Você está na página 1de 166

CIÊNCIA DOS MATERIAIS

GABRIELA DE JESUS
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 2

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO4 Ensaio de compressão, cisalhamento e torção 50 MATERIAIS POLIMÉRICOS 111
ESTRUTURA ATÔMICA E LIGAÇÃO INTERATÔMICA Ensaio de dureza 50 Origem dos polímeros 113
6 Propriedades térmicas 52 Classificação 113
Conceitos fundamentais 7 Propriedades elétricas e magnéticas 53 Propriedades 115
Modelos atômicos 8 Propriedades ópticas 53 Principais tipos de materiais poliméricos 120
Números quânticos 10 Propriedades químicas 54 Síntese e processamento 123
Configuração eletrônica 12 Fluência e fadiga 55 Síntese 125
Tabela periódica 13 Fratura 57 MATERIAIS CERÂMICOS E COMPÓSITOS 129
Forças e energia de ligação 15 Síntese 58 Propriedades dos cerâmicos 130
Ligação iônica 17 DIAGRAMAS DE FASES 64 Principais tipos de materiais cerâmicos 132
Ligação covalente 18 Diagrama de fases de substâncias puras 66 Processamento de cerâmicos 135
Ligação metálica 19 Regra das fases de Gibbs 67 Materiais compósitos 136
Interações intermoleculares  20 Curvas de resfriamento 67 Propriedades dos compósitos 136
Síntese 22 Sistemas isomorfos binários 68 Classificação dos compósitos 137
ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS E IM- Regra da alavanca 69 Principais tipos de materiais compósitos 140
Desenvolvimento da microestrutura em ligas isomorfas Síntese141
PERFEIÇÕES 26
71 OXIDAÇÃO E CORROSÃO 145
Níveis de ordenação  27
Sistemas binários eutéticos 73 Velocidade de crescimento das películas 147
Parâmetros da rede e fatores de empacotamento atômi-
Reações eutetoides e peritéticas 74 Características das películas protetoras 148
co  29
O sistema Ferro-Carbono 75 Tipos de corrosão 150
Cálculo das massas específicas 32
Síntese 79 Corrosão em alta temperatura 153
Polimorfismo e alotropia 32
Crescimento dos cristais 33 MATERIAIS METÁLICOS 84 Meios corrosivos 154
Defeitos nos cristais 34 Aços 86 Prevenção da corrosão 156
Síntese37 Ferro fundido 97 Síntese 157
Metais não ferrosos 99 REFERÊNCIAS164
PROPRIEDADES DOS MATERIAIS 41
Fabricação de metais 102
Propriedades mecânicas 42
Processamento térmico 104
Ensaio de tração 42
Síntese107
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 3

Esta é uma obra coletiva organizada por


iniciativa e direção do CENTRO SUPERIOR
DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA –
Faculdades Ftec que, na forma do art. 5º,
VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua
marca e detém os direitos de exploração
comercial e todos os demais previstos em
contrato. É proibida a reprodução parcial
ou integral sem autorização expressa e
escrita.

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC


Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107.
Caxias do Sul/ RS

REITOR
Claudino José Meneguzzi Júnior
PRÓ-REITORA ACADÊMICA
Débora Frizzo
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Altair Ruzzarin
DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)
Rafael Giovanella

Desenvolvido pela equipe de Criações para o


ensino a distância (CREAD)
Coordenadora e Designer Instrucional
Sabrina Maciel
Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem
Igor Zattera
Revisora
FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS DE
ENSINO DAS CIÊNCIAS NATURAIS 4

INTRODUÇÃO

Caros alunos, acredito que vocês devam estar se perguntando: mas o que é ciência dos
materiais? E o que são materiais? Para responder essas perguntas, vamos analisar os materiais
do ponto de vista químico e físico. Sabemos que os primeiros materiais manipulados pelo homem
foram a madeira e a pedra. Com o passar do tempo, foram surgindo outros materiais. Os primeiros
potes de cerâmica obtidos da argila foram datados próximos ao ano 28000 a.C. na Morávia
(República Tcheca). No ano 3500 a.C. mercadores fenícios descobriram o vidro ao fazerem uma
fogueira na areia da praia. Em 1500 a.C. iniciou-se a fundição de metais e em 1930 surgiram os
primeiros polímeros artificiais.

Podemos tratar a ciência dos materiais como uma pirâmide triangular, onde cada vértice
representa, respectivamente, o processamento, a microestrutura, a propriedade (densidade,
condutividade, resistência, ...) e a performance. Desta forma, podemos dizer que a ciência dos
materiais engloba desde o processamento do material, até o estudo de sua microestrutura, que
irá determinar suas propriedades e consequentemente, sua performance. Também está aliada aos
custos do processo, englobando, desta forma, a engenharia de materiais, que visa a otimização dos
processos.

Ao falar de Engenharia, vale salientar algumas regras práticas para a seleção dos materiais
com os quais irá se trabalhar: conhecimento do material e as condições a que estará sujeito;
propriedades consistentes com as condições de serviço; efeito das mudanças de condições além dos
limites normais; listagem de todos os materiais possíveis; eliminação dos materiais de propriedades
inadequadas, tais como fratura, corrosão, segurança, alto custo, disponibilidade, etc. Caso o
material não atenda às especificações, utiliza-se algumas modificações, como: tratamento térmico,
tratamento químico, mudança de ambiente, diversos tipos de ligas, etc.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 5

Por conveniência, a Engenharia divide os materiais nas seguintes Materiais cerâmicos: substâncias inorgânicas formadas por metais
famílias: e não metais ligados quimicamente com as seguintes características
básicas: estruturas cristalinas, não cristalina ou ambos, dureza elevada
METÁLICOS, POLIMÉRICOS, CERÂMICOS e COMPÓSITOS. (maioria), resistem altas temperaturas, tendência à fragilidade, baixo
coeficiente de atrito, isolantes.

Materiais metálicos ou ligas metálicas: substâncias inorgânicas,


sólidas com um ou mais elementos metálicos (pode conter elementos Materiais compósitos: misturas de dois ou mais materiais que
não metálicos) com as seguintes características básicas: estrutura em geral não se dissolvem uns nos outros e podem ser identificados
cristalina, átomos ordenados, bons condutores de calor e eletricidade, visualmente pela interface de separação apresentada. Pode ser um
relativamente resistentes e dúcteis. material de reforço ou de enchimento, devidamente selecionado, com
um material compatível que serve de ligante (matriz), de modo a se
obter características e propriedades especiais.
Materiais poliméricos: são cadeias longas ou redes de moléculas
orgânicas contendo Carbono com as seguintes características básicas: a
maioria tem estrutura não cristalina, resistência mecânica e ductilidade Além destes materiais, podemos citar os semicondutores, os
bastante variada, má condução de eletricidade – isolantes, baixa biomateriais, os materiais avançados, entre outros. Nosso e-book
densidade, compõe-se ou amaciam a temperatura relativamente baixa. tratará da pirâmide que representa a ciência dos materiais. Bons
estudos!
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 6

ESTRUTURA
ATÔMICA
E LIGAÇÃO
INTERATÔMICA
Conceitos fundamentais, modelos atômicos,
números quânticos, configuração eletrônica,
tabela periódica, forças e energia de ligação,
ligação iônica, ligação covalente, ligação
metálica e interações intermoleculares
Caros alunos, para iniciarmos nosso estudo, vamos recordar, de forma
resumida, alguns conceitos advindos da química, para relembrar como a matéria
se estrutura e como se formam as ligações entre os átomos e as moléculas. A
importância de retomar esses conceitos é que algumas propriedades importantes
dos materiais dependem dos arranjos geométricos dos átomos e também das
interações que existem entre os seus átomos ou moléculas constituintes.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 7

Conceitos fundamentais

Os átomos são feitos de partículas subatômicas, três das Normalmente os compostos são especificados em termos
quais são importantes: prótons carregados positivamente (cuja de massa por mol de material. Mol é uma unidade que repre-
massa é de 1,6726 × 10-24 g), elétrons carregados negativamente senta o número de átomos, íons ou moléculas. Por definição,
(com massa de aproximadamente 9,1094 × 10-28 g) e, em todos, mol é o número de átomos em exatamente 12 g de carbono 12.
exceto em um tipo de átomo de hidrogênio, nêutrons eletrica-
mente neutros (com massa de 1,6749 × 10-24 g). Os prótons e os 1 mol de objetos representam 6,0221 × 1023 objetos
nêutrons estão agrupados no centro do átomo, que é conhecido (constante de Avogadro)
como núcleo. Já os elétrons se encontram fora do núcleo.
Os átomos de dado elemento não têm todos a mesma mas-
Podemos identificar todos os átomos através do seu número sa. A maior parte dos elementos tem dois ou mais isótopos
de prótons e de nêutrons. O número atômico (Z) é o número de — átomos que têm o mesmo número atômico (Z), mas números de
prótons no núcleo de cada átomo de um elemento. Já o número massa (A) diferentes. As propriedades químicas de um elemento
de massa (A) é o número total de prótons (P) e de nêutrons (N) são determinadas pelos prótons e elétrons nos seus átomos:
presentes no núcleo de um átomo de um elemento. Em geral, os nêutrons não participam das transformações químicas em
o número de massa é dado por: condições normais. Por isso, os isótopos do mesmo elemento
têm propriedades químicas semelhantes, formando os mesmos
tipos de compostos e apresentando reatividades semelhantes.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 8

Modelos atômicos
Figura 1 – Desenho ilustrativo do modelo de Bohr.
Na última parte do século XIX, uma série de fenômenos
envolvendo os elétrons nos átomos foram observados e não
puderam ser explicados pela até então conhecida mecânica clás-
sica. Frente a isso, uma série de princípios e leis que regem as
unidades atômicas e subatômicas foram estabelecidas, surgindo
assim a mecânica quântica. Para a melhor compreensão do
comportamento dos elétrons nos átomos e nos sólidos cristalinos,
é necessário um entendimento dos conceitos quânticos-mecâ-
nicos, que serão abordados brevemente a seguir.

Através de reflexões sobre a estabilidade do átomo, Niels


Bohr levaram-no chegou a conclusão de que princípios físicos
desconhecidos deveriam descrever os elétrons nos átomos. O
modelo atômico de Bohr foi um dos precursores da mecânica
quântica. Seu modelo foi fundamentado na teoria dos quanta, atômico em orbitais discretos, e a posição de qualquer elétron
sustentado experimentalmente com base na espectroscopia, no particular está mais ou menos bem definida em termos do seu
qual se considera que os elétrons circulam ao redor do núcleo orbital. Esse modelo do átomo está representado na Figura 1.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 9

Em 1900, Max Planck propôs que a troca de energia entre


a matéria e a radiação ocorre em quanta, ou pacotes de energia.
Na ativação do átomo (por exemplo, através da passagem de
corrente elétrica), o elemento receberia um número inteiro de
quanta e realizaria um salto (salto quântico). Ao retornar para
sua energia inicial, o elétron devolveria o mesmo número de
quanta, mas na forma de ondas eletromagnéticas, conforme é
mostrado na Figura 2. A teoria de Bohr aplica-se muito bem
para um átomo – o hidrogênio, mas não serviu para explicar o
comportamento verificado experimentalmente para a maioria
dos átomos dos outros elementos. Dessa forma, o modelo de
Bohr representa uma tentativa precoce de descrever os elétrons
nos átomos, em termos tanto da posição (orbitais eletrônicos)
quanto da energia (níveis de energia quantizados).

Figura 2 – Modelo atômico de Bohr mostrando os estados


dos elétrons com energia quantizada. Um elétron caindo
para orbitais inferiores emite um fóton com a mesma
energia entre os orbitais.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 10

Em função das limitações apresentadas Números quânticos


pelo modelo de Bohr, surgiu um novo modelo
atômico, denominado modelo mecânico-on- Usando a mecânica ondulatória, cada elétron em um átomo é carac-
dulatório ou modelo atômico atual, em que terizado por quatro parâmetros conhecidos como números quânticos.
o elétron assume características tanto de onda
quanto de partícula. Desta forma, não pode- 1. Número quântico principal (n): é um número inteiro que representa
mos especificar a localização precisa de uma os níveis (ou camadas) de energia de um elétron em um determinado
partícula se ela se comporta como onda. Do átomo, desde n=1 para o primeiro nível ou camada, n=2 para o segundo,
mesmo modo que não podemos especificar até o infinito. Está relacionado às dimensões médias da “onda eletrônica”
sua trajetória; ou seja, ambos não podem ser e à energia do elétron, quanto maior o valor de n, maior a distância
conhecidos com precisão arbitrária. Logo, não média do elétron ao núcleo, maior o volume da região no espaço onde
é possível conhecer, simultaneamente, a posição ele se encontra e a energia associada ao orbital.
e a energia do elétron. No entanto, a amplitude
da equação que descreve o elétron, chamada de 2. Número quântico secundário, azimutal ou angular no orbital (l):
função de onda, indica a região provável onde determina a forma da região no espaço onde o elétron será encontrado.
pode-se encontrar esse elétron (núvem eletrô- Divide as camadas (níveis) em grupos menores de orbitais, denominados
nica). O estado do elétron é caracterizado por subníveis (ou subcamadas), pode varias de l = 0, 1, 2, ..., n-1. Em geral
um conjunto de três números quânticos inteiros é utilizado um código de letras para especificar o valor de l (s, p, d, f,
(n, l e ml), mais o número quântico de spin. g, h, ...). O número quântico secundário também especifica a energia,
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 11

quanto maior foi o l, maior será a energia do elétron, por 4. Número quântico magnético spin (ms): pode assumir somen-
este motivo é usualmente chamado de subnível de energia. te dois valores +1/2 ou -1/2. Os sinais positivo e negativo
especificam apenas: a favor e contra o campo aplicado.
Os subníveis s contêm até 2 elétrons;
Os subníveis p contêm até 6 elétrons; A Tabela 1 apresenta a representação dos subníveis e do
Os subníveis d contêm até 10 elétrons; número de orientações espaciais possíveis dos três níveis ener-
Os subníveis f contêm até 14 elétrons. géticos.

3. Número quântico magnético (ml): está ligado à divisão dos Tabela 1 – Representação dos subníveis e do número de
subníveis em orbitais individuais, e seus valores estão rela- orientações espaciais possíveis dos três níveis energéticos.
cionados ao modo como estes orbitais estão orientados no
espaço. Esta região espacial é chamada de orbital. Somente Número de Designação
n (nível) l (subnível) orbitais ml de orbitais
pode assumir valores inteiros que variam de -l a +l. A regra (2l + 1) atômicos
de seleção é: 1 0 (s) 1 0 1s
0 (s) 1 0 2s
2
1 (p) 3 -1, 0, +1 2px, 2py ,2pz
0 (s) 1 0 3s

3 1 (p) 3 -1, 0, +1 3px, 3py ,3pz


onde L é o número de orientações espaciais possíveis.
2 (d) 5W -2, -1, 0, +1, +2 3dxy, 3dyz, 3dxz,
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 12

Configuração eletrônica a qual esses estados são ocupados. Na notação convencional, o


número de elétrons em cada subcamada é indicado por um índice
Relatamos a estrutura eletrônica de um átomo, escrevendo sobrescrito após a designação da camada e da subcamada. Por
sua configuração eletrônica, uma lista de todos os orbitais ocu- exemplo, as configurações eletrônicas para hidrogênio, hélio e
pados, com o número de elétrons que cada um contém. Esta sódio são, respectivamente, 1s1, 1s2 e 1s2 2s2 2p6 3s1.
ordem é importante pois irá determinar como acontecerão as
ligações químicas e consequentemente todas as propriedades das Figura 3 – Diagrama de Linus Pauling para a distribuição
espécies combinadas. eletrônica dos elétrons.

A configuração eletrônica do estado fundamental de um átomo de


um elemento, com número atômico Z, é predita pela adição de Z elé-
trons aos orbitais disponíveis de forma a obter a energia total mínima.

Esse é o princípio da exclusão de Pauli. A Figura 3 abaixo


descreve a ordem em que os orbitais são preenchidos em um áto-
mo polieletrônico. Quando todos os elétrons ocupam as menores
energias possíveis de acordo com as restrições anteriores, um
átomo é dito estar no seu estado fundamental. A configuração
eletrônica ou estrutura de um átomo representa a maneira segundo
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 13

Tabela periódica

Em 1860, Dimitri Mendeleev constatou uma necessida-


de de organização das informações referentes aos elementos
químicos. Para isso, estabeleceu relações entre as propriedades
físicas e químicas dos elementos. Surgiu então a primeira Lei
Periódica: “As propriedades químicas e físicas variam com suas
massas atômicas”. Porém, a tabela moderna elaborada por Mo-
seley (1913) foi organizada pelos números atômicos e não pelas
massas atômicas. “As propriedades físicas e químicas dos elementos nível (nível de valência – camada mais externa). No estado
variam periodicamente em função de seus números atômicos”. Ela fundamental do átomo, os elétrons ocupam orbitais atômicos
foi organizada em famílias ou grupos: conjunto de átomos com de modo que a energia total dos átomos seja mínima possível.
propriedades químicas semelhantes e períodos: conjunto de elementos
dispostos no mesmo número de níveis de energia. A Figura 4 mostra a tabela periódica moderna na qual
os elementos estão ordenados pelo seu número atômico (que
A configuração eletrônica relata a estrutura eletrônica de aparece acima do símbolo do elemento) em linhas horizontais
um átomo, listando todos os orbitais ocupados, com o número chamadas de períodos e em colunas verticais denominadas
de elétrons que cada um contem. As propriedades químicas grupos ou famílias, de acordo com as semelhanças nas suas
dos elementos dependem da configuração eletrônica do último propriedades químicas.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 15

Os elementos podem ser divididos em três Na, K, Rb, Cs e Fr) são chamados de metais
categorias — metais, não-metais e semimetais. alcalinos e os elementos do grupo 2 (Be, Mg,
Um metal é um bom condutor de calor e de ele- Ca, Sr, Ba e Ra) são conhecidos como metais
tricidade, enquanto um não- metal é um mau alcalino-terrosos. Os elementos do grupo
condutor de calor e de eletricidade. Um semimetal 16 (O, S, Se, Te e Po) são conhecidos como
tem propriedades intermediárias entre as dos calcogênios, os do grupo 17 (F, Cl, Br, I e
metais e as dos não-metais. Quanto ao comporta- At) são conhecidos como halogênios, e aqueles
mento mecânico, os elementos metálicos exibem do grupo 18 (He, Ne, Ar, Kr, Xe e Rn) são
graus variáveis de ductilidade — a capacidade de denominados gases nobres.
ser deformado plasticamente sem fraturar (por
exemplo, a capacidade de ser laminado na forma Forças e energia de ligação
de folhas finas). A maioria dos não metais é de
gases ou líquidos ou, no estado sólido, é de na- Para um melhor entendimento das pro-
Figura 5 – (a) A dependência das forças
tureza frágil. Os elementos são frequentemente priedades físicas dos materiais é necessário o
repulsiva, atrativa e resultante em relação
denominados de acordo com o número do grupo conhecimento das forças interatômicas que
à separação interatômica para dois átomos
ao qual pertencem na tabela periódica (grupo unem os átomos uns aos outros. Essas forças
isolados. (b) A dependência das energias
1, grupo 2 e assim por diante). Porém, por con- são de dois tipos: atrativa (FA) e repulsiva
potencial repulsiva, atrativa e resultante em
veniência, alguns grupos de elementos possuem (FR), e a magnitude de cada uma depende
relação à separação interatômica para dois
nomes especiais. Os elementos do grupo 1 (Li, da distância de separação ou interatômica (r).
átomos isolados. Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 16

A força resultante ou líquida (FL) é dada pela seguinte equação: sólidos: iônica, covalente e metálica. Também são encontradas
forças e energias secundárias, ou físicas, em muitos materiais
sólidos; elas são mais fracas que as primárias, mas ainda assim
influenciam as propriedades físicas de alguns materiais.
Quanto os átomos estão em equilíbrio FA = FR. Considerando
que o trabalho (W) é o produto da força (F) pelo deslocamento (x)
e que o trabalho é igual a energia (E), chegamos a seguinte equação:

Vale ressaltar que, quanto mais forte a energia de ligação, mais


difícil será fornecer calor para aumentar a temperatura!

Figura 6 – (a) Tetraedro de ligação: Cada um dos quatro


Dependendo da magnitude da energia de ligação, os átomos
tipos de ligação extremos (ou puros) está localizado em um
vão estabelecer diferentes tipos de ligações. As mudanças de
vértice do tetraedro; três tipos de ligações mistas estão
energia que ocorrem quando as ligações são formadas, estão
incluídos ao longo das arestas do tetraedro. (b) Tetraedro
relacionadas com as mudanças nas posições dos elétrons de
do tipo de material: correlação de cada classificação de
valência, os elétrons nas camadas mais externas dos átomos.
material (metais, cerâmicas, polímeros etc.) com seu(s)
Há três tipos de ligações primárias ou ligações químicas em
tipo(s) de ligação. Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 17

Ligação iônica Sólido iônico (exemplo de sólido cristalino): conjunto de


cátions e ânions empacotados em um arranjo regular.
Uma ligação iônica resulta da atração eletrostática de íons
com cargas opostas. Como regra, os átomos de metais tendem Figura 7 – Sólido ou retículo cristalino. Fonte: Fiorotto, 2014.
a ceder elétrons, pois apresentam um, dois ou três elétrons na
camada de valência. Por outro lado, os átomos dos não metais
tendem a receber elétrons, pois têm cinco, seis ou sete elétrons
na última camada. As forças de ligação atrativas são de Cou-
lomb; isto é, os íons positivos e negativos, em virtude de suas
cargas elétricas resultantes, atraem-se uns aos outros.

A ligação iônica ocorre geralmente entre átomos com


baixa eletronegatividade (metais) e átomos com alta
eletronegatividade (não metais). Energia de rede: diferença, em termos de energia potencial,
entre os íons no solido iônico, e um gás de íons totalmente se-
A formação de íons gasosos a partir de elementos iniciais parados. Energia de rede grande indica que os íons interagem
envolve um acréscimo na energia potencial, a condensação fortemente entre si para dar um sólido fortemente ligado.
dos íons para formar o sólido iônico leva a uma diminuição na
energia potencial correspondente a energia de rede. As principais características dos compostos iônicos:
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 18

• À temperatura ambiente, são sólidos. Esta interação provoca um abaixamento energético do sis-
tema, ou seja, uma redução da energia potencial dos átomos.
• No estado sólido, não conduzem corrente elétrica. A ligação covalente pode ser normal ou coordenada dativa. Na
ligação covalente normal, cada átomo participa com um elétron
• No estado líquido (fundidos), conduzem corrente elétrica, para formar a ligação. O par de elétrons ligantes fica pertencendo
pois os íons apresentam mobilidade. a ambos os átomos e a estrutura elétrica torna-se bastante estável.
A ligação covalente normal pode ser simples, dupla ou tripla. A
• Quando dissolvidos em água, conduzem corrente elétrica, ligação coordenada dativa é a união entre átomos estabelecida
pois há separação dos íons. por pares de elétrons cedidos apenas por um dos átomos.

• Apresentam pontos de fusão e de ebulição elevados. Características da ligação covalente:

Ligação covalente • É direcional; isto é, ela ocorre entre átomos específicos e


pode existir apenas na direção entre um átomo e o outro
Os elementos não metálicos não formam cátions caracte- que participa do compartilhamento dos elétrons.
risticamente, porque suas energias de ionização são muito altas.
• Podem ser muito fortes (como no diamante), apresentando
temperatura de fusão elevada. Ou podem ser muito fracas
Uma ligação covalente é um par de elétrons compartilhado
(como no bismuto), com baixa temperatura de fusão.
por dois átomos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 19

• São materiais isolantes (em alguns casos semicondutores). átomos serão atraídos, indistintamente, pelos núcleos de todos
os átomos. Em consequência, aparece um verdadeiro “mar” de
• São relativamente resistentes, outros são fracos. elétrons vagando pelo metal e se movendo com facilidade de
um átomo a outro, sem se fixar de modo definitivo em nenhum
• Alguns falham de uma maneira frágil, enquanto outros deles, sendo chamados de elétrons livres. A ligação metálica é,
experimentam quantidades significativas de deformação portanto, um agregado de cátions mergulhado em um “mar”
antes da falha. de elétrons livres. A ligação metálica exibe uma natureza não
direcional.
Ligação metálica
Características da ligação metálica:
Por possuírem um número pequeno de elétrons no último
nível energético, os metais apresentam baixa eletronegatividade. • São bons condutores tanto de eletricidade quanto de calor,
Desta forma, a atração será fraca, e os elétrons ficam fracamente como consequência dos seus elétrons livres.
presos ao átomo, podendo ser doados facilmente. Quando dois
átomos metálicos estão próximos entre si, os elétrons do último • À temperatura ambiente, a maioria dos metais e suas ligas
nível energético ficam sujeitos, simultaneamente, às forças de falha de uma maneira dúctil (a fratura ocorre após os ma-
atração dos dois núcleos, podendo, então, se mover facilmente teriais apresentarem níveis significativos de deformação
de um átomo para outro. Se houver numerosos átomos metálicos permanente).
próximos entre si, os elétrons do último nível energéticos desses
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 20

Interações intermoleculares • Íon-Dipolo Induzido: atração entre um íon e uma molécula


apolar. O íon causa uma deformação da nuvem eletrônica
Interações intermoleculares são forças atrativas que mantém na molécula apolar, provocando a formação de dipolos (in-
unidas as moléculas de uma substância sólida ou líquida. Quanto duzidos);
maior a força atrativa, maior a coesão entre as moléculas.
• Dipolo Permanente-Dipolo Permanente: ocorre entre mo-
São responsáveis pelas propriedades físicas das substâncias léculas polares. Os dipolos atraem-se pelos polos opostos
(pontos de fusão e de ebulição). São bem mais fracas que as (positivo-negativo);
interações entre os átomos (ligações), que são responsáveis pelas
propriedades químicas. São classificadas em dois tipos: Forças • Dipolo Permanente-Dipolo Induzido: atração entre uma
de van der Waals e Ligação de Hidrogênio. molécula polar e uma molécula apolar. O dipolo causa uma
deformação da nuvem eletrônica na molécula apolar, pro-
Forças de van der Waals: vocando a formação de dipolos (induzidos);

• Íon-Dipolo Permanente: atração entre um íon e uma mo- • Dipolo Induzido-Dipolo Induzido: também chamada de
lécula polar (dipolo); força de dispersão ou fora de London (atração entre molé-
culas apolares).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 21

Ligações de Hidrogênio (Pontes de Hidrogênio) As ligações secundárias estão envolvidas em alguns fenô-
menos naturais, como a solubilidade de uma substância em
Caso especial de atração entre dipolos permanentes. São outra, a tensão superficial e a ação de capilaridade, a pressão
forças intermoleculares anormalmente intensas se compara- de vapor, a volatilidade e a viscosidade. Aplicações comuns:
das às outras (van der Waals) e ocorrem entre moléculas que
apresentam ligações entre hidrogênio e átomos muito eletro- • Adesivos: há a formação de ligações de van der Waals entre
negativos (F, O, N). Ocorre a formação de polos intensos em duas superfícies, e elas se aderem uma à outra.
volumes muito pequenos, devido a pequena dimensão dos
átomos envolvidos e a grande diferença de eletronegatividade. • Surfactantes: compostos que reduzem a tensão superficial
de um líquido e que são encontrados em sabões, detergentes
• Podem existir no estado sólido, líquido e em soluções; e agentes espumantes.

