘Vão me
a Festa das Etnias Com a edição de havia muito emprego ou dinheiro e o “Eu tenho uma cesta que quem ajudar a tirar taquarinha’,
Dança, música e gastronomia. pai da família se esforçava para superar fez foi um dos meus irmãos, o Otávio.
as difilculdades e sustentar os filhos e Ele teve paralisia infantil e tinha uma ‘Vão limpar o cipó”
Aparição na Globo esposa. deficiência física nas pernas. Meu pai
Uma dos três filhos ainda que ensinou o meu irmão a fazer. Ele os passos dos familiares, ambos
O Grupo Seis de Janeiro era vivos, Maria Daros da Luz, de 81 fez a cesta para mim há mais de 30 trabalhavam em plantações de fumo,
convidado para eventos comuns. Mas, anos, lembra que durante o dia o pai anos. Nós tínhamos muitas galinhas milho e mandioca, além de olaria. Por
antes mesmo de comemorar um ano trabalhava muito na roça, mesmo assim e colhíamos muitos ovos. Todos os causa de uma ferida na perna, Maria
de existência, foi convidado para se não conseguia muito dinheiro. Para domingos, a gente saía da casa do meu deixou de lado as atividades no campo
Foto dos integrantes que formam o Grupo Seis de Janeiro, criado em 1978 por Mario Belloli apresentar oficialmente na cidade ajudar na renda, todas as noites, ele se pai caminhando a pé até o Centro de aos 40 anos.
P
de Urussanga, na comemoração do dedicava a produzir peças artesanais. Criciúma. Íamos a missa e depois A aposentada ressalta que era
ara comemorar o centenário da por gostar de cantar e este fato, centenário de fundação (maio de 1978). “Ele era uma pessoa muito querida vendíamos os ovos, que sempre antigamente a alimentação era bem
colonização de Criciúma (1980), inclusive, pode explicar de onde vem No ano seguinte, em uma tanto na família quanto na comunidade. levávamos dentro de cestas como essa diferente de hoje em dia. “A gente não
o historiador Mário Belloli este sobrenome. Há muitas leituras apresentação, por ocasião da Feira Nós trabalhávamos muito. Para ganhar que tenho ”, declara. tomava café, não era nosso costume.
resolveu criar um projeto cultural. Em que tentam explicar a derivação do do Livro, realizada na Praça Nereu uns trocados a mais, o meu pai fazia Nossas refeições eram assim: almoço
1978, Belloli apresenta ao prefeito sobrenome, mas uma só convence o Ramos, o grupo é surpreendido com em casa cadeira, peneira, balaio, cestas de manhã, janta ao meio dia e ceia à
Altair Guidi, a ideia de valorizar os professor e escritor Jorge Daros. “A a presença do “Globo Repórter”, que de palha. Também usava bambu e
A difícil vida no campo
noite. Comíamos polenta com salame,
costumes dos colonizadores por meio palavra Daros é de origem Húngara, conforme Belloli, estava realizando taquara, ele lascava as taquaras bem Aos 18 anos, Maria deixou a casa queijo, ovo frito, no lugar do café”,
da música. era um pássaro preto. A família cantava uma reportagem na região carbonífera. fininhas. Sempre ajudávamos ele como dos pais e se casou com Benvindo revela.
Belloli relata que faltava a criação de muito como os pássaros Daros, “O jornalista, ao indagar-me se podíamos, com o que era possível. Gustavo da Luz, mas continuou Como a polenta é um prato
um grupo organizado para desenvolver daí acredita-se que tenha surgido o poderia filmar algumas músicas do Recordo que ele dizia para nós quando morando na mesma rua. Como a mãe, obrigatório nas mesas de descendentes
a cultura do canto e da dança. sobrenome: Daros”, conta o escritor. grupo, logo teve a minha resposta, que precisava de ajuda: ‘Vão me tirar tucum’, Maria também teve muitos filhos, oito de italianos, a família também cultivava
“Interessado pelo desenvolvimento O Grupo Seis de Janeiro tem poderia sim, e com grande satisfação. ‘Vão me ajudar a tirar taquarinha’, ‘Vão homens e seis mulheres. Seguindo milho. Naquela época, as atafonas
da cultura, eu consegui reunir alguns o trabalho voltado para músicas Assim, foi para o “Ar”, para todo o ficavam no bairro Santa Augusta e em
cantores, que praticavam a música folclóricas italianas, entre as quais, Brasil”, relata. Içara. O filho mais velho de Maria,