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Nestor Távora
Vilmar Velho Pacheco Filho
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7638-970-5
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SUMÁRIO
Linhas introdutórias I
13 Direito Processual Penal
14 Entendendo o tema
15 Sistemas processuais
15 Fontes
Linhas introdutórias II
19 Analogia (ubi eadem ratio, ubi idem ius)
19 A lei processual penal no tempo
(CPP, art. 2.º)
20 A lei processual penal no espaço
(CPP, art. 1.º)
20 Princípios do processo penal constitucional
Inquérito policial I
27 A persecução criminal
27 Polícia judiciária e polícia administrativa
(CF, art. 144)
27 Conceito e finalidade do inquérito policial
(CPP, art. 4.º)
28 Inquéritos extrapoliciais
28 Características do inquérito policial
30 Competência (atribuição): CPP, arts. 4.º e 22
30 Prazos
32 Valor probatório
32 Vícios
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SUMÁRIO
Inquérito policial II
37 Incomunicabilidade
37 Providências
38 Reprodução simulada dos fatos
(CPP, art. 7.º)
38 Indiciamento
38 Encerramento
39 Considerações finais
Atos processuais
(CPP, arts. 351 a 372)
43 Introdução e conceito
43 Citação
44 Espécies de citação
50 Suspensão do processo e da prescrição
50 Revelia
50 Intimação e notificação
Ação penal I
53 Conceito
53 Características
53 Condições da ação
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SUMÁRIO
Ação penal II
61 Ação penal privada
63 A inicial acusatória
65 Rejeição da denúncia ou queixa
(CPP, art. 395)
65 Recurso para combater a rejeição
65 Fundamentação do recebimento
Jurisdição e competência
67 Jurisdição
70 Competência
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SUMÁRIO
79 Conexão e continência
81 Foro prevalente
81 Separação de processos
81 Perpetuatio jurisdictionis
Prisão em flagrante
85 Conceito
85 Espécies de flagrante
87 Flagrante nas várias espécies de crime
87 Sujeitos do flagrante
87 Autoridade “competente”
87 Prazo para lavratura do auto
88 Etapas do auto de prisão em flagrante (CPP, art. 304)
Liberdade provisória
97 Conceito
97 Espécies
97 Liberdade provisória sem fiança
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SUMÁRIO
Provas em espécie
(CPP, arts. 155 a 157)
111 Prova pericial
113 Procedimento da prova pericial
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SUMÁRIO
Questões e processos
incidentes I
125 Questões prejudiciais
127 Exceção
132 Incompatibilidades e impedimentos
Questões e processos
incidentes II
135 Conflito de jurisdição
135 Conflito de atribuições
135 Processamento
136 Competência para dirimir o conflito
136 Observações importantes
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SUMÁRIO
Questões e processos
incidentes III
141 Medidas assecuratórias
143 Incidente de falsidade (CPP, arts. 145 a 148)
144 Incidente de insanidade mental do acusado
(CPP, arts. 149 a 154)
Procedimentos penais
(CPP, arts. 394 e seguintes)
147 Processo e procedimento
147 Escolha do procedimento
149 Procedimentos e Código de Processo Penal
Procedimento do Júri
159 Previsão constitucional
159 Procedimento do Júri (CPP, arts. 394 a 497)
162 Aspectos relevantes do Tribunal do Júri
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SUMÁRIO
Apelação
177 Apelação
Habeas corpus
191 Conceito
191 Natureza jurídica
191 Espécies
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SUMÁRIO
191 Legitimidade
192 Cabimento
193 Competência
194 Impetração
194 Procedimento
194 Julgamento e efeitos
195 Recursos
Revisão criminal
197 Conceito
197 Natureza jurídica
197 Legitimidade (CPP, art. 623)
197 Prazo
198 Cabimento
198 A admissibilidade da revisão criminal
199 O procedimento
199 Os efeitos
199 A indenização
Referências 203
Anotações 205
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Linhas introdutórias I
Nestor Távora*
Conceito e finalidade
Na majestosa lição de Frederico Marques (2003, p. 16), o Direito Processual Penal
Características
■■ Autonomia: o Direito Processual independe do direito material, isso porque
tem princípios e regras próprias e especializantes.
■■ Instrumentalidade: é o meio para fazer atuar o direito material penal.
■■ É uma disciplina normativa, de caráter dogmático, inclusive com codificação
própria (CPP – DL 3.689/41).
Posição enciclopédica
É um dos ramos do Direito Público. O fundamento é que um dos sujeitos é o
Estado e a finalidade das normas é obter a repressão dos delitos, através do exercício do
jus puniendi, intrínseco ao Estado.
Especialista em Ciências Criminais pelas Faculdades Jorge Amado. Professor da Escola da Magistratura da Bahia e professor con-
vidado da Pós-Graduação em Direito Tributário da Universidade Federal da Bahia. Defensor Público-AL.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Entendendo o tema
Passaremos aqui, de forma sucinta, a identificar alguns conceitos fundamentais
para o estudo da matéria, levando o estudante a relembrar tópicos da Teoria Geral do
Processo, enfrentados embrionariamente:
Interesse
Desejo, cobiça, vontade de conquistar algo.
Pretensão
É a intenção de subordinar um interesse alheio ao próprio.
Lide
Conflito de interesses qualificado pela pretensão resistida.
Ação
Direito Público subjetivo de obter do Estado-juiz uma decisão acerca da lide ob-
jeto do processo.
Processo
Procedimento em contraditório animado pela relação jurídica processual.
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■■ Pressupostos processuais:
■■ Subjetivos:
a) relativos ao juiz – investidura, competência, ausência de suspeição;
b) relativos às partes – capacidade de ser parte, capacidade de estar em juí-
zo, capacidade postulatória.
■■ Objetivos:
a) ausência de fatos impeditivos;
b) regularidade formal.
Sistemas processuais
■■ Sistema inquisitivo: concentra, em figura única, as funções de acusar, defen-
der e julgar.
■■ Sistema acusatório: caracteriza-se pela separação bem delineada das funções
de julgar, acusar e defender.
■■ Sistema misto: subdivide-se em duas fases. A primeira de caráter inquisitivo,
a cargo de um magistrado, buscando angariar elementos probatórios; e uma
segunda fase, presidida também por um magistrado, mas pautada pelo contra-
ditório e pela ampla defesa.
Fontes
Conceito
É tudo aquilo de onde provém um preceito jurídico.
Classificação
■■ Fonte de produção ou material: é aquela que elabora a norma, pois, em nosso
país, a competência para legislar sobre Direito Processual Penal é da União
(CF, art. 22, I). Lembre-se, contudo, de que o parágrafo único do artigo 22 da
Constituição Federal, permite que, através de lei complementar, seja atribuída
aos Estados-membros a competência para legislarem sobre Processo Penal, em
questões especificas de direito local.
■■ Fonte formal ou de cognição: é aquela que revela a norma.
■■ Imediata: lei.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Linhas introdutórias II
Nestor Távora
Conceito
A analogia é forma de auto-integração da lei (CPP, art. 3.º; e LICC, art. 4.º). Pela
analogia, aplicamos a um fato não regido pela norma jurídica disposição legal aplicada a
fato semelhante. Afinal, quando há a mesma razão, deve ser aplicado o mesmo direito.
Espécies
■■ Analogia legis: em face da lacuna da lei, aplicamos a norma positivada que rege
um caso semelhante.
■■ Analogia iuris: são aplicados princípios jurídicos.
Conceitos importantes:
■■ ab-rogação – é a revogação total de uma lei por outra;
■■ derrogação – é a revogação parcial de uma lei por outra.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 1.º O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por este Código, res-
salvados:
I - os tratados, as convenções e as regras de direito internacional;
II - as prerrogativas do Presidente da República, dos Ministros de Estado, nos crimes co-
nexos com os do Presidente da República, e dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
nos crimes de responsabilidade (CF, arts. 86, 89, §2.º, e 100);
III - os processos de competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (CF, art. 122, n. 17);
V - os processos por “crime de imprensa”.
Da presunção de inocência
ou não-culpabilidade (CF, art. 5.º, LVII)
O reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença con-
denatória transitada em julgado. Antes desse marco, somos presumivelmente inocentes,
e o cerceamento cautelar de nossa liberdade só pode ocorrer em situações excepcionais e
de estrita conveniência.
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Da imparcialidade do juiz
O juiz não pode ter vínculos subjetivos a lhe tirar a imparcialidade necessária para
conduzir com isenção o processo. O juiz interessado deve ser afastado e os permissivos
legais para tanto encontram-se no artigo 254 do CPP (hipóteses de suspeição) e no artigo
252 (hipóteses de impedimento).
Da igualdade processual
Também tratado como princípio da paridade de armas, consagra o tratamento
isonômico das partes no transcorrer processual, em decorrência do próprio artigo 5.º,
caput, da CF. Lembre-se: o que deve prevalecer é a chamada igualdade material, leia-se,
os desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades.
Da ampla defesa
A defesa pode ser subdividida em defesa técnica (efetuada por profissional ha-
bilitado) e autodefesa (realizada pelo próprio imputado). Assim, deve ser assegurada a
ampla possibilidade de defesa, lançando-se mão dos meios e recursos disponíveis a ela
inerentes (CF, art. 5.º, LV).
STF, N. 523. No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Da oficialidade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal (soma do inquérito policial e do
processo), atividade eminentemente pública, são órgãos oficiais por excelência, tendo a
CF consagrado a titularidade da ação penal pública ao Ministério Público (art. 129, I), e
disciplinado a polícia judiciária no parágrafo 4.º do artigo 144.
Da oficiosidade
A atuação oficial na persecução criminal, como regra, atua sem necessidade de
autorização, isto é, prescinde de qualquer condição para agir, desempenhando suas ati-
vidades ex officio.
Da verdade real
O processo penal não se conforma com construções fictícias ou afastadas da reali-
dade. O magistrado pauta o seu trabalho na reconstrução da verdade dos fatos, superan-
do a desídia das partes na colheita probatória, como forma de construir um provimento
jurisdicional mais próximo possível da “justiça”.
Da obrigatoriedade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal, em estando presentes os permissi-
vos legais, estão obrigados a atuar. A persecução criminal é de ordem pública e não cabe
juízo de conveniência ou oportunidade.
Nos crimes de ação penal privada, quais sejam, naqueles em que a titularidade da
ação foi conferida à própria vítima ou a seu representante legal, o que vigora é o princípio
da oportunidade, pois cabe à vítima ou ao seu representante escolher entre dar início à
persecução criminal ou não.
Da indisponibilidade
O princípio da indisponibilidade é uma decorrência do princípio da obrigatorie-
dade, rezando que, uma vez iniciado o inquérito policial ou o processo penal, os órgãos
incumbidos da persecução criminal não podem deles dispor. Leia-se, o delegado não
pode arquivar os autos do inquérito policial (CPP, art. 17) e o promotor não pode desistir
do processo.
Do impulso oficial
Apesar da inércia da jurisdição, é imperativo afirmar que, uma vez iniciado o
processo, com o recebimento da inicial acusatória, cabe ao magistrado velar para que ele
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Da publicidade
A publicidade dos atos processuais é a regra. Todavia, o sigilo é admissível, quan-
do a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (CF, art. 5.º, LX).
O artigo 792 do CPP consagra hipótese excepcional de sigilo.
O inquérito policial é sigiloso (CPP, art. 20). Entretanto, o advogado tem o direito
de consultar os autos do mesmo (vide Lei 8.906/94, art. 7.º, XIV – Estatuto da OAB).
Do juiz natural
O princípio do juiz natural consagra o direito de ser processado pelo magistrado
competente (CF, art. 5.º, LIII) e a vedação constitucional à criação de juízos ou tribunais
de exceção (CF, art. 5.º, XXXVII). Em outras palavras, tal princípio impede a criação
casuística de tribunais, pós-fato, para apreciar um determinado caso.
Do promotor natural
Esse princípio veda a designação arbitrária, pela chefia da instituição, de promo-
tor para patrocinar caso específico, vale dizer, o promotor natural há de ser, sempre,
aquele previamente estatuído em lei.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
lei, devendo traduzir-se em sinônimo de garantia, atendendo assim aos ditames cons-
titucionais.
Da economia processual
Deve-se buscar a maior efetividade, com a produção da menor quantidade de
atos possível. A Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) asseverou em seu artigo 62 o
princípio em estudo.
Da oralidade
O princípio da oralidade ganhou força com o advento da Lei 9.099/95 (Juizados
Especiais) que, em seu artigo 62, glorificou o princípio ora referido, dando prevalência
à palavra falada.
Da autoritariedade
O princípio da autoritariedade consagra que os órgãos incumbidos da persecução
criminal são autoridades públicas.
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Inquérito policial I
Nestor Távora
A persecução criminal
A persecução criminal para a apuração das infrações criminais e sua respectiva
autoria comporta duas fases bem delineadas. A primeira, preliminar, inquisitiva e objeto
do presente estudo, é o inquérito policial. A segunda, submissa ao contraditório e à am-
pla defesa, é denominada de fase processual.
Polícia judiciária
e polícia administrativa (CF, art. 144)
Basicamente, podemos subdividir o papel da polícia em:
■■ Polícia administrativa ou de segurança – de caráter eminentemente pre-
ventivo, visa, com o seu papel ostensivo de atuação, impedir a ocorrência de
infrações. Por exemplo, a polícia militar dos Estados-membros.
■■ Polícia judiciária – de atuação repressiva, age, em regra, após a ocorrência de
infrações, visando angariar elementos para apuração da autoria e constatação
da materialidade delitiva. Nesse aspecto, destacamos o papel da polícia civil
que deflui do parágrafo 4.º do artigo 144 da Constituição Federal (CF), verbis:
Conceito e finalidade
do inquérito policial (CPP, art. 4.º)
Como ensina o professor Tourinho Filho (2003), o inquérito é “o conjunto de
diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e sua
autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Inquéritos extrapoliciais
A titularidade das investigações não está concentrada somente nas mãos da polícia
civil. Compulsando o teor do parágrafo 3.º do artigo 58 da CF, vemos que este consagra a
possibilidade de inquéritos extrapoliciais. Tal ocorre nos chamados inquéritos parlamen-
tares – patrocinados pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) –, nos inquéri-
tos militares, nos inquéritos por crimes praticados por magistrados ou promotores, nos
quais as investigações são presididas pelos órgãos de cúpula de cada carreira etc.
STF, N. 397. O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso
de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão
em flagrante do acusado e a realização do inquérito.
Discricionariedade
O delegado de polícia conduz as investigações da forma que melhor lhe aprouver.
O rumo das diligências está a cargo do delegado, que pode atender ou não aos requeri-
mentos patrocinados pelo indiciado ou pela própria vítima (CPP, art. 14).
