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Lobo-guará

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Lobo-guará[1]

Ocorrência: Pleistoceno - Recente

Lobo-guará no Parque Nacional Serra da Canastra

Estado de conservação

Quase ameaçada (IUCN 3.1) [2]

Classificação científica

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Canidae

Género: Chrysocyon
SMITH, 1839
Espécie: C. brachyurus

Nome binomial

Chrysocyon brachyurus
ILLIGER, 1815

Espécie-tipo

Canis jubatus
DESMAREST, 1820

Distribuição geográfica
Sinónimos[3]

 Canis brachyurus Illiger, 1811


 Canis campestris Wied-Neuwied, 1826
 Canis isodactylus Ameghino, 1909
 Canis jubatus Desmarest, 1820
 Vulpes cancrosa Oken, 1816

O lobo-guará (nome científico: Chrysocyon brachyurus) é uma espécie


de canídeo endêmico da América do Sul e único integrante do
gênero Chrysocyon. Provavelmente, a espécie vivente mais próxima é
o cachorro-vinagre (Speothos venaticus). Ocorre em savanas e áreas abertas
no centro do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, sendo um animal típico
do Cerrado. Foi extinto em parte de sua ocorrência ao sul, mas ainda deve
ocorrer no Uruguai. No dia 29 de Julho de 2020 o lobo-guará foi escolhido para
simbolizar a cédula de duzentos reais.
É o maior canídeo da América do Sul, podendo atingir entre 20 e 30 kg de peso
e até 90 cm na altura da cernelha. Suas pernas longas e finas e a densa
pelagem avermelhada lhe conferem uma aparência inconfundível. O lobo-guará
é adaptado aos ambientes abertos das savanas sul-americanas, sendo um
animal crepuscular e onívoro, com importante papel na dispersão de sementes
de frutos do cerrado, principalmente a lobeira (Solanum lycocarpum). Solitário,
os territórios são divididos entre um casal, que se encontra no período
do estro da fêmea. Esses territórios são bastante amplos, podendo ter uma
área de até 123 km². A comunicação se dá principalmente através de
marcação de cheiro, mas também ocorrem vocalizações semelhantes a latidos.
A gestação dura até 65 dias, com os recém-nascidos de cor preta pesando
entre 340 e 430 g.
Apesar de não ser considerado em perigo de extinção pela IUCN, todos os
países em que ele ocorre o classificam em algum grau de ameaça, apesar de
não se saber a real situação das populações. Estima-se que existam cerca de
23 mil animais na natureza, sendo um animal popular em todos os zoológicos.
Está ameaçado principalmente por causa da destruição do cerrado para
ampliação da agricultura, atropelamentos, caça e doenças advindas
dos cães domésticos. No entanto, é adaptável e tolerante às alterações
provocadas pelo ser humano. O lobo-guará ocorre atualmente em áreas
de Mata Atlântica já desmatadas, onde não ocorria originalmente.
Algumas comunidades carregam superstições sobre o lobo-guará e podem até
nutrir certa aversão ao animal. Mas em geral o lobo-guará provoca simpatia em
humanos e por isso é usado como espécie bandeira na conservação
do Cerrado.

Índice

 1Etimologia
 2Taxonomia e evolução
 3Distribuição geográfica e habitat
 4Descrição
 5Comportamento e ecologia
o 5.1Dieta e forrageamento
o 5.2Território, área de vida e comportamento social
o 5.3Reprodução e ciclo de vida
 6Conservação
 7Aspectos culturais
o 7.1Estampando a nota de 200 reais
 8Referências
 9Ligações externas

Etimologia
O lobo-guará também é conhecido como guará, aguará, aguaraçu, lobo-de-
crina, lobo-de-juba ou lobo-vermelho.[4][5] O termo lobo origina-se do latim lupus.
[4]
 Guará e aguará se originaram do tupi-guarani agoa'rá, "pelo de penugem".
[6]
 Aguaraçu veio do termo para "guará grande".[4] Os nomes de origem tupi-
guarani são mais comuns na Argentina e Paraguai (aguará guazú), mas outros
países de língua espanhola têm outras denominações
como boroche na Bolívia e lobo de crin no Peru.[7] Lobo de crin (em espanhol)
e maned wolf (em inglês) são alusões à crina da nuca.[7]

Taxonomia e evolução
É um dos canídeos endêmicos da América do Sul.

