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ÍNDICE
I. A arte de Deus
II. A bússola da reconstrução do Japão
III. A causa da pobreza
IV. A ciência cria as superstições
V. A construção do Paraíso e a eliminação do Mal
VI. A cultura de SU
VII. A dialética da harmonia
VIII. A época semicivilizada e semi-selvagem
IX. A existência do Mundo Espiritual
X. A fonte da corrupção
XI. A instrução prematura é prejudicial
XII. A irresponsabilidade dos suicidas
XIII. A lógica em Religião
XIV. A Missão da Arte
XV. A nossa Religião e o Universalismo
XVI. A origem dos males sociais
XVII. A Palavra "SU"
XVIII. A parábola da espada
XIX. A Religião precisa ser universal
XX. A respeito da coletânea de poemas "Yama to Mizu"( Monte e Água)
XXI. A respeito das dívidas
XXII. A respeito do ateísmo
XXIII. A respeito do Jardim da Terra Divina
XXIV. A respeito do Paraíso Terrestre
XXV. A respeito dos sonhos
XXVI. A situação do mundo contemporâneo e o Mundo Espiritual
XXVII. A tempestade é uma calamidade humana
XXVIII. A Terceira Guerra Mundial pode ser evitada
XXIX. A tolice do controle da natalidade
XXX. A transição da Velha Cultura para a Nova Cultura
XXXI. A verdadeira causa da intranquilidade social
XXXII. A verdadeira religião
XXXIII. A verdadeira religião "Daijo"
XXXIV. Abstinência
XXXV.Acabar com os perversos
XXXVI. Aguardar o tempo certo
XXXVII. Amor correto e amor incorreto
XXXVIII. Análise do milagre
XXXIX. Apreciação das virtudes
XL. As cinco inteligências
XLI. As diversas expressões faciais após a morte
XLII. As leis e o caráter selvagem do homem
XLIII. As plantas têm vida
XLIV. As três grandes calamidades e as três pequenas calamidades
XLV. Ateísmo é superstição
XLVI. Atuação dos demônios
XLVII. Aura
XLVIII. Beco sem saída
XLIX. Benefícios materiais
L. Bom senso
LI. Bondade e cortesia
LII. Camadas do Mundo Espiritual
LIII. Campanha de formação do Paraíso por meio das flores
LIV. Características da salvação pela Igreja Messiânica Mundial
LV. Características particulares da civilização japonesa
LVI. Ciência e Arte
LVII. Como acabar com os crimes
LVIII. Como encarar a Religião
LIX. Como identificar o homem mau
LX. Concretização da profecia do Reino dos Céus - o Paraíso Terrestre
LXI. Concretização da Verdade
LXII. Conheça a Vontade Divina
LXIII. Considerações espirituais sobre os incêndios
LXIV. Considerações sobre o Paraíso Terrestre
LXV. Constituição do Mundo Espiritual
LXVI. Criação da Cultura
LXVII. Derrota do demônio
LXVIII. Destino e liberalismo
LXIX. Deus é justiça
LXX. Deus existe ?
LXXI. Devemos ou não devemos fazer dívidas ?
LXXII. Dinheiro mal ganho, dinheiro mal gasto
LXXIII. Doença e Espírito
LXXIV. Domine o "Ga"
LXXV. Doutrina da Igreja Messiânica Mundial
LXXVI. Dúvida
LXXVII. É possível solucionar os males sociais ?
LXXVIII. Egoísmo e apego
LXXIX. Eliminação da tragédia
LXXX. Eliminação do mal
LXXXI. Elo Espiritual
LXXXII. Entregue-se a Deus
LXXXIII. Era semicivilizada
LXXXIV. Espírito de "Izunomê"
LXXXV. Espírito de justiça
LXXXVI. Está errado dizer que os honestos saem perdendo
LXXXVII. Eu escrevo a Verdade
LXXXVIII. Exclusão do temor
LXXXIX. Existem fantasmas ?
XC. Fé "Shojo"
XCI. Fé é confiança
XCII. Fé é justiça
XCIII. Fé e Religião
XCIV. Fé Messiânica
XCV. Felicidade
XCVI. Filosofia da intuição
XCVII. Fisiognomonia das casas e sua posição em relação aos pontos cardeais
XCVIII. Formação do mundo novo
XCIX. Gananciosos sem ganância
C. Honestidade e mentira
CI. Igreja abrangente
CII. Inadequação do estudo
CIII. Incêndio e Johrei
CIV. Incorporação
CV. Incorporação e encosto
CVI. Incorporação e encosto de espírito encarnado
CVII. Insensibilidade em relação à Fé
CVIII. Instinto e abstinência
CIX. Johrei através das letras
CX. Jornal que enaltece o bem
CXI. Julgamento no Mundo Espiritual
CXII. Leia o mais possível os meus Ensinamentos
CXIII. Liberdade na Fé
CXIV. Libertação
CXV. Luz da inteligência
CXVI. Materialismo e espiritualismo
CXVII. Milagre e Religião
CXVIII. Minha maneira de pensar
CXIX. Minha natureza
CXX. Mistério do Mundo Espiritual
CXXI. Mundo Espiritual e Mundo Material
CXXII. Nação regida pelo Caminho
CXXIII. Não julgue
CXXIV. Não julgueis
CXXV.Não menospreze os cálculos
CXXVI. Não se irrite
CXXVII. Não seja odiado
CXXVIII. Nós é que traçamos o destino
CXXIX. Nós é que traçamos o nosso destino
CXXX.Novamente a respeito de Bergson
CXXXI. Novo conceito de amor à Pátria
CXXXII. O bem e o mal
CXXXIII. O caráter dependente dos japoneses
CXXXIV. O hábito da mentira
CXXXV. O hábito de resignação dos japoneses
CXXXVI. O Herói da Paz
CXXXVII. O homem depende de seu pensamento
CXXXVIII. O homem mau é enfermo
CXXXIX. O homem mau é ignorante
CXL. O Japão é o país do espírito
CXLI. O Japão é um país civilizado ou selvagem ?
CXLII. O Juízo Final
CXLIII. O mal social é o não causado pelo meio ambiente
CXLIV. O materialismo cria o homem mau
CXLV. O mau comportamento dos filhos
CXLVI. O mundo desconhecido
CXLVII. O mundo dominado pelo mal
CXLVIII. O Paraíso é o Mundo do Belo
CXLIX. O pecado e a doença
CL. O poder da Natureza
CLI. O que é a Igreja Messiânica Mundial
CLII. O que é a verdadeira salvação
CLIII. O que é limite
CLIV. O que é uma religião nova
CLV. O saber das coisas
CLVI. O segredo da boa sorte
CLVII. O valor do homem reside no seu espírito de justiça
CLVIII. O verdadeiro homem forte
CLIX. Obediência ao Caminho Perfeito
CLX. Obras-Primas da Arte ao alcance do povo
CLXI. Ódio ao mal
CLXII. Ordem
CLXIII. Os elementos Fogo, Água e Solo
CLXIV. Os japoneses e as doenças psíquicas
CLXV. Os japoneses não têm ambição
CLXVI. Os três espíritos do homem
CLXVII. Os virtuosos bem-sucedidos na vida
CLXVIII. Ostentação religiosa
CLXIX. Paraíso - Mundo da Arte
CLXX. Paraíso Terrestre
CLXXI. Paz e segurança
CLXXII. Pessoa simpática
CLXXIII. Pessoas medrosas
CLXXIV. Poder revogante ou poder constituinte
CLXXV. Por que as obras-primas chegaram às minhas mãos
CLXXVI. Por que surgem ciranças-prodígio
CLXXVII. Por que o mal se revela
CLXXVIII. Possua fé universal
CLXXIX. Pragmatismo
CLXXX. Práticas ascéticas
CLXXXI. Precisamos ser universais
CLXXXII. Prefácio do Livro "O Mundo Espiritual"
CLXXXIII. Presunção
CLXXXIV. Religião à Luz da Verdade ( Religião Daijo )
CLXXXV. Religião antiga e religião moderna
CLXXXVI. Religião artística
CLXXXVII. Religião ativa
CLXXXVIII. Religião celestial e religião infernal
CLXXXIX. Religião criadora de pessoas felizes
CXC. Religião e Arte
CXCI. Religião e Arte
CXCII.Religião e mandamentos
CXCIII. Religião é milagre
CXCIV. Religião e milagre
CXCV. Religião e o obstáculo
CXCVI. Religião e política
CXCVII. Religião e seitas
CXCVIII. Religião pragmática
CXCIX. Religião progressista
CC. Religião que revela Deus
CCI. Religião, Educação e Política
CCII. Religiões novas e religiões tradicionais
CCIII. Respeite a ordem
CCIV. Sabor da fé
CCV. Satisfação e insatisfação
CCVI. Segredo da felicidade
CCVII.Sejam fortes os virtuosos
CCVIII. Sejam sempre homens do presente
CCIX. Sentimento e reputação
CCX. Sermão, Johrei e felicidade
CCXI. Significado da construção do Museu de Belas-Artes
CCXII.Sinceridade
CCXIII. Sinceridade
CCXIV. Sol e Lua
CCXV. Subjetivismo e objetivismo
CCXVI. Tempo é Deus
CCXVII. Teoria sobre os efeitos contrários
CCXVIII. Tipos de fé
CCXIX. Treino de humildade
CCXX. Ultra-religião
CCXXI. Vença seu próprio mal
CCXXII. Vencer a ira
CCXXIII. Vencer o mal
CCXXIV. Verdade, Bem e Belo
CCXXV. Verdade e Pseudoverdade
CCXXVI. Verdadeira Fé
CCXXVII. Vida e Morte
Alicerce do Paraíso - Volume único
A Igreja Messiânica Mundial tem por finalidade construir o Paraíso Terrestre, criando e
difundindo uma civilização religiosa que se desenvolva lado a lado com o progresso
material.
Não há dúvida de que "Paraíso Terrestre" é uma expressão que se refere ao mundo
ideal, onde não existe doença, pobreza nem conflito. O "Mundo de Miroku", anunciado
por Buda, a chegada do "Reino dos Céus", profetizada por Cristo, a "Agricultura Justa",
proclamada por Nitiren, e o "Pavilhão da Doçura", idealizado pela Igreja Tenrikyo, têm
o mesmo significado. A diferença é que não se fez indicação de tempo. Mas eu
cheguei à conclusão de que o momento se aproxima. E o que significa isto? É a hora
da "Destruição da Lei", prevista por Buda, e do "Fim do Mundo" ou "Juízo Final",
profetizado por Cristo.
Seria uma felicidade se o Paraíso Terrestre pudesse ser estabelecido sem que isso
afetasse o homem. Antes, porém, é indispensável destruir o velho mundo a que
pertencemos. Para a construção do novo edifício, faz-se necessária a demolição do
prédio velho e a limpeza do terreno. Deus poupará o que for aproveitável - e a seleção
será feita por Ele. Eis a razão pela qual é importante que o homem se torne útil para o
mundo vindouro.
Ultrapassar a grande fase de transição significa ser aprovado no exame divino, e a Fé
é o único caminho para obtermos aprovação. As qualificações para ultrapassar essa
fase são as seguintes:
a) tornar-se um homem verdadeiramente sadio, e não apenas na aparência;
b) um homem que se libertou da pobreza;
c) um homem de paz, que odeia o conflito.
Deus resguardará aqueles que tiverem essas três grandes qualificações e deles se
utilizará, como entes preciosos, no mundo que vai surgir. Certamente não há
discordância entre os desígnios de Deus e os ideais do ser humano. Portanto, haverá
um caminho que permita estabelecer as condições requeridas. Mas como poderemos
obtê-las?
Nossa Igreja tem por objetivo orientar as pessoas e transmitir-lhes a Graça Divina,
possibilitando-lhes criar tais condições.
Nós, messiânicos, cremos em Deus, Criador do Universo. Cremos que, desde o início
da Criação, Deus objetivou estabelecer o Céu na Terra e tem atuado continuamente
para a concretização desse objetivo. Com tal propósito, fez do ser humano o Seu
instrumento para servir ao bem-estar da humanidade, condicionando a ele todas as
demais criaturas e coisas. Cremos, portanto, que a história humana do passado
constitui estágios preparatórios, degraus para se alcançar o Céu na Terra. Para cada
época, Deus envia o Seu mensageiro e as religiões necessárias, cada qual com sua
missão.
Cremos que, no presente, quando o mundo vagueia em tão caótica situação, Deus
enviou o Mestre Meishu-Sama, fundador da Igreja Messiânica Mundial, com a
suprema missão de realizar o Seu sagrado objetivo de salvar toda a humanidade. Por
conseguinte, visando à concretização do Mundo Ideal, de eterna paz, perfeitamente
consubstanciado na Verdade-Bem-Belo, empenhamo-nos em fazer sempre o melhor,
erradicando a doença, a pobreza e o conflito, as três grandes desgraças que assolam
este mundo.
Hoje em dia, a crítica mais freqüente em relação à nossa Igreja é que, tratando-se de
uma entidade religiosa, não deveria empenhar-se na cura de doenças. Entretanto, se
pensarmos bem, concluiremos que não há nada tão sem sentido como essa
observação. Ela provém do pensamento limitado dos críticos, segundo os quais a
Religião deve ocupar-se apenas da salvação do espírito, não lhe cabendo a salvação
da matéria. Para eles, a cura de doenças é uma questão material, e por isso acham
que ela não compete à Religião. Excluem das atribuições religiosas a salvação
material, limitando a essência da Religião à parte espiritual. Logicamente, de acordo
com o seu conceito, a salvação espiritual, em síntese, consiste na renúncia. Não tendo
o Poder da Salvação para eliminar materialmente o sofrimento e não encontrando
outro recurso, as religiões, pelo menos, tentam diminuí-lo espiritualmente, através da
renúncia. Essa é a maneira como muitas pessoas têm encarado a Religião até agora.
Não obstante, se a Religião excluir a matéria e preocupar-se unicamente com a
salvação do espírito, ela não estará promovendo a verdadeira salvação, pois a crença
na possibilidade da solução dos problemas materiais é que nos permitirá obter a
verdadeira tranqüilidade espiritual. Quando sentimos fome, por exemplo, só podemos
ficar tranqüilos se tivermos certeza de que alguém nos trará comida; se soubermos
que ninguém o fará, é natural que fiquemos desesperados, temendo morrer de
inanição. O mesmo acontece em relação à doença, dificuldades financeiras e outros
problemas. Só pelo reconhecimento de que tudo será solucionado através da Fé
teremos tranqüilidade absoluta. Dessa forma, a salvação das duas partes - a material
e a espiritual - é que nos fará sentir-nos salvos, alcançando o estado de verdadeira
paz e segurança.
A base da salvação material e espiritual - aquela que é a mais perfeita - consiste,
portanto, unicamente, em eliminar a doença, tornando as pessoas sadias. Por maior
que seja a nossa fortuna ou a quantidade e variedade dos mais saborosos alimentos,
provenientes do mar e da terra, em nossas refeições, por maiores honrarias e por mais
elevada posição social que tenhamos, isso de nada adiantará, se estivermos sofrendo
com doenças. A primeira condição para salvação da humanidade é, antes de mais
nada, alcançar a saúde. Por esse motivo, a meta de nossa religião é formar indivíduos
e sociedades saudáveis.
Conforme venho esclarecendo, a nossa Igreja é uma religião que abarca todos os
campos da atividade humana e que poderia ser denominada Empresa Construtora do
Novo Mundo. Entretanto, como isso pareceria fachada de alguma construtora civil, o
jeito é chamá-la, por enquanto, Igreja Messiânica Mundial. O objetivo dessa
organização religiosa é o progresso e desenvolvimento da civilização conciliando a
ciência material e a ciência espiritual.
Sabemos que o conhecimento científico caminha velozmente, ao passo que o
espiritual, baseado na Religião, caminha desesperadamente lento. A religião
conservou seu estado inato, sem alcançar muito progresso, desde o início da
civilização, há milhares de anos. Isso explica a grande distância entre ela e a Ciência.
Esta última veio a destacar-se, e a parte espiritual distanciou-se a ponto de
desaparecer da nossa vida. Por fim, o homem tornou-se indiferente ao espírito,
chegando a confundir Ciência com Civilização. Ele se ajoelha diante do trono da
Ciência e se satisfaz na sua condição de escravo. Este é o aspecto do mundo
moderno. Por acaso o homem não prova isso entregando nas mãos da Ciência o que
ele tem de mais precioso, que é a vida? Embora ela não consiga garantir a vida
humana, os homens modernos não o percebem e continuam depositando-lhe cega
confiança.
Deus compadeceu-se dessa cegueira e está procurando orientar o homem através de
nossa Igreja. Por meio da realidade, o Todo-Poderoso revela que a vida não pertence
à matéria, que apenas ela é invisível aos olhos humanos, mas possui existência
absoluta sob Sua direção. A melhor prova consiste no fato de que pessoas
desenganadas pela medicina são salvas freqüentemente pelo Poder Divino.
Surge, então, a seguinte pergunta: "Por que uma questão de vital importância, como a
vida, permaneceu na obscuridade?" Efetivamente, isso ocorreu pela necessidade de
impulsionar a cultura científica até certo ponto. Tal acontecimento faz parte da
Providência Divina; é um fenômeno passageiro, proveniente da época e, na sua fase
transitória, levado ao exagero. Mas Deus corrigirá tal exagero. Como Ele esclarece,
nitidamente, o limite entre a ciência material e a ciência espiritual, esta acertará os
passos com a primeira, progredindo e desenvolvendo-se até constituir-se um mundo
realmente civilizado. Em resumo, o mundo presente termina aqui para dar origem a um
novo mundo.
RELIGIÃO ATIVA
IGREJA ABRANGENTE
28 de março
de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ULTRA-RELIGIÃO
Qualquer pessoa tomará por um sonho descabido o objetivo da nossa Igreja - construir
um mundo sem doenças, pobreza e conflitos, ou seja, o Paraíso Terrestre, que
corresponde ao "Advento do Reino dos Céus", pregado por Cristo, ou à "Vinda do
Messias", da religião judaica. Sakyamuni disse que, depois de sua morte, surgiria um
mundo perfeito. Não afirmou, entretanto, que esse mundo estivesse iminente; ao
contrário, disse estar infinitamente longe: 5.670.000.000 de anos.
Todas essas profecias foram de grande utilidade. Se não houve referência a um plano
de execução, devemos interpretar que ainda não era chegado o tempo, mas sabemos
que a aceitação e a prática dos ensinamentos pregados pelas religiões antigas
tornaram-se o alicerce das religiões atuais. Naturalmente, cada religião criou e
divulgou os seus protótipos, formas e métodos, adaptáveis aos diferentes povos e
países. Evidentemente, as religiões foram criadas sob o desígnio de Deus, para serem
condicionadas a determinadas épocas, localidades, povos, tradições, costumes, etc.
Graças a essa força, a cultura alcançou o deslumbrante progresso que hoje apresenta.
Não fossem as religiões, o mundo estaria à mercê de Satanás, ou talvez, destruído.
Ao refletirmos sobre esses assuntos, não podemos deixar de levar em consideração
os grandes méritos dos fundadores de religiões. Todavia, embora estas últimas hajam
evitado a destruição do mundo, é duvidoso que o seu poder seja eficiente para o
mundo atual ou para o futuro. Isto porque a humanidade padece de um sofrimento
infernal, o que comprova a deficiência das Igrejas, as quais não conseguem conduzir
os sofredores ao estado celestial. Só um número restrito de povos participa dos
benefícios da civilização moderna. Presentemente, a humanidade carece muito do
espírito de paz.
Uma observação sobre o mundo atual faz com que as pessoas prudentes sintam a
necessidade do aparecimento de uma grande luz que dissipe as trevas, isto é, o poder
salvador de uma Ultra-Religião. Nesse sentido, consciente da responsabilidade que lhe
cabe como sendo esta Ultra-Religião, nossa Igreja vem apresentando resultados
surpreendentes.
EU ESCREVO A VERDADE
CONCRETIZAÇÃO DA VERDADE
Desde tempos remotos fala-se a respeito da Verdade, mas parece que sobre a
Pseudoverdade, ou melhor, sobre a verdade aparente, ninguém fala. Entretanto, para
analisarmos qualquer problema, é necessário saber diferenciá-las, pois essa distinção
exerce enorme influência no resultado da análise. Muitas vezes a Pseudoverdade
passa por Verdade e as pessoas comuns não o percebem.
A Verdade e a Pseudoverdade existem na Religião, na Filosofia, na Arte e até na
Educação. A Pseudoverdade desmorona com o passar dos anos, porém a Verdade é
eterna. Quando surge uma nova teoria ou se faz alguma descoberta, as pessoas
acreditam tratar-se da maior de todas as verdades; todavia, com o aparecimento de
novas teses e descobertas, é comum que aquelas venham a ser superadas. Da
mesma forma, por mais notável que seja uma religião, quem pode garantir que ela não
se extinguirá após centenas ou milhares de anos? Não seria uma extinção total, e sim
a extinção de sua parte falsa; é óbvio que se preservaria a parte verdadeira. Contudo,
mesmo que não houvesse algo a preservar, essa religião não seria alvo de críticas,
pois cumpriu sua missão para o progresso da cultura. Quanto mais próxima da
Verdade estiver a Pseudoverdade, mais longa será sua vida; quanto mais distante,
vida mais curta. Isso é inegável.
Apesar da distinção entre a Verdade e a Pseudoverdade caber aos intelectuais e aos
dirigentes de cada época, raros são aqueles que têm esse poder de discernimento. Às
vezes, a Pseudoverdade pode ser mantida por longo tempo. O absolutismo e o
feudalismo usaram-na como Verdade. O mesmo se pode dizer em relação ao fascismo
de Mussolini, ao nazismo de Hitler e ao "hakkoiti-u" ("fazer do mundo uma só casa") de
Tojo, que tiveram pouca duração. É interessante que, na época, o fato passou
despercebido, e momentaneamente os povos acreditaram tratar-se da Verdade. Por
causa dessa crença, até se sacrificaram vidas humanas levianamente, e não podemos
esquecer quantas pessoas foram vítimas de tais enganos. Diante disso, percebemos
como é terrível a Pseudoverdade.
A respeito da Verdade e da Pseudoverdade, não podemos deixar de observar que
elas, como já dissemos, também existem na Religião. Quantas religiões já surgiram e
já desapareceram! Apesar de terem sido gloriosas no início, tiveram vida curta, não
deixando qualquer vestígio. Isso ocorreu por serem religiões falsas. Entretanto, se for
uma religião com valor idêntico ao da Verdade, mesmo que por algum tempo sofra
uma forte perseguição, um dia, sem dúvida alguma, conseguirá expandir-se e tornar-
se uma grande religião. Podemos fazer essa afirmativa observando as grandes
religiões da atualidade.
LUZ DA INTELIGÊNCIA
Todos se referem à inteligência como se fosse uma coisa única. Mas ela pode ser de
vários tipos, apresentando diferentes níveis de profundidade.
Dentre as inteligências, as mais elevadas são: a Divina, a sagrada e a superior.
Precisamos aprofundar a nossa própria fé, a fim de cultivá-las. Elas surgem quando
possuímos espírito correto, que admite a existência de Deus. Quando há esforço
baseado na virtude, esses aspectos superiores da inteligência se desenvolvem, e a
recompensa será a verdadeira felicidade.
Em nível mais baixo, estão as inteligências calculista, ardilosa, satânica e outras, que
nascem do mal. Todos os criminosos servem como exemplo. Os delinqüentes
intelectuais, especialistas em fraudes, possuem-nas em alto grau. Os conhecidos
"heróis" de sucesso passageiro nada mais são do que portadores, em ampla escala,
dessas inteligências nocivas.
É interessante notar que quanto maior for a inteligência do bem, mais profunda ela é;
quanto maior a inteligência do mal, mais superficial. Basta analisar a vida dos
criminosos, desde épocas remotas, para verificar o que estamos dizendo. Eles fazem
planos aparentemente perfeitos, mas que, na prática, apresentam alguma falha. É
essa falha que torna público e notório o seu fracasso. Por conseguinte, se o homem
deseja crescente prosperidade, deve fazer esforços para aprofundar sua inteligência.
A profundidade da inteligência depende da força da sinceridade. Assim, conclui-se que
o homem cuja fé não é correta, nada conseguirá. Tão logo seja aceita essa teoria,
desaparecerão os males da sociedade.
O homem de hoje é superficial. Isto pode ser facilmente observado por quem examina
os vários campos da atividade humana. Os políticos, por exemplo, só se ocupam de
assuntos imediatos; qualquer outro é negligenciado até que tome vulto. Suas
providências assemelham-se aos remédios alopatas: combatem os efeitos e não as
causas. Ora, todo problema surge porque existe uma causa; nada acontece sem
motivo.
A inteligência superficial não consegue prever o futuro, ficando impossibilitada de
estabelecer uma verdadeira política. No jogo de xadrez, o mestre ganha a partida
porque "enxerga" os lances subseqüentes; o novato é derrotado porque não os prevê.
Neste sentido, o homem deve conscientizar-se de que precisa cultivar as inteligências
de nível superior, pois, sem elas, não obterá o verdadeiro êxito. E devemos
compreender que a Fé é o único meio para adquiri-las.
AS CINCO INTELIGÊNCIAS
Para que este mundo se transforme em Paraíso - objetivo de Deus - existe uma
condição fundamental: eliminar a maldade que a maioria dos homens traz no mais
profundo recanto de suas almas. Pelo senso comum, as criaturas desaprovam o mal e
temem o contato com ele. A Moral, a Ética e a Educação procuram reprimi-lo. A
Religião, também, tem por ensinamento básico recomendar a prática do bem e
combater o mal. Observando a sociedade, vemos que os pais repreendem os filhos; os
maridos, as esposas; as esposas, os maridos; os patrões, os empregados. A tudo isso,
acrescentam-se as leis, que, por meio de sanções, tentam impedir o mal. Entretanto,
apesar de todo esse esforço, a quantidade de pessoas más é incalculavelmente maior
que a de pessoas boas; para termos uma idéia mais precisa, entre dez, pessoas,
talvez nove sejam más.
Falando em homens maus, devemos lembrar-nos de que existem vários níveis de mal:
os grandes, os médios e os pequenos. Citemos alguns exemplos: o mal premeditado,
praticado conscientemente; o mal que cometemos inconscientemente, sem perceber
que o estamos cometendo; o mal que praticamos por não haver outro recurso; o mal
que fazemos acreditando ser um bem. O primeiro não necessita de maiores
esclarecimentos; o segundo é o que mais se vê; o terceiro, em termos de povos, é
praticado pelos selvagens, e, em termos individuais, pelos loucos e pelos retardados,
conseqüentemente não é tão grave; já o quarto, isto é, o mal que se faz pensando ser
um bem, é o mais prejudicial, pelo empenho com que as pessoas o praticam, sem o
esconder.
Deixarei os detalhes para o fim; agora quero mostrar a forma como geralmente se
encara o mal, do ponto de vista do bem.
Observando o mundo contemporâneo, constatamos que o predomínio do mal é tão
grande, que podemos perfeitamente dizer que ele é o mundo do mal. A História nos dá
inúmeros exemplos de homens bons que foram atormentados pelos perversos; da
situação inversa eu nunca ouvi falar. Como o mal possui mais adeptos que o bem,
enquanto os malvados vivem burlando as leis e agindo como bem entendem, os bons
ficam subjugados, vivendo constantemente sob terror. Esta é a situação do mundo
atual. Por serem mais fracos, os bons são sempre atormentados e maltratados pelos
maus.
A democracia surgiu em contraposição a esse absurdo estado de coisas e por isso tem
uma origem natural. O Japão, que viveu sob o domínio do pensamento feudal, insistiu
em manter uma sociedade onde os fracos são vítimas dos fortes, mas, felizmente, com
a ajuda do exterior, conseguiu implantar o regime democrático. Por esse motivo, ao
invés de dizermos que, no Japão, a democracia teve uma origem natural, devemos
dizer que ela foi um resultado natural. Eis um raro exemplo da vitória do bem sobre o
mal. Contudo, a democracia japonesa ainda não está muito firme; em vários setores
há resquícios de feudalismo. E talvez eu não seja a única pessoa a perceber isso.
Vejamos, também, a relação entre o mal e a cultura.
O aparecimento daquilo a que se costuma chamar cultura pode ser explicado da
seguinte maneira:
Na era subdesenvolvida e selvagem, os fortes pressionavam os fracos tolhendo-lhes a
liberdade, impondo-lhes a força, cometendo assassinatos e agindo como bem
entendiam. Como resultado, os fracos inventaram vários meios de defesa: fabricaram
armas, construíram muralhas, facilitaram os transportes, etc. Em grupos ou mesmo
sozinhos, eles se esforçavam de todas as maneiras possíveis. Isso, naturalmente,
serviu para desenvolver a mente humana. Com o correr do tempo, para garantir a
segurança dos fracos, fizeram-se contratos entre grupos, os quais, possivelmente,
deram origem aos acordos internacionais de hoje. Socialmente, foi criado algo
semelhante às leis, com o objetivo de limitar o mal; transcrito em forma de códigos,
isso deu origem às modernas legislações.
Entretanto, com métodos tão superficiais, não foi possível eliminar o mal que há no ser
humano. Conforme podemos ver, da era primitiva até hoje os homens vêm lutando
contra o mal, em defesa do bem. E quanto a humanidade tem sofrido com isso!
Quantas pessoas boas foram sacrificadas! Para aliviar tão grande sofrimento,
apareceram vários religiosos de grande porte. Como os fracos eram sempre
atormentados pelos fortes e não tinham forças suficientes para se defender, esses
religiosos pelo menos tentaram amenizar espiritualmente suas aflições e dar-lhes
esperança. Ao mesmo tempo, para combater o mal, pregaram a Lei da Causa e Efeito,
na tentativa de obter o arrependimento e a conversão dos perversos. É inegável que
obtiveram alguns resultados positivos, mas não conseguiram mudar a maioria.
Por outro lado, materialmente, instituíram-se os estudos, desenvolvendo-se a cultura
material como uma tentativa para combater, através do seu progresso, a infelicidade
acarretada pelo mal. O progresso dessa cultura foi muito além do que se podia
imaginar; entretanto, não só ela foi inútil no sentido de evitar o mal - seu primeiro
objetivo - mas acabou sendo usada para fins maléficos, gerando atos de crueldade
cada vez maiores. Essa foi a razão pela qual as guerras passaram a ser realizadas em
grande escala, até que acabou se inventando a monstruosa e terrível bomba atômica.
Atingindo esse ponto, podemos dizer que chegamos a uma época em que se tornou
impossível fazer a guerra. Falando sem reservas, é realmente uma ironia a cultura
material ter progredido com a ação do mal e, através deste, ter se chegado a um
tempo em que a guerra é impraticável. Naturalmente, no fundo de tudo isso está o
milenar e profundo Plano de Deus.
Tanto os espiritualistas como os materialistas desejam um mundo de paz e felicidade,
mas isso não passa de um ideal, porque a realidade que nos cerca é bem diferente.
Assim, os intelectuais vivem cercados por um mar de dúvidas, batendo a cabeça
contra as paredes. Entre eles, existem os que procuram a Religião, a Filosofia e outros
meios para decifrar esse enigma; a maioria, no entanto, acredita que o progresso
científico resolverá todos os problemas O fato é que a humanidade continua sofrendo,
sem perspectivas de uma situação melhor.
A seguir, descreverei como será o futuro do mundo.
Se o mal é a causa fundamental da infelicidade humana, conforme dissemos, levanta-
se a seguinte questão: por que Deus o criou? Esta é a pergunta que mais tem
atormentado o homem até os dias de hoje. Eis, porém, que finalmente Deus
esclareceu a Verdade, que eu passo agora a anunciar.
O mal foi necessário até o momento porque, através do conflito entre ele e o bem, a
cultura material pôde progredir até chegar ao ponto em que se encontra. É
surpreendente! Embora nem em sonho pudéssemos imaginar que o motivo fosse
realmente esse, é a pura verdade. A propósito, falarei primeiramente sobre a guerra.
A guerra ceifou milhares de vidas e, por ser tão trágica, os homens a temem mais do
que tudo. Para fugir a essa catástrofe, usaram todos os recursos da inteligência
humana, e nem precisamos falar o quanto isso contribuiu para o progresso da cultura.
Entre outras coisas, a História nos mostra claramente que, após as guerras, tanto os
países vencedores como os vencidos progrediram enormemente. Todavia, se elas
chegassem ao extremo ou se prolongassem demasiadamente, os países seriam
totalmente aniquilados, o que representaria a destruição da cultura. Sendo assim,
Deus as detém num certo ponto, fazendo com que retorne a paz. Através dos relatos
históricos, vemos que sempre houve alternância de períodos de guerra e períodos de
paz.
Na sociedade, a situação é idêntica. Os criminosos e as autoridades vivem fazendo
competição de inteligência. Os desajustes de relacionamento entre as pessoas
também são decorrentes da luta entre o bem e o mal. Podemos entender, no entanto,
que essas divergências contribuem para o desenvolvimento da inteligência humana.
Ora, se até hoje a cultura progrediu graças aos atritos entre o bem e o mal, é lícito
afirmar que este foi imprescindível. Contudo, precisamos saber que não é uma
necessidade eterna, ou seja, há um limite para ela. A esse respeito, devo dizer que,
atrás de tudo isso, está o objetivo de Deus, que comanda o Universo. Em termos
filosóficos, a expressão seria Ser Absoluto, ou Vontade Universal.
A começar por Cristo, todos os fundadores de religiões fizeram profecias sobre o "Fim
do Mundo", mas essa expressão, em verdade, significa o fim do mundo do mal e o
advento de um mundo ideal - o Paraíso Terrestre, isento de doença, pobreza e
conflito, o Mundo de Verdade, Bem e Belo, o Mundo de Miroku, o Reino dos Céus, etc.
Os nomes diferem, mas o significado é um só.
A construção de um mundo tão maravilhoso requer um preparo à altura; um preparo
completo, que preencha todas as condições, tanto do ponto de vista espiritual como do
ponto de vista material. Deus determinou que primeiro se efetuasse o progresso
material, pois o progresso espiritual não está preso ao tempo, podendo ser efetuado
de uma só vez, ao contrário daquele, que necessita de muitos e muitos anos. Para
preencher a primeira condição, fez com que, inicialmente, os homens ignorassem Sua
existência, concentrando-se apenas nas coisas materiais. Foi assim que surgiu o
ateísmo, condição básica para a criação do mal. Assim fortificado, o mal impingiu
maiores sofrimentos ao bem e, prosseguindo na luta, atirou o homem ao abismo do
sofrimento. Mas o homem sempre se debateu, na ânsia de sair desse abismo, o que
desencadeou a força geradora de um grande impulso no progresso da cultura. Foi
trágico, porém inevitável.
Com tudo que dissemos, creio que puderam ter uma noção básica sobre o bem e o
mal. Tendo finalmente chegado o tempo em que o mal não será mais necessário, ou
seja, o tempo presente, a questão é seríssima. Não se trata de previsão nem sonho; é
a pura realidade. Acreditando ou não, o fato já está saltando aos nossos olhos, através
do extraordinário progresso da ciência nuclear. Por conseguinte, se estourasse uma
nova guerra, não seria uma simples guerra e sim a destruição total, a extinção da
humanidade. Não obstante, esse progresso é uma forma de extinguir o mal e, por isso,
torna-se motivo de alegria. Como resultado, a cultura, que até hoje foi aproveitada pelo
mal, sofrerá uma reviravolta, ficando à inteira disposição do bem. Daí surgirá o tão
almejado Paraíso Terrestre.
MATERIALISMO E ESPIRITUALISMO
A maioria dos comentários que fazem sobre a nossa Igreja é que se trata de uma
religião supersticiosa. Mas qual a razão dessa afirmativa? A verdade é que o ponto de
vista daqueles que tecem tais comentários difere do nosso. Eles analisam as questões
espirituais tomando por base a matéria. Material, como o próprio nome está indicando,
é aquilo que podemos perceber claramente através da visão ou dos demais sentidos,
e por isso qualquer pessoa consegue compreender. O espírito, todavia, não é visível,
conseqüentemente torna-se fácil negar a sua existência. Assim, se fizermos uma
simples comparação, teremos de concordar que o espiritualismo encontra-se em
situação desvantajosa em relação ao materialismo.
A visão materialista está limitada pelos cinco sentidos; tem, portanto, uma existência
pequena, ao passo que a visão espiritualista não tem limites. É como se fosse o
tamanho da Terra comparado com o tamanho do Universo, que é um espaço sem fim.
Daqui onde estou só consigo ver até o Monte Fuji, e olhe lá... Não passam de algumas
dezenas de quilômetros. O pensamento, entretanto, que não podemos ver, num
instante pode estender-se até o infinito. Diante dele, a imensidão da Terra é
insignificante. É como se a visão espiritualista fosse o oceano, e a visão materialista
fosse o navio que nele flutua. Baseados nisso, podemos comparar o materialismo com
o macaco Songoku, o qual, tentando fugir dos domínios espirituais de Buda, percorreu
milhares de milhas, mas, quando percebeu, ainda estava na palma da mão de Buda, e
se arrependeu do que fizera. Entre outros conceitos espiritualistas sobre o
materialismo, podemos citar: "Tudo é nada", "Tudo que nasce está condenado à
extinção" e "Todo encontro está fadado à separação", de Sakyamuni, ou, segundo o
zen-budismo: "As coisas que possuem forma infalivelmente desaparecerão".
Pela exposição acima, acredito que entenderam como está errado analisar as coisas
espirituais do ponto de vista da matéria, pois esta é finita, enquanto aquelas têm vida
eterna e são infinitas. É a mesma coisa que querer colocar um elefante dentro de um
pote ou ver todo o céu através de um orifício, ou seja, é ter uma visão limitada das
coisas.
Materialistas! Depois de conhecerem esta verdade, ainda têm algo a dizer? Pensem
no que farão!
Talvez todos pensem que a época mais próspera da civilização mundial seja a época
contemporânea. Entretanto, quando analisamos bem seu conteúdo, observamos que
ela apresenta muitas falhas, como podemos constatar todos os dias através dos
jornais, que estão repletos de artigos sobre criminosos e criaturas desventuradas.
Analisando com justiça, verificamos que as coisas ruins são muito mais numerosas do
que as coisas boas. Há pouco tempo, por exemplo, tivemos um caso de corrupção que
se tornou um problema muito sério. Quando as autoridades começaram a investigar, o
caso se diversificou tanto que nem podemos imaginar até onde se multiplicará.
Portanto, ele também não seria uma pequena parte de um "iceberg"? Aliás, se
investigarmos as coisas profundamente, quantas pessoas íntegras encontraremos no
mundo político e econômico? Poderíamos arriscar-nos a dizer que nenhuma.
Pensando bem sobre o assunto, existe algo difícil de se entender. Se as pessoas
relacionadas ao caso em questão fossem camponeses de instrução primária, ainda
seria compreensível. Mas todas elas são pessoas civilizadas, que receberam
educação esmerada. Em geral, acredita-se que, quando as pessoas recebem
educação apurada, sua mente se desenvolve e elas se tornam criaturas civilizadas, de
modo que, assim, os crimes tendem a diminuir. Entretanto, vendo fatos como o que
ora se nos apresenta, ficamos desapontados, só podendo dizer que tudo isso é
realmente incompreensível. Portanto, como eu disse no título deste artigo, a época em
que vivemos é semicivilizada e semi-selvagem, e acho que, analisando a realidade
que temos diante dos nossos olhos, ninguém conseguiria fazer o contrário.
Que devemos fazer então? A solução do problema não é absolutamente difícil; pelo
contrário, é muito fácil. Como sempre tenho explicado, basta despertar as pessoas da
educação materialista que receberam para a educação espiritualista. Em termos mais
claros, destruir o pensamento errôneo de que se deve acreditar somente nas coisas
que possuem forma e desacreditar daquelas que não a possuem. A única maneira de
se conseguir isso é fazer com que seja reconhecida a existência de Deus através do
poder da Religião.
Estendendo-se esse entendimento das classes dirigentes a todas as pessoas, corrigir-
se-á o conceito errado de que se pode cometer crimes, contanto que eles não
cheguem ao conhecimento de terceiros. Assim, não haverá mais criminosos e,
conseqüentemente, formar-se-á um mundo onde impere o bem e a alegria. Parece, no
entanto, que ninguém entende um princípio tão simples e claro como este, visto que só
se procura controlar o mal por meio de fortes redes e prisões chamadas leis. Isso,
porém, é tratar os homens como se fossem animais, não sendo à toa que o método
não surte resultados positivos.
Ora, se não se consegue manter a disciplina da sociedade nem mesmo com as
malhas da lei, torna-se necessário descobrir onde está a causa do problema. Mas
ninguém a percebe. A sociedade continua sendo uma coletividade constituída de seres
que são meio-homens e meio-animais. Por esse motivo, está demasiado claro que já
não é possível eliminar o caráter animalesco do homem através da educação
materialista. O ensino ministrado até hoje, como se pode ver pelos seus resultados,
não passa de uma técnica para encobrir esse caráter. Dessa maneira, não podemos
sequer imaginar quando se edificará uma sociedade verdadeiramente civilizada.
Portanto, para solucionar o problema, é fundamental eliminar as características
animalescas da alma do homem. Não há método mais eficiente.
Eis a missão da Religião. Mas é estranho que, quanto mais elevada é a educação que
se recebe, mais se despreza a Religião. Por quê? Talvez seja esta a grande falha da
civilização. A causa está no caráter animalesco existente no interior dos homens, o
qual recusa a Religião. Ou seja, é porque o mal não gosta do bem. Daí podermos dizer
que a educação da atualidade forma as "inteligências" do mal. Entretanto, chegou a
hora em que tal coisa não mais será permitida, porque surgiu a Igreja Messiânica
Mundial, que prova a existência de Deus e consegue fazer com que as pessoas O
alcancem. Talvez achem impossível algo tão maravilhoso, mas, na realidade, pode-se
conseguir isso sem nenhuma dificuldade. Pelo simples contato com a nossa Igreja, a
pessoa obtém a certeza da existência de Deus, através do milagre. A melhor prova do
que dizemos são as inúmeras bênçãos maravilhosas manifestadas por ela. Creio que
isso representa a manifestação da Grandiosa Providência de Deus, que finalmente
corrigirá essa civilização falha, semicivilizada e semi-selvagem, fazendo com que
Espírito e Matéria caminhem lado a lado, para a construção do verdadeiro mundo
civilizado.
Talvez estas palavras pareçam demasiado fortes, mas não posso evitá-las, pois
correspondem à pura verdade. Segundo nosso ponto de vista, o materialismo, ou seja,
o ateísmo, pode ser considerado o pensamento mais perigoso que existe. Vejamos. Se
Deus não existisse, eu também ganharia dinheiro enganando o próximo habilmente,
de modo que não fosse descoberto; faria o que bem entendesse e, além de viver uma
vida de luxo, estaria ocupando uma posição de maior destaque na sociedade.
Entretanto, consciente da existência de Deus, de forma alguma sou capaz de proceder
assim. Tenho de percorrer o caminho mais correto possível e tornar-me um homem
que deseja a felicidade das outras pessoas. Caso contrário, jamais poderia ser feliz e
levar uma vida que vale a pena ser vivida.
O que eu estou dizendo não é mera teoria ou algo parecido. Como podemos ver
através de inúmeros exemplos que a História nos mostra desde os tempos antigos, por
mais que a pessoa prospere por meio do mal, essa prosperidade não dura muito,
acabando por desmoronar. É um fato que deveria ser percebido facilmente, mas
parece que isso não acontece. A sociedade continua assolada pelos crimes. Crimes
horripilantes, como assaltos, fraudes e assassinatos; casos de corrupção de pessoas
que ocupam posições elevadas, os quais se tornam objeto de comentários sociais;
incontável número de crimes de pequeno e médio porte, etc. Tudo isso é uma
conseqüência do pensamento ateísta; por conseguinte, podemos dizer que esta é a
verdadeira causa dos crimes. Está, pois, mais do que claro que só há um meio de
eliminar os crimes deste mundo: destruir o ateísmo. Atualmente, porém, os
intelectuais, as autoridades e os pedagogos estão confundindo pensamento teísta com
superstição e tentando obter bons resultados com apoio nos regulamentos da lei, no
ensino, nos sermões, etc. Dessa forma, por mais que eles se esforcem, é natural que
nada consigam. As notícias publicadas diariamente nos jornais mostram-no
claramente.
Assim, para criar uma sociedade limpa e pura, é preciso estimular intensamente o
pensamento teísta. Por infelicidade, o Japão encontra-se em tal situação que, quanto
mais instruída é a classe, maior o número de pessoas ateístas. Além disso, é comum
acreditar-se que esta é uma qualificação dos intelectuais e dos jornalistas, de modo
que, quanto mais a pessoa enfatiza o ateísmo, mais progressista ela é considerada.
Por esse motivo, se não houver uma mudança radical, no sentido de que os ateístas
sejam vistos como ultrapassados, e os teístas, como vanguarda intelectual da época, a
sociedade não se tornará alegre e feliz.
De uns tempos para cá, alguns jornalistas do Japão vêm tachando as religiões novas
de supersticiosas e trapaceiras. Dizem eles que, após a Segunda Guerra Mundial, o
povo japonês passou a viver uma situação muito confusa, e que, aproveitando-se
disso, começaram a aparecer religiões trapaceiras e supersticiosas, confundindo ainda
mais as pessoas. Assim eles se expressam a respeito, mas não tentam descobrir as
causas do fato. Acham que as religiões novas são todas iguais e formulam definições
baseadas apenas no seu entendimento pessoal e nos boatos.
Não podemos deixar de nos sentir decepcionados com a superficialidade do
julgamento desses jornalistas, e achamos que é responsabilidade nossa orientá-los e
ensiná-los a pensar de modo correto. Entretanto, não queremos negar totalmente sua
atitude, pois, como a base de seu raciocínio é materialista, é natural que eles definam
como superstição tudo aquilo que não vêem. Se estivéssemos em seu lugar,
obviamente agiríamos da mesma forma. Negando-se, porém, a existência do invisível,
como ficaria o mundo? Talvez o materialismo o levasse a uma situação calamitosa. As
relações de amizade e amor entre as pessoas, inclusive o relacionamento entre pais e
filhos ou entre irmãos, passariam a ser meros cálculos de vantagens e desvantagens.
A sociedade seria fria como um cárcere de pedra, e nem mesmo os materialistas
poderiam suportá-la. Vemos, pois, que o modo de pensar dos jornalistas a que nos
referimos encontra-se entre duas posições, sem definição precisa.
Analisemos, a seguir, a situação real do mundo em que vivemos.
