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18/07/2022 16:14 A Família Junqueira em O Estado de São Paulo - 1982

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#DIVERSOS  Blog da Nivia

A Família Junqueira em O Estado


de São Paulo – 1982
JORNAL – O Estado de S. Paulo | Domingo
– 29 de junho de 1982
A FAMÍLIA JUNQUEIRA

“Tudo começou com o patriarca, há mais de 200 anos. E então eles desbravaram os
sertões de Minas, Rio e São Paulo, fundaram vilas e cidades, ocuparam terras,
fizeram revoluções, brigaram com o imperador, espalharam-se pelo país inteiro. São
mais de 60 mil pessoas e cada uma delas sabe de cor todas as lendas, tragédias,
sonhos e tradições do maior clã ruralista brasileiro. Eles são uma só família: a incrível
e fantástica família Junqueira.

Reportagem de Luiz Fernando Emediato, enviado especial.

A seguir você verá toda a reportagem, vou colocar alguns comentários pessoais em
itálico entre alguns trechos


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Os Junqueira usam bengala – ou pelo menos as colecionam –, caçam veados e onças,


criam cavalos mangalarga, guardam cartas, testamentos e inventários de seus
antepassados – como se fossem relíquias – e estão sempre atentos ao nascimento ou
à morte de outros Junqueira, em qualquer lugar do país onde estejam, e estão em
muitos.

Os Junqueira cultuam o passado e a memória da família desde que ela foi iniciada,
neste País, entre 1760 e 1770, quando nasceu o primeiro Junqueira Filho, o Patriarca.

Fato, meu avô tinha muitas


bengalas e meu pai ainda as
guarda e usa, mesmo sem
precisar, rs. Vou ter que ficar
com elas depois. Meu avô e
meu pai sempre fez questão 

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também de nos passar o valor


de toda história da família e os
antepassados.

Eu e meu pai, Danilo Pereira


Junqueira

Até então eles não existiam, a não ser em Portugal, onde não se chamavam
Junqueira e nem ao menos tinham sobrenome. Em 1873, porém, um tetraneto do
Patriarca possuía escravos, morava na senhorial Fazenda do Favacho – a
propriedade-mãe, no Sul de Minas – tinha caçado 47 onças e, já velho e cansado,
relacionava seus feitos num pequeno pedaço de papel branco. Este pedaço de papel,
amarelado pelo tempo, mas perfeito e legível, está hoje guardado no cofre de
Osvaldo Cruz de Azevedo Junqueira, descendente direto de Gabriel Francisco
Junqueira, o Barão de Alfenas, irmão caçula do Patriarca.

Os Junqueira seriam uma família


brasileira qualquer se desde o início >> Barão de Alfenas é meu
não tivessem feito do passado matéria tatataravô, se não me engano
de memória e culto. Suas histórias já se essa no número de “tatas” rs!
transformaram em lendas. Eles
Foi dono de grande parte da
fundaram cidades, fizeram revoluções,
desbravaram terras selvagens,
região que hoje compreende
espalharam-se por todo o país e deram as cidades de Alfenas, São 
seu nome a mais de 100 mil pessoas,
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das quais pelo menos 60 mil estão Tomé das Letras, Cruzília e
vivas, em nosso tempo. Mais do que
Baependi, em Minas Gerais. A
isso: registraram todos estes nomes em
fazenda Favacho ainda
papéis comuns, hoje publicados em
dois volumes de quase mil páginas – continua nas mãos de
sua frondosa árvore genealógica. Junqueiras

Barão de Alfenas

Assim como no romance “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez, no qual
a estirpe dos Buendía se estende ao longo dos séculos, e os nomes, iguais ou quase
iguais, se confundem, a árvore genealógica dos Junqueira contém uma emaranhada
profusão de Gabriéis, Franciscos, Marianas, Inácias, Olintos, Osvaldos, Orlandos, Anas
e Helenas.