Relações filogenéticas dos canídeos sul-
americanos.[8]

Chrysocyon brachyurus -
lobo-guará

Speothos venaticus -
cachorro-vinagre

Atelocynus microtis -
cachorro-do-mato-de-
orelhas-curtas

Cerdocyon thous -
cachorro-do-mato

gênero Lycalopex -
raposas sul-americanas

Filogenia inferida a partir de dados de DNA


mitocondrial e nuclear.
A espécie foi descrita em 1815, por Johann Karl Wilhelm Illiger, inicialmente
como Canis brachyurus.[3] Lorenz Oken o classificou como Vulpes cancrosa, e
somente em 1839, Charles Hamilton Smith descreveu o gênero Chrysocyon.
[3]
 Posteriormente outros autores o consideraram como integrante do
gênero Canis.[3]
Apesar de já ter pertencido aos gêneros Canis e Vulpes, por suas semelhanças
morfológicas, o lobo-guará não está intimamente relacionado a estes gêneros.
[9]
 Estudos moleculares não demonstraram relações do gênero Chrysocyon com
estes canídeos.[8][10] O lobo-guará é um dos canídeos endêmicos da América do
Sul, juntamente com o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o cachorro-
vinagre (Speothus venaticus) e o gênero Lycalopex.[8] Tal grupo
é monofilético segundo os estudos genéticos, mas
estudos morfológicos incluem Nyctereutes procyonoides, que é originário
da Ásia.[8]
Um estudo comparando a anatomia cerebral de vários canídeos, publicado em
2003, colocou o lobo-guará como aparentado da raposa-das-
falkland (Dusicyon australis) e do gênero Lycalopex (considerado pelos autores
como Pseudalopex).[11] Os estudos moleculares corroboram que o lobo-guará
tem um ancestral comum exclusivo com a raposa-das-falkland, que viveu há
aproximadamente 6 milhões de anos.[12][13]
Entretanto, estudos genéticos recentes situam o lobo-guará como mais
próximo filogeneticamente do cachorro-vinagre (Speothos venaticus), formando
um clado que é grupo-irmão de outro ao qual pertencem todos os outros
canídeos sul-americanos, como o cachorro-do-mato-de-orelhas-
curtas (Atelocynus microtis), o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e o
gênero Lycalopex.[8][10] Tal clado divergiu dos outros canídeos sul-americanos há
cerca de 4,2 milhões de anos e os gêneros Chrysocyon e Speothos divergiram
há cerca de 3 milhões de anos.[8]
Não são conhecidos muitos fósseis de lobo-guará e os que foram descobertos
são originários do Holoceno e do Pleistoceno Superior, desenterrados
no planalto Brasileiro, indicando que a espécie também evoluiu somente nas
áreas abertas do Brasil Central.[14] Também não são reconhecidas subespécies.
[15]

Distribuição geográfica e habitat

O Cerrado é o principal habitat do lobo-guará.