É considerável o número de pessoas supersticiosas entre os intelectuais. Há tempos, li
uma estatística dos diferentes tipos de superstições que existem em cada país; a
Alemanha, considerada uma das nações mais avançadas no ensino das ciências,
acusava o maior número. Desse modo, notamos que as superstições crescem
proporcionalmente ao progresso científico. Eis como interpretamos o fato:
Durante longo tempo, recebemos, nas escolas, um ensino materialista cuja base é a
lógica; entretanto, quando terminamos os estudos e nos integramos na sociedade,
encontramos uma realidade diferente, que está em desacordo com a lógica. Em
conseqüência, a maioria das pessoas começa a ter dúvidas, porque, quanto mais age
em conformidade com ela, piores são os resultados. Os mais inteligentes pensam,
então, em estudar uma nova sociologia que esteja de acordo com a realidade social
em que vivem. Como não existe esse tipo de curso, começam a estudar sozinhos. Se
forem rápidos, conseguirão atingir seu objetivo em pouco tempo; alguns, todavia,
levam muitos anos. Trata-se, em verdade, de um segundo aprendizado,
completamente diferente do primeiro, que custou tanto sacrifício. Contudo, é um
aprendizado real, seguro, e pode ser aplicado no dia-a-dia. Os mais bem dotados,
tendo enfrentado as amarguras e doçuras da vida, adquirem larga experiência,
tornando-se "doutores" nessa sociologia. A maioria deles, quando se acham a um
passo disso, já estão velhos, sendo que muitos acabam a vida como pessoas comuns.
Existem, no entanto, aqueles que sobressaem, como por exemplo o Sr. Yoshida,
primeiro-ministro do Japão, o qual se destacou pela sua superioridade e habilidade
política.
Com essa explicação, penso que entenderam a causa das superstições. Em resumo,
se falhamos quando tentamos aplicar os conhecimentos adquiridos na escola - nos
quais acreditávamos piamente - é fatal cairmos na dúvida. Nesse momento, torna-se
muito fácil as pessoas ingressarem em religiões supersticiosas e trapaceiras. Podemos
dizer, entretanto, que nenhuma das religiões existentes realmente esclarece dúvidas.
Assim, compreendemos que a culpa de tudo cabe ao ensino ministrado nas escolas, o
qual está muito distanciado da realidade, e concluímos que, em parte, as superstições
são criadas por certo aspecto da Educação contemporânea.
Para finalizar, quero dizer que reconhecemos serem numerosas, atualmente, as
religiões supersticiosas e trapaceiras, como dizem os jornalistas, mas achamos errado
generalizar, porque, sem dúvida, existem algumas às quais não cabem tais
designações. Ora, chamar de superstição aquilo que não o é, também constitui uma
espécie de superstição. Nesse sentido, queremos prevenir aos jornalistas que
escrevam sobre as religiões supersticiosas e trapaceiras, mas que não definam com
esses termos qualquer religião, pois esse procedimento representa um obstáculo para
o progresso da cultura.
INADEQUAÇÃO DO ESTUDO
A RESPEITO DO ATEÍSMO
O JUÍZO FINAL
CRIAÇÃO DA CULTURA
Creio que, para o momento atual, os pontos mais importantes da Bíblia estão
resumidos nestes três: "Juízo Final", "Advento do Reino dos Céus" e "Segunda Vinda
de Cristo". Um estudo sério sobre tais fatos leva-nos a crer que o Juízo Final é obra de
Deus, que a Segunda Vinda de Cristo ocorrerá no seu devido tempo, dispensando,
portanto, qualquer explicação, e que somente o Reino dos Céus será construído com a
força do homem. Nesse caso, é indispensável que alguém se torne o arquiteto e
execute a construção. Quanto ao tempo, segundo o nosso conceito, trata-se do
presente; quanto ao construtor, a nossa Igreja. A obra já foi iniciada por nós. Referi-me
diversas vezes, neste livro, ao protótipo do Paraíso, que está sendo construído
atualmente.
A profecia de Cristo se realizará com a construção do Paraíso Terrestre, efetuada pela
nossa Igreja. Mas não pretendo que, desse fato, advenha orgulho, pois a
concretização da profecia bíblica se deve ao Amor Universal de Deus, que utiliza Seus
escolhidos para a construção do Mundo Ideal, segundo a necessidade da época.
Portanto, como a obra que estamos efetuando foi profetizada há dois mil anos por
Cristo, considero cada um de nossos fiéis como participante da missão de concretizar
tal profecia.
Para falar desse tema, começarei por explicar o significado da forma (***maru_su.tif***)
("su"). Como se pode ver, é uma circunferência (***maru.tif***) com um ponto (***) bem
no centro. Se fosse apenas isso, não teria um significado muito importante; entretanto,
nada é tão significativo.
A circunferência expressa a forma de todas as coisas no Universo. A Terra, o Sol, a
Lua e até mesmo os espíritos desencarnados e as divindades tomam esse formato
para se moverem de um lugar para outro. Isso está bem comprovado pela conhecida
expressão "Bola de Fogo". A "Bola de Fogo" das divindades é uma esfera de luz; a dos
espíritos humanos desencarnados não possui luz, é apenas algo embaçado ou
desfocado, de cor amarela ou branca. Tratando-se de espírito masculino, é amarela, e
de espírito feminino, branca, correspondendo respectivamente ao Sol e à Lua.
Mas vamos ao mais importante. Naturalmente, este mundo também tem o formato
circular; mas não passa de um círculo, pois o seu interior está vazio. No caso do ser
humano, significa não ter alma; assim, colocar-lhe um ponto no centro, ou seja,
colocar-lhe alma, é torná-lo um ser vivente. Só dessa maneira ele pode desempenhar
atividades. Por conseguinte, a circunferência com um ponto no centro simboliza uma
forma vazia na qual se pôs alma. Isso equivale à expressão "colocar espírito", usada
pelos pintores antigos. Com base no que acabamos de dizer, podemos afirmar que até
agora o mundo era vazio, não possuía alma. Eis, portanto, o que significa "Cultura
Superficial", sobre a qual já escrevi em outra oportunidade.
A prova do princípio exposto acima evidencia-se em todos os setores da cultura. O
tratamento alopático das doenças, como sempre digo, também é uma manifestação
desse princípio. As dores e a coceira são adormecidas por meio da aplicação de
injeções ou de remédios passados no local; a febre, baixa-se com gelo; corta-se,
também, a purificação tomando-se remédios. Dessa forma, o doente livra-se dos
sofrimentos durante algum tempo, mas, como não se atingiu a raiz da doença, a cura
completa é impossível; com o tempo, a doença retorna. Em verdade, o que acontece é
apenas o seu adiantamento. Sendo assim, também a causa das enfermidades está na
alma, porém até agora não se compreendeu isso.
O mesmo se verifica em relação a outros males, como os crimes, por exemplos.
Atualmente, eles são evitados de uma só maneira: fazendo-se o criminoso cumprir
uma pena dolorosa. Trata-se de um processo idêntico ao tratamento alopático
empregado pela Medicina. Por isso é que, quando alguém comete um crime,
geralmente vem a cometer outros. Existe quem pratique dezenas deles, e até mesmo
quem os cometa a vida inteira, passando mais tempo preso do que em liberdade. A
causa disto está na falta do ponto, ou seja, da alma.
Sobre a guerra pode-se dizer a mesma coisa. Aumentando-se o poderio militar, o
inimigo sentirá que não tem condições de vencer e desistirá da luta por algum tempo.
Mas isso não passa de um meio de adiar a guerra; a História tem demonstrado que um
dia, inevitavelmente, ela recomeçará. Assim, podemos entender que a cultura
existente até agora era apenas uma circunferência sem um ponto no centro.
Eu sempre falo sobre a teoria dos noventa e nove por cento e do um por cento. Se
numa circunferência entrar um ponto, significa que por meio de um por cento
modificam-se noventa e nove por cento. Em outras palavras, representa destruir
noventa e nove por cento do mal com a força de um por cento do bem. Seria o mesmo
que tornar branca uma circunferência preta unicamente com a força desse um por
cento. Relacionando isso ao mundo, significa colocar conteúdo, ou melhor, colocar
alma numa civilização vazia. Assim, estamos vivificando a civilização que até agora só
apresentava forma, como se fosse um objeto inerte. É o nascimento de um novo
mundo.
O MUNDO DESCONHECIDO
O PODER DA NATUREZA
ELO ESPIRITUAL
Até agora pouco se tem falado sobre elo espiritual, porque ainda se desconhece a sua
importância. Entretanto, embora os elos espirituais sejam invisíveis e mais rarefeitos
que a atmosfera, através deles todos os seres são influenciados consideravelmente.
No homem, eles tornam-se o veículo transmissor da causa da felicidade e da
infelicidade. Em sentido amplo, exercem influência até sobre a História. Portanto, o
homem deve conhecer o seu significado.
Primeiramente desejo advertir que isso é Ciência, é Religião e também preparação
para o futuro. O princípio da relatividade, os raios cósmicos e os problemas referentes
à sociedade ou ao indivíduo, tudo se relaciona com os elos espirituais. Vejamos a
relação existente entre eles e o homem.
Tomemos como exemplo um homem qualquer: pode ser o próprio leitor. Ele não sabe
quantos elos espirituais estão ligados a ele; podem ser poucos, dezenas, centenas ou
milhares. Há elos espirituais grossos e finos, compridos e curtos, bons e maus, e
constantemente causam influência e transformação no homem. Portanto, não é
absurdo dizer que este se mantém vivo graças aos elos espirituais. Entre estes, o mais
forte é o que existe entre um casal; a seguir, o que existe entre pais e filhos, entre
irmãos, entre tios e sobrinhos, entre primos, amigos, conhecidos, etc. Creio que as
expressões "laços de afinidade" e "ter afinidade com alguém", usadas desde a
antigüidade, referem-se aos elos espirituais.
Os elos espirituais sempre se modificam, tornando-se grossos ou finos. Quando há
harmonia entre o casal, ele é grosso e brilhante; quando os cônjuges estão em
conflito, ele torna-se mais fino e perde o brilho. Entre pais e filhos, entre irmãos, etc.,
dá-se a mesma coisa.
Também podem ser formados novos elos, quando uma pessoa trava conhecimento
com outra, quando inicia uma amizade e, principalmente, um namoro. Chegando o
namoro ao clímax, o elo torna-se infinitamente grosso e transmite intensas vibrações
de um para o outro. São trocadas não só sensações agradáveis e sutis, mas também
de tristeza e solidão. Por esse motivo, o elo espiritual torna-se extremamente forte e é
impossível a separação. Nesse caso, mesmo que uma terceira pessoa tente interferir
no romance, não só não obterá nenhum resultado mas, ao contrário, fará aumentar
ainda mais o grau da paixão. Quando duas pessoas se amam, é como o pólo positivo
e o pólo negativo em eletricidade, que se tocam e geram a energia elétrica; nesse
caso, o elo espiritual trabalha como fio elétrico. Tempos atrás, extinguindo
espiritualmente o pólo positivo, salvei duas estudantes que, envolvidas num amor
lésbico, estavam a um passo de duplo suicídio. Consegui que a moça que
representava o pólo positivo voltasse à normalidade em cerca de uma semana.
Esfriado o ardor da paixão, foi rompido o elo espiritual, e a outra, automaticamente,
também voltou à normalidade.
O elo espiritual entre pessoas que não têm laços de consangüinidade pode ser
rompido, mas é impossível romper o que existe entre parentes consangüíneos. No
caso de pais e filhos, deve-se dar atenção a um ponto: como eles sempre estão
pensando uns nos outros, o caráter dos filhos sofre a influência do caráter dos pais,
através do elo espiritual. Portanto, se os pais desejam melhorar os filhos, em primeiro
lugar devem melhorar a si mesmos. Freqüentemente eles fazem coisas erradas e
vivem advertindo os filhos, porém isso não dá muito resultado, e o motivo é o que
acabamos de expor. Muitas vezes, entretanto, admiramo-nos por ver pais
maravilhosos com um filho transviado. A verdade é que esses pais são boas pessoas
por interesse e apenas na aparência, mas seu espírito está maculado, e isso se reflete
no filho. Pode também acontecer que, entre dois irmãos, um seja bom e outro seja
corrupto. A causa está na vida anterior e nas máculas dos pais. Para que possam
compreendê-lo, falarei sobre o princípio da reencarnação.
Após a morte, o espírito vai para o Mundo Espiritual, isto é, nasce nesse mundo.
Referindo-se à morte, os budistas usam a expressão "Odyo", que significa "vir para
nascer". Analisando do ponto de vista do Mundo Espiritual, é realmente o que
acontece. Ali se efetua a purificação das máculas acumuladas no Mundo Material, e os
espíritos que atingiram certo grau de purificação voltam a nascer neste mundo, ou
melhor, reencarnam. Todavia, há pessoas perversas que se arrependem ao morrer,
seja por medo do castigo, seja por outros motivos. Tendo compreendido que o homem
nunca deve praticar o mal, fazem o firme propósito de se tornarem virtuosas na
próxima vida e, quando reencarnam, praticam realmente o bem. Vemos, pois, que,
embora alguém seja muito bom nesta vida, na encarnação anterior pode ter sido um
grande perverso.
Muitos homens, enquanto estão vivos, não acreditam na vida após a morte e, depois
que morrem, não conseguem se integrar no Mundo Espiritual. Pelo apego à vida,
reencarnam antes de estarem suficientemente purificados e sofrem várias purificações
no Mundo Material, pelas máculas que ainda restam em seu espírito. Como o
sofrimento é uma ação purificadora, um homem pode ser infeliz apesar de ter sido
bom desde que nasceu. Os defeituosos de nascença, como por exemplo cegos,
mudos e aleijados, são pessoas que tiveram morte violenta na encarnação anterior e
reencarnaram antes de concluída a purificação.
Um caso interessante e freqüente de reencarnação é o de crianças que nascem com
feições de velho. Isso acontece porque essas pessoas morreram idosas na vida
anterior, e reencarnaram precocemente; só dois ou três meses após o nascimento é
que tomam feições de bebê.
Ocorre, ainda, o caso do reflexo das más características dos pais sobre um dos filhos,
o qual se torna perverso, ao passo que num outro se reflete a consciência, ou melhor,
o lado bom dos pais, e por isso este filho se torna bondoso. Acontece também com
freqüência que, tendo os pais enriquecido ilicitamente, um filho se torne esbanjador,
gastando dinheiro como água, até acabar com a fortuna da família. Como se trata de
riqueza ilícita, os ancestrais escolhem um descendente que, dilapidando essa riqueza,
na verdade está trabalhando para salvar a família. Desconhecendo essa verdade, as
pessoas acham que tal filho é desprezível; por isso, ele é digno de pena.
Estamos ligados por elos espirituais não só aos parentes e amigos vivos, mas também
àqueles que se encontram no Mundo Espiritual. Existe, ainda, o elo espiritual que nos
liga a Deus e também o que nos liga a Satanás. Deus nos estimula para o bem, e
Satanás para o mal. O homem é manejado constantemente por uma força ou por
outra. Assim, o espírito que foi purificado até certo ponto no Mundo Espiritual, é
escolhido como Espírito Guardião, o qual protege a pessoa confiada à sua guarda,
através do elo espiritual que os une. Quando ela está sujeita a um perigo iminente, o
Espírito Guardião transmite-lhe um aviso e tenta salvá-la. Como exemplo disso,
podemos citar o caso de uma pessoa que vai pegar um trem mas que, por ter se
atrasado ou por algum outro problema, não o pega, tomando o trem seguinte. Aí,
acontece um desastre com o trem que ela não pegou, e muitos morrem ou ficam
feridos. A pessoa foi salva graças ao trabalho do Espírito Guardião, que conhece
antecipadamente o destino de quem lhe foi confiado no Mundo Material.
A quantidade de elos espirituais varia de acordo com a posição que o homem ocupa.
Numa família, quem os possui em maior número é o chefe, ligando-o com os
familiares, com os empregados, com os amigos, etc. Tratando-se do presidente de
uma firma, possui elos com todos os funcionários; se for homem público, como prefeito
de uma cidade, governador de estado, primeiro-ministro, presidente, imperador, etc.,
tem elos espirituais com todos aqueles que estão sob sua administração ou governo.
Quanto mais elevada a posição do homem, maior se torna o número de seus elos
espirituais. Sendo assim, a personalidade de um líder tem que ser nobre, porque, se
no seu espírito houver impurezas, isso se refletirá nocivamente sobre grande número
de pessoas, atuando sobre o pensamento delas. O primeiro-ministro de um país, por
exemplo, deve ser um homem de grande personalidade; além de muita sabedoria,
deve ter muita sinceridade. Caso contrário, o pensamento do povo se deteriora, a
moral relaxa, e o número de criminosos torna-se cada vez maior. Principalmente os
educadores, se soubessem que seu caráter se reflete sobre os alunos através dos
elos espirituais, deveriam tornar-se pessoas dignas de exercerem essa profissão,
procurando constantemente aperfeiçoar o próprio espírito.
Os religiosos - especialmente os fundadores, presidentes ou ministros de uma religião
- sendo venerados por grande número de fiéis como deuses vivos, devem ter muito
cuidado, pois exercem uma influência notável. Se praticarem atos condenáveis,
aproveitando-se de sua posição, isso se refletirá no conjunto dos fiéis, e essa religião
acabará por se desmoronar, pois aqueles atos serão do conhecimento de todos.
Mas não é só o homem que tem elos espirituais. Também Deus tem elos que O ligam
aos homens. A diferença é que os de Deus possuem uma luz intensa, e os do homem,
mesmo dos mais elevados, possuem luz tênue; em geral são como linhas branco-
acinzentadas. Quanto mais perversa for a pessoa, mais escuros serão os seus elos
espirituais. Comumente, ao escolhermos amigos, desejamos que sejam pessoas boas,
pois, misturando-se com o bem, o homem torna-se bom, e misturando-se com o mal,
torna-se mau, graças às influências transmitidas pelos elos espirituais.
Mesmo entre as entidades há os justos e os satânicos. Se o homem sempre venerar
as divindades, seu espírito será purificado, porque elas têm elos espirituais
intensamente luminosos. Se venerar as entidades satânicas, ao invés de luz, receberá
fluidos maléficos que afetarão seu pensamento, e por isso se tornará infeliz. Portanto,
para seguir uma Fé, é essencial o homem discernir o bem e o mal. A intensidade da
luz varia conforme o nível da divindade. Quanto mais elevada ela for, maior número de
milagres promoverá, porque a luz dos seus elos espirituais é muito mais forte.
Existe atividade dos elos espirituais não só no homem, mas em todas as coisas. Por
exemplo: a casa onde residimos, os objetos que sempre usamos, entre os quais
roupas e jóias, e principalmente as coisas de que mais gostamos, possuem conosco
um elo espiritual mais grosso. Numa antiga revista espiritualista dos Estados Unidos,
foi publicada uma reportagem sobre uma senhora que tinha um poder misterioso:
pelos objetos, ela identificava a fisionomia, a idade e as atividades recentes do seu
dono. Quando contemplava atentamente um objeto, tinha a impressão de estar diante
da fotografia da pessoa. Isso ocorria por causa do elo espiritual existente entre a
pessoa e o objeto. Através desse exemplo podemos perceber como é sutil e profunda
a atuação dos elos espirituais.
Recentemente, começaram a fazer pesquisas científicas sobre os chamados raios
cósmicos, os quais, a meu ver, são os elos espirituais que unem a Terra aos outros
astros. Desde que foi criada, a Terra mantém o equilíbrio no espaço graças aos elos
espirituais dos astros ao seu redor, que a atraem. Esses elos, cujo número é
incalculável - milhões ou bilhões - penetram até o centro da Terra. Aproveitando a
oportunidade, vou explicar rapidamente a relação entre a Terra e o Céu (espaço
sideral).
Eles são como dois espelhos, um em frente ao outro. No espaço sideral há dois tipos
de astros: os luminosos e os opacos. Por não ter luz, o astro opaco não se torna visível
aos olhos humanos, mas, com o passar do tempo, vai se transformando em astro
luminoso, pelo endurecimento de matérias cósmicas; ao atingir o máximo de
endurecimento, começa a brilhar. É por esse motivo que o mineral mais duro existente
na Terra - o diamante - é o que mais brilha.
Na época da criação do nosso planeta, o número de astros visíveis era tão pequeno
como o das estrelas durante a madrugada. Esse número cresceu proporcionalmente
ao aumento da população; portanto, assim como é impossível calcular o aumento da
população humana no futuro, é impossível calcular o aumento do número de astros.
Freqüentemente os astrônomos descobrem novos astros, mas o que realmente
acontece é a transformação de um astro opaco em astro luminoso, o qual passa a ser
percebido pelos olhos humanos. Quanto às estrelas cadentes, representam a ação de
desintegração das estrelas, e o meteoro é um fragmento delas.
Todos os astros exercem influência sobre a humanidade: não só os grandes planetas,
como Júpiter, Marte, Saturno, Vênus, Mercúrio e outros, mas também as inumeráveis
estrelas - grandes, médias e pequenas. Assim como se destacam os cinco grandes
planetas citados, em cada época existem cinco personalidades mundiais. Também
acho interessante compararem o homem às estrelas, e, referindo-se a personalidades
renomadas, falarem em "passagem de uma grande estrela", ou "queda de uma
estrela".
A História registra que inclusive no Ocidente houve uma época em que se dava muita
importância à Astrologia, e os mestres religiosos consultavam os astros para ver a
sorte ou o infortúnio, a felicidade ou a infelicidade do homem, para analisar as
doenças, etc. A Astrologia teve, pois, uma importância mundial. Na China, a ciência da
adivinhação também tomava por base os nove planetas. Para mim, não é sem
cabimento o interesse que os antigos tinham pelo estudo dos astros.
DEUS EXISTE?
Pude intuir esta maravilha que é o Johrei graças ao conhecimento que tive sobre a
existência do espírito e ao princípio fundamental de que, com a purificação do espírito,
o corpo volta à normalidade.
Esse princípio deve ser considerado como um prenúncio da cultura do futuro.
Realmente ele representa uma grande revolução para a Ciência, e, se o aplicarmos
em todos os setores da vida, o bem-estar da humanidade aumentará
incalculavelmente. E não é só isso. Aprofundando-se a pesquisa desse princípio
fundamental, pode-se prever que ele influenciará até a essência da própria Religião.
A controvérsia sobre a existência de Deus é uma questão que tem desafiado os
tempos e continua sempre presente. E isso se justifica porque, apenas do ângulo de
visão materialista, obviamente as pessoas nada podem compreender a respeito de
Deus, que é Espírito, o qual, para elas, equivale ao Nada. Mas, pela Ciência Espiritual
que estou propondo, é possível reconhecer a existência de Deus e, ao mesmo tempo,
responder a indagações sobre problemas como a vida após a morte, a reencarnação,
a verdade sobre o Mundo Espiritual, os fenômenos de encosto e incorporação e outras
questões relativas ao Mundo Desconhecido, que chamo também de Mundo
Intemporal.
Primeiramente devo explicar como se processou a evolução do meu pensamento.
Quando jovem, eu era extremamente materialista. Até mais ou menos quarenta anos
nunca entrei em templo algum. Achava tolice adorar ou rezar para uma pedra, um
espelho ou um papel escrito, que constituem a imagem de Deus nos templos xintoístas
e são colocados num recipiente com formato de caixa, feito por carpinteiros, com
tábuas de cânfora, e chamado "Omiya". Nos templos budistas também se adora um
Buda desenhado em papel, ou as estátuas de Kannon, Amida e Buda talhadas em
madeira, pedra ou metal. Eu costumava afirmar que Kannon e Amida só existiam na
imaginação do homem; por conseguinte, achava que era uma adoração ainda mais
sem sentido, não passando de idolatria.
Naquele tempo, li a tese do famoso filósofo alemão Rudolf Eucken (1846-1926), o qual
diz que o homem possui o instinto inato de adorar qualquer coisa e, assim, criou e
adora os seus próprios ídolos, caindo na auto-satisfação. Como prova disso,
acrescenta ele, todas as oferendas depositadas no altar estão voltadas para o lado
dos homens e não para o lado de Deus.
Senti-me perfeitamente identificado com a tese e até considerava que a existência de
templos era prejudicial ao progresso da Pátria, porque as nações que possuíam muitos
templos estavam em declínio e aquelas que quase não os tinham achavam-se em
franco desenvolvimento. Apesar disso, mensalmente eu contribuía com uma modesta
quantia para o Exército da Salvação, e por esse motivo era visitado por um sacerdote
que sempre insistia em que eu me convertesse ao cristianismo. Ele me dizia: "As
pessoas que contribuem para o Exército da Salvação geralmente são cristãs. Por que
o senhor contribui, se não é cristão?" Então expliquei: "O Exército da Salvação
trabalha para a recuperação de ex-presidiários, transformando-os em pessoas de bem.
Se não existisse, talvez um deles tivesse entrado em minha casa para me roubar.
Portanto, se o Exército da Salvação está impedindo que isso aconteça, é natural que
eu seja agradecido e colabore nas suas obras".
Houve muitos casos semelhantes, porém, na época, apesar de fazer o bem, eu não
acreditava em Deus nem em Buda. Sendo assim, poderão compreender quão forte era
a minha tendência a jamais acreditar naquilo que não se pode ver.
Naquele tempo, as minhas atividades comerciais iam muito bem, e eu estava no auge
da autoconfiança, mas um de meus empregados me fez perder tudo. A sorte adversa,
manifestada através do falecimento de minha primeira esposa, dos embargos judiciais
sofridos da falência e de outras desgraças, arrastaram-me para o fundo do abismo.
Como resultado, acabei recorrendo àquilo a que todos recorrem nessas ocasiões: a
Religião. Também eu fui à procura da salvação no xintoísmo e no budismo, como era
de praxe, e assim tive conhecimento da existência de Deus, do Mundo Espiritual, da
vida após a morte, etc. Refletindo sobre o meu passado, arrependi-me da vida inútil
que levara até então.
Após esse despertar, meu conceito sobre a vida deu uma volta de cento e oitenta
graus. Compreendi que o homem é protegido por Deus e que, se ele não reconhecer a
existência do espírito, não passa de um ser vazio. Também entendi que, mesmo na
pregação moral, se não fizermos com que as pessoas reconheçam a existência do
espírito, ela não terá nenhum valor. Por isso, caros leitores, faço votos de que "abram
os olhos" para os esclarecimentos que darei sobre os fenômenos espirituais.
EXISTEM FANTASMAS?
5 de fevereiro de 1947
Já expliquei que o Mundo Espiritual está constituído dos planos Superior, Intermediário
e Inferior, mas explicarei agora a estreita relação entre eles e o destino do homem.
Cada um desses planos se subdivide em sessenta camadas, de modo que, no total,
são cento e oitenta camadas. Eu as chamo de Camadas do Mundo Espiritual.
O homem nasce no Mundo Material por desígnio de Deus. Creio que, nesse sentido, o
elemento "mei" (desígnio), que aparece em "seimei" (vida), tem a mesma significação
que o "mei" de "meirei" (ordem).
Eis uma pergunta que todos fazem: por que razão o homem nasce? Enquanto não
compreender isso, o homem não poderá ter comportamento correto nem verdadeira
tranqüilidade, estando sujeito a levar uma vida vazia e ociosa.
O objetivo de Deus é fazer da Terra um mundo ideal, ou melhor, construir o Paraíso
Terrestre. No desenvolvimento do Seu plano, há uma grandiosidade que não pode ser
expressa com palavras, pois o progresso da cultura não tem limite. Assim, todos os
acontecimentos da História Mundial, até hoje, não passaram de operações básicas
para concretizar o objetivo de Deus. Este, concedendo diferentes missões e
características a cada pessoa e alternando a vida e a morte, está fazendo evoluir Seu
plano em direção ao objetivo estabelecido. Portanto, concluímos que o bem e o mal, a
guerra e a paz, a destruição e a construção são processos necessários à evolução.
Como já expliquei minuciosamente, estamos atravessando a fase de transição da
Noite para o Dia. O mundo, atualmente, está prestes a dar um grande salto para a
Nova Era, e a humanidade, libertando-se da selvageria, está procurando alcançar o
mais alto nível da cultura. Aí, a guerra, a doença e a pobreza terão fim. É claro que o
aparecimento do Johrei é o prenúncio disso e constitui mesmo um fator essencial.
Para o cumprimento de Seu plano, Deus emite ordens ao homem constantemente,
através de algo que é como a semente de cada indivíduo numa das camadas do
Mundo Espiritual. Dei-lhe o nome de YUKON. A ordem é primeiramente baixada ao
YUKON, e este, através do elo espiritual, a transmite à alma, núcleo do corpo espiritual
do homem. Entretanto, é dificílimo o homem comum conseguir perceber a ordem
Divina; somente aqueles cujo corpo espiritual foi purificado até certo ponto é que o
conseguem. Essa percepção é dificultada não só pela grande quantidade de máculas,
mas também pela ação de Satanás, que se aproveita dessas máculas. Uma prova
disso é que, às vezes, as coisas não correm como o homem deseja, e o seu destino
toma um rumo que ele jamais imaginaria. Existem, também, pessoas que se sentem
sempre governadas por uma força estranha e não conseguem mudar seu destino. É
que, de acordo com a posição do YUKON no Mundo Espiritual, há diferença na missão
e também no destino. Isto é, quanto mais alta for a camada em que estiver o YUKON
de uma pessoa, melhor ela perceberá as ordens Divinas e mais feliz será. Ao
contrário, quanto mais baixo ele estiver, mais infeliz a pessoa. As camadas superiores
correspondem ao Céu: mundo de alegria, saúde, paz e riqueza material; em
contraposição, as camadas mais baixas correspondem ao Inferno: mundo de
sofrimento, doença, conflito e pobreza. Assim, para ser verdadeiramente feliz, o
homem deve, antes de mais nada, elevar a posição do seu YUKON.
E como é que ele pode conseguir isso? Purificando seu corpo espiritual. Este está
sempre se elevando ou baixando, dependendo da quantidade de máculas; o espírito
purificado se eleva, por ser leve, e o espírito maculado desce, pelo peso das máculas.
Portanto, para purificar seu espírito, o homem deve praticar boas ações e acumular
virtudes.
Enquanto vive no Mundo Material, o homem deve se esforçar para cumprir plenamente
a missão que lhe foi concedida por Deus, contribuindo para o bem da sociedade. A
maioria das pessoas, no entanto, fica atenta apenas aos aspectos exteriores das
coisas e, inconscientemente, pratica ações subordinadas ao mal. Em conseqüência,
no seu corpo espiritual vão se acumulando máculas. Passando para o Mundo
Espiritual, nele se efetua uma rigorosa eliminação dessas máculas.
Realizei minuciosos estudos e pesquisas procurando ouvir o maior número possível de
espíritos desencarnados, através de médiuns. De tudo que esses espíritos disseram,
eliminei aquilo que pode não ser verdade, transcrevendo apenas os pontos
coincidentes entre os muitos depoimentos que ouvi. Por isso, tenho certeza de que
não há erros em minhas explanações.
Ao entrar no Mundo Espiritual, a maioria dos espíritos é conduzida para o local a que
dou o nome de Plano Intermediário. No xintoísmo, chamam-no de "Yatimata"
(encruzilhada de oito direções); no Budismo, "Rokudo no Tsuji" (esquina de seis
caminhos), e no cristianismo, Purgatório. Entretanto, desejo chamar a atenção para
um fato: o Mundo Espiritual do Oriente é mais verticalizado que o do Ocidente, e o
Mundo Espiritual do Japão é o que se apresenta mais vertical. Por isso é que a
sociedade japonesa é particularmente constituída de muitos níveis hierárquicos, e a
sociedade ocidental, menos hierarquizada, mais propensa à igualdade. O objeto de
minhas pesquisas foi o Mundo Espiritual do Japão; espero que não esqueçam esse
fator, ao lerem minhas palavras.
Fundamentalmente, o Mundo Espiritual é constituído de nove níveis, pois tanto o Plano
Superior, quanto o Intermediário e o Inferior são formados de três níveis. Após a
morte, o espírito das pessoas comuns vai para o Plano Intermediário, mas o espírito
daqueles que foram muito bons sobe imediatamente ao Plano Superior, e o dos
perversos desce incontinenti ao Plano Inferior. Podemos ter mais ou menos uma idéia
disso observando a forma como ocorre a morte.
Aqueles cujo espírito vai para o Plano Superior, sabem a data aproximada em que vão
morrer e, nessa ocasião, não sentem nenhum sofrimento; chamam os mais chegados,
expressam seus últimos desejos e morrem em paz, como se a morte fosse a coisa
mais natural. Ao contrário, aqueles cujo espírito vai para o Plano Inferior têm morte
muito dolorosa, agonizando em meio a sofrimentos extremos. Os que vão para o Plano
Intermediário estão sujeitos a sofrimentos menos dolorosos. A maioria dos espíritos vai
para este plano, e podemos deduzir isso observando a face do cadáver. Se o espírito
foi para o Plano Superior, não há nenhuma expressão de sofrimento; pelo contrário, a
pessoa fica como se estivesse viva. Se foi para o Plano Inferior, a face do cadáver se
apresenta escurecida ou preto-esverdeada, com uma expressão de agonia. A face
daqueles cujo espírito foi para o Plano Intermediário, em geral mostra-se amarela,
como é o caso da maioria dos cadáveres.
Falarei primeiramente sobre os espíritos que se destinam ao Plano Intermediário. Para
chegarem lá, eles têm de atravessar um rio. Nessa ocasião, um funcionário examina-
lhes a roupa; se esta é branca, o espírito passa, mas se é de cor, ele é obrigado a
trocá-la por uma de cor branca. Há duas versões: segundo uns, o espírito passa por
uma ponte; segundo outros, não há ponte, e ele atravessa o próprio rio. Estes últimos
falam, ainda, que o rio não tem água e que as ondas que se tem impressão de ver
nada mais são que as ondulações dos corpos de inúmeros dragões se movimentando.
Quando o espírito acaba de atravessar o rio, a veste branca apresenta-se tingida; a
cor varia de acordo com a quantidade de máculas. A dos espíritos mais maculados
tinge-se de preto. A seguir, por ordem decrescente de máculas, a veste pode tornar-se
azul, vermelha, amarela, etc., sendo que a dos mais puros permanece branca.
Em seguida, de acordo com a tese budista, o espírito vai para o Fórum, onde é
julgado. O julgamento é bem diferente do que ocorre no Mundo Material: caracteriza-
se pela imparcialidade, não havendo o mínimo de favoritismo nem de equívocos. Na
hora do julgamento, os espíritos vêem de forma diferente a face de Enma Daio, o juiz.
Para os perversos, ele se apresenta com os olhos brilhando assustadoramente, abre a
boca até às orelhas, e, quando fala, cospe fogo; só de vê-lo o espírito já fica
atemorizado. Entretanto, os bons vêem-no com uma expressão afável, branda e
afetuosa, mas sóbria; o espírito, naturalmente, sente simpatia e respeito por ele.
Um por um, os pecados são refletidos num espelho de cristal puro e, em seguida,
julgados. O julgamento é precedido de uma investigação, procedendo-se, em seguida,
à comparação das condições presentes do espírito com os outros registros seus
existentes no Fórum. Quem exerce a função de juiz no fórum do Mundo Material,
também a exerce no Mundo Espiritual. Segundo o xintoísmo, o fiscal dos promotores é
"Haraido no Kami" (deus da purificação), e o Enma Daio é a divindade chamada
"Kunitokotati no Mikoto".
Após receber a sentença, o espírito dirige-se para um dos três níveis do Plano
Superior ou do Plano Inferior. Portanto, a "esquina de seis caminhos" a que aludimos,
como o próprio nome indica, é a encruzilhada para ele ir a um daqueles níveis.
Todavia, embora tenha ficado decidido que o espírito vai para o Plano Inferior,
concede-se a ele mais uma oportunidade: fazer aprimoramento no Plano
Intermediário, para a sua elevação. Aqueles que se arrependem e se convertem, ao
invés de irem para o Plano Inferior como estava determinado, vão para o Plano
Superior.
O trabalho de orientação é realizado pelos eclesiásticos das respectivas religiões,
como faziam no Mundo Material. Tais eclesiásticos, após seu falecimento, recebem
ordem para cumprir essa missão. No Plano Intermediário, o período de aprimoramento
vai de alguns dias até trinta anos, e aqueles que não conseguem arrepender-se,
descem ao Plano Inferior. Há um outro fator ainda. Se os parentes, amigos e
conhecidos lhe oferecem cultos após a morte - cultos feitos de coração, com toda a
sinceridade - ou somam méritos e virtudes praticando o bem, fazendo feliz o próximo,
a purificação do espírito desencarnado será acelerada. Por essa razão, a dedicação
aos pais, a fidelidade ao cônjuge, etc., aqui no Mundo Material, revestem-se de grande
significado mesmo após a sua morte, e eles ficam muito contentes com os cultos feitos
em sua memória.
DERROTA DO DEMÔNIO
Assim como Cristo foi tentado por Satanás e Buda foi atormentado por seu primo
Daiba, no caso da nossa Igreja, Satanás e Daiba também nos espreitam
insistentemente. O interessante é que, com o passar do tempo, os demônios estão
cada vez mais desesperados; atualmente, eles agem com vigor e força leonina. Todos
poderão comprovar a veracidade das minhas palavras através dos fatos que nos
últimos tempos estão sendo freqüentemente publicados pelos jornais. Por isso pode-se
imaginar que a derrota do demônio está iminente, o que significa que estamos
atravessando a véspera do "Fim do Mundo" profetizado por Cristo.
Falando-se em demônio, tem-se a impressão de que seja um só. Na verdade, existem
vários, de grande, médio e pequeno poder. Quanto mais máculas o ser humano tiver,
mais livremente será manipulado por eles, através de elos espirituais maléficos. Dessa
forma, inconscientemente, o homem tomará atitudes que se opõem a Deus. Como os
demônios vêm agindo à vontade há milhares de anos, continuam com sua maldade e
pensam que nada mudou, porque desconhecem a transição do Mundo Espiritual.
Entretanto, como essa transição está se processando, é com razão que eles estão
confusos e ainda não despertaram.
À medida que o Mundo Espiritual vai clareando, a luz vai se tornando mais intensa.
Quer dizer que está chegando a época de terror para o demônio, pois Luz é o que ele
mais teme; diante dela, ele se encolhe e perde a força de ação. É por isso que até nas
experiências mediúnicas, se não apagarem a luz, esses espíritos não podem atuar. Só
ocorre o contrário quando se trata de um espírito muito elevado. Por esse motivo,
como os espíritos satânicos temem a Luz que emana do Poder de Deus, fazem tudo
para interromper-lhe o fluxo, procurando criar obstáculos para nossa Igreja.
INCORPORAÇÃO
Desde épocas remotas são muito numerosos os casos de incorporação, cujos tipos
também variam bastante. Atualmente, as pessoas consideradas intelectuais julgam
que se trata de superstição; além de não darem atenção ao fato, dão à palavra um
sentido pejorativo. Entretanto, segundo meus estudos, a incorporação não é
absolutamente superstição, podendo ser de espírito do bem ou de espírito do mal. O
importante é distinguir exatamente quando se trata de um caso ou de outro.
Há três tipos de incorporação: de divindades de nível elevado, médio ou baixo; de
espíritos de animais, que fingem ser divindades, e de espíritos de seres humanos. No
primeiro tipo, inclui-se, por exemplo, o espírito dos fundadores de religiões, como a
Sra. Miki Nakayama, da religião Tenri-Kyo, a Sra. Naoko Deguti, da religião Omoto-
Kyo, os fundadores das seitas Reimyo-Kyo, Konko-Kyo, Kurozumi-Kyo e Hito no Miti,
e, ainda, os iniciados Kobo, Nitiren, Honen e En-no Gyodja, dos velhos tempos. No
segundo tipo, situam-se as incorporações observadas em muitas crenças vulgares,
existentes em grande número na sociedade, tais como "Inari Kudashi no Gyodja",
"Iizuna-Tsukai" e outras. O terceiro tipo, isto é, a incorporação de espíritos de seres
humanos, refere-se principalmente aos espíritos dos ancestrais e de parentes mais
próximos e recém-falecidos.
Se desenvolvêssemos a capacidade de discernir os tipos de incorporação e
soubéssemos dispensar-lhe as devidas cautelas e orientações, a incorporação seria
muito útil à sociedade humana. Mas deixo claro que, além desse discernimento ser
quase impossível, se o conhecimento sobre o assunto for apenas superficial, as
conseqüências poderão ser desastrosas.
Na Europa e na América, estão realizando ativas pesquisas de Parapsicologia. Na
Inglaterra e em vários outros países, já existe até Faculdade de Estudos
Parapsicológicos, e também estão se desenvolvendo pessoas de alto potencial
mediúnico. Como transmissoras de mensagens emitidas do Mundo Espiritual, são
dignas de nota as obras do americano Woodrow Wilson (1856-1924) e de Sir
Northcliffe (1868-1940), ex-editor do "The London Times". Entretanto, em todos os
lugares a situação é idêntica, e na verdade, mesmo na Europa ou nos Estados Unidos,
aqueles que se dedicam a esse tipo de pesquisas estão sempre lutando contra o
ceticismo das pessoas obstinadas, intituladas intelectuais, e contra a descrença dos
cientistas bitolados no materialismo. Mas a vantagem é que, como naqueles países as
leis não são medievais, a pesquisa é livre. Se fizermos uma comparação, concluiremos
que, pela opressão do governo e pela descrença dos cientistas, até hoje,
lamentavelmente, ainda não foram realizadas pesquisas consideráveis no Japão.
VIDA E MORTE
Para a vida humana, talvez não haja problema tão premente quanto o da morte. Não
será, pois, uma grande felicidade se o homem tiver esclarecimentos comprobatórios, e
não fantásticos, a respeito dessa questão? Desejo esclarecer as dúvidas existentes
transmitindo a todas as pessoas o resultado dos meus estudos sobre os fenômenos
espirituais. Com relação ao problema da vida após a morte, existem no Ocidente
muitas obras famosas, tais como as de Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940) e do Dr.
Ward, que são autoridades no assunto. No Japão temos Wazaburo Assano, um
profundo pesquisador com quem eu tive certo relacionamento e que deixou vários
trabalhos. Infelizmente, ele faleceu há alguns anos. Falando sobre os fenômenos
espirituais, no entanto, quero deixar bem claro que, na medida do possível, me
basearei apenas na minha própria experiência. Agirei assim para garantir a exatidão
do que digo, pois, como esses fenômenos são invisíveis, é difícil apresentá-los de
forma concreta, sem cair em dogmas.
Desprendido do corpo, que se tornou inútil, o espírito retorna ao Mundo Espiritual,
onde passa a habitar, começando uma nova vida. Descreverei, inicialmente, como se
processa o instante da morte, observado do Mundo Espiritual.
Geralmente o espírito se desprende do corpo pela testa, pela região umbilical ou pela
ponta dos dedos do pé. O espírito puro sai pela testa; o que tem muitas máculas, pela
ponta dos dedos do pé; o mediano, pela região umbilical. Isso se explica porque o
espírito puro praticou o bem enquanto vivia, somou méritos e foi purificado; o que tem
muitas máculas somou muitos pecados, e o mediano situou-se entre os tipos
mencionados. Tudo está fundamentado na Lei da Concordância.
O exemplo que se segue é a experiência de uma enfermeira que "viu" a morte de um
doente; sua descrição é tão perfeita, que serve de ilustração. É um exemplo ocidental,
porém, tanto no Ocidente como no Japão, existem pessoas que têm a faculdade de
ver espíritos. Não guardei os pormenores da descrição, mas vou reproduzir as partes
mais importantes.
"Certa vez - disse ela - fitando um doente prestes a morrer, notei que de sua testa
subia algo branco, uma espécie de névoa que, espalhando-se lentamente pelo
espaço, tornou-se uma massa disforme, semelhante a uma nuvem. Pouco a pouco,
entretanto, começou a tomar a forma humana; minutos depois, apresentou-se
exatamente com as mesmas características físicas da pessoa. De pé, no espaço,
olhava atentamente seu corpo inerte, junto do qual os familiares choravam. Parecia
que desejava mostrar-lhes sua presença, mas desistiu, por saber que estava em
dimensão diferente; mudou, então, de posição, dirigiu-se para a janela e saiu
suavemente".
Realmente, a descrição acima retrata muito bem os instantes da morte, que os
budistas designam pela expressão "vir para nascer". De fato, se analisarmos do
Mundo Material, é "ir para morrer", mas, se o fizermos do Mundo Espiritual, é "vir para
nascer". Da mesma forma, ao invés de dizerem "antes de morrer", eles dizem "antes
de nascer". Assim, o espírito vive no Mundo Espiritual durante determinado tempo, às
vezes dezenas, centenas ou milhares de anos, para nascer novamente. Desse modo,
o homem nasce e morre muitas vezes. Para se referirem a esse nascer e renascer, os
budistas usam a expressão "Rin-ne Tensho".
Qual a relação entre o Mundo Espiritual e o homem?
O homem vem ao Mundo Material para cumprir a missão que lhe foi determinada por
Deus, tenha ou não tenha consciência disso. No cumprimento dessa missão, acumula
máculas no seu corpo espiritual. Chega, porém, um momento em que, por doença,
velhice ou outros motivos, torna-se-lhe difícil continuar a cumpri-la. Quando isso
ocorre, o espírito abandona o corpo e retorna ao Mundo Espiritual. Nesse sentido,
desde tempos remotos chama-se "Nakigara" (invólucro vazio) ao corpo sem espírito, e
"Karada" (invólucro) ao corpo carnal de uma pessoa viva.
Na ocasião em que o espírito entra no Mundo Espiritual, inicia-se, na maioria deles, o
processo purificador das máculas. Dependendo do peso e da quantidade destas,
logicamente ele vai ocupar um nível mais elevado ou mais baixo. O período de
purificação é variável. Os períodos mais curtos duram poucos anos, às vezes dezenas,
e os mais prolongados, centenas ou milhares de anos. Os espíritos que foram
purificados até certo ponto, reencarnam, por determinação de Deus.
Essa é a ordem normal, porém, de acordo com a pessoa, há situações em que não se
obedece a ela. Isso acontece com aqueles que, na ocasião da morte, têm forte apego
à vida. Eles reencarnam antes de terem sido suficientemente purificados no Mundo
Espiritual. Geralmente têm destino infeliz, porque lhes restam consideráveis máculas
da vida anterior, que precisam ser eliminadas. Por essa razão é que muitos praticam o
bem mas vivem perseguidos pelos infortúnios. São pessoas que na vida anterior
cometeram muitos pecados e, quando morreram, arrependeram-se seriamente,
tomando a firme decisão de não persistir no erro. Esse propósito ficou impregnado em
seu espírito, mas, como reencarnaram sem terem sido suficientemente purificadas,
vivem sempre cercadas de sofrimento, apesar de detestarem o mal e praticarem o
bem. Entretanto, não são poucos os exemplos de pessoas que, passando um período
de infelicidade e tendo redimido os seus pecados, tornam-se subitamente felizes.
Há homens que se orgulham de não conhecerem outra mulher além de sua esposa, e
outros que não desejam casar-se, terminando a vida solteiros. São indivíduos a quem
as mulheres causaram muita infelicidade na vida anterior, e por esse motivo morreram
com uma espécie de temor ao sexo feminino, sentimento que deixou marcas em seu
espírito.
Algumas pessoas têm especial aversão ou receio de aves, insetos ou outros bichos.
Isso tem origem na morte que tiveram, causada por um desses animais. O mesmo
pode ser dito em relação àqueles que temem a água, o fogo ou os lugares altos.
