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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Nestor Távora
Vilmar Velho Pacheco Filho

3.ª edição / 2009


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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

T237a Távora, Nestor.


3.ed. Exame de ordem : direito processual penal / Nestor Távora, Vilmar Velho
Pacheco Filho. 3.ed. — Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2009.
208 p.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7638-970-5

1. Direito penal – Brasil. 2. Processo penal – Brasil. I. Pacheco Filho, Vil-


mar Velho. II. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. III. Título. IV.
Título: Direito processual penal.

09-1333. CDU: 343.2(81)

Atualizado até abril de 2009.

Todos os direitos reservados.


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CEP: 80730-200 – Batel – Curitiba – PR
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SUMÁRIO

Linhas introdutórias I
13 Direito Processual Penal
14 Entendendo o tema
15 Sistemas processuais
15 Fontes

Linhas introdutórias II
19 Analogia (ubi eadem ratio, ubi idem ius)
19 A lei processual penal no tempo
(CPP, art. 2.º)
20 A lei processual penal no espaço
(CPP, art. 1.º)
20 Princípios do processo penal constitucional

Inquérito policial I
27 A persecução criminal
27 Polícia judiciária e polícia administrativa
(CF, art. 144)
27 Conceito e finalidade do inquérito policial
(CPP, art. 4.º)
28 Inquéritos extrapoliciais
28 Características do inquérito policial
30 Competência (atribuição): CPP, arts. 4.º e 22
30 Prazos
32 Valor probatório
32 Vícios

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SUMÁRIO

32 Notitia criminis (notícia do crime)


34 Peças inaugurais do inquérito policial

Inquérito policial II
37 Incomunicabilidade
37 Providências
38 Reprodução simulada dos fatos
(CPP, art. 7.º)
38 Indiciamento
38 Encerramento
39 Considerações finais

Atos processuais
(CPP, arts. 351 a 372)
43 Introdução e conceito
43 Citação
44 Espécies de citação
50 Suspensão do processo e da prescrição
50 Revelia
50 Intimação e notificação

Ação penal I
53 Conceito
53 Características
53 Condições da ação

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SUMÁRIO

54 Classificação das ações

Ação penal II
61 Ação penal privada
63 A inicial acusatória
65 Rejeição da denúncia ou queixa
(CPP, art. 395)
65 Recurso para combater a rejeição
65 Fundamentação do recebimento

Jurisdição e competência
67 Jurisdição
70 Competência

Competência ratione loci I


73 Competência ratione loci
74 Competência ratione materiae
75 Competência ratione personae
76 Competência absoluta versus relativa

Competência ratione loci II


79 Prevenção
79 Distribuição

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SUMÁRIO

79 Conexão e continência
81 Foro prevalente
81 Separação de processos
81 Perpetuatio jurisdictionis

Prisão em flagrante
85 Conceito
85 Espécies de flagrante
87 Flagrante nas várias espécies de crime
87 Sujeitos do flagrante
87 Autoridade “competente”
87 Prazo para lavratura do auto
88 Etapas do auto de prisão em flagrante (CPP, art. 304)

Prisão preventiva e prisão


temporária (Lei 7.960/89)
91 Prisão preventiva
93 Prisão temporária (Lei 7.960/89)

Liberdade provisória
97 Conceito
97 Espécies
97 Liberdade provisória sem fiança

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SUMÁRIO

99 Liberdade provisória com fiança


(fidare = “confiar em alguém”)
101 O quebramento da fiança

Teoria geral das provas


(CPP, arts. 155 a 157)
103 Introdução
103 Conceito
103 Objeto “da” prova e objeto “de” prova
103 Fatos que não precisam ser comprovados
104 Fonte de prova
104 Meio de prova
104 Elementos de prova
104 Prova emprestada
104 Liberdade probatória
105 Provas inadmissíveis
106 Ônus da prova
106 Procedimento probatório
107 Sistemas de apreciação da prova
108 Princípios relativos à prova

Provas em espécie
(CPP, arts. 155 a 157)
111 Prova pericial
113 Procedimento da prova pericial

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113 Perícias específicas


115 Exame de corpo de delito indireto
116 Perícia por carta precatória
116 Divergência entre peritos
116 Vício formal da prova pericial ou do laudo
116 Livre apreciação judicial ao laudo pericial
117 Interrogarório do acusado
120 Declarações do ofendido
120 Prova testemunhal
121 Inovações e alterações legais
referentes à prova testemunhal

Questões e processos
incidentes I
125 Questões prejudiciais
127 Exceção
132 Incompatibilidades e impedimentos

Questões e processos
incidentes II
135 Conflito de jurisdição
135 Conflito de atribuições
135 Processamento
136 Competência para dirimir o conflito
136 Observações importantes

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136 Restituição de coisas apreendidas

Questões e processos
incidentes III
141 Medidas assecuratórias
143 Incidente de falsidade (CPP, arts. 145 a 148)
144 Incidente de insanidade mental do acusado
(CPP, arts. 149 a 154)

Procedimentos penais
(CPP, arts. 394 e seguintes)
147 Processo e procedimento
147 Escolha do procedimento
149 Procedimentos e Código de Processo Penal

Procedimento do Júri
159 Previsão constitucional
159 Procedimento do Júri (CPP, arts. 394 a 497)
162 Aspectos relevantes do Tribunal do Júri

Teoria geral dos recursos


171 O duplo grau de jurisdição
171 Conceito e finalidade dos recursos

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SUMÁRIO

171 Natureza jurídica dos recursos


171 Características
172 Os princípios gerais
173 Pressupostos recursais
173 Interposição dos recursos
174 Os efeitos dos recursos
175 A extinção dos recursos

Apelação
177 Apelação

Recurso em Sentido Estrito


(CPP, arts. 581 a 592)
183 Considerações gerais
183 Cabimento
188 Prazo
188 Procedimento
189 Efeitos

Habeas corpus
191 Conceito
191 Natureza jurídica
191 Espécies

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SUMÁRIO

191 Legitimidade
192 Cabimento
193 Competência
194 Impetração
194 Procedimento
194 Julgamento e efeitos
195 Recursos

Revisão criminal
197 Conceito
197 Natureza jurídica
197 Legitimidade (CPP, art. 623)
197 Prazo
198 Cabimento
198 A admissibilidade da revisão criminal
199 O procedimento
199 Os efeitos
199 A indenização

Referências 203

Anotações 205

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Linhas introdutórias I

Nestor Távora*

Direito Processual Penal

Conceito e finalidade
Na majestosa lição de Frederico Marques (2003, p. 16), o Direito Processual Penal

[...] é o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito


Penal, bem como a atividade persecutória da polícia do estado, e a estruturação dos órgãos
da função jurisdicional e respectivos auxiliares [...].

Assim, o processo penal dá efetividade ao Direito Penal, fornecendo os meios e o


caminho para efetivar a aplicação da pena ao caso concreto.

Características
■■ Autonomia: o Direito Processual independe do direito material, isso porque
tem princípios e regras próprias e especializantes.
■■ Instrumentalidade: é o meio para fazer atuar o direito material penal.
■■ É uma disciplina normativa, de caráter dogmático, inclusive com codificação
própria (CPP – DL 3.689/41).

Posição enciclopédica
É um dos ramos do Direito Público. O fundamento é que um dos sujeitos é o
Estado e a finalidade das normas é obter a repressão dos delitos, através do exercício do
jus puniendi, intrínseco ao Estado.

Especialista em Ciências Criminais pelas Faculdades Jorge Amado. Professor da Escola da Magistratura da Bahia e professor con-
vidado da Pós-Graduação em Direito Tributário da Universidade Federal da Bahia. Defensor Público-AL.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Entendendo o tema
Passaremos aqui, de forma sucinta, a identificar alguns conceitos fundamentais
para o estudo da matéria, levando o estudante a relembrar tópicos da Teoria Geral do
Processo, enfrentados embrionariamente:

Interesse
Desejo, cobiça, vontade de conquistar algo.

Pretensão
É a intenção de subordinar um interesse alheio ao próprio.

Lide
Conflito de interesses qualificado pela pretensão resistida.

Ação
Direito Público subjetivo de obter do Estado-juiz uma decisão acerca da lide ob-
jeto do processo.

Processo
Procedimento em contraditório animado pela relação jurídica processual.

Procedimento (aspecto objetivo do processo)


É a seqüência de atos praticados no processo.

Relação jurídica processual (aspecto subjetivo do processo)


É o nexo que une e disciplina a conduta dos sujeitos processuais em suas ligações
recíprocas durante o desenrolar do procedimento.

Elementos identificadores da relação jurídica processual


■■ Sujeitos processuais: partes e magistrado.
■■ Objeto da relação:
■■ aspecto material – bem da vida;
■■ aspecto processual – provimento jurisdicional desejado.

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■■ Pressupostos processuais:
■■ Subjetivos:
a) relativos ao juiz – investidura, competência, ausência de suspeição;
b) relativos às partes – capacidade de ser parte, capacidade de estar em juí-
zo, capacidade postulatória.
■■ Objetivos:
a) ausência de fatos impeditivos;
b) regularidade formal.

Sistemas processuais
■■ Sistema inquisitivo: concentra, em figura única, as funções de acusar, defen-
der e julgar.
■■ Sistema acusatório: caracteriza-se pela separação bem delineada das funções
de julgar, acusar e defender.
■■ Sistema misto: subdivide-se em duas fases. A primeira de caráter inquisitivo,
a cargo de um magistrado, buscando angariar elementos probatórios; e uma
segunda fase, presidida também por um magistrado, mas pautada pelo contra-
ditório e pela ampla defesa.

Fontes

Conceito
É tudo aquilo de onde provém um preceito jurídico.

Classificação
■■ Fonte de produção ou material: é aquela que elabora a norma, pois, em nosso
país, a competência para legislar sobre Direito Processual Penal é da União
(CF, art. 22, I). Lembre-se, contudo, de que o parágrafo único do artigo 22 da
Constituição Federal, permite que, através de lei complementar, seja atribuída
aos Estados-membros a competência para legislarem sobre Processo Penal, em
questões especificas de direito local.
■■ Fonte formal ou de cognição: é aquela que revela a norma.
■■ Imediata: lei.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■ Mediata: desdobra-se em costumes e princípios gerais do direito.


a) Os costumes (LICC, art. 4.º) são o que se costuma chamar de praxe fo-
rense. São uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e
uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. Os costumes classi-
ficam-se em:
■ secundum legem – ratifica e sedimenta o disposto em lei;
■ praeter legem – viabiliza a supressão de lacunas na lei;
■ contra legem – é aquele que contraria a lei, em outras palavras, conside-
ra-a revogada. Lembre-se, contudo, de que o costume, apesar da classi-
ficação esboçada, não tem o condão de revogar dispositivos legais.
b) Os princípios gerais do direito (CPP, art. 3.º) são premissas éticas extra-
ídas da legislação e do ordenamento jurídico em geral. São estabelecidos
de acordo com a consciência ética do povo.

O aluno deve ter especial atenção aos sistemas processuais e às conseqüências


da adoção do sistema acusatório, com a titularidade da ação penal pública consagrada ao
Ministério Público (CF, art. 129, I).

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Linhas introdutórias II

Nestor Távora

Analogia (ubi eadem ratio, ubi idem ius)

Conceito
A analogia é forma de auto-integração da lei (CPP, art. 3.º; e LICC, art. 4.º). Pela
analogia, aplicamos a um fato não regido pela norma jurídica disposição legal aplicada a
fato semelhante. Afinal, quando há a mesma razão, deve ser aplicado o mesmo direito.

Espécies
■■ Analogia legis: em face da lacuna da lei, aplicamos a norma positivada que rege
um caso semelhante.
■■ Analogia iuris: são aplicados princípios jurídicos.

A lei processual penal no tempo (CPP, art. 2.º)


A lei processual penal, uma vez inserida no mundo jurídico, tem aplicação imedia-
ta, atingindo inclusive os processos que já estão em curso, pouco importando se traz ou
não uma situação gravosa ao imputado, em virtude do princípio do efeito imediato ou da
aplicação imediata. Destarte, os atos anteriores, em decorrência do princípio do tempus
regit actum, continuam válidos e, com o advento de nova lei, os atos futuros realizar-se-ão
pautados pelos ditames do novo diploma.

Lembre-se de que, por imperativo constitucional, há de ser respeitado o direito


adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (CF, art. 5.º, XXXVI).

Conceitos importantes:
■■ ab-rogação – é a revogação total de uma lei por outra;
■■ derrogação – é a revogação parcial de uma lei por outra.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

A lei processual penal no espaço (CPP, art. 1.º)


A aplicação da lei processual penal pátria é informada pelo princípio da territo-
rialidade absoluta. Logo, tem aplicação incondicional a todos os processos em trâmite
no território nacional (locus regit actum). Convém destacar que os incisos do artigo 1.º do
Código de Processo Penal (CPP), apesar de parecerem exceções ao princípio da territo-
rialidade, na verdade o ratificam, ao nos informar que a lei processual, a disciplinar os
processos em curso no nosso território, inclui, além do CPP, também a legislação extra-
vagante processual, que é, em última análise, lei pátria. Diz o artigo citado:

Art. 1.º O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por este Código, res-
salvados:
I - os tratados, as convenções e as regras de direito internacional;
II - as prerrogativas do Presidente da República, dos Ministros de Estado, nos crimes co-
nexos com os do Presidente da República, e dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
nos crimes de responsabilidade (CF, arts. 86, 89, §2.º, e 100);
III - os processos de competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (CF, art. 122, n. 17);
V - os processos por “crime de imprensa”.

Não esqueça que o CPP é de 1941, e a alusão a dispositivos da Constituição Fe-


deral (CF) que o artigo transcrito acima faz não guarda correspondência com a atual CF
de 1988.

Vide o conceito de território nacional no artigo 5.º do Código Penal.

Princípios do processo penal constitucional


O processo penal deve estar pautado e ter por vetor principal a CF. O processo,
enquanto tal, deve ser sinônimo de garantia aos imputados contra as arbitrariedades
estatais. Nesse aspecto, os princípios que irrigam a nossa disciplina são fundamentais,
muitos deles encontrando respaldo na própria Carta Magna. Com efeito, temos os prin-
cípios a seguir.

Da presunção de inocência
ou não-culpabilidade (CF, art. 5.º, LVII)
O reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença con-
denatória transitada em julgado. Antes desse marco, somos presumivelmente inocentes,
e o cerceamento cautelar de nossa liberdade só pode ocorrer em situações excepcionais e
de estrita conveniência.

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A respeito das prisões de ordem cautelar e sua adaptação ao princípio constitucio-


nal da presunção de inocência, o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula a seguir.

N. 9. A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional


da presunção de inocência.

Da imparcialidade do juiz
O juiz não pode ter vínculos subjetivos a lhe tirar a imparcialidade necessária para
conduzir com isenção o processo. O juiz interessado deve ser afastado e os permissivos
legais para tanto encontram-se no artigo 254 do CPP (hipóteses de suspeição) e no artigo
252 (hipóteses de impedimento).

Da igualdade processual
Também tratado como princípio da paridade de armas, consagra o tratamento
isonômico das partes no transcorrer processual, em decorrência do próprio artigo 5.º,
caput, da CF. Lembre-se: o que deve prevalecer é a chamada igualdade material, leia-se,
os desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades.

Do contraditório ou bilateralidade da audiência


Traduzido no binômio ciência e participação, e de respaldo constitucional (CF,
art. 5.º, LV), impõe que, às partes, deve ser dada a possibilidade de influir no convenci-
mento do magistrado, oportunizando-se a participação e manifestação sobre os atos que
constituem a evolução processual.

Da ampla defesa
A defesa pode ser subdividida em defesa técnica (efetuada por profissional ha-
bilitado) e autodefesa (realizada pelo próprio imputado). Assim, deve ser assegurada a
ampla possibilidade de defesa, lançando-se mão dos meios e recursos disponíveis a ela
inerentes (CF, art. 5.º, LV).

STF, N. 523. No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Da ação, demanda ou iniciativa das partes


Sendo a jurisdição inerte, cabe às partes a sua provocação, exercendo o direito de
ação, no intuito da obtenção de um provimento jurisdicional.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Da oficialidade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal (soma do inquérito policial e do
processo), atividade eminentemente pública, são órgãos oficiais por excelência, tendo a
CF consagrado a titularidade da ação penal pública ao Ministério Público (art. 129, I), e
disciplinado a polícia judiciária no parágrafo 4.º do artigo 144.

Da oficiosidade
A atuação oficial na persecução criminal, como regra, atua sem necessidade de
autorização, isto é, prescinde de qualquer condição para agir, desempenhando suas ati-
vidades ex officio.

Da verdade real
O processo penal não se conforma com construções fictícias ou afastadas da reali-
dade. O magistrado pauta o seu trabalho na reconstrução da verdade dos fatos, superan-
do a desídia das partes na colheita probatória, como forma de construir um provimento
jurisdicional mais próximo possível da “justiça”.

Da obrigatoriedade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal, em estando presentes os permissi-
vos legais, estão obrigados a atuar. A persecução criminal é de ordem pública e não cabe
juízo de conveniência ou oportunidade.
Nos crimes de ação penal privada, quais sejam, naqueles em que a titularidade da
ação foi conferida à própria vítima ou a seu representante legal, o que vigora é o princípio
da oportunidade, pois cabe à vítima ou ao seu representante escolher entre dar início à
persecução criminal ou não.

Da indisponibilidade
O princípio da indisponibilidade é uma decorrência do princípio da obrigatorie-
dade, rezando que, uma vez iniciado o inquérito policial ou o processo penal, os órgãos
incumbidos da persecução criminal não podem deles dispor. Leia-se, o delegado não
pode arquivar os autos do inquérito policial (CPP, art. 17) e o promotor não pode desistir
do processo.

Do impulso oficial
Apesar da inércia da jurisdição, é imperativo afirmar que, uma vez iniciado o
processo, com o recebimento da inicial acusatória, cabe ao magistrado velar para que ele

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chegue ao seu final, marcando audiências, estipulando prazos, determinando intima-


ções, enfim, impulsionando o andamento do próprio procedimento.

Da motivação das decisões


O princípio da motivação das decisões judiciais é uma decorrência expressa do
artigo 93, IX, da Carta Magna, asseverando que o juiz é livre para decidir, desde que o
faça de forma motivada.

Da publicidade
A publicidade dos atos processuais é a regra. Todavia, o sigilo é admissível, quan-
do a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (CF, art. 5.º, LX).
O artigo 792 do CPP consagra hipótese excepcional de sigilo.
O inquérito policial é sigiloso (CPP, art. 20). Entretanto, o advogado tem o direito
de consultar os autos do mesmo (vide Lei 8.906/94, art. 7.º, XIV – Estatuto da OAB).

Do duplo grau de jurisdição


Esse princípio assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, por meio
de sistema recursal, em que as decisões do juízo a quo podem ser reapreciadas pelos
tribunais. É uma decorrência da própria estrutura do Judiciário, vazada na Carta Magna
que, em vários dispositivos, atribui competência recursal aos diversos tribunais do país.

Do juiz natural
O princípio do juiz natural consagra o direito de ser processado pelo magistrado
competente (CF, art. 5.º, LIII) e a vedação constitucional à criação de juízos ou tribunais
de exceção (CF, art. 5.º, XXXVII). Em outras palavras, tal princípio impede a criação
casuística de tribunais, pós-fato, para apreciar um determinado caso.

Do promotor natural
Esse princípio veda a designação arbitrária, pela chefia da instituição, de promo-
tor para patrocinar caso específico, vale dizer, o promotor natural há de ser, sempre,
aquele previamente estatuído em lei.

Do devido processo legal


O artigo 5.º, LIV, da CF assegura que “ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal”. O devido processo legal é o estabelecido em

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

lei, devendo traduzir-se em sinônimo de garantia, atendendo assim aos ditames cons-
titucionais.

Do favor rei ou favor réu


A dúvida sempre milita em favor do acusado.

Da economia processual
Deve-se buscar a maior efetividade, com a produção da menor quantidade de
atos possível. A Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) asseverou em seu artigo 62 o
princípio em estudo.

Da oralidade
O princípio da oralidade ganhou força com o advento da Lei 9.099/95 (Juizados
Especiais) que, em seu artigo 62, glorificou o princípio ora referido, dando prevalência
à palavra falada.

Apesar do princípio da oralidade, não se deve dizer que o sistema processual


brasileiro consagra o princípio da identidade física do juiz. Por esse princípio, o juiz que
conduziu a instrução deveria obrigatoriamente julgar a causa, fato que, no Brasil, não encontra
amparo legal.

Da autoritariedade
O princípio da autoritariedade consagra que os órgãos incumbidos da persecução
criminal são autoridades públicas.

A acepção exata dos princípios embasa o estudo de todo o Direito Processual


Penal. O aluno deve ter em mente que o nosso código é da década de 1940, e os dispo-
sitivos que contrariem a CF de 1988 não têm mais aplicação.

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Inquérito policial I

Nestor Távora

A persecução criminal
A persecução criminal para a apuração das infrações criminais e sua respectiva
autoria comporta duas fases bem delineadas. A primeira, preliminar, inquisitiva e objeto
do presente estudo, é o inquérito policial. A segunda, submissa ao contraditório e à am-
pla defesa, é denominada de fase processual.

Polícia judiciária
e polícia administrativa (CF, art. 144)
Basicamente, podemos subdividir o papel da polícia em:
■■ Polícia administrativa ou de segurança – de caráter eminentemente pre-
ventivo, visa, com o seu papel ostensivo de atuação, impedir a ocorrência de
infrações. Por exemplo, a polícia militar dos Estados-membros.
■■ Polícia judiciária – de atuação repressiva, age, em regra, após a ocorrência de
infrações, visando angariar elementos para apuração da autoria e constatação
da materialidade delitiva. Nesse aspecto, destacamos o papel da polícia civil
que deflui do parágrafo 4.º do artigo 144 da Constituição Federal (CF), verbis:

Art. 144. [...]


§4.º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressal-
vada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares.

Conceito e finalidade
do inquérito policial (CPP, art. 4.º)
Como ensina o professor Tourinho Filho (2003), o inquérito é “o conjunto de
diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e sua
autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”.
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Natureza jurídica do inquérito


O inquérito é um procedimento de índole meramente administrativa, de caráter in-
formativo, preparatório da ação penal.

Inquéritos extrapoliciais
A titularidade das investigações não está concentrada somente nas mãos da polícia
civil. Compulsando o teor do parágrafo 3.º do artigo 58 da CF, vemos que este consagra a
possibilidade de inquéritos extrapoliciais. Tal ocorre nos chamados inquéritos parlamen-
tares – patrocinados pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) –, nos inquéri-
tos militares, nos inquéritos por crimes praticados por magistrados ou promotores, nos
quais as investigações são presididas pelos órgãos de cúpula de cada carreira etc.

STF, N. 397. O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso
de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão
em flagrante do acusado e a realização do inquérito.

Características do inquérito policial

Discricionariedade
O delegado de polícia conduz as investigações da forma que melhor lhe aprouver.
O rumo das diligências está a cargo do delegado, que pode atender ou não aos requeri-
mentos patrocinados pelo indiciado ou pela própria vítima (CPP, art. 14).

Apesar de não haver hierarquia entre juízes, promotores e delegados, caso os dois
primeiros emitam requisições ao último, este está obrigado a atender.

Veja nos artigos 6.º e 7.º do Código de Processo Penal (CPP) a longa série de dili-
gências possíveis durante a tramitação do inquérito policial.

Escrito
Sendo procedimento administrativo destinado a fornecer elementos ao titular da
ação penal, o inquérito, por exigência legal, deve ser escrito, prescrevendo o artigo 9.º
do CPP que “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”.

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Sigiloso
Ao contrário do que ocorre no processo, o inquérito não comporta publicidade,
sendo um procedimento essencialmente sigiloso, disciplinando o artigo 20 do CPP que
“a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade”.

O sigilo tratado no artigo 20 do CPP não se estende ao juiz nem ao Ministério


Público.

O advogado do indiciado pode consultar os autos do inquérito policial, conforme


preceito legal insculpido no artigo 7.º, XIII a XV, e parágrafo 1.º da Lei 8.906/94 – Esta-
tuto da OAB. Configurando-se a hipótese de o delegado, arbitrariamente, negar o acesso
aos autos, pode o causídico valer-se do mandado de segurança.

Oficialidade
O delegado de polícia de carreira, autoridade que preside o inquérito policial,
constitui-se em órgão oficial do Estado (CF, art. 144, §4.º).

Oficiosidade (CPP, art. 5.º, I)


Em havendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial
deve atuar de ofício, instaurando o inquérito e apurando prontamente os fatos, haja vista
que, na hipótese, sua atuação decorre de imperativo legal (CPP, art. 5.º, I), dispensando,
pois, qualquer autorização para agir.

Nos crimes de ação penal pública condicionada e ação penal privada, isto é, naqueles
que ofendem de tal modo a vítima, em sua intimidade, que o legislador achou por bem
condicionar a persecução criminal à autorização desta, ou conferir-lhe o próprio direito
de ação, a autoridade policial depende da permissão legal para poder atuar, eis que a
própria legislação condicionou o início do inquérito a esse requisito (CPP, art. 5.º, §§ 4.º
e 5.º).

Indisponibilidade
A persecução criminal é de ordem pública e, uma vez iniciado o inquérito, o dele-
gado de polícia não pode dispor deste. Se, diante de uma circunstância fática, o delegado
percebe que não houve crime, nem em tese, não deve iniciar o inquérito policial. Contu-
do, uma vez iniciado o inquérito, deve levá-lo até o seu final, não podendo arquivá-lo, em
virtude de expressa vedação contida no artigo 17 do CPP.

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Inquisitivo
O inquérito é inquisitivo, pois as atividades persecutórias estão concentradas nas
mãos de uma única autoridade, não havendo contraditório nem ampla defesa.

Autoritariedade
O delegado de polícia, presidente do inquérito policial, é autoridade pública (CF,
art. 144, §4.º).

Competência (atribuição): CPP, arts. 4.º e 22


Apesar de a lei referir-se à competência, é certo que os delegados têm atribuição.
Afinal, o termo competência é afeto aos juízes, significando a delimitação de sua jurisdi-
ção. Para sabermos então qual o delegado com atribuição para atuar em um determinado
caso, ou seja, quem vai investigar uma certa infração, podemos nos valer de dois crité-
rios, que se complementam.

Critério territorial
Por esse critério, o delegado com atribuição é aquele que exerce suas funções na
circunscrição em que se consumou a infração. Lembre-se de que o termo circunscrição
significa a delimitação territorial na qual os delegados exercem as suas funções.

Critério material
Pelo critério material, temos a especialização da atuação da polícia, com delega-
cias especializadas na investigação e combate a determinado tipo de infração, a exemplo
das delegacias especializadas em homicídios, entorpecentes etc.

Prazos
O inquérito policial não pode se estender indefinidamente, dispondo o CPP e a
legislação extravagante acerca dos prazos de conclusão do inquérito policial. Vejamos
quais são eles.

Regra geral
Como regra geral para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o prazo para
a conclusão do inquérito é de 10 dias, estando o indiciado preso, prazo este improrrogável;

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e de 30 dias, se ele enfrenta o inquérito solto. Esse último prazo comporta prorrogação, a
requerimento do delegado e mediante autorização do juiz (CPP, art. 10).

Regras especiais
A legislação extravagante consagra regras especiais de conclusão do inquérito po-
licial. As principais regras são:

■■ Inquéritos a cargo da polícia federal – se o indiciado estiver preso, o pra-


zo para conclusão do inquérito é de 15 dias, prorrogável por igual período (Lei
5.010/66, art. 66). Estando solto o indiciado, seguimos a regra geral, ou seja,
30 dias para a conclusão, prorrogáveis mediante solicitação do delegado e autori-
zação do juiz, cabendo a este estipular o prazo, haja vista o silêncio da lei sobre
o prazo de prorrogação.

■■ Crimes contra a economia popular (Lei 1.521/51) – o parágrafo 1.º do artigo


10 da referida lei prevê o prazo de 10 dias para a conclusão do inquérito policial.
Todavia, não faz distinção entre indiciado preso ou solto.

■■ Na lei antitóxicos (Lei 11.343/2006, art. 51) – a nova lei de repressão aos en-
torpecentes prevê o prazo de 30 dias, duplicáveis, em estando o indiciado preso,
e de 90 dias, também duplicáveis, se solto estiver.

Contagem do prazo
Vistas as regras gerais de fixação dos prazos para o encerramento do inquérito
policial, vejamos como fixar os marcos inicial e final da contagem. Doutrinadores res-
peitáveis, tais quais os professores Mirabete e Fernando Capez, entendem que o prazo
deve ser contado atendendo aos ditames do CPP, ou seja, excluindo-se o dia do começo
e incluindo-se o último dia, e seguem essa regra, sem fazer distinção entre indiciados
presos ou soltos (CPP, art. 798, §1.º).

Não obstante o respeitável entendimento citado, deve-se ter na memória a distinção


que o professor Tourinho Filho faz para a contagem do prazo. Assim, para o ilustre professor,
se o indiciado estiver preso, o prazo do inquérito deve ser contado na forma do artigo 10
do Código Penal, ou seja, incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o do vencimento.
Em estando solto o indiciado, segue-se a regra insculpida no parágrafo 1.º do artigo 798
do CPP, a qual explicamos no parágrafo anterior.

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Valor probatório
Segundo o professor Fernando Capez (2003, p. 72), o inquérito policial tem valor
probatório relativo, pois carece de ser confirmado por outros elementos colhidos durante
a instrução processual. O inquérito, já sabemos, objetiva angariar elementos para con-
tribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação penal, pois, nessa fase, não há
contraditório ou ampla defesa. Assim, não pode o magistrado condenar o réu com base
tão-somente em elementos colhidos durante o inquérito. É essencial que a instrução pro-
batória em juízo, regida pelo contraditório e ampla defesa, oportunize colher elementos
convincentes e robustos a fundamentar um decreto condenatório.