Apesar de não haver hierarquia entre juízes, promotores e delegados, caso os dois
primeiros emitam requisições ao último, este está obrigado a atender.
Veja nos artigos 6.º e 7.º do Código de Processo Penal (CPP) a longa série de dili-
gências possíveis durante a tramitação do inquérito policial.
Escrito
Sendo procedimento administrativo destinado a fornecer elementos ao titular da
ação penal, o inquérito, por exigência legal, deve ser escrito, prescrevendo o artigo 9.º
do CPP que “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”.
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Sigiloso
Ao contrário do que ocorre no processo, o inquérito não comporta publicidade,
sendo um procedimento essencialmente sigiloso, disciplinando o artigo 20 do CPP que
“a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade”.
Oficialidade
O delegado de polícia de carreira, autoridade que preside o inquérito policial,
constitui-se em órgão oficial do Estado (CF, art. 144, §4.º).
Nos crimes de ação penal pública condicionada e ação penal privada, isto é, naqueles
que ofendem de tal modo a vítima, em sua intimidade, que o legislador achou por bem
condicionar a persecução criminal à autorização desta, ou conferir-lhe o próprio direito
de ação, a autoridade policial depende da permissão legal para poder atuar, eis que a
própria legislação condicionou o início do inquérito a esse requisito (CPP, art. 5.º, §§ 4.º
e 5.º).
Indisponibilidade
A persecução criminal é de ordem pública e, uma vez iniciado o inquérito, o dele-
gado de polícia não pode dispor deste. Se, diante de uma circunstância fática, o delegado
percebe que não houve crime, nem em tese, não deve iniciar o inquérito policial. Contu-
do, uma vez iniciado o inquérito, deve levá-lo até o seu final, não podendo arquivá-lo, em
virtude de expressa vedação contida no artigo 17 do CPP.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Inquisitivo
O inquérito é inquisitivo, pois as atividades persecutórias estão concentradas nas
mãos de uma única autoridade, não havendo contraditório nem ampla defesa.
Autoritariedade
O delegado de polícia, presidente do inquérito policial, é autoridade pública (CF,
art. 144, §4.º).
Critério territorial
Por esse critério, o delegado com atribuição é aquele que exerce suas funções na
circunscrição em que se consumou a infração. Lembre-se de que o termo circunscrição
significa a delimitação territorial na qual os delegados exercem as suas funções.
Critério material
Pelo critério material, temos a especialização da atuação da polícia, com delega-
cias especializadas na investigação e combate a determinado tipo de infração, a exemplo
das delegacias especializadas em homicídios, entorpecentes etc.
Prazos
O inquérito policial não pode se estender indefinidamente, dispondo o CPP e a
legislação extravagante acerca dos prazos de conclusão do inquérito policial. Vejamos
quais são eles.
Regra geral
Como regra geral para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o prazo para
a conclusão do inquérito é de 10 dias, estando o indiciado preso, prazo este improrrogável;
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e de 30 dias, se ele enfrenta o inquérito solto. Esse último prazo comporta prorrogação, a
requerimento do delegado e mediante autorização do juiz (CPP, art. 10).
Regras especiais
A legislação extravagante consagra regras especiais de conclusão do inquérito po-
licial. As principais regras são:
■■ Na lei antitóxicos (Lei 11.343/2006, art. 51) – a nova lei de repressão aos en-
torpecentes prevê o prazo de 30 dias, duplicáveis, em estando o indiciado preso,
e de 90 dias, também duplicáveis, se solto estiver.
Contagem do prazo
Vistas as regras gerais de fixação dos prazos para o encerramento do inquérito
policial, vejamos como fixar os marcos inicial e final da contagem. Doutrinadores res-
peitáveis, tais quais os professores Mirabete e Fernando Capez, entendem que o prazo
deve ser contado atendendo aos ditames do CPP, ou seja, excluindo-se o dia do começo
e incluindo-se o último dia, e seguem essa regra, sem fazer distinção entre indiciados
presos ou soltos (CPP, art. 798, §1.º).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Valor probatório
Segundo o professor Fernando Capez (2003, p. 72), o inquérito policial tem valor
probatório relativo, pois carece de ser confirmado por outros elementos colhidos durante
a instrução processual. O inquérito, já sabemos, objetiva angariar elementos para con-
tribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação penal, pois, nessa fase, não há
contraditório ou ampla defesa. Assim, não pode o magistrado condenar o réu com base
tão-somente em elementos colhidos durante o inquérito. É essencial que a instrução pro-
batória em juízo, regida pelo contraditório e ampla defesa, oportunize colher elementos
convincentes e robustos a fundamentar um decreto condenatório.
Vícios
Os vícios ocorridos no inquérito policial não atingem a ação penal. A jurispru-
dência e a doutrina afirmam que, como uma série de processos inicia-se sem ter havido
previamente o inquérito policial, esse procedimento preliminar não é essencial à proposi-
tura da ação penal, sendo, portanto, dispensável. Assim, algo que não é essencial ao pro-
cesso não tem o condão de, uma vez viciado, contaminar a ação penal. Em outras pala-
vras, os males ocorridos no inquérito não têm a força de contaminar o processo criminal.
A irregularidade ocorrida durante o inquérito poderá gerar a invalidade ou ineficácia do
ato inquinado, todavia, sem levar à nulidade processual. Por exemplo, em havendo uma
prisão em flagrante ilegal durante o inquérito, esta deve ser relaxada; todavia, esse fato
não leva à nulidade do futuro processo contra o suposto autor do fato.
Conceito
É o conhecimento pela autoridade policial, quer seja espontâneo quer seja provo-
cado, de um fato aparentemente criminoso.
Espécies
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Nos crimes de ação penal pública, o juiz ou o promotor de justiça podem deter-
minar a instauração do inquérito policial através da requisição. Aqui, requisição é sinônimo
de ordem, sendo espécie de notícia-crime, pois, por meio dela, a autoridade policial tem
conhecimento da infração.
Requerimento da vítima
Delação
Qualquer do povo, nos crimes de ação penal pública incondicionada, pode, vali-
damente, noticiar o fato delituoso à autoridade policial, dando ensejo à instauração do
inquérito, pelo que se chama de delação.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
juízes e promotores, não é sinônimo de ordem, e sim uma mera autorização para o início da
persecução criminal em algumas infrações que a exigem.
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Inquérito policial II
Nestor Távora
Incomunicabilidade
O artigo 21 do Código de Processo Penal (CPP) contempla a possibilidade da de-
cretação da incomunicabilidade do preso durante o inquérito policial, por conveniência
da investigação ou quando o interesse da sociedade o exigisse, por deliberação judicial,
mediante requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público (MP). Ocorre
que esse dispositivo, em face do disposto no artigo 136, parágrafo 3.º, IV, da Constituição
Federal (CF), o qual não admite a incomunicabilidade até mesmo durante o estado de
defesa, encontra-se revogado. Mesmo quando em vigor, a incomunicabilidade não era extensível
ao advogado do indiciado.
Providências
Os artigos 6.º e 7.º do CPP indicam as providências a serem tomadas pela autori-
dade policial na condução das investigações, quais sejam:
■■ dirigir-se ao local dos fatos, isolando a área para atuação dos peritos;
■■ apreender objetos;
■■ colher todas as provas;
■■ ouvir o ofendido;
■■ ouvir o indiciado: que goza do direito de permanecer calado;
■■ reconhecimento de pessoas e coisas;
■■ exame de corpo de delito: sempre que a infração deixar vestígios;
■■ ordenar a identificação do indiciado e antecedentes; vide a Lei 10.054/2000 que
dispõe sobre a identificação criminal;
■■ averiguar a vida pregressa, situação econômica e demais elementos que sirvam
para apreciação do temperamento e caráter do indiciado.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Indiciamento
Conceito
É a informação ao suposto autor do fato para o qual convergem as investigações.
Nessa fase, saímos do juízo de possibilidade para o de probabilidade e as investigações
são focadas em pessoa determinada.
Indiciado menor
Os indivíduos entre 18 e 21 anos, antes do advento do novo Código Civil (CC),
eram reputados relativamente capazes. Assim, em praticando uma infração, o seu in-
terrogatório, quer na fase do inquérito, quer na fase do processo, deveria ser assistido por um
curador. Contudo, com o advento do novo CC, que em seu artigo 5.º considera os maiores
de 18 anos como absolutamente capazes, o artigo 15 do CPP, que previa a nomeação de
curador na fase inquisitorial, perdeu a razão de existir, encontrando-se revogado tacita-
mente.
O artigo 194 do CPP, que tratava da figura do curador no interrogatório da fase
processual, foi expressamente revogado pela Lei 10.792/2003.
Encerramento
O inquérito policial é encerrado com a produção de um minucioso relatório que
informa tudo quanto apurado, podendo ainda a autoridade mencionar as testemunhas
que eventualmente não foram inquiridas, indicando o local onde possam ser encontra-
das. Não deve a autoridade policial esboçar juízo de valor em seu relatório, afinal, a opi-
nião delitiva cabe ao titular da ação penal, e não ao delegado de polícia.
Por fim, os autos do inquérito serão remetidos ao juiz de direito, para que futu-
ramente sejam acessados pelo titular da ação penal. Ao fazer a remessa, a autoridade
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Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acom-
panharão os autos do inquérito.
Nos crimes de ação penal privada, os autos do inquérito, por traslado, poderão ser
entregues ao requerente.
Considerações finais
Termo circunstanciado
Nos crimes de menor potencial ofensivo, quais sejam, os crimes com pena máxi-
ma não superior a dois anos e todas as contravenções penais, tratados pela Lei 9.099/95
(Lei dos Juizados), esta, visando imprimir celeridade, prevê, como regra, em seu artigo
69, a substituição do inquérito policial pela confecção do chamado termo circunstanciado,
que é uma breve e sucinta narrativa que descreve sumamente os fatos e indica os envol-
vidos e eventuais testemunhas.
Investigações a cargo do MP
Questão extremamente controvertida, e que se encontra na ordem do dia, é a
possibilidade ou não de investigações criminais a cargo do MP. Perceba o aluno que não
se deseja a presidência do inquérito pelo MP, pois isso, por reclamo constitucional (CF,
art. 144, §4.º), é atribuição da autoridade policial. O que advoga parte da doutrina é a
possibilidade de o órgão ministerial promover, por força própria, a colheita de material
probatório para viabilizar o futuro processo. Vale ressaltar que, segundo a doutrina, a
CF não reconheceu essa atribuição ao MP de forma expressa. A questão está longe de
ser pacífica, tendo o Supremo Tribunal Federal, em algumas decisões, manifestado-se em sentido
contrário à tese da viabilidade das investigações pelo órgão ministerial.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
dar início ao processo. Uma vez presentes os requisitos legais, deve o promotor oferecer
a denúncia, dando andamento à persecução criminal. Em entendendo que as peças de
informação, as quais lhe foram apresentadas, são insuficientes, requisita a devolução
dos autos à autoridade policial, para que as investigações sejam complementadas, com
a efetivação das diligências que entenda faltantes. Já se entender que não é caso de ofe-
recer a denúncia, pela absoluta ausência de elementos mínimos a indicar a autoria ou a
materialidade delitiva, ou até mesmo sequer a existência de alguma infração, deve pro-
mover o arquivamento, aguardando então o surgimento de novos elementos a justificar
a propositura da ação penal. Assim, o arquivamento do inquérito ou de outras peças de
informação ocorre pela impossibilidade de oferta da ação, devendo ser promovido pelo
promotor de justiça, titular da ação penal pública, e homologado pelo magistrado.
Deve o aluno ter especial cuidado com a controvertida questão acerca das inves-
tigações por parte do MP.
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Atos processuais
(CPP, arts. 351 a 372)
Citação
Conceito
Citação é o ato pelo qual o Estado dá ciência ao autor da infração penal de que há
um processo criminal tramitando contra ele e tem como finalidade não apenas vinculá-lo
ao processo, como oportunizar o exercício da ampla defesa.
Conforme ensina o artigo 363 do CPP:
Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acu-
sado.
Tal dispositivo ratifica que não restará formada a relação processual autor-juiz-réu
enquanto não houver a citação do acusado. Portanto, a citação é o primeiro momento do
início do exercício da garantia constitucional da ampla defesa, razão pela qual o legis-
lador enumera uma série de requisitos formais para a sua realização que, uma vez não
observados, conduz à nulidade absoluta da citação e do processo.
Mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de cursos prepa-
ratórios no Rio Grande do Sul. Advogado.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Não há vício de citação que se convalide, que possa ser consertado. O artigo 570
do CPP ensina que a falta de citação ou sua nulidade será sanada desde que o réu com-
pareça espontaneamente ao ato, quando se dará por citado, ou seja, será citado na forma
da lei, o que confirma que a citação anterior viciada não teve qualquer validade, mas sim
valerá essa nova e, ainda assim, se não restar qualquer prejuízo ao acusado.
Sujeitos da citação
A citação é ato único, determinado pelo juiz e que vinculará o acusado ao pro-
cesso, dando início ao exercício da ampla defesa. Em face do princípio da pessoalidade ou
intranscendência da ação penal, somente o acusado poderá ser citado e uma única vez.
No caso de o acusado ser considerado inimputável em face de instauração de incidente
de insanidade mental durante a fase investigativa, a citação deverá se dar na pessoa do
curador nomeado pelo juiz para representá-lo.
Espécies de citação
As espécies de citação no processo penal são: pessoal ou real, por hora certa e por
edital ou ficta.
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O artigo 352 do CPP dispõe acerca dos requisitos intrínsecos ou internos que o
mandado deverá conter. Vejamos:
I - o nome do juiz;
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - a residência do réu, se for conhecida;
V - o fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.
A citação pessoal tem alguns requisitos externos, ou seja, sua forma de cumpri-
mento, que o legislador descreveu no artigo 357 do CPP.
Art. 353. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será
citado mediante precatória.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 356. Se houver urgência, a precatória, que conterá em resumo os requisitos enumera-
dos no art. 354, poderá ser expedida por via telegráfica, depois de reconhecida a firma do
juiz, o que a estação expedidora mencionará.
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
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Art. 369. As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas
mediante carta rogatória.
Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.
Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,
será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.
Tal observação legal, embora possa parecer desnecessária, busca tornar bem claro
que é o oficial de justiça que deverá citar o réu preso e não o diretor do estabelecimento
prisional através de um ofício encaminhado pelo poder judiciário para requisitar a con-
dução do preso ao foro na data e hora aprazada para interrogatório.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
O objetivo é dar maior agilidade aos processos em que o acusado buscava evitar a
citação pessoal para que protelasse o feito tendo em vista que não restaria ao magistrado
outra atitude que não fosse a determinação de citação por edital. Era o que previa o artigo
362 do CPP.
Porém, agora, com a alteração trazida pela Lei 11.719/2008, o artigo 362 do CPP
determina:
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certifica-
rá a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227
a 229 da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-
lhe-á nomeado defensor dativo.