Outros têm medo de lugares onde se aglomera muita gente. Quando alguém sente
isso, é porque em outra vida morreu pisoteado pela multidão. É interessante o pavor
que certas criaturas têm de ficar sozinhas. Ministrei Johrei numa pessoa assim. Ela
não podia ficar sozinha dentro de casa. Nessas ocasiões, saía para a rua e ficava
esperando alguém chegar. Provavelmente, na vida anterior, tais pessoas faleceram de
um mal súbito, quando estavam sozinhas.
Pelos diversos exemplos mencionados, concluímos que, no dia-a-dia da sua vida, o
homem deve se esforçar para morrer em paz, sem apegos, temores e outras
preocupações.
Quando uma pessoa nasce deformada ou aleijada, geralmente é porque reencarnou
antes de estar suficientemente purificada no Mundo Espiritual. Por exemplo: antes de
ser curada de fratura nas mãos ou nas pernas, provocada pela queda de um lugar alto.
Além do apego do próprio falecido, há outro motivo para a reencarnação prematura: a
influência do apego dos familiares. É comum o caso de mulheres que engravidam logo
após o falecimento de um filho querido. Esse novo filho é aquele que morreu e
reencarnou prematuramente, em virtude do apego da mãe. Geralmente essas crianças
não são muito felizes.
Existem pessoas sábias e pessoas ignorantes. Por quê? Pela diferença de idade entre
suas almas: as primeiras têm alma velha; as segundas têm alma nova. A alma velha,
por ter reencarnado muitas vezes, possui uma larga experiência do mundo, ao passo
que a nova, por ter sido criada recentemente no Mundo Espiritual, tem pouca
experiência, motivo pelo qual é mais ignorante. Como vemos, também há um processo
de procriação no Mundo Espiritual.
Ainda podemos citar algumas experiências pelas quais muitos já passaram.
Certas pessoas, ao encontrarem alguém que nunca viram, têm a impressão de tratar-
se de pessoa já conhecida. Sentem uma grande emoção, como se fossem pai e filho,
ou irmãos; podem até experimentar um sentimento mais profundo. A razão é que na
vida anterior eram parentes bem próximos ou tinham laços de estreita amizade; a isso
se convencionou chamar de INNEN (afinidade espiritual).
Também, por ocasião de uma viagem, encontramos lugares pelos quais sentimos
especial simpatia ou atração e onde desejaríamos residir. É porque em outra vida
residimos ou passamos muito tempo nesse locais.
No relacionamento entre homem e mulher, há casos em que ambos ficam em idílio
ardente, que progride até se tornar um amor cego. A explicação é que na vida anterior,
apesar de enamorados, eles não conseguiram unir-se. Entretanto, na vida atual,
apresentando-se essa oportunidade, cria-se entre os dois um amor apaixonado.
Ao lermos ou ouvirmos falar de determinados personagens ou acontecimentos
históricos, podemos sentir simpatia ou até ódio. Isso acontece porque já vivemos na
época em que aqueles fatos ocorreram, ou porque tivemos algum relacionamento com
aqueles personagens.
A morte pode ocorrer de muitas formas. Uns morrem de repente, por hemorragia
cerebral, apoplexia, ataque cardíaco, desastre, etc., e quem nada conhece sobre o
assunto diz que essas pessoas é que são felizes, porque não passam pelas angústias
nem pelas dores da doença. Entretanto, nada mais errado; ninguém é mais infeliz do
que elas. Como não estavam preparadas para morrer, mesmo habitando o Mundo
Espiritual não têm noção de que faleceram e continuam pensando que estão vivas.
Além do mais, como os elos espirituais se mantêm após a morte, o espírito, através
desses elos, tenta encostar num parente consangüíneo. Geralmente encosta em
criança ou em pessoas fisicamente enfraquecidas, como senhoras anêmicas em
conseqüência de parto, visto que nelas o encosto se torna mais fácil.
Essa é a causa da paralisia infantil autêntica, e também pode ser a causa da epilepsia.
É por isso que a paralisia infantil freqüentemente apresenta sintomas semelhantes aos
da hemorragia cerebral. A epilepsia manifesta os sintomas dos instantes da morte. Por
exemplo: quando a pessoa espuma, é porque se trata da incorporação do espírito de
alguém que morreu afogado; se tem ataque ao ver fogo, trata-se da incorporação do
espírito de uma pessoa que morreu queimada. Há diversos outros casos em que se
manifestam condições relacionadas com morte antinatural. O sonambulismo também
tem a mesma causa, assim como muitas doenças de origem espiritual.
Sobre mortes antinaturais, há um aspecto que convém conhecer.
Os espíritos daqueles que morreram assassinados, que se suicidaram, etc., durante
algum tempo não podem sair do local em que ocorreu a morte, e são chamados de
"espíritos presos à terra". Geralmente eles ficam circunscritos a um espaço mais ou
menos exíguo (de dez a cem metros) e, não suportando a solidão, tentam atrair
companheiros. Por essa razão, tornam-se freqüentes as mortes nos locais onde
aconteceram desastres, como estradas de rodagem e de ferro, nos locais onde houve
afogamentos, como lagos e rios, ou onde alguém se enforcou.
Os "espíritos presos à terra" não podem desligar-se desses locais durante cerca de
trinta anos, mas, de acordo com a atenção e o carinho que seus familiares lhes
dispensam, oferecendo-lhes cultos para sua elevação, esse tempo pode ser muito
abreviado. Por isso, devem dispensar uma atenção toda especial aos espíritos
daqueles que não tiveram morte natural.
Todos os mortos, especialmente os suicidas, continuam no Mundo Espiritual com as
dores e as angústias do momento em que morreram. Os suicidas se arrependem
seriamente, porque o Mundo Espiritual é a continuação do Mundo Material. Por essa
razão, se a morte ocorre em meio a sofrimentos, o espírito vai para o Plano
Intermediário ou para o Plano Inferior, mesmo que se trate de uma pessoa bondosa.
Quem era solitário antes de morrer, continua solitário no Mundo Espiritual; os que não
tinham sorte, continuam sem sorte.
Contudo, há casos particulares em que a situação no Mundo Espiritual torna-se o
oposto do que era no Mundo Material. É o que acontece, por exemplo, com aqueles
que enriqueceram à custa do sofrimento alheio. É, também, o caso dos avarentos.
Indo para o Mundo Espiritual, eles ficam paupérrimos e se arrependem enormemente.
Ao contrário, pessoas que no Mundo Material gastaram grandes somas para o bem da
humanidade, acumulando méritos pelo altruísmo praticado, no Mundo Espiritual
tornam-se ricas e afortunadas. Criaturas que aparentavam uma dignidade que não
tinham, poucos meses ou um ano depois da passagem para o Mundo Espiritual tomam
uma aparência de acordo com seu verdadeiro caráter. Isso se justifica porque o Mundo
Espiritual é o mundo do pensamento, e aquilo que esconde o pensamento, ou seja, o
corpo carnal, já não existe. Os pensamentos malévolos e indignos fazem com que o
espírito tome um aspecto feio ou até horrível; já o espírito daqueles que acumularam
méritos pelo seu altruísmo, toma uma aparência bondosa e agradável. Podem, pois,
compreender a diferença entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material. Realmente, no
Mundo Espiritual não há parcialidade de forma alguma.
Anos atrás, havia entre meus subordinados um jovem chamado Yamada. Um dia, ele
me disse: "Peço licença para ir a Ossaka tratar de um assunto". Sua expressão e seu
comportamento não eram normais. Perguntei-lhe que assunto ele tinha a tratar
naquela cidade, mas suas respostas foram evasivas e confusas. Decidi, então,
examiná-lo espiritualmente. Nessa ocasião, eu estava pesquisando os fenômenos
espirituais com grande interesse.
Fiz com que o rapaz se sentasse e cerrasse as pálpebras. Quando iniciei o exame
espiritual, ele começou a se contorcer de dor. Manifestou-se, então, um espírito que se
identificou como sendo o de um amigo seu.
"Quando eu era empregado de uma firma de Ossaka - disse ele - fui despedido por um
dos diretores, que acreditou nas calúnias de certo indivíduo. Fiquei num tal estado de
inconformismo e desespero, que me matei, tomando veneno. Pensava que,
suicidando-me, estaria pondo fim na minha existência, que voltaria ao nada, mas, ao
invés disso, os sofrimentos dos instantes da morte continuavam indefinidamente.
Fiquei deveras surpreso e me arrependi seriamente do que havia feito. Ao mesmo
tempo, pensei em vingar-me do diretor da firma, que fora o causador de tudo, e por
isso encostei em Yamada, para levá-lo a Ossaka, e, por suas mãos, assassinar aquele
homem".
O espírito parecia estar padecendo intensamente e me suplicou que lhe aliviasse o
sofrimento. Então eu lhe fiz ver seus erros e lhe ministrei Johrei. Imediatamente ele se
sentiu aliviado e me agradeceu muitas e muitas vezes. Prometendo desistir do seu
intento, retirou-se.
Durante o tempo em que o espírito esteve incorporado em Yamada, este ficou
completamente inconsciente; depois, não se lembrava de nada do que tinha falado.
Quando retornou a si, contei-lhe o que se passara. Ele ficou surpreso e, ao mesmo
tempo, muito contente por se ver salvo de um grande perigo.
Pelo exposto, devem compreender que, embora esteja enfrentando o maior dos
sofrimentos, o homem jamais deve cometer suicídio. Os casais que se suicidam por
amor estão completamente afastados da realidade. Muitos pensam que, morrendo,
vão para o Céu, onde deslizarão por um lago tranqüilo, sentados numa folha de lótus,
e viverão na maior felicidade. Isso é um grande engano. Vou explicar com mais
detalhes.
Quando um homem e uma mulher se suicidam abraçados, os espíritos de ambos, ao
entrarem no Mundo Espiritual, ficam grudados um ao outro sem poder separar-se,
sujeitos a grandes incômodos. Como essa situação vergonhosa é vista pelos demais
espíritos, não é pequeno o seu arrependimento. Casais que se matam por amor,
geralmente ficam colados costa com costa, ou barriga com costa, etc., conforme o
pensamento e a atitude do momento da morte, e perdem toda a liberdade, o que torna
tudo mais difícil. Os espíritos daqueles que tiveram relações sexuais imorais e
abomináveis, como por exemplo o incesto, além de ficarem grudados, se um fica de
pé, o outro fica com a cabeça para baixo, de modo que a sua dor e desconforto estão
além da imaginação. Quando se trata de relações imorais de eclesiásticos, professores
e outras pessoas que devem dar exemplo às demais, evidentemente a pena é mais
pesada.
DOENÇA E ESPÍRITO
Todos sabem como surgem os incêndios. Os jornais estão sempre publicando notícias
de incêndios causados por fósforo, cigarro, aquecedor elétrico, etc. Geralmente eles
acontecem por descuido do homem, não vamos negar que isso seja verdade. Mas
creio que, na posição de religiosos, devemos procurar descobrir a causa espiritual dos
incêndios.
A doença, como sempre explicamos, é a ação purificadora do corpo humano. Quando
as toxinas que nele se acumulam atingem certa quantidade, causam distúrbios à
saúde, surgindo, então, a ação para eliminá-las, isto é, a ação de limpeza. Sem ela,
não é possível o homem manter a saúde; é uma Lei Universal e, realmente, uma
grande dádiva de Deus. Como a Ciência ainda não conseguiu descobrir esse princípio,
interpreta a doença de forma completamente errada. Apesar de todo o progresso, o
fato é que a humanidade continua sofrendo, pois a Ciência mostra-se impotente ante o
elevado número de pessoas enfermas.
Talvez achem incoerência falar de doença para explicar as causas do incêndio, mas,
na verdade, a causa de ambos é a mesma, visto que o incêndio também é uma ação
purificadora. O mesmo podemos dizer em relação à tempestade. Nesse caso, há um
acúmulo de impurezas no Mundo Espiritual, isto é, máculas motivadas pelos maus
pensamentos, más palavras e más ações do homem, e a tempestade sobrevém como
ação purificadora dessas máculas. Quer dizer, as impurezas dispersas pelo vento, são
lavadas e carregadas pela água e secas pelos raios solares. Assim se processa a
purificação.
Como esclareci, a doença é a ação purificadora do corpo humano, e a tempestade é a
purificação do espaço acima da terra. Mas as casas, os edifícios e outros tipos de
construções, quando as máculas neles acumuladas atingem certo ponto, também
sofrem uma ação purificadora: o incêndio. A origem de tais máculas é o dinheiro
impuro que se empregou nessas construções ou o acúmulo de más ações praticadas
por aqueles que as utilizam.
Sobre isso, outrora ouvi um caso interessante, relatado por uma senhora vidente.
Alguns anos antes do grande terremoto que atingiu a Região Leste, andando pelas
ruas da cidade de Tóquio, ela viu rústicos barracões enfileirados, em lugar dos altos
prédios. Achou esquisito, mas, quando ocorreu o terremoto, entendeu o significado do
que vira. Como sempre falamos, tudo acontece primeiro no Mundo Espiritual, isto é,
pela Lei do Espírito Precede a Matéria a purificação ocorre primeiro no Mundo
Espiritual e depois se reflete no Mundo Material.
Por ocasião do último incêndio de Atami, o edifício onde funcionava a sede provisória
da nossa Igreja foi salvo, apesar de ter sido envolvido pelas chamas. Isso aconteceu,
naturalmente, porque nele não havia impurezas. Assim, se materialmente fizermos
construções à prova de fogo e nos esforçarmos espiritualmente para não maculá-las,
elas não se incendiarão, deixando de oferecer qualquer perigo.
A esse respeito, talvez surja uma dúvida: que não há razão para cidades à prova de
fogo, como as do Ocidente, virem a incendiar-se, mesmo havendo impurezas.
Entretanto, não existe outra explicação para o fato de muitas cidades terem sido
destruídas por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, a não ser o princípio
que acabamos de expor. É preciso saber que realmente as Leis do Universo são
absolutamente invioláveis.
INCÊNDIO E JOHREI
INSENSIBILIDADE EM RELAÇÃO À FÉ
De acordo com o senso comum, não há dúvidas de que servir em prol do bem-estar
social e fazer feliz o próximo são boas ações. Por conseguinte, deveria ser próprio da
natureza humana apoiá-las e ter vontade de Servir; entretanto, por incrível que pareça,
freqüentemente vejo pessoas que agem friamente com referência a essa questão.
Parece que não se interessam por aquilo que não lhes diz respeito, nem pelo bem da
sociedade. Para elas, estas coisas só as fazem perder tempo; em tudo, o que importa
mesmo são elas próprias; se tiverem lucros, está ótimo. Acham que agir assim é que é
ser inteligente, pois, de outro modo, é impossível ganhar dinheiro ou subir na vida. De
fato, o mundo é engraçado, porque pessoas desse tipo é que são tidas como espertas.
Criaturas assim pensam de forma calculada e materialista quando deparam com
qualquer sofrimento. No caso de ficarem doentes, por exemplo, basta-lhes consultar
um médico; em assuntos complicados, basta-lhes pedir ajuda à Lei; a quem não lhes
obedece, bastam carões ou castigos. Dessa forma, simplesmente acomodam os
problemas. Como acham que, se estiverem bem, não importa como estejam os outros,
procuram comodidade apenas para si. Ora, por não pensarem também no próximo,
não são merecedores de estima nem de consideração. Os que se juntam à sua volta
são interesseiros, e por isso, quando a situação começa a piorar, todos se afastam. É
natural que, justamente para tais pessoas, problemas e sofrimentos sejam uma
constante. Quando tudo principia a correr mal e fracassar, elas se afobam, tentando
recuperar-se com suas próprias forças; forçam a situação que já estava forçada e,
assim, acabam num estado calamitoso, nunca mais voltando ao que eram antes.
Exemplos como esses são muito freqüentes na sociedade. Obviamente, pessoas
desse tipo não querem nem ouvir falar em Fé. Acham que Deus não existe, que tudo
não passa de superstição, ou que Deus existe dentro de cada um. Além de se
jactarem de também serem deuses, dizem que gastar tempo e dinheiro com
semelhantes coisas é a maior tolice que existe. Acham que a Fé não passa de consolo
mental para covardes ou passatempo de quem não tem nada a fazer.
Consideramos tais pessoas insensíveis em relação à Fé.
RELIGIÃO E MANDAMENTOS
PRÁTICAS ASCÉTICAS
FÉ "SHOJO"
Falando sobre Religião, ouço muitas críticas a respeito dos líderes religiosos. Dizem
que eles deveriam viver com mais sobriedade, comer, beber e morar pobremente,
assim como andar de trem, de ônibus ou até mesmo a pé.
É fato que, antigamente, para fazerem suas pregações, os fundadores de religiões
calçavam sandálias de palha e usavam panos enrolados nas pernas, como se fossem
polainas, a fim de facilitar-lhes as longas caminhadas. Às vezes, retiravam-se para as
montanhas, faziam jejuns, tomavam banhos de cascata, experimentavam todos os
tipos de sofrimentos e sacrifícios; outras vezes, eram jogados na prisão, ou exilados
em ilhas longínquas. Ainda hoje sentimos tristeza ao pensar nos sofrimentos que eles
tiveram que passar. Entretanto, apesar de tantos sacrifícios, só conseguiram estender
suas doutrinas a um território restrito; para que elas se expandissem mais
amplamente, foram necessárias dezenas de gerações. Comparadas aos dias atuais,
as condições precárias a que esses pregadores tiveram de se sujeitar a vida inteira
vão muito além de nossa imaginação.
A lembrança das práticas religiosas a que nos referimos permanece gravada na mente
das pessoas, e por isso é natural que elas tenham uma visão errada sobre as religiões
novas. As religiões caracterizadas por tais práticas particularizam-se pela fé "Shojo",
que é anterior ao nascimento de Sakyamuni e tem sua origem no bramanismo da
Índia. Seus ensinamentos valorizam, principalmente, a Iluminação através da ascese.
Segundo dizem, ainda hoje existe, naquele país, um pequeno número de bramanistas
que conseguem fazer milagres graças a um enorme esforço espiritual. O jejum
praticado pelo famoso Mahatma Gandhi talvez fosse uma decorrência do fato de ele
ter professado o bramanismo quando jovem.
Há uma história interessante sobre a origem dos oitenta e quatro mil sutras budistas
divulgados por Sakyamuni.
Naquele tempo, o bramanismo estava em grande expansão na Índia, e acreditava-se
que a Iluminação só podia ser alcançada por meio da ascese, considerada o
verdadeiro caminho da Fé. Vendo a expressão das esculturas e pinturas
representativas de ascetas brâmanes existentes em diversos locais do Japão,
podemos imaginar a situação deles naquela época. Não suportando semelhante
estado de coisas, Sakyamuni, com sua grande misericórdia, descobriu uma forma para
as pessoas obterem a Iluminação sem precisar recorrer às práticas ascéticas: os
sutras budistas. Segundo ele, a simples leitura desses textos seria bastante.
Obviamente o povo se alegrou com isso e passou a considerá-lo o mais respeitável e
benéfico de todos os santos. Foi assim que o budismo se espalhou por toda a Índia.
Podemos mesmo dizer que essa foi a maior realização de Sakyamuni entre as suas
atividades de salvação.
Diante do exposto, é fácil entender quão erradas estão as práticas ascéticas da fé
"Shojo", que contrariam a vontade e a grande misericórdia de Sakyamuni,
aproximando-se do bramanismo, o qual foi alvo de sua atividade salvadora. Creio que,
do Paraíso, ele estará lamentando essa situação. Assim, podemos concluir que a fé
"Shojo", além de errada, é inadequada ao nosso tempo.
Por outro lado, no que se refere à difusão religiosa, observamos que aquilo que
antigamente se levava dez anos para conseguir, hoje pode ser feito apenas em um
dia, graças ao progresso tecnológico da imprensa e dos meios de transporte. O
correto, por conseguinte, é nos adequarmos à época em que vivemos, utilizando-nos
de todos os recursos que a civilização moderna nos oferece. Se a religião se basear
unicamente nos métodos antigos, obviamente não conseguirá atingir seus verdadeiros
objetivos. Isso se evidencia na tendência que as religiões tradicionais têm de se
afastar da época atual.
Quando as pessoas de fé "Shojo" vêem as atividades religiosas que estamos
realizando, limitam-se a ficar admiradas e não tentam sequer compreender aquilo que
verdadeiramente objetivamos. Se elas se restringissem a isso, não haveria nada de
mau; algumas, porém, começam a espalhar boatos contra nós, dizendo que levamos
vida de nababos. Entretanto, nós dependemos apenas das contribuições dos fiéis; não
temos necessidade de dinheiro. Se dermos atenção aos comentários, deixaremos que
essas contribuições em gêneros alimentícios, feitas com tanto sacrifício, apodreçam,
obrigando-nos a jogá-las fora. Por outro lado, não podemos vendê-las nem devolvê-
las. Da mesma forma, não poderíamos deixar de utilizar as casas que nos são
oferecidas de boa vontade pelos fiéis. Ao invés de dar ouvidos a comentários,
devemos atentar para o grande trabalho que essas doações nos estão possibilitando
realizar: a salvação da humanidade. Diante disso, poder-se-á entender o quanto é
errado o pensamento "Shojo".
Como o ideal de nossa Igreja é construir um mundo sem doença, pobreza e conflito,
as pessoas que nela ingressam adquirem uma vida alegre e saudável, cheia de
harmonia e prosperidade. Todavia, para os que vivem no lamentável inferno da
sociedade atual, isso é algo inconcebível. Além de negarem a concretização desse
ideal, eles pensam, naturalmente, que tudo não passa de uma boa isca para iludir o
povo. Pode ser também que, para essas pessoas, o protótipo do Paraíso Terrestre que
estamos construindo sejam meros palacetes luxuosos. O nosso objetivo, no entanto, é
cultivar os nobres sentimentos dos homens, possibilitando-lhes oportunidade para se
distanciarem, de vez em quando, da sociedade infernal de hoje em dia e visitarem
terras paradisíacas, que os envolvam nos ares celestiais de Verdade, Bem e Belo,
fazendo-os sentir-se no estado de suprema alegria. Assim, evidencia-se a grande
necessidade da construção do protótipo do Paraíso Terrestre para o homem
contemporâneo.
Se a sociedade continuar como está, crescerá cada vez mais o número de pessoas de
baixo nível, de jovens degradados, e não haverá um lugar sequer que não seja um
viveiro para a maldade social. Por isso podemos afirmar que o único "oásis" do mundo
hodierno é este protótipo do Paraíso Terrestre. Se as pessoas compreenderem
realmente a grandiosidade do nosso sublime projeto, ao invés de nos censurarem, o
que elas deverão fazer é manifestar-se seu inteiro apoio.
Ainda tenho algo importante a dizer. Os japoneses, por causa das invasões bélicas
que empreenderam há algum tempo, foram tão mal interpretados que perderam a
confiança do mundo. Sentimos que é preciso recuperar, o mais breve possível, essa
confiança. Justamente por esse motivo é que o protótipo do Paraíso Terrestre constitui
um patrimônio importantíssimo, para mostrar não só a beleza natural do nosso país,
como também o indiscutível pendor artístico dos japoneses. Doravante, surge uma
grande oportunidade para que os turistas nos visitem cada vez mais e compreendam o
nosso alto nível cultural, ao mesmo tempo que desfrutam o prazer da viagem. Fico na
expectativa da grande admiração que o protótipo do Paraíso Terrestre despertará,
quando ficar concluído.
Como o que se diz acima, fica explicado o que é fé "Shojo" e fé "Daijo".
11 de março de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
LIBERDADE NA FÉ
Embora simples, os princípios religiosos utilizados por mim na obra salvadora que
venho empreendendo, diferem grandemente dos princípios religiosos existentes até
hoje.
Os antigos fundadores ou pregadores de religiões adotavam a frugalidade na
alimentação, vestiam-se sumariamente e levavam uma vida simples. Para se
aperfeiçoarem, faziam penitências, permanecendo isolados em montanhas quase
inacessíveis, debaixo de cascatas (ato considerado purificador), lendo os livros
sagrados dia após dia.
Dessa maneira, entre Verdade, Bem e Belo, este último era negligenciado. Poucos
religiosos se interessavam pelas artes. O milagre era vagamente conhecido;
entretanto, eles tinham especial consideração pelos princípios dos livros búdicos,
apreciavam as formalidades e as celebrações religiosas e procuravam salvar a
humanidade unicamente com a pregação.
Essa análise limita-se ao budismo. Tomei-o como exemplo porque o xintoísmo e o
cristianismo são religiões modernas. Deixo de fazer referência ao antigo xintoísmo,
anterior à introdução do budismo, porque quase não consta da História nem da
tradição.
O trabalho que estou realizando, é bem diferente do que era feito pelos antigos. Em
primeiro lugar porque, objetivando o mundo isento de doença, pobreza e conflito,
proclamei, audaciosamente, a construção do Paraíso Terrestre, o que já é suficiente
para evidenciar a grande diferença entre a Igreja Messiânica Mundial e as demais
religiões.
Como primeira meta para atingir o nosso objetivo, estamos libertando o homem do seu
maior inimigo - a doença - e os resultados são cada vez mais evidentes e indiscutíveis.
A condição fundamental para a concretização do Paraíso Terrestre, é ser saudável de
corpo e alma, o que, por sua vez, elimina a pobreza e o conflito. Os fiéis da nossa
Igreja estão trabalhando dia e noite, unidos por esse princípio. Assim, a construção do
Paraíso Terrestre, longe de ser um mero ideal, é uma realidade que está apresentando
surpreendentes resultados.
Projetamos o protótipo do Paraíso Terrestre escolhendo locais maravilhosos, em Atami
e Hakone, onde estão sendo edificados magníficos edifícios e jardins. Com a
conclusão dessas obras, pretendo mostrar ao mundo a sublimidade e formosura do
Supremo Céu. O Paraíso Terrestre pode ser considerado, essencialmente, o Mundo
da Arte, razão por que a nossa Igreja confere às manifestações artísticas uma atenção
toda especial.
Paralelamente à marcha do Plano Divino, pretendo publicar projetos mais recentes,
elaborados sob a Orientação de Deus, os quais abrangem Política, Economia,
Educação, etc. Através deles, os leitores poderão reconhecer a magnitude dos
objetivos da Igreja Messiânica Mundial.
9 de julho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Atualmente, em vários setores sociais, fala-se sobre o tema Religião Nova, sendo ele
também abordado, com muita seriedade, em jornais e revistas. Isso é bastante
animador. Observamos, entretanto, que esses órgãos de comunicação consideram
nova uma religião apenas porque ela surgiu recentemente, sem se interessar pelo seu
conteúdo. E é muito triste constatar que até mesmo as pessoas que fazem parte de
tais religiões pensem assim.
A propósito, devo dizer que não tem sentido uma religião apresentar-se com o nome
de nova e seu conteúdo não corresponder a essa designação. Se a religião apenas
mudar ou acrescentar, de acordo com o entendimento do seu fundador, algumas
interpretações ou sentidos às palavras que há muito tempo vêm sendo ditas em livros
ou ensinamentos muito conhecidos, revelados pelo fundador de uma religião antiga,
não se poderá dizer que ela é uma religião nova. Aliás, conservando as mesmas
formas e construções e chegando ao ponto de aconselhar a volta aos ensinamentos
desse fundador, ela se distancia cada vez mais da época atual. É impressionante
haver quem não ache estranho esse procedimento. Se tivermos de lidar com pessoas
inteligentes, de nível cultural elevado, principalmente entre a camada jovem,
certamente elas não aceitarão uma doutrina cheirando a mofo. Assim, podemos dizer
que, atualmente, a maioria dos seguidores das religiões tradicionais são arrastados
apenas pelas tradições e costumes.
Quanto às religiões novas, seus adeptos ingressam nelas à procura de algo novo;
parece, todavia, que os crentes verdadeiramente firmes são muito poucos. Por
conseguinte, para fazermos com que o homem da atualidade creia sinceramente, é
preciso oferecer-lhe uma teoria baseada na razão e acompanhada de insofismáveis
Graças Divinas; caso contrário, de nada adiantará tentar convencê-lo. Diante de tudo
isso, é muito natural ser efêmera a fé daqueles que seguem uma religião apenas como
seguem a moda.
Não quero dizer que o homem contemporâneo seja destituído de sentimentos
religiosos, mas, observando a realidade que nos cerca, constatamos que não existem
muitas religiões nas quais possamos crer. Se houvesse alguma, quase todos,
indubitavelmente, a procurariam; não a encontrando, as pessoas tornam-se
descrentes, por não terem outra alternativa. Uma vez que a Ciência é mais
compreensível, pelo fato de ser concreta e satisfazer os desejos humanos, essas
pessoas apóiam-se nela naturalmente. Por isso eu acho que não podemos censurar
os descrentes.
Analisemos a questão:
Como, inúmeras vezes, nem a Ciência, na qual têm tanta confiança, nem a própria
Religião conseguem resolver-lhes os problemas, as criaturas ficam num dilema. Entre
os intelectuais, alguns, não podendo prever os acontecimentos futuros, passam a
duvidar; outros, sentindo-se fartos da vida, perdem o gosto de viver ou vivem apenas
para o momento presente; outros, ainda, em melhores condições financeiras,
procuram mais divertimentos. Além disso, a crença de que não mais aparecerá um
líder na história religiosa também contribui para o desespero das pessoas. Algumas
estão quase desistindo, quase desligadas da realidade, pesquisando doutrinas
ultrapassadas. Essa é a realidade da época em que vivemos.
O pensamento do mundo atual está totalmente confuso, não se encontrando uma
saída. Contudo, em meio desta confusão, repentinamente surgiu a Igreja Messiânica
Mundial, que, com muita coragem, pretende alertar todos os setores da cultura
tradicional, apontar um por um de seus erros e mostrar como deve ser a verdadeira
civilização. Como essa grande força de atuação já está sendo manifestada
continuamente, podemos afirmar, sem nenhuma parcialidade, que ela é o assombro
do século XX. Tal afirmação fundamenta-se naquilo que sempre digo: o mundo, até
agora, estava na Era da Noite, iluminado unicamente pela fraca luz da Lua, mas surgiu
a luz do Sol, e todas as coisas desnecessárias e prejudiciais que estavam encobertas
começaram a aparecer abertamente. Eis o significado da expressão "Luz do Oriente",
usada pelos antigos. Atualmente, estamos atravessando a fase da aurora; com o
passar do tempo, o Sol se levantará até o centro do Céu e iluminará o mundo inteiro.
Por esse motivo, as teorias que venho divulgando, desconhecidas por todos até o
momento, causam espanto e até muitos mal-entendidos.
Como o mundo esteve durante longo tempo na Era da Noite, não é de se admirar que
os olhos tenham se acostumado à escuridão e fiquem ofuscados ante a repentina
revelação da Cultura do Dia. Existe, no entanto, um problema: uma vez chegado o
Mundo do Dia, Deus aproveitará da Cultura da Noite apenas as coisas úteis, não
havendo outro recurso senão eliminar as inúteis. Além do mais, sendo a luz do Sol
sessenta vezes mais clara do que o luar, até as doenças não identificadas ou
consideradas incuráveis serão facilmente solucionadas. Os fatos reais evidenciados
diariamente através do Johrei de nossa Igreja mostram isso muito nitidamente.
Falando com mais clareza, assim como a Lua perde seu brilho ante o esplendor do
Sol, também a civilização sofrerá uma grande transformação.
Com o que acabo de dizer, creio que poderão entender a grandiosidade dos
empreendimentos da Igreja Messiânica Mundial.
8 de abril de 1953 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
RELIGIÕES NOVAS E RELIGIÕES TRADICIONAIS
Quando analiso o comércio da atualidade, observo que existem dois tipos de lojas - as
novas e as tradicionais. As primeiras são dinâmicas, objetivando expandir-se
amplamente, mas ainda não ganharam plena confiança do povo, pois este
desconhece a qualidade das suas mercadorias, não sabendo se os preços são
razoáveis. Preocupadas, as pessoas compram nelas apenas a título de experiência, ou
para atender às suas próprias necessidades. Entretanto, se a loja é tradicional, merece
absoluta confiança dos fregueses. Para eles, sendo artigos dessa loja, por certo são
bons. Ao invés de comprar na incerteza, em outros locais, preferem ir a um lugar de
confiança, ainda que seja mais distante. No caso de uma compra de certo vulto, é
certo dirigirem-se às lojas tradicionais, pelo nome que elas possuem, conseguido
através de um longo tempo de vendas. Em face disso, as lojas novas empenham-se
arduamente para atrair pelo menos algumas pessoas acostumadas a comprar nas
casas tradicionais. Trata-se de uma situação que todos conhecem, e por isso dispensa
maiores comentários.
Interessante é que no campo religioso ocorre o mesmo. O aparecimento de uma nova
religião ainda é cercado de dificuldades maiores que o das pequenas lojas comerciais.
De imediato, ela é tachada de supersticiosa e maléfica, ou até mesmo de trapaceira. É
realmente cruel. Existem, sem dúvida, muitas religiões novas às quais se possam
atribuir esses adjetivos, mas, de vez em quando, aparecem religiões verdadeiras.
Também não podemos esquecer que todas as religiões respeitadas atualmente já
foram novas; com o passar do tempo é que elas ganharam tradição. A loja nova,
esforçando-se para oferecer preços e mercadorias equivalentes aos das lojas
tradicionais, acaba tornando-se uma delas. Sendo assim, é errado tachar de
trapaceiras e maléficas todas as religiões que surgem.
Pelos motivos expostos, creio que o primeiro dever das pessoas que criticam as
religiões novas é analisá-las bastante, para poderem classificá-las de "boas" ou "más".
Só depois é que devem escrever a seu respeito.
30 de março de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
RELIGIÃO E OBSTÁCULO
RELIGIÃO E SEITAS
A VERDADEIRA RELIGIÃO
MILAGRE E RELIGIÃO
RELIGIÃO É MILAGRE
Desde tempos remotos costuma-se dizer que os milagres são inerentes à Religião, o
que realmente é verdade. Modéstia à parte, nunca houve religião que evidenciasse
tantos milagres como a Igreja Messiânica Mundial. Em poucas palavras, direi que isso
ocorre porque ela é dirigida pelo Supremo Deus.
Pensando que todas as divindades são iguais, as pessoas geralmente tendem a
cultuá-las da mesma forma. Entretanto, precisamos saber que até entre as divindades
existe hierarquia: superior, média e inferior. Em ordem decrescente, essa hierarquia,
iniciando pelo Altíssimo, vai até Ubussunagami, Tengu, Ryujin, Inari e outros.
Gostaria de falar detalhadamente sobre todas essas classes, mas assim eu estaria
desvelando divindades de outras religiões. Portanto, por uma questão de respeito, não
o farei. Desejo apenas mostrar, através de um fato, quão elevado é o deus que dirige a
Igreja Messiânica Mundial. Nem preciso falar sobre a maravilha que é o Johrei, pois,
com o passar do tempo, na medida que vai se tornando conhecido, ele está
constituindo o elemento mais eficiente para a expansão da nossa Igreja. Aliás, sobre a
solução de doenças através do Johrei, devo esclarecer que, mesmo a pessoa
duvidando e recebendo-o apenas a título de experiência, ou achando impossível obter
a cura por meio de "uma tolice dessas", a graça será alcançada da mesma forma, e
rapidamente, o que muitos acham um mistério. Até o presente acreditava-se
imprescindível a pessoa ter fé para ficar curada de uma doença. Era corrente este
pensamento: "Acredite; você não pode duvidar." Assim, é natural que, condicionadas a
essa idéia fixa, as pessoas estranhem o que acabo de dizer. Vou explicar a razão.
Primeiramente, crer na validade de algo sem ter nada que a comprove é enganar a si
próprio, pois ninguém pode acreditar numa coisa antes de ter provas. Assim, é óbvio
que aquele pensamento está errado. Empregar todos os esforços para crer porque nos
foi dito para crer, produz algum efeito, pois isso é melhor do que duvidar. Tal efeito,
porém, não provém de Deus, como muitos pensam, mas da própria força de cada um.
Mas por que motivo um pensamento tão errado vinha sendo aceito como a coisa mais
natural? É que, até agora, ignorando que a divindade à qual se dirigiam não tinha
poder suficiente, as pessoas tentavam suprir essa deficiência com a força humana.
Nesse sentido, em nossa Igreja, as pessoas melhoram mesmo que duvidem. Isso
acontece por conta da grande força de Deus não sendo necessário, portanto,
acrescentar a força humana. Logo, se uma divindade não tem poder para curar uma
doença, é porque seu nível é inferior.
Muitas vezes, quando as graças não ocorrem do modo desejado, o ministro ou o
orientador dão desculpa de que a pessoa tem pouca fé. Parece-me que eles acham
que a graça é conseguida com o esforço do homem, ao invés de ser concedida por
Deus. Na verdade, Deus é infinitamente piedoso; por isso, mesmo que façamos
apenas um pedido, infalivelmente Ele nos atenderá. Quando o homem emprega
demasiado esforço para alcançar uma graça e ultrapassa os limites, Deus não fica
satisfeito, se é que se trata do Verdadeiro Deus. Principalmente fazer penitências,
jejuns e abstenções são atitudes que estão em desacordo com a Vontade de Deus,
pois Seu grande amor vê com tristeza o sofrimento humano. Pensemos bem. Nós,
seres humanos, somos filhos de Deus. Como nosso pai, não há razão para Ele se
alegrar com o nosso sofrimento. Ainda que a pessoa tenha conseguido receber uma
graça através de penitência, quem a concedeu não foi Deus, mas algum espírito
pertencente à falange dos demônios. Graças desse tipo são efêmeras, não duram
muito tempo. As graças concedidas por Deus são diferentes. À medida que nos
dedicamos à Fé, nossos infortúnios irão diminuindo gradativamente, atingiremos um
estado espiritual de paz e segurança e seremos felizes.
Em síntese: trata-se de religião de baixo nível aquela em que a pessoa, embora não
creia, esforça-se para crer, com o objetivo de alcançar graças; trata-se de religião de
nível superior aquela em que Deus concede a graça mesmo que a pessoa duvide ou
não acredite.
11 de abril de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
RELIGIÃO E MILAGRE
Várias heranças literárias provam que Religião e milagre são coisas inseparáveis.
Religião sem milagre deixa de ser Religião. Isto porque o homem é totalmente incapaz
de operar qualquer milagre, o qual é obra de Deus. Sendo assim, uma religião que não
apresente milagres é como uma existência nula. Falta-lhe a essência, embora ostente
aparência religiosa.
A magnitude de uma religião é proporcional à ocorrência de milagres. Milagre, em
outras palavras, significa o aparecimento de benefícios inesperados. Isso estimula e dá
origem a um profundo sentimento religioso, que conduz o homem à Fé e salva-o da
desgraça.
Que religião podemos chamar de verdadeira a não ser essa? É desnecessário dizer
que uma única prova vale por mil argumentos. Embora a situação que vivemos
atualmente seja uma conseqüência da Segunda Grande Guerra, o aumento do mal
social, principalmente os pensamentos insanos que infestam os jovens - verdadeiros
sustentáculos do futuro - e o estado confuso em que estes se encontram, não deixam
de representar uma realidade apavorante. A causa de tudo isso é a educação recebida
pelos jovens, a qual os levou a aceitar o materialismo como norma de ouro. Enquanto
os homens não despertarem desse engano, não haverá solução para o problema.
Naturalmente, para combater os conceitos materialistas, é preciso despertar o homem
para a Religião, começando por convencê-lo da existência de Deus. Nossa Igreja vem
insistindo neste ponto, e o milagre é o único recurso para ela atingir seu propósito.
Milagre é tornar possível aquilo que se considera impossível realizar pela ação do
homem. Como ele mostra, na realidade, o que não se pode interpretar teoricamente,
quaisquer dúvidas a respeito serão, logicamente, dissipadas de imediato. Assim,
mesmo na exclusão do mal social ou na criação de países pacíficos, não se poderão
obter resultados satisfatórios a não ser que se dê a exata consciência de Deus através
do milagre, cultivando, dessa forma, a espiritualidade.
Na história da humanidade, não se conhece nenhuma religião que tenha apresentado
tantos milagres como a nossa. Neste sentido e nesta fase de grande transição que
estamos atravessando, o objetivo da Igreja Messiânica Mundial é sacudir a alma do
mundo, que está adormecida, despertando-a com o poderoso sopro do milagre.
Deus, Todo-Poderoso, veio à Terra como Kanzeon-Bossatsu (encarnação da
Misericórdia), conhecido também como Komyo-Nyorai (encarnação da Luz) e, após
transformar-se em Oshim-Miroku (encarnação da Ação Livre e Desimpedida), está
manifestando, pelas Divinas Mãos do Messias, os mais variados e incontáveis
milagres, utilizando livremente a sagrada energia vital. Dessa forma, através da Igreja
Messiânica Mundial, Deus está realizando a grandiosa obra da salvação do mundo.
11 de junho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ANÁLISE DO MILAGRE
Não adianta uma religião ter todas as condições; se não tiver base universal, não será
uma religião verdadeira. Caso ela se restrinja a uma nação ou povo, ocorrerá aquilo
que vemos no mundo atual: surgirão motivos para conflitos. Cada qual se orgulhará da
superioridade da sua religião e rebaixará as outras, acabando por haver atritos. Pode
acontecer, também, que as religiões sejam utilizadas na política governamental. A
exploração exagerada do xintoísmo pelo exército japonês, durante a Segunda Guerra
Mundial, e as Cruzadas da Europa exemplificam o que estamos dizendo.
Os exemplos não são poucos, e a causa está no fato de que as religiões se
restringiam a determinados povos. Mas não havia outro recurso, pois, naquela época
em que a civilização ainda estava engatinhando, não existiam os rápidos meios de
transporte que existem atualmente, e as relações internacionais estavam limitadas a
pequenas áreas. Hoje, tudo se tornou mundial e internacional, e as religiões também
deveriam seguir esse caminho. É por isso que passamos a chamar nossa Igreja de
Igreja Messiânica Mundial, e não mais de Igreja Japonesa, como antes.
11 de fevereiro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
RELIGIÃO PROGRESSISTA
A LÓGICA EM RELIGIÃO
O critério para distinguirmos se uma religião é ou não é boa e correta, o método mais
simples e que apresenta menos margem de erros, consiste em averiguar se ela é de
natureza lógica ou ilógica. Nesse ponto, as religiões mediúnicas são perigosas;
entretanto, não estou dizendo que todas elas devam ser evitadas. Na verdade, entre
os fundadores de religiões que hoje são consideradas grandes, muitos eram médiuns.
Mesmo se tratando de religiões mediúnicas, cada uma é boa ou má de acordo com a
sua própria natureza. Sendo assim, para distinguir as religiões, o melhor é começar a
analisá-las pelo senso comum.
23 de julho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
PAZ E SEGURANÇA
O BEM E O MAL
ATEÍSMO É SUPERSTIÇÃO
Sabemos que o homem mau é aquele que sacrifica o próximo para satisfazer os seus
interesses, dando a impressão, muitas vezes, de estar agindo apenas por uma espécie
de capricho.
Passarei a uma análise psicológica desse tipo de pessoas.
É costume dos homens maus expressarem o desejo de gozar a vida enquanto podem.
Ora, os delitos não ficam ocultos por muito tempo, e esses infelizes, receosos de tal
fato, preparam-se para o fim iminente do seu breve gozo.
Os delitos não se restringem aos de banditismo, roubo ou homicídio, como se costuma
supor. Homens de elevada posição social também cometem desonestidades
sumamente lamentáveis. Os jornais de após-guerra alardeavam repelentes delitos,
como desvio de mercadorias, contrabando, sonegação de impostos e fraudes.
Surpreendia-nos a prisão de personagens que jamais poderíamos imaginar em
semelhante situação. Eles supunham que seus crimes passariam despercebidos, por
terem sido habilmente executados, esquecendo-se de que a maldade é sempre
descoberta, porque Deus tudo observa do invisível Mundo Espiritual. A nossa
constante afirmação de que o homem descrente é perigoso, está fundamentada
justamente nisso. Trata-se de um ponto importantíssimo e difícil de ser compreendido
até por pessoas inteligentes.
Uma vez descobertas e condenadas as más ações, as pessoas caem no conceito
público, levando anos para recuperarem a confiança perdida. Muitas, caindo em
descrédito, ficam relegadas para o resto da vida. Reflitamos um pouco. O prejuízo será
muitas vezes superior aos lucros obtidos por meios ilícitos.
Na Era Meiji (1868-1912), o famoso ladrão Sadakiti Shimizu, quando foi preso, assim
expressou seu arrependimento: "Não há coisa pior do que roubar. Se eu dividisse o
dinheiro que roubei até hoje pelo número de dias que se passaram, o resultado seria
de apenas 45 centavos por dia." Concordo que não deve ter sido compensador, por
mais baixos que estivessem os preços na Era Meiji.
Praticar o mal, além de não ser compensador do ponto de vista religioso e material,
também não o é pela inquietação de que o criminoso se torna vítima até ser
descoberto. O maior ignorante é o indivíduo que comete o mal e sacrifica o próximo
para satisfazer os seus próprios interesses.
30 de abril de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
O título acima suscitará dúvidas em inúmeras pessoas, pois há muitos homens maus
com aparência sã. Entretanto, eles são sadios apenas aparentemente; na realidade
espiritual, são autênticos enfermos.
Conforme venho asseverando, os homens maus são vítimas dos maus espíritos. Estes
dominam o Espírito Primordial, afastam o Espírito Guardião e agem a seu bel-prazer,
como se fossem a própria pessoa. Podem ser de animais como raposa, texugo,
dragão, etc., e praticam atos não muito diferentes daqueles que esses animais
praticariam. Nessas condições, sem nenhum constrangimento e até com satisfação,
fazem coisas impiedosas e cruéis, que o homem jamais faria. Pode-se compreender,
portanto, como esses espíritos são desumanos, porque escapam à compreensão pelo
senso comum.
Como sempre afirmo, o homem é constituído de Espírito Primordial, de natureza
Divina, e de Espírito Secundário, de natureza animal. Este último incorpora-se ao
homem por permissão de Deus, pois comanda todos os desejos materiais
indispensáveis à existência humana.
Analisando um homem mau, constatamos que ele está revelando o seu instinto animal,
inerente ao Espírito Secundário, ou manifestando o instinto de um espírito animal
"encostado". Isto acontece devido às máculas existentes no seu corpo espiritual,
sendo que o grau de encosto é proporcional à densidade dessas máculas. O Espírito
Guardião será então dominado pelo espírito animal e agirá sob suas ordens.
As máculas espirituais são a causa do homem mau. Como elas se refletem no sangue,
de acordo com a Lei do Espírito Precede a Matéria, infalivelmente sobrevirá, algum
dia, uma intensa ação purificadora, proporcional, em sofrimento, à densidade das
máculas, causando acidentes imprevistos, doenças e outras desgraças.
É curioso o fato observado muitas vezes entre os grandes criminosos: são presos só
depois que se arrependem e desejam aproximar-se de Deus. É a ação da Lei da
Purificação pelo sofrimento, decorrente das máculas do corpo espiritual.
Observamos, assim, que o homem mau é um autêntico enfermo, porque a causa da
maldade reside nas máculas do espírito. Quanto maior o crime, mais intensa a ação
purificadora, que transforma o culpado em enfermo gravíssimo, submetido a dores
infernais.