• Condição essencial para a existência da ligação de hidrogênio • Emulsificantes: substâncias que, quando adicionadas a dois
é a presença simultânea de um átomo de hidrogênio ácido materiais imiscíveis (geralmente líquidos), permitem que
e de um receptor básico. as partículas de um material fiquem suspensas em outro
(emulsões comuns incluem os protetores solares, os molhos
• Podem ser de dois tipos: intramolecular e intermolecular. para saladas, o leite e a maionese).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 22

• Dessecantes: materiais que formam ligações de hidrogênio (n, l e ml) mais o número quântico de spin, além da determi-
com as moléculas de água (e removem a umidade de reci- nação da configuração eletrônica do estado fundamental de
pientes fechados — por exemplo, os pequenos sachês que um átomo de um elemento. Após o estudo da tabela periódica,
são encontrados com frequência nas caixas de papelão de adentramos no estudo das ligações químicas. Verificamos que
mercadorias embaladas). elas podem ser de três tipos: ligação iônica, ligação covalen-
te e ligação metálica, que estão diretamente correlacionadas
• Resistências, rigidezes e temperaturas de amolecimento de com a classificação do material (metais, cerâmicas, polímeros,
polímeros: em certo grau, dependem das ligações secundárias etc). Por fim, analisamos as interações intermoleculares, que
que se formam entre as moléculas. são forças atrativas responsáveis pelas propriedades físicas das
substâncias. Elas podem ser de dois tipos: forças de Van der
Síntese Waals e Ligações de Hidrogênio.

Neste capítulo revisamos alguns conceitos fundamentais


sobre a estrutura dos átomos, através do estudo da estrutura
atômica e dos modelos atômicos, onde entramos em contato
com os átomos e seus constituintes (elétrons, prótons e nêu-
trons) e observamos a evolução dos conceitos relacionados a
essas partículas. Também revisamos como definir o estado do
elétron, através da determinação dos seus números quânticos
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 23

1. A determinação da ordem crescente de energia dos elétrons


2. Segundo o diagrama de Linus Pauling, assinale a alternativa
nos subníveis é realizada através do diagrama de Linus Pau-
correta.
ling. Nele estão relacionados:

1. ( ) O subnível d comporta no máximo 14 elétrons.


a. ( ) Número de elétrons e camadas eletrônicas.

2. ( ) O diagrama apresenta um total de 8 níveis energéticos.


b. ( ) Subníveis de energia e camadas eletrônicas.

3. ( ) A camada Q está associada ao quinto nível energético.


c. ( ) Camadas eletrônicas, números máximos de elé-
trons níveis e subníveis de energia.
4. ( ) O quarto nível energético está associado à camada N.

d. ( ) Camadas e níveis de energia.


5. ( ) A leitura do diagrama é realizada em diagonais da
esquerda para a direita.
e. ( ) Apenas camadas eletrônicas.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 24

3. O que é necessário conhecer/determinar para uma correta caracte- 5. Considerando que podemos classificar as ligações
rização da energia de um elétron num orbital? em três tipos: ligação iônica, ligação metálica e
ligação covalente. A alternativa que exibe subs-
a. ( ) Os quatro números quânticos (n, l, ml e ms). tâncias que contêm apenas ligações covalentes.
b. ( ) A sua posição exata na eletrosfera.
c. ( ) A camada em que se encontra. a. ( ) H2O, C (diamante), Ah e LiH.
d. ( ) Apenas o subnível energético.
e. ( ) A quantidade de prótons existentes no átomo. b. ( ) O2, NaCl, NH3 e H2O.

4. Os elementos Y e Z, estão localizados no mesmo período da tabela peri- c. ( ) CO2, SO2, H2O e Na2O.
ódica e apresentam configurações nas suas camadas de valência s2p4 e s1
respectivamente. Se formos escrever a fórmula do composto constituído d. ( ) C (diamante), Cl2, NH3 e CO2.
pelos elementos Y e Z e o tipo de ligação envolvida entre eles, são:
e. ( ) C(diamante), O2, Ag e KCl.
a. ( ) ZY2 – iônica.
b. ( ) Z2Y – covalente.
c. ( ) ZY2 – covalente.
d. ( ) Z2Y – iônica.
e. ( ) Z2Y2 – covalente.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 25

6. Qual ou quais tipo(s) de ligação você esperaria para o latão


7. Qual ou quais tipo(s) de ligação você esperaria para borracha:
(uma liga cobre-zinco):

a. ( ) Ligação iônica.
a. ( ) Ligação iônica.

b. ( ) Ligação metálica.
b. ( ) Ligação metálica.

c. ( ) Ligação covalente com alguma ligação de van


c. ( ) Ligação covalente com alguma ligação de van
der Waals.
der Waals.

d. ( ) Ligação de van der Waals.


d. ( ) Ligação de van der Waals.

e. ( ) Pontes de hidrogênio.
e. ( ) Pontes de hidrogênio.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 26

ESTRUTURA
DOS SÓLIDOS
CRISTALINOS E
IMPERFEIÇÕES
Níveis de ordenação, parâmetros de rede e
fatores de empacotamento atômico, cálculo
das massas específicas, polimorfismo e
alotropia, crescimento dos cristais e defeito
dos cristais.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 27

No capítulo 1 revisamos os tipos de ligações atômicas, as do material, os tipos de ligação existentes, sua microestrutura
quais são determinadas pelas estruturas eletrônicas dos átomos e sua macroestrutura.
individuais. No presente capítulo iremos abordar os arranjos
que podem ser considerados pelos átomos no estado sólidos. Níveis de ordenação
Iremos estudar a cristalinidade e não cristalinidade dos mate-
riais, o arranjo dos átomos e íons no espaço, como determinar Uma forma de caracterizar os materiais sólidos é através da
experimentalmente a estrutura cristalina do material, como regularidade pela qual seus átomos ou íons estão arranjados uns
ocorre o processo de crescimento de cristais e por fim identi- em relação aos outros. Um material que apresenta seus átomos
ficar e explicar os defeitos presentes em materiais cristalinos. posicionados segundo um arranjo periódico ou repetitivo ao
longo de grandes distâncias atômicas é considerado um material
Com o objetivo de auxiliar na seleção de um material apro- cristalino. Em outras palavras, existe uma ordem de tal forma
priado para uma dada aplicação ou para reprojetar um material que, quando ocorre o processo de solidificação, os átomos se
existente para torna-lo mais adequado, é necessário o enten- posicionam em um padrão tridimensional repetitivo, no qual
dimento da estrutura cristalina, fundamentada no conceito de cada átomo está ligado aos seus átomos vizinhos mais próximos.
que a estrutura de um material governa suas propriedades. A Em condições normais de solidificação, todos os metais, uma
seleção de um material está diretamente relacionada com suas diversidade de materiais cerâmicos e alguns polímeros formam
propriedades, de forma que elas estejam adequadas para uma estruturas cristalinas. Já os materiais que não se cristalizam, ou
dada função e essas propriedades determinam se um material é seja, não há um ordenamento tridimensional dos átomos, são
apropriado ou não. Essa análise vai desde a composição atômica considerados materiais não cristalinos ou amorfos. A estrutura
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 28

cristalina de um sólido define o tamanho, a forma e o arranjo


dos átomos em uma rede tridimensional, conforme mostra a
Figura 8 a seguir.

CÚBICA SIMPLES CÚBICA DE CÚBICA DE TETRAGONAL TETRAGONAL DE


FACES CETRADAS CORPO CENTRADO SIMPLES CORPO CENTRADO Figura 8 – 14 arranjos que a estrutura cristalina
pode se organizar.

Fonte: adaptado de Newell, 2018.

HEXAGONAL ORTORRÔMBICA ORTORRÔMBICA DE ORTORRÔMBICA DE ORTORRÔMBICA DE


COMPACTA SIMPLES CORPO CENTRADO BASES CENTRADAS FACES CENTRADAS

ROMBOÉDRICA MONOCLÍNICA MONOCLÍNICA DE TRICLÍNICA


SIMPLES BASES CENTRADAS
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 29

Para fins de estudo, são adotadas as três redes cúbicas, uma Parâmetros da rede e fatores de
vez que são as mais fáceis de visualizar. Deve-se ter em mente empacotamento atômico
que, apesar de serem simples de visualizar, a estrutura cúbica
simples (um átomo em cada um dos oito vértices do cubo) é Para simplificação, é adotado que uma célula unitária é
menos comum que as outras duas estruturas. O arranjo cúbico a menor subdivisão de uma rede, que retém as características
de corpo centrado (CCC) também tem um átomo em cada um básicas da rede (como vimos anteriormente para o caso da
dos oito vértices, mas tem um átomo adicional no centro do estrutura cúbica simples). Os tamanhos e as formas das redes
cubo. Já o arranjo cúbico de faces centradas (CFC) tem um são descritos por um conjunto de comprimentos das arestas e
átomo em cada um dos oito vértices, mais um átomo em cada de ângulos denominados parâmetros da rede. Para qualquer
uma das seis faces do cubo. A rede hexagonal compacta (HC) sistema, uma composição dos comprimentos (a, b e c) e dos
é a mais comum das redes não cúbicas. ângulos (α, β e γ) define a forma da rede, conforme mostra
a Tabela 1. Porém, na estrutura do material, os átomos não
se encontram como células unitárias, eles se tocam (Figura
9). Isso é chamado de empacotamento e permite o cálculo do
parâmetro de rede. Para o sistema cúbico simples, a distância
entre os centros de dois átomos é simplesmente a soma dos
raios atômicos dos átomos:
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 30

Tabela 1 – Relações entre os parâmetros da rede cristalina e


Figura 9 – Empacotamento real dos átomos.
figuras mostrando as geometrias das células unitárias para
os sete sistemas cristalinos. Fonte: Newell, 2018.

Fonte: Callister, 2018.

Sistema cristalino Relações Ângulos entre os Geometria da célula A Tabela 2 a seguir apresenta um resumo dos parâmetros da
axiais eixos unitária
rede em função dos raios atômicos para sistemas de redes comuns.
Cúbico a=b=c α = β = γ = 90°

Tabela 2 – Parâmetros da rede em função dos raios


Hexagonal a=b≠c α = β = 90°, γ = 120° atômicos para sistemas de redes comuns.
Fonte: Newell, 2018.

Tetragonal a=b≠c α = β = γ = 90° Tipo de rede Parâmetro da rede (a0) Representação gráfica

Cúbica simples
Romboédrico a=b=c α = β = γ ≠ 90°
(Trigonal)
Cúbica de corpo centrado
Ortorrômbico a≠b≠c α = β = γ = 90° (CCC)

Cúbica de faces centradas


Monoclínico a≠b≠c α = β = 90° ≠ β (CFC)

Hexagonal compacta (HC)


Triclínico a≠b≠c α ≠ β ≠ γ ≠ 90°
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 31

Se os átomos da célula unitária CFC forem considerados Agora, para o cálculo do volume, deve-se lembrar que:
como esferas rígidas (seu volume será: , pode-se cal-
cular um fator de empacotamento atômico (FEA) usando a
seguinte equação:
onde a é o comprimento da aresta de uma célula unitária.
Para uma estrutura CCC:

Para determinação do número de átomos associados a cada


célula unitária, utiliza-se a equação a seguir: Para uma estrutura CFC:

Desta forma, para calcular o fator de empacotamento atô-


onde Ni é o número de átomos no interior da célula, Nf é mico de um metal CCC, o procedimento é:
o número de átomos nas faces da célula e Nv é o número de
átomos nos vértices da célula. Ao realizar o cálculo, chega-se
que para a estrutura CCC o número de átomos é 2 e para
CFC é 4. Para uma célula unitária CFC ou HC, o FEA é igual 0,74.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 32

Cálculo das massas específicas Tabela 3 – Formas cristalinas alotrópicas de alguns metais.
Metais Estrutura cristalina em Demais temperaturas
A massa específica teórica de um material pode ser calcu- temperatura ambiente
Ca CFC CCC (> 447 °C)
lada a partir da equação:

Co HC CFC (> 427 °C)

Hf HC CCC (> 1742 °C)


onde ρ é a massa específica teórica do material, n é o
Fe CCC CFC (912-1394 °C)
número de átomos por célula unitária, A é o peso atômico do
material, NA é o número de Avogadro (6,022×10^23 átomos/ CCC (> 1394 °C)
mol) e VC é o volume de uma célula unitária.
Li CCC HC (> -193 °C)

Polimorfismo e alotropia Na CCC HC (> -233 °C)

Alguns metais, assim como alguns ametais, podem ter mais Tl HC CCC (> 234 °C)

de uma estrutura cristalina, um fenômeno conhecido como Ti HC CCC (> 883 °C)
polimorfismo. Quando encontrada em sólidos elementares,
essa condição é frequentemente denominada alotropia. A Ta- Y HC CCC (> 1481 °C)

bela 3 a seguir apresenta alguns metais que apresentam esse


Zr HC CCC (> 872 °C)
fenômeno, assim como a variações que ocorrem na estrutura.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 33

Crescimento dos cristais • Nucleação heterogênea: aglomeração de átomos em torno


de uma impureza, a qual atua como substrato para o cres-
O crescimento de cristais é um fenômeno em dois estágios. cimento de cristais.
Primeiro, pequenas regiões ordenadas devem se formar. Esses
pequenos cristais são chamados núcleos e o processo pelo qual • Crescimento de grão: o segundo estágio na formação dos
eles se formam é a nucleação. Os núcleos se formam aleatoria- cristais, o qual é dependente da temperatura e pode ser
mente. Vale ressaltar a terminologia adotada para esse processo: descrito usando a equação de Arrhenius:

• Núcleos: pequenas aglomerações ordenadas de átomos,


que servem como base para o subsequente crescimento dos
• onde G é o tamanho do cristal em crescimento, t é o tempo,
cristais.
A0 é uma constante pré-exponencial que varia em função
do material, R é a constante dos gases, EA é a energia de
• Nucleação: o processo de formação de pequenas aglome-
ativação para difusão e T é a temperatura absoluta.
rações ordenadas de átomos, que servem como base para o
crescimento de cristais.
Para o crescimento do cristal acontecer, tanto o processo de
nucleação quanto o de crescimento de grão devem ocorrer. A
• Nucleação homogênea: aglomeração de átomos que ocorre
taxa de transformação global é o produto da taxa de nucleação
quando um material puro resfria o suficiente para autossus-
e da taxa de crescimento.
tentar a formação de núcleos estáveis.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 34

Defeitos nos cristais

Se formos realizar uma análise microscópica dos materiais, 1. Defeitos adimensionais (de dimensão zero) ou pontuais;
veremos que os cristais apresentam uma série de imperfeições
e defeitos, uma vez que os cristais nunca são perfeitos. Esses 2. Defeitos unidimensionais ou lineares (discordâncias);
defeitos, muitas vezes, afetam suas propriedades físicas e mecâ-
nicas, comprometendo assim sua aplicação. Do ponto de vista da 3. Defeitos bidimensionais, que incluem as superfícies exteriores
engenharia, essas imperfeições interferem na conformabilidade e os contornos de grão interiores;
a frio das ligas, a condutividade eletrônica dos semicondutores,
a velocidade de migração (mobilidade ou difusão) dos átomos 4. Defeitos macroscópicos tridimensionais ou em volume (po-
nas ligas e a corrosão dos metais, entre outros. ros, fendas e inclusões).

De acordo com sua geometria e forma, as imperfeições ou A Tabela 4 a seguir exibe um resumo de algumas imper-
defeitos nas redes cristalinas são classificadas da seguinte forma: feições encontradas em cristais.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 35

Tabela 4 – Resumo de algumas imperfeições encontradas em cristais.

DEFEITOS PONTUAIS DEFEITOS LINEARES OU DISCORDÂNCIAS


Tipo Características Representação Defeito linear ou unidimensional
Sítio vago na rede cristalina que em torno do qual alguns átomos
normalmente deveria estar ocupado, estão desalinhados. É um defeito
mas no qual está faltando um átomo. Em cunha que fica centralizado sobre
Todos os sólidos cristalinos contêm a linha definida ao longo da
Lacuna
lacunas. Explicada considerando os extremidade do semiplano extra
princípios da termodinâmica: a presença de átomos.
das lacunas aumenta a entropia (isto é, a
aleatoriedade) do cristal.
Um átomo do cristal que se encontra Pode ser considerada como
comprimido em um sítio intersticial a consequência da tensão de
(pequeno espaço vazio). Nos metais, cisalhamento que é aplicada para
Defeito acarreta distorções relativamente produzir a distorção mostrada
intersticial grandes em sua vizinhança na Helicoidal na imagem ao lado: a região
rede cristalina, pois o átomo é anterior superior do cristal é
substancialmente maior que a posição deslocada uma distância atômica
intersticial em que ele está localizado. para a direita em relação à
porção inferior.
Em um cristal iônico, faltam dois íons
Defeito de de cargas contrárias, se origina uma
Schottky bilacuna cátion-ânion. Aumenta a
condutividade elétrica. A maioria das discordâncias
encontradas nos materiais
Se, em um cristal iônico, um cátion se cristalinos provavelmente não é
move para um interstício, cria-se uma Mista
Defeito de nem puramente em cunha nem
lacuna catiônica no local onde o íon se puramente helicoidal, mas exibe
Frenkel
encontrava. Aumenta a condutividade componentes de ambos os tipos.
elétrica.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 36

DEFEITOS INTERFACIAIS
Superfícies externas Defeitos ao longo da superfície externa, ao longo da qual termina a estrutura do cristal.

Defeitos no contorno que separa dois pequenos grãos ou cristais com diferentes orientações cristalográficas nos
Contornos de grão materiais policristalinos.
Contorno de grão de baixo (ou pequeno) ângulo: desalinhamento é pequeno, da ordem de alguns poucos graus.

Existem nos materiais multifásicos, nos quais há uma fase diferente em cada lado do contorno. Cada uma das
Contornos de fase
fases constituintes possui suas próprias características físicas e/ou químicas distintas.

Tipo especial de contorno de grão, por meio do qual existe uma específica simetria em espelho da rede
Contornos de macla cristalina, isto é, os átomos em um dos lados do contorno estão localizados em posições de imagem em espelho
em relação aos átomos no outro lado do contorno

Incluem as falhas de empilhamento e as paredes de domínio ferromagnético. As falhas de empilhamento


Contornos interfaciais
são encontradas nos metais CFC quando existe uma interrupção na sequência de empilhamento dos planos
diversos
compactos.

DEFEITOS VOLUMÉTRICOS OU DE MASSA

Poros, trincas, fendas e


Esses defeitos são introduzidos durante as etapas de processamento e fabricação dos materiais.
inclusões
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 37

Síntese

Neste capítulo vimos que os materiais sólidos com estrutura


cristalina podem ser descritos como uma rede de linhas. Cada
rede pode ser descrita especificando as posições atômicas em
uma célula unitária repetitiva. O termo cristalino está relacio-
nado ao ordenamento dessa rede, como é o caso da maioria
dos metais. Alguns materiais, tais como muitos polímeros e
vidros, possuem uma ordenação atômica de curto alcance.
Esses materiais são chamados de semi-cristalinos ou amorfos.
As células unitárias das estruturas cristalinas mais encontradas
nos metais são: cúbica de corpo centrado (CCC), cúbica de
faces centradas (CFC) e hexagonal compacta (HC). Também
estudamos o fenômeno conhecido como polimorfismo, que
são aqueles materiais que apresentam diferentes estruturas
cristalinas. Por fim analisamos o processo de crescimento de
grão e as diferentes imperfeições ou defeitos dos cristais.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 38

I – Sistema cúbico P - a = b ≠ c α = β = γ = 90°

Exercícios
II – Sistema hexagonal Q - a = b = c α = β = γ = 90°

1. Os materiais cristalinos apresentam uma organização peri- III – Sistema tetragonal R - a = b ≠ c α = β = 90° γ = 120°
ódica em que o volume unitário pode ser descrito por um
paralelogramo com parâmetros geométricos bem definidos: IV – Sistema ortorrômbico S - a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90°

arestas, denominadas a, b e c e os ângulos entre os planos


T - a = b = c α = β = γ ≠ 90°
das faces do paralelogramo, denominados α, β e γ.

Associe o sistema cristalino com seus parâmetros geomé- 2. Qual o raio (em nm) de um átomo de irídio dado que o Ir
tricos. possui uma estrutura cristalina CFC, uma densidade de 2,4
g/cm3 e um peso atômico de 192,2 g/mol?
a. ( ) I – P, II – T, III – Q, IV – R.
b. ( ) I – Q, II – R, III – S, IV – T. a. ( ) 0,143.
c. ( ) I – Q, II – T, III – R, IV – S. b. ( ) 1,43×10-8.
d. ( ) I – Q, II – R, III – P, IV – S. c. ( ) 0,153.
e. ( ) I – T, II – R, III – S, IV – Q. d. ( ) 0,136.
e. ( ) 1,36×10-8.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 39

3. Qual o volume (em m3) de uma célula unitária de alumínio 5. O ouro apresenta estrutura CFC e tem um parâmetro de rede
se seu raio atômico é igual a 0,143 nm? de 0,40788 nm. Qual o valor do seu raio atômico (em nm)?

a. ( ) 6,62×10-29. a. ( ) 1,44×10-10.
b. ( ) 5,63×10-31. b. ( ) 0,144.
c. ( ) 6,62×10-2. c. ( ) 1,77×10-10.
d. ( ) 3,60×10-2. d. ( ) 0,177.
e. ( ) 5,63×10-29. e. ( ) 0,140.

4. Qual o valor do parâmetro de rede (em m) do molibdênio 6. Em relação as imperfeições ou defeitos presentes nos cris-
a 20 °C, se sua estrutura é CCC e possui um raio atômico tais, assinale a alternativa que contenha apenas defeitos
de 0,140 nm? unidimensionais:

a. ( ) 9,90×10-2. a. ( ) Lacuna, defeito intersticial e defeito de Frenkel.


b. ( ) 3,23×10-1. b. ( ) Contornos de grão, contornos de fase e contor-
c. ( ) 9,90×10-11. nos de macla.
d. ( ) 3,23×10-10. c. ( ) Poros, trincas e fendas.
e. ( ) 2,80×10-10. d. ( ) Lacuna, em cunha e contornos de grão.
e. ( ) Em cunha, helicoidal e mista.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 40

7. As três estruturas cristalinas mais comuns entre os metais são


8. Nos metais com estrutura cristalina cúbica de faces centradas
(CFC), o fator de empacotamento atômico é
a. cúbica de face centrada, hexagonal compacta e mo-
noclínica.
a. 0,68.

b. cúbica de corpo centrado, hexagonal e ortorrômbica.


b. 0,70.

c. cúbica de face centrada, cúbica de corpo centrado e


c. 0,72.
hexagonal compacta.

d. 0,74.
d. cúbica de face centrada, trigonal e ortorrômbica.

e. 0,76.
e. ortorrômbica, hexagonal compacta e trigonal.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 41

PROPRIEDADES
DOS MATERIAIS
Propriedades mecânicas, ensaio de tração,
ensaio de compressão, cisalhamento e torção,
ensaio de dureza, propriedades térmicas,
propriedades elétricas e magnéticas,
propriedades ópticas, propriedades químicas,
fluência e fadiga e fratura.

Uma das atribuições dos engenheiros é a seleção dos ma-


teriais para uso em equipamentos de processo e, para isso,
é necessário compreender como as várias propriedades são
medidas e o que essas propriedades representam. Com esse
conhecimento, é possível reduzir e até mesmo evitar perdas
e falhas no processo. A seguir analisaremos as propriedades
mecânicas, térmicas, elétricas e magnéticas, ópticas e químicas.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 42

Propriedades mecânicas Classificação dos ensaios mecânicos.

A determinação das propriedades mecânicas dos materiais é


verificada através da realização de experimentos de laboratório,
que reproduzem (ou se assemelham) as condições de trabalho.
Geralmente, usam-se normas técnicas para o procedimento
das medidas e confecção do corpo de prova para garantir que
os resultados sejam comparáveis. Utilizam-se normalmente
corpos de prova (amostra representativa do material) para o
ensaio mecânico, já que por razões técnicas e econômicas não
é praticável realizar o ensaio na própria peça, que seria o ideal.
Ensaio de tração
As normas técnicas mais comuns são elaboradas pelas: ASTM
(American Society for Testing and Materials) e ABNT (As-
A resistência à tração é medida submetendo-se o material
sociação Brasileira de Normas Técnicas).
a uma carga ou força de tração, paulatinamente crescente, que
promove uma deformação progressiva de aumento de com-
Os ensaios mecânicos são classificados quanto à integridade
primento. Utiliza-se a NBR-6152 para metais. A máquina
ou quanto à velocidade, sendo subdividido em destrutivos e não
utilizada no ensaio é composta por um sistema de aplicação de
destrutivos para o primeiro e em estáticos, dinâmicos e carga
carga, por um dispositivo para prender o corpo de prova e por
constante para o segundo, conforme mostra melhor a Figura 11.
sensores que permitam medir a tensão aplicada e a deformação
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 43

promovida (extensiômetro), semelhante à imagem apresentada e a deformação (∈) é definida de acordo com:
na Figura 12.

Figura 12 – Esquema de
em que l0 é o comprimento original antes de qualquer
funcionamento de máquina de
carga ser aplicada e lf é o comprimento alongado da amostra.
tração.

Fonte: Smith, 2012. Os dados são reportados na forma de um gráfico de ten-


são versus deformação, apresentado na Figura 13 abaixo. No
A resistência mecânica de um material é caracterizada pelo
gráfico é possível observar algumas regiões características, que
parâmetro chamado tensão, que é a resistência interna de um
são apresentadas na Tabela 5.
corpo a uma força externa aplicada sobre ele, por unidade de
área.

Figura 13 – Curva tensão-


Considerando uma barra de área transversal A0 subme-
deformação representativa.
tida a um esforço de tração (força aplicada) F, a tensão (σ) é
medida por: Fonte: Newell, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 44

Tabela 5 – Regiões da curva tensão-deformação.