O lobo-guará é um canídeo endêmico da América do Sul e habita


as pradarias e matagais do centro desse continente. Sua distribuição
geográfica vai da foz do rio Parnaíba, no Nordeste do Brasil, passando pelas
terras baixas da Bolívia, o leste dos Pampas del Heath, no Peru e
o chaco paraguaio, até o Rio Grande do Sul.[3] Evidências da presença do lobo-
guará na Argentina podem ser encontradas até o Paralelo 30, com
avistamentos recentes em Santiago del Estero.[2] Provavelmente o lobo-guará
ainda ocorre no Uruguai, dado que um espécime foi avistado em 1990, mas
desde então não há registro da espécie no país. [2]
É fato que o lobo-guará desapareceu em muitas regiões nos limites sul de sua
distribuição geográfica, ocorrendo quase que somente até a fronteira do Rio
Grande do Sul com o Uruguai.[16] Interessamente, o desmatamento da Mata
Atlântica nas regiões sudeste e leste do Brasil favoreceu a expansão de sua
distribuição geográfica para áreas onde antes não habitava. [16] Por essa razão,
os registros em áreas de Mata Atlântica no Paraná, São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais aumentaram nos últimos anos.[5] No Pantanal o lobo-
guará ocorre em terras altas no alto Paraguai, mas evita as terras baixas
da planície Pantanal.[5] Há registros esporádicos da espécie em áreas de
transição do Cerrado com a Amazônia e com a Caatinga.[5] A espécie pode
ocorrer acima de 1 500 metros de altitude.[5]
O habitat do lobo-guará se caracteriza principalmente por campos abertos, com
vegetação arbustiva e áreas florestais com o dossel aberto, sendo um animal
típico do Cerrado.[15] Também pode ser encontrado em áreas que sofrem
inundações periódicas e campos cultivados pelo homem. [15] O lobo-guará
prefere ambientes com baixa quantidade de arbustos e vegetação pouco
densa.[15] Áreas mais fechadas são utilizadas para descanso durante o dia,
principalmente em regiões muito alteradas antropicamente. [17] Nessas áreas
alteradas pode ser observado em campos cultivados, plantações
de Eucalyptus e até em áreas suburbanas.[18] Apesar de a espécie poder ocorrer
em ambientes antrópicos, é necessário que se façam mais estudos para
quantificar o grau de tolerância do lobo-guará às atividades agrícolas, mas
alguns autores sugerem a preferência por áreas modificadas pelo homem em
oposição às áreas florestais bem preservadas.[5][15]

Descrição

O crânio é semelhante ao do lobo e do coiote.

É o maior canídeo da América do Sul, atingindo entre 95 e 115 cm de


comprimento, com uma cauda medindo entre 38 e 50 cm de comprimento e
atingindo até 90 cm na altura da cernelha.[15] Pesa entre 20,5 e 30 kg, não
havendo diferenças significativas no peso de machos e fêmeas. [15] É um animal
difícil de confundir com os outros canídeos sul-americanos, por causa de suas
longas e finas pernas, densa pelagem avermelhada e grandes orelhas. [15] A
forma esguia da espécie provavelmente é uma adaptação ao deslocamento em
áreas abertas cobertas por gramíneas.[3]

É inconfundível entre os canídeos sul-americanos, sendo o maior entre eles.

A pelagem do corpo varia do vermelho-dourado ao laranja e os pelos da nuca e


patas são pretos, não havendo uma subcamada na pelagem. [3] A parte inferior
da mandíbula e a ponta da cauda são brancos.[3] Os pelos são compridos,
podendo atingir até 8 cm de comprimento ao longo do corpo, formando um tipo
de crina na nuca do animal.[7] Quase não existe variação na cor da pelagem, e
não é possível identificar os indivíduos ou o sexo a partir da coloração dos
pelos, embora já tenha sido registrado um indivíduo totalmente preto no norte
de Minas Gerais.[7][19]
O formato da cabeça se parece com o de uma raposa. O focinho é esguio e
as orelhas são grandes.[3] Entretanto, o crânio é semelhante ao do lobo (Canis
lupus) e do coiote (Canis latrans).[3] O crânio também apresenta uma
proeminente crista sagital. O dente carniceiro é reduzido,
os incisivos superiores pequenos e os caninos longos.[3] Como os outros
canídeos, tem 42 dentes com a seguinte fórmula dentária: .[20] Semelhante ao
do cachorro-vinagre (Speothos venaticus), o rinário do lobo-guará se estende
até o lábio superior, mas as vibrissas são mais compridas.[3]
As pegadas do lobo-guará são semelhantes às do cão, mas apresentam as
almofadas plantares desproporcionalmente pequenas quando comparadas com
as marcas dos dígitos, que são bem abertas. [21][22] O cão apresenta almofadas
plantares até 3 vezes maiores que a do lobo-guará em suas pegadas. [22] Essas
almofadas têm um formato triangular.[22] As pegadas dianteiras têm entre 7 e
9 cm de comprimento e 5,5 e 7 cm de largura, e as das patas traseiras têm
entre 6,5 e 9 cm de comprimento e 6,5 a 8,5 cm de largura.[22] Uma
característica que diferencia as pegadas do lobo-guará da dos outros canídeos
sul-americanos é a união proximal dos terceiro e quarto dígitos. [3]
Geneticamente o lobo-guará apresenta 38 cromossomos, com
um cariótipo semelhante ao dos outros canídeos.[3] A diversidade genética
sugere que há 15 mil anos a espécie sofreu uma redução da sua diversidade,
chamada efeito de gargalo. Mesmo assim essa diversidade genética é maior
que a de outros canídeos.[5]