As máculas surgem porque falta força, isto é, Luz ao Espírito Primordial, de natureza
Divina. Portanto, para livrar-se delas, o homem precisa contar com o apoio da Religião,
ter fé e manter sempre em vista o Todo-Poderoso. Se ele agir dessa forma, a Luz de
Deus penetrará na sua alma, através do elo espiritual, diminuindo-lhe as máculas. O
espírito mau padecerá com isso e, intruso que é, abandonará imediatamente sua
vítima, fazendo com que o Espírito Secundário se retraia e fique sem ação para o mal.
Quem não reverencia Deus, está sujeito a transformar-se em mau elemento, em
qualquer oportunidade ou a qualquer momento. Podemos afirmar que os indivíduos
afastados de Deus, cujo número é elevadíssimo na sociedade atual, são elementos
perigosos. Assim, o mal social tende a não diminuir. Por mais honesto que o homem
seja, não será autêntico, se estiver afastado de Deus; será apenas um homem
superficial, cuja má índole, em estado latente, não permite que nele se possa confiar.
Lamentavelmente, muitas pessoas, incapazes de compreender essa simples verdade,
negam a Religião e contam somente com o apoio da lei humana para o extermínio do
mal. O que foi exposto, no entanto, demonstra o quanto elas estão equivocadas.
21 de novembro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Dentre os crimes cometidos ultimamente, os mais graves são os crimes praticados por
indivíduos que, para roubar uma pequena soma em dinheiro, não hesitam em tirar a
vida de seu semelhante. Para eles, isso é mais simples do que matar um cão. Quando
analiso esse tipo de pessoa, fico pasmado com sua estupidez, inconcebível por meio
do senso comum. Que situação tenebrosa! Tais indivíduos não pensam no sofrimento
da vítima e de seus familiares. Além disso, não passa pela sua cabeça que, no caso
de serem presos, a pena de morte seria fatal, ou que, na melhor das hipóteses, não
escapariam à prisão perpétua. Seja como for, com uma vida pela frente, eles não
poderiam mais integrar a sociedade e estariam jogando fora a sua própria existência.
Esse é o pensamento que deveria ocorrer-lhes, mas parece que tal não acontece, o
que revela um estado psicológico realmente de se estranhar. Os atos dessas criaturas
estão à mercê dos seus instintos e não passam de satisfações momentâneas; seu
objetivo é divertir-se por curto espaço de tempo. Uma vez que terão de pagar bem alto
- um prejuízo talvez dezenas ou centenas de vezes maior do que o lucro obtido - não
podemos considerá-las como seres humanos. São exatamente como os quadrúpedes.
As "pessoas de quatro pés", como todos sabem, não têm nenhuma percepção para
ver que, após o crime, poderão ser condenadas à morte. Por isso mesmo, é difícil
lidar-se com elas.
Com base no que acabamos de dizer, talvez se pense que não há uma explicação
para os crimes, mas na realidade eles são perfeitamente explicáveis. Do ponto de vista
espiritual, podemos compreendê-los muito bem. Segundo os Ensinamentos de nossa
Igreja, o homem possui três espíritos: o Espírito Primordial, atribuído por Deus; o
Espírito Guardião, escolhido entre os Ancestrais, e o Espírito Secundário, responsável
especialmente pelos desejos físicos e seculares do homem. Naturalmente, o Espírito
Primordial é a fonte dos bons sentimentos, e o Espírito Guardião incentiva a pessoa
para o bem. Quando o Espírito Secundário predomina, quem está dominando é o
quadrúpede. Por isso, embora tenha aparência humana, a pessoa torna-se
semelhante a um animal. Nestas circunstâncias, não se justifica o sentimento de pena
ou compaixão; ela demonstra caráter perverso do princípio ao fim.
Esta é a causa básica dos crimes sem escrúpulos. Por isso é muito perigoso o homem
deixar que sua alma seja dominada pelos animais, pois basta qualquer estímulo para
lhe surgirem desejos maléficos e ele se tornar um criminoso. Mas o que é que se deve
fazer? Não há outro meio para solucionar o problema a não ser a força da Religião. E
por que deve ser através da Religião? Como eu disse anteriormente, o homem é
dominado pelo espírito animal, isto é, pelo Espírito Secundário. Portanto, é preciso
enfraquecer a força de domínio deste último. Em termos mais claros, aumentar a força
do bem numa proporção muito maior que a do mal, fazendo com que o Espírito
Secundário se torne o dominado. Afirmo que não existe método mais eficaz.
Antes de mais nada, é necessário ingressar na fé, voltar-se para Deus, adorá-Lo e
orar. Uma vez que a pessoa esteja ligada a Deus pelo elo espiritual, através deste a
Luz Divina será derramada em sua alma; à medida que a alma for sendo iluminada, o
Espírito Secundário se retrairá e a força que ele tem para utilizar a pessoa a seu bel-
prazer irá enfraquecendo. No íntimo de todo ser humano, há uma luta constante entre
o bem e o mal. Isso acontece em virtude do princípio exposto acima. Assim, por mais
minuciosas que se tornem as leis e por mais que se fortaleça o sistema de
policiamento, será o mesmo que combater o crime com uma força estranha. Sem
dúvida é melhor do que nada, mas, enquanto não se for ao âmago do problema, os
resultados serão insignificantes, apresentando-se situações sociais nefastas, como
acontece hoje em dia.
É incompreensível que nem o governo nem os educadores percebam algo tão óbvio.
Eles se limitam a suspirar, dizendo que, atualmente, há muitos crimes inescrupulosos
e que a delinqüência juvenil aumenta dia a dia. Não conseguem libertar-se de idéias
anacrônicas, que cheiram a mofo, e só a muito custo determinam o restabelecimento
deste ou daquele princípio ético ou moral; a reforma de métodos educacionais, etc.
Achamos isso muito triste. Pode parecer ironia, mas é o mesmo que colocar água
numa peneira e, notando que ela vaza demais, fazer uma peneira de furos menores.
25 de julho de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Atualmente, fala-se muito sobre os erros sociais, mas, esses erros são causados pela
existência de um grande número de criaturas corruptas. Uma rápida visão do passado
mostra-nos que sempre houve necessidade de combater os perversos.
Se examinarmos a psicologia dos que vivem a prejudicar o próximo, veremos que eles
têm plena noção do que fazem, com exceção dos grandes criminosos, destituídos da
menor parcela de discernimento. Quase todos se encaminham para o mal em busca
de riquezas, bebidas e sexo, embora saibam que isso é condenável. Sustentam a idéia
medíocre de que é impossível a regeneração para os que já trilharam o caminho do
erro. Naturalmente, eles temem a lei; mas, como lhes é difícil satisfazer honestamente
suas ambições, usam de todos os meios para fugir à punição e esconder seus
malfeitos. Mentem e ludibriam com crescente habilidade; enganar os outros acaba se
tornando, para eles, algo extremamente fácil.
Os ludibriados se resignam porque são honestos e não têm experiência dos ardis
utilizados pelos perversos. Isso ajuda a intensificação do crime, e os corruptos passam
a auferir grandes vantagens. Quando o mal compensa, é muito difícil a reabilitação.
Então, pouco a pouco, eles começam a se afundar na lama do pecado. Geralmente, o
tipo que obtém muito proveito de seus delitos é um criminoso intelectual, pertencente à
classe superior ou média.
Dizem os antigos que todas as pessoas têm sete manias, ainda que não tenham
consciência disso. Creio que as manias do homem malvado não o impedem de passar
por tormentos de consciência ao prejudicar os outros, criando máculas e infelicidade
para si mesmo, nem de reconhecer que o hábito de beber, de gastar em excesso e
afligir a família, é uma fonte de padecimentos. Mas ele não consegue se dominar e
continua agindo de maneira errada. Sabe que o relacionamento extra-conjugal custa
dinheiro e que se arrisca a contrair doenças malignas, causando preocupação aos
familiares; entretanto, persiste em seu modo perigoso de viver. Entrega-se a jogos de
azar, que sempre lhe acarretam prejuízo, mas teima em arriscar a sorte.
Acredito que quase todos nós temos conhecimento de casos semelhantes, tão comuns
hoje em dia. Eis por que me detive nesses aspectos da questão.
Quem não consegue se dominar, apesar de compreender que deve abandonar as
práticas viciosas, é um ser destituído de força, isto é, de verdadeira coragem, o que há
de mais precioso no homem. Costumo dizer: "Quando o homem enobrece, identifica-
se com Deus". Manter vigilante esforço contra o mal, dominá-lo e superá-lo, significa
tornar-se Divino. Esta é a força autêntica, proveniente de Deus. Portanto, para mim, o
perverso não passa de um homem fraco.
29 de outubro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Dizem que não há país civilizado cujo povo seja tão resignado quanto os japoneses. E
não é para menos. Como diz um antigo ditado, é impossível ganhar de autoridades e
crianças que choram. Assim, ainda hoje restam heranças do feudalismo.
Vejamos. Mesmo que uma pessoa seja prejudicada por um artigo difamatório de jornal
ou revista, desiste de reclamar, com medo do que o jornalista possa publicar no artigo
seguinte. No caso de não ficarem satisfeitos com resoluções tomadas pelas
autoridades, os japoneses se resignam, porque têm medo das conseqüências que lhes
podem advir se expressarem sua insatisfação. Se acham que os impostos estão sendo
cobrados injustamente, eles não se rebelam, por temor de serem visados daí em
diante. Também não denunciam pessoas que tomam empréstimos forçados nem
chantagistas, pelo medo de represálias. E todos sabem que, aproveitando-se dessa
resignação, os chefões do submundo, que ainda existem em todos os lugares, vivem
atormentando e ameaçando o povo.
Dizem que nos Estados Unidos, se os direitos humanos não são respeitados, ou se as
pessoas são tratadas de maneira inconveniente, elas protestam e jamais recuam até
que seja feita justiça. Só quando todos os homens tiverem essa coragem é que as
injustiças sociais serão eliminadas, respeitando-se a justiça. Com isso, realizar-se-á
uma verdadeira sociedade democrática. Por conseguinte, se o povo japonês quiser
construir uma sociedade feliz e democrática, é preciso que ele não se dobre de
maneira alguma quando vir a justiça desrespeitada. Ou seja, é preciso que o bem
vença o mal. Quando esse pensamento se estender a toda a sociedade japonesa, o
Japão começará realmente a se tornar um país democrático.
31 de maio de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
VENCER O MAL
ÓDIO AO MAL
ESPÍRITO DE JUSTIÇA
ELIMINAÇÃO DO MAL
Que é o mal?
Mal, sem dúvida, é ameaçar o próximo, causar-lhe sofrimento e prejudicar a sociedade
em busca de vantagens pessoais. Por causa dele, os prejuízos individuais e sociais
são incalculáveis. Em todo relacionamento humano, não há ninguém que, em maior ou
menor proporção, não seja vítima do mal.
As pessoas se vêem obrigadas a reforçar janelas, trancar portas, mantê-las fechadas
em pleno verão e deixar alguém de guarda ao se ausentar, a fim de impedir a entrada
de gatunos. Também somos levados a desconfiar de quem nos acena com negócios
vantajosos; enfim vemo-nos forçados a desconfiar de tudo. Além disso, qualquer
notícia relativa a roubos na vizinhança perturba o sono de muitos, e sair à noite -
principalmente tratando-se de mulheres - é extremamente perigoso. Não podemos
descuidar-nos dos batedores de carteiras nos transportes coletivos, nem dos
empregados infiéis, nem da vigilância rigorosa que as casas comerciais têm de manter
para evitar fraudes. Vivemos assustados, intranqüilos, pois estamos cercados de
velhacos. Eis a realidade do mundo atual.
Mas ainda há coisas piores. Os pais se preocupam com os filhos adolescentes
expostos às tentações. As esposas vivem alarmadas com a infidelidade dos maridos, e
estes, com a infidelidade das esposas. Surgem fracassos imprevistos nas empresas, e
os gastos do Governo para manter a polícia e as instituições de defesa social, são
enormes. Casas e firmas constroem sólidos depósitos para resguardar seus bens
contra os assaltantes. Nas fábricas, há dispendiosa vigilância contra o furto de
matérias-primas. Exigem-se providências contra a desonestidade de empregados por
ocasião de armazenagem e pagamentos. Instalam-se cofres, cria-se exagerado
número de livros de registro, guias e recibos, que devem ser carimbados um por um.
As mercadorias são de qualidade duvidosa, os profissionais negligenciam seus
serviços, as greves são mal intencionadas e os ricos buscam lucros excessivos. Todas
estas coisas têm raiz no mal.
A desonestidade dos funcionários realiza-se quase à vista do público. Fala-se que se
podem obter matrículas nas escolas por meio de gratificações, e alvarás, nas
repartições públicas, agindo-se nos bastidores. É raríssima a imparcialidade em
qualquer setor social. Ninguém acredita que seja possível sobreviver sem alguma
forma de transação ilegal.
Se quisermos calcular a proporção do bem em relação ao mal, nesta enumeração de
fatos, veremos logo que a proporção do mal é bem maior. Não conseguiremos,
sequer, avaliar os prejuízos que sofrem os indivíduos e a sociedade, por mais que
relacionemos os danos e a insegurança do mundo atual.
O progresso da civilização e o advento de um mundo melhor só serão possíveis pela
erradicação do mal que ora nos aflige. Todas as questões, mesmo os sucessos e os
fracassos, dependem do grau de incidência do bem e do mal. Portanto, os políticos e
os educadores devem empenhar-se para diminuir a porcentagem do mal. E eu estou
certo de que o único recurso para isto é a Fé Verdadeira.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A FONTE DA CORRUPÇÃO
Falarei a respeito dos males sociais, que, atualmente, constituem o maior problema do
Japão. Antes, porém, é necessário analisarmos o método que os intelectuais e os
governantes empregam para evitá-los.
Os males sociais estão sendo controlados de forma cada vez mais rigorosa, através de
leis e regulamentos, mas, como essas medidas não atingem o ponto vital do problema,
os homens maus só pensam nos meios de livrar-se delas habilmente. Se encontram
alguma brecha, logo tentam aproveitar-se, de modo que as autoridades se esforçam
por não lhes dar oportunidades, tornando as leis e os regulamentos cada vez mais
rigorosos. É realmente uma competição entre a inteligência do Bem e a inteligência do
Mal.
Geralmente pensamos que os violadores das leis são os criminosos, os delinqüentes,
os chefes de bandos, etc. Na realidade, porém, o problema não envolve apenas as
pessoas das classes inferiores; ele vem de cima, começando por ministros, políticos,
deputados e funcionários públicos, e atingindo até famosos empresários. Podemos
dizer que poucas são as pessoas que não cometem crimes. Acontece que os
criminosos que se mostram abertamente como tal, são apenas uma parte; costuma-se
mesmo dizer que os que foram agarrados pelas malhas da lei não tiveram sorte, o que
prova a existência de muitos crimes submersos, que não vêm à tona.
Quando analisamos profundamente os criminosos, não temos dúvida em afirmar que
eles não temem o crime. Não sabem que é uma vergonha causar danos à nação,
prejudicar a sociedade ou fazer mal às pessoas. Os criminosos podem saber criticar os
outros, mas não sabem criticar a si próprios. E não é raro sabermos, atualmente, de
funcionários que fazem festas e gastam a rodo, enquanto o povo está sofrendo sob a
pressão dos impostos.
Se o homem não tiver receio de cometer más ações, se não sentir vergonha de
praticar atos impuros nem pena de fazer os outros sofrerem, esse homem já perdeu o
valor como ser humano. Por mais que fale de teorias excelentes e se orgulhe de ter
instrução, somente isso não lhe confere valor como ser humano. É um objeto, é um
homem sem alma. Por haver muitas pessoas desse tipo atualmente, o mal social é
intenso, apresentando-se o mundo em estado infernal. Resumindo, podemos dizer que
no Japão existem doentes em estado gravíssimo.
Qual será o motivo de ocorrências tão aflitivas? Indubitavelmente elas são
conseqüência da educação materialista de que tanto falamos. Por isso, é muito fácil
exterminar totalmente o mal social: basta destruir o pensamento materialista. Mais
nada. Mas de que maneira? Obviamente, através da educação espiritualista, isto é, do
reconhecimento da existência de Deus, do Espírito e do Mundo Espiritual. Esta é a
verdadeira e valiosa missão da Religião. Entretanto, é impossível fazer as pessoas
reconhecerem a existência de Deus e do Espírito somente por meio de princípios
religiosos, sermões e preces. É necessário manifestar milagres, conceder benefícios
materiais, ou seja, Graças Divinas palpáveis. Não existe absolutamente outro meio,
além desse, para eliminar o pensamento materialista.
14 de maio de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Atualmente, ouve-se falar muito sobre as medidas que devem ser tomadas em face do
aumento assustador da criminalidade. Vou dar minha opinião a esse respeito.
Falando abertamente, o homem contemporâneo não se completou como verdadeiro
ser humano, pois ainda tem muitas características animalescas. Poder-se-ia dizer que
é um ser meio-humano e meio-animal. Talvez achem que eu esteja me expressando
de uma forma demasiado agressiva, mas não tenho outro recurso, já que essa é a
pura realidade. Vou explicar por que faço tal afirmação, e estou seguro de que as
pessoas que lerem minhas palavras hão de concordar comigo.
Existem, presentemente, várias organizações destinadas a prevenir os crimes: polícia,
tribunais, presídios e um número incontável de funcionários que se encarregam de
administrá-los, além de centenas de milhares de leis. Assim, aparentemente, a
sociedade está aparelhada a ponto de quase não haver brechas para a ocorrência de
crimes.
O método é idêntico àquele que se utiliza para defender os homens contra os animais
ferozes que constituem uma ameaça para eles: fazem-se jaulas fortes para protegê-los
do perigo. Mas, tal como animais que logo conseguem quebrar as jaulas, por melhor
que elas tenham sido preparadas, os seres humanos vêm espremendo sua
inteligência, desde os tempos antigos, para diminuir cada vez mais habilmente os
pontos fracos dos métodos preventivos contra os crimes. Eis a situação atual desses
métodos. E a cada ano aumenta o número de leis, o que é o mesmo que tecer redes
com pontos pequenos. Torna-se necessário agir de tal forma porque os "homens-
animais" afiam suas unhas e presas para romper as jaulas.
Esta é a causa da intranqüilidade social. Com efeito, ainda que, exteriormente, os
homens tenham forma de seres humanos, interiormente são como animais. Se fossem
verdadeiros seres humanos, a sociedade não necessitaria de jaulas. Quem jamais
pratica o mal, esteja onde estiver, é que tem a qualificação de autêntico ser humano.
Se a decadência moral continua, apesar do crescente progresso da cultura, é porque o
método de quebrar jaulas está vencendo o método de fortalecê-las. Este é o motivo
pelo qual sempre afirmamos que a cultura da atualidade é uma cultura desequilibrada,
onde só houve progresso da parte material.
O mundo dos seres humanos é um mundo sem leis nem organizações anticriminais. O
esforço que estamos empreendendo tem um único objetivo: construir esse mundo.
3 de setembro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Desde os tempos mais remotos é costume dizer: "Se tiveres riqueza consolidada, terás
espírito correto". Isso significa que, quando o homem deixa de passar por dificuldades
materiais, suas palavras e atitudes também melhoram. Assim, muitos intelectuais
interpretam que a carência material é a causa dos males sociais que infestam o mundo
atualmente. Em parte isto é verdade, mas não é o ponto vital do problema. Se essa
fosse a verdadeira causa dos males sociais, as pessoas abençoadas materialmente
deveriam ser corretas; todavia, a realidade nos mostra que nem todas o são. Existem
muitas pessoas ricas que praticam atos ilícitos e às vezes perturbam e prejudicam a
sociedade muito mais do que os pobres. Através do poder do dinheiro, apoderam-se
de muitas residências e deixam-nas desabitadas, numa época em que estamos
passando por séria crise habitacional; alvoroçam a moral; tiram a liberdade dos fracos
e indefesos, impedindo-os de subir na vida; corrompem o mundo político; e tantas
outras coisas, que chega a ser impossível enumerá-las.
Por esses fatos, fica evidente que o aumento dos males sociais não é causado
unicamente pela carência material. Conclui-se, daí, que eles provêm da falta de fé,
como sempre costumamos dizer. Esta é a sua verdadeira causa. Enquanto não
solucionarmos essa questão, será impossível pensarmos na erradicação dos males
sociais. A solução básica e incontestável do problema está no aparecimento de uma
religião poderosa.
O maior erro que existe no pensamento dos homens civilizados da atualidade é a
mania de atribuir ou transferir todas as culpas para terceiros. Creio que a influência do
marxismo constitui o centro desse modo de pensar, pois, segundo sua teoria socialista,
a infelicidade do homem é causada unicamente pelo péssimo mecanismo da
organização social. De fato, torna-se necessário melhorar cada vez mais esse
mecanismo, mas é um grande equívoco determinar que esta seja a causa única da
infelicidade do homem. Mesmo que se chegue a uma organização ideal, se o modo de
pensar e agir de cada indivíduo estiver errado, essa organização não poderá ser
administrada com eficiência, e o resultado, infalivelmente, será a bancarrota. Portanto,
a única forma de solucionar o problema é melhorar a natureza espiritual de cada
indivíduo. Ou seja, deve-se considerar que o homem é o ponto principal, e a
organização social, um ponto secundário.
É evidente que esse pensamento errado surgiu das teorias materialistas, que não
reconhecem a natureza espiritual do homem. Tenta-se solucionar todos os problemas
através dessas teorias e nisso está o grande erro. Como resultado, os homens da
época atual julgam que suas próprias palavras e ações são corretas e procuram
atribuir a culpa dos males sociais a terceiros. Na realidade, porém, a causa de quase
todos esses males está no próprio indivíduo. Se os homens estiverem profundamente
conscientizados disso, a humildade e o espírito filantrópico surgirão por si mesmos,
nascendo uma sociedade feliz e pacífica. Jamais se conseguirá tal coisa por outro
caminho que não seja a fé.
O pensamento de que a culpa dos males sociais está em terceiros - princípio da
revolução socialista - baseado no qual se pretende destruir a organização social, faz
com que o povo se rebele, transferindo a culpa à organização, ao invés de assumi-la.
Gostaríamos, portanto, que os homens da atualidade, plenamente conscientizados do
que estamos dizendo, reconsiderassem os erros cometidos até o presente e
começassem tudo de novo.
25 de maio de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A maior ameaça que paira atualmente sobre a humanidade é, sem dúvida alguma, a
eclosão da Terceira Guerra Mundial. Como é do conhecimento de todos, os
intelectuais do mundo inteiro, cada um na sua posição, estão procurando evitá-la,
discutindo o assunto oralmente ou por escrito e usando toda a sua inteligência.
Entretanto, não sei por que razão, apenas entre os religiosos não há ninguém
opinando sobre o assunto, o que é realmente incompreensível. Diante disso, eu
gostaria que, antes de mais nada, refletissem sobre o objetivo da Religião.
Nem seria necessário dizer, de tão óbvio, que o objetivo da Religião é construir um
mundo de paz, um mundo sem conflitos. Sendo assim, acho muito estranho o absoluto
silêncio que, talvez por não saberem o que fazer, os religiosos mantêm atualmente,
ante o perigo da Terceira Guerra Mundial. Naturalmente, sem o apoio do Governo e
por não poderem pegar em armas, devido à idade, eles deveriam, através de métodos
pacíficos, compatíveis com a sua condição de religiosos, trabalhar para que a guerra
seja evitada. Assim, gostaria de mostrar as causas da guerra e como evitá-las, ou
melhor, apresentar o princípio que possibilita a sua erradicação. Para compreenderem
melhor, falarei sobre a doença e a saúde.
Sempre afirmo que a doença é um sofrimento que surge quando a eliminação das
máculas acumuladas no espírito do homem se reflete no corpo. Seja qual for o tipo de
sofrimento, a causa está nas máculas espirituais. No que se refere ao corpo material, é
o processo de eliminação das impurezas; por conseguinte, se o homem quer se
libertar desse sofrimento, só há uma forma: não acumular impurezas e, ao mesmo
tempo, eliminar as que já estão acumuladas. Sofrimentos coletivos como os danos
causados por vento, chuva, incêndio, terremoto, agitações sociais, etc., também são
ações purificadoras. A guerra nada mais é que esse sofrimento em forma ampliada.
Para evitá-la, está mais do que claro, é preciso eliminar as máculas espirituais de cada
indivíduo.
Supondo-se que seja declarada a Terceira Guerra Mundial, isso aconteceria por ter
aumentado demasiadamente o número de homens com espírito maculado, chegando-
se a uma situação em que não havia outro recurso. Creio mesmo não ser exagero
afirmar que atualmente o mundo está repleto de homens impuros. O ser humano
acumulou máculas pela prática do mal, decorrente de uma educação baseada no
materialismo, o qual ignora a existência de Deus. Sendo assim, o problema só poderia
ser solucionado pela retificação das idéias materialistas. Com o espírito extremamente
maculado por esse tipo de educação, o homem ficou cego, o que é um resultado muito
normal.
Mas é preciso saber que, pela Lei do Universo, onde se acumulam impurezas,
infalivelmente surge o processo purificador natural. O surto de epidemias, por
exemplo, embora o aparecimento do vírus seja uma causa direta, deve-se ao fato de
terem surgido homens com necessidade de purificar. Trata-se, pois, de uma
ocorrência natural, baseada na Lei da Concordância, que se aplica a todas as coisas
existentes sobre a face da Terra. As grandes metrópoles, as obras arquitetônicas da
atualidade e, por assim dizer, quase todas as coisas materiais, são produtos do mal,
isto é, um conglomerado de máculas; conseqüentemente, estão fadadas à destruição.
Assim, através da guerra, o homem e todas as coisas onde se acumulem impurezas
serão purificados de uma só vez. Essa é a imutável Lei do Universo; nada há a fazer.
Portanto, para evitar a Terceira Guerra Mundial, o homem e todas as coisas existentes
sobre a Terra devem ser purificados até que não haja mais necessidade de uma
grande ação purificadora. Caso perguntem se existe um método para promover essa
purificação geral, responderei que sim. Esta é a missão da nossa Igreja Messiânica
Mundial; para isso é que ela nasceu. Em outras palavras: como o mundo é a soma de
indivíduos, basta cada um tornar-se digno, a tal ponto que seja desnecessária a
purificação.
17 de outubro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ELIMINAÇÃO DA TRAGÉDIA
Entre todas as coisas do mundo, o que o homem mais detesta é a tragédia. Eliminá-la
totalmente é impossível, mas, de certo modo, não será tão difícil diminuí-la. Passemos
a estudar sua natureza.
A realidade evidencia que a maioria das tragédias é causada pela doença. Entretanto,
elas também são geradas por problemas sentimentais e pela desonestidade
proveniente de interesses materiais. Através de uma pesquisa acurada, no entanto,
descobri que todas as tragédias têm sua raiz na enfermidade espiritual. Dizem que um
espírito são habita um corpo são, e isso é uma grande verdade. Verifiquei, após longos
anos de pesquisa, que a imoralidade, a injustiça, a impaciência, o alcoolismo, a
preguiça e a corrupção de jovens existem quase sempre em físicos doentes.
Infelizmente, ainda não se descobriram métodos positivos para solucionar o problema
da doença e restabelecer a saúde física e espiritual, nem mesmo apelando para a
medicina ou para outros meios. Ainda que se tivesse encontrado a causa das doenças,
não existiria uma forma para resolver o problema verdadeiramente. Há quem se
orgulhe de ter descoberto a origem delas e o processo de cura; a maioria dos
processos, contudo, não passa de paliativos. É realmente desolador. Todavia, dentre
os casos milagrosos relatados em nossas publicações, encontramos muitos exemplos
da cura de doenças gravíssimas, e a alegria e gratidão dos agraciados nos comovem
até as lágrimas.
A verdadeira solução das doenças e de outras desgraças depende de uma força
invisível, e só aos que a experimentaram é dado reconhecer o incomensurável Poder
Divino. Os homens modernos não se convencem senão através da realidade ou de
provas; portanto, sem a apresentação de resultados concretos, é inútil pregar
princípios elevados e divulgá-los. Para esses homens, a salvação da humanidade e a
obra em prol da sociedade não passam de um sonho.
A essência da verdadeira Fé consiste em mover o que é visível por ação de um poder
invisível. Esse poder maravilhoso está sendo manifestado pela nossa Igreja e, por
essa razão, creio eu, poderíamos dizer que ela é a Religião do Poder.
Como a maioria das religiões hoje existentes se limita a pregar doutrinas, suas forças
agem do exterior para a alma. Mas o ato purificador empregado pela Igreja Messiânica
Mundial - o Johrei - projeta a Luz Espiritual diretamente na alma, despertando-a
instantaneamente. Isto é, a Igreja converte a pessoa sem a intervenção humana,
deixando os sermões para segundo plano. Os que nela ingressam, alcançam
rapidamente uma percepção superficial, e, em seguida, uma percepção mais profunda.
Além de superarem as suas próprias tragédias, tornam-se aptos, também, a eliminar
as tragédias alheias.
11 de junho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
EXCLUSÃO DO TEMOR
O HERÓI DA PAZ
A PALAVRA "SU"
O amor à pátria parece ser comum a todos os povos. Talvez não exista um só país
que não o adote como regra de ouro e máxima do civismo. No Japão também, até o
fim da guerra, um forte sentimento de amor à pátria tomava conta de toda a
população. Uma das causas, naturalmente, era o regime imperialista, em que o
Imperador era o símbolo do povo, adorado como encarnação de Deus. O fato está
nitidamente gravado em nossa memória.
É óbvio que o respeito e a crença na eternidade da família imperial criaram esse
sentimento no povo e que certo grupo de ambiciosos e de governantes exerceu
enorme influência sobre o ensino e a propaganda, fazendo com que tudo saísse a seu
favor. Como resultado, construiu-se uma nação singular, como jamais se viu outra
igual. Considerando-se um país Divino, o Japão acabou caindo na auto-satisfação, fez-
se de "filhinho mimado", sem ao menos ser tão rico assim. Habilmente, os escolásticos
insuflaram esse complexo de superioridade em termos lógicos e históricos, o que foi
desastroso. Assim, o sentimento de lealdade e patriotismo assolou o país inteiro, e o
povo acabou por achar muito normal fazer qualquer coisa em prol da nação e do
Imperador, até mesmo sacrificar a própria vida. Isto era considerado o mais elevado
ato moral.
Com a perda da guerra, o orgulho dos japoneses voou longe e, ao contrário, até
nasceu neles um sentimento de inferioridade. Nessa ocasião, houve uma declaração
do Imperador que deixou o povo perplexo: "Eu não sou Deus, sou um homem".
Nasceu, então, a nova Constituição, que dizia estar o poder político nas mãos do povo.
Dessa forma, o Japão se tornou uma nação democrática. Foi realmente um
acontecimento inédito desde o começo de sua existência histórica. Além disso, a
mudança de posição do Imperador, que antes se colocava em posição Divina,
determinou que, à exceção dos intelectuais, o futuro da grande massa popular, já sem
razão de existência, ficasse totalmente obscuro. E todos sabem que o povo acabou
por perder o rumo, situação que continua até os dias de hoje.
A propósito, houve um fato muito engraçado. Logo após o término da guerra, todas as
pessoas que se encontravam comigo diziam, com expressão desapontada: "O `vento
Divino' acabou não soprando, não é?" Então eu respondia: "Não digam tolices. O
`vento Divino' soprou, mas vocês o estavam interpretando erradamente. Em verdade,
a Vontade de Deus é ajudar o bem e castigar o mal. Já que o Japão é que estava
errado, é natural que tenha perdido a guerra. Portanto, ao invés de nos lamentarmos,
deveríamos agradecer e até comemorar. Como não podemos fazer isso, temos de
ficar quietos, mas virá o dia em que todos compreenderão a verdade". Ouvindo isso,
as pessoas diziam: "Entendi perfeitamente", e voltavam alegres para suas casas.
Através desse fato, podemos ver que os japoneses deixavam em segundo plano o que
é bom e o que é mau, quando se tratava de assuntos relativos à nação. Pensando
apenas no seu próprio bem, chegaram até a estabelecer e propagar o "slogan" "Hakko
iti u" (o mundo sob a égide do Japão) e a julgar que, se o seu país estivesse bem,
pouco importavam os outros países. Isso foi considerado lealdade e patriotismo, e
assim os japoneses vieram avançando como cavalos refreados a cabresto. Desde
essa época, portanto, estava sendo plantada a semente terrível da catástrofe.
Quando pensamos em tudo isso, compreendemos que o amor à pátria deve estar de
acordo com a época. Além do mais, se não for com base no conceito do bem e do mal,
do certo e do errado, é impossível formar um plano a longo prazo, em termos
nacionais. Sendo assim, vou mostrar o sentimento de amor à pátria que está de
acordo com a era vindoura.
Em termos mais claros, o fundamental é tornar "Daijo" o pensamento do Japão, que
até então era "Shojo". Sintetizando: criar o amor internacional, o amor humanitário, isto
é, amar o mundo por amar o Japão. Atualmente, tudo está se tornando universal e
internacional, e as aspirações independentes e transcendentais já se tornaram sonho
do passado. Conseqüentemente, em termos concretos, o amor à pátria, daqui para
frente, deve consistir, antes de mais nada, em tornar segura a vida de nossos irmãos -
noventa milhões de pessoas - e fazer do Japão uma nação justa, baseada na moral,
merecedora do respeito do mundo inteiro. A propósito, existe o problema do
rearmamento, que está em ativa discussão. As teses favoráveis e contrárias acham-se
em confronto há algum tempo e não se obtém nenhuma solução. Entretanto, acho que
não é um problema tão difícil assim. Encarando-o como um problema real, logo
compreenderemos a solução adequada, ou seja, abandonar o rearmamento se houver
garantia de que não há absolutamente nenhum país que possa invadir o Japão; caso
contrário, fazer uma defesa de acordo com a capacidade do país.
3 de dezembro de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Lendo o título acima, talvez duvidem da minha sanidade mental, pois, embora tenha
perdido a Segunda Grande Guerra, incontestavelmente o Japão está situado entre os
países ditos civilizados. Quando se fala em país selvagem, pensa-se logo nos países
da África e em alguns outros, mas, refletindo bem, eles não devem ser considerados
pura e simplesmente selvagens: seria mais correto dizer que são selvagens-
subdesenvolvidos.
O Japão certamente não é subdesenvolvido, mas o fato é que ele continua selvagem
como antes. O que me faz pensar assim é a observação da conjuntura atual. Vejo
serem praticados inúmeros atos de selvageria, como violências de grupo, ameaças,
brigas, roubos de armas, pessoas ferindo e sendo feridas, e muitos outros atos que
assustam o povo e intranqüilizam toda a sociedade. Esta vive num estado de extrema
aflição. Até os estudantes das escolas superiores, que deverão ser os futuros líderes
da cultura, participam dessa agitação. É de fato desolador. Entre outras coisas, a título
de roubar pequenas quantias, sufocam-se ou espancam-se motoristas de táxi até que
eles desfaleçam, e matam-se pessoas por motivos insignificantes. Vemos, ainda,
assassinatos e mutilações entre pais e filhos, ou entre irmãos. A sociedade é
realmente selvagem, e não há um só dia em que não apareçam nos jornais manchetes
sobre assaltos, estupros, batidas de carteira, incêndios provocados, brigas,
assassinatos, etc. Se quiséssemos enumerar todos os atos selvagens, não
chegaríamos ao fim; somos, portanto, levados a duvidar de que este mundo seja
civilizado. Talvez fosse adequado dizer que ele é uma sociedade mais próxima à dos
animais. Em vista disso, o homem contemporâneo parece ainda ignorar o que é
civilização.
A civilização atual, com o desenvolvimento das máquinas, tornou-se muito prática, e a
organização e estruturação social foram hábil e cientificamente formadas, de modo
que, à primeira vista, tem-se impressão de um progresso espantoso. Diante dessa
realidade, a maioria exulta de contentamento, achando que civilização é isso.
Entretanto, ao nosso ver, não passa de uma civilização superficial; por trás dela,
somos forçados a pensar que ainda resta muito de selvageria. Para melhor
compreensão, farei um retrospecto histórico.
Em prosseguimento às eras primitiva e selvagem-subdesenvolvida, surgiu a civilização
decorrente do progresso da Religião e da Educação. Paralelamente, deveria ter
diminuído a selvageria, porém o que se vê na realidade é até o contrário. Pode parecer
paradoxal, mas é mais apropriado dizer que estamos numa era semicivilizada. A era
da verdadeira civilização só se efetivará no mundo que vai ser construído daqui para
frente. Será o mundo de paz e felicidade tão esperado pelos homens. Para nossa
grande alegria, esta época está diante dos nossos olhos. A Igreja Messiânica Mundial
surgiu para promover a concretização desse mundo. Todos poderão entender isso
observando as atividades que ela vem realizando; a primeira consiste em apontar os
muitos erros subjacentes na civilização atual e pregar o que é a verdadeira civilização.
Para que as pessoas acreditem nas minhas palavras, Deus está me permitindo realizar
inúmeros milagres, através dos quais fica patenteada a Sua existência. Sendo assim, a
nossa Igreja não é uma religião comum, que se possa aquilatar pelos critérios
tradicionais. Podemos compreender que ela é a criadora de uma civilização
inteiramente nova e, também, a encarregada de concretizar o majestoso plano
arquitetado por Deus para esta época de grande transição na história do mundo.
4 de junho de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Nos japoneses da atualidade, nota-se uma característica muito forte: sua dependência.
Em maior escala, a nível de governo, comércio e outros setores, eles estão na
dependência dos demais países. Também existe subsídio do governo para diversos
artigos de consumo e ajuda financeira do Banco do Japão. Médios e pequenos
empresários afirmam que irão à falência se não obtiverem empréstimos bancários;
algumas pessoas dizem não lhes ser possível viver sem pedir dinheiro emprestado a
parentes e conhecidos; crianças não conseguem estudar se não tiverem ajuda dos
pais. Além disso, existem os desempregados, viúvas, etc., que vivem na dependência
da ajuda do governo, dos serviços sociais e da assistência de instituições. Onde quer
que se observe, parece que nada é possível sem a ajuda de terceiros;
conseqüentemente, não podemos deixar de ficar espantados com o caráter
dependente dos japoneses.
Somos forçados a admitir que a causa fundamental dessa dependência é o fato de o
Japão ainda não se ter libertado dos fortes laços do feudalismo. Naquela época, a
classe predominante eram os samurais e os funcionários do governo; o restante era a
classe dos cidadãos em geral. Os mais graduados viviam da pensão a eles concedida
pelos senhores feudais; os menos graduados - excetuando os patronais - embora
recebessem uma pequena quantia, tinham sua vida garantida durante muitos anos.
Caso, por exemplo, o empregado de uma loja iniciasse uma atividade autônoma, era
costume o patrão permitir que ele usasse o nome da sua loja e até recomendar a uma
parte da freguesia que comprasse na loja do ex-empregado. Os operários não tinham
direito de sociedade de classe, como hoje, e por isso viviam à custa dos senhores
feudais ou da ajuda dos patrões mais ricos. Entre a maioria das pessoas, portanto, não
havia independência nem igualdade. Elas dependiam da ajuda dos mais poderosos e,
logicamente, não eram donas da sua própria vida. Uma vez que esta situação se
prolongou por vários séculos, é perfeitamente justificável a dificuldade do povo em se
libertar desse sentimento de dependência.
No que se refere às mulheres, nenhuma trabalhava fora como agora, mesmo que
atingisse certa idade, de modo que elas não tinham outra alternativa senão depender
dos pais, e, uma vez casadas, deviam prestar fidelidade absoluta à família do marido
até a morte. Além disso, desobedecer ao marido ou à sogra era tido como trair os
deveres de esposa, o que tornava a situação muito mais difícil. As mulheres estavam,
pois, numa situação semelhante à de uma planta parasita, que não consegue
sobreviver senão se agarrar a algo bem forte.
Nos Estados Unidos, a situação é muito diferente. Entende-se isto analisando a
história de sua formação. No começo do século XVII, centenas de puritanos da
Inglaterra emigraram para a América sem levar quase nada. Desbravaram as
montanhas e os campos desabitados e, com sacrifício e esforço, conseguiram
construir, em pouco mais de duzentos anos, a nação civilizada que vemos atualmente.
Por isso, é natural que haja uma diferença tão grande entre o pensamento dos
americanos e o pensamento dos japoneses. Os americanos não tinham em quem se
apoiar, mesmo que quisessem; não havia quem os ajudasse, além deles próprios. Por
maiores que fossem as dificuldades, só dependiam de si mesmos. O único recurso era
produzir algo a partir do nada, com a própria força. É por esse motivo que sinto
realmente uma grande admiração pelos americanos.
Se o povo japonês, pelas críticas que tem sofrido, pretende reconstruir este país,
precisa, antes de tudo, seguir o espírito desbravador do povo americano. Estou certo
de que a introdução desse pensamento é muito mais eficaz que a introdução de
capital. É o método fundamental, pois está baseado na Verdade de que o espírito
domina a matéria. Entretanto, podemos dizer que, entre os intelectuais do Japão,
quase ninguém percebe isso. Mesmo nos órgãos de comunicação, o que se faz é
incentivar o espírito de dependência. Talvez eu esteja exagerando, mas essa
característica é própria dos pedintes acovardados, que compram a compaixão das
pessoas. Além disso, quando alguém não atende suas exigências conforme eles
desejam, os japoneses reclamam, queixam-se, revoltam-se e, por fim, com a ajuda de
terceiros, tentam até derrubar esse alguém. Parecem não perceber que, em
conseqüência disso, também estão derrubando a si próprios. Com efeito, não há tolice
igual. Pode-se até dizer que, com essa atitude, não só se torna difícil reconstruir o
Japão, mas até mesmo manter a situação atual.
Quase sempre fazem-se greves como único meio de resolver os problemas existentes
entre empregados e empregadores. Talvez seja algo inevitável, mas, pensando bem, o
que pode acontecer é o seguinte: quanto mais se faz greve, mais a empresa regride, e
o resultado é a diminuição da receita e, logicamente, do salário dos empregados. É o
mesmo que a pessoa apertar o seu próprio pescoço. Obviamente, tanto os
empregadores como os empregados têm por objetivo a felicidade. Se é assim, não
tem fundamento que um lado esteja feliz e o outro infeliz. Uma vez que há uma relação
de reciprocidade entre ambos, se os empregados não fizerem os empregadores lucrar,
não receberão salários maiores. Não há coisa tão simples quanto essa.
Conseqüentemente, os capitalistas estão errados em desejar lucros além do normal, e
os trabalhadores também estão errados em pensar apenas em seus próprios
benefícios. Além disso, quando se analisa imparcialmente o mundo empresarial da
atualidade, vê-se que, na época anterior à guerra, os lucros dos capitalistas eram
exagerados e a economia nacional também tinha uma disponibilidade incomparável
em relação à época contemporânea. Mas qual é a situação atual? Poderíamos afirmar
que quase já não existem verdadeiros empresários e capitalistas. Grandes grupos
econômicos foram dissolvidos e a maioria dos milionários foi à falência. Como
desapareceram os capitalistas e também os grandes proprietários de terras, que eram
os inimigos dos comunistas, é difícil, para estes, continuar arquitetando suas lutas.
Quando se leva em conta essa situação, apesar de os grandes capitalistas serem um
tanto indesejáveis na conjuntura atual, chega-se à conclusão de que, se não surgir um
grande número de médios capitalistas, será quase impossível pensar-se no êxito dos
empreendimentos. Esta é a necessidade imediata para os dias atuais. Talvez seja por
esse motivo que, no ano passado, os Estados Unidos incentivaram o Japão a adotar a
política de capitalização dos recursos. E isto se torna ainda mais evidente quando
verificamos que, mesmo na União Soviética, devido ao exagerado empenho inicial
para derrubar os capitalistas, os empreendimentos sofreram percalços e Stalin utilizou-
se da política da abertura de meios para a formação de médios capitalistas.
Por esses exemplos, vemos que, no momento, é preciso haver um sólido aperto de
mão entre os trabalhadores e os capitalistas japoneses, e não simples acordos.
Somente assim poderemos aspirar ao aumento da felicidade e do bem-estar dos
trabalhadores. Entretanto, é um terrível engano pensar que nada pode ser resolvido a
não ser através de lutas. Caso isto não seja percebido, fatalmente haverá a auto-
extinção não só dos empregados como dos empregadores.
Raciocinando dessa forma, fica bem claro que o método de fazer greves para resolver
os problemas entre empregados e capitalistas não passa de simples manifestação do
espírito de dependência, pois, se os empregados pedem aumento de salário aos
capitalistas é porque dependem deles. Se trabalhassem dando o máximo de seu
espírito de independência, os resultados do seu trabalho seriam muito melhores e
certamente os capitalistas é que ficariam na sua dependência. Por conseguinte,
primeiro os empregados devem fazer com que os capitalistas lucrem e, depois, exigir a
justa distribuição dos lucros. Como isso é o certo e o justo, logicamente os capitalistas
não poderiam recusar-se a atender às suas reivindicações. Seguindo-se essa diretriz,
a solução dos problemas entre trabalhadores e capitalistas não seria tão difícil.
Atualmente, porém, tenta-se apenas obter a elevação dos salários, sem levar em
conta as dificuldades; portanto, só podemos julgar que está se tentando forçar a
situação.
Sintetizando, nesta oportunidade eu gostaria de alertar que, para resolver esse
problema, não há meio mais eficiente do que eliminar de vez o espírito de
dependência que caracteriza o povo japonês.
25 de março de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Sem dúvida, os leitores ficarão espantados se eu disser que não existe um povo tão
desprovido de ambição como os japoneses. Entretanto, não posso deixar de dizê-lo,
pois é a pura verdade. Acontece simplesmente que a maioria das pessoas não
percebe isso.
Dando exemplos concretos, os japoneses da atualidade quase não se interessam em
ganhar a confiança do próximo. Falam, sem a menor perturbação, mentiras que
inevitavelmente serão descobertas, ou que estão mais do que evidentes. E o pior:
mentiras que serão descobertas assim que eles virarem as costas. Mais do que tudo,
existem muitas pessoas que não cumprem os horários combinados. Isso também
constitui uma mentira, mas, achando que é algo muito natural, qualquer pessoa faz
dessa prática uma rotina. Quando se vai fazer uma compra, o vendedor e o comprador
mentem um para o outro. Como o vendedor não lucra se for muito honesto, talvez, até
certo ponto, a mentira seja inevitável, mas em geral elas são exageradas. Em primeiro
lugar, o tempo que os dois perdem nas negociações e complicações burocráticas é
insuportável; além do mais, um perde a confiança no outro. Como o comprador pede
desconto, o vendedor aumenta o preço, e vice-versa. Tratando-se de negócios de
maior vulto, é preciso fazer-se ofertas e contra-ofertas, durante meio dia ou um dia
inteiro, havendo até os que demoram dias ou meses. Assim, é um grande desperdício
de tempo e dinheiro para ambos os lados.