Fonte: Newell, 2018.

Região Representação

Região do alongamento elástico


— o material retorna a sua forma
original quando a tensão é liberada;
nenhum dano permanece; a região é
normalmente linear.

Região da deformação plástica — o


material não pode recuperar totalmente
sua forma quando a tensão é liberada
devido a variações permanentes na
microestrutura.

Região da ruptura — o material falha


após passar pela deformação plástica;
materiais frágeis falham imediatamente
após a deformação elástica.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 45

O limite de escoamento (σy) se refere a tensão no ponto Nem todos materiais podem sofrer deformação plástica sem
de transição entre o alongamento elástico e a deformação plás- romper. Os materiais dúcteis podem se deformar sem romper,
tica. A partir desse ponto, a deformação é irreversível, ou seja, enquanto os materiais que falham completamente no início de
ele não mais retornará completamente a sua forma original. deformação plástica são chamados de frágeis.

O limite de resistência (σr) ou resistência à tração (kgf/ Dentro de certos limites, a deformação é proporcional à
mm 2) é o ponto máximo na curva tensão-deformação, ou seja, tensão (a lei de Hooke é obedecida), onde E é o módulo de
a tensão máxima que o material suporta. A resistência à tração elasticidade ou o também conhecido módulo de Young. Este
é uma das propriedades mais importantes dos materiais, pois módulo é o quociente entre a tensão aplicada e a deformação
por intermédio de sua determinação, podem ser obtidas carac- elástica resultante, que está relacionado com a rigidez do ma-
terísticas significativas do material, tanto a nível de projeto, terial ou à resistência à deformação elástica e com as forças das
quanto de controle de qualidade. A resistência à tração, como ligações interatômicas. O comportamento do módulo de Young
também as outras propriedades mecânicas dependem do tipo é representado na Figura 14 como sendo a inclinação da reta.
de material, do teor de elementos de liga, das condições de
fabricação e tratamento, da estrutura, da temperatura, etc. Já
a tensão de ruptura (σrup) é a tensão na qual o material final- Figura 14 – Representação do
mente rompe completamente. Geralmente é inferior ao limite módulo de elasticidade ou módulo
de resistência em virtude de que a área da seção reta para um de Young.
material dúctil reduz-se antes da ruptura.
Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 46

Pode ser calculado da seguinte forma: A deformação elástica (pode-se visualizar na Tabela 5)
precede à deformação plástica, sendo reversível e normalmen-
te desaparece quando a tensão é removida. É praticamente
proporcional à tensão aplicada (obedece a lei de Hooke). O
comportamento elástico também é observado quando for-
ças compressivas, tensões de cisalhamento ou de torção são
Quanto maior o módulo de elasticidade mais rígido é o impostas ao material. Modulo de Cisalhamento é conhecido
material ou menor é a sua deformação elástica quando aplicada também como módulo de elasticidade transversal. No entanto,
uma dada tensão. O comportamento dos metais quando sub- alguns metais como ferro fundido cinzento, concreto e muitos
metidos a uma tração é representado na Figura 15. A partir do polímeros apresentam um comportamento não linear na parte
ponto M a deformação (strain) deixa de ser elástica, passando elástica da curva tensão versus deformação.
para o regime plástico.
A deformação plástica (também presente na Tabela 5) é
Figura 15 – provocada por tensões que ultrapassam o limite de elasticidade.
Comportamento típico da É irreversível porque é resultado do deslocamento permanen-
curva tensão-deformação te dos átomos e, portanto, não desaparece quando a tensão é
de engenharia até a removida.
fratura, ponto F.

Fonte: Callister, 2018.


CIÊNCIA DOS MATERIAIS 47

Fenômeno de escoamento
Os valores obtidos nos ensaios de tração permitem ao
projetista: Esse fenômeno é nitidamente observado em alguns metais
de natureza dúctil, como aços baixo teor de carbono. Caracte-
1. conhecer as condições de resistência do material sem que riza-se por um grande alongamento sem acréscimo de carga. É
sofra deformação permanente; representada por σy (corresponde a tensão máxima relacionada
com o fenômeno de escoamento).
2. superada a fase elástica, conhecer até que carga o material
pode suportar, em condições excepcionais. A maioria dos materiais tem o comportamento exibido na curva
“a” da Figura 16, não ocorre nitidamente o fenômeno de escoamento.
Além disto, o exame da fratura do corpo de prova, depois No entanto, alguns aços e outros materiais exibem o comportamento
de realizado o ensaio, permite verificar o comportamento dúctil da curva “b”, ou seja, o limite de escoamento é bem definido (o mate-
ou frágil do material e a presença de eventuais falhas originadas rial escoa – deforma-se plasticamente, sem praticamente aumento da
durante a sua fabricação (ex. porosidades de fundição). tensão). Neste caso, geralmente a tensão de escoamento corresponde
à tensão máxima verificada durante a fase de escoamento.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 48

Figura 16 – (a) Comportamento tensão-deformação típico


de um metal. (b) Comportamento tensão-deformação
esquemático encontrado em alguns aços que apresentam
ponto de resistência ao escoamento definido.

Fonte: Callister, 2018.


CIÊNCIA DOS MATERIAIS 49

Ductilidade em termos de alongamento Ductilidade expressa como estricção

Corresponde ao alongamento total do material devido à Corresponde à redução na área da seção reta do corpo,
deformação plástica. É calculado pela seguinte equação: imediatamente antes da ruptura. Os materiais dúcteis sofrem
grande redução na área de seção reta antes da ruptura.

onde lo e lf correspondem ao comprimento inicial e final


onde Ao e Af correspondem à área inicial e final, respectivamente.
(após a ruptura), respectivamente.

Resiliência
Figura 17 – Representações
esquemáticas do comportamento
Corresponde à capacidade do material de absorver energia
tensão-deformação em tração
quando este é deformado elasticamente. A propriedade associada
para metais frágeis e dúcteis
é dada pelo módulo de resiliência (Ur). Materiais resilientes são
carregados até a fratura.
aqueles que têm alto limite de escoamento e baixo módulo de
Fonte: Callister, 2018.
elasticidade (como os materiais utilizados para molas).
Como a deformação final é localizada, o valor da elongação
só tem significado se indicado o comprimento de medida. Por
exemplo, alongamento de 30 % em 50 mm.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 50

Tenacidade e o módulo com as mesmas equações utilizadas para tração


(equações 14 e 15, respectivamente). Contudo, na compressão
Corresponde à capacidade do material de absorver energia não existirá um valor máximo, uma vez que não há formação
até sua ruptura. Está relacionada com a resistência ao choque de pescoço; adicionalmente, o modo de fratura será diferente
ou impacto, isto é, a aplicação de uma carga brusca e repenti- daquele que ocorre na tração.
na. O comportamento dos materiais sob a ação destas cargas
dinâmicas difere, em geral do comportamento quando sujeitos Ensaio de dureza
a cargas estáticas.
A dureza representa a resistência de um material à pe-
A tenacidade corresponde à quantidade de energia neces- netração de um corpo (deformação plástica localizada), pela
sária para provocar a ruptura e depende fundamentalmente da aplicação de uma carga. Os tipos de ensaios comumente usados
resistência e ductilidade do material. para medição de dureza são:

Ensaio de compressão, cisalhamento e torção 1. Ensaio de dureza Rochwell.


2. Ensaio de dureza Brinell.
Bastante semelhante ao ensaio de tração, tendo analogia 3. Ensaio de microdureza Knoop e Vickers.
direta. O mesmo equipamento é frequentemente utilizado, mas
em vez de se puxar a amostra, ela é submetida a uma carga de A Tabela 6 a seguir apresenta um resumo dos três ensaios
compressão, cisalhante e de torção. Calcula-se a resistência à de dureza.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 51

Forma de identação
Identador Fórmula para o número
Ensaio Vista lateral Vista superior Carga
(penetrador) de dureza1

Esfera de aço ou carbeto


Brinell P
de tungstênio com 10 mm

Microdureza Vickers Pirâmide de diamante P

Microdureza Knoop Pirâmide de diamante P

Cone de diamante;
Rockwell e Rockwell 60 kg, 100 kg e 150 kg – Rockwell
esferas de aço com
superficial 15 kg, 30 kg e 45 kg – Rockwell superficial
diâmetros de

1
Para as fórmulas de dureza dadas, P (a carga aplicada) está em kg, enquanto D, d, d1 e l estão todos em mm.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 52

Propriedades térmicas ratura de fusão" representa um ponto de transição importante


em relação à organização dos átomos em sistemas cristalinos.
A elevação da temperatura dos metais aumenta a amplitu-
de de vibração dos átomos. Como consequência, ocorre uma O poder calorífico, expresso em cal/(g °C) é a quantidade
expansão térmica do reticulado cristalino, isto é, ocorrem de calor necessária para elevar 1°C a massa unitária de um
alterações dimensionais, expressas pelo "coeficiente linear de material homogêneo. O calor específico (Cp) é definido como
dilatação térmica", α, medido em 1/°C. a relação entre a capacidade de armazenar calor do material e
da água, ou seja, a quantidade de calor necessária para elevar
a massa unitária de um material de 1°C de temperatura para
a quantidade de calor necessária para elevar de 1°C a mesma
massa de água. O calor específico determina a quantidade de
onde L está relacionado ao comprimento do material e T calor necessária nos processos metalúrgicos, tais como fundição
está relacionado com a temperatura. e tratamento térmico.

Esta expansão, com o aumento da temperatura, é muito A condutibilidade térmica (k), expressa em (W.mm)/(mm2
importante para muitas operações metal-mecânicas, como °C) é a capacidade condutora de calor de uma substância e que
fundição, forjamento, soldagem, tratamento térmico, etc. A depende não só da própria substância, como também do estado
elevação da temperatura leva à fusão do metal, cuja "tempe- em que ela se encontra.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 53

Propriedades elétricas e magnéticas O cobre é o metal mais usado para aplicações onde se exige
boa condutibilidade elétrica, cujo item de controle é conheci-
A condutibilidade elétrica é a capacidade do metal de do por %IACS, que significa: International Annealed Copper
transmitir ou conduzir corrente elétrica. Sob este ponto de Standard, ou seja, Padrão Internacional de Cobre Recozido.
vista, os materiais podem ser classificados como condutores, O cobre isento de oxigênio tem condutibilidade mínima de
isolantes ou semicondutores. A condutibilidade elétrica é devida 101%IACS.
à mobilidade dos elétrons e é medida em 1/(Ohm.m).
A permeabilidade magnética é definida como a habilidade
O inverso da condutibilidade elétrica é a resistividade de um metal ser magnetizado ou habilidade de conduzir linhas
elétrica e se relaciona com a resistência elétrica por meio da magnéticas de força em comparação ao ar e ao vácuo. Os ma-
seguinte fórmula: teriais ferromagnéticos (Fe, Co) possuem alta permeabilidade
magnética.

Propriedades ópticas

onde: R é a resistência em ohm, ρ é a resistividade elétrica


Quando se dirige um feixe de luz sobre a superfície de uma
em Ohm.cm, L é o comprimento da amostra do material em
substância sólida, nota-se que uma certa fração da intensidade
cm, A é a área da secção transversal da amostra em cm2, c =
de luz incidente é refletida. Nos metais a fração refletida é alta,
1/ρ = condutividade elétrica.
enquanto que em vidros a fração refletida é baixa.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 54

A opacidade e a elevada ref letibilidade dos metais são da inf luência que o meio circunvizinho (gasoso, líquido ou
atribuídas à ação da radiação incidente, a qual estimula os sólido) e a temperatura exercem sobre o metal, provocando
elétrons a ocupar zonas vazias de maior energia, sendo a seguir diversos tipos de ataques corrosivos e oxidantes. Normalmente,
absorvidos e, então reemitem luz da superfície do metal. a corrosão é medida em massa que se perde anualmente.

As cores que os metais apresentam à ação da luz branca Os custos de corrosão e dos processos de proteção à corrosão,
dependem da frequência ou do comprimento de onda da luz isto é, os custos decorrentes da perda de máquinas, equipamentos
incidente e da refletibilidade. Por exemplo, a prata apresenta e estruturas pelos processos corrosivos e os custos de aplicação
cor branca devido à alta refletibilidade ao longo de toda região de processos de proteção contra corrosão são significativos na
visível; já o cobre e o ouro absorvem comprimentos de onda economia mundial. A corrosão pode ser definida como um
mais curtos, com uma refletibilidade mais baixa e apresentam processo de destruição do material pela ação do meio ambiente.
coloração avermelhada e amarelada respectivamente.
A seleção de materiais metálicos atende inicialmente a
Propriedades químicas requisitos de resistência mecânica e de fabricação; contudo, as
considerações de sua resistência à corrosão e dos processos de
Relacionam-se com a resistência que os metais oferecem proteção devem ser realizadas na fase de projeto do produto.
ao ataque pelo meio ambiente (corrosão) ou pelo efeito da Estudaremos esse assunto mais aprofundado no capítulo 8 do
temperatura (oxidação). A resistência à corrosão e à oxidação e-book.
são, portanto, características de grande importância, em vista
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 55

Fluência e fadiga facilmente, tornando a fratura mais provável. As temperaturas


limites empregadas aproximadas são:
A temperatura gera muitos efeitos no comportamento
mecânico dos metais. Um aumento de temperatura acarreta • Alumínio e ligas: 205 ºC;
uma redução do limite de resistência, limite de escoamento e • Titânio e ligas: 315 ºC;
módulo de elasticidade dos metais. Gera também um aumento • Aço carbono: 370 ºC;
da ductilidade, que é uma consequência da redução da resistência • Chumbo: apresenta fluência à temperatura ambiente.
mecânica. A temperatura limite de emprego é aquela acima da
qual a resistência se torna tão baixa que seria necessário grandes A Figura 18 a seguir apresenta uma curva típica de fluência,
espessuras para esforços mecânicos reduzidos. na qual é possível observar 4 estágios distintos:

A fluência está relacionada à deformação plástica de um • Deformação instantânea: deformação que ocorre imediata-
material submetido continuamente a uma tensão ao longo mente coma aplicação de esforço, independente de haver ou
do tempo. A maioria dos materiais sofre fluência apenas em não fluência. Esta deformação poderá ser permanente ou não.
temperaturas elevadas. Quando uma tensão contínua é apli-
cada a um material em temperatura elevada, ele pode alongar • Primeira fase da fluência: a fluência inicia.
e, por fim, falhar abaixo do limite de escoamento. Em última
análise, a fluência ocorre devido às discordâncias no material. • Segunda fase da fluência: a progressão da deformação é
Em temperaturas altas, as discordâncias podem se mover mais aproximadamente constante ao longo do tempo.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 56

• Terceira fase da fluência: a progressão da deformação é A fadiga é a forma de falha ou ruptura que ocorre nas es-
crescente, e que termina pela ruptura do material. truturas sujeitas à forças dinâmicas e cíclicas. Nessas situações o
material rompe com tensões muito inferiores à correspondente
• Caso a carga seja removida, em qualquer momento, haverá à resistência à tração (determinada para cargas estáticas). É
uma contração aproximadamente igual à deformação inicial comum ocorrer em estruturas como pontes, aviões, componen-
(instantânea). tes de máquinas. A falha por fadiga é geralmente de natureza
frágil mesmo em materiais dúcteis. A fratura ou rompimento
do material por fadiga geralmente ocorre com a formação e
Figura 18 – Curva típica de propagação de uma trinca.
fluência.
A trinca inicia-se em pontos onde há imperfeição estru-
Fonte: Callister, 2018.
tural ou de composição e/ou de alta concentração de tensões
(que ocorre geralmente na superfície). A superfície da fratura
é geralmente perpendicular à direção da tensão à qual o ma-
As deformações observadas são acarretadas pela movi-
terial foi submetido. Os esforços alternados que podem levar
mentação das discordâncias, através do mecanismo de difusão
à fadiga podem ser:
atômica (movimentação de átomos em uma direção preferen-
cial preenchendo lacunas na estrutura cristalina), e também
• Tração;
decorrente do escorregamento de grãos uns sobre os outros.
• Tração e compressão;
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 57

• Flexão; é encontrada nos metais extremamente dúcteis, tais como o


• Torção, etc. ouro puro e o chumbo puro à temperatura ambiente, além de
outros metais, polímeros e vidros inorgânicos em temperaturas
Fratura elevadas. Já a Figura 19-b, representa o tipo mais comum de
perfil de fratura por tração. Ela ocorre em etapas, como pode
A formação e propagação de uma trinca resulta em uma ser observado na Figura 20.
fratura, apresentando um comportamento diferente para cada
Figura 19 – (a) Fratura altamente dúctil na
tipo de material. As fraturas podem ser classificadas de duas
qual a amostra forma um pescoço até um
formas: fratura dúctil e fratura frágil.
único ponto. (b) Fratura moderadamente

dúctil com algum empescoçamento


Fratura dúctil
(estrangulamento). (c) Fratura frágil sem

nenhuma deformação plástica.


Materiais dúcteis apresentam deformação plástica substan- Fonte: Callister, 2018.

cial na área da trinca. O material essencialmente se adapta à Figura 20 – Estágios de uma fratura tipo taça e

presença da trinca, conforme pode ser visualizado na Figura cone. (a) Empescoçamento inicial. (b) Formação de

19. O crescimento da trinca tende a ser lento e, em alguns pequenas cavidades. (c) Coalescência de cavidades

casos, a trinca se torna estável e não crescerá a menos que se para formar uma trinca. (d) Propagação da trinca.

aumente a tensão aplicada. As trincas nas paredes ou nos forros (e) Fratura final por cisalhamento em um ângulo de

de casas tendem a ser estáveis. A configuração da Figura 19-a 45‘ em relação à direção da tração.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 58

Fratura frágil proporciona informações a respeito da resistência mecânica do


material, através de um gráfico tensão versus deformação, sendo
Materiais frágeis apresentam um comportamento diferente. possível verificar se o material apresenta um comportamento
As trincas não são estabilizadas, uma vez que eles não podem dúctil, frágil, rígido, entre outras classificações. Semelhante
sofrer uma deformação plástica necessária sem se romperem. ao ensaio de tração, há o ensaio de compressão, cisalhamento
Como resultado disso, pequenas trincas se propagam esponta- e torção. Também estudamos os três tipos de ensaio de du-
neamente, semelhante ao que ocorre com uma pequena trinca reza: Rochwell, Brinell e Knoop e Vickers. Compreendemos
no para-brisas de um carro, resultando na fratura de todo o os efeitos nas propriedades dos materiais ocasionados pela
para-brisas. Materiais frágeis tendem a formar uma superfície variação de temperatura, bem como suas propriedades elétri-
de fratura, por clivagem, mais simples, como mostrado na cas, magnéticas, ópticas e químicas. Por fim, analisamos os
Figura 19-c. fenômenos responsáveis pelas falhas dos materiais: fluência,
fadiga e fratura. No estudo da fratura, vimos que ela pode ser
Síntese uma fratura dúctil (com deformação plástica substancial) ou
uma fratura frágil (sem deformação plástica).
Neste capítulo vimos algumas das principais propriedades
dos materiais. Dentro das propriedades mecânicas, verifica-
mos que a sua determinação é verificada através da realização
de experimentos de laboratório, utilizando corpos de prova
e seguindo normas técnicas específicas. O ensaio de tração
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 59

III. A resistência ao impacto está relacionada com a habilidade


Exercícios
de um material absorver energia apenas na zona elástica,
sem sofrer ruptura.
1. Em relação aos ensaios de impacto, julgue os itens a seguir.

IV. A massa do dardo ou martelo, a altura de onde o dardo é


I. Por não ser uma propriedade intrínseca dos materiais, a
abandonado sob a ação da gravidade e da velocidade de
resistência ao impacto dependerá de diversas variáveis: ve-
propagação da luz, determinam a energia de impacto.
locidade do ensaio durante o teste, temperatura do ensaio,
geometria do corpo de prova, condições de fabricação do
É correto apenas o que se afirma em:
corpo de prova e sensibilidade a entalhes padronizados.

a. ( ) I e II.
II. Copos de prova com entalhe ou com corte padronizado,
b. ( ) I e IV.
são os mais utilizados nos ensaios sob impacto, nos quais
c. ( ) II e III.
se observa a energia necessária para ocasionar a propagação
d. ( ) I, III e IV.
desse corte (entalhe) através do corpo de prova até a ruptura.
e. ( ) II, III e IV.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 60

2. Em relação ao ensaio de dureza Brinell: 3. Não podemos, facilmente, detectar o seguinte defeito por
inspeção visual:
a. Estabelece relação entre a carga empregada com a
área superficial da impressão e faz uso de um penetrador de a. mordedura.
diamante com o formato de uma pirâmide de base quadrada.
b. porosidade.
b. O quociente entre a carga empregada e a área da calota
esférica formada pela penetração de uma esfera é conhecida
c. cratera.
como dureza Brinell.

c. Esse ensaio é inadequado para materiais com estrutura d. perna excessiva.


interna desuniforme, como, por exemplo, o ferro fundido
cinzento. e. fissura por fadiga.

d. É um ensaio por penetração, sendo apropriado para


a caracterização de peças que tenham experimentado tra-
tamentos superficiais.

e. É um ensaio por risco e possibilita a determinação


da dureza de materiais frágeis, como o vidro, e de camadas
finas, como as películas de tintas.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 61

4. Analise as afirmações abaixo com base no gráfico de fluência


a seguir.

I. A curva de fluência característica apresenta três regiões


distintas: a região A, primária ou transiente, é definida por
uma taxa de fluência constantemente crescente, enquanto,
na região C, contrariamente, acontece uma aceleração da
fluência até a ruptura, em um menor tempo quando se em-
prega maior tensão.
Está correto APENAS a alternativa:
II. Na região B, a fluência acontece em regime estacionário,
onde a função da variação da tensão (ii) com o tempo (iii)
a. I.
é constante.
b. II.
III. A curva (i-iv) retrata o ensaio de tensão com temperatura c. III.
constante, enquanto, na curva (i-v), a carga é mantida d. I e II.
constante. e. II e III.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 62

5. Em relação a fratura frágil e dúctil, avalie os itens a seguir: 6. Em relação a dureza:

I. Relaciona-se com o alastramento de trincas e exibe superfície a. O quociente entre a carga empregada e a área pro-
sem grandes deformações plásticas aparentes, contrariamente duzida pela introdução de um penetrador esferocônico de
a fratura dúctil, que exibe superfície característica em forma aço endurecido é denominada dureza Brinell.
de taça e cone.
b. O ensaio de microdureza Knoop é definido com base
na carga empregada e na área projetada pela impressão
II. Não está relacionada à propagação de trincas e sim ao estudo
provocada por um penetrador de diamante.
da deformação plástica substancial.
c. Mohs estabelece relações entre a carga empregada e a
III. Sua fratura ocorre, normalmente, por cisalhamento do pescoço. área superficial da impressão e emprega um penetrador de
diamante com o formato de uma pirâmide de base quadrada.
IV. Está correto APENAS o que se afirma em:
d. Rockwell é definida com base na profundidade de
introdução de um penetrador sob a ação de uma carga,
a. I.
existindo três escalas para a dureza Rockwell: A, B e C.
b. II
c. III
e. Vickers é o cociente entre a carga empregaa e a área
d. I e II
da calota esférica produzida pela penetração de uma esfera,
e. II e III
sendo um ensaio de microdureza.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 63

7. As propriedades mecânicas dos materiais metálicos podem ser men- 8. O ensaio mecânico utilizado para obter a curva
suradas por meio de ensaios mecânicos. A respeito do ensaio de tração tensão x deformação de um determinado ma-
e das propriedades medidas no ensaio é correto afirmar que: terial é o ensaio de

a. A tenacidade é a habilidade de um material absorver energia a. compressão.


e se deformar elasticamente antes de fraturar. b. torção.
c. fadiga.
b. A resiliência é a capacidade de um material de absorver energia, d. dureza.
quando ele é deformado plasticamente e, depois, com a remoção da e. tração.
carga, permite a recuperação dessa energia.
9. A propriedade mecânica que determina a re-
c. A estricção do material é a diminuição da seção transversal sistência de um material a uma deformação
do corpo de prova, após atingir carga máxima, na região aonde vai plástica localizada chama-se:
se localizar a ruptura.
a. Ductilidade.
d. A tensão limite de escoamento, também conhecido como limite b. Tração.
de proporcionalidade ou limite de desvio n, pode ser determinada c. Tenacidade.
usando o método da pré-deformação que, para os aços, é corresponde d. Dureza.
a uma deformação plástica 0,2 por unidade de comprimento. e. Resiliência.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 64

DIAGRAMAS DE
FASES
Diagrama de fases de substâncias puras,
regra das fases de Gibbs, curvas de
resfriamento, sistemas isomorfos binários,
regra da alavanca, desenvolvimento da
microestrutura em ligas isomorfas, sistemas
binários eutéticos, reações eutetoides e
peritéticas e o sistema Ferro-Carbono.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 65

A importância da compreensão dos diagramas de fases está


relacionada com o projeto e controle dos procedimentos utilizados
em tratamentos térmicos, pois são funções de sua microestrutura
e há uma correlação com suas propriedades mecânicas. Para isso,
vamos iniciar com algumas definições e conceitos básicos para
facilitar o entendimento no decorrer do capítulo.

• Componentes: como o próprio nome diz, são os metais


puros e/ou compostos que compõem uma liga.

• Limite de solubilidade: concentração máxima de átomos de


soluto que pode se dissolver no solvente para formar uma Figura 21 – Solubilidade do açúcar (C12H22O11) em um xarope
solução sólida. Se adicionarmos mais soluto, além desse limite, açúcar-água.
haverá a formação de outra solução sólida ou outro composto, Fonte: Callister, 2018.

com composição diferente. É função da temperatura.


• Equilíbrio de fases: refere-se ao equilíbrio na medida em
• Fase: porção homogênea de um sistema que possui carac- que este se aplica a sistemas nos quais pode existir mais
terísticas físicas e químicas uniformes. Todo material puro que uma única fase. O equilíbrio de fases se reflete por uma
é considerado uma fase. Da mesma forma, também o são constância nas características das fases de um sistema ao
todas as soluções sólidas, líquidas e gasosas. longo do tempo.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 66

Diagrama de fases de substâncias puras O diagrama do ferro puro (Fe) é bastante importante, con-
forme mostra a Figura 23. Existem três fases sólidas separadas
A água, considerada uma substância pura, pode existir no e distintas: Fe-α (alfa), Fe-γ (gama) e Fe-δ (delta). O Fe-α e
estado sólido, líquido ou gasoso, dependendo das condições de Fe-δ têm estrutura CCC, enquanto o Fe-γ (gama) tem estrutura
temperatura e de pressão na qual se encontra. A Figura 22 apre- CFC. As linhas-limite de fase no estado sólido possuem as
senta uma representação gráfica das fases da água em diferentes mesmas propriedades das linhas-limite de fase líquido-sólido.
temperaturas e pressões. Neste diagrama é possível observar a Há três pontos triplos: (1) líquido, vapor e Fe-δ, (2) vapor, Fe-δ
ocorrência de um ponto triplo, onde há a coexistência de três e Fe-γ, e (3) vapor, Fe-γ e Fe-α (alfa).
fases (por isso ponto triplo): sólida, líquida e gasosa. As fases
líquida e gasosa coexistem ao longo da linha de vaporização e
as fases líquida e sólida ao longo da linha de solidificação. Essas
se configuram como linhas de equilíbrio bifásico.