É preciso também muito cuidado ao se examinar os álbuns de família: os Junqueira


são tão semelhantes que um bisneto parece reencarnação do avô, do bisavô, do
tetravô ou, pelo menos, um tio distante.

No início eles sempre se casaram entre


si, com primas e primos. Uma forma, >> Parece mesmo, meu irmão
talvez, de não desmembrar suas tem uma foto que é a cara do
imensas posses: terras que se meu avô Domingos quando 
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estenderam pelos sertões mineiros, novo. Era muito bonitão ele,


pequenos para eles, e então se
por sinal.
espalharam também por São Paulo, Rio,
Amazônia…

Crise econômica Os Junqueira são um enigma:


afeta Família não existe, em lugar nenhum
Junqueira no mundo família plebéia que,
como eles, tenha preservado
Mas os tempos mudam, e, no meio de
uma crise econômica que não poupou suas histórias com tanto
alguns ramos da família, exatamente o empenho – como se fossem
que detém a posse da propriedade-mãe nobres. Para os Junqueira,
– a Fazenda do Favacho – se debate
conhecer as origens não é,
agora com um problema: como manter
entretanto, uma obrigação:
esta sede senhorial, 45 cômodos, nos
quais vivem hoje apenas um homem, eles se sentem realmente uma
sua mulher e o único filho – o mais única família – e têm orgulho
jovem Gabriel de uma quase disso.
interminável sucessão. Eles querem
vender o antigo casarão colonial – e os
Junqueira, em todo país, estão nesse
>> Acredito que quem não
momento discutindo o assunto.
tem orgulho é porque
É possível que em nenhum momento desconhece a história ou não
de sua história – nem quando um deles
tem sensibilidade para valores
foi morto, com boa parte da família,
essenciais à vida.
pelo motim dos escravos, ou quando o
barão de Alfenas foi perseguido pelo
imperador – os Junqueira se tenham alvoroçado tanto.

Para uma família que vive de lembranças e lendas e que insiste em lutar contra a
morte e o esquecimento, nesta metafísica busca da imortalidade, perder a casa-mãe
significaria algo assim como o ruir de um império.

E aqui começa a nossa história.



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Os herdeiros do Patriarca
A história do clã Junqueira começa em Portugal, no dia 14 de novembro de 1727, com
o nascimento de João Francisco, filho de João Manuel e Ana Francisca do Vale, que
viviam na aldeia de São Simão da Junqueira, termo de Barcelos, Arcebispado de
Braga.

Antes de completar 30 anos João Francisco emigrou para o Brasil – revelando assim
seu temperamento enérgico, coragem e alta capacidade de luta pela vida, segundo
afirmam seus descendentes. Adotou o hábito, então comum, de incorporar o nome
da aldeia onde nascera – Junqueira. Mas, ao contrário da maioria dos portugueses
que naquela época emigravam para a Colônia, não se dirigiu para as minas de ouro
em Vila Rica, Mariana e Sabará.

Depois de peregrinar como um andarilho pelas poucas estradas de Minas, ocupou


terras às margens do Rio Verde, distrito de Encruzilhada (hoje Cruzília), nas
imediações de Baependi, Sul de Minas. Ali começou, realmente, a história do clã.

Os Junqueira de hoje não reconhecem, como o Patriarca da família, este heróico


imigrante português que respeitam. O Patriarca, ou o primeiro brasileiro da família,
veio a ser seu filho mais velho, João Francisco Junqueira Filho, capitão, dono da
fazenda do Favacho.

No final do século XVIII o ciclo do ouro estava chegando ao fim, Vila Rica entrava em
decadência econômica e cultural, a província das Minas Gerais perdia importância e a
aristocracia agrária apenas começava a nascer. Exilado na Fazenda do Favacho, dono
de latifúndios que nada valiam, João Francisco via seus filhos nascer e morrer em
tenra idade. Eram tempos bravios aqueles.