■■ Quando o acusado evitar a citação pessoal, cujo prazo era de 5 dias (antigo
art. 362).
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artigo 363, I, em combinação com o artigo 364, 1.ª parte, ambos do CPP, era
de prazo a ser determinado pelo juiz conforme a necessidade, entre 15 e 90
dias.
■■ Quando incerta a pessoa a ser citada o artigo 363, II, determinava em combi-
nação com o artigo 364, 2.ª parte, que o prazo seria de 30 dias.
A Lei 11.719/2008 deu nova redação ao artigo 362, não restando mais a possibili-
dade de citação editalícia quando o acusado buscava evitar a citação pessoal, fazendo com
que atualmente, após a vigência da citada lei, seja realizada a citação por hora certa.
§4.º Comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer tempo, o processo observará
o disposto nos arts. 394 e seguintes deste Código.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será
publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial
que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão,
da qual conste a página do jornal com a data da publicação.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, fi-
carão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar
a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Revelia
Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pesso-
almente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de
mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
Intimação e notificação
O CPP, entre os artigos 370 e 372, ensina que a intimação das partes se dá nos
mesmos moldes que a citação e prevê as formas dos mesmos atos para os profissionais
que as representam. Vejamos:
Art. 370. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam
tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no
Capítulo anterior.
§1.º A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-
se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca,
incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
§2.º Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação far-se-á
diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento,
ou por qualquer outro meio idôneo.
§3.º A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o §1.º.
§4.º A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.
Art. 371. Será admissível a intimação por despacho na petição em que for requerida, ob-
servado o disposto no art.357.
Art. 372. Adiada, por qualquer motivo, a instrução criminal, o juiz marcará desde logo, na
presença das partes e testemunhas, dia e hora para seu prosseguimento, do que se lavrará
termo nos autos.
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Ação penal I
Nestor Távora
Conceito
É o Direito Público subjetivo de pedir ao Estado-juiz a aplicação do Direito Penal
objetivo ao caso concreto. Como regra, a autotutela está banida do ordenamento jurídi-
co e o exercício arbitrário das próprias razões é tratado, inclusive, como crime contra a
administração da justiça (CP, art. 345). Logo, resta aos interessados, através do exercício
do direito de ação, provocar a jurisdição no intuito de obter o provimento jurisdicional
adequado à solução do litígio.
Características
As características atinentes ao direito de ação implicam no reconhecimento de
que se constitui em um direito:
■■ Autônomo – não se confunde com o direito material; tem força e brilho pró-
prios.
■■ Abstrato – independe do resultado do processo; mesmo que a demanda seja
julgada improcedente, o direito de ação terá sido exercido.
■■ Subjetivo – o titular exige do Estado-juiz a solução da lide.
■■ Público – a atividade provocada é de natureza pública.
Condições da ação
São os requisitos necessários e condicionantes ao próprio exercício do direito de
ação. A prestação jurisdicional exige o preenchimento de tais requisitos elencados a se-
guir.
Interesse de agir
Materializa-se no trinômio necessidade, adequação e utilidade, ou seja, deve haver
necessidade para bater às portas do Judiciário, no intuito de solver a demanda, utilizando-
se do meio adequado e requerendo um provimento útil, é dizer, este deve ter o condão de
trazer algo de relevo ao autor.
Justa causa
A ação só pode ser validamente exercida se a parte autora lastrear sua inicial com
um mínimo probatório para demonstrar seu direito. A falta desse material probatório
torna temerário o exercício do direito de ação, que não pode transformar-se em uma
aventura sem fundamento. Considerando tal necessidade, a justa causa galgou a posição
de quarta condição da ação penal.
Conceito e titularidade
A ação penal pública incondicionada é aquela titularizada pelo MP e que prescinde
de manifestação de vontade da vítima ou de terceiros para ser exercida. Elas constituem
a regra em nosso ordenamento, pois a parte inicial do caput do artigo 24 do Código de
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Processo Penal (CPP) assevera que “nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público”, ao passo que o parágrafo 2.º, do mesmo artigo, reza que,
“seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da
União, Estado e Município, a ação penal será pública”.
O CPP autoriza, nos crimes de ação penal pública, a provocação do MP por qual-
quer do povo, fornecendo informações sobre a possível infração ocorrida (CPP, art. 27).
Princípios informadores
Os princípios que informam a ação penal pública incondicionada, os quais nor-
teiam, também, como regra, a ação penal pública condicionada, são listados em seguida.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Conceito e considerações
A ação penal pública condicionada é também titularizada pelo MP; afinal, trata-se
de ação pública. Contudo, porque há ofensa à vítima em sua intimidade, para o seu exer-
cício válido, o legislador optou por condicioná-la a um permissivo externado por ela ou
seu representante legal, permissivo esse tecnicamente denominado representação. Pode,
ainda, a permissão ser dada na forma de requisição ministerial oriunda do ministro da
Justiça, tal qual ocorreria numa ação penal deflagrada com o propósito de apurar crime
cometido contra a honra do presidente da República, patrocinado pela imprensa. Exami-
nemos amiúde os institutos dessa espécie de ação.
■■ A representação: é uma condição de procedibilidade para que possa instaurar-
se a persecução criminal. É um pedido autorizador feito pela vítima ou por seu
representante legal.
■■ Os destinatários: a representação, ofertada pela vítima, por seu representante
ou por procurador com poderes especiais, pode ser destinada à autoridade po-
licial, ao MP ou ao próprio juiz.
■■ Ausência de rigor formal: segundo o Supremo Tribunal Federal, a represen-
tação é peça não formal que pode ser apresentada oralmente ou por escrito
(CPP, art. 39). O importante é que a vítima revele o interesse de ver o autor do
fato processado.
■■ O prazo e sua contagem: a representação deve ser ofertada, como regra, no
prazo de seis meses do conhecimento da autoria da infração penal, ou seja, quando
a vítima toma ciência de quem foi o autor do crime.
Atenção: Por ser um prazo decadencial, este é contado na forma do artigo 10 do
Código Penal, ou seja, inclui-se o dia do início e exclui-se o do vencimento.
O parágrafo primeiro do artigo 41 da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67) fixa
esse prazo em três meses, contados da data da publicação ou transmissão da
notícia.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Não-cabimento de retratação
Por ausência de previsão legal, e por ser um ato de natureza política a cargo do
ministro da Justiça, a doutrina majoritária informa que não cabe retratação da requi-
sição.
Ausência de vinculação do MP
A requisição não vincula o MP e, como dito alhures, não é sinônimo de ordem.
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Ação penal II
Nestor Távora
Ação penal privada
Conceito e considerações
Naquelas infrações penais que ofendem sobremaneira a intimidade das vítimas,
o legislador conferiu a elas o próprio exercício do direito de ação. Nessas hipóteses, a
persecução criminal é transferida excepcionalmente ao particular que atua em nome
próprio, na tutela de interesse alheio (a aplicação de pena). O fundamento é evitar o
constrangimento do processo, podendo a vítima optar entre expor a sua intimidade em
juízo ou quedar-se inerte, pois, muitas vezes, o sofrimento causado pela exposição ao
processo é maior do que a própria impunidade do criminoso. Não obstante, se o desejar,
a vítima pode processar o criminoso, apresentando a competente queixa-crime, que é a
peça inaugural das ações penais de iniciativa privada.
Titularidade
O exercício do direito de ação cabe ao ofendido ou ao seu representante legal
(CPP, art. 30).
Princípios
São norteadores da ação penal privada os princípios descritos a seguir.
■■ Da oportunidade: por esse princípio, é facultado à vítima decidir entre ofertar
ou não a ação, pois ela, por permissivo legal, é a titular do direito. Não queren-
do exercê-lo, pode ficar inerte e deixar transcorrer in albis o prazo decadencial
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
de seis meses para ofertar a queixa ou, se assim o desejar, renunciar a esse
direito de forma expressa ou tácita (CPP, arts. 49 e 50).
■■ Da disponibilidade: pelo princípio em estudo, uma vez iniciado o processo,
pelo recebimento da queixa-crime, poderá o particular desistir dele, seja perdo-
ando o acusado (CPP, art. 51 e ss.), seja pelo advento da perempção. Esta revela
uma desídia na condução do processo, e suas hipóteses de ocorrência estão
disciplinadas no artigo 60 do CPP. Vejamos.
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á pe-
rempta a ação penal:
O perdão do ofendido é ato bilateral, vale dizer, uma vez ofertado, pressupõe acei-
tação do réu para surtir efeitos. É de se ressaltar, ainda que, em havendo co-
réus, o perdão oferecido a apenas um aproveitará aos demais.
■■ Da indivisibilidade: o artigo 48 do CPP reconhece, de forma expressa, o prin-
cípio da indivisibilidade da ação penal privada, devendo o particular, ao optar
pelo processamento dos autores da infração, fazê-lo em detrimento de todos
os envolvidos. É dizer, ou processa todos, ou não processa ninguém. Cabe ao
Ministério Público (MP) velar pela indivisibilidade da ação penal privada.
O MP, segundo a melhor doutrina, ao velar pelo princípio da indivisibilidade,
não pode aditar a queixa-crime, lançando novos réus ao processo, pois lhe falta
legitimidade.
■■ Da intranscendência: esse princípio, comum às ações penais públicas, reza
que a ação só pode ser proposta contra a pessoa a quem se imputa a prática do
delito.
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A personalíssima
Cabível tão-somente no crime de induzimento a erro essencial e ocultação de
impedimento ao casamento (CP, art. 236), a ação só pode ser ofertada pela vítima. Não
pode haver intervenção do representante legal nem a sucessão por morte ou ausência.
Subsidiária da pública
A ação penal privada subsidiária da pública contempla previsão constitucional
expressa (CF, art. 5.º, LIX; e CPP, art. 29). Tem cabimento diante da inércia do MP, que,
nos prazos legais, deixa de atuar, não promovendo a denúncia ou, em sendo o caso, não
se manifestando pelo arquivamento dos autos do inquérito policial, ou ainda, não requi-
sitando novas diligências.
O MP, na ação penal privada subsidiária, figura como interveniente adesivo obri-
gatório.
■■ Observação:
STF, N. 714. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério
Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal nos crimes contra a
honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.
STF, N. 608. No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pú-
blica incondicionada.
A inicial acusatória
Conceito
É a peça que inaugura o processo, pois, nos crimes de ação penal pública, recebe
o nome de denúncia, enquanto que nas ações penais privadas é denominada de queixa-
crime.
Requisitos formais
Os requisitos tanto da denúncia quanto da queixa-crime estão delineados no
artigo 41 do CPP. São eles:
■■ descrição do fato, com todas as suas circunstâncias – lembre-se de que o réu se
defende dos fatos e não da tipificação jurídica. Inicial acusatória com descrição
fática deficitária ou ausente é petição inepta;
■■ qualificação do acusado ou fornecimento de dados que possibilitem a sua iden-
tificação;
■■ classificação do crime;
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
■■ rol de testemunhas;
■■ pedido de condenação;
■■ endereçamento;
■■ nome e assinatura.
A nova Lei de Falências, Lei 11.101/2005, em seu artigo 187, parágrafo 1.º, prevê
que:
Art. 187. [...]
§1.º O prazo para o oferecimento da denúncia regula-se pelo artigo 46 do Código de Proces-
so Penal, salvo se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar
a apresentação da exposição circunstanciada de que trata o artigo 186 desta Lei, devendo,
em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias.
Prazos especiais
■■ Da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67): três meses da data do fato.
■■ Do crime de induzimento a erro essencial (CP, art. 236, parágrafo único): a
queixa-crime poderá ser ofertada no prazo de seis meses após o trânsito em
julgado da sentença que, no cível, anule o casamento.
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65
Aditamento da queixa
Aditar é complementar, lançar novos elementos. Ao órgão do MP é facultado adi-
tar a queixa-crime, dispondo do prazo de três dias para fazê-lo.
Lembre-se, como já abordado, de que falta ao MP legitimidade para aditar a quei-
xa no intuito de lançar novos acusados.
Fundamentação do recebimento
Apesar da divergência doutrinária, a jurisprudência majoritária, inclusive dos
tribunais superiores, indica que o magistrado, ao receber a denúncia ou queixa, não precisa
fundamentar a sua decisão, pois esta, ainda sobre tal ótica, não teria carga decisória, e a
fundamentação seria uma antecipação indevida ao exame do mérito.
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Jurisdição e competência
Nestor Távora
Jurisdição
Conceito
É o poder-dever pertinente ao Estado-juiz de aplicar o direito ao caso concreto. Na
visão de Tourinho Filho (2003, p. 49), “é aquela função do Estado consistente em fazer
atuar, pelos órgãos jurisdicionais, que são os juízes e tribunais, o direito objetivo a um
caso concreto, obtendo-se a justa composição da lide”.
Princípios
A doutrina elenca alguns princípios fundamentais da jurisdição. Vejamos abaixo.
Investidura
Para exercer jurisdição, é necessário ser magistrado – logo, estar devidamente
investido na função.
Indelegabilidade
A regra é que a função jurisdicional não pode ser delegada a um outro órgão, mes-
mo que jurisdicional. Exceções: precatórias e cartas de ordem, nas quais há a prática de
atos processuais por um outro magistrado que não o originariamente competente.
Juiz natural
Conforme o artigo 5.º, LIII, da Constituição Federal (CF) “ninguém será proces-
sado nem sentenciado senão pela autoridade competente”; e pelo inciso XXXVII, “não
haverá juízo ou tribunal de exceção”.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Inafastabilidade
“A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”
(CF, art. 5.º, XXXV).
Inevitabilidade ou irrecusabilidade
A jurisdição não está sujeita à vontade das partes: impõe-se.
Correlação ou relatividade
Deve haver correspondência entre a sentença e o pedido feito na inicial acusató-
ria. Não pode haver julgamento extra ou ultra petita.
Já o artigo 384 (mutatio libeli) tem cabimento quando os fatos narrados na inicial
são dissonantes daqueles apurados na instrução criminal. Como se trata de matéria fáti-
ca e o réu se defende dos fatos, a depender da gravidade da infração constatada na instru-
ção criminal terá aplicação o caput ou o parágrafo único do artigo 384 do CPP:
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica
do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou
queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo
em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§1.º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste
Código.
§3.º Aplicam-se as disposições dos §§ 1.º e 2.º do art. 383 ao caput deste artigo.
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§4.º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de
5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
Características
As principais características da jurisdição estão a seguir.
Inércia
Em regra, os órgão jurisdicionais são inertes, dependem de provocação (ne proce-
dat judex ex officio).
Substitutividade
Como a autotutela foi banida, salvo em casos excepcionais, cabe ao Estado, subs-
tituindo a atividade das partes, resolver os litígios.