Vícios
Os vícios ocorridos no inquérito policial não atingem a ação penal. A jurispru-
dência e a doutrina afirmam que, como uma série de processos inicia-se sem ter havido
previamente o inquérito policial, esse procedimento preliminar não é essencial à proposi-
tura da ação penal, sendo, portanto, dispensável. Assim, algo que não é essencial ao pro-
cesso não tem o condão de, uma vez viciado, contaminar a ação penal. Em outras pala-
vras, os males ocorridos no inquérito não têm a força de contaminar o processo criminal.
A irregularidade ocorrida durante o inquérito poderá gerar a invalidade ou ineficácia do
ato inquinado, todavia, sem levar à nulidade processual. Por exemplo, em havendo uma
prisão em flagrante ilegal durante o inquérito, esta deve ser relaxada; todavia, esse fato
não leva à nulidade do futuro processo contra o suposto autor do fato.

Notitia criminis (notícia do crime)

Conceito
É o conhecimento pela autoridade policial, quer seja espontâneo quer seja provo-
cado, de um fato aparentemente criminoso.

Espécies

Espontânea (cognição imediata)


É o conhecimento direto dos fatos pela autoridade policial ou através de comuni-
cação informal (exemplo: a autoridade tem notícia da infração por meio de suas investi-
gações).
A chamada delação apócrifa ou notitia criminis inqualificada é o que vulgarmente
chamamos de denúncia anônima.

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Provocada (cognição mediata)


É o conhecimento da infração pela autoridade mediante provocação de terceiros,
conforme descrito a seguir.

Requisição do juiz ou Ministério Público

Nos crimes de ação penal pública, o juiz ou o promotor de justiça podem deter-
minar a instauração do inquérito policial através da requisição. Aqui, requisição é sinônimo
de ordem, sendo espécie de notícia-crime, pois, por meio dela, a autoridade policial tem
conhecimento da infração.

Requerimento da vítima

A vítima de uma infração ou o seu representante legal noticiam o fato à autorida-


de policial por meio de requerimento, devendo conter a narração dos fatos e suas circuns-
tâncias; a individualização do suposto autor da infração, ou seus sinais característicos e
razões de convicção de ser mesmo o autor do delito; a nomeação de testemunhas, com
indicação da profissão e residência delas.

Caso o delegado de polícia indefira o requerimento da vítima para instauração


do inquérito policial, ela poderá recorrer administrativamente ao secretário de Segurança
Pública (o CPP usa a expressão chefe de Polícia no art. 5.º, §2.º).

Representação da vítima (delatio criminis postulatória)

Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, ou seja, naqueles


em que o legislador, por uma questão de política criminal, conferiu à vítima o poder de
autorizar ou não a persecução criminal, se ela resolve fazê-lo, noticiando o fato para que
o inquérito seja instaurado, essa espécie de notícia-crime é chamada de representação.

Delação

Qualquer do povo, nos crimes de ação penal pública incondicionada, pode, vali-
damente, noticiar o fato delituoso à autoridade policial, dando ensejo à instauração do
inquérito, pelo que se chama de delação.

Requisição do ministro da Justiça

Em alguns crimes, a persecução criminal está condicionada a uma autorização do


ministro da Justiça, também chamada de requisição. O estudante deve distinguir que essa
requisição, apresentada pelo ministro da Justiça, ao contrário da requisição emanada dos

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

juízes e promotores, não é sinônimo de ordem, e sim uma mera autorização para o início da
persecução criminal em algumas infrações que a exigem.

Notícia-crime revestida de forma coercitiva


Essa espécie de notícia-crime nada mais é do que a prisão em flagrante, que pode
representar hipótese de notícia-crime espontânea, quando quem realiza a prisão é a pró-
pria autoridade policial ou seus agentes, ou provocada, quando quem realiza a prisão é
um particular (CPP, art. 301).

Peças inaugurais do inquérito policial


Sendo o inquérito policial um procedimento escrito, a peça inaugural dele é a
portaria, indicando assim a sua instauração.

O aluno deve assimilar as características do inquérito policial, entendendo que


este é apenas uma fase da persecução criminal, sem contraditório ou ampla defesa, no
intuito de angariar elementos para a futura ação penal.

Não deve jamais incorrer em erro quanto à notícia-crime, que é a comunicação da


ocorrência de uma infração à autoridade com atribuição para investigá-la.

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Inquérito policial II

Nestor Távora

Incomunicabilidade
O artigo 21 do Código de Processo Penal (CPP) contempla a possibilidade da de-
cretação da incomunicabilidade do preso durante o inquérito policial, por conveniência
da investigação ou quando o interesse da sociedade o exigisse, por deliberação judicial,
mediante requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público (MP). Ocorre
que esse dispositivo, em face do disposto no artigo 136, parágrafo 3.º, IV, da Constituição
Federal (CF), o qual não admite a incomunicabilidade até mesmo durante o estado de
defesa, encontra-se revogado. Mesmo quando em vigor, a incomunicabilidade não era extensível
ao advogado do indiciado.

Providências
Os artigos 6.º e 7.º do CPP indicam as providências a serem tomadas pela autori-
dade policial na condução das investigações, quais sejam:
■■ dirigir-se ao local dos fatos, isolando a área para atuação dos peritos;
■■ apreender objetos;
■■ colher todas as provas;
■■ ouvir o ofendido;
■■ ouvir o indiciado: que goza do direito de permanecer calado;
■■ reconhecimento de pessoas e coisas;
■■ exame de corpo de delito: sempre que a infração deixar vestígios;
■■ ordenar a identificação do indiciado e antecedentes; vide a Lei 10.054/2000 que
dispõe sobre a identificação criminal;
■■ averiguar a vida pregressa, situação econômica e demais elementos que sirvam
para apreciação do temperamento e caráter do indiciado.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Reprodução simulada dos fatos (CPP, art. 7.º)


É a chamada reconstituição do crime. Assim, em sendo necessário esclarecer a
forma como aconteceu a infração, a reprodução simulada pode ser determinada. Vale
lembrar que o indiciado não está obrigado a participar desta, pois não pode ser compelido a
se auto-incriminar. Obriga-se, contudo, mesmo não desejando participar, a comparecer no
dia e hora aprazados, em atenção à determinação da autoridade policial.
Não será patrocinada a reprodução simulada se constituir ofensa à moralidade ou
à ordem pública.

Indiciamento

Conceito
É a informação ao suposto autor do fato para o qual convergem as investigações.
Nessa fase, saímos do juízo de possibilidade para o de probabilidade e as investigações
são focadas em pessoa determinada.

Indiciado menor
Os indivíduos entre 18 e 21 anos, antes do advento do novo Código Civil (CC),
eram reputados relativamente capazes. Assim, em praticando uma infração, o seu in-
terrogatório, quer na fase do inquérito, quer na fase do processo, deveria ser assistido por um
curador. Contudo, com o advento do novo CC, que em seu artigo 5.º considera os maiores
de 18 anos como absolutamente capazes, o artigo 15 do CPP, que previa a nomeação de
curador na fase inquisitorial, perdeu a razão de existir, encontrando-se revogado tacita-
mente.
O artigo 194 do CPP, que tratava da figura do curador no interrogatório da fase
processual, foi expressamente revogado pela Lei 10.792/2003.

Encerramento
O inquérito policial é encerrado com a produção de um minucioso relatório que
informa tudo quanto apurado, podendo ainda a autoridade mencionar as testemunhas
que eventualmente não foram inquiridas, indicando o local onde possam ser encontra-
das. Não deve a autoridade policial esboçar juízo de valor em seu relatório, afinal, a opi-
nião delitiva cabe ao titular da ação penal, e não ao delegado de polícia.
Por fim, os autos do inquérito serão remetidos ao juiz de direito, para que futu-
ramente sejam acessados pelo titular da ação penal. Ao fazer a remessa, a autoridade

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policial deverá oficiar ao Instituto de Identificação e Estatística, ou órgão congênere,


mencionando o juízo para o qual os autos foram remetidos, além dos dados relativos à
infração e à pessoa do indiciado (CPP, art. 23).

Segundo o artigo 11 do CPP:

Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acom-
panharão os autos do inquérito.

Nos crimes de ação penal privada, os autos do inquérito, por traslado, poderão ser
entregues ao requerente.

Considerações finais

Termo circunstanciado
Nos crimes de menor potencial ofensivo, quais sejam, os crimes com pena máxi-
ma não superior a dois anos e todas as contravenções penais, tratados pela Lei 9.099/95
(Lei dos Juizados), esta, visando imprimir celeridade, prevê, como regra, em seu artigo
69, a substituição do inquérito policial pela confecção do chamado termo circunstanciado,
que é uma breve e sucinta narrativa que descreve sumamente os fatos e indica os envol-
vidos e eventuais testemunhas.

Investigações a cargo do MP
Questão extremamente controvertida, e que se encontra na ordem do dia, é a
possibilidade ou não de investigações criminais a cargo do MP. Perceba o aluno que não
se deseja a presidência do inquérito pelo MP, pois isso, por reclamo constitucional (CF,
art. 144, §4.º), é atribuição da autoridade policial. O que advoga parte da doutrina é a
possibilidade de o órgão ministerial promover, por força própria, a colheita de material
probatório para viabilizar o futuro processo. Vale ressaltar que, segundo a doutrina, a
CF não reconheceu essa atribuição ao MP de forma expressa. A questão está longe de
ser pacífica, tendo o Supremo Tribunal Federal, em algumas decisões, manifestado-se em sentido
contrário à tese da viabilidade das investigações pelo órgão ministerial.

Arquivamento e desarquivamento das peças


de informação e dos autos do inquérito policial
De posse dos autos do inquérito policial ou de outras peças de informação, cabe
ao promotor de justiça, na formação de sua opinião delitiva, identificar se estão presen-
tes os elementos mínimos a justificar a proposição da inicial acusatória, no intuito de

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

dar início ao processo. Uma vez presentes os requisitos legais, deve o promotor oferecer
a denúncia, dando andamento à persecução criminal. Em entendendo que as peças de
informação, as quais lhe foram apresentadas, são insuficientes, requisita a devolução
dos autos à autoridade policial, para que as investigações sejam complementadas, com
a efetivação das diligências que entenda faltantes. Já se entender que não é caso de ofe-
recer a denúncia, pela absoluta ausência de elementos mínimos a indicar a autoria ou a
materialidade delitiva, ou até mesmo sequer a existência de alguma infração, deve pro-
mover o arquivamento, aguardando então o surgimento de novos elementos a justificar
a propositura da ação penal. Assim, o arquivamento do inquérito ou de outras peças de
informação ocorre pela impossibilidade de oferta da ação, devendo ser promovido pelo
promotor de justiça, titular da ação penal pública, e homologado pelo magistrado.

Contudo, discordando o magistrado das razões do promotor de justiça, e incorpo-


rando a função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública,
deve, invocando o artigo 28 do CPP, remeter os autos ao procurador-geral, para que ele,
em acatando as alegações do magistrado, determine que um outro promotor promova a
denúncia, respeitando, assim, a independência funcional do membro da instituição; ou
poderá diretamente, na condição de procurador-geral, oferecer ele próprio a denúncia; ou
ainda, acatando as alegações do promotor de justiça, insistir no arquivamento, vinculan-
do assim o magistrado a sua homologação.

STF, N. 524. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do


promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.

Contudo, mesmo durante o arquivamento, em tendo conhecimento a autoridade


policial da existência de novas provas, deve prontamente patrocinar a colheita delas, com
permissivo no artigo 18 do CPP.

Deve o aluno ter especial cuidado com a controvertida questão acerca das inves-
tigações por parte do MP.

Deve também atentar para o arquivamento do inquérito policial e a disposição da


Súmula 524 do Supremo Tribunal Federal exigindo novas provas para a propositura da
denúncia.

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Atos processuais
(CPP, arts. 351 a 372)

Vilmar Velho Pacheco Filho*


Introdução e conceito
Os atos processuais são todos aqueles atos jurídicos praticados no processo, que,
de uma forma ou de outra, auxiliam para a melhor prestação jurisdicional.
Eles podem ser praticados pelas partes (postulatórios, instrutórios, reais e dispo-
sitivos), pelos juízes (atos decisórios, instrutórios e de documentação), pelos auxiliares
da justiça (atos de movimentação, de documentação e de execução) e por terceiros (inte-
ressados ou desinteressados).
Neste capítulo, em face de uma série de inovações trazidas ao Código de Processo
Penal (CPP) pela Lei 11.719, de 20 de junho de 2008, nos referiremos aos chamados atos
processuais cientificadores, que são aqueles que tratam da citação, intimação e notifica-
ção, dispostos entre os artigos 351 e 372 do CPP.

Citação
Conceito
Citação é o ato pelo qual o Estado dá ciência ao autor da infração penal de que há
um processo criminal tramitando contra ele e tem como finalidade não apenas vinculá-lo
ao processo, como oportunizar o exercício da ampla defesa.
Conforme ensina o artigo 363 do CPP:
Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acu-
sado.

Tal dispositivo ratifica que não restará formada a relação processual autor-juiz-réu
enquanto não houver a citação do acusado. Portanto, a citação é o primeiro momento do
início do exercício da garantia constitucional da ampla defesa, razão pela qual o legis-
lador enumera uma série de requisitos formais para a sua realização que, uma vez não
observados, conduz à nulidade absoluta da citação e do processo.

Mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de cursos prepa-
ratórios no Rio Grande do Sul. Advogado.
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Não há vício de citação que se convalide, que possa ser consertado. O artigo 570
do CPP ensina que a falta de citação ou sua nulidade será sanada desde que o réu com-
pareça espontaneamente ao ato, quando se dará por citado, ou seja, será citado na forma
da lei, o que confirma que a citação anterior viciada não teve qualquer validade, mas sim
valerá essa nova e, ainda assim, se não restar qualquer prejuízo ao acusado.

Sujeitos da citação
A citação é ato único, determinado pelo juiz e que vinculará o acusado ao pro-
cesso, dando início ao exercício da ampla defesa. Em face do princípio da pessoalidade ou
intranscendência da ação penal, somente o acusado poderá ser citado e uma única vez.
No caso de o acusado ser considerado inimputável em face de instauração de incidente
de insanidade mental durante a fase investigativa, a citação deverá se dar na pessoa do
curador nomeado pelo juiz para representá-lo.

Ciência do processo antes da citação


O CPP e algumas leis esparsas prevêem a possibilidade de o acusado tomar ciência
oficial do processo antes mesmo de ser devidamente citado, como por exemplo, quando
será notificado após o oferecimento da peça acusatória para apresentar defesa preliminar
escrita nos procedimentos de crimes funcionais (CPP, art. 514) e nos casos de ação penal
originária dos tribunais (Lei 8.038/90). Porém, a citação precisará ser feita posterior-
mente, em face da garantia constitucional da ampla defesa, e até mesmo porque o artigo
363 do CPP determina que apenas com a citação é que a relação processual se completa.

Conseqüências do não atendimento à citação


Uma vez citado, o acusado se torna réu, iniciando o seu direito à ampla defesa
mas também atrelando-se ao processo, devendo comparecer e se manifestar sempre que
for chamado. Caso não o faça, com base no artigo 367 do CPP o juiz o declarará revel e o
processo seguirá sem a sua intimação pessoal para os demais atos, intimando-se apenas
o seu defensor, salvo se for condenado, quando precisará ser intimado da sentença (CPP,
art. 392).

Espécies de citação
As espécies de citação no processo penal são: pessoal ou real, por hora certa e por
edital ou ficta.

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Citação pessoal ou real


Conforme ensina o artigo 351 do CPP, a regra é a citação pessoal, na qual real-
mente o acusado é cientificado do processo, através de um oficial de justiça que pes-
soalmente o cita com um mandado, uma ordem judicial.

■■ Requisitos intrínsecos do mandado

O artigo 352 do CPP dispõe acerca dos requisitos intrínsecos ou internos que o
mandado deverá conter. Vejamos:

Art. 352. O mandado de citação indicará:

I - o nome do juiz;
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - a residência do réu, se for conhecida;
V - o fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

■■ Requisitos extrínsecos ou externos

A citação pessoal tem alguns requisitos externos, ou seja, sua forma de cumpri-
mento, que o legislador descreveu no artigo 357 do CPP.

Art. 357. São requisitos da citação por mandado:

I - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencio-


narão dia e hora da citação;
II - declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.

Citação pessoal por carta precatória


Ensina o artigo 353 do CPP:

Art. 353. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será
citado mediante precatória.

■■ Requisitos intrínsecos da carta precatória

Art. 354. A precatória indicará:

I - o juiz deprecado e o juiz deprecante;


II - a sede da jurisdição de um e de outro;
III - o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV - o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■■ Requisitos extrínsecos da citação por precatória


Reza o artigo 355 do CPP acerca da forma pela qual será cumprida a carta pre-
catória citatória.

Art. 355. A precatória será devolvida ao juiz deprecante, independentemente de tras-


lado, depois de lançado o “cumpra-se” e de feita a citação por mandado do juiz depre-
cado.
§1.º Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a
este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja
tempo para fazer-se a citação.
§2.º Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precató-
ria será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.

Citação por precatória com urgência


Em algumas situações, como por exemplo, quando se tratar de processo que em
pouco tempo prescreverá, o legislador, no artigo 356 do CPP, descreve a possibilidade de
a precatória ser cumprida com urgência. Vejamos:

Art. 356. Se houver urgência, a precatória, que conterá em resumo os requisitos enumera-
dos no art. 354, poderá ser expedida por via telegráfica, depois de reconhecida a firma do
juiz, o que a estação expedidora mencionará.

Citação pessoal por carta de ordem


A citação pessoal por carta de ordem será cumprida exatamente nos mesmos
termos da citação por carta precatória, a diferença não se dá no que se refere aos seus
requisitos internos ou externos, mas tão-somente em relação à autoridade judiciária que
a determinou. Enquanto a carta precatória foi expedida e será cumprida entre juízes de
mesma hierarquia funcional (ex.: juiz de direito de uma comarca para juiz de direito
de outra comarca, ou juiz federal de uma cidade para juiz federal de outra cidade), a
carta de ordem é determinada por um órgão superior para um órgão inferior da justiça
(ex.: Desembargador da 4.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul determina que o juízo da comarca de Osório realize a citação).

Citação pessoal por carta rogatória


A legislação processual pátria, nos artigos 368 e 369 do CPP, dispõe sobre a cita-
ção de acusado que encontra-se no estrangeiro ou em legações estrangeiras.

Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.

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Art. 369. As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas
mediante carta rogatória.

Citação pessoal de militar


Tendo em vista que os militares seguem uma série de princípios e regramentos
específicos em razão da extrema necessidade de cumprimento do princípio hierarquia-
subordinação, a citação de um militar acusado pela prática de uma infração penal na
justiça comum, embora pessoal, não será feita por um oficial de justiça, mas pelo seu
superior, conforme preceitua o artigo 358 do CPP.

Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.

Citação pessoal de funcionário público


A legislação processual penal brasileira, visando o normal funcionamento dos
órgãos públicos, bem como informar ao chefe da repartição que um funcionário público
que lá exerce suas funções está sendo acusado de praticar uma infração penal, para que
tome as providências necessárias de substituição do funcionário no dia e hora aprazado
pelo magistrado para audiência, bem como de instauração de procedimento administra-
tivo disciplinar se a infração tem relação com a sua função pública; prescreve, no artigo
359 do CPP, que a citação será pessoal ao servidor, mas haverá a necessidade de notificar
o chefe da repartição.

Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,
será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.

Citação pessoal de réu preso


O artigo 360 do CPP disserta que o réu preso deverá ser citado pessoalmente,
através de oficial de justiça munido de mandado de citação, exatamente nos mesmos
moldes de todas as citações pessoais e com os mesmos requisitos internos e externos
dispostos nos artigos 352 e 357 do CPP estudados anteriormente.

Tal observação legal, embora possa parecer desnecessária, busca tornar bem claro
que é o oficial de justiça que deverá citar o réu preso e não o diretor do estabelecimento
prisional através de um ofício encaminhado pelo poder judiciário para requisitar a con-
dução do preso ao foro na data e hora aprazada para interrogatório.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Citação por hora certa


A Lei 11.719, de 2008, inovou ao trazer para o Processo Penal brasileiro a possibi-
lidade de citação por hora certa, até então admitida apenas na esfera cível.

O objetivo é dar maior agilidade aos processos em que o acusado buscava evitar a
citação pessoal para que protelasse o feito tendo em vista que não restaria ao magistrado
outra atitude que não fosse a determinação de citação por edital. Era o que previa o artigo
362 do CPP.

Porém, agora, com a alteração trazida pela Lei 11.719/2008, o artigo 362 do CPP
determina:

Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certifica-
rá a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227
a 229 da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-
lhe-á nomeado defensor dativo.

Citação por edital ou citação ficta


Não sendo possível a citação pessoal e não sendo a hipótese de citação por hora
certa, após a certidão do oficial de justiça, o juiz determinará a realização da citação
por edital, também denominada de citação ficta, porque, infelizmente, dificilmente o
acusado toma ciência do processo e quando o toma não comparece para defender-se.
É importante salientarmos que o artigo 363, no parágrafo 1.º, do CPP nitidamente expli-
cita que a citação por edital somente poderá ser determinada se não for possível encon-
trar o acusado. Em caso de desobediência a essa regra, a citação será absolutamente nula
e conseqüentemente o processo também será declarado nulo.

Hipóteses de citação editalícia e prazos dos editais


O CPP dispunha acerca de 4 hipóteses:

■■ Quando o réu não for encontrado, estiver em lugar incerto, desconhecido, o


prazo para o edital será de 15 dias conforme ensina o artigo 361 do CPP.

■■ Quando o acusado evitar a citação pessoal, cujo prazo era de 5 dias (antigo
art. 362).

■■ Quando inacessível o local onde o acusado se encontrar, como por exemplo


em caso de guerra, epidemia ou por motivo de força maior, cuja previsão do

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artigo 363, I, em combinação com o artigo 364, 1.ª parte, ambos do CPP, era
de prazo a ser determinado pelo juiz conforme a necessidade, entre 15 e 90
dias.

■■ Quando incerta a pessoa a ser citada o artigo 363, II, determinava em combi-
nação com o artigo 364, 2.ª parte, que o prazo seria de 30 dias.

A Lei 11.719/2008 deu nova redação ao artigo 362, não restando mais a possibili-
dade de citação editalícia quando o acusado buscava evitar a citação pessoal, fazendo com
que atualmente, após a vigência da citada lei, seja realizada a citação por hora certa.

A mesma Lei 11.719/2008 revogou os incisos I e II do artigo 363 do CPP. Não


restam mais as possibilidades acima descritas na legislação processual penal brasileira,
razão pela qual, implicitamente, torna sem efeito o artigo 364 do CPP que dispunha dos
respectivos prazos. Assim, podemos concluir que na ocorrência das citadas hipóteses, o
magistrado, combinando o artigo 363, §1.º e 361, deverá determinar a citação por edital
com prazo de 15 dias, que é o único prazo previsto no CPP.

Portanto, das 4 hipóteses acima expostas, em face da Lei 11.719/2008, apenas na


primeira é admitida a citação por edital.

Comparecimento espontâneo e citação por edital


Ensina o artigo 363, §4.º, do CPP:

Art. 363. [...]

§4.º Comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer tempo, o processo observará
o disposto nos arts. 394 e seguintes deste Código.

■■ Requisitos intrínsecos e extrínsecos da citação por edital


Os requisitos formais de cumprimento da citação editalícia estão dispostos no
artigo 365 e parágrafo do CPP. Vejamos:

Art. 365. O edital de citação indicará:

I - o nome do juiz que a determinar;


II - o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como
sua residência e profissão, se constarem do processo;
III - o fim para que é feita a citação;
IV - o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;
V - o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou
da sua afixação.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Parágrafo único. O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será
publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial
que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão,
da qual conste a página do jornal com a data da publicação.

Suspensão do processo e da prescrição


Preceitua o artigo 366 do CPP:

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, fi-
carão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar
a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Revelia
Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pesso-
almente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de
mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

Intimação e notificação
O CPP, entre os artigos 370 e 372, ensina que a intimação das partes se dá nos
mesmos moldes que a citação e prevê as formas dos mesmos atos para os profissionais
que as representam. Vejamos:

Art. 370. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam
tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no
Capítulo anterior.
§1.º A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-
se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca,
incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
§2.º Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação far-se-á
diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento,
ou por qualquer outro meio idôneo.
§3.º A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o §1.º.
§4.º A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.
Art. 371. Será admissível a intimação por despacho na petição em que for requerida, ob-
servado o disposto no art.357.
Art. 372. Adiada, por qualquer motivo, a instrução criminal, o juiz marcará desde logo, na
presença das partes e testemunhas, dia e hora para seu prosseguimento, do que se lavrará
termo nos autos.

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Imprescindível se dedicar mais atentamente às inovações trazidas ao CPP pela Lei


11.719, de 20 de junho de 2008, que fizemos questão de enaltecer neste capítulo.

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Ação penal I

Nestor Távora

Conceito
É o Direito Público subjetivo de pedir ao Estado-juiz a aplicação do Direito Penal
objetivo ao caso concreto. Como regra, a autotutela está banida do ordenamento jurídi-
co e o exercício arbitrário das próprias razões é tratado, inclusive, como crime contra a
administração da justiça (CP, art. 345). Logo, resta aos interessados, através do exercício
do direito de ação, provocar a jurisdição no intuito de obter o provimento jurisdicional
adequado à solução do litígio.

Características
As características atinentes ao direito de ação implicam no reconhecimento de
que se constitui em um direito:
■■ Autônomo – não se confunde com o direito material; tem força e brilho pró-
prios.
■■ Abstrato – independe do resultado do processo; mesmo que a demanda seja
julgada improcedente, o direito de ação terá sido exercido.
■■ Subjetivo – o titular exige do Estado-juiz a solução da lide.
■■ Público – a atividade provocada é de natureza pública.

Condições da ação
São os requisitos necessários e condicionantes ao próprio exercício do direito de
ação. A prestação jurisdicional exige o preenchimento de tais requisitos elencados a se-
guir.

Possibilidade jurídica do pedido


Exige-se que a providência requerida pelo demandante seja admitida pelo direito
objetivo. Assim, pedido possível é aquele, em tese, com respaldo legal.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Interesse de agir
Materializa-se no trinômio necessidade, adequação e utilidade, ou seja, deve haver
necessidade para bater às portas do Judiciário, no intuito de solver a demanda, utilizando-
se do meio adequado e requerendo um provimento útil, é dizer, este deve ter o condão de
trazer algo de relevo ao autor.

Legitimidade (legitimatio ad causam)


É a pertinência subjetiva da ação. No seu ensinamento, o professor Mirabete
(2004, p. 111) esclarece que “a ação só pode ser proposta por quem é titular do interesse
que se quer realizar e contra aquele cujo interesse deve ficar subordinado ao do autor”.

Justa causa
A ação só pode ser validamente exercida se a parte autora lastrear sua inicial com
um mínimo probatório para demonstrar seu direito. A falta desse material probatório
torna temerário o exercício do direito de ação, que não pode transformar-se em uma
aventura sem fundamento. Considerando tal necessidade, a justa causa galgou a posição
de quarta condição da ação penal.

Classificação das ações


A principal classificação das ações penais tem por referência a titularidade do
direito de ação. Nesse aspecto, as ações subdividem-se em ações penais públicas e ações
penais privadas (CP, art. 100, caput). As primeiras, cujo titular privativo é o Ministério
Público (MP) (CF, art. 129, I), podem ser públicas incondicionadas e públicas condicio-
nadas (CP, art. 100, §1.º). Já as ações penais privadas, titularizadas pelo ofendido ou por
seu representante legal, podem ser principais (ou exclusivas) e subsidiárias (CP, art. 100,
§3.º), havendo ainda as chamadas ações privadas personalíssimas. Vejamos cada uma
delas, separadamente.

Ação penal pública incondicionada

Conceito e titularidade
A ação penal pública incondicionada é aquela titularizada pelo MP e que prescinde
de manifestação de vontade da vítima ou de terceiros para ser exercida. Elas constituem
a regra em nosso ordenamento, pois a parte inicial do caput do artigo 24 do Código de

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Processo Penal (CPP) assevera que “nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público”, ao passo que o parágrafo 2.º, do mesmo artigo, reza que,
“seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da
União, Estado e Município, a ação penal será pública”.

O chamado procedimento judicialiforme, esboçado no artigo 26 do CPP, prevendo


a possibilidade de, em algumas infrações, o início da ação ocorrer pelo auto de prisão em
flagrante ou de portaria emanada da autoridade policial ou judiciária, encontra-se revoga-
do pelo inciso I do artigo 129 da Constituição Federal.

O CPP autoriza, nos crimes de ação penal pública, a provocação do MP por qual-
quer do povo, fornecendo informações sobre a possível infração ocorrida (CPP, art. 27).

Princípios informadores
Os princípios que informam a ação penal pública incondicionada, os quais nor-
teiam, também, como regra, a ação penal pública condicionada, são listados em seguida.

■■ Da obrigatoriedade: em estando presentes os requisitos legais, o MP está


obrigado a patrocinar a persecução criminal, ofertando a denúncia para que o
processo seja iniciado.

■■ Da indisponibilidade: como decorrência do princípio da obrigatoriedade, uma


vez iniciado o processo, o MP não pode dispor dele para desistir do feito; deve,
ao contrário, conduzi-lo até o seu final (CPP, art. 42). Não pode o MP, sequer,
desistir do recurso interposto (CPP, art. 576).

O MP não é um colecionador de condenações, e sim o guardião da sociedade e


fiscal da lei. Assim, apesar de não poder dispor do processo, pode validamente,
em sede de alegações finais, pleitear a absolvição do réu, interpor habeas corpus
em favor deste, e até mesmo recorrer em benefício do acusado.