Figura 22 –
Representação do
diagrama PT (pressão-
temperatura) da água.
Figura 23 – Representação do diagrama PT (pressão-
Fonte: Smith, 2012. temperatura) da água.
Fonte: Smith, 2012.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 67

Regra das fases de Gibbs Isso quer dizer que, para manter as três fases em equilíbrio,
não se pode alterar nenhuma das variáveis (temperatura ou
O número de fases que podem coexistir, em equilíbrio, em pressão) e, com isso, o ponto triplo será conhecido por ponto
um determinado sistema é dado pela regra das fases de Gibbs: invariante.

Para sistemas binários utiliza-se a equação “condensada”:

onde P é o número de fases que coexistem em um determi-


nado sistema, C é o número de componentes do sistema e F é
o número de graus de liberdade. C pode ser um elemento, um Curvas de resfriamento
composto ou uma solução presente no sistema, F é o número
de variáveis (pressão, temperatura e composição) que podem Utilizadas para determinar as temperaturas de transforma-
ser alteradas de modo independente, sem que ocorra no sistema ção de fases para metais puros e ligas. A curva de resfriamento
qualquer alteração da fase ou fases em equilíbrio. é obtida por meio do registro da temperatura em função do
tempo de um metal, durante o seu resfriamento desde uma
Por exemplo, o ponto triplo da água. Temos um com- temperatura na qual ele, fundido, passa pela solidificação até
ponente (C = 1), três fases (P = 3), calculamos o número de chegar à temperatura ambiente. Na Figura 24, quando a curva
graus de liberdade: 3+F=1+2→F=0 de resfriamento se torna plana (horizontal – segmento BC) é
denominado platô ou região de patamar térmico. A temperatura
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 68

nessa região permanece constante porque há um equilíbrio entre Sistemas isomorfos binários
o calor perdido pelo metal por meio do molde e do calor latente
fornecido pelo metal que está em processo de solidificação. O Se no lugar da substância pura tivermos uma mistura ou
comportamento do resfriamento do ferro puro é mostrado na liga de dois metais, teremos um sistema binário. Como exemplo,
Figura 25. Note que há a presenta do ferro líquido e após as podemos citar o aço-carbono, que contem sobretudo ferro e car-
três fases sólidas do ferro (Fe-α, Fe-γ e Fe-δ). boneto de ferro. Quando os dois elementos são completamente
solúveis um no outro, quer no estado líquido, quer no estado
Figura 24 sólido, existe apenas uma única estrutura cristalina qualquer que
– Curva de seja a composição e, por esta razão, são denominados sistemas
resfriamento isomorfos. O diagrama de fases binário mais fácil de ser compre-
para um metal endido e interpretado é o do cobre-níquel, mostrado na Figura
puro. 26. A temperatura está traçada no eixo da ordenada, enquanto
a abscissa representa a composição da liga, em porcentagem em
Fonte: Smith, 2012.
peso (escala inferior) e em porcentagem atômica (escala superior)
de níquel. Três regiões, ou campos, de fases diferentes aparecem
Figura 25 – Curva de
no diagrama: um campo alfa (α – solução sólida substitucional
resfriamento do ferro
contendo átomos de Cu e de Ni, com estrutura cristalina CFC),
puro à 1 atm.
um campo líquido (L – solução líquida homogênea composta
tanto por cobre quanto por níquel) e um campo bifásico α + L.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 69

Regra da alavanca

Para determinação da porcentagem em peso de cada uma


das fases é utilizado a regra da alavanca. Para a dedução das
equações, vamos considerar o diagrama representado na Figura
27. Considerando x a composição da liga e w0 a fração em peso
de B em A na liga. Na temperatura T é traçado a linha que liga
as linhas liquidus e solidus (segmento LS). À temperatura T,
Figura 26 – (a) Diagrama de fases cobre-níquel. (b) Parte do
a liga x é constituída por uma mistura de líquido, cuja fração
diagrama de fases cobre-níquel no qual as composições e as
em peso de B é wl e de sólido é ws.
quantidades das fases estão determinadas para o ponto B.

Fonte: Callister, 2018. Figura 27 –Diagrama de fases


Um cuidado deve ser tomado referente à nomenclatura binário de dois metais, A e
utilizada. Para as ligas metálicas, as soluções sólidas são co- B, completamente solúveis
mumente designadas por meio de letras gregas minúsculas (α, um no outro, usado para
β, γ, etc). Para as fronteiras entre as fases, a curva que separa deduzir a equação da regra da
os campos das fases L e α + L é denominada linha liquidus e alavanca. Na temperatura T, a
a linha solidus está localizada entre as regiões α e α + L. composição da fase líquida é wl e da fase sólida é ws.

Fonte: Smith, 2012.


CIÊNCIA DOS MATERIAIS 70

A partir de um balanço de massa, chega-se que: Ao combinarmos os dois balanços chega-se a:

onde X l é a fração em peso da fase líquida e Xs é a fração


em peso da fase sólida. Considerando 1 g de liga, chega-se ao
Essas equações (25 e 26) constituem as equações da regra
seguinte balanço, representado pela Figura 28:
da alavanca, que, em uma mistura bifásica, para calcular a
fração em peso de uma fase:

Utilizar o segmento da linha conjugada no lado oposto da


liga e que está mais afastado da fase cuja fração em peso se
pretende determinar.

O quociente entre esse segmento da linha conjugada e a


linha conjugada total dá a fração em peso da fase. Tomando
como exemplo a Figura 27, a fração em peso da fase líquida é
Figura 28 – Balanço de massa para 1 g de liga.
dada pelo quociente OS/LS, e a fração em peso da fase sólida
Fonte: Smith, 2012. é dada pelo quociente LO/LS.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 71

Desenvolvimento da microestrutura em ligas No ponto a, a liga é totalmente líquida e tem a microes-


isomorfas trutura representada no detalhe da figura. Conforme o res-
friamento começa, nenhuma alteração microestrutural ou de
Quando o resfriamento ocorre muito lentamente, o equilí- composição ocorrerá até que a linha liquidus (ponto b) seja
brio das fases é mantido continuamente. A Figura 29 apresenta alcançada. Nesse ponto, o primeiro sólido α começa a se formar,
o resfriamento de uma liga de 35 %p Ni-65 %p Cu, onde a com a composição especificada pela linha de amarração traçada
linha tracejada representa o resfriamento. nessa temperatura. A composição do líquido é praticamente a
mesma do início. Com a continuação do resfriamento, tanto
Figura 29 – as composições quanto a quantidade relativa de cada uma das
Representação fases mudarão. As composições das fases líquida e α seguirão
esquemática do as linhas liquidus e solidus, respectivamente. Além disso, a
desenvolvimento da fração da fase α aumentará com a continuação do resfriamento.
microestrutura durante A composição global da liga permanece inalterada durante o
a solidificação em resfriamento, apesar de haver uma redistribuição do cobre e
condições de equilíbrio do níquel entre as fases. No ponto c, as composições das fases
para uma liga com 35 líquida e α são, respectivamente, 32 %p Ni-68 %p Cu [L(32
%p de Ni e 65 %p de Ni)] e 43 %p Ni-57 %p Cu [α(43 Ni)]. No ponto d o processo
Cu. de solidificação está concluído, tendo uma composição do
sólido α de aproximadamente 35 %p Ni-65 %p Cu (a compo-
Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 72

sição global da liga), enquanto a composição da última fração


de líquido remanescente é de 24 %p Ni-76 %p Cu. Ao cruzar
a linha solidus, esse líquido remanescente se solidifica; o pro-
duto final é, então, uma solução sólida policristalina da fase
α, com uma composição uniforme de 35 %p Ni-65 %p Cu.
O resfriamento subsequente não produz nenhuma alteração
microestrutural ou de composição.

Mas o resfriamento em condições de equilíbrio, na prática, é


muito difícil de se atingir, pois as taxas de resfriamento aplicadas
são muito rápidas, não permitindo que ocorra os reajustes na
composição e consequentemente manter o equilíbrio. Com isso,
são desenvolvidas microestruturas distintas. Essas regiões com
Figura 30 – Representação esquemática do desenvolvimento
diferentes composições químicas são denominadas estruturas
da microestrutura durante a solidificação em condições sem
zonadas. Observe a diferença da microestrutura apresentada
equilíbrio para uma liga com 35 %p de Ni e 65 %p de Cu.
na Figura 30 com a apresentada anteriormente (Figura 29).
Há uma mudança substancial da microestrutura. Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 73

Sistemas binários eutéticos diagrama de fases, chamado por ponto eutético. Quando ocorre
um resfriamento lento até a temperatura eutética, o líquido
Quando os componentes são apenas parcialmente solúveis, com composição eutética se transforma simultaneamente em
teremos um sistema binário eutético. Um exemplo é o sistema duas fases sólidas (soluções sólidas α e β), reação denominada
chumbo-estanho (Figura 31). As regiões de solubilidade li- reação eutética (Equação 27). Essa reação é chamada de reação
mitada no estado sólido são conhecidas por fases alfa (α - rica invariante, pois em condições de equilíbrio, ocorre para tem-
em chumbo) e beta (β - rica em estanho) e recebem a nomen- peratura e composição de liga bem definidas (F = 0 – Regra
clatura de soluções sólidas terminais, uma vez que aparecem de Gibbs).
nos extremos do diagrama. A solubilidade máxima no estado
sólido dos elementos de soluto diminui, seguindo as linhas
solvus do diagrama de fases.

A liga com uma composição específica, conhecida como


composição eutética, solidifica a uma temperatura inferior à
de qualquer outra liga. Essa temperatura, que corresponde à
mais baixa à qual pode existir a fase líquida em condições de
resfriamento lento, é chamada de temperatura eutética. No
sistema Pb-Sn, a composição eutética (61,9 % Sn e 38,1 % Pb) Figura 32 – Diagrama de fases chumbo-estanho.
e a temperatura eutética (183 ºC) determinam um ponto no
Fonte: Smith, 2012.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 74

Reações eutetoides e peritéticas

Há também a ocorrência de outros pontos invariantes


Se ocorrer um resfriamento lento (liga 1 da Figura 32), envolvendo três fases diferentes, sendo que um desses pontos
na temperatura eutética, todo o líquido solidifica por meio da ocorre para o sistema cobre-zinco, apresentado na Figura 33.
reação eutética formando uma mistura eutética da solução α No resfriamento, uma fase sólida δ se transforma em duas
(19,2 % Sn) e β (97,5 % Sn). Após a reação eutética, se o res- outras fases sólidas (γ e ∈):
friamento persistir, ocorrerá uma diminuição da solubilidade
do soluto nas soluções sólidas α e β, conforme indicado pelas
linhas solvus. As composições do lado esquerdo do ponto eu-
Se ocorrer o aquecimento, teremos a reação inversa ou
tético são chamadas de hipoeutéticas e as do lado direito de
reação eutetoide e o ponto invariante (ponto E).
hipereutetoides.

Figura 33 – Uma região do


Agora, para um resfriamento lento da Liga 2 da Figura 32,
diagrama de fases cobre-zinco
se resfriarmos do ponto a até o ponto b, o primeiro sólido a se
que foi ampliada para mostrar
formar é denominado por α primário ou proeutético. Usa-se
os pontos invariantes eutetoide
o termo “proeutético” para distinguir este constituinte do α
e peritético, identificados como
que se forma posteriormente, durante a própria reação eutética.
E e P, respectivamente.
Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 75

A reação peritética está habitualmente presente em diagra- • Ferrita: forma estável do ferro, também denominado de ferro
mas binários de equilíbrio de fases mais complexos, especial- α, apresenta uma estrutura cristalina CCC.
mente quando as temperaturas de fusão dos dois componentes
são bastante diferentes. Nessa reação, uma fase líquida reage • Austenita: também denominado de ferro γ, decorrente da
com uma fase sólida, originando uma nova fase sólida diferentes transformação polimórfica da ferrita através do aquecimento
da fase sólida reagente: a 912 ºC, apresenta estrutura cristalina CFC.

• A austenita persiste até 1394 ºC, quando sua estrutura se


reverte de CFC a uma fase CCC, chamada de ferrita δ e,
Existe um peritético para o sistema cobre-zinco (ponto P finalmente, se funde a 1538 ºC.
da Figura 33).

O sistema Ferro-Carbono
Figura 34 –
De todos os sistemas de ligas binárias, talvez o mais im- Diagrama de fases
portante seja o formado pelo ferro e pelo carbono. A Figura 34 ferro-carbeto de
mostra um diagrama de fases ferro-carbeto de ferro. O ferro ferro.
puro, ao ser aquecido, apresenta duas mudanças na estrutura
Fonte: Callister, 2018.
cristalina antes de se fundir:
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 76

Na concentração de 6,7 %p C (valor máximo da abscissa), mecânicas da ferrita. Essa fase é relativamente macia e po-
forma-se um composto intermediário, o carbeto de ferro ou de-se tornar magnética.
cementita (Fe3C), representado por uma linha vertical no
diagrama de fases. Quando temos a composição 100 %p C, • A solubilidade do carbono na austenita é aproximadamente
teremos a grafita pura. 100 vezes maior que o valor máximo para a ferrita CCC,
uma vez que os sítios octaédricos na estrutura CFC são
Algumas considerações sobre o diagrama: maiores do que os sítios octaédricos CCC.

• O carbono é uma impureza intersticial no ferro e forma uma • A austenita não é magnética.
solução sólida tanto com a ferrita α quanto com a ferrita δ,
e também com a austenita. • Mecanicamente, a cemetinta é muito dura e frágil. A re-
sistência de alguns aços é aumentada substancialmente por
• Na ferrita CCC, somente pequenas concentrações de carbono sua presença.
são solúveis, devido à forma e pelo tamanho das posições
intersticiais CCC, tornando difícil acomodar os átomos de • Reação eutética:
carbono.
• Reação eutetoide:
• Embora presente em concentrações relativamente baixas, o
carbono influencia de maneira significativa as propriedades
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 77

• Considerando o resfriamento muito lento dos aços, man- • As mudanças microestruturais que acompanham a reação
tendo-se o equilíbrio, o desenvolvimento da microestrutura eutetoide estão presentes na Figura 36.
da liga ferro-carbono é mostrado na Figura 35.

Figura 36 – Representações esquemáticas da formação da


perlita a partir da austenita.

Fonte: Callister, 2018.

• Liga hipoeutetoide (“menos que eutetoide”): composição


Figura 35 – Representações esquemáticas das microestruturas
à esquerda do eutedoide, entre 0,022 %p C e 0,76 %p C
para uma liga ferro-carbono com composição eutetoide (0,76
quando resfriadas, sua microestrutura é mostrada na Figura
%p C) acima e abaixo da temperatura eutetoide.
37. A ferrita que está presente na perlita é chamada de fer-
Fonte: Callister, 2018. rita eutetoide, enquanto a outra, a que se formou acima da
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 78

temperatura eutetoide, é denominada ferrita proeutetoide


(significando “pré ou antes do eutetoide”).

Figura 37 – Representações
esquemáticas das
microestruturas para
uma liga de ferro-carbono
com uma composição
hipoeutetoide.

Fonte: Callister, 2018. Figura 38 – Representações esquemáticas das


microestruturas para uma liga de ferro-carbono com uma
composição hipereutetoide.
• Liga hipereutetoide: composição à direita do eutedoide,
Fonte: Callister, 2018.
entre 0,76 %p C e 2,14 %p C quando resfriadas a partir
de temperaturas no campo da fase γ, sua microestrutura é beto de ferro. A extensão dessas mudanças sobre as posições
mostrada na Figura 38. das fronteiras entre as fases e sobre as formas dos campos
das fases depende do elemento de liga específico e da sua
• Adições de outros elementos de liga (Cr, Ni, Ti, etc.) causam concentração. composição à direita do eutedoide, entre 0,76
mudanças drásticas no diagrama de fases binário ferro-car- %p C e 2,14 %p C quando resfriadas a partir de temperaturas
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 79

Síntese

Neste capítulo vimos a importância do entendimento dos diagra-


mas de fases de equilíbrio, pois constituem uma maneira conveniente
e concisa de representar as relações mais estáveis entre as fases em
sistemas de ligas. O conceito de fase foi introduzido como sendo
alguma porção de um material por meio da qual as características
físicas e químicas são homogêneas. O sistema está em equilíbrio quan-
do as características das suas fases não mudam ao longo do tempo.
Nos diagramas de fases para um único componente, encontramos as
regiões das fases sólido, líquido e vapor. Para os sistemas binários, a
temperatura e a composição são variáveis. Áreas ou regiões de fases
são definidas nesses gráficos, sendo que essas áreas ou regiões pos-
suem uma ou duas fases. Os diagramas isomorfos são aqueles para
os quais existe solubilidade completa na fase sólida. Vimos também
as reações eutéticas, eutetoides e peritéticas. Por fim, analisamos as
fases mais importantes encontradas no diagrama de fases ferro-carbeto
de ferro, que são: ferrita α(CCC), austenita γ (CFC) e o composto
intermetálico carbeto de ferro (ou cementita).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 80

Exercícios 2. Ao se analisar o diagrama de equilíbrio Ferro-Carbono, o


Fe-α (ferro alfa) apresenta uma estrutura cristalina:
1. Considere uma amostra de gelo a -15 °C e 10 atm. Utilizando
o diagrama abaixo, determine a pressão à qual a amostra deve a. cúbica de face.
ser elevada ou reduzida para fazer com que ela se sublime. b. cúbica de corpo centrado.
c. cúbica de aresta centrada.
a. Acima de 1000 atm. d. hexagonal compacta.
b. 1 atm. e. hexagonal centrada.
c. 0,01 atm.
d. 0,005 atm. 3. Considere o diagrama de equilíbrio a seguir:
e. 0,001 atm.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 81

Os pontos A, B e C são, respectivamente, S - 2,11% de C


T - 6,67% de C
a. peritético, eutético e eutetoide.
As associações corretas são:
b. eutetoide, peritético e peritetoide.
c. eutético, eutetoide e peritético. a. I - Q , II - S , III - T , IV - P
d. peritetoide, eutetoide e peritético. b. I - R , II - P , III - S , IV - T
e. peritético, eutetoide e eutético. c. I - S , II - P , III - Q , IV - R
d. I - S , II - Q , III - P , IV - R
4. Considere o diagrama Fe-C da questão 3, associe as carac- e. I - T , II - Q , III - P , IV – S
terísticas da liga com seu teor de carbono correspondente.
5. Para o Diagrama Fe-C da questão 3, a liga apresentará sua
I. Solubilidade máxima de carbono no ferro gama composição eutética com o teor de carbono igual a
II. Composição do aço eutetoide
III. Solubilidade máxima de carbono no ferro alfa a. 0,77
IV. Composição eutética da liga b. 0,02
c. 4,30
P - 0,02% de C d. 2,11
Q - 0,77% de C e. 6,67
R - 4,30% de C
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 82

6. Em relação à característica dos diagramas de fases, é IN- 7. Em relação ao diagrama de equilíbrio ferro-carbono, é cor-
CORRETO afirmar: reto o que se afirma em:

a. Se as linhas solidus e liquidus coincidissem, uma alte- a. Os aços hipereutetoides apresentam uma estrutura
ração da temperatura de uma mistura de duas fases alteraria formada por grãos de perlita envolvidos por uma rede de
o número de fases em equilíbrio de um para dois. carboneto de ferro (cementita).

b. O diagrama é formado por uma região de uma única


b. Um ferro fundido eutético solidifica-se totalmente
fase líquida, uma região de uma única fase sólida e por uma
a uma temperatura superior ao ferro fundido hipoeutético.
região de duas fases (líquido + sólido).

c. As composições das fases presentes podem ser de- c. Trata-se de um gráfico que representa o equilíbrio,
terminadas, em qualquer temperatura, para um material de metaestável, das ligas não ferrosas.
composição global conhecida em equilíbrio.
d. A forma alotrópica “α” do ferro encontra-se presente
d. A linha solidus é a curva temperatura-composição
na zona austenítica.
para a fase sólida que coexiste, em equilíbrio, com o líquido.

e. A linha liquidus é a curva temperatura-composição e. Os aços hipereutetoides são aqueles que têm em sua
para a fase líquida que coexiste, em equilíbrio, com o sólido. composição química entre zero e 0,8 % de carbono.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 83

9. Considere as afirmativas relacionadas a uma Liga Hipoeu-


8. Durante o resfriamento de uma reação eutética ocorre: tetoide de Ferro-Carbono com 0,5 % (peso) de carbono:

a. A transformação de uma fase sólida em duas outras I. São observadas três fases abaixo de 727 °C: Perlita, Cemen-
fases sólidas, ao mesmo tempo. tita e Ferrita.

b. A transformação de uma fase líquida em duas fases II. Entre 1000 °C e 1200 °C, a estrutura exibe duas fases: a
sólidas, ao mesmo tempo. Austenita e a Ferrita.

c. A transformação de duas fases (sendo uma líquida) III. Acima de 1600 °C o metal exibe uma única fase.
em uma única (nova) fase sólida.
Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmativa(s)
d. A transformação de duas fases sólidas em uma nova
fase sólida. a. I.
b. II.
e. A transformação de duas fases líquidas em uma nova c. III.
fase sólida. d. I e II.
e. II e III.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 84

MATERIAIS
METÁLICOS
Aços, ferro fundido, metais não ferrosos,
fabricação de metais e processamento
térmico
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 85

Os materiais metálicos são substâncias inorgânicas com-


postas por um ou mais elementos metálicos e podem, também,
conter elementos não metálicos. Podemos citar como exemplos
de materiais metálicos o aço, o alumínio, o cobre, entre outros,
e como elementos não metálicos o carbono, o oxigênio e o
nitrogênio (que podem estar incorporados nos metais).

De forma geral, os metais apresentam estrutura cristalina,


são bons condutores térmicos e elétricos. Quase todos os metais
são mecanicamente resistentes, dúcteis e muitos mantém esta
resistência mesmo em altas temperaturas.

As ligas ferrosas são as mais utilizadas dentre todas as ligas


metálicas. Um esquema de classificação taxonômica para as
várias ligas ferrosas está apresentado na Figura 39. O Fe é um Figura 39 – Esquema de classificação para as várias ligas
metal de fácil processamento e caracteriza-se por ligar-se com ferrosas.
outros elementos metálicos e não metálicos, principalmente o
Fonte: Callister, 2018.
carbono.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 86

O polimorfismo do ferro é a propriedade que permite que as corresponde à máxima solubilidade do carbono no ferro a
ligas ferrosas sejam submetidas a operações de tratamentos tér- temperatura ambiente. O limite superior, 2,11%, corresponde
micos que modificam as propriedades mecânicas. Por exemplo: à máxima quantidade de carbono que se dissolve no ferro e
que ocorre a 1148 ºC.
• 1532 ºC: CCC – cúbica de corpo centrado: a fase delta.
Aços
• 1394 ºC: CFC – os átomos de ferro sofrem um rearranjo
para uma estrutura cúbica de faces centradas: a fase gama. Os aços são ligas de ferro-carbono que podem conter con-
centrações apreciáveis de outros elementos de liga. Na prática
• 912 ºC: CCC – ocorre um novo rearranjo cristalino e o ferro a quantidade de carbono nunca é superior a 1,5 %, e em aços
volta a apresentar uma estrutura cúbica de corpo centrado: para equipamentos de processo, a quantidade máxima é de 0,35
a fase alfa. %. Acima deste valor a possibilidade de defeitos no material
aumenta, comprometendo as propriedades mecânicas. Além
Abaixo da temperatura de 768 ºC o ferro passa a apresentar do Fe e do C, estes aços contém alguma quantidade de Mn, S
um comportamento magnético, no entanto, sem apresentar e P, e outros podem apresentar pequena adição de Si, Al e Cu.
qualquer mudança na estrutura cristalina. O aço é a liga de
ferro e carbono contendo geralmente 0,008 % até, aproximada- O aço carbono é um material de uso geral para fabrica-
mente, 2,11 % de carbono, além de certos elementos residuais, ção dos equipamentos de processo. É o material industrial de
resultantes dos processos de fabricação. A porcentagem 0,008 menor preço em relação a sua resistência mecânica, além de
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 87

ser fácil de se obter, trabalhar e soldar em todas as formas de UNS são as mais usuais. Os vários tipos de aços utilizados na
apresentação. Devido a influência do carbono sobre a dureza indústria da construção mecânica podem ser classificados com
do aço alguns autores utilizam a seguinte classificação: o sistema de codificação SAE/AISI, conforme mostra a Tabela
9, que usa em geral quatro algarismos na forma ABXX onde:
• Aço extra doce: C inferior a 0,15%;
• A e B são os números que identificam os principais elementos
• Aço doce: C entre 0,15% a 0,30%; de liga presentes no aço e seus teores dados em porcentagem
de peso. XX indicam a porcentagem em peso de carbono do
• Aço meio doce: C entre 0,30% a 0,40%; aço multiplicado por 100.

• Aço meio duro: 0,40% a 0,60%; • Isso significa dizer que um aço identificado como 1045
contém 0,45 % em peso de carbono em sua composição
• Aço extra duro: 0,70% a 1,20%. química.

Sistema de classificação dos aços • Quando a letra B aparece entre os dois primeiros números
e os dois últimos indica que o aço tem um teor de boro no
Devido à grande variedade de tipos de aços foram criados mínimo 0,0005% em peso (o boro, quanto presente no aço
sistemas para sua classificação, sendo a SAE (Society of Auto- em teores muito baixos, facilita a têmpera do aço, aumen-
motive Engineers)/AISI (American Iron and Steel Institute) e tando a sua resistência).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 88

Tabela 9 – Classificação SAE/AISI dos aços.