Dar exemplo de si próprio é meio constrangedor, mas, quando vou fazer compras, sou
do tipo que quase nunca pede desconto. Só quando os artigos são espantosamente
caros ou quando percebo que vou ser enganado é que me vejo forçado a regatear,
porém é muito raro. Ajo assim porque, se eu pechinchar, não há dúvida de que o
vendedor aumentará o preço na próxima ocasião; aí eu vou pechinchar outra vez, e
assim por diante. Isso dá muito trabalho e só causa experiências desagradáveis.
Os exemplos acima relacionam-se a compra e venda, mas o mesmo parece ocorrer
com os funcionários de órgãos públicos e empresas privadas. Querendo subir rápido
na vida, eles gostam de mostrar suas realizações, de contar seus feitos para todos e
de se apresentar como benfeitores. Acham-se espertos por agirem dessa maneira,
mas, como seus chefes têm percepção mais aguda, acabam descobrindo a verdade e
pensando: "Este indivíduo mostra-se bom diante dos superiores, mas não deve ser leal
de coração". Assim, tais pessoas não se tornam dignas de confiança. Os empresários,
por sua vez, gostam de mostrar que têm dinheiro, quando na realidade não o têm;
querem mostrar que têm apoios poderosos atrás de si e anunciar que seus
empreendimentos são muitíssimo vantajosos. Entretanto, ainda que eles triunfem
momentaneamente, estas artimanhas nunca dão bons resultados.
O que acabamos de dizer também se aplica, freqüentemente, à propaganda feita pelos
padrinhos de casamento. Quando alguém apresenta o proponente de casamento e o
elogia além do que ele merece, mesmo que o casamento fique acertado, será um
desastre, antes ou depois de realizado. Além disso, os noivos e seus familiares serão
prejudicados, e o padrinho ou a pessoa que serviu de intermediário, daí por diante não
será merecedor de confiança. Muitas vezes, também, acontece de ser feita uma
intensa propaganda de remédios e cosméticos que, por um momento, são muito bem
vendidos, mas que acabam não tendo mais saída, por seus efeitos não
corresponderem à propaganda.
Os exemplos são tão numerosos que parecem não ter fim. Resumindo, em todos os
nossos empreendimentos a confiança deve estar em primeiro plano. Se perdermos a
confiança dos outros, será o nosso fim. Ainda que façamos tudo com perfeição, nada
dará certo. Será o mesmo que tentar encher uma peneira com água. Todavia, parece
que pouquíssimas pessoas percebem isso. Muitas, embora julguem ter feito algo com
inteligência, visando a grandes lucros, acabam perdendo a confiança do próximo.
Perdem todo o seu trabalho, restando-lhes apenas o cansaço. Quem age dessa
maneira não possui ambição. Portanto, se agirmos honestamente, sem mentir, nos
tornaremos pessoas de quem todos dirão: "O que essa pessoa diz não tem erro.
Tratando-se dela, posso ter absoluta confiança". Assim, é lógico que ganharemos
dinheiro, subiremos na vida e seremos amados e respeitados pelos outros. Esse tipo
de pessoa é que tem verdadeira e profunda ambição. Aliás, eu sempre costumo dizer
que o homem deve ter grandes ambições, mas a ambição de bens eternos, e não de
bens momentâneos.
1º de novembro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
O Japão, assim como todos os países que se dizem civilizados, é regido por leis.
Entretanto, a realidade nos mostra que essa não é a forma ideal para se governar uma
nação. Através da História, vê-se que é difícil exterminar os crimes somente com o
poder das leis. Como não se consegue eliminar todo o mal do homem, os crimes são
inevitáveis; conseqüentemente, só a Religião poderá trazer a verdadeira solução para
o problema. Contudo, casos que exigem soluções imediatas não poderão ser
resolvidos apenas por meio dela. Por esse motivo, em primeiro lugar é preciso ensinar
ao homem o Caminho. Refiro-me ao Caminho Perfeito e à lógica.
Embora o assunto se assemelhe à antiga moral oriental, o que agora desejo anunciar
é uma moral nova e progressista. Sou levado a isso pela evidente decadência moral
da sociedade contemporânea, onde saltam aos nossos olhos a corrupção dos jovens,
o aumento do índice de criminalidade e outros fatos. Até mesmo os intelectuais já
estão percebendo a situação, tanto assim que aconselham a volta ao ensino da Moral
nas escolas e a elaboração de algo que preencha as falhas da Educação. O assunto
tem servido de tema para várias discussões, e é muito animador constatar a existência
de uma preocupação nesse sentido.
Após a Segunda Guerra Mundial, os japoneses ficaram sem qualquer apoio, não tendo
a que recorrer. O resultado é que aumentou o número de criaturas desorientadas. Até
o fim da guerra, em todas as escolas do país, o ensino tinha por base a Moral, as
sábias palavras do Imperador e também a lealdade e o amor aos pais, profundamente
enraizados no coração do povo japonês desde épocas antigas. É inegável, portanto,
que a sociedade daquela época era muito mais honesta e sincera que a da época
atual. Mas nem por isso devemos revitalizar essa velha moral; torna-se imprescindível
criar uma ordem moral para a Nova Era. Após a guerra, estabeleceu-se a democracia
no Japão, e assim nos libertamos do despotismo. Isso foi muito bom; pena é que se
tenha ido além dos limites e chegado à situação presente, ou seja, a uma sociedade
predisposta à anarquia. Sendo assim, urge formar uma nova idéia moral que esteja em
conformidade com a época, eliminando o que há de mau e aproveitando o que há de
bom no antigo e no novo pensamento. É necessário construir um novo espírito
japonês, semelhante ao do cavalheirismo inglês, por exemplo. Para tanto, como expus
acima, a base é o Caminho, cuja noção deve ser intensamente apregoada, não só no
ensino como na sociedade. Se conseguirmos, com isso, diminuir uma parte que seja
do mal social, ficaremos muito satisfeitos.
Dando uma explicação mais compreensível sobre Caminho, isto é, o Caminho Perfeito,
devo dizer que se trata de algo aplicável a todas as coisas; ou melhor, ele é a bússola
orientadora da conduta humana. Seguindo o Caminho, o homem não terá insucessos
nem desgraças, tudo lhe correrá bem. Gozará de maior confiança, será respeitado e
amado pelo próximo e, logicamente, ficará em situação de harmonia e de paz. Na
medida em que aumentar o número de indivíduos e de lares com tais características, o
mal social irá diminuindo cada vez mais, graças à influência exercida por eles.
Por esse motivo, se continuarmos apoiando-nos apenas nas leis, como fazemos
atualmente, crescerá o número de indivíduos espertos e malvados, os quais pensam
que lhes basta agir de modo a não caírem nas mãos da Justiça. Em outras palavras,
Deus, como sempre digo, é o Caminho Perfeito; adorar a Deus significa seguir o
Caminho. Portanto, o homem que se submete ao Caminho Perfeito e por ele é regido,
é um verdadeiro homem civilizado.
Este artigo, eu ofereço aos intelectuais do mundo inteiro.
7 de fevereiro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Apesar de haver uma estreita relação entre Religião e Política, é estranho que isso não
tenha despertado muito interesse. Na realidade, até o término da Segunda Guerra
Mundial, a Política, longe de apreciar a participação da Religião, vivia oprimindo-a.
Desde a antigüidade este fenômeno se fez notar em vários lugares, registrando-se não
poucos casos da quase extinção de religiões devido à violência das perseguições. No
entanto, por mais que a Religião tente realizar o seu objetivo, que é a construção de
um Mundo Ideal, para incrementar a felicidade do homem, torna-se evidente que ela
jamais atingirá essa meta se a Política não for justa. Sendo assim, uma Política
escrupulosa requer políticos íntegros e, para preencherem essa condição, eles devem
ser dotados de religiosidade.
No Japão - desconheço a situação no estrangeiro - um erro no qual os políticos têm
inclinação para incorrer é a corrupção. Pode-se dizer que isso acontece porque eles
são escravos do materialismo, cuja origem está na falta de religiosidade. É desejável o
aparecimento de políticos dotados de espírito religioso, pois só assim poderemos
alimentar esperanças quanto ao futuro, aguardando o bom desenrolar dos destinos da
Nação. No que se refere à construção de um novo Japão, é necessário, sobretudo,
incutir espírito religioso nos políticos, para que seja realizada uma Política arraigada no
senso religioso.
Atualmente o povo vive criticando, e com razão, a degeneração da Política, as fraudes
eleitorais, a prevaricação dos funcionários públicos, a degradação dos educadores,
etc. Os próprios políticos, os órgãos competentes e o povo empenham-se com unhas
e dentes na solução purificadora dos problemas dessa lamacenta sociedade.
Infelizmente, na prevenção do crime, conta-se apenas com a força da Lei, mas esta
não atinge o âmago da questão, pois a causa dos crimes está no interior do homem,
ou seja, na sua alma. Purificar a alma é o método verdadeiramente eficaz. Estou
convicto de que isso só poderá ser conseguido através de uma Fé verdadeira.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
No mundo atual, quanto mais civilizado é um país, mais complexo é o seu sistema
legislativo. Como todos podem ver, os artigos das leis tendem a aumentar a cada ano;
pode-se até dizer que a época contemporânea é a época da onipotência da legislação.
Ora, a existência de muitas leis significa que é difícil os oficiais de justiça e os
advogados de uma repartição memorizarem todas elas, mesmo utilizando a vida
inteira. De fato, se eles não conseguem dar conta daquilo que lhes diz respeito, os
efeitos das leis deveriam ser mais visíveis; entretanto, ao invés de diminuírem, os
crimes tendem a aumentar cada vez mais com o passar dos anos. Por que será? Não
é realmente incompreensível? É uma total contradição ao progresso da cultura. Por
isso, desejo analisar a causa do problema.
Seria desnecessário dizer que o principal objetivo das leis é diminuir a criminalidade e
construir um mundo sem crimes. Entretanto, o que se vê é justamente o contrário,
como dissemos há pouco. No Congresso Nacional realizado anualmente, o assunto
que mais se discute é o aumento dos artigos das leis. No entanto, se a cultura
progredisse do modo previsto, o número de criminosos iria diminuindo cada vez mais
e, com certeza, surgiriam artigos desnecessários nas leis. Sendo assim, não deveria
ser discutida também, no Congresso Nacional, a eliminação de partes da lei? Mas o
interessante é que, embora isso não aconteça, ninguém estranha o fato, pois as
pessoas perderam as esperanças, achando que a situação não tem mais solução.
Compreendemos perfeitamente que é impossível eliminar os crimes somente com as
leis. Todavia, no momento, se elas não existissem, haveria uma catástrofe: o mundo
seria dominado pelos maus, e os bons não conseguiriam dormir tranqüilos. Por isso,
as leis precisam continuar existindo, mas seria bom unir a elas um meio eficaz. Em
princípio, só podemos valer-nos da Educação e da Religião, mas delas também não
podemos esperar muito, pois, durante dezenas de séculos, viemos nos utilizando
desses recursos e o mundo humano ainda se encontra na situação de que estamos
vendo.
Já escrevi anteriormente que as leis têm quase o mesmo significado que o
aprisionamento de animais ferozes em jaulas. Se estas não existissem, haveria perigo
de que eles fizessem mal às pessoas e aos animais domésticos. Assim, as leis não
passam de um rígido controle feito com redes e grades fortes. Como os homens
tentam violá-las, se nelas houver brechas, elas vão se tornando cada vez mais
fechadas. Para impedir essa violação, a cada ano se fazem leis mais complexas e
policiamento mais rigoroso, o que, aliás, é uma vergonha para o ser humano. Por esse
motivo, se os homens de hoje estão sendo tratados como se fossem animais, não é
possível nos orgulharmos muito de nossa condição humana. Caso refletíssemos bem
sobre esses pontos, despertaríamos o quanto antes. A antiga expressão "animal com
aparência de homem" se adapta perfeitamente aos homens da atualidade. Em suma, o
homem ainda não conseguiu se libertar do estado semicivilizado e semi-selvagem.
Naturalmente, existem diversos níveis de pessoas, isto é, as que merecem ser
tratadas como gente e as que devem ser tratadas como animais. Do mesmo modo que
existem países belicosos, existem países pacifistas, sendo que aqueles são selvagens,
e estes, verdadeiramente civilizados.
A seguir falarei sobre a Educação. O tema já passou pelo crivo das experiências
realizadas até hoje; portanto, não há necessidade de escrever muito a respeito.
Há muitos séculos, como todos sabem, inúmeros pedagogos vêm se esforçando nesse
campo. Podemos reconhecer-lhes certo mérito, mas sua força não vai além disso. Não
obstante, em relação à época selvagem, a sabedoria humana se desenvolveu
bastante, e tanto a política como as organizações sociais e demais setores da
sociedade conseguiram espantoso progresso, de modo que não podemos desprezar a
contribuição da Educação. É inegável, entretanto, que faltou força na parte espiritual,
ou seja, no aspecto referente ao melhoramento do espírito, visto que até agora não foi
possível prescindir-se da jaula denominada lei.
Quanto à Religião, obviamente lhe reconhecemos certo mérito no sentido da salvação
espiritual. Mas ela também não conseguiu fazer com que as leis se tornassem
desnecessárias, apesar do aparecimento de inúmeros santos maravilhosos e
personalidades relevantes, e dos esforços e sofrimentos de seus seguidores e até
mesmo de fiéis, que chegavam a sacrificar sua vida. Conseqüentemente, não
podemos esperar muito das religiões tradicionais.
Então, surge o problema: que fazer para eliminar verdadeiramente o caráter animal do
homem e construir uma sociedade que não tenha necessidade de jaulas?
Evidentemente, é preciso que surja uma força até agora nunca vista, que supere a
cultura tradicional. Mas devemos nos alegrar, pois essa força nos foi atribuída por
Deus - Senhor do Universo - e de fato nós a estamos manifestando. Como ela é a
essência da nossa religião, podemos dizer que esta é realmente uma Ultra-Religião.
Na qualidade de precursores do Mundo da Luz, que está para se concretizar, gostaria
que considerassem minhas palavras como o primeiro alarme para despertar a
humanidade da ilusão em que ela está vivendo.
22 de agosto de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A CAUSA DA POBREZA
Como tenho dito várias vezes, durante longo tempo sofri por causa das dívidas, e
posso dizer que não há nada mais horrível. Talvez todos passem por essa experiência,
pois, quando se contrai uma dívida, é muito difícil saldá-la.
Ao fazer um empréstimo, a pessoa pensa em pagar o mais rápido possível, mas, ainda
que consiga o dinheiro suficiente, é próprio do ser humano não fazê-lo tão facilmente.
Pensando em empregar esse dinheiro, ela deixa o tempo correr, acreditando que
poderá pagá-lo depois de lucrar mais um pouco. Assim, arranja pretextos que lhe
convêm. Se, por felicidade, a pessoa consegue pagar a dívida assim que obtém a
quantia suficiente, ganha a confiança daquele que lhe emprestou o dinheiro, o qual se
mostra disposto a conceder-lhe novo empréstimo. Então, ela pede mais dinheiro,
elevando a quantia.
O dinheiro nunca entra de acordo com o previsto, mas sempre sai de acordo com o
estabelecido, e é por isso que não se consegue devolvê-lo no prazo estipulado. Uma
vez aprisionada pelas dívidas, não é fácil a pessoa desvencilhar-se delas; por fim,
torna-se um hábito pedir dinheiro emprestado. Existe até quem se sente mal quando
não tem dívidas. Talvez, em dez pessoas, não haja uma só que, tendo feito uma
dívida, consiga livrar-se desse hábito para sempre.
Atualmente, a maior parte dos problemas sociais tem origem nas dívidas contraídas.
Dizem que a maioria, senão todos os casos judiciais, são causados por elas. Por
conseguinte, a primeira condição para eliminar os conflitos que existem no mundo, é
fazer todo o possível para não contrair dívidas. Quando elas forem inevitáveis,
devemos saldá-las o quanto antes. Se todos agissem assim, formar-se-ia uma
sociedade feliz e diminuiriam os problemas das pessoas.
Outro fato que eu gostaria de frisar é que as dívidas encurtam a vida. O falecido Sr.
Kihatiro Okura sempre dizia isso, e realmente é a pura verdade. Nada obscurece tanto
o espírito do homem como as dívidas. Tomando como exemplo a minha própria
experiência, após libertar-me delas, senti-me como se tivesse saído de um longo
período na prisão.
25 de fevereiro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Durante mais de vinte anos(3), provei sofrimentos causados pelas dívidas. Para que
possam fazer uma idéia, recebi várias intimações judiciais e sofri uma falência. A
"filosofia da dívida", da qual falarei a seguir, baseia-se nas conclusões que tirei de
todas estas experiências.
Farei uma análise da pessoa que está para fazer um empréstimo.
Existem empréstimos ativos e passivos. O empréstimo ativo é aquele que se faz
quando se vai começar um empreendimento, já calculando que uma quantia X vai dar
um lucro Y; isto é, faz-se o cálculo de modo que sobre algum dinheiro mesmo depois
de subtraídos os juros. Esse tipo de empréstimo, todos o conhecem. Entretanto, no
caso dos empréstimos passivos, sai mais dinheiro do que entra, por isso ele está
sempre faltando.
É comum a pessoa fazer dívidas por não haver outra alternativa. Quando as coisas
começam a apertar, ela não consegue pensar no futuro. Diante de uma situação difícil,
tenta livrar-se dos compromissos imediatos, sem levar em consideração se os juros
são altos ou baixos; o importante, para ela, é conseguir o empréstimo. Muitos anúncios
publicados atualmente nos jornais, sobre a concessão de empréstimos, são desse tipo.
Podemos dizer que, a essa altura, entre dez dessas pessoas, oito ou nove estão a um
passo do abismo.
Esta classificação dos empréstimos é uma classificação feita a grosso modo. Agora
vamos analisar o caso de não se fazer o empréstimo.
Começa-se o empreendimento com o capital que se possui no momento. Mesmo que
seja um negócio de pequeno porte, não há outro recurso. Suponhamos, por exemplo,
que se tenha cem mil ienes. Inicialmente, emprega-se a metade ou um terço desse
capital. Como o restante fica guardado, poder-se-á pensar que o negócio progredirá
muito lentamente. Além disso, esses cem mil ienes devem ser obtidos com o esforço
próprio, sem a ajuda de ninguém, pois assim estarão impregnados de suor e terão
força. Depois, inicia-se o empreendimento, que deve ser do menor porte possível.
Exemplifiquemos.
Comecei o método de terapia pela Fé no mês de maio de 1934, alugando uma casa de
cinco cômodos por setenta e sete ienes. Estava situada na rua Hiraga-tyo, no bairro de
Koji Mati (Tóquio). Achei que era uma casa boa demais; entretanto, como as
condições eram ótimas, decidi alugá-la. Na época, eu ainda tinha muitas dívidas, mas
fiz esse empreendimento pensando em praticar a filosofia para a qual despertara
através delas. As idéias sobre esse princípio filosófico me foram fornecidas pela
Grande Natureza. Podemos entendê-lo observando os seres humanos. A criança
recém-nascida, com o passar dos meses e dos anos, vai crescendo cada vez mais, e a
sua força e inteligência tornam-se adultas. O mesmo acontece com as plantas.
Plantando-se uma pequena semente, ela germina, formando um broto; a seguir saem
duas folhinhas e, depois das folhas propriamente ditas, o caule se desenvolve, os
galhos se expandem, até que a planta se torna uma enorme árvore. Esta é a verdade.
Portanto, os seres humanos precisam seguir esse exemplo. Eu tive a revelação de
que, praticando fielmente o princípio acima, não deixaria de obter grande sucesso.
Decidi, pois, em qualquer empreendimento, partir da menor forma possível.
A maior parte das pessoas, no entanto, tenta fazer coisas grandes e aparatosas desde
o começo. Observando bem, vemos que a maioria acaba fracassando. Quase todos os
empreendimentos da sociedade são assim. As pessoas começam por negócios de
grande porte e só depois de fracassarem é que, forçadas pelas circunstâncias,
seguem a ordem, ou seja, começam tudo de novo, fazendo pequenos
empreendimentos. Só então é que conseguem sucesso.
A propósito, os negócios nunca se processam de acordo com a lógica ou com os
cálculos. Existem vários motivos para isso, mas o mais importante é a influência da
mente. Como o dia do vencimento da dívida nunca deixa de chegar, aconteça o que
acontecer, essa preocupação está continuamente martelando a cabeça da pessoa.
Naturalmente, a realidade nunca acompanha os planos. Com essa preocupação
constante na mente, não surgem boas idéias. Esse é o ponto mais desvantajoso. Ora,
com os bolsos sempre vazios, as pessoas não têm vitalidade. Mesmo que se enfeitem
exteriormente, são pobres material e espiritualmente. Por isso, mostram-se inibidas em
todos os seus empreendimentos, não têm força para crescer, estão sempre
descontentes. Os comerciantes, por exemplo, não conseguem fazer compras mesmo
que as mercadorias estejam baratas; conseqüentemente, deixam de lucrar. Como a
maioria prorroga o prazo do pagamento da dívida, a confiança dos outros diminui. Se o
prazo se prolonga por muito tempo, começam a correr juros em cima de juros. A essa
altura, a pessoa começa a se afobar e força a situação. Quando isso acontece, é o seu
fim. Eu sempre faço advertências sobre a afobação e as situações forçadas, mas a
maioria das pessoas não percebe isso. Mesmo que momentaneamente os resultados
sejam bons, eles nunca duram muito tempo.
Os famosos senhores feudais Nobunaga e Hideyoshi, por exemplo, fracassaram
porque se afobaram e forçaram situações. Em contrapartida, o domínio da dinastia
Tokugawa durou trezentos longos anos porque, nos métodos empregados por
Ieyassu, seu fundador, não houve afobação ou situação forçada nem mesmo para ele
assumir o poder. Ieyassu utilizava-se da famosa tática de "ceder para vencer", quando
achava que a situação estava um pouco difícil: esperava a oportunidade propícia, isto
é, aguardava que o tempo ficasse a seu favor. Assim, fez com que o poder rolasse
naturalmente para as suas mãos.
Eis o conselho de Ieyassu: "A vida do homem é como uma longa caminhada
carregando um pesado fardo. Não se deve ter pressa". Essas palavras expressam
muito bem o seu caráter. A derrota do Japão, nesta última guerra, teve várias causas,
mas não há dúvida de que a afobação e as situações forçadas foram fatores decisivos,
embora, desde o início, o procedimento dos japoneses tenha sido errado.
Não se deve fazer empréstimos para pagar dívidas, mas foi o que aconteceu no
período final da guerra, e pelo mesmo motivo foi emitido dinheiro de maneira bem
desordenada. Essa foi, em grande parte, a causa da inflação.
A Inglaterra, logo após a formação do gabinete trabalhista, tomou dos Estados Unidos
um empréstimo de três bilhões e setecentos milhões de dólares. Acho que seria uma
boa iniciativa se, futuramente, não se tornasse motivo de problemas financeiros; mas,
depois disso, foi preciso tomar empréstimos em cima de empréstimos. A
desvalorização da libra também é uma conseqüência desse fato. Na época em que o
Império Britânico era próspero, sua receita anual elevava-se a três bilhões de libras,
provenientes de suas colônias e de outras fontes. Que diferença entre a situação atual
e a situação antiga! O equilíbrio financeiro da Inglaterra, que até então era um dos
seus motivos de orgulho, acabou em tal estado após o país passar por duas guerras.
Foi um destino inevitável.
Pelo que foi exposto, fica evidenciada esta verdade: não se deve contrair dívidas, e,
em todas as iniciativas, é preciso começar de forma pequena. Gostaria que fizessem
disso um lema a ser seguido. Contudo, quando se tem absoluta certeza de poder
saldar a dívida em curto prazo, é admissível contraí-la.
Esta é a minha filosofia da dívida, que eu recomendo a todos.
12 de novembro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Há algum tempo, apareceu nos jornais a notícia de uma criança de seis anos que
pintava quadros magníficos. Vou explicar por que nascem crianças assim.
Desde os tempos antigos, de vez em quando têm surgido crianças-prodígio. No
Ocidente, segundo ouvimos dizer, existiram grandes músicos que, aos seis ou sete
anos de idade, já tocavam muito bem piano ou violino, e, com pouco mais de dez
anos, compunham esplêndidas melodias. Conta-se que o famoso Schubert, dos dez
anos aproximadamente até sua morte, ocorrida quando ele estava com trinta e um
anos, fez mais de quinhentas composições. Por isso, não há dúvidas de que tenha
sido um gênio.
Mas há uma causa especial para o nascimento desses gênios. Naturalmente, através
da ciência materialista é impossível imaginá-la, mas precisamos conhecê-la. Nós
explicamos o fato pela ciência espiritual. No caso de um músico, por exemplo, as
causas podem ser duas. Uma é a reencarnação do espírito de um grande músico; a
outra, fenômeno de encosto.
Suponhamos que um grande músico morra. Mesmo no Mundo Espiritual ele não
consegue esquecer sua tão adorada arte. Assim, em virtude desse forte apego, ele
pode reencarnar prematuramente. Esta é uma das causas. Pode acontecer também
que, não conseguindo esperar até a reencarnação, ele procure um descendente seu,
de preferência uma criança, e nela encoste. Espera para encostar quando seus dedos
começarem a ficar ágeis, por volta dos seis ou sete anos. Como é um grande músico,
manifesta uma enorme capacidade. Entretanto, ele não consegue encostar em
pessoas com as quais não tenha nenhuma ligação, mas apenas, em pessoas de sua
linhagem espiritual, principalmente em crianças. Isto porque é mais fácil encostar em
crianças do que em adultos; é também mais fácil manejá-las à sua vontade. Pensem
bem. Uma criança de seis ou sete anos não pode ter a capacidade de um adulto.
Conhecendo, porém, essas causas, não é nada estranho o aparecimento de crianças-
prodígio. Entretanto, nem todas elas se tornarão grandes músicos, grandes pintores,
etc. Algumas o serão até certa idade, depois se tornarão pessoas normais. É o que
acontece no caso de encosto de espírito, porque ele só tem permissão de encostar até
certa época, devido à missão dada por Deus ou ao desejo de seus ancestrais.
Tratando-se de reencarnação, o espírito é da própria pessoa, de modo que é
impossível haver mudança.
11 de março de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
PARAÍSO TERRESTRE
O Paraíso Terrestre a que costumamos nos referir, é, em termos mais claros, o Mundo
do Belo. Em relação ao homem, é a beleza dos sentimentos, o belo espiritual.
Naturalmente, as palavras e atitudes do homem devem ser belas. Da expansão do
belo individual nasceria o belo social, isto é, as relações pessoais se tornariam belas,
assim como também as casas, as ruas, os meios de transporte e as praças públicas.
Em grande escala, como é natural que a limpeza acompanhe o Belo, a política, a
educação e as relações econômicas também se tornariam belas e limpas, da mesma
forma que as relações diplomáticas entre os países.
Pensando desse modo, podemos perceber o quanto a sociedade contemporânea está
cheia de fealdade e maldade. Nas classes baixas, principalmente, o Belo é escasso
demais, em virtude das péssimas condições financeiras, que causam a decadência do
ensino e a precariedade dos estabelecimentos e instalações de atendimento ao
público. Daí, conseqüentemente, nasce a intranqüilidade social.
Agora, gostaria de falar em especial sobre a parte relativa às diversões. Nesse campo,
o Belo precisa ser muito enriquecido, pois a consciência do Belo é o que de melhor
existe para a elevação dos sentimentos humanos. Esse é um dos motivos pelos quais
sempre incentivamos a Arte. Nem é preciso mencionar o quanto o baixo nível das
artes, na época atual, está degradando a espiritualidade das pessoas.
Como se vê, o fator essencial para a criação do Mundo do Belo é o poder econômico.
Enquanto o povo for pobre, não poderemos sequer sonhar em concretizar esse
mundo. Mas como fortalecer o poder econômico? Se todos os indivíduos trabalharem
com total empenho visando a elevar o poder de produção, estarão fortalecendo-o. A
condição básica para tanto é a saúde de cada indivíduo. E a saúde é o principal
objetivo de nossa Igreja, o que se torna evidente pelo grande número de pessoas
perfeitamente saudáveis que estamos conseguindo criar unicamente com o poder de
purificação por nós manifestado.
Portanto, devemos dizer que a Igreja Messiânica Mundial é a primeira religião à qual
Deus atribuiu a qualificação para o estabelecimento do Mundo do Belo. Concretizá-lo,
é questão de tempo. Para se certificarem dessa verdade, basta observarem
atentamente a atuação de nossa Igreja daqui em diante.
3 de junho de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A ARTE DE DEUS
RELIGIÃO E ARTE
RELIGIÃO E ARTE
RELIGIÃO ARTÍSTICA
Sempre se pensou que não há muita relação entre Arte e Religião. Entretanto, no
Japão, as manifestações artísticas tiveram início com a arte budista, não obstante se
limitassem a simples quadros, estátuas, tecelagem, etc. No que se refere à música,
existiam instrumentos tais como "sho" (###Instrumento musical de cano. É constituído
de dezessete canos de bambu, longos e curtos, dispostos verticalmente. Dois deles
não emitem som; os quinze restantes possuem orifícios na parte anterior e na parte
posterior###), "hitiriki" (###Instrumento musical de cano, semelhante à flauta###),
"mokugyo" (###Instrumento que se bate na hora de ler os sutras. É feito de madeira
oca, arredondado, esculpido em formato de cabeça de peixe. Para se produzir o som
utiliza-se um pequeno bastão coberto por um pedaço de pano ou couro###) e "dora"
(###Instrumento musical semelhante ao gongo###) e os sons emitidos na leitura dos
sutras budistas. Por isso, podemos dizer que se tratava de uma arte primitiva.
Mais tarde, estimulada pela introdução das artes chinesa e coreana no país, a arte
japonesa passou por um período de imitações, até que conseguiu criar um estilo
próprio. Atualmente, com a importação da cultura ocidental, também foi introduzida a
arte do Ocidente. Principalmente após a Era Meiji (1868-1912), afluíram, com grande
intensidade, as artes dos Estados Unidos e da Europa. Em conseqüência, no
panorama artístico japonês da época atual, encontram-se as melhores obras de todo o
mundo, as quais estão sendo absorvidas e assimiladas, de modo que, aos poucos, vai
se criando uma arte universal. Por isso, talvez possamos afirmar que o Japão é um
centro cultural.
Não existe, ou melhor, nunca existiu uma religião que desse tanta importância à Arte
quanto a Igreja Messiânica Mundial. Isto porque o Paraíso Terrestre - nosso objetivo
último - é o Mundo da Arte. Obviamente, se ele é um mundo isento de doença,
pobreza e conflito, isto é, o mundo de perfeita Verdade, Bem e Belo, o homem seguirá
a Verdade, amará o Bem e odiará o Mal; assim, todas as coisas se tornarão belas.
Nesse sentido, a Arte não será apenas um deleite indispensável; ela constituirá a
própria vida e se desenvolverá intensamente. Ou seja, o Paraíso Terrestre será o
Mundo da Arte. Eis o motivo pelo qual tenho grande interesse por ela e pretendo
incentivá-la bastante, no futuro. Como primeiro passo, estou construindo o protótipo do
Paraíso Terrestre, em Atami; quando ele estiver concluído, atrairá ainda mais a
atenção da sociedade, recebendo muitos elogios. Infalivelmente, merecerá
consideração a nível mundial. Portanto, estamos dando prosseguimento aos planos
sob essa diretriz.
6 de junho de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
CIÊNCIA E ARTE
O mundo contemporâneo pensa que tudo pode ser resolvido pela Ciência. Entretanto,
embora quase ninguém chegue a perceber, existem diversas coisas importantes que a
Ciência não consegue resolver. Analisemos a Arte, por exemplo.
A pintura e as mais diversas expressões artísticas, como a literatura, a música, o
cinema e até o teatro, possuem algum teor científico, mas não é preciso dizer que
estão quase totalmente fundamentadas no conjunto da genialidade, inteligência,
consciência e esforço do homem. Todos sabem o quanto a Arte é necessária para a
sociedade humana. Se ela não existisse, a vida seria seca e sem sabor, como se
estivéssemos dentro de uma cela de pedra.
Exemplifiquemos: sempre que caminho pela cidade, sinto que, se não houvesse lojas,
residências e prédios ao redor, e eu não pudesse ver o verde das árvores da rua ou
dos jardins das casas, mas apenas uma parede semelhante à de um presídio de uma
só cor sombria, prolongada em linha reta, talvez eu não suportaria andar sequer
alguns quarteirões. Assim, a bela visão proporcionada pelo rico colorido das casas,
pelas diferentes feições e expressões das pessoas, com sua maneira característica de
se vestir e de andar - a exuberância dos jovens exibindo a moda; as pessoas de idade,
os recém-chegados do interior - enfim, os infinitos aspectos que encontramos, cada
um com algo de interessante, é que nos permitem andar pela rua sem entediar-nos.
Quando nos distanciamos da cidade, dentro de um ônibus ou de um trem, não ficamos
cansados porque a paisagem variada - montanhas, rios, plantas, árvores e plantações
- nos faz passar o tempo. Além do mais, as diversas transformações ocasionadas pelo
clima das estações enriquecem o nosso sentimento. O mundo é realmente uma arte
criada pela Natureza e pela mão do homem. É por isso que vale a pena viver.
Pensando dessa forma, poderão concluir que até a Ciência é uma parte da Arte e
entender, portanto, que ela tem uma função auxiliar. Assim, é por demais evidente que
há uma ligação inseparável da Arte com a vida do homem. Ante essa evidência, a
Igreja Messiânica Mundial interessa-se pela Arte e estimula-a como nenhuma religião
o fez até agora.
Entretanto, até mesmo na Arte existem níveis. Se ela é de nível inferior, corre o perigo
de abaixar o nível das pessoas, levando-as à degradação, motivo pelo qual é preciso
muita cautela. Por isso, a Arte deve ser de nível elevado - uma arte que, deleitando a
pessoa, eleve o seu sentimento.
A teoria é fácil, mas existirão organizações que se encarreguem disso? Quanto ao
exterior, nada posso afirmar; porém, todos sabem que, nesse ponto, a situação do
Japão é muito precária. Para corrigir essa falha, nossa Igreja está efetuando a
construção do protótipo do Paraíso Terrestre, do qual faz parte o Museu de belas-
artes. Há um sábio e antigo ditado que diz: "A Religião é a mãe da Arte". Ele exprime
muito bem a atividade de construção que estamos desenvolvendo.
30 de abril de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A MISSÃO DA ARTE
Cada coisa existente no Universo possui uma utilidade específica para a sociedade
humana, ou seja, uma missão atribuída pelos Céus. Naturalmente, a Arte não constitui
exceção. Portanto, uma vez que o artista é um membro da organização social, ele
deve conscientizar-se de sua missão e exercê-la plenamente, pois essa é a Verdadeira
Arte e também a responsabilidade que lhe cabe.
Entretanto, quando observo os artistas da atualidade, não posso deixar de ficar
decepcionado com as atitudes inconseqüentes da maioria. É claro que existem artistas
excelentes, mas a maior parte se esquece da sua responsabilidade, ou melhor, não
tem nenhuma consciência dela. Além do mais, eles constituem um problema, pois,
tendo-se como criaturas superiores, fazem o que bem entendem sem a menor
vergonha. Acham que, agindo de acordo com sua própria vontade, estão manifestando
sua personalidade e seu caráter de gênio. A sociedade, por sua vez, os superestima,
considerando-os pessoas especiais, e aprova quase tudo que eles fazem. Por isso,
sua mania de grandeza torna-se ainda maior.
É preciso, todavia, que o caráter dos artistas seja muito mais elevado que o das
pessoas comuns. Explicarei isto com base na Religião.
Inegavelmente, nos primórdios da sua história, a humanidade possuía muitas
características animais, mas não há dúvida de que, após a era selvagem, ela veio
progredindo gradativamente, construindo-se, pouco a pouco, a civilização ideal. Neste
sentido, o progresso da civilização consiste na eliminação do caráter animal do
homem. Alcançar esse nível é alcançar a Verdadeira Civilização. Ainda hoje, porém, a
maioria das pessoas está sujeita ao terror da guerra, prova de que persiste no homem
uma grande parcela de características animais. Assim, cabe ao artista uma grande
missão: ele é um dos encarregados da eliminação de tais características.
Torna-se necessário, portanto, elevar o caráter do homem por meio da Arte.
Naturalmente, esse objetivo será alcançado através da literatura, da pintura, da
música, do teatro, do cinema e de outras artes. O espírito dos artistas, comunicando-
se por esses veículos, influenciará o espírito do povo. Falando mais claro, as vibrações
espirituais emitidas pela alma do artista tocarão a sensibilidade das pessoas através
das obras literárias, da pintura, dos instrumentos musicais, dos cantos, das danças,
etc. Em outras palavras: haverá uma sólida ligação entre o espírito do artista e o
espírito de quem apreciar suas obras. Se o caráter daquele for baixo, o das pessoas
também se degradará; obviamente, se for um caráter elevado, terá o efeito contrário.
Eis a importância da Arte. O artista deve funcionar como orientador espiritual do povo.
Neste sentido, não seria exagero afirmar que uma parte da responsabilidade do
aumento do mal social cabe aos artistas.
Vejamos: erotismo cada vez mais vulgar, literatura cada vez mais grotesca, quadros
cada vez mais monstruosos; as opiniões dos artistas, assim como também a música, o
teatro e o cinema, cada vez piores. Se analisarem minuciosamente tais fatos,
certamente compreenderão que a minha tese não é errada.
15 de outubro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Os fiéis da nossa Igreja estão bem cientes de que o objetivo de Deus é a construção
do mundo ideal, de perfeita Verdade, Bem e Belo. Sendo assim, o objetivo de Satanás,
Seu antagonista, é obviamente a Falsidade, o Mal e a Fealdade. Falsidade e Mal não
necessitam de explicações; portanto, falarei a respeito da Fealdade.
Neste mundo, existem coisas erradas. Há casos, por exemplo, em que a Fealdade se
associa à Verdade e ao Bem. Ao ver tais fatos, muitas vezes as pessoas fazem deles
alvo de admiração e respeito. Em termos mais claros, desde tempos remotos, não são
poucas as pessoas que, comendo e vestindo-se precariamente, morando em cabanas,
enfim, vivendo uma vida miserável, realizam práticas virtuosas para o bem do próximo
e da sociedade. Realmente, se suas condições de vida fossem desfavoráveis, isso
seria inevitável para elas poderem sobreviver, mas algumas, mesmo tendo condições
para viverem de modo diferente, escolhem espontaneamente tal forma de vida, o que
acredito não ser desejável. Entre elas, encontram-se muitos religiosos que escolhem
uma vida de abstinência como meio de aprimoramento, achando ser um meio
excelente. Quem vê isso, considera-os pessoas sublimes. Mas, para falar a verdade,
esse pensamento não é correto, pois se negligencia um fator importantíssimo, que é o
Belo; ou seja, temos Verdade, Bem e Fealdade. Neste sentido, desde que não
ultrapassem as condições adequadas a cada indivíduo, as vestes, a alimentação e a
moradia do homem devem ser utilizadas da maneira mais bela possível, porque isso
está de acordo com a Vontade Divina. Além do mais, o Belo não é simplesmente uma
satisfação individual, mas também o que causa uma sensação agradável aos outros;
assim, podemos dizer que é uma espécie de boa ação. Na verdade, quanto mais alto
grau de civilização a sociedade alcançar, tudo deverá se tornar mais belo. Pensem
bem. Na vida dos selvagens não existe quase nenhuma beleza. Por isso, também
podemos dizer que o progresso da civilização é, em parte, o progresso do Belo.
Naturalmente a nível individual, os homens também devem procurar manter uma
beleza adequada, para causar boa impressão às demais pessoas; sobretudo as
mulheres, devem procurar mostrar-se ainda mais belas. Talvez não seja da minha
conta falar-lhes semelhantes coisas, mas é a pura verdade: dentro de casa, deve-se
sempre ter o cuidado de não deixar teias de aranha no teto, de conservar o assoalho
tão limpo que não haja nem um cisco, de arrumar logo os objetos desagradáveis à
vista e deixar os utensílios bem organizados. Assim, tanto os moradores da casa como
as visitas sentir-se-ão bem, o sentimento de respeito nascerá naturalmente, e o
conceito do chefe da casa também se elevará. Devemos, ainda, cuidar do aspecto
externo das residências. Mas não é preciso gastar dinheiro para isso; se procurarmos
conservar nossa casa sempre limpa e em bom estado exteriormente, não só
causaremos uma boa impressão às pessoas que passam pela sua frente, como
também contribuiremos para influenciar positivamente o plano de turismo nacional. A
esse respeito, existe um comentário sobre a Suíça, o qual, em parte, talvez se
justifique pelo tamanho do país. De qualquer forma, dizem que, lá, tanto as ruas como
as praças públicas são sempre conservadas limpas e por isso a sensação que se tem
é realmente a melhor possível. Este é um dos motivos pelos quais o país recebe tantos
turistas; portanto, poderíamos tê-lo como exemplo a ser imitado.
As razões expostas mostram que nós, japoneses, também precisamos cultivar o senso
do Belo. Através disso, exerceremos boa influência sobre os indivíduos e, em grande
escala, muito mais do que pensamos, sobre a sociedade e a nação. E mais ainda;
através desse ambiente belo, os sentimentos dos cidadãos também se tornarão belos,
e os crimes e os acontecimentos desagradáveis diminuirão, o que, conseqüentemente,
se tornará um dos fatores determinantes do Paraíso Terrestre.
Finalizando, escreverei a meu respeito. Desde jovem eu gostava de tudo que dissesse
respeito ao Belo. Embora fosse muito pobre, cultivava flores em espaços vazios e,
quando dispunha de tempo, pintava quadros. Sempre que me era possível, visitava
museus e exposições. Na primavera, apreciava as flores, e no outono, o bordo. Agora,
pela graça de Deus, minha vida se tornou mais afortunada, e, além de apreciar o Belo
como desejo, isso constitui uma ajuda para a realização das atividades da Obra Divina.
Entretanto, para terceiros, que desconhecem esse fato, minha vida parece
exageradamente luxuosa, o que é inevitável. Desde tempos antigos, como sempre
digo, os fundadores de religiões faziam a divulgação das doutrinas levando uma vida
paupérrima e realizando penitências. Comparando-me com eles, talvez todos achem
minhas atitudes um tanto estranhas, pela grande diferença observada. Na verdade,
aqueles religiosos estavam na Era da Noite, e até mesmo a Religião era divulgada por
meios infernais. Chegou, porém, a Época de Transição e, atualmente, quando o
mundo está para se tornar Dia, a salvação é efetuada num estado paradisíaco, de
modo que é necessário refletir profundamente sobre esse ponto.
11 de julho de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Gosto muito de cuidar das plantas do jardim e sempre corto seus galhos, arrumando-
lhes o formato. De vez em quando, porém, sem perceber, acabo cortando demais ou
deixando de cortar onde é necessário. Às vezes, quando vou plantar uma árvore, não
havendo outra alternativa, por causa do espaço, planto-a num lugar que não é do meu
agrado e deixo a parte da frente para trás, ou meio de lado, o que me incomoda, toda
vez que a observo. Mas é engraçado, pois, com o passar do tempo, vejo que a árvore
vai se acomodando aos poucos, por si mesma, até que acaba se harmonizando
perfeitamente com o lugar. Acho isso interessantíssimo e não posso deixar de pensar
que ela está viva. Certamente, as árvores também possuem espírito. Nesse ponto,
assemelham-se ao homem que cuida de sua aparência para não passar vergonha
perante os outros.
Temos atrás, ouvi um velho jardineiro contar que, quando uma planta não dava flores
como ele queria, dizia-lhe estas palavras: "Se este ano você não der flores, vou cortá-
la." Assim, ela não deixava de florir. Ainda não experimentei fazer isso, mas o fato
parece-me verossímil. Não há erro em lidarmos com qualquer elemento da Grande
Natureza acreditando que ele possui espírito. Num livro que li, de autor ocidental, dizia-
se que uma árvore que geralmente leva quinze anos para crescer, tendo sido cuidada
com amor e dedicação, cresceu da mesma forma na metade do tempo, isto é, em sete
ou oito anos.
O mesmo pode ser dito em relação às vivificações florais. Eu próprio vivifico as flores
de todos os compartimentos de minha casa; entretanto, ainda que elas não estejam do
meu completo agrado, deixo-as assim mesmo. No dia seguinte, noto que elas estão
diferentes, com um aspecto agradável, como se realmente estivessem vivas. Nunca
forço o formato das flores; vivifico-as da maneira mais natural possível. Por isso, elas
ficam cheias de vida e duram mais. Se mexermos muito, as flores perdem sua graça
natural, o que não acho bom. Assim, quando vamos vivificá-las, devemos,
primeiramente, imaginar como iremos fazê-lo, para depois cortá-las e fixá-las
rapidamente. Isso porque, tal como os seres vivos, quanto mais mexermos, mais
fracas elas ficam. Esse princípio também se aplica ao homem. Com os pais, por
exemplo: quanto mais cuidados tiverem na criação dos filhos, mais fracos eles serão.
Como vivifico as flores dessa maneira, minhas vivificações duram mais do que o dobro
do normal, e todos se admiram. Em geral não se usa bambu e bordo - certamente
porque não duram muito - mas eu gosto de vivificá-los, e eles sempre duram de três a
cinco dias; às vezes o bambu dura mais de uma semana, e o bordo, quase duas. Além
disso, qualquer que seja a flor, não mexo em seus cortes, deixando-as ao natural.
5 de agosto de 1953 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
FELICIDADE
Em todos os tempos, o ser humano aspirou à felicidade, primeiro e último objetivo do
homem e meta de todo preparo, esforço e aperfeiçoamento. Mas quando poderão as
criaturas consegui-la de fato? A maioria, não obstante ansiar pela felicidade,
permanece vítima das desgraças e deixa este mundo antes de desfrutar a alegria de
vê-la concretizada.
Será, então, a felicidade algo tão difícil de se conseguir? Devo dizer que não. A
felicidade baseia-se na eliminação de três fatores principais: doença, pobreza e
conflito. Como essa eliminação não é fácil, a maior parte das pessoas submete-se a
uma forçada resignação.
Tudo se enquadra dentro da Lei de Causa e Efeito, e a felicidade não foge a essa lei.
Descobrir sua causa será, pois, descobrir a chave do problema. A solução da incógnita
está na compreensão do amor altruísta. Lutar pelo bem-estar do próximo é a condição
essencial para nos tornarmos felizes. O mundo, entretanto, está repleto de pessoas
que buscam a felicidade apenas para si, indiferentes à desgraça alheia.
É uma tolice almejar a felicidade semeando a infelicidade. É como a água de um
recipiente: se a empurramos, ela volta; se a puxamos, ela se afasta. A necessidade da
Religião reside nesse ponto. O amor pregado pelo cristianismo e a caridade búdica
têm por propósito infundir a fraternidade no coração humano. Contudo, essa verdade
tão simples é difícil de ser reconhecida pelo homem.