■■ Da oficialidade: esse princípio informa que a persecução penal em juízo está


a cargo de um órgão oficial, qual seja, o MP.

■■ Da autoritariedade: o promotor de justiça, órgão da persecução criminal,


é autoridade pública.

■■ Da oficiosidade: a ação penal pública incondicionada não carece de qualquer


autorização para instaurar-se, devendo o MP atuar ex officio.

■■ Da indivisibilidade: a ação penal deve estender-se a todos aqueles que prati-


caram a infração criminal. Assim, o parquet tem o dever de ofertar a denúncia
em face de todos os envolvidos.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Há doutrinadores que, contrariando o aqui esboçado, entendem que o princípio


da divisibilidade rege a ação penal pública, com o argumento de que, optando o MP por
angariar maiores elementos para posteriormente processar os demais envolvidos, o pro-
cesso poderia ser desmembrado. Essa posição encontra alguma ressonância, também, na
jurisprudência.
■■ Da intranscendência: a ação só pode ser proposta contra a pessoa a quem se
imputa a prática do delito.

Ação penal pública condicionada

Conceito e considerações
A ação penal pública condicionada é também titularizada pelo MP; afinal, trata-se
de ação pública. Contudo, porque há ofensa à vítima em sua intimidade, para o seu exer-
cício válido, o legislador optou por condicioná-la a um permissivo externado por ela ou
seu representante legal, permissivo esse tecnicamente denominado representação. Pode,
ainda, a permissão ser dada na forma de requisição ministerial oriunda do ministro da
Justiça, tal qual ocorreria numa ação penal deflagrada com o propósito de apurar crime
cometido contra a honra do presidente da República, patrocinado pela imprensa. Exami-
nemos amiúde os institutos dessa espécie de ação.
■■ A representação: é uma condição de procedibilidade para que possa instaurar-
se a persecução criminal. É um pedido autorizador feito pela vítima ou por seu
representante legal.
■■ Os destinatários: a representação, ofertada pela vítima, por seu representante
ou por procurador com poderes especiais, pode ser destinada à autoridade po-
licial, ao MP ou ao próprio juiz.
■■ Ausência de rigor formal: segundo o Supremo Tribunal Federal, a represen-
tação é peça não formal que pode ser apresentada oralmente ou por escrito
(CPP, art. 39). O importante é que a vítima revele o interesse de ver o autor do
fato processado.
■■ O prazo e sua contagem: a representação deve ser ofertada, como regra, no
prazo de seis meses do conhecimento da autoria da infração penal, ou seja, quando
a vítima toma ciência de quem foi o autor do crime.
Atenção: Por ser um prazo decadencial, este é contado na forma do artigo 10 do
Código Penal, ou seja, inclui-se o dia do início e exclui-se o do vencimento.
O parágrafo primeiro do artigo 41 da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67) fixa
esse prazo em três meses, contados da data da publicação ou transmissão da
notícia.

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■■ O menor representado: o artigo 34 do CPP dispõe que, se a vítima for menor


de 21 e maior de 18 anos, o direito de representação deve ser exercido pelo seu
representante legal. Contudo, convém alertar que, com o advento do novo Có-
digo Civil (CC), a disposição contida no artigo 34 do CPP, admitindo a possibi-
lidade de a representação ser apresentada pelo representante legal do indivíduo
menor de 21 anos e maior de 18, encontra-se tacitamente revogada, pois tais
pessoas, em face do artigo 5.º do novo CC, são absolutamente capazes.

■■ A substituição processual: em caso de morte ou declaração de ausência da


vítima, o direito de representar passa ao cônjuge, ascendentes, descendentes
ou aos irmãos, ordem essa preferencial (CPP, art. 36 c/c art. 31).

O código prevê a figura do curador especial para fazer a representação, nos


casos de ausência de representante legal dos menores, retardados e pessoas
mentalmente enfermas (CPP, art. 33).

As pessoas jurídicas, quando vítimas de uma infração, podem exercer o direito


de representar por intermédio de seus representantes designados nos respec-
tivos contratos sociais ou estatutos e, no silêncio destes, por seus diretores ou
sócios-gerentes (CPP, art. 37).

■■ Ausência de vinculação do MP: o parquet, diante de uma representação, ana-


lisa se estão presentes os requisitos legais, para só então oferecer a denúncia.
É dizer: a representação é uma autorização e um pedido para que a persecução
seja instaurada; não é ordem nem vincula o promotor de justiça, que pode, in-
clusive, em sua peça acusatória, enquadrar a conduta delituosa em dispositivo
legal diverso daquele eventualmente apontado pela vítima.

■■ Eficácia objetiva: se a vítima indica, em sua representação, apenas parte dos


envolvidos, o MP pode, de pronto, ofertar denúncia contra os demais co-au-
tores ou partícipes, sem a necessidade de nova manifestação de vontade por
parte dela.

■■ Retratação: enquanto não oferecida a denúncia, ou seja, a peça acusatória a car-


go do MP, a vítima pode retratar-se de sua representação, inibindo assim o
início do processo.

Para a doutrina majoritária, a vítima pode retratar-se e reapresentar a represen-


tação quantas vezes entender conveniente. Isso significa que pode retratar-se
da representação e, em se arrependendo, reapresentá-la, respeitando contudo o
marco do oferecimento da denúncia, pois, uma vez oferecida a peça acusatória,
a representação passa a ser irretratável (CPP, art. 25), além do prazo decaden-
cial de seis meses, contados do conhecimento da autoria delitiva.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

A requisição do ministro da Justiça


É um ato político, a cargo do ministro da Justiça, autorizando a persecução crimi-
nal, e que é ofertada ao chefe do MP.

Prazo para oferecimento


Antes de extinta a punibilidade pela prescrição ou outra causa, pode ser ofertada
a qualquer tempo. Assim, não existe o prazo decadencial de seis meses para apresentar a
requisição.

Não-cabimento de retratação
Por ausência de previsão legal, e por ser um ato de natureza política a cargo do
ministro da Justiça, a doutrina majoritária informa que não cabe retratação da requi-
sição.

Ausência de vinculação do MP
A requisição não vincula o MP e, como dito alhures, não é sinônimo de ordem.

Ressalto a importância da classificação das ações penais, os princípios pertinen-


tes à espécie, e as características da representação da vítima e da requisição do ministro
da Justiça.

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Ação penal II

Nestor Távora
Ação penal privada
Conceito e considerações
Naquelas infrações penais que ofendem sobremaneira a intimidade das vítimas,
o legislador conferiu a elas o próprio exercício do direito de ação. Nessas hipóteses, a
persecução criminal é transferida excepcionalmente ao particular que atua em nome
próprio, na tutela de interesse alheio (a aplicação de pena). O fundamento é evitar o
constrangimento do processo, podendo a vítima optar entre expor a sua intimidade em
juízo ou quedar-se inerte, pois, muitas vezes, o sofrimento causado pela exposição ao
processo é maior do que a própria impunidade do criminoso. Não obstante, se o desejar,
a vítima pode processar o criminoso, apresentando a competente queixa-crime, que é a
peça inaugural das ações penais de iniciativa privada.

Titularidade
O exercício do direito de ação cabe ao ofendido ou ao seu representante legal
(CPP, art. 30).

A figura do curador para o incapaz é tratada no artigo 33 do Código de Processo


Penal (CPP).

No caso de morte ou declaração de ausência da vítima, o direito de ação trans-


fere-se ao cônjuge, ascendentes, descendentes e irmãos, nessa ordem preferencial (CPP,
art. 31).

Princípios
São norteadores da ação penal privada os princípios descritos a seguir.
■■ Da oportunidade: por esse princípio, é facultado à vítima decidir entre ofertar
ou não a ação, pois ela, por permissivo legal, é a titular do direito. Não queren-
do exercê-lo, pode ficar inerte e deixar transcorrer in albis o prazo decadencial
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

de seis meses para ofertar a queixa ou, se assim o desejar, renunciar a esse
direito de forma expressa ou tácita (CPP, arts. 49 e 50).
■■ Da disponibilidade: pelo princípio em estudo, uma vez iniciado o processo,
pelo recebimento da queixa-crime, poderá o particular desistir dele, seja perdo-
ando o acusado (CPP, art. 51 e ss.), seja pelo advento da perempção. Esta revela
uma desídia na condução do processo, e suas hipóteses de ocorrência estão
disciplinadas no artigo 60 do CPP. Vejamos.
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á pe-
rempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo


durante 30 (trinta) dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer
em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer
das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no artigo 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato
do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação
nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

O perdão do ofendido é ato bilateral, vale dizer, uma vez ofertado, pressupõe acei-
tação do réu para surtir efeitos. É de se ressaltar, ainda que, em havendo co-
réus, o perdão oferecido a apenas um aproveitará aos demais.
■■ Da indivisibilidade: o artigo 48 do CPP reconhece, de forma expressa, o prin-
cípio da indivisibilidade da ação penal privada, devendo o particular, ao optar
pelo processamento dos autores da infração, fazê-lo em detrimento de todos
os envolvidos. É dizer, ou processa todos, ou não processa ninguém. Cabe ao
Ministério Público (MP) velar pela indivisibilidade da ação penal privada.
O MP, segundo a melhor doutrina, ao velar pelo princípio da indivisibilidade,
não pode aditar a queixa-crime, lançando novos réus ao processo, pois lhe falta
legitimidade.
■■ Da intranscendência: esse princípio, comum às ações penais públicas, reza
que a ação só pode ser proposta contra a pessoa a quem se imputa a prática do
delito.

Espécies de ação penal privada


A exclusivamente privada ou propriamente dita
É a regra, devendo o dispositivo legal trazer, de forma expressa, que a titularidade
da ação é do particular, mediante a oferta da queixa-crime. Essa ação caracteriza-se pela
possibilidade de sucessão nos casos de morte ou ausência da vítima pelo cônjuge, ascen-
dentes, descendentes e irmãos (CPP, art. 30 c/c art. 31).

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A personalíssima
Cabível tão-somente no crime de induzimento a erro essencial e ocultação de
impedimento ao casamento (CP, art. 236), a ação só pode ser ofertada pela vítima. Não
pode haver intervenção do representante legal nem a sucessão por morte ou ausência.

Subsidiária da pública
A ação penal privada subsidiária da pública contempla previsão constitucional
expressa (CF, art. 5.º, LIX; e CPP, art. 29). Tem cabimento diante da inércia do MP, que,
nos prazos legais, deixa de atuar, não promovendo a denúncia ou, em sendo o caso, não
se manifestando pelo arquivamento dos autos do inquérito policial, ou ainda, não requi-
sitando novas diligências.
O MP, na ação penal privada subsidiária, figura como interveniente adesivo obri-
gatório.
■■ Observação:
STF, N. 714. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério
Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal nos crimes contra a
honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.
STF, N. 608. No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pú-
blica incondicionada.

A inicial acusatória

Conceito
É a peça que inaugura o processo, pois, nos crimes de ação penal pública, recebe
o nome de denúncia, enquanto que nas ações penais privadas é denominada de queixa-
crime.

Requisitos formais
Os requisitos tanto da denúncia quanto da queixa-crime estão delineados no
artigo 41 do CPP. São eles:
■■ descrição do fato, com todas as suas circunstâncias – lembre-se de que o réu se
defende dos fatos e não da tipificação jurídica. Inicial acusatória com descrição
fática deficitária ou ausente é petição inepta;
■■ qualificação do acusado ou fornecimento de dados que possibilitem a sua iden-
tificação;
■■ classificação do crime;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■■ rol de testemunhas;
■■ pedido de condenação;
■■ endereçamento;
■■ nome e assinatura.

Prazo para denúncia


A denúncia deve ser ofertada atendendo aos prazos estipulados no artigo 46 do
CPP, quais sejam: em cinco dias, se o denunciado estiver preso; em 15 dias, se solto. Essa
é a regra geral.

Prazos especiais para oferta da denúncia


A legislação extravagante traz uma série de prazos específicos para a oferta da
inicial pública. Vejamos:
■■ 10 dias, para crime eleitoral (Código Eleitoral, art. 357);
■■ 10 dias, para crimes de imprensa (Lei 5.250/67, art. 40);
■■ 10 dias, para tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 54);
■■ 48 horas, para crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65, art. 13).

A nova Lei de Falências, Lei 11.101/2005, em seu artigo 187, parágrafo 1.º, prevê
que:
Art. 187. [...]
§1.º O prazo para o oferecimento da denúncia regula-se pelo artigo 46 do Código de Proces-
so Penal, salvo se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar
a apresentação da exposição circunstanciada de que trata o artigo 186 desta Lei, devendo,
em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias.

Prazos para a queixa-crime


A queixa-crime, como regra geral, deve ser ofertada no prazo de seis meses conta-
dos do conhecimento da autoria da infração, sendo esse prazo de ordem decadencial.

Prazos especiais
■■ Da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67): três meses da data do fato.
■■ Do crime de induzimento a erro essencial (CP, art. 236, parágrafo único): a
queixa-crime poderá ser ofertada no prazo de seis meses após o trânsito em
julgado da sentença que, no cível, anule o casamento.

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Aditamento da queixa
Aditar é complementar, lançar novos elementos. Ao órgão do MP é facultado adi-
tar a queixa-crime, dispondo do prazo de três dias para fazê-lo.
Lembre-se, como já abordado, de que falta ao MP legitimidade para aditar a quei-
xa no intuito de lançar novos acusados.

Rejeição da denúncia ou queixa (CPP, art. 395)


A denúncia e a queixa, uma vez recebidas pelo magistrado, marcarão o início do
processo. Assim, o despacho do juiz, atestando a perfeição técnica da inicial acusatória,
formaliza o início do processo penal. Contudo, impõe-se que a inicial não só não atenda
aos requisitos formais do artigo 41 do CPP como também não esteja maculada por uma
daquelas hipóteses esboçadas no artigo 395 do CPP, que implicariam sua rejeição. Desse
modo, “se a denúncia for manifestamente inepta; se faltar pressuposto ou condição para
o exercício da ação penal; ou faltar justa causa para o exercícico da ação penal”, deve o
juiz rejeitá-la, não iniciando o processo.

Recurso para combater a rejeição


O recurso cabível do não-recebimento da denúncia ou queixa, por disposição do
inciso I do artigo 581 do CPP, é o Recurso em Sentido Estrito.

Fundamentação do recebimento
Apesar da divergência doutrinária, a jurisprudência majoritária, inclusive dos
tribunais superiores, indica que o magistrado, ao receber a denúncia ou queixa, não precisa
fundamentar a sua decisão, pois esta, ainda sobre tal ótica, não teria carga decisória, e a
fundamentação seria uma antecipação indevida ao exame do mérito.

É fundamental o estudo da parte principiológica das ações penais privadas, em


especial os princípios da oportunidade e disponibilidade.

Vale ressaltar também a importância dos prazos no oferecimento da inicial acusa-


tória, tema indigesto e muitas vezes aferido nas avaliações.

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Jurisdição e competência

Nestor Távora

Jurisdição

Conceito
É o poder-dever pertinente ao Estado-juiz de aplicar o direito ao caso concreto. Na
visão de Tourinho Filho (2003, p. 49), “é aquela função do Estado consistente em fazer
atuar, pelos órgãos jurisdicionais, que são os juízes e tribunais, o direito objetivo a um
caso concreto, obtendo-se a justa composição da lide”.

Etimologicamente, vem de jurisdictio, que significa “ação de dizer o direito”.

Princípios
A doutrina elenca alguns princípios fundamentais da jurisdição. Vejamos abaixo.

Investidura
Para exercer jurisdição, é necessário ser magistrado – logo, estar devidamente
investido na função.

Indelegabilidade
A regra é que a função jurisdicional não pode ser delegada a um outro órgão, mes-
mo que jurisdicional. Exceções: precatórias e cartas de ordem, nas quais há a prática de
atos processuais por um outro magistrado que não o originariamente competente.

Juiz natural
Conforme o artigo 5.º, LIII, da Constituição Federal (CF) “ninguém será proces-
sado nem sentenciado senão pela autoridade competente”; e pelo inciso XXXVII, “não
haverá juízo ou tribunal de exceção”.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inafastabilidade
“A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”
(CF, art. 5.º, XXXV).

Inevitabilidade ou irrecusabilidade
A jurisdição não está sujeita à vontade das partes: impõe-se.

Correlação ou relatividade
Deve haver correspondência entre a sentença e o pedido feito na inicial acusató-
ria. Não pode haver julgamento extra ou ultra petita.

O Código de Processo Penal (CPP) indica ferramentas para assegurar o princípio


da correlação, quais sejam, a emendatio e a mutatio libeli, disciplinadas respectivamente
nos artigos 383 e 384.

“O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá


atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena
mais grave” (art. 383). Assim, pouco importa a tipificação esboçada na inicial acusatória,
pois ao juiz, na sentença, caberá o devido enquadramento legal – afinal, jura novit curia
(o juiz conhece o direito).

Já o artigo 384 (mutatio libeli) tem cabimento quando os fatos narrados na inicial
são dissonantes daqueles apurados na instrução criminal. Como se trata de matéria fáti-
ca e o réu se defende dos fatos, a depender da gravidade da infração constatada na instru-
ção criminal terá aplicação o caput ou o parágrafo único do artigo 384 do CPP:

Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica
do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou
queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo
em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.

§1.º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste
Código.

§2.º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento,


o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da
audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de
debates e julgamento.

§3.º Aplicam-se as disposições dos §§ 1.º e 2.º do art. 383 ao caput deste artigo.

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§4.º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de
5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.

§5.º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá. (NR)

Devido processo legal


“Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”
(CF, art. 5.º, LIV).

Características
As principais características da jurisdição estão a seguir.

Inércia
Em regra, os órgão jurisdicionais são inertes, dependem de provocação (ne proce-
dat judex ex officio).

Substitutividade
Como a autotutela foi banida, salvo em casos excepcionais, cabe ao Estado, subs-
tituindo a atividade das partes, resolver os litígios.

Lide
Apesar de algumas divergências doutrinárias, o entendimento majoritário pres-
supõe a existência de lide para o exercício jurisdicional, ou seja, o conflito de interesses
qualificado pela pretensão resistida.

Atuação do direito
A atividade jurisdicional tem por objetivo aplicar o direito ao caso concreto, res-
tabelecendo-se a paz social violada.

Imutabilidade
No intuito de fornecer os laços e a tranqüilidade social, o exercício da jurisdição
deságua num provimento final (sentença) que tornar-se-á imutável (trânsito em julgado).
Lembre-se de que a imutabilidade pode ser mitigada, a exemplo da interposição da revi-
são criminal para combater uma sentença conclusiva injusta.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência

Conceito
Apesar de a jurisdição ser una, indivisível, é humanamente impossível que um
só juiz decida todos os litígios ocorridos. Assim, num universo de magistrados, a com-
petência é conceituada pela doutrina como a medida ou delimitação da jurisdição, ou,
nas palavras de Tourinho Filho (2003, p. 76), é “o âmbito, legislativamente delimitado,
dentro do qual o órgão exerce o seu poder jurisdicional”.

Critérios
Para determinar-se a competência e chegar-se à conclusão da autoridade com-
petente, é fundamental o estudo e a análise das diversas espécies de competência, ou
melhor, dos parâmetros usados pelos diversos diplomas legais para distribuir, entre as
autoridades judiciais, a parcela de sua atuação.

Competência material
Leva em conta as características da questão criminal e deve ser estudada sobre
três aspectos principais.

■■ Critério ratione materiae: objetiva identificar qual a justiça competente e os cri-


térios de especialização, levando em conta a natureza da infração, tendo des-
taque no inciso III do artigo 69 do CPP. Exemplo: cabe à justiça eleitoral o
julgamento dos ilícitos criminais eleitorais.

■■ Critério ratione personae: insculpida no inciso VII do artigo 69, leva em consi-
deração a importância das funções desempenhadas por determinadas pessoas,
dando azo à atribuição do chamado foro por prerrogativa de função. Exemplo:
cabe ao Supremo Tribunal Federal o julgamento das infrações penais comuns
praticadas pelo presidente da República. (CF, art. 102, I, “b”).

■■ Critério ratione loci: estampada nos incisos I e II do artigo 69, considera o local
da consumação do delito, além do domicílio ou residência do réu.

Competência funcional
Leva-se em conta como elemento de distribuição os atos processuais praticados,
e deve ser analisada também sobre três aspectos principais.

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■■ Fase do processo: normalmente, um só juiz é competente para praticar todos


os atos do processo. Contudo, pode haver segmentação, como um juiz que vai
instruir e sentenciar a causa criminal, e um outro a quem incumbirá a fase de
execução (LEP, art. 65).

■■ Objeto do juízo: por esse critério, há uma distribuição de tarefas na decisão das
várias questões trazidas durante o processo. No júri, por exemplo, que é um
tribunal colegiado heterogêneo, composto por um juiz togado e pelos jurados
(juízes leigos), ao primeiro caberá resolver as questões de direito, prolatar a
sentença e proceder à dosimetria da pena, ao passo que aos jurados caberá a
resposta aos quesitos que lhes são formulados.

■■ Grau de jurisdição: é a chamada competência funcional vertical, podendo dar


azo ao duplo grau de jurisdição, com a interposição dos recursos, ou inaugurar
a chamada competência originária, com ações ajuizadas diretamente em sede dos
tribunais.

Ressalto a importância dos princípios atinentes à jurisdição, em especial o princí-


pio da correlação, e o relevo para o aluno da assimilação dos critérios identificadores do
juízo competente: competência material e competência funcional.

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Competência ratione loci I

Nestor Távora

Competência ratione loci

Lugar da infração
De início, no que se refere ao território ou foro, a regra geral é a do artigo 70 do
Código de Processo Penal (CPP): “A competência será, de regra, determinada pelo lugar
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
o último ato de execução”. Essa regra deve ser complementada pelo inciso I do artigo
14 do Código Penal, que considera consumado o delito quando se reúnem todos os ele-
mentos de sua definição legal. Assim, identificamos três teorias a respeito do local do
crime.
■■ Teoria da atividade: o lugar do crime é o da ação ou omissão.
■■ Teoria do resultado: o lugar do crime é o da consumação. É a regra (CPP,
art. 70).
■■ Teoria da ubiqüidade: o lugar do crime é tanto o da ação como o do resul-
tado.

Nos crimes praticados a bordo de navios ou aeronaves, além de, em regra, ser
competente a Justiça Federal, no aspecto territorial compete ao juízo do primeiro porto
em que tocar a embarcação ou aeronave após o crime, e se estiver se afastando do país,
o último em que tocou (CPP, art. 89).

Nos crimes praticados no exterior, excepcionalmente, aplica-se a lei penal brasi-


leira (CP, art. 7.º). Nessas hipóteses, o juízo competente será o da capital do estado onde
por último tiver residido o acusado. Se nunca houver residido no país, a capital será a da
República (CPP, art. 88).

No crime de homicídio, a jurisprudência, esposando entendimento que contraria


o artigo 70 do CPP, entende que o juízo competente é o do local da ação e não o do resul-

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

tado. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) indica que esse posicionamento
facilitaria a produção probatória.

Vide as Súmulas 521 do Supremo Tribunal Federal (STF) e 244 do STJ.

Domicílio ou residência do réu


Pergunta-se: E se não for conhecido o local da consumação do crime? A compe-
tência é então determinada pelo domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput).

E se o réu tem mais de uma residência? Firma-se por prevenção, que é sinônimo
de antecipação, ou seja, é prevento o juiz que primeiro praticou um ato do processo ou
medida a ele relativa (CPP, art. 72, §1.º).

E se, além de desconhecido o local da consumação, são também desconhecidos a


residência e o paradeiro do réu? Será competente o juiz que primeiro tomar conhecimen-
to do fato (CPP, art. 72, §2.º).

Nas ações exclusivamente privadas, o querelante pode, a seu critério, escolher


entre o local da consumação ou o domicílio do réu para ofertar a queixa-crime (CPP, art.
73).

Domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo
e, subsidiariamente, o lugar no qual exerce suas ocupações habituais, o ponto central de
seus negócios ou local em que for encontrado. Residência é a morada sem ânimo defini-
tivo.

Competência ratione materiae


Identificado o foro competente, passaremos a observar a quem cabe a apreciação
da demanda. Se à Justiça Comum (federal ou estadual), ou à Justiça Especializada (mi-
litar, eleitoral etc.).

Feito isso, especificada a “justiça competente”, leia-se comum ou especial, pas-


samos a analisar, ainda em face da natureza da infração, qual o “juízo competente”. Em
comarcas nas quais há apenas um juiz, este possui competência plena, ou seja, cabe a
ele dirimir todas as demandas. Contudo, em localidades onde existe pluralidade de jul-
gadores, pode haver a divisão do trabalho, em face da especialização perante a natureza
da infração. Assim, o artigo 74 do CPP autoriza, por exemplo, que a lei de organização
judiciária estabeleça que determinados juízes apreciarão apenas crimes punidos com re-
clusão.

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Competência ratione personae

(OLIVEIRA, 2004)
Jurisdição
Executivo Judiciário Legislativo Outros
competente

Procurador-geral
da República,
Comandantes das
Presidente, Membros Forças Armadas,
Membros do
Vice-presidente, dos tribunais Membros do
STF Congresso
Ministros e superiores, Tribunal de
Nacional
Advogado-geral incluindo o STF Contas da
União e Chefes
de missão
diplomática

Membros dos
Tribunais
de Contas
dos Estados,
Membros dos
Distrito Federal
STJ Governadores TRF, dos TRE, –
e Municípios e
dos TJ e dos TRT
membros do MP
da União que
atuam perante
tribunais

TRF Juízes de
Membros do MP
Direito, Juízes
TJ da União (MPE,
Federais, Juízes Deputados
Prefeitos MPT, MPM, MP
TRE (somente do Trabalho, Estaduais
do DF) e do MP
para crimes Juízes Militares
Estadual
eleitorais) da União

Já vimos que determinadas pessoas, em razão da alta relevância da função que


desempenham, têm direito ao impropriamente chamado foro privilegiado, ou seja, o jul-
gamento será efetivado por um órgão de maior graduação. As mais relevantes estão
abaixo.

■■ STF, N. 702. A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restrin-


ge-se aos crimes de competência da Justiça Comum estadual; nos demais ca-
sos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Assim, nos crimes contra a União, suas autarquias e empresas públicas, quem
julgará o prefeito é o Tribunal Regional Federal; e nos crimes eleitorais, o Tri-
bunal Regional Eleitoral. Aplicamos também esse entendimento aos deputados
estaduais.

■■ STF, N. 721. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre


o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
Estadual.

■■ STJ, N. 208. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal


por desvio de verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal.

■■ STJ, N. 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

■■ O presidente do Banco Central tem foro por prerrogativa de função no STF.

A Súmula 394 do STF disciplinava que, “cometido o crime durante o exercício


funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o in-
quérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício”. Contudo, a
referida súmula foi cancelada em 1999 pelo próprio STF, numa interpretação do artigo
102, I, “b”, da Constituição Federal, acentuando que, uma vez encerrado o exercício fun-
cional, não prevaleceria mais o foro por prerrogativa, devendo os autos ser encaminhados
ao primeiro grau.

Competência absoluta versus relativa


No processo penal, a doutrina considera como relativa a competência territorial,
devendo haver alegação oportuna, sob pena de preclusão. Já as hipóteses que levem à
incompetência absoluta do juízo podem ser suscitadas a qualquer momento.

No processo penal, mesmo a incompetência relativa pode ser reconhecida ex offi-


cio pelo magistrado.

“A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o proces-


so, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente” (CPP, art. 567).
Há entendimento respeitável informando que, quando for hipótese de incompetência
absoluta, não só os atos decisórios mas também os instrutórios devem ser reputados
imprestáveis.

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Ressalto que os Juizados Especiais Criminais têm competência para apreciar as


infrações de menor potencial ofensivo, quais sejam, os crimes com pena máxima de até
dois anos e as contravenções penais, independentemente de previsão de procedimento
especial (Lei 9.099/95, art. 61 c/c Lei 10.259/2001, art. 2.º, parágrafo único).

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Competência ratione loci II

Nestor Távora

Prevenção
Prevenção significa “antecipação”, o magistrado que primeiro pratica atos do pro-
cesso ou medidas relativas a ele, ainda que anteriores ao oferecimento da denúncia ou
queixa, torna-se prevento. Por exemplo, juiz que decide, na fase do inquérito, sobre a
prisão preventiva, torna-se, pela prevenção, competente para a futura ação penal. O Có-
digo de Processo Penal (CPP) disciplina algumas hipóteses em que o juízo é considerado
prevento (art. 83; art. 70, §3.º; art. 71; art. 72, §2.º; art. 75, parágrafo único; art. 78, II,
“c”; e art. 91).

Distribuição
Havendo mais de um juiz competente na comarca, a competência firmar-se-á pela
distribuição, que nada mais é do que um instituto disciplinador de serviços (TOURI-
NHO FILHO, 2003), significando a repartição dos processos entre juízes igualmente
competentes (CPP, art. 75).

Conexão e continência
Previstas nos artigos 76 e 77 do CPP, não são bem um critério da fixação de com-
petência e sim de modificação dela, atraindo para um determinado juízo a demanda que
seria de atribuição de outro juízo. A conexão é o nexo, o vínculo que os fatos guardam
entre si. Já na continência, segundo a doutrina, uma causa está contida na outra.

Conexão
A conexão pressupõe a ocorrência de duas ou mais infrações, conforme as moda-
lidades a seguir.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Intersubjetiva (art. 76, I)


■■ Por simultaneidade: várias infrações, praticadas ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas. Por exemplo, os torcedores enfurecidos que depredam o es-
tádio de futebol sem estarem previamente acordados. São vários os crimes de
dano, que devem ser julgados em conjunto, pois são conexos.
■■ Concursal: ocorre quando várias pessoas, previamente acordadas, praticam
várias infrações, embora sejam diversos o tempo e o lugar. Por exemplo, a
gangue que pratica vários delitos em determinada cidade. São também vários
crimes praticados, mas em concurso de agentes, e devem ser julgados conjun-
tamente, pois são conexos.
■■ Por reciprocidade: ocorre quando várias infrações são praticadas por diversas
pessoas, umas contra as outras, como nas lesões corporais recíprocas.