• Quando o teor de carbono excede 1% o sistema admite a
Designação Tipos de aço
utilização de cinco algarismos. O aço prata, utilizado prin- AISI-SAE UNS
10XX G10XXX Aços-carbono comuns
cipalmente na fabricação de anéis, esferas e roletes de ro-
11XX G11XXX Aços de usinagem fácil, com alto S
lamentos, pois apresenta uma dureza elevada, é codificado 12XX G12XXX Aços de usinagem fácil, com alto P e S
15XX G15XXX Aços-Mn com manganês acima de 1 %
como 52100 o que corresponde a 1,5% Cr e 1% de carbono.
13XX G13XXX Aços-Mn com 1,75 % de Mn médio
40XX G40XXX Aços-Mo com 0,25 % de Mo médio
41XX G41XXX Aços-Cr-Mo com 0,4 a 1,1 % de Cr e 0,08 a 0,35 % de Mo
43XX G43XXX Aços-Ni-Cr-Mo com 1,65 a 2 de Ni, 0,4 a 0,9 % de Cr e 0,2 a 0,3 % de Mo
46XX G46XXX Aços-Ni-Mo com 0,7 a 2 % de Ni e 0,15 a 0,3 % de Mo
47XX G47XXX Aços-Ni-Cr-Mo com 1,05 % de Ni, 0,45 % de Cr e 0,2 % de Mo
48XX G48XXX Aços-Ni-Mo com 3,25 a 3,75 % de Ni e 0,2 a 0,3 % de Mo
51XX G51XXX Aços-Cr com 0,7 a 1,1 % de Cr
E51100 G51986 Aços-cromo (forno elétrico) com 1 % de Cr
E52100 G52986 Aços-cromo (forno elétrico) com 1,45 % de Cr
61XX G61XXX Aços-Cr-V com 0,6 ou 0,95 % de Cr e 0,1 ou 0,15 % de V min.
86XX G86XXX Aços-Ni-Cr-Mo com 0,55 % de Ni, 0,5 % de Cr e 0,2 % de Mo
87XX G87XXX Aços-Ni-Cr-Mo com 0,55 % de Ni, 0,5 % de Cr e 0,25 % de Mo
88XX G88XXX Aços-Ni-Cr-Mo com 0,55 % de Ni, 0,5 % de Cr e 0,3 a 0,4 % de Mo
9260 G92XXX Aços-Si com 1,8 % a 2,2 % de Si
50BXX G50XXX Aços-Cr com 0,2 a 0,6 % de Cr e 0,0005 a 0,003 % de boro
51B60 G51601 Aços-Cr com 0,8 % de Cr e 0,0005 a 0,003 % de boro
81B45 G81451 Aços-Ni-Cr-Mo com 0,3 % de Ni, 0,45 % de Cr, 0,12 % de Mo e 0,0005
a 0,003 % de boro
94BXX G94XXX Aços-Ni-Cr-Mo com 0,45 % de Ni, 0,4 % de Cr, 0,12 % de Mo e 0,0005
a 0,003 % de boro
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 89

Processo simplificado da fabricação do aço Segunda Etapa

Basicamente a produção do aço é feita em 4 etapas, como Produção da GUSA no alto-forno a partir da matéria-pri-
descrito a seguir: ma preparada na coqueria e sinterização, conforme mostra a
Figura 40 a seguir.
Primeira Etapa
COQUE + SINTER + CALCÁRIO + EL DE LIGA (se for o caso)
Preparação da matéria-prima para o alto-forno.
gás que será utilizado para
• COQUERIA: remove os gases do carvão transformando-o pré-aquecer o ar a ser
em coque metalúrgico. Este coque será o agente redutor do injetado no alto-forno
ferro quando no alto-forno. Sua queima vai liberar calor para
alto-forno
a fusão do minério de ferro.

• SINTERIZAÇÃO: o minério de ferro é calcinado e trans- ar pré-


formado em esferas de dimensões controladas e porosas. aquecido ferro gusa a 1200ºC para refino
Esse produto é chamado de SINTER.

escória que será usada na fabricação de cimento


CIÊNCIA DOS MATERIAIS 90

Terceira Etapa

Produção do aço através do refino do ferro-gusa. Esta etapa REAÇÃO DE REMOÇÃO DO ÓXIDO DE FERRO
pode ser feita pelos processos de lingotamento ou fundição. O
refino consiste em reduzir os elementos químicos do ferro-gusa P ⇒ 2P + 5 FeO + 4CaO → 4 CaO.P2O5 ↓ (escória) + 5 Fe
aos teores especificados. As principais reações químicas que
ocorrem no refino são:
O2

REAÇÕES DE REMOÇÃO DO OXIGÊNIO DO


PRODUTO
MEIO LÍQUIDO


aço dentro da composição
C ⇒ C + 1 ⁄2 O2 → CO ↑
química desejada
GÁS ↑ ↑ GÁS

↑ ↑
Si ⇒ Si + O2 → SiO2 ↓ (escória)

AÇO LÍQUIDO
Mn ⇒ Mn + 1 ⁄2 O2 → MnO ↓ (escória)
LINGOTEIRA

S ⇒ S + O2 → SO2 ↑
Figura 41 – Terceira etapa do processo de fabricação de aço.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 91

Quarta Etapa Elementos de liga

Conformação do aço sólido para as dimensões desejadas. Os elementos que conferem ligas aos aços são variados:
Nessa etapa o método a ser empregado, depende do produto alumínio (Al), cromo (Cr), cobalto (Co), manganês (Mn),
desejado. Por exemplo (Tabela 10): molibdênio (Mo), níquel (Ni), fósforo (P), silício (Si), titânio
(Ti), W, vanádio (V), entre outros. As propriedades destes
Tabela 10 – Métodos de conformação dos aços. elementos em ligas são representadas nas Tabelas 11 e 12.

Produto desejado Método de conformação

Chapa Laminação
Qual a importância dos elementos de liga?

Tubo Extrusão

Válvula Forjaria
É através da adição de elementos de ligas que podemos
obter melhoras de algumas propriedades como diminuição ou
Peças acabadas Fundição
aumento do ponto de fusão, aumento da dureza, aumento da
resistência mecânica e/ou outras características desejadas de
Flange Forjaria
acordo com o uso do metal.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 92

Tabela 11 – Propriedades de alguns elementos em ligas.

Elemento
Influência a propriedade
C Mn P S Si Ni Cr Mo V Al

Aumento da resistência X X X X X

Aumento da dureza X X X X

Aumento da resistência ao impacto X

Redução da ductilidade X X X

Aumento da resistência em altas


X
temperaturas

Aumento da temperabilidade X X

Ação desoxidante X X X

Aumento da resistência à corrosão X

Aumento da resistência à abrasão X

Redução da soldabilidade X
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 93

Tabela 12 – Efeitos específicos dos elementos de liga nos aços.

Influência exercida através dos


Solubilidade sólida
carbonetos
Influência sobre
Influência sobre a
Elemento a Austenita Principais funções
Ferrita Tendência
(endurecibilidade) Ação durante
No ferro γ No ferro α formadora de
revenido
carbonetos

1 – Desoxidante
Endurece 2 – Elemento de liga para chapas elétricas e magnéticas
18,5 % (não Aumenta
2 % (9 % com com perda de Negativa Sustenta a dureza 3 – Aumenta a resistência à oxidação
Si muito alterada endurecibilidade
0,35 % C) plasticidade (Mn (grafitiza) por solução sólida 4 – Aumenta a endurecibilidade de aços contendo elementos não
pelo C) moderadamente
< Si < P) grafitizantes
5 – Aumenta a resistência de aços de baixo teor de liga

Provavelmente
Carbonetos
Produz sistema aumenta muito a
persistentes
endurecível por endurecibilidade no 1 – Reduz a dureza martensítica e a endurecibilidade em aços ao Cr de
0,75 % (1 % provavelmente não
Ti 6% precipitação em estado dissolvido. A maior conhecida médio Cr
com 0,20% C) afetados. Algum
ligas Ti-Fe com Os efeitos de - Impede a formação de austenita em aços de alto Cr
endurecimento
alto Ti carbonetos
segundário
reduzem-na

Opõe-se à
Aumenta a
diminuição de 1 – Forma partículas duras e resistentes ao desgaste em aços-
6 % (11 % com Idem em ligas endurecibilidfade
W 33 % Forte dureza por ferramenta
0,25 % C) W-Fe com alto W fortemente em
endurecimento 2 – Promove dureza e resistência a altas temperaturas
pequenos teores
secundário

Aumenta muito 1 – Eleva a temperatura de crescimento de grão da austenita (promove


Endurece Máxima para
1 % (4 % com fortemente a Muito forte (V < refino do grão)
V Sem limites moderadamente endurecibilidade
0,20 % C) endurecibilidade do Ti ou Cb) 2 – Aumenta a endurecibilidade (quando dissolvido)
por solução sólida secundária
estado dissolvido 3 – Resiste ao revenido e causa acentuado endurecimento secundário
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 94

Aços Liga Aços de Alta Liga

A introdução dos elementos de liga nos aços carbono é Casos em que se faz necessário:
feita quando se deseja um ou diversos dos seguintes efeitos:
• Aços inoxidáveis: resistência à corrosão;
• Aumentar a dureza e a resistência mecânica;
• Aços ferramentas: dureza;

• Conferir resistência a peça; • Aços para altas temperaturas: estabilidade em altas tempe-
raturas.
• Resistência à corrosão;
Aços inoxidáveis
• Resistência à temperatura;
O aço inoxidável é uma liga de ferro e cromo, também
• Resistência ao desgaste; ligado ao níquel e molibdênio que apresenta propriedades
físico-químicas superiores aos aços comuns, sendo a alta resis-
• Aumentar a capacidade de corte; tência a oxidação atmosférica a sua principal característica. As
principais famílias dos Aços Inoxidáveis, classificados segundo
• Melhorar as propriedades elétricas e magnéticas. a sua microestrutura, são: Ferríticos, Austeníticos, Martensí-
ticos, Endurecíveis por Precipitação e Duplex.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 95

Estes elementos de liga, em particular o cromo, conferem aços inoxidáveis durante o processamento. Este processo é
uma excelente resistência à corrosão quando comparados com conhecido em metalurgia como passivação.
os aços carbono. Eles são, na realidade, aços oxidáveis. Isto é,
o cromo presente na liga oxida-se em contato com o oxigênio • O papel do cromo e a passividade: os aços inoxidáveis são,
do ar, formando uma película, muito fina e estável, de óxido basicamente, ligas ferro-cromo; outros metais atuam como
de cromo (Cr2O3) que se forma na superfície exposta ao meio. elementos de liga, mas, o cromo é o mais importante e sua
presença é indispensável para se conferir a resistência à cor-
• Camada passiva: é uma camada extremamente fina, contí- rosão desejada. Um mínimo de 11% de cromo é necessário
nua, estável e resistente formada sobre a superfície do aço para que as ligas ferro-cromo sejam resistentes à corrosão
inox. Essa camada protege o inox contra a corrosão. Os atmosférica.
aços inoxidáveis são capazes de formar e conservar filmes
passivos em uma grande variedade de meios, o que explica Os aços inoxidáveis e resistentes ao calor são classificados
a versatilidade do material, utilizado em grande quantidade em cinco grupos de acordo com a microestrutura básica for-
de aplicações. A camada passiva e tem a função de proteger mada e com a possibilidade de endurecimento por tratamento
a superfície do aço contra processos corrosivos. Para isto, é térmico:
necessário uma quantidade mínima de cromo de cerca de 11%
em massa. Esta película é aderente e impermeável, isolando a. Martensíticos: são assim chamados devido a sua capacidade de en-
o metal abaixo dela do meio agressivo. Assim, deve-se tomar durecimento por Têmpera como qualquer aço comum. Eles possuem
cuidado para não reduzir localmente o teor de cromo dos de 12 a 16 % de Cromo e 0,1 a 0,4 % de Carbono, ou ocasionalmente
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 96

mais. Esta qualidade se torna efetivamente inoxidável após a Têm- os austeníticos, poderíamos ainda citar os aços estabilizados onde
pera, condição em que também demais propriedades mecânicas são a adição de elementos tais como o Ti e Nb previnem a ocorrência
otimizadas. As qualidades GERDAU 410 e 420, respectivamente do fenômeno de sensitização em qualquer situação.
AISI 410 e 420, são aços que representam esse grupo.
d. Aços Inox Duplex: são aços com baixo teor de carbono, ligados
b. Ferríticos: são aços que podem conter de 16 a 30 % de Cromo, e principalmente ao Cromo e Níquel. Sua composição química é
sua estrutura e propriedades mecânicas não são alteradas através de balanceada de modo a se obter uma estrutura mista de austenita
tratamento térmico, ou seja, eles não são endurecidos por Têmpera. e ferrita-δ. Esta estrutura, confere melhor resistência à corrosão,
São mais inoxidáveis que os aços do primeiro grupo, porém suas aumento de resistência mecânica e melhor soldabilidade que os
propriedades mecânicas são inferiores. A qualidade GERDAU 430, graus austeníticos.
AISI 430, é a que representa esse grupo.
e. Aços Inoxidáveis Endurecíveis por Precipitação: possuem reduzido
c. Austeníticos: são os aços que contém de 12 a 30 % de Cromo teor de Ni (aproximadamente 4,0 %) e adição de outros elementos
mais 7 a 25 % de Níquel, e em muitos casos pequenas adições de de ligas (principalmente Cobre) para promover o aparecimento
outros elementos. Estes aços não são afetados estruturalmente pelo de precipitados. Aliam resistência à corrosão equivalente aos aços
aquecimento e não são endurecidos por Têmpera. O representante inoxidáveis austeníticos e propriedades mecânicas elevadas compa-
típico desta classe é o GERDAU 304 (18 % Cromo e 8 % de Ní- tíveis aos inoxidáveis martensíticos. Esta estrutura, confere melhor
quel), AISI 304, mas a faixa de composição química é extensa de resistência à corrosão, aumento da resistência mecânica e melhor
acordo com a variedade de aplicações a que se destinam. Dentre soldabilidade que os graus austeníticos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 97

Todos os aços inoxidáveis pertencentes aos cinco grupos Ferro fundido


alcançam as características de “não oxidação” em razão da
propriedade de produzir uma leve película aderente de óxido Ferro fundido ou o popular fofo, é a liga de Fe-C-Si, de
de cromo que é fortemente resistente ao ataque da atmosfera e teores de carbono geralmente maior de 2%, que é retida em
de uma grande variedade de gases industriais e químicos. Essa solução sólida na austenita, de modo a resultar carbono parcial-
característica, aliada à elevada resistência a altas temperaturas mente livre, na forma de lamelas ou veios de grafita. A faixa
apresentadas por muitos desses aços, é o motivo do seu largo de composição de ferros fundidos típicos comuns é apresentada
emprego a temperaturas normais e elevadas. Considere-se ainda na Tabela 13.
a grande possibilidade de escolha de propriedades mecânicas
e de níveis de resistência à corrosão que esses aços oferecem. Tabela 13 – Faixa de composição de ferros fundidos típicos comuns.

Os aços inoxidáveis e resistentes ao calor exigem cuidados Composição química (%)


Tipo
especiais durante a fabricação. Eles são sensíveis a operações C Si Mn S P
térmicas e mecânicas cujo controle é complicado em razão da
Branco 1,8/3,6 0,5/1,9 0,25/0,80 0,06/0,20 0,06/0,20
variação dos efeitos das diferentes composições químicas. Visan-
Maleável 2,2/2,9 0,9/1,9 0,15/1,20 0,02/0,20 0,02/0,20
do assegurar resultados satisfatórios, os usuários normalmente
fazem contato com o fabricante, abordando questões relativas à Cinzento 2,5/4,0 1,0/3,0 0,20/1,00 0,02/0,25 0,01/1,00

trabalhabilidade, usinabilidade, tratamento térmico ou outras Nodular 3,0/4,0 1,0/2,8 0,10/1,00 0,01/0,03 0,01/0,10

operações a que os aços serão submetidos. Grafita


2,5/4,0 1,0/3,0 0,20/1,00 0,01/0,03 0,01/0,10
compactada
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 98

Um resumo de algumas características dos ferros fundidos Figura 42 – Micrografias ópticas de vários
comuns é apresentado a seguir: ferros fundidos. (a) Ferro fundido cinzento: os
flocos escuros de grafita estão envolvidos por
• Ferro fundido cinzento: a fratura mostra uma coloração es- uma matriz de ferrita α. Ampliação de 500×.
cura. Elementos de liga são C e Si. Apresenta grafita e Fe3C. (b) Ferro nodular (dúctil): os nódulos escuros
de grafita estão envolvidos por uma matriz de
• Ferro fundido branco: apresenta coloração clara. Devido à
ferrita α. Ampliação de 200×. (c) Ferro branco:
fabricação e o menor teor de Si, apresenta Fe3C.
as regiões claras de cementita estão envolvidas
• Ferro fundido maleável: obtido a partir do ferro fundido por dendritas de perlita, a qual possui a
branco mediante um tratamento térmico especial no qual estrutura em lamelas de ferrita-cementita.
todo o ferro é combinado em grafita na forma de nódulos Ampliação de 400×. (d) Ferro maleável: rosetas
(em vez de veios ou grafites). escuras de grafita (o termo mais apropriado
aqui é maleabilização já que a obtenção de ferro fundido maleável
• Ferro fundido nodular: devido ao tratamento térmico (no
da micrografia requer tratamento térmico de aprox. 120 horas em
estado líquido), o carbono livre na forma esferoidal confere
patamares de temperatura entre 950 e 650°C) em uma matriz de
ao material uma boa ductilidade.
ferrita α. Ampliação de 150×. (e) Ferro fundido vermicular: partículas
• Ferro fundido de grafita compacta: a grafita apresenta-se na escuras de grafita com forma semelhante à de “vermes” estão
forma de escamas ou plaquetas (quase escamas). Elementos envolvidas em uma matriz de ferrita α. Ampliação de 100×.
de liga são terras raras e Ti. Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 99

Metais não ferrosos Cobre e ligas

São metais e ligas metálicas isentos de Matéria-prima: CuFeS2 e Cu2S


ferro ou com uma pequena quantidade de
ferro. Em relação ao aço carbono os metais 1. Cobre comercial: 98 % de cobre, apresenta custo elevado, é utilizado
e ligas não ferrosos apresentam: até a temperatura limite superior de 200 ºC e inferior e –180 ºC. É
resistente a maioria dos compostos orgânicos e a ácidos em geral. Não
• Desvantagens: preço mais elevado, deve ser utilizado em presença de aminas, amônia e compostos nitrados
menor resistência mecânica e menor que podem causar corrosão sob tensão. Não apresenta temperatura de
resistência a altas temperaturas. transição frágil/dúctil (mesmo em temperaturas baixas). É toxico para
microrganismos. Usado na indústria de bebidas.
• Vantagens: boa resistência à corrosão,
leveza, condutividade elétrica e térmica. 2. Latões: Liga Cu/Zn (entre 15 a 40 % de Zn), quanto menor a quanti-
dade de Zn no latão, melhor a resistência à corrosão. Com mais de 20
O uso para equipamentos de processo % de Zn podem sofrer dezincificação (migração do Zn com a conse-
é restrito, são utilizados para serviços es- quente perda da resistência mecânica). Também são passíveis de sofrer
pecíficos como meios corrosivos, serviços corrosão sob tensão na presença de aminas e amônia. Usos: para tubos e
criogênicos e alguns serviços especiais para espelhos em aparelhos de troca de calor, válvulas de pequeno diâmetro.
temperaturas elevadas. Temperatura limite: 200 ºC.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 100

3. Bronze: liga com 85 a 95 % de Cu, o Alumínio


restante é Sn, Al, P e Si. A resistência à
corrosão é semelhante ao cobre comercial, Matéria-prima: bauxita, 60 % timas. Este metal pode ser utilizado
porém com qualidades mecânicas e de Al2O3, redução do Al por eletrólise. em temperaturas baixas, mas perde
resistência à temperatura bem melhores, a resistência mecânica com o aque-
podendo ser utilizado até 370 ºC. Para É um metal leve, apresenta boa cimento, não podendo ser utilizado
equipamentos de processos são utilizados resistência à corrosão (filme passivo), em temperaturas acima de 150 ºC.
os bronzes de alumínio com adição de condução e reflexão do calor. A resis-
4 a 10 % de Al, o que melhora muito tência mecânica do Al puro é baixa, Meios que podem ser emprega-
a resistência mecânica e a resistência à usa-se, portanto, ligas de Al (5052, dos: indústrias alimentícias, bebidas,
temperatura e oxidação. Usos: válvulas 5050, etc). O Al é praticamente inerte resinas e corante.
pequenas e espelhos de trocadores de a água deionizada. Pode ser utilizado
calor. em meios oxidantes, mas é fortemente Propriedades: condutividade tér-
atacado por ácidos minerais não oxi- mica, elétrica, resistência à corrosão,
4. Cupro-níquel: são ligas a base de Cu e dantes (HCl, HF, etc). aumento da resistência mecânica com
Ni. Quanto maior a quantidade de Ni na a adição de elementos de liga, apre-
liga melhor será sua resistência à corrosão Sofre corrosão quando em con- senta boa reflexão.
e à temperatura, porém com custo mais tato com outros metais. Também é
elevado. atacado por Cl- em atmosferas marí-
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 101

Níquel absorve choques e vibrações. Tem baixa Cromo


resistência mecânica e apresenta fluência
O níquel puro tem pouca aplicação em equi- a temperatura ambiente. Principal minério é a cromita (32,1 FeO
pamentos de processo devido ao preço elevado. e 67,9 % de Cr2O3). O cromo é obtido por
É utilizado para serviços severos e em cáusticos. Apresenta boa resistência à corrosão redução. Boa resistência à corrosão e baixa
pela camada de óxido formada. Pode ser ductilidade. Não é usado no estado puro para
1. Inconel e Incoloy: são utilizados para servi- usado com ácidos, amônia e soda cáustica. fins estruturais. Aplicações: elementos de liga,
ços oxidantes ou redutores em temperaturas Usos: ligas, munições e pigmentos. revestimentos superficiais decorativo e cromo
elevadas. duro, pigmentos, processamento de couros.
Titânio, Zircônio e ligas
2. Hasteloy: apresenta excelente resistência à
Estanho
corrosão, podendo trabalhar com HCl em
Estes metais apresentam preço ele-
qualquer condição de concentração e tem-
vado, são passivos pois possuem em filme Aplicações: soldas, embalagens metálicas
peratura.
de óxido bastante resistente. Usos: em latas, conservantes para madeira, ligas para
serviços de alta corrosão (superiores ao formar bronze, fabricação de pvc (usado como
Chumbo e ligas
aço inoxidável). Exemplo: síntese de ureia estabilizante), boa resistência à corrosão.
e serviços com cloretos. O Ti é usado
Elevada massa específica, baixo ponto de
para tubulações, válvulas e revestimentos
fusão, quimicamente estável, tóxico e ecologi-
anticorrosivos sobre chapas de aço.
camente danoso. Este metal é mole, dúctil e
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 102

Fabricação de metais resistência, com consequente diminuição da ductilidade, uma


vez que o metal encrua. As vantagens em relação ao trabalho
A classificação das técnicas de fabricação inclui vários a quente incluem melhor qualidade de acabamento superficial,
métodos de conformação de metais, fundição, metalurgia do melhores propriedades mecânicas e maior variedade dessas
pó, soldagem e usinagem. Duas ou mais dessas técnicas sempre propriedades, além de controle dimensional mais preciso da
devem ser usadas antes que uma peça seja acabada. peça acabada.

Operações de conformação As operações de conformação podem ser subdivididas em:

A forma de uma peça metálica é alterada por deformação • Forjamento: trabalho ou deformação mecânica de uma única
plástica. Se ocorre acima da temperatura na qual ocorre a re- peça de metal que se encontra normalmente quente, através
cristalização, é denominado trabalho a quente. Caso contrário, da aplicação de golpes sucessivos ou por compressão contínua.
é considerado trabalho a frio. No trabalho a quente, grandes Os itens forjados têm estruturas de grãos excepcionais e a
deformações podem ocorrer e ser repetidas sucessivamente, já melhor combinação de propriedades mecânicas. Exemplos:
que o metal permanece macio e dúctil, com menores energias chaves de ferramentas, virabrequins automotivos e barras de
de deformação em comparação ao trabalho a frio. Porém, a conexão dos pistões.
maioria dos metais apresenta alguma oxidação superficial,
resultando em perda de material e acabamento superficial • Laminação: processo de deformação que consistem em pas-
final de má qualidade. O trabalho a frio produz aumento na sar uma peça metálica em dois cilindros, ocasionando uma
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 103

redução da espessura. A laminação a Fundição


frio pode ser empregada na produção
de chapas, tiras e folhas. Exemplos: Processo de fabricação no qual um metal totalmente fundido é derramado
formas circulares e trilhos ferroviários. na cavidade de um molde que apresenta a forma desejada. Com a solidificação,
o metal assume a forma do molde, mas sofre certa contração. As técnicas de
• Extrusão: uma barra metálica é forçada fundição são empregadas quando:
através de um orifício em uma matriz
por uma força de compressão, a qual é 1. A forma acabada é tão grande ou complicada que qualquer outro método seria
aplicada sobre um êmbolo. Exemplos: impraticável;
barras e tubos com geometrias de seção
transversal relativamente complexas. 2. Uma liga especifica tem ductilidade tão baixa que seria difícil a conformação
por meio de trabalho a quente ou a frio;
• Trefilação: também conhecida como
estiramento, consiste em puxar uma 3. Em comparação com outros processos de fabricação, é mais econômico.
peça metálica através de uma matriz
dotada de um orifício cônico, pela apli- As técnicas de fundição envolvem: fundição em molde de areia, fundição com
cação de uma força de tração pelo lado matriz, fundição de precisão (algumas vezes chamada de cera perdida), fundição
de saída do material. Exemplos: barras, com espuma perdida, fundição contínua.
arames e produtos tubulares.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 104

Processamento térmico

Os tratamentos que por simples aquecimento e resfriamen- • Segunda fase: manutenção da temperatura – atingida a tem-
to, modificam as propriedades de toda a massa do metal, são peratura desejada, esta deve ser mantida por algum tempo
conhecidos como: têmpera, revenimento e recozimento. Os afim de uniformizar o aquecimento em toda a peça.
tratamentos que modificam as propriedades somente numa
fina camada superficial da peça são: cementação e nitretação. • Terceira fase: resfriamento – a peça uniformemente aque-
cida na temperatura desejada é resfriada em água, óleo ou
Têmpera jato de ar.