Dos 12 filhos do imigrante João Francisco, o da Junqueira, enfim, sete sobreviveram –


e é a partir destes sete que a família ergue sua árvore genealógica, hoje constituída
por quase 60 mil galhos, enumerados rigorosamente num livro de 996 páginas onde
só há lugar para nomes e lugares.

Os sete herdeiros do imigrante foram: o capitão João Francisco Junqueira Filho, o


Patriarca, dono do Favacho; Francisco Antônio Junqueira, padre, dono da Fazenda do
Jardim; Maria Francisca da Encarnação Junqueira, da fazenda Santo Inácio; José 
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Francisco Junqueira, da fazenda Bela Cruz; Ana Cândida Junqueira; Genoveva


Junqueira; e Gabriel Francisco Junqueira, barão de Alfenas, dono da Fazenda Campo
Alegre.

Os descendentes dos primeiros sete Junqueira espalharam-se pelo Sul de Minas,


ocupando vastas extensões de terras, até que o mundo se tornou pequeno para eles
e começou a diáspora: ninguém sabe exatamente até onde os Junqueira chegaram –
supõe-se que existam em quase todo o País – mas os ramos mais nobres desta
dinâmica descendência estabeleceram-se em São Paulo, e aí fundaram vilas, aldeias
e cidades.

Francisco Antônio aventurou-se por São Paulo com o cunhado João José de Carvalho,
acompanhados pelas respectivas mulheres e um batalhão de escravos aos quais
ensinaram os mais diversos ofícios. No dia 5 de setembro de 1816, segundo conta
Adélia Diniz Junqueira Bastos no livro “Lendas e Tradições da Família Junqueira”, este
séquito de bandeirantes ao contrário acampou à margem do ribeirão do Rosário, já
em São Paulo.

Ali tiveram de ficar, por causa da chuva, e como gostaram do lugar, se instalaram
para sempre, num tempo em que o mundo não tinha dono, as fazendas não tinham
cercas e as terras eram de quem chegasse primeiro, para dar-lhes nome e fazê-las
produzir. A este lugar deram o nome de fazenda invernada, porque era inverno. A
cidade que fundaram receberia mais tarde o nome de Orlândia, em homenagem a
um Junqueira, de nome Francisco Orlando.

A Fazenda Invernada ocupava uma área de 70 mil alqueires, que hoje compreende os
municípios de Orlândia, Guaíra, Barretos, Colina, Terra Roxa, Jaborandi, Morro Agudo
e parte de Viradouro. Numa demarcação de divisas, concederam 500 alqueires aos
irmãos Barreto – daí o nome da cidade.

Como eram tempos não só de terras sem dono, mas também de donos sem terra, e
de alguma violência, eles mandaram cercar as passagens, controlando o trânsito por
toda a área. Caravanas de aventureiros eram obrigadas a voltar de certo ponto, o
“viradouro”. Ali nasceu uma cidade com este nome, e foi ali, na região onde se
instalaram os primeiros Junqueira viajantes, que se concentrou a maior parte da
família – e a que mais poder econômico e político concentrou em suas mãos.

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O primeiro filho de Francisco Antônio, Francisco Marcolino Diniz Junqueira, neto do


Patriarca, casou-se com a prima Maria Paula, que gerou o primogênito Francisco
Orlando Diniz Junqueira, coronel, que também se casou com uma prima, Genoveva
Angélica Teixeira Junqueira. O coronel Francisco Orlando foi, enquanto viveu, o chefe
político de toda aquela imensa região.

Uma geração adiante, um tetraneto do Patriarca, conhecido como Coronel Quinzinho


– Joaquim da Cunha Diniz Junqueira – era consultado, na sua fazenda em Ribeirão
Preto, sobre sua opinião a respeito dos políticos Prudente de Moraes, Campos Salles
e Rodrigues Alves. Ele acenava afirmativamente com a cabeça, e os três tornaram-se
presidentes da República.