Lide
Apesar de algumas divergências doutrinárias, o entendimento majoritário pres-
supõe a existência de lide para o exercício jurisdicional, ou seja, o conflito de interesses
qualificado pela pretensão resistida.
Atuação do direito
A atividade jurisdicional tem por objetivo aplicar o direito ao caso concreto, res-
tabelecendo-se a paz social violada.
Imutabilidade
No intuito de fornecer os laços e a tranqüilidade social, o exercício da jurisdição
deságua num provimento final (sentença) que tornar-se-á imutável (trânsito em julgado).
Lembre-se de que a imutabilidade pode ser mitigada, a exemplo da interposição da revi-
são criminal para combater uma sentença conclusiva injusta.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Competência
Conceito
Apesar de a jurisdição ser una, indivisível, é humanamente impossível que um
só juiz decida todos os litígios ocorridos. Assim, num universo de magistrados, a com-
petência é conceituada pela doutrina como a medida ou delimitação da jurisdição, ou,
nas palavras de Tourinho Filho (2003, p. 76), é “o âmbito, legislativamente delimitado,
dentro do qual o órgão exerce o seu poder jurisdicional”.
Critérios
Para determinar-se a competência e chegar-se à conclusão da autoridade com-
petente, é fundamental o estudo e a análise das diversas espécies de competência, ou
melhor, dos parâmetros usados pelos diversos diplomas legais para distribuir, entre as
autoridades judiciais, a parcela de sua atuação.
Competência material
Leva em conta as características da questão criminal e deve ser estudada sobre
três aspectos principais.
■■ Critério ratione personae: insculpida no inciso VII do artigo 69, leva em consi-
deração a importância das funções desempenhadas por determinadas pessoas,
dando azo à atribuição do chamado foro por prerrogativa de função. Exemplo:
cabe ao Supremo Tribunal Federal o julgamento das infrações penais comuns
praticadas pelo presidente da República. (CF, art. 102, I, “b”).
■■ Critério ratione loci: estampada nos incisos I e II do artigo 69, considera o local
da consumação do delito, além do domicílio ou residência do réu.
Competência funcional
Leva-se em conta como elemento de distribuição os atos processuais praticados,
e deve ser analisada também sobre três aspectos principais.
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■■ Objeto do juízo: por esse critério, há uma distribuição de tarefas na decisão das
várias questões trazidas durante o processo. No júri, por exemplo, que é um
tribunal colegiado heterogêneo, composto por um juiz togado e pelos jurados
(juízes leigos), ao primeiro caberá resolver as questões de direito, prolatar a
sentença e proceder à dosimetria da pena, ao passo que aos jurados caberá a
resposta aos quesitos que lhes são formulados.
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Competência ratione loci I
Nestor Távora
Lugar da infração
De início, no que se refere ao território ou foro, a regra geral é a do artigo 70 do
Código de Processo Penal (CPP): “A competência será, de regra, determinada pelo lugar
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
o último ato de execução”. Essa regra deve ser complementada pelo inciso I do artigo
14 do Código Penal, que considera consumado o delito quando se reúnem todos os ele-
mentos de sua definição legal. Assim, identificamos três teorias a respeito do local do
crime.
■■ Teoria da atividade: o lugar do crime é o da ação ou omissão.
■■ Teoria do resultado: o lugar do crime é o da consumação. É a regra (CPP,
art. 70).
■■ Teoria da ubiqüidade: o lugar do crime é tanto o da ação como o do resul-
tado.
Nos crimes praticados a bordo de navios ou aeronaves, além de, em regra, ser
competente a Justiça Federal, no aspecto territorial compete ao juízo do primeiro porto
em que tocar a embarcação ou aeronave após o crime, e se estiver se afastando do país,
o último em que tocou (CPP, art. 89).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
tado. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) indica que esse posicionamento
facilitaria a produção probatória.
E se o réu tem mais de uma residência? Firma-se por prevenção, que é sinônimo
de antecipação, ou seja, é prevento o juiz que primeiro praticou um ato do processo ou
medida a ele relativa (CPP, art. 72, §1.º).
Domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo
e, subsidiariamente, o lugar no qual exerce suas ocupações habituais, o ponto central de
seus negócios ou local em que for encontrado. Residência é a morada sem ânimo defini-
tivo.
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75
(OLIVEIRA, 2004)
Jurisdição
Executivo Judiciário Legislativo Outros
competente
Procurador-geral
da República,
Comandantes das
Presidente, Membros Forças Armadas,
Membros do
Vice-presidente, dos tribunais Membros do
STF Congresso
Ministros e superiores, Tribunal de
Nacional
Advogado-geral incluindo o STF Contas da
União e Chefes
de missão
diplomática
Membros dos
Tribunais
de Contas
dos Estados,
Membros dos
Distrito Federal
STJ Governadores TRF, dos TRE, –
e Municípios e
dos TJ e dos TRT
membros do MP
da União que
atuam perante
tribunais
TRF Juízes de
Membros do MP
Direito, Juízes
TJ da União (MPE,
Federais, Juízes Deputados
Prefeitos MPT, MPM, MP
TRE (somente do Trabalho, Estaduais
do DF) e do MP
para crimes Juízes Militares
Estadual
eleitorais) da União
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Assim, nos crimes contra a União, suas autarquias e empresas públicas, quem
julgará o prefeito é o Tribunal Regional Federal; e nos crimes eleitorais, o Tri-
bunal Regional Eleitoral. Aplicamos também esse entendimento aos deputados
estaduais.
■■ STJ, N. 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
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Competência ratione loci II
Nestor Távora
Prevenção
Prevenção significa “antecipação”, o magistrado que primeiro pratica atos do pro-
cesso ou medidas relativas a ele, ainda que anteriores ao oferecimento da denúncia ou
queixa, torna-se prevento. Por exemplo, juiz que decide, na fase do inquérito, sobre a
prisão preventiva, torna-se, pela prevenção, competente para a futura ação penal. O Có-
digo de Processo Penal (CPP) disciplina algumas hipóteses em que o juízo é considerado
prevento (art. 83; art. 70, §3.º; art. 71; art. 72, §2.º; art. 75, parágrafo único; art. 78, II,
“c”; e art. 91).
Distribuição
Havendo mais de um juiz competente na comarca, a competência firmar-se-á pela
distribuição, que nada mais é do que um instituto disciplinador de serviços (TOURI-
NHO FILHO, 2003), significando a repartição dos processos entre juízes igualmente
competentes (CPP, art. 75).
Conexão e continência
Previstas nos artigos 76 e 77 do CPP, não são bem um critério da fixação de com-
petência e sim de modificação dela, atraindo para um determinado juízo a demanda que
seria de atribuição de outro juízo. A conexão é o nexo, o vínculo que os fatos guardam
entre si. Já na continência, segundo a doutrina, uma causa está contida na outra.
Conexão
A conexão pressupõe a ocorrência de duas ou mais infrações, conforme as moda-
lidades a seguir.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Continência
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Foro prevalente
Havendo a reunião de processos, em face da conexão ou da continência, deve-se
determinar o juízo que vai prevalecer diante da competência do outro. Para tanto, o CPP,
em seu artigo 78, estabeleceu alguns critérios.
■■ Júri versus jurisdição comum: prevalece o júri.
■■ Jurisdições de diversas categorias: prevalece a de maior graduação.
■■ Jurisdição comum versus especial: prevalece a especial.
■■ Jurisdições de mesma categoria: utilizam-se os critérios de crime mais grave,
maior número de infrações e prevenção.
STF, N. 704. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do co-réu ao foro por prerrogativa de função
de um dos denunciados.
STJ, N. 122. Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do artigo 78, II, “a”,
do Código de Processo Penal.
Separação de processos
Mesmo nos casos de conexão e continência, pode haver motivo ensejador à se-
paração de processos, podendo esta ser obrigatória (CPP, art. 79) ou facultativa (CPP,
art. 80).
Perpetuatio jurisdictionis
Havendo reunião de processos, pela conexão ou pela continência, o juiz prevalen-
te, mesmo que venha a absorver ou desclassificar a infração que determinou a atração,
continua competente para julgar as demais (CPP, art. 81).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Prisão em flagrante
Nestor Távora
Conceito
O flagrante é o delito que ainda “queima”, ou seja, é aquele que está sendo come-
tido ou acabou de sê-lo. Assim, a prisão em flagrante é a que resulta no momento e no
local do crime. É uma medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e processual
que não exige ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de inopino.
Espécies de flagrante
pécie não exige a perseguição. Basta que a pessoa, em situação suspeita, seja encontrada
logo depois da prática do ilícito. O logo depois admite um lapso temporal maior do que o
logo após da espécie anteriormente comentada.
Flagrante facultativo
É a faculdade legal que autoriza qualquer do povo a efetuar ou não a prisão em
flagrante. Está abrigado na primeira parte do artigo 301 do CPP.
STF, N. 145. Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível
a sua consumação.
Flagrante esperado
Sabendo o agente policial, pelas investigações, que o delito vai ocorrer, aguarda
no local adequado, e, na hora H, realiza a prisão em flagrante.
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Flagrante forjado
É aquele armado, fabricado. Por exemplo, um policial coloca, sorrateiramente, o
produto de um furto na residência de alguém e o prende sob alegação de receptador. Nes-
se caso, não há crime por parte dos flagrados, e sim pelo agente que forjou o flagrante.
Sujeitos do flagrante
■■ Sujeito ativo: é aquele que efetua a prisão.
Autoridade “competente”
A autoridade policial da circunscrição onde foi efetuada a prisão é, via de regra,
a competente. Se no local onde foi efetuada a prisão não houver autoridade policial,
o capturado deve ser apresentado à do lugar mais próximo (CPP, art. 308).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Prisão preventiva e prisão
temporária (Lei 7.960/89)
Nestor Távora
Prisão preventiva
Conceito
É uma prisão cautelar de natureza processual. Pode ser decretada pelo juiz, du-
rante o inquérito policial ou processo criminal antes do seu trânsito em julgado, sempre
que presentes os requisitos legais e os motivos autorizadores. Por ser medida de natureza
cautelar, só se sustenta se presentes a fumaça do bom direito e o perigo da demora.
Pressupostos
Doutrinadores de estirpe identificam os pressupostos como sendo a prova da ma-
terialidade (existência) do crime e os indícios suficientes da autoria que, uma vez presen-
tes, dão azo ao requisito do fumus boni juris.
■■ A prova da existência do crime: a materialidade delitiva deve estar devidamente
comprovada para que o cerceamento cautelar seja autorizado.
■■ Os indícios suficientes da autoria: basta que existam indícios fazendo crer ser o
indivíduo suspeito o autor da infração penal. Não é necessário haver prova robusta,
somente indícios.
As hipóteses de decretação
As hipóteses de decretação da preventiva, que se consubstanciam no periculum in
mora, são (CPP, art. 312):
■■ Garantia da ordem pública – a decretação da preventiva, com base nesse
fundamento, objetiva evitar que o agente continue delinqüindo no transcorrer
da persecução criminal.
■■ Conveniência da instrução criminal – tutela-se a livre produção probatória,
impedindo que o agente destrua provas, ameace testemunhas etc.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
■■ nos punidos com detenção, se o indiciado for vadio ou não fornecer elementos
sobre sua identidade;
■■ quando o réu já foi condenado por crime doloso, sendo aplicável a prescrição da
reincidência (CP, art. 64, I).
Fundamentação
O artigo 315 do CPP exige fundamentação no despacho que decreta a medida
prisional. Tal exigência decorre também do princípio constitucional da motivação das
decisões judiciais (CF, art. 93, IX).
Revogação
Verificando, no decorrer da persecução criminal, a falta dos motivos autorizado-
res, o juiz poderá revogar a prisão preventiva (CPP, art. 316). Todavia, uma vez novamen-
te presentes os permissivos legais, nada obsta a que o juiz a decrete novamente.
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Conceito
Segundo o professor Fernando Capez (2001, p. 237), trata-se de “prisão cautelar
de natureza processual destinada a possibilitar as investigações a respeito de crimes gra-
ves, durante o inquérito policial”.
Decretação
Em face do disposto no artigo 2.º da Lei 7.960/89, somente pode ser decretada
pela autoridade judiciária (juiz de Direito), mediante representação da autoridade policial
ou de requerimento do MP.
Cabimento
Só pode ser decretada nas situações previstas pelo artigo 1.º da Lei 7.960/89,
quais sejam:
■■ indiciado não tem residência fixa ou não fornece elementos para sua identifi-
cação (II);
■■ nos crimes graves, tratados no inciso III, tais quais: homicídio doloso, se-
qüestro, estupro, atentado violento ao pudor, extorsão, extorsão mediante
seqüestro etc.
Prazos
■■ Geral (Lei 7.960/89, art. 2.º): cinco dias, prorrogável por mais cinco dias em
caso de comprovada e extrema necessidade.
■■ Nos crimes hediondos, tráfico, terrorismo e tortura (Lei 8.072/90, art. 2.º,
§4.º): o prazo da prisão temporária é de 30 dias, prorrogável por mais 30 dias,
em caso de comprovada e extrema necessidade.
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Liberdade provisória
Nestor Távora
Conceito
É um estado de liberdade, circunscrito em condições e reservas, que substitui a
custódia provisória, atual ou iminente, com ou sem fiança, nas hipóteses de flagrante
(CPP, arts. 301 a 310) e de prisão decorrente de sentença condenatória recorrível. Não
obstante seja um benefício acompanhado de compromissos e condições, deve ser sempre
concedido, salvo se houver fundadas razões para se segregar o acusado ou indiciado.
Espécies
Obrigatória
Trata-se de direito incondicional do acusado, quando este se livra solto, de acordo
com as hipóteses do Código de Processo Penal (CPP), insculpidas no artigo 321, I e II,
ressalvado o disposto no artigo 323, III e IV.
Permitida
Quando não couber prisão preventiva, e desde que preenchidos os requisitos le-
gais, com ou sem fiança.
Vedada
Quando couber prisão preventiva e nas hipóteses em que a lei estabelecer expres-
samente a proibição.
não excede a 3 meses; não sendo caso de aplicar a Lei 9099/95, o acusado deve ser posto
em liberdade logo após a lavratura do auto de prisão em flagrante (art. 309).
Com vinculação
É a liberdade provisória condicionada, apesar de não exigir fiança. Nela são im-
postas restrições ao beneficiário. Vejamos as hipóteses.
Observações
■■ Vide as vedações da Lei do Crime Organizado (Lei 9.034/95, arts. 7.° e 9.°).
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Conceito de fiança
É a garantia real de cumprimento das obrigações processuais do réu. Não existe
mais fiança fidejussória no processo penal comum.
Objetivos da fiança
Busca obter a presença do réu no processo, o pagamento das custas, do dano e da
possível multa. É direito subjetivo constitucional e sua violação constitui constrangimen-
to ilegal sanável pelo remédio heróico do habeas corpus, além de se constituir em abuso
de autoridade.
