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4. A mediologia
Os debates em torno das novas tecnologias tendem a focar-se, ora numa
vertente mais tecnológica, ora numa vertente mais sociológica, o que não
permite a visão abrangente da realidade que procuramos. Para superar esta
dificuldade recorre-se agora ao pensamento de Régis Debray372. Este autor
observa com um «olhar oblíquo […] os fenómenos, […] junta o que parece
separado e separa o [que] parece unido. As turbulências das zonas intermédias,
as interfaces, os curto-circuitos, o vaivém entre a pequena e a grande escala
são o terreno da sua indagação»373. A este dado acresce ainda o facto de o seu
objeto de pesquisa ser preponderantemente a religião. E esta, sobretudo numa
perspetiva de transmissão cultural, de que o seu relatório sobre o ensino do
facto religioso na escola laica374 é uma evidência. Aí preconiza a necessidade
de potenciar o acesso ao universo da simbologia religiosa, para colmatar a
carência cultural humanística e histórica, que se verifica sobretudo nas novas
gerações375. A designada incultura das novas gerações «é uma outra cultura, que
se pode designar como uma cultura da extensão. Ela dá prioridade ao espaço em
detrimento do tempo, ao imediato em detrimento da duração, tirando o maior
proveito das novas ofertas tecnológicas»376. A esta problemática, o desequilíbrio
entre o espaço e o tempo, Régis Debray responde com o acesso educativo à
cultura religiosa.
O símbolo religioso377 é aqui visto como aquele que permite superar o
tempo, pelo que o estudo do pensamento deste autor nos poderá ajudar a
372
Cf. http://regisdebray.com/; http://mediologie.org.
373
A. TEIXEIRA, «A exterioridade de Deus. Uma aproximação à teoria da religião de Régis Debray»,
in Didaskalia 38 (2008) 455.
374
Cf. R. DEBRAY, L’enseignement du fait religieux dans l’École laïque. Rapport [em linha]; S. BAFFI,
«Laïcité et enseignement en France au XXe siècle; Une conquête, un affrontement, un ques-
tionnement», in J. PINTASSILGO (Coord.), Laicidade, Religiões e Educação na Europa do Sul no
Século XX, 37-54; P. M. PINTO, «O ensino da religião na Escola Laica. Uma leitura do “Relatório
Debray”», in Revista Lusófona de Ciências das Religiões 11, 16/17 (2012) 11-30; J. A. C. LAGES,
«De uma laicidade de incompetência a uma laicidade de inteligência: o caso do ensino religioso
na escola pública», in Interações 8 (2013) 242-260; M. DE AQUINO, «O Ensino Religioso no
século XXI: religiosidade, laicidade e diversidade cultural», in Revista Brasileira de História das
Religiões 6, 17 (2013) 117-132.
375
Cf. M. MOYON, «Religious facts and History of Sciences: Example of a Fruitful interaction in the
French School of the 21st Century», in Journal of Educational Sciences 27 (2013) 25-33.
376
R. DEBRAY, L’enseignement du fait religieux dans l’École laïque. Rapport [em linha], 5-6.
377
Cf. G. LORIZIO, «La tradizione cristiana nel contesto del “villaggio globale”», in C. GIULIODORI
et al. (ed.), Globalizzazione, Comunicazione e tradizione, 316-319.
378
Cf. J. TELLEZ, L’âme et le corps des idées. Introduction à la pensée de Régis Debray, 11-30.
379
Este autor e a sua obra permitiriam outras abordagens, também muito estimulantes, mas nós
vamos centrar-nos apenas na mediologia, com a consequente seleção bibliográfica.
380
R. DEBRAY, Transmettre, 23; «consiste em meter o dedo sobre as intercessões entre a vida intelec-
tual, vida material e vida social, e a fazer ranger as dobradiças mais silenciosas» (IDEM, Manifestes
médiologiques, 31).
381
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 56; Y. JEANNERET, «La médiologie de Régis
Debray», in Communication et langages 104 (1995) 4-19; B. LAMIZET, «Médiologie: mode d’emploi,
sur deux ouvrages (Régis Debray)», in Réseaux 18 (2000) 201-205.
382
Cf. R. DEBRAY, Les communios humaines. Pour un finir avec «la religion»; IDEM, «Qu’est-ce qu’un
fait religieux?», in Études 3 (2002) 169-180.