Comportamento e ecologia
O lobo-guará é um animal crepuscular, mas seu padrão de atividade está mais
relacionado com a umidade relativa do ar e com a temperatura, semelhante ao
observado com o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous). Os picos de atividade
ocorrem entre 8h e 10h da manhã e 8h e 10h da noite. [23] Em dias frios ou
nublados podem ficar ativos durante todo o dia. [23] É provável que utilize os
campos abertos para forrageamento e as áreas mais fechadas, como as matas
ciliares, para descansar, principalmente nos dias mais quentes. [7]

Seu padrão de atividade se relaciona com a temperatura e umidade do ambiente, não sendo
obrigatoriamente crepuscular.

Os machos deslocam-se mais que as fêmeas e poucas barreiras geográficas


impedem o deslocamento.[7] Os dados genéticos mostraram que mesmo rios
não são capazes de impedir o fluxo gênico entre populações de lobos-guarás e
as populações da espécie não estão isoladas, indicando uma capacidade de
deslocamento e adaptação muito grandes.[5] No Parque Nacional Noel Kempff
Mercado, na Bolívia, os lobos podem andar até 12 km em uma única noite.[24]
É um animal onívoro, generalista, típico entre os mesopredadores.[23] Por
consumir grandes quantidades de frutos e frequentemente eliminá-los intactos
nas fezes tem importante papel na dispersão de sementes de plantas,
principalmente as da lobeira (Solanum lycocarpum).[5] Apesar da lobeira
também ser consumida por outros canídeos sul-americanos, o lobo-guará é o
principal dispersor das sementes desta planta, depositando as fezes com
sementes em sauveiros, locais em que as lobeiras se agregam. [25] Parece não
haver competição direta com outras espécies de carnívoros, apesar de
frequentemente ocorrer nos mesmos ambientes.[26] Muitas vezes utilizam os
mesmos itens alimentares que o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e
a raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus).[26]
Seus predadores são principalmente os grandes felinos, como a onça-
parda (Puma concolor) e a onça-pintada (Panthera onca), mas é mais
frequentemente predado por esse último superpredador.[27]
São parasitados por carrapatos, principalmente do gênero Amblyomma, e
por moscas como Cochliomyia hominivorax, geralmente nas orelhas.
[7]
 Interessante notar que o lobo-guará é pouco parasitado por pulgas.[7] Ele
também compartilha uma série de parasitas com os cães domésticos como
o vírus da raiva, o parvovírus, o vírus da cinomose, o adenovírus canino,
o protozoário Toxoplasma gondii, a bactéria Leptospira interrogans e
o nemátodo Dirofilaria immitis.[7][28]
Frequentemente o lobo-guará é parasitado por Dioctophyme renale,
um nemátodo que pode ser fatal para animais em cativeiro e que também se
hospeda nos animais em liberdade, nos rins.[7][28] Já foi sugerido que a ingestão
da lobeira poderia evitar que os lobos-guarás contraíssem esse nemátodo, mas
tal hipótese foi questionada por vários autores.[7]
Dieta e forrageamento
Muitos dos estudos sobre a dieta do lobo-guará foram conduzidos em cativeiro
e poucos pesquisaram os animais na natureza.[29] Esses estudos foram feitos
principalmente em áreas de cerrado do sudeste e centro do Brasil e em
algumas localidades da Argentina e Bolívia.[29]