Política, criação de cavalos e cães, caça de


veados e onças, coleções de bengalas

Todas essas coisas fascinam os Junqueira. Foi o amor à caça que os levou a
desenvolver uma raça de montaria, o cavalo Mangalarga, e a criação de cães. Figuras
como as de João Junqueira, o “João da Onça”, ou de Francisco Marcolino, o “capitão
Chico”, tornaram-se lendárias. Eles foram, a seu tempo, os mais ágeis caçadores de
toda a província.

Francisco Marcolino Diniz Junqueira era um homem prático e enérgico: em 1857, aos
28 anos, ao ver a irmã Gabriela, órfã, de quem era tutor, em idade de casar, e tendo
de repartir uma vez a herança dos pais, tratou de casá-la com o primo João Bráulio
Fortes Junqueira, para o que pediu autorização ao juiz e major José Francisco de
Carvalho Junqueira, seu parente.


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João Bráulio, afirmava Francisco Marcolino, reunia todas as qualidades necessárias


para ser marido – além, claro, da de ser parente, garantia que as vastas terras dos
Junqueira não passariam para mãos estranhas. A história de João Bráulio e Gabriela
Vitalina repetiu-se em diversas ocasiões, gerações adiante, às vezes com pessoas que
tinham os mesmos nomes.

A família Junqueira gosta de relembrar suas histórias: e jamais as relembrou com


tanto ardor quanto em outubro de 1981, quando quase dois mil deles se reuniram na
fazenda do Favacho, com seus filhos, netos e bisnetos, para comemorar uma data
“redonda”: os 220 anos de benzimento da capela de São José do Favacho, erguida
junto ao solar da família, em 1761. Em honra do Patriarca, mandaram erguer uma
lápide com os versos da Eneida: “Sobe em meus ombros, pai. Não me serás pesado”.

Ali, numa festa fantástica, embalada pelas vozes de um coral de 60 integrantes, cinco
padres – dois deles da própria família – celebraram missa. À noite, um conjunto
musical e uma banda revezavam-se, enquanto os garçons – que chegaram
conduzidos em três ônibus – tentavam servir a multidão. A festa foi realizada ao ar
livre, debaixo de toldos, já que os 2 mil membros da família não cabiam nos 45 salões
do velho casarão de 1.800m² de área construída.

Nestes salões, armas, louças chinesas e inglesas, pinturas com os rostos de avós,
bisavós e tetravós, barões, condes, viscondes, espadas, talhas sacras, bengalas,
sinetes: os objetos que os Junqueira jamais vendem, pois fazem parte das tradições
familiares: com aquela espingarda, a “Prateada”, o capitão Chico matou 47 onças;
com tal bengala o barão de Alfenas cutucava as vacas.


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Meu pai Danilo Pereira Junqueira à esquerda, minha vó Doralice Pereira Junqueira
e meus dois tios!

Tudo é história…
Nem todas as lembranças, porém, são boas: José Francisco Junqueira, quarto filho
do imigrante João Francisco, o da Junqueira, nascido em 1764, foi trucidado, junto
com boa parte da família, no dia 23 de maio de 1833 – já com 69 anos – pelos
próprios escravos.

Outro, Gabriel Francisco Junqueira, o


barão de Alfenas, teve vida cheia de >> Ainda vou contar aqui esse
aventuras políticas. Nascido em 1782, trágico e tenebroso ocorrido
comendador da Ordem de Cristo,
deputado, participou da revolução de
1842, à frente de uma coluna que, no dia 20 de julho, rechaçou as forças do

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imperador, para, logo depois, apresentar-se à corte, jurando obediência. Foi preso e
duas vezes processado, mas absolvido sempre.

