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Coordenação de
Ensino Instituto IPB
FUNDAMENTOS DA
MUSICOTERAPIA, SUAS
CONCEPTUALIZAÇÕES E
PRÁTICAS
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................... 4
Concepções de Musicoterapia .................................................................................. 10
Concepções de Musicoterapia .................................................................................. 14
A MUSICOTERAPIA E A SÍNDROME DE DOWN ..................................................... 20
A MUSICOTERAPIA E AS CRIANÇAS AUTISTAS ................................................... 23
MÚSICA EM MUSICOTERAPIA: estudos e reflexões na construção do corpo teórico
da Musicoterapia ....................................................................................................... 26
MÚSICA PARA OS GREGOS – MOUSIKÈ ............................................................... 28
MUSICOTERAPIA ..................................................................................................... 34
MUSICOTERAPIA CRIATIVA, MUSICALIDADE, MUSIC CHILD E CONDITION
CHILD ....................................................................................................................... 35
DO PRINCÍPIO DE ISO AO MODELO BENENZON E SEUS CONCEITOS DE
IDENTIDADE SONORA E OBJETO INTERMEDIÁRIO ............................................ 38
MUSICOTERAPIA INTERATIVA E MUSICOLOGIA .................................................. 39
MÚSICA EM MUSICOTERAPIA NA ATUALIDADE ................................................... 42
MÚSICA: UM TERRENO ABERTO E FLEXÍVEL ...................................................... 43
MUSICALIDADE EM AÇÃO: MUSICING .................................................................. 45
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47
Introdução
é ainda interessante salientar que o povo grego tinha por hábito fazer as refeições
acompanhado pelo som da citara, para facilitar a digestão.
Do mesmo modo, consideravam que a música de tipo eólico e portanto,
repetitivo, era terapêutica em perturbações do foro mental (cf. Watson et al, 1987, p.
23) pelo que percebemos hoje o poder hipnótico de uma música com repetições
rítmicas e melódicas. Uma das primeiras noções de musicoterapia encontradas na
história da humanidade é referente ao seu uso enquanto mecanismo de
fortalecimento da mente, poder profilático da música (cf. Ruud, 1990, p. 16), que
potencia o restabelecimento do equilíbrio natural do organismo humano.
Aristóteles defendia uma concepção holista acerca dos efeitos da musicoterapia
no Homem, pois, segundo Verdeau-Paillés e outros, a melhor educação seria aquela
que fosse conseguida através da música, visto que a harmonia e o ritmo conseguem
penetrar no mais íntimo do ser, fornecendo sabedoria (cf. Verdeau-Paillés et al;
1995, p. 130).
No período helénico, surge aquilo que é no nosso entender o verdadeiro sentido
de música enquanto terapia de cuidado e reabilitação para indivíduos portadores de
patologias. Nesta medida é que desde então se vem compreendendo que o
“conceito de uma força terapêutica ou “harmonizadora” na música tem prevalecido
na estética e educação musical desde a Grécia antiga” (Ruud, 1990, p. 15).
A partir do Helenismo, os grandes géneros musicais entram em decadência.
Afirma-se em contrapartida, o virtuosismo dos cantores e o profissionalismo dos
músicos. Procura-se explorar ao máximo o ethos musical. Este pode definir-se como
a capacidade intrínseca dos sons para produzir no ouvinte efeitos de ordem afetiva
ou psicológica (Borges; Cardoso, 2008, p. 25)
O império romano herdou grande parte dos hábitos culturais da civilização grega
contudo, a aplicação da música em terapêuticas de cuidado de saúde, foi-se
degradando com o passar dos séculos. Pode mesmo afirmar-se o desaparecimento
da terapêutica musical no ocidente, sendo que, com a queda posterior do império
romano, as formas de cura retornaram ao sentido mágico-divinatório (cf. Sousa,
2005, p. 122).