Deus, por meio de Seus representantes, criou as religiões, que por sua vez
estabeleceram doutrinas, através das quais são indicadas as bases do viver. São as
religiões que nos ensinam a existência de um Ser Invisível, para, com a mais pura
intenção, conduzir-nos ao caminho da Fé. Não é pequeno o empenho requerido para
salvar uma pessoa. A vida, realmente, não tem sentido para a maioria, que, não sendo
ensinada a crer no invisível, parte para o Além indiferente aos ensinamentos,
ludibriada e perdida nas trevas. Todavia, para os que souberem desfrutar da alegria de
viver, extasiar-se com as verdades, conseguir vida longa e o meio de serem
verdadeiramente felizes, o mundo será, sem dúvida, um paraíso digno de ser vivido.
Nós afirmamos que, para nos tornarmos felizes, há um caminho cujo rumo está
indicado neste livro, apresentado com tal propósito.
1º de dezembro de 1948 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
SEGREDO DA FELICIDADE
BOM SENSO
Para que a Fé seja autêntica, ela deve ser professada sem ferir o bom senso. Palavras
e atos excêntricos devem ser vistos com desconfiança; entretanto, as pessoas
geralmente dão muito crédito a tais coisas.
É preciso muita cautela. Religiões egocêntricas, fechadas, que não mantêm relações
com outras e que se isolam socialmente, também não são dignas de confiança. A Fé é
verdadeira quando não prejudica a lucidez e, ao mesmo tempo, desenvolve a
consciência de que sua missão é salvar a humanidade. Jamais pode ser egoística ou
fechada em si mesma. O Japão é exemplo típico do que aqui se condena: sofreu
amarga derrota na Segunda Guerra Mundial porque visava apenas o seu próprio bem,
ficando indiferente à sorte dos países vizinhos.
A formação de homens perfeitos é um dos propósitos da Fé. Evidentemente, não se
pode exigir a perfeição do mundo, mas o esforço para consegui-la passo a passo deve
ser a verdadeira atitude religiosa.
A consolidação da Fé faz com que a pessoa assuma uma aparência comum. Isto
significa que ela se identificou plenamente com a Fé. Chega a tal ponto, que seus atos
ou palavras jamais ferem o bom senso. Sempre inspira simpatia, sem dar indícios da
religião a que pertence. No seu contato com os outros, assemelha-se à suave brisa da
primavera. Suas maneiras são afáveis, modestas e gentis. Deseja crescente bem ao
próximo e trabalha em favor do bem-estar da comunidade.
Sempre afirmei e continuo afirmando: quem deseja ser feliz, deve primeiramente tornar
feliz seus semelhantes, pois a Divina recompensa que disto provém, será a Verdadeira
Felicidade. Buscar a própria felicidade com o sacrifício alheio, é criar infelicidade para
si mesmo.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
FÉ É JUSTIÇA
Que é Religião?
Religião, evidentemente, não é uma interpretação complicada de doutrinas e filosofias
religiosas. Seu objetivo é a formação de homens perfeitos. Estas palavras tão simples
resumem a resposta, mas na prática isso é difícil de realizar. É exatamente como disse
Confúcio (552-479): "Falar é fácil; fazer é que é difícil."
Vou explicar qual é a dificuldade.
A maioria das pessoas pensa que ninguém consegue fama ou riqueza apenas com
honestidade, julgando inevitável a utilização de alguns meios ilícitos. Além disso,
quase todos preferem os maus divertimentos aos bons. Esse falso critério prevaleceu
durante milhares de anos e acabou se transformando em senso comum. Embora
houvesse muitas tentativas por parte da lei e da educação moral visando a melhorar a
sociedade, os resultados foram insignificantes.
A Religião é o último recurso que possuímos; entretanto, devemos considerar que a
diferença de força, no campo religioso, influi enormemente. Uma religião de pouco
poder não consegue vencer o mal. Eis por que seus seguidores também não
conseguem deixar de agir erradamente. Torna-se, pois, necessário o aparecimento de
uma poderosa religião capaz de vencer o mal. Só assim teremos um mundo
harmonioso e uma boa sociedade. Isso é o que chamamos de Justiça aliada à Fé.
3 de junho de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
VERDADEIRA FÉ
INCORPORAÇÃO E ENCOSTO
FÉ MESSIÂNICA
Tudo, na vida humana, principalmente a nossa fé, tem de ser versátil ("enten-
katsudatsu"), livre e desimpedido ("jiyu-mugue"). "Enten" significa "a roda gira". Se a
roda possui arestas, não pode girar. Com muita razão se diz: "Aquela pessoa perdeu
as arestas porque sofreu muito."
Entretanto, mais do que possuir arestas, existem pessoas que se assemelham ao
"konpeito" (doce cheio de ângulos). Ao invés de rodarem, vivem se enroscando em
toda parte. Há outras que sofrem dentro do próprio molde por elas criado, o que é
desculpável, quando se limita a elas próprias; mas há quem considere boa ação
atormentar o próximo, encurralando-o dentro desse molde.
Os exemplos que citamos são característicos da fé "Shojo" e não se limitam à Religião.
A vida dessas pessoas cheira a mofo e causa náuseas.
"Jiyu-mugue" significa "não criar formas, normas e mandamentos" e, por extensão,
"ser completamente livre de todas as limitações". Devo lembrar-lhes que não se trata
de anarquia, e sim, da liberdade que respeita a liberdade alheia.
Sendo "Daijo", a Fé Messiânica difere muito da fé "Shojo", cujos preceitos são tão
rigorosos que ela própria não consegue cumpri-los. Eles são cumpridos apenas
superficialmente, não na sua essência. Essa duplicidade de ação gera fracasso e, ao
mesmo tempo, constitui um mal, porque dá origem à hipocrisia. Assim sendo, as
pessoas de fé "Shojo" são aparentemente boas, mas interiormente ruins. Ao contrário,
as de fé "Daijo" sentem-se mais livres, alegres, sem necessidade de camuflagem,
porque sabem respeitar a liberdade humana; nelas, a hipocrisia não tem lugar. Esta é
a verdadeira e grata Fé Messiânica.
Em outras palavras, as pessoas de fé "Shojo" sofrem de mania de grandeza, tornam-
se megalomaníacas, porque caem, sem querer, na hipocrisia. Isso as torna
insuportáveis e antipáticas. Além disso, elas diminuem-se, ao invés de engrandecer-
se. Chamamos de "homem limitado" a esse tipo de pessoa.
Na ocasião de levantar alguma construção, por exemplo, divirjo sempre do operário
que se preocupa somente com a beleza exterior. Como isso, de certo modo, causa má
impressão, faço-o corrigir as suas falhas. O mesmo se aplica aos homens. Os que
procuram ser modestos, são sempre mais respeitados, porque parecem mais nobres.
Portanto, os que professam a nossa Fé, devem tornar-se alvo de um respeito sincero.
20 de abril de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ESPÍRITO DE "IZUNOMÊ"
Já expliquei, inúmeras vezes, o que significa espírito de "Izunomê". Vejo, porém, que é
difícil praticá-lo, pelas poucas pessoas que o conseguem realmente. Na verdade não é
tão difícil. Se conhecermos e assimilarmos o seu fundamento, não haverá dificuldades.
A idéia preconcebida de que é difícil é que tolhe a ação. Ao mesmo tempo, como me
parece que ainda não deram muita importância ao assunto, sou levado a escrever
repetidas vezes sobre ele.
Em síntese, "Izunomê" significa "princípio imparcial", isto é, manter-se sempre no
centro. Não é "Shojo" nem "Daijo": é Shojo e Daijo simultaneamente, ou seja, significa
não tender aos extremos, nem decidir-se de maneira impensada.
Naturalmente não podemos fugir à decisão de determinadas questões, mas a
dificuldade está no julgamento. O espírito de "Izunomê" assemelha-se à arte culinária:
o alimento deve ser temperado na justa medida - nem doce, nem salgado. Assemelha-
se também ao clima - nem quente, nem frio. É o clima agradável da primavera e do
outono. Se os homens adotassem esse espírito e agissem de acordo com ele, seriam
estimados por todos e tudo lhes correria bem. Entretanto, os homens de hoje mostram
acentuada tendência ao radicalismo. Temos o melhor exemplo na Política. Os políticos
professam princípios radicais, denominando-os de partido direitista ou esquerdista.
Como esses pensamentos estão associados à obstinação, eles vivem em conflitos. E
tudo isso prejudica grandemente o país e o povo.
O método "Izunomê" deveria ser adotado na Política; contudo, há pouca probabilidade
de aparecerem políticos ou partidos que tenham consciência disso. A guerra origina-
se, também, do choque gerado pela imposição de princípios extremistas.
Verificamos, através de pesquisas, que os conflitos religiosos também surgem de
"Shojo" e "Daijo", isto é, da diferença entre o sentimento e a razão. Nesse caso, deve-
se estabelecer a união encurtando a linha perpendicular e a horizontal pela metade, o
que significa uma solução pacífica. Assim, não é difícil entrar-se em entendimento.
A propósito desse assunto, podemos observar que sempre há conservadores e
renovadores em todos os setores, mesmo no religioso. O primeiro grupo compreende
os velhos crentes, aferrados à tradição, os quais detestam as novidades; o segundo
compreende os progressistas, que, tendendo ao extremismo, desprezam tudo que é
antigo. Daí surge a discussão, a causa do conflito, que poderia ser facilmente resolvida
pelo método "Izunomê".
A Religião, também, exige um profundo conhecimento da época. Todavia, os religiosos
são indiferentes a esse ponto, demonstrando forte inclinação para considerar a
tradição milenar como um código de ouro. Sendo a Fé algo espiritual - a Verdade
absoluta e eterna - não é possível modificá-la. Mas o mesmo não se aplica ao setor
administrativo. Este corresponde à parte material da Religião e deve acompanhar as
mudanças da época.
O que acabamos de dizer implica numa perfeita ação espírito-matéria, ou seja,
devemos agir sempre de acordo com o método "Izunomê". Assim, é escusado repetir
que não se conquista a alma do homem moderno praticando fielmente métodos
antiquados. O essencial é compreender que a ação de "Izunomê" é a verdade
fundamental de todas as coisas. Desejo que os fiéis tenham profunda consciência
dessa verdade, e por isso estou sempre pregando o espírito de "Izunomê".
25 de abril de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
TIPOS DE FÉ
Volto a ventilar o assunto de que o homem foi criado para construir o Mundo Ideal
planejado por Deus. E ele só trabalhará com saúde, sem desgraças, em ambiente
satisfatório, se conseguir identificar-se com este objetivo Divino. Eis a Verdade Eterna.
O ser humano carrega não só as suas próprias máculas, como as de sua raiz familiar.
Além disso, mesmo sem saber, ele absorve substâncias tóxicas, aumentando,
inevitavelmente, o número de suas enfermidades. Ora, a existência de pessoas
doentes e, conseqüentemente, inúteis para a Obra Divina, constitui um prejuízo para
Deus. Por isso, é lógico que Ele deseje curá-las; nem precisaríamos preocupar-nos
com o assunto. No entanto, os que ignoram esse aspecto, julgam que os remédios
sejam o único recurso contra as doenças, e nada mais fazem que reprimi-las. Assim,
desconhecendo a Lei de Identidade Espírito-Matéria, jamais poderão obter a cura
integral.
Os males que decorrem da ignorância humana, não se restringem às questões de
saúde. Todas as desgraças têm o mesmo caráter e destinam-se à purificação do
homem. O processo purificador, no entanto, muda seu tipo de ação de acordo com a
causa do mal.
Os pecados de furto, peculato, prejuízo ao próximo, luxo excessivo e outros, são
redimidos com perda de dinheiro e de bens materiais. O farrista que esbanja a herança
familiar está redimindo as máculas de seus pais e de seus antepassados. O espírito de
um antepassado escolheu um descendente para que, por seu intermédio, se processe
a purificação e a preservação do sangue da família, a fim de que ela venha a progredir
no futuro. Nessas circunstâncias, não há conselho que surta efeito. Pode ocorrer o
caso de dois irmãos com índoles diferentes: um é incorrigível e malvado; o outro é leal
e honesto. Aparentemente, o primeiro é mau e desonra o nome da família. Mas, à luz
da Verdade, purificando a família e eliminando as máculas dos antepassados, sua
missão assume maior importância que a do outro. Por essa razão, é dificílimo definir o
bem e o mal usando critérios humanos.
Incêndios, roubos, falsidade, perdas na Bolsa, falências comerciais, apostas inúteis,
gastos com doenças, etc., são formas materiais de redenção de máculas também
adquiridas materialmente. Portanto, embora possa fugir às sanções das leis humanas,
ninguém escapa das leis eternas.
O pecado de enganar ou ludibriar os olhos humanos será redimido,
conseqüentemente, pelos males da vista; aquele que se comete através da palavra,
provocará doença dos ouvidos ou da língua; torturar a mente do próximo causará
dores de cabeça; o uso dos braços apenas para benefício próprio, será fonte de
padecimento nos braços. A purificação ocorre de acordo com o princípio da
concordância.
Também o ingresso na Fé produz sofrimento, e este será tanto mais profundo, quanto
maior for a dedicação. O motivo é que Deus quer beneficiar a pessoa como
recompensa pela sua dedicação, e para isso é necessário eliminar suas máculas
espirituais, a fim de que ela possa receber Suas Graças. Suportando as purificações
sem vacilar, a pessoa receberá benefícios inesperados. Entretanto, quem não possui
firmeza de fé, vacila nesses momentos decisivos.
Vou lhes falar de minha experiência sobre o assunto.
Durante vinte anos sofri em virtude de dívidas aparentemente insolúveis. Finalmente
consegui saldá-las em 1941. Foi um alívio! No ano seguinte, começaram a chegar-me
riquezas inesperadas, e assim me surpreendi com a profundidade da Vontade Divina.
É habitual ouvirmos comentários como este: "Fulano ficou rico após o incêndio". Isso
nada mais é que uma conseqüência da purificação. Podemos dizer o mesmo em
relação ao incêndio de Atami. Se compararmos a atual cidade com o que ela era antes
da catástrofe, veremos que a diferença é surpreendente.
Concluímos que, se os bons acontecimentos são apreciáveis, os maus também nos
trazem benefícios, pois são purificadores, e que haverá verdadeira paz sempre que
soubermos agradecer, tanto na saúde como na enfermidade. Mas isto se limita aos
que têm fé. Com os descrentes ocorre o contrário: o sofrimento gera o sofrimento, a
ansiedade piora a situação, e tudo caminha para o abismo.
O segredo da felicidade humana consiste em aceitar esta verdade.
2 de dezembro de 1953 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
O PECADO E A DOENÇA
No setor da Religião, muito se tem falado sobre a relação entre o pecado e a doença.
Essa relação é um fato, mas vou falar sobre o assunto do ponto de vista da Ciência
Espiritual.
Como explanei anteriormente, na medida em que a pessoa tem maus pensamentos e
persiste na prática do mal, suas máculas vão aumentando. Quando atingem certa
densidade, surge o processo purificador natural, para a sua eliminação. É uma lei do
Mundo Espiritual e, por conseguinte, a ela ninguém consegue escapar. Essa
purificação, na maioria das vezes, manifesta-se em forma de doença, mas há ocasiões
em que toma outra forma. Existem, pois, diferentes aspectos de desgraças. Na
matéria, as máculas correspondem à acumulação de toxinas. Entretanto, a
enfermidade de origem espiritual, ocasionada pelo pecado, é difícil de se curar e exige
muito tempo. Doenças como a tuberculose, a osteoporose, o câncer etc., que
apresentam sintomas persistentes e obstinados, contam-se entre esses casos.
Há dois meios para se redimir o pecado: sofrer ou praticar o bem. Escolhendo este
último, tudo será muito mais fácil. Como exemplo, vou contar uma estória ocorrida na
época em que eu estava pesquisando a religião Tenri-kyo.
Um rapaz que sofria de tuberculose pulmonar e fora desenganado, ingressou na
referida religião. Pensando na prática de uma boa ação, decidiu fazer a limpeza do
escarro expectorado por outras pessoas nos passeios da cidade. Decorridos três anos,
durante os quais fez isso todos os dias, o rapaz estava completamente recuperado; a
doença tinha desaparecido sem deixar o menor vestígio.
A estória que se segue é famosa.
O Sr. Yamamoto Tyogoro, mais conhecido pela alcunha de Shimizu no Jirotyo,
encontrou-se com um sacerdote budista de alta categoria, o qual lhe disse: "Sua face
está marcada pelo estigma da morte. Será difícil o senhor viver mais de um ano".
Conformado, Jirotyo doou todos os seus bens para obras filantrópicas, entrou num
templo budista e ficou aguardando.
Passaram-se dois anos, mas nada de extraordinário aconteceu. Ele estava muito
zangado e, tendo casualmente encontrado o mesmo sacerdote, pensou em repreendê-
lo severamente. Entretanto, foi o religioso quem falou em primeiro lugar: "Que coisa
estranha... O estigma da morte que havia em sua face quando eu o encontrei naquele
dia, desapareceu completamente. Deve haver alguma razão profunda para isso".
Então Jirotyo contou o que fizera, ao que o sacerdote budista disse: "O ato de caridade
que o senhor praticou transformou sua morte em vida".
Aplicando esse princípio à nossa realidade atual, compreende-se que o sofrimento da
maioria do povo japonês, em conseqüência da derrota do Japão na Segunda Guerra
Mundial, não é senão o processo de purificação decorrente da invasão a outros países
durante longo tempo, e da exploração e matança de outros povos.
5 de fevereiro de 1947 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
É realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria. Isto acontece
porque o coração agradecido comunica-se com Deus, e o queixoso relaciona-se com
Satanás. Assim, quem vive agradecendo, torna-se feliz; quem vive se lamuriando,
caminha para a infelicidade.
A frase "Alegrem-se que virão coisas alegres", expressa uma grande verdade.
3 de setembro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Já falei a respeito do Johrei como transmissão da Luz Divina, mas darei agora uma
explicação mais profunda.
O corpo espiritual do homem possui a mesma forma do corpo carnal; a única diferença
é que no corpo espiritual existe aquilo que denominamos "aura".
O corpo espiritual irradia incessantemente uma espécie de ondas de luz. É como se
fosse a veste do corpo espiritual, daí a denominação "aura". Sua cor é geralmente
branca, porém, conforme a pessoa, poderá ser amarelada ou roxa. Também há
diferença de largura: normalmente tem cerca de três centímetros, mas no enfermo é
fina; à medida que a enfermidade se agrava, a aura vai afinando cada vez mais, e na
hora da morte desaparece. A expressão popular "Fulano está com a sombra da morte
na face" justifica-se pela percepção de que a aura de pessoas nesse estado é quase
inexistente. Nas pessoas saudáveis, ao contrário, ela é larga. Essa largura torna-se
ainda maior nos virtuosos, cujas ondas de luz também são mais fortes; nos heróis, a
aura é mais larga do que nas pessoas comuns; nas personalidades ilustres do mundo,
é ainda mais, sendo extraordinariamente larga nos homens santos.
Entretanto, a largura da aura não é fixa; varia constantemente, de acordo com os
pensamentos e atos da pessoa. Quando esta pratica ações virtuosas, baseada na
justiça, sua aura é larga; em caso contrário, é fina. As pessoas de sensibilidade
comum em geral não conseguem enxergar a aura, mas existe quem o consiga. Mesmo
aquelas, se observarem atentamente, poderão vislumbrá-la.
A largura da aura tem relação direta com o destino do homem. Quanto mais larga ela
for, mais feliz ele será. Os que têm aura larga são mais calorosos, causam uma boa
impressão e atraem muitas pessoas, porque as envolvem com sua aura. Ao contrário,
aqueles cuja aura é fina, causam uma impressão de frieza, desagrado e tristeza, e
temos pouca vontade de permanecer em sua companhia.
Em face do que dissemos, o esforço para aumentar a largura da aura é a fonte da
felicidade. Mas de que forma devemos agir? Antes de responder a essa pergunta,
darei uma explicação sobre a natureza da aura.
Já sabemos que todos os pensamentos e atos humanos se subordinam ao bem ou ao
mal. A largura da aura também é proporcional à soma do bem ou do mal. Isto significa
que, na ocasião em que a pessoa pensa ou pratica o bem, surge-lhe o sentimento de
satisfação na consciência, o qual se transforma em luz e soma-se ao seu corpo
espiritual, aumentando-lhe, assim, a luminosidade; ao contrário, o mal transforma-se
em máculas, que também se acrescentam às já existentes no corpo espiritual da
pessoa. Ao mesmo tempo, quando se faz o bem, a gratidão do beneficiado torna-se
luz, e esta, através do elo espiritual, é transmitida para o praticante do bem,
aumentando-lhe, conseqüentemente, a luz; em contraposição, pensamentos de
vingança, ódio, inveja, etc., transformam-se em máculas, que são transmitidas à outra
pessoa pelo elo espiritual, somando-se às que ela já possui. Sendo assim, é
importante que o homem pratique o bem, alegre o próximo e dele jamais receba
pensamentos como os que mencionamos.
O fracasso e a ruína daqueles que rapidamente conseguiram fortuna ou posições
elevadas têm origem no que acabo de expor. Atribuindo a causa do sucesso à sua
capacidade, inteligência e esforço, a pessoa cai na presunção e na vaidade, torna-se
egoísta e arrogante, vive uma vida de luxo, passando a ser alvo de sentimentos
geradores de máculas. Em conseqüência disso, a sua aura vai perdendo luz e
afinando, e acaba sobrevindo a ruína. Esse é o fim de muitas famílias nobres e de
muitos milionários. Socialmente, ocupam posição superior e recebem da sociedade e
do País os favores correspondentes a essa posição, razão pela qual deveriam retribuí-
los adequadamente, isto é, fazendo o bem em abundância. Dessa forma, suas
máculas estariam sendo eliminadas constantemente. A maioria das pessoas,
entretanto, só pensa em proveito próprio; em decorrência disso, avolumam-se-lhes as
máculas e o seu espírito desce a um nível muito baixo, apesar de conservarem as
aparências. Por fim, pela Lei do Espírito Precede a Matéria, essas pessoas acabam
arruinadas.
Um pouco antes do grande terremoto ocorrido em 1923 na Região Leste, o qual
arrasou Tóquio, um vidente me disse que, ao invés da cidade de prédios grandes e
magníficos, vira uma cidade cheia de casebres. E qual não foi a minha surpresa, ao
constatar que realmente a cidade ficara como ele havia visto!
Ainda podemos citar outro exemplo. Refere-se ao industrial americano John D.
Rockfeller (1839-1937) e ocorreu quando ele era jovem e ainda não havia acumulado
sua fabulosa fortuna. Rockfeller tinha começado a trabalhar numa loja e, baseado no
conceito de que o homem deve fazer o bem, começou a dar donativos para uma
igreja. Inicialmente dava cinco centavos por semana, mas, conforme o aumento de sua
renda, foi aumentando o donativo, até que acabou instituindo o famoso Rockfeller
Research Center. Ele registrava as quantias doadas no verso de uma caderneta que,
segundo dizem, é considerada tesouro familiar.
Falam, também, que Andrew Carnegie (1835-1919), fundador da Bethlehem Steel
Corp., a maior firma do gênero na América do Norte, fez prevalecer, quando morreu, a
tese que sempre defendera, destinando a obras de assistência social quase toda a sua
fortuna, avaliada em bilhões de dólares. Para o seu herdeiro deixou apenas um milhão
de dólares e educação universitária garantida. A propósito, o grande psicólogo alemão
Hugo Munsterberg (1863-1916) elogia os milionários que não deixam heranças.
Só em 1903, segundo dizem, as doações de milionários americanos a universidades,
bibliotecas e institutos de pesquisas somaram mais de dez milhões de dólares, sendo
que as doações anônimas teriam superado várias vezes essa quantia. Logo após a
Primeira Guerra Mundial, Andrew Carnegie doou uma quantia muito elevada à
International Peace Foundation, e com uma parte dessa importância a Ciência e a
Educação na Alemanha foram grandemente beneficiadas. A edição de volumosa obra
de pesquisa - a primeira do mundo - sobre guerra e crime, realizada por uma equipe
de mestres liderada pelo professor Lipmann (1857-1940), foi possível graças a essa
ajuda, e dizem ser inestimável a contribuição que ela trouxe para a felicidade mundial.
Ao pensar em tais fatos, posso compreender por que os Estados Unidos prosperaram
tanto. Os grandes grupos econômicos do Japão, entretanto, foram excessivamente
egoístas, e julgo que a isso se deva sua queda, e nunca a uma coincidência.
Quanto mais fina é a aura, mais sujeita está a pessoa a infelicidade e desastres. A
razão é que, em virtude das máculas, o intelecto fica entorpecido, o raciocínio falha, a
força de decisão diminui, e não se pode ter uma previsão correta das coisas; por
conseguinte, a pessoa se impacienta, pois deseja o sucesso rápido. Tais criaturas
podem conseguir sucesso passageiro, mas nunca duradouro. Nesse sentido, se a
política de uma nação é ruim, é porque a aura de seus governantes é fina, assim como
também a do povo, que sofre as conseqüências dessa má política.
Aqueles que têm grande quantidade de máculas geralmente passam por muitas
purificações; facilmente são vítimas de doenças ou acidentes. Quem sofre acidente de
trânsito é porque tem aura fina; quem tem aura espessa, em qualquer situação livra-se
do perigo. Por exemplo, na iminência de alguém ser apanhado por um veículo, o
espírito deste se chocará com a pessoa se ela tiver aura fina, mas não ocorrerá o
choque se a sua aura for espessa. Nesse caso a pessoa é arremessada para longe e
nada sofre, graças à elasticidade da sua aura.
Refletindo sobre o princípio aqui exposto, podemos concluir que o único meio para nos
tornarmos felizes é aumentarmos a espessura da nossa aura praticando o bem.
Existem criaturas que se resignam diante da má sorte; elas me causam pena, pois não
conhecem esse princípio. Também, quanto mais espessa for a aura dos ministros
desta Igreja, mais pessoas eles salvarão, e, quanto mais pessoas salvarem, mais
agradecimentos receberão, o que fará aumentar a espessura de sua aura.
Simultaneamente, melhores serão os resultados do seu trabalho de difusão. Tenho
muitos discípulos assim.
5 de fevereiro de 1947 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
DEUS É JUSTIÇA
Não deixa de ser estranho falar, agora, que Deus é Justiça. Mas insisto nesse ponto
porque não só o povo, mas também os fiéis e os ministros geralmente tendem a
esquecê-lo.
Embora a nossa Igreja se dedique especialmente à prática da justiça e do bem, há
alguns fiéis que se desviam do caminho certo e vagueiam sem rumo. Nessas ocasiões
- torno a insistir - se eles desprezarem o sinal de advertência enviado por Deus,
poderão sofrer terríveis conseqüências.
No início, sensíveis e agradecidas às graças e milagres recebidos, as pessoas se
mostram devotadas, fervorosas na fé. Desde que esta seja sincera, as graças se
fazem evidentes, o que torna essas pessoas respeitadas por todos. Como também são
beneficiadas materialmente, na verdade elas deveriam sentir-se ainda mais gratas e
dedicadas; entretanto, longe de pensarem na retribuição, muitas se acostumam com
as graças, tornando-se orgulhosas e vaidosas. Os espíritos do mal, que estão sempre
vigilantes, aproveitam essa oportunidade para conquistá-las, e começam a controlá-las
a seu bel-prazer. Isso é realmente alarmante.
Satanás espreita principalmente as pessoas ambiciosas e fúteis. Sendo ele impotente
contra a verdadeira fé, não há perigo para quem a possui. Isso se evidencia pela
presença ou ausência de egoísmo. O homem que vive somente para Deus e a
humanidade, sem pensar nos seus próprios interesses, não é atingido por Satanás. No
entanto, quando as coisas começam a correr bem, ele pode tornar-se pretensioso,
julgando ser um grande homem. Aí é que está o perigo, pois surge a ambição, e
quanto mais ambicioso se torna o homem, mais ele procura engrandecer-se e mais
poderes deseja conquistar. O fato é alarmante. Quando isso acontece, Satanás
penetra no espírito da pessoa e acaba por dominá-la. É um poder passageiro;
entretanto, como ocorre a cura de doenças e outros milagres, a vaidade é mais
instigada ainda, chegando o vaidoso a se julgar a encarnação de alguma divindade.
Trata-se de uma tendência que pode ser claramente distinguida observando-se com
atenção as atividades das religiões fundadas por esses pseudodeuses. Algumas se
caracterizam pelo escasso amor e pela fé "Shojo", regida por preceitos extremamente
rigorosos. Os que não obedecem a eles, vêem-se ameaçados de castigo, destruição
ou morte, caso abandonem o grupo ou a Fé. São religiões ameaçadoras, que
procuram impedir o desmembramento de sua organização. Se uma religião apresentar
esses indícios, pode ser julgada como de caráter diabólico.
Torno a dizer que a fé verdadeira é "Daijo", liberal; portanto, nada impede que seja
seguida ou abandonada. Além disso, ela é celestial, alegre e ativa, revelando vida. A
religião que exige uma fé rigorosa e dogmática, age com heresia, é infernal. Devem
acautelar-se principalmente quando houver o mínimo de segredo que seja. Se uma
religião disser, por exemplo: "Isso não pode ser dito aos outros, mas...", podem ter
certeza de que ela é herética. A religião correta e autêntica é a própria imagem da
clareza, sem nenhum indício de sigilo ou mistério.
18 de março de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
POSSUA FÉ UNIVERSAL
MINHA NATUREZA
OSTENTAÇÃO RELIGIOSA
Todos que vêm a mim pela primeira vez, dizem a mesma coisa: "Antes de conhecê-lo,
eu pensava que o senhor fosse uma criatura pouco acessível, que sempre estivesse
rodeado de pessoas. Imaginava que, para dirigir-me ao senhor, deveria fazê-lo com o
maior protocolo. Foi com muito medo que resolvi visitá-lo, mas, ao contrário do que
esperava, tudo foi tão simples e fácil que fiquei surpreso."
Realmente, quando se trata de um fundador de religião ou de um chefe, a tendência
geral é pensar que eles vivem cercados de aparato. Em tempos passados, vários de
meus subordinados quiseram que eu procedesse dessa forma. Entretanto, eu não
sentia vontade alguma de agir assim e continuei a ser a pessoa simples que sempre
fui.
Muita gente deve estar curiosa, perguntando a si mesma por que eu não assumo uma
atitude ostentosa, comportando-me como se fosse um deus. Vou explicar a razão.
Talvez pelo fato de ter nascido em Tóquio, jamais gostei de exibicionismo. Como
detesto a falsidade, acho que aparentar aquilo que não sou e criar diversos aparatos é
uma forma de mentir; além do mais, à vista dos outros, pode ser até uma atitude
desagradável. Afinal de contas, o melhor é a pessoa se mostrar como realmente é.
Na posição em que me encontro, talvez fosse melhor eu ficar no fundo da nave, junto
ao altar, como um deus, e ali dar audiências, porque assim eu me valorizaria muito
mais. Não gosto disso, porém. Àqueles que não aprovam meu procedimento, eu
sempre digo que não precisam permanecer comigo. Todavia, com o passar do tempo,
como a realidade mostra a constante expansão da nossa Igreja, constato que o
número de pessoas que aceitam minha maneira de agir é cada vez maior, e isso me
deixa muito satisfeito.
Devo acrescentar que considero minha natureza muito diferente da de outras pessoas.
Detesto imitar o que os outros fazem. Esse é um dos motivos pelos quais não me porto
com ostentação. Quero ter sempre a aparência de pessoa comum. Agindo assim,
também estou quebrando a tradição geral, mas esta característica contribuiu muito
para que eu pudesse descobrir a forma revolucionária de curar todos os males: o
Johrei. Como os fiéis sabem, manifesto o poder de curar doenças através do Ohikari,
que confecciono escrevendo uma letra numa folha de papel, não diferencio Deus de
Buda, estou construindo o protótipo do Paraíso Terrestre, empenho-me na promoção
da Arte, evito a ostentação religiosa, etc. Se eu quisesse, poderia enumerar uma
infinidade de realizações minhas que realmente quebram a tradição. A propósito, dias
atrás, fui visitado por uma jornalista do Fujim Koron, que me disse ter ficado
surpreendida ao chegar à entrada da Sede Provisória e não ver nenhum aparato que
lembrasse uma Igreja. Ela achou muito estranho. Daqui por diante pretendo realizar
uma intensa atividade religiosa em todos os campos da sociedade, mas de forma
absolutamente inédita.
13 de maio de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
FILOSOFIA DA INTUIÇÃO
Quando jovem, fui simpatizante da teoria de Henri Bergson, o eminente filósofo francês
(1859-1941). Ainda me lembro dessa teoria e vou expô-la, nesta oportunidade, por
considerá-la de grande proveito do ponto de vista religioso.
Segundo minha interpretação, a filosofia de Bergson baseia-se nestes três princípios:
"Todas as coisas se movem", "Teoria da Intuição" e "O eu do momento". Dentre eles, o
que mais me impressionou foi a "Teoria da Intuição", a qual diz o seguinte: "É algo
dificílimo ver as coisas exatamente como elas são, captar o seu verdadeiro sentido,
sem cometer o mínimo engano." Estudemos o porquê dessa afirmativa.
Os conceitos formados pela instrução que recebemos, pela tradição, pelos costumes,
etc., ocupam o subconsciente humano formando como se fosse uma barreira, e
dificilmente o percebemos. Tal "barreira" constitui um obstáculo quando observamos
as coisas. Quando dizemos, por exemplo, que todas as religiões novas são
supersticiosas, heréticas ou falsas, devemos esse julgamento à "barreira", que está
servindo de estorvo.
Os homens de hoje, através dos jornais, das revistas, do rádio e dos comentários
públicos, constantemente tomam conhecimento de idéias e opiniões que concorrem
para aumentar e solidificar essa "barreira". Devido ao conceito de que as doenças só
podem ser curadas pela medicina, a realidade é deturpada quando ocorre um milagre:
dizem ser ação do tempo ou buscam mil explicações. Presenciamos tal fato com
freqüência.
A "Teoria da Intuição" encarrega-se de corrigir tais erros, comuns entre os homens.
Libertando-os, completamente, de preconceitos, ela os ensina a fazerem uma fiel
observação dos fatos. Para isso é necessário ser "o eu do momento", isto é, fazer com
que a impressão instantânea, captada pela intuição, corresponda à verdadeira
substância do objeto de observação. Caso presenciamos uma cura realmente
milagrosa, devemos crer, pois essa é a verdadeira observação. Se, ao contrário,
julgamos impossível que uma doença seja curada sem o auxílio de aparelhos ou
remédios, significa que estamos sendo bloqueados pela tal "barreira" de preconceitos.
Na hipótese de alguém acrescentar: "Isto é superstição, não pode ser verdade", é
porque a "barreira" do próximo está contribuindo para aumentar o obstáculo, e
devemos ficar de guarda contra isso.
O outro princípio - "Todas as coisas se movem" - significa que tudo está em eterno
movimento. Por exemplo: nós não somos os mesmos de ontem, nem mesmo o que
fomos há cinco minutos atrás; o mundo de ontem não é o mesmo de hoje. Isso
abrange também a sociedade, a civilização e as relações internacionais. Precisamos,
portanto, fazer uma observação fiel, isto é, uma observação clara, do homem e de
suas transformações.
Ao invés de modificarem seus pontos de vista e pensamentos, para acompanharem o
constante movimento evolutivo, as religiões antigas criticam as religiões novas,
servindo-se de conceitos religiosos milenares. Eis por que não conseguem ter uma
idéia exata a respeito delas.
Esta é a teoria de Bergson aplicada ao campo religioso.
30 de janeiro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
PRAGMATISMO
RELIGIÃO PRAGMÁTICA
Lendo o título acima, talvez os leitores nem façam idéia do que se trata. Com o que
escreverei a seguir, entretanto, compreenderão perfeitamente o que pretendo dizer: ler
os meus Ensinamentos é receber Johrei através dos olhos. Eis a explicação:
Todos os textos refletem o pensamento da pessoa que os escreveu; precisamos ter
plena ciência disso. Espiritualmente falando, significa que as vibrações espirituais do
escritor são transmitidas, através das letras, para o espírito do leitor. Como os meus
Ensinamentos representam a própria Vontade Divina, o espírito de quem os lê se
purifica.
A leitura pode exercer influência positiva ou negativa sobre a alma do leitor. É grande,
portanto, a influência exercida pela personalidade do escritor. Quer se trate de artigo
de jornal ou de obra literária, aconselho aqueles que os escrevem a pensarem muito,
mas isto não quer dizer que eu lhes esteja recomendando escreverem sermões.
Naturalmente, se a obra não for interessante, as pessoas não a lerão com prazer, e
por isso ela será inútil. É importante que o assunto atraia, fazendo os leitores se
sentirem presos a ele. Todavia, analisando a literatura da atualidade, a grande maioria
das obras nos faz pensar que os escritores se interessam apenas em vendê-las ou vê-
las adaptadas ao cinema, e, com isso, ganhar fama. Os textos não passam de um
amontoado de palavras; terminada a leitura, sentimos que deles nada se aproveita.
Em verdade, seus autores não passam de pretensos escritores. Tais obras poderiam
ser comparadas a pessoas vazias de conteúdo: podem ser famosos por algum tempo,
mas um dia cairão no esquecimento.
Quando observamos minuciosamente a sociedade atual, até nos assustamos com as
numerosas falhas que ela apresenta. Se quisermos tomá-la por tema, não nos faltarão
assuntos. Gosto muito de cinema, do qual sou freqüentador assíduo. Às vezes,
quando vejo filmes que apontam as falhas da sociedade, fico muito interessado e
contente, por saber que, de alguma forma, alguém pensa como eu; tenho até vontade
de reverenciar seus autores e produtores. Obras desse tipo nunca deixam de ser
reconhecidas pelo público, dando lucros vantajosos às livrarias e empresas
cinematográficas. É como matar dois coelhos de uma só cajadada.
26 de novembro de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Para divulgar a nossa Religião, utilizamos até agora o Johrei e as publicações. Daqui
em diante, também vamos difundi-la por meio de mesas-redondas e palestras em
auditórios, nas mais diversas localidades. À difusão através da visão e da cura de
doenças será acrescentado o método que alcança as pessoas pela audição. Utilizando
esses três meios, poderemos operar grandiosos resultados.
O novo método consiste em transmitir explicações orais sobre a Igreja, procurando
mostrar que se trata de uma religião realmente fora do comum. Entretanto, para que
nos compreendam, é necessário nós próprios termos profundo conhecimento sobre a
Fé que professamos. Só assim faremos com que os nossos ouvintes, conscientes de
que a Igreja Messiânica Mundial é de fato uma grande religião, tenham vontade de
ingressar nela.
Em tais ocasiões, muitos dizem que não sabem falar bem, ou coisas semelhantes,
mas esse é um pensamento errado, pois não é com belas palavras que atingimos o
coração do próximo. Como sempre digo, o que move as pessoas é a nossa
sinceridade. É com ela que atingimos o seu espírito, que despertamos a sua alma;
falar bem ou mal é um problema secundário. Todavia, para mover as pessoas com o
nosso ardor e sinceridade, precisamos ter muita compreensão, e para isso devemos
ler o mais possível os Ensinamentos, a fim de polir nossa inteligência.
Haverá muitas oportunidades em que nos farão perguntas às quais teremos de
responder com bastante clareza, pois, do contrário, as pessoas não ficarão satisfeitas.
Por mais difícil que seja a pergunta, precisamos dar uma resposta que elas aceitem.
Devemos ter o máximo cuidado para não lhes responder de forma evasiva, por falta de
conhecimento. Quando as pessoas vão se aprofundando muito, às vezes nós nos
esquivamos, dando uma resposta qualquer, o que não deve acontecer de maneira
nenhuma. Como seguidores de Deus que somos, não podemos usar do expediente de
mentir. Se não soubermos responder, devemos dizê-lo francamente. No entanto, pelo
receio de que, agindo assim, as pessoas nos menosprezem, costumamos fingir que
sabemos. Isso é péssimo. Nesse caso, os resultados são desastrosos. Se
confessarmos o nosso desconhecimento, as pessoas confiarão em nós, achando que
somos honestos e sinceros. Por mais inteligente que alguém seja, é impossível saber
tudo; portanto, não é nenhuma vergonha desconhecer alguma coisa.
Às vezes as pessoas me fazem perguntas sobre assuntos que estão bem claros nos
meus Ensinamentos. Isso acontece porque elas estão faltando com o dever diário de
os ler. Os Ensinamentos devem ser lidos tanto quanto possível; quanto mais o lerem,
mais os fiéis aprofundarão sua fé e elevarão seu espírito. Aqueles que negligenciam
sua leitura, vão perdendo a força gradativamente. Quanto mais sólida for sua fé, mais
a pessoa terá vontade de ler, e é bom que o faça repetidas vezes, até que os
Ensinamentos se fixem bem em sua mente. Na medida em que se lê, vai se
compreendendo mais claramente a Vontade Divina.
Aproveito a oportunidade para acrescentar algo com relação ao Johrei. Alguns
ministrantes, embora desconheçam a causa da doença, fazem de conta que o sabem.
Isso não deve ocorrer de maneira alguma. Tais pessoas, quando o doente não
consegue melhorar como elas desejam, dizem que o problema é de origem espiritual,
para fugirem da responsabilidade. Em verdade, é difícil determinar se a causa de uma
doença é espiritual ou material. Por princípio, o homem é uma unidade espírito-
matéria, portanto, no caso do Johrei, não existe essa distinção. Se o espírito melhora,
a matéria também melhora, e vice-versa. Por outro lado, quando o doente melhora
rapidamente, alguns acham que se trata de uma purificação comum; se acontece o
contrário, pensam que a causa é espiritual. Isso constitui um grande erro. É o mesmo
que um médico diagnosticar tuberculose quando não está conseguindo curar a
doença.
29 de novembro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
SINCERIDADE
Só a sinceridade é capaz de resolver os problemas dos indivíduos, do país e do
mundo. A deficiência política resulta da falta de sinceridade. A pobreza material e a
corrupção moral também têm a mesma origem. Enfim, todos os problemas são
gerados pela falta de sinceridade. Religião, Educação e Arte que não se alicerçam na
sinceridade, passam a representar meras formas sem conteúdo.
Homens, a chave de todos os problemas está na sinceridade.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
SINCERIDADE
Para sabermos se uma pessoa age com sinceridade ou não, temos um meio muito
simples: ver se ela respeita seus compromissos. Deixar de cumprir os compromissos,
parece - à primeira vista e em certos casos - coisa de pouca importância. Mas, na
verdade, significa enganar, e isso constitui uma espécie de pecado. Portanto, é
assunto que merece a máxima atenção.
Um dos compromissos mais sujeitos a ser desrespeitado é o que se refere ao horário.
Pensemos no que ocorre quando somos impontuais. A pessoa que nos espera sujeita-
se a todo tipo de aborrecimento e preocupações. Há um ditado que afirma: "É melhor
ser esperado do que esperar", mas pense de modo contrário. Devemos considerar o
estado de ânimo daquele que nos aguarda. Quem não o leva em conta, não é sincero,
e isso anula qualquer outra qualidade.
Como instrumentos de Deus, os messiânicos devem cumprir rigorosamente seus
compromissos e respeitar pontualmente os horários. Não serão aprovados na Fé os
que assim não procederem. Gravem isto na mente e jamais se esqueçam desta
advertência.
28 de janeiro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
EGOÍSMO E APEGO
Notamos que todas as pessoas manifestam em seu caráter dois traços irmãos -
egoísmo e apego - e que nos problemas complicados há sempre interferência desses
sentimentos.
Temos casos de políticos que acabaram na miséria porque o apego às posições os fez
perder a melhor oportunidade de se afastarem da vida pública. Eis um bom exemplo
da inconveniência do egoísmo e do apego.
Há industriais que, devido ao apego que têm ao dinheiro e ao lucro, irritam seus
fornecedores, prejudicando as transações comerciais. Momentaneamente, o negócio
se lhes afigura vantajoso, mas, com o tempo, mostra-se contraproducente.
Na vida sentimental, quem muito se apega geralmente é desprezado; muitas vezes os
problemas nesse terreno surgem do excesso de egoísmo.
O passado nos revela como os egoístas provocam conflitos e se atormentam, pelos
sofrimentos causados ao próximo.
Já dissemos que o principal objetivo da Fé é erradicar o egoísmo e o apego. Tão logo
me conscientizei disto, empenhei-me em exterminá-los. Como resultado, meus
sofrimentos se amenizaram e tudo corre normalmente em minha vida. Há um
ensinamento que diz: "Não sofra antecipadamente pelo que ainda não ocorreu, nem
pelo que já passou". São palavras de grande sabedoria.
A finalidade do aperfeiçoamento no Mundo Espiritual é a extinção do apego. A posição
do nosso espírito se eleva à medida que o apego se reduz.
No Mundo Espiritual, é raro que marido e mulher permaneçam juntos. A razão do fato
está na diferença da posição que o espírito de cada um alcançou. O convívio dos dois
só lhes será possível quando estiverem nivelados, como habitantes do Reino do Céu.
Entretanto, aqueles que alcançarem certo grau de aperfeiçoamento, terão licença de
se encontrar, embora estejam em camadas espirituais inferiores. Mas o encontro
durará apenas um instante, e a licença lhes será concedida pelas divindades que
superintendem os níveis em que eles estão situados. Não haverá permissão para que,
levados pela saudade, os cônjuges se abracem; à mínima intenção de teor mundano,
seus corpos ficarão rijos e perderão o movimento. Isso demonstra como o apego é
condenável.
A posição do espírito vai se elevando de acordo com a redução do apego, mediante o
aprimoramento no Mundo Espiritual. Sendo assim, o encontro de marido e mulher irá
sendo facilitado conforme eles forem subindo de nível.
Creio que, com o que acabamos de dizer, demos ao leitor uma clara noção da
diferença entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual.
Outro aspecto negativo do apego refere-se às pessoas que se mostram insistentes
quando convidam outras a participarem de sua crença, dando a impressão de serem
muito dedicadas. Isso não dá bom resultado. Impingir a Fé é um sacrilégio aos olhos
de Deus. Quem prega uma religião, só deve insistir se observar que o outro está
interessado. Se a pessoa não demonstra interesse, é melhor desistir e esperar o
tempo oportuno.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
DOMINE O "GA"
Na vida cotidiana do homem, não há coisa mais temível do que o "Ga" (eu, ego). Isso
pode ser bem compreendido se atentarmos para o fato de que, no Mundo Espiritual, a
eliminação do "ga" é considerada o aprimoramento fundamental.
Quando eu era da Igreja Omoto (###Religião nova, fundada por Nao Deguti ###),
encontrei, no "Ofudessaki" (###Ensinamentos escritos pela fundadora ###), as
seguintes frases: "Não há coisa mais temível do que o `Ga'; até divindades cometeram
erros por causa dele." E também: "Devem ter Ga e não devem ter Ga; é bom que o
tenham, mas não o manifestem." Fiquei profundamente impressionado, pela perfeita
explicação da verdadeira natureza do "Ga" em frases tão simples. É escusado dizer
que elas me induziram a uma profunda reflexão.
Havia, ainda, esta frase: "Em primeiro lugar, a docilidade." Achei-a extraordinária. Isto
porque, até hoje, para aqueles que seguiram docilmente os meus conselhos, tudo
correu bem, sem fracassos. Há pessoas que não são bem sucedidas por terem um
"Ga" muito forte. É realmente penoso ver os constantes fracassos decorrentes do
"Ga".