383
R. DEBRAY, Manifestes médiologiques, 12.
384
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 69.
385
A. TEIXEIRA, a.c., 456.
386
R. DEBRAY, Introduction à la médiologie, 18.
387
IDEM, Cours de médiologie générale, 14; cf. F. VANDENBERGHE, «Regis Debray and Mediation Stu-
dies, or How Does an Idea Become a Material Force?», in Thesis Eleven 89 (2007) 23-42.
388
Cf. N. FATTORE, P. CALDO, «Transmisión: una palabra clave para repensar el vínculo pedagogía,
política y sociedad» [em linha] in VIII Encuentro de Cátedras de Pedagogía de Universidades Nacio-
nales Argentinas.
neos, os de difusão em massa389. Aqui, não se entende por «média» uma coisa
nem um agrupamento de objetos rotuláveis, é antes «um lugar e uma função
num dispositivo veicular»390, o que implica uma permanente reelaboração do
conceito, em função de cada situação.
A novidade desta abordagem mediológica não está tanto no objeto em si,
partilhado por outras ciências humanas, mas na perspetiva a partir da qual trata
a questão391. É deste modo que procura indagar «através de que estratégias
e sob que restrições a humanidade transmite as crenças, valores e doutrinas
que vai produzindo em cada época? E o que é que de essencial esconde essa
operação enganadoramente anódina?»392. A mediologia vai ocupar-se, então,
da atividade humana e dos dispositivos que lhe dão suporte393. A partir de casos
particulares, por exemplo Jesus Cristo ou Karl Marx, com as suas respetivas
bifurcações circunstanciais, procura inferir leis que possam ser de alcance geral
sobre a dinâmica transformadora das ideias394.
A mediologia concentra-se nos veículos e tem a transmissão como seu
objeto, ocupa-se daquilo que faz o transporte cultural. O
389
Cf. R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 15.
390
IDEM, Introduction à la médiologie, 125.
391
Cf. Ibidem, 1.
392
IDEM, Transmettre, 11.
393
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 34.
394
Cf. IDEM, Transmettre, 12; cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 91-95.
395
A. TEIXEIRA, a.c., 2, 458; cf. R. DEBRAY, Les diagonales du médiologue. Transmission, influence,
mobilité, 7-29; P. LÉVY, «La place de la médiologie dans la trivium», in R. DEBRAY (Dir.), Les
Cahiers de médiologie. Une anthologie, 29-33.
396
Cf. R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 9-10; «Com o incansável mau espírito de um ques-
tionamento bastante deslocado: de onde sai? Por onde passou? Como se expressa e a quem?
Unde, qua, quomodo. Tu, bela forma estética, grande instituição política, nobre domínio de
competências, tu Estado, nação, obra de arte, associação internacional, disciplina científica,
género literário, confissão religiosa – através de que compromissos te instituíste? De que supor-
tes, aparelhos e redes depende a tua sobrevivência? Por um instante, deixa-me suspender o
meu juízo de valor, colocar entre parênteses a tua mensagem e os teus fins, a tua beleza, os teus
conteúdos de verdade, os teus valores salvíficos, para considerar simplesmente os teus trajetos,
vetores e veículos, que te deram forma de vida e sem os quais tu não terias chegado até nós»
(IDEM, Transmettre, 185-186; cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 34-35).
397
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 19-20.
398
Cf. L. MERZEAU, «Le devoir de croyance», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de médiologie. Une
anthologie, 449-455.
399
R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 40. Não se vai centrar nas «verdades» científicas e
técnicas que depois de alcançadas não se discutem mais, mas sim nas «certezas» – de ordem
política, estética ou cultural – que podem ser assumidas e não impostas, como as verdades (cf.
IDEM, Introduction à la médiologie, 35; IDEM, Manifestes médiologiques, 17-19). Não se alcançará,
com esta busca, a verdade, mas a certeza presente no âmago das mentalidades, o que leva a
focarmo-nos apenas nos enunciados, nas mensagens.
400
Cf. IDEM, Transmettre, 157-161.
401
Cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 31-33.
402
Cf. D. BOUGNOUX, «Si j’étais médiologue», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de médiologie. Une
anthologie, 22-27.