É o tratamento térmico aplicado aos aços com porcentagem Revenimento


igual ou maior do que 0,4 % de carbono. O efeito principal
da têmpera num aço é o aumento de dureza, tornando-o mais É o tratamento térmico que se faz nos aços já temperados,
quebradiço. Fases da têmpera: com a finalidade de diminuir a sua fragilidade, isto é, torná-lo
menos quebradiço. O revenimento é feito aquecendo-se a peça
• Primeira fase: aquecimento – a peça é aquecida em forno temperada até uma certa temperatura resfriando-a em seguida.
ou forja, até uma temperatura recomendada. (Por volta de As temperaturas de revenimento são encontradas em tabelas e
800 ºC para os aços ao carbono). para os aços ao carbono variam entre 210 ºC e 320 ºC.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 105

• Primeira fase: aquecimento – feito geralmente em Recozimento


fornos controlando-se a temperatura com pirômetro.
O recozimento é o tratamento térmico que tem por finalidade
• Segunda fase: manutenção da temperatura – pos- eliminar a dureza de uma peça temperada ou normalizar materiais
sível quando o aquecimento é feito em fornos. com tensões internas resultantes do forjamento, da laminação, tre-
filação etc.
• Terceira fase: resfriamento – o resfriamento da
peça pode ser: • Primeira fase: aquecimento – a peça é aquecida a uma temperatura
que varia de acordo com o material a ser recozido. (Entre 500 ºC
»» Lento – deixando-a esfriar naturalmente. e 900 ºC).

»» Rápido – mergulhando-a em água ou óleo. • Segunda fase: manutenção da temperatura – a peça deve perma-
necer aquecida por algum na temperatura recomendada para que
O revenimento diminui um pouco a dureza da as modificações atinjam toda a massa da mesma.
peça temperada, porém aumenta consideravelmente
a sua resistência aos choques. Geralmente, toda peça O recozimento elimina a dureza de uma peça temperada ante-
temperada passa por um revenimento, sendo até co- riormente, fazendo-se voltar a sua dureza normal. Torna o aço mais
mum dizer-se “peça temperada” ao invés de “peça homogêneo, melhora sua ductilidade tornando-o facilmente usinável
temperada e revenida”. e dobrável.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 106

Cementação Nitretação

É o tratamento térmico que aumenta a dureza É um processo semelhante à cementação, que se faz aquecendo o
em uma fina camada superficial do aço. aço a uma temperatura de 500 ºC a 525 ºC na presença de um gás de-
nominado Nitrogênio. Após algum tempo, obtém-se uma fina camada,
• Primeira fase: aquecimento – ocorre em caixa extremamente dura, não havendo necessidade de se temperar a peça.
com carburante ou em banho no carburante
líquido aquecido. Martensita

• Segunda fase: manutenção da temperatura – o Se uma amostra de um aço-carbono austenizada for resfriada ra-
tempo de duração desta fase é de acordo com pidamente até a temperatura ambiente por meio de imersão em água,
a espessura. (0,1 mm a 0,2 mm por hora). a sua estrutura vai passar de austenita para martensita. É importante
salientar que a martensita nos aços-carbono é uma fase metaestável, que
• Terceira fase: resfriamento – a peça é esfriada consiste em uma solução sólida supersaturada de carbono dissolvido
lentamente dentro da própria caixa. Após a intersticialmente no ferro cúbico de corpo centrado ou tetragonal de
cementação as peças são temperadas. corpo centrado. A dureza e a resistência mecânica das martensitas está
representado na Figura 43.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 107

Figura 43 – Dureza tornam esses materiais suscetíveis a tratamentos térmicos (e


aproximada de a uma melhoria das propriedades mecânicas) e/ou mais re-
aços-carbono sistentes à corrosão. Os tipos de aços mais utilizados são os
martensíticos aços-carbono comuns com baixo teor de carbono, os aços de
completamente baixa liga e alta resistência, os aços com médio teor de carbo-
endurecidos em no, os aços-ferramenta e os aços inoxidáveis. Dentro dos aços
função do teor de inoxidáveis, vimos que eles são classificados de acordo com o
carbono. A região principal constituinte microestrutural, podendo ser ferríticos,
sombreada indica austeníticos e martensíticos. Já os ferros fundidos apresentam
alguma perda um teor de carbono mais elevado que os aços, assim como
possível de dureza devido à austenita residual, que é menos elementos de liga. A maioria do carbono presente nesse ma-
dura do que a martensita. terial é na forma de grafita. Os mais utilizados são os ferros
Fonte: Smith, 2012
cinzento, dúctil (ou nodular), maleável e vermicular (grafítico
Síntese compacto). Todas as demais ligas enquadram-se na categoria
de não ferrosas, sendo subdividida de acordo com o metal base.
Neste capítulo vimos algumas das principais ligas ferrosas Dentro da fabricação dos metais, analisamos as operações de
(aços e ferros fundidos), nas quais o ferro é o principal consti- conformação, que incluem o forjamento, a laminação, a extrusão
tuinte. Além disso, outros elementos de liga (além do carbono) e a trefilação. Por fim, abordamos os processamentos térmicos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 108

Exercícios

1. Qual dos seguintes elementos é o principal constituinte das 3. O trabalho a quente tem lugar em uma temperatura acima da
ligas ferrosas?
a. temperatura de fusão de um metal.
a. Cobre b. temperatura de recristalização de um metal.
b. Carbono c. temperatura eutetoide de um metal.
c. Ferro d. temperatura de transição vítrea de um metal.
d. Titânio e. temperatura de solidificação de um metal.
e. Cromo
4. Em relação as ligas:
2. Qual das seguintes características distingue os aços inoxi-
dáveis dos outros tipos de aços? a. de alumínio são tipicamente frágeis.
b. de alumínio são tipicamente dúcteis.
a. Eles são mais resistentes à corrosão. c. de alumínio não são nem dúcteis nem frágeis.
b. Eles possuem maior resistência mecânica. d. de magnésio não são nem dúcteis nem frágeis.
c. Eles são mais resistentes ao desgaste. e. de magnésio são tipicamente dúcteis.
d. Eles são mais dúcteis.
e. Eles não sofrem fratura.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 109

5. A liga de bronze é formada por: ( ) Refina o grão, aumenta a resistência à tração e a duc-
tilidade através da diminuição da velocidade de transformação
a. cobre e zinco. do aço.
b. cobre e estanho.
c. estanho e zinco. ( ) Estabiliza os carbonetos, contribuindo para a criação de
d. estanho e chumbo. uma microestrutura dura por intermédio da têmpera. Aumenta
e. zinco e chumbo. a resistência mecânica e a temperabilidade do aço através da
diminuição da velocidade de resfriamento.
6. Relacione os elementos químicos com as modificações oca-
sionadas por sua adição nas ligas de aço. A relação correta, de acordo com a ordem apresentada, é:

I. Níquel a. I – II – III.
II. Cromo b. I – III – II.
III. Manganês c. II – III – I.
d. II – I – III.
( ) Gera carbonetos, ocasionando o aumento do cresci- e. III – I – II.
mento dos grãos e a resistência à oxidação e corrosão.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 110

7. Se quisermos aumentar a resistência à corrosão de um aço- 8. O tipo de ferro fundido em que a grafita aparece com for-
-carbono, devemos adicionar: mato esférico é o:

a. molibdênio. a. Branco.
b. cromo. b. Maleável.
c. níquel. c. Cinzento.
d. manganês. d. Nodular.
e. tungstênio. e. Vermicular.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 111

MATERIAIS
POLIMÉRICOS
Origem dos polímeros, classificação,
principais tipos de materiais poliméricos,
síntese e processamento.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 112

Os polímeros são conjuntos de macromoléculas • Polímeros ramificados: apresentam cadeias de ramificações li-
constituídas por unidades estruturais que se repetem gadas às cadeias principais (Figura 44b). Exemplo: polietileno
(monômeros). Um monômero é um pequeno segmento de baixa densidade (PEBD).
de uma cadeia que consiste em moléculas de carbo-
no e hidrogênio. Quando na formação da molécula • Polímeros com ligações cruzadas: cadeias lineares adjacentes
participam mais de um tipo de monômero, obtém-se estão unidas às outras em várias posições por meio de ligações
plásticos copolímeros. covalentes (Figura 44c). Exemplos: borrachas (formação das
ligações cruzadas é conhecida como vulcanização).
Em relação a sua estrutura molecular, ela pode
variar, assumindo as seguintes configurações: • Polímeros em rede: monômeros multifuncionais com três ou mais
ligações covalentes ativas formam redes tridimensionais (Figura
• Polímeros lineares: as unidades repedidas estão uni- 44d). Exemplos: resinas epóxi, poliuretanas e fenol-formaldeídos.
das entre si extremidade a extremidade em cadeias
únicas, conforme mostra a Figura 44a, em que cada Figura 44 – Representações esquemáticas
círculo representa uma unidade repetida. Nos polí- de estruturas moleculares (a) linear, (b)
meros lineares pode haver muitas ligações de van der ramificada, (c) com ligações cruzadas e
Waals e de hidrogênio entre as cadeias. Exemplos: (d) em rede (tridimensional). Os círculos
polietileno, poli(cloreto de vinila), poliestireno, po- representam unidade repetidas individuais.
li(metacrilato de vinila), náilon e os flurocarbonos. Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 113

Origem dos polímeros As desvantagens são: (1) baixa resistência à temperatura;


(2) baixa resistência mecânica; (3) insegurança nas informações
Os polímeros provêm da transformação da Nafta (subpro- técnicas; (4) pouca estabilidade dimensional cold creep; (5)
duto do petróleo) que, ao ser enviada para a indústria petroquí- alto coeficiente de dilatação; (6) os poliméricos em sua maio-
mica, é convertida em substâncias químicas diferentes como, ria são combustíveis, ou capazes de alimentar vagarosamente
por exemplo, etileno e propileno. Estes polímeros produzidos a combustão.
nas petroquímicas são adquiridos pelas indústrias transforma-
doras de plásticos que os utilizam para a fabricação das peças Classificação
que utilizamos no nosso cotidiano.
Os polímeros são divididos em três categorias de acordo
As vantagens dos polímeros em relação aos metais são: com o efeito do calor/elasticidade: (1) termoplásticos; (2) ter-
(1) pouco peso, densidade variando entre 0,9 e 2,2; (2) alta mofixos; (3) elastômeros.
resistência à corrosão; (3) custo menor; (4) coeficiente de atrito
muito baixo; (5) baixa condutividade térmica; (6) isolantes elé- Materiais Termoplásticos
tricos; (7) facilidade de fabricação e manuseio; (8) possibilidade
econômica de reciclagem; (9) materiais abrangendo uma vasta São polímeros constituídos de moléculas contendo átomos
gama de propriedades; (10) dispensa de pintura; (11) alguns de carbono. O aquecimento causa um amolecimento progressivo
plásticos são transparentes e translúcidos e (12) absorção de até a fusão. Podem ser fundidos e reaproveitados várias vezes,
vibrações. conservando as suas propriedades. Não possuem ligações cru-
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 114

zadas. À medida que aumenta o número de carbono: aumenta Os principais usos são em: tubos de qualquer diâmetro,
a resistência mecânica e diminui a facilidade de conformação. tanques e vasos sem pressão, tubulações de esgotos e despejos
industriais, dutos para gases e vapores
São empregados para tubulações com diâmetro de 1,20
m, revestimentos anticorrosivos aplicados sobre placas de aço Elastômeros
e tanques de armazenamento e no interior de tubos. Os mais
resistentes são usados para construção de tanques e vasos pe- São elásticos na temperatura ambiente, obtidos através da
quenos sem pressão e para peças internas de vasos em geral. reticulação do látex, que são polímeros viscosos de forma inde-
finida. Podem atingir a ruptura com uma deformação elástica
Materiais Termoestáveis de 300 a 700 % sem que ocorram deformações permanentes.
Os principais usos são em: materiais de revestimentos anticor-
São insolúveis e infusíveis. Possuem ligações cruzadas. rosivos, juntas gaxetas, anéis de vedação.
Maior resistência à temperatura, melhor estabilidade dimen-
sional e mais alto preço. O endurecimento é consequência
de reações químicas irreversíveis. Ligações cruzadas entre as
moléculas, no final da reação a peça toda pode ser considerada
como formando uma molécula gigante.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 115

Propriedades
linidade são chamados cristalinos e possuem maior densidade e
Deterioração opacidade; os que possuem baixa cristalinidade são chamados
amorfos e são menos densos e geralmente transparentes. Esta
Quando há incompatibilidade do material com o meio característica influencia muito nas principais propriedades de
corrosivo ocorre uma reação química direta ou uma dissolução. um polímero e, por esse motivo, deve ser cuidada com extrema
Por isto ou o material resiste indefinidamente ao meio ou é importância.
rapidamente destruído. Resistem muito bem a ácidos diluídos,
oxidantes, aos álcalis, halogênios e soluções salinas. Não há • Polímeros Amorfos: acrilonitrito butadieno estireno (ABS),
ataque pela atmosfera e pela água. Nos solos sofrem processo acrílicos, policarbonatos, poliestireno, policloreto de vinilo
de decomposição lenta quando expostos por longo tempo ao (PVC), estireno acrilonitrilo. Orientação molecular alea-
ozônio e à luz solar, em virtude dos raios ultravioleta – tor- tória na fase liquida e sólida. São transparentes, com baixa
nando-se quebradiços, perdendo a transparência ou mudando resistência química e mecânica.
de coloração.
• Polímeros cristalinos: poliamidas (náilon), polietileno (PE),
Cristalinidade polipropileno (PP), poliéster termoplástico (PET). Orien-
tação molecular na fase líquida compostas por cristais com-
A cristalinidade de um polímero está relacionada ao grau pactos. São translúcidos ou opacos, com excelente resistência
de organização de suas moléculas. Os que possuem alta crista- química e mecânica.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 116

Aditivação particular à radiação ultravioleta – UV). Outro tipo de de-


terioração é a oxidação, que será vista no capítulo 8, que é
Os materiais poliméricos podem conter os seguintes aditivos: uma consequência da interação química entre o oxigênio e
as moléculas do polímero.
• Plastificantes: melhoram a flexibilidade, a ductilidade e a
tenacidade dos polímeros. Reduzem também a dureza e • Corantes: conferem cor específica a um polímero. Podem ser
rigidez. As pequenas moléculas dos plastificantes ocupam adicionados na forma de corantes (dissolvem-se no polímero)
posições entre as grandes cadeiras poliméricas, aumentando ou pigmentos (não se dissolvem – permanecem como uma
efetivamente a distância entre as cadeias, com uma conse- fase distinta).
quente redução nas ligações intermoleculares secundárias.
• Retardadores de chama: melhora a resistência dos polímeros
• Cargas: melhoram os limites de resistência à tração e à com- combustíveis ao fogo.
pressão, a resistência à abrasão, a tenacidade, as estabilidades
dimensional e térmica, e outras propriedades. Incluem: pó • Existem diversos outros tipos de aditivos e o seu uso pro-
de madeira, pó de sílica e areia, vidro, argila, talco, calcário, porciona a obtenção de uma ampla gama de propriedades
e mesmo alguns polímeros sintéticos. com as resinas. O seu uso possui certa limitação que varia
de polímero para polímero. Alguns tipos são: estabilizantes,
• Estabilizantes: atuam contra os processos de deterioração. plastificantes, retardantes de chama, cargas, antioxidantes e
Uma forma de deterioração resulta da exposição à luz (em pigmentos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 117

Principais Propriedades Mecânicas Figura 46 – Curva tensão-


deformação esquemática
Tipicamente, para os materiais poliméricos são encontrados para um polímero plástico,
três tipos diferentes de comportamento tensão-deformação, mostrando como são
como representado na Figura 45. O módulo de elasticidade determinados os limites
e a ductilidade, em termos de porcentagem de alongamento, de escoamento e de
são determinados para os polímeros da mesma maneira que resistência à tração.
para os metais. A Figura 46 mostra como são determinados
Fonte: Callister, 2018.
os limites de escoamento (σ1) e a resistência à tração (LRT).
Os polímeros são, em muitos aspectos, mecanicamente
Figura 45 – diferentes dos metais. O módulo de elasticidade pode ser ex-
Comportamento tensão- tremamente alto ou extremamente elevado, dependendo do
deformação para polímero, porém consideravelmente inferiores aos dos metais.
polímeros frágeis (curva Os limites máximos de resistência à tração para os polímeros
A), plásticos (curva B) são da ordem de 100 Mpa, enquanto que para algumas ligas
e altamente elásticos metálicas eles atingem 4100 Mpa. Enquanto alguns metais
(elastoméricos) (curva raramente se alongam plasticamente além de 100 %, alguns
C). polímeros muito elásticos podem apresentar alongamentos
superiores a 1000 %. Além disso, as características mecânicas
Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 118

dos polímeros são muito mais sensíveis a mudanças de tempe- A deformação elástica é instantânea (deformação ocorre
ratura próximo à temperatura ambiente. O comportamento de no instante em que a tensão é aplicada ou liberada), sendo
um material semicristalino a um ensaio de tração é mostrado totalmente recuperada. Para um comportamento totalmente
na Figura 47. viscoso, a deformação não é instantânea e não é reversível ou
completamente recuperada após a tensão ter sido liberada. Um
Figura 47 – Curva tensão- comportamento viscoelástico intermediário, há uma deforma-
deformação esquemática ção elástica instantânea, seguida por uma deformação viscosa,
em tração para um polímero dependente do tempo, e constitui uma forma de anelasticidade.
semicristalino. Os perfis do corpo Esses comportamentos são exibidos na Figura 48.
de prova nos vários estágios da
deformação estão incluídos. Figura 48 – (a) Gráfico da carga em

função do tempo, onde a carga é aplicada


Fonte: Callister, 2018.
instantaneamente no momento ta e

Além disso, um polímero amorfo pode se comportar como liberada em tl. para o ciclo carga-tempo

um vidro em temperaturas baixas, como um sólido com as ca- em (a), as respostas da deformação

racterísticas de uma borracha em temperaturas intermediárias e em função do tempo são para

como um líquido viscoso, conforme a temperatura é aumentada comportamentos totalmente elástico (b),

mais ainda. Essa condição é denominada viscoelasticidade. viscoelástico (c), e viscoso (d).
Fonte: Callister, 2018.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 119

As resistências à fratura dos materiais poliméricos são


baixas em relação às dos metais e das cerâmicas. Como regra
Principais Propriedades Térmicas
geral, o modo de fratura nos polímeros termofixos é frágil.
Durante o processo de fratura, trincas se formam em regiões
As principais propriedades térmicas são: (1) ponto de fusão,
em que há uma concentração de tensões localizadas, a tensão é
(2) HDT - Temperatura de deflexão térmica, (3) condutividade
então amplificada nas extremidades dessas trincas, o que leva
térmica, (4) dilatação e contração térmica.
à propagação da trinca e à fratura. As ligações covalentes na
rede ou nas ligações cruzadas são rompidas durante a fratura.
Outras Propriedades Importantes
Para os polímeros termoplásticos, é possível tanto a fratura
dúctil quanto a fratura frágil.
Outras propriedades são: (1) elétricas, (2) óticas (cor, bri-
lho, opacidade, transparência), (3) resistências ambientais, (4)
Resumindo, as principais propriedades mecânicas são: (1)
resistências químicas, (5) permeabilidade, (6) flexibilidade, (7)
resistência à tração, (2) resistência à compressão, (3) resistên-
elasticidade, (8) inflamabilidade.
cia ao dobramento, (4) dureza, (5) resistência ao impacto, (6)
tenacidade, (7) rigidez, (8) resistência à abrasão.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 120

Principais tipos de materiais poliméricos estão: (1) garrafas, (2) fibras, (3) equipamento hospitalar, (4)
embalagens, (5) utilidades domésticas, (6) baterias de automó-
Polietileno vel, (7) tubulações e perfis.

Entre todos os materiais plásticos, o polietileno é o mais Plocloreto de Vinila (PVC)


largamente utilizado. Suas principais características são: (1)
excelente resistência química, (2) alta permeabilidade a ga- Este material é geralmente usado em combinação com
ses, (3) alto coeficiente de contração, (4) bastante flexível, (5) plastificantes, cargas, estabilizantes e outros aditivos. Suas
bom isolante térmico, (6) boa resistência ao impacto. Entre principais características são: (1) boa resistência à água, (2)
suas aplicações estão: (1) filmes para embalagens, (2) garrafas boa resistência à ácidos e alcalinos, (3) boa resistência à UV,
plásticas, (3) utilidades domésticas, (4) tubulações e perfis, (5) (4) chama auto-extinguível, (5) bom isolante elétrico. Entre
brinquedos. suas aplicações estão: (1) revestimentos de cabos, (2) embala-
gens flexíveis, (3) pisos, (4) perfis de janelas, (5) materiais de
Polipropileno construção, (6) tubos e conexões.

Suas principais características são: (1) baixa densidade, (2) Poliestireno


boa resistência química, (3) alta resistência térmica, (4) boa
resistência à flexão, (5) excelente estabilidade dimensional, (6) Termoplástico versátil, claro, sem cheiro e comercialmente
boa dureza, (7) boa resistência ao risco. Entre suas aplicações disponível em três tipos:
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 121

• Poliestireno cristal: transparente, com baixa resistência ao Acrilonitrila Estireno Butadieno (ABS)
impacto e alta rigidez, boa estabilidade dimensional, bom
isolamento elétrico e sensibilidade a solventes orgânicos; Esta resina é produzida através da polimerização de três
monômeros diferentes adquirindo propriedades características
• Poliestireno de alto impacto: melhorias nas propriedades que dependem da proporção de cada monômero na reação.
de resistência ao impacto através da adição de butadieno; Cada um dos monômeros contribui com uma característica
específica:
• Poliestireno expandido (isopor): material de baixa densidade,
usado para isolamento térmico e em embalagens é obtido • Acrilonitrila: contribui com a estabilidade térmica, resistência
através do uso de agentes de expansão. química e resistência ao envelhecimento;

As principais características são: (1) alta dureza, (2) que- • Butadieno: contribui com rigidez e resistência ao impacto;
bradiço, (3) boa transparência, (4) bom acabamento superficial,
(5) boa estabilidade dimensional, (6) baixa absorção de água. • Estireno: proporciona o brilho e a facilidade de processa-
Entre suas principais aplicações estão: (1) peças internas de mento.
refrigeradores, (2) embalagens, (3) brinquedos, (4) isolamento
térmico, (5) carcaça de aparelhos eletrônicos, (6) utilidades As principais características são: (1) boa resistência ao
domésticas. calor, (2) tenacidade, alta dureza, (3) alta rigidez, resistência
ao impacto, (4) boa resistência ao desgaste, (5) boa resistência
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 122

química, (6) bom isolamento elétrico. Entre suas aplicações • Poliuretano - espuma flexível: possuem boa elasticidade,
estão: (1) brinquedos, (2) tubos, (3) carcaças de rádio, de te- boa resistência ao rasgo e alongamento, possibilidade de
levisão, de aparelhos eletrônicos e máquinas, (4) malas, (5) variação de dureza.
engrenagens, (6) equipamentos esportivos.
Entre suas principais aplicações estão: (1) pneus, (2) artigos
Poliuretano esportivos, (3) isolamento térmico industrial, (4) rodas de patins,
(5) assentos de automóveis, (6) espumas para colchões, sofás e
Os poliuretanos podem ser encontrados em três formas: assentos, (7) isolamento térmico em freezers, (8) para-choques
de automóveis, (9) indústria de automóvel, (10) rolos de pressão.
• Poliuretano elastômero: possuem resistência à abrasão, te-
nacidade, resistência ao rasgo e ao impacto, boa resistência Poliamidas
química, boas propriedades elétricas e resistência à intem-
péries; Principais características: (1) alta resistência à abrasão, (2)
rigidez, (3) higroscópicos, (4) tenacidade à baixa temperatura,
• Poliuretano - espuma rígida: possuem boa resistência a (5) alta resistência mecânica, (6) baixa fricção, (7) resistência
solventes e produtos químicos, boa resistência à baixa e química (exceto ácidos). Entre suas aplicações estão: (1) fios de
alta temperatura, bom isolamento térmico, boa estabilidade pesca, (2) peças automotivas, (3) engrenagens, (4) componentes
dimensional, baixa permeabilidade à umidade e boa resis- eletrônicos e (5) parafusos.
tência mecânica;
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 123

Síntese e processamento

Os polímeros são produzidos sinteticamente através da Um dos métodos mais utilizados, nas indústrias, para a
reação de polimerização de seus monômeros. produção de polímeros de vinilas é a polimerização em emulsão.
Este processo envolve uma emulsão estável de água, monô-
• Polimerização por adição (ou polimerização por reação em meros dos polímeros, e um surfactante (sabão ou detergente)
cadeia): as unidades monoméricas são ligadas, uma de cada como o agente emulsificante. Os surfactantes formam micelas,
vez, na forma de uma cadeia, para compor uma macromo- que dissolvem os monômeros, geralmente hidrofóbicos. Os
lécula linear. A composição do produto molecular resultante iniciadores de radicais livres, quando jogados na fase aquosa,
é um múltiplo exato do monômero no reagente original. também migram para a fase micelar, iniciando a polimerização.

• Polimerização por condensação (ou reação em etapas): for- As vantagens deste método incluem o baixo consumo de
mação de polímeros por reações químicas intermoleculares energia (a reação pode ser feita mesmo na temperatura am-
que ocorrem em etapas, as quais podem envolver mais de biente) e a obtenção de polímeros com grande massa molar.
uma espécie de monômero. Existe geralmente um subproduto A maior desvantagem é que a formulação é relativamente
com baixo peso molecular, tal como a água, que é eliminado complexa se comparada com os outros métodos, e requer uma
(ou condensado). Nenhum componente reagente apresenta etapa de purificação do polímero que, algumas vezes, pode
a fórmula química da unidade repetida, e a reação intermo- ser problemática.
lecular ocorre toda vez que uma unidade repetida é formada.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 124

Conformação para plásticos


cavidade do molde, sendo a pressão mantida para que o
A moldagem é o método mais comum para a conforma- material moldado se solidifique.
ção de polímeros plásticos.
• Extrusão: moldagem de um termoplástico viscoso sob pres-
• Moldagem por compressão ou transferência: a quantidade de são por meio de uma matriz com extremidade aberta. Uma
polímero e aditivos necessários, completamente misturada, é rosca ou parafuso sem fim transporta o material peletizado
colocada em entre dois moldes, que são aquecidos e apenas através de uma câmara, onde ele é sucessivamente compac-
um deles é móvel. Como calor e pressão, o material plástico tado, fundido e conformado com uma carga contínua de um
se torna viscoso e escoa para se conformar à forma do molde. fluido viscoso.