Objetiva, material, teleológica ou finalista (art. 76, II)


■■ Ocorre quando uma infração é praticada para facilitar ou ocultar outra, ou
para conseguir impunidade ou vantagem. Por exemplo, o comparsa que mata o
outro para ficar com todo o produto do crime.

Instrumental ou probatória (art. 76, III)


■■ Tem cabimento quando a prova de uma infração ou de suas elementares influir
na prova de outra infração. Por exemplo, prova do crime de furto influindo na
comprovação da receptação.

Continência

Por cumulação subjetiva (art. 77, I)


■■ ocorre quando duas ou mais pessoas são acusadas da prática de uma mesma
infração. Por exemplo, a co-autoria em um homicídio. Os agentes deverão ser
processados conjuntamente, em face da continência.

Por cumulação objetiva (art. 77, II)


■■ Triparte-se para enquadrar institutos tratados pelo Código Penal, quais sejam:
■■ concurso formal (CP, art. 70);
■■ aberratio ictus (CP, art. 73);
■■ aberratio delicti (CP, art. 74).

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Foro prevalente
Havendo a reunião de processos, em face da conexão ou da continência, deve-se
determinar o juízo que vai prevalecer diante da competência do outro. Para tanto, o CPP,
em seu artigo 78, estabeleceu alguns critérios.
■■ Júri versus jurisdição comum: prevalece o júri.
■■ Jurisdições de diversas categorias: prevalece a de maior graduação.
■■ Jurisdição comum versus especial: prevalece a especial.
■■ Jurisdições de mesma categoria: utilizam-se os critérios de crime mais grave,
maior número de infrações e prevenção.
STF, N. 704. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do co-réu ao foro por prerrogativa de função
de um dos denunciados.
STJ, N. 122. Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do artigo 78, II, “a”,
do Código de Processo Penal.

Prorrogação de competência é a possibilidade de julgamento de um ilícito por um


magistrado que, a priori, era incompetente. Por exemplo, o magistrado territorialmente
incompetente que não foi afastado oportunamente pelas partes em litígio. Assim, sua
competência é prorrogada.

Separação de processos
Mesmo nos casos de conexão e continência, pode haver motivo ensejador à se-
paração de processos, podendo esta ser obrigatória (CPP, art. 79) ou facultativa (CPP,
art. 80).

Perpetuatio jurisdictionis
Havendo reunião de processos, pela conexão ou pela continência, o juiz prevalen-
te, mesmo que venha a absorver ou desclassificar a infração que determinou a atração,
continua competente para julgar as demais (CPP, art. 81).

Júri (art. 81, parágrafo único e art. 492, §2.º, do CPP)


No procedimento do júri, se ao final da primeira fase o juiz desclassificar a in-
fração, remeterá os autos ao juízo competente. Já na segunda fase, em plenário, se os
jurados desclassificam o crime doloso contra a vida, o julgamento – não só deste mas
também dos crimes conexos – fica afeto ao juiz presidente do júri.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Pela importância de súmulas no estudo da matéria, remeto o aluno a um breve


resumo das mais relevantes ao tema.
■■ Supremo Tribunal Federal, Súmulas 451, 521, 522, 603, 690, 691, 702, 704,
706, 721.
■■ Superior Tribunal da Justiça, Súmulas 6, 38, 42, 53, 62, 73, 104, 107, 140, 147,
151, 165, 200, 206, 208, 209, 235, 244.
■■ As Súmulas do extinto Tribunal Federal de Recursos: 20, 23, 30, 31, 52, 54, 99,
133, 155, 199, 200, 233, 254.

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Prisão em flagrante

Nestor Távora

Conceito
O flagrante é o delito que ainda “queima”, ou seja, é aquele que está sendo come-
tido ou acabou de sê-lo. Assim, a prisão em flagrante é a que resulta no momento e no
local do crime. É uma medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e processual
que não exige ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de inopino.

Espécies de flagrante

Flagrante próprio (propriamente dito, real ou verdadeiro)


Neste, o agente está cometendo uma infração penal ou acaba de cometê-la. Nessa
espécie, a prisão do agente que “acaba de cometer” a infração deve ocorrer de imediato,
sem haver o decurso de qualquer intervalo de tempo. São as hipóteses dos incisos I e II
do artigo 302 do Código de Processo Penal (CPP).

Flagrante impróprio (irreal ou quase flagrante)


O agente é perseguido, logo após a infração, em situação que faça presumir ser o
autor do fato. É a hipótese do artigo 302, III, do CPP. A expressão logo após abarca todo o
espaço de tempo que flui para a polícia chegar ao local, colher as provas do delito e iniciar
a perseguição do autor.

A regra popular de que é de 24 horas o prazo entre a prática do crime e a prisão


em flagrante não tem o menor sentido, eis que o flagrante pode subsistir, mesmo que a
perseguição dure dias.

Flagrante presumido (ficto ou assimilado)


O agente é preso, logo depois de cometer a infração, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que presumam ser ele o autor da infração (CPP, art. 302, IV). Essa es-
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

pécie não exige a perseguição. Basta que a pessoa, em situação suspeita, seja encontrada
logo depois da prática do ilícito. O logo depois admite um lapso temporal maior do que o
logo após da espécie anteriormente comentada.

Flagrante compulsório ou obrigatório


Alcança a atuação da autoridade policial e seus agentes. Estes têm o dever de efe-
tuar a prisão em flagrante, sempre que a hipótese se apresente. Está previsto na segunda
parte do artigo 301 do CPP.

Flagrante facultativo
É a faculdade legal que autoriza qualquer do povo a efetuar ou não a prisão em
flagrante. Está abrigado na primeira parte do artigo 301 do CPP.

Flagrante preparado ou provocado


É aquele em que só na aparência há crime. A autoridade contribui com a situação
para que o delito ocorra, instigando ou induzindo o acusado a cometer o crime para ser
flagrado. Segundo Damásio de Jesus (1988, p. 176), “ocorre crime putativo por obra
do agente provocador quando alguém provoca o agente à prática do crime, ao tempo
que cuida para que o mesmo não se consuma”. Por exemplo, policial disfarçado solicita
drogas a traficante que não a tem em mãos e, quando ele a consegue e a entrega, pren-
de-o em flagrante.

STF, N. 145. Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível
a sua consumação.

Flagrante esperado
Sabendo o agente policial, pelas investigações, que o delito vai ocorrer, aguarda
no local adequado, e, na hora H, realiza a prisão em flagrante.

Flagrante prorrogado ou retardado


Previsto na Lei do Crime Organizado (Lei 9.034/95). Nesse flagrante, a autori-
dade policial tem a faculdade de aguardar, do ponto de vista da investigação criminal,
o momento mais adequado para realizar a prisão, ainda que sua atitude implique na
postergação de sua atuação.

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Flagrante forjado
É aquele armado, fabricado. Por exemplo, um policial coloca, sorrateiramente, o
produto de um furto na residência de alguém e o prende sob alegação de receptador. Nes-
se caso, não há crime por parte dos flagrados, e sim pelo agente que forjou o flagrante.

Flagrante nas várias espécies de crime


■■ Crime permanente: a prisão reveste-se de flagrância, enquanto persistir a per-
manência.

■■ Crime habitual: não cabe prisão em flagrante.

■■ Crime de ação penal privada e pública condicionada: deverá o ofendido autori-


zar a lavratura do auto ou confirmá-la no prazo de entrega da nota de culpa.

■■ Crime continuado: existem várias ações independentes, sobre as quais incide,


isoladamente, a possibilidade de se efetuar a prisão em flagrante.

Sujeitos do flagrante
■■ Sujeito ativo: é aquele que efetua a prisão.

O chamado condutor é a pessoa que apresenta o preso na delegacia, nem sempre


correspondendo com aquele que efetivou a prisão.

■■ Sujeito passivo: é aquele detido em situação de flagrância.

Autoridade “competente”
A autoridade policial da circunscrição onde foi efetuada a prisão é, via de regra,
a competente. Se no local onde foi efetuada a prisão não houver autoridade policial,
o capturado deve ser apresentado à do lugar mais próximo (CPP, art. 308).

Outras autoridades, em determinadas situações e no exercício de suas atribui-


ções, também podem lavrar o auto de prisão em flagrante. Por exemplo, juiz de Direito,
no exercício de suas atribuições, quando o ato for praticado em sua presença ou contra ele.

Prazo para lavratura do auto


A autoridade tem o prazo de 24 horas para encerrar o auto de prisão em flagrante,
quando deverá entregar ao acusado a nota de culpa.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Nota de culpa (CPP, art. 306)


É a peça que comunica ao preso o motivo da prisão, a identidade de quem o pren-
deu e faz o relato do fato criminoso que lhe está sendo imputado.

Etapas do auto de prisão em flagrante (CPP, art. 304)


■■ A autoridade, antes de lavrar o auto, deve comunicar à família do preso ou
pessoa por ele indicada a ocorrência da prisão.
■■ Oitiva do condutor.
■■ Oitiva das testemunhas.
■■ Oitiva da vítima, quando possível.
■■ Interrogatório do preso.
■■ O escrivão lavra e encerra o auto que deve ser assinado por todos.
■■ É dada a nota de culpa (CPP, art. 306, §2.º) ao preso, 24 horas após a prisão.
■■ O preso passa recibo da nota de culpa (CPP, art. 306, §2.º).

No caso de testemunha ou o ofendido se recusarem ou não puderem assinar o


auto, vide artigo 216 do CPP; se for o acusado, vide CPP, artigo 304, parágrafo 3.º.

A autoridade, uma vez encerrado o auto de prisão em flagrante, e se das declara-


ções prestadas não defluir fundadas suspeitas contra o preso, poderá relaxá-lo.

A falta de testemunhas do fato delituoso não impede a lavratura do flagrante.


Nesse caso, tem aplicação o artigo 304, parágrafo 2.º, do CPP.

Caso se deixe de entregar a nota de culpa ao preso, há hipótese de relaxamento


da prisão.

É fundamental ao estudante identificar as espécies de flagrante, distinguindo os


que são válidos e os que não são, pois a prisão em flagrante ilegal deve ser relaxada, não
podendo subsistir.

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Prisão preventiva e prisão
temporária (Lei 7.960/89)

Nestor Távora

Prisão preventiva

Conceito
É uma prisão cautelar de natureza processual. Pode ser decretada pelo juiz, du-
rante o inquérito policial ou processo criminal antes do seu trânsito em julgado, sempre
que presentes os requisitos legais e os motivos autorizadores. Por ser medida de natureza
cautelar, só se sustenta se presentes a fumaça do bom direito e o perigo da demora.

Pressupostos
Doutrinadores de estirpe identificam os pressupostos como sendo a prova da ma-
terialidade (existência) do crime e os indícios suficientes da autoria que, uma vez presen-
tes, dão azo ao requisito do fumus boni juris.
■■ A prova da existência do crime: a materialidade delitiva deve estar devidamente
comprovada para que o cerceamento cautelar seja autorizado.
■■ Os indícios suficientes da autoria: basta que existam indícios fazendo crer ser o
indivíduo suspeito o autor da infração penal. Não é necessário haver prova robusta,
somente indícios.

As hipóteses de decretação
As hipóteses de decretação da preventiva, que se consubstanciam no periculum in
mora, são (CPP, art. 312):
■■ Garantia da ordem pública – a decretação da preventiva, com base nesse
fundamento, objetiva evitar que o agente continue delinqüindo no transcorrer
da persecução criminal.
■■ Conveniência da instrução criminal – tutela-se a livre produção probatória,
impedindo que o agente destrua provas, ameace testemunhas etc.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■■ Garantia de aplicação da lei penal – evita-se aqui a fuga do agente, impedindo


o sumiço do autor do fato, que deseja eximir-se de uma eventual condenação.

■■ Garantia da ordem econômica – hipótese acrescentada ao Código de Proces-


so Penal (CPP) pela Lei 8.884/94 (Lei Antitruste), visando coibir os abusos à
ordem econômica.

Decretação da preventiva (CPP, art. 311)


Mediante despacho fundamentado, pode o juiz decretar a prisão preventiva: de
ofício; atendendo a requerimento do Ministério Público (MP) ou do querelante; ou pro-
vocado por representação da autoridade policial (seguida de manifestação do MP).

Condições de admissibilidade (CPP, art. 313)

Para os crimes dolosos, é admitida:


■■ naqueles punidos com reclusão;

■■ nos punidos com detenção, se o indiciado for vadio ou não fornecer elementos
sobre sua identidade;

■■ quando o réu já foi condenado por crime doloso, sendo aplicável a prescrição da
reincidência (CP, art. 64, I).

Fundamentação
O artigo 315 do CPP exige fundamentação no despacho que decreta a medida
prisional. Tal exigência decorre também do princípio constitucional da motivação das
decisões judiciais (CF, art. 93, IX).

Revogação
Verificando, no decorrer da persecução criminal, a falta dos motivos autorizado-
res, o juiz poderá revogar a prisão preventiva (CPP, art. 316). Todavia, uma vez novamen-
te presentes os permissivos legais, nada obsta a que o juiz a decrete novamente.

■■ Apresentação espontânea: se o indivíduo se apresenta voluntariamente à au-


toridade, pode ser decretada sua prisão preventiva. Isso não ocorre no caso do
flagrante, pois a apresentação espontânea não caracteriza o flagrante (CPP,
art. 317).

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93

■■ Preventiva versus excludentes de ilicitude: se pela análise dos autos percebe-se


que o agente atuou sob o manto de uma excludente de ilicitude (CP, art. 23), a
preventiva não será decretada (CPP, art. 314).

Prisão temporária (Lei 7.960/89)

Conceito
Segundo o professor Fernando Capez (2001, p. 237), trata-se de “prisão cautelar
de natureza processual destinada a possibilitar as investigações a respeito de crimes gra-
ves, durante o inquérito policial”.

Decretação
Em face do disposto no artigo 2.º da Lei 7.960/89, somente pode ser decretada
pela autoridade judiciária (juiz de Direito), mediante representação da autoridade policial
ou de requerimento do MP.

Não pode ser decretada de ofício pelo juiz.

Cabimento
Só pode ser decretada nas situações previstas pelo artigo 1.º da Lei 7.960/89,
quais sejam:

■■ imprescindibilidade para as investigações do inquérito (I);

■■ indiciado não tem residência fixa ou não fornece elementos para sua identifi-
cação (II);

■■ nos crimes graves, tratados no inciso III, tais quais: homicídio doloso, se-
qüestro, estupro, atentado violento ao pudor, extorsão, extorsão mediante
seqüestro etc.

Prazos
■■ Geral (Lei 7.960/89, art. 2.º): cinco dias, prorrogável por mais cinco dias em
caso de comprovada e extrema necessidade.

■■ Nos crimes hediondos, tráfico, terrorismo e tortura (Lei 8.072/90, art. 2.º,
§4.º): o prazo da prisão temporária é de 30 dias, prorrogável por mais 30 dias,
em caso de comprovada e extrema necessidade.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Procedimento (Lei 7.960/89, art. 2.º)


■■ Provocação da autoridade policial, mediante representação (ouvido o MP), ou
requerimento do MP.
■■ O juiz tem 24 horas para, em despacho fundamentado, decidir sobre a prisão.
■■ Decretada a prisão, o mandado será expedido em duas vias, sendo que uma
delas, que será entregue ao preso, serve como nota de culpa.
■■ Efetuada a prisão, a autoridade policial informará ao preso do seu direito de
ficar calado (CF, art. 5.º, LXIII).
■■ Decorrido o prazo legal (cinco ou 30 dias, conforme o caso), o preso deve ser
posto imediatamente em liberdade, a não ser que sua prisão preventiva tenha
sido decretada.
■■ Atenção:
■■ O preso temporário deve permanecer separado dos demais detentos (Lei
7.960/89, art. 3.º).
■■ Ao decretar a prisão, o juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento
do MP ou do advogado, que ao preso seja apresentado, solicitar informações
à autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito.

As prisões de natureza cautelar, a exemplo da preventiva e da temporária, são


medidas restritivas que só podem ser decretadas quando essencialmente necessárias à
persecução, devendo o aluno ter o cuidado de identificar as hipóteses de cabimento e
peculiaridades de cada uma, sendo que, se os motivos autorizadores da decretação da
prisão preventiva não mais estiverem presentes (art. 312), a mesma deve ser revogada.

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Liberdade provisória

Nestor Távora

Conceito
É um estado de liberdade, circunscrito em condições e reservas, que substitui a
custódia provisória, atual ou iminente, com ou sem fiança, nas hipóteses de flagrante
(CPP, arts. 301 a 310) e de prisão decorrente de sentença condenatória recorrível. Não
obstante seja um benefício acompanhado de compromissos e condições, deve ser sempre
concedido, salvo se houver fundadas razões para se segregar o acusado ou indiciado.

Espécies
Obrigatória
Trata-se de direito incondicional do acusado, quando este se livra solto, de acordo
com as hipóteses do Código de Processo Penal (CPP), insculpidas no artigo 321, I e II,
ressalvado o disposto no artigo 323, III e IV.

Permitida
Quando não couber prisão preventiva, e desde que preenchidos os requisitos le-
gais, com ou sem fiança.

Vedada
Quando couber prisão preventiva e nas hipóteses em que a lei estabelecer expres-
samente a proibição.

Liberdade provisória sem fiança


Sem vinculação
Ocorre naquelas situações em que a liberdade provisória será concedida compul-
soriamente. Cabível quando o réu se livra solto. Art. 321 (ressalvado o disposto no art.
323, III e IV); não está prevista pena privativa de liberdade, ou, caso prevista, o máximo
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

não excede a 3 meses; não sendo caso de aplicar a Lei 9099/95, o acusado deve ser posto
em liberdade logo após a lavratura do auto de prisão em flagrante (art. 309).

Artigo 301 do Código de Trânsito Brasileiro: hipótese de liberdade provisória sem


fiança e sem vinculação.

Com vinculação
É a liberdade provisória condicionada, apesar de não exigir fiança. Nela são im-
postas restrições ao beneficiário. Vejamos as hipóteses.

Nas excludentes de ilicitude (art. 310, caput)


Cabível tanto nos crimes afiançáveis quanto nos inafiançáveis e após a oitiva do
Ministério Público (MP), quando, pela apreciação do auto de prisão em flagrante, o ma-
gistrado conclui que o agente atuou sob o manto de uma excludente de ilicitude. Nesse
caso, o juiz, ao conceder fundamentadamente o benefício, manda lavrar o termo de com-
parecimento do acusado a todos os atos da persecução criminal.

Note que o legislador restringiu o benefício às hipóteses do artigo 23 do Código


Penal. Todavia, a melhor doutrina defende que se aplica também às excludentes de ilici-
tude previstas na parte especial, e às dirimentes (excludentes de culpabilidade).

Inexistência de hipótese autorizadora da prisão preventiva


(CPP, art. 310, parágrafo único)
Ocorre quando o magistrado, pela apreciação do auto de prisão em flagrante, ve-
rifica a inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizariam a decretação da prisão
preventiva. Nesse caso, por não se justificar o cerceamento cautelar, oportuniza-se então
a liberdade provisória, com o beneficiário assinando termo de comparecimento a todos
os atos da persecução, sob pena de revogação da mesma.

Observações
■■ Vide as vedações da Lei do Crime Organizado (Lei 9.034/95, arts. 7.° e 9.°).

■■ A Lei 8.035/90 alterou o artigo 325 do CPP, vedando a aplicação do artigo


310, parágrafo único, nos crimes contra a economia popular e de sonegação
fiscal. Neles, é exigida fiança.

■■ Da concessão da liberdade provisória sem a prestação de fiança cabe o Re-


curso em Sentido Estrito, com fundamento no artigo 581, V, do CPP. Já a
denegação não comporta recurso e sim habeas corpus.

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Liberdade provisória com fiança


(fidare = “confiar em alguém”)

Conceito de fiança
É a garantia real de cumprimento das obrigações processuais do réu. Não existe
mais fiança fidejussória no processo penal comum.

Objetivos da fiança
Busca obter a presença do réu no processo, o pagamento das custas, do dano e da
possível multa. É direito subjetivo constitucional e sua violação constitui constrangimen-
to ilegal sanável pelo remédio heróico do habeas corpus, além de se constituir em abuso
de autoridade.

Valor da fiança (art. 325)


Hodiernamente, como não mais existe o Bônus do Tesouro Nacional, por analo-
gia, por inexistência de lei expressa, o valor da fiança deve ser calculado de acordo com
o disposto no artigo 2.° da Lei 7.843/89, combinado com o artigo 3.°, parágrafo único, da
Lei 8.177/91, e com base na Taxa Referencial do primeiro dia de cada mês.

Modalidades de fiança
Por depósito e por hipoteca, desde que inscrita, em primeiro lugar.

O arbitramento da fiança (art. 326)


Leva em conta a natureza da infração, condições pessoais de fortuna e vida pre-
gressa do acusado, circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a impor-
tância provável das custas, até o fim do processo.

O reforço da fiança
Revela-se necessário quando a fiança for insuficiente, ocorrer a depreciação ma-
terial ou perecimento de bens hipotecados ou caucionados, depreciação dos metais ou
pedras preciosas, ou quando for inovada a classificação do delito.

Da decisão que exige o reforço, cabe Recurso em Sentido Estrito. Em não sendo
reforçada, é tida por inidônea a fiança e tornada sem efeito. O reforço pode ser determi-
nado de ofício pela autoridade, em qualquer caso.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

A dispensa da fiança (art. 350)


O professor Mirabete (2004) advoga que é faculdade judicial. Doutrinadores ou-
tros entendem que a faculdade judicial o deixa de ser em face da pessoa realmente pobre.
Uma vez comprovada a condição de pobreza, o juiz não pode negar o benefício da dispensa,
porque tal seria uma injustiça praticada contra o hipossuficiente.

As obrigações do afiançado (CPP, arts. 327, 328 e 341)


Comparecimento perante a autoridade, toda vez que for intimado para os atos do
inquérito e da instrução; impossibilidade de mudar de residência sem prévia permissão
da autoridade competente; proibição de ausentar-se por mais de oito dias de sua residên-
cia sem comunicar àquela autoridade o lugar em que poderá ser encontrado; não praticar
mais infrações penais. O descumprimento das obrigações leva ao quebramento da fiança.

O acusado e o terceiro que por ele prestou fiança, com a lavratura do termo, são
notificados das obrigações impostas e das sanções previstas.

O momento para a concessão da fiança


Pode ser concedida em qualquer fase do inquérito policial ou do processo; pode
ser concedida de ofício, ou a requerimento do interessado ou de terceiro. Uma vez re-
querida, o juiz deve decidir em 48 horas. Uma vez arbitrada a fiança, se estiver em anda-
mento o inquérito policial, será prestada perante a autoridade policial. Nas prisões por
mandado, pode ser concedida pelo juiz ou pela autoridade policial (para essa autoridade,
nos limites do CPP, art. 322).
■■ A concessão da fiança independe da oitiva do MP.
■■ A autoridade policial somente pode conceder fiança nos casos de detenção ou
prisão simples (CPP, art. 322).
■■ O habeas corpus é meio idôneo para forçar o juiz a arbitrar a fiança.
■■ Os valores serão recolhidos à repartição arrecadadora federal.
■■ A lei determina que os juízos e as delegacias tenham um livro especial para
registrar os termos de abertura e encerramento da fiança.

A cassação da fiança
É cabível diante de concessão ilegal de fiança. Com efeito, a autoridade pode in-
correr em equívoco e conceder o benefício quando a lei não o permite para o caso. Assim,
resta à mesma, ou à autoridade superior, promover a imediata cassação. Nesse sentido,

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101

as hipóteses do artigo 338 (reconhecimento como incabível) e do artigo 339 (reconhe-


cimento da existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classificação do
delito).

Da decisão que cassa a fiança cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, V).

O quebramento da fiança
Ocorre nas hipóteses legais em que o beneficiário, depois de obtida a fiança, per-
de-a em virtude do descumprimento dos ônus processuais estabelecidos nos artigos 327,
328 e 341. Da decisão judicial que reconhece a quebra cabe Recurso em Sentido Estrito,
com fundamento no artigo 581, VII.

São conseqüências do reconhecimento definitivo da quebra: perda da metade do


valor da fiança; impossibilidade de obter nova fiança no mesmo processo (art. 324, I);
expedição de mandado de prisão; julgamento à revelia.

A perda da fiança
É uma punição aplicada ao réu condenado que quebra a confiança e não se apre-
senta à prisão depois de expedido o mandado. A punição implica a perda do valor integral
da fiança (art. 345).

Vistos os aspectos pertinentes à fiança, deve o examinando atentar para os casos


de inafiançabilidade, haja vista que, não vedando a lei, poderá o advogado pleitear o be-
nefício. Com efeito, são situações de inafiançabilidade:
■■ aquelas previstas na Constituição Federal, artigo 5.º, XLII, XLIII e XLIV;
■■ aquelas relacionadas nos artigos 323 e 324 do CPP, quando a natureza ou gravidade
do crime ou condições pessoais do agente impeçam a fiança;
■■ a Súmula 81 do Superior Tribunal de Justiça: “Não se concede fiança quando, em
concurso material, a soma das penas mínimas cominadas for superior a dois
anos de reclusão”.

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Teoria geral das provas
(CPP, arts. 155 a 157)

Vilmar Velho Pacheco Filho

Introdução
Inicialmente, é importante ressaltarmos que o Título VII, do Livro I, do Código
de Processo Penal (CPP), que se refere à Prova, sofreu uma série de alterações em face da
vigência das Leis 11.690, de 09/06/2008 e 11.900, de 08 de janeiro de 2009.
Essas modificações dizem respeito, especialmente, a quatro aspectos:
1) teoria geral das provas, por exemplo, no que se refere às provas ilícitas;
2) procedimento da prova pericial;
3) interrogatório do acusado; e
4) rito da prova testemunhal.

Conceito
Prova é todo e qualquer elemento que tem como finalidade demonstrar a existên-
cia e veracidade de um fato, para influenciar o convencimento do magistrado.

Objeto “da” prova e objeto “de” prova


Alguns doutrinadores costumam conceituar o objeto “da” prova como sendo o
seu objetivo, a sua finalidade, ou seja, formar o convencimento do julgador sobre os ele-
mentos necessários e importantes para a decisão da causa.
Objeto “de” prova, de outra sorte, são todas as circunstâncias e fatos que preci-
sam ser comprovados para que o magistrado possa julgar.

Fatos que não precisam ser comprovados


Alguns fatos e circunstâncias não têm necessidade de serem objeto “de” prova,
ou seja, não precisam ser comprovados ao magistrado, pois já são de seu conhecimento
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

e deles já está devidamente convencido. Podemos citar como exemplos, os fatos notórios
(ex.: EUA têm a guerra como pretexto da incessante busca da liberdade), os fatos inúteis,
os fatos intuitivos ou evidentes (ex.: a queda de um avião amplamente comentada por
toda imprensa nacional), presunções legais absolutas e o direito (salvo leis municipais,
estaduais, estrangeiras, normas administrativas e costumes), também não dependem de
prova.

De outro lado, as presunções legais relativas necessitam ser comprovadas, pois


admitem prova em contrário.

Fonte de prova
É tudo aquilo que possa indicar fatos ou circunstâncias úteis ao processo e que
necessitam de comprovação, como por exemplo, uma defesa prévia apresentada pelo de-
fensor, que pode não ser meio de prova ou elemento de prova, mas dá indicações importantes
que precisarão ser comprovadas durante o andamento do processo.

Meio de prova
É aquilo que direta ou indiretamente pode servir para comprovar ao juiz a exis-
tência e a veracidade de um fato, como testemunhas, depoimento da vítima, declarações
do réu, perícias, documentos etc.

Elementos de prova
São os fatos e circunstâncias em que repousa a convicção do juiz (MANZINI, apud
TOURINHO FILHO, 2009, p. 524).

Prova emprestada
É toda aquela que foi produzida em um processo e poderá ser utilizada em outro.
Obviamente, a prova emprestada precisará passar pelo crivo do contraditório e da ampla
defesa, sob pena de perder sua validade. Além do mais, exige a doutrina que sejam as
mesmas partes, tenha ligação com o mesmo fato ou circunstância probatória e tenha no
processo originário seguido os ditames formais previstos na legislação brasileira.

Liberdade probatória
A legislação processual penal pátria não faz restrição quanto aos meios de prova
que podem ser produzidos no processo, a não ser quanto ao estado das pessoas, para o

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105

qual o artigo 155, parágrafo único, do CPP, determina que seja seguida a legislação cível.
Assim, a maioridade penal e o casamento deverão ser comprovados com a certidão de
nascimento ou carteira de identificação e certidão de casamento originais.

Portanto, conclui-se que qualquer meio de prova poderá ser utilizado no processo
para influenciar o convencimento do magistrado, ainda que não esteja previsto na legis-
lação brasileira, desde que não seja considerada uma prova proibida, que para a doutrina
será prova ilícita ou prova ilegítima.

Provas inadmissíveis
Conforme vimos acima, todo meio de prova será admitido, salvo os considerados
proibidos, vedados pelo legislador, como a prova ilícita e a prova ilegítima.

A Constituição Federal (CF), no artigo 5.º, inciso LVI, ensina:

Art. 5.º [...]


LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

A Lei Maior ao tratar das provas inadmissíveis, o faz referindo-se exclusivamente


às provas ilícitas. Porém, a doutrina nacional distingue nitidamente as provas ilícitas das
provas ilegítimas.

Provas ilícitas são aquelas obtidas em desconformidade com alguma regra ou ga-
rantia constitucional ou material, como por exemplo, uma confissão obtida mediante
tortura ou através de uma violação ao domicílio do réu, tendo em vista contrariar direta-
mente o que prevê o artigo 5.º, nos incisos III e XI.