403
«Em resumo, quer se repare nas crateras meteóricas devidas à queda de um objeto insólito sobre
o planeta mental ou restituamos o movimento do magma por detrás da formação das rochas
eruptivas, é o choque dos elementos que interessa ao observador» (IDEM, Transmettre, 158).
404
Cf. IDEM, Transmettre, 158.
405
Cf. Ibidem, 160.
406
Cf. Ibidem, 161-180.
407
Cf. S. PROULX, «La sociologie de la communication au prisme des études sur la science et la
technologie», in S. PROULX, A. KLEIN (Dir.), Connexions. Communication numérique et lien social,
17-37.
408
R. DEBRAY, Transmettre, 185.
409
Ibidem, 163.
410
O sujeito de verificação é inserido num contexto mnemotécnico, específico de uma mediasfera
(logosfera, grafosfera, viodeosfera ou digitasfera). O exemplo cristão é eloquente. A indexação
mediológica do cristianismo consistirá: na integração de um corpus teológico (conjunto de dog-
mas); de uma instituição sacerdotal (a pirâmide de ministros hierarquizados); e de procedimen-
tos originais de proclamação, catequese e identificação (cf. Ibidem, 163-164).
411
Ibidem, 166.
412
Ibidem, 167; cf. Ibidem, 180.
413
Cf. Ibidem, 170-171.
414
Ibidem, 173.
415
Cf. F. DAGOGNET, «Incorporer»», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de médiologie. Une anthologie,
35-39.
416
Cf. R. DEBRAY, Transmettre, 174.
417
Cf. Ibidem, 176.
418
R. Ibidem.
419
Cf. K. KONSA, T. REIMO, «Books as informational artefacts», in Ajalooline Ajakiri 147 (2014) 3-20.
420
Cf. R. DARNTON, «La France, ton café fout le camp!», in Avtes de la recherche en sciences sociales
100 (1993) 16-26.
421
R. DEBRAY, Transmettre, 177-178; cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 41.
422
Cf. Ibidem, 178.
423
Ibidem, 179-180.
424
Cf. Ibidem, 180-181.
425
Ibidem, 78.
426
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 40.
427
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 20-21; IDEM, Manifestes médiologiques, 13-14;
D. BERLINER, «Anthropologie et transmission», in Terrain 55 (2010) 4-19.
428
Para não causar confusão com outras partes deste trabalho, esclarece-se que Régis Debray usa
o vocábulo «comunicar» com o sentido que noutras partes se dá a «informar».
429
Cf. R. DEBRAY, Manifestes médiologiques, 68-72; IDEM, Introduction à la médiologie, 3; A. C. K.
MARANHÃO, «Transmitir ou Comunicar? Dilemas epistemológicos na formação da Mediologia
de Régis Debray», in Redes.com 7 (2003) 249-268; A. C. K. MARANHÃO; D. F. GARROSSINI, «A
Mediologia de Régis Debray: limites e contribuições ao campo comunicacional», in Em questão
16 (2010) 33-47; W. MOSER, «Transmettre et communiquer. Chassés-crisés conceptuales à partir
de Régis Debray», in Intermédialités: Histoire et théorie des arts, des lettres et des techniques 5 (2005)
191-206.
430
A. TEIXEIRA, a.c., 459.
431
Cf. R. DEBRAY, Des machines et des âmes. Trois conférences, 11-50; IDEM, Introduction à la médio-
logie, 3.
432
Cf. N. BOULAIN, «La Transmisión: cotejando a Frigero, Diker, Meirieu y Debray» [em linha].
433
Cf. R. DEBRAY, Transmettre, 15-24.
a força motora, uma propriedade, mas também ideias e instruções434. Para este
evento, concorre uma vasta confluência de forças, de diversas naturezas, que
entra em cena em cada reposição, por cada «“ideia que agita as multidões”.
Encontram-se convocadas e mobilizadas, desordenadamente, máquinas e pes-
soas, palavras-passe e imagens fixas, veículos, sítios e ritos»435. A ativação da
memória não se cinge apenas ao que é dito e escrito, antes implica a reinvenção
constante de marcas e gestos.
434
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 120-123.
435
IDEM, Transmettre, 15-16. «Atualmente, a mensagem evangélica age sobre os espíritos através dos
cânticos e das festas, os dourados e os órgãos das igrejas, os incensos, os vitrais e os retábulos,
pelas torres das catedrais e os santuários, a hóstia sobre a língua e o caminho do calvário sob os
pés – e não pela exegese individual ou comunitária dos textos sagrados» (Ibidem, 16).
