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O RITO SCHRÖDER

Os Rituais de Schröder* foram aprovados em 29 de junho de 1801 pela Assembléia das


Lojas da Grande Loja Provincial de Hamburgo e da Baixa Saxônia, ligada a Grande Loja
de Londres (1717, a G. L. dos “Modernos”), e rapidamente conquistaram inúmeras Lojas
de língua germânica por toda a Europa. Posteriormente, foram adotados por alemães e
seus descendentes em diversos países e, no Brasil, com a colonização germânica no Rio
Grande do Sul e em Santa Catarina, o Rito estabeleceu-se inicialmente no idioma
Alemão. Mais tarde, os rituais foram traduzidos para o Português e foram adotados por
diversas Grandes Lojas Estaduais (CMSB); pelo Grande Oriente do Brasil – G.O.B.; e por
diversos Grandes Orientes Estaduais Independentes (COMAB), totalizando hoje 110
Lojas de 18 Potências maçônicas brasileiras, sendo o Brasil um dos poucos países a
adotar o Rito traduzido para o seu idioma (o que vem aumentando nos últimos anos a
medida que o Rito conquista Irmãos de outros países).

Os Rituais: Loja de Aprendiz, incluindo a Loja de Mesa e Loja de Funeral; Loja de


Companheiro e Loja de Mestre, foram elaborados por uma Comissão presidida pelo Ir.
FRIEDRICH LUDWIG SCHRÖDER, ex-V.M. da “Emanuel Zur Maienblume”, ex-Grão-Mestre
Adjunto e, depois, Grão-Mestre da Grande Loja de Hamburgo.

Schröder gozava de grande prestígio (foi considerado “o maior ator que a Alemanha já
teve”) e reconhecido como um profundo conhecedor da História e dos Antigos Rituais da
Maçonaria. Estudou “As Três Batidas Diferentes na Porta da Mais Antiga Franco-
Maçonaria – The Three Distinct Knocks at the Door of the Most Ancient Free-Masonry –
TDK” (1760), e “Maçonaria Dissecada – Masonry Dissected” (1730), de Samuel Prichard,
que continham as práticas maçônicas utilizadas pelas Lojas da Grande Loja de Londres
(1717). Examinou também os rituais dos diversos sistemas de graus complementares que
proliferavam na Europa daqueles tempos. Suas pesquisas o levaram a abolir os
chamados “altos graus”, bem como os enxertos de ocultismo e o misticismo exacerbado
que dominavam a Maçonaria Alemã do seu tempo, restaurando o “Antigo Ritual Inglês”
da G. L. de Londres (dos “Modernos”, 1717) adaptando-o para o idioma germânico e para
a elevada cultura da sua época.

Schröder entendia a Maçonaria como uma Fraternidade que visa à união de virtudes e
não, uma ordem ou sociedade esotérica. Por isso, enfatizou em seu Ritual o ensinamento
dos valores morais e a difusão do puro espírito humanístico, dentro do verdadeiro amor
fraternal. Preservou a importância dos símbolos e resgatou o princípio que afirma ser “a
verdadeira Maçonaria a dos Três Graus de São João”.

O famoso historiador e maçom Findel, dedica grandes elogios a SCHRÖDER, como


podemos perceber nessa passagem: “∴. Estava-lhe reservada a glória de fazer penetrar
vitoriosamente a luz entre as trevas do erro, de dissipar as espessas nuvens que
obscureciam os resplendores da verdade maçônica e de assentar bases sólidas para
atividade de seus Irmãos”.

O Rito é também fruto do “Século das Luzes” (Século XVIII), auge do Iluminismo, quando
pensadores e maçons como Schröder, Goethe, Lessing, Herder, Schiller, Voltaire e tantos
outros, semearam os conceitos de Igualdade e Fraternidade entre todos os homens
independente de nacionalidade, religião ou posição social.