Provas ilegítimas são as produzidas no processo contrariando alguma regra ou


garantia processual, como a prova nova juntada aos autos em plenário, durante o julga-
mento do tribunal do júri e não com até 3 (três) dias de antecedência conforme prescreve
o artigo 479 do CPP.

Não apenas as provas ilícitas são inadmissíveis, como também as denominadas


provas ilícitas por derivação, que são aquelas que embora não tenham sido obtidas ilici-
tamente, apenas foram alcançadas porque se valeram de alguma circunstância fática ou
informação obtida com a prova ilícita. Ex.: através de uma interceptação telefônica feita
sem autorização judicial (prova ilícita, pois contraria o artigo 5.º, XII, da CF), os policiais
tomam conhecimento de onde encontram-se guardados os documentos comprobatórios
do crime de falsificação, vão ao locam e os apreendem. Nessa hipótese, não só a apre-
ensão dos documentos é ilícita por derivação, como os policiais deverão responder por
crime descrito no artigo 10, da Lei 9.296/96, Lei das Interceptações.

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A conseqüência da apreciação e valoração de uma prova inadmissível é que o


magistrado deverá desentranhá-la do processo, conforme ensina o artigo 157 do CPP.
Vejamos:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§1.º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não eviden-
ciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser
obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§2.º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e
de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
objeto da prova.
§3.º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será
inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.

Ônus da prova
A obrigação de provar é da parte que fez a alegação. O ônus da prova é de quem
alega.

Ensina o artigo 156 do Código de Processo Penal:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz
de ofício:
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consi-
deradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida;
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de dili-
gências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Procedimento probatório
O procedimento dos sujeitos processuais em relação às provas deve seguir 4 (qua-
tro) momentos:
1) proposição ou indicação da prova, que no Processo Penal brasileiro, como re-
gra, se dá para o autor da ação penal no momento do oferecimento da denúncia
pelo Ministério Público (MP) ou da queixa-crime para o querelante, nos casos
de ação penal pública e privada, respectivamente (CPP, art. 41). Para os acu-
sados, como regra o momento da indicação da prova se dá na apresentação da
defesa escrita (CPP, art. 396-A) e para o julgador, a qualquer tempo, em busca
da verdade (CPP, art. 404);

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2) admissão, quando o magistrado ao despachar acerca do oferecimento da peça


acusatória e da resposta à acusação;

3) produção da prova, que dependerá do tipo de meio de prova requerido pe-


las partes ou determinado de ofício pelo magistrado. Prova documental, por
exemplo, a regra geral é de que poderá ser juntada aos autos a qualquer mo-
mento, enquanto a testemunhal será produzida apenas em audiência;

4) valoração da prova, que é feita pelo magistrado no momento da sentença e pelo


órgão colegiado nos casos de ação penal originária dos tribunais no momento
do acórdão.

Sistemas de apreciação da prova


Muitos são os sistemas de valoração das provas durante o transcorrer e a evolução
dos tempos, porém, atualmente, os mais seguidos são:

■■ sistema da íntima convicção ou da prova livre – que ensina que o julgador


pode atribuir às provas o valor que bem entender, não tendo necessidade de
fundamentar a sua convicção, podendo, inclusive, julgar em conformidade com
o conhecimento ou intuição particular que tenha a respeito do caso, ainda que
não estejam presentes nos autos do processo. No Brasil, adota-se esse sistema
de apreciação da prova nos casos afeitos a julgamento perante o Tribunal do
Júri, conforme prevê o artigo 5.º, inciso XXXVIII, alínea “c”, da CF;

■■ sistema da prova legal ou tarifado – entende de forma diametralmente opos-


ta ao sistema da íntima convicção do juiz ou prova livre, pois vem a abolir
qualquer tipo de valoração que não seja a determinada em lei. Nesse sistema,
o legislador chega ao ponto de, em algumas oportunidades, dizer qual o valor
que o magistrado deverá atribuir a determinada prova. O nosso CPP, no arti-
go 62, exige que a prova da morte do indiciado ou do réu se dê tão-somente
através da certidão de óbito, da mesma forma que no artigo 158 determina-se
a realização de exame de corpo de delito quando o crime deixar vestígios, sob
pena de nulidade do processo, forte no artigo 564, III, “b” do mesmo instru-
mento legal;

■■ sistema do livre convencimento motivado do juiz ou persuasão racional


– é aquele no qual o magistrado analisando as provas produzidas no processo
fundamentará para demonstrar a sua convicção. Nesse sistema o juiz poderá
valorar a prova livremente, desde que esteja ela produzida nos autos e o faça
fundamentadamente. Assim, caso o magistrado tenha conhecimento do fato
ou de alguma circunstância ainda não trazida aos autos e nem requerida a pro-

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dução por autor ou réu, o legislador prevê a oportunidade de ser determinada a


realização da prova de ofício pelo juiz, até mesmo antes de iniciar a ação penal
– artigo 156, incisos I e II, do CPP, além do artigo 404 do mesmo código. Esse
é o sistema adotado pelo legislador pátrio, não apenas pelo que se observa do
artigo 155 do CPP, como também pelo artigo 93, IX, da CF, que preceituam,
respectivamente:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos ele-
mentos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.

Art. 93. [...]

IX - todos os julgamentos dos órgãos do poder judiciário serão públicos, e fundamen-


tadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos
nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique
o interesse público à informação.

Princípios relativos à prova


■■ Princípio do contraditório: toda prova realizada por uma das partes admite
contraprova da outra parte.

■■ Princípio da comunhão: a prova trazida aos autos deixa de ser da parte que a
produziu e passa a ser do processo.

■■ Princípio da oralidade: dentro do possível as provas devem ser produzidas


oralmente, buscando, dentre outras circunstâncias, a celeridade do processo e
a imediatidade do magistrado com as provas.

■■ Princípio da auto-responsabilidade das partes: a parte que tem o ônus da


prova deverá fazê-lo, sob pena de responsabilizar-se pela omissão. Por exemplo,
se o MP não comprovar o que alega, o magistrado deverá absolver o acusado.

■■ Princípio da não auto-incriminação: neno tenetur se detegere, também conhe-


cido por princípio da inexigibilidade de produção de prova contra si, até mesmo
porque compete à acusação provar o que alega, o que faz com que o acusado
não tenha necessidade nem de provar sua inocência e nem mesmo de produzir
provas que possam atentar contra a sua liberdade. Assim, pode recusar-se a dar
sua versão sobre o fato que isso não poderá causar-lhe qualquer tipo de prejuí-
zo. Tal princípio está inserido no artigo 186 do CPP e 5.º, LXIII, da CF.

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É importante apreender bem as provas inadmissíveis bem como os princípios


referentes às provas e à ausência de hierarquia entre elas, em face da relativização delas e
da persuasão racional do juiz do sistema do livre convencimento motivado.

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Provas em espécie
(CPP, arts. 155 a 157)

Vilmar Velho Pacheco Filho

Prova pericial

Introdução e conceito
O Código de Processo Penal (CPP), entre os artigos 158 e 184, dispõe acerca do
exame de corpo de delito e das perícias em geral. O mais relevante, sem dúvida, foram
as alterações trazidas pela Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, razão pela qual nos refe-
riremos mais sobre aspectos pontuais modificados pelo legislador, trazendo, em muitas
ocasiões, os dispositivos legais descritos integralmente.

A perícia é a prova realizada por um profissional, um expert, por uma pessoa com
conhecimentos técnicos e específicos acerca do objeto de prova para auxiliar o julgador
na formação de sua convicção.

Que há a necessidade de realização de exame de corpo de delito, direto ou indi-


reto, quando o crime deixar vestígios, não resta dúvida pois já vinha previsto no artigo
158 do CPP. Agora o que muda é em relação à realização da prova pericial, não apenas
quanto ao número de experts para a realização do exame como também em relação ao
procedimento e até mesmo à possibilidade de assistência técnica.

Exame de corpo de delito, outras perícias e perito(s)


Ensina o artigo 159, no caput, §§ 1.º e 2.º do CPP:

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.
§1.º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, por-
tadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que
tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
§2.º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o
encargo.

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Assistência técnica
Inovação importante trazida pelo legislador ao CPP é em relação à assistência
pericial, quando nos parágrafos 3.º e 4.º do mesmo artigo 159, ensina:

Art. 159. [...]


§3.º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
§4.º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão
dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta
decisão.

Outras diligências das partes


em relação à prova pericial
Não apenas a possibilidade de assistência técnica foi inserida pelo legislador como
também a previsão de outras diligências que as partes poderão tomar em relação aos
peritos e às provas periciais, como prevê o mesmo artigo 159 nos parágrafos 5.º a 7.º do
CPP. Vejamos:

Art. 159. [...]


§5.º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:
I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respos-
tas em laudo complementar;
II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado
pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.
§6.º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia
será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na
presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua
conservação.
§7.º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento es-
pecializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar
mais de um assistente técnico.
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela autoridade ao diretor da re-
partição, juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos.
Art. 179. No caso do §1.º do art. 159, o escrivão lavrará o auto respectivo, que será assina-
do pelos peritos e, se presente ao exame, também pela autoridade.
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, que poderá ser datilogra-
fado, será subscrito e rubricado em suas folhas por todos os peritos.

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Procedimento da prova pericial


A partir do artigo 160 o legislador nos ensina o procedimento da prova pericial,
com relação ao momento da sua realização, bem como quanto à elaboração do laudo e
aos prazos. Vejamos.

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados.

Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo
este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.

Perícias específicas
O CPP, a partir do artigo 162 trata especificamente sobre uma série de exames
periciais. Vejamos:

Autópsia
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos,
pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver,
quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem
precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de
alguma circunstância relevante.

Exumação de cadáver
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para
que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.

Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da se-


pultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a
sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade
procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.

Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados,
bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local
do crime.

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Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível,
juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente ru-
bricados.
Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reco-
nhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela
inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual
se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos
encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

Lesões corporais
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciá-
ria, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de
seu defensor.
§1.º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de
suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§2.º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, §1.º, I, do Códi-
go Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
§3.º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Exame do local do crime


Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autorida-
de providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada
dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas
elucidativos.
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e dis-
cutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Perícias laboratoriais
Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a even-
tualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Perícia de arrombamento
Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração
da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com
que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

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Avaliação de coisas
Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas
ou que constituam produto do crime.

Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por


meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

Perícia em incêndio
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver come-
çado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão
do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Perícia em escritos
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-
se-á o seguinte:

I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se
for encontrada;
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer
ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenti-
cidade não houver dúvida;
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que exis-
tirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí
não puderem ser retirados;
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a
autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa,
mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se con-
signarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Perícia nos instrumentos do crime


Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a
fim de se Ihes verificar a natureza e a eficiência.

Exame de corpo de delito indireto


Conforme vimos anteriormente, da combinação dos artigos 158, 167 e 564, III,
“b”, do CPP, nos crimes que deixam vestígios é imprescindível a realização de perícia
para a comprovação da materialidade do delito sob pena de nulidade absoluta do pro-
cesso. Porém, em algumas oportunidades, por uma série de circunstâncias, os vestígios
desaparecem. Ainda que tenham desaparecido os vestígios, impossibilitando a realiza-
ção de um exame de corpo de delito diretamente pelo perito, haverá a necessidade da

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realização do exame de corpo de delito, mas dessa vez realizado de forma indireta, ou
seja, através das declarações de testemunhas o perito elaborará o laudo pericial. É o que
ensina o artigo 167 do CPP.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Perícia por carta precatória


Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado.
Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser
feita pelo juiz deprecante.
Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão transcritos na precatória.

Divergência entre peritos


Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as
declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo,
e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá man-
dar proceder a novo exame por outros peritos.

Vício formal da prova pericial ou do laudo


Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades
ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
esclarecer o laudo.
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.

Livre apreciação judicial ao laudo pericial


Como tivemos a oportunidade de estudar anteriormente, o magistrado tem a livre
apreciação da prova desde que o faça fundamentadamente. Esse foi o sistema de valo-
ração probatória adotado pelo legislador brasileiro para todas as provas, obviamente,
também para a pericial. Ainda que feita por um profissional com conhecimentos espe-
cíficos acerca do objeto periciado, o julgador não fica vinculado à conclusão do laudo
pericial, pois se ficasse estaríamos diante de uma verdadeira “ditadura do laudo pericial”,
na qual o juiz então, praticamente estaria deixando para um perito emitir, em muitas
oportunidades, o juízo condenatório ou absolutório, o que seria absurdamente contrário
à Constituição Federal.

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Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou
em parte.
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a
perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

Interrogarório do acusado

Introdução e conceito
O interrogatório do acusado, descrito entre os artigos 185 e 196 do CPP, sofreu
uma série de alterações através da Lei 11.900, de 08 de janeiro de 2009, especialmente
sobre a possibilidade de realização no próprio presídio onde estiver recolhido e também
através do polêmico sistema de videoconferência.

Como sabemos o interrogatório do acusado é considerado pela doutrina e pelos


tribunais tanto um meio de defesa, tendo em vista que é o momento no qual pode exercer
seu direito de defesa pessoalmente, como também meio de prova, pois o magistrado, em
busca da verdade real, busca a confissão do acusado.

Interrogatório de réu preso


A primeira inovação trazida pelo legislador no início do ano de 2009 se dá em
relação ao interrogatório de réu preso, que deverá realizar-se no próprio estabelecimento
prisional. Ensina o artigo 185, §1.º, do CPP:

Art. 185. [...]


§1.º O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em
que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do
Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade
do ato.

Interrogatório do acusado por videoconferência


Nos últimos anos foi muito debatido acerca da possibilidade e viabilidade da re-
alização de atos processuais, em especial de interrogatórios dos acusados através de
meios tecnológicos, especialmente por videoconferência. As razões eram as mais va-
riadas, sendo as favoráveis, como economia para o Estado a longo prazo, em razão da
desnecessidade de utilização de servidores para transportar o preso ao foro, bem como a
diminuição de despesas com viaturas, combustível, de aparatos de segurança no trans-
porte, diminuição dos riscos de fuga, agilização do ato processual etc. De outra sorte,
uma série de razões contrárias como alto investimento financeiro para a implantação do

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sistema tecnológico em todo o país, aumento da segurança dos presídios para que advo-
gados e servidores do judiciário possam comparecer para a realização do ato, e uma série
de outras, mas, a principal delas, sem dúvida, era em relação à ocorrência de prejuízo ao
sagrado direito constitucional da ampla defesa, em face da mecanização de um ato pro-
cessual tão importante, que deve ser cada vez mais humanizado em busca das garantias
constitucionais de defesa técnica e pessoal.

Os Tribunais Superiores anularam uma série de processos que haviam utilizado


o interrogatório por videoconferência sob o fundamento de que ainda não havia previsão
legal para tanto, o que, no mínimo causaria prejuízo à defesa por ausência de descrição
acerca das formas e requisitos de sua realização.

Porém, com o advento da Lei 11.900/2009, será possível a realização de interroga-


tórios por videoconferência, conforme descrevem os parágrafos do artigo 185 do CPP.

Requisitos para determinação judicial


fundamentada do ato por videoconferência
Art. 185. [...]
§2.º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das
partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a
medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades:
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso
integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o desloca-
mento;
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante difi-
culdade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pes-
soal;
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja
possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste
Código;
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.

Intimação das partes


da decisão judicial e direitos da defesa
Art. 185. [...]

§3.º Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as par-


tes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência. (Incluído pela Lei 11.900/2009)
§4.º Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo
mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instru-

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119

ção e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. (Incluído pela Lei
11.900/2009)
§5.º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entre-
vista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica tam-
bém garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor
que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e
o preso. (Incluído pela Lei 11.900/2009)
§6.º A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais
por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada
causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
(Incluído pela Lei 11.900/2009)

É muito importante observar que, como o interrogatório do réu é considerado


meio de defesa, qualquer formalidade legal que não seja observada levará à nulidade do
ato e do processo a partir de então.

Requisição de réu preso para interrogatório no foro


Ensina o artigo 185, no seu §7.º, que:

Art. 185. [...]


§7.º Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o interro-
gatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1.º e 2.º deste artigo.

Extensão a outros atos processuais


No artigo 185, nos parágrafos 8.º e 9.º o legislador previu a possibilidade de pra-
ticar outros atos processuais que precisem da presença de réu preso também por video-
conferência. Vejamos:

Art. 185. [...]


§8.º Aplica-se o disposto nos §§ 2.º, 3.º, 4.º e 5.º deste artigo, no que couber, à realização
de outros atos processuais que dependam da participação de pessoa que esteja presa, como
acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada de
declarações do ofendido. (Incluído pela Lei 11.900/2009)
§9.º Na hipótese do §8.º deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato processual
pelo acusado e seu defensor.

Afora as inovações trazidas acerca do interrogatório do réu preso se realizar no


próprio estabelecimento prisional ou através de videoconferência, os demais aspectos
referentes ao interrogatório e suas formalidades permanecem sem qualquer alteração e
exatamente nos mesmos moldes dispostos entre os artigos 186 e 196 do CPP, que vêm
sendo seguidos desde a Lei 10.792, de 1.º de dezembro de 2003.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Declarações do ofendido
Introdução e conceito
O legislador brasileiro deu maior atenção e importância à participação das vítimas
no auxílio da formação da convicção da autoridade judiciária no que tange ao conjunto
probatório para a elucidação da causa.
No artigo 201 do CPP, a Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, dispôs detalhada-
mente acerca das declarações do ofendido sobre o fato, suas circunstâncias, indicações de
prova e da autoria, como também, sobre o procedimento de tal meio de prova, mas, espe-
cialmente, no que se refere à preservação de sua segurança, como avisando-o de quando
o autor entrar e sair do estabelecimento prisional, bem como dos atos processuais como
audiências, sentenças além da preservação de sua intimidade, vida privada honra, ima-
gem, possibilitando-se, inclusive, acompanhamento multidisciplinar nas áreas psicosso-
cial, assistência jurídica e à saúde, tudo às expensas do ofensor e do Estado. Vejamos:
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circuns-
tâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar,
tomando-se por termo as suas declarações.
§1.º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá
ser conduzido à presença da autoridade.
§2.º O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos
que a mantenham ou modifiquem.
§3.º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admi-
tindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.
§4.º Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço sepa-
rado para o ofendido.
§5.º Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento mul-
tidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a
expensas do ofensor ou do Estado.
§6.º O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada,
honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em rela-
ção aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para
evitar sua exposição aos meios de comunicação.

Prova testemunhal
Introdução e conceito
A prova testemunhal, disposta entre os artigos 202 e 225 do CPP, também sofreu
algumas alterações com a vigência da Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, especificamen-
te no que se refere ao procedimento.

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A testemunha é aquela pessoa estranha à relação jurídica processual que descreve


os fatos e circunstâncias que tenha conhecimento sobre a causa.

Inovações e alterações legais


referentes à prova testemunhal

Incomunicabilidade das testemunhas


Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não
saibam nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas co-
minadas ao falso testemunho.
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados
espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas.

Questionamento direto das partes às testemunhas


Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não ad-
mitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa
ou importarem na repetição de outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inqui-
rição.

Ouvida de testemunha por videoconferência


Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá
constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.

Ouvida de testemunha
por precatória ou videoconferência
Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do
lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,
intimadas as partes.
§1.º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.
§2.º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a preca-
tória, uma vez devolvida, será junta aos autos.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

§3.º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser reali-
zada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclu-
sive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento.

Testemunha por carta rogatória


Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua
imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1.º e 2.º do art. 222 deste
Código.

Imprescindível complementar os estudos descritos neste capítulo com a leitura


do Código de Processo Penal em relação aos artigos que não foram aqui citados ou co-
mentados, tendo em vista que o texto se dedica às inovações das Provas em Espécie na
legislação processual penal brasileira.

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Questões
e processos incidentes I

Nestor Távora

Questão incidente é tudo aquilo que sobrevém no curso do processo (procedimen-


to) e deve ser decidida pelo juiz antes de adentrar no mérito da causa principal. Para não
criar tumulto, são apreciadas em autos apartados, normalmente apensos ao principal.
São elas as prejudiciais, as exceções, as incompatibilidades, os impedimentos, o conflito
de jurisdição, a restituição de coisas apreendidas, as medidas assecuratórias, o incidente
de falsidade documental e o incidente de insanidade mental, previstos nos artigos 92 a
154 do Código de Processo Penal (CPP). Enfrentemos a análise delas.

Questões prejudiciais
Prejudicial significa aquilo que deve ser julgado antecipadamente. Reclamam uma
decisão prévia e são ligadas ao meritum causae. Logo, distinguem-se das preliminares,
que tratam de aspectos processuais e, uma vez reconhecidas, impedem a apreciação do
mérito. As prejudiciais caracterizam-se também por sua autonomia e pela possibilidade
ou não de serem julgadas pelo juízo criminal, ao passo que as preliminares são absoluta-
mente dependentes e sempre serão julgadas pelo juízo criminal. Por exemplo, a validade
do casamento anterior é prejudicial ao reconhecimento do crime de bigamia (CP, art.
235), pois está umbilicalmente ligada ao mérito da causa. Já a suspeição do juiz é mera
preliminar, atinente a um pressuposto processual.

Classificação
■■ Homogênea: pertence ao mesmo ramo do direito da causa principal.
■■ Heterogênea: pertence a ramo do direito distinto da causa principal.
■■ Total: assume papel fundamental na caracterização da existência do próprio
crime. Parcial: diz respeito ao reconhecimento de circunstância (qualificadora,
agravante etc.).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■■ Obrigatórias (prejudicial em sentido estrito) e facultativas (prejudicial em sen-


tido amplo): caso o juiz esteja ou não obrigado a suspender o processo para a
solução da prejudicial, reputando-a séria e fundada.
■■ Não-devolutivas e devolutivas: caso deva ou não ser solucionada na esfera cri-
minal.

Natureza jurídica
Apesar da divergência doutrinária, é forçoso reconhecer que as prejudiciais são
uma forma de conexão.

Sistemas de solução
Vistos o significado, a classificação e a natureza jurídica, vejamos como deve ser
julgada a prejudicial. Quatro são os sistemas e suas características marcantes vêm a
seguir:
■■ Predomínio da jurisdição penal – aqui argumenta-se que quem conhece a ação
conhece a exceção. Logo, o juiz criminal seria competente para decidir a pre-
judicial.
■■ Separação absoluta ou prejudicialidade obrigatória – nessa linha de pensamen-
to, mister se faz que a questão seja remetida ao juiz especializado, haja vista
que, utilizando-se o juiz criminal da decisão do cível, evitar-se-ia decisões con-
traditórias. Crítica – adotando-se tal proposição, restringe-se o livre convenci-
mento do juiz criminal, além de revitalizar-se, indiretamente, as limitações à
prova e presunções existentes na seara cível.
■■ Prejudicialidade facultativa – essa corrente propõe que a remessa ou não da
prejudicial ao juízo cível deve levar em conta a prevalência cível ou criminal
sobre a questão debatida.
■■ Misto ou eclético – adotado no Brasil, orienta que a decisão sobre as prejudiciais
pode caber tanto ao juízo cível quanto ao criminal. Depende, tão-somente, do
disciplinamento legal (CPP, arts. 92 e 93).

Prejudicial obrigatória (CPP, art. 92)


Ocorre quando o juiz repute séria e fundada questão atinente ao estado civil das
pessoas. O processo criminal ficará suspenso, juntamente com o curso do prazo pres-
cricional (CP, art. 116, I), até o trânsito em julgado da decisão no cível, sem prejuízo, na
esfera crime, da realização de providências urgentes. Vale salientar que não precisa ter
havido o início da ação cível para que ocorra a suspensão do processo criminal.

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127

Sendo o crime de ação pública, haverá intervenção do Ministério Público (MP) na


esfera cível se a ação já estiver iniciada, ou o próprio MP poderá propô-la.

Prejudicial facultativa (CPP, art. 93)


Dá-se quando o reconhecimento do crime depende do reconhecimento de ques-
tão diversa do estado das pessoas. A suspensão não é obrigatória, devendo já haver no
cível início da competente ação.
A suspensão não poderá ocorrer nos casos em que a lei civil limite a prova.
O juiz marcará prazo para suspensão, prorrogável, findo o qual dará andamento
ao processo, decidindo toda a matéria.
Sendo o crime de ação pública, o MP deve intervir na seara cível, para dar agili-
dade.

Recursos
O despacho que nega a suspensão do processo criminal para a solução da preju-
dicial na esfera extrapenal é irrecorrível. Segundo a doutrina, pode caber habeas corpus
ou Correição Parcial. Da decisão que determina a suspensão cabe Recurso em Sentido
Estrito (CPP, art. 581, XVI).

Observações
■■ A suspensão pode ser decretada de ofício ou a requerimento das partes (CPP,
art. 94).
■■ Não há prejudicial no inquérito policial.

Exceção

Conceito
É uma forma de defesa através da qual o acusado objetiva a extinção do processo
sem o julgamento do mérito, ou apenas a procrastinação do feito. São elas: suspeição,
incompetência, ilegitimidade de parte, litispendência, coisa julgada (CPP, art. 95).

Espécies
As exceções podem ser peremptórias, isto é, uma vez acolhidas, extinguem o pro-
cesso sem julgamento de mérito. Por exemplo, a litispendência e a coisa julgada. As dila-
tórias prorrogam o curso do processo, procrastinando-o. Por exemplo, a incompetência.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Suspeição
Suspeito é o juiz que tem interesse por qualquer das partes (Tornaghi). As hipó-
teses de suspeição estão previstas no artigo 254 do CPP.

■■ Amizade íntima ou inimizade capital com qualquer das partes.

■■ Juiz ou algum parente elencado em lei responde a processo por fato análogo e
controverso.

■■ Juiz ou parente indicado em lei sustenta demanda ou responde processo a ser


julgado por qualquer das partes.

■■ Juiz patrocinou aconselhamento a qualquer das partes.

■■ Juiz possui com alguma das partes relações negociais, societárias, ou de tutela
e curatela.

Argüição
Pode ser reconhecida ex officio (CPP, art. 97), ou argüida pelas partes através da
competente exceção (CPP, art. 98), podendo ainda ser apresentada por procurador com
poderes especiais. A exceção de suspeição deve preceder às demais, salvo se o motivo for
superveniente (CPP, art. 96).

Petição
Deve ser fundamentada, assinada pela própria parte ou por procurador com po-
deres especiais. Vem acompanhada de prova documental e rol de testemunhas, caso ne-
cessário (CPP, art. 98). Quem alega a exceção é o excipiente, ao passo que a pessoa contra
quem se alega é denominada de excepto.

Procedimento
■■ Juiz singular: reconhece o alegado, suspende a marcha processual e remete os
autos ao seu substituto legal (CPP, art. 99). Caso não aceite a alegação de sus-
peição, autua a petição em apartado, dando sua resposta em três dias, podendo
instruí-la, e remete os autos em 24 horas ao órgão julgador.

Vale lembrar que o magistrado pode reconhecer ex officio a sua suspeição, reme-
tendo os autos, uma vez intimadas as partes, ao seu substituto legal.

■■ Tribunal: artigo 103 do CPP.

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Exceptos
São todos aqueles em face de quem a exceção de suspeição pode ser argüida:
magistrados (CPP, art. 98); membros do MP (CPP, art. 104); peritos, intérpretes, funcio-
nários da justiça e serventuários (art. 105); jurados (CPP, arts. 448, §2.°).

Não cabe exceção de suspeição contra autoridade policial (CPP, art. 107). Contu-
do, estas devem declarar-se suspeitas.

Recursos
Não há recurso cabível para combater o reconhecimento da suspeição.

Efeitos
Afastamento do magistrado, remessa dos autos para o substituto legal; declaração
de nulidade dos atos processuais praticados a partir do motivo causador da suspeição.
Em caso de erro inescusável (indesculpável), deve o juiz pagar as custas do processo
(CPP, art. 101 c/c art. 564, I).

A suspeição não suspende o andamento da marcha processual, salvo nas situa-


ções previstas nos artigos 97 e 102 do CPP.

“A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar
o juiz ou de propósito der motivo para criá-la” (CPP, art. 256).

Incompetência (CPP, arts. 108 e 109)


A competência é a porção da jurisdição. Faltando-lhe, caberá a apresentação da
exceção. É conhecida como declinatoria fori.

Argüição
Sendo a competência matéria de ordem pública, deve ser reconhecida de ofício,
inclusive a chamada incompetência relativa (territorial); não o sendo, caberá a exceção,
oposta verbalmente ou por escrito, no prazo de defesa (CPP, art. 108).

Procedimento
Deve ser oposta junto ao juiz da causa e autuada em apartado; não suspendendo o
processo; oitiva MP; julgamento. Se improcedente, desta decisão não cabe recurso (pode-
se impetrar habeas corpus ou argüir-se em preliminar de futura apelação). Se procedente,
cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, III).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Efeitos
Julgada procedente a exceção, são remetidos os autos ao juízo competente, anu-
lando-se os atos decisórios e aproveitando-se os instrutórios (CPP, art 108, §1.°, c/c art.
567). Essa disposição tem aplicação apenas nos casos de incompetência relativa, pois,
segundo a melhor doutrina, diante da incompetência absoluta, todos os atos devem ser
reputados imprestáveis. Contudo, por respeito ao estudante, ressalto que essa posição
está longe de ser pacífica.

■■ Apesar da divergência, a melhor doutrina entende que a parte autora pode ale-
gar a exceção de incompetência (nesse sentido: Noronha, Tourinho, Mirabete,
Paulo Lúcio Nogueira).

■■ Tratando-se de incompetência relativa, se não for argüida no prazo da defesa


prévia, ocorre a preclusão. Nos casos de incompetência absoluta, a parte pode
excepcionar a qualquer momento.

■■ O juiz que recebe os autos do processo, nos quais foi reconhecida a incompe-
tência, pode suscitar o conflito de jurisdição.