Fruto da lobeira, um dos principais itens vegetais ingeridos pelo lobo-guará

Sendo um animal onívoro e generalista, o lobo-guará se alimenta de


praticamente qualquer item que seja capaz de engolir, de origem animal ou
vegetal, consumindo uma ampla variedade de frutos e pequenos vertebrados.
[5]
 Foram registrados até 301 itens alimentares ingeridos pelo lobo-guará, sendo
116 plantas e 178 espécies de animais.[29] Eventualmente pode se alimentar de
animais de maior porte como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla),
o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o caititu (Pecari tajacu) e o veado-
campeiro (Ozotoceros bezoarticus). Mas alguns autores consideram que esses
animais não são ativamente caçados pelo lobo-guará e que foram ingeridos por
já estarem mortos, porque o principal método de estudo da dieta desse animal
é feito analisando as fezes.[5][25] Alguns autores registraram perseguições ativas
ao veado-campeiro.[25] Aves foram os principais animais consumidos pelo lobo-
guará, e tatus (Dasypus sp) e roedores também são importantes na
composição da dieta.[29] Um detalhe interessante é que os alimentos de origem
animal são mais consumidos na estação seca.[7][30]
O lobo-guará caça perseguindo a presa e cavando buracos, realizando saltos
para pegar aves em voo. Cerca de 21% das caçadas têm sucesso. [26] Lobos-
guará predaram até ratões-do-banhado (Myocastor coypus) que estavam
presos em armadilhas.[26] Também foram observados se alimentando de
carcaças de animais atropelados.[26]
Muitos estudos mostraram que uma parcela significativa da dieta do lobo-guará
é composta por frutos da lobeira (Solanum lycocarpum) e que estes frutos são
o principal alimento desse canídeo. Com algumas exceções, esses frutos
compõem entre 40 e 90% da dieta do lobo-guará. [7][25][30] Somente em alguns
estudos no Parque Nacional da Serra da Canastra foi observado uma ingestão
reduzida desse fruto.[31] A lobeira é ativamente procurada pelo lobo-guará e
onde ela é consumida com abundância não parece ocorrer sazonalidade,
sendo consumida durante o ano todo, ao contrário de outros frutos que podem
ser consumidos somente na estação chuvosa.[25][30] Ele pode consumir vários
frutos de uma vez e eliminar as sementes intactas nas fezes, o que o torna um
excelente dispersor dessa planta.[25] Outros itens vegetais são consumidos,
incluindo folhas de gramíneas e frutos do jerivá (Syagrus romanzoffiana) e
do marmeleiro (Alibertia edulis).[29] Muitos estudos mostram que itens vegetais
podem ser a base da dieta do lobo-guará.[15]

Marcação de cheiro com urina é uma forma de comunicação no lobo-guará.


Apesar de solitário, os lobos-guarás podem formar casais no período de estro da fêmea.

Restos de alimentos deixados por seres humanos e animais domésticos não


possuem muita importância na dieta do lobo-guará, principalmente em áreas
bem preservadas de cerrado.[29] Mas ele apresenta tolerância a frutos exóticos
cultivados pelo homem, vivendo em áreas alteradas pela agricultura. [32]
Território, área de vida e comportamento social
Por ter hábitos predominantemente solitários, o lobo-guará também é um
animal territorial.[7] É um monogâmico facultativo e os casais só são observados
durante o estro da fêmea.[33] A área de vida é ampla, variando de 40 a 123 km²,
dependendo da estação do ano e da disponibilidade de alimento. [24] Alguns
estudos mostram que territórios de fêmeas podem ser maiores que de machos.
[25][32]
 Na época do cio a fêmea pode reduzir sua área de vida (na serra do
Caraça, em Minas Gerais, a fêmea reduziu de 72,28 km² para 45,48 km²).
[34]
 Apesar de solitário, a unidade social do lobo-guará dentro de seu território é
o casal, que pode se manter estável por um longo período de tempo. [24][35] Esse
casal só se encontra e pode manter alguma coesão na época reprodutiva. Já
foi observado um pequeno grau de caça compartilhada, mas os animais nunca
descansam juntos.[35] Os territórios de diferentes casais podem se sobrepor. [25][32]
Marcações com cheiro e vocalizações são os meios que o lobo-guará usa para
se comunicar, seja sinalizando território, seja encontrando outros indivíduos.
[7]
 Tanto machos quanto fêmeas utilizam a marcação com cheiro, mas os
machos fazem isso com mais frequência, principalmente no período de estro
das fêmeas.[33] Fezes são depositadas principalmente perto das tocas e locais
de descanso, em cima de rochas ou cupinzeiros.[7] A urina é utilizada no mesmo
contexto, apresentando um odor forte e característico que chega a ser sentido
por humanos em trilhas muito utilizadas pelo lobo-guará. [7] Ao longo dessas
trilhas o lobo-guará não faz marcas com arranhões. [7]
As vocalizações lembram os latidos de um cachorro de porte grande, durando
em média 0,7 segundos em intervalos de 2 a 4 segundos, sequência que se
repete por até 23 vezes.[7] Tanto machos quanto fêmeas vocalizam.[7] Costumam
vocalizar mais à noite, quando podem ser ouvidos a vários metros de distância.
[35]
 Apesar de estarem associadadas à territorialidade, as vocalizações são mais
frequentes entre jovens de um mesmo território, sugerindo serem apenas um
sinal para contato a grandes distâncias entre indivíduos conhecidos e não para
a defesa de território.[35]
Interações sociais diretas são raras e os lobos-guarás parecem se evitar. [7] Os
encontros agonísticos são raros mas ocorrem principalmente entre machos,
não tendo sido observados entre as fêmeas.[32] Isso resulta em quase nenhuma
sobreposição nos territórios dos machos.[32]
Reprodução e ciclo de vida