Neste ambiente cultural, com seus conhecimentos da natureza humana e com o domínio
cênico e dramático de um grande ator e diretor teatral, Schröder produziu um Ritual
simples, porém profundo. Nele, juramentos e castigos são substituídos por promessas e
palavras de honra; pela confiança que deve unir os Irmãos em Loja; pelo Humanitarismo,
que ensina que é o próprio Homem quem deve superar seus problemas e agir na
Sociedade visando sempre o bem comum (a prática da Caridade era especialmente
incentivada por Schröder, que, com seus Irmãos, fundou orfanatos, um asilo para atores
e um hospital, o qual ainda existe e é mantido pela Maçonaria em Hamburgo). Para
concluir, podemos resumir que o Rito busca fundamentalmente, “a educação do maçom
para a construção de uma verdadeira Fraternidade”.

Algumas Características do Rito Schröder:

• O Rito Trabalha exclusivamente nos Três Graus Simbólicos, Azuis ou “de São João”;
• Somente os cargos de Venerável Mestre, Vigilantes e Tesoureiro são eletivos;
• Os cargos de Secretário; 1º e 2º Diáconos, Mestre de Harmonia, Preparador, Orador e
Guarda do Templo são nomeados pelo V.M.;
• O Orador pode ser nomeado pelo V.M. para todo o mandato da Administração, ou
somente designado para as sessões em que for considerado necessário, e não atua
como “Guarda da Lei”, função desempenhada pelo próprio V.M.;
• O V.M. deve nomear Adjuntos para todos os cargos, de forma a ter Oficiais
preparados nas eventuais substituições;
• O 1º Diácono é o Mestre de Cerimônias e o 2º Diácono é o Hospitaleiro;
• Em Loja, todos os Irmãos usam o traje social previsto pela Grande Loja, com gravata
borboleta branca e, na lapela esquerda, o distintivo da sua Loja preso a uma fita azul-
claro. Nas sessões ritualísticas nas Lojas Schröder é obrigatório o uso da cartola e
das luvas brancas;
• Os aventais: o de Aprendiz é branco e mantém a abeta levantada; o de Companheiro
é branco e tem a abeta baixada, completamente circundada por uma borda azul-claro;
o de Mestre é branco com uma borda azul-claro que também circula a abeta baixada.
O avental de Mestre é o mesmo usado pelo V.M. e pelos ex-Veneráveis Mestres, sem
rosetas ou Taus;
• Os ex-Veneráveis Mestres, na Grande Loja, usam na lapela esquerda, presa a uma
fita azul-claro, uma comenda com a representação gráfica do 47º Problema de
Euclides pendurada a um pequeno Esquadro;
• Durante as Sessões ritualísticas a Palavra é concedida para todos os Irmãos pelo
V.M., através do 2º Vig., que faz o anúncio da Palavra e de que “um Irmão deseja se
manifestar”;
• Após a autorização do V.M., o Irmão faz o Sinal de ordem, completa-o, e faz apenas a
seguinte referência: “V.M., meus Irmãos”;
• O Sinal de ordem é dado como prova de que se é maçom e não é uma saudação;
• A saudação do Rito é a “Bateria do Grau”, comandada pelo V.M., ao dizer: “Pela
saudação!”;
• O Rito originalmente não adota a Cerimônia de Instalação. É o Regulamento das
Potências que determina este procedimento adotado pelas Lojas Brasileiras;
• Todos os Irmãos têm direito a voz e voto nos assuntos da Loja, inclusive Aprendizes e
Companheiros. É a legislação das Potências brasileiras que determina que, por
exemplo, para a Administração votem apenas os Mestres Maçons;
• Todas as Sessões são encerradas com a formação da Cadeia de União em um
cerimonial próprio;
• Se necessário passar a “Palavra Semestral”, o V.M. formará uma segunda Cadeia de
União, após encerrar a Sessão;
• O “Garante” (“Padrinho”) é responsável pela Instrução e pelo aconselhamento ao seu
“afilhado” até que ele alcance o Grau de Mestre;
• O V.M. é o responsável pela Instrução dos Irmãos em Loja (não os Vigilantes) e pode
nomear uma Comissão de Docência ou de Instrução para auxiliá-lo;
• Utilizam-se regularmente Sessões “a campo” (fora do Templo) para assuntos
administrativos e, também, para ensaios ritualísticos e apresentação de Trabalhos ou
para Instrução;
• A “Noite dos Convidados”, que também é uma Sessão “a campo” é realizada para
apresentar futuros candidatos. Estas sessões reúnem apenas os Irmãos e os seus
convidados;
• O Rito adota uma “Promessa” (Compromisso) com um “Cordial Aperto de Mão” e a
“Palavra de Maçom”, em lugar do “Juramento”.