Modalidades de fiança
Por depósito e por hipoteca, desde que inscrita, em primeiro lugar.
O reforço da fiança
Revela-se necessário quando a fiança for insuficiente, ocorrer a depreciação ma-
terial ou perecimento de bens hipotecados ou caucionados, depreciação dos metais ou
pedras preciosas, ou quando for inovada a classificação do delito.
Da decisão que exige o reforço, cabe Recurso em Sentido Estrito. Em não sendo
reforçada, é tida por inidônea a fiança e tornada sem efeito. O reforço pode ser determi-
nado de ofício pela autoridade, em qualquer caso.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
O acusado e o terceiro que por ele prestou fiança, com a lavratura do termo, são
notificados das obrigações impostas e das sanções previstas.
A cassação da fiança
É cabível diante de concessão ilegal de fiança. Com efeito, a autoridade pode in-
correr em equívoco e conceder o benefício quando a lei não o permite para o caso. Assim,
resta à mesma, ou à autoridade superior, promover a imediata cassação. Nesse sentido,
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101
Da decisão que cassa a fiança cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, V).
O quebramento da fiança
Ocorre nas hipóteses legais em que o beneficiário, depois de obtida a fiança, per-
de-a em virtude do descumprimento dos ônus processuais estabelecidos nos artigos 327,
328 e 341. Da decisão judicial que reconhece a quebra cabe Recurso em Sentido Estrito,
com fundamento no artigo 581, VII.
A perda da fiança
É uma punição aplicada ao réu condenado que quebra a confiança e não se apre-
senta à prisão depois de expedido o mandado. A punição implica a perda do valor integral
da fiança (art. 345).
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Teoria geral das provas
(CPP, arts. 155 a 157)
Introdução
Inicialmente, é importante ressaltarmos que o Título VII, do Livro I, do Código
de Processo Penal (CPP), que se refere à Prova, sofreu uma série de alterações em face da
vigência das Leis 11.690, de 09/06/2008 e 11.900, de 08 de janeiro de 2009.
Essas modificações dizem respeito, especialmente, a quatro aspectos:
1) teoria geral das provas, por exemplo, no que se refere às provas ilícitas;
2) procedimento da prova pericial;
3) interrogatório do acusado; e
4) rito da prova testemunhal.
Conceito
Prova é todo e qualquer elemento que tem como finalidade demonstrar a existên-
cia e veracidade de um fato, para influenciar o convencimento do magistrado.
e deles já está devidamente convencido. Podemos citar como exemplos, os fatos notórios
(ex.: EUA têm a guerra como pretexto da incessante busca da liberdade), os fatos inúteis,
os fatos intuitivos ou evidentes (ex.: a queda de um avião amplamente comentada por
toda imprensa nacional), presunções legais absolutas e o direito (salvo leis municipais,
estaduais, estrangeiras, normas administrativas e costumes), também não dependem de
prova.
Fonte de prova
É tudo aquilo que possa indicar fatos ou circunstâncias úteis ao processo e que
necessitam de comprovação, como por exemplo, uma defesa prévia apresentada pelo de-
fensor, que pode não ser meio de prova ou elemento de prova, mas dá indicações importantes
que precisarão ser comprovadas durante o andamento do processo.
Meio de prova
É aquilo que direta ou indiretamente pode servir para comprovar ao juiz a exis-
tência e a veracidade de um fato, como testemunhas, depoimento da vítima, declarações
do réu, perícias, documentos etc.
Elementos de prova
São os fatos e circunstâncias em que repousa a convicção do juiz (MANZINI, apud
TOURINHO FILHO, 2009, p. 524).
Prova emprestada
É toda aquela que foi produzida em um processo e poderá ser utilizada em outro.
Obviamente, a prova emprestada precisará passar pelo crivo do contraditório e da ampla
defesa, sob pena de perder sua validade. Além do mais, exige a doutrina que sejam as
mesmas partes, tenha ligação com o mesmo fato ou circunstância probatória e tenha no
processo originário seguido os ditames formais previstos na legislação brasileira.
Liberdade probatória
A legislação processual penal pátria não faz restrição quanto aos meios de prova
que podem ser produzidos no processo, a não ser quanto ao estado das pessoas, para o
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105
qual o artigo 155, parágrafo único, do CPP, determina que seja seguida a legislação cível.
Assim, a maioridade penal e o casamento deverão ser comprovados com a certidão de
nascimento ou carteira de identificação e certidão de casamento originais.
Portanto, conclui-se que qualquer meio de prova poderá ser utilizado no processo
para influenciar o convencimento do magistrado, ainda que não esteja previsto na legis-
lação brasileira, desde que não seja considerada uma prova proibida, que para a doutrina
será prova ilícita ou prova ilegítima.
Provas inadmissíveis
Conforme vimos acima, todo meio de prova será admitido, salvo os considerados
proibidos, vedados pelo legislador, como a prova ilícita e a prova ilegítima.
Provas ilícitas são aquelas obtidas em desconformidade com alguma regra ou ga-
rantia constitucional ou material, como por exemplo, uma confissão obtida mediante
tortura ou através de uma violação ao domicílio do réu, tendo em vista contrariar direta-
mente o que prevê o artigo 5.º, nos incisos III e XI.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§1.º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não eviden-
ciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser
obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§2.º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e
de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
objeto da prova.
§3.º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será
inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
Ônus da prova
A obrigação de provar é da parte que fez a alegação. O ônus da prova é de quem
alega.
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz
de ofício:
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consi-
deradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida;
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de dili-
gências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Procedimento probatório
O procedimento dos sujeitos processuais em relação às provas deve seguir 4 (qua-
tro) momentos:
1) proposição ou indicação da prova, que no Processo Penal brasileiro, como re-
gra, se dá para o autor da ação penal no momento do oferecimento da denúncia
pelo Ministério Público (MP) ou da queixa-crime para o querelante, nos casos
de ação penal pública e privada, respectivamente (CPP, art. 41). Para os acu-
sados, como regra o momento da indicação da prova se dá na apresentação da
defesa escrita (CPP, art. 396-A) e para o julgador, a qualquer tempo, em busca
da verdade (CPP, art. 404);
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos ele-
mentos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.
■■ Princípio da comunhão: a prova trazida aos autos deixa de ser da parte que a
produziu e passa a ser do processo.
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Provas em espécie
(CPP, arts. 155 a 157)
Prova pericial
Introdução e conceito
O Código de Processo Penal (CPP), entre os artigos 158 e 184, dispõe acerca do
exame de corpo de delito e das perícias em geral. O mais relevante, sem dúvida, foram
as alterações trazidas pela Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, razão pela qual nos refe-
riremos mais sobre aspectos pontuais modificados pelo legislador, trazendo, em muitas
ocasiões, os dispositivos legais descritos integralmente.
A perícia é a prova realizada por um profissional, um expert, por uma pessoa com
conhecimentos técnicos e específicos acerca do objeto de prova para auxiliar o julgador
na formação de sua convicção.
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.
§1.º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, por-
tadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que
tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
§2.º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o
encargo.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Assistência técnica
Inovação importante trazida pelo legislador ao CPP é em relação à assistência
pericial, quando nos parágrafos 3.º e 4.º do mesmo artigo 159, ensina:
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Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo
este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.
Perícias específicas
O CPP, a partir do artigo 162 trata especificamente sobre uma série de exames
periciais. Vejamos:
Autópsia
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos,
pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver,
quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem
precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de
alguma circunstância relevante.
Exumação de cadáver
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para
que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.
Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados,
bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local
do crime.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível,
juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente ru-
bricados.
Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reco-
nhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela
inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual
se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos
encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver.
Lesões corporais
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciá-
ria, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de
seu defensor.
§1.º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de
suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§2.º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, §1.º, I, do Códi-
go Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
§3.º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
Perícias laboratoriais
Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a even-
tualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
Perícia de arrombamento
Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração
da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com
que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.
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Avaliação de coisas
Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas
ou que constituam produto do crime.
Perícia em incêndio
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver come-
çado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão
do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.
Perícia em escritos
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-
se-á o seguinte:
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se
for encontrada;
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer
ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenti-
cidade não houver dúvida;
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que exis-
tirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí
não puderem ser retirados;
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a
autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa,
mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se con-
signarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
realização do exame de corpo de delito, mas dessa vez realizado de forma indireta, ou
seja, através das declarações de testemunhas o perito elaborará o laudo pericial. É o que
ensina o artigo 167 do CPP.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
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Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou
em parte.
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a
perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.
Interrogarório do acusado
Introdução e conceito
O interrogatório do acusado, descrito entre os artigos 185 e 196 do CPP, sofreu
uma série de alterações através da Lei 11.900, de 08 de janeiro de 2009, especialmente
sobre a possibilidade de realização no próprio presídio onde estiver recolhido e também
através do polêmico sistema de videoconferência.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
sistema tecnológico em todo o país, aumento da segurança dos presídios para que advo-
gados e servidores do judiciário possam comparecer para a realização do ato, e uma série
de outras, mas, a principal delas, sem dúvida, era em relação à ocorrência de prejuízo ao
sagrado direito constitucional da ampla defesa, em face da mecanização de um ato pro-
cessual tão importante, que deve ser cada vez mais humanizado em busca das garantias
constitucionais de defesa técnica e pessoal.
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ção e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. (Incluído pela Lei
11.900/2009)
§5.º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entre-
vista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica tam-
bém garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor
que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e
o preso. (Incluído pela Lei 11.900/2009)
§6.º A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais
por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada
causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
(Incluído pela Lei 11.900/2009)
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Declarações do ofendido
Introdução e conceito
O legislador brasileiro deu maior atenção e importância à participação das vítimas
no auxílio da formação da convicção da autoridade judiciária no que tange ao conjunto
probatório para a elucidação da causa.
No artigo 201 do CPP, a Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, dispôs detalhada-
mente acerca das declarações do ofendido sobre o fato, suas circunstâncias, indicações de
prova e da autoria, como também, sobre o procedimento de tal meio de prova, mas, espe-
cialmente, no que se refere à preservação de sua segurança, como avisando-o de quando
o autor entrar e sair do estabelecimento prisional, bem como dos atos processuais como
audiências, sentenças além da preservação de sua intimidade, vida privada honra, ima-
gem, possibilitando-se, inclusive, acompanhamento multidisciplinar nas áreas psicosso-
cial, assistência jurídica e à saúde, tudo às expensas do ofensor e do Estado. Vejamos:
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circuns-
tâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar,
tomando-se por termo as suas declarações.
§1.º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá
ser conduzido à presença da autoridade.
§2.º O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos
que a mantenham ou modifiquem.
§3.º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admi-
tindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.
§4.º Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço sepa-
rado para o ofendido.
§5.º Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento mul-
tidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a
expensas do ofensor ou do Estado.
§6.º O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada,
honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em rela-
ção aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para
evitar sua exposição aos meios de comunicação.
Prova testemunhal
Introdução e conceito
A prova testemunhal, disposta entre os artigos 202 e 225 do CPP, também sofreu
algumas alterações com a vigência da Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, especificamen-
te no que se refere ao procedimento.
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Ouvida de testemunha
por precatória ou videoconferência
Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do
lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,
intimadas as partes.
§1.º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.
§2.º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a preca-
tória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
§3.º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser reali-
zada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclu-
sive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento.
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Questões
e processos incidentes I
Nestor Távora
Questões prejudiciais
Prejudicial significa aquilo que deve ser julgado antecipadamente. Reclamam uma
decisão prévia e são ligadas ao meritum causae. Logo, distinguem-se das preliminares,
que tratam de aspectos processuais e, uma vez reconhecidas, impedem a apreciação do
mérito. As prejudiciais caracterizam-se também por sua autonomia e pela possibilidade
ou não de serem julgadas pelo juízo criminal, ao passo que as preliminares são absoluta-
mente dependentes e sempre serão julgadas pelo juízo criminal. Por exemplo, a validade
do casamento anterior é prejudicial ao reconhecimento do crime de bigamia (CP, art.
235), pois está umbilicalmente ligada ao mérito da causa. Já a suspeição do juiz é mera
preliminar, atinente a um pressuposto processual.
Classificação
■■ Homogênea: pertence ao mesmo ramo do direito da causa principal.
■■ Heterogênea: pertence a ramo do direito distinto da causa principal.
■■ Total: assume papel fundamental na caracterização da existência do próprio
crime. Parcial: diz respeito ao reconhecimento de circunstância (qualificadora,
agravante etc.).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Natureza jurídica
Apesar da divergência doutrinária, é forçoso reconhecer que as prejudiciais são
uma forma de conexão.
Sistemas de solução
Vistos o significado, a classificação e a natureza jurídica, vejamos como deve ser
julgada a prejudicial. Quatro são os sistemas e suas características marcantes vêm a
seguir:
■■ Predomínio da jurisdição penal – aqui argumenta-se que quem conhece a ação
conhece a exceção. Logo, o juiz criminal seria competente para decidir a pre-
judicial.
■■ Separação absoluta ou prejudicialidade obrigatória – nessa linha de pensamen-
to, mister se faz que a questão seja remetida ao juiz especializado, haja vista
que, utilizando-se o juiz criminal da decisão do cível, evitar-se-ia decisões con-
traditórias. Crítica – adotando-se tal proposição, restringe-se o livre convenci-
mento do juiz criminal, além de revitalizar-se, indiretamente, as limitações à
prova e presunções existentes na seara cível.
■■ Prejudicialidade facultativa – essa corrente propõe que a remessa ou não da
prejudicial ao juízo cível deve levar em conta a prevalência cível ou criminal
sobre a questão debatida.
■■ Misto ou eclético – adotado no Brasil, orienta que a decisão sobre as prejudiciais
pode caber tanto ao juízo cível quanto ao criminal. Depende, tão-somente, do
disciplinamento legal (CPP, arts. 92 e 93).
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127
Recursos
O despacho que nega a suspensão do processo criminal para a solução da preju-
dicial na esfera extrapenal é irrecorrível. Segundo a doutrina, pode caber habeas corpus
ou Correição Parcial. Da decisão que determina a suspensão cabe Recurso em Sentido
Estrito (CPP, art. 581, XVI).
Observações
■■ A suspensão pode ser decretada de ofício ou a requerimento das partes (CPP,
art. 94).
■■ Não há prejudicial no inquérito policial.
Exceção
Conceito
É uma forma de defesa através da qual o acusado objetiva a extinção do processo
sem o julgamento do mérito, ou apenas a procrastinação do feito. São elas: suspeição,
incompetência, ilegitimidade de parte, litispendência, coisa julgada (CPP, art. 95).