436
Ibidem, 16.
437
Ibidem, 17.
438
Ibidem.
439
Cf. Ibidem, 25.
440
Ibidem, 18.
441
Cf. Ibidem, 19.
442
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 21-25.
443
IDEM, Transmettre, 20.
444
A polaridade que Régis Debray vê nas culturas americana e europeia, não sem mestiçagens,
onde a primeira valoriza o pragmático e o técnico, e a segunda o reflexivo e o cultural, é unida
e incorporada na leitura mediológica, pela integração do hard e do soft. O duplo corpo do
médium tem, então, dupla nacionalidade, uma nacionalidade planetária (cf. IDEM, Introduction à
la médiologie, 133-134).
445
Cf. IDEM, Transmettre, 20-21.
446
Ibidem, 21.
447
Cf. J. BELLERA SOLÀ, «Nuevos cenarios para el aprendizage cambiando las reglas del juego edu-
cativo», in Tendencias Pedagógicas 22 (2013) 171-174.
448
Cf. R. DEBRAY, Transmettre, 22.
449
IDEM, Introduction à la médiologie, 4. «A fé cristã deu ao corpo um estatuto ontológico crucial
(tornando-se uma verdadeira heresia helénica). A ideia de que a matéria salva era um escândalo.
A antiga prisão que era o corpo durante mil anos de pensamento helénico ou helenista, torna-se
assim, não na libertação das almas, mas precisamente naquilo que pode dar a salvação à alma.
Este é o facto mais genial (propriamente revolucionário) do cristianismo: os corpos como meio
de contacto com o Espírito, acesso e não morte» (Ibidem, 119).
450
Cf. Ibidem, 124-216 ; IDEM, Transmettre, 26-33; IDEM, Critique de la raison politique ou l’inconscient
religieux, 143-167.
451
Cf. IDEM, Transmettre, 86-87.
452
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 142-146.
453
IDEM, Transmettre, 27.
454
Cf. Ibidem, 103-120.
455
«A instituição tem a guarda dos depósitos (que ela não cessará de purificar, mesclar, censurar,
interpretar, em suma adulterar) – tarefa falsamente estática de conservação. E ela dispensará a
habilitação para transmitir o adquirido (ou desviar com regularidade a herança), concedendo as
devidas autorizações (a Igreja para pregar, a Universidade para ensinar, a Associação freudiana
para exercer a psicanálise, etc.). Tarefa dinâmica dirigida para o exterior mas que implica, no
seu interior, um certo imobilismo» (Ibidem, 28).
456
Cf. Ibidem, 27-28.
457
Cf. Ibidem, 27.
458
Cf. R. BURNET, «Les apôtres: une propagation en réseau», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de
médiologie. Une anthologie, 511-515.
459
R. DEBRAY, Transmettre, 29-30; cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 125-126.
460
Cf. J. A. DOMINGUES, O paradigma mediológico. Debray depois de Macluhan, 17-19.
461
Cf. C. BERTHO-LAVENIR, «Le vélo entre cultura et technique», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de
médiologie. Une anthologie, 337-339.
462
«Sem a conjugação quase cromossomática de um caldo de cultura com uma nova técnica, não é
possível a progressão técnica» (R. DEBRAY, Transmettre, 80). Cf. IDEM, Introduction à la médiologie,
107; IDEM, Manifestes médiologiques, 44-45.
463
Cf. J. TELLEZ, o.c., 165-173.
464
R. DEBRAY, Transmettre, 37.
465
«Com a sua mensagem a anunciar, o seu messias a adorar, os seus mediadores a venerar, o
cristianismo entrou em ressonância com a mediologia. Mais do que saber a razão deste mistério
da Incarnação, por definição inacessível à razão na qualidade de dogma revelado (um dos três
mistérios da fé, juntamente com a Trindade e a Redenção), aquele vai tornar a mediologia uma
ciência rigorosa» (IDEM, Cours de médiologie générale, 91; cf. IDEM, Vie et mort de l’image, 99-141).
466
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 92.
467
Ibidem, 94.