• Moldagem por injeção: análogo à fundição em matriz para • Moldagem por sopro: semelhante ao usado para o sopro de
os metais, amplamente usada para a fabricação de materiais garrafas de vidro.
termoplásticos. A quantidade correta de material peletizado
é alimentada a partir de um funil de alimentação para o • Fundição: da mesma forma que os metais, os materiais poli-
interior de um cilindro, polo movimento de um êmbolo ou méricos também podem ser fundidos. Um material plástico
pistão. O material é aquecido e o material termoplástico se fundido é vertido no interior de um molde e deixado solidi-
funde para formar um líquido viscoso. O plástico fundido ficar. Tanto plásticos termoplásticos quanto termorrígidos
é impelido, através de um bico injetor, par ao interior da podem ser fundidos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 125

As técnicas empregadas para a fabricação de elastômeros tam algumas vantagens, como pouco peso, alta resistência à
são as mesmas que para os plásticos. Além disso, a maioria corrosão, custo menor, isolante elétrico, facilidade de fabricação
dos materiais à base de borracha é vulcanizada e alguns são e manuseio, entre outros. Porém, apresentam baixa resistência
reforçados com negro de fumo. à temperatura e mecânica, alto coeficiente de dilatação, são
combustíveis. Quanto a sua classificação, são divididos em três
Pelo processo de fiação são obtidas as fibras. As fibras são categorias de acordo com o efeito do calor/elasticidade: termo-
fiadas a partir do estado fundido. E os filmes são simplesmente plásticos, termofixos e elastômeros. Os polímeros não são nem
extrudados por um fino rasgo em uma matriz. Isso pode ser tão resistentes nem tão rígidos como os metais. No entanto, sua
seguido por uma operação de laminação (calandragem) ou de alta flexibilidade, baixa massa específica e resistência à corrosão
estiramento, que serve para reduzir a espessura e melhorar a os tornam os materiais preferidos para muitas aplicações. As
resistência. propriedades mecânicas dos polímeros são sensíveis a mudanças
na temperatura e na taxa de deformação. Além disso, apresen-
Síntese tam um comportamento viscoelástico, intermediário entre um
comportamento totalmente elástico e um totalmente viscoso.
Neste capítulo vimos que os polímeros são constituídos por Apresentam também uma baixa resistência à fratura. Por fim,
unidades estruturais que se repetem (monômeros), podendo vimos alguns dos principais polímeros e suas aplicações, o
apresentar uma estrutura molecular linear, ramificada, com processo de síntese por polimerização, seguido dos métodos
ligação cruzada ou em rede. Em relação aos metais, apresen- de processamento de polímeros (moldagem).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 126

c. Termoplásticos endurecem após aquecimento. Se


Exercícios
aquecidos novamente, não amaciam. Possuem estrutura
linear e ramificada. Termofixos amaciam quando aquecidos
1. Baseado nas propriedades mecânicas após aquecimento e
e endurecem quando resfriados, possuindo estrutura em rede
em função da estrutura molecular, compare os polímeros
e ligação cruzada.
termoplásticos e termofixos:

d. Termoplásticos endurecem após aquecimento. Se aque-


a. Termoplásticos endurecem após aquecimento. Se aque-
cidos novamente, não amaciam. Possuem estrutura em rede
cidos novamente, não amaciam. Possuem estrutura em rede
e ligação cruzada. Termofixos endurecem quando aquecidos
e ligação cruzada. Termofixos amaciam quando aquecidos
e amaciam quando resfriados, possuindo estrutura linear e
e endurecem quando resfriados, possuindo estrutura linear
ramificada.
e ramificada.

2. A ligação covalente, caracterizada pelo compartilhamento


b. Termoplásticos não endurecem após aquecimento. Se
de um ou mais pares de elétrons entre átomos, é o tipo de
aquecidos novamente, amaciam. Possuem estrutura em rede
ligação característica dos materiais poliméricos.
e ligação cruzada. Termofixos amaciam quando aquecidos
e endurecem quando resfriados, possuindo estrutura linear
a. Certo
e ramificada.
b. Errado
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 127

3. Relativamente aos tubos metálicos de aço-carbono, os tubos d. Por apresentar baixo consumo energético na fabri-
plásticos possuem cação e utilização de matéria-prima de fontes renováveis,
os materiais poliméricos são ambientalmente sustentáveis.
a. maior resistência mecânica
e. Os materiais poliméricos não são empregados na fa-
b. maior estabilidade dimensional
bricação de objetos utilizando tecnologias de corte a laser,
c. maior resistência à corrosão
em função da sua resistência mecânica.
d. menor coeficiente de dilatação térmica
e. baixa capacidade combustível
5. São classificados como poliméricos os seguintes materiais:

4. Em relação aos materiais poliméricos, a alternativa correta é:


a. elastômero, MDF e titânio.
a. Podemos classificar os materiais poliméricos como b. silício, poliestireno e policarbonato.
termoplásticos ou termofixos. c. acetato de celulose, epoxi e poliéster.
d. polipropileno, silicone e fibra de vidro.
b. Com a finalidade de aumentar a densidade de materiais
e. policloreto de vinila (PVC), poliamida e vitrocerâmica.
poliméricos, aditivos plastificantes são adicionados.

c. Os materiais poliméricos não são adequados para a


fabricação de protótipos, uma vez que são facilmente de-
formáveis.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 128

6. Os polímeros são, em relação as suas propriedades químicas: 7. Assinale a alternativa correta. A


definição: “São um grupo a parte
a. Produzidos somente sinteticamente a partir da criação de ligações entre os de polímeros, assim chamados por
monômeros que formam a cadeia polimérica. apresentarem grande elasticidade,
sendo também denominados bor-
b. Utilizados como isolante elétrico quando confeccionados com duplas al- racha sintética”, define os polímeros
ternadas ao longo da cadeia, sendo composto por moléculas grandes. do tipo:

c. Formado por cadeias de unidades iônicas repetidas, por ligação de radicais a. Elastômeros
de monômeros. Possuem carga elétrica elevada. b. Termofixos.
c. Termoplásticos.
d. Constituídos por macromoléculas, sendo caracterizados por sua estrutura d. PVC.
química, suas interações intra e intermoleculares e por seu tamanho, possuem e. PEAD.
unidades ligadas covalentemente, repetidas no decorrer da cadeia.

e. Em função de não poderem gerar novas cadeias a partir de pontos inter-


mediários da cadeia principal, não possuem ramificações e são formados por
moléculas longas e sintéticas.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 129

MATERIAIS
CERÂMICOS E
COMPÓSITOS
Propriedades dos cerâmicos, principais tipos
de materiais cerâmicos, processamento
de cerâmicos, materiais compósitos,
propriedades dos compósitos, classificação
dos compósitos, principais tipos de materiais
compósitos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 130

Os materiais cerâmicos contêm fases que são compostos A maior parte das cerâmicas é cristalina, porém os elétrons
de elementos metálicos e não metálicos: metais (elétrons de não estão livres: ou são compartilhados por covalência ou
valência podem ser removidos e dados para átomos não metá- transferidos por ligação iônica. As ligações iônicas conferem
licos) e átomos não metálicos podem compartilhar elétrons por estabilidade alta: temperatura média de fusão superior à dos
covalência. Exemplos: vidro, tijolos, pedras, concreto, abrasivos, metais e materiais orgânicos, mais duros e mais resistentes à
vidrados para porcelana, isolantes dielétricos, refratários para alterações químicas. São isolantes, em temperatura elevada,
altas temperaturas. A classificação dos materiais cerâmicos conduzem a energia elétrica (menos intensa que os metais).
consta na Figura 49.
A estrutura cristalina dos materiais cerâmicos é relativa-
Figura 49 – Classificação dos materiais cerâmicos com base
mente complexa, com maior resistência nas ligações. Tornam
em sua aplicação.
as reações cerâmicas lentas. Exemplos: com as velocidades nor-
mais de resfriamento, o vidro não tem tempo de se rearranjar
em uma estrutura cristalina complexa, e permanece como um
líquido super-resfriado por tempo infinito.

Propriedades dos cerâmicos

Ao longo da história, os materiais cerâmicos ficaram limi-


tados em termos de sua aplicabilidade em razão de sua natureza
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 131

frágil. Sua principal desvantagem tem sido uma disposição à fratura-los e (3) as cerâmicas falham após uma deformação de
fratura catastrófica de maneira frágil com muita pouca absor- apenas aproximadamente 0,1 %. Dessa forma, é empregado
ção de energia. um ensaio de flexão transversal, em que um corpo de prova
na forma de uma barra com seção transversal circular ou re-
Os materiais cerâmicos normalmente isolantes, podem se tangular é flexionado até a fratura.
tornar semicondutores se contiverem elementos multivalentes
de transição, por exemplo, na presença de Fe e Ga. O comportamento elástico dos materiais cerâmicos é
bem semelhante aos resultados obtidos nos ensaios de tração
Na temperatura ambiente, tanto as cerâmicas cristalinas em metais: existe uma relação linear entre a tensão e a deforma-
quanto as não cristalinas quase sempre fraturam antes que ção, conforme mostra a Figura 50. A presença de porosidade,
qualquer deformação plástica possa ocorrer em resposta à apli- mesmo que residual, influencia negativamente as propriedades
cação de uma carga de tração. elásticas e mecânicas.

Resistência à flexão Figura 50 – Comportamento tensão-


deformação típico até a fratura para o
Geralmente, o comportamento tensão-deformação das óxido de alumínio e o vidro.
cerâmicas frágeis não é avaliado por um ensaio de tração, por
Fonte: Callister, 2018.
três razões: (1) é difícil preparar e testar amostras com a ge-
ometria necessária, (2) é difícil prender materiais frágeis sem
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 132

Principais tipos de materiais cerâmicos ras relativamente elevadas, boas propriedades dielétricas (para
aplicações em encapsulamento de componentes eletrônicos), e
Vidros de boa compatibilidade biológica. Alguns podem ser fabricados
opticamente transparentes, enquanto outros podem ser opa-
Aplicações típicas de vidros incluem os recipientes, as cos. As aplicações mais comuns para esses materiais são como
lentes e a fibra de vidro. Consistem de silicatos não cristalinos peças para irem ao forno, peças para irem à mesa, janelas de
que contêm outros óxidos, notadamente CaO, Na2O, K2O e fornos e tampas de fogões de cozinha. Também servem como
Al2O3, os quais influenciam suas propriedades. As duas princi- isolantes elétricos e como substratos para placas de circuitos
pais características desses materiais são sua transparência óptica impressão, e são utilizados como revestimentos em arquitetura
e a relativa facilidade com a qual eles podem ser fabricados. e para trocadores de calor e regeneradores.

Os vitrocerâmicos são os produtos policristalinos com Produtos à base de argila


grãos finos obtidos pelo processo de cristalização, que é a
transformação dos vidros inorgânicos do estado não cristali- Uma das matérias-primas cerâmicas mais amplamente utili-
no ao estado cristalino por meio de um tratamento térmico zadas é a argila, devido à sua abundância e facilidade de confor-
apropriado conduzido a altas temperaturas. Eles apresentam mação. A maioria dos produtos à base de argila enquadra-se em
as seguintes características: resistência mecânica relativamente duas classificações abrangentes: os produtos estruturais à base de
elevada, baixo coeficiente de expansão térmica (para evitar argila (incluem os tijolos de construção, os azulejos e as tubula-
choques térmicos), propriedades para utilização em temperatu- ções de esgoto) e as louças brancas (porcelanas em geral, vasos de
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 133

argilas, e as louças em geral, como as de mesa e as louças sanitá- Abrasivos


rias – tornam-se brancas após a queima em temperatura elevada).
São usadas para desgastar, polir ou cortar outros materiais,
Refratários que têm obrigatoriamente menor dureza. Sua principal caracte-
rística é a dureza e a resistência ao desgaste. Além disso, o alto
Caracterizam-se pela capacidade de resistir a temperaturas grau de tenacidade é essencial para assegurar que as partículas
elevadas sem se fundir ou se decompor, e pela capacidade em abrasivas não fraturem com facilidade. Adicionalmente, po-
permanecer não reativos e inertes quando expostos a ambientes dem ser produzidas temperaturas elevadas a partir das forças
severos. Além disso, tem a habilidade de proporcionar isola- abrasivas de atrito, de modo que também é desejável alguma
mento térmico. São comercializados em diversas formas, mas característica refrataria. Os diamantes, tanto os naturais quanto
os tijolos são a forma mais comum. Aplicações típicas incluem os sintéticos, são empregados como abrasivos. Os materiais
os revestimentos de fornos para o beneficiamento de metais, cerâmicos mais comuns incluem o carbeto de silício, o carbeto
a fabricação de vidros, os tratamentos térmicos metalúrgicos de tungstênio, o óxido de alumínio e a areia de sílica.
e a geração de energia. Existem várias classificações: argila
refratária, de sílica, básica e refratários especiais. A resistência Cimentos
mecânica, a capacidade de suportar carga e a resistência ao
ataque por materiais corrosivos aumentam com a redução da Vários materiais cerâmicos familiares são classificados
porosidade. Ao mesmo tempo, as características de isolamento como cimentos inorgânicos: cimento, gesso de paris e cal. A
térmico e a resistência a choques térmicos são diminuídas. principal característica é que, quando misturados com água,
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 134

formam uma pasta que, subsequentemente, reage e endurece, • Grafita: é altamente anisotrópica. Apresentam alta con-
podendo ser moldadas com rapidez. dutividade e excelentes propriedades de lubrificação. Em
comparação com o diamante, é muito macia e quebradiça
Carbonos e possui uma elasticidade significativamente menor. Além
disso é oticamente opaca com uma coloração negro-pra-
Podem ser divididos em três subgrupos: teada. Mas, apresenta uma boa estabilidade química em
temperaturas elevadas e em atmosferas não oxidantes, alta
• Diamante: quimicamente, ele é muito inerte e resistente resistência ao choque térmico, alta adsorção de gases e boa
ao ataque por uma gama de meios corrosivos. É o material usinalibilidade. As aplicações incluem lubrificantes, lápis,
mais duro e possui o mais baixo coeficiente de atrito por eletrodos de baterias, materiais para fricção, resistências para
deslizamento entre os sólidos. Sua condutividade térmica fornos elétricos, eletrodos de solda, cadinhos metalúrgicos,
é extremamente elevada, suas propriedades elétricas são refratários e isolantes para altas temperaturas, entre outros.
notáveis e, oticamente, ele é transparente nas regiões visível
e infravermelha. O alto índice de refração e o brilho ótico • Fibras de carbono: fibras de pequeno diâmetro, alta resistência
dos monocristais tornam o diamante a pedra preciosa de e alto módulo de elasticidade, compostas por carbono são
maior valor. usadas como reforços em compósitos com matriz polimérica.
O carbono nessas fibras se encontra na forma de camadas
de grafeno.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 135

Cerâmicas avançadas Processamento de cerâmicos

• Sistemas microeletromecânicos: consistem em um grande Uma das principais preocupações na aplicação dos materiais
número de dispositivos mecânicos integrados a grandes cerâmicos é o método de fabricação. Uma vez que os materiais
quantidades de elementos elétricos em um substrato de cerâmicos apresentam temperaturas de fusão relativamente ele-
silício. Os componentes mecânicos são microssensores e vadas, sua fundição é normalmente impraticável. Além disso,
microatuadores. Devido a algumas limitações quanto ao na maioria dos casos, a fragilidade desses materiais impede sua
uso do silício, estão sendo conduzidas pesquisas que visam deformação. A Figura 51 a seguir mostra a classificação para
o emprego de materiais cerâmicos (por serem mais tenazes, as técnicas de conformação de cerâmicas.
mais refratários e mais inertes) para alguns componentes.
Figura 51 –
• Nanocarbonos: classe de materiais de carbono recentemente Esquema de
descoberta e está sendo atualmente utilizada em algumas classificação
tecnologias de ponta. Três nanocarbonos conhecidos são os para as
fullerenos (aglomerado esférico oco contendo 60 átomos de técnicas de
carbono), os nanotubos de carbono (única lâmina de grafita conformação
enrolada na forma de um tubo) e o grafeno (única camada de cerâmicas.
atômica de grafita). O prefixo “nano” indica que o tamanho
Fonte: Callister, 2018.
da partícula é menor que aproximadamente 100 nanômetros.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 136

Materiais compósitos

Material compósito é um material com multifases, e é


produzido artificialmente. As fases constituintes devem ser
quimicamente separadas por uma interface distinta. Assim,
muitas ligas metálicas e cerâmicas não se enquadram nesta
definição, porque suas fases múltiplas são formadas como
consequência de um fenômeno natural.

Materiais compósitos são combinação de metais, cerâmicas


e polímeros para produzir uma nova geração de materiais. São
compostos de duas fases: matriz e a fase dispersa.
Figura 52 – Representações esquemáticas das várias
Propriedades dos compósitos características geométricas e espaciais das partículas de
fase dispersa que podem influenciar as propriedades dos
As propriedades dos compósitos são em função das pro- compósitos: (a) concentração, (b) tamanho, (c) forma, (d)
priedades de suas fases constituintes, quantidade e a geometria distribuição e (e) orientação.
da fase dispersa: forma, tamanho, distribuição e orientação,
Fonte: Callister, 2018.
conforme mostra a Figura 52.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 137

Classificação dos compósitos Partículas grandes e compósitos fortalecidos por dispersão


são duas subclassificações de compósitos reforçados por partí-
Os materiais compósitos podem ser classificados como culas. A distinção é baseada no mecanismo de fortalecimento e
partículas reforçadas, fibras reforçadas e compósitos estruturais, reforçamento. O termo grande é usado para indicar a interação
conforme apresenta a Figura 53. matriz-partícula que não deve ser tratada no nível atômico e
molecular. Para estes compósitos a fase particulada é mais dura
e inflexível. Estas partículas tendem a retrair o movimento da
fase matriz na proximidade destas partículas.

Para compósitos reforçados por dispersão, as partículas


são normalmente muito menores, entre 0,01 e 0,1 μm. A in-
teração entre a matriz e a partícula que leva ao reforçamento
ocorre no nível atômico e molecular. O mecanismo de for-
talecimento é similar ao endurecimento por precipitação. As
partículas pequenas impedem os deslocamentos. Exemplos:
materiais poliméricos – volume do polímero com o material
mais barato: enchimento. Concreto: composto por cimento,
Figura 53 – Esquema de classificação para os vários tipos de
areia e particulados.
compósitos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 138

Partículas grandes são utilizadas com 3 tipos de materiais: • O reforço de sílica na borracha não é efetivo porque a in-
metais, polímeros e cerâmicos. Exemplos: teração entre as moléculas da borracha e as partículas não
existem.
• Carbeto de tungstênio (WC): partículas extremamente duras
de um carbeto de W ou carbeto de Ti (TiC) embebido numa • Concreto: cimento portland, agregado fino (areia), agregado
matriz de metal com o cobalto ou níquel. Estes compósitos grosso (brita) e água. Compósito de partículas grandes no
são utilizados como ferramenta de corte para aços duros. qual ambos matriz e fase dispersa são materiais cerâmicos.
É considerado um material compósito que consiste num
• Elastômeros e plásticos são frequentemente reforçados com agregado de partículas num corpo sólido (matriz) por um
vários materiais particulados. meio ligante, que é o cimento. As partículas agregadas atuam
como material de enchimento para reduzir o custo total do
• Partículas de carbono em borracha sintética: adicionada na concreto produzido.
borracha sintética, é extremamente barata e muda a resis-
tência a tensão, dureza, desgaste e resistência a abrasão. • Concreto armado: a resistência do concreto pode ser au-
mentada por um reforço adicional – hastes de aço, que são
• Pneumático automobilístico: 15 a 30 % volume de black carbon. colocadas no concreto ainda úmido.

• Para ter uma característica significativa de reforço o tamanho Metais e ligas metálicas podem ser reforçados por uma
da partícula deve ser extremamente pequeno, entre 20 e 50 nm. dispersão uniforme de finas partículas de material duro e iner-
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 139

te. A fase dispersa pode ser metálica ou não metálica. Óxidos sionais que estão colados uns aos outros. Uma estrutura em
são frequentemente usados. O mecanismo de fortalecimento múltiplas camadas desse tipo é conhecida como laminado.
envolve interação entre as partículas e deslocações dentro da Existem quatro classes de compósitos laminados: unidirecio-
matriz, assim como o endurecimento por precipitação. O efeito nal, cruzados, com camadas em ângulo e multidirecional. Essa
do fortalecimento por dispersão não é tão pronunciado como classificação está relacionada à direção que as camadas estão
o endurecimento por precipitação, entretanto o fortalecimento dispostas. Já os painéis-sanduíche, outra classe dos compósi-
é mantido até temperaturas elevadas e por extensos períodos tos estruturais, são projetados para serem vigas ou painéis de
de tempo, porque as partículas dispersas não são reativas com baixo peso, com rigidez e resistência relativamente elevadas.
a fase matriz. Consiste em duas lâminas externas, ou faces, que se encontram
separadas, e são unidas com adesivo a um núcleo mais espesso.
Para ligas endurecidas por precipitação, o aumento da As laminas externas são feitas de um material relativamente
resistência pode desaparecer com o tratamento térmico como rígido e resistente (ligas de alumínio, aço, plásticos reforçados
consequência do crescimento do precipitado ou dissolução da com fibras, madeira compensada), e o núcleo de um material
fase precipitada. leve e com baixo módulo de elasticidade (espumas poliméri-
cas rígidas, madeira e colmeias – finas folhas produzidas com
Dentre os compósitos estruturais, os compósitos laminados células intertravadas).
são compostos por lâminas ou painéis (ou camadas) bidimen-
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 140

Principais tipos de materiais Compósitos com matriz metálica principalmente a tenacidade à fra-
compósitos tura. Os compósitos com matriz
A matriz empregada é um metal dúctil. Es- cerâmica (CMC – ceramic-matix
Compósitos com matriz polimérica ses materiais podem ser utilizados em temperatu- composites) são compostos por par-
ras de serviço mais elevadas que seus respectivos ticulados, fibras ou whiskers de um
Consistem em uma resina polimérica metais de base. Além disso, o reforço pode me- material cerâmico incorporados em
como a fase matriz, e em fibras como o meio lhorar a rigidez específica, a resistência à abrasão, uma matriz de outro material cerâ-
de reforço. Esses materiais são usados na a resistência à fluência, a condutividade térmica mico. A melhoria nas propriedades
maior diversidade de aplicações dos com- e estabilidade dimensional. Em comparação aos à fratura resulta das interações entre
pósitos, assim como em maior quantidade, materiais com matriz polimérica, apresentam as trincas que avançam e as partí-
como consequência de suas propriedades a vantagem de suportarem temperaturas mais culas da fase dispersa.
à temperatura ambiente, da facilidade de elevadas de operação, não serem inflamáveis, e
fabricação e do seu custo. Exemplos: com- maior resistência à degradação por fluidos orgâ- Compósitos carbono-carbono
pósitos poliméricos reforçados com fibras nicos. Em contrapartida, são muito mais caros.
de vidro (GFRP – Glass Fiber-Reinforced É um dos materiais mais
Polymer), compósitos poliméricos reforçados Compósitos com matriz cerâmica avançados e promissores com-
com fibras de carbono (CFRP –Carbon posto de uma matriz de carbono
Fiber-Reinforced Polymer) e compósitos po- Foram desenvolvidos com o intuito de me- reforçada com fibras de carbono
liméricos reforçados com fibras de aramida. lhorar as propriedades dos materiais cerâmicos, (tanto o reforço quanto a matriz
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 141

são de carbono). São relativamente novos e caros, não sendo estão livres: ou são compartilhados por covalência ou trans-
muito utilizados. Apresentam altos módulos de elasticidade e feridos por ligação iônica. Dentre as propriedades, podemos
limites de resistência à tração, mantidos até altas temperaturas citar sua natureza frágil, uma disposição à fratura catastrófica
(< 2000 ºC), resistência à fluência e valores relativamente altos de maneira frágil com muita pouca absorção de energia além
de tenacidade à fratura. Apresentam também baixos coeficientes de serem normalmente isolantes, podendo se tornar semicon-
de expansão térmica e condutividade térmicas relativamente dutores se contiverem elementos multivalentes de transição.
altas, o que os torna pouco suscetíveis a choques térmicos. Os principais materiais cerâmicos incluem vidros, produtos à
Porém, são propensos à oxidação em altas temperaturas. São base de argila, refratários, abrasivos, cimentos, carbonos, ce-
empregados em motores de foguetes, como materiais de atrito râmicas avançadas e o processamento desses materiais é uma
em aeronaves e automóveis de alta performance, para moldes das maiores preocupações (devido à sua fragilidade). Também
em processos de prensagem a quente, em componentes para analisamos os materiais compósitos, que são materiais com
motores de turbinas avançados e como escudos ablativos para multifases, produzidos artificialmente. São uma combinação
veículos de reentrada na atmosfera. de metais, cerâmicas e polímeros compostos de duas fases:
matriz e a fase dispersa, e suas propriedades serão função das
Síntese propriedades de suas fases constituintes. Dentre os principais
tipos de materiais compósitos podemos citar os compósitos com
Neste capítulo vimos que os materiais cerâmicos contêm matriz polimérica, compósitos com matriz metálica, compósitos
fases que são compostas de elementos metálicos e não metálicos. com matriz cerâmica e compósitos carbono-carbono.
A maior parte das cerâmicas é cristalina, porém os elétrons não
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 142

Exercícios 3. Em relação aos materiais, é correto o IV. o circuito integrado, um material se-
que se afirma em: micondutor, inovou a indústria de
1. A composição dos materiais ce- computadores e eletrônica.
râmicos incluem elementos não I. Com características de ótimos con-
metálicos e metálicos. dutores de calor e de eletricidade, Marque a alternativa correta.
os metais são deformáveis, bastante
a. Certo fortes, e atendem pelo amplo uso em a. Apenas as afirmativas I e II são
b. Errado aplicações estruturais. verdadeiras.

b. Apenas as afirmativas I, II e III


2. Materiais compósitos são com- II. Normalmente isolantes de calor e
são verdadeiras.
postos pela combinação de dife- eletricidade, os materiais cerâmicos
rentes materiais, com a finalidade resistem melhor a elevadas tempe- c. Apenas as afirmativas I, II e IV
de melhorar alguma propriedade raturas e ambientes rudes do que os são verdadeiras.
em especifica e, com isso, ser em- polímeros e metais.
d. Apenas as afirmativas II, III e
pregada a diferentes finalidades.
IV são verdadeiras.
III. Com fibras de vidro adaptadas em
a. Certo uma matriz polimérica, o fiberglass e. Todas as afirmativas são ver-
b. Errado é um exemplo de material compósito. dadeiras.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 143

4. As principais características das cerâmicas avançadas são: 5. 5. Sobre os materiais cerâmicos, é correto afirmar que:

a. muito baixa condutividade elétrica, inexistência de a. as cerâmicas são tipicamente condutoras de eletrici-
maleabilidade e alta rigidez. dade e de calor.