Espécies
As exceções podem ser peremptórias, isto é, uma vez acolhidas, extinguem o pro-
cesso sem julgamento de mérito. Por exemplo, a litispendência e a coisa julgada. As dila-
tórias prorrogam o curso do processo, procrastinando-o. Por exemplo, a incompetência.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Suspeição
Suspeito é o juiz que tem interesse por qualquer das partes (Tornaghi). As hipó-
teses de suspeição estão previstas no artigo 254 do CPP.
■■ Juiz ou algum parente elencado em lei responde a processo por fato análogo e
controverso.
■■ Juiz possui com alguma das partes relações negociais, societárias, ou de tutela
e curatela.
Argüição
Pode ser reconhecida ex officio (CPP, art. 97), ou argüida pelas partes através da
competente exceção (CPP, art. 98), podendo ainda ser apresentada por procurador com
poderes especiais. A exceção de suspeição deve preceder às demais, salvo se o motivo for
superveniente (CPP, art. 96).
Petição
Deve ser fundamentada, assinada pela própria parte ou por procurador com po-
deres especiais. Vem acompanhada de prova documental e rol de testemunhas, caso ne-
cessário (CPP, art. 98). Quem alega a exceção é o excipiente, ao passo que a pessoa contra
quem se alega é denominada de excepto.
Procedimento
■■ Juiz singular: reconhece o alegado, suspende a marcha processual e remete os
autos ao seu substituto legal (CPP, art. 99). Caso não aceite a alegação de sus-
peição, autua a petição em apartado, dando sua resposta em três dias, podendo
instruí-la, e remete os autos em 24 horas ao órgão julgador.
Vale lembrar que o magistrado pode reconhecer ex officio a sua suspeição, reme-
tendo os autos, uma vez intimadas as partes, ao seu substituto legal.
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129
Exceptos
São todos aqueles em face de quem a exceção de suspeição pode ser argüida:
magistrados (CPP, art. 98); membros do MP (CPP, art. 104); peritos, intérpretes, funcio-
nários da justiça e serventuários (art. 105); jurados (CPP, arts. 448, §2.°).
Não cabe exceção de suspeição contra autoridade policial (CPP, art. 107). Contu-
do, estas devem declarar-se suspeitas.
Recursos
Não há recurso cabível para combater o reconhecimento da suspeição.
Efeitos
Afastamento do magistrado, remessa dos autos para o substituto legal; declaração
de nulidade dos atos processuais praticados a partir do motivo causador da suspeição.
Em caso de erro inescusável (indesculpável), deve o juiz pagar as custas do processo
(CPP, art. 101 c/c art. 564, I).
“A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar
o juiz ou de propósito der motivo para criá-la” (CPP, art. 256).
Argüição
Sendo a competência matéria de ordem pública, deve ser reconhecida de ofício,
inclusive a chamada incompetência relativa (territorial); não o sendo, caberá a exceção,
oposta verbalmente ou por escrito, no prazo de defesa (CPP, art. 108).
Procedimento
Deve ser oposta junto ao juiz da causa e autuada em apartado; não suspendendo o
processo; oitiva MP; julgamento. Se improcedente, desta decisão não cabe recurso (pode-
se impetrar habeas corpus ou argüir-se em preliminar de futura apelação). Se procedente,
cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, III).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Efeitos
Julgada procedente a exceção, são remetidos os autos ao juízo competente, anu-
lando-se os atos decisórios e aproveitando-se os instrutórios (CPP, art 108, §1.°, c/c art.
567). Essa disposição tem aplicação apenas nos casos de incompetência relativa, pois,
segundo a melhor doutrina, diante da incompetência absoluta, todos os atos devem ser
reputados imprestáveis. Contudo, por respeito ao estudante, ressalto que essa posição
está longe de ser pacífica.
■■ Apesar da divergência, a melhor doutrina entende que a parte autora pode ale-
gar a exceção de incompetência (nesse sentido: Noronha, Tourinho, Mirabete,
Paulo Lúcio Nogueira).
■■ O juiz que recebe os autos do processo, nos quais foi reconhecida a incompe-
tência, pode suscitar o conflito de jurisdição.
Argüição
A qualquer tempo, inclusive ex officio, não havendo prazo para o seu reconhe-
cimento e devendo ser afirmada no segundo processo. Na hipótese de ser instaurado
apenas um novo inquérito policial, este deve ser trancado através de habeas corpus, por
faltar-lhe justa causa.
Procedimento
Artigos 110 e 111 do CPP: argüição, ouvida da parte contrária e do MP, formação
de autos apartados, juiz decide.
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131
Recursos
Reconhecida a exceção, cabe Recurso em Sentido Estrito (art. 581, III). Não aco-
lhendo a exceção, essa decisão é irrecorrível (pode ser interposto habeas corpus). Sendo
afirmada de ofício, cabe Apelação (CPP, art. 593, II).
Procedimento
Argüição, a qualquer tempo, verbalmente ou por escrito, sendo que, no primeiro
caso, reduzida a termo; oitiva da parte contrária e MP; incidente autuado em apartado;
decisão judicial (CPP, art. 110).
Efeitos do reconhecimento
Em se tratando de ilegitimatio ad causam, anula-se todo o processo. Na ilegitimatio
ad processum, a nulidade pode ser sanada, mediante ratificação dos atos já praticados
(CPP, art. 568).
Recursos
Do reconhecimento da exceção, cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581,
III). Do não-reconhecimento, não cabe recurso (pode-se utilizar o habeas corpus ou a ale-
gação em preliminar de apelação). Se o juiz reconhece de ofício, não há recurso. Contudo,
para Tourinho, Capez e Mirabete, cabe Recurso em Sentido Estrito com base no inciso
I do artigo 581 do CPP, pois equivaleria a um não-recebimento da denúncia ou queixa a
posteriori.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Função e espécies
O objetivo é a pacificação social, pois a coisa julgada pode ser formal (imutabilida-
de dentro do mesmo processo) e material (inalterabilidade que transcende o processo).
Natureza jurídica
É uma qualidade dos efeitos da decisão.
Requisitos
Existência de ação transitada em julgado; mesmos fatos (CPP, art. 110, §2.°): a
exceção só pode ser oposta em face do fato principal; mesmo réu.
Procedimento
Argüição; oitiva parte contrária e MP; autos apartados; decisão (CPP, arts. 110 e
111).
Recursos
Julgada procedente a exceção, cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, II).
Improcedente, não há recurso (habeas corpus ou preliminar de apelação). Reconhecida de
ofício, cabe Apelação (CPP, art. 593, II).
Incompatibilidades e impedimentos
O impedimento decorre de interesse do julgador no processo (CPP, art. 252), ao
passo que a incompatibilidade decorre de graves razões não elencadas entre os impedi-
mentos e suspeições (CPP, arts. 252 e 254).
Processamento
É o mesmo da exceção de suspeição (CPP, art. 112).
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133
Deve o aluno ter em mente que, enquanto as questões prejudiciais são matéria
vinculada ao mérito, devendo ser decididas para que o magistrado adentre ao âmago da
causa principal, os procedimentos incidentais (exceções; incompatibilidades e impedi-
mentos; incidente de sanidade mental; restituição de coisas apreendidas etc.) solucionam
as matérias incidentes à persecução e que dizem respeito ao próprio processo. Seria ideal
que o processo transcorresse sem o surgimento de incidentes. Contudo, isso não é a pra-
xe, e os incidentes devem ser solucionados de forma a não tumultuar o feito e permitir
que o processo tenha andamento regular.
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Questões
e processos incidentes II
Nestor Távora
Conflito de jurisdição
Disciplinado nos artigos 113 a 117 do Código de Processo Penal (CPP), ocorre o
conflito quando dois ou mais juízes consideram-se, contemporaneamente, competentes
ou incompetentes para tomar conhecimento do fato delituoso.
■■ Ocorre também o conflito na controvérsia sobre a unidade de juízo, junção ou
separação de processos.
Espécies
■■ Positivo (dois ou mais juízes julgam-se competentes).
■■ Negativo (os magistrados julgam-se incompetentes).
Conflito de atribuições
Ocorre entre órgão do Poder Judiciário e outros poderes (Legislativo e Executivo),
e entre órgãos não-jurisdicionais.
Processamento
O processamento do incidente é tratado no artigo 116 do CPP. Vejamos a seguir.
■■ Argüição: representação dos juízes em conflito ou requerimento das partes.
■■ Conflito:
■■ negativo – poderá ser suscitado nos próprios autos;
■■ positivo – o relator pode determinar que seja suspenso o processo.
■■ Requisição de informações: são prestadas pelas autoridades em conflito nos
prazos marcados pelo relator.
■■ Oitiva do Ministério Público (MP) e decisão.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Observações importantes
STJ, N. 22. Não há conflito de competência entre TJ e Tribunal de Alçada do mesmo
Estado-membro.
STJ, N. 59. Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,
proferida por um dos juízos conflitantes.
Introdução
Durante o inquérito policial (CPP, art. 6.º), a autoridade policial apreende os ins-
trumentos do crime e objetos outros que tenham relação com o fato criminoso. Os ob-
jetos que podem ser apreendidos estão previstos nas alíneas do artigo 240 do CPP. Pode
ocorrer durante a busca pessoal ou domiciliar, e essa última, quando não houver consen-
timento do morador, depende de mandado judicial (CF, art. 5.º, XI).
CPP, Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não
poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.
Autoridade restituinte
O caput do artigo 120 do CPP trata da autoridade que poderá deliberar acerca da
restituição, quais sejam: o delegado ou juiz. O delegado só decide nos casos de direito
induvidoso e quando a coisa não seja apreendida em poder de terceiro de boa-fé (CPP,
art. 120, §§ 1.º e 2.º).
Confisco
CP, Art. 91. São efeitos da condenação:
[...]
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137
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo
agente com a prática do fato criminoso.
■■ Crime de reprodução de obra com violação de direito autoral (CP, art. 184,
§§ 1.º, 2.º e 3.º; e CPP, art. 530-G, trazidos pela Lei 10.695/2003): o juiz deter-
mina a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos na senten-
ça. Perdimento em favor da Fazenda Nacional dos equipamentos apreendidos
que se destinem à prática do ilícito.
■■ Observações:
■■ objetos não-reclamados (CPP, art. 123) – caso não sejam passíveis de confis-
co, são leiloados e o valor é depositado em favor do juízo de ausentes;
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Questões
e processos incidentes III
Nestor Távora
Medidas assecuratórias
Visam garantir o ressarcimento pecuniário da vítima em face do ilícito ocorrido.
Servem também para pagamento de custas e de eventual multa. Têm caráter de instru-
mentalidade e destinam-se a evitar o prejuízo que adviria da demora na conclusão da
ação penal. São elas o seqüestro, a hipoteca legal e o arresto (impropriamente denomi-
nado de seqüestro).
Cabimento
Pode ser determinado tanto no inquérito quanto no processo; recai sobre imóveis
adquiridos com os proventos da infração; exige para a decretação indícios veementes de
autoria.
■■ Inscrição no registro de imóveis: artigo 128 do Código de Processo Penal
(CPP).
Recurso
■■ Concedido ou não o seqüestro, da decisão cabe Apelação.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Recurso: da decisão que manda ou não inscrever a hipoteca legal cabe Apelação.
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143
Introdução
Em havendo dúvidas acerca da idoneidade de um determinado documento, o meio
hábil para desentranhá-lo dos autos é a instauração do presente incidente.
Espécies
■■ Originário ou instrumento: é feito com o fim de provar. Por exemplo, o con-
trato.
■■ Eventual: pode servir como prova, mas esse não é o fim de sua produção.
Procedimento do incidente
■■ Argüição por escrito.
Legitimidade
O juiz pode reconhecer de ofício a falsidade documental, ou o incidente pode ser
suscitado pelas partes. Se por procurador, este deve ter poderes especiais.
Efeitos
Reconhecida a falsidade, o documento é desentranhado e os autos do incidente
remetidos ao Ministério Público (MP) para apuração de eventual crime. Contudo, essa
decisão não fará coisa julgada em futuro processo cível ou criminal.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Recurso
Da decisão que soluciona o incidente cabe Recurso em Sentido Estrito (CPP, art.
581, XVIII).
Introdução
Havendo dúvidas sobre a higidez mental do autor do ilícito, deve ser determinado
o incidente, podendo ocorrer durante o inquérito ou processo, contudo cabendo apenas
ao magistrado tal decisão.
Procedimento
O juiz determina o incidente através de portaria, nomeando desde logo curador;
suspende a ação principal, ressalvando a realização de atos urgentes. O prazo prescricio-
nal continua a correr; partes intimadas para ofertar quesitos; perito dispõe de 45 dias
para conclusão do laudo, prorrogáveis a critério do juiz; apresentação do laudo, e o inci-
dente, que corria em autos apartados, é apensado aos autos principais. Seqüencialmente,
temos:
■■ juiz baixa portaria;
■■ nomeação de curador;
■■ suspensão do processo principal: prescrição corre normalmente, e não há pre-
juízo da realização de diligências urgentes;
■■ partes ofertam quesitos;
■■ peritos manifestam-se em até 45 dias;
■■ autos, que corriam em apartado, são apensados aos principais.
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145
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença
mental ou perturbação da saúde mental, o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por
medida de segurança.
Temos que ter total atenção com as medidas assecuratórias, distinguindo a sua
incidência quanto aos bens de origem ilícita ou não, ressaltando a carência de técnica do
Código quanto à nomenclatura dada a elas.
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Procedimentos penais
(CPP, arts. 394 e seguintes)
Processo e procedimento
Enquanto o processo é o meio, o instrumento, o mecanismo que o Estado dispõe
para a aplicação do direito de punir; o procedimento, também chamado de rito, é a for-
ma, a seqüência legal, lógica, e concatenada de atos processuais que inicia com a acusa-
ção e vai até o momento da prestação jurisdicional pela sentença ou acórdão nos casos de
ação penal originária dos tribunais.
São muitos os crimes tipificados na lei penal brasileira, que protegem uma va-
riada gama de bens jurídicos, com objetos diferentes (vida, honra, drogas etc.), e, obvia-
mente, conseqüências penais diferentes, algumas condutas são mais gravosas que outras
e devem ser apuradas de formas distintas. Por essas razões o legislador descreveu uma
série de procedimentos, alguns dispostos no Código de Processo Penal (CPP) outros em
leis extravagantes.
Escolha do procedimento
Tendo em vista que o processo visa à incidência do direito punitivo, com a possi-
bilidade de aplicação de uma sanção penal ao cidadão, que poderá privá-lo do direito de
locomoção, que é um direito fundamental e indisponível garantido constitucionalmente,
estamos diante de uma matéria de ordem pública que conduzirá à absoluta nulidade do
feito se ocorrer qualquer inobservância às regras e formas procedimentais, pois presu-
mir-se-á existência de prejuízo ao acusado, em face da ofensa aos princípios do devido
processo legal, contraditório e ampla defesa. Apenas não será anulado o processo se a
inobservância do rito não causar prejuízo à defesa, como por exemplo, se o magistrado
aplicar ao caso concreto um procedimento com maior amplitude probatória em substi-
tuição a um rito de menor extensão, como seguir o procedimento ordinário quando, por
se tratar de infração menos grave, deveria ser adotado o rito sumário.