■■ Para o Supremo Tribunal Federal, o recebimento da denúncia, apesar de ter


carga decisória, não é propriamente ato decisório, podendo ser ratificado no
juízo competente.

Litispendência (CPP, art. 110)


Ocorre quando duas ações estão em curso ao mesmo tempo, tratando da mesma
causa de pedir e tendo a mesma parte ré.

Argüição
A qualquer tempo, inclusive ex officio, não havendo prazo para o seu reconhe-
cimento e devendo ser afirmada no segundo processo. Na hipótese de ser instaurado
apenas um novo inquérito policial, este deve ser trancado através de habeas corpus, por
faltar-lhe justa causa.

Procedimento

Artigos 110 e 111 do CPP: argüição, ouvida da parte contrária e do MP, formação
de autos apartados, juiz decide.

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131

Recursos
Reconhecida a exceção, cabe Recurso em Sentido Estrito (art. 581, III). Não aco-
lhendo a exceção, essa decisão é irrecorrível (pode ser interposto habeas corpus). Sendo
afirmada de ofício, cabe Apelação (CPP, art. 593, II).

■■ A litispendência é uma exceção peremptória e o ponto fundamental a ser inda-


gado são os fatos atribuídos ao réu, pouco importando a qualificação jurídica
dada a eles.

Ilegitimidade de parte (CPP, art. 110)


Envolve não só a ilegitimidade ad causam (condição da ação), como a ilegitimidade
ad processum (pressuposto processual).

Procedimento
Argüição, a qualquer tempo, verbalmente ou por escrito, sendo que, no primeiro
caso, reduzida a termo; oitiva da parte contrária e MP; incidente autuado em apartado;
decisão judicial (CPP, art. 110).

Efeitos do reconhecimento
Em se tratando de ilegitimatio ad causam, anula-se todo o processo. Na ilegitimatio
ad processum, a nulidade pode ser sanada, mediante ratificação dos atos já praticados
(CPP, art. 568).

Recursos
Do reconhecimento da exceção, cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581,
III). Do não-reconhecimento, não cabe recurso (pode-se utilizar o habeas corpus ou a ale-
gação em preliminar de apelação). Se o juiz reconhece de ofício, não há recurso. Contudo,
para Tourinho, Capez e Mirabete, cabe Recurso em Sentido Estrito com base no inciso
I do artigo 581 do CPP, pois equivaleria a um não-recebimento da denúncia ou queixa a
posteriori.

Coisa julgada (exceptio rei judicatae)


É a matéria já decidida definitivamente por sentença transitada em julgado. Fun-
da-se no princípio do non bis in idem.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Função e espécies
O objetivo é a pacificação social, pois a coisa julgada pode ser formal (imutabilida-
de dentro do mesmo processo) e material (inalterabilidade que transcende o processo).

Natureza jurídica
É uma qualidade dos efeitos da decisão.

Requisitos
Existência de ação transitada em julgado; mesmos fatos (CPP, art. 110, §2.°): a
exceção só pode ser oposta em face do fato principal; mesmo réu.

Procedimento
Argüição; oitiva parte contrária e MP; autos apartados; decisão (CPP, arts. 110 e
111).

Recursos
Julgada procedente a exceção, cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, II).
Improcedente, não há recurso (habeas corpus ou preliminar de apelação). Reconhecida de
ofício, cabe Apelação (CPP, art. 593, II).

Incompatibilidades e impedimentos
O impedimento decorre de interesse do julgador no processo (CPP, art. 252), ao
passo que a incompatibilidade decorre de graves razões não elencadas entre os impedi-
mentos e suspeições (CPP, arts. 252 e 254).

Processamento
É o mesmo da exceção de suspeição (CPP, art. 112).

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133

Deve o aluno ter em mente que, enquanto as questões prejudiciais são matéria
vinculada ao mérito, devendo ser decididas para que o magistrado adentre ao âmago da
causa principal, os procedimentos incidentais (exceções; incompatibilidades e impedi-
mentos; incidente de sanidade mental; restituição de coisas apreendidas etc.) solucionam
as matérias incidentes à persecução e que dizem respeito ao próprio processo. Seria ideal
que o processo transcorresse sem o surgimento de incidentes. Contudo, isso não é a pra-
xe, e os incidentes devem ser solucionados de forma a não tumultuar o feito e permitir
que o processo tenha andamento regular.

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Questões
e processos incidentes II

Nestor Távora

Conflito de jurisdição
Disciplinado nos artigos 113 a 117 do Código de Processo Penal (CPP), ocorre o
conflito quando dois ou mais juízes consideram-se, contemporaneamente, competentes
ou incompetentes para tomar conhecimento do fato delituoso.
■■ Ocorre também o conflito na controvérsia sobre a unidade de juízo, junção ou
separação de processos.

Espécies
■■ Positivo (dois ou mais juízes julgam-se competentes).
■■ Negativo (os magistrados julgam-se incompetentes).

Conflito de atribuições
Ocorre entre órgão do Poder Judiciário e outros poderes (Legislativo e Executivo),
e entre órgãos não-jurisdicionais.

Processamento
O processamento do incidente é tratado no artigo 116 do CPP. Vejamos a seguir.
■■ Argüição: representação dos juízes em conflito ou requerimento das partes.
■■ Conflito:
■■ negativo – poderá ser suscitado nos próprios autos;
■■ positivo – o relator pode determinar que seja suspenso o processo.
■■ Requisição de informações: são prestadas pelas autoridades em conflito nos
prazos marcados pelo relator.
■■ Oitiva do Ministério Público (MP) e decisão.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência para dirimir o conflito


Determinada na Constituição Federal, nas Constituições Estaduais, na lei proces-
sual e nas leis de organização judiciária e regimentos internos.

Observações importantes
STJ, N. 22. Não há conflito de competência entre TJ e Tribunal de Alçada do mesmo
Estado-membro.

STJ, N. 59. Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,
proferida por um dos juízos conflitantes.

Restituição de coisas apreendidas

Introdução
Durante o inquérito policial (CPP, art. 6.º), a autoridade policial apreende os ins-
trumentos do crime e objetos outros que tenham relação com o fato criminoso. Os ob-
jetos que podem ser apreendidos estão previstos nas alíneas do artigo 240 do CPP. Pode
ocorrer durante a busca pessoal ou domiciliar, e essa última, quando não houver consen-
timento do morador, depende de mandado judicial (CF, art. 5.º, XI).

CPP, Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não
poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.

Autoridade restituinte
O caput do artigo 120 do CPP trata da autoridade que poderá deliberar acerca da
restituição, quais sejam: o delegado ou juiz. O delegado só decide nos casos de direito
induvidoso e quando a coisa não seja apreendida em poder de terceiro de boa-fé (CPP,
art. 120, §§ 1.º e 2.º).

Confisco
CP, Art. 91. São efeitos da condenação:

[...]

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé:

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137

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo
agente com a prática do fato criminoso.

■■ Uma vez confiscados, os objetos poderão ser destruídos, vendidos em leilão, ou


recolhidos ao museu.

■■ Artigo 20 da Lei 7.716/89: confisco de produtos que utilizem a suástica.

■■ Crime de reprodução de obra com violação de direito autoral (CP, art. 184,
§§ 1.º, 2.º e 3.º; e CPP, art. 530-G, trazidos pela Lei 10.695/2003): o juiz deter-
mina a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos na senten-
ça. Perdimento em favor da Fazenda Nacional dos equipamentos apreendidos
que se destinem à prática do ilícito.

Procedimento da restituição (CPP, art. 120)


■■ Direito induvidoso: restituição patrocinada pela autoridade policial ou pelo
juiz, mediante termo nos autos (CPP, art. 120, caput).

■■ Direito duvidoso: só juiz decide; formam-se autos apartados, dando-se mar-


gem ao contraditório; requerente tem cinco dias para prova.

■■ Apreensão em poder de terceiro de boa-fé: só juiz decide; há instrução; recla-


mante e reclamado alegam em cinco dias sucessivos. Após, têm prazo comum
de dois dias para arrazoar. Haverá sempre oitiva do MP, e, em caso de persistir
a dúvida sobre a titularidade do bem, as partes são remetidas ao cível.

■■ Coisas facilmente deterioráveis: podem ser avaliadas e leiloadas, ou entregues


à pessoa que as detinha, desde que idônea e mediante termo (CPP, art. 120,
§5.º).

■■ Recurso: a decisão que indefere pedido de restituição comporta Apelação, além


da possibilidade de impetração de mandado de segurança.

■■ Observações:

■■ objetos não-reclamados (CPP, art. 123) – caso não sejam passíveis de confis-
co, são leiloados e o valor é depositado em favor do juízo de ausentes;

■■ os instrumentos do crime perdidos, em favor da União, podem ser destruídos


ou colocados no museu criminal (CPP, art. 124).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Perceba o aluno que o conflito de jurisdição presta-se, assim como a exceção de


incompetência, para identificar qual o juízo com permissivo em lei para atuar no feito.
No conflito há uma peculiaridade: a existência da divergência, da discordância entre dois
ou mais juízos acerca de qual é o competente.

Já em relação à restituição de coisas apreendidas, perceba que vários objetos, ao


serem apreendidos, acompanharão a persecução criminal (soma do inquérito e do pro-
cesso), e continuarão nessa condição enquanto interessarem ao feito. Só quando não
mais necessários é que se pode indagar: cabe a sua restituição? Se não for caso de confis-
co, poderá então ser restituído ao legítimo interessado.

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Questões
e processos incidentes III

Nestor Távora
Medidas assecuratórias
Visam garantir o ressarcimento pecuniário da vítima em face do ilícito ocorrido.
Servem também para pagamento de custas e de eventual multa. Têm caráter de instru-
mentalidade e destinam-se a evitar o prejuízo que adviria da demora na conclusão da
ação penal. São elas o seqüestro, a hipoteca legal e o arresto (impropriamente denomi-
nado de seqüestro).

Seqüestro de bens imóveis (CPP, art. 125)

Cabimento
Pode ser determinado tanto no inquérito quanto no processo; recai sobre imóveis
adquiridos com os proventos da infração; exige para a decretação indícios veementes de
autoria.
■■ Inscrição no registro de imóveis: artigo 128 do Código de Processo Penal
(CPP).

Embargos (CPP, art. 129)


Cabem embargos de sua decretação, que serão julgados pelo juízo criminal, após
o trânsito em julgado da sentença no processo principal (art. 130, parágrafo único).

Fundamento dos embargos (CPP, art. 130)


Ao acusado cabe alegar que o bem não foi adquirido com os proventos da infra-
ção. Já ao terceiro, cabe provar que o bem foi transferido onerosamente e que o adquiriu
de boa-fé.

Recurso
■■ Concedido ou não o seqüestro, da decisão cabe Apelação.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Levantamento (CPP, art. 131)


■■ Não subsiste o seqüestro (levantamento) se a ação criminal não for intentada
em 60 dias, ou se o terceiro prestar caução, ou ainda se houver sentença abso-
lutória ou extintiva da punibilidade.

Seqüestro de bens móveis (CPP, art. 132)


Quando os bens móveis não estiverem sujeitos à busca e à apreensão, vale dizer,
quando não forem produto direto do crime, constituindo-se em proventos do mesmo,
estarão sujeitos a seqüestro. Pode ser determinado tanto no inquérito quanto no pro-
cesso.

Ao final do processo criminal, uma vez transitada em julgado a sentença conde-


natória, em tendo havido o seqüestro de bens imóveis ou móveis, deverá o magistrado
criminal valer-se do artigo 133 do CPP, determinando a avaliação e venda dos bens em
leilão público, sendo o dinheiro, o que não couber ao lesado ou ao terceiro de boa-fé,
recolhido ao Tesouro Nacional.

Hipoteca legal (CPP, art. 134)


Recai sobre imóveis de origem lícita do acusado, cabendo apenas a sua decretação
durante o processo.

Procedimento: artigo 135 do CPP.

Recurso: da decisão que manda ou não inscrever a hipoteca legal cabe Apelação.

Arresto definitivo (CPP, art. 137)


Recai sobre bens suscetíveis de penhora (CPC, art. 655). Vale dizer, não havendo
imóveis suficientes suscetíveis à hipoteca, poderá ocorrer o “arresto” do artigo 137 do
CPP.

Arresto prévio (CPP, art. 136)


Recai sobre imóveis de origem lícita, a serem submetidos à hipoteca legal, sendo
uma medida puramente cautelar, assecuratória dos direitos do lesado, em face do perigo
da demora na especialização da hipoteca legal. Assim, se não for promovido o procedi-
mento de especialização da hipoteca no prazo de 15 dias da determinação do seqüestro,
ele será revogado (CPP, art. 136).

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143

Em se tratando de bens de origem lícita submetidos às medidas assecuratórias,


passada em julgado a sentença condenatória no juízo criminal, os autos da hipoteca legal
ou do arresto (definitivo) serão remetidos ao juízo cível, para que lá torne-se efetivo o
ressarcimento em face dos danos causados pelo ilícito criminal.

Incidente de falsidade (CPP, arts. 145 a 148)

Introdução
Em havendo dúvidas acerca da idoneidade de um determinado documento, o meio
hábil para desentranhá-lo dos autos é a instauração do presente incidente.

■■ Conceito de documento: toda peça que condensa graficamente o pensamento de


alguém (MIRABETE, 2004).

Espécies
■■ Originário ou instrumento: é feito com o fim de provar. Por exemplo, o con-
trato.

■■ Eventual: pode servir como prova, mas esse não é o fim de sua produção.

Procedimento do incidente
■■ Argüição por escrito.

■■ Oitiva da parte contrária e prazo de 48 horas para manifestar-se.

■■ Três dias, sucessivamente, para alegações das partes.

■■ Possibilidade de diligências e decisão.

Legitimidade
O juiz pode reconhecer de ofício a falsidade documental, ou o incidente pode ser
suscitado pelas partes. Se por procurador, este deve ter poderes especiais.

Efeitos
Reconhecida a falsidade, o documento é desentranhado e os autos do incidente
remetidos ao Ministério Público (MP) para apuração de eventual crime. Contudo, essa
decisão não fará coisa julgada em futuro processo cível ou criminal.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Recurso
Da decisão que soluciona o incidente cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art.
581, XVIII).

Incidente de insanidade mental


do acusado (CPP, arts. 149 a 154)

Introdução
Havendo dúvidas sobre a higidez mental do autor do ilícito, deve ser determinado
o incidente, podendo ocorrer durante o inquérito ou processo, contudo cabendo apenas
ao magistrado tal decisão.

A decisão autorizando a realização do exame é titularizada exclusivamente pelo


magistrado, que pode determiná-lo ex officio, ou por requerimento do MP, do defensor,
do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge, e até mesmo mediante repre-
sentação da autoridade policial.

Procedimento
O juiz determina o incidente através de portaria, nomeando desde logo curador;
suspende a ação principal, ressalvando a realização de atos urgentes. O prazo prescricio-
nal continua a correr; partes intimadas para ofertar quesitos; perito dispõe de 45 dias
para conclusão do laudo, prorrogáveis a critério do juiz; apresentação do laudo, e o inci-
dente, que corria em autos apartados, é apensado aos autos principais. Seqüencialmente,
temos:
■■ juiz baixa portaria;
■■ nomeação de curador;
■■ suspensão do processo principal: prescrição corre normalmente, e não há pre-
juízo da realização de diligências urgentes;
■■ partes ofertam quesitos;
■■ peritos manifestam-se em até 45 dias;
■■ autos, que corriam em apartado, são apensados aos principais.

Determinado o incidente durante o inquérito, este não é suspenso.

A decisão que determina a instauração do incidente é irrecorrível.

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145

Insanidade durante a execução da pena: se a inimputabilidade advém na fase da


execução da pena, o juízo das execuções poderá valer-se do artigo 41 do Código Penal,
determinando o recolhimento em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ou, na
sua falta, em outro estabelecimento adequado. Contudo, percebendo a não-transitorie-
dade do transtorno mental do condenado, deve valer-se do artigo 183 da Lei de Execução
Penal, rezando que:

Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença
mental ou perturbação da saúde mental, o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por
medida de segurança.

Temos que ter total atenção com as medidas assecuratórias, distinguindo a sua
incidência quanto aos bens de origem ilícita ou não, ressaltando a carência de técnica do
Código quanto à nomenclatura dada a elas.

Já o incidente de insanidade destina-se a atestar a higidez mental do acusado,


pois, aos inimputáveis à época da infração, deve ser aplicada na sentença criminal medida
de segurança (é a chamada absolvição imprópria).

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Procedimentos penais
(CPP, arts. 394 e seguintes)

Vilmar Velho Pacheco Filho

Processo e procedimento
Enquanto o processo é o meio, o instrumento, o mecanismo que o Estado dispõe
para a aplicação do direito de punir; o procedimento, também chamado de rito, é a for-
ma, a seqüência legal, lógica, e concatenada de atos processuais que inicia com a acusa-
ção e vai até o momento da prestação jurisdicional pela sentença ou acórdão nos casos de
ação penal originária dos tribunais.
São muitos os crimes tipificados na lei penal brasileira, que protegem uma va-
riada gama de bens jurídicos, com objetos diferentes (vida, honra, drogas etc.), e, obvia-
mente, conseqüências penais diferentes, algumas condutas são mais gravosas que outras
e devem ser apuradas de formas distintas. Por essas razões o legislador descreveu uma
série de procedimentos, alguns dispostos no Código de Processo Penal (CPP) outros em
leis extravagantes.

Escolha do procedimento
Tendo em vista que o processo visa à incidência do direito punitivo, com a possi-
bilidade de aplicação de uma sanção penal ao cidadão, que poderá privá-lo do direito de
locomoção, que é um direito fundamental e indisponível garantido constitucionalmente,
estamos diante de uma matéria de ordem pública que conduzirá à absoluta nulidade do
feito se ocorrer qualquer inobservância às regras e formas procedimentais, pois presu-
mir-se-á existência de prejuízo ao acusado, em face da ofensa aos princípios do devido
processo legal, contraditório e ampla defesa. Apenas não será anulado o processo se a
inobservância do rito não causar prejuízo à defesa, como por exemplo, se o magistrado
aplicar ao caso concreto um procedimento com maior amplitude probatória em substi-
tuição a um rito de menor extensão, como seguir o procedimento ordinário quando, por
se tratar de infração menos grave, deveria ser adotado o rito sumário.
Para escolher o procedimento correto, é necessário seguir alguns critérios dispos-
tos na Constituição Federal e nas leis infraconstitucionais. Vejamos:
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.º critério – competência constitucional

Competência ratione personae


Algumas pessoas, em face da prerrogativa funcional, têm “foro privilegiado” e
devem se ver processar nos Tribunais. Essas competências estão determinadas na Cons-
tituição Federal e na Constituição dos Estados, que ensinarão os casos que deverão ser
processados e julgados originariamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Superior
Tribunal de Justiça (STJ), Tribunais Regionais Federais (TRFs), Tribunais Regionais Elei-
torais (TREs), Tribunais de Justiça (TJs).

Nessas situações, deverá ser aplicado o rito descrito entre os artigos 1.º e 12, da
Lei 8.038/90. A Lei 8.658/93 estende esse rito, previsto inicialmente para os casos de
competência do STF, para os demais tribunais pátrios.

Assim, conclui-se que se um deputado federal praticar um crime será julgado


perante o STF com o rito da Lei 8.038/90, o mesmo que será adotado pelo TRF para
processar e julgar um juiz federal que tenha cometido algum delito.

Competência ratione materiae


A Constituição Federal (CF) ensina que algumas matérias são consideradas espe-
ciais e, portanto, têm legislação própria e, em algumas vezes, até mesmo competência de
processo e julgamento em justiça especial.

Os crimes dolosos contra a vida, ensina o legislador constitucional, são de compe-


tência do Tribunal do Júri, perante a justiça comum, com o procedimento do júri descrito
entre os artigos 406 e 497 do CPP.

Os crimes militares, de outra sorte, são de competência da justiça militar e devem


seguir os ritos descritos no Código de Processo Penal Militar (CPPM).

Os crimes eleitorais são de competência da justiça eleitoral, e os procedimentos


estão no Código Eleitoral (CE).

Uma vez que o crime não seja praticado por uma das pessoas que tem “foro privi-
legiado” dos tribunais, não será aplicado o rito da Lei 8.038/90.

Não sendo crime doloso contra a vida, militar ou eleitoral, igualmente não se-
rão adotados os ritos respectivos. Então qual será o procedimento a ser seguido? Para
responder essa pergunta precisaremos passar ao segundo critério de escolha do proce-
dimento.

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149

2.º critério – natureza e quantidade da lei penal


Se estivermos diante de Infração Penal de Menor Potencial Ofensivo (IPMPO),
conforme ensina a Lei 9.099/95, a competência será dos Juizados Especiais Criminais –
J.E.Crim., e o rito será o sumaríssimo previsto a partir do artigo 77 da citada lei. Impor-
tante observar que antes de iniciar o rito sumaríssimo há uma fase preliminar, na qual
o magistrado, em uma audiência inicial, oportuniza a conciliação civil e/ou a transação
penal. Caso o feito não seja solucionado nessa fase, se for o caso, será iniciado o procedi-
mento sumaríssimo do J.E.Crim.(ex.: lesão corporal leve – CP, art. 129).

Uma vez que não se trate de IPMPO, o próximo passo será verificar se há ou não
procedimento especial para o delito cometido. Havendo, adotar-se-á o rito especial (ex.:
tráfico ilícito de drogas); não havendo, seguir-se-á o procedimento comum. Para saber se
há procedimento especial é simples.

Se o crime estiver descrito no CP, havendo rito especial estará disposto no CPP.
São apenas 3 ritos especiais no CPP: crimes cometidos por funcionários públicos; crimes
contra a honra; crimes contra a propriedade imaterial.

Se o delito estiver tipificado em lei especial, havendo rito especial, estará des-
crito na própria lei especial, como por exemplo, crimes de tráfico ilícito de drogas, Lei
11.343/2006.

Como vimos, não havendo rito especial, deverá ser adotado o procedimento co-
mum:
■■ procedimento comum ordinário – para os crimes com pena privativa de li-
berdade máxima prevista em lei igual ou superior a 4 (quatro) anos (CPP, art.
394, §1.º, I);
■■ procedimento comum sumário – para os delitos com pena privativa de li-
berdade máxima prevista em lei inferior a 4 (quatro) anos (CPP, art. 394, §1.º,
II).

Seguindo esses critérios e passos, sempre de cima para baixo e por exclusão, será
escolhido o rito correto.

Procedimentos e Código de Processo Penal


A Lei 11.719, de 20 de junho de 2008, trouxe ao CPP uma série de alterações,
especialmente em relação aos procedimentos comum ordinário e sumário (CPP, arts.
394 a 405). Por sua vez, a Lei 11.689, de 09 de junho de 2008, alterou totalmente o pro-
cedimento do júri, considerado pela doutrina como um rito especial do CPP (arts. 406
a 497).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Procedimentos comuns
O artigo 394, §1.º, do CPP, ensina que os ritos serão comuns ou especiais e os
conceitua, dizendo:

Art. 394. O procedimento será comum ou especial.


§1.º O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou
superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4
(quatro) anos de pena privativa de liberdade;
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.

No mesmo artigo, nos parágrafos segundo e terceiro, o legislador preceitua que:

Art. 394. [...]


§2.º Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrá-
rio deste Código ou de lei especial.
§3.º Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as dis-
posições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.

Observa ainda o legislador (CPP, art. 394, §4.º), que as regras gerais descritas en-
tre os artigos 395 e 398 devem ser aplicadas a todos os procedimentos de primeiro grau.
Daqui, percebe-se duas circunstâncias. A primeira é que na realidade serão aplicadas
apenas as disposições dos artigos 395 a 397, tendo em vista que o artigo 398 foi revogado.
A segunda, é que esses artigos não poderão ser aplicados aos processos criminais que
tramitarem nos tribunais, que seguirão o rito da Lei 8.038/90, sem qualquer alteração
disposta no CPP.

Procedimento comum ordinário e subsidiariedade


Art. 394. [...]
§5.º Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as
disposições do procedimento ordinário.

Procedimento comum ordinário (CPP, arts. 395 a 405)


O procedimento comum ordinário seguirá os seguintes atos processuais:
■■ oferecimento da denúncia ou queixa-crime;
■■ não sendo caso de rejeição liminar, o juiz receberá a peça acusatória;

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151

■■ citação do acusado para apresentar reposta à acusação em 10 dias;


■■ resposta escrita à acusação;
■■ não sendo caso de absolvição sumária, o juiz marcará audiência de instrução e
julgamento no prazo de até 60 dias;
■■ audiência de instrução e julgamento:
■■ declarações do ofendido;
■■ inquirição das testemunhas da acusação;
■■ inquirição das testemunhas da defesa;
■■ esclarecimentos dos peritos;
■■ acareações;
■■ reconhecimento de pessoas e coisas;
■■ interrogatório do réu;
■■ requerimento de diligências;
■■ debates orais ou apresentação de memoriais escritos;
■■ sentença oral.

Vejamos cada um dos atos processuais do procedimento ordinário em conformi-


dade com o didático legislador processual penal brasileiro.

■■ Quanto ao oferecimento de denúncia ou queixa-crime, os seus requisitos


estão descritos no artigo 41 do CPP.

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

■■ Rejeição liminar

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:


I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Parágrafo único. (Revogado).

O importante é que o magistrado apenas rejeitará liminarmente a acusação em


casos de ser manifesta, evidente a ocorrência de uma das circunstâncias acima
dispostas. Não o sendo, o magistrado deverá receber a peça acusatória e deter-
minar a citação do acusado para apresentar resposta em 10 dias.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o


juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a
partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.

■■ Citação

No que se refere à citação, conduzimos o leitor ao capítulo Atos Processuais.

■■ Resposta à acusação

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pre-
tendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário.

§1.º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Có-
digo.

§2.º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir
defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por
10 (dez) dias.

■■ Casos de absolvição sumária

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o
juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;


II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inim-
putabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

Importante novamente frisarmos que a causa de absolvição sumária acima ex-


posta deve ser manifesta, evidente. Não sendo, o juiz deverá dar prossegui-
mento ao feito, marcando para nos próximos 60 dias, a audiência de instrução
e julgamento.

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente.

§1.º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o


poder público providenciar sua apresentação.

§2.º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

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153

■■ Audiência de instrução e julgamento:

Em relação ao anterior procedimento ordinário quanto à instrução processual,


as principais diferenças se dão quanto à unificação da coleta da prova oral em
uma só audiência (e não em duas como era antes, com uma audiência para
testemunhas da acusação e outra para testemunhas de defesa) e também no to-
cante à sentença que deverá, como regra, ser proferida oralmente em audiência
(e não por escrito em gabinete conforme era previsto no rito anterior), por isso
denomina-se audiência de instrução e julgamento, conforme os artigos 400 a
403 do CPP. Excepcionalmente, com base nos artigos 403 e 404, a sentença
será proferida por escrito em gabinete. Vejamos:

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de


60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto
no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

§1.º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consi-
deradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

§2.º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.

Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela
acusação e 8 (oito) pela defesa.

§1.º Nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as referi-
das.

§2.º A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, res-
salvado o disposto no art. 209 deste Código.

Em relação à prova testemunhal, conforme fizemos ao abordar a questão das


provas, em capítulo próprio, ensina o artigo 212 do CPP, e é importante fri-
sarmos que as perguntas poderão ser dirigidas pelas partes diretamente às
testemunhas, sem necessidade de serem intermediadas pelo magistrado; o que
não afasta, obviamente, a possibilidade da autoridade judiciária interferir nas
indagações que porventura não estejam sendo feitas de forma a meramente
esclarecer os fatos e suas circunstâncias, mas, por exemplo, estão conduzindo
as declarações das testemunhas.

Outra observação relevante é no que se refere ao artigo 217 do CPP, também


trazido ao Código Instrumental Penal pela Lei 11.690/2008, que para preser-
var as testemunhas e o ofendido, visando sempre que declarem o que realmen-
te aconteceu ou tenham conhecimento, sem qualquer tipo de interferência ou
temor da parte do acusado, ensina:

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade
do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade
dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença
do seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo
deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante
e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se
origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão ofereci-
das alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§1.º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será
individual.
§2.º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos
10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da de-
fesa.
§3.º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de
memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.
Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento
da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresen-
tarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no
prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.
Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo
juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.
§1.º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendi-
do e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenoti-
pia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade
das informações.
§2.º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do
registro original, sem necessidade de transcrição.

Procedimento comum sumário


(CPP, arts. 394 a 398 e 531 a 538)
O procedimento comum sumário, como vimos acima, será adotado para as infra-
ções penais com pena privativa de liberdade máxima prevista na lei como sendo inferior

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a 4 (quatro) anos. Percebe-se, assim, que o rito é previsto para os delitos menos graves e,
também para as infrações penais de menor potencial ofensivo encaminhados dos Juiza-
dos Especiais Criminais para o juízo comum, por dificuldade em relação à citação (não
admite-se por edital) ou complexidade do caso (art. 66, parágrafo único e 77, §2.º, Lei
9.099/95), tudo conforme explicita o artigo 538 do CPP.

Portanto, conclui-se que o rito sumário deve ser mais célere, objetivo e econômico
que o rito ordinário, descrito para infrações penais mais graves.

Adotando esse posicionamento, o legislador procurou fazer um procedimento


ainda mais ágil que o ordinário, mas seguindo-o em grande parte dos atos processuais.

O procedimento comum sumário seguirá os seguintes atos processuais:

■■ oferecimento da denúncia ou queixa-crime;

■■ não sendo caso de rejeição liminar, o juiz receberá a peça acusatória;

■■ citação do acusado para apresentar reposta à acusação em 10 dias;

■■ resposta escrita à acusação;

■■ não sendo caso de absolvição sumária, o juiz marcará audiência de instrução e


julgamento no prazo de até 30 dias;

■■ audiência de instrução e julgamento:

■■ declarações do ofendido;

■■ inquirição de até 5 testemunhas da acusação;

■■ inquirição de até 5 testemunhas da defesa;

■■ esclarecimentos dos peritos;

■■ acareações;

■■ reconhecimento de pessoas e coisas;

■■ interrogatório do réu;

■■ debates orais;

■■ sentença oral.