Como foi exposto, o princípio da Fé é não manifestar o "Ga", ser dócil e não mentir.
18 de fevereiro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ENTREGUE-SE A DEUS
SABOR DA FÉ
Cada coisa tem seu sabor. A matéria, o homem, a vida cotidiana com suas múltiplas
facetas, tudo, enfim, tem um sabor peculiar. Se excluirmos da vida o sabor, ela
perderá sua atração e o homem não terá mais vontade de viver.
No campo religioso também existem religiões que têm sabor e as que não o têm. Pode
parecer estranho, mas há religiões que despertam verdadeiro pavor. Nelas os adeptos
vivem sob o constante temor das divindades, aprisionados pelos dogmas, não gozam
da menor liberdade. A esse tipo de Fé, eu denomino "Fé Infernal".
O objetivo da Fé é alegrar a vida, dar-lhe tranqüilidade e permitir que se desfrute do
sabor de viver. Então as coisas da natureza se transfiguram: as flores, o vento, a lua, o
cântico dos pássaros, a beleza das águas e das montanhas passam a ser vistos como
dádivas de Deus para alegria das criaturas. E passamos a agradecer os alimentos, o
vestuário e a casa em que vivemos, considerando-os como bênçãos, e a simpatizar
com todos os seres, mesmo os irracionais e os inanimados. Sentimos que até o
pequenino verme da terra se acha próximo de nós... É o estado de êxtase.
A Religião deve levar o homem à despreocupação, que é o estado ideal. Se ele
enfrenta um problema, que aprenda a deixá-lo nas mãos de Deus, tão logo sejam
aplicados os recursos humanos para a sua solução. Eu procedo assim: aquilo que me
parece difícil e incompreensível, remeto aos cuidados do Absoluto - e dou tempo ao
tempo. Numerosas experiências minhas demonstraram que tal prática dá resultados
além dos esperados. Mais ainda: eles ultrapassam todos os desejos formulados. Por
isso, quando surge algo desagradável, confiando em Deus, eu logo admito que é
prenúncio de bons acontecimentos. Acho interessante quando compreendo, depois,
que o mal aparente determinou a vinda do bem. Então as preocupações se tornam
ridículas, sinto-me grato e percebo que minha vida é um contínuo milagre...
Eis o que chamo de maravilhoso Sabor da Fé.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
HONESTIDADE E MENTIRA
É melhor ser franco ou não ser franco? É claro que a franqueza é o melhor caminho.
Entretanto, as coisas não são tão simples assim. Há ocasiões em que precisamos ser
francos e outras em que não devemos sê-lo. As pessoas que conseguem distinguir tais
situações são consideradas inteligentes, ou sábias. Quando temos de escolher entre
uma situação e outra, devemos, tanto quanto possível, ter como norma a franqueza.
Todavia, se esta for totalmente impraticável, como, por exemplo, quando visitarmos
um doente desenganado, somos forçados a omitir a verdade. Ainda que estejamos
contrariando a nossa vontade, esse é o melhor procedimento. Na sociedade, existem
muitas pessoas de larga vivência que não gostam de usar de franqueza. Observando
o mundo, constato que essa é a causa de inúmeros fracassos. Todavia, é difícil
falharmos quando agimos de modo contrário.
30 de agosto de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Há muito tempo ouve-se dizer que as pessoas honestas saem perdendo. Entretanto,
refletindo profundamente, pergunto a mim mesmo se essas palavras não soam mal
para a sociedade e para os indivíduos. Sendo assim, ainda que pouco adiante afirmar
o contrário, pois os fatos parecem comprovar a veracidade daquela afirmação, minha
experiência me faz garantir que não existe nada tão falso. Vejamos.
Quando observamos minuciosamente a sociedade, notamos que existem duas
maneiras de ver as coisas: a curto prazo e a longo prazo. Em geral, os homens
tendem a julgar o bem ou o mal através de resultados momentâneos. Ao verem, por
exemplo, o sucesso obtido por pessoas desonestas que enganam o próximo ou
vendem gato por lebre, ficam deslumbradas e definem que os honestos sempre saem
perdendo. Mas é preciso que tais coisas sejam vistas a prazo mais longo, pois,
inevitavelmente, a farsa virá à tona e aquelas pessoas passarão por grandes vexames,
podendo-se até afirmar que acabarão arruinadas. Em contrapartida, ainda que por um
momento os honestos sejam mal interpretados, prejudicados ou colocados em posição
desvantajosa, com o passar do tempo, infalivelmente, a verdade será esclarecida. Vou
contar minha experiência a esse respeito.
É constrangedor eu falar de mim mesmo, mas desde jovem eu era muito honesto. Não
conseguia mentir de maneira alguma. Por isso, sempre me diziam: "Um rapaz honesto
como você nunca vai alcançar sucesso. Se você não mudar seu pensamento e não for
hábil no mentir, dificilmente será bem-sucedido na vida". Achando que essas palavras
eram sensatas, menti bastante durante algum tempo, mas não estava bem comigo
mesmo. Sentia uma angústia insuportável, minha vida se tornava sombria, meus dias
eram só de tristeza. Não havia, pois, condição para eu obter bons resultados nos meus
empreendimentos.
Naquela época, eu era comerciante, de modo que as "técnicas" de negociar deveriam
ser muito mais vantajosas para mim. Mas eu não conseguia me sair bem e acabei
decidindo voltar à honestidade, traço próprio de meu caráter. O engraçado é que,
depois disso, os resultados começaram a ser melhores do que eu esperava. Em
primeiro lugar, adquiri maior crédito no mundo dos negócios, as coisas passaram a se
processar num ritmo excelente e em pouco tempo consegui um grande capital. Com
isso, deixei-me levar pela corrente. Quando já tinha estendido demais a mão, deparei
com a crise do mundo econômico e decaí a ponto de não conseguir mais recuperar-
me. Foi isso que me fez abraçar a vida religiosa.
Entretanto, até hoje continuei seguindo os princípios da honestidade, da qual
determinei jamais me apartar. Obviamente, os resultados são ótimos. Durante um
período relativamente longo, houve ocasiões em que fui mal interpretado, criticado,
pressionado, enfrentando caminhos espinhosos, cheios de dificuldades, mas nunca
perdi a confiança das pessoas, o que ainda hoje atribuo, com toda convicção, à minha
honestidade.
Parece que os homens contemporâneos têm uma visão a curto prazo e se deixam
encantar por resultados momentâneos. É, pois, necessário que, diante de qualquer
situação, eles observem os fatos com os olhos voltados para a eternidade. Isso é
válido para todas as circunstâncias. Exemplifiquemos. Um político que força a situação
para conseguir o poder, não o reterá nas mãos por muito tempo. É o mesmo que
colher um caqui ainda verde, não esperando que ele amadureça e caia, e ficar
frustrado com a sua cica. Existe um ditado que diz: "Os grandes políticos pensam em
termos de cem anos; os políticos de nível médio, em termos de dez anos; os de nível
inferior, em termos de um ano". É exatamente assim. Entretanto, hoje em dia, por
infelicidade, parece que o número de políticos de nível inferior é bem maior.
O mesmo princípio se aplica à Agricultura Natural, por mim preconizada. Vemos que a
agricultura praticada até hoje conseguiu bons resultados com o uso de adubos, mas,
como os adubos corroem a terra, esta se torna cada vez mais pobre. Sem perceber
isso, as pessoas mostram-se deslumbradas com os resultados momentâneos. Por fim,
tanto a terra como o homem ficam intoxicados.
O princípio também é válido para a medicina atual. Durante algum tempo, os
medicamentos e os tratamentos através de aparelhos surtem efeito; pouco a pouco, no
entanto, surgem efeitos contrários e a pessoa piora. Sempre deslumbrada com os
resultados momentâneos, ela volta a utilizar o mesmo método e vai piorando cada vez
mais.
Meu objetivo, com esses exemplos, é chamar atenção para as conseqüências da visão
a curto e a longo prazo, a que me referi inicialmente.
20 de abril de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
O HÁBITO DA MENTIRA
Entre as várias espécies de hábitos, existe um, pouco percebido, que é o da mentira.
O homem moderno mente demais, baseando-se na idéia errônea de que será bem
sucedido. A maioria, acostumada a esse mau hábito, nem sequer toma consciência de
que está mentindo. Quando isso ocorre com os meus subalternos, costumo chamar-
lhes a atenção, mas muitos deles parecem ter perdido a noção da diferença entre a
verdade e a mentira. Só percebem haver mentido e pedem desculpas depois de eu
lhes ministrar uma lição bem clara a respeito. O hábito faz com que o povo moderno
se perca, incapaz de distinguir os limites entre a mentira e a verdade.
Deixarei de lado as mentiras inconseqüentes, que não merecem análise especial, para
cuidar das maiores, mais graves, por serem conscientes e premeditadas. Entre elas,
começaremos por analisar as mentiras proferidas pelos políticos. Estes, muitas vezes,
são censurados por deixarem de cumprir as promessas de uma boa política e
planejamento, feitas durante pomposas propagandas eleitorais. Há, também, muitos
parlamentares que desprezam os compromissos assumidos com os seus eleitores,
julgando essa atitude perfeitamente normal. Existem educadores cujos atos
contradizem a grandeza de suas palavras, e é comum os jornais publicarem artigos de
caráter duvidoso. As propagandas exageradas não constituem exceção.
Os impostos representam o maior problema. É uma competição de mentiras, entre
fiscais e contribuintes, de caráter sumamente complicado e desagradável. Há médicos
que mentem, dando esperanças a pacientes incuráveis. Também desaprovo os
bonzos que fazem uso freqüente das "mentiras de ocasião". As conhecidas táticas
empregadas pelos comerciantes são mentiras aceitas pelo público. Com estas
variedades, embora resumidas, podemos afirmar que o mundo é um complexo de
mentiras.
Talvez achem incrível o fato de um promotor mentir, mas isso acontece de vez em
quando. A prova se evidencia no notável esforço que o Ministério Público vem
empregando, baseado em suposições, para criar criminosos, desde a ocorrência de
um caso até o julgamento final. Sempre que isso se repete, penso insistentemente no
motivo de tanto interesse em culpar cidadãos inocentes. É realmente um enigma, para
o qual não existe explicação. A profissão de promotor exige a condenação de um
criminoso, mas a condenação de um inocente foge ao nosso raciocínio. É difícil saber
prontamente se um suspeito é ou não responsável por um crime, mas creio ser
possível distinguir o branco do preto, após uma breve investigação.
O desejo de mentir pe do pensamento otimista segundo o qual é impossível a mentira
vir à luz. A teoria da inexistência de Deus favorece o argumento de que a mentira
perfeita é sinal de inteligência - o que constitui um erro gravíssimo, a existência de
Deus é uma realidade, e a mentira, mesmo bem pregada, é passageira, estando
sempre sujeita a ser descoberta. Isso acarreta um grande prejuízo a quem mente,
porque, contrariando seu objetivo primordial, a pessoa se expõe à vergonha de ter o
seu crédito destruído e ser-lhe imposto um castigo. O mentiroso pensa que Deus não
existe, simplesmente porque Ele é invisível. Neste ponto, iguala-se aos selvagens, que
não acreditam na existência do ar porque não o vêem. Pobre homem civilizado,
completamente mergulhado no hábito da mentira!
5 de setembro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
NÃO SE IRRITE
Diz um velho ditado: "Tolerar o que é fácil está ao alcance de todos, mas a verdadeira
tolerância significa tolerar o que é intolerável". Outro ditado aconselha: "Carrega
sempre contigo o saco da paciência e costura-o toda vez que ele se romper". Encontro
boas razões nesses conselhos.
As pessoas me perguntam: "Que práticas ascéticas o senhor realizou? Subiu alguma
montanha para banhar-se numa cachoeira, jejuou ou fez outras penitências?" Então
esclareço que jamais pratiquei tais coisas. Todas as minhas "penitências" consistiram
em tolerar a tortura das dívidas e reprimir a ira. Quem ouve, fica espantado, mas é a
pura verdade. Creio que Deus determinou aperfeiçoar-me mediante purificações desse
tipo, pois continuamente têm aparecido fortes motivos para eu ficar irritado. Por
natureza, detesto irritar-me, mas há sempre alguma coisa que me afeta nesse sentido.
Certa vez, passei por tanta vergonha devido a um desentendimento, que mal
conseguia encarar as pessoas. Minha indignação atingia o auge e eu não conseguia
reprimi-la. Foi quando me fizeram um convite para comparecer a uma festa. Nas
circunstâncias, o convite era irrecusável. Lá, entretanto, permaneci desligado, sem
poder concentrar meu espírito. Tomei até uma dose de saquê, para me descontrair.
Isso demonstra como eu estava perturbado. Somente após alguns dias consegui
recobrar a tranqüilidade.
Mais tarde, vim a saber que a minha ida àquela festa salvou-me de uma grande
desgraça. Se não fosse a indignação daquele momento, eu não teria comparecido a
ela, e teria recebido um golpe fatal. Realmente fui salvo pela ira e não pude conter
minha gratidão.
Quem tem missão importante, é submetido por Deus a muitos aprimoramentos. Creio
que ter de reprimir a raiva, é uma das maiores provas. Aqueles que têm muitas razões
para irritar-se, devem compreender que sua missão é grandiosa. Se conseguirem
resistir a todo tipo de provocação, mantendo calma absoluta, terão concluído uma
etapa do seu aprimoramento.
Há um episódio interessante que eu gostaria de relatar.
Na Era Meiji, houve um homem famoso pela sua paciência, o Sr. Buei Nakano,
presidente do Conselho Privado de Comércio. Uma vez lhe perguntaram qual era o
segredo de seu espírito de tolerância. Ele respondeu: "Por natureza, eu era irascível.
Mas, certo dia, ao visitar o grande industrial Eiichi Shibuzawa, ouvi-o discutindo com a
esposa no cômodo contíguo àquele em que eu estava. Informado de minha presença,
ele abriu a porta corrediça e veio sentar-se junto a mim. Trazia a fisionomia serena de
sempre; nem parecia vir de uma discussão. Admirei-me e, ao mesmo tempo, tive a
revelação de algo importante: o poder de controlar a ira. Compreendi que aquele era o
segredo de seu prestígio no mundo industrial, e que eu devia seguir seu exemplo e
esforçar-me para reprimir a cólera com facilidade. Desde então passei a disciplinar-me
nesse sentido, e tudo começou a correr normalmente em minha vida, até eu atingir a
condição atual."
Lembrem-se, pois, de que Deus treina e disciplina aqueles que têm uma grande
missão a cumprir.
Gostaria de voltar ao assunto das dívidas.
Baseado na minha própria experiência, concluí que as dívidas são motivadas pela
precipitação, que nos faz forçar situações.
Jamais devemos forçar uma situação. Se o fizermos, talvez obtenhamos um êxito
passageiro; entretanto, mais cedo ou mais tarde, seremos colhidos pelas
conseqüências, enfrentando obstáculos inesperados. É possível que, após um rápido
sucesso, nos vejamos forçados a voltar ao ponto de partida. Examinando as causas da
derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, veremos que houve quem forçasse
muito a situação.
Impor soluções e precipitar providências, provoca desequilíbrio mental e impede as
boas inspirações. Pior ainda é agir à força, de qualquer maneira, na falta de idéias. Só
devemos tomar resoluções depois que surge a idéia apropriada, isto é, quando houver
certeza de que o plano concebido não vai falhar. Em outras palavras, é preciso aplicar
o método: "Pense duas vezes antes de agir".
Quase sempre é muito difícil o pagamento das dívidas. Se elas se prolongarem, os
juros aumentarão, causando grande sofrimento moral.
Existem dívidas ativas e dívidas passivas. As ativas, fazemo-las para investir em
negócio rendoso; as passivas, para cobrir prejuízos. Embora muitas vezes estas
últimas sejam inevitáveis, não devemos contraí-las. Se formos vítimas de prejuízos,
devemos abandonar toda ostentação e falsa aparência, reduzir os nossos gastos e
esperar que surjam novas oportunidades.
Também desejo chamar a atenção para um ponto importante: a ganância.
Consideremos o velho ditado: "Quem tudo quer, tudo perde". Os prejuízos geralmente
são causados pela ambição de ganhar demais. Não existe, neste mundo, o pretenso
"negócio-da-china" que tantos vivem a propor. Desconfiemos desse tipo de negócio. O
empreendimento que não parece grande, oferece melhores perspectivas.
Exemplificarei com minha própria experiência.
Certa ocasião, eu precisava de dinheiro para saldar dívidas e impulsionar a obra
religiosa. Não foi fácil consegui-lo; enquanto eu o desejava muito, não entrava dinheiro
algum. Por fim, resignei-me, deixando o problema nas mãos de Deus. Quando eu já
estava esquecido de tudo, comecei a receber inesperadamente grandes somas.
Percebi, então, que o mundo não pode ser explicado em termos de raciocínio comum.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
VENCER A IRA
Não faz muito tempo que Deus me ensinou a vencer a ira. Agora pretendo transmitir-
lhes esta boa-nova, pois não há nada que nos cause tanto sofrimento.
Existem indivíduos que nunca ficam irados, dando a impressão de que sempre estão
felizes. Eles pertencem a um tipo excepcional de pessoas; entre as criaturas comuns,
podemos afirmar que não há uma sequer que não seja atingida pela ira. Os antigos já
ensinavam várias maneiras de controlar esse sentimento, mas, em geral, elas não
produzem o efeito verdadeiro, porque apenas servem para contê-lo e não para
eliminá-lo. Contendo a ira, podemos fugir ao sofrimento causado por ela; no entanto,
isso traz em si um novo sofrimento. Portanto, não é a solução. Quanto maior a ira,
maior o sofrimento para controlá-la. Fica isso por aquilo. Só a forma ensinada por
Deus pode eliminá-la com facilidade. Mostrarei como é maravilhosa.
A parte superior do estômago, situada no centro do corpo humano, é uma região muito
importante, tradicionalmente chamada de plexo solar. Dizem que o centro do corpo é o
umbigo, mas este é o centro da região abdominal, onde está a sede da vontade, tal
como a coragem e a decisão. Conforme digo sempre, a parte frontal da cabeça
governa a razão, ou seja, a inteligência, a memória, etc; a parte posterior comanda os
sentimentos: a alegria, a ira, a dor, o prazer e outros.
Como a região abdominal é o que foi explicado, o fruto global da trilogia vontade -
razão - sentimento constitui o plexo solar; assim, por ocasião da ira, o pensamento
concentra-se nessa região. Quando alguém fica irado, sente como se fosse uma
massa ou um nó na parte superior do estômago; todos já experimentaram essa
sensação e sabem disso. Se, nesse momento, a pessoa recebe Johrei no plexo solar,
aquela massa ou nó se dissolve e, em alguns minutos, ela tem a impressão de que um
laço está se desatando e de que seu peito está se abrindo. É, então, invadida por uma
sensação muito agradável. Aos poucos, sentir-se-á aliviada e até com vergonha de ter
se zangado. Daí a expressão: "A raiva se derreteu". E acontece isso mesmo. Além do
mais, como o Johrei possibilita não só a cura de outras pessoas, mas também do
próprio ministrante, não há nada melhor do que essa prática. Ora, torna-se
desnecessário dizer que a ira é a causa dos conflitos pessoais e familiares e, numa
escala maior, dos conflitos sociais e da quebra da paz entre os países. Sendo assim,
podemos afirmar que é realmente uma grande salvação essa forma maravilhosa de
eliminá-la.
30 de maio de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
NÃO JULGUEIS
PRESUNÇÃO
Existem adeptos fervorosos que criticam os métodos dos dirigentes da Igreja a que
pertencem, impacientando-se quando estes não ouvem seus conselhos relativos às
reformas que lhes parecem necessárias. Como o número desses adeptos é muito
grande, escreverei sobre o assunto.
Não condeno os fiéis que agem assim, pois sua atitude é ditada pela sinceridade; mas
o fato exige muita reflexão, porque o pensamento deles está baseado na fé "Shojo". A
nossa Igreja caracteriza-se pela fé "Daijo" e por isso difere muito do pensamento
comum da sociedade em geral.
Julgar o próximo é uma presunção. Se não reconhecermos esse ponto, não
poderemos agradar a Deus. Somente Ele conhece a bondade e a maldade dos
homens. Já escrevi a respeito uma vez e aconselho muita prudência. Caso o fiel
estiver errado ou for má pessoa, Deus se encarregará de julgá-lo, sendo
desnecessário qualquer preocupação de nossa parte. A preocupação não significa
falta de confiança no poder de Deus? Isso é comprovado por inúmeras experiências
de antigos fiéis que foram julgados por Deus, muitos deles perdendo até a vida por
causa de uma fé errada. Portanto, devem conhecer a si próprios muito bem, antes de
pretenderem julgar o próximo.
Não há fiéis com más intenções, já que ingressaram em nossa Igreja. Sei
perfeitamente que todos são sinceros; entretanto, como há vários níveis de
sinceridade, é preciso muita atenção. Isso nada mais é do que a minha costumeira
frase: O BEM DE "SHOJO" VEM A SER O MAL DE "DAIJO". Qualquer bem ou
sinceridade de caráter restrito resulta em mal.
Desde a criação deste mundo, nunca houve religião que tivesse um objetivo tão
elevado quanto o nosso, isto é, salvar toda a humanidade. Por conseguinte, os
problemas internos da Igreja devem ser confiados a Deus. Os fiéis precisam ter
sempre em mente a sociedade, o mundo, ou melhor, dirigir a vista para fora, e não
para dentro.
Desejo acrescentar que a Providência de Deus é demasiado profunda para ser
compreendida pela inteligência humana. Nos ensinamentos da Igreja Omoto consta a
seguinte passagem: "Aquele que considera o Mundo Divino inatingível pela sabedoria
humana, é um esclarecido." E também esta: "Pergunto se seria possível fazer a
reconstrução dos três mil mundos (###Expressão budista referente a todos os mundos
contidos no Universo ###) com uma Providência facilmente compreendida pelos seres
humanos." Estas palavras são realmente simples e bem claras.
12 de setembro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
NÃO JULGUE
O fato de ainda haver, entre os fiéis, uma maioria que comenta: "Fulano é bom,
beltrano é mau", "isto é um obstáculo, aquilo não", significa que os Ensinamentos não
foram assimilados completamente.
Já repeti várias vezes que julgar o próximo é o mesmo que profanar a posição de
Deus. É um erro gravíssimo, para o qual peço muita atenção. O homem é incapaz de
discernir o bem do mal. Se ele julga ter conseguido esse discernimento, é porque
atingiu, inconscientemente, o auge da presunção. Isso prova que ele nem ultrapassou
o portão da Fé.
Devem também levar em consideração que a Providência Divina não é fácil de ser
compreendida pelo raciocínio humano. Querer compreendê-la com a fé "Shojo", é o
mesmo que espreitar o céu através de um orifício. Já me cansei de repetir que não
permaneçam nesse tipo de fé, porque só se consegue conhecer a Vontade de Deus
com a fé "Daijo". Mas isso parece ser difícil, pois, infelizmente, há pessoas que
persistem no erro.
Observando a sociedade em que vivemos, notamos que ela apresenta um aspecto
limitado em todos os setores. De vez em quando, os jornais anunciam escândalos pela
disputa de poderes entre facções criadas dentro das organizações religiosas. Não
constituem exceção os partidos políticos, as empresas e outras associações, sendo
escusado falar sobre os prejuízos causados à eficiência e progresso dos
empreendimentos.
Deus quer reconstruir este mundo justamente por causa de tais erros. Um estudo
aprofundado mostra-nos que todos eles resultam dos princípios "Shojo". Ora, se não
partirmos dos princípios "Daijo", jamais surgirá uma sociedade sadia e altruísta. Assim,
espero que, se os nossos fiéis ainda possuem resquícios de pensamentos estreitos e
vulgares, tomem consciência disso o quanto antes e procurem reformar sua mente,
para se tornarem verdadeiros messiânicos. Com a intensificação gradual da
purificação, o Juízo Divino se tornará mais severo, e, se não o fizerem agora, será
tarde demais para arrependimentos.
São realmente verdadeiras estas palavras que aparecem insistentemente nos
ensinamentos da Igreja Omoto: "A presunção e o engano são causas de grandes
desgraças." Têm o mesmo sentido as palavras de Jesus: "Não julgueis." O importante
é a pessoa julgar a si própria, não se intrometendo nos atos alheios.
Os nossos adeptos já sabem que ninguém deixa de ter toxinas no corpo. O mesmo
acontece no terreno espiritual: ninguém deixa de apresentar máculas, razão pela qual
Deus procura salvar-nos através da purificação. Eu sei tudo que se passa dentro das
pessoas. Como não me manifesto, elas se preocupam, achando que não sei de nada.
No entanto, eu permaneço calado, entregando tudo nas mãos de Deus.
13 de maio de 1953 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Já lhes falei que não devem odiar ninguém. Digo-lhes, também, que não devem ser
odiados. Isso porque os maus pensamentos, o ódio, o ciúme, o desejo de vingança e
outros sentimentos negativos chegam até nós através dos elos espirituais e nos
atrapalham completamente. Ficamos mal humorados, perturbados e não podemos
desempenhar corretamente nossas tarefas; nessas condições, o sucesso é impossível.
Tomem, pois, o máximo cuidado.
Neste mundo, há muitas pessoas que não se incomodam de torturar o próximo e
torná-lo infeliz. Apesar disso, são elogiadas pelo êxito que alcançam em suas
profissões. Aqueles que procuram imitá-las, julgando ser esse o método certo para o
sucesso, possuem vistas curtas.
Se o número dessas criaturas perversas aumentar, será difícil que o mundo melhore.
O tempo nos revela, porém, que toda semente ruim produz mau fruto; os perversos
serão infalivelmente destruídos.
Assim, para vivermos bem humorados, para os nossos trabalhos progredirem
normalmente e para evitarmos grandes aborrecimentos, é preciso alegrar os nossos
semelhantes, tornando-os felizes. Esse é um dos fundamentos da Religião. Quem age
assim, merece ser qualificado de "inteligente". Por isso costumo afirmar que os
perversos são ignorantes. Esta é uma verdade eterna.
18 de julho de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
RESPEITE A ORDEM
O conhecido adágio "Deus é Ordem" deve ser lembrado como algo que exerce vital
importância sobre tudo que existe.
Em primeiro lugar, observando o movimento de todas as coisas do Universo,
verificamos que tudo se desenvolve dentro de perfeita harmonia. Tomemos como
exemplo as estações do ano. Elas se repetem infalivelmente todos os anos, seguindo
a mesma ordem: primavera, verão, outono e inverno. As flores desabrocham nesta
seqüência: ameixeiras, cerejeiras, glicínias, íris... Assim, a Natureza nos ensina a
ordem. Se o homem a desconhecer ou for indiferente a ela, nada lhe correrá bem. Os
obstáculos serão freqüentes, resultando em confusão. Até hoje, no entanto, a maioria
dos homens não têm respeitado a ordem, o que se pode desculpar pelo fato de não ter
havido quem lhes ensinasse as más conseqüências desse desrespeito.
Vou expor, resumidamente, o que todos devem saber sobre o tema em questão.
Todos os fenômenos do Mundo Material são reflexos do Mundo Espiritual; ao mesmo
tempo, os fenômenos do Mundo Material também se refletem no Mundo Espiritual. A
ordem é o caminho e também a Lei. Perturbar a ordem, significa desviar-se do
caminho; violar a Lei, é faltar à civilidade.
Na vida cotidiana, existem ordens que o homem deve respeitar. Entre os membros de
uma família há diferenças de comportamento. Para nos sentarmos numa sala, por
exemplo, devemos considerar como lugar de honra a parte mais elevada, onde se
colocam objetos de adorno; faltando essa parte, o lugar de honra é o local mais
afastado da entrada. Quando os membros de uma família ocupam os devidos lugares,
sentando-se o pai próximo ao lugar de honra, depois a mãe, o primogênito, a
primogênita, o segundo filho, a segunda filha, etc., cria-se um ambiente harmonioso. O
desrespeito à Lei não trará boas conseqüências, mesmo num regime democrático.
Suponhamos uma ponte sobre um rio, a qual só dá passagem para uma pessoa de
cada vez. Se várias pessoas tentarem atravessá-la ao mesmo tempo, haverá confusão
e todos se precipitarão no rio. É absolutamente necessário que as pessoas
atravessem uma de cada vez, ou seja, é preciso que haja ordem.
Outro exemplo: quando recebemos visitas, as poltronas e os lugares variam de acordo
com o grau de amizade e posição, o mesmo acontecendo com os cumprimentos. Se
isso for observado, tudo correrá em perfeita harmonia e não se causarão impressões
desagradáveis. Também há diferença de atitudes e diálogos entre moços, velhos e
crianças. O essencial é causar sempre boa impressão ao próximo.
Em algumas famílias, os pais dormem no térreo, reservando o andar de cima para os
filhos e empregados. Isso é um erro: nessas famílias, os filhos e os empregados
tornar-se-ão desobedientes. Também a esposa deixará de ser dócil e submissa,
quando dormir mais próximo ao lugar de honra do que o marido.
Falemos agora sobre as imagens religiosas.
Quem entroniza Deus ou Buda no térreo e dorme no andar superior, está colocando-
os abaixo do homem. É preferível deixar de entronizá-los, porque, além de impedir as
graças, isso constitui uma ofensa.
O mesmo se aplica ao Altar dos antepassados. Será uma grave ofensa colocar os
descendentes acima dos antepassados, pois os fenômenos terrestres se refletem no
Mundo Espiritual, destruindo a harmonia que deve ser mantida entre os dois mundos.
Este princípio também se aplica ao país e à sociedade. O maior problema é o conflito
existente no setor industrial, entre patrões e operários. A administração da produção
efetuada por estes últimos é o que há de mais reprovável, porque se afasta
completamente da ordem.
Exemplifiquemos com uma indústria. Para administrá-la e desenvolvê-la, é preciso
manter a ordem em tudo. O presidente deve assumir a direção geral; os membros da
diretoria devem participar dos planos de maior importância; os técnicos se ocuparão
com sua especialidade; os operários se esforçarão dentro do seu setor de trabalho. Se
todos se unirem assim, em forma de pirâmide, a empresa não deixará de prosperar.
Todavia, se a administração for efetuada pelos operários, a pirâmide virará de cabeça
para baixo, provocando, infalivelmente, a sua queda. Desse modo, o conflito entre
patrões e operários ocasiona a destruição de ambas as classes, o que representa uma
grande tolice. É necessário, portanto, que a administração seja feita pacificamente,
através do entendimento entre as duas classes, e respeitando-se a ordem. Não há
outro meio para estabelecer a felicidade de ambas.
Creio que o primeiro passo para a prosperidade consiste em eliminar do mundo
industrial a desagradável palavra "conflito". O comunismo surgiu devido à
administração excessivamente egoísta dos capitalistas, que vinham explorando a
classe operária. Hoje, entretanto, ele caiu no extremismo, em conseqüência das
reações que causou no mundo industrial, motivando o declínio das indústrias e da
produção. Espero que tomem consciência disso o quanto antes, que despertem para o
espírito de auxílio mútuo e se esforcem para a construção de um novo mundo. Eis o
sentido das minhas palavras: "Respeite a ordem."
A realização de atividades foi sempre conhecida pelo termo "keirin" (administrar, gerir),
o que, em última análise, significa "girar a roda." Os líderes correspondem ao eixo de
uma roda. Quanto mais centralizado ele está, melhor ela gira. A percepção do seu
girar é pequena perto do eixo e vai aumentando no sentido da periferia. Quanto mais
afastado do centro está o eixo, mais difícil é o girar da roda.
De acordo com o exposto, isso significa o seguinte: o centro é ocupado por poucas
pessoas; o número destas aumenta à medida que a distância em relação ao centro vai
se tornando maior. O trabalho mais pesado, num automóvel, cabe aos pneus, que
constituem a parte externa e têm contato direto com o chão. Por aí, devem perceber o
que vem a ser a ordem. Portanto, para que a empresa progrida, basta que os líderes
permaneçam no interior, trabalhando apenas com a inteligência e distribuindo as
ordens.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ORDEM
Diz um antigo ditado: "Deus é ordem". Há, também, um provérbio chinês que afirma:
"Entre marido e mulher existem diferenças, e há ordem hierárquica entre velhos e
jovens". Concordo plenamente com ambos.
É surpreendente a desordem que reina ultimamente na sociedade. Quando as coisas
não correm normalmente, a causa é a falta de ordem, principalmente tratando-se de
problemas humanos.
Ordem e educação estão estreitamente relacionadas e isso exige especial atenção.
Observemos a Grande Natureza. Nela tudo segue uma ordem predeterminada: o ano
está dividido em quatro estações - primavera, verão, outono e inverno; os dias
alternam-se com as noites; as plantas se desenvolvem obedecendo uma ordem: as
flores da cerejeira jamais desabrocham antes das flores da ameixeira.
Podemos citar vários exemplos.
Não adianta fazer romaria às divindades depois de tratar de qualquer assunto, pois,
nesse caso, a divindade foi posta em segundo plano. O mesmo se deve dizer em
relação à ministração ou recebimento de Johrei. Quando se obedece à Lei da Ordem,
o resultado é notável.
Tenho observado freqüentemente pessoas que constróem casas assobradadas e
reservam para seus filhos os aposentos do primeiro andar, ficando com os do térreo.
Com esse procedimento, os filhos tendem a desobedecer aos pais, pois ocupam uma
posição superior. O mesmo se dá no caso de patrão e empregado. É preciso muito
cuidado nesses assuntos.
Pode parecer insignificante, mas a disposição das pessoas à mesa tem grande
influência. Em ordem de importância, o chefe da família deve ocupar o lugar de honra;
a esposa, o segundo; depois virão sucessivamente o primogênito, o segundo filho, a
primeira filha, etc. O ambiente se faz harmonioso quando os lugares são determinados
de acordo com a ordem. Do contrário, surgem fatos desagradáveis. Muitas vezes
participei de reuniões cujo ambiente carregado podia ser logo percebido por quem
chegasse. Verifiquei que geralmente isso acontecia quando a disposição dos lugares
não obedecia à ordem.
Para se estabelecerem os lugares, devem ser considerados de ordem inferior aqueles
que ficam próximos à entrada, e de honra, os que estão mais afastados. Sabemos que
o lugar de maior honra é o que fica em frente ao "toko-no-ma" (###Toko-no-ma - Nas
casas japonesas, é o local considerado nobre de um cômodo, com uma reentrância,
que fica mais elevada que o assoalho e geralmente toma toda uma parede. No toko-
no-ma penduram-se quadros ou panôs e ornamenta-se com vivificações florais.
Costumeiramente recebem-se as visitas na sala onde existe toko-no-ma ###).
Portanto, quando se tratar de ordem nas reuniões, é preciso levar em consideração o
"toko-no-ma" e a entrada. Tudo o mais deve ser decidido com bom senso.
Relacionando o lado direito e o lado esquerdo, vemos que este é o mais importante,
pois representa a parte espiritual; o lado direito a ele se subordina, pois representa a
parte material (note-se que o braço direito é o mais utilizado).
30 de agosto de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A minuciosa observação dos vários setores sociais mostra como é grande o número
dos fracassados.
Se o fracasso representasse sofrimento apenas para o próprio indivíduo, este poderia
resignar-se, atribuindo a culpa à sua inexperiência e má sorte. Mas não é assim; a
família também é atingida, há prejuízo para parentes e amigos, e o fato isolado acaba
constituindo uma espécie de mal social. Logicamente, a pessoa não tinha intenção de
prejudicar ninguém; no entanto, em decorrência de seu fracasso, muitas outras foram
prejudicadas.
O problema não deve ser menosprezado. É preciso examiná-lo profundamente, pois,
quase sempre, sua causa reside em fatores que passaram despercebidos.
De início, a pessoa concebe um plano, prepara-o cuidadosamente (pelo menos
imagina que está agindo assim), mas, quando se entrega à execução da obra, as
coisas não correm como pensava. Começam a surgir dificuldades e obstáculos, que
lhe impedem o discernimento e descontrolam suas perspectivas de futuro. Essa é a
trajetória habitual dos que fracassam. Vejamos a causa de sua derrota.
Podemos resumi-la numa frase: eles não levaram em consideração o tempo. Este, de
modo geral, é um fator absoluto. Flores, frutos, produtos agrícolas, tudo tem seu tempo
certo. Mesmo que as condições sejam favoráveis, se não forem levadas em conta as
exigências da estação, isto é, do tempo, não haverá bons resultados.
As flores silvestres desabrocham na primavera, porque seus bulbos são plantados no
outono; as flores dos jardins nos encantam do verão ao outono, porque seus bulhos e
sementes são plantados na primavera.
Os frutos também têm sua época de amadurecimento. Não podemos sentir o seu
sabor enquanto estão verdes; quando bem maduros, são deliciosos. Mesmo os
produtos agrícolas, têm seu tempo de amanho, semeadura e transplantação. E devem
estar de acordo com a terra e o clima.
Como vemos, a Grande Natureza ensina ao homem a importância do tempo. Em seu
estado original, ela é a própria Verdade, e por isso serve de modelo a todos os
projetos do homem. Eis a condição vital para o sucesso.
O Johrei, a Agricultura Natural e outros princípios preconizados por mim, praticamente
não fracassam; eles alcançam os objetivos almejados porque se baseiam na Lei da
Natureza.
Nunca me afobo quando planejo algo. Encaro o assunto com objetividade,
examinando-o sob todos os ângulos possíveis, e ponho-me a refletir calmamente. Só
me entrego aos preparativos indispensáveis, após me convencer de que o plano é
correto e útil à humanidade em todos os aspectos e possui sentido duradouro.
Acontece que a maioria das pessoas não têm paciência para esperar. Lançam-se à
obra prematuramente, provocando desequilíbrio entre o projeto e o tempo. Por se
afobarem, aumentam esse desequilíbrio, e daí sobrevem o fracasso. Portanto, em
todos os empreendimentos, o essencial é ter paciência para aguardar a chegada do
tempo exato. As coisas possuem, infalivelmente, uma ocasião propícia. Com toda
razão dizem os velhos provérbios: "Se esperarmos, teremos bom tempo para
navegar", "A sorte se espera deitado" e "Mire cuidadosamente para acertar o alvo".
Muita gente se impacientou com meu sistema. Houve quem me apresentasse idéias e
planos que, às vezes, eu prometia realizar. Como tardasse a executá-los, as pessoas
reclamavam ou estranhavam. Quanto a mim, estava à espera do tempo adequado.
Os conhecidos aforismos "Agarre a oportunidade" e "Não perca a ocasião", confirmam
o que estou dizendo.
Sentimos que estamos diante da ocasião propícia, quando, preenchidas todas as
condições, passamos a sentir um forte impulso para executar o plano imediatamente.
Tudo se processará, então, com facilidade, devido ao amadurecimento do tempo.
Aguardando o tempo certo, estaremos poupando esforços e todas as coisas correrão
bem. Em resumo, devemos refletir bem antes de agir. Por exemplo: se algo impede
que uma pedra role morro abaixo, mas tentarmos empurrá-la, despenderemos muita
força. Entretanto, se soubermos esperar pacientemente, o obstáculo irá sendo vencido
pelo peso da pedra. Com o tempo, até o empurrão de um dedo a fará precipitar-se. É o
que acontece com a oportunidade.
"Se o rouxinol não canta, esperarei até que ele cante". Esta frase foi dita satiricamente
por Ieyassu Tokugawa, o fundador da dinastia Tokugawa, a qual governou o Japão
durante trezentos anos porque ele soube dar tempo ao tempo.
Creio que o que dissemos é suficiente para compreenderem a importância do tempo.
Nao Deguti escreveu: "Com o tempo nem Deus pode". Isso resume admiravelmente a
verdade da questão.
25 de junho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
TEMPO É DEUS
Tudo que existe, inclusive o que se relaciona ao homem, é regido pelo Tempo. A
delimitação do apogeu e da decadência subseqüente, das mudanças históricas, das
definições do bem e do mal, da justiça e da injustiça, tudo está subordinado a ele. Por
esse motivo, o que agora é um bem daqui a alguns anos poderá ser um mal, e aquilo
que hoje é considerado verdade poderá ser desprezado amanhã, por tornar-se falso.
O passado nos mostra que as coisas que atualmente estão no apogeu um dia
infalivelmente entrarão em decadência. Assim, pode-se dizer que não existe verdade
nem mentira absolutas, havendo mesmo um antigo provérbio que afirma que a justiça
e a injustiça são como se fosse uma coisa só. Ambos conceitos, sem qualquer sombra
de dúvida, são verdades.
Antes do término da Segunda Guerra Mundial, acreditava-se que não havia nada
superior ao amor e à lealdade à Nação e ao Imperador. Mas como vivem,
presentemente, aqueles japoneses que fizeram da vida um brinquedo? O resultado foi
completamente contrário ao que se esperava: eles vivem agonizando sob trágico
destino, de modo que o povo deve ter compreendido o quanto eles estavam errados.
É claro que a reviravolta ocorrida no fim da guerra foi obra do Tempo. A História não
muito remota nos mostra outros exemplos. Com o advento das inovações trazidas pela
Era Meiji, todos os senhores feudais, assim como seus lugares-tenentes e outros
elementos da Era Tokugawa perderam suas posições. Até o cargo de ministro de
Estado foi assumido por um homem do povo, quase desconhecido, o que lembra muito
a situação atual. Mas como deverá ser encarada a decadência das classes
privilegiadas, como as famílias imperiais, os nobres e os milionários? Naturalmente,
como obra do Tempo. Segundo os ensinamentos da fundadora da Igreja Oomotokyo,
"nem Deus pode vencer o Tempo". Esta frase encerra uma profunda sabedoria e diz
tudo. Por isso pensamos não haver nenhuma inconveniência em afirmar que o Tempo
rege tudo o que existe sobre a Terra.
Pelas razões aqui expostas, não posso deixar de pensar que os homens precisam ter
muito mais interesse por essa categoria absoluta denominada TEMPO.
25 de junho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
TREINO DE HUMILDADE
SOL E LUA
A PARÁBOLA DA ESPADA
Antigamente, para se fazer uma boa espada, era necessário esquentar o aço até a
incandescência, batê-lo com martelo, sobre uma bigorna, e, a seguir, colocá-lo na
água. Repetia-se várias vezes essa operação, isto é, caldeava-se e batia-se o aço em
brasa, mergulhando-o, depois, na água.
O interessante é que esse princípio também se aplica à vida humana. A divulgação da
nossa Igreja, com o decorrer do tempo, encontrou várias críticas e obstáculos, isto é,
contratempos e ataques, para, em seguida, receber elogios e louvores.
Experimentamos, portanto, do fogo escaldante ao mergulho na água fria.
Muitas vezes me perguntam: "Por que ocorrem fatos tão contrastantes?" Para essas
perguntas eu dou como resposta o exemplo do caldeamento da espada, e as pessoas
compreendem bem.
Desde os tempos mais remotos, quem executa uma obra fora do comum não só
recebe louvores, mas também perseguições, oriundas do despeito. É nessa luta,
porém, que reside o mérito de alcançarmos fortalecimento. É como a espada, que só
adquire todas as qualidades graças à alternância do caldeamento e esfriamento e às
fortes marteladas sobre a bigorna. Analisando sob o aspecto religioso, significa que
Deus impõe maior sofrimento a quem tem maior missão, o que não deixa de ser
motivo de alegria.
1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Tanto os descrentes como os religiosos vivem a falar em crise. Isso demonstra que
eles desconhecem a realidade das coisas.
Se é a crise que abre caminho para o progresso, ela deixa de ser crise. Podemos
compará-la à pausa para tomar fôlego, na corrida, ou aos nós do bambu. As varas do
bambu se mantêm firmes devido à formação de nós no curso de seu desenvolvimento;
se lhes faltassem nós, não apresentariam sua conhecida resistência. Quanto mais nós
tem o bambu, mais forte ele é.
A natureza é sempre um bom exemplo. Observá-la minuciosamente facilita a
compreensão da maioria das coisas.
Falávamos em crises que surgem naturalmente. Entretanto, existem muitas pessoas
que entram em crise por falta de sabedoria e de capacidade para prever o futuro. Elas
criam para si mesmas crises artificiais; ficam desnorteadas quando entram num beco
sem saída. Aconselho que todos atentem bem para este assunto, porque terão nele
boas inspirações nos momentos críticos. Basta descobrir a falha que motivou a crise.
O homem precisa polir constantemente a sua inteligência. É por isso que os
Ensinamentos devem ser lidos tantas vezes quanto possível.
29 de outubro de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A DIALÉTICA DA HARMONIA
SUBJETIVISMO E OBJETIVISMO
É tendência do ser humano prender-se aos seus próprios pontos de vista; isso
acontece com mais freqüência entre as mulheres. Trata-se de uma tendência
altamente perigosa, porque aquele que sustenta inflexivelmente as próprias opiniões,
considerando-as verdadeiras, julga o próximo baseando-se nelas, de modo que as
coisas não acontecem como se esperava. Geralmente essas pessoas torturam a si
mesmas e aos seus semelhantes.
É necessário que o homem aprenda a se analisar objetivamente, isto é, crie em si uma
"segunda pessoa" que o veja e critique. Tal prática lhe evitará muitos problemas.
O Sr. Ruiko Kuroiwa, ex-diretor do antigo jornal Yorosutyoho e famoso tradutor de
romances, também cultivava a Filosofia. Fui ouvinte assíduo de suas palestras. Citarei
um trecho que ouvi e muito me impressionou: "Todo homem nasce mesquinho. Para
aperfeiçoar-se, deve cultivar uma segunda personalidade, ou seja, nascer pela
segunda vez." Estas palavras ficaram gravadas na minha mente e me esforcei no
sentido de colocá-las em prática na minha vida, o que me trouxe muitos benefícios.
18 de março de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
DÚVIDA
A palavra "dúvida" não soa muito bem aos nossos ouvidos. Entretanto, representa o
que há de mais importante. Com efeito, a dúvida pode ser considerada a mãe da
civilização, pois foi ela que deu origem às novas filosofias, às novas doutrinas, assim
como também à Ciência. O chinês Chu-tzu disse: "A dúvida é o princípio da crença."
De fato, entre as muitas palavras que, desde tempos antigos foram ditas a esse
respeito, estas são bem significativas.
Eis alguns exemplos de dúvida: Por que razão a Igreja Messiânica Mundial, uma
religião nova, expandiu-se tanto em tão pouco tempo? Por que será que acontecem os
maravilhosos milagres que são relatados nas Experiências de Fé? Como se explica
que a construção do protótipo do Paraíso Terrestre, cujo grandioso plano é
absolutamente inédito, esteja conseguindo dar passos cada vez mais firmes?