Algumas Características do Templo do Rito Schröder:

• O Templo do Rito é a “Oficina de Trabalho”, não o “Templo de Salomão”;


• As Colunas “J” e “B” não fazem parte da decoração do Rito. Templos, como por
exemplo o da Loja Absalom e das “5 Lojas Unidas de Hamburgo”, Alemanha, não
apresentam as duas Colunas e não tem átrio, abrindo a porta do Templo diretamente
para uma ante-sala ou sala de espera, onde a Fraternidade se reúne antes do início
do trabalho no Templo ou para as sessões “a campo” e de Instrução;
• Piso (sem mosaico) em um único nível (sem degraus) para Oriente (Leste) e Ocidente
(Oeste);
• A decoração do Templo pode ser simples, com teto e paredes em qualquer cor,
permitindo-se também utilizar formas artísticas e arquitetônicas;
• O Tapete da Loja, com os símbolos tradicionais da Fraternidade, representa a “Planta
do Templo de Salomão”, e é estendido no centro do piso do Templo exclusivamente
nas sessões ritualísticas fechadas. Nas “sessões brancas ou públicas” o Tapete não
deve ser utilizado;
• Três candelabros encimados por “Três Grandes Velas” circundam o Tapete. Muitas
Lojas, inclusive a ABSALOM, adotam três grandes castiçais iguais, mas não utilizam
as “três Ordens Gregas de Arquitetura: Jônica, Dórica e Coríntia”, próprias de outro
Rito;
• Não é próprio do Rito Schröder a colocação de um Triângulo ou um Compasso e um
Esquadro com a letra G, ou “O Olho de tudo vê”, ou mesmo um quadro com o
distintivo da Loja no centro na parede oriental, em altura superior a da cabeça do
V.M., pois estes símbolos não constam da “Decoração da Loja” descrita no Ritual de
Schröder, muito embora algumas Lojas os adotem;
• Altar (mesa retangular recoberta em azul-claro e uma cadeira alta) para o V.M.;
• Mesinhas simples e retangulares (de qualquer cor) para os Oficiais (1º e 2º Vigilantes,
Secretário e Tesoureiro);
• A Bíblia sobre o Altar (que é a própria a mesa do V.M.) permanece fechada, e virada
para a posição de quem chega ao Altar vindo do Ocidente;
• Compasso e Esquadro são armados pelo V.M. de acordo com o Grau do trabalho,
colocados sobre a Bíblia e articulados na preparação do Templo;
• Ao lado direito do Altar ficam cadeiras para o G.M. e para o seu Deputado ou G.M.
Adjunto;
• Ao lado esquerdo do Altar fica uma cadeira para o V.M. Adjunto (se não for nomeado
pelo V.M., será o ex-V.M. mais moderno);
• Os ex-Veneráveis Mestres (no Brasil também chamados de Mestres Instalados)
sentam-se no fundo do Oriente, de frente para o Ocidente.
• No Brasil, os Aprendizes sentam-se sempre ao Norte do Templo, na primeira fileira
junto ao Tapete;
• No Brasil, os Companheiros sentam-se no Sul (na Alemanha, no Norte e no Sul);
• Os Mestres sentam-se no Sul ou em qualquer um dos lados do Templo;
• Uma Sala de Preparação e uma Câmara Escura substituem a “Câmara de Reflexão”.
Conclusão:

Alguns aspectos principais chamam a atenção de todos os Irmãos que entram em


contato com o Rito: a simplicidade do Ritual e da decoração do Templo, que em nada
diminuem sua profundidade; os poucos cargos e paramentos necessários; a objetividade
da ritualística. Os trabalhos litúrgicos permitem excelente dinâmica: uma Sessão
Econômica raramente ultrapassa 1h30 (tratando-se inclusive os assuntos administrativos,
tais como ata e expediente) e com apresentação de trabalhos e/ou instruções. Uma
Sessão Magna de Iniciação de três profanos, cumprindo-se individualmente toda a
ritualística, demora cerca de 2h30; A beleza da Filosofia Humanística, enfatizada nas
palavras amáveis do V.M. ao iniciando e aos Irmãos; a valorização das qualidades morais
do homem; o estímulo ao autoconhecimento e a prática da verdadeira Fraternidade e do
Humanitarismo.

Adicionalmente, por utilizar um Templo simples, com poucos paramentos e cargos,


torna-se mais “fácil e econômico” trabalhar em uma Oficina Schröder e isto é outro fator a
considerar como contribuição para aumentar o número de Lojas do Rito.

Em consonância com os ideais maçônicos, há um grande espírito de cooperação entre


as Lojas Schröder de todo o Brasil, independentemente de Potência ou Obediência,
buscando sempre auxiliar as novas Lojas a adquirirem conhecimento e experiência,
sendo o único Rito do Brasil a adotar um único Ritual básico e a manter um Colégio de
Estudos e um Grupo na Internet reunindo Mestres Maçons das suas Lojas para estudar e
aprofundar os conhecimentos e ensinamentos sobre os Rituais Originais.

Por todos estes motivos, atingimos no Brasil o expressivo número de 110 Lojas em 18
Potências (CMSB, COMAB, GOB) superando em número as 31 Oficinas da Alemanha e,
temos certeza, continuaremos crescendo à Gloria do Grande Arquiteto do Universo.

Ir. Rui Jung Neto,


Ex-V.M. da Cinq. Ben. Aug .e Resp. Loja. Simb. “CONCORDIA ET HUMANITAS” Nr. 56
Rito Schröder – GLMERGS – ao Or. de Porto Alegre - RS
Diretor do Colégio de Estudos do Rito Schröder
Ex-Presidente da Grande Comissão de Liturgia do Rito Schröder da GLMERGS
ruijung@gmail.com

(*) Os Rituais foram traduzidos dos originais revisados em 1960 pela Loja "ABSALOM DAS
TRÊS URTIGAS" Nr. 1, e são oficialmente adotados pela Grande Loja dos Maçons Antigos
Livres e Aceitos da Alemanha, integrante da Grande Loja Unida da Alemanha. A "ABSALOM"
Nr. 1, fundada em 1737 ao Or. de Hamburgo, é uma das mais antigas Lojas em atividade no
mundo e adota o Ritual de Schröder desde 1801.

Bibliografia:
- Rituais dos três Graus do Rito Schröder: em Alemão, edição 1960, da Loja Absalom; e
em Português, edição 2007 da MRGLMERGS;
- Boletins e Instruções do Colégio de Estudos do Rito Schröder – Respeitab. Ir. Antonio
Gouveia Medeiros, P.G.M. do GOB-SC e Diretor do Colégio de Estudos do Rito Schröder;
- Trabalho: “A Verdade sobre o Rito Schröder e o seu Fundador” – Respeitab. Ir. Kurt Max
Hauser, P.G.M. da MRGLMERGS;
- Trabalho: “Origem e Fontes do Ritual Schröder” – Ir. Hans Heinrich Solf, membro da Loja
de Pesquisas "Quatuor Coronati" da Gr. Loja Unida da Inglaterra;
- Anotações diversas do autor.

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