Na época da cristianização da Europa, na zona islâmica surgia um grande
desenvolvimento cultural e científico e, desta forma, mediante um dos grandes
mestres da medicina árabe da época que era Avicena, a música era utilizada como
um agente medicamentoso, tal como o ópio e outros entorpecentes (cf. Leinig, 1977,
p. 16).
As conquistas do cristianismo e, posteriormente, a implementação do catolicismo
romano no nosso continente, tiveram total influência na produção
musical da época através de música única e exclusivamente erudita, com sentido de
louvor a Deus. Assim, a música produzida durante esta era, Idade Média, era
somente cantada e pertencia ao domínio eclesiástico. Existiam distintos tipos de
canto entre os quais, o mais conhecido, canto gregoriano.
Ainda hoje presente em muitas culturas, mas mais ainda no cristianismo da
Idade Média, no que se refere à musicoterapia,
“[…] empregavam-se todas as forças espirituais, internas e externas, com a
finalidade de combater o mal, a enfermidade ou o sofrimento. Entre essas forças
estava a música considerada como capaz de afastar transitoriamente, a sensação
de dor e ansiedade e com isso trazer uma maneira de alívio. Suspeitavam alguns
investigadores, que certos sons, como os dos sinos das igrejas podiam, em
princípio, haver servido para fins exorcísticos, isto é, expulsar do templo os espíritos
do inferno” (Leinig, 1977, p. 14).
Durante a renascença, “entre os processos de tratamento pela recreação, a
música se impôs como um dos meios mais eficazes” (Leinig, 1977, p. 16) para
processos de educação e reeducação de indivíduos em reabilitação. A utilidade da
música no renascimento veio, tal como muitas áreas científicas e culturais, renascer,
existindo portanto uma tentativa de continuidade do que na antiguidade se tinha
efetivado. Logo, no que concerne à utilização e ilustração da música como terapia
de promoção de saúde, distintos nomes ao longo da história acentuaram a
importância desta prática. Por volta do século XVII,
“[…] a filosofia mecanicista de Descartes, combinada com a “teoria do afeto” da
estética musical do barroco, estabeleceram as bases para uma teoria da
musicoterapia. Essa teoria salientava que os intervalos da música podiam expandir
ou contrair o spiritus animale do corpo e, portanto, influenciar de maneira direta o
estado da mente” (Ruud, 1990, p. 17).
Neste tempo deu-se simultaneamente o ressurgimento e um novo surgimento da
medicina empírica e com ele, depois das novas descobertas médicas, a música foi
comunicação entre o ser humano e o mundo pela explanação de emoções (cf. Alvin,
1997, p. 15). Tudo isto decorria na mesma época da descoberta do DNA e da lenta
imposição paradigmática da biologia molecular na medicina!
Ainda durante o século XX, e após a utilização de musicoterapia em hospitais
americanos para o tratamento de veteranos da guerra do Vietname, foi criada em
1950 a Associação Nacional de Musicoterapia nos EUA, no sentido de promover o
uso progressivo da música na medicina, fomentar a formação de profissionais
qualificados de modo a implementar do curso superior de musicoterapia em muitas
universidades, em parceria com escolas médicas e instituições hospitalares (cf.
Leinig, 1977, p. 16). A partir desta data pode considerar-se reconhecida a profissão
de musicoterapeuta, devidamente formado e atualizado. Estamos perante o advento
de uma nova era da musicoterapia que hoje se encontra espalhada por todo o
mundo e que, em países como o Brasil ou os Estados Unidos da América, é ciência
fulcral para a reabilitação e cuidado em saúde.
Em Inglaterra a musicoterapia sofreu expansão industrial de tal forma que “em
1982 o ex-terapeuta e psicológo Colin Willcox iniciou uma empresa distribuidora, a
New Cassettes especializada em música para terapia, criada para relaxar, inspirar e
animar os ouvintes” (Watson e Drury, 1987, p. 94).