É natural que surjam semelhantes dúvidas; contudo, duvidar apenas não significa
nada. Se as pessoas se dispõem a encontrar a chave desses mistérios, aí sim, a
dúvida se torna realmente válida, pois, com tal procedimento, elas entenderão a
Verdade e aumentarão seu discernimento. Aqueles que sempre têm dúvidas são
pessoas progressistas, e seu futuro é brilhante. Existem, porém, alguns que não têm
sorte e que, embora sintam dúvidas, não encontram o lugar onde lhes possa ser
mostrada a Verdade. Por essa razão, ficam perdidos a vida inteira, acumulando
dúvidas em cima de dúvidas. Podemos dizer que isso acontece com a maioria das
pessoas, e entre elas deve haver algumas que fazem pouco caso das verdades
pregadas pela nossa Igreja, deixando-as passar despercebidas. São criaturas infelizes.
Ao pensar em todos aqueles que, cheios de dúvidas, chegaram à Igreja Messiânica
Mundial e estão sendo salvos, vivendo atualmente banhados de alegria, concluímos
que nada é mais construtivo que a dúvida. Assim, creio que puderam entender que, se
o homem não tiver capacidade de duvidar, ele é um ser imprestável. Portanto, é
necessário ter a coragem de esclarecer as dúvidas.
21 de março de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
LIBERTAÇÃO
Fala-se em libertação, mas não é fácil defini-la como algo bom ou mau. De acordo
com a idéia geral, libertar-se significa sair de um estado de confusão e obter
Iluminação, desapegar-se, ou ter desprendimento. Expressão muito usada no
budismo, soa como fuga ou isolamento, e é um conceito característico dos orientais.
Em termos de prática cotidiana, há uma redução da atividade material à medida que
aumenta a Iluminação. Isto é, perde-se o espírito de competição e os países entram
em decadência. Exemplo disso é a Índia.
Geralmente, o homem tem entusiasmo pela vida graças à ilusão, mas o excesso de
ilusões é perigoso. A resignação enfraquece o ritmo das atividades, mas a falta de
resignação também gera tragédias, principalmente quando se trata do relacionamento
amoroso. Portanto, a renúncia total é pouco aconselhável, porque elimina o sabor da
vida. A pessoa se torna solitária, vive como se fosse um corpo sem alma.
Refletindo sobre o que acabamos de expor, logo percebemos que todo exagero é
prejudicial. É bom ter noção de limites. Este mundo é realmente difícil e interessante;
doloroso e agradável. Mal podemos distinguir as fronteiras da alegria e do sofrimento.
Creio que o homem deve se desapegar no momento adequado, e insistir quando o
caso merece ser levado adiante. Quando procura forçar a situação, a pessoa fica
indecisa, e esta indecisão mostra que ainda não é o momento propício e que é preciso
esperar o tempo certo, de acordo com o tempo, circunstância e nível. O fundamental é
saber ceder às circunstâncias, descobrindo os meios mais convenientes de agir. Isso
exige Inteligência Superior. Ela é que gera a capacidade de correto discernimento, a
qual aumenta na medida em que diminuem as máculas do espírito.
O essencial, portanto, é eliminar as máculas espirituais, o que requer sinceridade. E a
sinceridade nasce da fé. Aquele que aceitar e praticar este princípio, será considerado
homem íntegro.
25 de janeiro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
O QUE É LIMITE
SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO
Todos almejam viver satisfeitos, mas é difícil consegui-lo. Assim é a vida. Entretanto,
dependendo da maneira de encarar este fato, veremos, nele, algo de interessante.
Pensando bem, a causa do progresso social é a insatisfação humana. Por
conseguinte, o mundo não é tão fácil de ser compreendido. O desenvolvimento, as
reformas e as descobertas são decorrentes da insatisfação. Em contrapartida, quando
esta é exagerada, surgem conflitos, desarmonia nos lares, desavença entre amigos e
conhecidos, discussões, desespero, casos de polícia, etc. A insatisfação dá origem a
grupos sociais extremistas que praticam atos de violência e destruição, como a
provocação de incêndios e o arremesso de bombas improvisadas e outros objetos. Às
vezes, chega-se até à guerra civil.
Como vemos, a insatisfação exige cautela.
Por outro lado, as pessoas bondosas ou simplórias, que pouco se queixam, parecem
satisfeitas, mas, na verdade, são criaturas incapazes e improdutivas.
Ora, se tanto a satisfação como a insatisfação apresentam aspectos condenáveis, que
fazer? A resposta é simples: devemos evitar os extremos; o certo é manter o equilíbrio
entre as duas posições. Sei que falar é fácil e fazer é difícil, mas a vida é assim
mesmo. O essencial é ser flexível, tendo por base a sinceridade. A pessoa que assim
proceder, tornar-se-á útil à sociedade e, dessa forma, será bem sucedida e feliz.
18 de março de 1953 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
INSTINTO E ABSTINÊNCIA
Segundo a tese do famoso filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o ser humano possui,
desde o nascimento, vários instintos que lhe é quase impossível dominar, parecendo
uma predestinação à qual ele está sujeito. À primeira vista, a teoria nos satisfaz;
entretanto, explicada apenas nesses termos, ela seria uma forma de admitir a
imoralidade, o que é um pensamento um tanto perigoso. Os intelectuais poderão
admiti-la como tese digna de estudos, mas nós, religiosos, de forma alguma
poderemos aceitá-la.
Existem teorias completamente contrárias à de Nietzsche, as quais vêm sendo
praticadas desde épocas antigas. Algumas religiões, por exemplo, têm uma visão
pecaminosa sobre os instintos. Por esse motivo, seus seguidores fazem abstinências
extremamente rigorosas, achando que esse sofrimento é uma prática sagrada e até
um meio de aprimoramento pessoal. Quanto a nós, não só discordamos de tal prática,
como também achamos que as religiões que a adotam não se integram na sociedade,
permanecendo isoladas. Entre os mais expressivos exemplos desse tipo de Fé,
podemos citar o islamismo, o bramanismo da Índia e o puritanismo cristão. No Japão
ainda existem algumas religiões com essas características, mas poucas.
Comparando a tese de Nietzsche com a das religiões citadas - teses que se opõem
entre si - não podemos optar por nenhuma, pois elas tendem para o extremismo.
Parece-nos muito fácil perceber esse erro, mas a maioria das pessoas não consegue
percebê-lo, ou não o leva em consideração. Em relação a isso, Deus nos indica um
rígido padrão. É a "Teoria do Caminho do Meio", de Confúcio. Como tenho feito muitas
explanações sobre o assunto, enfocando-o sob as mais variadas formas, creio que os
fiéis já devem conhecê-lo. Todavia, como disse aquele filósofo, "falar é fácil, fazer é
difícil". A "Teoria do Caminho do Meio", em verdade, é uma das bases que constituem
o verdadeiro caminho da Fé. A Iluminação pregada por Sakyamuni também está ligada
a ela. Vou procurar explicá-la da maneira mais simples possível.
Em primeiro lugar, darei um exemplo que pode ser facilmente compreendido, tomando
por termo de comparação as estações do ano. Ninguém gosta do rigoroso frio do
inverno nem do calor excessivo do verão, mas todos acham extremamente agradável
a temperatura moderada da primavera e do outono. É natural, portanto, que, nessas
estações, as pessoas sintam alegria. Como ilustração, direi apenas que, desde seus
primórdios, o budismo realiza uma atividade muito importante nessa época do ano - o
"Higan-E"-porque a temperatura está mostrando o estado real de "Gokuraku Jodo", o
mundo puro e paradisíaco dos budistas. Mas deixemos isso de lado. O que eu estou
querendo falar é sobre o mundo em que vivemos. Nele também é imprescindível evitar
os extremos e os excessos. A verdade, porém, é que o homem tem propensão a optar
por um lado ou pelo outro, o que é um comportamento errado. A causa dos fracassos
geralmente reside nisso. Há coisas, no entanto, que precisam ser decididas, mas sua
escolha e dosagem são pontos realmente difíceis. Falando com mais profundidade,
quando a pessoa pensa em não decidir, na verdade já está tomando uma posição. Por
conseguinte, não podemos fazer definições nem deixar de fazê-las, mas nem por isso
devemos abster-nos de ficar no meio-termo. É uma situação bastante ambígua,
entretanto é a rigorosa Lei Divina; é ela que torna o mundo interessante. Com isso,
quero dizer que as pessoas precisam alcançar o estado espiritual de "livre adaptação à
situação do momento", isto é, elas não devem prender-se a nada, por motivo nenhum.
Com a política e as idéias contemporâneas ocorre o mesmo. Os erros nascem das
posições definidas - esquerda ou direita, capitalismo ou comunismo. Com essa
definição, está se estabelecendo um limite e, decorrência disso, os choques serão
inevitáveis. Algo que hoje parece insignificante, um dia poderá dar origem a
desentendimentos. É esta, portanto, a razão da existência de conflitos em toda parte.
Mesmo nas relações internacionais, os desentendimentos não têm fim. Esses choques
foram inevitáveis até hoje porque graças a eles é que a cultura material progrediu.
Contudo, uma vez que daqui em diante a situação será diametralmente oposta, é
necessário haver uma mudança de pensamento.
A era da verdadeira civilização está se aproximando; assim, é preciso caminharmos
tomando como padrão a temperatura do "Higan-E", a festa budista. Esta é uma das
características básicas da Igreja Messiânica Mundial.
24 de dezembro de 1952 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
ABSTINÊNCIA
A Natureza e tudo que nela existe, foram feitos para o homem: as flores da primavera,
os bordos do outono, o cantar dos pássaros e dos insetos, a beleza das montanhas e
dos lagos, as noites de luar, as fontes de águas termais... Pensemos no porquê de
tudo isso.
Que poderá ser senão a Providência Divina, proporcionando alegria aos homens?
Belíssimos cantos, bailados, obras literárias e artísticas em geral, enchem de alegria
seus realizadores, como também seus ouvintes ou apreciadores. Alimentos deliciosos,
primorosas construções arquitetônicas, jardins, vestimentas, além de suprirem as
necessidades da vida humana, contêm elementos para realmente nos comprazer. O
corpo se nutre e a vida é preservada com os alimentos que saboreamos. Se as nossas
roupas e residências servissem unicamente para o indispensável, nunca iriam além de
um aspecto vulgar. Na geração dos filhos, também, visa-se algo mais que uma simples
necessidade.
Desde que o Altíssimo concedeu ao homem o instinto para alegrar-se com a Natureza
e com tudo o que ela lhe possa proporcionar, devemos aceitar esse prazer. A
abstinência que nega tal alegria e contenta-se com o mínimo necessário para a
subsistência, vai contra as graças de Deus.
Por outro lado, a pobreza do amor ao próximo entre os homens privilegiados leva-os a
julgar que os prazeres se destinam unicamente a eles e aos seus familiares. A
indiferença que eles têm pelos seus semelhantes e a falta do desejo de compartilhar
da alegria de todos, revelam como esses homens são destituídos do espírito de
fraternidade. Isso significa querer monopolizar as graças de Deus. Creio que os
milionários, franqueando seus jardins ao povo, expondo seus objetos de arte e
participando da alegria geral, praticariam um ato que corresponde à Vontade Divina.
Paraíso Terrestre, portanto, é um mundo onde há progresso na vida de toda a
humanidade e grande desenvolvimento das artes e demais prazeres de caráter
elevado. Como a Verdade, o Bem e o Belo significam respectivamente, o que não é
falso, o que é justo e o que é bonito, numa vida de abstinência há o Bem, mas não há
Verdade nem Belo. Além disso, a abstinência poderá até ser obstáculo ao progresso
da cultura. A decadência de certos países que outrora possuíram uma alta civilização,
pode ser atribuída ao fato de seu povo ter levado a vida espiritual ao extremo.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Os homens que não obtêm resultados satisfatórios naquilo que executam com esforço,
ou no que julgam ser uma boa ação, desconhecem a teoria dos efeitos contrários, ou
melhor, falta-lhes discernimento a respeito de sua razão transcendental. Vou explicar
essa teoria dando alguns exemplos. Quem a entender, não deixará de lucrar com isso.
Dentre os líderes dos fiéis, há os que procuram mostrar-se mais elevados, mais
importantes do que realmente são. Tais líderes acabam recebendo o que merecem e,
conseqüentemente, são menosprezados. Aqueles que sempre mantêm uma atitude
discreta e moderada, atraem maior consideração.
Existem, também, os que gostam de contar seus sucessos, o que não é agradável
para os ouvintes. A exibição é condenável. Quem expõe os fatos tal qual eles se
apresentam, granjeia maior simpatia, e sua palavra discreta o enobrece perante o
ouvinte. Ao prestar um auxílio, evitem falar como estivessem vendendo favores, pois
isso só serve para diminuir o sentimento de gratidão das pessoas.
Como vemos pelos exemplos acima, em tudo há efeitos contrários. Se procederem
levando esse ponto em consideração, obterão bons resultados.
Certa vez cedi à insistência de um visitante a quem vinha evitando, e concedi-lhe uma
entrevista. Ele perguntou-me: "Quem é o deus da Igreja Messiânica Mundial?" "Ignoro-
o completamente", respondi. O visitante tornou a interrogar-me: "O senhor prevê todos
os acontecimentos futuros, não é?" Retruquei: "Eu nada sei, porque não sou Deus."
Parece-me que ele se decepcionou, pois não voltou mais.
Antigamente, apareciam muitas pessoas que queriam me enganar, levando-me
dinheiro. Nessas ocasiões, antes que tocassem no assunto, eu lhes indagava se não
conheciam alguém que pudesse emprestar-me determinada quantia, porque eu estava
muito necessitado. Então elas acabavam se despedindo sem falar nada a respeito do
seu intento.
Também há ocasiões em que, quando acho que uma pessoa tem qualidades e
futuramente pode ter um grande desempenho na Obra Divina, intencionalmente eu a
trato sem consideração. Aí, ao invés de se mostrar desinteressada e negligente, ela
dedica ainda mais e realiza ótimos trabalhos. Procuro utilizar tais pessoas em tarefas
importantes, como elementos capazes e dignos de confiança.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, mas é de grande importância ter em
mente a teoria dos efeitos contrários.
3 de outubro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Durante longo tempo, tive contato com vários tipos de pessoas. Desse contato, concluí
que, para viver, o mais importante é saber diferenciar o homem bom do homem mau,
principalmente por existirem muitos chantagistas ultimamente, cada qual possuidor de
características particulares. Vejamos.
Em primeiro lugar, os homens maus são incrivelmente "hábeis" no falar. Muitas vezes
fico deslumbrado com essa habilidade, mas me acautelo contra ela. Nesse ponto, é
difícil encontrarmos exceções. Em segundo lugar, eles falam muito alto e são
persistentes. Outra coisa contra a qual nos devemos acautelar é que alguns nos
pressionam, e outros, ao contrário, agem com gentileza, o que é muito curioso.
Em geral, imaginamos que as pessoas perversas têm aspecto horrendo, mas, na
maioria das vezes, acontece o contrário, ou seja, elas se mostram bastante gentis e
afáveis. De fato, pensando bem, veremos que, se os chantagistas tiverem "face de
bandido", as pessoas se acautelarão e por isso a possibilidade que eles têm de
sucesso será pequena; entretanto, apresentando uma face delicada, será mais fácil
ludibriar os incautos.
Agora falarei sobre o homem bom. Pela minha longa experiência, observei que, ao
contrário dos homens maus, a maioria dos homens bons não é "hábil" no falar, mas
seus trabalhos apresentam bons resultados. Isso é muito natural, pois uma pessoa
que consegue enganar os outros por saber falar com habilidade, começa,
instintivamente, a viver enganando o próximo, ao passo que quem não tem essa
habilidade, não consegue enganar ninguém e por isso tenta obter bons resultados
através do próprio esforço.
9 de julho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
FÉ É CONFIANÇA
Existem muitas pessoas que seguem uma religião, mas o homem de verdadeira fé é
raro. O fato de alguém se considerar um verdadeiro religioso, nada significa, porque o
julgamento está baseado num critério subjetivo. Só é de fato um verdadeiro religioso
aquele que assim for reconhecido objetivamente.
É necessário distinguir claramente como age um autêntico homem de fé.
Teoricamente é simples: que inspire confiança nos que convivem com ele; que todos
confiem nas suas palavras; que, no contato com as pessoas, elas sintam que só lhes
advirá o bem, porque ele é uma pessoa excelente.
Obter tal confiança não é difícil. O essencial é não mentir e favorecer primeiramente o
próximo, deixando os interesses pessoais relegados a segundo plano. As pessoas
devem comentar a respeito desse homem: "É alguém que me ajudou, que me salvou...
É pessoa muito bondosa... Seria um grande prazer tê-lo como amigo. É uma criatura
muito agradável..." Tal indivíduo certamente terá o respeito e a estima de todos, o que
é muito compreensível. Nós mesmos, se encontrássemos uma pessoa assim,
desejaríamos cultivar sua amizade, confiar-lhe nossos problemas e nos sentiríamos
ligados a ela. Essa dedicação, entretanto, não pode ter caráter passageiro.
Exemplifiquemos com o arroz: quem se habitua com ele, a cada dia o acha mais
saboroso. O homem de verdadeira fé pode ser comparado ao arroz.
No mundo, predominam pessoas que contrariam tudo o que acabamos de dizer: suas
ações comprometedoras levam-nas a perder a confiança do próximo, sem que isto as
preocupe. Mentem de tal forma, que podem ser desmascaradas a qualquer momento.
Embora possuam boas qualidades, suscitam desconfiança e se desvalorizam aos
olhos dos outros.
Mentir é uma grande tolice; basta uma pequena mentira para se ficar desacreditado.
Se investigarmos por que certas pessoas não melhoram de situação, embora sejam
esforçadas e assíduas no trabalho, veremos que elas não merecem crédito, devido às
suas mentiras.
A confiança é realmente um tesouro. Quem a merece jamais passará por dificuldades
monetárias, pois todos sentirão prazer em lhe fazer empréstimos. Estou me referindo à
confiança entre os homens; mas obter a confiança de Deus é algo de valor
inestimável. Se a conseguirmos, tudo correrá bem e teremos uma vida repleta de
alegrias.
18 de junho de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
BONDADE E CORTESIA
PESSOA SIMPÁTICA
Talvez não exista nenhuma palavra que soe tão agradavelmente quanto "simpatia".
Pensando bem, a simpatia é muito mais importante do que imaginamos, pois tem
muita relação não só com o destino do indivíduo, mas também com a sociedade. Se
alguém se tornasse simpático graças ao relacionamento com uma pessoa simpática e
isso fosse se propagando continuamente, é óbvio que a sociedade se tornaria
bastante agradável. Por conseguinte, diminuiriam os problemas, principalmente o
conflito e o crime; espiritualmente, criar-se-ia o Paraíso. Não existe meio melhor do
que esse, pois não requer dinheiro, não é trabalhoso e pode ser posto em prática
imediatamente.
Falando, parece muito simples, mas todos sabem que, na realidade, não é tão fácil
assim, pois não basta que a simpatia seja apenas aparente. A verdadeira simpatia
aflora do interior; é indispensável, portanto, que a pessoa seja sincera de coração, o
que depende de cada um. Em suma, a base da simpatia é o espírito de Amor ao
Próximo.
Vou contar um pouco de minha experiência a esse respeito.
É engraçado eu mesmo falar destas coisas, mas desde pequeno, onde quer que eu
fosse, quase nunca era malquisto ou antipatizado. Pelo contrário, era respeitado e
amado na maioria das vezes. Então, pensando bem, concluí que tenho uma
característica que me parece ser o motivo disso: sempre deixo meus próprios
interesses e minha própria satisfação em segundo plano; procuro fazer, em primeiro
lugar, aquilo que satisfaz aos outros, aquilo que os deixa felizes. Ajo assim não por
razões morais ou religiosas, mas naturalmente. Talvez seja da minha própria natureza.
Em outras palavras, é até uma espécie de "hobby" para mim. Por essa razão, muitos
dizem que tenho uma natureza privilegiada, e é possível que tenha mesmo.
Depois que me tornei religioso, esse sentimento aumentou ainda mais. Quando vejo
uma pessoa sofrendo por doença, não consigo ficar tranqüilo; tenho vontade de curá-
la a qualquer custo. Então, ministro-lhe Johrei, e ela fica curada e feliz. Ao ver sua
alegria, esta se reflete em mim e eu me sinto feliz também. Por esse motivo, criei
inúmeros problemas no passado e sofri muito. Mesmo quando achava que nada
poderia fazer por uma pessoa e que deveria parar de dar-lhe assistência, a pedido
insistente e até súplicas da própria pessoa e de sua família, eu cedia e continuava indo
visitá-la, ainda que fosse longe. Gastava tempo e dinheiro, e, no final, o resultado era
ruim, desapontando os familiares do doente. Muitas vezes, cheguei até a ser odiado.
Toda vez que isso acontecia, eu me censurava, achando que deveria tornar-me mais
frio.
Como essa minha característica também foi de muita ajuda para a construção do
protótipo do Paraíso Terrestre e do Museu de Belas-Artes, creio que ela me tenha sido
atribuída por Deus. Quando vejo uma magnífica obra de arte ou uma paisagem
maravilhosa, não sinto vontade de apreciá-las sozinho e até fico melindrado; nasce em
mim o desejo de mostrá-las a um grande número de pessoas, para alegrá-las. Dessa
forma, minha maior satisfação é alegrar o próximo, o que me faz ficar alegre também.
21 de abril de 1954 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
SENTIMENTO E REPUTAÇÃO
Creio que, em japonês, não há expressão de sentido mais profundo e sutil do que
"mono o shiru" (o saber das coisas). Considero-a de difícil interpretação, por isso vou
tentar esclarecê-la o melhor possível.
Analisando essa expressão, vemos que ela significa experimentar ilimitadamente tudo
que existe no mundo, penetrar, captar a essência das coisas e exprimi-la de alguma
forma. Ou melhor, descobrir o segredo de medir a ação e as conseqüências de
determinado problema. Ao contrário, se alguém exibir teorias infantis, agir
levianamente ou praticar ações sem perceber a censura e o desprezo dos outros,
significa que não tem visão nem saber das coisas. Pertence ao grupo daqueles que se
costuma chamar de imaturos, infantis ou grosseiros.
Esclarecido é quem possui vasto saber. Por aí vemos quão grande é o número de
homens imaturos que não possuem esse saber das coisas, inclusive entre os homens
públicos. Eles procuram exagerar e fazer alarde de questões insignificantes, sem se
dar conta de que estão atraindo o desprezo dos esclarecidos. Seu comportamento
nada mais é que a demonstração de sua própria inferioridade. Tais indivíduos são,
infalivelmente, umas nulidades, homens de conceitos restritos ("Shojo").
A eficiência e o crédito são sempre prejudicados pela ação dessas criaturas
medíocres, empenhadas somente em elevar sua própria fama. Certamente é por
causa de tantos elementos sem maturidade que não se consegue chegar a conclusões
e resoluções mais rápidas nos debates políticos de hoje. Se a maioria fosse
esclarecida, seria fácil um acordo. O problema é que os esclarecidos se retraem no
silêncio, por detestarem discutir com gente teimosa. Os imaturos aproveitam essa
oportunidade para se exibir, desejando tornar-se famosos, e a fama aumenta sua
probabilidade de serem eleitos, por ocasião das eleições. Sendo assim, os menos
esclarecidos representam a maioria, e os esclarecidos, a minoria. Uma prova disso é o
fato e a necessidade de se passar longo tempo discutindo um problema - às vezes de
somenos importância - para se encontrar uma solução.
Mas a verdade é que, apesar de os homens mais esclarecidos aparecerem menos, por
serem modestos, suas opiniões acabam sempre triunfando. E isso não se limita ao
mundo político. É natural, em todos os setores da sociedade, que aqueles que são
conhecidos pela sua competência sejam homens relativamente esclarecidos.
Até aqui me referi à parte moral. Passarei, em seguida, para o campo da Arte, que eu
considero o melhor meio para explicar o presente assunto, já que a maioria dos
homens esclarecidos são, ao mesmo tempo, dotados de senso estético muito elevado.
Exemplifiquemos, primeiramente, com o príncipe Shotoku, cujo vasto conhecimento
sobre a cultura budista, principalmente na parte artística, ninguém poderá deixar de
reconhecer. Temos a prova disso no Templo Horyuji e em outras construções, que
ainda conservam o esplendor da sua magnificência. A sua famosa "Constituição dos
17 Artigos" pode ser considerada a base da lei japonesa.
Também podemos citar Yoshimassa Ashikaga, que, embora tenha sido muito criticado
em outros setores, na parte artística deixou-nos uma obra notável. Além de construir o
Templo Guinkakuji (Pavilhão de Prata), foi apreciador da arte chinesa, tendo
colecionado objetos artísticos das eras Sung e Ming. Incentivou grandemente a arte
japonesa, e as obras raras e valiosas criadas por sua iniciativa, conhecidas como
"Obras preciosas de Higashi-yama", ainda hoje deleitam o nosso senso artístico. Seu
trabalho é realmente digno de louvor.
A maior honra, no entanto, desejamos conferir a Hideyoshi Toyotomi (unificador dos
feudos, no ano de 1573). Ao lado de sua exuberante criação artística, intitulada
"Momoyama", devemos salientar o brilhante impulso dado por ele à arte da Cerimônia
do Chá - cuja existência, até então, era obscura - protegendo Rikyu Senno, mestre da
referida arte, naquele século. Graças a ele, houve um rápido desenvolvimento da
cultura artística, e gênios e grandes mestres surgiram uns após outros. Não fazem
exceção Enshu Kobori e Chojiro, o gênio da cerâmica. Este, como Ashikaga, além de
obras japonesas e chinesas, colecionou famosos objetos artísticos da Coréia, dando
um novo impulso à cerâmica no Japão. Devemos lembrar, aqui, a existência de Koetsu
Honnami. Ele foi pintor e calígrafo notável, tendo criado uma nova modalidade de
"makiê" (arte que utiliza laca e madrepérola); na fabricação de cerâmicas, foi
inimitável, graças à sua originalidade e versatilidade. Sua maior contribuição, que ele
próprio não previra, foi ter influenciado, cem anos após seu falecimento, o famoso
mestre Korin Ogata, expoente máximo do Japão no setor artístico, o qual foi admirador
de Koetsu e o superou, conquistando grandiosa fama. Também não podemos omitir os
oleiros Ninsei e Kenzan. Desta corrente surgiu Hoitsu, que se fez notar, também, pela
sua habilidade artística.
A grandeza de Hideyoshi Toyotomi reside no fato de ter compreendido a Arte ainda na
mocidade e colecionado obras-primas, o que não deixa de ser algo surpreendente,
dado que ele era filho de lavrador. Geralmente, além de crescer sob condições
favoráveis, ou melhor, na classe acima da média, é necessário um grande esforço
para se atingir o nível do "saber das coisas". Hideyoshi, portanto, é de fato um homem
extraordinário, pois atingiu esse nível apesar de sua origem humilde e de ter vivido
continuamente em campos de batalha.
Lancemos, agora, uma vista sobre a arte literária.
Na poesia, sobressaem, indiscutivelmente, Saigyo e Basho. As obras destes dois
expoentes revelam ter sido realizadas por quem realmente possui o "saber das
coisas". Nunca deixo de admirar estes poemas, suas obras principais:
"A solidão envolve
Até um coração indiferente,
Quando as narcejas levantam vôo do pântano,
Nos crepúsculos do outono."
Saigyo (Waka)
"O canto das cigarras
Penetra no silêncio
E nas rochas."
Basho (Haiku)
Uma pessoa que também merece ser lembrada é o aristocrata Unshu Matsudaira,
conhecido pelo nome de Fumai. Ele colecionou inúmeras obras de arte, classificou-as,
protegeu-as da dispersão e deu impulso à Cerimônia do Chá. É digno de toda a nossa
consideração.
Entre os esclarecidos da época moderna, citaremos o falecido ator Danjuro Itikawa.
Vimos, em linhas gerais, alguns dos principais representantes da arte japonesa
considerados esclarecidos. São homens civilizados no mais alto grau, e é escusado
dizer o quanto colaboraram para alimentar a alma do povo, enriquecendo-lhe o gosto
estético e elevando-lhe os sentimentos. Naturalmente, todos sabem que as invenções,
as descobertas e o progresso do ensino contribuíram para a cultura da humanidade,
mas convém recordar a grande contribuição que, em silêncio, as obras dos
esclarecidos trouxeram à civilização.
15 de agosto de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Doravante, as pessoas precisam ser universais. A propósito disso, existe uma história
interessante.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, um ex-militar veio a mim muito nervoso e, com
expressão de ressentimento, falou: "Não entendo de modo algum o motivo da rendição
dos japoneses. É realmente algo inadmissível". Impressionado por eu não ter dado
importância às suas palavras, perguntou: "O senhor é japonês?" Respondi: "Não". Ele
ficou muito espantado e, trêmulo, insistiu: "Qual é a sua nacionalidade?" Eu disse:
"Sou universal". Ouvindo isso, o ex-militar ficou confuso e pediu que eu me explicasse
melhor. O que vou escrever a seguir tem por base a explicação dada naquela
oportunidade.
É errado distinguir um ser do outro identificando-os como japonês, chinês ou de outra
nacionalidade qualquer. Os japoneses daquela época agiam assim. Tendo vencido as
guerras contra a China e a Rússia, começaram a se orgulhar, por se verem incluídos
entre os países de primeiro plano. Não só julgaram, como também fizeram os outros
julgar que o Japão era um País Divino, todo especial. Tais pensamentos acabaram por
gerar a Segunda Guerra Mundial. Por idênticos motivos, passaram a desprezar os
outros povos, como se estes fossem meros animais, pondo-se a matar pessoas com a
maior naturalidade e a invadir as outras nações como bem entendiam. No final,
entretanto, acabaram recebendo uma lição, sendo derrotados.
A verdade é que enquanto cada povo tiver o pensamento de que, se o seu próprio país
estiver bem, não interessa como estejam os demais, será impossível conseguir-se a
paz mundial. Poderemos entender isso melhor imaginando, por exemplo, um conflito
entre dois estados do Japão. Como o problema ocorre dentro de um mesmo país,
tratando-se, portanto, de conflito entre irmãos, é lógico que será fácil resolvê-lo. Logo,
basta aplicarmos esse conceito em amplitude mundial. É como diz o famoso poema do
Imperador Meiji: "Na era em que consideramos todos os povos irmãos - inclusive os de
além-mar - por que as ondas e os ventos se enfurecem?" É exatamente isso. Se todos
pensassem assim, se a humanidade tivesse esse sentimento amplo, amanhã mesmo
estaria concretizada a paz no mundo. Todos os países formariam uma só família, não
havendo motivo para guerras.
Pensamentos egocêntricos que levam as pessoas a formar grupos que, dizendo-se
defensores de determinada ideologia ou pensamento, consideram os demais como
inimigos, não só geram erros para a Nação, como também constituem um obstáculo
para a paz mundial. Com base no que estou dizendo, é preciso que pelo menos todos
os japoneses, em comemoração à assinatura do Tratado de Paz, tornem-se
universais, libertando-se do pensamento limitado que tiveram até agora e adquirindo
um pensamento amplo, irrestrito. Doravante, entre os pensamentos que dominam a
humanidade, este deverá estar à frente de todos, pois o mundo inteiro precisa de
pessoas que pensem assim.
O assunto muda um pouco, mas também no que se refere à Religião o comportamento
deve ser o mesmo. Já está fora de época criar alas dentro de uma religião ou de uma
seita. Modéstia à parte, a nossa Igreja não é assim. Ela não nos proíbe contatar com
as outras religiões. Ao contrário, esse contato é até motivo de alegria para nós, visto
que, pacifista, ela tem por objetivo harmonizar toda a humanidade, fazendo dos seres
humanos uma só família. Sendo assim, consideramos todas as religiões como
companheiras e queremos dar-lhes as mãos, caminhando lado a lado com elas.
3 de outubro de 1951 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
PESSOAS MEDROSAS
Dizem que a fé é amor, mas existem vários tipos de amor: amor correto, amor
incorreto, amor amplo, amor limitado, etc. É por isso que os que possuem fé não
podem deixar de ter um entendimento correto sobre o amor.
Em primeiro lugar, darei exemplos de amor correto. Nele se inclui o amor no lar - entre
marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, etc. - e o amor relativo às demais
pessoas, tais como amigos, parentes ou conhecidos. Por mais que esse tipo de amor
aumente, não há nenhuma censura a fazer. O problema é o amor incorreto.
Obviamente, o amor incorreto é o oposto do anterior: quebra a hamonia entre marido e
mulher, esfria as relações entre pais, filhos e irmãos, causa desentendimentos entre
amigos e parentes, distancia as relações, etc. Isso é muito freqüente na sociedade,
sendo causado pelo amor incorreto, ou pelo amor escasso.
Essa é uma classificação genérica do amor correto e do amor incorreto. Entretanto,
entre esses tipos de amor, o que talvez precisa ser mais analisado é o amor-paixão.
Como já tive oportunidade de explicar, mesmo nesse tipo de amor existe o correto e o
incorreto. Naturalmente, o amor de jovens puros, que objetivam o casamento, é um
amor-paixão correto. Mas o amor-paixão muito freqüente na sociedade, motivado por
um impulso momentâneo, fútil, isto é, amor intempestivo como uma febre tropical, é
amor incorreto. Em suma, o amor-paixão não embasado na Inteligência Superior
(###Vide página 36 "Luz da Inteligência" e página 37 "As cinco Inteligências"###) é
amor incorreto. Se ele progride demais, invariavelmente gera situações trágicas. Isto
porque, apesar de a pessoa ter esposo ou esposa, o amor-paixão é dirigido para
terceiros. Existem pessoas que acabam caindo num destino catastrófico para o resto
de seus dias e até perdem a vida por causa de um prazer de pouca duração. É por
isso que devem acautelar-se ao máximo, pois não há nada que cause tão grandes
prejuízos como esse tipo de amor-paixão.
Fiz uma crítica bem simples a respeito do bem e do mal no amor-paixão. Agora desejo
explanar sobre a amplitude do amor. Como eu disse anteriormente, o amor entre
familiares e o amor pelas coisas que nos rodeiam é amor de caráter "Shojo" (restrito),
que pertence ao grupo do amor-próprio, sendo mais freqüente nas pessoas comuns. É
inerente ao tipo comum das pessoas boas, existindo, também, nos agnósticos; quanto
a estes, não tenho nada de especial a comentar, mas, em se tratando de verdadeiras
pessoas de fé, é totalmente diferente. O amor dos que têm fé é "Daijo", ou seja,
altruísta. Este amor "Daijo" ampliado ao máximo é o amor à humanidade, é o amor ao
mundo.
Devemos atentar para o fato de que os japoneses, até o fim da Segunda Guerra
Mundial, não conheciam o verdadeiro amor "Daijo". Para eles, a mais ampla e elevada
forma de amor era o amor à pátria. Como todos sabem, seu maior objetivo consistia
em dar a vida por ela, mas, como se tratava de amor "Shojo", resultante da crença de
que isso era o que havia de mais importante, causou a lamentável situação em que o
Japão se encontra atualmente. Portanto, como o amor limitado a um povo ou a uma
classe não é verdadeiro, mesmo que se prospere por um momento, inevitavelmente
acaba-se fracassando. Conseqüentemente, como eu disse antes, por mais que as
pessoas se esforcem com um objetivo limitado, afirmando pertencer a esta ou àquela
ideologia, não há possibilidade de grande sucesso. Tratando-se de ideologia, só o
cosmopolitismo é verdadeiro. Nesse sentido, para que a religião seja aceita como a
verdadeira salvação, ela também deve ser de caráter universal. É por esse motivo que
a nossa Igreja teve seu nome completado com a palavra Mundial.
18 de outubro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A IRRESPONSABILIDADE DOS SUICIDAS
Todos sabem que sempre existiram suicidas, mas parece que, ultimamente, o número
deles é maior. Sendo assim, podemos perceber que não há relação entre suicídio e
progresso da cultura.
Creio que os suicídios ocorridos no Japão têm motivos bem diferentes dos suicídios
ocorridos em outros países. A nosso ver, o que leva os estrangeiros a esse ato
extremo é o sofrimento espiritual, mas no Japão parece não ser assim.
Na época do feudalismo, havia motivos espirituais muito nobres para o suicídio. Muitos
sacrificavam a vida como expressão de desculpas, como forma de advertência ao
senhor feudal ou como prova de inocência. Por essa razão, chegava-se a ter certo
respeito pelos suicidas, às vezes levando-se isso ao exagero, como aconteceu no
caso do General Nogui (1849-1912), que foi consagrado como ser Divino.
Ultimamente, entretanto, podemos dizer que quase não existem motivos como esses.
O estudante e agiota Yamazaki, por exemplo, que se suicidou não faz muito tempo,
por um momento fez todo mundo vibrar com o sucesso econômico que obteve através
da agiotagem, mas acabou num beco sem saída e, talvez para fugir do sofrimento ou
então para se desculpar, não viu outro recurso a não ser o suicídio. Analisando bem,
foi um ato de extrema irresponsabilidade. Depois de ter causado grande prejuízo ao
próximo, ele fugiu para o Mundo Espiritual sem ao menos pagar um pouco pelo mal
que fez. É o cúmulo. Pode-se até dizer que foi um ato condenável. Na verdade,
Yamazaki deveria ter feito tudo para viver o mais possível e pagar, ainda que em
pequena parte, o prejuízo que causou. Se não o fez, pode até ser chamado de
covarde. No caso tão comentado, atualmente, do suicídio de um literato, também não
há como fugir da acusação de irresponsabilidade. Talvez ele tenha praticado aquele
ato para acabar com o sofrimento causado pela sua própria imoralidade; mas o caso é
que sua morte causou muita infelicidade, muitos problemas aos seus familiares e às
pessoas de suas relações.
Numa parte da sociedade, existem pessoas que até elogiam esse tipo de suicidas,
mas podemos afirmar que elas estão criando um mal, uma espécie de pecado. Como
prova, citamos o exemplo do Sr. Hidemitsu Tanaka, que se suicidou há pouco tempo
em frente ao túmulo do Sr. Dazai. Talvez ele tenha feito isso pela admiração que este
último lhe inspirava. Mas não foi apenas ele. Mais tarde, do mesmo local de onde o Sr.
Dazai se jogou - no alto do Rio Tamagawa - dezenas de pessoas se atiraram também,
o que nos deixa pasmados. Também podemos citar o caso de Missao Fujimura, que
há vários anos se atirou da cascata de Kegon. Ainda hoje muitas pessoas seguem o
seu exemplo, o que é uma prova evidente daquilo que estamos dizendo.
A seguir, falarei sobre a intoxicação por meio de drogas como a heroína e a cocaína,
uma das principais causas dos suicídios da atualidade. O caso requer uma grande
reflexão. É preciso fazer as pessoas entenderem perfeitamente que, embora elas
comecem tomando pequenas doses, os narcóticos vão lhes custar a vida, no futuro.
Atualmente, as autoridades estão percebendo a gravidade do problema e começaram
a fazer proibições, infelizmente tardias.
Aconselho especialmente aos jornalistas que não façam o menor elogio ao suicídio;
pelo contrário, frisem categoricamente que ele é um ato da maior irresponsabilidade e
covardia. Na verdade, do ponto de vista religioso, não se deve criticar os mortos; mas,
como eu estou advertindo sobre o mal representado pelo suicídio com o objetivo de
evitar novos suicídios, creio que os espíritos daqueles que praticaram esse gesto
também ficarão satisfeitos.
14 de janeiro de 1950 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
A RESPEITO DOS SONHOS
Constantemente me fazem perguntas a respeito dos sonhos, por isso vou falar sobre
esse tema.
Talvez não haja uma só pessoa que não sonhe, ao dormir. Os sonhos podem ser de
vários tipos: mensagens das divindades, avisos do Espírito Guardião, sonhos com
pessoas nas quais nem pensamos, sonhos que vêm a se concretizar de forma idêntica
ou contrária ao que se sonhou, etc.
A palavra "yume" (sonho) é resultante da condensação de "yumei", palavra com que
se designa o nebuloso mundo após a morte. Isso quer dizer que o espírito se liberta do
corpo enquanto dormimos e vai para esse mundo nebuloso. Nessa ocasião, aquilo que
temos no nosso subconsciente e os nossos desejos constantes aparecem nas formas
mais variadas, sem sentido algum. Quando o espírito se evade para o Mundo
Espiritual, fica ligado ao corpo pelo elo espiritual; quando a pessoa acorda, ele volta
instantaneamente.
A mensagem das divindades através de sonhos restringe-se às pessoas que têm fé. O
espírito Divino que é alvo de sua fé dá-lhes avisos sempre que houver alguma
necessidade. Os avisos do Espírito Guardião aparecem geralmente sob forma de
alegoria, precisando ser interpretados. Como já disse muitas vezes, o Mundo Material
é um reflexo do Mundo Espiritual, onde tudo acontece primeiro. Por isso, nosso
Guardião, que está neste último, utiliza-se dos sonhos para nos alertar. Os
pressentimentos que temos comumente são avisos seus.
Há alguns pontos que devemos esclarecer. Dizem que não sonhamos quando
dormimos profundamente, mas é um engano. Naturalmente, quando estamos muito
cansados, não sonhamos; no caso de sono não muito profundo, podemos sonhar.
Contudo, não devemos nos preocupar com isso, pois, se sonharmos mesmo nessa
circunstância, é porque estamos realmente dormindo. Às vezes eu até chego a sonhar
durante um ou dois minutos quando converso com as pessoas, e também quando
estou dormindo em pé, no ônibus, porém isso não quer dizer nada.
As pessoas que sonham ficam preocupadas, achando que não são inteligentes, mas
isso não é verdade. Eu, por exemplo, quando era jovem, quase não sonhava, e acho
que naquela época era menos inteligente do que hoje.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)
Muitos me perguntam qual deve ser a direção e a posição das casas, por isso resolvi
escrever este artigo.
Assim como existe fisiognomonia dos homens, também existe a das casas: ambas têm
muita influência sobre o bom ou o mau destino. Mas a fisiognomonia das casas que
vou divulgar, é muito diferente daquelas que foram feitas pelos que se dizem
entendidos no assunto. Não aprendi com ninguém; quero deixar bem claro que se trata
do resultado das minhas experiências e intuições espirituais.
Tal como a maioria dos fisiognomonistas, eu também enfatizo a importância do
nordeste; só que a minha interpretação é diferente. Por definição, esse ponto cardeal
está situado entre o norte e o leste. É uma direção muito importante, pois dela vem
uma emanação espiritual puríssima. Daí os antigos dizerem que não se deve macular
o nordeste. Por exemplo, se construírmos desse lado o banheiro, a cozinha, a entrada
ou a saída da casa, a emanação espiritual impura proveniente desses locais
contamina a que vem de lá e, como conseqüência, facilita a atuação de demônios e
maus espíritos, que são os causadores de doenças e desgraças. Por isso, devemos
conservar o mais pura possível a emanação espiritual que vem do nordeste. Nesse
sentido, se possível, é bom fazer um jardim nessa direção; o ideal seria plantar um
pinheiro macho e outro fêmea.
Ao nordeste opõe-se o sudoeste, o qual, como o nome indica, fica entre o sul e o
oeste. Daí provém uma emanação que traz muita riqueza material, o que é importante
para se alcançar fortuna e destaque social. Para isso, é recomendável fazer
disposições com água e pedra; um lago, por exemplo, ainda que pequeno,
ornamentado com pedras.
Quanto à entrada principal da casa, convém que fique no sudeste, isto é, entre o sul e
o leste. É bom que, à medida que ultrapassamos o portão e nos dirigimos para a
entrada, o terreno vá se elevando. No que concerne à localização, se a casa está
numa ladeira, deve ficar do meio para cima: também não é aconselhável que esteja
abaixo do nível da rua. Não se deve morar por muito tempo em casas que tiverem
essa localização. Entretanto, quando falamos em lugares altos, referimo-nos à
situação da casa em relação às proximidades, não sendo muito importante a
existência de montanhas ou elevações por perto. A entrada deve estar em posição tal
que, transpondo o portão, não tenhamos de recuar para atingi-la. Convém que a porta
principal fique à direita ou à esquerda do portão e que em frente a ela não haja
nenhuma saída; caso contrário, a sorte entra, mas não fica, vai embora. É muito bom
que os aposentos do chefe da casa estejam dois ou três degraus acima do nível dos
outros compartimentos.
Para determinarmos a posição da casa em relação aos pontos cardeais, devemos
colocar a bússola no local correto. A maioria dos zodíacos toma como ponto de
referência o centro da casa e marca as direções a partir daí, o que é muito errado. O
homem não foi criado para a casa; esta é que foi criada para o homem. Ele é o senhor,
ela é o súdito, pois sua construção ou destruição depende da vontade dele. Por
conseguinte, como a pessoa mais importante da casa é o chefe da família, o lugar de
seu descanso, isto é, seu quarto de dormir, deve ser considerado o centro, a partir do
qual se tomam as direções.
No que se refere ao formato da casa, devem ser evitadas as reentrâncias, mas é bom
que haja algumas proeminências. Também é muito boa a casa que, da entrada,
estende-se para os dois lados, como uma ave abrindo as asas.
Com relação ao número de "tatami" (###Esteira de 1,80 x 0,90 m feita de pé de
arroz###), é aconselhável, para quarto do chefe da casa, o cômodo com dez "tatami",
pois, espiritualmente, esse número representa a junção da água e do fogo. Também é
apropriado o aposento com oito "tatami", porque o número oito representa o fogo, o
qual é superior aos demais elementos. Os números seis e três representam a água,
sendo adequados para os aposentos da esposa. Todos os números pares são bons
para a quantidade de "tatami", sendo que quatro e meio, sete, nove e outros números
não são recomendáveis. Nesses casos, deve-se completá-los com tábuas, para que se
tornem pares.
O "toko-no-ma" (###Vide Alicerce do Paraíso - Vol. 1, pág. 73###) deve ficar à direita,
e o "tigaidana" (###Prateleira própria para "toko-no-ma". É formada de duas tábuas,
uma do lado esquerdo e outra do lado direito, em níveis diferentes uma da outra e
ligadas nas pontas por outra tábua ###) à esquerda; entretanto, dependendo da
entrada, não tem importância que seja o inverso. Se não houver "toko-no-ma", o lugar
mais nobre é o que fica mais distante da entrada. Não é bom que o "toko-no-ma"
esteja próximo desta, ou que, entrando no compartimento, a pessoa tenha de
retroceder para chegar em frente a ele.
É desaconselhável que a sala de estilo ocidental fique situada no segundo andar (no
caso de sobrado). Isto porque as pessoas entram aí com sapatos e, assim, ela se
iguala à rua. Dessa forma, há uma inversão de posições, isto é, a rua fica em nível
mais alto que a casa.
No tocante à localização da casa, não há muita relação entre os pontos cardeais e a
idade das pessoas. Costumam dizer que a mudança em direção ao nordeste não é
recomendável, mas acontece justamente o contrário, pois, como expus anteriormente,
dali vem uma emanação espiritual puríssima. Mas aí surge um problema: quando
alguém se muda para uma casa com essa localização, seus atos e sua profissão
devem ser corretos. Isso porque aquela emanação tem uma grande força purificadora,
e, quando os pensamentos são negativos e os atos não são corretos, os sofrimentos
sobrevêm mais rapidamente, por causa da purificação. Até hoje, muitas pessoas
temiam ou desprezavam o nordeste por terem procedimento e profissões incorretos.
25 de janeiro de 1949 (Alicerce do Paraíso - Volume único)