Igreja por «uma solução política, por uma decisão maioritária e promulgação
dogmática»468. O Concílio de Calcedónia (451) definiu a união das duas natu-
rezas como “união hipostática”. Régis Debray reflete, a partir de “hypostase”
como fundamento ou suporte, a base do Cristianismo. Este não vê o Verbo
incarnado como união, nem como mistura, e muito menos como fusão, mas
como comunicação de duas naturezas, em que a «permuta dos dois termos,
onde cada um se transforma no seu contrário sem perder a sua própria natureza,
fixa o santuário lógico e político da cristandade»469. É aqui que uma comunica-
ção programada se transforma em comando, a informação é executada, ganha
corpo470.
468
Ibidem, 96.
469
Ibidem, 97.
470
Cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 16-17.
471
IDEM, Introduction à la médiologie, 114-115; cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 21.
472
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 112-113.
473
Cf. Ibidem, 97, 155-157; «A linha da Carne elogia a autenticidade, a linha do Verbo evoca
a verdade. A primeira beneficia de uma inculturação espontânea aos valores eletrónicos da
modernidade, a segunda sofre os rigores de uma aculturação de aprendizagem e de competência»
(Ibidem, 371).
474
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 45-49.
475
Cf. IDEM, Transmettre, 37; IDEM, Cours de médiologie générale, 146-149.
476
Cf. Ibidem, 39.
477
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 10; IDEM, Transmettre, 40; IDEM, Cours de médiologie générale,
106-109.
478
IDEM, Transmettre, 41; cf. IDEM, Croire, voir, faire. Traverses, 7-8.
479
Cf. Ibidem, 41-48.
480
Olhando ao âmbito da religião, a sua etimologia provém de duas possíveis origens: legere e rele-
gere. Esta dupla possibilidade, melhor, a junção das duas permite aprofundar a sua compreensão.
Porque não há religião sem coligir e reunir (legere), mas também ela não é possível sem um religar
(relegere) com os vestígios de vêm de longe e de os religar com os contemporâneos. Chegamos,
aqui, ao que Debray chama o «axioma de incompletude», segundo o qual se pode estabelecer
formalmente que o simbólico, no plano superior, cria o comunitário, a nível inferior (cf. Ibidem,
42, 86-93).
481
Cf. Ibidem, 82-86; cf. J. A. DOMINGUES, o.c., 171-173.
482
Cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 65.
483
Cf. IDEM, Transmettre, 34.
484
«O erro dos futurólogos e a deceção dos futuristas provém normalmente da superestimação dos
efeitos do médium por subestimação dos quadros pesados do meio. Regra geral, a utilização é
mais arcaica que o objeto» (IDEM, Manifestes médiologiques, 28).
485
Cf. IDEM, Transmettre, 34.
486
Ibidem.
487
Cf. Ibidem, 35.
488
Ibidem, 36.
489
Cf. Ibidem, 36-37.
490
IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 22.
491
Cf. IDEM, Transmettre, 36.
492
IDEM, Cours de médiologie générale, 111.
493
Cf. Ibidem, 125-126.
494
Cf. Ibidem, 127-131.
495
Ibidem, 128; cf. Ibidem, 361.
496
Cf Ibidem, 128-130.
497
Ibidem, 130.
mas de uma mitologia muito forte. Um mito atinge mais depressa e com mais
força que um conceito»498.
Por outro lado, a abrangência territorial mais ampla do Cristianismo, que
implica a escrita, vêm-lhe do novo suporte usado, o codex, por oposição ao
rolo. Aquele é mais manuseável, transportável, permite anotações à margem e
é de produção economicamente menos custosa. O cristianismo é, então, «um
judaísmo extrovertido e maneável, mobilizador porque mobilizável»499, portátil
e pessoal. Isto fez com que – sob o paradigma da Incarnação – a «transmissão
evangélica de tipo generalista visasse todos os públicos, sem especialização.
Universalizar um modo de comunicação é sempre personalizar»500. Aqui, cada
um pode decifrar a sua própria existência; está-se perante a proposta de uma
experiência onde cada pessoa pode ser a sua própria história. Os
498
Ibidem.
499
Ibidem, 131.
500
Ibidem, 133.
501
Ibidem, 134.
502
Ibidem.
503
Os outros, mais pobres, são o escrever e o encenar.