Apesar de se ter retirado da luta, foi


perseguido durante muito tempo, o que >> Raros os Junqueiras que
não o impediu de ser agraciado pelo não gostam e não se
imperador Dom Pedro II com o título de importam com politica, acho
Barão, por decreto de 11 de outubro de
que temos por quem puxar,
1848. Morreu em 1869, aos 87 anos e
cego.
hehe

Apesar dos laços de família, e do zelo


que os Junqueira têm em preservar suas lembranças, a dificuldade de transporte e
de comunicação, no passado, provocava situações hoje incompreensíveis. A história
do lendário “Capitão Chico”, Francisco Marcolino Diniz Junqueira, é um exemplo
disso: em 1845, com 16 anos, estudava na Corte (o Rio de Janeiro), saudoso da casa
paterna, já que não se habituara a vida na capital. Repetidas vezes escrevia a tios e
irmãs, pedindo que o mandassem buscar, “pois, para o que quero seguir, o que sei já
chega.”

Acabaram atendendo seus desejos, e logo ele chegava, de volta, à fazenda Invernada,
onde o pai não o reconheceu e até perguntou quem era aquele “boa-vinha”, termo
que se aplicava aos recém chegados de Portugal. O pai não o via há pelo menos oito
anos. Francisco Marcolino nunca mais deixou a fazenda Invernada. Ali mesmo se
casou, e ali se tornou um dos maiores caçadores da história da família.

Seus domínios chegaram a 60 mil alqueires de terra, que percorria, a cavalo, atrás de
veados, antas, onças e outros animais. Entrava pelas matas como um verdadeiro
séquito: escravos e companheiros carregando barracas e armas; matilha de cães;
violeiros e tocadores de sanfona. Morreu em 1887, vítima de uremia, conseqüência,
segundo consta, de sucessivas malárias malcuradas.

O caminho histórico que leva à fazenda do


Favacho…

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… o solar dos Junqueira, começa na estância hidromineral de Caxambu, de onde se


toma a estrada para Cruzília, uma cidadezinha onde todos se conhecem pelo nome.
Daí, toma-se uma trilha de 35 quilômetros que termina na porta do solar, onde, às
seis horas da manhã, já é possível ver Gabriel Junqueira, o Bié, de 26 anos, tirando
leite das vacas.

É um dos mais jovens descendentes do Patriarca. E, como ele, um sujeito alto, rude,
de barbas ruivas, mãos calosas e grossas, um sorriso ingênuo que às vezes se
transforma numa gostosa gargalhada, quando brinca com seus cachorros – mais de
30 – ou lembra a cara espantada de um velho veado que vem caçando, duas vezes
por semana, há pelo menos três anos, e que jamais matou ou permitiu fosse ferido
pelos cães. Ali no curral, todo sujo de esterco, cheirando a vacas, a indefectível
bengala à mão, Gabriel é um Junqueira.

Mas as coisas não andam boas para a família – pelo menos para a parte da família
que herdou essa histórica fazenda do Favacho. Ao contrário dos Junqueira que há
150 anos deixaram Minas, isolados no sertão, eles não souberam, não puderam ou
não quiseram acompanhar os novos tempos. E, à noite, têm pesadelos terríveis: e se,
um dia, tiverem de vender o solar histórico?

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Ninguém sabe, nem os próprios Junqueira, quando foi construída a sede do Favacho.
Sabe-se que foi antes da inauguração da capela, em 1761 e que, ao longo dos
séculos, foi transmitida por herança, primeiro para o filho mais velho do patriarca,
José Frausino Junqueira, que ali viveu até morrer, aos 80 anos. A propriedade passou
então para seu filho Francisco Olinto Fortes Junqueira, que a deixou para sua filha
Josefa, casada com Gabriel Fortes Junqueira de Andrade. Com a morte deste, foi
herdada pelos filhos Rubens e Geraldo. Rubens, ainda vivo, é pai de Gabriel, o Bié.