b. as cerâmicas são menos resistentes a altas temperaturas


b. alta condutividade térmica, alta maleabilidade e alta
do que os metais e os polímeros.
rigidez.
c. as cerâmicas são menos resistentes a ambientes rudes
c. alta densidade, baixa condutividade térmica e baixa (agressivos) do que os metais e os polímeros.
rigidez.
d. até 40 anos atrás, os materiais mais importantes nessa
classe eram conhecidas como “cerâmicas tradicionais", aquelas
d. baixa resistência, inexistência de maleabilidade e baixa
para as quais a matéria-prima básica é a argila.
rigidez
e. em relação ao comportamento mecânico, as cerâmicas
e. alta condutividade térmica, alta maleabilidade e baixa são duras, mas muito dúcteis.
resistência.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 144

6. Em relação aos materiais compósitos, eles possuem como


7. 7. Os _______________ são compostos por elementos me-
característica:
tálicos e não metálicos. A alternativa que preenche correta-
mente a lacuna é:
a. sua alta relação peso/resistência é vantajosa.

b. empregarem materiais termoplásticos na matriz e a. materiais poliméricos


materiais termofixos de reforço.
b. materiais metálicos
c. empregarem apenas um componente em sua com-
posição.
c. materiais compósitos
d. são isotrópicos quando os materiais de reforço estão
alinhados. d. materiais semicondutores intrínsecos

e. são constituídos por uma matriz com baixa resistência


e. materiais cerâmicos
e por materiais de reforço bastante rígidos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 145

OXIDAÇÃO E
CORROSÃO
Velocidade de crescimento das películas,
características das películas protetoras, tipos
de corrosão, corrosão em alta temperatura e
meios corrosivos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 146

Corrosão metálica pode ser definida como a reação quími- Todos os gases atacam os metais quando em temperaturas
ca ou eletroquímica de um metal e seu meio ambiente, a qual acima de um certo valor. Dependendo da natureza dos gases,
produz uma deterioração do material e suas propriedades. A as principais formas de ataque são a oxidação, carbonização,
corrosão pode ser vista como nada mais que a tendência para nitretação e sulfetação.
o retorno a um composto estável. Assim, por exemplo, quando
uma peca de aço enferruja, o ferro, principal componente, está A oxidação é o ataque pelo oxigênio ou pelo ar, e é um fenô-
retornando à forma de óxido, que é o composto original do meno importante de ser avaliado quando selecionamos materiais
minério. Estes potenciais não podem ser medidos diretamente, metálicos para serviços em alta temperatura. É considerado um
isto é, podem apenas ser medidos em relação a um padrão. processo de corrosão a seco. Normalmente, a intensidade da
oxidação aumenta com a temperatura e diminui com o aumento
Tabela 14 – Potencial de eletrodo padrão.
de cromo nos aços. Os aços carbono em contato com qualquer
Reação de eletrodo Potencial de eletrodo padrão a 25 ºC (Volts)
Au3+ + 3e- → Au 1,500 meio oxidante, em temperatura elevadas sofrem uma intensa
Ag+ + 1e- → Ag 0,799 oxidação superficial e escamações, com a formação de grossas
Cu2+ + 2e- → Cu 0,337 crostas de óxidos, que se destacam do metal, permitindo o
2H+ + 2e- → H2 0,000
prosseguimento do processo de oxidação.
Sn2+ + 2e- → Sn -0,136
Pb2+ + 2e- → Pb -0,126
Fe2+ + 2e- → Fe -0,440 A temperatura de início deste fenômeno é variável conforme
Zn2+ + 2e- → Zn -0,763 o meio, sendo de 530 ºC ao ar, e de 430 ºC com o vapor de
Al3+ + 3e- → Al -1,660
água, em atmosferas fortemente oxidantes essa temperatura pode
Mg3+ + 3e- → Mg -2,370
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 147

ser bem mais baixa. Já para os aços inoxidáveis este fenômeno Em função do mecanismo que ocorre a difusão dos íons
aparece em temperaturas superiores a 700 ºC. (vazios intersticiais, etc) teremos diferentes velocidades de
oxidação. As equações mais comuns que representam estas
A oxidação ocorre a diferentes temperaturas, porém para velocidades são a linear, a parabólica e a logarítmica.
o mesmo metal é acelerada a temperaturas elevadas, já que a
reação entre o metal e o ar ocorre mais rapidamente. Velocidade de crescimento das películas

Metal+O2 → óxido do metal As películas de produto de corrosão química podem crescer


segundo três leis de formação:
A oxidação do metal começa na superfície do metal e a
crosta de oxidação resultante tende a formar uma barreira que Crescimento linear
restringe a oxidação. Para que a oxidação possa continuar, o
metal ou o oxigênio deve se fundir através da crosta. Ambos os É observado quando a espessura da película é diretamente
processos ocorrem, entretanto, a difusão do metal para fora é proporcional ao tempo, ou seja:
geralmente mais rápida que a do oxigênio em sentido contrário
Y=kt
em virtude do íon metálico ser apreciavelmente menor que o
íon do oxigênio. onde: y é a espessura da película, t é o tempo e k é uma
constante.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 148

Crescimento parabólico Crescimento logaritmo

É observado quando a velocidade de crescimento é inver- É observado quando a espessura da película é uma função
samente proporcional a espessura da película, ou seja: logarítmica do tempo, ou seja:

y2=k' t y=k" ln t

onde: y é a espessura da película, t é o tempo e k’ é uma Características das películas protetoras


constante.
As películas formadas em corrosão química poderão ser
Esta lei de crescimento é a muito comum em metais em protetoras ou não, dependendo das seguintes características:
altas temperaturas, tais como o Fe, Ni, Cu e Co. De modo geral
para películas não porosas, o crescimento tende a ser parabó- • Volatilidade: as protetoras devem ser não voláteis;
lico, com exceção daquelas muito impermeáveis que crescem
logaritmicamente e daquelas que fraturam com facilidade, que • Resistividade elétrica: as películas de maior resistividade
crescem linearmente. elétrica oferecem maior dificuldade à difusão iônica e logi-
camente são mais protetoras por imporem maior restrição
à passagem destes íons;
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 149

• Impermeabilidade da rede cristalina: quanto mais compacta • Relação entre o volume do oxido e do metal que originou o óxido:
a rede cristalina maior será a dificuldade para a difusão e,
»» Para Vóxido/Vmetal ≥ 1 a película é formada sob com-
portanto, mais protetora;
pressão podendo ser protetora;

• Aderência: as películas mais finas são, de modo geral, mais »» Para Vóxido/Vmetal < 1 a película é formada sob tração,
aderentes. Quando a rede cristalina do produto de corrosão é é porosa e não protetora.
semelhante à do metal tem-se normalmente maior aderência
Estas relações foram estabelecidas por Pilling e Bedworth
da película. Películas mais aderentes são mais protetoras;
(1923) para alguns metais e estão citados na Tabela 15.

• Refratariedade: as películas para serem protetoras não devem Tabela 15 – Relação de Pilling e Bedworth.
Metal Óxido Relação
fundir a baixas temperaturas; K K2O 0,41
Na Na2O2 0,57
Ca CaO 0,64
• Plasticidade: as películas muito duras fraturam com facili- Mg MgO 0,79
dade, tendendo a ser menos protetoras; Al Al2O2 0,79
Pb PbO 1,29
Sn SnO2 1,34
Zn ZnO 1,58
• Porosidade: está intimamente ligada à impermeabilidade
Ni NiO 1,60
da rede cristalina. Quanto menos porosa mais protetora é Cu Cu2O 1,71
Cr Cr2O2 2,03
a película; Fe Fe2O3 2,16
Mo MoO3 3,3
W WO3 3,6
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 150

Das propriedades mencionadas e da relação de Pilling Tipos de corrosão


e Bedworth podem ser tiradas as seguintes conclusões
relacionadas às películas protetoras: Existem vários tipos de corrosão, as principais são: generalizada,
galvânica, concentração diferencial, em frestas, por pite, seletiva, sob
• K, Na, Ca, Mg formam películas porosas e, não pro- tensão, sob fadiga, corrosão-erosão, intergranular, microbiológica.
tetoras, que apresentam crescimento linear;
• CORROSÃO UNIFORME: a corrosão se estende por toda a
• Fe, Ni, Cu formam películas compactas, porém fratu- superfície de forma generalizada.
ram e perdem aderência com facilidade apresentando
um crescimento parabólico; • CORROSÃO POR PITES OU CORROSÃO PUNTIFOR-
ME: a corrosão ocorre de forma localizada como pequenos pontos
• Al e Cr formam películas compactas, aderentes, plás- profundos. Nos casos mais graves pode originar a perfuração do
ticas, impermeáveis, logo são muito protetoras apre- material. Processo autocatalítico.
sentando um crescimento logarítmico;
• CORROSÃO ALVEOLAR: corrosão caracterizada pela pre-
• W e Mo formam películas compactas, porém são sença de sulcos de escavações semelhantes a alvéolos (rasos e de
voláteis e apresentam um crescimento linear. fundo arredondado).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 151

• CORROSÃO POR PLACAS: a corrosão se localiza em • CORROSÃO SELETIVA: corrosão resultante da forma-
regiões da superfície metálica e não em toda sua extensão, ção de um par galvânico entre os elementos que compõem
formando placas com escavações. uma liga metálica. Ex: corrosão grafítica nos ferros fundidos
cinzento e nodular (a grafite atua como área catódica e o
• CORROSÃO POR ESFOLIAÇÃO: tipo de corrosão ferro como área anódica), e dezincificação em ligas de zinco
que progride paralelamente à superfície externa do metal, (este metal atua como anodo).
com consequente desprendimento de camadas, lâminas ou
escamas, devido à formação de produtos de corrosão. • CORROSÃO SOB TENSÃO: a corrosão se manifesta na
forma de trincas (intergranulares ou transgranulares) que
• CORROSÃO INTERGRANULAR: corrosão localizada ocorre quando um material é submetido a tensões de tração
que ocorre entre os grãos. O contorno de grão funciona como (aplicadas ou residuais) quando em contato com um meio
região anódica, devido ao grande número de discordâncias corrosivo específico.
presentes nessa região.
• CORROSÃO-EROSÃO: a corrosão está associada ao
• CORROSÃO GALVÂNICA: corrosão resultante do con- desgaste mecânico provocado pela abrasão superficial de
tato elétrico de metais diferentes. Será tão mais intensa uma substância sólida, líquida ou gasosa. A contínua remo-
quanto mais distante forem os metais na tabela de poten- ção dos produtos de corrosão formados pela ação do fluido
ciais eletroquímicos e quanto maior for a relação das áreas intensifica o processo corrosivo.
catódica/anódica.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 152

• CORROSÃO POR FADIGA: a corrosão é caracterizada rado na superfície da estrutura metálica para o interior da
pelo aparecimento de trincas no material metálico, decor- estrutura. O hidrogênio acumula-se nas falhas existentes e
rentes da ação combinada do ataque químico do meio e de passa da forma nascente para a forma molecular, provocando
tensões cíclicas. A associação dos dois efeitos causa falha do o surgimento de altas pressões no interior da falha propi-
material em um número muito menor de ciclos do que se o ciando o aparecimento e a propagação de fissuras. Quando
fenômeno da fadiga ou da corrosão ocorressem isoladamente. o acúmulo de hidrogênio é em falhas próximas à superfície,
a deformação pode provocar empolamentos.
• CORROSÃO-CAVITAÇÃO: a cavitação é o desgaste
provocado em uma superfície metálica devido a ondas de • CORROSÃO ATMOSFÉRICA: os metais, quando ex-
choque do líquido, oriundas do colapso de bolhas gasosas. postos à ação climática, estão sujeitos a sofrer a chamada
A cavitação surge em zonas de baixa pressão onde o líquido corrosão atmosférica, responsável por grande parcela dos
entra em ebulição formando bolhas, que são instantanea- custos advindos da deterioração de materiais metálicos. O
mente destruídas quando entram em contato com a zona maior ataque nos metais é atribuído aos ácidos inorgânicos
de alta pressão, criando zonas de choque no líquido. Este (e orgânicos associados aos sistemas particulados) e seus
efeito causa deformação plástica e encruamento originando precursores presentes na atmosfera.
áreas anódicas.
Você sabia que o impacto global das perdas de metais pela corrosão
• FRAGILIZAÇÃO PELO HIDROGÊNIO: efeito oriundo é estimado em cerca de 2,5 trilhões de dólares ao ano??? Em muitos
da adsorção e subsequente penetração do hidrogênio ge-
países o valor chega a 5% do PIB!
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 153

• CORROSÃO POR FRESTA: estão sujeitas a formação de »» os sistemas de trocadores de calor, tanques de armazenamento,
pilhas de aeração diferencial (meio gasoso) e de concentra- sistemas de tratamento de água e efluentes, filtros e tubos em
ção iônica diferencial (meio líquido). Ocorrência em juntas geral são afetados por problemas de biocorrosão, fluidos de corte.
soldadas com chapas sobrepostas, em juntas rebitadas, em
ligações flangeadas, em ligações rosqueadas, em revestimentos Corrosão em alta temperatura
com chapas aparafusadas, dentre outras situações geradores
de frestas. De qualquer forma as frestas deverão ser evitadas Corrosão catastrófica
ou eliminadas por serem regiões preferenciais de corrosão.
É um tipo de corrosão que se manifesta em alguns aços e outras
• CORROSÃO MICROBIOLÓGICA: os processos de ligas onde ocorre uma oxidação extremamente rápida, conduzindo
deterioração de material metálico em que microrganismos à destruição da liga. A corrosão ou oxidação catastrófica ocorre,
têm participação direta ou indireta são denominados de particularmente em aços contendo molibdênio e aços com alto
corrosão microbiológica ou corrosão induzida microbiolo- teor de vanádio devido ao baixo ponto de fusão de seus óxidos.
gicamente (CIM).
Corrosão por metais líquidos
»» Mas onde encontramos problemas de biocorrosão? Uma
planta industrial contém diversos ambientes onde a corrosão Este tipo de corrosão ocorre em situações em que se traba-
e o biofouling representam risco potencial: lha com um metal líquido em contato com outro sólido, como
por exemplo em reatores nucleares. A corrosão pode ocorrer
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 154

devido a dissolução do metal sólido no líquido ou a penetração Meios corrosivos


intergranular do metal líquido no sólido do recipiente. Em
ambos os casos há a formação de uma liga com a perda de Os principais meios corrosivos e respectivos eletrólitos são:
material do recipiente.
• Atmosfera: o ar contém umidade, sais em suspensão, gases
Carbonetação e descarbonetação industriais, poeira, etc. O eletrólito constitui-se da água que
condensa na superfície metálica, na presença de sais ou gases
Consistem na entrada de carbono (carbonetação) ou saída presentes no ambiente. Outros constituintes como poeira
daquele elemento (descarbonetação). O primeiro caso ocorre e poluentes diversos podem acelerar o processo corrosivo;
quando ligas ferrosas são aquecidas em atmosferas contendo
hidrocarbonetos ou monóxido de carbono. O carbono vai se • Solos: os solos contêm umidade, sais minerais e bactérias.
difundindo para o interior do metal, formando uma camada rica Alguns solos apresentam também, características acidas ou
em carbono na superfície. O segundo caso ocorre quando ligas, básicas. O eletrólito constitui-se principalmente da água
principalmente o aço baixa liga são colocados em ambientes com sais dissolvidos;
com agentes descarbonetante como o H2 e o CO2. Neste caso
a liga vai se deteriorando e perdendo a dureza superficial. A • Águas naturais (rios, lagos e do subsolo): estas águas podem
carbonetação e a descarbonetação podem ser causa importante conter sais minerais, eventualmente ácidos ou bases, resíduos
de falhas em alta temperatura com perda de material e por esta industriais, bactérias, poluentes diversos e gases dissolvidos.
razão podem ser associadas à corrosão. O eletrólito constitui-se principalmente da água com sais
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 155

dissolvidos. Os outros constituintes podem acelerar o pro- formarem eutéticos de baixo ponto de fusão com os óxidos
cesso corrosivo; de metal. Em ligas contendo níquel, o sulfeto localiza-se
nos contornos de grão formando um eutético Ni3S2 - Ni
• Água do mar: estas águas contêm uma quantidade apreci- que funde a 645 ºC tornando estas ligas pouco resistentes
ável de sais (NaCl). A água do mar em virtude da presença a atmosferas sulfurosas;
acentuada de sais é um eletrólito por excelência. Outros
constituintes como gases dissolvidos, podem acelerar os • Vapor de água: em temperatura elevada o vapor de água pode
processos corrosivos; atacar certos metais formando óxido e liberando hidrogênio
que pode provocar fragilização pelo hidrogênio;
• Produtos químicos: os produtos químicos, desde que em
contato com água ou com umidade e formem um eletrólito, • Cinzas: a queima de combustível em fornos, caldeiras, tur-
podem provocar corrosão eletroquímica. binas a gás, etc., pode provocar sérios problemas de corrosão
devido a cinzas contendo vanádio e sulfato de sódio.
Os principais meios corrosivos a altas temperaturas são:
»» O vanádio presente no combustível oxida-se a V2O5
• Oxigênio e gases contendo enxofre: presentes em fornos, e forma eutéticos de baixo ponto de fusão com os óxidos
caldeiras, unidades de processo, nas chamadas atmosferas do metal destruindo as películas protetoras das superfícies
sulfurosas. O enxofre e o H2S formam sulfetos de metal metálicas.
que não são protetores e agravam o processo corrosivo por
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 156

»» O sulfato de sódio origina-se de reações de SO2 com o da temperatura, velocidade ou concentração do fluido ou de
NaCl presente no combustível. Este sulfato de sódio reage alguma espécie na solução. A utilização de inibidores também
posteriormente com os óxidos formados destruindo também, pode ser eficaz. Eles são substâncias que, quando adicionadas
as películas protetoras. ao ambiente em concentrações relativamente baixas, diminuem
sua corrosividade.
»» A ação combinada do vanádio e sulfato de sódio é muito
mais acentuada, sobretudo em cinzas contendo cerca de 85 Outra alternativa é através da aplicação de barreiras físicas
% de V2O5 e 15 % de Na2SO4. à corrosão nas superfícies na forma de filmes e revestimentos,
podendo ser metálicos ou não metálicos. Todos os três tipos
Prevenção da corrosão de materiais – metais, cerâmicas e polímeros – são empregados
como revestimentos para metais.
De forma geral, a corrosão pode ser prevenida através da
seleção de materiais, a alteração do ambiente e a proteção cató- Proteção catódica
dica. Talvez a forma mais comum e mais fácil para prevenir a
corrosão seja por meio de uma seleção criteriosa dos materiais Um dos meios mais eficazes de prevenção da corrosão. A
após o ambiente corrosivo ter sido caracterizado. proteção catódica envolve simplesmente o suprimento, a partir
de uma fonte externa, de elétrons para o metal a ser protegido,
A mudança do ambiente, se possível, também pode in- tornando-o o cátodo.
f luenciar significativamente a corrosão. Exemplo: redução
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 157

Síntese

• Par galvânico: o metal a ser protegido é conectado eletri- Neste capítulo vimos que a corrosão metálica é tipicamente
camente a outro metal que é mais reativo em um ambiente eletroquímica, sendo o potencial medido a partir de um ele-
específico. Esse último metal apresenta oxidação e, ao ceder trodo-padrão. Alguns tipos de corrosão mais comuns são a
elétrons, protege o primeiro metal contra corrosão. O metal corrosão uniforme, a corrosão galvânica, a corrosão atmosférica,
oxidado é, com frequência, chamado de anodo de sacrifício, entre outras. A prevenção da corrosão pode ser realizada de
e o magnésio e o zinco são comumente usados para essa fi- várias formas, incluindo a seleção do material, alterações no
nalidade, visto que estão localizados na extremidade anódica ambiente, uso de inibidores, mudanças no projeto, aplicação
da série galvânica. de revestimentos, entre outros, sendo a proteção catódica a
mais eficaz. Como um tipo de corrosão seca, a oxidação de
• O processo de galvanização é simplesmente aquele no qual materiais metálicas também ocorre pela ação eletroquímica.
uma camada de zinco é aplicada sobre a superfície do aço Um filme de óxido forma-se sobre a superfície, o qual pode
por imersão a quente. Na atmosfera e na maioria dos am- atuar como uma barreira contra uma oxidação adicional. Por
biente aquosos, o zinco é anódico e, dessa forma, protegerá fim, vimos os principais meios corrosivos, que incluem, entre
catodicamente o aço se houver qualquer dano superficial. outros, atmosfera, águas naturais, produtos químicos.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 158

Exercícios

1. É INCORRETO afirmar, em relação aos métodos de proteção contra a corrosão:

a. O recobrimento contendo níquel é conhecido como galvanização, sendo bastante utilizado na pro-
teção de aços.

b. Dois metais diferentes em curto-circuito caracterizam a proteção catódica por anodos de sacrifício.
Nesse processo, a diferença de potencial entre os metais forma uma célula galvânica.

c. A proteção anódica é caracterizada pelo fenômeno de passivação: formação de uma película de óxido
barreira.

d. A fosfatização (tratamento superficial pré-pintura) é um tipo de recobrimento inorgânico utilizado


como película protetiva, posteriormente podendo passar pelo processo de pintura.

e. As tintas, revestimento protetor orgânico, tem sua eficiência de proteção por barreira baseada na
espessura do revestimento, tipo de resina e os pigmentos que a compõem.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 159

2. É INCORRETO afirmar, em relação aos tipos de corrosão:

a. Intensa corrosão local, relacionada a pequenos volumes de solução em regiões


estagnantes caracteriza a corrosão por frestas.

b. A corrosão intergranular ocorre quando há impurezas, fazendo com que a região


de um contorno de grão torne-se reativa.

c. A corrosão por pites, de natureza autocatalítica, é bastante comum em aços ino-


xidáveis.

d. Os danos por cavitação, ocasionados pela geração e degradação de bolhas de vapor


em um líquido, são um caso particular de corrosão por erosão.

e. Quando há permeação do hidrogênio gasoso em um metálico acarreta danos


mecânicos no metal (empolamento).
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 160

3. Um dos métodos clássicos de proteção anticorrosiva é o uso


de anodos de sacrifício. Dada a tabela de potencial padrão
de redução abaixo, é possível dizer que os dois melhores a. Mg e Zn
materiais para protegerem o ferro da corrosão galvânica e b. Mg e Cu
servirem de anodo de sacrifício são: c. Ni e Cu
d. Sn e Cu
Reação de redução Potencial padrão (V) e. Zn e Sn

Mg2+(aq) + 2e- → Mg(s) -2,38


4. O tipo de camada de óxido que protege os aços inoxidáveis
Zn2+(aq) + 2e- → Zn(s) -0,76 da corrosão atmosférica/eletroquímica, fenômeno conhecido
como passivação, é o
Fe2+(aq) + 2e- → Fe(s) -0,44

Ni2+(aq) + 2e- → Ni(s) -0,26 a. Al2O3


b. Cr2O3
Sn2+(aq) + 2e- → Sn(s) -0,14
c. Fe2O3
2H+ + 2e- → H2(g) 0,00 d. Fe3O4
e. NiO
Cu2+(aq) + 2e- → Cu(s) +0,34

Au3+(aq) + 3e- → Au(s) +1,42


CIÊNCIA DOS MATERIAIS 161

6. A corrosão _________ ocorre de forma localizada, gerando


5. O único processo que NÃO pode acontecer durante a ocor- pequenos buracos a partir da superfície do material que
rência de corrosão em altas temperaturas é o de: penetram no seu interior em uma direção praticamente
vertical. Completa a lacuna:
a. oxidação
b. sulfidação a. Ataque uniforme
c. fosfatização b. Corrosão sob tensão
d. carbonetação c. Intergranular
e. descarbonetação d. Lixívia seletiva
e. Pites
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 162

7. É correto o que se afirma em:

a. Ocorrendo geralmente em polímeros, a corrosão por radiação (fenômeno eletro-


químico) é similar a corrosão nos metais.

b. Processos de corrosão acontecem normalmente em materiais cerâmicos em decor-


rência da presença de óxidos metálicos que usualmente os compõem.

c. A proteção catódica é obtida através da ligação elétrica entre um metal a ser pro-
tegido e um metal mais anódico (anodo de sacrifício).

d. O ambiente e a temperatura de exposição não são fatores determinantes do com-


portamento dos metais em relação à corrosão.

e. O antimônio é o metal geralmente empregado para revestimento de placas de aço


no processo de galvanização.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 163

GABARITO

CAP. 1 CAP. 5

1- c, 2- d, 3- a, 4- d, 5- d, 6- b, 7- c 1- b, 2- a, 3- b, 4- b, 5- b, 6- d, 7- b, 8- d

CAP. 2 CAP. 6

1- d, 2- d, 3- a, 4- d, 5- b, 6- e, 7- c, 8- d 1- a, 2- a, 3- c, 4- a, 5- c, 6- d, 7- a

CAP. 3 CAP. 7

1- a, 2- b, 3- e, 4- b, 5- a, 6- b, 7- c, 8- e, 9- d 1- b, 2- a, 3- e, 4- a, 5- d, 6- e, 7- c

CAP. 4 CAP. 8

1- d, 2- b, 3- a, 4- d, 5- c, 6- a, 7- a, 8- b, 9- c 1- a, 2- e, 3- a, 4- b, 5- c, 6- e, 7- c
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 164

REFERÊNCIAS

ATKINS, Peter; JONES, Loretta. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. Tradução Ricardo
Bicca de Alencastro. 5º Edição. Porto Alegre: Bookman, 2012.

BETTELHEIM, Frederick. Introdução à Química Geral. Tradução Mauro de Campos Silva e Gianluca Camillo Azzellini.
São Paulo: Cengage Learning, 2012.

BROWN, Lawrence S.; HOLME, Thomas A. Química Geral aplicada à engenharia. Tradução de Robson. 3º Edição. São
Paulo: Cengage Learning, 2014.

CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Tradução de Sergio Murilo Stamile Soares. 9 º Edi-
ção. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

CHANG, Raymond; GOLDSBY, Kenneth A. Química. Tradução de M. Pinho Produtos Digitais Unipessoal Ltda. 11º Edi-
ção. Porto Alegre: AMGH, 2013.
CIÊNCIA DOS MATERIAIS 165

LEWIS, Rob; EVANS, Wynne. Introdução à química: fundamentos. Tradução de Edilson Clemente da Silva e Oswaldo Es-
teves Barcia. 8º Edição. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

NEWELL, James. Fundamentos da moderna engenharia e ciência dos materiais. Tradução e revisão técnica de José Roberto
Moraes d’Almeida. 1º Edição. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

SILVA, Elaine L.; BARP, Ediana. Química Geral e Inorgânica: princípios básicos, estudo da matéria e estequiometria. 1º
Edição. São Paulo: Érica, 2014.

SMITH, William F. Fundamentos da engenharia e ciência dos materiais. Tradução de Necesio Gomes Costa, Ricardo Dias
Martins de Carvalho, Mírian de Lourdes Noronha Motta Melo. 5º Edição. Porto Alegre: AMGH, 2012.

Você também pode gostar