Para escolher o procedimento correto, é necessário seguir alguns critérios dispos-
tos na Constituição Federal e nas leis infraconstitucionais. Vejamos:
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Nessas situações, deverá ser aplicado o rito descrito entre os artigos 1.º e 12, da
Lei 8.038/90. A Lei 8.658/93 estende esse rito, previsto inicialmente para os casos de
competência do STF, para os demais tribunais pátrios.
Uma vez que o crime não seja praticado por uma das pessoas que tem “foro privi-
legiado” dos tribunais, não será aplicado o rito da Lei 8.038/90.
Não sendo crime doloso contra a vida, militar ou eleitoral, igualmente não se-
rão adotados os ritos respectivos. Então qual será o procedimento a ser seguido? Para
responder essa pergunta precisaremos passar ao segundo critério de escolha do proce-
dimento.
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149
Uma vez que não se trate de IPMPO, o próximo passo será verificar se há ou não
procedimento especial para o delito cometido. Havendo, adotar-se-á o rito especial (ex.:
tráfico ilícito de drogas); não havendo, seguir-se-á o procedimento comum. Para saber se
há procedimento especial é simples.
Se o crime estiver descrito no CP, havendo rito especial estará disposto no CPP.
São apenas 3 ritos especiais no CPP: crimes cometidos por funcionários públicos; crimes
contra a honra; crimes contra a propriedade imaterial.
Se o delito estiver tipificado em lei especial, havendo rito especial, estará des-
crito na própria lei especial, como por exemplo, crimes de tráfico ilícito de drogas, Lei
11.343/2006.
Como vimos, não havendo rito especial, deverá ser adotado o procedimento co-
mum:
■■ procedimento comum ordinário – para os crimes com pena privativa de li-
berdade máxima prevista em lei igual ou superior a 4 (quatro) anos (CPP, art.
394, §1.º, I);
■■ procedimento comum sumário – para os delitos com pena privativa de li-
berdade máxima prevista em lei inferior a 4 (quatro) anos (CPP, art. 394, §1.º,
II).
Seguindo esses critérios e passos, sempre de cima para baixo e por exclusão, será
escolhido o rito correto.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Procedimentos comuns
O artigo 394, §1.º, do CPP, ensina que os ritos serão comuns ou especiais e os
conceitua, dizendo:
Observa ainda o legislador (CPP, art. 394, §4.º), que as regras gerais descritas en-
tre os artigos 395 e 398 devem ser aplicadas a todos os procedimentos de primeiro grau.
Daqui, percebe-se duas circunstâncias. A primeira é que na realidade serão aplicadas
apenas as disposições dos artigos 395 a 397, tendo em vista que o artigo 398 foi revogado.
A segunda, é que esses artigos não poderão ser aplicados aos processos criminais que
tramitarem nos tribunais, que seguirão o rito da Lei 8.038/90, sem qualquer alteração
disposta no CPP.
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151
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
■■ Rejeição liminar
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a
partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.
■■ Citação
■■ Resposta à acusação
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pre-
tendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário.
§1.º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Có-
digo.
§2.º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir
defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por
10 (dez) dias.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o
juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente.
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153
§1.º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consi-
deradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela
acusação e 8 (oito) pela defesa.
§1.º Nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as referi-
das.
§2.º A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, res-
salvado o disposto no art. 209 deste Código.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade
do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade
dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença
do seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo
deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante
e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se
origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão ofereci-
das alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§1.º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será
individual.
§2.º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos
10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da de-
fesa.
§3.º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de
memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.
Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento
da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresen-
tarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no
prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.
Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo
juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.
§1.º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendi-
do e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenoti-
pia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade
das informações.
§2.º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do
registro original, sem necessidade de transcrição.
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155
a 4 (quatro) anos. Percebe-se, assim, que o rito é previsto para os delitos menos graves e,
também para as infrações penais de menor potencial ofensivo encaminhados dos Juiza-
dos Especiais Criminais para o juízo comum, por dificuldade em relação à citação (não
admite-se por edital) ou complexidade do caso (art. 66, parágrafo único e 77, §2.º, Lei
9.099/95), tudo conforme explicita o artigo 538 do CPP.
Portanto, conclui-se que o rito sumário deve ser mais célere, objetivo e econômico
que o rito ordinário, descrito para infrações penais mais graves.
■■ declarações do ofendido;
■■ acareações;
■■ interrogatório do réu;
■■ debates orais;
■■ sentença oral.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela
acusação e 5 (cinco) pela defesa.
Art. 533. Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos do art. 400 deste
Código.
§1.º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será indi-
vidual.
Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determi-
nando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.
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Procedimento do Júri
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Sentença de pronúncia
Ensina o artigo 413 do CPP:
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163
Sentença de impronúncia
Enquanto a sentença de pronúncia diz que pro (procede) a denúncia oferecida pelo
MP, havendo indícios de que o réu é o autor do fato e que, em princípio, se trata de crime
doloso contra a vida, a impronúncia é de improcedência da denúncia, conforme preceitua
o artigo 414 do CPP:
Sentença de desclassificação
Os crimes classificados como sendo de competência do Tribunal de Júri, confor-
me ensina a Constituição Federal (CF), são os dolosos contra a vida e os cometidos em
conexão com um deles. Portanto, se o magistrado, na fase da pronúncia, perceber, por
meio da análise da prova colhida durante a primeira fase do procedimento do Júri, que
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
não ocorreu crime doloso contra a vida, deverá proferir uma sentença de desclassificação,
dizendo que a infração não pode ser encaminhada a julgamento pela sociedade porque
não se trata de crime de competência do Tribunal do Júri. Dispõe o artigo 419 do CPP:
Despronúncia
Quando o magistrado proferiu uma sentença de pronúncia e o réu interpõe recur-
so em sentido estrito (CPP, art. 581, IV), poderá requerer que antes de ser encaminhado
ao MP para contra-razões e depois ao Tribunal de Justiça, o magistrado emita um juízo
de retratação, reconsiderando a sua decisão. Uma vez que o juiz acolha o pedido e recon-
sidere a pronúncia, estará, então, emitindo uma decisão de despronúncia, tanto quando
impronuncie, desclassifique ou absolva sumariamente o réu. O mesmo se dará se por
acaso o juiz não reconsidere a sua decisão mas o Tribunal de Justiça dê provimento ao
recurso interposto, impronunciando, desclassificando ou absolvendo sumariamente o
réu.
Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas
na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o retorno dos
autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste
Código.
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165
Emendatio libelli
Não há qualquer óbice em que o magistrado dê definição jurídica diversa daquela
classificada pelo MP na denúncia ou pelo querelante na queixa-crime (em caso de ação
penal privada subsidiária da pública). Porém, conforme explicita o legislador, a classifica-
ção deverá se dar em conformidade com o fato narrado na peça acusatória, que é quando
o réu realmente se defendeu durante a primeira fase do procedimento do Júri. Essa de-
cisão judicial, então, apenas amolda a tipificação disposta na peça inaugural com o fato
nela descrito. Ex.: na denúncia o MP descreve um crime de homicídio qualificado pela
tortura, mas na classificação expõe apenas o artigo 121, caput, do Código Penal, que trata
do homicídio simples. Nesse exemplo, o magistrado poderá pronunciar o réu por crime de
homicídio qualificado pela tortura (CPP, art. 121, §2.º, III), ainda que mais grave, pois foi
desse fato que o réu se defendeu.
Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação,
embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.
Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente
do Tribunal do Júri.
§1.º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que
altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
§2.º Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.
Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação
do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para,
no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário,
até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer
diligência.
Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas
no plenário do Júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:
I - ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa;
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária não atribuir ao presidente do Tribu-
nal do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á os autos do proces-
so preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 deste Código.
Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os processos preparados até o encerra-
mento da reunião, para a realização de julgamento.
Desaforamento
Desaforamento é tirar do foro, buscar que o processo seja instruído e julgado em
outra cidade que não aquela onde foi cometido o crime doloso contra a vida. A finalidade
do desaforamento é que o caso seja apreciado livremente pelos jurados, sem interferência
da sociedade e às vezes até mesmo da imprensa, que levam os jurados sob pressão para o
plenário a ponto de estarem com a causa julgada, algumas vezes com um prejulgamento
para condenação, antes mesmo da realização da sessão plenária.
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparciali-
dade do Júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério
Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz
competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da
mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.
§3.º Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por ele solicitada.
§1.º Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de adia-
mentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.
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Organização do Júri
O Tribunal do Júri é composto por um magistrado-presidente, mais 25 (vinte e
cinco) jurados, dos quais 7 (sete) comporão o Conselho de Sentença que deliberará acer-
ca do caso posto sob julgamento.
Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oito-
centos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um
milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de
100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de
menor população.
§1.º Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ain-
da, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas
mencionadas na parte final do §3.º do art. 426 deste Código.
§2.º O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro,
entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindica-
tos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam
as condições para exercer a função de jurado.
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publi-
cada pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à
porta do Tribunal do Júri.
§1.º A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao
juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva.
§2.º Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.
§3.º Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na
presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, perma-
necerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente.
§4.º O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que ante-
cederem à publicação da lista geral fica dela excluído.
§5.º Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, completada.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado
deve ser absolvido.
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distin-
tas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária
precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações
das partes.
A ordem dos quesitos vem elencada no artigo 483 do CPP, que prevê em seus
parágrafos os quais serão respondidos sempre por maioria (art. 489) e após serem in-
dagados sobre a materialidade do fato e a autoria já se poderá saber se o réu será con-
denado ou absolvido. Primeiramente, porque se negarem um dos dois quesitos, estarão
dizendo ou que o fato não existiu ou que o réu não foi o seu autor, o que, em ambos os
casos, conduz-se a um juízo absolutório. Entretanto, a maior diferença em relação aos
quesitos dispostos no CPP anteriormente a essas alterações se dá no que se refere ao
terceiro quesito.
De outro lado, se os jurados responderam que não deve ser absolvido, estão, en-
tão, decidindo pela condenação e o juiz seguirá na quesitação com base no §3.º do artigo
483.
Encerrada a votação, será lavrada a ata e assinada pelo juiz-presidente, pelos ju-
rados e pelas partes.
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169
§1.º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos
incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§2.º Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
§3.º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formu-
lados quesitos sobre:
I - causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II - circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia
ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§4.º Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular,
será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2.º (segundo) ou 3.º (tercei-
ro) quesito, conforme o caso.
§5.º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência
sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formu-
lará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
§6.º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em
séries distintas.
Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se refere o art. 488 deste Código assina-
do pelo presidente, pelos jurados e pelas partes.
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Teoria geral dos recursos
Nestor Távora
Características
■■ O recurso é anterior à coisa julgada.
■■ Não enseja a instauração de nova relação processual.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Os princípios gerais
Da taxatividade
O princípio da taxatividade impõe ao recorrente que apresente, contra a decisão
guerreada, um recurso previsto em lei.
Da unirrecorribilidade
O princípio da unirrecorribilidade estabelece que contra qualquer decisão recor-
rível cabe apenas um recurso. Em tese, a lei prevê o recurso cabível para cada decisão.
Todavia, situações há que mitigam tal princípio. Assim, pode o inconformado impetrar
simultaneamente dois recursos (recurso especial ao STJ e recurso extraordinário ao STF
etc.).
Da fungibilidade
É o princípio que permite aos tribunais “aproveitarem” um recurso interposto,
por engano, quando houver dúvida objetiva sobre qual a espécie recursal a ser utilizada,
e não ter havido erro grosseiro ou má-fé por parte do recorrente. O Código de Processo
Penal (CPP) prestigia esse princípio em seu artigo 579, verbis:
Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.
Voluntariedade
O princípio da voluntariedade consiste na exigência de serem afastadas quaisquer
dúvidas acerca da vontade do recorrente para impugnar a decisão recorrida. Assim, veda-
se a obrigatoriedade da parte em recorrer.
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173
Pressupostos recursais
Para ser admitido um recurso, seus pressupostos objetivos e subjetivos devem
estar regularmente atendidos.
Objetivos
■■ Cabimento ou previsão legal: o recurso tem de estar previsto em lei.
■■ Adequação: é a interposição do recurso adequadamente aplicável à decisão re-
corrida. Em face das hipóteses elencadas no artigo 579 do CPP, a adequação
pode valer-se da fungibilidade.
■■ Tempestividade: o recurso deve ser manejado no prazo definido na lei. No pro-
cesso penal, o prazo, em regra, é de cinco dias. Todavia, existem outros prazos,
tais como carta testemunhável (48 horas), embargos de declaração (dois dias),
embargos infringentes (dez dias), recurso extraordinário e especial (15 dias).
Por força do disposto no artigo 5.º, parágrafo 5.º, da Lei 1.060/50, os defensores
públicos dispõem de prazo em dobro.
■■ Regularidade formal: é a observância das formalidades que a lei impõe. Com
efeito, há de ser observado, por exemplo, se a lei manda interpor o recurso por
termo ou petição.
Subjetivos
■■ Interesse: aquele que deseja utilizar um recurso deve ter interesse em obter o
reexame da decisão recorrida. Portanto, o interesse está vinculado à idéia de
sucumbência, ou seja, de prejuízo decorrente de uma decisão que não conce-
deu, ou concedeu em parte, o pedido postulado em juízo.
■■ Legitimidade: somente pode recorrer quem a lei autoriza a fazê-lo. Nesse sen-
tido, temos autorizadas as figuras elencadas no artigo 577 do CPP, o assistente
da acusação, os autorizados no artigo 598 do CPP, qualquer pessoa no caso de
habeas corpus, qualquer pessoa do povo nas hipóteses do parágrafo único do
artigo 426, §1.º e artigo 581, XIV, do CPP, o terceiro que prestou fiança diante
do permissivo legal do artigo 581, VII, do CPP.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
rificar o atendimento dos pressupostos objetivos e subjetivos. Via de regra, esse juízo
de admissibilidade é feito tanto no orgão a quo (aquele que recebe o recurso) quanto no
órgão ad quem (aquele a quem se destina o recurso e que irá julgá-lo). Entendendo regular
o recurso, o juízo a quo o recebe, manda processar e remete ao tribunal. Do contrário, não
o recebe e dessa decisão caberá outro recurso.
Superando o juízo a quo, no juízo ad quem, como dito acima, o recurso será sub-
metido a novo juízo de admissibilidade. Em estando regular, o tribunal conhecerá deste,
julgará o mérito e dará ou negará provimento ao recurso (delibação). De outra forma,
entendendo ausente algum pressuposto, não conhecerá do recurso.