Andando pelos 45 cômodos do solar, tudo impecavelmente limpo pelas oito


empregadas, Bié conta que está sozinho: seus dois irmãos não moram mais na
fazenda. O pai está viajando com a mãe. Neste momento ele é o único morador
deste prédio enorme pelo qual passaram gerações e gerações de Junqueira.

– A mobília desta sala – conta Bié, olhos perdidos no passado – nos foi doada, há um
século, pelo barão de Alfenas, nosso tio. Mas de repente, ele volta ao presente; conta
que tem ali, nos 3.600 hectares de terras (o que sobrou de várias e sucessivas
partilhas da propriedade original), 350 vacas de leite, 300 garrotes para recria e a
lavoura de café. Cem pessoas vivem ali – empregados e filhos de escravos, que
jamais quiseram ir embora.

– A fazenda é deficitária – diz ele.

– Tudo o que ganhamos é a conta de pagar os empregados e a manutenção da sede,


que custa 80 mil cruzeiros por mês. Já pensamos até em vender parte das terras e a
sede, mas aí eu penso: “Se quiserem me arrancar um pedaço, é só me tirar daqui”.

Os Junqueira que vivem longe do Favacho se tornam apreensivos quando ouvem


dizer que Bié pode vender a propriedade. Afinal, o coração da família está ali. Os
primeiro Junqueira estão enterrados na capela de São José do Favacho. Alguns
chegaram a sugerir a criação de um condomínio: que os Junqueira de todo o País se
unam para comprar a fazenda, por um sistema de cotas. A idéia é boa, concorda Bié.
Mas como viabilizá-la?

A crise paira sobre a cabeça dos Junqueira do Favacho. Bié mostra seus cachorros, e
diz: “Antes, criava-os só para as caçadas. Agora, sou obrigado a criar para vender
também. Precisamos de dinheiro”.

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Triste fim para o lugar onde nasceram os Junqueira que geraram 24 viscondes, 38
barões, 5 condes, 5 marquesas, 2 viscondessas e 2 baronesas. Bié se preocupa. Anda
pelos campos pensando em fórmulas de preservar esse passado: sabe que, se
vender a propriedade a algum estranho, logo a sede desaparecerá, o cemitério não
será cuidado, os veados serão mortos. E então ele sugere uma visita à fazenda
Traituba, ali perto: a fazenda que pertenceu a um dos filhos do barão de Alfenas e
agora é de Osvaldo Cruz Azevedo Junqueira, seu tio. O velho Osvaldo talvez tenha
alguma idéia.

A Fazenda Traituba e o Velho Osvaldo


A fazenda Traituba é um solar imponente – mas no passado ela foi maior. Construída
em 1827, por João Pedro Diniz Junqueira, neto do Patriarca, deveria receber naquele
ano o imperador D. Pedro I, que, no entanto, adiou sucessivas vezes a visita, e, em
1831, quando abdicou e deixou o Brasil, ainda não atendera ao convite.

Traituba, com dois pavimentos e um mirante, tinha nada menos que 25 quartos e 7
salas, além de outras dependências domésticas. Em 1902, o major José Frausino
Fortes Junqueira derrubou o segundo pavimento: era grande demais.

Ninguém, como o velho Osvaldo, gosta tanto de falar sobre os antepassados. Passeia
pelos espaçosos salões, mostra os quadros, os rostos de seus avós, a liteira na qual
os escravos carregavam sua bisavó, as bengalas, uma das quais usada pelo próprio
barão de Alfenas, e outra tendo, dissimulado no castão, um gatilho: é uma arma,
capaz de disparar uma bala de grosso calibre.

– Na revolução de 1842 – lembra o velho Osvaldo – recebemos – ele diz assim


mesmo, “recebemos”, referindo-se a acontecimentos de um século e meio atrás –
partidários dos liberais e dos conservadores, sob a condição de que, debaixo de
nosso asilo, não tocassem em assuntos políticos nem se matassem uns aos outros.
Os conservadores eram hóspedes de Helena Diniz Junqueira, mulher de João Pedro,
que por sua vez asilava os liberais.