Os filhotes nascem pesando entre 340 e 430 g e ficam com a pelagem avermelhada depois da
décima semana

Como na dieta, a maior parte dos dados sobre o estro e ciclo reprodutivo do
lobo-guará provém de animais em cativeiro, principalmente sobre
a endocrinologia da reprodução.[33] Entretanto, os estudos de animais em
liberdade constataram que as mudanças hormonais seguem o mesmo padrão
de variação dos animais em cativeiro. [33] A princípio as
fêmeas ovulam espontaneamente, mas alguns autores sugerem que a
presença de um macho é importante para a indução do estro. [33]
Os animais de cativeiro no hemisfério norte se reproduzem entre outubro e
fevereiro e no hemisfério sul entre agosto e outubro. Isso indica que
o fotoperíodo tem papel importante na reprodução do lobo-guará,
principalmente por conta da produção de sêmen.[3][33] Geralmente ocorre
um estro por ano[3] e a quantidade de esperma produzida pelo lobo-guará é
menor quando comparada com a de outros canídeos.[33]
As cópulas acontecem durante o período de 4 dias do estro e são seguidas por
até 15 minutos de engate copulatório.[3] O comportamento de corte não é
diferente do de outros canídeos, caracterizando-se por aproximações
frequentes e investigação anogenital.[26]
A gestação dura cerca de 65 dias, nascendo entre de 2 e 5 filhotes, mas 7
filhotes já foram registrados.[3] Já foram observados nascimentos em maio
na serra da Canastra, mas os dados de cativeiro sugerem que os partos se
concentram entre junho e setembro.[5] Os poucos dados disponíveis sobre a
reprodução na natureza mostram que o lobo-guará se reproduz com dificuldade
e a mortalidade de filhotes é alta. As fêmeas podem ficar até 2 anos sem se
reproduzirem.[33]
Em cativeiro a reprodução é mais difícil ainda, especialmente nos países
temperados do hemisfério norte.[33] Os filhotes nascem pesando entre 340 e 430
gramas, pretos e mudando para a cor avermelhada depois da décima semana.
[3]
 Os olhos se abrem com cerca de 9 dias de idade. [3] São amamentados até os
4 meses e alimentados pelos pais por regurgitação até os 10 meses, iniciando
na 3ª semana de idade.[25][26] Com três meses os filhotes acompanham a mãe
enquanto ela forrageia.[25] O cuidado parental é compartilhado entre macho e
fêmea, mas as fêmeas fazem isso com mais frequência. [25] Dados sobre cuidado
parental pelo macho foram coletados em animais de cativeiro e pouco se sabe
se isso ocorre com frequência em animais selvagens.[26] A maturidade sexual é
alcançada com 1 ano de idade e a partir dessa idade deixam o território em que
nasceram.[26]
A longevidade em liberdade é desconhecida, mas em cativeiro ela é estimada
entre 12 e 15 anos.[3] Há um relato de um indivíduo no Zoológico de São
Paulo que viveu até os 22 anos.[5]

Conservação
Ver também: Lista de unidades de conservação com ocorrência do lobo-guará
no Brasil

Apesar de tolerante a ambientes humanizados, a destruição do cerrado para a agricultura é a maior


ameaça ao lobo-guará.