Nessa altura, a multiculturalidade musical começa a ser evidente e conhecida
em todo o mundo pela existência permanente de intercâmbios culturais. As
principais culturas musicais do mundo são estudadas pela etnomusicologia que
ressalva o interesse e o extremo valor de culturas musicais como a chinesa, hindu,
japonesa, polinésia, egípcia, árabe, hebraica, africana, americana, etc. (cf. Borges;
Cardoso, 2008, p. 13). Assim se percebe que neste final de século (XX), a utilização
da música com fins terapêuticos tem aumentado de importância na maior parte do
mundo industrializado. Embora o conceito de uma força terapêutica vinculada à
música seja tão antigo como nossa civilização, assim como uma força
aparentemente viável na maioria das outras civilizações, alfabetizadas ou não, a
prática do uso terapêutico da música nunca esteve antes tão difundida e
diferenciada” (Ruud, 1990, p. 13).
No que se refere a Portugal, a musicoterapia enquanto ciência valorizou-se por
volta dos anos 70 através da formação de um grupo de investigação do curso de
Educação pela Arte (Sousa, 2005, p. 124). Mais tarde, ”[...] em 1989, a Divisão
Concepções de Musicoterapia
Concepções de Musicoterapia
Fonte: http://musicoterapia-saopaulo.blogspot.com/2008/11/musicoterapia-com-crianas-
especiais.html
Fonte: http://educacionsinbarreras.blogspot.es/1390350108/musicoterapia-en-sindrome-
de-down/
Fonte: https://www.tuasaude.com/musicoterapia-para-o-autismo/
A palavra “autismo” foi criada por Eugene Bleuler 1911, para descrever um
sintoma da esquizofrenia, que definiu como sendo uma “fuga da realidade”. Kanner
e Asperger, usaram a palavra para dar nome aos sintomas que observam em seus
pacientes.
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano que se manifesta durante
toda a vida. É definido por um quadro comportamental peculiar, que envolve sempre
as áreas de interação social, da linguagem comunicativa e do comportamento, em
graus variáveis de severidade. O autismo é encontrado em todo o mundo e em
famílias de todas as etnias e classes sociais, sendo mais comum em meninos que
em meninas. As principais características são: dificuldade em estabelecer contato
com os olhos, parece surda, apesar de não ser, age como se não tomasse
conhecimento do que acontece com os outros, cheira, morde ou lambe roupas e
brinquedos, por vezes ataca e fere outras pessoas mesmo não existindo motivo para
isso, apresenta certos gestos repetitivos e imotivados como balançar as mãos ou
balançar-se, entre outros.
O autismo infantil suscita um interesse imenso, em boa parte, sem dúvida, em
decorrência da fascinação que inspiram essa doença e seu mistério, e em grande
parte, devido aos importantes movimentos de associação de familiares. Estes lutam
pelos tratamentos que lhes parecem os melhores, mas, também para mobilizar o
Facilitação da criatividade;
Diminuição da hiperatividade;
Estes benefícios poderão ser alcançados a longo prazo, mas logo nas
primeiras sessões pode-se notar o envolvimento do autista e os resultados
alcançados são mantidos por toda a vida.
As sessões de musicoterapia devem ser realizadas por um musicoterapeuta
certificado e as sessões podem ser individuais ou em grupo, mas os objetivos
específicos para cada um devem ser sempre individualizados.
A palavra música tem por etimologia latina, música e grega mousikè. Com a
base grega é possível perceber que existem vários significados. Primeiro ela está
relacionada com as Musas: deusas protetoras da educação e por extensão aos
termos poesia e cultura geral; depois considera-se o contrário (a-mousos, não
musical) refere-se às pessoas incultas e ignorantes; também é associado a um
sentido mais convencional, música: se refere aos ensinos específicos da área‖;
pode ser associado a um sinônimo de filosofia; e também pode ser associado
ao verbo manthanein, „aprender„, que por coincidência é também o verbo do
qual se origina a palavra matemática (TOMÁS, 2005, p. 13-14).
A compreensão deste termo mousikè na cultura grega dava-se de modo
complexo por estar diretamente integrada a outras áreas de conhecimento como:
a medicina, a psicologia, a ética, a religião, a filosofia, e a vida social (Ibid., p.