Comunicação Transmissão
Dispositivos + instituição
Dispositivos técnicos
Vetor de difusão MO+OM (organização
MO (matéria organizada)
materializada)
Destinatário posterior
Recetor contemporâneo
(por copertença a uma
Natureza dos tempos (em co- ou telepresença)
linhagem)
O estar juntos em simultâneo
O estar juntos sucessivamente
As instituições e as
Os negócios e «os poderes»
Afinidades sociais «autoridades» (sem fins
(lógica de mercado)
lucrativos)
Proximidades
Sociologia e psicologia social História e antropologia
científicas
504
R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 135.
505
Ibidem.
506
IDEM, Introduction à la médiologie, 15.
Comunicação Transmissão
Opinião, consenso, audiência, Monumento, herança,
persuasão, impacto, arquivos, religião, ideologia,
Termos associados
publicidade, jornalismo, ensinamento, património,
interatividade, etc. afiliação, etc.
507
Cf. IDEM, Transmettre, 49.
508
Ibidem.
509
Ibidem, 50; «Na mediologia, “média” […] [significa] mediações, seja o aglomerado dinâmico de
procedimentos e corpos intermediários que se entrepõem entre uma produção de sinais e uma
produção de eventos. Este entre-ambos tem uma aparência “híbrida” (Bruno Latour), mediações
simultaneamente técnicas, culturais e sociais. […] O edifício possui três patamares, físico (ou
técnico), semântico, político» (IDEM, Manifestes médiologiques, 29).
510
Cf. Ibidem, 50-51.
511
Ibidem, 51.
512
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 108-110; IDEM, Transmettre, 53-71.
513
Cf. IDEM, Transmettre, 53-54.
514
Transportar uma mensagem diz-se em grego «angelein». O mensageiro ou delegado é o «angelos».
«É a transcendência da Origem, logicamente fundada, que faz com que haja intérpretes. Na
imanência pura, não há necessidade de mensageiros. As nossas religiões recorrem aos anjos
porque Deus não está lá» (IDEM, Manifestes médiologiques, 13).
515
IDEM, Transmettre, 54.
516
Ibidem, 54-55; cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 39-40.
517
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 39-40.
518
IDEM, Transmettre, 55.
519
Cf. Ibidem, 59.
520
Ibidem, 60.
521
Cf. R. DEBRAY, Croire, voir, faire. Traverses, 11-37; C. PAPOULIAS, «Of Tools and Angels: Régis
Debray’s Mediology», in Theory Culture Society 21 (2004) 165-170.
522
Cf. R. DEBRAY, Introduction à la médiologie, 119.
523
Cf. IDEM, Transmettre, 59-61.
524
Ibidem, 61.
525
Ibidem.
526
Cf. Ibidem, 64-66
condição de que os elos não estejam ao mesmo nível»527. Mas esta multiplica-
ção de degraus faz com que, no processo de transmissão, o sinal se vá perdendo
ao longo dos elos.
527
Ibidem, 66.
528
Ibidem, 67.
529
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 119-120, 133-134.
530
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 20; IDEM, Transmettre, 63.
531
Cf. IDEM, Transmettre, 67.
532
Cf. Ibidem.
533
Ibidem, 68
534
Cf. Ibidem, 69-70.
Haveria então a tentação de prescindir dos anjos, mas tudo leva a crer que
a relação imediata a cada um de nós, como indivíduo ou comunidade, apesar
de todo o desejo, não há de ocorrer535.
535
Cf. Ibidem, 71.
536
Cf. IDEM, Les enjeux et les moyens de la transmission, 22-23.
537
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 195.
538
Ibidem, 197.
539
Cf. D. BOULLIER, «Médiologie des régimes d’attention», in Y. CITTON (Dir.), L’économie de
l’attention. Nouvel horizon du capitalisme?, 84-108.
540
R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 196.
541
Cf. P.-M. DE BIASI, «Le papier, fragile support de l’essentiel», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de
médiologie. Une anthologie, 567-571.
542
Cf. R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 210.
543
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 110.
544
IDEM, Cours de médiologie générale, 211.
545
Cf. Ibidem, 213.
546
Cf. Ibidem, 216-217.
547
«Mediasfera […] termo genérico que designa um meio técnico-social de transmissão e de
transporte, dotado de um espaço-tempo próprio» (IDEM, Introduction à la médiologie, 32); «Uma
mediasfera é um sistema dinâmico de ecossistemas (complexos) reorganizados por e a partir de
um média dominante (simples), geralmente o mais recente» (Ibidem, 94); «Uma mediasfera é
uma relação mental para o espaço com o tempo físico» (IDEM, Manifestes médiologiques, 42).