O lobo-guará não é considerado uma espécie ameaçada de


extinção pela IUCN, por causa de sua ampla distribuição geográfica e pela
capacidade de adaptação a ambientes modificados pelo homem. Mas tem se
observado um declínio de suas populações e a espécie pode estar em alguma
categoria de ameaça em breve, por isso a IUCN classifica-o como uma espécie
quase ameaçada.[2] Até 1996 o lobo-guará era uma espécie vulnerável pela
IUCN.[2] Ele também consta no apêndice II da CITES, que não o caracteriza
como ameaçado mas atenta para que, se não houver medidas para sua
conservação, a espécie pode entrar em alguma categoria de ameaça no futuro.
[2]
 A lista do ICMBio, no Brasil, que segue os mesmos critérios da IUCN,
considera o lobo como espécie vulnerável.[36][37] Por esses mesmos critérios, as
listas estaduais brasileiras também o consideram em situação mais
problemática: é uma espécie vulnerável nas listas de São Paulo e Minas
Gerais, enquanto que nas listas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul o lobo-guará é considerado como "em perigo" e "criticamente em perigo",
respectivamente.[37][38] No Uruguai, apesar de não haver uma lista como a do
Brasil e da IUCN, ele é tido como espécie com "prioridade" para conservação.
[38]
 Na Argentina não é considerado como em perigo crítico, mas reconhece-se
que suas populações estão declinando e encontram-se fragmentadas.[18] A
situação do lobo-guará na Bolívia[39] e no Paraguai[40] é incerta. Mesmo com
essas incertezas o lobo-guará é protegido contra a caça em todos os países
que ocorre.[2]
Dados populacionais estimam 21 746 indivíduos adultos no Brasil. [5] Na
Argentina estima-se que ocorram 660 animais, e 880 no Paraguai. [2] Não mais
do que 1 mil animais devem ocorrer na Bolívia.[2][26] A natureza territorial e
solitária do lobo-guará faz com que ele tenha densidades muito baixas nos
locais em que habita.[2] Estudos apontam para densidades de 0,01 indivíduo /
km² na Estação Ecológica de Águas Emendadas e 0,05 / km² no Parque
Nacional das Emas, sendo que a maior densidade reportada é de 0,08
animais / km² no Parque Nacional da Serra da Canastra.[5]
A maior ameaça à sobrevivência do lobo-guará é representada
pela conversão de áreas de vegetação nativa em campos cultivados, apesar de
sua notável tolerância a ambientes alterados antropicamente.[5][37] A falta de
ambientes ótimos para a reprodução da espécie é um fator preponderante na
alta mortalidade dos filhotes.[33] Nessas áreas antropizadas, atropelamentos
também são importante causa de mortalidade, principalmente de animais
jovens.[25] O contato com cães também é prejudicial ao lobo-guará, susceptível a
contrair as mesmas doenças. Este é um dos principais problemas a serem
resolvidos, apesar de não se saber ao certo o quão grave seja a ameaça. [5]

O lobo-guará é popular em zoológicos, importantes nos estudos da biologia e conservação da


espécie. Neste selo de 1980, da Alemanha Oriental, ele é um dos animais do antigo zoológico
de Berlim Oriental.