Bié e Osvaldo trocam olhares e idéias. Como preservar o patrimônio do passado?


Como não vender o Favacho? Osvaldo responde: “Estou cansado e velho. E, quando
eu morrer, o que vão fazer com a Traituba?”

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O velho Osvaldo acalenta um sonho louco, uma miragem: trazer todos os Junqueira,
que são 60 mil, para o berço paterno. Reuni-los todos em Cruzília, para que não
esqueçam jamais de onde vieram. Ele acha que Cruzília tem, em seu clima, ou nas

suas águas, um misterioso elemento químico que faz as mulheres, as vacas e as
coelhas ter filhos sucessivamente.

– Se os Junqueira não venderem suas propriedades e não deixarem essa terra,


sempre haverá Junqueira no mundo, pois aqui eles não deixam de nascer e ser
Junqueira.

Andando por seus domínios, a pé ou a cavalo, ele aponta as casinhas onde vivem
seus empregados, quase todos negros, e diz: em 1888, com a abolição, apenas 2%
dos escravos foram embora. Veja: são todos netos e bisnetos de Francisco Trajano,
Loreto e Romana, os melhores escravos que minha avó Inácia Gabriela trouxe da
Corte, como dote.

Do fundo de um antigo baú cheio de documentos Osvaldo Junqueira retira papéis


velhíssimos: inventários de seus bisavós e avós, com os nomes de todos os escravos,
e a relação de cavalos, bois, terras, móveis e demais pertences. No meio de tudo
aquilo, cartas e bilhetes. Numa delas, João Pedro Diniz Junqueira (o segundo, filho do
que construíra a Traituba), velho e cansado, escreve ao cunhado José Frausino Fortes
Junqueira reclamando da triste situação da Fazenda Aterrado, em 1889.

Os negócios andam mal, o café não rendeu quase nada, o feijão não dará nem para o
consumo dos escravos que não quiseram ir embora. “E pouco hei de plantar –
continua – pois a lesma e a preguiça e a vadiação e o batuque é como matto. A febre
amarella e todos os familiares na Corte a estorvar amigos, a emigração é que nos
vinha a valer.

Enfim, já vou me acostumando a tudo, fazendo para as despesas dou graças a Deus.”

No final, ele aconselha o cunhado a batizar logo todos os recém-nascidos por causa
da peste, da coqueluche e do sarampo. Tempos duros, aqueles.

O velho Osvaldo remexe os papéis e chama a atenção para um deles: é o testamento


de seu bisavô José Frausino, pai de seu avô, José Frausino Fortes, e no qual deixa “à
parda Arminda, liberta por minha fallecida filha Maria, quatro contos de réis. Deicho
livre do cativeiro”. 
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No meio do testamento, uma folha solta, algo que ele próprio escrevera no dia 25 de
junho de 1822: “Lista dos lobos e onças que assisti às caçadas, na minha mocidade”.
No fim da lista, uma observação: “Que saudade!”

Noutro papel, outra lista: “Onças que tenho morto, de 3 de outubro de 1871 a 1883:
47 onças”, assinada por seu filho, José Frausino Fortes, que também era caçador e
morreu em 1933, com quase 100 anos. Ninguém sabe, até hoje, quantas onças os
dois Frausinos mataram na realidade.

O velho Osvaldo Junqueira guarda toda a papelada, junto com moedas do Império,
fitas, adereços, lembranças, e traça num papel uma espécie de mapa. – Isso aqui
precisa crescer, desenvolver-se para que não deixemos tudo para estranhos. O
governo devia abrir umas estradas ligando o Circuito das Águas ao Circuito Histórico.
Como essas estradas passariam obrigatoriamente por Cruzília, isto aqui daria um
salto.