548
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 229-231.
549
IDEM, Vie et mort de l’image, 148.
550
IDEM, Cours de médiologie générale, 229.
há uma mediasfera em estado puro, antes cada uma delas é resultado da junção
de objetos novos e de práticas já conhecidas, entrelaçando numa rede técnicas
de diferentes épocas. O quinto eixo diz-nos que cada mediasfera suscita uma
relação espácio-temporal própria, um realismo específico, com o consequente
sentido de orientação específico e sensação de segurança. Por fim, o sexto, cada
«evolução técnica dos meios de transmissão material dá um fio condutor à
sucessão histórica, aparição e extinção, dos sistemas simbólicos vivos em cada
estado do mundo»551.
A sucessão de diferentes mediasferas, e porque o ser humano é um ser de
cultura que se adapta, faz com que algumas pessoas se tornem estrangeiros no
seu próprio lugar de origem, quando há uma variação no ecossistema tecno-
lógico que não é por eles acompanhada. Isto torna evidente que o progresso
técnico pode originar um retrocesso cultural552.
A
551
Ibidem, 230.
552
Cf. Ibidem, 230-231.
553
Ibidem, 231.
554
Cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 138-144; IDEM, Cours de médiologie générale, 232-233.
555
Cf. A. BERQUE, «Biosphère ou cybermonde?», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de médiologie. Une
anthologie, 407-409.
556
Cf. R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 234-238.
557
Ibidem, 234.
558
Ibidem, 235.
559
Ibidem, 235-236.
560
Cf. F. DAGOGNET, «Route, anti-route, méta-route», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de médiologie.
Une anthologie, 287-291.
Por «símbolo» entende-se tudo aquilo que permite ligar o presente com o
passado e também ao futuro568; ligar uma presença sensível com uma ausência
inteligível569. Mas, «se a função de mediação simbólica é categorial, transhis-
tórica, ancorada no teorema de incompletude como condição transcendental
561
R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 237.
562
Ibidem, 238; cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 65-66.
563
Cf. IDEM, Cours de médiologie générale, 357-391.
564
Cf. C. GUTIERRES, B. PICCIOLI, Les mobilisations non institutionnelles et les réseaux sociaux [em linha],
23.
565
Cf. R. DEBRAY, Cours de médiologie générale, 254.
566
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 5.
567
Ibidem, 4.
568
Cf. IDEM, Vie et mort de l’image, 59-98.
569
Cf. IDEM, Introduction à la médiologie, 24-25.
570
IDEM, Manifestes médiologiques, 39.
571
Cf. M. MELOT, «Le monument à l’épreuve du patrimone», in R. DEBRAY (Dir.), Les Cahiers de
médiologie. Une anthologie, 611-617.
572
R. DEBRAY, Introduction à la médiologie, 27.
573
Cf. Ibidem, 28-30.
574
Ibidem, 29.
575
IDEM, Transmettre, 111.
576
Ibidem, 109.
577
«Para a passagem à humanidade como educação permanente de si, os traços são estratégicos.
A difusão à distância (alfabeto, livro, audiovisual) é secundária em relação à fixação: se a pri-
meira pode fazer mudar a civilização, a segunda gera nada menos que a civilização, ou seja, o
transporte, iluminado o futuro, de um passado num presente» (Ibidem, 109-110).
578
Ibidem, 112.
579
IDEM, Introduction à la médiologie, 35; cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 23-24, 40-41; IDEM, «His-
tória de 4 “M”», in Famecos 9 (1998) 15-27.
580
Cf. R. DEBRAY, C. GEFFRÉ, Avec ou sans Dieu? Le philosophe et le théologien, 78-83. Embora este
livro seja uma entrevista, referimo-nos apenas ao resumo que Régis Debray faz do seu próprio
pensamento, em articulação com a questão colocada pelo teólogo Claude Geffré.
581
Cf. R. DEBRAY, Introduction à la médiologie, 113.
582
Ibidem, 120.
583
Cf. IDEM, Manifestes médiologiques, 24.
Componente OM (organização
Componente MO (matéria organizada)
materializada)
584
Cf. IDEM, Les diagonales du médiologue. Transmission, influence, mobilité, 55-75.