Frequentemente, o lobo-guará é considerado um predador de animais


domésticos, principalmente galinhas, o que faz com que ele seja perseguido
por fazendeiros.[25] Não raro, avicultores possuem uma percepção negativa do
lobo-guará, mesmo que ele não seja, de fato, o responsável pelos ataques aos
galinheiros.[25] Dado que a visão das populações locais influencia diretamente o
sucesso de programas de conservação, a educação ambiental é um ponto
importante a ser abordado em qualquer estratégia de preservação do lobo-
guará.[5][25]
Encorajador na conservação do lobo-guará é o fato de ele ainda ocorrer em
numerosas unidades de conservação, mesmo nas regiões em que
o cerrado foi fragmentado, como no estado de São Paulo.[5] Importantes
unidades de conservação do lobo-guará são a Reserva Provincial Iberá e
o Parque Nacional Chaco, na Argentina; os parques nacionais Noel Kempff
Mercado e Isiboro-Secure na Bolívia; os parques nacionais das Emas, da Serra
da Canastra e de Brasília, no Brasil; e a Reserva da biosfera do Bosque
Mbaracayú, no Paraguai.[26]
Geneticamente, as populações de lobo-guará estão íntegras, sem grandes
descontinuidades e sem nenhuma população dramaticamente isolada, o que
também é um aspecto positivo para a conservação do canídeo. [41] No entanto, a
genética do lobo-guará ainda não é bem entendida e alguns estudos apontam
para uma baixa diversidade do DNA mitocondrial, sugerindo que houve
uma redução drástica nas populações em um passado recente. [41]
O lobo-guará é um animal popular em zoológicos, e tem sido mantido em
várias instituições por muitos anos, apesar de sua difícil reprodução em
cativeiro.[42] Zoológicos são importantes na conservação desta e de outras
espécies, principalmente do ponto de vista genético. [42] No caso do lobo-guará,
visto a rápida destruição do cerrado, zoológicos são importantes meios de se
evitar sua extinção.[42][43] Em 2012, existiam 3 288 animais em cativeiro, em cerca
de 320 instituições pelo mundo.[42] Existem bons programas de manejo dessas
populações em cativeiro, e apesar de no começo muitos animais terem sido
provenientes de espécimes selvagens (até cerca de 1963), atualmente, os
animais distribuídos em zoológicos nasceram em cativeiro. [42] Para os
zoológicos brasileiros, existia um plano específico para o lobo-guará, o Plano
de Manejo Brasileiro para o Lobo Guará, criado em 1990, mas cancelado em
2003.[43]

Aspectos culturais

Para os humanos, o lobo-guará é um animal a ser preservado

As atitudes e opiniões dos seres humanos sobre o lobo-guará variam ao longo


das populações, indo desde o medo e a tolerância, até aversão. [26] Em algumas
regiões do Brasil acredita-se que partes de seu corpo ajudem na cura
de bronquite, doenças nos rins, e até picadas de cobras.[26] Também acredita-se
que possa trazer boa sorte.[26] Essas partes podem ser dentes,
o coração, orelhas e até mesmo fezes secas.[44] Na Bolívia acredita-se que
montar uma sela feita de couro do lobo-guará protege de má sorte. [26] Apesar
dessas superstições, não existe uso em larga escala das partes desse animal.
[26]

Em sociedades urbanas no Brasil as pessoas tendem a apresentar simpatia


pelo lobo-guará, não vendo nele valores como animal de caça ou praga.
[44]
 Frequentemente, consideram ser importante a sua preservação e, apesar
dessas sociedades o associarem à força e ferocidade, não o consideram um
animal perigoso.[44] Apesar de popular em alguns locais e comum em muitos
zoológicos, ele pode passar despercebido. Estudos em zoológicos do Brasil
mostraram que até 30% dos entrevistados desconheciam ou não sabiam
reconhecer um lobo-guará.[26]
Era considerado um animal comum pelos guaranis e os primeiros nomes
usados por europeus, como o Padre José de Anchieta, eram os mesmos
usados pelos povos nativos (yaguaraçú).[44] O naturalista espanhol Félix de
Azara também utilizou o nome guarani para descrevê-lo. [40] Azara também foi
um dos primeiros a descrever a biologia da espécie e considerá-la parte
importante da fauna do Paraguai.[40] Deve-se salientar que muito da visão
negativa sobre o lobo-guará como predador de aves domésticas deriva
do etnocentrismo europeu, onde frequentemente os camponeses tinham
problemas com lobos e raposas.[44]
Raramente o lobo-guará causa antipatia nas populações humanas dos locais
em que habita. Por isso ele tem sido utilizado como espécie bandeira para
preservação do cerrado brasileiro.[44] Ele também já foi representado na moeda
de 100 cruzeiros, que circulou no Brasil entre 1993 e 1994.[45] A partir de agosto
de 2020, o lobo-guará será representado também na nota de 200 reais. [46]
Estampando a nota de 200 reais

Reverso da nota de 200 reais

Em julho de 2020, o Banco Central do Brasil anunciou que lançaria uma nota
de 200 reais, cuja estampa traria uma imagem do animal. A nota foi lançada
oficialmente em 02 de setembro de 2020, quando o banco explicou que em
2001 o lobo-guará havia sido o 3º mais votado pelo público para estampar as
notas de real, atrás apenas da tartaruga-marinha e do mico-leão-dourado.[47][48]

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