13). Como conceito compreendia: um conjunto de atividades bastante diferentes, as
quais se integravam em uma única manifestação: estudar música na Grécia
consistia também em estudar a poesia, a dança, e a ginástica (Ibid., p.13).
É importante esclarecer que os saberes acima descritos não eram entendidos
como áreas separadas, mas sim, eram pensadas simultaneamente e que seriam,
assim, equivalentes. Todos esses aspectos, quando relacionados com a música
tinham uma igual importância e, portanto, não existia uma hierarquia entre eles
(Ibid., p. 13).
Entender o conceito de música passa pelo entendimento desta etimologia.
Considerando que na sociedade grega a música era muito importante por suas
conexões com outros campos do saber [que] ultrapassavam em muito o sentido
comum do que se entende por música, isto é, como um fenômeno audível que pode
ser percebido sensorialmente (Ibid., p.13).
Para eles as segmentações de saberes não se faziam necessárias, mas sim, a
integração e construção destes saberes com o cotidiano, com o modo de vida por
estarem relacionados com a formação integral da pessoa.
A música assim acontecia pela construção do conhecimento específico da área e
sua integração ao conhecimento total ao mesmo tempo. Era entendida, deste modo,
tanto pelo conceito de metafísica da harmonia„(pensamento pitagórico) e seu
desdobramento para música conceitual„ (pensamento platônico) como de música„,
emoções, como se isso fosse possível; imperou a construção das normas para as
composições, o desenvolvimento da escrita musical, a redução do ensinamento
musical oral para o escrito e a formalização do canto nos ritos religiosos. Música e
seu aspecto conceitual.
A Igreja considerava o cantar como uma forma de colocar o homem mais perto
de Deus. O campo do sentir„ e lograr abrir a porta de entrada da alma humana era o
objetivo a ser alcançado através das músicas, a oração. Contudo, não se admitia o
prazer. O pensamento Aristotélico foi colocado de lado apesar de tudo:
Assim flutuo entre o perigo e o prazer e os salutares efeitos que a experiência
nos mostra. Portanto, sem proferir uma sentença irrevogável, inclino-me a aprovar o
costume de cantar na igreja, para que, pelos deleites do ouvido, o espírito,
demasiado fraco, se eleve até aos afetos de piedade. Quando, às vezes, a música
me sensibiliza mais do que as letras que se cantam, confesso com dor que pequei.
Neste caso, por castigo, preferiria não ouvir cantar. Eis em que estado me encontro
(SANTO AGOSTINHO apud TOMÁS, 2005 p. 33).
Desse modo, uma maneira de entender o aspecto metafísico„ da música,
descrito pelos Gregos, acentuou-se neste período e Santo Agostinho apresentou- a
como a ciência do bem medir (Ibid., p.34).
Assim, do pensamento Grego original pouco se aplicou. O que temos hoje é o
que foi passado por outros como Boécio (480 – 524) e Santo Agostinho (354 - 430).
As ideologias da Idade Média permearam e, de certo modo, traduziram os escritos
antigos. Os modos musicais Gregos eram entoados descendentemente, porém
quando traduzidos para os modos eclesiásticos tornaram-se ascendentes; os nomes
dados a determinada sequência de notas foram alterados.
O que hoje é conhecido como dórico não tem as mesmas notas que o dórico dos
gregos, por exemplo; a criação da notação musical permitiu o registro da estrutura
das escalas, das entoações gregorianas e iniciou o legado da teoria musical com
todas as transformações através dos séculos. A necessidade do ser humano de ter
controle sobre o que está ao redor e o que está dentro dele próprio, suas emoções,
levou, no campo da música a um significativo legado de tratados musicais, escritos
de psicologia da música e filosofia da música.
Mais alguns séculos se passaram para que o campo da saúde fizesse uso da
relação direta e aberta que os homens têm com a música, acrescida destas
MUSICOTERAPIA
mesmo tempo, é um produto (fora do ser humano) e uma produção humana (dentro
do ser humano).
REFERÊNCIAS