Conforme se depreende do artigo 394, §4.º, do CPP, as disposições dos artigos


394 a 398 do CPP aplicam-se ao rito sumário, restando, então, diferente tão-somente a
audiência de instrução e julgamento, conforme se depreende dos artigos 531 e seguintes
do CPP. Vamos a eles:

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30


(trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição
das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto
no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e proceden-
do-se, finalmente, ao debate.

Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela
acusação e 5 (cinco) pela defesa.

Art. 533. Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos do art. 400 deste
Código.

Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à


acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez),
proferindo o juiz, a seguir, sentença.

§1.º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será indi-
vidual.

§2.º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10


(dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determi-
nando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.

Art. 536. A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão


da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no art. 531 deste Código.

Em relação à instrução processual, as principais diferenças em relação ao rito


ordinário são:

■■ o prazo da audiência será de 30 dias e não 60 como o ordinário;

■■ o número de testemunhas é de 5 e não de 8 para cada parte;

■■ não há previsão para requerimentos de diligências em audiência, pois estes


estão previstos no ordinário no artigo 402 e 403 do CPP, quando o artigo 533
prevê expressamente que aplica-se ao sumário o disposto no artigo 400;

■■ o mesmo se dá em relação à possibilidade de as partes apresentarem memo-


riais escritos após as diligências; se não há diligências a serem requeridas pelas
partes e deferidas pelo juiz, obviamente, não há previsão de apresentação de
memoriais escritos;

■■ a sentença, como regra, deverá ser proferida oralmente em audiência.

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Imprescindível se dedicar mais atentamente às inovações trazidas ao CPP pela Lei


11.719, de 20 de junho de 2008, que fizemos questão de enaltecer neste capítulo.

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Procedimento do Júri

Vilmar Velho Pacheco Filho


Previsão constitucional
O Júri é uma instituição prevista como garantia constitucional individual com
disposição no artigo 5.º, XXXVIII, da Carta Maior e previsão de seus princípios emba-
sadores. Vejamos:
■■ princípio da plenitude de defesa – no qual alguns doutrinadores chegam a
concluir que é ainda mais extenso que o princípio da ampla defesa, justamente
porque os julgadores são representantes da sociedade e julgam de forma leiga,
com base em suas íntimas convicções;
■■ princípio do sigilo das votações – é corolário da garantia da íntima convicção
do julgador que não precisará fundamentar suas decisões, o que será garantido
pela votação em sala secreta, em que um julgador não saberá da votação de
outro;
■■ princípio da soberania dos vereditos – que ensina que a decisão emitida pelo
Conselho de Sentença não poderá ser, no mérito, modificada pelos Tribunais,
o que ratifica a validade da votação popular. Por óbvio, os Tribunais poderão
interferir em situação de nulidade do julgamento ou até mesmo, em caso de
condenação, em relação ao cálculo da pena feito pelo magistrado. Porém, em
nenhuma dessas situações, os Tribunais modificam o conteúdo da decisão dos
jurados;
■■ princípio da competência para julgar os crimes dolosos contra a vida e
seus conexos – os dolosos contra a vida estão tipificados entre os artigos 121 e
128 do Código de Processo Penal (CPP), à exceção, obviamente, do artigo 121,
§3.º, que trata do homicídio culposo.

Procedimento do Júri (CPP, arts. 394 a 497)


O procedimento do Júri sofreu uma série de alterações trazidas ao CPP pela Lei
11.689, de 9 de junho de 2008, razão pela qual, não há qualquer possibilidade de segui-
rem sendo aplicadas as disposições legais dispostas no CPP antes da vigência dessa lei,
sob pena de nulidade absoluta.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

As alterações, em regra, tornam o rito mais moderno, célere, econômico, simples


(especialmente quanto aos quesitos na votação) e com uma série de circunstâncias que o
deixam mais garantista em relação ao rito anterior.

Rito bifásico ou escalonado


O procedimento do Júri é composto por duas fases bastante distintas, o que leva
a doutrina a chamá-lo de bifásico ou escalonado. A primeira fase é a da formação da culpa
(judicium accusationis), que inicia com o oferecimento da denúncia ou queixa-crime e vai
até a sentença de pronúncia. A segunda, denominada juízo da causa (judicium causae) se
inicia com a preclusão da sentença de pronúncia e se estende até a sessão plenária de
julgamento pelo Tribunal do Júri com a decisão soberana do Conselho de Sentença.

1.ª fase – formação da culpa (judicium accusationis)


■■ oferecimento da denúncia ou queixa-crime (CPP, art. 394);
■■ recebimento da denúncia ou queixa-crime (art. 406);
■■ citação do acusado;
■■ defesa prévia (arts. 406, §§ 1.º, 2.º, 3.º, 407 e 408);
■■ oitiva do Ministério Público (MP) ou do Ofendido (sendo caso de ação penal
privada subsidiária da pública) (art. 409);
■■ audiência de instrução e julgamento (arts. 410 e 411);
■■ declarações do ofendido, se possível;
■■ inquirição das testemunhas de acusação;
■■ inquirição das testemunhas de defesa;
■■ esclarecimentos dos peritos;
■■ acareações;
■■ reconhecimento de pessoas e coisas;
■■ interrogatório do réu;
■■ debates orais;
■■ sentença oral ou em gabinete em 10 dias.

É importante frisarmos que a primeira fase do procedimento do Júri deverá ser


concluída em, no máximo, 90 (noventa) dias, conforme nos ensina o artigo 412 do CPP.

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2.ª fase – juízo da causa (judicio causae)


■■ requerimento de diligências/rol de testemunhas;
■■ relatório do juiz e designação de julgamento pelo Tribunal do Júri;
■■ sessão Plenária de Instrução e Julgamento;
■■ presentes no mínimo 15 (quinze) jurados, o juiz declarará aberta a sessão e
o pregão será feito pelo Oficial de Justiça (art. 463);
■■ advertência dos jurados sobre impedimentos, incompatibilidades e suspei-
ção, bem como acerca da incomunicabilidade (art. 466);
■■ sorteio do Conselho de Sentença, composto por 7 (sete) jurados, sendo que
as partes poderão recusar até 3 (três) injustificadamente, e tantos quanto ne-
cessário por justo motivo (arts. 467 a 471);
■■ formado o Conselho de Sentença, o juiz tomará o compromisso dos jurados
que, em seguida, receberão cópia da sentença de pronúncia e decisões pos-
teriores (art. 472);
■■ Instrução em Plenário e Julgamento (art. 473 e seguintes):
a) declarações do ofendido, se possível;
b) inquirição das testemunhas de acusação;
c) inquirição das testemunhas de defesa;
d) partes e jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pesso-
as e coisas, esclarecimentos dos peritos, leituras de peças;
e) interrogatório do réu (art. 473, §3.º);
f) debates orais (arts. 476, 477 e 478);
− acusação dispõe de 1h e 30min;
− defesa dispõe de 1h e 30min;
− acusação terá 1h para réplica;
− defesa terá 1h para tréplica;
g) juiz indagará os jurados se estão aptos ao julgamento (art. 480, §1.º);
estando prontos, passa-se à votação dos quesitos;
h) votação e ordem da elaboração e leitura e explicação dos quesitos (arts.
483 e 484);
i) esclarecimentos de dúvidas acerca dos quesitos (art. 485);

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j) distribuição das cédulas (art. 486);


k) votação, encerramento e assinatura do termo (art. 491);
l) sentença do juiz conforme a decisão dos jurados (art. 492);
m) leitura da sentença em plenário (art. 493);
n) lavratura da ata dos trabalhos assinada pelo juiz presidente e pelas par-
tes (arts. 494 a 496).

Aspectos relevantes do Tribunal do Júri


Fase da pronúncia
É o momento em que o magistrado decide acerca do encaminhamento do réu
para julgamento perante a sociedade, representada pelo Conselho de Sentença ou não.
Nessa fase, o juiz poderá proferir uma das quatro sentenças de pronúncia, impronúncia,
desclassificação ou absolvição sumária. Nesse momento processual, a doutrina costuma
afirmar que vige o princípio in dúbio pro societate, no qual o juiz deverá, havendo dúvida
acerca do fato e de suas circunstâncias, proferir sentença de procedência da denúncia
(pronúncia), encaminhando o réu a julgamento perante a sociedade, para que esta deli-
bere acerca do cometimento ou não de crime doloso contra a vida por parte do acusado e
suas respectivas conseqüências penais.

Sentença de pronúncia
Ensina o artigo 413 do CPP:

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materiali-


dade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
§1.º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o
dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualifica-
doras e as causas de aumento de pena.
§2.º Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manu-
tenção da liberdade provisória.
§3.º O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição
da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de
acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das
medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.

Percebe-se, nitidamente, que o magistrado não poderá emitir nenhum juízo de


valor, nenhum axioma ou opinião pessoal acerca do mérito da causa, sob pena de poder

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influenciar os jurados e, conseqüentemente, quebrar a garantia constitucional da sobera-


nia dos vereditos e conduzir o processo à nulidade absoluta.

Sentença de impronúncia
Enquanto a sentença de pronúncia diz que pro (procede) a denúncia oferecida pelo
MP, havendo indícios de que o réu é o autor do fato e que, em princípio, se trata de crime
doloso contra a vida, a impronúncia é de improcedência da denúncia, conforme preceitua
o artigo 414 do CPP:

Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios sufi-


cientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acu-
sado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova.

Sentença de absolvição sumária


Conforme ensina o artigo 394, §§ 2.º e 3.º do CPP, não aplicam-se as disposições
do rito ordinário aos casos afeitos ao procedimento do Júri, razão pela qual não há que
confundir a absolvição sumária daquele rito com essa sentença de absolvição sumária
descrita no artigo 415 do CPP. Vejamos:

Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:


I - provada a inexistência do fato;
II - provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III - o fato não constituir infração penal;
IV - demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.

Para tirar dúvidas acerca da absolvição sumária do procedimento ordinário, des-


crita no artigo 397 do CPP, remetemos o leitor ao capítulo que se refere àquele procedi-
mento.

Sentença de desclassificação
Os crimes classificados como sendo de competência do Tribunal de Júri, confor-
me ensina a Constituição Federal (CF), são os dolosos contra a vida e os cometidos em
conexão com um deles. Portanto, se o magistrado, na fase da pronúncia, perceber, por
meio da análise da prova colhida durante a primeira fase do procedimento do Júri, que

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

não ocorreu crime doloso contra a vida, deverá proferir uma sentença de desclassificação,
dizendo que a infração não pode ser encaminhada a julgamento pela sociedade porque
não se trata de crime de competência do Tribunal do Júri. Dispõe o artigo 419 do CPP:

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de


crime diverso dos referidos no §1.º do art. 74 deste Código e não for competente para o
julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o
acusado preso.

Recursos das sentenças da fase da pronúncia


Em relação às sentenças de impronúncia e absolvição sumária não há qualquer
dúvida, pois o artigo 416 do CPP preceitua que:

Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.

A questão que poderia gerar alguma perplexidade seria quanto às sentenças de


pronúncia e desclassificação. Porém, o recurso cabível, em ambos os casos é o Recurso
em Sentido Estrito, conforme ensina o artigo 581, incisos IV e II, respectivamente.

Despronúncia
Quando o magistrado proferiu uma sentença de pronúncia e o réu interpõe recur-
so em sentido estrito (CPP, art. 581, IV), poderá requerer que antes de ser encaminhado
ao MP para contra-razões e depois ao Tribunal de Justiça, o magistrado emita um juízo
de retratação, reconsiderando a sua decisão. Uma vez que o juiz acolha o pedido e recon-
sidere a pronúncia, estará, então, emitindo uma decisão de despronúncia, tanto quando
impronuncie, desclassifique ou absolva sumariamente o réu. O mesmo se dará se por
acaso o juiz não reconsidere a sua decisão mas o Tribunal de Justiça dê provimento ao
recurso interposto, impronunciando, desclassificando ou absolvendo sumariamente o
réu.

Concurso de pessoas fora da denúncia


Ensina o artigo 417 quais as providências que o juiz deverá tomar em casos nos
quais a instrução processual demonstra a participação de alguma(s) pessoa(s) que tenha
sido qualificada na denúncia oferecida pelo MP.

Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas
na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o retorno dos
autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste
Código.

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Emendatio libelli
Não há qualquer óbice em que o magistrado dê definição jurídica diversa daquela
classificada pelo MP na denúncia ou pelo querelante na queixa-crime (em caso de ação
penal privada subsidiária da pública). Porém, conforme explicita o legislador, a classifica-
ção deverá se dar em conformidade com o fato narrado na peça acusatória, que é quando
o réu realmente se defendeu durante a primeira fase do procedimento do Júri. Essa de-
cisão judicial, então, apenas amolda a tipificação disposta na peça inaugural com o fato
nela descrito. Ex.: na denúncia o MP descreve um crime de homicídio qualificado pela
tortura, mas na classificação expõe apenas o artigo 121, caput, do Código Penal, que trata
do homicídio simples. Nesse exemplo, o magistrado poderá pronunciar o réu por crime de
homicídio qualificado pela tortura (CPP, art. 121, §2.º, III), ainda que mais grave, pois foi
desse fato que o réu se defendeu.

Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação,
embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.

Preclusão da sentença de pronúncia


A decisão definitiva de uma sentença de pronúncia alcança a denominada pre-
clusão, levando a cabo a primeira fase do procedimento binário do Tribunal do Júri.
A partir dela, inicia-se a segunda fase, com a preparação do processo para julgamento em
plenário. Inicia com os requerimentos das partes acerca de provas a serem produzidas
durante a sessão plenária, segue-se da decisão do juiz acerca de tais requerimentos e da
definição da data da sessão plenária de instrução e julgamento. Tudo em conformidade
com o disposto nos artigos 421 a 424 do CPP.

Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente
do Tribunal do Júri.
§1.º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que
altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
§2.º Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.
Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação
do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para,
no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário,
até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer
diligência.
Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas
no plenário do Júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:
I - ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa;

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

II - fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do


Tribunal do Júri.

Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária não atribuir ao presidente do Tribu-
nal do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á os autos do proces-
so preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 deste Código.

Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os processos preparados até o encerra-
mento da reunião, para a realização de julgamento.

Desaforamento
Desaforamento é tirar do foro, buscar que o processo seja instruído e julgado em
outra cidade que não aquela onde foi cometido o crime doloso contra a vida. A finalidade
do desaforamento é que o caso seja apreciado livremente pelos jurados, sem interferência
da sociedade e às vezes até mesmo da imprensa, que levam os jurados sob pressão para o
plenário a ponto de estarem com a causa julgada, algumas vezes com um prejulgamento
para condenação, antes mesmo da realização da sessão plenária.

Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparciali-
dade do Júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério
Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz
competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da
mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.

§1.º O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de jul-


gamento na Câmara ou Turma competente.

§2.º Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar, fundamentada-


mente, a suspensão do julgamento pelo Júri.

§3.º Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por ele solicitada.

§4.º Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julga-


mento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a
fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado.

Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado


excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não
puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão
de pronúncia.

§1.º Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de adia-
mentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.

§2.º Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento


em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas
reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que
determine a imediata realização do julgamento.

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Organização do Júri
O Tribunal do Júri é composto por um magistrado-presidente, mais 25 (vinte e
cinco) jurados, dos quais 7 (sete) comporão o Conselho de Sentença que deliberará acer-
ca do caso posto sob julgamento.

Rezam os artigos 425 e 426 do CPP:

Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oito-
centos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um
milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de
100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de
menor população.
§1.º Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ain-
da, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas
mencionadas na parte final do §3.º do art. 426 deste Código.
§2.º O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro,
entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindica-
tos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam
as condições para exercer a função de jurado.
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publi-
cada pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à
porta do Tribunal do Júri.
§1.º A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao
juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva.
§2.º Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.
§3.º Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na
presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, perma-
necerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente.
§4.º O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que ante-
cederem à publicação da lista geral fica dela excluído.
§5.º Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, completada.

Dos quesitos e sua votação


Os quesitos que serão apresentados aos jurados componentes do Conselho de
Sentença são completamente diferentes daqueles que eram elaborados em conformidade
com o rito do Júri anterior à Lei 11.689/2008. A intenção do legislador é tratar de forma
mais simples e objetiva, tendo em vista que a grande maioria dos julgamentos anula-
dos tinha como razão de nulidade a complexidade dos quesitos e a desconformidade de

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

algumas respostas entre as próprias perguntas feitas e também em relação às provas


produzidas no processo.

Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado
deve ser absolvido.
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distin-
tas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária
precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações
das partes.

A ordem dos quesitos vem elencada no artigo 483 do CPP, que prevê em seus
parágrafos os quais serão respondidos sempre por maioria (art. 489) e após serem in-
dagados sobre a materialidade do fato e a autoria já se poderá saber se o réu será con-
denado ou absolvido. Primeiramente, porque se negarem um dos dois quesitos, estarão
dizendo ou que o fato não existiu ou que o réu não foi o seu autor, o que, em ambos os
casos, conduz-se a um juízo absolutório. Entretanto, a maior diferença em relação aos
quesitos dispostos no CPP anteriormente a essas alterações se dá no que se refere ao
terceiro quesito.

Uma vez que os jurados tenham respondido positivamente acerca da materiali-


dade e da autoria, o juiz questionará se o acusado deve ser absolvido. Se a resposta for
afirmativa pela maioria dos jurados, já restará absolvido o réu, restando prejudicados os
demais quesitos.

De outro lado, se os jurados responderam que não deve ser absolvido, estão, en-
tão, decidindo pela condenação e o juiz seguirá na quesitação com base no §3.º do artigo
483.

Se a defesa sustentou em plenário a desclassificação do delito no sentido de que


não houve intenção de matar, o juiz-presidente deverá fazer quesito a respeito, conforme
manda o §4.º, do mesmo dispositivo legal. Em caso de crime tentado, a quesitação segui-
rá os ditames do §5.º.

Encerrada a votação, será lavrada a ata e assinada pelo juiz-presidente, pelos ju-
rados e pelas partes.

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:


I - a materialidade do fato;
II - a autoria ou participação;
III - se o acusado deve ser absolvido;
IV - se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
V - se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na
pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

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169

§1.º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos
incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§2.º Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
§3.º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formu-
lados quesitos sobre:
I - causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II - circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia
ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§4.º Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular,
será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2.º (segundo) ou 3.º (tercei-
ro) quesito, conforme o caso.
§5.º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência
sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formu-
lará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
§6.º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em
séries distintas.
Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se refere o art. 488 deste Código assina-
do pelo presidente, pelos jurados e pelas partes.

Imprescindível se dedicar mais atentamente às inovações trazidas ao CPP pela Lei


11.689, de 9 de junho de 2008, que fizemos questão de enaltecer neste capítulo.

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Teoria geral dos recursos

Nestor Távora

O duplo grau de jurisdição


Porque o ser humano é falível, e falíveis também são as suas decisões, no nosso
sistema jurídico, a própria Constituição Federal dá vigor ao princípio do duplo grau de
jurisdição, pelo qual toda decisão de relevância exarada no juízo de primeiro grau está
sujeita à apreciação de um órgão hierarquicamente superior. Em virtude disso e para pre-
servar a busca da verdade, que é a intenção maior do processo, o duplo grau de jurisdição
tem o propósito de eliminar ou, pelo menos, reduzir a incidência de decisões desgarradas
da verdade.

Conceito e finalidade dos recursos


Segundo a professora Ada Pellegrini Grinover (2001, p. 31), recurso é o “meio
voluntário de impugnação das decisões, utilizado antes da preclusão e na mesma rela-
ção jurídica processual, apto a propiciar a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a
integração da decisão”. Seus fundamentos estão calcados na falibilidade do julgador, no
inconformismo diante da sucumbência e na necessidade psicológica de quem foi vencido
na demanda.
Sua finalidade, em regra, é obter o reexame da decisão por um órgão jurisdicional
de instância superior, ou do mesmo órgão que exarou, tal qual ocorre nos Embargos de
Declaração, por exemplo.

Natureza jurídica dos recursos


É um desdobramento do direito de ação.

Características
■■ O recurso é anterior à coisa julgada.
■■ Não enseja a instauração de nova relação processual.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■■ Seu uso requer a voluntariedade do legitimado.


■■ É um meio de impugnação de decisão judicial.

Os princípios gerais

Da taxatividade
O princípio da taxatividade impõe ao recorrente que apresente, contra a decisão
guerreada, um recurso previsto em lei.

Da unirrecorribilidade
O princípio da unirrecorribilidade estabelece que contra qualquer decisão recor-
rível cabe apenas um recurso. Em tese, a lei prevê o recurso cabível para cada decisão.
Todavia, situações há que mitigam tal princípio. Assim, pode o inconformado impetrar
simultaneamente dois recursos (recurso especial ao STJ e recurso extraordinário ao STF
etc.).

Da fungibilidade
É o princípio que permite aos tribunais “aproveitarem” um recurso interposto,
por engano, quando houver dúvida objetiva sobre qual a espécie recursal a ser utilizada,
e não ter havido erro grosseiro ou má-fé por parte do recorrente. O Código de Processo
Penal (CPP) prestigia esse princípio em seu artigo 579, verbis:
Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.

Parágrafo único: Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto


pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.

Voluntariedade
O princípio da voluntariedade consiste na exigência de serem afastadas quaisquer
dúvidas acerca da vontade do recorrente para impugnar a decisão recorrida. Assim, veda-
se a obrigatoriedade da parte em recorrer.

Da proibição da reformatio in pejus


Esse princípio, consagrado no artigo 617 do CPP, impede que no julgamento de
um recurso a situação de quem recorreu seja agravada.
STF, N. 160. É nula a decisão do tribunal que acolhe contra o réu nulidade não argüida no
recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

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173

Pressupostos recursais
Para ser admitido um recurso, seus pressupostos objetivos e subjetivos devem
estar regularmente atendidos.

Objetivos
■■ Cabimento ou previsão legal: o recurso tem de estar previsto em lei.
■■ Adequação: é a interposição do recurso adequadamente aplicável à decisão re-
corrida. Em face das hipóteses elencadas no artigo 579 do CPP, a adequação
pode valer-se da fungibilidade.
■■ Tempestividade: o recurso deve ser manejado no prazo definido na lei. No pro-
cesso penal, o prazo, em regra, é de cinco dias. Todavia, existem outros prazos,
tais como carta testemunhável (48 horas), embargos de declaração (dois dias),
embargos infringentes (dez dias), recurso extraordinário e especial (15 dias).
Por força do disposto no artigo 5.º, parágrafo 5.º, da Lei 1.060/50, os defensores
públicos dispõem de prazo em dobro.
■■ Regularidade formal: é a observância das formalidades que a lei impõe. Com
efeito, há de ser observado, por exemplo, se a lei manda interpor o recurso por
termo ou petição.

Subjetivos
■■ Interesse: aquele que deseja utilizar um recurso deve ter interesse em obter o
reexame da decisão recorrida. Portanto, o interesse está vinculado à idéia de
sucumbência, ou seja, de prejuízo decorrente de uma decisão que não conce-
deu, ou concedeu em parte, o pedido postulado em juízo.
■■ Legitimidade: somente pode recorrer quem a lei autoriza a fazê-lo. Nesse sen-
tido, temos autorizadas as figuras elencadas no artigo 577 do CPP, o assistente
da acusação, os autorizados no artigo 598 do CPP, qualquer pessoa no caso de
habeas corpus, qualquer pessoa do povo nas hipóteses do parágrafo único do
artigo 426, §1.º e artigo 581, XIV, do CPP, o terceiro que prestou fiança diante
do permissivo legal do artigo 581, VII, do CPP.

Interposição dos recursos

Juízo de admissibilidade e de mérito


Uma vez interposto o recurso, o mérito (delibação) só será apreciado após esse
recurso passar por um juízo prévio de admissibilidade (prelibação) cuja intenção é ve-

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

rificar o atendimento dos pressupostos objetivos e subjetivos. Via de regra, esse juízo
de admissibilidade é feito tanto no orgão a quo (aquele que recebe o recurso) quanto no
órgão ad quem (aquele a quem se destina o recurso e que irá julgá-lo). Entendendo regular
o recurso, o juízo a quo o recebe, manda processar e remete ao tribunal. Do contrário, não
o recebe e dessa decisão caberá outro recurso.

Superando o juízo a quo, no juízo ad quem, como dito acima, o recurso será sub-
metido a novo juízo de admissibilidade. Em estando regular, o tribunal conhecerá deste,
julgará o mérito e dará ou negará provimento ao recurso (delibação). De outra forma,
entendendo ausente algum pressuposto, não conhecerá do recurso.

Recurso de ofício (CPP, art. 574)


É o recurso que a autoridade judiciária interpõe da decisão que exarou. Todavia,
sendo o recurso um instrumento manejado pelas partes em decorrência da sucumbência,
o juiz, que não é parte, rigorosamente não pode sucumbir e, dessa forma, pode valer-se
de um recurso. Por tal motivo, o que comumente se chama de recurso de ofício, melhor se
explica se o denominarmos de reexame necessário, haja vista que, em algumas situações –
aquelas disciplinadas legislativamente, a exemplo do artigo 574 do CPP –, a lei impõe ao
juiz a obrigação de remeter os autos para a segunda instância, de sorte que a decisão do
magistrado possa ser reexaminada.

Os efeitos dos recursos

Devolutivo
É um efeito que alcança todos os recursos e consiste em transferir (devolver) a
um órgão de jurisdição superior o conhecimento da matéria decidida pelo magistrado de
grau inferior. Excepcionalmente, como ocorre nos embargos de declaração, a devolução
é feita para o órgão prolator da decisão recorrida.

Suspensivo
É uma qualidade do recurso que obsta a produção dos efeitos da decisão impugna-
da. Esse efeito perdura até que transite em julgado a decisão sobre o recurso.

A regra no processo penal é que o efeito suspensivo só atua quando, expressa-


mente, a lei o estipula.

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Extensivo
É o efeito previsto no artigo 580 do CPP. Decorre dele que, em havendo mais de
um réu com idêntica situação fática e processual, se um deles recorrer e obtiver algum
benefício, este será estendido a todos.

O efeito não se opera quando se trata de situação de caráter pessoal. Por exemplo,
João e José, em idêntica situação fática e processual, receberam uma pena acima do míni-
mo legal. João, menor de 21 anos na data do fato (atenuante genérica), recorre e tem sua
pena reduzida. Como Paulo, na data do fato, contava com 35 anos, não se operará, em
favor deste, o efeito extensivo do benefício.

Quando cabível, o próprio tribunal aplica o efeito para estender o benefício.

Regressivo ou iterativo ou diferido


Esse efeito impõe que o juiz prolator da decisão reaprecie a matéria para mantê-
la ou reformá-la, no todo ou em parte. O efeito é restrito a alguns recursos, tal qual o
recurso em sentido estrito (CPP, art. 589).

A extinção dos recursos


A extinção normal de um recurso se dá quando o tribunal ad quem julga o mérito.
Contudo, situações existem em que o recurso extingue-se de modo anormal – sem che-
gar ao julgamento –, conforme abaixo.

Desistência
Tem lugar quando, após a interposição e o recebimento do recurso pelo juízo a
quo, o recorrente desiste formal e expressamente do mesmo.

O artigo 576 do CPP proíbe o MP de desistir do recurso por ele mesmo inter-
posto.

Ressalto a importância do sistema recursal, seus efeitos e, principalmente, a pe-


culiaridade do efeito regressivo, viabilizando o juízo de retratação em alguns casos.

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Apelação

Nestor Távora
Apelação

Considerações gerais
É o recurso interposto da sentença definitiva ou das decisões definitivas ou com
força de definitivas, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a conse-
qüente modificação parcial ou total da decisão.

Características

É recurso amplo
Devolve o conhecimento pleno da matéria impugnada.

É recurso residual
Só cabe quando não houver a previsão do artigo 581 do Código de Processo Penal
(CPP).

Goza de primazia
Quando em parte da sentença houver previsão para o recurso em sentido estrito,
a Apelação tem primazia perante tal recurso. Essa preferência mantém-se mesmo que
o apelo destine-se a provocar a revisão daquela parte que seria objeto do recurso em
sentido estrito.

Espécies

Plena ou parcial
A Apelação é plena quando objetiva atingir a totalidade da decisão apelada, e par-
cial se visa impugnar apenas parte dessa decisão. Quando plena, devolve toda a matéria
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

decidida em primeiro grau para o julgamento do tribunal. Não sendo expressamente


parcial, a Apelação será presumida plena.

Principal ou subsidiária
É principal a Apelação quando interposta pelo Ministério Público (MP). Se mane-
jada pelo ofendido, habilitado ou não como assistente, e após esgotado o prazo recursal
para o promotor, é dita subsidiária ou supletiva.

Ordinária ou sumária
A Apelação é considerada ordinária ou sumária em decorrência do procedimento
que será adotado na segunda instância.

Hipóteses de cabimento

Nas decisões do juiz singular (CPP, art. 593, I e II)


■■ Inciso I – Para combater as sentenças definitivas de condenação ou absolvição: em tais
sentenças, o juiz julga o mérito da causa, põe fim à lide e declara procedente ou
improcedente a pretensão punitiva estatal.
■■ Inciso II – Para apelar das decisões definitivas, ou com força de definitivas, desde
que não cabível o recurso em sentido estrito: as decisões definitivas são aquelas
que adentram o mérito e encerram o procedimento sem, todavia, condenar
ou absolver, e com força de definitivas são aquelas que, sem entrar no mérito,
encerram o processo ou uma fase processual.