Devolutivo
É um efeito que alcança todos os recursos e consiste em transferir (devolver) a
um órgão de jurisdição superior o conhecimento da matéria decidida pelo magistrado de
grau inferior. Excepcionalmente, como ocorre nos embargos de declaração, a devolução
é feita para o órgão prolator da decisão recorrida.
Suspensivo
É uma qualidade do recurso que obsta a produção dos efeitos da decisão impugna-
da. Esse efeito perdura até que transite em julgado a decisão sobre o recurso.
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Extensivo
É o efeito previsto no artigo 580 do CPP. Decorre dele que, em havendo mais de
um réu com idêntica situação fática e processual, se um deles recorrer e obtiver algum
benefício, este será estendido a todos.
O efeito não se opera quando se trata de situação de caráter pessoal. Por exemplo,
João e José, em idêntica situação fática e processual, receberam uma pena acima do míni-
mo legal. João, menor de 21 anos na data do fato (atenuante genérica), recorre e tem sua
pena reduzida. Como Paulo, na data do fato, contava com 35 anos, não se operará, em
favor deste, o efeito extensivo do benefício.
Desistência
Tem lugar quando, após a interposição e o recebimento do recurso pelo juízo a
quo, o recorrente desiste formal e expressamente do mesmo.
O artigo 576 do CPP proíbe o MP de desistir do recurso por ele mesmo inter-
posto.
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Apelação
Nestor Távora
Apelação
Considerações gerais
É o recurso interposto da sentença definitiva ou das decisões definitivas ou com
força de definitivas, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a conse-
qüente modificação parcial ou total da decisão.
Características
É recurso amplo
Devolve o conhecimento pleno da matéria impugnada.
É recurso residual
Só cabe quando não houver a previsão do artigo 581 do Código de Processo Penal
(CPP).
Goza de primazia
Quando em parte da sentença houver previsão para o recurso em sentido estrito,
a Apelação tem primazia perante tal recurso. Essa preferência mantém-se mesmo que
o apelo destine-se a provocar a revisão daquela parte que seria objeto do recurso em
sentido estrito.
Espécies
Plena ou parcial
A Apelação é plena quando objetiva atingir a totalidade da decisão apelada, e par-
cial se visa impugnar apenas parte dessa decisão. Quando plena, devolve toda a matéria
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Principal ou subsidiária
É principal a Apelação quando interposta pelo Ministério Público (MP). Se mane-
jada pelo ofendido, habilitado ou não como assistente, e após esgotado o prazo recursal
para o promotor, é dita subsidiária ou supletiva.
Ordinária ou sumária
A Apelação é considerada ordinária ou sumária em decorrência do procedimento
que será adotado na segunda instância.
Hipóteses de cabimento
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179
Note que nos casos acima a Apelação que vise a modificar o veredicto dos jura-
dos é imprestável porque, modificando o veredicto, violaria norma constitucio-
nal. As aludidas hipóteses somente atacam as decisões do juiz presidente.
■■ Se a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos: mesmo em
face dessa hipótese, o tribunal não pode violar o princípio da soberania dos ve-
redictos para reformar a decisão dos jurados. Assim, o provimento da Apelação
resulta na determinação para que se proceda a novo julgamento.
STF, N. 713. O efeito devolutivo da apelação contra decisão do júri é adstrito aos fun-
damentos da sua interposição.
Isso significa que o tribunal não pode, por exemplo, diante de uma Apelação
fundada em nulidade, determinar novo julgamento, porque, ao seu ver, defluiu
dos autos que os jurados decidiram contra as provas nele contidas.
■■ Para a parte que esteve presente no ato, o prazo é contado da data da audiência
ou da sessão em que foi prolatada a sentença.
■■ Nas hipóteses de intimação por edital (60 dias para as penas inferiores a um
ano e 90 dias para as superiores), o prazo para a Apelação tem início logo após
o decurso do prazo do edital.
■■ O assistente de acusação habilitado tem prazo de cinco dias. Não sendo habili-
tado, o prazo é de 15 dias.
STF, N. 448. O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr imedia-
tamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Procedimento
■■ Interposição no juízo a quo no prazo de cinco dias.
■■ Razões da Apelação.
■■ Contra-razões.
Não obstante o disposto no artigo 601 do CPP, tem-se entendido pela obrigato-
riedade das razões e contra-razões. Isso porque ao MP não é permitido desistir
do recurso; ao acusado é assegurada a proteção do princípio da ampla defesa,
pelo que se obriga a apresentar razões e contra-razões.
■■ Depois disso, o relator elabora relatório em dez dias e manda para o revisor.
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Efeitos
■■ Devolutivo: está sempre presente na Apelação.
STF, N. 160. É nula a decisão do tribunal que acolhe contra o réu nulidade não argüida
no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
Deve o aluno ter atenção para a subsidiariedade do recurso de apelo: não cabendo
recurso em sentido estrito, é possível que caiba Apelação, desde que haja enquadramento
no artigo 593 do CPP.
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Recurso em Sentido Estrito
(CPP, arts. 581 a 592)
Nestor Távora
Considerações gerais
É o recurso que, como regra, presta-se ao combate das decisões interlocutórias,
tendo suas hipóteses de cabimento delineadas pelo artigo 581 do Código de Processo
Penal (CPP), e permitindo que, quando da sua interposição, o magistrado prolator da
decisão exerça juízo de retratação.
Cabimento
As hipóteses de interposição constam do artigo 581 do CPP, não cabendo, segun-
do a doutrina, ampliação por analogia. Contudo, eventualmente é possível a interpreta-
ção extensiva. Assim, segundo o caput do dispositivo, “Caberá recurso, no sentido estrito,
da decisão, despacho ou sentença” que se apresenta conforme abaixo.
STF, N. 707. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-
razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de de-
fensor dativo.
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185
Se a decisão denegatória do habeas corpus for proferida por tribunal, o recurso ca-
bível é o Ordinário Constitucional (CF, art. 102, II, “a”; e art. 105, II, “a”, tratando res-
pectivamente das competências do STF e do STJ para apreciação do recurso Ordinário
Constitucional).
A concessão da ordem de habeas corpus pelo juiz de primeiro grau submete-se tam-
bém ao chamado Recurso de Ofício ou Segundo Grau Necessário. É dizer: o magistrado deve
remeter sua decisão à reapreciação pelo tribunal competente.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Caso o juiz não receba o Recurso em Sentido Estrito, deve o interessado lançar
mão da Carta Testemunhável para combater tal decisão.
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187
O festejado professor Mirabete, por outro lado, sustenta a tese de que a unifica-
ção das penas é matéria regulada pelo CP e não pela LEP. Isso posto, cabível é o recurso
em sentido estrito. Mirabete robustece seus argumentos salientando que o Recurso em
Sentido Estrito oferece um mais amplo leque de opções (sustentação oral, oposição de
nulidade, embargos infringentes) de defesa para o réu.
Para atacar tal decisão, podem utilizar o recurso o MP, o acusado ou o quere-
lante.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Converte a multa
em detenção ou prisão simples (art. 581, XXIV)
Tal conversão, desde 1996, com a publicação da Lei 9.268, que deu nova redação
ao artigo 51 do CP, tornou-se inadmissível.
Prazo
O prazo para a apresentação do Recurso em Sentido Estrito é de cinco dias (CPP,
art. 586). Temos, contudo, uma exceção no parágrafo único do referido artigo, informan-
do que o Recurso em Sentido Estrito para combater a decisão que inclui ou exclui jurado
da lista geral tem o prazo de vinte dias, contado da data da publicação definitiva da lista de
jurados.
Procedimento
■■ Poderá subir nos próprios autos (art. 583), ou por meio de instrumentos, ha-
vendo então traslado das peças que o recorrente indicar.
■■ É interposto perante o juiz prolator da decisão, por petição ou termo nos autos.
■■ O recorrente é notificado para apresentar razões no prazo de dois dias (não
podem ser ofertadas diretamente em segundo grau), seguindo-se então ao re-
corrido a apresentação das contra-razões em igual prazo.
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Efeitos
■■ Devolutivo – o Recurso em Sentido Estrito devolve a matéria recorrida para
reapreciação do tribunal.
■■ Iterativo ou regressivo – é a possibilidade de o magistrado prolator da decisão
retratar-se, reformando a decisão pela interposição do recurso, facultando-se à
parte contrária, por simples petição, recorrer da nova decisão, se desta couber
Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 589, parágrafo único).
■■ Suspensivo – as hipóteses de efeito suspensivo estão tratadas no artigo 584 do
CPP.
■■ Extensivo – eventualmente, co-réu que não recorreu poderá beneficiar-se do
julgamento do recurso em sentido estrito, desde que a matéria debatida não
seja de caráter estritamente pessoal (CPP, aplicação do art. 580).
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Habeas corpus
Nestor Távora
Conceito
Ação de cunho constitucional (CF, art. 5.º, LXVIII), remédio jurídico, que tem por
finalidade fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente de
ilegalidade ou abuso de poder.
Natureza jurídica
Apesar de constar do Título II do Livro III do Código de Processo Penal (CPP),
que trata dos recursos em geral, o habeas corpus é uma ação penal popular de respaldo
constitucional.
Espécies
Liberatório ou repressivo
Tem cabimento quando o constrangimento ilegal já está efetivado. Objetiva a ex-
pedição do alvará de soltura para a liberação do paciente.
Preventivo
Busca afastar ameaça à liberdade de locomoção, com a expedição do salvo-con-
duto.
Legitimidade
■■ O artigo 654, em seu parágrafo 2.º, dispõe que “Os juízes e tribunais têm com-
petência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso do
processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação
ilegal”.
■■ O Ministério Público (MP) tem legitimidade para propor habeas corpus em favor
do réu, pois o MP não é um colecionador de condenações e sim guardião da
sociedade e fiscal da lei.
Passiva
É o autor do abuso de poder ou da ilegalidade.
Cabimento
O artigo 648 do CPP indica exemplificativamente as hipóteses de cabimento de
habeas corpus.
■■ Preso por mais tempo do que a lei determina (art. 648, II).
Recorde-se que as prisões de ordem cautelar são uma exceção e devem subsistir
quando estritamente necessárias. Destarte, estando o réu preso, não pode a
instrução estender-se em demasia, sob pena de a restrição à liberdade caracte-
rizar constrangimento ilegal.
STF, N. 697. A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos
não veda o relaxamento de prisão processual por excesso de prazo.
■■ Quem autoriza a coação não tem competência para fazê-lo (art. 648, III).
Segundo o inciso LXI do artigo 5.º da Carta Magna, “ninguém será preso senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciá-
ria competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei”.
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193
O artigo 5.º, LXVI, da Constituição Federal (CF), consagra que “ninguém será
levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança”.
Competência
■■ Do juiz de primeiro grau.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Impetração
Conteúdo
A petição do habeas corpus deverá conter o endereçamento, o nome do paciente,
a indicação do coator, a narrativa dos fatos que constituem a coação e a assinatura (art.
654, §1.º).
O habeas corpus pode ser apresentado por telegrama e até mesmo por telefone.
STF, N. 691. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impe-
trado contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, inde-
fere a liminar.
Procedimento
■■ Petição endereçada ao órgão competente.
■■ O magistrado competente pode determinar a apresentação do preso ou ir até o
local onde o mesmo se encontre.
■■ Pode ainda determinar diligência, ouvindo o paciente, e decidindo em 24 horas.
O MP não se manifesta nos julgamentos de primeiro grau.
Julgamento e efeitos
A anulação do processo
O habeas corpus pode ter a finalidade de anular o processo criminal, devendo o
mesmo ser refeito a partir do ato inquinado de vício (art. 652).
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195
Recursos
O sistema recursal do habeas corpus está delineado conforme abaixo.
■■ Da decisão de procedência ou improcedência exarada pelo juiz singular, cabe
Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581, X).
■■ A concessão da ordem pelo juízo de primeiro grau está submetida ao chamado
Duplo Grau Necessário, também chamado de Recurso de Ofício ou Oficial (CPP,
art. 574, I).
■■ A improcedência do habeas corpus em sede de tribunal pode levar ao cabimento
do Recurso Ordinário Constitucional nos seguintes casos:
■■ Recurso Ordinário Constitucional ao STF: (CF, art. 102, II) – cabível da de-
negação do habeas corpus, em única instância, pelos tribunais superiores;
■■ Recurso Ordinário Constitucional ao STJ (CF, art. 105, II) – cabível da dene-
gação do habeas corpus, em única ou última instância, pelos tribunais regio-
nais federais ou pelos tribunais dos estados.
Deve o aluno atentar para as novas súmulas do STF que abordam o tema: 690 a
695.
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Revisão criminal
Nestor Távora
Conceito
Segundo o professor Fernando Capez (2003, p. 448), é a “ação penal rescisória
promovida originariamente perante o tribunal competente, para que, nos casos expressa-
mente previstos em lei, seja efetuado o reexame de um processo já encerrado por decisão
transitada em julgado”. Assim, a revisão objetiva combater as injustiças de um provimen-
to jurisdicional do qual não caiba mais recurso, em face do advento da coisa julgada.
Natureza jurídica
Apesar de tratada no Título II do Livro III do Código de Processo Penal (CPP),
que aborda o sistema recursal, não há dúvida de que a revisão criminal é propriamente
uma ação, e mais precisamente uma ação de cunho rescisório no combate às sentenças
com trânsito em julgado.
Prazo
O artigo 622 do CPP consagra que a revisão criminal poderá ser proposta a qual-
quer tempo após o trânsito em julgado da decisão, antes ou após a extinção da pena. O
importante é a restauração do status dignitatis do condenado.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Cabimento
As hipóteses de cabimento da revisão criminal estão esboçadas no artigo 621 do
CPP, quais sejam:
STF, N. 611. Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execu-
ções a aplicação da lei mais benigna. [grifo nosso]
■■ Surgirem novas provas da inocência do condenado (CPP, art. 621, III, primeira
parte).
Novas provas são aquelas que já existiam quando do julgamento, mas que não
foram objeto de apreciação, pois sua existência sequer foi cogitada.
■■ Surgirem novas provas autorizando a diminuição de pena (CPP, art. 621, III,
parte final).
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199
O procedimento
■■ Petição dirigida ao presidente do tribunal competente.
■■ Distribuição a um relator.
Os efeitos
Julgada procedente a revisão criminal, o tribunal poderá alterar a classificação da
infração pela qual o réu foi condenado, absolvê-lo, anular o processo, ou alterar a pena.
A indenização
Havendo requerimento, o tribunal poderá reconhecer o direito a uma justa inde-
nização pelos prejuízos sofridos em face do erro judiciário.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Referências
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crimes Dolosos contra a Vida e
seu Procedimento Especial. Salvador: Juspodivm, 2004.
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