Ele muda de assunto imprevistamente, como se a conversa não tivesse lógica. Logo
está falando do barão – o barão de Alfenas, de quem todos se orgulham. E diz que
esteve o mês passado em São Tomé das Letras, procurando os ossos dele, na igreja
ou no cemitério de São Tomé das Letras “é uma coisa horrorosa”, só pedras, “não sei
como podem cavar sepulturas em cima daquelas rochas”.

Os velhos Junqueira têm uma fixação por cemitérios e coisas mortas. O jovem Bié diz
que muitos deles já visitaram o cemitério da capela de São José do Favacho, onde
olham com ternura para os túmulos dos antepassados, às vezes até choram, e dizem:
“Quero ser enterrado aqui”.

Eles saem pelo mundo afora, com suas


lembranças, geram filhos, espalham-se >> Junqueira tem mania de
pelos quatro cantos da terra, mas guardar tudo, uma coisa. Eu
sempre voltam, diz o velho Osvaldo, desapeguei, quero essa parte
apoiando-se na sua bengala e
da tradição pra mim não, rs
preparando-se para dormir. E, como
fazia o barão de Alfenas, às nove horas
em ponto toca uma corneta, é o sinal.

Até quando os Junqueira mais jovens cultivarão essas tradições? 


https://blogdanivia.com/a-familia-junqueira-o-estado-de-sao-paulo-1982/ 16/21
18/07/2022 16:14 A Família Junqueira em O Estado de São Paulo - 1982

Se depender de mim… por mais muitos anos passarei essas histórias adiante!

Nivia Junqueira

Família Junqueira – Sua História e Genealogia

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18/07/2022 16:14 A Família Junqueira em O Estado de São Paulo - 1982

Você não emagrece porque desiste. Liberdade, Voto e “Democracia Ameaçada”:


Quebre esse ciclo! mentiras e riscos no Brasil

Desculpe, os comentários deste artigo estão encerrados.


6 Comentários

José Cantídio Junqueira de Almeida disse:

27/01/2019 às 16:53

Tenho grande orgulho de ser neto de Antenor Junqueira Franco que formou a Fda Consulta .
Terceiro filho de João da Onça da Fda Onça. Dois eméritos caçadores e criadores de cavalos
Manga-larga.

Blog da Nivia disse:

27/01/2019 às 17:00

Poxa José, prazer em saber quem você é. Sem dúvidas é muito orgulho que sentimos de
nossos antepassados. Um grande abraço e obrigada pelo comentário aqui contando um
pouco de você e sua família

Arlindo Junqueira Franco Neto disse:

28/01/2019 às 09:04

Me sinto grato e feliz por ter uma família,com tanta história bonita,com lutas e conquistas,
parabéns pelo trabalho de história, que fizeste.

Blog da Nivia disse:

28/01/2019 às 10:11

Arlindo eu também. Fico honrada e feliz
https://blogdanivia.com/a-familia-junqueira-o-estado-de-sao-paulo-1982/ 18/21
18/07/2022 16:14 A Família Junqueira em O Estado de São Paulo - 1982

Vanessa guimaraes Franco de paula disse:

28/01/2019 às 09:16

Oi Nívia!

Sou neta de Arlindo Junqueira Franco e Maria do Carmo Vilela Junqueira Franco, primos primeiros
um do outro. Minha avo tem 101 anos e conta com orgulho as historias dos Junqueiras. Afinal
qual foi o desfecho da sede da fazenda Favacho? Meu nome é Vanessa. Sou grande
colecionadora de objetos antigos da familia e me orgulho muito de todas essas histórias.

Um grande abraço!

Vanessa Guimarães Franco de Paula

Blog da Nivia disse:

28/01/2019 às 10:02

Oi Vanessa muito prazer. Meu pai disse que a Favacho ainda está nas mãos de Junqueiras.
Ainda bem né? E vocês? Moram onde hoje?

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