Nas decisões do Tribunal do Júri (CPP, art. 593, III)


Nessa fase, o apelo é cabível nas situações abaixo.
■■ Em face de nulidade surgida após a pronúncia: interposta a Apelação que mencio-
nará fundamentadamente a nulidade, esta, em sendo provida, anulará o ato
viciado, bem como os posteriores dele decorrentes, e o réu será submetido a
novo julgamento.
■■ Quando o juiz presidente sentenciar contrariando a lei ou a decisão dos jurados: a de-
cisão do tribunal que der provimento ao apelo e, reformando a sentença, vier
a ajustá-la à decisão dos jurados não viola o princípio da soberania dos vere-
dictos. Diversamente, prestigia-o, haja vista que o tribunal retifica a parte da
decisão atinente ao juiz presidente para fazer valer o veredicto dos jurados.

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179

■■ Havendo erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou medida de segurança:


sendo provida a Apelação, o tribunal retificará a aplicação da pena ou medida
de segurança.

Note que nos casos acima a Apelação que vise a modificar o veredicto dos jura-
dos é imprestável porque, modificando o veredicto, violaria norma constitucio-
nal. As aludidas hipóteses somente atacam as decisões do juiz presidente.

■■ Se a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos: mesmo em
face dessa hipótese, o tribunal não pode violar o princípio da soberania dos ve-
redictos para reformar a decisão dos jurados. Assim, o provimento da Apelação
resulta na determinação para que se proceda a novo julgamento.

A Apelação com esse fundamento é cabível uma única vez.

STF, N. 713. O efeito devolutivo da apelação contra decisão do júri é adstrito aos fun-
damentos da sua interposição.

Isso significa que o tribunal não pode, por exemplo, diante de uma Apelação
fundada em nulidade, determinar novo julgamento, porque, ao seu ver, defluiu
dos autos que os jurados decidiram contra as provas nele contidas.

Prazo para interpor a Apelação


■■ Para o réu e seu defensor, o prazo é de cinco dias, contados da intimação da
sentença. Ambos devem ser intimados, servindo de termo inicial a intimação
que ocorrer por último.

■■ Para a parte que esteve presente no ato, o prazo é contado da data da audiência
ou da sessão em que foi prolatada a sentença.

■■ Nas hipóteses de intimação por edital (60 dias para as penas inferiores a um
ano e 90 dias para as superiores), o prazo para a Apelação tem início logo após
o decurso do prazo do edital.

■■ O assistente de acusação habilitado tem prazo de cinco dias. Não sendo habili-
tado, o prazo é de 15 dias.

STF, N. 448. O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr imedia-
tamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.

■■ Nos processos submetidos ao procedimento da Lei 9.099/95, o prazo para o


recurso é de dez dias (art. 82), sendo que a petição de interposição já deve vir
acompanhada das razões.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Procedimento
■■ Interposição no juízo a quo no prazo de cinco dias.

Se denegada, cabe recurso em sentido estrito. Se recebida, o apelante será inti-


mado para oferecer as razões da Apelação.

■■ Razões da Apelação.

São os fundamentos que embasam o recurso, devendo ser oferecidas em até


oito dias. Nos casos de contravenções que não estejam sendo julgadas no Jui-
zado Especial Criminal, esse prazo é de três dias. O assistente, se houver, ma-
nifesta-se em três dias, após o MP. Nas ações privadas, o MP apresenta suas
razões em três dias, após o querelante o fazer.

O parágrafo 4.° do artigo 600 faculta ao apelante apresentar suas razões na


segunda instância. Essa faculdade não é afeta ao recurso em sentido estrito.

■■ Contra-razões.

Oferecidas as razões da Apelação, a parte contrária dispõe do mesmo prazo


para contra-razoar.

Havendo Apelação simultânea (MP e réu), o MP arrazoa primeiro. Em seguida,


abre-se o prazo em dobro para o acusado apresentar suas razões e contra-razões.
Por fim, os autos voltam ao MP para que este responda ao recurso do réu.

Não obstante o disposto no artigo 601 do CPP, tem-se entendido pela obrigato-
riedade das razões e contra-razões. Isso porque ao MP não é permitido desistir
do recurso; ao acusado é assegurada a proteção do princípio da ampla defesa,
pelo que se obriga a apresentar razões e contra-razões.

O atraso na apresentação das razões ou contra-razões dá ensejo a mera irregu-


laridade.

■■ Os autos são recebidos no tribunal e remetidos ao procurador para manifesta-


ção em dez dias.

■■ Depois disso, o relator elabora relatório em dez dias e manda para o revisor.

■■ O revisor pede dia para julgamento.

■■ São feitas as intimações.

■■ No dia do julgamento, o presidente da turma o anuncia e manda apregoar as


partes.

■■ O relator faz exposição oral do feito.

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■■ As partes falam por 15 minutos.

■■ É procedida a votação e a lavratura do acórdão.

Efeitos
■■ Devolutivo: está sempre presente na Apelação.

STF, N. 160. É nula a decisão do tribunal que acolhe contra o réu nulidade não argüida
no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

■■ Suspensivo: é a regra (art. 597). Todavia, comporta exceções.

A Apelação da sentença absolutória não tem efeito suspensivo. Logo, se o réu


estiver preso, deve ser colocado em liberdade imediatamente.

■■ Extensivo (art. 580): é a possibilidade do recurso de apelo beneficiar co-réu que


não recorreu, se os fundamentos do recurso não forem estritamente de ordem
pessoal.

Deve o aluno ter atenção para a subsidiariedade do recurso de apelo: não cabendo
recurso em sentido estrito, é possível que caiba Apelação, desde que haja enquadramento
no artigo 593 do CPP.

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Recurso em Sentido Estrito
(CPP, arts. 581 a 592)

Nestor Távora
Considerações gerais
É o recurso que, como regra, presta-se ao combate das decisões interlocutórias,
tendo suas hipóteses de cabimento delineadas pelo artigo 581 do Código de Processo
Penal (CPP), e permitindo que, quando da sua interposição, o magistrado prolator da
decisão exerça juízo de retratação.

Cabimento
As hipóteses de interposição constam do artigo 581 do CPP, não cabendo, segun-
do a doutrina, ampliação por analogia. Contudo, eventualmente é possível a interpreta-
ção extensiva. Assim, segundo o caput do dispositivo, “Caberá recurso, no sentido estrito,
da decisão, despacho ou sentença” que se apresenta conforme abaixo.

Não recebe a denúncia ou a queixa (art. 581, I)


O não-recebimento da inicial acusatória comporta, como regra, o recurso em tela. Já
o recebimento, por ausência de previsão legal, é irrecorrível, podendo dar ensejo, contudo,
à ação de habeas corpus.

Nos juizados especiais, o não-recebimento da denúncia ou da queixa comporta


Apelação (Lei 9.099/95, art. 82).

STF, N. 707. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-
razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de de-
fensor dativo.

Conclui pela incompetência do juízo (art. 581, II)


Lembre-se de que o magistrado na esfera criminal pode reconhecer a sua incompetência
ex officio, mesmo que relativa. Assim, ao fazê-lo espontaneamente, sem a necessidade de
interposição de exceção pelas partes, cabe o manejo do recurso com esse fundamento.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Julga procedentes as exceções,


salvo a de suspeição (art. 581, III)
As exceções de litispendência, coisa julgada, ilegitimidade de parte e incompe-
tência estão tratadas no artigo 95 do CPP. Sendo um procedimento incidental, de sua
procedência cabe o recurso em estudo. Já da improcedência cabe o ajuizamento da ação
de habeas corpus.
A exceção de suspeição, por ter procedimento peculiar e referir-se à própria im-
parcialidade do magistrado, não dá margem a atuação do Recurso em Sentido Estrito.

Pronúncia (art. 581, IV)


Concluído o sumário da culpa, entre as decisões que o juiz pode tomar está a
pronúncia do réu.
Havendo interesse, deve o acusado recorrer em busca de uma decisão mais bené-
fica, como a absolvição sumária.
Da pronúncia, estão legitimados a recorrer o Ministério Público (MP) ou o que-
relante, o réu e o ofendido.
Tendo em vista que o artigo 595 limita o efeito da deserção ao recurso de Apelação,
este não se opera se o réu preso fugir após ter ajuizado o recurso em sentido estrito.

Concede, nega, arbitra, cassa ou julga inidônea


a fiança, indefere requerimento de prisão preventiva
ou a revoga, concede liberdade provisória
ou relaxa a prisão em flagrante (art. 581, V)
Pode ser utilizado até mesmo para o recorrente insurgir-se contra o valor da
fiança.
Não serve para combater decisões que decretam a prisão preventiva, indeferem
pedido de relaxamento de flagrante, denegam requerimento de liberdade provisória. Es-
sas situações são combatidas com a ação de habeas corpus.

Julga quebrada a fiança ou perdido


o seu valor (art. 581, VII)
Quebra da fiança ocorre quando o afiançado não atende às condições legais im-
postas para a concessão da mesma, ao passo que a perda se deve quando o indivíduo,
uma vez condenado e determinada a sua prisão, não vem a recolher-se ao cárcere (CPP,
arts. 327, 328, 341 e 344).

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185

Decreta a prescrição ou julga, por outro modo,


extinta a punibilidade (art. 581, VIII)
Reconhecida a extinção da punibilidade, seja pela prescrição ou por outra causa,
a exemplo do rol constante no artigo 107 do Código Penal (CP), essa decisão, que é me-
ritória, comporta o recurso em estudo.

Indefere o pedido de reconhecimento da prescrição


ou de outra causa extintiva da punibilidade (art. 581, IX)
Ao contrário do inciso anterior, se o magistrado indefere o reconhecimento de
extinção da punibilidade, dessa decisão também caberá Recurso em Sentido Estrito.

Concede ou nega a ordem de habeas corpus (art. 581, X)


O recurso é apropriado para o recorrente insurgir-se contra concessão, denegação
ou pedido prejudicado de habeas corpus, desde que exarado pelo juízo de primeiro grau.

Se a decisão denegatória do habeas corpus for proferida por tribunal, o recurso ca-
bível é o Ordinário Constitucional (CF, art. 102, II, “a”; e art. 105, II, “a”, tratando res-
pectivamente das competências do STF e do STJ para apreciação do recurso Ordinário
Constitucional).

A concessão da ordem de habeas corpus pelo juiz de primeiro grau submete-se tam-
bém ao chamado Recurso de Ofício ou Segundo Grau Necessário. É dizer: o magistrado deve
remeter sua decisão à reapreciação pelo tribunal competente.

Concede, nega ou revoga


a suspensão condicional da pena (art. 581, XI)
Com o advento da Lei de Execução Penal (LEP), o recurso cabível é o Agravo em
Execução (Lei 7.210/84, art. 197).

Versando o corpo da sentença sobre sursis, o recurso cabível é a Apelação, que,


afinal, goza de primazia em face do recurso em sentido estrito.

Concede, nega ou revoga


livramento condicional (art. 581, XII)
Com o advento da LEP, o recurso cabível é o Agravo em Execução (Lei 7.210/84,
art. 197).

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Anula o processo da instrução criminal,


no todo ou em parte (art. 581, XIII)
Cabível o Recurso em Sentido Estrito pela parte inconformada com o reconhe-
cimento da nulidade, pois esta implicará o refazimento da instrução ou a reprodução de
determinados atos.

A decisão que desacolhe a pretensão de obter a declaração de nulidade do pro-


cesso deve ser combatida em preliminar de apelação ou, a depender do caso, em sede de
habeas corpus.

Inclui jurado na lista geral


ou desta o exclui (art. 581, XIV)
Tem o fito de impugnar a lista definitiva. Deve ser dirigido ao presidente do Tribu-
nal de Justiça, no prazo de 20 dias da publicação da lista definitiva. Estão legitimados o
MP e qualquer pessoa do povo.

Denega a Apelação ou a julga deserta (art. 581, XV)


Trata a hipótese de combater a decisão que julga ausentes os pressupostos da Apelação.
Note-se que o recurso não é manejado para insurgir-se contra a sentença apelada e sim
contra a decisão que não recebe o recurso de apelo interposto.

Caso o juiz não receba o Recurso em Sentido Estrito, deve o interessado lançar
mão da Carta Testemunhável para combater tal decisão.

Ordena a suspensão do processo,


em virtude de questão prejudicial (art. 581, XVI)
As questões prejudiciais são matérias ligadas ao mérito, e devem ser solvidas
antes de o magistrado adentrar o cerne da demanda criminal. Exemplo: na apuração de
um crime de bigamia, o réu sustenta que o primeiro casamento é nulo. Essa alegação é
prejudicial ao feito, e deve ser enfrentada antes do julgamento do crime imputado.

As prejudiciais estão tratadas nos artigos 92 e 93 do CPP, sendo obrigatórias ou


facultativas, a depender da referência ou não ao estado civil das pessoas, e também da
suspensão do feito criminal esperando que a prejudicial seja dirimida na esfera extrape-
nal. Assim, se o magistrado suspende o processo crime, para que no cível a prejudicial
seja solucionada, essa decisão comporta Recurso em Sentido Estrito.

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187

A decisão que nega a suspensão deve ser combatida em preliminar de Apelação


ou, a depender do caso, com o ajuizamento da ação de habeas corpus.

Alguns conceituados doutrinadores advogam a tese de que cabe Correição Parcial


para insurgir-se contra a decisão que, em face de questão prejudicial obrigatória, desaco-
lhe o requerimento de suspensão do processo.

Decide sobre a unificação das penas (art. 581, XVII)


Na hipótese desse inciso, há divergência doutrinária. Os mestres Noronha, Touri-
nho, Ada, entre outros, entendem que, em face da LEP, o recurso cabível é o Agravo em
Execução (Lei 7.210/84, art. 197). Portanto, estaria revogado esse inciso.

O festejado professor Mirabete, por outro lado, sustenta a tese de que a unifica-
ção das penas é matéria regulada pelo CP e não pela LEP. Isso posto, cabível é o recurso
em sentido estrito. Mirabete robustece seus argumentos salientando que o Recurso em
Sentido Estrito oferece um mais amplo leque de opções (sustentação oral, oposição de
nulidade, embargos infringentes) de defesa para o réu.

Decide o incidente de falsidade (art. 581, XVIII)


O inciso refere-se à decisão acerca do incidente de falsidade documental (CPP,
arts. 145 a 148), para aferir a idoneidade ou não de um documento. Assim, julgado pro-
cedente ou não o incidente, cabe o recurso em estudo.

Para atacar tal decisão, podem utilizar o recurso o MP, o acusado ou o quere-
lante.

Decreta medida de segurança, depois


de transitar a sentença em julgado (art. 581, XIX)
Em face da LEP, o inciso está revogado. É cabível, portanto, o Agravo em Execu-
ção (Lei 7.210/84, art. 197).

Impõe medida de segurança


por transgressão de outra (art. 581, XX)
Revogado pela LEP. É cabível o Agravo em Execução (Lei 7.210/84, art. 197).

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Mantém ou substitui a medida


de segurança, nos casos do artigo 774 (art. 581, XXI)
Revogado pela LEP. É cabível o Agravo em Execução (Lei 7.210/84, art. 197).

Revoga a medida de segurança (art. 581, XXII)


Revogado pela LEP. É cabível o Agravo em Execução (Lei 7.210/84, art. 197).

Deixa de revogar a medida de segurança,


nos casos em que a lei admite a revogação
(art. 581, XXIII)
Revogado pela LEP. É cabível o Agravo em Execução (Lei 7.210/84, art. 197).

Converte a multa
em detenção ou prisão simples (art. 581, XXIV)
Tal conversão, desde 1996, com a publicação da Lei 9.268, que deu nova redação
ao artigo 51 do CP, tornou-se inadmissível.

Prazo
O prazo para a apresentação do Recurso em Sentido Estrito é de cinco dias (CPP,
art. 586). Temos, contudo, uma exceção no parágrafo único do referido artigo, informan-
do que o Recurso em Sentido Estrito para combater a decisão que inclui ou exclui jurado
da lista geral tem o prazo de vinte dias, contado da data da publicação definitiva da lista de
jurados.

As razões do recurso em sentido estrito – ou seja, os fundamentos que embasam


a sua interposição – devem ser apresentadas no prazo de dois dias (CPP, art. 588). Segun-
do a melhor doutrina, a parte deve ser intimada para apresentar as suas razões.

Procedimento
■■ Poderá subir nos próprios autos (art. 583), ou por meio de instrumentos, ha-
vendo então traslado das peças que o recorrente indicar.
■■ É interposto perante o juiz prolator da decisão, por petição ou termo nos autos.
■■ O recorrente é notificado para apresentar razões no prazo de dois dias (não
podem ser ofertadas diretamente em segundo grau), seguindo-se então ao re-
corrido a apresentação das contra-razões em igual prazo.

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■■ Possibilidade de retratação por parte do magistrado no prazo de dois dias, man-


dando instruir o recurso com os traslados que lhe parecerem necessários.
Caso o magistrado retrate-se, a parte contrária, por simples petição, poderá
recorrer da nova decisão, desde que caiba Recurso em Sentido Estrito.
■■ Seguem então os autos ao tribunal para julgamento, dentro do prazo de cinco
dias (CPP, art. 591)

Efeitos
■■ Devolutivo – o Recurso em Sentido Estrito devolve a matéria recorrida para
reapreciação do tribunal.
■■ Iterativo ou regressivo – é a possibilidade de o magistrado prolator da decisão
retratar-se, reformando a decisão pela interposição do recurso, facultando-se à
parte contrária, por simples petição, recorrer da nova decisão, se desta couber
Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 589, parágrafo único).
■■ Suspensivo – as hipóteses de efeito suspensivo estão tratadas no artigo 584 do
CPP.
■■ Extensivo – eventualmente, co-réu que não recorreu poderá beneficiar-se do
julgamento do recurso em sentido estrito, desde que a matéria debatida não
seja de caráter estritamente pessoal (CPP, aplicação do art. 580).

Merecem atenção as hipóteses de cabimento do Recurso em Sentido Estrito (CPP,


art. 581) e a utilização subsidiária do habeas corpus para guerrear algumas decisões que,
por ausência de amparo legal, não comportam o recurso em estudo.

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Habeas corpus

Nestor Távora

Conceito
Ação de cunho constitucional (CF, art. 5.º, LXVIII), remédio jurídico, que tem por
finalidade fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente de
ilegalidade ou abuso de poder.

Natureza jurídica
Apesar de constar do Título II do Livro III do Código de Processo Penal (CPP),
que trata dos recursos em geral, o habeas corpus é uma ação penal popular de respaldo
constitucional.

Espécies

Liberatório ou repressivo
Tem cabimento quando o constrangimento ilegal já está efetivado. Objetiva a ex-
pedição do alvará de soltura para a liberação do paciente.

Preventivo
Busca afastar ameaça à liberdade de locomoção, com a expedição do salvo-con-
duto.

Legitimidade

Ativa (CPP, art. 654)


Qualquer pessoa do povo tem legitimidade para impetrar a ação de habeas corpus.
Até mesmo o analfabeto, desde que alguém assine a seu rogo, e a pessoa jurídica têm
legitimidade ativa para a ação em estudo.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

■■ O artigo 654, em seu parágrafo 2.º, dispõe que “Os juízes e tribunais têm com-
petência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso do
processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação
ilegal”.

■■ Cabe habeas corpus contra ato de particular.

■■ O Ministério Público (MP) tem legitimidade para propor habeas corpus em favor
do réu, pois o MP não é um colecionador de condenações e sim guardião da
sociedade e fiscal da lei.

Passiva
É o autor do abuso de poder ou da ilegalidade.

Cabimento
O artigo 648 do CPP indica exemplificativamente as hipóteses de cabimento de
habeas corpus.

■■ Quando não houver justa causa (art. 648, I).

É a ausência de fundamento jurídico e suporte fático para autorizar a prisão,


o inquérito policial ou o processo. A prisão cautelar deve estar pautada em lei
e ser necessária à persecução criminal. O inquérito policial e o processo têm
de estar respaldados em um mínimo de elementos para subsistirem – devem
ter lastro. Caso contrário, os mesmos devem ser trancados e a prisão não deve
subsistir.

■■ Preso por mais tempo do que a lei determina (art. 648, II).

Recorde-se que as prisões de ordem cautelar são uma exceção e devem subsistir
quando estritamente necessárias. Destarte, estando o réu preso, não pode a
instrução estender-se em demasia, sob pena de a restrição à liberdade caracte-
rizar constrangimento ilegal.

STF, N. 697. A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos
não veda o relaxamento de prisão processual por excesso de prazo.

■■ Quem autoriza a coação não tem competência para fazê-lo (art. 648, III).

Segundo o inciso LXI do artigo 5.º da Carta Magna, “ninguém será preso senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciá-
ria competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei”.

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■■ Cessou o motivo que autorizou a coação (art. 648, IV).

Quando, por exemplo, o executado já cumpriu o tempo de pena e continua


preso.

■■ Quando, cabendo, não foi admitida a fiança (art. 648, V).

O artigo 5.º, LXVI, da Constituição Federal (CF), consagra que “ninguém será
levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança”.

■■ Processo manifestamente nulo (art. 648, VI).

■■ Quando extinta a punibilidade (art. 648, VII).

As causas que levam à extinção da punibilidade estão relacionadas no artigo


107 do Código Penal.

Competência
■■ Do juiz de primeiro grau.

Normalmente, quando a autoridade coatora for o delegado ou a ilegalidade


emanar de um particular.

■■ Do Tribunal de Justiça (TJ).

Em regra, quando a autoridade coatora for juiz estadual e membro do MP Esta-


dual.

■■ Do Tribunal Regional Federal (TRF).

Comumente quando a autoridade coatora for Juiz Federal de primeiro grau e


procuradores da República que não oficiem junto aos Tribunais.

■■ Do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Artigo 105, I, “c”, da CF.

■■ Do Supremo Tribunal Federal (STF).

Artigo 102, I, “i”, da CF.

STF, N. 690. Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus


contra decisão de turma recursal dos juizados especiais criminais.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Impetração

Conteúdo
A petição do habeas corpus deverá conter o endereçamento, o nome do paciente,
a indicação do coator, a narrativa dos fatos que constituem a coação e a assinatura (art.
654, §1.º).

O habeas corpus pode ser apresentado por telegrama e até mesmo por telefone.

Cabe a concessão de liminar no julgamento do habeas corpus.

STF, N. 691. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impe-
trado contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, inde-
fere a liminar.

Procedimento
■■ Petição endereçada ao órgão competente.
■■ O magistrado competente pode determinar a apresentação do preso ou ir até o
local onde o mesmo se encontre.
■■ Pode ainda determinar diligência, ouvindo o paciente, e decidindo em 24 horas.
O MP não se manifesta nos julgamentos de primeiro grau.

Julgamento e efeitos

O habeas corpus repressivo


Tem o objetivo de livrar o paciente da prisão, com a expedição do alvará de soltura
(CPP, art. 660, §1.º).

O habeas corpus preventivo


Objetiva a expedição de salvo-conduto, no intuito de impedir a ocorrência de uma
prisão arbitrária (CPP, art. 660, §4.º).

A anulação do processo
O habeas corpus pode ter a finalidade de anular o processo criminal, devendo o
mesmo ser refeito a partir do ato inquinado de vício (art. 652).

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Trancamento do inquérito policial ou do processo


O habeas corpus pode destinar-se a trancar tanto o inquérito policial quanto o pro-
cesso, quando desprovidos de justa causa, ou seja, de lastro mínimo para a existência.

Recursos
O sistema recursal do habeas corpus está delineado conforme abaixo.
■■ Da decisão de procedência ou improcedência exarada pelo juiz singular, cabe
Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, X).
■■ A concessão da ordem pelo juízo de primeiro grau está submetida ao chamado
Duplo Grau Necessário, também chamado de Recurso de Ofício ou Oficial (CPP,
art. 574, I).
■■ A improcedência do habeas corpus em sede de tribunal pode levar ao cabimento
do Recurso Ordinário Constitucional nos seguintes casos:
■■ Recurso Ordinário Constitucional ao STF: (CF, art. 102, II) – cabível da de-
negação do habeas corpus, em única instância, pelos tribunais superiores;
■■ Recurso Ordinário Constitucional ao STJ (CF, art. 105, II) – cabível da dene-
gação do habeas corpus, em única ou última instância, pelos tribunais regio-
nais federais ou pelos tribunais dos estados.

Deve o aluno atentar para as novas súmulas do STF que abordam o tema: 690 a
695.

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Revisão criminal

Nestor Távora

Conceito
Segundo o professor Fernando Capez (2003, p. 448), é a “ação penal rescisória
promovida originariamente perante o tribunal competente, para que, nos casos expressa-
mente previstos em lei, seja efetuado o reexame de um processo já encerrado por decisão
transitada em julgado”. Assim, a revisão objetiva combater as injustiças de um provimen-
to jurisdicional do qual não caiba mais recurso, em face do advento da coisa julgada.

Natureza jurídica
Apesar de tratada no Título II do Livro III do Código de Processo Penal (CPP),
que aborda o sistema recursal, não há dúvida de que a revisão criminal é propriamente
uma ação, e mais precisamente uma ação de cunho rescisório no combate às sentenças
com trânsito em julgado.

Legitimidade (CPP, art. 623)


Cabe ao condenado, por seu advogado, ou até mesmo diretamente, a propositura
da revisão criminal, afinal, o artigo 133 da Constituição Federal (CF) informando que os
advogados são essenciais à administração da justiça, não tem caráter absoluto.
■■ O MP não tem legitimidade para propor a revisão criminal.
■■ Em falecendo o condenado, o direito passa ao cônjuge, ascendente, descenden-
te ou irmão.

Prazo
O artigo 622 do CPP consagra que a revisão criminal poderá ser proposta a qual-
quer tempo após o trânsito em julgado da decisão, antes ou após a extinção da pena. O
importante é a restauração do status dignitatis do condenado.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Cabimento
As hipóteses de cabimento da revisão criminal estão esboçadas no artigo 621 do
CPP, quais sejam:

■■ A existência de sentença condenatória contrária a texto expresso de lei (primei-


ra parte do inciso I).

É aquela decisão que afronta não só as disposições da legislação material mas


também a processual penal.

STF, N. 611. Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execu-
ções a aplicação da lei mais benigna. [grifo nosso]

Assim, em havendo nova lei beneficiando a situação do condenado que já tem


contra si sentença transitada em julgado, não há de se falar em revisão criminal
e sim aplicação do novo instituto pelo juízo das execuções criminais.

■■ Contrariedade à evidência dos autos (CPP, art. 621, I, parte final).

É a condenação sem apoio em provas substanciais.

■■ Sentença fundada em provas comprovadamente falsas (CPP, art. 621, II).

Ocorre quando o juiz, ao proferir uma decisão condenatória, arrimou o seu


julgamento na valoração de provas falsas, despidas de cunho verídico.

■■ Surgirem novas provas da inocência do condenado (CPP, art. 621, III, primeira
parte).

Novas provas são aquelas que já existiam quando do julgamento, mas que não
foram objeto de apreciação, pois sua existência sequer foi cogitada.

■■ Surgirem novas provas autorizando a diminuição de pena (CPP, art. 621, III,
parte final).

A admissibilidade da revisão criminal


É requisito indispensável para a revisão criminal a existência de uma sentença
condenatória ou de uma sentença absolutória imprópria (a que aplica medida de segu-
rança ao inimputável).

Como informa o parágrafo único do artigo 622 do CPP, a reiteração do pedido


revisional só é possível em havendo novas provas.

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O procedimento
■■ Petição dirigida ao presidente do tribunal competente.

■■ Distribuição a um relator.

■■ Vistas ao MP, para parecer em dez dias.

■■ Volta ao relator, para relatório em dez dias.

■■ O revisor tem dez dias para designação de data para julgamento.

■■ Julgamento, do qual não cabem embargos infringentes.

Os efeitos
Julgada procedente a revisão criminal, o tribunal poderá alterar a classificação da
infração pela qual o réu foi condenado, absolvê-lo, anular o processo, ou alterar a pena.

■■ O julgamento da procedência da revisão criminal implica o restabelecimento de


todos os direitos perdidos pelo condenado.

■■ Existindo condenação equivocada de pessoa que era inimputável à época do


fato delituoso, e, ao invés de aplicação de medida de segurança, foi aplicada
pena, identificado o equívoco, em sede de revisão criminal, poderá o tribunal
impor de logo a medida de segurança cabível.

■■ Vedação da reformatio in pejus: como o intuito da revisão criminal é beneficiar a


situação do condenado, não poderá o tribunal, apreciando a revisão, agravar a si-
tuação deste. Não caberá também, caso haja a anulação da decisão condenatória
e determinação para que outra seja proferida, possibilidade de no novo julgamen-
to impor-se situação mais severa.

■■ Da sentença estrangeira não cabe revisão criminal.

A indenização
Havendo requerimento, o tribunal poderá reconhecer o direito a uma justa inde-
nização pelos prejuízos sofridos em face do erro judiciário.

Não subsiste a restrição ao direito de indenização prevista na alínea “b”, do artigo


630 do CPP, que veda a indenização por parte do Estado nos casos de ação penal privada,
afinal, o artigo 5.º, LXXV, da CF, impondo ao Estado o dever de indenizar o erro judiciário cau-
sado, não faz essa limitação.

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A sentença condenatória transitada em julgado, além do combate através da revi-


são criminal, pode dar ensejo ao ajuizamento da ação de habeas corpus.

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Referências

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seu Procedimento Especial. Salvador: Juspodivm, 2004.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Recursos no Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista
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JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

JESUS, Damásio E. de. Código de Processo Penal Anotado. 21. ed. São Paulo: Saraiva,
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MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova Reforma do Código de Processo Penal. São
Paulo: Método, 2008.

MIRABETE, Julio Fabrini. Código de Processo Penal Interpretado. 10. ed. São Paulo:
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NORONHA, Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2002.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: Revista
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OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey,
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TÁVORA, Nestor. Questões Comentadas: Processo Penal para a OAB. Salvador: Jus-
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Anotações

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